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GRUPO I
Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.
A
Leia o poema.
3 Comente os dois últimos versos do poema: «E eu era feliz? Não sei: / Fui‑o outrora agora.»
Poesia do ortónimo
Em petiz
I
De tarde
Mais morta do que viva, a minha companheira
Nem força teve em si para soltar um grito;
E eu, nesse tempo, um destro e bravo rapazito,
Como um homenzarrão servi‑lhe de barreira!
NOTAS
destro (verso 3) — ágil, hábil.
turinas (verso 8) — diz‑se de uma raça de gado bovino.
pregão (verso 12) — anúncio público feito em voz alta.
pegos (verso 14) — os sítios mais fundos de rios.
«costume de percale» (em francês) (verso 16) — fato de percal (tecido de algodão, fino e liso).
chavelho (verso 18) — chifre.
4 O sujeito poético recorda um episódio da sua juventude, ocorrido durante um passeio que dera
no campo com a sua companheira.
4.1 Demonstre que a caracterização da figura feminina contrasta com o retrato que o sujeito poético faz
de si próprio. Ilustre a sua resposta com elementos textuais.
5 Ao contrário da figura feminina, o sujeito poético revela estar em sintonia com o espaço
circundante. Comprove a veracidade desta afirmação, recorrendo a elementos do texto.
GRUPO II
1 Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.
Fernando Pessoa
Escreva, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção escolhida.
Leia o texto.
A literatura é uma expressão artística ambiciosa, que usa sangue e corpo, que tem de ser livre — como
todas as expressões de arte ou a própria vida. Deverá ser simples e compreensível como uma correnteza de
água, como um estremecer de folhas de árvore. Quanto a mim, o papel da literatura não é explicar o
mundo. A literatura é o próprio mundo. Porque são sentimentos, ideais, histórias experimentadas, visitas,
5 efabulações, desenhos de memórias, conquistas, alegria e desespero.
Ana María Matute é totalmente clara. Não escreve sobre o eterno Eu e o Tu e o Tu e o Eu; abraça toda a
humanidade. Por exemplo, em Paraíso inabitado, revela a inteira psicologia da vida desde os primeiros anos
da protagonista, Adriana, que são os nossos primeiros anos rumo a um salto assombroso nesse perigoso e
absurdo abismo que é a adolescência, túnel sombrio de dúvidas e indecisões que só o próprio adolescente
10 consegue resolver.
Com tantos livros escritos, tantos prémios que a têm consagrado universalmente, há um que destaco
porque me toca particularmente, e é também, pelo que sei, o livro que a escritora mais gostou de escrever:
Olvidado rei Gudú.
E o livro que hoje apresentamos, A torre de vigia.
15 Ao entrar na leitura deste livro, imergimos num cenário onírico, denso e misterioso, onde sobressai a
Natureza, por vezes assustadora, outras de uma beleza escaldante. Este ambiente enevoado e surreal de
homens‑lobos, ventanias, campos de neve de fome e de frio, mais as doçuras do estio, de ameias de caste‑
los, baronesas e barões, veados, javalis, gansos, lobos, cavalos brancos e cavalos pretos, jovens iniciados
cavaleiros, peles de ursos, flechas, salões, cozinhas e alcovas, todo este universo existe, atavicamente, em
20 todos nós. Está nos mais altos e escondidos sótãos da nossa memória. E, com a ironia sempre presente,
vivemos mais uma vez uma certa infância, ou como uma criança pode e consegue sublimar atos ou situa‑
ções terríveis pela construção dos sonhos.
Este livro, o primeiro duma trilogia medieval, fala‑nos de um filho de boas famílias, da sua travessia da
infância e entrada na adolescência com grande desassossego; da castelã, a baronesa de Mohl, linda, ruiva e
25 branca, que o inicia no amor carnal aos treze anos. Também essa atitude, brutal e estranha, o faz compre‑
ender os mais rudimentares indícios da constituição psicológica do ser humano. Conseguimos perceber
este jovem a pensar e a transformar‑se todos os dias, o que causa alguma angústia.
É, pois, uma história de desejos, de descoberta, da eterna luta entre o bem e o mal, entre a luz e as
trevas.
30 Sei, sinto que Ana María Matute tem absoluta consciência das penas que uma pessoa suporta ao longo
desta permanência por aqui. Os seus livros são documentos, de extraordinária importância, que desenham
a vida e as experiências do quotidiano de alguém que conviveu com a Guerra Civil de Espanha e a Segunda
Grande Guerra Mundial e o pós‑guerra. A sua literatura é um grito de libertação através do poder imagético
de cada um. A fantasia está expressa em muitos dos seus livros, atingindo o pico em Olvidado rei Gudú e
35 Aranmanoth. Embora estes livros sejam um hino à poderosa fantasia humana, são também a constatação
Poesia do ortónimo
(C) a escritora Ana María Matute e o seu livro Olvidado rei Gudú.
(D) a escritora Ana María Matute e o seu livro A torre de vigia.
4 Na frase «nesse perigoso e absurdo abismo que é a adolescência» (linhas 8 e 9), encontramos
( A) uma metonímia e um animismo.
(B) uma metonímia e uma metáfora.
(C) uma dupla adjetivação e uma metáfora.
(D) uma dupla adjetivação e uma hipálage.
8 Identifique a função sintática desempenhada pela expressão «dos sonhos» (linha 22).
GRUPO III
1 No texto proferido no Instituto Cervantes, Cristina Carvalho afirmou: «Quanto a mim, o papel da literatura não
Fernando Pessoa
Elabore um texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas
palavras, em que apresente uma reflexão sobre aquela que é, para si, a função da literatura.
Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustre cada um deles com,
pelo menos, um exemplo significativo.
Observações:
1. P
ara efeitos de contagem, considera‑se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando esta
integre elementos ligados por hífen (ex.: /opôs‑se‑lhe/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente dos
algarismos que o constituam (ex.: /2016/).
2.
Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados — entre duzentas e trezentas palavras —, há que atender ao seguinte:
— um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto produzido;
— um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.
Poesia do ortónimo
FICHA DE AVALIAÇÃO FORMATIVA 1
2 O sujeito poético recorda‑se de si próprio, quando criança, a ouvir a música, mas o eu do presente difere
do eu do passado — experiência da alteridade que expressa o primeiro verso desta quadra («Recordo
outro ouvir‑te», v. 5). O passado a que alude não corresponde a uma experiência real, que o sujeito
poético não sabe se, de facto, existiu; trata‑se antes de uma representação atual, intelectualizada, da
infância, suscitada pela música ouvida no momento presente («Não sei se te ouvi / Nessa minha infância /
Que me lembra em ti.», vv. 6‑8).
3 O eu lírico não sabe se a infância vivida, a infância real, foi um tempo feliz. A felicidade existe na
representação da infância que é feita por ele no presente — é uma infância imaginada. Os dois últimos
versos do poema confirmam, pois, a ideia de que a infância a que o sujeito poético alude é o resultado
de um processo de intelectualização, realçado pela antítese presente no verso que fecha o poema:
«Fui‑o outrora agora.»
B
4
4.1
A companheira é caracterizada como uma figura frágil («Mais morta do que viva, a minha
companheira / Nem força teve em si», vv. 1‑2) e «medrosa» (v. 20), ficando apavorada («a tremer,
cosida com o muro, / Ombros em pé», vv. 19‑20) com a aproximação de uma «vaquita preta» (v. 17).
A expressividade deste diminutivo evidencia a reação exagerada da figura feminina, acentuando
a sua fragilidade.
Já o sujeito poético demonstra audácia e valentia (era «um destro e bravo rapazito», v. 3), protegendo
a companheira «Como um homenzarrão» (v. 4) ao segurar o animal «Que eu segurei, prendi» (v. 18).
5 Enquanto a companheira tem uma reação amedrontada, o «rapazito» demonstra um grande à‑vontade
ao segurar o animal. Reveladora da sintonia do sujeito poético com o campo é igualmente a descrição
pormenorizada e entusiasmada do espaço circundante, com o recurso a enumerações, frases
exclamativas e expressivos diminutivos («bezerrinhas», v. 6, «casitas», v. 9, «vaquita», v. 17), que sugerem
a ternura do sujeito poético pelo ambiente campestre.
GRUPO II
1 1
(D) 2
(B) 3
(A) 4
(C) 5
(D) 6
(A) 7
(B)
Fernando Pessoa
8 Complemento do nome.
9 «aqui»
9.1 Deítico espacial.
GRUPO III
Construção de um texto de opinião que respeite o tema, a estrutura e os limites propostos. Devem respeitar‑se
as principais características do género textual em causa:
• explicitação do ponto de vista;
• clareza e pertinência da perspetiva adotada, dos argumentos desenvolvidos e dos respetivos exemplos;
• discurso valorativo (juízo de valor explícito ou implícito).
Voz off: No dia 30 de novembro de 1935, morre Fernando Pessoa. Tinha 47 anos. É hoje um dos mais
importantes nomes da nossa literatura e dos mais estudados em todo o mundo. Homem
complexo, começou a escrever poemas quando era criança. Criou vários heterónimos, muito
diferentes entre si. Quem não ouviu falar já de Álvaro de Campos, Alberto Caeiro ou Ricardo Reis?
E do Livro do desassossego, das cartas a Ofélia, do «Menino de sua mãe», de «O guardador de
rebanhos»?
Tendo publicado apenas um livro em vida, Pessoa deixou milhares de páginas escritas, que ainda
agora estão a ser descobertas, analisadas e divulgadas.
[…]
Fernando Rosas: Hoje temos connosco a Professora Teresa Rita Lopes. É uma das mais conhecidas
pessoanas. A primeira pergunta que eu gostaria de lhe fazer é esta: porque é que, depois da morte
de Pessoa, há um tão longo silêncio acerca de Pessoa? Porque é que Pessoa é (re)descoberto
tardiamente, apesar de tudo, na cultura portuguesa do século xx?
Teresa Rita Lopes: Os Portugueses terão sempre um certo mal‑estar em relação a Pessoa. Terão desde
sempre e continuam a ter.
Fernando Rosas: Um mal‑estar político? Um mal‑estar cultural?
Teresa Rita Lopes: De muitas, muitas naturezas. Para começar, pela ignorância. Ainda hoje… Fala‑se
tanto de Pessoa, mas vá lá averiguar o que é que conhecem de Pessoa as pessoas que falam de
Pessoa? Eu própria, se me lembrar de mim, do que é que eu sentia na altura… enfim, que lia o
Pessoa, que devorava Pessoa, mas ouvia dizer que ele, no fundo, tinha sido um grandessíssimo
fascista. E ficava incomodada com isso. Mas dizia para mim: mas houve outros que o foram…
tenho de esquecer essas coisas… Mas, até eu própria descobrir, pelos meus próprios meios, que
isso era tudo balela, e que o homem, pelo contrário, tinha, em determinada altura, em textos que
estavam desconhecidos, que estavam verdes, tinha denunciado não só o Estado Novo, em termos
muito violentos… A Salazar chamou […] um seminarista da contabilidade… Depois, em 1932,
quando ele tomou plenos poderes, quando deixou de ser apenas ministro das Finanças, ele
escreveu esses tais textos, uma carta que escreveu para mandar ao Presidente da República. Ele
disse: «Assistimos à cesarização de um contabilista.»