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Programação
Caderno de Resumos
Ninfa. Figura feminina em movimento, metáfora do desejo, guardiã das “águas mentais”
e da possessão, fonte, crisálida, botão de rosa, os “pequenos lábios”, divindade menor,
criatura elementar, mênade em transe, encarnação da aura, “imagem da imagem”,
imagem da sobrevivência, muitas são as maneiras de dizer esse fascinante personagem
teórico de Aby Warburg, capaz de alegorizar e cristalizar em si mesmo conceitos
complexos como o de Pathosformel e o de Nachleben, a vida póstuma das imagens. A
Ninfa é tudo isso, mas, ao mesmo tempo, não é apenas uma coisa ou outra. Uma
potência de atravessamento, de metamorfose, ela é, antes, o fluxo, a tensão, a passagem
entre todas as suas formas sempre convulsas, efêmeras, instáveis. Sua natureza ambígua
e sintomática desorganiza, faz ver os acidentes do tempo, os anacronismos, no lugar das
continuidades homogêneas e vazias, como dizia Benjamin. Em nossa fala, mostraremos
como algumas metamorfoses da Ninfa na literatura brasileira, especificamente na obra
de Manuel Bandeira, Donizete Galvão e Carlos Drummond de Andrade, abrem lugares
insuspeitados de crítica e pensamento, fazendo emergir uma pulsão erótica que torna
mais fluidas as fronteiras entre imagem e palavra.
Esta comunicação abordará a poeta gaúcha Lara de Lemos evocando passagens de obras
como Poço das águas vivas (1957), Canto breve (1969) e Inventário do medo (1997),
além de mencionar aspectos de sua atividade como professora, jornalista e tradutora. No
ensejo do centenário do seu nascimento, mostraremos como fatura estética e contexto
político, com especial atenção ao autoritarismo da Ditadura militar, se articulam entre
resistência e a proposição de aberturas.
O trabalho parte do poema “Máquina zero” (2004), presente livro homônimo de Ricardo
Aleixo; e da menção realizada por Nuno Ramos em Junco (2011) ao poema “Máquina
do mundo”, de Carlos Drummond de Andrade, presente em Claro enigma (1951), para
neles analisar a relação com o tópico da “Máquina do mundo”. Após breve recuperação
desta temática na tradição, reexaminaremos a articulação entre metafisica e geopolítica
que nela há para, posteriormente, traçar algumas possibilidades inscritas em suas
solicitações pelos poetas contemporâneos. Nossa conclusão é a de que Ricardo Aleixo e
Nuno Ramos elaboram, cada um a seu modo – ambos, no entanto, com forte inspiração
drummondiana –, uma intercessão simétrica entre natureza e cultura, isto é, um
Antropoceno outro.