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FICHA DE AVALIAÇÃO FORMATIVA 3 1.

Poesia dos heterónimos


NOME:   N.º:   TURMA:   DATA:

GRUPO I
Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.

A
Leia o poema.

X
«Olá, guardador de rebanhos,
Aí à beira da estrada,
Que te diz o vento que passa?»

«Que é vento, e que passa,


5 E que já passou antes,
E que passará depois.
E a ti o que te diz?»

«Muita cousa mais do que isso.


Fala­‑me de muitas outras cousas.
10 De memórias e de saudades

E de cousas que nunca foram.»

«Nunca ouviste passar o vento.


O vento só fala do vento.
O que lhe ouviste foi mentira,
E a mentira está em ti.»

Fernando Pessoa, Ficções do interlúdio — 1914­‑1935, O guardador de rebanhos, de Alberto Caeiro,


edição de Fernando Cabral Martins, Lisboa, Assírio & Alvim, 1998.

1 Este poema consiste num diálogo entre alguém que passa na estrada e um «guardador de

rebanhos», interpelado pelo primeiro. Os dois têm maneiras distintas de ver a natureza.
1.1 Explique as diferentes visões da natureza dos interlocutores.

2 Segundo o «guardador de rebanhos», o vento «[…] passa / E […] já passou antes, / E […] passará

depois.» (versos 4 a 6).
2.1 Interprete a utilização das três formas do verbo «passar» na segunda estrofe do poema.

3 Considere a segunda e a quarta estrofes do poema.



3.1 Comente o efeito expressivo das repetições presentes nas duas estrofes, relacionando­‑as com
as ideias transmitidas nestes versos.

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UNIDADE

B
1 Leia o poema. Se necessário, consulte as notas.
Fernando Pessoa

Alegres campos, verdes arvoredos,


claras e frescas águas de cristal,
que em vós os debuxais ao natural,
discorrendo da altura dos rochedos;

5 silvestres montes, ásperos penedos,


compostos em concerto desigual,
sabei que, sem licença de meu mal,
já não podeis fazer meus olhos ledos.

E, pois me já não vedes como vistes,


10 não me alegrem verduras deleitosas
nem águas que correndo alegres vêm.

Semearei em vós lembranças tristes,


regando­‑vos com lágrimas saudosas,
e nascerão saudades de meu bem.

Luís de Camões, Rimas,


edição de Álvaro Júlio da Costa Pimpão, Coimbra, Almedina, 1994.

NOTAS
debuxais (verso 3) — refletis.
concerto (verso 6) — harmonia.
ledos (verso 8) — alegres.

4 Comente a forma como a natureza é representada no poema.




5 Explique em que medida a descrição desta paisagem natural contribui para evidenciar o atual

estado de espírito do sujeito poético.

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GRUPO II
1.3
Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.

Poesia dos heterónimos


Escreva, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção escolhida.

Leia o texto.

Em toda a natureza que nos rodeia, principalmente nos espaços em que a intervenção do Homem é
menos percetível, são agora bem evidentes os sinais que dizem estarmos em pleno inverno. Entre as ima‑
gens mais expressivas associáveis a este período do ano, evidencia­‑se a que é construída pela vegetação
natural, arbórea e arbustiva, maioritariamente despida da sua folhagem.
5 O inverno fica mais bem caracterizado se à paisagem desnudada acrescentarmos os tons cinzentos de
dias curtos e pouco luminosos, uma chuva que tende a ser persistente e o frio que, nalgumas montanhas
mais elevadas, a transforma em neve. Quando o vento sopra forte, estão reunidos os ingredientes para uma
invernia perfeita.
Esta convergência de fatores extremados torna­‑nos mais relutantes em sair para o campo, em desfru‑
10 tar da natureza, especialmente agora, nestes primeiros dias do mês de fevereiro, no pico da estação.

Mesmo considerando uma menor atividade da vida selvagem, já pressentida e anunciada num texto
anterior, há animais que não se detêm perante o inverno, período invariavelmente duro para a maioria deles.
É que, além dos efeitos gravosos do tempo agreste que nesta época do ano se abate por todo o lado, as
espécies de fauna selvagem também se confrontam com um problema maior: a escassez de alimento,
15 realidade que é acentuada quando o estado de conservação dos habitats de que dependem se encontra

alterado e empobrecido.
Os bichos contrariam a adversidade decorrente da perda de biodiversidade, aproximando­‑se dos
povoados onde se concentram os agentes destas alterações do meio, procurando alternativas para saciar a
fome, numa luta inadiável pela sobrevivência. Estes desvios forçados da sua conduta geram movimenta‑
20 ções, das quais resultam aproximações e encontros próprios do inverno. Esta é uma das razões por que

devemos vivê­‑lo no monte, no campo.


Se desejamos sentir a natureza de uma forma intensa, o inverno é a estação indicada. Pressionando­
‑nos mais, revela­‑se também mais envolvente, pelo que é nos momentos em que tendemos a manter­‑nos
na nossa zona de conforto, afastados da vida selvagem, que devemos sair de casa, para, por exemplo, nos
25 determos em pormenores do mundo natural quando as condições atmosféricas nos reduzem o campo de

visão ou afetam, em termos de segurança ou proveito, uma maior progressão no terreno. São pormenores
que nos escapam nos meses mais propícios a grandes caminhadas, em que todos os nossos sentidos estão
dirigidos para o muito que se pode captar em cenários amplos e abrangentes, repletos de uma atividade
intensa e permanente. Nossa e dos seres selvagens que nos rodeiam.
30 As margens de pequenos cursos de água e a vegetação, normalmente discreta, que as reveste são um
excelente motivo para caminhar nesta altura do ano. Nos lamaçais e bancos de areia das suas margens,
confere­‑se a presença de quem aí vive pelas pegadas e outros sinais no terreno.
A água é também uma fonte de atração para quem procura cenários maiores, ou até um lado mais
espetacular da natureza bravia. Por esta altura é expectável encontrar cascatas e quedas de água na sua
35 força maior, animando os troços mais acidentados dos rios que escaparam às diversas barreiras edificadas

pelo homem e que, por isso, se mantêm livres.


Num texto anterior, já se referiu o valor acrescido que o inverno representa para quem acompanha
com regularidade a vida selvagem nas montanhas, atendendo à raridade de algumas das espécies de aves
que, principalmente nos anos em que a estação se revela mais rigorosa, nos podem surpreender. Mas, em
40 redutos protegidos, beneficiando de ambientes mais amenos, também por isso procurados pelas aves,

resulta proveitoso despender tempo a observar, a identificar, a fotografar. Estuários e lagoas interiores são
espaços naturais especialmente indicados para visitar nesta época do ano. E, mesmo em espelhos de água
de parques e jardins criados em ambientes urbanos, vale a pena investir algumas horas. Em todos eles
poderemos encontrar espécies de aves que só nesta época estão entre nós.

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UNIDADE

1
45 O inverno deve ser vivido na natureza mesmo por aqueles que desejam que ele acabe depressa e que
aguardam com alguma impaciência a explosão primaveril e todo o tempo quente e longo que lhe suce‑
derá. Depois de um inverno intensamente sentido, a primavera e todas as mudanças que na Natureza a
Fernando Pessoa

anunciarão serão mais valorizadas e apreciadas.

Miguel Dantas da Gama, http://www.wilder.pt/cronicas/no ­‑inverno ­‑mais­‑proximo­‑da­‑natureza,


publicado em 1 de fevereiro de 2016; consultado em 14 de outubro de 2016 (com adaptações).

1 O texto apresenta características específicas de



( A) diário. (C) apreciação crítica.
(B) artigo de opinião. ( D) artigo de divulgação científica.

2 A questão central deste texto tem que ver com



( A) as adversidades do inverno.
(B) os aspetos positivos do inverno.
(C) a forma como tendemos a experimentar a natureza durante o inverno.
(D) os motivos que fazem com que o inverno seja a estação indicada para sentirmos a natureza.

3 Segundo o autor, no inverno,



( A) é possível conhecer melhor a forma como os animais saciam a fome.
(B) é mais fácil conhecer os animais, uma vez que estes, quando procuram alimento, se aproximam dos
meios povoados.
(C) as espécies animais tendem a manter­‑se na sua zona de conforto.
(D) torna­‑se fundamental analisar o estado de conservação dos habitats das espécies de fauna selvagem.

4 O trecho «quando as condições atmosféricas […] afetam, em termos de segurança ou proveito,



uma maior progressão no terreno» (linhas 25 e 26) aponta para
( A) o prazer sentido depois de se percorrer um terreno particularmente acidentado.
(B) os esforços que implica percorrer um terreno particularmente acidentado.
(C) a facilidade em caminhar quando estão reunidas determinadas condições meteorológicas.
(D) a dificuldade em percorrer um terreno quando estão reunidas determinadas condições meteorológicas.

5 As duas ocorrências de «nos», na linha 27, correspondem, respetivamente, a



( A) um nome e uma preposição contraída.
(B) duas preposições contraídas.
(C) um pronome demonstrativo e uma preposição contraída.
(D) um pronome pessoal e uma preposição contraída.

6 Em «redutos protegidos» (linha 40), a palavra «reduto» significa



( A) «espaço de defesa». (C) «habitat».
(B) «local de refúgio». ( D) «reserva».

7 O uso da palavra «lhe» (linha 46) contribui para a coesão



( A) referencial. (C) aspeto­‑temporal.
(B) lexical. (D) interfrásica.

8 Identifique a função sintática desempenhada pelo constituinte «à paisagem desnudada» (linha 5).


9 Classifique a oração «para, por exemplo, nos determos em pormenores do mundo natural»

(linhas 24 e 25).

10 Indique o valor da oração subordinada adjetiva relativa «que nos rodeiam» (linha 29).


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GRUPO III
1.3
«O ser humano nunca fez parte da natureza. Sempre fizemos parte da tecnologia.»

Poesia dos heterónimos


Christopher Potter, Como fazer um ser humano, 2014.

«Quanto mais hi-tech a nossa vida fica, mais precisamos da natureza.»


Richard Louv, O princípio da natureza, 2011.

Elabore um texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas
palavras, em que defenda um ponto de vista pessoal sobre as ideias expostas nestas citações.
Fundamente a sua opinião recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustre cada um deles com,
pelo menos, um exemplo significativo.

Observações:
1. P
 ara efeitos de contagem, considera­‑se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando esta
integre elementos ligados por hífen (ex.: /opôs­‑se­‑lhe/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente dos
algarismos que o constituam (ex.: /2016/).
2. 
Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados — entre duzentas e trezentas palavras —, há que atender ao seguinte:
— um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto produzido;
— um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.

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UNIDADE

1 Correção das Fichas


Fernando Pessoa

FICHA DE AVALIAÇÃO FORMATIVA 3

GRUPO I (Cenários de resposta)


A
1
1.1 
O interpelador do «guardador de rebanhos» não vê a natureza apenas como ela se apresenta;
para ele, a natureza (o vento) evoca o passado e leva ao sonho e à imaginação do futuro
(«Fala­‑me de muitas outras cousas. / De memórias e de saudades / E de cousas que nunca
foram.», vv. 9­‑11). O interpelador do «guardador de rebanhos» apresenta, por isso, uma visão
subjetiva da natureza, uma vez que a interpreta. Já o «guardador de rebanhos» vê a natureza
tal como ela é («O vento só fala do vento.», v. 13). Rejeita o que ultrapassa essa visão imediata
e concreta, considerando que o pensamento abstrato sobre a natureza é uma especulação,
fruto da nossa imaginação («O que lhe ouviste foi mentira, / E a mentira está em ti.», vv. 14­‑15).
Tem, pois, uma visão objetiva da natureza.

2
2.1 
Ao utilizar formas do verbo «passar» no presente, no pretérito perfeito e no futuro — evidenciadas
pelo emprego pleonástico dos advérbios «antes» e «depois» —, quando se refere ao que «diz»/«é»
o vento, o «guardador de rebanhos» aponta para o carácter cíclico dos ritmos da Natureza e salienta
nesta um esquema circular que sugere a ideia de completude.

3
3.1 
As repetições de vocábulos nestas estrofes — na enumeração polissindética e anafórica
(«[…] e que […] E que […] e que […], vv. 4­‑ 6) e nas três formas do verbo «passar»,
na segunda estância, e das palavras «vento» e «mentira», na quarta estância — tornam
o discurso do «guardador de rebanhos» extremamente simples e pobre. (O seu discurso
revela uma maior pobreza vocabular do que o daquele que o interpela.) A grande simplicidade
da linguagem nestas duas estrofes está, pois, em consonância com a visão do «guardador
de rebanhos», também ela simples e objetiva, e salienta a simplicidade do que há
a compreender/ver em relação ao mundo.

B
4 A natureza é representada no poema de uma forma idealizada, segundo o ideal clássico do locus

amoenus: é uma suave paisagem natural, fértil e primaveril («Alegres campos, verdes arvoredos», v. 1;
«silvestres montes», v. 5; «verduras deleitosas», v. 10), variada («ásperos penedos, compostos em concerto
desigual», vv. 5­‑ 6), serena e luminosa («claras e frescas águas de cristal», v. 2). É uma natureza mágica que
sugere e propicia felicidade («Alegres campos», v. 1; «verduras deleitosas», v. 10; «águas que correndo
alegres vêm», v. 11), como um paraíso terrestre.

5 Se a paisagem natural constitui um cenário idílico, transmitindo serenidade e alegria, o estado



de espírito do sujeito poético é marcado pelo sofrimento. A causa deste sofrimento é a ausência da
mulher amada, originando um profundo sentimento de saudade, sublinhado pelo sujeito poético
reiteradamente nos três versos que constituem a chave de ouro do soneto — «lembranças tristes», v. 12;
«lágrimas saudosas», v. 13; «saudades de meu bem», v. 14 — e que contrasta com a felicidade sentida no
passado («pois me já não vedes como vistes», v. 9). Este sofrimento é de tal forma intenso, que o cenário
idílico já não é capaz de trazer satisfação e felicidade, ao contrário do que sucedia no passado («já não
podeis fazer meus olhos ledos», v. 8).

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GRUPO II
1   (B)   2   (D)   3   (B)   4   (D)   5   (D)   6   (B)   7   (A)
1.3

Poesia dos heterónimos


8   Complemento indireto.

9   Oração subordinada adverbial final.

10   Valor restritivo.

GRUPO III
Construção de um texto de opinião que respeite o tema, a estrutura e os limites propostos. Devem respeitar­‑se
as principais características do género textual em causa:
•  explicitação do ponto de vista;
•  clareza e pertinência da perspetiva adotada, dos argumentos desenvolvidos e dos respetivos exemplos;
• discurso valorativo (juízo de valor explícito ou implícito).

FICHA DE COMPREENSÃO DO ORAL 3


(Duração do diálogo: 10 minutos [06:36­‑16:05])
Transcrição:

Luís Caetano (jornalista): […] Gabriela Canavilhas, a literatura salva?


Gabriela Canavilhas: Eu acho que o que salva é o pensamento. Em última análise, é o carácter. E de
tudo quanto que alimenta o pensamento, o carácter e o autoconhecimento é o que salva. E, em
última análise, é o que mata. Porque aquilo que nos salva é aquilo que simultaneamente nos mata.
De tanto nos trazer lucidez, eventualmente.
Luís Caetano: De tanto nos desassossegar.
Gabriela Canavilhas: De tanto nos desassossegar, exatamente. Muito ao meu gosto. E a literatura, tal
como outras formas de transmitir o pensamento, evidentemente se inclui neste conjunto de
instrumentos que nos fazem enriquecer o pensamento e o carácter e que, portanto, nos dão as
tais forças para [nos salvarmos]. Mas é uma expressão que não me conforta muito. Não me dá
muito conforto pensar que a literatura salva.
Luís Caetano: Porque é uma expressão abstrata?…
Gabriela Canavilhas: Porque eu acho que basicamente aquilo que nos salva são muitas coisas… que
advêm do enriquecimento, do autoconhecimento e do pensamento. Em suma, como eu disse há
pouco, daquilo que, depois, reforça o carácter. E a literatura é apenas mais uma. A literatura é, sem
dúvida, uma das formas artísticas e de expressão mais consistentes e mais imediatas, no sentido
em que a palavra está presente e o pensamento se expressa de uma forma muito completa pela
palavra. Mas há outras formas de expressão que também concorrem para essa força […]. Até
mesmo outras formas de reforço da sensibilidade, de compreensão humana… De tudo aquilo que
anda à volta… A humanidade é tão rica e tem tantas faces, que eu julgo que a literatura, com toda
a sua força, com todo o seu poder, é mais uma dessas múltiplas formas.
Luís Caetano: Saindo deste conceito, desta pergunta quase teórica, abstrata… No teu caso, um livro já
te salvou, nem que fosse num particular momento, numa particular situação?
Gabriela Canavilhas: Olha, salvou­‑me as férias de verão, quando eu era miúda. Eu vivia nos Açores…
Nos Açores não havia televisão, quando eu era nova… A televisão só chegou aos Açores em 76,
com emissões regulares, e portanto eu tinha 15 anos quando passei a ver televisão. […]

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