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Análise de um conto

O conto “O Pescador Cego” de Mia Couto inicia com uma interrogação retórica,
“Vivemos longe de nós, em distante fingimento. Desaparecemo-nos. Porque nos preferimos
nessa escuridão interior?”, onde tem como objetivo inserir o leitor para a sua história e
perceber o porque de fugirmos ao nosso interior.

A ação principal gira em torno de Maneca Mazembe, personagem principal, um


pescador perdido em alto mar onde sem comer e sem isca arranca os próprios olhos para
matar a sua fome.

No entanto, contrariamente ao que se poderia imaginar, depois de cego o pescador


encontra o caminho de volta a casa. Ao regressar Mazembe torna-se suscetível, sentindo o seu
estatuto macho ameaçado pela impossibilidade de pescar e pelo facto de ter de ser
alimentado pela sua esposa Salima, personagem secundária.

Ao contrário do início do conto onde é na noite que o pescador se esconde, no fim do


conto é nas manhãs que este procura encontrar o seu “rosto”, mostrando uma evolução no
comportamento da personagem.

Em relação ao estilo de escrita do autor, verifica-se a existência de interrogações


retóricas e o uso de dois pontos, o autor também opta pelo uso de recursos expressivos,
principalmente pleonasmo e metáforas. Ao longo do conto podemos também encontrar o uso
de diálogos.

O narrador é caracterizado por ser heterodiegético e omnisciente.

Este conto aborda os temas: amor, sacrifício e machismo e faz o leitor refletir sobre o
facto de ao longo da sua vida ter de usar uma máscara para se dar a conhecer. A obra termina
com o parágrafo “Desde então, todas as infalíveis manhãs, se viu o pescador cego
vagandeando pela praia, remexendo a espuma que o mar soletra na areia. Assim, em passos
líquidos, ele aparentava buscar seu completo rosto, gerações e gerações de ondas.” Onde se
percebe que através do seu sacrifício de arrancar os olhos se encontrou na escuridão.

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