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STÉPHANE BEAUD / FLORENCE WEBER

guia para a pesquisa de campo


Produzir e analisar dados etnográficos
Seminário nº 2 da disciplina de Métodos e Técnicas de Pesquisa. Universidade Federal do Ceará, 10 de nov. de 2015.
Apresentação:
Helaine S. Matos / Gabriela B. Cunha

ESTRUTURA DO SEMINÁRIO: Introdução:

Os autores refletem sobre o significado da pesquisa de campo


1. Escolher um tema e um campo
e o modismo que o termo adquiriu nas últimas décadas. A pes-
2. Preparar a pesquisa
quisa de campo em ciências sociais vai muito além de simples
3. Conduzir a pesquisa
visitas ao local pesquisado. “A palavra americana – fieldwork
Conclusão – os tempos da pesquisa
– exprime-o melhor: o campo é um trabalho, não uma passa-
Posfácio – Por uma etnografia sociológica
gem, uma visita ou uma presença. O fieldworker não vai tão-
Posfácio à segunda edição francesa (2002):
somente ao campo, ele fica ali e, acima de tudo, trabalha ali”
atualidade da pesquisa etnográfica
(BEAUD;WEBER, 2007, p.09).

é preciso curiosidade!
Para executar esse trabalho, a curiosidade é uma das virtudes que não pode faltar ao pesquisador que
se propõe a fazer pesquisa de campo. “É essa curiosidade que conduzirá você a impelir suas investigações,
a observar nos detalhes, a agir por aproximação ou zoons naqueles pontos em que outros sociólogos olham,
sistematicamente, de mais alto e de mais longe” (BEAUD; WEBER, 2007, p.11).

pesquisa mecânica e pesquisa reflexiva:


A maneira de fazer o trabalho de campo é a questão central da pesquisa. E a discussão que cabe na
obra não é entre pesquisa qualitativa e quantitativa, mas sim, entre pesquisa mecânica e reflexiva. A primei-
ra não é objeto das condições de produção, os dados obtidos são puro data. Já a pesquisa reflexiva submete
constantemente seus dados à reflexão e a crítica, quer sejam estatísticos ou frutos do trabalho etnográfico.
“ A pesquisa etnográfica e a pesquisa estatística não se opõem, mas se complementam” (BEAUD;WEBER,
2007, p.14).
Dessa maneira, nos três primeiros capítulos da obra os autores se propõem a fornecer reflexões so-
bre as principais fases da pesquisa etnográfica: a escolha do tema, do local da pesquisa e como conduzir o
campo.

FASES DA PESQUISA: Você antes do campo – de qualquer jeito; o campo antes de você e
finalmente, o encontro entre você e o campo.
Ao decidir por um tema de pesquisa EVITE:
convém se perguntar:
1. Como lhe surgiu a ideia dessa escolha? Temas muito amplos; temas pitorescos e exóticos.

2. Por que escolheu estudar esse meio social? Também é preciso cautela com as pesquisas em

3. Por que tal lugar geográfico? instituições, “essas pesquisas são cercadas de obs-

4. De quais assuntos você “fugiu” a priori? táculos burocráticos que podem torná-las irrealizá-

veis” (BEAUD; WEBER, 2007, p.24).


a escolha do campo:

“Esta questão é, talvez, ainda mais importante que na preparar a pesquisa:


escolha do tema, pois, o tema evoluirá no decorrer de
sua pesquisa, ao passo que, salvo exceção (o que seria Levantamento da documentação prévia; montagem
lastimável), você não mudará de campo” (BEAUD; de uma bibliografia para si e a leitura dessa biblio-
WEBER, 2007, p.37). grafia pessoal.

ANTES DA PESQUISA - Leia estudos históricos, folclóricos e geográficos sobre seu campo; Leia relatórios de
pesquisa etnográfica para ter uma ideia do que você irá encontrar; Leia alguns “grandes” textos sobre o tema que
já escolheu, ou ainda, para escolher seu tema; Evite os manuais, enciclopédias ou textos muito especializados
sobre o tema.
DURANTE A PESQUISA - Prefira leituras que o entusiasmem. Lerá pouco, mas serão leituras decisivas; Leia
textos de referências para fazer comparações com o seu campo.
DEPOIS DA PESQUISA - Prefira leituras críticas; Leia textos dos quais não gostará e que estará, enfim, à
altura de criticar graças ao seu trabalho de campo; Leia textos especializados sobre seu tema de partida e sobre
o objeto que finalmente definiu.

REGRAS: prENCHA SUA VIDA INTEIRA!


1. Nunca gravar uma entrevista sem o seu interlocutor O melhor meio é viver essa atividade de pesquisa como
saber; um verdadeiro “trabalho” (mesmo que sem salário),
2. Pedir permissão para tirar fotos; impondo-se a si mesmo obrigações regulares que se
3. Manter à disposição de seu interlocutor as fotos, as esforçará por seguir tais como manter o diário de cam-
fitas, as transcrições que o afetam; po, fazer regularmente observações, realizar entrevis-
4. Nunca divulgar nada a respeito de seu pesquisado tas, ir em busca de documentos, consultar arquivos, ler.
em seu meio de interconhecimento; O trabalho de campo, pois, não aceita meia-medidas
5. Vigiar, o quanto possível, para manter separados ou trabalho pontilhado; exige que sua pesquisa preen-
os meios de pesquisa e a de análise (o meio univer- cha sua vida inteira (BEAUD; WEBER, 2007, p.69).
sitário). Os registros não devem circular no meio de
pesquisa; O DIÁRIO DE CAMPO:
6. Se publicar (livro ou artigo) mantenha o anonima- Na condução da pesquisa, o diário de campo é a princi-
to não só de seus pesquisados ( mude os nomes e os pal ferramenta do etnógrafo. “É um diário de bordo no
sobrenomes mas, também, se preciso os lugares e os qual, dia após dia, anotam-se em estilo telegráfico os
coletivos). O princípio desse anonimato é o seguinte: eventos da pesquisa e o progresso da busca” (BEAUD;
alguém que não conheça de antemão o lugar e as pes- WEBER, 2007, p.65).
soas não pode descobri-los, “reencontrá-los” com a “Um mês ou um ano, que importa, dirão alguns, mas
ajuda de seu texto. certamente não três ou quatro dias de tempos em tem-
pos” (BEAUD; WEBER, 2007, p.194).
OS TEMPOS DA PESQUISA:
Não poderá trabalhar se não tiver datas-limite. É lhe referência:
necessário um cronograma para não ser pego pelo BEAUD, Stéphane; WEBER, Florence. Guia para a
tempo, para não se precipitar no mau momento; para pesquisa de campo: produzir e analisar dados etnográ-
intercalar do modo mais eficaz possível fases de refle- ficos. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2007.
xões, de leituras e um trabalho de pesquisa mais ativo
(BEAUD; WEBER, 2007, p.86).

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