São assim chamadas as cantigas trovadorescas medievais para os poetas que
punham na boca das amigas ou namoradas os amores que viviam, podendo falar deles a confidentes que podiam ser as mães e as amigas como os seres e as coisas da Natureza. O tema dominante é o amor não correspondido, origem de todo o sofrimento, da “coita” e causa de desconforto e lamento. Com efeito, a mulher que se lamente pela ausência ou indiferença do amigo é a donzela do campo, simples e ingénua, sinceramente apaixonada, vulnerável a qualquer desilusão. Como protagonista, move-se num ambiente de natureza que ela convoca como testemunha dos seus sofrimentos e muitas vezes refletindo-os por semelhança ou por contraste. Vários elementos da natureza assumem papel de cenário, de testemunhas ou interlocutores e, ainda, valor simbólicos (o mar, as ondas, as arvores, a fonte, o cervo, o papagaio, a alba e o vento). São também cantigas de tradição popular, que apresentam uma variedade temática inquestionável: cantigas de romaria, barcarolas ou marinhas, albas ou alvoradas, bailias e bailadas, tenções (cantigas dialogadas), cantigas de cenas venatórias (caça). Do ponto de vista formal, as cantigas de amigo apresentam, na sua maioria, refrão, sendo denominadas, por isso, como cantigas de refrão. As que não têm refrão, muito raras, denominam-se cantigas de mestria, revelando complexidade formal e semântica semelhante às cantigas de amor. Além desta classificação, há a considerar as cantigas paralelísticas simples e as paralelísticas perfeitas com leixa-pren como dominantes. As Cantigas de Amigo, de forma mais simples, apresentam-nos, em geral, a mulher integrada no ambiente rural: na fonte ou na romaria, lugares de namoro; sob as flores do pinheiro ou de avelaneira; no rio, onde lava a roupa e os cabelos ou se desnuda para tomar banho; na praia, onde aguarda o regresso dos barcos. O trovador usa o artifício de falar como uma menina enamorada, do povo, que se dirige ao amigo ou amado, que fala dele à própria mãe, às irmãs, às companheiras ou ao Santo da sua devoção. Estas cantigas são postas na boca de uma mulher solteira (sujeito poético), donzela, que exprime os seus pequenos dramas e situações da vida amorosa. O paralelismo constitui a característica formal mais importante deste tipo de cantigas) Nas cantigas de amigo nota-se: o eu-lírico é feminino, apesar de escritas por homens; ao contrário da cantiga de amor, onde o sentimento não se realiza fisicamente, na cantiga de amigo (entende-se por amigo, o amado) há nítidas referências à saudade física do amigo ausente. Cantigas de Amigo: o eu-lírico é uma mulher (embora os escritores fossem homens). A palavra amigo nestas cantigas tem o significado de namorado. O tema principal é a lamentação da mulher pela falta do amado.