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Cantigas de amigo – texto expositivo

As cantigas de amigo, escritas em galego-português na idade média, são poesias simples que
têm origem popular e eram escritas para serem cantadas. As estrofes são quase sempre de
dois versos, seguidos de refrão. É uma poesia com estrutura paralelística. Neste tipo de
cantigas o sujeito poético é uma donzela, no entanto o autor é um homem.

A donzela (o “eu lírico”) exprime os seus sentimentos pelo amigo (amado). Isto é, manifesta
saudade, desgosto, alegria, paixão, ciúme… Ela pode-se dirigir ao amigo, à mãe, às amigas ou à
natureza. A mãe, as amigas ou a natureza são as suas interlocutoras e confidentes. Fala e
desabafa com elas sobre a partida do amigo, a ida ao rio lavar a roupa ou a ida à romaria ou ao
Santuário?.

A donzela manifesta os seus sentimentos à natureza, sendo esta assim a sua cúmplice já que se
identifica com ela, parecendo partilhar da sua tristeza ou alegria.

Existem cinco subgéneros das cantigas de amigo: a Bailia, que apresenta um ambiente de baile
(composta para ser dançada), a Romaria, em que a menina, muitas vezes com a mãe, ou com
as amigas vai a uma romaria, a Barcarola, em que é referido o mar e a ausência do amado que
partiu e cujo regresso se deseja, a Alba que elege o alvorecer como o momento central da
cantiga e a Pastorela, em que a menina é pastora ou dialoga com um pastor .

O paralelismo (repetição de palavras ou versos inteiros) é uma das características mais


particulares das cantigas de amigo. São poesias com estrofes de dois versos e um refrão. As
estrofes repetem-se duas a duas com variação, muitas vezes, apenas da palavra que rima em
cada verso. Existem três tipos de paralelismo relacionados com este género de cantiga: o
paralelismo semântico (substitui-se uma palavra por outra de sentido semelhante – ver
exemplo em baixo assinalado a cinzento), o paralelismo anafórico (quando há repetição, de
uma palavra ou expressão em início de verso - ver exemplo abaixo assinalado a verde)e o
paralelismo perfeito (as cantigas têm quatro estrofes “ligadas” duas a duas por paralelismo
semântico – ver em baixo “Ondas do mar de Vigo”). Nas cantigas de amigo, um processo de
construção muito frequente o leixa-prem, um processo de articulação, ou recurso poético que
consiste em começar uma estrofe pelo verso, ou por parte do verso, em que terminava a
estrofe anterior. No paralelismo perfeito o leixa-prem acontece em estrofes alternadas (ver
exemplo a azul na cantiga “Ondas do mar de Vigo”.

O refrão, também muito presente nestes poemas, é a repetição de um ou mais versos


geralmente no fim de cada estrofe.

Em conclusão, as cantigas de amigo baseiam-se na expressão dos sentimentos da donzela em


relação ao amigo (amado). Têm refrão e, como o nome indica, são elaboradas para serem
cantadas. O paralelismo e a existência de refrão facilitam a memorização.
Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo!’

E ai Deus se verrá cedo!

Ondas do mar levado,


se vistes meu amado!

E ai Deus se verrá cedo!

Se vistes meu amigo,


o por que eu sospiro!

E ai Deus se verrá cedo!

Se vistes meu amado,


por que i gran cuidado!

E ai Deus se verrá cedo!

Martin Codax

Paralelismo anafórico

E, pois que Deus non quer que me valhades


nem me queirades mia coita creer
que farei eu, por Deus que mh'o digades,
que farei eu, se logo non morrer?
que farei eu, se mais a viver ei?
que farei eu, que conselho non sei?
que farei eu, que vós desamparades?

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