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Resoluções das atividades HISTÓRIA 2

M
Ó 7 O processo de formação da Primeira República; O domínio oligárquico na República Velha e os grupos sociais em conflito » 1
D 8 A crise da República Velha e a Revolução de 30; A Era Vargas » 4
U 9 O Estado Novo no Brasil; Da República Liberal ao Golpe de 64 » 6
L Atividades discursivas » 9
O
S

MÓDULO 7 04 E
O processo de formação da Primeira
Durante a Primeira República, também chamada de Repú-
República; O domínio oligárquico na
blica Velha, o país manteve sua estrutura agrária tradicio-
República Velha e os grupos sociais em
nal em diversas regiões, tendo substituído a escravidão por
conflito um modelo assalariado precário. A estrutura exportadora

PARA SALA
e de concentração de terras permaneceu, e a adoção de
ATIVIDADES
um novo modelo eleitoral, no qual o homem pobre pode-
ria votar – desde que alfabetizado –, exigiu que os latifun-
01 C diários se preocupassem em estabelecer o controle sobre
É muito comum que aqueles que chegam ao poder bus- o voto de seus trabalhadores. Os grandes latifundiários, os
quem a figura de um herói que, de alguma forma, simbolize coronéis, eram aqueles que possuíam poder econômico,
o novo poder e possa congregar a maior parte da socie- dada a concentração de terras, e poder político local, domi-
dade. Nesse sentido, percebe-se a escolha de Tiradentes nando as prefeituras e, na prática, o poder policial e de
como herói republicano. Um herói que não pegou em armas justiça, uma vez que delegados e juízes eram normalmente
– diferentemente de Frei Caneca e Bento Gonçalves – e que indicados por eles.
pode ser associado a uma maior dimensão, e não apenas
a uma região. Essa figura ganha ainda mais força em um 05 C
cenário de impopularidade do Estado, como ocorreu com a
República na década de 1890. Os chefes políticos da Primeira República ficaram conheci-
dos como coronéis, e suas práticas cotidianas, como coro-
02 A nelismo. Grandes proprietários rurais em áreas do interior
se tornaram líderes políticos locais, controlando as prefei-
O cronista denunciava, com esse texto, a ausência de par-
turas e detendo os poderes de polícia e de justiça, pois
ticipação popular no movimento que derrubou o Império
normalmente nomeavam delegados e juízes, além de se
e proclamou a República no Brasil. Essa ausência é expli-
imporem aos líderes religiosos. Do ponto de vista político,
cada pelo fato de a disputa política institucional, durante
organizaram verdadeiros currais eleitorais, controlando a
o oitocentos brasileiro, estar completamente alheia às
possibilidades e aos interesses das camadas populares, massa de eleitores por meio do voto de cabresto.
trabalhadoras, negras e recém-libertadas. O Império ruiu
por uma disputa entre setores das elites e das corporações 06 B
militares, não por um movimento popular massificado. Na A “política dos governadores”, instituída no governo C
­ ampos
verdade, tratou-se de uma quartelada que derrubou um Salles, era um arranjo governamental entre o governo fede-
regime que já não tinha condições sociais de se sustentar. ral, os governos estaduais e os governos municipais, visando
a uma constante troca de favores e benefícios. Nesse sen-
03 D tido, as oligarquias regionais eram peças fundamentais do
A questão se refere à política de reforma financeira ence- esquema, uma vez que elas detinham o controle eleitoral
tada por Rui Barbosa, o então ministro da Fazenda. Essa no Brasil.
reforma consistiu na facilitação da concessão de crédito,
por meio da emissão de papel-moeda nas casas bancá- 07 A
rias da Bahia, do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, à A alternativa A é a correta, pois a preocupação do IPHAN foi
iniciativa privada disposta a formar sociedades comerciais preservar as ruínas. Destaca-se que nelas não se encontram
anônimas para o desenvolvimento de atividades indus-
elementos bibliográficos ou técnicos e que não há materiais
triais, agrícolas ou terciárias no Brasil. Porém, uma vez que
que permitem a compreensão de questões étnicas.
o Estado não tinha capacidade para lastrear a emissão de
nova moeda em tal quantidade, decorreu a rápida desvalo-
08 E
rização da moeda nacional. Somado a isso, os créditos faci-
litados foram empregados antes na especulação financeira Os dois artigos do Código Penal de 1890 reproduzidos no
(na bolsa de valores) que no setor produtivo, resultando enunciado dirigem-se a combater o que era considerado, na
que não houve ganho econômico real para o país, apenas época, práticas de charlatanismo, isto é, o exercício da medi-
para os poucos particulares que conseguiram enriquecer cina que não passasse pela sanção do Estado e da comuni-
na especulação de papéis, que logo perderam valor. A polí- dade científica oficial. O que está em jogo nessas práticas
tica de Rui Barbosa resultou em inflação, queda da ativi- de censura e perseguição é uma mentalidade cientificista
dade produtiva e desemprego. e positivista, bastante forte entre o século XIX e a primeira

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metade do XX no Brasil, de repúdio a tudo que derivasse 04 A


da cultura popular, promovendo sua desvalorização automá-
A questão remete ao Encilhamento que ocorreu no governo
tica, inclusive dos conhecimentos populares e tradicionais
de Deodoro da Fonseca (1889-1891). O ministro Rui Barbosa
de cura, que não passavam pelos critérios do saber científico
ocidental. Por meio desses dois artigos do Código Penal, a criou uma política de crédito com o objetivo de estimular a
ciência moderna utilizava da força do Estado Nacional para industrialização. O Encilhamento não foi bem-sucedido e
condenar, perseguir e reprimir os saberes que lhe faziam contribuiu para o desemprego, inflação, especulação finan-
concorrência na vida cotidiana das pessoas. ceira, desvalorização da moeda, entre outros. As demais
alternativas estão incorretas. A política não causou um
09 A enorme fluxo da capital britânico no Brasil e não fortaleceu
O Rio de Janeiro era a capital do Brasil, cidade onde se os setores médios e populares urbanos. O café não foi subs-
encontravam representações diplomáticas e empresariais e tituído pelo açúcar.
que padecia da falta de infraestrutura básica. A política dos
governos federal e municipal de promover o saneamento e 05 B
o embelezamento da cidade, entendidos como moderniza-
Faz-se importante considerar café e indústria como par-
ção, foi implementada, de maneira autoritária, com a demo-
lição de casas populares e a vacinação forçada promovida tes integrantes do mesmo processo econômico no Brasil.
por Oswaldo Cruz. Logo, o “furacão Pereira Passos”, com Como o próprio texto da questão reforça: “é indispensável
suas imposições de reformas urbanas e um cenário de temor reunir café e indústria como partes da acumulação de capi-
da vacina, que existia no imaginário da população carioca, tal no Brasil”.
somados à ausência de divulgação de informação do Estado
sobre a vacina para a população, representou uma conjun- 06 B
ção de fatores para eclosão da Revolta da Vacina.
A questão trata do movimento político que ficou conhe-

PROPOSTAS
cido como florianismo, por seu apoio ao presidente Flo-
ATIVIDADES riano Peixoto, conhecido como Marechal de Ferro. O flo-
rianismo apareceu como uma reação à Revolta da Armada
em 1893, tendo sido possível pela existência anterior de
01 B um certo culto à personalidade de Floriano Peixoto, por
O texto do jornalista Aristides Lobo ficou famoso, na his- suas características viris, admiradas pela cultura patriarcal
tória do Brasil, por resumir o significado imediato do movi- brasileira (algumas passagens de sua vida eram cultuadas,
mento que derrubou o Império e instalou a República no especialmente sua atuação na Guerra do Paraguai). O flo-
país. A crítica do jornalista refere-se ao conteúdo unica- rianismo não se limitou ao seu foco inicial entre os alunos
mente militar do golpe, sem participação das elites civis
da Escola Militar; devido à atuação de Floriano em comba-
ou, muito menos, do povo da cidade do Rio de Janeiro,
ter a especulação sobre produtos de primeira necessidade
que ficou completamente alheio ao golpe de Estado,
observando-o “bestializado”. durante o sítio do Rio de Janeiro pela Revolta da Armada,
seu prestígio cresceu e avançou pelo meio civil. Floriano
02 D Peixoto foi transformado em símbolo da República para
Embora a escravidão tivesse sido abolida, o regime republi- segmentos populares urbanos. O florianismo tendeu a se
cano promulgou diversas medidas que perpetuaram a exclu- confundir com o jacobinismo do início da República, uma
são social, econômica e política da população de libertos e vez que ambos eram movimentos populares urbanos de
seus descendentes, negros ou mestiços. No campo político, defesa da República, embora nem todos os florianistas fos-
a exclusão se dava por meio do subterfúgio de exclusão de sem jacobinistas, ao passo que quase todos os jacobinistas
alguns grupos sociais dos direitos de cidadania, como os anal- fossem florianistas. Com a morte do marechal em 1895, o
fabetos, mendigos e soldados rasos (não oficiais), além das movimento perdeu sua referência e enfraqueceu-se.
mulheres. A composição racial dos três primeiros grupos era
majoritariamente negra, bem como a maior parte da popula-
ção negra era analfabeta. Usava-se, portanto, uma exclusão 07 D
social e econômica para reforçar a segregação política dos Como o texto deixa claro, havia uma disputa social em
negros no Brasil republicano. Assim, a exclusão racial era uma torno de que tipo de carnaval deveria ser adotado: o simi-
regra subentendida do regime republicano brasileiro. lar ao de Veneza (valorizado pelas camadas superiores) ou
o entrudo (valorizado pelas camadas populares).
03 A
A Revolta da Armada, movimento destacado no texto, 08 C
­ocorreu durante o governo de Floriano ­Peixoto, foi caracte-
rizada pela oposição da Marinha, destacando-se a alta ofi- A “política dos governadores” foi uma aliança formada
cialidade, a maior parte monarquista, aliada da nova estru- entre os presidentes da República, os governadores e os
tura de poder e pouco agraciada com as verbas militares, coronéis no Brasil durante a Primeira República. Tal polí-
destinadas fundamentalmente ao exército. A Revolta da tica, baseada no apoio mútuo entre as partes envolvidas,
Chibata, que também envolveu a Marinha, ocorreu em 1910 garantia o aumento do poder de influência dos líderes
e opôs marinheiros aos oficiais devido aos maus-tratos. regionais, ou seja, dos coronéis.

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09 C 13 E
A questão usa uma passagem da famosa trilogia gaúcha A questão trata do episódio da Revolta da Chibata, aconte-
O tempo e o vento para abordar uma dimensão do processo
cida no ano de 1910 no Rio de Janeiro. Essa revolta pode ser
político-eleitoral típico da República Oligárquica. A perso-
entendida como a explosão de tensões e conflitos não resol-
nagem Rodrigo Terra Cambará é um representante de uma
facção da elite agrária do Rio Grande do Sul, portanto, inte- vidos na sociedade brasileira em geral, e nas corporações
ressada na disputa do poder político contra outras facções militares, como a Armada, em particular, desde a crise do
igualmente elitistas. Rodrigo, no caso, representava a parcela escravismo e a abolição da escravatura. Trata-se da manuten-
da elite que estava na oposição, portanto, despojada, até ção de uma mentalidade escravocrata e racista por parte da
certo ponto, dos espólios advindos da conquista, por parti- população branca; essa mentalidade persistia legitimando
culares, da coisa pública, isto é, da República. A disputa entre violências diversas contra o povo negro afro-brasileiro, como
as facções das elites agrárias não se dava de modo pacífico, as chibatadas. A Revolta da Chibata foi, portanto, sob este
seguindo o exercício das normas do Estado de Direito, con- ponto de vista, um movimento de sublevação negra contra
forme consagradas pela Constituição liberal de 1891. Os o racismo estrutural da sociedade brasileira.
direitos básicos dos cidadãos eram reprimidos violentamente
pelos representantes das elites, de acordo com seus interes-
ses particulares. O mandonismo das elites agrárias submetia 14 C
as populações pobres e dependentes, formando verdadeiros A questão trata de alguns movimentos populares ocorridos
currais eleitorais, em que o voto de cabresto era a modali- durante a Primeira República, focando principalmente os
dade efetiva da suposta democracia liberal. que se desenrolaram no meio rural. Aqueles foram movi-
mentos de grande intensidade, que começaram a emergir
10 D desde a primeira década do novo regime, como Canudos.
De acordo com o historiador, o coronelismo foi um sistema Os movimentos populares expressavam as concepções
político de abrangência nacional, correspondendo ao forta- político-culturais de camadas da população brasileira que
lecimento da presença do Estado em todo o território nacio- eram marginalizadas e subalternizadas pelas elites agrárias
nal, de modo que os senhores locais se viram obrigados a proprietárias da vasta maioria das terras. Foi justamente
negociar e se inserir em relações e práticas clientelistas em contra a situação de concentração fundiária, extrema desi-
relação ao Estado e às elites nacionais, quando antes nem gualdade social e mandonismo das elites que surgiram os
sempre precisavam, pois eram mais autossuficientes, ou
movimentos de revolta como Canudos, o Contestado e o
seja, tinham maior poder e autonomia durante o Império.
cangaço. A revolta da Chibata, embora tenha acontecido
O coronelismo inseriu os senhores locais em redes de clien-
tela de alcance federal, em uma teia de trocas de favores e no meio urbano do Rio de Janeiro, foi consequência da
de apropriação privada do patrimônio público que dava aos similar situação de subalternização do povo negro des-
coronéis o controle sobre os cargos públicos em sua locali- cendente dos escravizados libertados sem reparação ou
dade, em troca da entrega dos votos da região que contro- indenização pela Abolição de 1888, que seguiu sendo sub-
lavam às elites estaduais e nacionais a que se alinhavam. metido a violências típicas do escravismo em corporações
como a Marinha. Assim, todas essas revoltas destacam o
11 E caráter de desigualdade social e racial da sociedade brasi-
Campos Salles instituiu, em seu governo, a chamada Polí- leira durante a Primeira República.
tica dos Governadores, um arranjo de troca de favores
entre os governos federal, estadual e municipal. Tal arranjo, 15 C
articulado à política do café com leite, também típica da
República Oligárquica, eram sustentadas pelo coronelismo A historiadora Yara de Ataíde se propôs investigar a proce-
que, ao fim e ao cabo, garantia, via corrupção e fraudes dência socioeconômica do povo que se reuniu ao redor de
eleitorais, que a elite brasileira se mantivesse no poder. Antônio Conselheiro e compôs a população de Canudos e
a defendeu contra os ataques das oligarquias e do Estado
12 E nacional. O beato conseguiu reunir milhares de pessoas
A charge reproduzida na questão representa a prática polí- em nome de sua causa devido ao seu intenso carisma mes-
tico-eleitoral do voto de cabresto. Trata-se de uma deno- siânico, isto é, como alguém em contato direto com Deus,
minação dada à prática autoritária, típica da República Oli- expressando elementos da cultura popular que, até então,
gárquica, dos coronéis para impor sua vontade política a quedavam invisíveis para as elites letradas, ainda que com-
todos os eleitores de uma dada localidade – em geral, esses pusessem os quadros da vida cotidiana da população pobre
eleitores eram de alguma forma dependentes do coronel, o e rural dos sertões brasileiros.
líder local, a quem encaravam como “padrinho” ou “benfei-
tor”, uma figura respeitada e temida, a quem não estavam 16 B
dispostos a contrariar, ademais por saber que era comum os
coronéis recorrerem à violência e a todo tipo de fraude para Sob liderança do marinheiro João Cândido, a Revolta da
atingirem os seus objetivos políticos. É preciso lembrar que Chibata foi um movimento de insurreição de militares da
o voto de cabresto era possível porque os votos eram aber- Marinha brasileira ocorrido em 1910. Por reverenciar esse
tos durante a Primeira República, permitindo aos senhores movimento e engrandecer seu líder, a canção de João
saber e controlar quem votava em quem, de modo a melhor Bosco e Aldir Blanc, produzida nos anos 1970, foi censurada
constranger os eleitores segundo o seu arbítrio. pelos órgãos de controle do Regime Civil-Militar brasileiro.

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17 D 02 A
A questão requer conhecimentos básicos sobre a Revolta Os artistas que fizeram a Semana de Arte Moderna de
da Chibata (1910), cujas características estão descritas na 1922 tinham um entendimento da cultura brasileira que
alternativa correta. Alguns elementos da primeira alter- estava em ruptura com os cânones até então aceitos.
nativa podem confundir o estudante, mas se referem à Isso significa que, ao invés de uma postura pessimista e
Revolta da Vacina (1904), ocorrida durante a presidência envergonhada em relação ao que há de africano, indí-
de Rodrigues Alves. gena, mestiço, caboclo ou mulato na cultura nacional
(lembrando que, para as elites intelectuais tradicionais, a
18 D presença africana na sociedade e na cultura brasileiras era
percebida como razão da miséria da nação, que deveria
A questão problematiza o conceito de bandido ou bandi- se embranquecer em vista de se aproximar da civilização
tismo social, conforme relacionado ao fenômeno do Can- europeia), os artistas de 22 adotaram uma visão inovadora
gaço. Este foi um movimento iniciado durante a Primeira e otimista em relação aos traços mais típicos da cultura do
República, persistindo até as décadas de 1930 e 1940, que Brasil. Para eles, o que era fundamentalmente original na
teve como características a dispersão, a descentralização cultura brasileira era o que Oswald de Andrade denomi-
e a prática da violência, algumas vezes extremada. O Can- nou o antropofagismo da cultura, isto é, sua capacidade
gaço pode ser interpretado como outra forma de reação de, entrando em contato com as mais diversas influências
à intensa concentração fundiária, à enorme desigualdade culturais (europeias, africanas, indígenas), absorvê-las,
social e ao cruel mandonismo dos coronéis durante a digeri-las e regurgitar (produzir) algo novo. Esse novo
República, ocasionando a formação de bandos de jagun- seria a cultura e a arte verdadeiramente brasileiras.
ços que deixavam de obedecer aos poderosos, passando
a agir com autonomia. Uma vez que os cangaceiros desa- 03 D
fiavam a autoridade dos senhores locais, o fenômeno foi A notícia do jornal anarquista O Combate relatava as con-
considerado como um tipo de resistência social pela via da dições de trabalho de várias crianças em uma fábrica da
criminalidade, contestando implicitamente a ordem social cidade de São Paulo, no bairro da Mooca, povoado prin-
opressiva da República Oligárquica. cipalmente por imigrantes no período. Por meio do relato,
é possível perceber as características do início da industria-
lização brasileira, marcada por uma intensa exploração do
MÓDULO 8 A crise da República Velha e a proletariado. Tal era possível pela inexistência de legislação
Revolução de 30; A Era Vargas que garantisse a proteção aos direitos humanos dos traba-
lhadores, permitindo a ocorrência de salários extremamente

PARA SALA
baixos, que mal garantiam a subsistência dos operários (ou
ATIVIDADES a reprodução da sua força de produção), pois não existia
política pública que regulamentasse o salário mínimo e o
trabalho infantil, evitando condições degradantes de traba-
01 C lho e violências físicas. A extrema exploração do trabalho
A questão trata das lutas do movimento operário brasi- tornava o trabalho de crianças e mulheres nas fábricas, por
salários ainda menores, uma exigência para a sobrevivência
leiro durante a República Oligárquica. Nesse momento, a
das famílias operárias.
luta do trabalho começava a se organizar no Brasil, tendo
recebido importante contribuição dos imigrantes europeus 04 C
(especialmente italianos, espanhóis e portugueses) que, Durante a década de 1920, o movimento tenentista se radicali-
então, migravam em massa para o país, instalando-se prin- zou e propôs mudanças políticas de caráter democrático para
cipalmente nos cortiços de São Paulo e do Rio de Janeiro. o país. Com a Revolução de 1930, muitos tenentes aderiram
Além de formação técnico-educacional que os capacitava ao novo governo, teoricamente represen­tante de mudanças
ao trabalho industrial, esses imigrantes também possuíam modernizadoras, porém de tendência autoritária e centraliza-
formação política na militância operária, difundindo as dora. A mudança deve-se à c­ ooptação de parte dos militares
pelo Governo Vargas, muitos dos quais passaram a ocupar as
ideias anarquistas e socialistas nos novos meios proletários
mais elevadas patentes e, ainda, cargos de interventores nos
que se formavam. Daí a primeira formação de sindicatos de
estados, tal como o próprio ­Juarez Távora.
orientação anarquista no Brasil, configurando o chamado
anarcossindicalismo. Os sindicatos anarquistas enfatizavam 05 D
a organização corporativa e comunitária dos trabalhadores, A Revolução Constitucionalista de 1932 é também cha-
tendo na realização de greves a sua principal estratégia mada de Revolução Paulista, pois reuniu diversos seto-
de combate ao capital e aos patrões. Em um contexto de res da sociedade desse estado, liderados pelas elites
inexistência de legislação trabalhista para a proteção dos – cafeeira e urbana – contra a centralização política ado-
direitos dos trabalhadores e em que as elites oligárquicas tada por Vargas e considerada pelos paulistas como uma
ditadura, pois o Congresso Nacional fora fechado, e os
depreciavam a questão social, considerando-a uma questão
governadores estaduais, destituídos e substituídos por
policial, isto é, de repressão violenta, o movimento operário interventores. Do ponto de vista simbólico, foi escolhido
anarcossindicalista enfrentou a brutal repressão do Estado o “bandeirante” para representar os paulistas: figura do
para organizar a greve geral de 1917, que conseguiu con- Período Colonial, típico da região e identificado como
quistar vitórias importantes para o movimento na ocasião. “herói” pela historiografia tradicional.

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06 E 05 E
A Constituição de 1934, de inspiração social-democrata, O termo faz alusão a duas classes sociais: os tenentes do
foi a primeira no Brasil a estabelecer o voto secreto e a Exército brasileiro, que durante a década de 1920 promo-
conceder o direito de voto às mulheres, fato que é lem- veram o tenentismo (movimento de oposição ao governo
brado pela charge da questão. oligárquico), e os aliancistas, jovens que se opunham ao
governo oligárquico e não aceitavam os resultados da
eleição de 1929.
ATIVIDADES
PROPOSTAS 06 E
A alternativa interpreta uma análise subjetiva de Getúlio
01 C
Vargas em seu governo, após a vitória de 1930, que divul-
Em 1917, meados da Primeira República, ocorreram inúme- gou uma foto “envergando um uniforme militar”. O líder
ras greves nas grandes cidades brasileiras. Esses movimentos adotou o traje já na eclosão do movimento revolucionário,
estavam inspirados nos mesmos ideais que fizeram eclodir a que contou com a participação predominante de unidades
Revolução Russa de 1917 (que adotou o comunismo), bem das Forças Armadas. Assim, o movimento de 1930 marcou
como nas ideias anarquistas. Vale notar que é incorreto relacio- o início de um processo de modernização conservadora
nar diretamente as greves de 1917 à Revolução Bolchevique do país, buscando atingir um grau elevado de desenvol-
que eclodia na Rússia no mesmo ano. Nesse momento, os vimento por meio de uma política centralizadora sem a
socialistas ainda não compunham grupo relevante no movi- participação popular.
mento operário brasileiro, dominado antes por anarquistas
e anarco-sindicalistas. O crescimento da influência socialista, 07 E
vinculada à URSS, é posterior. Na greve em Porto Alegre, o A questão mostra que, não obstante o fato de nenhum
governador Borges de Medeiros, em nome da ordem, aten- texto constitucional brasileiro ter explicitamente proibido
deu parte da reivindicação dos grevistas. Porém, um pouco o sufrágio feminino, foi apenas com o Código Eleitoral de
depois os grevistas sofreram perseguições ­políticas. 1932 e, depois, com a Constituição de 1934, que explici-
tamente permitiam às mulheres votar (cumpridas algumas
02 B condições), que este direito foi permitido. Esta inclusão
A questão aponta para a Semana de Arte Moderna de política das mulheres foi fruto de décadas de luta social
1922. Na década de 1920, ocorreu uma contestação gene- e política do movimento feminista sufragista no Brasil, em
ralizada dos valores vigentes no país. O Tenentismo foi ação desde o início do século, mas com especial influência
uma crítica à estrutura política – arcaica, viciada e corrupta a partir de 1920. O feminismo brasileiro estava em contato
– e que defendeu a moralização da política nacional. A estreito com movimentos similares nos Estados Unidos e
Semana de Arte Moderna, por sua vez, criticou os padrões na Europa, especialmente no Reino Unido, onde as mulhe-
estéticos tradicionais e defendeu a valorização do que era res também lutavam árdua e violentamente pelo direito ao
nacional e popular, como o indígena. voto. O feminismo sufragista agia por meio de movimen-
tações como a publicação de jornais e revistas periódicas
03 D voltadas para a discussão de problemas do feminismo,
realização de encontros e congressos para mobilização da
O trecho mostra como as elites agrárias se mostravam parti- militância, formação de organizações político-pedagógi-
dárias de uma estrita ortodoxia liberal ao deliberarem sobre cas, protestos públicos, cartas abertas, entre outras táticas.
a criação de legislação de proteção aos trabalhadores e de
regulação das relações de trabalho. É importante perceber a
08 E
ironia nas entrelinhas do texto, pois as oligarquias não tinham
Os dois primeiros partidos brasileiros de alcance nacional
prurido em desviar da ortodoxia liberal ao manter relações
surgiram durante o período de governo constitucional de
patrimonialistas com o Estado, desrespeitando os limites entre
Getúlio na década de 1930. Deve-se entender o fato de ter
o público e o privado, uma das bases do liberalismo, ou ao
sido aquela uma conjuntura de funcionamento das estrutu-
flagrantemente desrespeitarem as leis eleitorais, infringindo
ras republicanas e democráticas liberais, para além da pres-
os direitos políticos da maioria dos cidadãos do país − outro
são dos interesses das oligarquias agrárias e de crescimento
ponto em que se via o abismo existente entre o liberalismo e
econômico com o plano de industrialização e de regulação
as elites brasileiras. De modo que o propagado apego à orto-
da relação capital-trabalho promovidos pelo governo fede-
doxia liberal como justificativa para recusar as leis trabalhistas
ral. Neste contexto, as forças políticas nacionais se reorgani-
deve ser interpretado primeiramente como um discurso feito
zaram segundo os polos em confronto no plano internacio-
com o intuito de manter os interesses da elite na manutenção
nal: o fascismo e o socialismo soviético. Assim, do lado da
da exploração dos trabalhadores no Brasil.
extrema direita, surgiu a Ação Integralista Brasileira, o partido
de orientação fascista brasileiro, liderado por Plínio Salgado.
04 C Do lado da extrema-esquerda, o antigo líder tenentista Luís
O uso dessa frase atribuída a Washington Luís, bem como Carlos Prestes liderou a criação da Aliança Nacional Liberta-
sua oposição a outra famosa frase (“a questão social é caso dora. A AIB tendia a se identificar com o governo e apoiá-lo,
de política”), atribuída a Vargas, serviu para caracterizar o enquanto a ANL fazia oposição a Vargas. Vargas, porém, não
período da Primeira República como “opositor” dos tra- aderiu a nenhum dos lados em disputa, uma vez que dese-
balhadores e das classes baixas, além de ajudar o período java concentrar todo o poder em si mesmo. Tanto que, após o
posterior – Era Vargas – a se sagrar como aquele no qual o golpe do Estado Novo, tendo já caçado a ANL em 1935, tor-
trabalhador foi mais privilegiado. nou ilegal também a AIB, forçando o exílio de Plínio Salgado.

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09 B a hierarquia, a ordem e as instituições tradicionais, daí seu


lema ser “Deus, Pátria e Família”. Ou seja, a AIB defen-
Na década de 1930, o mundo estava bipolarizado entre
dia a autoridade da Igreja Católica, de um Estado forte e
comunistas inspirados na URSS e o nazifascismo inspirado
totalitário, a que os cidadãos deveriam devotar um culto
nos regimes totalitários. No Brasil, de um lado, havia a Ação
cívico encarnado na figura do líder carismático (que Plínio
Integralista Brasileira (AIB), liderada por Plínio Salgado e
Salgado via em si mesmo, não em Getúlio), e do pai de
apoiadora do Governo Vargas; inspirada no fascismo ita-
cada família, como forma de manter a violenta estrutura
liano, defendia um poder político centralizado e um nacio-
patriarcal tradicional da sociedade brasileira.
nalismo forte. Do outro lado, havia a Aliança Nacional Liber-
tadora (ANL), liderada pelo “Cavaleiro da Esperança” Luís
Carlos Prestes e contrária ao Governo Vargas; inspirada no MÓDULO 9 O Estado Novo no Brasil; Da República
comunismo da URSS, defendia a reforma agrária e a nacio- Liberal ao Golpe de 64
nalização de empresas estrangeiras, criticava o imperia-

PARA SALA
lismo dos EUA e rejeitava o pagamento da dívida externa.
A ANL não defendia a aproximação do Brasil com o ATIVIDADES
nazismo alemão; criticava, inclusive, o estilo de vida capi-
talista liderado pelos EUA.
01 C
10 C Toda a política trabalhista de Getúlio Vargas foi orientada
no sentido de promover a conciliação de classes. Desde
Desde os primeiros momentos de seu governo, Vargas
que chegou ao poder e, principalmente, na época da
entendeu que era necessário mudar a política traba-
ditadura do Estado Novo – época em que foi produzido o
lhista do governo federal, em relação ao que vinha sendo
documento citado –, o governo procurou intervir e contro-
praticado durante a República Oligárquica. Assim, seu
lar a organização sindical, elaborando legislação específica
governo, em suas distintas fases, procurou estabelecer
e exercendo práticas paternalistas, além de ter eliminado
uma relação de proximidade e controle com o movimento
toda liderança sindical influenciada pelo anarquismo.
operário e sindical (diferentemente da relação anterior de
repressão entre Estado e proletariado). Seu objetivo de
02 E
controlar o movimento operário pelo Estado varguista se
A Constituição de 1937 legitimou o Estado Novo (1937­-
concretizou pela promulgação de várias leis, que passa-
-1945), fase ditatorial da Era Vargas no Brasil, com feições
ram a regular as relações de trabalho nas indústrias. Essas
notadamente fascistas e que podem ser percebidas nas
leis foram instituídas buscando-se tanto o estabeleci-
formulações de Francisco Campos no texto, como a crítica
mento de proteções e garantias legais aos trabalhadores
à democracia e a defesa do poder centralizado na figura
quanto o controle da representação sindical, atrelando-a
de Getúlio Vargas.
ao Ministério do Trabalho.
03 D
11 A A questão trata da política de propaganda do Estado Novo,
Por Intentona Comunista, o governo de Getúlio Vargas reguladas pelo Departamento de Imprensa e Propaganda
designou o levante militar acontecido em 1935, plane- (DIP), para incentivar o culto cívico à figura carismática do
jado e liderado pela Aliança Nacional Libertadora (ANL). presidente Getúlio Vargas − convertendo este culto em
A ANL foi um movimento político de esquerda de proje- apoio irrestrito às políticas da ditadura. A propaganda oficial
ção nacional fundado durante o governo constitucional do regime, que incluía a distribuição de cartilhas como a que
de Vargas, sendo o braço legalizado do PCB clandestino. está reproduzida no enunciado em todas as escolas públicas
Não obstante a popularidade do movimento, em grande do país, visava exaltar o varguismo, destacando suas políticas
sociais e trabalhistas como benesses patriarcais e paternalis-
parte devida ao seu líder Luís Carlos Prestes, a ANL não
tas de Getúlio aos pobres − era, pois, uma medida despoli-
logrou organizar uma insurreição forte o suficiente para
tizadora e alienante do processo histórico, dissimulando as
sequer impor um real temor ao regime. Articulando uma
lutas que, décadas antes, geraram as medidas aprovadas por
revolta apenas de militares, sem ter um braço proletário Vargas para benefício (e controle) da classe trabalhadora.
ou camponês real, a insurreição da ANL ficou limitada a
uns poucos quartéis em diferentes pontos do país. Daí o 04 E
rápido fracasso da tentativa de revolta e a prisão dos seus Ao comparar os trechos dos programas políticos de dois
comandantes. partidos rivais durante a República Liberal, a questão mos-
tra que, não obstante tal rivalidade, havia semelhanças
12 D entre eles. Pois tanto o PSD, o partido varguista, quanto
a UDN, a oposição conservadora, defendiam a entrada
A Ação Integralista Brasileira (AIB) foi um movimento con- de capitais estrangeiros no país para o desenvolvimento
servador nacional de extrema direita que apareceu na polí- nacional. Vê-se, portanto, que os interesses econômicos
tica brasileira durante o governo constitucional de Vargas das elites se distribuíam entre vários partidos, garantindo
na década de 1930. Foi liderado pelo professor Plínio Sal- sua execução, quem quer que fosse eleito. Pode-se per-
gado e tinha como objetivo instalar um regime totalitário ceber também que as diferenças entre PSD e UDN eram
fascista no país. Como um partido fascista, a AIB valorizava mais políticas do que propriamente econômicas.

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05 D 09 B
Nesse pequeno trecho, os historiadores referenciados no Vamireh Chacon investigou a proveniência da doutrina
enunciado abordam o movimento queremista. Trata-se nacional-desenvolvimentista no Brasil. Para tanto, ele recu-
de um movimento político de alcance popular que tomou perou alguns aspectos da política externa do governo JK.
forma em 1945, no contexto da crise do Estado Novo e da Embora este governo seja lembrado primordialmente pela
transição para a democracia liberal. A bandeira do quere- rápida modernização da economia e da sociedade brasi-
leiras, por meio da instalação de indústrias de empresas
mismo era reivindicar a permanência de Getúlio Vargas
multinacionais, produtoras de bens de consumo duráveis,
na Presidência da República, preservando a transição sob
é interessante notar que esta abertura econômica não
a tutela varguista. É preciso lembrar que, no contexto do
ocorreu por meio de uma política externa subserviente
final da Segunda Guerra Mundial e da derrota internacional aos interesses dos Estados Unidos. Ao contrário, a política
do fascismo, Vargas era pressionado pela sociedade civil exterior de Juscelino, continuando, neste sentido, a de
e pelos militares a renunciar. O queremismo foi sua tenta- Vargas, tinha como eixo a ideia do desenvolvimento nacio-
tiva de resposta a estas pressões. Não obstante, Getúlio foi nal autônomo do Brasil, para o que era preciso negociar
obrigado a renunciar à Presidência ainda em 1945. duramente com os Estados Unidos. Ou seja, reestruturar
os termos das relações diplomáticas entre os dois países.
06 D O modo para alcançar este objetivo foi a criação da Ope-
Vargas governou o Brasil entre 1930 e 1945 em um contexto ração Pan-Americana, uma tentativa de formar uma frente
diplomática na América Latina, de modo a fortalecer os
populista, construindo a imagem de “Pai dos Pobres”, e
interesses da região frente aos dos Estados Unidos.
criou a Consolidação das Leis do Trabalho. Foi deposto

PROPOSTAS
em 1945 e, posteriormente, eleito em 1950. Adotou uma
política nacionalista ao criar a Eletrobras, a Petrobras, entre ATIVIDADES
outras estatais. O Brasil vivia uma grave crise política e
econômica, e, desgastado, Vargas se suicidou em 24 de 01 B
agosto de 1954. O povo ficou profundamente comovido Em 1937, Vargas implantou um regime de cunho ditato-
em seu cortejo fúnebre. rial no Brasil denominado Estado Novo, que vigorou até
outubro de 1945. Visando censurar a imprensa, as artes
07 D em geral, bem como o pensamento, e formar uma ideia
Em seu enérgico discurso na Central do Brasil, no Rio de que Vargas era o “pai dos pobres”, o governo criou
o Departamento de Imprensa e Propaganda, que, de
de Janeiro, em 13 de março de 1964, o presidente João
certa forma, era semelhante aos de regimes totalitários de
Goulart fez a defesa de sua proposta de reformas de base
direita e esquerda, como nazismo, fascismo, stalinismo e
para a sociedade brasileira, sabendo que as reformas pro- ditaduras como da Coreia do Norte, entre outras.
punham transformações profundas − por isso eram de
base − da sociedade brasileira, solapando alguns funda- 02 B
mentos dos poderes tradicionais das elites. Assim, a argu- Durante o Estado Novo, a política varguista preservou ideo-
mentação de Jango pautou-se na defesa de um conceito logias como o assistencialismo e o controle sobre os sindica-
de democracia mais popular, que não se dissociava da rea- tos, que eram parte de um modelo de relação entre o Estado
lização das reformas de base e de políticas de combate e os trabalhadores denominado populismo. A carteira de
às desigualdades sociais. Contra essa ideia de democracia trabalho foi instituída em 1932 apenas para os trabalhadores
popular, Jango se opôs à noção retrógrada, intolerante e urbanos, e reforçou a ideia de que o governo protegia os tra-
conservadora de democracia das elites brasileiras. balhadores e lhes dava garantias mínimas.

08 C 03 C
João Goulart, o Jango, governou em uma conjuntura histó- A charge comenta ironicamente três momentos da dita-
rica muito complicada. Após a renúncia de Jânio ­Quadros, dura do Estado Novo, liderada por Getúlio Vargas. O
em agosto de 1961, adotou-se o parlamentarismo para busto de Vargas do ano de 1937 ressalta as tendências
reduzir o poder de Jango, que teve muitos obstáculos para fascistas do regime, sua aproximação ideológica com o
integralismo e com países fascistas europeus, sobretudo
assumir o governo. Jango governou com poderes limita-
a Alemanha, a Itália, a Polônia, entre outros; o busto do
dos de setembro de 1961 até janeiro de 1963, quando foi
ano de 1941 sinaliza a aproximação do regime aos Estados
restabelecido o sistema presidencialista. A partir de então,
Unidos, em meio à Segunda Guerra Mundial, como parte
ele passou a governar o país com mais poderes constitu- da política de Getúlio de negociar melhores condições
cionais. Além da crise política, herdou problemas sociais financeiras e tecnológicas para a industrialização brasileira;
e econômicos, como inflação, dívida externa, greves e finalmente, o terceiro busto, aquele que representa Getú-
protestos. Apesar da tentativa de propor as Reformas de lio em 1945, ironiza o apoio dado pelo PCB à permanência
Base, teve um governo conturbado, até ser deposto pelos de Vargas no poder, aderindo ao movimento queremista,
militares em 31 de março de 1964. por instruções do Comintern em Moscou.

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04 A 08 A
As obras produzidas no período varguista destacaram A historiadora Ângela de Castro Gomes indica que o
uma nova concepção política, o populismo, que realçava queremismo e o PTB foram ambos movimentos inseridos
a importância das camadas trabalhadoras urbanas no pro-
na cultura política trabalhista brasileira; porém, eram tipos
cesso de desenvolvimento do país, dentro de uma pers-
diversos de movimentos. Enquanto o queremismo era um
pectiva nacionalista, sob o ponto de vista econômico e
movimento de agitação e mobilização popular, mais flexí-
cultural. Não se encaixam nesse modelo as elites agrárias
tradicionais e os trabalhadores rurais, ainda subordinados vel e menos hierarquizado, o PTB era um partido político
às práticas do coronelismo. formal, portanto, deveria se organizar conforme a legisla-
ção eleitoral em vigor. O que aproximava os movimentos
era sua fonte na cultura política trabalhista do país, cuja
05 B
maior bandeira, naquele momento, como agora, era a
Na época em que foi criado, o samba, uma das princi-
defesa da legislação trabalhista criada por Vargas, con-
pais manifestações culturais populares brasileiras, não era
bem-visto pela elite brasileira por estar vinculado à afri- sagrada, em 1942, na CLT. Vargas foi representado como
canidade. No entanto, a partir de 1930, o samba deixou a principal liderança política na defesa da CLT, sendo por
de ter caráter “local” para se tornar um símbolo da iden- essa razão defendido pelo queremismo e pelo PTB.
tidade nacional brasileira. A partir das décadas de 1940
e 1950, as emissoras de rádio começaram a dar grande 09 A
­destaque para esse gênero musical, visando à populariza- Ao mesmo tempo, Getúlio adotava um discurso cada vez
ção de seus programas. Vale ressaltar que, a partir de 1930, mais nacionalista e articulava o movimento queremista,
com ­Getúlio Vargas, o samba e o futebol foram associados favorável à sua permanência no cargo. Em 1945, o Exército
à identidade nacional e ganharam relevância na mídia. derrubou o presidente, evitando a continuidade.

06 C
10 A
O poema de cordel reproduzido no enunciado desmonta a
dissimulação de legalidade tentada pelo regime varguista A frase “O petróleo é nosso” foi utilizada como lema da
com a redação de um novo texto constitucional. Pois, como campanha para diminuir a importação e a dependência
o poema afirma, esta Constituição foi outorgada, diferente- do petróleo pelo Brasil, implantada pelo então presidente
mente da Constituição anterior, composta sem eleição, sem da República, Getúlio Vargas. Getúlio tinha razão em dizer
o voto popular, tratando-se, portanto, de uma medida auto- que o Brasil poderia, no futuro, ser um grande explorador
ritária. O conteúdo da nova Constituição corroborava esta dessa matéria-prima.
interpretação, uma vez que era marcadamente fascista, já
que suas inspirações foram as Cartas fascistas da Itália e da 11 E
Polônia. Vargas começava, com a outorga da Constituição,
a fechar radicalmente o regime, retirando todos os direitos A fotografia reproduzida no enunciado mostra o presi-
e garantias civis da população e concentrando o poder em dente Getúlio Vargas exibindo sua mão direita suja com
suas mãos. o primeiro petróleo extraído pela empresa pública brasi-
leira de petróleo, a Petrobras. Tratava-se de uma impor-
tante vitória de Getúlio, após a intensa campanha nacional
07 B
“O petróleo é nosso”, articulada para pressionar o Con-
O trecho comenta o padrão de comportamento dos políticos
gresso Nacional a aprovar a criação da Petrobras − uma
liberais, partidários da UDN, diante da incontornável popula-
ridade de Getúlio Vargas. O carisma de Getúlio, com base em iniciativa que era rejeitada pelos setores conservadores
suas políticas nacionalistas, populistas e populares, tornava-o, e liberais da política e da economia nacionais, sobretudo
bem como seus candidatos, imbatíveis nos pleitos abertos e pela UDN. A Petrobras foi criada em 1953, com o monopó-
democráticos. Os liberais, defendendo uma agenda político- lio da exploração e do refino do petróleo brasileiro, uma
-econômica contrária aos interesses da maioria da população bandeira defendida pelos partidos nacional-desenvolvi-
− a abertura e a desregulamentação da economia beneficiam mentistas, o PTB e o PSD.
muito mais a elite econômica brasileira e o capital interna-
cional do que a massa de trabalhadores −, não conseguiam 12 E
vencer Getúlio nas urnas. Sabendo que não poderiam evitar A volta de Vargas ao poder, em 1950, ocorreu de forma
a eleição e a posse de Vargas, a UDN partiu para a aposta direta. A campanha foi marcada pela tentativa de lem-
golpista, primeiro tentando travar o governo Vargas, fazendo brar à população as melhorias trazidas pelo presidente à
uma forte campanha moralista nos meios de comunicação
classe trabalhista no seu governo anterior. Esse é o teor
contra a corrupção do governo, de modo a tentar desgastar
dos textos.
a imagem de Getúlio. Em seguida, conspirando com os seto-
res das Forças Armadas inclinados ao liberalismo e ao capital
estrangeiro, para a realização de uma ruptura com a legali- 13 B
dade, de um golpe de Estado, para derrubar Vargas, ou seus A questão apresenta as Ligas Camponesas como a expres-
sucessores, do poder. Getúlio não foi derrubado, mas come- são política organizada de um sentimento de revolta das
teu suicídio no final do seu mandato, em 1954. Em relação à classes camponesas brasileiras – sentimento descrito poe-
estratégia, ela foi vitoriosa em 1964, com o Golpe Civil-Militar, ticamente por Graciliano Ramos em Vidas secas como um
amplamente apoiado pela UDN, que derrubou Jango. ódio (de classe) profundo e longamente contido, mas que

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explodiria inexoravelmente. As Ligas Camponesas come- um hábito hoje tão comum e despercebido como o uso de
çaram a se formar em 1945, organizadas por conta da mili- papel higiênico para limpeza pessoal e privada diz de um
tância de Francisco Julião, advogado membro do PCB. O entre outros inúmeros hábitos de comportamento e con-
objetivo das Ligas era garantir o acesso à terra aos traba- sumo, típicos do capitalismo e da sociedade burguesa, que
lhadores rurais, lutando contra a perpetuação da concen- foram introduzidos pela modernização da sociedade brasi-
tração fundiária no país. As Ligas tiveram forte atuação até leira a partir das décadas de 1950 e 1960.
1964, sendo seu principal feito a desapropriação do Enge-
nho Galileia, em Pernambuco. Com o Golpe Civil-Militar, 17 B
foram duramente reprimidas pela ditadura. O plebiscito votado em 1963 questionava a população sobre
o regime de governo que deveria vigorar no país: presiden-
14 C cialista ou parlamentarista. O plebiscito veio à tona após a
A Sudene foi um órgão criado pelo governo JK com o objetivo renúncia de Jânio Quadros, em 1962, e a formação de um
de gerar desenvolvimento econômico na região Nordeste. governo parlamentarista para governar o país enquanto se
Seu primeiro presidente foi o economista Celso Furtado, que discutia a posse ou não do vice João Goulart. Ele era rejei-
trouxe para o órgão a ideologia nacional-desenvolvimentista tado por parte da população brasileira por causa de seus
cultivada em ambientes como o ISEB. O Instituto Superior ideais de reforma social.
de Estudos Brasileiros foi criado em 1955, durante a transi-
ção entre o suicídio de Vargas e a posse de JK, vinculado 18 B
ao Ministério de Educação e Cultura. Era um instituto de A renúncia de Jânio Quadros, em agosto de 1961, desen-
pesquisa, desfrutando de plena autonomia de cátedra em cadeou uma grave crise político-institucional no Brasil.
relação ao Ministério e aos governos. Até ser extinto pelo Segundo a Constituição vigente, deveria assumir a Presi-
Golpe Civil-Militar de 1964, o ISEB foi o núcleo propagador dência o vice democraticamente eleito, que era João Gou-
das ideias nacional-desenvolvimentistas no Estado brasileiro, lart, líder do PTB, herdeiro do varguismo, ex-ministro do
tendo bastante influência nos sucessivos governos, especial- Trabalho de Getúlio e próximo aos sindicatos. Todavia, as
mente no de Juscelino. elites empresariais e agrárias, os liberais-conservadores e
as facções anticomunistas das Forças Armadas não quise-
15 A ram aceitar a posse de Jango (que, no momento, estava em
A questão aponta para uma forte polarização ideológica visita diplomática à China, depois de ter visitado a URSS),
ocorrida durante o Governo Jango. Depois de João Goulart por temerem uma radicalização à esquerda de seu eventual
assumir o poder após a renúncia de Jânio Quadros, as cama- governo. A tensão política cresceu, com Brizola, governador
das mais conservadoras da sociedade se opuseram a ele, do Rio Grande do Sul e cunhado de Goulart, iniciando uma
pois a imagem do novo presidente era vinculada ao comu- Campanha pela Legalidade para garantir a posse do vice. A
nismo. O Brasil passava por uma crise econômica e Jango possibilidade de um conflito armado era grande. Uma reso-
anunciou um plano conhecido como Reformas de Base, lução de compromisso foi articulada, então, no Congresso
que defendia uma ampla reforma no país nos campos da Nacional: o parlamentarismo. Jango poderia assumir, desde
educação, reforma agrária, urbana, tributária etc. O lan- que a função presidencial fosse esvaziada de autoridade, o
çamento desse plano não foi benquisto por boa parte da governo passando às mãos de um primeiro-ministro eleito
população, partidos políticos e militares pelo fato de suas pelo Congresso. O acordo foi selado, com a condição
propostas serem vistas como o início da implantação de de que seria realizado um plebiscito em 1963 para que a
um regime comunista no país. O início do texto da ques- população votasse, democraticamente, em qual regime de
tão trata desse fato, que gerou grande instabilidade polí- governo preferisse. Entre 1961 e 1963, portanto, o país foi
tica e social, culminando no Golpe de 1964 e na instalação governado pelo Congresso, tendo como primeiro-ministro
do Governo Civil-Militar. o político mineiro Tancredo Neves. Em 1963, após uma forte
campanha a favor do presidencialismo, este regime foi o
escolhido no plebiscito, resultando na concessão de plenos
16 E
poderes de governo a João Goulart. Iniciava-se uma crise,
A transformação econômica da sociedade brasileira na cujo ápice seria o Golpe Civil-Militar de 1964.
década de 1960 não teve como consequência apenas a dila-
tação do setor industrial e o aumento das possibilidades de
consumo. O desenvolvimento econômico trouxe consigo ATIVIDADES
uma intensa mudança de hábitos e de comportamentos
na vida cotidiana das pessoas, especialmente nas grandes
cidades e nas classes médias. Essas mudanças podem ser
qualificadas como uma modernização de hábitos arcaicos,
um civilizar-se de um povo ainda habituado a comporta-
Módulo 7
mentos antigos. Porém, o que está por trás destes qualita-
tivos apologéticos dos hábitos das sociedades capitalistas 01 a) De acordo com o trecho, a propaganda da República
burguesas é um esforço de controle dos corpos em todas associou Tiradentes ao ideal republicano, comparan-
as suas dimensões, tarefas, atividades. Trata-se de um traba- do-o à imagem de Jesus Cristo e à de representantes
lho de disciplina dos corpos e mentes, das subjetividades, das camadas populares.
que sempre acompanha a modernização capitalista, pois b) Presença de militares e atitudes autoritárias dos dois
é um dos fatores que lhe dá base. Assim, a introdução de presidentes.

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02 A chamada política do café com leite consistiu em um arranjo Módulo 8


político, articulado pelo presidente Campos Salles, para o 01 O arranjo político das elites oligárquicas durante a P
­ rimeira
revezamento das duas principais oligarquias estaduais no República propiciaram o crescimento do regionalismo no
cargo de presidente da República. Essa política, que não foi Brasil até 1930. Em primeiro lugar, a Constituição de 1891
sempre efetivamente executada, alternava, no governo do consagrou o sistema federalista, que dava maior auto-
país, as oligarquias de São Paulo, mais poderosa economi- nomia aos estados em relação à União. Somada a isso, a
camente, devido à sua expressiva produção de café e ao política dos governadores, orquestrada pelo presidente
início da industrialização, e de Minas Gerais, estado com a ­Campos Salles, deu grande influência aos líderes esta-
maior bancada no Congresso e grande produtor de leite, duais, em confluência com os mandatários locais. Nesse
cenário, os regionalismos estaduais ganharam poder na
ainda que sua maior riqueza também fosse o café.
Primeira República, refletindo seu caráter oligárquico.

03 a) No início do século XX, a industrialização paulista ainda 02 a) A própria chegada de Vargas ao poder, por meio de um
era precária. Compunha-se basicamente de indústrias Golpe Civil-Militar que ficou conhecido como Revolu-
têxteis e alimentícias, com baixo teor tecnológico. Ine- ção de 30, representou a defenestração da oligarquia
xistiam leis trabalhistas, resultando em superexploração paulista do governo federal, o que por si colocava esse
da classe trabalhadora, que precisava conviver com lon- setor em posição de tensão em relação a Getúlio. Após
gas jornadas de trabalho, condições insalubres (causas chegar ao poder, Vargas tentou uma política de conci-
liação com os cafeicultores, implementando uma polí-
de inúmeros acidentes de trabalho), dura repressão e
tica econômica de valorização do café (que ainda era o
trabalho infantil e feminino. A mão de obra industrial principal produto de exportação nacional). No entanto,
era predominantemente imigrante e europeia, favo- no plano político, esses esforços fracassaram, pois os
recida pelos industriais, em detrimento da população cafeicultores rejeitaram o modo intervencionista e cen-
negra, pobre e descendente de escravizados, devido tralizador de governar de Getúlio, caracterizado pelo
aos seus conhecimentos do trabalho fabril. autoritarismo e pela nomeação de interventores fede-
rais para governar os principais estados brasileiros.
b) A industrialização paulista tem suas raízes nos lucros
da cafeicultura do Oeste do Estado. A riqueza do café b) Do ponto de vista dos paulistas, a promulgação de uma
foi capitalizada, por muitos fazendeiros, em novos nova Constituição para o país seria um modo de frear
empreendimentos econômicos, em particular em novas legalmente as tendências autoritárias, já explícitas durante
o governo provisório de Vargas. A Constituição também,
indústrias, caracterizando a mentalidade empresarial
ao providenciar novas eleições, seria uma etapa necessá-
típica dos cafeicultores paulistas.
ria para a volta das oligarquias ao poder federal.

04 a) Segundo o pesquisador Roberto Ventura, a campanha 03 Em reação ao domínio político da oligarquia paulista na
pela destruição de Canudos foi motivada pelas pressões política nacional, surgiu a Aliança Liberal – formada por
dos grandes proprietários de terra da Bahia e da Igreja Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul – e que, após a
Católica. Os fazendeiros temiam um movimento popu- Revolução de 1930, promoveu a ascensão de Getúlio Vargas
lar que contestava a ordem social estabelecida e a auto- ao poder. Dos tenentes fiéis a Vargas, muitos foram nomea-
dos interventores nos estados, e outros, como o grupo de Luís
ridade política dos coronéis. A Igreja, por sua vez, não
Carlos Prestes, passaram a militar na ANL (Aliança Nacional
podia tolerar a heterodoxia da pregação do beato Antô-
Libertadora) sob influência do comunismo.
nio Conselheiro, que contestava a riqueza da Igreja e não
aceitava a autoridade dos bispos e padres.
Módulo 9
b) Canudos emergiu da insatisfação popular com os rumos 01 Getúlio Vargas governou o Brasil entre 1930-1945. Entre
políticos, econômicos e morais da República – Antônio 1937-1945 foi implantada a ditadura do Estado Novo, ins-
Conselheiro se opunha, em especial, aos novos regis- pirada em regimes totalitários europeus. Havia uma forte
tros civis, que retiravam da alçada da Igreja as com- centralização política nas mãos do Executivo e foi criado o
provações dos nascimentos, casamentos e óbitos da DIP, Departamento de Imprensa e Propaganda, para cuidar
população, que eram feitos, até então, pelos registros da imagem do presidente, fortalecendo a ideia de “Pai dos
paroquiais de batismo e casamento. O tom monar- Pobres”. Notícias políticas ou econômicas que não agrada-
quista da pregação do beato não se associava a uma vam ao governo eram censuradas. Só era permitido o Brasil
que “dava certo”. A música e a arte como um todo também
defesa de D. Pedro II, mas sim à tradição milenarista do
sofreram com a censura. Músicas que defendiam a malan-
sebastianismo (a crença no retorno do rei português D.
dragem, como “O bonde de São Januário” eram proibidas.
Sebastião, que inauguraria uma era inaudita de pros- Músicas ufanistas que exaltavam a nação, o trabalho, a dis-
peridade). A pregação de Conselheiro teve ressonância ciplina, etc., como “Aquarela do Brasil”, de Ari Barroso, de
social devido à situação de extrema miséria da popu- 1939, eram sempre bem-vindas. Controlar a informação,
lação sertaneja, oprimida ainda pelo mandonismo dos reestruturar a grade curricular da educação e censurar é a
grandes proprietários de terra, os coronéis. receita das ditaduras para se perpetuar no poder.

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02 O segundo Governo Vargas (1951-1954) foi coroado de pro- estavam disseminados e exaltados, as políticas de Jango,
blemas. Em primeiro lugar, a conjuntura histórica era outra, assim descritas, levaram-no a ser associado ao comunismo,
agora Vargas teria que governar em um ambiente político o que foi agravado por suas propostas para reformas de
mais democrático, portanto teria que negociar. Havia a base, especialmente a reforma agrária.
“herança maldita” deixada pelo Governo Dutra, que gastou c) A expressão “legalismo” refere-se ao apoio e ao reco-
as reservas do Brasil, bem como uma crise econômica, e o nhecimento do regime de direito, consagrado pelo pacto
ministro João Goulart deu um aumento de 100% no salário constituinte no país – uma autoridade legitimada pela
mínimo, gerando um sério desconforto para o governo. A Constituição. No contexto do Governo Goulart, a legali-
UDN, liderada por Carlos Lacerda, fazia uma forte oposi- dade estava no apoio ao presidente eleito conforme as
ção ao governo nacionalista e populista de Vargas. Vargas regras constitucionais e que governava por elas, antes e
não mandou um exército brasileiro para lutar na Guerra da depois do plebiscito que consagrou, novamente, o presi-
Coreia, o que irritou o governo dos EUA. O atentado na Rua dencialismo em 1963. A defesa do legalismo, nesse con-
Tonelero contra Carlos Lacerda foi fundamental para inten- texto, envolvia rechaçar propostas golpistas, em ruptura
sificar a crise política. Diante desse cenário conturbado, Var- com a normalidade democrática, indicada por setores
gas suicidou-se em 24 de agosto de 1954. conservadores no Congresso (nesse sentido, a adoção
do parlamentarismo pode ser vista como uma quebra
03 A charge se refere ao episódio do plebiscito realizado em com a legalidade constitucional) e nas Forças Armadas.
1963 para decidir qual seria a forma de governo no país: o Após o Golpe Civil-Militar de 1964, a legalidade passou
parlamentarismo ou o presidencialismo. Naquele momento, a estar ao lado do Estado autoritário, pois ele se apoiava
o Brasil experimentava um acordo político que instaurara o em regimentos jurídicos, como o Ato Institucional no 1,
parlamentarismo, única forma em que os grupos liberais e que consagravam a nova forma de governo, ainda que
conservadores admitiram a posse de João Goulart como não democrática.
presidente, em meio à crise política deflagrada pela renún-
cia de Jânio Quadros, em agosto de 1961. Jango, herdeiro
da tradição política getulista, era visto com suspeita pela
UDN e pelos militares, que o tachavam de comunista, graças
ao seu viés populista. No momento da renúncia de Jânio
Quadros, Jango estava em viagem oficial a países socialistas,
a China e a URSS, o que agravou as suspeitas. Instalou-se
uma crise quanto à sucessão presidencial, e o parlamen-
tarismo foi a saída, costurada pelo deputado mineiro Tan-
credo Neves, para permitir o retorno de Goulart ao país e
sua posse como presidente, porém sem todos os poderes
do cargo, que foram transferidos ao próprio Tancredo, eleito
primeiro-ministro pelo Congresso. A solução de compro-
misso deveria ser confirmada por um plebiscito nacional em
1963. Nessa votação, a maioria da população rejeitou o par-
lamentarismo, resultando no retorno ao presidencialismo e
na concessão de plenos poderes a Jango, o que agravou a
crise política e abriu caminho para o Golpe de 1964.

04 a) Nas décadas de 1950 e 1960, o rádio era o principal meio


de comunicação de massa presente no Brasil (a televi-
são ainda estava em seu início e não alcançara toda a
população brasileira). Assim, o uso do rádio permitia um
profundo e amplo alcance para campanhas publicitárias
e políticas, contribuindo para o início das campanhas
políticas de massa no Brasil, alcançando todas as suas
regiões, mesmo as mais afastadas do eixo Rio-São Paulo.
b) Algumas políticas de João Goulart afastavam-se da orto-
doxia liberal, especialmente sua ênfase no desenvolvi-
mento nacional e no cuidado com as questões trabalhis-
tas. Ao mesmo tempo, essas políticas aproximavam-se das
aspirações dos grupos de esquerda, em um momento em
que o Partido Comunista, seguindo orientações da Inter-
nacional Comunista na URSS, adotava uma política de con-
ciliação com regimes liberais como uma etapa necessária
para uma posterior revolução socialista. No contexto da
Guerra Fria, em que o medo e o ódio ao anticomunismo

Pré-Vestibular – Livro 3
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