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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

DISCIPLINA: SEMINÁRIO DE TESE


PROFESSOR: JAWDAT ABU EL HAJ
ALUNA: HELAINE SARAIVA MATOS

TÍTULO DO PROJETO DE PESQUISA:


A Organização Sindical de Trabalhadores no Espaço Rural Cearense de
1985 - 2020: dos Trabalhadores Rurais aos Agricultores Familiares e
Assalariados Rurais.

ATIVIDADE 03 – REVISÃO BÁSICA DE LITERATURA

HIPÓTESE DE PARTIDA:

O Estado brasileiro intervém, por meio das leis, na organização das


categorias trabalhistas existentes no espaço rural, atrelando Sindicatos
de Trabalhadores Rurais, Agricultores Familiares e de Assalariados
Rurais à estrutura do Estado. A luta por direitos trabalhistas e pela terra
no espaço rural ganhou uma dimensão legal como forma de ação coletiva
e a organização de trabalhadores tornou-se uma luta dentro da lei com a
presença de forças políticas e resistências que não permitem que o
Estado controle em sua totalidade esse movimento. A legislação foi,
portanto, instrumento para amortecer as lutas sociais, mas necessária à
legitimação do sindicalismo no espaço rural.

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REVISÃO BÁSICA DE LITERATURA

PALAVRAS-CHAVES: Estado. Sindicalismo. Nordeste. Trabalhadores Rurais.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: COMENTÁRIO:


O Estado foi criado para assegurar a propriedade da terra, que
ENGELS, Friedrich. A origem da Família, da foi a principal riqueza conhecida até o aparecimento do
Sociedade Privada e do Estado. 3.ed. São Paulo: capitalismo. A desigualdade de riquezas, decorrente da
Escala, 1884. divisão social do trabalho, do surgimento da moeda e da
usura, proporcionou a concentração da propriedade do solo
nas mãos de uma minoria, que passou a exercer o controle
cada vez maior sobre os meios de produção. Surgiram novos
institutos, como os grandes latifúndios, a hipoteca e a
disponibilidade dos bens imóveis. A nova sociedade,
decorrente dessas condições econômicas, dividiu-se em
homens livres e escravos, em exploradores ricos e explorados
pobres. Surge então a figura do Estado, destinado a suprimir
as lutas de classe e que, embora nascido com o propósito de
conter os antagonismos sociais, converte-se em instrumento
de exploração e de opressão da classe economicamente
dominante.

Reflete sobre a superestrutura política do modo de produção


POULANTZAS, Nicos. Poder Político e Classes que consiste no poder institucionalizado do Estado, sendo a
Sociais. São Paulo: Martins Fontes, 1977. prática política uma prática de direção da luta de classes no
Estado e por ele (POULANTZAS, 1977, p. 41). É nesse
contexto que ele reflete sobre a política e a luta de classes.

Discorre sobre a política na República Velha até a morte de


FAORO, Raimundo. Os donos do poder. Formação Getúlio Vargas. O Estado como polo condutor da sociedade,
do patronato político brasileiro. Vol. 2. 8ª edição. São nele concentra-se esperanças de todas as classes. Esse tipo
Paulo: Globo, 1989. de governo tem caráter autoritário, monopoliza o poder
político sem a participação real dos demais na formação
estatal. Faoro acredita que a elite política do patrimonialismo é
o estamento que não desfez o patronato político sobre a
nação.

O espaço adquire função primordial nas relações de poder, na


CLAVAL, Paul. Espaço e Poder. Rio de Janeiro: medida em que intervém na vida social e consequentemente,
Zahar Editores, 1979. no próprio poder. A autoridade é outro mecanismo utilizado no
estabelecimento de relações de poder, trata-se da relação de
confiança entre quem decide e quem executa, o que dispensa
o poder puro de manter o controle e vigilância efetiva do
espaço. A autoridade “repousa sobre um consentimento
profundo”. Para explicar, portanto, as origens da autoridade,
Claval se apoia nas bases teóricas de Max Weber que
enumera três fontes originárias: tradição, a fonte da
autoridade e o chefe carismático, capaz de suscitar
legitimidade e justificar o poder que exerce.

Trata da Formação do Tipo Rural, nos quatro primeiros


VIANA, Oliveira. Populações Meridionais do séculos de formação da sociedade brasileira que tem sua
Brasil. Brasília, DF: Edições do Senado Federal, estrutura fundamentalmente rural, “assentada por inteiro sobre
vol.27, 2005. uma base exclusiva de latifúndios agrícolas. Portanto, uma

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: COMENTÁRIO:
sociedade de hábitos e costumes caracteristicamente rurais”
(VIANA, 2005, p. 70). O autor destaca a importância do
latifúndio como base geográfica da propriedade rural, sendo a
amplitude territorial dos domínios rurais, imposta pela
natureza das culturas.

Considera a grande propriedade rural, o latifúndio, como a


PRADO JUNIOR, Caio. A Revolução Brasileira. 7ª parte fundamental da economia agrária brasileira e o
edição. São Paulo: editora brasiliense, 1987. proprietário tem o status de empresário da produção. Já os
trabalhadores rurais não são tidos como camponeses pelo
autor, mas são empregados nesse modo de exploração.
“Empregados que recebem sua remuneração (o pagamento
pela venda e cessão de sua força de trabalho) em dinheiro,
participação na produção ou em outra modalidade qualquer.
Mas são sempre empregados, e se não assalariados puros
(PRADO JUNIOR, 1987, p. 105).

No livro, o autor faz reflexões sobre o Brasil agrário e as


IANNI, Octavio. Origens Agrárias do Estado relações econômicas e sociais que aqui se estabeleceram
Brasileiro. São Paulo: Brasiliense, 2004. desde o início do ciclo do café, no ano de 1880.

Publicado em 1949, com reflexões, ainda, atuais para


LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, Enxada e Voto: compreensão da organização política nacional. “O coronelismo
o município e o regime representativo no Brasil. São nessa visão, não é simplesmente um fenômeno da política
Paulo: Alfa-ômega, 1975. local, não é mandonismo. Tem a ver com a conexão entre
município, Estado e União, entre coronéis, governadores e
presidente, num jogo de coerção e cooptação exercido
nacionalmente”(p.6). Entre os fatores apontados pelo autor e
que permitiram o desenvolvimento do Coronelismo estão:
força de um sistema escravista e patriarcal e a fragilidade de
um sistema rural decadente, baseado na pobreza e na
ignorância do trabalhador rural.

O poder dos senhores de terras nunca desapareceu. Sua


BURSZTYN, Marcel. O Poder dos Donos. presença na vida política do país ultrapassa o período colonial,
Planejamento e Clientelismo no Nordeste. 3ª edição. o Império e, apesar, do aparente golpe desfechado pela
Rio de Janeiro: Garamond; Fortaleza: BNB, 2008. Revolução de 1930, persiste até nossos dias. Encontramos
lado a lado, ao longo da história política do Brasil, o Estado
centralizador e os caciques locais (BURSZTYN, 2008, p. 40).
Transformações ocorridas na estrutura agrária brasileira foram
parciais. A não ocorrência no Brasil de transformações brutais
deve-se a dois fatores: da estrutura autoritária e paternalista
do governo, que eliminou núcleos de contestação ao longo da
história e da ausência de conflitos diretos entre grupos
poderosos modernos e tradicionais da sociedade brasileira.
Como explicar que as classes dominantes no Nordeste tiram
proveito dos programas de desenvolvimento propostos pelo
governo? Como compreender a ocorrência de uma política
centralizadora a nível de nação, que permite o fortalecimento
paralelo das estruturas de poder locais?

Discute o campesinato na política brasileira, refletindo sobre


MARTINS, José de Souza. Os camponeses e a os movimentos de contestação no espaço rural como as ligas
política no Brasil. Petrópolis, Vozes, 1981. camponesas e a chegada do sindicalismo de trabalhadores
rurais.

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: COMENTÁRIO:
ANDRADE, Manuel Correia de. A terra e o homem População e estrutura fundiária no Nordeste; A propriedade da
no Nordeste. São Paulo: Brasiliense, 1963. terra e a mão-de-obra; O latifúndio, a divisão da propriedade e
as relações de trabalho no Sertão. O desenvolvimento da
agricultura sertaneja; Parceria e trabalho assalariado na
economia sertaneja; O capitalismo e a evolução recente da
agricultura nordestina; O Estado e a consolidação do sistema
empresarial no campo; A dualidade da legislação rural; O
Nordeste no limiar do século XXI; A chegada do novo século;
Mudanças nas atividades agrícolas.

O Manifesto é uma espécie de chamamento aos trabalhadores


MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. O Manifesto para a organização em sindicatos. “Trabalhadores de todo o
Comunista. 3ª edição, São Paulo, Global, 1988. mundo uni-vos”.

Entre as funções do sindicato no Estado capitalista está à


PANNEKOEK, A. O sindicalismo. 1936. Disponível intervenção e mediação para amortização dos conflitos. Existe
em Arquivo Marxista na Internet: sempre uma diferença entre a classe operária e os sindicatos.
<http://www.marxists.org/portugues/pannekoe/1936/ A classe operária deve olhar para além do capitalismo,
mes/sindicalismo.htm> Acesso em 12 de fevereiro de enquanto o sindicalismo está inteiramente confinado nos
2018. limites do sistema capitalista… O papel dos sindicalistas não é
o mesmo que o dos operários.

HOBSBAWM, Eric. Mundos do Trabalho. 6ª ed. Divide a história da relação dos trabalhadores europeus com a
São Paulo: Paz e Terra, 2015. sociedade em três fases: a de transição, no início da
industrialização – quando uma classe de trabalhadores com
visão e modo de vida independentes surge dos “trabalhadores
pobres” –; a de “separatismo”; e a fase de relativo declínio da
separação. Trata da questão da aristocracia operária e da
crise do sindicalismo europeu, dois pontos fortes do livro, ao
lado de discussões sobre as formas de organizações não
profissionais das classes baixas e consciência de classe.

MEDEIROS, Leonilde Servolo de. Lavradores, Reflete sobre a diversidade de categorias no rural e o debate
Trabalhadores Agrícolas, Camponeses. Os sobre o campesinato, propondo conceitos teóricos para definir
comunistas e a constituição de classes no lavradores e trabalhadores agrícolas e o debate sobre o
campo.1985. Tese. Universidade de Campinas, sindicalismo.
IFCH/Unicamp, 1985.

Aborda as origens desse movimento no Brasil apontando os


STEIN, Leila de Menezes. A Construção do principais marcos para seu surgimento.
Sindicato de Trabalhadores Agrícolas no Brasil,
1954-1964. 1997. Tese. Universidade de Campinas,
Unicamp, 1997.

São pensadas a formação das centrais sindicais, as


BOITO JÚNIOR, Armando. (org). O sindicalismo transformações na composição da classe operária, as greves,
brasileiro nos anos 80. Rio de Janeiro: Paz e o perfil das reivindicações e a reestruturação dos sindicatos
Terra,1991. rurais.

A estrutura de sindicato de Estado. O sindicato como parte do


BOITO JÚNIOR, Armando. O Sindicalismo de Estado. Um crescimento sem luta. Desorganização dos
Estado no Brasil: uma análise crítica da estrutura trabalhadores.
sindical. São Paulo: HUCITEC, 1991.
A pesquisa cobre desde sua gênese, na metade dos anos de
FAVARETO, Arilson. Agricultores, trabalhadores: os 1970, passando pela constituição da CUT, o momento da crise
trinta anos do novo sindicalismo rural no Brasil. nos fins da década de 1980, a junção com a Contag, até o
Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 21, n. início da presente década, com destaque para a crescente
62, 2006. disseminação de organizações específicas de representação

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: COMENTÁRIO:
de agricultores familiares.

OCHOA, Glória. As Origens do Movimento Trata da origem dos primeiros sindicatos de trabalhadores no
Sindical de Trabalhadores Rurais. Fortaleza: espaço rural cearense na década de 1960.
NUDOC, 1989.

A obra trata da dominação do coronel no sertão cearense e


BARREIRA, César. Trilhas e atalhos do poder: das resistências camponesas que surgiram nesses espaços.
conflitos sociais no sertão. Rio de Janeiro: Rio Fundo No Brasil, as alianças políticas sempre foram entre Estado e
Editora, 1992. latifundiários, sendo o campesinato excluído desse processo
como sujeito político. O coronel se passa pelo “protetor e
orientador” dos trabalhadores prestando-lhes serviços que
depois serão cobrados. Dessas circunstâncias é que surgiu,
por exemplo, o apadrinhamento - não era difícil encontrar
trabalhadores que entregavam seus filhos como afilhados ao
patrão. O autor coloca em discussão que os valores morais,
ou seja, esse sentimento de lealdade, gratidão e medo ao
dono da terra é o que vai consolidar essa relação de
dependência entre trabalhadores e latifundiários, e ser,
inclusive obstáculo à criação de movimentos de resistências
no campo.

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