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Cantigas de Amigo

 Variedade do sentimento amoroso

O argumento essencial é, de facto, o amor não correspondido, fonte de todo o sofrimento e


causa de desconforto e lamento. O poeta finge que é a mulher a expor pela ausência ou a
indiferença do amigo, é uma donzela, uma “dona virgo” aparentemente simples e ingénua,
desilusão, embora também sempre pronta a defender o seu próprio sentimento de qualquer
interferência.

 Confidência amorosa

A protagonista move-se num ambiente de natureza que ela chama como testemunha dos seus
próprios sofrimentos, muitas vezes objectivados ao ponto de identificação total com a
realidade circundante. A mulher da cantiga de amigo entra direta ou indirectamente em
contacto não só com o amigo mas também com outras personagens- elementos da natureza (o
mar, as árvores, a fonte, o cervo, o papagaio) ou seres humanos ( a mãe, as amigas
confidentes).

 Relação com a natureza

Há em alguns cantares de amigo uma intimidade afectiva com a natureza talvez diferente
do gosto cenográfico da paisagem (como quadro ou reflexo dos sentimentos humanos).
Dir-se-ia existir uma afinidade mágica entre as pessoas e tudo o que parece mover-se ou
transformou-se por uma força interna: a água da fonte e do rio, as ondas do mar, as flores
da primavera ou verão, os cervos, a luz da alva, a dos olhos. Todas estas coisas
participavam ainda de associações mágicas, as suas designações evocavam tantas
correspondências entre o impulso amoroso e o florescer das arvores, o comportamento
animal, os movimentos das coisas naturais, que o esquema repetitivo era como
imperceptível e subtil desenvolvimento de um tema através de modulações que sugerem
os seus inesgotáveis nexos com a vida.

Cantigas de Amor

 A coita de amor

Quanto os temas, elaboraram os Provençais o ideal do amor cortês muito diferente do


idílio rudimentar nas margens dos rios ou à beira das fontes que os cantares de amigo nos
deixam entrever. Não se trata de uma experiencia sentimental a dois, mas de uma
aspiração, sem correspondência, a um objeto inatingível, de um estado mas de uma
aspiração, de um estado de tensão que, para permanecer, nunca pode chegar ao fim do
desejo. Manter este estado de tensão considera-se ser o ideal do verdadeiro amador e do
verdadeiro poeta, como se o movesse o amor do amor, mais do que o amor a uma mulher.
E não só a esta dirigem os poetas as suas implorações, queixas ou graça, mas ao próprio a
Amor personificado, figura de retórica muito comum entre os trovadores provençais e por
eles transmitida aos galego-portugueses.

 O elogio cortês

O trovador imaginava a dama como um suserano a quem “servia” numa atitude submissa
de vassalo, confiando o seu destino ao “bom sen” da “senhor”. Todo um código de
obrigações preceituava o “serviço” do amador, que, por exemplo, devia guardar segredo
sobre a identidade da dama, coibindo toda a expansão publica da paixão (o autodomínio,
ou “mesura”, era a sua qualidade suprema), e que não podia ausentar-se sem a sua
autorização. O apaixonado devia passar provocações e fases comparáveis aos ritos e
iniciação nos graus da cavalaria. A este ideal de amor corresponde certo tipo idealizado de
mulher, que atingiu mais tarde a máxima depuração na Beatriz de Dante ou na Laura de
Petrarca: os olhos cabelos de oiro, o sereno e luminoso olhar a mansidão e a dignidade do
gesto, o riso subtil e discreto.

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