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Manuel Uache Bembele

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

Maputo, 2020

I- INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO


I.1. Noção preliminar de Direito

Quando se inicia o estudo de uma determinada disciplina ou cadeira tem sido


comum apresentar a definição. Estamos na Cadeira de Introducao ao Estudo do
Direito, mostra-se lógico definir o que seja Direito.

A definição do termo “Direito” é muito complexa e o mesmo termo tem muitos


significados, por isso só épossível definir com profundidade depois de
apresentar alguns aspectos que serão abordados nas próximas áulas. Por essa
razão, aqui vamos dar uma noção preliminar do termo “Direito”. Podemos dizer
que Direito é um sistema de normas que regulam a vida do Homem em
Sociedade. O Homem vive em sociedade, por isso precisa do Direito para
regular a vida em sociedade.

1.2. Definição de Introdução ao Estudo do Direito

A cadeira Introdução ao Estudo do Direito pode ser definida como conjunto de


matérias jurídicas e não jurídicas que visam iniciar alguém no conhecimento e
raciocínio jurídicos.

I.3. Objecto e finalidade da Introdução ao Estudo do Direito

A Introdução ao estudo do Direito deve abordar «sobre os apectos fundamentais


do Direito, na sua vida prática e na sua compreensão teórica. (....) sobre o vasto
mundo do direito e, vendo-o um pouco de alto (...) procurar surpreender os seu
aspectos fulcrais de ordem prática e de ordem teórica, para que, ao fim da
caminhada, possam os alunos ter recebido as sementes (...) da sua formação

1
jurídica, e ter a ideia do que é Direito, tal como se apresenta, dia a dia, na luta pela
vida, e tal como aparece moldado pelas indagações que sobre ele fazem os
estudiosos»1.

A Introdução ao estudo do Direito tem como propósito «Sugerir no espírito dos


alunos o que é Direito na sua realização, como ele aprece, em que consiste, como é
vivido nos seus momentos de evolução, normal ou fisiológica, ou nos seus
momentos de perturbação, anormal ou patológica»2.

A Introdução ao Estudo do Direito tem a finalidade:

iniciar alguém (neste caso estudantes) no conhecimento e raciocínio jurídicos;

i. dar a ferramentas fundamentais para usar na aplicação e ou estudo do


Direito;

ii. chamar atenção às particularidades do Direito: por exemplo algumas


palavras tem certo significado na linguagem comum mas que no âmbito
jurídico a mesma palavra pode, em alguns casos, ter um sentido comum e
noutros casos ter um sentido técnico jurídico. Por exemplo, nos termos da
alínea t), do nº 2 do artigo 178 da Constituição da República de
Moçambique (CRM) “É da exclusiva competência da Assembleia da
República: [...] ratificar e denunciar os tratados internacionais”. A palavra
“denunciar”, tanto na linguagem comum como em Direito processual Penal
sigifica queixa, por essa razão podemos ouvir a polícia a dizer que as
pessoas devem denunciar os malfeitores. Contudo, na alínea t), nº 2 do artigo
178 da CRM, a palavra “denunciar” é um conceito do Direito Internacional
Público que consiste em a Assembleia da República dizer que um tratado
internacional ratificado por Moçambique já não vigora mais em
Moçambique.

iii. incutir um maior rigor no uso das palavras, ou seja deve dizer (através da
fala ou escrita) a palavra certa no lugar certo. Não deve dizer palavras que
possam comprometer no futuro. Não deve dizer muito nem dizer pouco, mas
sim o que efectivamente quer dizer. Por exemplo, se uma pessoa diz que
“naquele dia não roubei” está a dizer, as vezes sem se aperceber, que noutro
1
INOCENCIO GALVAO TELES, Introduçã ao Estudo do Direito., vol. I, pag. 13
2
Bibdem

2
dia roubou. Também quando a pessoa diz “não sou tão parvo assim” está a
dizer, talvez sem se aperceber, que ele é parvo. É por essa razão que a
Filosofia, sobretudo a Lógica tem muita imprtância para o Direito.

II. PROFISSÕES JURÍDICAS


Geralmente, as pessoas acham que um licenciado em Direito só pode ser Juiz,
Procurador ou Advogado, mas, como veremos, tem várias saídas profissionais,
para além das três enumeradas.

Dividimos esta abordagem em profissões jurídicas (profissões rigorosamente para


juristas) e profissões para-jurídicas (profissões quase-jurídicas).

II.1. Profissões Jurídicas

Aqui na Introdução ao Estudo do Direito serão dadas algumas noções sobre estas
profissões, aspectos complementares podem ser aprofundados na legislação citada.

II.1.1. Magistrado Judicial e Magistrado da Jurisdição


Administrativa (Juiz)

Depois de fazer a licenciatura em Direito e passar a formação específica no Centro


de Formacao Jurídica e Judiciíria pode ingressar na carreira de Magistrado Judicial
ou Magistrado da Jurisdicao Administrativa.

Nos termos do artigo 3 do Estatuto dos Magistrados Judiciais 3, a Magistratura


Judicial tem a função de aplicar a lei, administrar a justiça e fazer executar as suas
decisões. Os magistrados judiciais não podem abster-se de julgar com fundamento
na falta, obscuridade ou ambiguidade da lei ou dúvida insanável. O dever de
obediência à lei não pode ser afastado sob pretexto considerar o conteúdo da lei
injusto ou imoral.

Nos termos do nº 1 do artigo 216 da CRM (Constituição da República de


Moçambique), no exercício das suas funções os Juízes são independentes a apenas
obedecem à lei.

3
Aprovado pela Lei nº 7/2009, de 11 de Março. Publicado no Boletim da República (BR) nº 10, I Série, de 11 de
Março de 2009; alterado pela Lei nº 3/2011, de 11 de Janeiro e pela lei nº 8/2018, de 27 de Agosto

3
Portanto, «Esta independência significa que o juiz não recebe ordens nem pedidos
de ninguém. Nenhum chefe de Estado, Ministro, deputado ou qualquer outra
pessoa pode pedir ou dar ordens ao juiz para que julgue desta ou daquela maneira,
nem tão pouco podem censurá-lo pela forma como julga».4,

Nos termos do artigo 219 da CRM «O Conselho Superior da Magistratura Judicial


é o órgão de gestão e disciplina da magistratura judicial».

A alínea a) do artigo 221 da CRM, preceitua que o Conselho Superior da


Magistratura Judicial compete «nomear, colocar, transferir, promover, exonerar e
apreciar o mérito profissional, exercer a acção disciplinar e, em geral, praticar
todos os actos de idêntica natureza respeitantes aos magistrados judiciais»

Nos termos do artigo 47 do Estatuto dos Magistrados Judiciais, os Juízes


Conselheiros e os Desembargadores têm o título de Venerando e os juízes demais
de Direito o título de Meritíssimo.

II.1.2. Magistrado do Ministério Público (Procurador)

Depois de fazer a licenciatura em Direito e passar a formação específica no Centro


de Formacao Jurídica e Judiciíria pode ingressar na carreira de Magistrado do
Ministério Público5.

A função dos Magistrados do Ministério Público estão previstas na Lei nº 4/2017,


de 18 de Janeiro bem como na legislação que regula os processos judicias.

Em resumo, são funções desta magistratura: Exercer a acção penal; zelar pela
observância da legalidade e fiscalizar o cumprimento das leis e outras normas
legais; assegurar a defesa jurídica daqueles que o estado deva protecção especial:
menores, ausentes e os incapazes; participara nas audiências de discussão e
julgamento, colaborando no esclarecimento da verdade e enquadramento legal dos
factos, podendo fazer perguntas e promover a realização de diligências que visem a
descoberta da verdade material; recorrer para as instâncias superiores das decisões

4
FLAMINO MARTINS, O Advogado em Casa, pags. 15/16
5
PARA VER MAIS DETALHES SOBRE O MINISTÉRIO PÚBLICO VER: ROSA WHITE. Procuradoria Geral
da República de Moçambique. Maputo: Procuradoria Geral da República, 1997; RIBEIRO JOSĖ CUNA. O
Ministério Público. Maputo: Centro de Formacao Jurídica e Judiciária, 2011; HÉLIO FILIMONE, PGR: 30 anos
pela legalidade Efectiva. Maputo: Ministério Público, 2019

4
judiciais nos termos da lei; representar e defender junto dos tribunais os bens e
interesses do Estado e das autarquias locais, os interesses colectivos difusos.

Importa referir que o Magistrado do Ministério Público quando toma


conhecimento da prática de um crime (mesmo que seja através dos meios de
comunicação social) deve começar a investigar esse crime.

O Magistrado do Ministério Público desempenha as suas funções junto do tribunal


onde está afecto, sem prejuízo do trabalho que deva fazer nas instalações da
procuradoria na unidade orgânica onde esteja também afecto.

Nos termos do nº 2 do artigo 237 da CRM, «O Conselho Superior da Magistratura


do Ministério Público é o órgão de gestão e disciplina do Ministério Público».

Os Procuradores-Gerais Adjuntos e os Sub-Procuradores-Gerais têm o título de


“Digníssimo”, recebendo o tratamento de “Excelência”, e os Procuradores da
República o título de “Digno”, merecendo o tratamento de “Exmo Senhor”.

II.1.3. Advogado

As funções e outros assuntos relativos ao Advogado estão reguladas nos artigos 62


e 63 da CRM, no Estatuto da Ordem dos Advogados de Moçambique (OAM) 6, na
legislação processual e noutra legislação7.

Um licenciado em Direito após aprovar o estágio profissional está em condições de


exercer a advocacia.

Nos termos do nº 1 do artigo 52 do Estatuto da OAM, «Só os advogados e


advogados estagiários (...) podem, em todo o território nacional e perante qualquer
jurisdição, instância, autoridade ou entidade pública ou privada, praticar actos
próprios da profissão e, designadamente, exercer o mandato judicial ou funções de
consulta jurídica em regime de profissão liberal».

6
Aprovado pela Lei nº 28/2009, de 29 de Setembro. Publicado no BR nº 38, I Série, 2º Suplemento, de 29 de
Setembro de 2009
7
Para ver o percurso hitórico da advocacia em Moçambique ver: CARLOS ALBERTO CAUIO. Discurso do Ilustre
Bastonário Dr. Carlos Alberto Cauio, por ocasião da Tomada de Posse dos Membros dos Órgaos da Ordem dos
Advogados de Moçambique: Separata da Revista da Ordem dos Advogados, Ano 56, II – Lisboa, Agosto de 1996

5
Nos termos do nº 3 do mesmo artigo, são ainda actos próprios da advocacia,
quando praticados no interesse de terceiros: a negociação tendente à cobrança de
dívidas; elaboração de contratos; a instrução, organização, requisição e
apresentação de actos de registos nas respectivas conservatórias e demais entidades
públicas; instrução, organização e marcação de escrituras de diversa natureza e
acompanhamento dos actos notariais; instrução e elaboração de documentos e
requerimentos destinados a quaisquer processos e consulta dos mesmos nos
serviços de finanças, secretarias de autarquias locais e demais entidades públicas; a
representação e intervenção no âmbito dos procedimentos de formação de
contratos ou actos de entidades públicas.

Nos termos do artigo 56 do Estatuto da OAM, «A denominação de advogado é


exclusivamente reservada aos licenciados em Direito com inscrição em vigor,
nessa qualidade, na Ordem dos Advogados».

Nos termos do artigo 92 do Estatuto da OAM, «Os advogados estão sujeitos à


jurisdição disciplinar exclusiva dos órgãos da Ordem dos Advogados, nos termos
previstos neste Estatuto e nos respectivos regulamentos».

Os Advogados são denominados Ilustres Advogados.

Técnico Superior de Assistencia Jurídica do IPAJ

O Instituto do Patrocínio e Assistencia Jurídica (IPAJ) foi criado pela Lei nº 6/94,
de 13 de Setembro. Nos termos da última parte do artigo 1 desta Lei o IPAJ “(…)
tem por função garantir a concretização do direito de defesa constitucionalmente
consagrado, proporcionando ao cidadão economicamente desprotegido, o
patrocinio judici’ario e a assistência jurídica de que carecer”. A Resolucao8 nº
32/2009, de 31 de Dezembro, criaa Carreira de Técnico Superior de Assistência
Jurídica. Para ingresso nesta carreira deve possuir licenciatura em Direito ou
equivalente e ter aprovado em curso de capacitação específico.

¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤

Pilares da Justiça

8
Da Comissão Interministerial da Função Pública

6
Estas três primeiras profissões (Magistrado judicial, Magistrado do Ministério
Público e Advogado ou Técnico Superior de Assistencia Jurídica do IPAJ) são
chamados Pilares da Justiça. Quando os três estão intervêem num processo
judicial considera-se que estão criadas as condições para uma boa administração da
justiça.

II.1.4. Conservador

A palavra conservador serve para designar funcionários encarregados de cuidar de


bens de carácter cultural (museus, palácios, monumentos, bibliotecas e arquivos).

A palavra Conservador serve também para designar o funcionário encarregado de


fazer registos nas conservatórias (de registos civil, predial, automóvel, entidades
legais).

É este segundo Conservador de que estamos falando.

Um licenciado em Direito, após uma formação complementar, está em condições


de desempenhar esta função.

O Conservador procede ao registo dos factos constantes da legislação, como seja


no Código de Registo Civil, aprovado pela Lei nº 12/2004, de 8 de Dezembro 9,
alterado e republicado pela Lei nº 12/2018, de 4 de Dezembro 10, no Código do
Registo Predial, no Código do Registo Automóvel.

II.1.5. Notário

A palavra Notário tem dois significados. Um deles refere-se ao local


(estabelecimento ou instituição) onde são praticados os actos notariais, tais como
reconhecimento de assinaturas, autenticação de documentos particulares, etc. Por
outro lado, a palavra Notário serve para designar o funcionário encarregado de
praticar actos notariais.

Aqui usamos o termo Notário para nos referir ao profissional que trabalha no
notário (estabelecimento), que pratica actos notariais.

Um licenciado em Direito, após uma formação complementar, está em condições


de desempenhar esta função.
9
Publicado no BR nº 49, I Série, Suplemento, de 8 de Dezembro de 2004
10
Publicado no BR nº 236, I Série, de 4 de Dezembro de 2018

7
O Notário procede ao registo dos factos constantes da legislação, muito em
especial do Código do Notariado, aprovado pelo Decreto-Lei nº 4/2006, de 23 de
Agosto.11

II.1.6. Consultor Jurídico

É a chamada advocacia preventiva. Ou seja aconselha as pessoas a agir, de modo


que a sua acção esteja de acordo com a lei. Uma pessoa (singular ou colectiva)
antes de praticar um acto pode consultar um consultor jurídico para saber quais são
os passos a seguir para a prática correcta (em termos legais) daquele acto.

Emite pareceres orais ou escritos.

A consultoria jurídica pode ser desempenhada por um Advogado, um Juiz, um


Procurador ou outro licenciado em Direito.

II.2. Profissões Para-Jurídicas (quase jurídicas)

II.2.1. Diplomata

Um diplomata representa um Estado (geralmente seu Estado) noutros Estados ou


em Organizações Internacionais.

Pelos conhecimentos adquiridos ao longo do curso de Direito (sobretudo em


cadeiras como Ciência política, Direito Internacional Público, Direito Internacional
Económico e outras) o licenciado em Direito está em condições de exercer a
diplomacia.

II.2.2. Administrador

Pelos conhecimentos adquiridos ao longo do curso de Direito (sobretudo em


cadeiras como Economia, Finanças públicas, Direito fiscal, Direito económico,
Direito Comercial, Direito do Trabalho e outras cadeiras) o licenciado em Direito
pode trabalhar na administração de empresas e outras organizações
(Administrador, Director, Membro do Conselho de Administração, Secretário
Geral e outras funções).

II.2.3. Docente de Direito

11
Publicado no BR nº 34, I Série, de 23 de Agosto de 2006

8
Um licenciado em Direito pode abraçar a carreira de docência em Direito. Ao
longo da formação o estudante de Direito lê muitos manuais, elabora trabalhos de
investigação e observa os vários métodos de ensino dos vários Professores e
Docente isso permite-o estar em condições de ensinar o Direito.

II.2.4. Investigador Jurídico

Um licenciado em Direito pode dedicar-se à investigação. Pode ser um


investigador independente ou estando integrado em organizações (tribunal,
procuradoria, ministério, parlamento, município, estabelecimento de ensino, de
entre outras organizações).

II.2.5. Outras actividades

Um licenciado em Direito reúne requisitos para ocupar muitas categorias


profissionais nos sectores público e privado. Os qualificadores profissionais da da
Administração Pública tem muitas categorias que podem ser desempenhadas por
licenciados em Direito. Por exemplo, nos termos da Resolução nº 12/99, de 9 de
Dezembro, do Conselho Nacional da Função Pública, que aprova os Qualificadores
das carreiras, categorias e funções comuns do aparelho de Estado, para ser
Assessor de Ministro, de Secretário de estado ou ser Técnico Superior N1 exige-se
como um dos requisitos possuir uma licenciatura. Como se pode depreender, um
licenciado em Direito pode ser Assessor Jurídico de um Ministro ou Secretário de
Estado. Por outro lado, nos termos da mesma Resolução, um licenciado em Direito
pode ser Técnico Superior de Administração Pública N1, porque para aceder a essa
categoria exige-se licenciatura em Administração Pública, Direito, Economia,
Gestão, Sociologia, Psicologia ou Antropologia.

PERGUNTAS DE CONSOLIDAÇÃO E PERGUNTAS PARA REFLEXÃO


II

1. Com base nos sites indicados na bibliografia procure a seguinte


legislação:
 Estatuto dos Mgistrados Judiciais, aprovado pela Lei nº 7/2009, de
11 de Março,

9
 Lei nº 4/2017, de 18 de Janeiro, que aprova a LeiOrgânica do
Ministério Público e o estatuto dos Magistrados do Ministério
Público;
 Estatuto da Ordem dos Advogados aprovado pela Lei nº 28/2009,
de 29 de Setembro;
 Regulamento do Estágio da Ordem dos Advogados de
Moçambique.
2. Diga quais são as profissões jurídicas e, dentre elas, quais são as que são
consideradas Pilares da Justiça. Porque é que essas mesmas profissões
são consideradas Pilares da Justiça?
3. Alda e João viram no jornal que um Jurista tinha sido nomeado
Diplomata. Os dois comentaram a decisão dizendo que a decisão tinha
sido injusta pois um Jurista só pode ser Juiz, Procurador, Advogado,
Notário e Conservador. Diga, justificando, se concorda ou não com a
ideia de Alda e João.

III. CIÊNCIAS QUE ESTUDAM O DIREITO


O Direito é também estudado por outras ciências, só que estas outras ciências não
estudam o Direito usando o método jurídico, estudam o Direito usando o método
dessas ciências. Ou seja, a sociologia do Direito estuda o Direito usando o método
e raciocínio da sociologia, a Filosofia do Direito estuda o Direito usando o método
e raciocínio da Filosofia, a História do Direito estuda o Direito usando o método e
raciocínio da História.

Por outro lado estas ciências tem o seu objecto de estudo e dentro desse objecto
tem uma parte que trata do Direito. O seja, a Sociologia do Direito não faz parte do
Direito mas sim é ramo da Sociologia; a Antropologia do Direito não faz parte do
Direito, faz parte da Antropologia social.

São várias as ciências que estudam o Direito mas aqui vamos nos limitar as
algumas.

IV.1. Política Legislativa ou Política do Direito

A Política do Direito ou Política Legislativa estuda as formas de melhorar a ordem


jurídica através da legiferação (aprovação de leis)12.
12
JOSÉ OLIVEIRA ASCENSÃO Introdução ao Estudo do Direito, pág, 149

10
Deve-se ter presente que «Se alguém faz um projecto de um novo código ou de
uma lei, faz obra de política legislativa. Mas muitas vezes as considerações de
ciência do direito e de política legislativa entremeiam-se no mesmo trabalho: o
jurista (…) ao referir determinada solução como vigente, expõe também a sua
maneira de ver sobre os méritos ou deméritos dessa solução»13.

Portanto, «Ao lado da teoria e da técnica da legislação, cabe ainda à Política do


Direito indagar dos campos de interesse que podem interferir no processo
legislativo, como por exemplo, os chamados ´grupos de pressão´(lobies, que por
muitos modos, lícitos ou ilícitos, procuram determinar as opções normativas dos
legisladores»14.

A Política do Direito “Reflecte sobre o aprefeiçoamento do ordenamento jurídico,


analizando-o de forma crítica, giza alternativas para a correspondente refoma, quer
através da produção de normas, quer através de formas não normativas de
intervenção. [...] Determina a necessidade e a oportunidade dessas modificações, e
procede à respectiva calendarização implementadora. [...] A Legística – ou Ciência
da Legislação – destaca-se como um dos principais instrumentos técnicos da
Política do Direito. [...] Tomada a decisão política de produzir novas normas ou de
elaborar novas decisões, e escolhe-se a oportunidade adequada, importa executá-la
de forma mais perfeita. [...] Nomeadamente, em sede de sistematização e redacção
de textos, visando torná-los mais claros, mais concisos, mais coerentes, melhor
sistematizados, e assim, mais acessíveis a todos os seus destinatários, juristas e não
juristas”15.

IV.2. Sociologia do Direito

O Direito regula a vida do Homem em sociedade, daí a importância da Sociologia


do Direito.

A Sociologia, “pode ser definida como uma ciência positiva que estuda a
formação, transformação e desenvolvimento das sociedades humanas nos seus
diversos níveis, nomeadamente, económico, cultural, artístico e religioso. [...] Já o
13
Bibdem
14
MIGUEL REALE, Lições Preliminares de Direito, 25ª edição, pág. 312
15
L. BARBOSA RODRIGUES, Introdução ao Direito: Geral, Interno, da União Europeia e Internacional, pág. 80

11
Direito pode ser analisado como uma ciência normativa, que estabelece e
sistematiza regras necessárias para assegurar o equilíbrio das funções do
organismo social.”16,

Por outro lado, devemos saber que “o Direito é uma realidade eminentemente
sociológica, no sentido de que nasce na sociedade, só nela existe e visa assegurar a
sua própria estabilidade e harmonia. Por outras palavras, a existência da Ordem
Social é assegurada pelo Direito”17.

A “Sociologia Jurídica tem por objecto a identificação e estudo das consequências


dos tipos de norma de conduta social que são impostas pelos grupos sociais. Nesta
perspectiva, a sociologia jurídica é uma ciência generalizadora que procura
elaborar leis gerais sobre a íntima relação existente entre sociedade e direito,
cabendo a esta ciencia estudar os processos sociais que levam ao direito e os
efeitos que o direito causa na sociedade”.18

A «sociologia do direito é um sector especializado da sociologia geral, cujo objecto


é investigar a criação, as transformações e a aplicação do Direito na realidade
social» .«(...) Os seus métodos são os usuais na sociologia (...)». Para este autor «o
estudo e a compreensão do Direito não é possível sem uma clara abertura para a
realidade social (...)».19

Para José de Oliveira Ascensão 20 «Se o Direito é uma ordem da sociedade, é


preciso conhecer a sociedade para conhecer o direito. A norma legal, por exemplo,
não pode ser vista como algo de separado e que tem em si um sentido perfeito, mas
como uma base cujo sentido só será plenamente captado através do confronto com
dada situação social. Por isso, são já numerosos hoje os juristas que, abandonando
meros dogmatismos, se interessam pela sociologia (...)».

José de Oliveira Ascensão21 identifica dentro da Sociologia do Direito a Sociologia


Judiciária que faz a análise da actividade dos tribunais, permitindo «estudos muito
interessantes sobre o comportamento das partes, das testemunhas ou dos juízes,
levando a ter em conta, por exemplo, factores de erro ou de desvios que não
16
DOMINGOS PEREIRA DE SOUSA, Noções Fundamentais do Direito, pág. 60
17
Ibdem
18
Idem, pág. 62
19
ANGEL LATORRE Introdução ao Direito, págs 255/256
20
Introdução ..., pág. 155
21
Introdução..., pág. 151

12
resultam da mera visão normativa do processo». Este autor identifica também a
Sociologia Prisional na qual o «estudo dos meios prisionais leva-nos a conclusões
muito importantes sobre os seus frequentadores, a influência de uns sobre os
outros, a repercussão dos métodos diversos de tratamento por parte das autoridades
prisionais, etc».

IV.4. Filosofia do Direito

A Filosofia do Direito pode ser definida como o “Estudo da origem e fins do


direito como um todo integrado nas ciências humanas (Geraldo Magela Alves)”.22

De acordo com L. Barbosa Rodrigues23 a “Filosofia do Direito não se recorta como


segmento do Direito, mas como segmento da Filosofia. [...] A sua função assume
perfil escatológico, interrogando-se em permanência sobre o próprio conceito do
Direito, sobre a natureza deste, sobre os seus fundamentos, sobre os respectivos
fins”

A Filosofia do Direito propõe-se “Essencialmente, compreender a substância do


Direito como fenómeno universalmente necessário, fazer a sua crítica à luz dos
ideais superiores que o dominam e responder às questões últimas que ela suscita”24.

De acordo com Oliveira de Ascensão25 o Direito é adequado para suportar a


reflexão filosófica, pois desde os tempos passados os filósofos debruçaram-se
sobre temas jurídicos, não para conhecer o Direito para aplicar, mas para especular
sobre os problemas que a ordem jurídica levanta: «(...) um homem é preso, levado
a juízo, condenado, é-lhe imposta uma pena. Mas pode um homem julgar outro
homem?, pergunta o filósofo a que a descrição da situação não contenta. Pode-se
aplicar penas? Porquê? Para quê? À filosofia compete responder às interrogações
últimas que o direito suscita».

IV.5. História do Direito

A História do Direito ou História jurídica «tem por objecto a evolução dum sistema
jurídico ou de alguns dos seus aspectos, através do tempo. (…) O seu estudo a
fundo requer que se una a formação do jurista à do historiador, não só porque o
22
MARIA HELENA DINIZ. Dicionário Jurídico, volume 2
23
Introdução ao Direito Geral, Interno, da União Europeia e Internacional, pág. 78
24
INOCÊNCIO GALVÃO TELLES, Introdução ao Estudo do Direito, Vol. 1, 11ª edição, pág.15
25
Introdução..., págs. 155 /156

13
método de investigação é o próprio das ciências históricas, mas também porque na
realidade a história do Direito, ao mesmo tempo que é uma dimensão do
conhecimento deste, é um aspecto da história geral, da qual não se deve separar se
não queremos cair nesse formalismo alheado da realidade que já denunciamos
várias vezes como um dos mais graves defeitos de que pode enfermar uma análise
do Direito»26.

A História do Direito «visa reconstituir as ordens jurídicas que vigoraram no


passado. O estudo do Direito de povos desaparecidos é história do direito, como é
história do direito o estudo de épocas jurídicas passadas de povos actuais. A
História do Direito é a parte da História que estuda a realidade da ordem
jurídica».27

Ascensão entende que a História do Direito tem uma função explicativa: «Não
basta à História do Direito descrever o que foi o direito de um povo; é necessário
ainda que ela explique que esse direito, valorizando os factores que conduziram a
uma dada situação. Para isso o historiador do direito deve ser sensível à evolução
das instituições e às consequentes alterações de regras jurídicas que aquela
provoca. Como sabemos, o direito é uma ordem da sociedade; é por isso necessário
valorar todos os elementos relevantes na sociedade para apreender devidamente a
ordem jurídica»28.

Mais adiante acrescenta que a «História do Direito não é portanto um ramo


divorciado da história geral de uma sociedade, é antes o ramo dessa história geral
que se destina à reconstituição da ordem jurídica».

PERGUNTAS DE CONSOLIDAÇÃO E QUESTÕES PARA REFLEXÃO

1. Comente a seguinte frase: “a Filosofia do Direito por estudar realidades


jurídicas deve fazer parte do Direito e usar o método jurídico”.
2. Comente, no mínimo em 10 linhas, o seguinte trecho (extraído da obra
Introdução ao Direito, pág. 251, de Angel Latore): “A história jurídica tem por
objecto a evolução dum sistema jurídico ou de alguns dos seus aspectos,
26
ANGEL LATORRE Introdução ao Direito, pag. 251
27
OLIVEIRA ASCENSÃO Introdução..., Págs. 60 e seguintes
28
Ibdem

14
através do tempo. (...) O seu estudo a fundo requere que se una a formação do
jurista à dos historiador, não só porque o método de investigação é o próprio
das ciências históricas, mas também porque na realidade a história do Direito,
ao mesmo tempo é uma dimensão do conhecimento deste, é um aspecto da
história geral (...)”

IV. CIÊNCIAS AUXILIARES AO DIREITO


Qualquer ramo do conhecimento não é autónomo para resolver todos os seus
problemas, por isso recorre a outras ciências para o auxiliarem. Estamos
recordados que a Física usa fórmulas da Matemática e Vice-versa.

Há problemas jurídicos que para serem bem solucionados precisamos de aplicar


conhecimentos das outras ciências.

V.1. Medicina Legal

A Medicina Legal é de extema importância pois ela «é uma Ciência auxiliar do


Direito, insubstituível, sem a qual não se concebe uma correcta administração da
justiça»29. Ela «nasceu da necessidade de solucionar as questões judiciárias por
meio de conhecimentos médico-biológicos (...)»30 .

A Medicina Legal pode ser definida como «conjunto de conhecimentos médicos e


biológicos necessários para a resolução dos problemas que coloca o Direito, tatnto
na aplicação das Leis como no seu aperfeiçoamento e evolução. (...) A Medicina
Legal (...) é a Ciência que tem como objectivo o estudo das questões que se
apresentam no exercício profissional do Jurista cuja resolução se fundamenta total
ou parcialmente em certos conhecimentos médicos ou biológicos prévios»31.

A Medicina Legal “comporta várias definições, todas elas convergem para o


conceito que indica ser essa ciência um importante auxiliar da justiça, esclarecendo
factos de natureza biológica”.32

29
ANTÓNIO EUGÉNIO ZACARIAS, Temas de Medicina Legal e Seguros, pag. 45. - [ Maputo]: Edição do Autor,
2004
30
Ibdem
31
Ibdem
32
RIZUANE MUBARAK Direito Penal e Criminalística: da teoria universal à realidade nacional, pág. 240

15
Como base no que foi referido pelos autores, podemos dizer que a Medicina Legal
é a aplicação da Medicina e Ciências auxiliares (biologia, física, química, etc.) para
uma boa aplicação do Direito.

A Medicina Legal auxilia o Direito em várias áreas, podendo-se destacar:

 Em processos criminais de homicídio. Em caso de morte violenta ou


suspeita a polícia, procurador ou juiz pode requerer um exame médico legal
do cadáver para determinar a causa jurídica da morte.
 Em caso de ferimentos provocados por acidentes (de viação, aviação,
ferroviário, de trabalho, etc), ferimentos provocados por acções criminosas
pode-se solicitar o exame médico legal à pessoa que sofreu o acidente ou
violência. Pode ser necessário que a Medicina Legal determine a
percentagem da incapacidade que o acidentado terá sofrido. Por exemplo,
nos termos do artigo 25 da Lei nº 29/2009, de 29 de Setembro (Lei sobre a
Violência Doméstica), preceitua que «Sempre que forem recebidos casos de
violência doméstica, as unidades sanitárias ou serviços de medicina legal
devem elaborar um relatório pormenorizado de avaliação do estado de saúde
das vítimas, com a descrição das lesões causadas, o tratamento administrado,
o tempo provável da recuperação, se a isso houver lugar, indicar as possíveis
sequelas e os instrumentos utilizados na agressão, que deve ser remetido ao
Ministério Público ou à polícia».
 Em casos de violações sexuais. Para mais detalhes ver o Despacho do
Ministro da Saúde de 16 de Agosto de 2010, que aprova as Normas de
Atendimento Integrado às Vítimas de Violência de Género33.
 Em processos judiciais de investigação ou de averiguação da maternidade ou
paternidade a Medicina Legal pode ser chamado a intervir para realizar o
exame de maternidade ou paternidade.
 No Direito desportivo a Medicina Legal auxilia o Direito em assuntos como
controle de doping.

+++ ver legislação que aborda o exame/laudo médico: CPP, e outras. Ver a
outra obra de Eugenio Zacarias ++++

33
Publicado no Boletim da República, I Série, nº 2, de 12 de Janeiro de 2011.

16
V.2. Psicologia Jurídica

Psicologia Jurídica é «psicologia aplicada ao melhor exercício do direito, não se


limitando a solucionar apenas problemas voltados a assuntos processuais ou de
direito penal, de criminologia, de regime penitenciário ou policial (Paulo Matos
Peixoto)»34

A psicologia jurídica actua onde há inter-relação entre o Direito e a Psicologia.

Na administração da Justiça (por exemplo, durante um processo judicial) pode-se


solicitar o laudo pericial ou parecer de um psicólogo. Por exemplo, num processo
de violência doméstica pode o juiz da causa solicitar o laudo de um psicólogo para
determinar os efeitos psicológico da violência doméstica. Para mais detalhes ver o
Despacho do Ministro da Saúde de 16 de Agosto de 2010, que aprova as Normas
de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência de Género.

Os juízes, procuradores, advogados e outros intervenientes na administração da


justiça pode-se valer dos conhecimentos da psicologia para descobrir se as
testemunhas e declarantes estão ou não a mentir.

V.3. Criminologia

A Ciência Criminal ou Criminologia “Assume como escopo o estudo do facto


criminal, das suas causas, do modo de o prevenir e mitigar ou, um sentido mais
amplo – e antropológico – o estudo do proprio criminoso que o encarna. [...] No
interior da Ciência Criminal – ou da Ciência Criminal tradicional –
subjectivamentecentrada no autor do facto criminosos, vem progressivamente
emergindo a Vitimologia. [...] Isto é, [a] análise desse facto não apenas numa
óptica de compreensão do crime ou de aprofundamento das garantias do
delinquente, mas também numa perspectiva de consideração e apoio socialmente
socialmente devidos à vítima”.35

Pode-se dizer que a Criminologia é a ciência que estuda as causas da criminalidade


e propõe soluções para combater a criminalidade.

MARIA HELENA DINIZ Dicionário Jurídico, vol. 3


34

L. BARBOSA RODRIGUES Introdução ao Direito: Geral, Interno, da União Europeia e Internacional, páginas
35

81 e 82

17
Quando a criminologia detecta algumas causas da criminalidade o seu combate
pode ser através de medidas jurídicas ligadas à legislação, condução do processo
judicial, organização das prisões, etc.

A criminologia auxilia-se, por sua vez, da antropologia criminal, psicologia


criminal, sociologia criminal, criminalística.

V.4. Criminalística

A Criminalística investiga o crime analisando o local do crime para ver os


vestígios. A análise cuidadosa dos vestígios pode dar pistas sobre os autores do
crime bem como os instrumentos usados. De acordo com Piere Fernand Ceccaldi 36,
a «criminalística baseia-se no facto de que um criminoso (e, na maior parte das
vezes, sem dar por isso) deixa sempre, no lugar do crime, alguns vestígios; que,
por outro lado, também recolhe, na sua pessoa, na sua roupa e no seu material,
outros vestígios geralmente imperceptíveis mas característicos da sua presença ou
da sua acção».

Hans Hellmut Kirst37 ensina-nos que «Quando um investigador chega ao local do


crime deve proceder a uma verificação, de que fará um relatório. (...) Primeira
medida: proteger o local, não deixando aproximar ninguém». Hans Hellmut Kirst 38,
mais adinate, refere que o Investigador «Procede segundo as regras clássicas da
criminalística:[…] 1. Quem cometeu o delito?[…] 2. Quando, a que horas e em
que dia foi cometido o delito?[…]3. Onde? Em que sítio? (Elabora um desenho do
local do crime, tira fotografias e recolhe indícios.)[…]4. O que pretendeu o
criminoso? Que género de delito praticou? Quais as leis que infringiu?[…] 5.
Como procedeu o delinquente? O seu crime foi premeditado, bem organizado?
Teria ajudantes, cúmplices, alguém de atalaia?[…] 6.Com que trabalhou o
criminoso? Que método utilizou, que utensílios? Há indícios visíveis que denotem
um método especial?[…]7. Porque cometeu este delito? Com que fim?»

A criminalística estudas várias coisas ligadas ao crime. Por exemplo a obra de


Piere Fernand Ceccaldi aborda: Sinalética e identificação (Antropometria e
36
A Criminalística, pág. 14. – Mem Martins: Publicações Europa América, 1988
37
Inquéritos policiais. Lisboa/São Paulo: Editirial Verbo, [197?], pag. 16
38
Inquéritos policiais, pag. 17

18
Dactiloscopia); as manchas e vestígios (manchas e resquícios biológicos, manchas
e resquícios não biológicos, vestígios ou impressões digitais); tiros (armas,
munições, identificação, trajectórias); fogos (explosões, incêndios, vestígios);
falsificações (documentais, fiduciárias, obras de arte).

PERGUNTAS DE CONSOLIDAÇÃO E QUESTÕES PARA REFLEXÃO V

1. O jornal «O País», na sua edição do dia 14/09/2011, na página 10,


publicou uma notícia segundo a qual “A cidadã boliviana, que recentemente
foi detida no Aeroporto Internacional de Maputo por transportar droga no
seu organismo, já está nas mãos da Polícia da República, depois de ter
permanecido alguns dias no Hospital Central onde lhe foi extraída droga
(...)”. Com base no que foi aprendido (sobretudo, no capítulo das Ciências
Auxiliares ao Direito) comente a passagem da notícia acima transcrita.

2. A Alda e o Bento são estudantes do 1º ano do curso do Direito


ISGECOF. Num belo dia os dois estavam a conversar nos seguintes
termos:
- Alda: Estive a ver todas as cadeiras do nosso curso do 1º ano
ao 4º ano e cheguei à triste conclusão de que há cadeiras que
temos mas que acho que são cadeiras para nos fazer chumbar.
Bento, achas correcto, mesmo, termos uma cadeira de
Medicina num curso de Direito?

-Bento: tens toda razão, eu também já identifiquei muitas


“cadeiras estranhas ao curso”

 Comente, no mínimo em 10 linhas, o diálogo entre estes dois estudantes.

V. RELAÇÃO ENTRE O DIREITO E OUTRAS CIÊNCIAS


Tal como uma pessoa que precisa de se relacionar com os outros (vizinhos,
colegas, irmãos da sua religião, etc.) as ciências também precisam de se relacionar
umas das outras. O Direito relaciona-se com muitas ciências, pois ela deve tratar de
tudo o que está ligado à vida do Homem em sociedade.

VI.1. Relação entre o Direito e a Economia

19
De acordo com Ruy A. Baltazar39 «A forma como as sociedades se organizam, as
leis que nelas existem, a fiscalidade e inúmeros outros factos diretamente
estudados pelo direito, diretamente influenciam a actividade económica. Por
exemplo, a política dos impostos praticada pelo estado é uma norma jurídica que
diretamente influi no comportamento das pessoas e das empresas. Por outro lado, a
evolução dos quadros jurídicos das nações e, em grande medida, o resultado de
alterações na estrutura económica».

Benjamim Alfredo40 entende que a “regulação da vida das pessoas em sociedade


através de normas jurídicas constitui a grande vitória da sociedade na
harmonização das suas relações. Da mesma forma que as normas do Direito tem o
mérito de regular também a actividade económica. (...) A actividade económica
assenta numa base jurídica, num ordenamento que os Estados determinam como
forma de harmonizar os interesses políticos, económicos e sociais”.

Para Soares Martinez41«os ensinamentos económicos hão de destinar-se a


projectar-se em normas. Mas quando essas normas correspondem ao mínimo ético,
quando essas normas são julgadas indispensáveis à conservação do homem, ou à
sustentação do estado social, o Direito absorve-as». Martínez acrescenta que «(...)
mesmo as estruturas liberais, não deixaram de disciplinar, em termos de Direito,
aspectos respeitantes à produção e à repartição dos bens económicos». «(...)
também quase todos os preceitos jurídicos assentam em razões económicas».

Martínez diz, mais adiante, que «Compreende-se, assim, que a evolução da


Economia e a evolução do Direito apresentem muitos aspectos comuns. Há ramos
de Direito em que há mais nítida a influência da evolução económica. Assim
acontece com o Direito Comercial, com o Direito das Obrigações, com os Direitos
Reais, com Direito Fiscal e com o Direito do trabalho. Mas mesmo os institutos
jurídicos aparentemente afastados das realidades económicas acusam, com clareza,
a influência de modificações nelas operadas. É o caso do pátrio poder, poder
marital, dos regimes respeitantes à continuidade do vínculo conjugal».

Diogo Freitas do Amaral42 diz que «Desde sempre houve relações estreitas entre o
Direito e a Economia: o Direito regula múltiplos aspectos das actividades
39
Texto de Apoio de Introdução a Economia Política I, [Maputo]: Universidade Eduardo Mondlane, 1990, pag. 25
40
Noções Gerais de Economia e Desenvolvimento, pág. 87
41
Economia Política, 8ª edição, págs 43/44
42
Manual..., vol. I, pag. 147 e seguintes

20
económicas; a conjuntura económica leva muitas vezes a alterar certas normas
jurídicas; e os interesses económicos pressionam o Poder político para que elabore
normas mais favoráveis às suas pretensões».

Diogo Freitas do Amaral para ilustrar a estreita relação entre o Direito e a


Economia acrescenta que há ensino das cadeiras do Direito nas faculdades de
Economia e o ensino das cadeiras económicas nas faculdades de Direito.

Diogo Freitas do Amaral mais adiante ensina-nos que «a Economia influencia o


Direito, pelo menos por duas formas: por um lado, a evolução natural dos
fenómenos económicos leva muitas vezes os governantes a estabelecer normas
jurídicas para os regular, incentivando-os ou contrariando-os (…) por outro lado,
os agentes económicos e sociais pressionam o Poder político para que altero o
Direito no sentido de favorecer os seus interesses – como sucede quando os
empresários reivindicam reduções de impostos, e os sindicatos exigem aumentos
de salários (...)».

As constituições da República de Moçambique de 1975, 1990 e de 2004 regulam


muitos aspectos da acividade económica. Também temos muita legislação que
regula aspectos económicos.++++abordar o período em que era proibida a
medicina, ensino privados +++

VI.2. Relação entre o Direito e a Sociologia

De acordo com Domingos Pereira de Sousa 43 “o Direito é uma realidade


eminentemente sociológica, no sentido de que nasce na sociedade, só nela existe e
visa assegurar a sua própria estabilidade e harmonia. Por outras palavras, a
existência de uma Ordem Social é assegurada pelo Direito”.

Domingos Pereira de Sousa44 faz-nos perceber que o “indivíduo faz parte de


grupos, de organizações de interesse de diversa natureza e fins, mas não prde
nunca a sua autonomia, no sentido em que em princípio age de acordo com a sua
motivação egoística e interesses próprios. [...] Ao ingressar na sociedade o
indivíduo tem de se adaptar às normas vigentes. Estas normas podem estar de
acordo com a moral social ou com a lei, divergindo com relação ao tipo de
conduta. O comportamento desviante é suscetível de ser sancionado. Funcionando
43
Noções Fundamentais de Direito, pág 60
44
Noções Fundamentais de Direito, pág 61

21
a tutela repressiva estadual, então haverá lugar à aplicação da sanção, com base na
sentença judicial, nos termos previstos na lei. [...] Há situações em que o Direito
não prevê qualquer tipo de reação para certas condutas sociais. Porém, sempre que
um indivíduo desrespeita de forma séria regras de convivência essenciais a um
determinado grupo social, o que acontece é que, uma vez que o grupo social
condena essa conduta, o grupo reage aplicando uma pena de exclusão. [...] Com
efeito, o homem durante toda a sua vida social irá submeter-e a regras, sejam estas
impostas por um grupo social ou pelo Estado. Daí a ligação entre a Sociologia e o
Direito, que se manifesta até na mais simples das relações sociais, podendo
observar-se num qualquer jogo entre crianças, onde há regras a serem cumpridas
para que não haja conflitos”

VI.6. Relação entre o Direito e a Antropologia

A Antropologia estuda o Homem no seu aspecto sócio-cultural. As investigações


antropológicas de muita importância na elaboração, revisão e ou aplicação das
normas jurídicas. Assuntos jurídicos ligadas ao Direito da Família e ao Direito das
Sucessões precisam de muitos subsídios da Antropologia. Por exemplo, durante a
preparação da Lei da Família, nos anos 2003 e 2004, foram realizados muitos
estudos antropológicos sobre questões da família.

E. Adamson Hoebel e Everett L. Frost 45 entendem que «O Direito é um aspecto da


cultura de qualquer sociedade, e muitíssimo importante como modelador de
culturas, uma vez que se destina explicitamente a desencorajar certas formas de
comportamento e apoiar outras. Como a antropologia legal dá tanta ênfase às
funções do Direito nos sistemas sociais totais, ela tem mostrado que é
particularmente útil para iluminar por comparação os fundamentos do nosso
sistema de Direito».

VI.7. Relação entre o Direito e a Ciência Política

O objecto de estudo da Ciência política é o exercício do poder político. Esse


exercício do poder é regulado por normas jurídicas, sobretudo o Direito
Constitucional.

45
Antropologia Cultural e Social, pág. 14

22
O comportamento dos políticos pode influenciar as normas jurídicas e estas
podem, também, influenciar o comportamento dos políticos.

PERGUNTAS DE CONSOLIDAÇÃO E QUESTÕES PARA REFLEXÃO VI

1. Fale da relação entre o Direito e a Economia, devendo dar exemplos concretos


da realidade moçambicana.
2. Fale da relação entre o Direito e a Ciência Política, devendo dar exemplos
concretos da realidade moçambicana.

VI. MÉTODO JURÍDICO


Um ramo de saber tem objecto (o que estuda) e o método de estudo (caminhos
seguidos para o seu estudo).

Há método de estudo da Economia, da Sociologia, da Física, da Medicina, da


Agronomia, etc. O Direito também tem o seu método de estudo.

O Direito pode usar os métodos de estudo doutras ciências mas tem alguns
métodos próprios que também podem ser usados por outras ciências.

1. Método dedutivo
Parte de uma realidade/ideia geral para uma realidade/ideia particular. A Lei
estabelece regras no geral que são aplicadas a um caso particular.

2. Método indutivo
Faz o inverso do método dedutivo, parte da realidade/ideia particular para a
realidade/ideia geral. Este método auxilia-se da experimentação e da comparação
dos factos ou elementos. De um facto particular acaba-se generalizando a vários
casos.

3. Método de Direito Comparado


Num trabalho de âmbito jurídico podemos optar por fazer comparações das várias
realidades jurídicas.

Exemplos:
23
 Direito de uso e aproveitamento da terra nos países da CPLP;
 Análise comparativa entre o sistema constitucional português e
brasileiro
Quando fazemos comparações primeiro temos de fazer uma grelha comparativa ou
seja indicar o(s) elemento(s) a comparar (direito do uso e aproveitamento da terra;
sistema constitucional, etc). Da comparação vamos aferir as semelhanças e
diferenças e tirar as conclusões e análises que se julgarem pertinentes.

Este método é muito usado quando se quer produzir uma lei. Se queremos elaborar
um projecto de lei do ensino superior podemos ver as leis do ensino superior
doutros países e ver o que consta das leis dos outros países que podemos consagrar
na nossa. Mas para consagrar na nossa lei as disposições constantes doutros países
temos de ter em conta a realidade histórica, cultural, económica, etc. Por exemplo
há países que admitem casamento homossexual, será que Moçambique também
deve admitir?

4. Método histórico
O Método histórico tem alguma semelhança com o Direito Comparado.No direito
comparado fazemos comparação da mesma realidade em vários espaços mas ao
mesmo tempo. No método histórico compara-se a mesma realidade no mesmo
espaço mas em momentos diferentes.

Exemplos:

 Regime jurídico do registo de empresas em Moçambique de 1888 a


2009;
 Órgãos do Estado em Moçambique nas constituições de 1975, de
1990 e de 2004.

5. Algumas Escolas que se debruçaram sobre o Método Jurídico

a) Escola exegética
De acordo com Inocêncio Galvão Telles46 «Entre os múltiplos métodos
jurídicos que têm sido defendidos e praticados, figura o exegético, que
corresponde a uma forma elementar de evolução da ciência jurídica. Para esse
método, o primeiro valor a considerar é o Direito Positivo e, dentro deste,
46
Introdução..., vol. II, pags 248/249

24
sobretudo, a lei escrita». Inocêncio Galvão Telles47 acrescenta que «Esta falta
de sentido histórico (...) este esquecimento permanente do evoluir da vida, da
constante renovação das situações e das necessidades, tudo isto desmente o
valor da escola exegética e faz a sua condenação definitiva».

Na exegese o jurista «(...) olha cada dado tomado de per si e o sonda nas suas
várias orientações, pretendendo descobrir qual o seu significado»48.

b) Escola histórica
Sobre esta escola, Inocêncio Galvão Telles49 ecreve que «A Escola histórica (...)
combate quer o Direito Natural quer o Direito Positivo como Direito escrito,
procurando romper contra tudo o que constitui travão ou obstáculo ao evoluir
constante do Direito. Este tem a sua fonte na vida, de que é reflexo e imagem; e,
como a vida evolui, também o Direito se modifica instante a instante. É a vida que
acima de tudo importa: a vida em toda a sua extensão, em todas as suas
dimenensões, ou seja, a História. A escola exegética submete o Direito a uma
Código; para a Escola histórica, o Código é o principal inimigo».

c) Escola dogmática: Jurisprudência dos conceitos


De acordo com Inocêncio Galvão Telles 50 «O pressuposto básico de que ela parte é
o positivismo. Para ela só existe, ou pelo menos só importa, o Direito que cada
Estado cria e impões, o Direito positivo. É este o objecto de estudo dos
jurisconsultos – objecto exclusivo. Que têm eles a fazer? Toma esse Direito,
trabalhar os materiais em que se decompõe, surpreender os princípios que nele
latejam, formular conceitos, descobrir a lógica do todo, organizar uma unidade
sistemática. (...) Há, aqui, algo mais do que a pura exegese (...)»

Inocêncio Galvão Telles51, devido à semelhança entre a Escola Exegética e a


Escola Dogmática, apresenta as diferenças entre as duas escolas nos seguintes
termos: «A exegese vive estreitamente vinculada à lei, quer apenas conhecê-la
47
Idem pág. 251
48
OLIVEIRA ASCENSÃO Introdução..., pág. 178
49
Introdução..., vol. II, pag. 252
50
Introdução..., vol. II, pag. 253
51
Introdução..., vol. II, pag. 253

25
miudamente, preceito a preceito, artigo a artigo. A escola dogmática liberta-se
dessa escravidão, vai mais longe, não se submete aparentemente à lei na sua
formulação, procura conhecê-la melhor, sondá-la no seu espírito e no seu sistema.
No entanto, isto ainda é pouco, porque no fundo é só com o Direito Positivo que se
trabalha».

Inocêncio Galvão Telles52 continua caracterizando a escola dogmática nos


seguintes termos: «O jurista é escravo dos conceitos imanentes no Direito Positivo.
Por isso se fala de dogmática. A vontade do legislador e as noções abstractas aí
implícitas são dogmas que o jurista não discute. A ciência jurídica é puramente
reprodutiva, estática e lógica; analisa, compara, constroi, formula princípios, mas
tudo isto sem espírito crítico, em cega obediência a uma vontade alheia, a do
legislador».

Com esta lógica do raciocínio, o trabalho do jurista «desdobra-se em dois escalões.


Primeiro, parte das disposições concretas e, indutivamente, procura descobrir nelas
o que há de geral e homogéneo, subindo aos superiores princípios para que todas
convergem, unitária e organicamente. Depois, desses princípios extrai,
dedutivamente, os respectivos corolários, que completam o trabalho legislativo,
preenchendo lacunas»53.

Na dogmática o jurista «(...) tende a reduzir à unidade o sistema jurídico: ou


melhor, procura apresentar o que há de relevante no dado jurídico numa unidade,
que corresponde à unidade existente no próprio facto jurídico-social. Para isso
aproximará o que é semelhante, afastará o que é divergente, ordenará em institutos
preceitos singulares; determinará as categorias (pessoa colectiva, direito
subjectivo, etc) que travejam e iluminam o corpo do direito; formulará conceitos
que abrangem esses institutos e categorias que pouco a pouco se vão formando;
detectará assim os princípios fundamentais que perpassam pelo sistema e o
vivificam. A estes princípios fundamentais se chamam sobretudo os dogmas
jurídicos, e dai a designação de dogmática. (...) Toda esta tarefa complexa e
delicada se realiza sobretudo por processos lógicos»54

Inocêncio Galvão Telles55 critica a escola dogmática nos seguintes termos:


52
Introdução...vol. II, pag. 253
53
INOCÊNCIO GALVÃO TELLES Introdução...vol. II, pag. 254
54
OLIVEIRA ASCENÇÃO Introdução..., pags. 179/180
55
Introdução..., vol. II, pag. 254

26
- «O Direito (...) aparecer reduzido a categorias intelectuais. Vive-se dentro do
Direito como sistema fechado. Exageram-se as teorias gerais, o encadeamento das
noções»;

- «A dogmática abstém-se de entrar na valoração das normas, sob ponto de vista


da justiça e das exigências sociais. Depara o jurista deste tipo, os argumentos são
as razões lógicas, mais do que as razões de justiça, de oportunidade ou de
conveniência. Proliferam-se construções jurídicas. Dá-se particular valor aos
conceitos jurídicos: por isso, esta metodologia é correntemente conhecida por
jurisprudência dos conceitos (...)»

Inocêncio Galvão Telles56 observa que «o jurista deve contudo ir mais longe,
preenchendo o vazio deixado pela Escola dogmática, ou seja, o divórcio entre a
Ciência jurídica e a realidade viva, e lançando-se em indagações “metajurídicas”
que lhe permitam conhecer as envolvente do Direito, quanto à sua etiologia,
comportamento real, incidências sociais e políticas». Este autor57 acresta que «Há
que não exagerar a importância dos conceitos, como divindade a que se presta o
culto, com sacrifício dos interesses vitais. Há que lançar sobre estes um olhar
atento».

d) Jurisprudência dos interesses


A jurisprudência dos interesses «considera que são os interesses em causa o
elemento decisivo na interpretação e aplicação do Direito».58,

A ideia-base da jurisprudência dos interesses «está na contraposição entre lógica e


interesses. O Direito existe, não para a satisfação dos segundos, como interesses
vitais que devem presidir à interpretação da lei (inclusive a integração de lacunas)
e à sua aplicação».59

A jurisprudência de intetesses, de acordo com Inocêncio Galvão Telles 60, «não


dispensa a dogmática e portanto os conceitos, sem os quais não há verdaeira
Ciência jurídica».

56
Introdução..., vol. II, pag. 255
57
Introdução..., vol. II, pag. 255
58
INOCÊNCIO GALVÃO TELLES Introdução..., pag. 255
59
INOCÊNCIO GALVÃO TELLES Introdução..., vol. II, pag 256
60
Introdução..., vol. II, pag. 256

27
Inocêncio Galvão Telles61 critica a jurisprudência dos interesses nos seguintes
termos: «é incompleta, porquanto, (...) o Direito, para bem ser compreendido e
aplicado não deve apenas ser objecto de uma atitude estática de interpretação, tem
de ser alvo de uma postura dinâmica de crítica. Só o criticismo, de ordem
histórica, filosófica, sociológica, permite detectar com perfeita segurança as
insuficiências da lei e ajudar a suprir essas insuficiências da lei e ajudar a suprir
essas insuficiências, abrindo assim novos horizontes à interpretação – sem falar no
papel fundamental que pode desempenhar em futuras reformas legislativas»

e) Método crítico
Este é o método adoptado por Inocêncio Galvão telles. De acordo com Inocêncio
Galvão Telles62 «Para bem dominar o Direito, é necessário olhá-lo por todos os
lados, com vivo espírito crítico, e percorrer as diferentes etapas que forma o seu
itinerário. (...) O jurista tem de começar por conhecer bem os textos legais, não se
dispensando de um primeiro esforço de exegese. Tem, depois, d relacioná-los, para
alcanças deles uma visão de conjunto e apossar-se do espírito que o domina, e com
isto faz dogmática. Mas a dogmática não basta e oferece perigo, porque a subtil
análise que integra as normas num todo orgânico faz correr ao jurista o risco de
entrar num mundo de abstracções e vogar no “céu dos conceitos jurídicos”, para
usar uma conhecida expressão. O jurista tem de fazer o uso do seu senso crítico,
verificando se as normas positivas obedecem às exigências do Direito Natural,
estão conformes com as aspirações do povo, satisfazem as solicitações
sociológicas, são efectivamente respeitadas ou há entre elas e a realidade um
desajuste que denuncia o seu desacerto, e se são conformes com a idiossincrasia
nacional ou mera e injustificada cópia de leis estrangeiras».

VII. A ORDEM SOCIAL


1. Natureza social do Homem
Oliveira Ascensão63 entende que «Sendo um fenómeno humano, o direito não é um
fenómeno do homem isolado, é um fenómeno social: há uma ligação necessária e
constante entre o Direito e a sociedade. Por isso se diz que ubi jus ibi societas».
61
Introdução..., vol. II, pag. 256
62
Introdução..., pags. 257/258
63
Introdução ao Estudo do Direito, pág. 16

28
Este autor acrescenta que «A sociabilidade verifica-se qualquer que seja o estádio
civilizacional que se atravessa: não depende nomeadamente da evolução técnica. E
porque se trata de uma determinante da sua natureza se diz que o homem é um
animal social. Isto continha-se já na afirmação de Aristóteles de que o homem é
um animal político, visto que provém de polis, cidade. O homem tem pois
necessariamente de se congregar em cidades, em agrupamentos, para assegurar a
sua subsistência e a realização dos seus fins».

A mesmo respeito, Diogo Freitas do Amaral 64, entende que «(...) faz parte da
natureza humana a sociabilidade, a tendência para viver em sociedade, a
necessidade de o Homem se juntar e organizar em comunidades».

Ainda de acordo com Diogo Freitas do Amaral 65 esta tendência do homem viver
em sociedade tem várias causas: «Em grupo, os homens falam, conversam, geram
amizades afectos, constituem família: é uma necessidade vital e psicológica; (…)
Em grupo os homens defendem-se melhor dos perigos da Natureza e dos ataques
dos indivíduos com tendências agressivas: é uma necessidade de segurança; (…)
Em grupo, os homens podem proceder à chamada divisão do trabalho e, fazendo
cada um apenas o seu ofício, trocar os seus bens e serviços pelos dos outros e
adquirir assim aquilo de que todos precisam para viver: é uma necessidade
económica; (…) Em grupo, os homens organizam-se melhor para fazer frente às
agressões ou ameaças violentas provenientes de comunidades exteriores, vizinhas
ou distantes, que pretende destruir ou dominar: é uma necessidade de defesa
militar; (…) em grupo, os seres humanos sentem-se integrados num projecto
colectivo e geram lideranças capazes de os manter unidos no essencial e
empenhados na satisfação das suas principais necessidades colectivas: é uma
necessidade política».

Miguel Reale66 sobre o Direito, sociedade e homem esccreve que «Podemos, pois,
dizer, sem maiores indagações, que o Direito corresponde à exigência essencial e
indeclinável de uma convivência ordenada, pois nenhuma sociedade pode subsistir
sem um mínimo de ordem, de direcção e solidariedade. (...) Daí a sempre nova
lição de um antigo brocardo: ubi societas, ibi jus (onde está a sociedade está o
Direito). A recíproca também é verdadeira: ubi jus, ibi societas, não se podendo
64
Manual de Introdução ao Direito, Vol. I, pág. 24
65
Manual de Introdução ao Direito, Vol. I, pág. 24
66
Lições Preliminares de Direito, pags. 1/2

29
conceber qualquer atividade social desprovida de forma e garantia jurídicas, nem
qualquer regra jurídica que não se refira à sociedade».

As ideias expostas dos autores acima citados, os nossos conhecimentos da história


bem como a nossa experiência de vida deixa claro que o homem viveu, vive e
viverá sempre em sociedade. Ou seja, os seres humanos vivem em interacção uns
com os outros. Por essa razão o problema das outras pessoas acaba sendo problema
para outras pessoas: se os agricultores não produziram comida, por causa da seca
ou das cheias, por hipótese, não terão dinheiro que teriam com a venda dos seus
produtos. Os comerciantes e consumidores ficarão afectados pela não produção dos
agricultores. Por outro lado, o problema de uns pode ser oportunidade para outros:
no exemplo anterior, de agricultores (consideremos da região A) que não
produziram por caisa da seca faz com que os agricultores da região B que tiveram
bom clima (não tiveram seca nem cheias) possam ocupar o mercado dos
agricultores da região A. Os sucessos ou insucessos de uns acabam tendo
repercussões nas outras pessoas. Se um determinado professor está doente muitos
estudantes ficarão sem aulas. É por isso que na actualidade fala-se de infectados
por HIV/SIDA e os afectados por HIV/SIDA. Os afectados não tem a doença mas
passam mal porque não vão se beneficiar no trabalho das pessoas infectadas.

Contudo, autores como Rosseau e Hobbes tinham a ideia de que «o estado de


natureza do Homem é o de não integração em sociedade» 67. Oliveira Ascensão68
também diz para autores como Rousseau a transição do estado do homem isolado
para o estado do homem em sociedade foi «mediante um acordo entre os homens
chamado contrato social(...)»69.

Tanto Oliveira Ascensão assim como Castro Mendes rejeitam a ideia de que o
homem começou por ser um ser isolado, só mais tarde é que teria sido social
através do contrato social. Por exemplo, Oliveira Ascensão70 acrescenta dizendo
que estas ideias são «(...) contrariadas pelas investigações históricas quer pela
consideração da natureza do homem. A sociabilidade é inata ao homem, e por isso
desde os primórdios vemos este integrado em comunidade. (...) a realização dos
fins superiores do homem passa pela colaboração com os outros».
67
CASTRO MENDES Introdução ao Estudo do Direito, pag. +++
68
Introdução ao Estudo do Direito, pág. 16
69
Introdução ao Estudo do Direito, pág. 12.
70
Introdução ao Estudo do Direito, págs. 16 e 17.

30
2. Modalidades da sociedade
O termo sociedade tem vários significados. No sentido técnico jurídico pode falar-
se, por exemplo, em Sociedade Anónima; no sentido histórico, pode-se falar, por
exemplo, da sociedade feudal; no sentido sociológico, pode-se falar da sociedade
moçambicana na actualidade.

Porque estamos a analisar o homem como ser social, vamos usar o termo sociedade
no seu sentido sociológico e vamos ver algumas modalidades da sociedade.

a) Família
De acordo com Oliveira Ascensão71 a família é imprescindível para a propagação
da espécie e terá sido a primeira forma de sociedade. Ascensão supõe ainda que «o
progressivo crescimento da família ou famílias primitivas tenha conduzido, através
de formações intermédias como a tribo, às sociedades actuais».

b) Sociedade Civil
Oliveira Ascensão72 ensina-nos que «Quando se fala em sociedade sem mais
qualificativos está-se a referir a sociedade civil, sociedade perfeita, que abrange
sem subordinação a nenhuma outra generalidade de finalidades dos seus membros.
Todo o indivíduo se integra naturalmente numa sociedade civil. (...) No seio da
sociedade civil podem distinguir-se ainda muitas sociedades menores, gerais ou
especiais».

c) Sociedade universal
De acordo com Oliveira Ascensão73 «(...) assim como há sociedades menores que
a sociedade civil também há sociedades paralelas e maiores, nomeadamente as
sociedades universais, como a Igreja Católica e a Comunidade Internacional».

3. Características da Sociedade
Oliveira Ascensão74 entende que não se deve «(...) confundir qualquer grupo ou
aglomerado de pessoas com uma sociedade. Para haver sociedade é necessário
ainda:

1) que as pessoas se proponham formas conjugadas de actuação. Se um grande


incêndio faz acorrer milhares de espectadores, temos aglomerado, com formas de
71
Introdução ao Estudo do Direito, pág. 17
72
Introdução ao Estudo do Direito, pág. 17
73
Introdução ao Estudo do Direito, pág. 18
74
Introdução ao Estudo do Direito, págs. 18 e 19

31
comunicação específicas que provocam até reacções comuns, mas os indivíduos
não se propõem nenhuma forma de actuação e não há por isso uma sociedade.

2) Que haja finalidades comuns. Se a uma feira agrícola acorrem muitos


interessados, querendo comprar ou vender, há finalidades que podemos chamar
para paralelas, mas não há uma finalidade comum. A sociedade não se abasta com
trabalho de cada membro para si, exige colaboração e auxílio mútuo, pelos quais os
vários elementos se integram no conjunto”.

3) Que haja um mínimo de estabilidade. Os grupos que espontaneamente vão em


auxílio das vítimas de uma inundação propõem-se finalidades comuns: o elemento
de colaboração é patente, mas o seu carácter efémero não permite que se fale numa
sociedade».

4. Ordem social e ordem natural


Ordem Social

De acordo com Oliveira Ascensão 75«(...) o Direito é um fenómeno social, um


fenómeno que só se passa em sociedade. (…) Toda a sociedade importa
necessariamente uma ordem(...): importa pois a conjugação de vários elementos, a
demarcação das posições relativas destas, para a obtenção de um fim ou função
(...). A Ordem de uma sociedade pode ser perturbada em momentos de excepção,
mas logo se reconstitui, pois sem ordem sociedade nenhuma lograria subsistir».

Ordem Natural

Para entendermos esta ordem vamos nos socorrer dos ensinamentos de Oliveira
Ascensão76 segundo os quais «O estudo das ciências da natureza permite ir
desvendando sucessivamente uma ordem maravilhosa que rege todo o Universo.
Essa ordem explica o fenómeno botânico da floração como explica o equilíbrio dos
organismos animais; surge-nos no infinitamente grande, nas relações entre
galáxias, tal como no infinitamente pequeno, na complexidade de cada átomo. Essa
ordem, como toda a ordem, exprime-se em leis: da física, da geografia, da
medicina...».

Distinção entre ordem social e ordem natural

75
Introdução ao Estudo do Direito, págs. 19/20
76
Introdução ao Estudo do Direito, pág. 20

32
Oliveira Ascensão77 distingue estas duas ordens nos seguintes termos:

«A ordem natural é uma ordem da necessidade: tem de existir tal qual, as suas leis
não são substituíveis. (…) Pelo contrário, a ordem social, servindo-se ou tendo
como a sua base na ordem da Natureza, não é uma ordem de necessidade, mas da
liberdade. A possibilidade fáctica de o homem se lhe subtrair é da sua própria
essência: existe mas pode ser afastada. Propõe-se à vontade do homem, e pode
justificar-se pela sua racionalidade, mas não se impõe cegamente: o homem
mantém a liberdade de se rebelar contra ela, podendo chegar a transtornar os
equilíbrios existentes ou até alterar a ordem social».

Ascensão distinguindo as duas ordens continua dizendo que «(…) só as sociedades


humanas estão sujeitas a tradição: cada ser, cada geração, consegue comunicar às
gerações subsequentes a sabedoria adquirida, enriquecendo a ordem social. Este
elemento, especificamente cultural, não tem correspondente nas ordens naturais: o
que cada animal aprende morre com ele».

Ascensão78 faz-nos notar que «As leis naturais são marcadas pela característica da
inviolabilidade. Se um sábio consegue em seu laboratório chegar a um resultado
oposto ao enunciado de uma lei natural, não se pode dizer que essa lei natural foi
violada, mas muito simplesmente foi desmentida. Tratava-se de uma pretensa lei; a
sua formulação estava errada. Pelo contrário, as leis pelas quais se exprimem a
ordem social são por natureza violáveis. A vontade humana pode rebelar-se contra
elas, ou violando-as em casos concretos ou, inclusivamente, substituíndo-as».

5. Teorias sobre a sociedade


A sociedade é tal como vimos, resulta da natureza humana. Mas, ao longo da
história da humanidade, não foi entendido assim por todos os autores.

a) Teorias contratualistas (Contrato Social)


Os defensores entendem que o homem começou por viver isolado e em plena
liberdade sem estar sujeita a nenhuma autoridade. O homem veio a viver em
sociedade mais tarde em resultado do desenvolvimento e evolução. Os homens
viviam isolados mas para satisfazer as necessidades individuais forma obrigados a
viver em sociedade, através do contrato social, na qual os indivíduos alienam

77
Introdução ao Estudo do Direito, págs 20/21
78
Introdução ao Estudo do Direito, pag. 23

33
parte da sua liberdade para se submeterem ao poder político ou autoridade
representativa dos seus interesses.

b) Teorias Organicistas
De acordo com Oliveira Ascensão79, por influência do positivismo, as sociedades
foram comparadas a organismos naturais, tendo alguns autores chegados a
identificar o cérebro, estômago e outros órgãos na sociedade. Por essa razão a
ordem social é semelhante à ordem natural; a ordem social, é, tal como a ordem
natural, ordem da necessidade.

c) Teorias deterministas
De acordo com Ascensão80,estas teorias são semelhantes às teorias organicistas
pois para estas teorias a ordem social é semelhante à ordem natural: a sociedade
é comandada por leis inexoráveis e a liberdade dos homens é aparente.

6. A sociedade e os interesses
José Dias Marques81 faz-nos notar que «as normas de vida social regulam as
condutas humanas principalmente em função de interesses – materiais ou morais,
reais ou imaginários – a que se torna necessário dar satisfação. (…) A ideia de
interesse assenta sobre duas noções muito elementares: a de necessidade e a de
bem».

José Dias Marques82 define necessidade como uma situação de carência ou


desequilíbrio, biológico ou psíquico do homem.83

O meio para a satisfação das necessidades humanas é o bem. José Dias Marques
define o bem como «(...) todo e qualquer meio de satisfação de necessidades
humanas; e, por seu turno, à aptidão que tem os bens para realizar tal finalidade
daremos a designação de utilidade».

José Dias Marques84 faz-nos notar que a definição do termo bem que foi dado
refere-se a bem no seu sentido amplo, abarcando aqueles bens (como o ar) que não
interferem na vida social. Mas, «ao Direito apenas importam os bens respeitantes a

79
Introdução ao Estudo do Direito, págs. 21/22
80
Introdução ao Estudo do Direito, pág. 22
81
Introdução ao Estudo do Direito, pág. 17
82
Introdução ao Estudo do Direito, pags. 17/18
83
Estamos a falar apenas de necessidades humanas
84
Introdução ao Estudo do Direito, pág. 18

34
necessidades cuja satisfação origina relações sociais, ou, mais restrita e
precisamente ainda, relações jurídicas. (…) daí a conveniência de substituir ao
apontado conceito amplo e geral, do bem, um outro mais restrito – o de bem
jurídico».

Depois de falarmos do homem com as suas necessidades e dos bens para a sua
satisfação, temos de falar agora de interesse. José Dias Marques define interesse
como «relação existente entre alguém que experimenta uma necessidade – o sujeito
do interesse – e um bem que é apto a satisfazê-la – o objecto do interesse».

Os interesses podem estar numa situação de incompatibilidade (conflituantes) e


interdependência (solidários). José Dias Marques85 define interesses conflituantes
como aquela situação em que «a realização de um dos interesses não é
compaginável com a daquele outro que se lhe opõe». Sendo interesses solidários
aqueles em que «uns não podem ser realizados sem que sejam também os outros,
no mesmo momento ou em momento anterior».

a. Solidariedade por semelhança e os interesses colectivos


Para José Dias Marques86«há organização onde houver interdependência, assim
como há interdependência onde puder-se de organização». Mais adiante José Dias
Marques87 acrescenta que «os factores determinantes da interdependência social
são dois: o primeiro é a similitude de certos interesses e actividades dos indivíduos,
o segundo é a diversidade de certas outras actividades e interesses. Aquele origina
a solidariedade por semelhança, também chamada solidariedade mecânica; este, a
solidariedade por divisão do trabalho ou solidariedade orgânica».

b. Solidariedade por divisão do trabalho e a conexão de interesses


José Dias Marques88 considera que «Há conexão de interesses quando estes,
embora respeitem a necessidades especiais diferentes, se encontram por tal modo
relacionados entre si que a realização de uns depende dos outros».Ainda de acordo
com José Dias Marques há conexão simples quando há «encadeamento de
interesses por tal maneira subordinados que a realização dos antecedentes é o meio
indispensável da realização dos subsequentes, sem que, entretanto, a realização
destes condicione ou favoreça a realização daqueles. Mas há também situações de
85
Introdução ao Estudo do Direito, pág. 19
86
Introdução..., pág. 20
87
Introdução..., págs. 20/21
88
Introdução..., pag. 22

35
conexão recíproca, como na hipótese das relações entre o patrão e o empregado:
este não pode satisfazer o seu interesse à recepção do ordenado se não
proporcionar aquele o trabalho correspondente, assim como, inversamente, o
patrão não pode fruir o trabalho do empregado se lhe não proporcionar a
correspondente remuneração».

José Dias Marques89 acrescenta que asolidariedade por divisão do trabalho «se
traduz, no plano dos indivíduos, singular ou colectivamente considerados, em uma
conexão recíproca de interesses: cada pessoa ou grupo só pode receber dos outros
bens e serviços de que precisa, se, por seu turno, lhes conceder as utilidades
(máxime as de ordem profissional) que lhe corresponde prestar».

José Dias Marques90 faz-nos notar coisas interessantes para a vida do homem em
sociedade: «Aos portadores de interesses semelhantes não basta agruparem-se para
conseguirem a respectiva satisfação: têm, também, de coordenar-se para
produzirem os bens e serviços destinados a esse efeito. E da circunstância de esta
produção ser constituída por uma série de operações complementares umas das
outras, resulta que cada indivíduo vem a ser atribuída a uma tarefa especializada
que conjuga com as de todos os demais em ordem ao conseguimento do trabalho
final».

c. Conflitos de interesses
José Dias Marques91 faz-nos notar que «Se as sociedades subsistem é precisamente
porque a força de coesão dos interesses solidários supera, de longe a força
dissolutiva dos conflitos de interesses. (…) São duas as causas dos conflitos que
entre os interesses se levantam. A primeira, de ordem quantitativa resulta da
insuficiência de determinados bens para a satisfação de todas as necessidades que
os solicita (raridade); a segunda de ordem qualitativa, filia-se na impossibilidade
em que se encontram certos bens de dar satisfação a necessidades de sentido
contrário. É o caso do indivíduo que deve pagar a outrem certa quantia: este
pagamento representa para o devedor um sacrifício, ao mesmo tempo que, para o
credor, constitui uma vantagem».

7. Sociedade e Direito

89
Introdução..., pag. 23
90
Introdução..., pág. 23
91
Introdução..., pag. 25

36
De acordo com José Dias Marques92«(...)podem reduzir-se a duas a tarefas
fundamentais que a qualquer sociedade incumbem: uma delas, de carácter
negativo, traduz-se em eliminar os conflitos de interesses existentes entre os seus
membros; a outra, de carácter positivo, consiste em assegurar entre eles uma
adequada colaboração, em ordem à realização dos fins sociais. (...) Para o
desempenho destas funções, cada sociedade, ou instituição humana tem uma
organização privativa (organização institucional) adequada aos fins que prossegue
– cultura, desporto, religião, lucro... - e cujo funcionamento implica
necessariamente a vigência de regras capazes não só de solucionar os conflitos de
interesses ocorrentes, como também de definir, positiva ou negativamente, a tarefa
que a cada elemento compete, dentro do todo em que está integrado (normas
institucionais)».

Mais adiante José Dias Marques93 faz-nos ver que «os indivíduos podem obstacular
o cumprimento dos fins sociais, recusando-se a pautar a sua actividade pelas
normas que determinam o que, para esse efeito, devem fazer». Este autor94
acrescenta dizendo que se há violação de normas de instituições menos organizada
pode não se mostrar pertinente a intervenção de uma organização institucional
destinada a protegê-las. Contudo, se forem violadas regras que os indivíduos
consideram fundamentais para a subsistência da sociedade deve haver órgãos para
obrigar o cumprimento das normas. Esses órgãos para além de fazer cumprir as
normas existentes tem a possibilidade de as modificar.

José Dias Marques95 termina esta abordagem dizendo que «é esta diferenciação
funcional que nos permite compreender o fenómeno jurídico. Aí onde houver a
susceptibilidade de, em forma organizada, garantir a obediência às regras que
disciplinam a cooperação dos membros de uma sociedade humana, em ordem à
realização dos fins desta- há Direito: e da sociedade onde este fenómeno se verifica
diz-se que é uma sociedade dotada de uma ordem jurídica».

8. As instituições

92
Introdução..., pags. 26/27
93
Introdução..., pag. 27
94
Introdução..., pags. 28/29
95
Introdução..., págs 29/30

37
Vimos que o homem é um ser que vive em sociedade. Vimos que a sociedade
pressupõe uma ordem social.

De acordo com Oliveira Ascensão 96«(...) o que representa o elemento essencial de


toda a sociedade (…) e constitui o fundamento profundo da ordem existente, são as
instituições que lhe são próprias».

Contudo a palavra instituição às vezes é usada para «(...) designar um órgão ou


uma colectividade. Fala-se de instituições públicas, de instituições de assistência
(…) Tal significado, de momento, nada nos interessa».97

Vamos usar a palavra instituição quando «está-se a falar nos elementos espirituais
que fazem ligação e a vida da comunidade, não evidentemente nos órgãos ou
colectividades que se formaram (...)»98

Ascensão99, a respeito de instituições, acrescenta que «(...) falando de instituições


significa-se, numa acepção que recorre à origem etimológica, o que está numa
sociedade, o que permanece para além da evolução; por isso faz a unidade dos seus
membros. Unidade que se prolonga no tempo em identidade: a sociedade é
considerada a mesma ainda que todos os seus membros antigos tenham sido
substituídos (...)»

Ascensão100 diz-nos que «A ordem social funda-se pois em instituições: pode


exprimir-se por regras, mas essas devem corresponder às instituições sociais».

9. A evolução social
De acordo com Oliveira de Ascensão 101 a ordem social funda-se em instituições
que permitem a permanência e duração da sociedade.

Mas estas instituições são susceptíveis de mudança. Essa mudança tem várias
razões podendo-se destacar a evolução da técnica.

10.As componentes fáctica e normativa da ordem social

96
Introdução ao Estudo do Direito, pag. 23
97
Oliveira Ascensão, Introdução ao Estudo do Direito, pág. 24
98
Oliveira Ascensão, Introdução ao Estudo do Direito, pág. 24
99
Introdução ao Estudo do Direito, pág. 25
100
Introdução ao Estudo do Direito, pág. 26
101
Introdução..., págs. 27/28

38
A ordem normativa é uma ordem de condutas humanas, mas não são todas as
condutas humanas que são normativas. Há na sociedade elementos de mero facto
que contribuem para a ordem social mas que não possuem qualquer expressão
normativa.102

11.Imperatividade e sanção
A ordem normativa é caracterizada pela imperatividade. As pessoas podem
obedecer as normas jurídicas por medo, por interesse ou por dever moral. A moral
reforça a imperatividade jurídica. A imperatividade aqui referida é de toda a ordem
jurídica e não de todas as normas jurídicas. A sanção vem a ser a consequência que
a lei determina para a sua violação. A sanção reforça a imperatividade da norma.
Em todas as ordens normativas há sanções, mas a profundidade dessas sanções
varia de caso a acaso. Não quer isto dizer que todas as normas são assistidas por
sanções, mas a existência de sanções é natural em toda a ordem normativa.103

VIII. DIREITO E OUTRAS ORDENS NORMATIVAS


O ser humano está sujeito a uma pluralidade de ordens normativas. Uma mesma
pessoa está sujeita às leis natureza (nascer, morrer, evelhecer, etc.); normas
jurídicas (do Direito constitucional, Direito do trabalho, Direito da família, etc.); às
normas religiosas, às normas do trato social (Etiqueta e Boas maneiras); à moral;
às normas técnicas e outras.

1. Direito e Natureza (Ordem jurídica e ordem natural)

José Dias Marques104 distingue as normas jurídicas (Direito) e normas da natureza


nos seguintes termos: As normas jurídicas são dirigidas à vontade do homem,
enquanto que as normas da natureza referem-se aos fenómenos da natureza; as
normas jurídicas são susceptíveis de violação enquanto que no que concerne as
normas da natureza pode-se falar de erro do esquema o que vai dar como
consequência o não alcance dos resultados desejados; as normas jurídicas são
anteriores aos actos que pretender regular, as leias da natureza são posteriores aos
fenómenos quer procuram interpretar ou compreender.

102
OLIVEIRA DE ASCENSÃO Introdução..., pág. 29
103
OLIVEIRA DE ASCENSÃO Introdução..., págs. 33 a 37
104
Introdução..., pag. 36

39
Apesar das diferenças apresentadas nada impede que uma dada realidade seja
objecto da consideração naturalística assim como jurídica: o homem (no seu
aspecto físico e psíquico) pode ser objecto da regulamentação jurídica e pode ser
objecto de estudo da fisiologia, da química, da genética, da psicologia; o crime de
morte, por exemplo, pode ser objecto de consideração normativa (por exemplo,
pena a aplicar) mas também podem ser feitas considerações sobre a génese
psicológica, das determinantes económicas ou sociológicas, dos meios físicos para
a execução do crime de morte, os resultados produzidos no cadáver, etc.105

2. Direito e Religião (ordem jurídica e ordem religiosa)

A ordem religiosa ordena as condutas tendo em conta as relações de um indivíduo


com Deus. A ordem religiosa é intra-individual, contudo tem uma repercussão na
ordem social. A ordem Religiosa visa preparar e tornar possível uma outra ordem
que não seja deste mundo. Ou seja a pessoa que cumpre uma ordem religiosa visa
tornar possível a vida noutro mundo.106

De acordo com António Braz Teixeira107«(...) a religião e o mandamento religioso,


embora revistam uma dimensão e uma expressão social, têm carácter
eminentemente individual, dirigem-se à consciência e à intimidade do crente ou do
fiel, visando a sua santidade ou salvação». Mais adiante acrescenta que este autor
acrescenta que «Por outro lado, caracterizam-se, igualmente, por respeitarem, em
primeira linha, à relação entre cada um e a divindade, se bem que não descurando
nessa relação a comunidade dos fiéis ou dos crentes».

Braz Teixeira108 faz-nos notar que «(...) o mandamento religioso é de natureza


heterónoma, heteronomia que, no entanto, difere da do Direito, pois enquanto este
se define pela sua polinomia, ou seja, por ter na sociedade e seus órgãos políticos a
sua origem, a heteronomia própria do mandamento religioso é uma teonomia, já
que é de Deus que promana a ordem normativa religiosa. Acresce ainda que a
teonomia do mandamento religioso traduz um grau menor de heteronomia do que a
do Direito, porquanto, diferentemente do que acontece a este, que não exige nem
105
JOSÉ DIAS MARQUES Introdução..., pag. 37
106
OLIVEIRA ASCENSÃO Introdução ..., pags. 37/38
107
Sentido e Valor do Direito: Introdução à Filosof1a Jurídica, 2ª edição, 1999, pág. 150,
108
Sentido ..., págs. 150/151

40
depende de qualquer íntima adesão ao seu conteúdo normativo, a religião só obriga
aos respectivos crentes ou fieis, o que equivale a dizer que é sempre de natureza
autónoma e livre a sujeição ao mandamento religioso que de Deus promana ou por
Deus foi revelado».

No passado o Direito tinha um significado e fundamento essencialmente religioso,


mas na actualidade as normas jurídicas não se confundem com as normas
religiosas. 109

Enquanto que as normas jurídicas são criadas pelo homem as normas religiosas são
criadas por entidades sobrenaturais admitidas pelas diversas religiões e tem por
objecto regular as relações entre os crentes e as entidades criadoras das leis
religiosas. A função específica das normas religiosas é regular as relações entre o
homem e Deus. Este acrescenta que nada obsta que as normas religiosas também
regulem as relações entre os homens. Ao lado das normas religiosas
eminentemente divinas temos normas religiosas criadas pelo homem para
regular as relações entre os homens de uma certa religião. A violação destas
normas dá lugar a sanções religiosas.110

Breves Notas sobre o Estado e a Religião em Moçambique

Nos termos do artigo 12 da CRM “1. A República de Moçambique é um Estado


laico.[…]2. A laicidade assenta na separação entre o Estado e as confissões
religiosas. […]3. As confissões religiosas são livres na sua organização e no
exercício das suas funções e de culto e devem conformar-se com as leis do Estado.
[…]4. O Estado reconhece e valoriza as actividades das confissões religiosas
visando promover um clima de entendimento, tolerância, paz e o reforço da
unidade nacional, o bem-estar espiritual e material dos cidadãos e o
desenvolvimento económico e social”.

O artigo 54 da CRM preceitua que “1. Os cidadãos gozam da liberdade de praticar


ou de não praticar uma religião. […]2. Ninguém pode ser discriminado,
perseguido, prejudicado, privado de direitos, beneficiado ou isento de deveres por
causa da sua fé, convicção ou prática religiosa. […]3. As confissões religiosas
gozam do direito de prosseguir livremente os seus fins religiosos, possuir e adquirir

Introdução..., pag. 38
109

JOSÉ DIAS MARQUES Introdução..., pags. 38/39


110

41
bens para a materialização dos seus objectivos. […]4. É assegurada a protecção aos
locais de culto. […]5. É garantido o direito à objecção de consciência nos termos
da lei”.

O nº 1 do artigo 71 da CRM estabelece que “1. É proibida a utilização de meios


informáticos para registo e tratamento de dados individualmente identificáveis
relativos às convicções políticas, filosóficas ou ideológicas, à fé religiosa, à
filiação partidária ou sindical e à vida privada”.

Nos termos do artigo 76 da CRM “É proibido o uso pelos partidos políticos de


denominações que contenham expressões directamente relacionadas com quaisquer
confissões religiosas ou igrejas ou a utilização de emblemas que se confundem
com símbolos nacionais ou religiosos”.
Nos termos do estabelecido no nº 3 do artigo 86 da CRM “As associações sindicais
e profissionais são independentes do patronato, do Estado, dos partidos políticos e
das igrejas ou confissões religiosas”. O nº 4 do mesmo artigo preceitua que “A lei
regula a criação, união, federação e extinção das associações sindicais e
profissionais, bem como as respectivas garantias de independência e autonomia,
relativamente ao patronato, ao Estado, aos partidos políticos e às igrejas e
confissões religiosas”.
O nº 3 do artigo 113 da CRM preceitua que “O ensino público não é confessional”.
O nº 5 do mesmo artigo estyabelece que “O Estado não pode programar a educação
e a cultura segundo quaisquer directrizes, estéticas, políticas, ideológicas ou
religiosas”.

Nos termos do preceituado no nº 1 do artigo 250 da CRM “O acesso à Função


Pública e a progressão nas carreiras profissionais não podem ser prejudicados em
razão da cor, raça, sexo, religião, origem étnica ou social ou opção político-
partidária e obedece estritamente aos requisitos de mérito e capacidade dos
interessados”

Nos termos da alínea c), nº 1 do artigo 300 da CRM “As leis de revisão
constitucional têm de respeitar:[…] a separação entre as confissões religiosas e o
Estado”

O nº 2 do artigo 300 da CRM preceitua que “As alterações das matérias constantes
do número 1 são obrigatoriamente sujeitas a referendo”. Ou seja, para mudar a
separação entre as confissões religiosas e o Estado deve ser objecto de referendo.

42
+ ABORDAR A RELAÇÃO ENTRE O ESTADO E A RELIGIÃO EM
MOÇAMBIQUE: CRM, legislação fiscal, legislação eleitoral, EGFAE, lei da
educação, etc+.

3. Direito e Moral (Ordem jurídica e ordem moral)

A ordem moral é uma ordem de condutas que tem como objectivo aperfeiçoar uma
pessoa para o Bem. Tal como a ordem religiosa, a ordem moral é, em grande parte,
intra-individual, pois permite o aperfeiçoamento do indivíduo na ordem social. 111

António Braz Teixeira112, define Moral como «(...) ciência dos costumes, i. E.,
como ciência positiva ou saber ou conhecimento de como se comportam os
homens, constituindo, neste sentido, um ramo ou um aspecto da sociologia ou das
ciências sociais(...)».

Teorias sobre o Direito e a Moral

a) Doutrina do Mínimo Ético: a doutrina do mínimo ético «(...) concebe o Direito


com aquela parte da Moral correspondente às normas de conduta cuja violação
põe em perigo a vida e a subsistência da sociedade ou a ordem social e cujo
cumprimento, por isso, é assegurado coactivamente pelo emprego da força».113

António Braz Teixeira114 critica esta doutrina pois:

- «Este modo de entender as relações entre o Direito e a Moral não se afigura


correcto, não só por ser contraditório, como, ainda, por não reflectir,
adequadamente, a realidade»;

- «(...) começando por afirmar uma unidade ou identidade entre as duas ordens
normativas, acaba por negá-lo, ao admitir haver dois tipos de normas de diversa
natureza no âmbito da Moral, as consagradas pela própria consciência e cujo
acatamento depende exclusivamente do sujeito e as estabelecidas pelo poder
público, pela autoridade ou pelo Estado e cujo cumprimento pode ser

111
OLIVEIRA ASCENSÃO Introdução…, pag. 30
112
Sentido e Valor do Direito: Introdução à Filosof1a Jurídica, 2ª edição, 1999, pág. 44
113
ANTÓNIO BRAZ TEIXEIRA Sentido ..., pág. 142
114
Sentido ..., pág. 142/143

43
coactivamente imposto, independentemente da adesão íntima do sujeito ao
respectivo conteúdo»;

- «(...) a doutrina do mínimo ético esquece ou ignora que não só nem todo o Direito
é eticamente relevante, havendo vastas zonas do mundo jurídico cujo conteúdo é
moralmente indiferente (pense-se, p. e., na maior parte das normas processuais ou
meramente regulamentares ou técnicas); como ainda, que na maioria ou na
totalidade dos casos em que o Direito atribui força jurídica a preceitos morais o faz
por razões diversas da moral. Na verdade, quando a Moral condena ou censura
certa conduta é por a considerar intrinsecamente má, por constituir um mal, ao
passo que o Direito o faz por essa mesma conduta ser injusta ou por lesar ou pôr
em perigo a convivência social, o legítimo exercício da liberdade de cada um, a sua
vida ou os seus bens».

b) Doutrina da separação Radical e Absoluta entre o Direito e a Moral

De acordo com António Braz Teixeira115 esta doutrina «(...) procura fundamentar a
distinção ou separação entre as duas ordens normativas em dois planos: o domínio
próprio de cada uma delas e a diversa natureza do dever moral e do dever
jurídico». Este autor diz que para esta doutrina «(...) a Moral tem o seu assento
exclusivo na consciência individual, o Direito desinteressa-se desta, referindo-se
unicamente a actos externos. (...) No que respeita ao dever moral e ao dever
jurídico, entende que ao passo que o primeiro tem em si próprio o seu fundamento
e a garantia, o segundo é sempre assistido pela coacção».

António Braz Teixeira116 tece duras críticas, também, a esta doutrina+++++.

José Dias Marques117 diz que «(...) os juristas concebem a moral, mais
frequentemente, como o conjunto de imperativos impostos aos indivíduos pela sua
própria consciência ética, de tal modo que o seu incumprimento não é
necessariamente sancionado por juízos sociais de reprovação, mas tão somente
pela reprovação dimanada da mesma consciência».

José Dias Marques118 acrescenta que a distinção entre a Moral e o Direito não é
nítida quando se trata da chamada moral positiva. A moral positiva não é um
115
Sentido... 1999, pág. 143
116
Sentido ..., pág. 143/144
117
Introdução..., pag. 40
118
Introdução..., pag. 41

44
complexo de princípios aceites pela consciência individual. A moral positiva é «o
complexo das normas vigentes em uma certa sociedade, em dado momento
histórico, e que têm o seu fundamento nas ideias e sentimentos dominantes na
colectividade, mas que não são as ideias e os sentimentos específicos da
consciência religiosa».

José Dias Marques119 distingue a moral do Direito nos seguintes termos: «O


critério fundamental de separação entre a moral e o direito residirá então na
circunstância de que as normas jurídicas são física e organicamente coercíveis, ao
passo que a coercibilidade das normas morais é puramente psicológico e
inorgânico(...)»

4. Direito e Usos Sociais

A moral positiva não se confunde com os simples usos de carácter social. Os usos
de carácter social podem ser de vária natureza que podem ser impostos pela
cortesia, pela civilidade, pela moda, etc. A consciência social adopta uma posição
comum a respeito da cortesia, moda, etc. A violação dos usos e costumes sociais
origina uma sanção social inorgânica, que consiste numa certa degradação social
de quem as infringe.120

A existência de uma ordenação social visa tornar a convivência entre as pessoas


mais fácil e saudável. A ordem social é expressa através dos usos sociais (cortesia,
moda, práticas profissionais, etc). A violação dos usos provoca uma reprovação
social e sanções difusas. A violação da ordem social torna difícil a convivência
social, mas não põe em causa a subsistência da sociedade. As regras do trato social
podem ganhar uma certa relevância jurídica.121

De acordo com António Braz Teixeira122, «O Direito tem de comum com os usos
sociais a sua exterioridade, i. E., o atender à intenção apenas e na exacta medida
em que encontra manifestação exterior ou projecção social, o seu carácter
heterónimo e ainda a sua positividade, cuja fonte é, no entanto, diferente, num caso
e noutro: O Estado, quanto ao Direito, a sociedade, relativamente aos usos».
119
Introdução..., pag. 41
120
JOSÉ DIAS MARQUES Introdução..., pags. 41/42
121
OLIVEIRA ASCENSÃO Introdução..., págs 39/40
122
Sentido ..., pág. 151

45
Este autor acrescenta que «os usos sociais são, de natureza, eminentemente
convencionais e carecidos, em regra, de qualquer conteúdo ou relevância ética ou
moral.(...) diversamente do que acontece com o Direito, os usos sociais são
desprovidos de sanção específica, acarretando o seu não acatamento ou desrespeito
unicamente a desconsideração ou a menos consideração social, a reputação de
incivil, mal educado, ou menos respeitador, que poderá vir a afectar o sujeito».

António Braz Teixeira123 termina a abordagem sobre o Direito e Moral dizendo que
«(...) os usos sociais se caracterizam por uma grande incerteza sobre o início e o
termo da sua vigência ou obrigatoriedade, pois são uma realidade normativa que se
vai formando ou constituindo mais ou menos lentamente, de acordo com a
evolução também mais ou menos lenta da sociedade em que vigoram».

5. Direito e Técnica

A ordem técnica é a ordem do agir do homem com vista a obter da natureza o que
esta oferece ao homem espontaneamente. O desenvolvimento da técnica implica
também a ordem de condutas técnicas. Se desejares obteres certo produto químico
deves proceder de determinada maneira. A formulação de leis técnicas pode
induzir a pensar que as leis técnicas são leis éticas por exprimirem o dever ser. As
leis técnicas não são imperativas, pois a sua formulação é condicional. Com a lei
técnica o homem domina a lei natural e homem consegue obter o resultado que
deseja. A ordem técnica não pertence à ordem normativa da sociedade.124

A desobediência a norma jurídicas configura um acto ilícito e pode sofrer sanções


enquanto que a violação da norma técnica apenas tem efeitos de ordem material
que vão consistir em a pessoa não obter o resultado que queria; as normas jurídicas
se destinam única e exclusivamente a regular a vida do homem em sociedade as
normas técnicas destinam-se a orientar a acção do homem na sua relação com os
meios ou instrumentos para a obtenção de resultados pretendidos. Apesar da
distinção entre as normas técnicas e normas jurídicas nada obsta que hajam
conexões entre as duas, pois é frequente criarem-se norma jurídicas destinadas a
regulamentar determinados processos técnicos.125

123
Sentido..., pág. 152
124
OLIVEIRA ASCENSÃO Introdução..., págs 31 a 33
125
JOSÉ DIAS MARQUES Introdução..., pags. 42 e seguintes

46
Portanto, as normas técnicas podem ser incorporadas nas normas jurídicas. Na
actualidade, devido a questões ambientais, direito humanos, etc. as normas
jurídicas costumam prescrever certas normas técnicas para a realização de certas
actividades.

6. Direito e Direito consuetudinário

As pessoas estão sujeitas ao direito ligados aos seus usos e costumes, conforme a
sua zona de residência e ou nascimento.

PERGUNTAS DE CONSOLIDAÇÃO E QUESTÕES PARA REFLEXÃO IX

1. Distinga as leis da natureza das leis técnicas

2. Distinga normas morais das normas religiosas

3.Dos livros indicados na bibliografia, investigue dentro do capítulo que aborda


o Direito, Religião e Moral, procure a Teoria do Mínimo Ético e faz um resumo
sobre esta teoria, num mínimo de 20 linhas.

IX. DIREITO E REALIDADES CONEXAS


1. Direito e Estado
De acordo com João Baptista Machado126 «o Direito não se confunde com o poder
e, portanto, também não pode confundir-se com o Estado. Antes, cabe ao Direito
limitar o poder do estado e legitimá-lo – o que não seria possível se com ele se
confundisse. Siginifica isto que há princípios de Direito que se impõem ao próprio
Estado – e este não pode constituir uma ordem jurídica sem se referir ao princípio
superior da Justiça».

2. Direito e Poder Político


De acordo com Marcelo Rebelo de Sousa e Sofia Galvão127 a «Expressão
fundamental da faculdade de intervenção do ser humano sobre o ser humano é,
certamente, o poder político». Estes autores128 acrescentam que «As relações entre
126
Introdução ao Direito e ao Discurso Legitimador, pag. 50
127
Introdução..., pag. 14
128
Introdução..., pag. 18

47
o Direito e o poder político são, pela própria natureza, complexas. (...) Por um
lado, o poder político é um poder juridicamente enquadrado. A sua titularidade é
juridificamente definida, o seu objecto é juridicamente delimitado, o seu exercício
é juridicamente regulado. (...) Por outro lado, o poder político é o criador de regras
de conduta social dotadas de coercibilidade. É criador das regras de Direito ou
regras jurídicas. (...) Isto é, o poder político é, a um tempo, fonte e objecto de
Direito. (...) O poder político é, portanto, enquadrado, enquadrado por um Direito
que produz. É um poder autolimitado».

3. Direito e Justiça
A justiça pode ser definida como «conjunto de valores que impõem ao Estado e a
todos os cidadãos a obrigação de dar a cada um o que lhe é devido em função da
igualdade da pessoa humana».129

Um dos fins do Direito é a justiça.

O Direito procura ordenar a conduta dos homens com vista a alcançar a justiça. Em
princípio, as ideias incorporadas nas leis são as mais justas. Contudo, vimos e
ouvimos no dia a dia as pessoas criticarem certa lei por não considerarem justa. A
lei pode ser injusta porque foi mal elaborada mas a lei pode ser justa mas com o
passar do tempo se tornar injusta devido às mudanças.

XI – NOÇÃO DO DIREITO E SUA CARACTERIZAÇÃO

1. Noção do Direito
O termo direito podem ser aplicado em vários sentidos dentro do âmbito
jurídico quer fora do âmbito jurídico. Vejamos alguns exemplos:

 Moçambique está a reformar o seu Direito. Aqui a palavra Direito está a


referir ao Direito objectivo ou seja, conjunto de normas, gerais abstractas de
conduta social.
 Tenho direito de educar os meus filhos. Aqui a palavra direito está a referir
ao direito subjectivo, ou seja, possibilidade que o Direito objectivo dá às
pessoas de fazer alguma coisa.

DIOGO FREITAS DO AMARAL Manual..., pág. 117


129

48
 Estou a frequentar o curso de direito. Aqui o termo direito está sentido
científico (Ciência do Direito), englobando, tanto o direito objectivo como
o direito subjectivo.
 Um estudante de Economia pode dizer hoje tenho uma aula de direito.Aqui
o termo direito significa uma disciplina (cadeira) académica.
 Direito jogam com Economia no Campeonato Universitário. Aqui a palavra
direito está a referir-se a Faculdade de Direito, ou seja está a referir-se a um
estabelecimento de ensino.
 Tenho de pagar direitos aduaneiros pela importação da viatura.Aqui a
palavra direito está no sentido fiscal (imposto pago ao Estado, por isso são
direitos do Estado).
Como se pode depreender são várias as situações em que se emprega o termo
direito.

A definição do termo Direito não é pacífica, ou seja, têm sido sugeridas várias
definições.

Para João de Castro Mendes130, «Podemos definir direito, no sentido central desta
palavra como o sistema de normas de conduta social, assistido de protecção
coactiva».

De acordo com Angel Latore131, Direito é «(...) um conjunto de fenómenos sociais


entre os quais existem certos elementos comuns: o tratar-se de normas de conduta
obrigatórias numa comunidade e garantidas por um mecanismo de coacção
socialmente organizado».

Ana Prata132 ensina-nos que o termo Direito é usado, fundamentalmente, em duas


acepções:

«Direito objectivo – Conjunto de regras gerais, abstractas, hipotéticas e dotadas de


coercibilidade, que regem as relações inter-subjectivas e sociais numa dada
comunidade; nesta acepção, o direito desempenha, pois, uma função de
instrumento de disciplina social fundamental, visando realizar valores como a
justiça, a oportunidade, e exequibilidade, a certeza e a segurança.(...) Direito
subjectivo – Poder ou faculdade, provindos do direito objectivo, de que dispõe uma
130
Introdução..., pág. 11
131
Introdução ao Direito, pág. 39
132
Dicionário Jurídico, 5ª edição, vol. I,pág. 498

49
pessoa, e que se destina, normalmente, à realização de um interesse juridicamente
relevante».

Diogo Freitas do Amaral133, define Direito como «sistema de regras de conduta


social, obrigatórias para todos os membros de uma certa comunidade, a fim de
garantir no seu seio a Justiça, a Segurança e os Direitos Humanos, sob a ameaça
das sanções estabelecidas para quem violar tais regras». Mais adiante este autor
refere que se quiséssemos definir o Direito estadual (direito criado pelo Estado) a
definição seria «sistema de regras de conduta social, obrigatórias para todos os
cidadãos de um certo Estado, a fim de garantir no seu seio a Justiça, a Segurança e
os Direitos Humanos, sob a ameaça das sanções estabelecidas para quem violar tais
regras, as quais poderão ser impostas coactivamente, se necessário».

Das várias definições acima enumeradas ficamos com alguns elementos que deve
estar na definição do Direito:

 Sistema de normas: numa sociedade existem várias normas que constituem


um sistema, em princípio, harmónico. Uma norma tem relação com outras
normas. Por exemplo as normas do direito constitucional, direito do
trabalho, do direito da família, do direito criminal, do direito fiscal, do
direito internacional entre outras, tem uma relação entre si. Ou seja, se
estamos a tratar (resolver) um assunto do direito do trabalho podemos ter de
nos socorrer com conhecimentos do direito da família; se estamos a tratar
um assunto do direito administrativo podemos nos socorrer de
conhecimentos do direito da família. Por outro lado, duas pessoas que
querem se casar, por exemplo, podem estar sujeita ao Direito criado e
imposto pelo Estado, ao direito canónico, direito consuetudinário, normas de
trato social (normas de cortesia e etiqueta).
 De conduta social: são normas para regular a vida do homem em sociedade,
ou seja, em interacção dos seres humanos uns com os outros.
 Possibilidade de sanções aos violadores dessas normas : em caso de
incumprimento dessas normas existe a possibilidade de impor o seu
cumprimento com o uso da força. O Direito criado pelo Estado a sua
violação é sancinado pelo Estado ou a outros poderes públicos. Em princípio
é força pública (força do Estado e ou outras autoridades publicas). Se um

Manual..., vol. I, pág. 65


133

50
crente viola as normas do direito canónico será sancionado pela Igreja
Católica. Se a pessoas viola o direito consuetudinário será sancionado pela
comunidade a que pertence através da rejeição social, desprezo, etc.
Devemos notar que nem todas as normas (jurídicas ou não) são susceptíveis
de sanções pelo seu não cumprimento, pois há normas sugestivas, supletivas
e outras sem carácter obrigatório.

Aatravés de algumas das definições acima apresentadas, ficamos a saber que há um


Direito criado pelo Estado e há outro direito não criado pelo Estado, mas sim
criado por outras ordens (social, religiosa, tradicional, etc.) a que as pessoas se
encontram vinculadas.

Por outro lado, do Direito criado pelo Estado, temos o direito objectivo e direito
subjectivo. O primeiro (ver a definição de Ana Prata) tem a ver com norma de
conduta imposta a todos os membros da sociedade e o segundo (direito subjectivo)
tem a ver com a faculdade que uma pessoa tem de usufruir (gozar) de certos
direitos.

Como se pode depreender o termo direito admite várias interpretações e


significados. Por outro lado o direito pode ser criado por órgãos públicos (Estado e
autarquias) e por organizações privadas (empresas, associações, etc)

Nesta cadeira vamos dedicar maior atenção ao Direito criado pelo Estado. Os
outros direitos vigoram fora do âmbito do Estado ou dentro do âmbito do Estado
quando o Direito criado pelo Estado permitir. Por exemplo, o artigo 4 da CRM
estabelece que «O Estado reconhece os vários sistemas normativos e de resolução
de conflitos que coexistem na sociedade moçambicana, na medida em que não
contrariem os valores e os princípios fundamentais da Constituição»..

Sendo assim podemos definir Direito como um conjunto sistematizado de


normas de conduta social, gerais, abstractas e hipotéticas que regem relações
sociais numa dada sociedade, podendo-se aplicar sanções aos violadores.

2. Direito objectivo e direito subjectivo

51
Para além das definições da Ana Prata acima apresentadas, para definir e
diferenciar direito objectivo e direito subjectivo vamos ver os trechos de Marcelo
Rebelo de Sousa e Sofia Galvão134: «(...) o Direito anda associado à ideia de um
conjunto de regras de comportamento social ou de cada uma dessas regras. A lei é
Direito. O regulamento é Direito. Os estatutos são Direito. Todos eles constituem
Direito que preside à nossa vida em sociedade. (...) Chama-se a estas regras que
acompanham e definem até ao pormenor o nosso quotidiano Direito Objectivo».

Estes autores135 acrescentam que “Ao direito como poder de cada qual agir ou
exigir um comportamento de outrem chama-se direito subjectivo”. Ainda de
acordo com eles o “(...) Direito objectivo, normalmente escrito com maiúscula, o
direito subjectivo é-o com minúscula”. Em Inglês não há necessidade de usar
maiúscula ou minúscula pois o Direito objectivo é designado por law e o direito
subjectivo por right.

Rebelo de Sousa e Sofia Galvão136 acrescentam que «Entre o Direito objectivo e o


direito subjectivo existem óbvias e naturais ligações, já que é o primeiro que cria,
modifica e extingue o segundo. Por outras palavras, o direito de voto, o direito de
greve, o direito à educação, o direito à saúde [direito subjectivo] são definidos e
regulados por regras de Direito objectivo»

Quadro distintivo do Direito Ojectivo e Direito Subjectivo

Direito Objectivo Direito Subjectivo


Ordem, Comando Faculdade, prerrogativa
Escreve-se com inicial maúsula: Se não for início da frase escreve-se
Direito com inicial minúscula: direito
Em Inglês é Law Em Inglês é Right

3. Fins do Direito

São fins do Direito a justiça, a segurança jurídica, a protecção dos direitos e


liberdades fundamentais, a paz.

a) Justiça
134
Introdução ...pág. 9
135
Introdução....pág. 9
136
Introdução...,pág. 10

52
A este respeito, Diogo Freitas do Amaral 137 entende que «(...) as leis devem ser
justas,asdecisões administrativas devem ser justas, a sentenças judiciais devem
ser justas: o Estado de Direito é, antes demais, um Estado que tem o dever de
ser justo, ou seja, um estado de Justiça.(...) Por isso os tribunais são hoje
denominadas casas da justiça, e os advogados terminam as suas alegações ao
juiz, em nome do constituínte, com a frase: Peço Justiça».

b) Segurança Jurídica

Para José Falcão e Outros138 a segurança jurídica pressupõe três modalidades:

“-Segurança pelo Direito. Nesta acepção a segurança jurídica tem sido entendida
como o estado de ´ordem´ e ´paz´, decorrente da simples existência e normal
funcionamento do direito enquanto ordem jurídica, desempenhando a sua função
de tutela, com que previne e reprime actos de agressão contra pessoas e bens. (...)

-Segurança ou certeza do direito. Neste seu entendimento, a segurança jurídica


visa, em geral, uma dimensão de cognoscibilidade e estabilidade do direito que
possibilite às pessoas prever os efeitos jurídicos dos vários eventos da vida social,
conhecer os seus direitos e deveres, em sums, ter conhecimento prédio daquilo que
cada um pode contar para, com base em expectativas firmes, fazer planos para a
vida e orientar as suas condutas, implicando não só a possibilidade de de apreensão
das normas – o que justifica que a publicação da lei se torne um requisito da sua
eficácia e medeie, em regra, um espaço de tempo maior ou menor entre a
publicação e a sua entrada em vigor – como também da calculabilidade das suas
consequências jurídicas concretas – tornando ainda hoje válida a máxima de
Montesquieu de que as leis devem ser concisas, simples e precisas.

-Segurança perante o Estado. Com terceira e últimacompreensão da segurança


jurídica, pretende-se aludir, em particular, à salvaguarda dos cidadãos perante o
poder do Estado. Esta segurança dos cidadãos perante o Estado é caucionada,
sobretudo, ela possibilidade de recurso a um poder neutro porque independente – o
poder judicial – para defesa dos direitos, liberdades e garantias, visto os preceitos
constitucionais que os estabelecem serem directamente aplicáveis (...); pela
Manual..., pág. 54/55
137

Noções Gerai do Direito, páginas 41 e 42


138

53
sujeição da Administração Pública aos princípio da legalidade e pela garantia de
´recurso contencioso´contra quaisquer actos de administração definitivos e
executórios (...); em suma providenciando-se meios de defesa contra o arbítrio do
poder”.

De acordo com Diogo Freitas do Amaral139, a Segurança jurídica – «(...) impõe a


criação de mecanismos capazes de contribuir para a certeza do Direito (clareza e
publicidade das leis, fundamentação das decisões administrativas e judiciais, `caso
julgado`, recursos para a uniformização da jurisprudência, etc)».

Diogo Freitas do Amaral140 faz-nos notar que às vezes por um certo acto, podemos
conseguir a segurança e a justiça ao mesmo tempo: quando um homicida é punido
com a pena de prisão alcança-se a justiça pois é castigado um autor de um crime
grave, por ouro lado, garante-se a segurança, pois a detenção do condenado é um
aviso a outros que teriam intenção de cometer o mesmo crime.

c) Protecção dos Direitos e Liberdades Fundamentais: O Estado de


Direito

Direitos humanos

De acordo com Diogo Freitas do Amaral 141 desde 1948, ano em que a ONU
aprovou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o mundo passou a ter outra
sensibilidade em relação aos direitos humanos.

Direitos políticos, Direitos económicos, Direitos sociais, Direitos culturais

Ver a CRM e legislação complementar.

Estado de Direito

Um Estado de Direito é aquele que tem os seus actos limitados pelo Direito. Ao
contrário de um Estado ditatorial que age sem limites do Direito.

d) Paz

139
Manual..., pag. 55
140
Manual..., pag. 55
141
Manual..., pag. 56

54
Para Angel Latore142«Num sentido mais simples, a segurança equivale a paz, quer
dizer, à situação duma sociedade em que as relações entre os seus membros
decorrem habitualmente sem violência e em que cada indivíduo está protegido
contra a agressão dos demais.(...) O Direito tem que cumprir primeiro que tudo
essa missão pacificadora. Um sistema jurídico é um mecanismo de paz social (...)».

4.Características do Direito

Características do Direito criado pelo Estado

i. Direito como emanação dos órgãos políticos do Estado

De acordo com Diogo Freitas do Amaral143 «Por influência da ideologia do


Iluminismo (...) que os governantes (...) assumem que possuindo eles as luzes da
razão, e estando o povo miúdo mergulhado nas trevas da ignorância, compete ao
Estado derramar pelos cidadãos os benefícios da civilização – educando-os,
assistindo-os na doença e no infortúnio, e promovendo o constante progresso da
economia, da justiça social e da cultura. O Estado é uma emanação do povo
soberano; o Direito é uma emanação dos órgãos políticos do Estado (Parlamento e
Governo), que lideram os destinos e o desenvolvimento do país»

ii. A aplicação do Direito como tarefa do Estado

Ao Estado cumpre a tarefa de fazer as leis em nome do povo, e cabe a este mesmo
Estado aplicá-lo em nome do povo.144

iii. O Direito Público confere legitimidade ao poder

O Direito Público, sobretudo o Direito Constitucional e o Direito internacional


conferem legitimidade ao poder e ao sistema jurídico.145

iv. Predominância da lei sobre o costume

142
Introdução ao Direito, págs. 44/45
143
Manual... pág. 80/81
144
Ver Diogo Freitas do Amaral, Manual..., pág. 81
145
ver Diogo Freitas do Amaral, Manual..., pág. 82

55
A lei prevalece sobre o costume como fonte de direito, mas continua a vigorar o
costume nas relações internacionais a que cada Estado se deve submeter bem
como os costumes das comunidades nacionais.146

v. Grande extensão da codificação

As leis avulsas tende a ser organizadas em códigos.

vi. Monopólio estadual do uso da força (embora admita excepções)

O Estado é detentor do monopólio do uso da força, pois temos um exército


nacional, há polícias públicas, os tribunais, as penitenciárias, estabelecimentos de
reeducação de menores delinquentes são do Estado. Contudo este monopólio de
uso da força, sofre algumas excepções:

 Acção directa (artigo 336 do Código Civil)


 Legítima defesa (artigo 337 do Código Civil)
 Estado de necessidade (artigo 339 do código civil)
 Tribunais arbitrais
 Segurança privada
Contudo, mesmo nestas excepções o controlo da legalidade ou ilegalidade do uso
da força pelos particulares cabe ao Estado.147

vii. Coercibilidade como característica do Direito criado pelo Estado

A coercibilidade é a susceptibilidade de imposição, pelo Estado, coerciva ou


coactiva (por via da força física) para o cumprimento das normas jurídicas. A
coacção é o efectivo emprego da força. A inobservância do Direito está sujeito a
sanções. Em regra, só o Estado é quem legitimidade para o uso da força para fazer
cumprir o Direito.148

Breves notas sobre as sanções149


ver Diogo Freitas do Amaral, Manual..., pág. 82
146

147
ver Diogo Freitas do Amaral, Manual..., págs. 84-86
148
Ver Diogo Freitas do Amaral, Manual..., pág. 86
149
Para mais detalhes sobre as sanções Ver: José de Oliveira Ascensão, Introdução..., paginas 66 e seguintes;
José Dias Marques, Introdução, páginas 66 e seguintes; Marcelo Rebelo de Sousa e Sofia Galvão, Introdução...,

56
 Sanções Compulsórias: aquelas que se destinam a actuar sobre o infractor
da norma para o levar a adoptar o comportamento imposto pela norma.
 Sanções reconstitutivas: aquelas que se destinam a reconstituir o direito
violado pelo infractor. Por exemplo, se uma pessoa invade a casa de outra
pessoa o invasor pode ser obrigado a sair da casa na qual invadiu.
 Sanções compensatórias: Em alguns casos não é possível reconstituir o
direito violado. Para tal o lesado pode ser compensado por bens. Por
exemplo uma família que perdeu o seu membro por assassinato pela
compensação o criminoso não vai restabelecer a vida do falecido mas pode
ser obrigado a pagar uma compensação à família do falecido.
 Sanções preventivas: Algumas sanções visam evitar que o infractor cometa
outras infracções. Por exemplo, uma das razões para se decretar a prisão
preventiva é evitar que o infractor cometa mais infracções.
 Sanções punitivas: visam punir (fazer sofrer) e reprovar a atitude do
infractor

Características do Direito não criado pelo Estado

O Direito não criado pelo Estado pode ser divididos em dois grupos: Direito supra
estadual e Direito infra-estadual. Exemplos de Direito supra estadual: Direito
Internacional Público, Direito Canónico (direito privado da Igreja Católica
universal); direito próprio das federações desportivas internacionais, etc. Exemplos
de Direito infra estadual: direito privativo de um certo município, de cada escola,
de cada hospital, de cada associação, de cada empresa, de cada tribo, etnia, etc.150

Diversidade dos Direitos não estaduais

Os direitos não estaduais são vários e podem ser públicos, privados, religiosos.
Esses direitos podem ser predominantemente jurídicos (regulamento disciplinar de
uma organização); predominantemente técnicos (normas de segurança no trabalho
de uma empresa); uns na forma escrita (circulares, regulamentos, etc), outros na

páginas 275 e seguintes.


150
Ver Diogo Freitas do Amaral, Manual..., págs. 87-90

57
forma verbal e consuetudinária (direito consuetudinário, ordens dadas por um
engenheiro aos seus trabalhadores, etc).151

Natureza genuinamente jurídica

Esses direitos não estaduais constituem Direito, tendo em conta as características


acima apresentadas.152

Falta de coercibilidade própria

Em caso de incumprimento, podem aplicar sanções próprias dessas organizações,


mas podem ser reforçadas pelo Estado.

Possibilidade de recorrer aos Estados para obter o uso da força

Em Direito Internacional por exemplo, não havendo um exército da ONU, quando


esta organização decide usar a força usa os militares dos vários Estados. Se um
tribunal da Igreja Católica quer ver reconhecida a sua sentença para efeitos civis
precisa da colaboração do Estado; um motim numa assembleia geral de uma
sociedade pode ser vencida com auxílio do Estado; um árbitro de futebol pode
pedir auxílio da polícia (Estado).153

PERGUNTAS DE CONSOLIDAÇÃO E QUESTÕES PARA REFLEXÃO

1. Usando palavras suas distingue Direito objectivo do direito subjectivo. Deve,


também, elaborar frases dando exemplos sobre o Direito objectivo e direito
subjectivo.

2. Com base no que já aprendeu até aqui, fale da importância do Direito.

XII - INSTITUIÇÕES FUNDAMENTAIS DO DIREITO

Vamos agora abordar as instituições fundamentais do Direito: o Estado a família, a


propriedade, a herança, a responsabilidade, o contrato, a sanção e o processo.
Antes de abordarmos estas instituições temos de saber o que é uma Instituição.

151
Ver Diogo Freitas do Amaral, Manual..., pág. 90
152
Ver Diogo Freitas do Amaral, Manual..., pág. 90
153
Ver Diogo Freitas do Amaral, Manual..., pág. 91

58
Um dos autores incontornáveis quando se fala da instituição é o jurista francês
Maurice Hauriou. Maurice Hauriou, citado por Adriano Moreira 154 definiu
instituição como «uma ideia de obra ou de empresa, que se realiza e dura no meio
social, mediante um poder que a realiza, e havendo entre os indivíduos que formam
o meio social manifestações de comunhão dirigidas pelos órgãos do Poder e
regulados por processos».

José Adelino Maltez155 explica a definição de Hauriou nos seguintes termos: a


instituição implica «três elementos: uma ideia de obra a realizar num grupo social;
o poder organizado, posto ao serviço desta ideia para a sua realização; as
manifestações de comunhão que se produzem no grupo social tendo em vista a
ideia e a sua realização. (...) A instituição seria resultado de três forças: a liberdade,
o poder e a ideia. A ideia de obra ou de empresa é uma ideia directriz, ou uma
ideia-força, que produz um fenómeno de interpenetração das consciências
individuais, onde são as consciências individuais que se pensam umas às outras e
que assim se possuem umas às outras».

1. Estado
No dia a dia temos ouvido muito falar do Estado. Por isso temos uma ideia geral do
termo Estado. Num dos próximos capítulos vamos fazer uma abordagem científica
do Estado quando abordarmos a Teoria Geral do Estado.

2. Família
Família primitiva

Os conhecimentos da História indicam que a família primitiva constituída por


pessoas que tinham a mesma origem e ligadas por um parentesco místico. Era, por
conseguinte, numerosa.

Família contemporânea

É formadas por pessoas ligadas por consanguinidade.

No sentido restrito é família conjugal, constituída pelos pais e seus filhos.

Ciência Política, pág.s 59/60


154

Princípios de Ciência Política, 2ª edição, pág. 308


155

59
No sentido amplo é formado por ascendentes (pais, avós, bisavós), descendentes
(filhos, netos, bisnetos), colaterais mais próximos (primos, tios, sobrinhos) e afins
(enteados, cunhados, concunhados).

Família no Direito moçambicano

Nos termos do nº 1 do artigo 119 da CRM «A família é o elemento fundamental e


a base de toda a sociedade». O nº 2 do mesmo artigo estabelece que «O estado
reconhece e protege, nos termos da lei, o casamento como instituição que garante a
prossecução dos objectivos da família».

Até 2004 a família era regulado pelo Livro IV do Código Civil. Neste ano é
aprovado a Lei da Família (Lei nº 10/2004) e é revogado o livro IV do Código
Civil. A Lei nº 10/2004, por sua vez foi revogada pela Lei nº 22/2019, de 11 de
Dezembro, que é a nova Lei da Família.

3. Propriedade
Antigamente a propriedade era do grupo, não se distinguido propriedade privada
da propriedade pública.

Com o tempo, sobretudo devido ao desenvolvimento da produção, direito, ciência


e técnica começa a haver distinção entre a propriedade privada (e dentro desta a
propriedade pessoal), propriedade pública (das autarquias, do Estado)

Sobre o Direito de propriedade o artigo 82 da CRM estabelece que:

«1. O Estado reconhece e garante o direito de propriedade.

2. A expropriação sé pode ter lugar por causa de necessidade,


utilidade ou interesse públicos, definidos nos termos da lei e dá lugar
a justa indemnização»
O Direito da Propriedade é regulado pelos artigos 1302 e seguintes do Código
Civil.

4. Herança (Direito das Sucessões)


A herança está ligada à propriedade, pois a herança consiste na transmissão dos
bens de uma pessoa físicaem resultado da sua morte a outras pessoas.

60
Nos termos do artigo 83 da CRM o «O Estado reconhece e garante, nos termos da
lei, o direito à herança».

O Direito das Sucessões era regulado no Livro V do Código Civil mas este livro
foi revogado pela Lei nº 23/2019, de 23 de Dezembro, que passa a regular a
sucessão mortis causa.

5. Responsabilidade
A responsabilidade tem a ver com a obrigação de uma pessoa responder pelos seus
actos ou de outras pessoas.

A responsabilidade funda-se na ideia de reparação de danos causados a outras


pessoas.

Há responsabilidade civil (no âmbito do Direito civil, sobretudo o Direito das


Obrigações), responsabilidade penal (no âmbito do Direito Penal) e
responsabilidade disciplinar (Direito do Trabalho, Direito Administrativo).

A responsabilidade civil pode ser transferida a outras pessoas por contrato. É o que
acontece no Contrato de Seguro, em que a responsabilidade da pessoa é
transferida, mediante contrato, a uma empresa seguradora.

6. Contrato
Contrato é um acordo de vontades entre duas ou mais pessoas com o objectivo de
adquirir, resguardar, transferir, modificar ou extinguir direitos.

Os contratos são regulados, fundamentalmente, nos artigos 405 e seguintes do


Código Civil.

7. Sanção
Já vimos este conceito nas passagens anteriores.

8. Processo
Processo pode ser definido como sequência de actos destinados dar solução a um
caso submetido a um órgão (administrativo ou judicial).

61
Podemos ter processos administrativos (que ocorrem nos órgãos da administração
pública e nos tribunais administrativos); processos judiciais (que correm nos
tribunais judiciais)

Existem vários processos, mas os mais frequentes são os processos civil e penal.

Processo Civil

Pode ser definido como sequência de actos destinados resolver um conflito ou


declarar direito em matéria civil.

É regulado pelo Código de Processo Civil.

Processo Penal

Pode ser definido como sequência de actos destinados resolver um conflito em


matéria penal.

É regulado pelo Código de Processo Penal.

XIII TEORIA GERAL DO ESTADO

XIII.1.Conceito de Estado

Marcello Caetano156 define Estado como «um povo fixado num território, de que é
senhor, e que dentro das fronteiras desse território institui, por autoridade própria,
órgãos que elaboram as leis necessárias à vida colectiva e imponham a respectiva
execução».

Marcelo Rebelo de Sousa e Sofia Galvão157definem Estado como «um povo fixo
num determinado território que nele institui, por autoridade própria, um poder
político relativamente autónomo».
Manual de Ciência política e Direito Constitucional, Tomo I, 6ª edição, pág. 122
156

Introdução, pag. 22
157

62
Marcelo Rebelo de Sousa158 apresenta outra definição na qual de Estado: «termo
que, comportando juridicamente diversos sentidos, traduz fundamentalmente as
noções de pessoa colectiva de direito internacional englobando um povo fixo em
certo território que nele institui um poder político relativamente autónomo (Estado
colectividade) e de pessoa colectiva pública que encabeça o exercício da função
administrativa do Estado-colectividade (Estado-administração)».

As definições do conceito Estado são várias e podem variar consoante o âmbito em


que são empregues.

Assim podemos ter o termo estado para referir o modo de ser ou de estar dos seres.
Nesta acepção podemos ter os seguintes exemplos: A Maria está no estado de
gravidez; a água gelada está no estado sólido.

O termo Estado poderá significar uma instituição (ou órgão) da Administração


pública. Podemos ter como exemplos: O Estado concedeu o direito de uso e
aproveitamento de quinhentos hectares de terra. Neste exemplo a palavra Estado
refere-se a uma direcção distrital, administração distrital, direcção provincial ou
um ministério.

O termo Estado pode se referir a um reinado ou império num certo momento


histórico. Podemos ter como exemplos: Estadode Monomotapa; Gungunhane foi
imperador do Estado de Gaza.

Mas a palavra Estado pode significar um povo que habita um território e nele
exerce o poder político (soberano ou não). Neste sentido podemos ter como
exemplos: Estado moçambicano, Estado do Texas; Estado do Rio de Janeiro. É
neste sentido que aqui nos interessa. Ou seja, para efeitos do que vamos tratar a
seguir podemos dizer (definir o Estado) que Estado é um povo que habita um
território que lhe pertence e nele exerce o poder político soberano.159

XIII.2. Elementos do Estado

Os Estado compreende os seguintes elementos: povo, território e o poder político.

XIII.2. 1 Povo

158
«Estado» in Dicionário Jurídico da Administração Pública, vol. IV, pág. 210
159
Esta definição é reetritiva, pois põe de fora os Estado federados que, como veremos, não são soberanos.

63
a) Conceito
Marcelo Rebelo de Sousa e Sofia Galvão160definem o povo nos seguintes termos:
«povo é o conjunto de sujeitos cidadãos ou nacionais de cada Estado, isto é,
ligados a certo Estado por um vínculo jurídico de nacionalidade».

Marcello Caetano161 define povo como «conjunto de indivíduos que para a


realização de interesses comuns se constitui em comunidade política, sob a égide
de leis próprias e a direcção de um mesmo poder».

Povo é um conjunto de indivíduos (pessoas humanas) ligadas a um determinado


Estado pelo laço ou vínculo de nacionalidade quer vivendo dentro ou fora do
território desse Estado.

O conceito de povo está ligado ao conceito de nacionalidade. Para saber se uma


pessoa faz parte de um povo recorre-se à sua nacionalidade. Ou seja constitui povo
moçambicano todas as pessoas que tem nacionalidade moçambicana quer residam
ou não em Moçambique; constitui povo sul africano todas as pessoas que tem
nacionalidade sul africana quer residam ou não na África do Sul.

b) Conceito de povo e figuras afins


 Diferença entre Povo e População
Marcelo Rebelo de Sousa e Sofia Galvão162distinguem povo e população da
seguinte maneira:«O conceito de povo é um conceito jurídico-político, que não se
confunde com o conceito de população, de natureza económico-demográfica- o
conjunto de pessoas físicas residentes no território de um Estado num determinado
momento histórico, sejam elas nacionais, estrangeiras ou apátridas163(...)»

Por sua vez Jorge Miranda164 entende que «O povo corresponde a um conceito
jurídico e político, a população a um conceito demográfico e económico. O
primeiro é uma unidade de ordem, a segunda a simples soma de uma
multiplicidade de homens atomisticamente considerado. A população é o conjunto

160
Introdução, pag. 22
161
Manual de Ciência...., pag. 123/124
162
Introdução, pag. 23
163
Apátrida é uma pessoa sem nacionalidade ou de nacionalidade desconhecida
164
Manual de Direito Constitucional, tomo III, 4ª edição, pag. 61

64
de residentes em certo território, sejam cidadãos ou estrangeiros; o povo é o
conjunto de cidadãos, residentes ou não no território do Estado(...)».

 Diferença entre povo e nação


Para Jorge Miranda165«O específico da nação encontra-se no domínio do espírito,
da cultura da subjectividade (embora de uma subjectividade inter ou multi-
individual).(...) Mas não se trata do cultural desligado do político, trata-se do
cultural que assume dimensão política.(...) Uma nação funda-se, portanto, numa
história comum, em atitudes e estilos de vida, m maneiras de estar na natureza e no
mundo, em instituições comuns, numa ideia de futuro (ou desígnio) a cumprir. (…)
Por outro lado, porém, a consciência nacional revela-se consciência dum povo que
se sente ele próprio portador de valores humanos universais, dum povo que traz em
si e nos seu flancos a própria humanidade. (…) Há, assim, em cada nação, um
cruzamento do particular e do universal: a nação é ainda uma participação no
universal».

Quadro resumo que DiferenciaPovo, População e


Nação
Povo População Nação
Noção Ligação de uma Ligação de uma pessoa Povo ligado por
pessoa com um com um determinado laços culturais e
determinado Estado pela residência espirituais
Estado pelo
vínculo da
nacionalidade
Natureza do É conceito É um conceito Conceito
conceito jurídico e económico/demográfico. cultural/espiritau
político Ajudamuitonaplanificaç l
ão

o Jurisdição do Estado sobre o seu povo (ou seus


nacionais)

Cada Estado exerce jurisdição sobre os seus nacionais. Cada Estado regula quem
são as pessoas que têm nacionalidade desse Estado. A Constituição da República
de Moçambique (CRM) regula sobre a nacionalidade, nos artigos 5, 26 a 34. A
Manual de Direito Constitucional, tomo III, 4ª edição, pags. 62/63
165

65
nacionalidade é referida também na alínea a), nº 2 do artigo 147 da CRM. A
nacionalidade é regulada Pela Lei da Ncionalidade (Lei sem número publicada em
Junho de 1975, alterada pela Lei nº 16/87, de 21 de Dezembro. A Lei nº 2/82, de6
Abril de 1982, Determina que o Conselho de Ministros poderá conceder a
nacionalidade moçambicana àqueles que, depois de a terem perdido a requeiram e
reúnam as condições exigidas. Cada Estado fixa, através da sua Constituição e leis
infra-constitucionais, os direitos e deveres dos seus nacionais.

A Jurisdição de um Estado aos seus nacionais implica a defesa dos seus direitos
quer a nível nacional quer no estrangeiro. Ou seja, cada Estado deve proteger os
seus nacionais quer se encontrem dentro do seu território quer se encontrem no
estrangeiro. A protecção dos nacionais de um Estado no estrangeiro é feito,
basicamente, através de embaixadas e consulados.

Em Direito Internacional Público a nacionalidade é regulada no artigo 15 da


Declaraçao Universal dos Direitos do Homem.

o Estatuto Jurídico dos não nacionais


- Estrangeiros

Moçambique dispõe da Lei n.º 5/93, de 28 de Dezembro, que Estabelece o


regime jurídico do cidadão estrangeiro, fixando as respectivas normas de entrada,
permanência e saída do país, os direitos, deveres e garantias. Os estrangeiros são
regulado também nos artigos 31, 32 e 33 da Lei do Trabalho, aprovovado pela Lei
nº 23/2007, de 1 de Agosto.O Decreto nº 63/2011, de 7 de Dezembro, aprova o
Regulamento da Contratação da Mão de Obra estrangeira no sector de Petróleo e
Minas. O artigo 20 do Decreto-Lei nº 2/2014, de 2 de Dezembro que estabelece o
regime jurídico e contratual especial aplicável ao projecto de Gás Natural
Liquefeito nas Áreas 1 e 4 da Bacia do Rouvuma. Trata da contratação da mão de
obra estrangeira neste projecto. A Lei n°12/2011 de 21 de Julho, aprova o regime
jurídico relativo à contratação de cidadãos de nacionalidade estrangeira para a
Função Pública.

A Lei nº 17/2011, de 10 de Agosto, que Rege os casos e termos da efectividade da


extradição, também regula sobre os estrangeiros que cometem crimes no
estrangeios e que se encontram em Moçambique.

66
- Apátridas

Apátrida é uma pessoa sem nacionalidade ou nacionalidade desconhecida. Tem o


tratamento dos não nacionais dos Estados.

- Refugiados

No nosso País os refugiados são regidos pelos seguintes diplomas legais:

 Lei n.º 21/91, de 31 de Dezembro: Estabelece o processo de atribuição de


Estatuto do Refugiado;
 Resolução n.º 11/88, 25 de Agosto (Assembleia Popular): Ratifica a
Convenção da OUA relativa a aspectos específicos dos problemas dos
refugiados em África, de 10 de Setembro de 1969;
 Resolução n.º 12/88 de 25 de Agosto (Assembleia Popular): Ratifica o
Protocolo Adicional à Convenção de Genebra sobre o Estatuto do
Refugiado, de 31 de Janeiro de 1967.

Moçambique dispõe do Instituto Nacional de Apoio aos Refugiados, criado pelo


Decreto nº 51/2003. É subordinado ao Ministério dos Negócios Estrangeiros e
Cooperação.

XIII.2.2. Território

A. Noção
O Território compreende o espaço físico delimitado onde o povo exerce o seu
poder político.

Juridicamente, o território de um Estado não compreende só a parte sólida ou


física. Abrange também as águas, o espaço aéreo, os locais onde se situam as
representações diplomáticas de cada Estado noutros países ou em organizações
internacionais e meios de transporte registados no Estado e que o Direito confere o
estatuto de território do Estado de matrícula.

67
O nº1 do artigo 6 daCRM estipula que o território da República de Moçambique
abrange «(...) toda a superfície terrestre, a zona marítima e o espaço aéreo
delimitados pelas fronteiras nacionais».

Nos termos do nº 1 do artigo 98 da CRM «Os recursos naturais situados no solo e


no subsolo, nas águas interiores, no mar territorial, na plataforma continental e na
zona económica exclusiva são propriedade do Estado».

B. Tipos de território
a) Território terrestre: é a parte sólida do território. Encontra-se dentro das
fronteiras do Estado moçambicano e compreende uma superfície de 701380
Km2, estende-se do Rouvuma a Maputo (Ponta douro) edoZumbo
(Tete)aoOceano Índico.
b) Território líquido ou aquático: é constituído pelos rios, lagos, lagoas na
parte situada dentro das fronteiras nacionais e pela parte do oceano que se
estende até 12 milhas marítimas166 medidas a partir da linha de base e
designa-se Mar Territorial.

o Território Fluvial

O Território Fluial, de acordo com Albino de Azevedo Soares 167 “é constituído por
todos os cursos de água ou pela parte dos mesmos que correm no território de um
Estado e pela parte dos cursos de água que o separam de outro ou outros Estados e
sobre a qual exercem soberania”.

Sobre os rios Albino de Azevedo Soares168 refere que “Se os rios nascem e
desaguam no território nacional chama-se nacionais. Normalmente não causam
problemas de carácter internacional, pois constituem domínio público de cada
Estado. Quanto à navegação, pesca e aproveitamento industrial e agrícola, a sua
regulamentação é da exclusiva competência do Estado. [...] As coisas não se
passam com tal simplicidade nos rios que atravessam vários Estados (rios
166
De acordo com Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, Dicionário Aurélio Básico da Língua Portuguesa, pág. 433
a Conferência Hidrográfica de 1929 fixou o seu valor em 1.852 metros
167
Lições de Direito Internacional Público, Págs 219-220
168
Lições de Direito Internacional Público, pág. 220

68
sucessivos) ou que separam vários Estados (rios contíguos). [...] Uma fábrica
instalada junto a nascente ou à foz daqueles rios pode ser o suficiente para liquidar
a possibilidade de pesca por qualquer dos Estados ribeirinhos; uma barragem que
desvie um curso de água pode ser fatal para a agricultura do Estado que dela se não
pode aproveitar; a impossibilidade de os barcos do país da nascente descerem até
ao mar pode causar despesas e complicações apreciáveis. Uma central nuclear
pode poluir e aumentar sensivelmente a temperatura de um curso de água, tornado
impossível o seu aproveitamento e liquidando a existência de certas espécies
piscícolas”.

Os Estados atravessados por cursos de água internacionais devem celebrar acordos


para a utilização desses cursos.

De acordo com Albino de Azevedo Soares169“Cada Estado só pode navegar na


parte sobre a qual exerce soberania, salvo acodo estabelecendo a liberdade de
navegação. Mas mesmo quando esta existe, vigora normalmente o princípio da
permissão da cabotagem só para barcos nacionais e o da restrição à entrada de
navios de guerra estrangeiros”.

Há pouco tempo tivemos a intenção do Malawi de navegar os rios Chire e


Zambeze para ter acesso ao Oceano Índico, tendo Moçambique sugerido um
estudo independente sobre o impacto ambiental, tendo mesmo concluído que a
navegação dos referidos rios teria custos elevados devido à questões ambientais,
tendo, pir isso desaconselhado a sua navegação.

De acordo com Albino de Azevedo Soares170 “Em matéria de aproveitamento


agrícola e industrial, devem ter-se como assentes os princípios seguintes: o
aproveitamento que cada Estado faça na parte do rio que está sob sua soberania
não pode prejudicar igual direito dos outros Estados ribeirinhos; todo o
aproveitamento que um Estado faça das águas dum rio internacional deve ser
previamente comunicado aos estados interessados, que, em caso de desacordo,
deverão antabular conversações ou recorrer à arbitragem; em caso algum se devem
fazer obras que prejudiquem a navegabilidade”.

Lições de Direito Internacional Público, págs. 220-221


169

Lições de Direito Internacional Público, pág. 221


170

69
Moçambique ratificou através da Resolução nº 31/2000, de 27 de Dezembro
(Conselho de Ministros)171, o Protocolo Previsto sobre Cursos de Água
compartilhados na região da Comunidade para o Desenvolvimento da África
Austral. Também ratificou, através da Resolução nº 20/94, de 4 de Agosto
(Conselho de Ministros)172, a Convenção sobre a Organização Hidrográfica
Internacional.

Territorio Maritimo
Território Marítimo é constituído pela parte do oceano que se estende até 20 milhas
marítimas medidas a partir da linha de base. Compreende o Mara Territorial, a
zona Contígua ao Mar Territorial, Zona Económica Exclusiva e a Plataforma
Continental.

o Mar territorial é a faixa do mar de largura igual a 12 milhas


marítimas medidas a partir da linha de base. O Estado exerce a sua
soberania no Mar territorial. Para mais detalhes ver os artigos 14, 26 a
34 da Lei nº 20/2019, de 8 de Novembro (Lei do Mar) 173 e artigos 2 a
32 da Convenção das Nações Unidas Sobre o Direito do Mar
(CNUDM), aprovada pela Resolução nº 21/96. Sobre a utilização do
espaco marítimo nacional ver o Decreto n. 21/2017, de 24 de Maio,
que aprova o Regulamento que Estabelece o Regime Jurídico de
Utilização do Espaco marítimo nacional.
o Zona Contigua ao Mar Territorial: vai até 24 milhas marítimas
medidas a partir da linha de base. Em virtude de as primeiras 12
milhas serem ocupadas pelo Mar territorial, na verdade, a zona
contígua tem apenas 12 milhas. Nesta zona o Estado exerce controlo
necessário para a prevenção da violação das leis e regulamentos
aduaneiros, fiscais, de migração e sanitários de protecção e
preservação do meio ambiente marinho, vigentes no território
moçambicano; repressão das infracções às leis e regulamentos

171
Publicado no Boletim da República, nº 52, I Série, 2º Suplemento
172
Publicado no Boletim da República, nº 31, I Série, Suplemento
173
Publicado no Boletim da República, nº 216, I Série

70
aduaneiros, fiscais, de migração e sanitários de protecção e
preservação do meio ambiente marinho, vigentes no território
moçambicano (ver artigos 15, 35 a 38 da Lei do Mar e artigo 33 da
CNUDM)
o Zona Económica Exclusiva: vai até 200 milhas marítimas medidas a
partir da linha de base. Em virtude de a zona contígua ir até as 24
milhas a zona económica exclusiva tem 176 milhas marítimas. (ver
artigos 16, 39 a 50 da Lei do Mar e artigos 55 a 75 da CNUDM. Ver,
também, o artigo científico com o título Sobre os direitos
moçambicanos de zona económica exclusiva, da autoria do Dr. Isac
Matola, publicado na página 14 do jornal Zambeze, na sua edição de
26 de Março de 2009)

De acordo com o estabelecido na CNUDM:

“Artigo 56.º

Direitos, jurisdição e deveres do Estado costeirona zona económica exclusiva

1. Na zona económica exclusiva, o Estado costeiro tem:

a) Direitos de soberania para fins de exploração e aproveitamento, conservação e


gestão dos recursos naturais, vivos ou não vivos, das águas sobrejacentes ao leito
do mar, do leito do mar e seu subsolo e no que se refere a outras actividades com
vista à exploração e aproveitamento da zona para fins económicos, como a
produção de energia a partir da água, das correntes e dos ventos;

b) Jurisdição, de conformidade com as disposições pertinentes da presente


Convenção, no que se refere a:

i) Colocação e utilização de ilhas artificiais, instalações e estruturas;

ii) Investigação científica marinha;

iii) Protecção e preservação do meio marinho;

71
c) Outros direitos e deveres previstos na presente Convenção.

2. No exercício dos seus direitos e no cumprimento dos seus deveres na zona


económica exclusiva nos termos da presente Convenção, o Estado costeiro terá em
devida conta os direitos e deveres dos outros Estados e agirá de forma compatível
com as disposições da presente Convenção.

3. Os direitos enunciados no presente artigo referentes ao leito do mar e ao seu


subsolo devem ser exercidos de conformidade com a parte VI da presente
Convenção”.

“Artigo 58.º

Direitos e deveres de outros Estadosna zona económica exclusiva

1. Na zona económica exclusiva, todos os Estados, quer costeiros quer em litoral,


gozam, nos termos das disposições da presente Convenção, das liberdades de
navegação e sobrevoo e de colocação de cabos e ductos submarinos, a que se refere
o artigo 87.º, bem como de outros usos do mar internacionalmente lícitos,
relacionados com as referidas liberdades, tais como os ligados à operação de
navios, aeronaves, cabos e ductos submarinos e compatíveis com as demais
disposições da presente Convenção.

2. Os artigos 88.º a 115.º e demais normas pertinentes de direito internacional


aplicam-se à zona económica exclusiva na medida em que não sejam
incompatíveis com a presente parte.

3. No exercício dos seus direitos e no cumprimento dos seus deveres na zona


económica exclusiva, nos termos da presente Convenção, os Estados terão em
devida conta os direitos e deveres do Estado costeiro e cumprirão as leis e
regulamentos por ele adoptados de conformidade com as disposições da presente
Convenção e demais normas de direito internacional, na medida em que não sejam
incompatíveis com a presente parte”.

o Plataforma continental: compreende o leito e subsolo subjacentes às


águas do mar, que se estendem além do mar territorial em toda a sua
72
extensão do prolongamento natural terrestre, até uma distância de 200
milhas marítimas da linha de base ou até ao bordo exterior da margem
continental nos casos em que este não atinja aquela distância. (ver
artigos 17, 51 a 58 da Lei do Mar e a definição constante do Glossàrio
em anexo à mesma Lei e artigos 76 a 85 da CNUDM174.
o Alto mar: o Glossario em enexo a Lei do Mar define Alto Mar como
“águas que se localizam para além da zona econ’omica exclusiva dos
estados costeiros” . Nos termos do artigo 89 da CNUDM, nenhum
Estado pode legitimamente pretender qualquer parte do Alto mar à sua
soberania. Contudo, nos termos do artigo 100 da CNUDM todos os
Estados devem cooperar na repressão da pirataria no alto mar ou outro
lugar que não esteja sob jurisdição de algum Estado. Por outro lado,
nos termos do artigo 105 da CNUDM, todo o Estado pode apresar
(capturar, aprisionar, tomar como presa) no Alto mar ou outro lugar
não sujeita à jurisdição de qualquer Estado, um navio ou aeronave
pirata, ou um navio ou aeronave capturados por actos de pirataria e
em poder dos piratas e prender pessoas e apreender os bens que se
encontrem a bordo desse navio ou dessa aeronave. Os tribunais do
Estado que efectuou o apresamento podem decidir as penas a aplicar e
as medidas a tomar no que se refere aos navios, às aeronaves ou aos
bens sem prejuízo dos direitos de terceiros de boa fé. Para mais
detalhes ver artigos 86 a 120 da CNUDM.
c) Território aéreo: é constituído pelo espaço aéreo que se situa dentro das
fronteiras nacionais. Esse espaço vai até determinada altitude fora da qual
começa o espaço aéreo internacional. Ainda não há consenso sobre a
delimitação jurídica do espaço aéreo. Há três posições sobre a delimitação
do espaço aéreo:
1ª posição: o espaço aéreo de cada Estado coincide com o
limite da atmosfera terrestre. Sabemos que a atmosfera terrestre
é de 2.000 km. Sendo assim qualquer Estado exerceria a sua
soberania até 2.000 km de altitude.

Ver, também, o artigo com o título Um olhar sobre a plataforma continental moçambicana, da autoria do Dr. Isac
174

Matola, publicado nas páginas 16 e 17 do jornal Zambeze, na sua edição de 12 de Março de 2009

73
2ª posição: defende que o espaço aéreo de cada Estado vai por
toda extensão em que os corpos estão sujeitos à força de
gravidade da terra.

3ª posição: defende que o espaço aéreo de cada Estado estende-


se até a altitude máxima alcançável pelas aeronaves que
dependam do oxigénio para alimentar os seus motores.

Para regular a utilização do espaço aéreo foi aprovada em 1919 a


Convenção sobre a Aviação Civil Internacional de paris. Esta
convenção foi substituída pela convenção sobre a Aviação Civil
Internacional de Chicago de 1944. A convenção de Chicago foi alterada
pelo Protocolo de Montreal de 1984. Este protocolo veio a alterar as
regras sobre a utilização do espaço aéreo. Os Estados partes da
Convenção de Chicago estabeleceram as chamadas «Cinco liberdades
do ar»: a) o direito de sobrevoo; b) o direito de escala técnica;c) o
direito de desembarque de passageiros, de correio, e de mercadorias
procedentes do Estado da nacionalidade da aeronave; d) o direito de
embarcar ou desembarcar passageiros, correio e mercadorias com
destino a qualquer Estado parte175 da Convenção de Chicago.

No nosso País temos a Lei nº 5/2016, de 14 de Junho, que é a Lei da


Aviação Civil. O nº 3 do artigo 5 da Lei nº 5/2016 estabelece que
“Todas as aeronaves civis registadas na República de Moçambique são
consideradas território da República de Moçambique quando em alto
mar ou em território que não pertença a nenhum Estado ou ainda
quando em sobrevoo sobre esse território”. Nos termos do artigo 6 da
Lei nº 5/2016, é da competência das autoridades militares garantir a
defesa do espaço aéreo nacional. O nº 3 doa artigo 7 da Lei nº 5/2016,
regula que as aeronaves que entram, sobrevoam ou saem de
Moçambique deve seguir as rotas internacionais previamente aprovadas
para o efeito pela Autoridade de Aviação Civil. O artigo 44 da Lei nº
5/2016, estabelece que o espaço aéreo compreende o espaço aéreo
nacional e o espaço aéreo sob jurisdição nacional. Nos termos do
Diz-se Estado parte de uma convenção aquele Estado que assinou ou ratificou uma certa Convenção. Ou seja,
175

Estado parte de uma Convenção é aquele que se compromete a aceitar o que aquela convenção regula. Como se
pode ver, aqui a palavra parte não tem aquele sentido comum que conhecemos.

74
Glossário em anexo à Lei nº 5/2016, o espaço aéreo nacional ó o
subjacente à superfície terrestre, mar, águas interiores que constituem o
território da República de Moçambique. Espaço aéreo sob jurisdição
nacional é o subjacente ao alto mar cuja responsabilidade aeronáutica
foi atribuída internacionalmente ao país.

d) Território fictício: é constituído pelos locais onde se situam as


representações diplomáticas e consulares (Embaixadas e Consulados);
residências oficiais dos funcionários diplomáticos e consulares de cada
Estado noutros Estados; quartos de hotéis que hospedam diplomatas e outros
edifícios usados por diplomatas nas suas missões oficiais.

e) Território colgante: é constituído pelos meios de transporte do Estado


(viaturas, aeronaves, navios, naves espaciais e outros) matriculados nesse
Estado e que o Direito confere nacionalidade do Estado da matrícula. Por
exemplo, o artigo 5 da Lei nº 21/2009, estabelece que consideram-se
território moçambicano todas as aeronaves da República de Moçambique
onde quer que se encontrem. Todas as aeronaves civis moçambicanas são
consideradas território da República de Moçambique quando em alto mar ou
em território que não pertença a nenhum Estado ou ainda quando em
sobrevoo sobre esse território.
A este respeito, Jean Touscoz176 ensina-nos que “Por analogia com os vínculos das
pessoas singulares e colectivas, coloca-se o problema do vínculo de certos
veículos, susceptíveis de se deslocarem para além dos limites do território de um
Estado”.

Navios
De acordo com Jean Touscoz177 “A questão envolve desde logo os navios, que
podem navegar o alto-mar, isto é, num espaço internacional que escapa a qualquer
competência territorial estadual. Por extensão, ela visa também as aeronaves que
utilizam o espaço aéreo sobrejacente ao alto-mar; aplica-se, finalmente, aos
engenhos espaciais que evoluem no espaço extra-atmosférico internacionalizado.
Formara-se costumes, concluirm-se tratados, e, em consequência disto, estes
Direito Internacional, pág. 132
176

Direito Internacional, págs. 132-133


177

75
veículos constituem conjuntos em relação aos quais os Estados de matrícula
exercem as suas competências para todos os acontecimentos que se produzem a
bordo quando se encontram em espaços internacionalizados. Quando estão no
território de um outro Estado que não o de matrícula, a competência territorial tem
muita influência (salvo quando o veículos em questão fazem parte das Forças
Armadas do Estado estrangeiro: nesse caso, gozam de imunidade). [...] Existem
convenções internacionais que determinam as condições de matrícula destes
veículos, ou seja, as regras da sua vinculação a um Estado. Segundo a Convenção
de Genebra de 1958, no alto mar qualquer navio deve ter nacionalidade do Estado
que iça o pavilhão (o navio pirata é precisamente aquele que não beneficia de tal
vínculo; algumas convenções internacionais permitem que os navios de guerra de
outros Estados, mesmo no alto-mar, exerçampoderes de poliiamento). Só os
estados podem matricular os navios (excluíndo, por exemplo, as organizações
internacionais) e todos o podem (incluíndo os estados encravados), em virtude do
princípio da igualdade dos Estados. A Convenção de Genebra dispõe igulamente
que `deve existir um vínculo substancial entre o Estado e o navio; o Estado deve
exercer efectivamente a sua jurisdição e o seu controlo nos domínios técnicos,
administrativo e social nos navios que ostentam o seu paviçhão`. É o princípio da
efectividade que é, mais uma vez, consagrado pelo Direito Internacional, mas a sua
aplicação é difícil e existem, como se sabe, numerosos pavilhões tolerados,
atribuídos pelos Estados (Panamá, Libéria, Honduras, Costa Rica) a navios que não
controlam efectivamente. Com feito, é muito difícil apreciar o vínculo efectivo de
um navio a um Estado, pois resulta da combinação de diversos critérios
(nacionalidade do proprietário, do armador, do segurador, localização do porto de
matrícula, linhas mais usadas, nacionalidade do comandante e dos membros da
tripulação, etc). Ora os armadores e os proprietários procuram muitas vezes – e
conseguem-no- a matrícula de Estados com os quais não têm nenhuma ligação
efectiva mas cuja legislação respeitante à segurança do mar, fiscalidade ou direitos
sociais das pessoas embarcadas é particularmente flexível. Até aqui teve que o
Direito Internacional que tolerar a existência de pavilhões concedidos, o que
contradiz, porém, o prinsípio de efectividade que consagra”.
Para ilustrar a aplicação prática deste conceito de território no que se refere aos
navios vamos ver o que estabelece alguma legislação nacional:
 Nos termos do Código Penal, aprovado pela Lei nº 24/2019, de 24 de
Dezembro:
76
“Artigo 4
(Princípio da territorialidade)

Salvo disposição em contrário constante de convenção internacional ou de acordo


no domínio da cooperação judiciária, a lei penal moçambicana é aplicável a factos
praticados:

a) em Moçambique, seja qual for a nacionalidade do agente; ou

b) a bordo de navio ou aeronave matriculado em Moçambique.”

 Nos termos do Código do Registo Civil, aprovado pela Lei nº 12/2018, de 4


de Dezembro:
“ARTIGO 137
(Viagem por mar ou por ar)
1. Quando em viagem por mar ou por ar, nascer algum indivíduo em
navio ou aeronave moçambicanas, a autoridade de bordo, dentro de vinte
e quatro horas posteriores à verificação do facto, deve lavrar o registo de
nascimento com as formalidades e requisitos previstos neste Código,
acrescentando a indicação da latitude e longitude em que o nascimento
tenha ocorrido.
2. Não havendo livro próprio a bordo, o registo é lavrado em papel
avulso, em duplocado”

“ARTIGO 246
(Óbitos ocorridos em viagens por ar ou pelo mar)
1. Se em viagem, a bordo de navio ou aeronave moçambicana, ocorrer
algum falecimento ou acidente que lhe der causa, observa-se, com as
necessárias adaptações, o disposto no nº 2 do artigo 137 deste Código.
(...)”

Aeronaves
Segundo Jean Touscoz178 “A Convenção de Chicago de 7 de Dezembro de 1944
apresenta regras semelhantes no que concerne à matrícula das aeronaves: a

Direito Internacional, págs. 133-134


178

77
exigência de efectividade é muito mais respeitada, pois os controlos internacionais
em matéria de segurança são mais rigorosos e os problemas de fraudes no Direito
fiscal e no Direito social colocam-se com menos acuidade”.
Por exemplo, o nº 3 do artigo 5 da Lei nº 5/2016 estabelece que “Todas as
aeronaves civis registadas na República de Moçambique são consideradas território
da República de Moçambique quando em alto mar ou em território que não
pertença a nenhum Estado ou ainda quando em sobrevoo sobre esse território”..
Ver, também, os artigos do Código do Registo Civil transcritos na parte relativa
aos navios.

Engenhos espaciais
De acordo com Jean Touscoz179 “A Convenção de Nova Iorque de Janeiro de 1975
fixa as condições de matrícula dos engenhos espaciais, ficando o Estado de
lançamento com a competência de matricular; ele é, em todo o caso, responsáveis
pelos danos e prejuízos”.

Exclusão dos veículos terrestres no conceito de território colgante


Jean Touscoz180 refere que “O problema não se põe nos mesmos termos para os
veículos terrestres (caminhos de ferro, veículos automóveis): estes encontram-se
sempre sobre o território de um Estado e dependem da sua competência, tendo a
sua matrícula como objectivo exclusivo facilitar os controlos de polícia de que são
objecto. As suas deslocações internacionais estão regulamentadas em diversas
convenções internacionais”.

C. Importância do Território
O território é importante por várias razões mas podemos destacar as seguintes:

 funciona como condição de formação e existência do Estado. Tal como


sabemos território é um dos elementos do Estado;
 constitui o domínio de validade da ordem jurídica nacional. Em princípio
as leis valem dentro do Estado que as produziu, podendo valer no território
doutros Estados se esses outros Estados consentirem;
 o Estado aplica as suas leis dentro do seu território;
Direito Internacional, pág. 134
179

Direito Internacional, pág. 134


180

78
 é o quadro fixo do exercício dos poderes legislativo, executivo e judicial;
 é nele que o povo extrai os recursos naturais. Embora cada Estado pode
extrair recursos no seu território, também extrair no Alto Mar obedecendo
as regras do Direito Internacional.

XIII.1.2.3. Poder político

Para Marcelo Rebelo de Sousa e Sofia Galvão181 o poder político «pode ser
definido como a faculdade de que é titular um povo de, por autoridade própria,
instituir órgãos que exerçam, com relativa autonomia, a jurisdição sobre um
território, nele criando e executando normas jurídicas, usando os necessários meios
de coação».

Marcello Caetano182 define poder político como «faculdade exercida por um povo
de, por autoridade própria (não recebida de outro poder), instituir órgãos que
exerçam o senhorio de um território e nele criem e imponham normas jurídicas,
dispondo dos necessários meios de coacção».

Se essa autoridade ou faculdade deriva do próprio Estado diz-se Estado soberano.


Os Estados federados tem órgãos que administram o território, criam regras e tem
meios repressivos, mas como essa autoridade (dos Estados federados) deriva do
outro Estado (Estado Federal), os Estados federados não são soberanos.

Nos termos do artigo 1 da CRM a República de Moçambique é um Estado


soberano. Nos termos dos nºs 1 e 2 do artigo 2 da CRM a soberania reside no povo
moçambicano que a exerce segundo as formas fixadas na Constituição.

Poder político e Soberania

Marcello Caetano183 entende que «A soberania é uma forma de poder político,


correspondente à sua plenitude: é um poder político supremo e independente. Se
uma colectividade tem liberdade plena de escolher a sua Constituição e pode
orientar-se no sentido que bem lhe parecer, elaborando leis que julgue
convenientes, essa colectividade forma um Estado soberano. Mas nem sempre os
Estados são soberanos. Há casos em que a colectividade tem autoridade própria
181
Introdução..., pag. 23
182
Manual de Ciência..., pág. 130
183
Manual de Ciência..., pág. 132

79
para exercer o poder político, constituindo um Estado, e, todavia, esse exercício do
poder político está condicionado por um poder diferente e superior: é o que se
passa com os Estados federados e com os Estados protegidos».

A soberania é o poder supremo do Estado e independente com relação a outros


Estados. A soberania exprime a quantidade do poder de um Estado.

A soberania expressa-se de três formas:

Soberania interna:: caracteriza-se pela predominância do poder do Estado sem


nenhum contraste ou limitação por outro poder.

Soberania externa: caracteriza-se pela inexistência de dependência ou


subordinação de um Estado em relação ao outro nas relações entre ambos, havendo
igualdade entre os Estados.

Soberania nacional: é o direito que o povo tem de escolher livremente os seus


próprios dirigentes através do voto.

XIII.2. Funções do Estado

Entende-se por Funções do Estado o conjunto de atribuições ou tarefas que lhe são
conferidas pela Constituição que o Estado desempenha no exercício da sua
soberania.

São três as principais funções do Estado: função legislativa, função executiva e


função judicial ou jurisdicional. Também usa-se, principalmente no âmbito
político, a expressão poderes do Estado: poder legislativo, poder executivo e poder
judicial.

XIII.2.1.Função legislativa

É exercida pela Assembleia da República (AR). É através da qual oEstado cria o


seu direito positivo184 legislado. É através da qual o Estado cria as leis em
sentido formal.

184
De acordo com Maria Helena Diniz, Dicionário Jurídico, volume 2, pag. 173, Direito positivo é o “conjunto de
normas vigentes estabelecidas pelo poder político que se impõem e regulam a vida social de um dado povo em
determinada época”.

80
Marcello Caetano185 define a função legislativa como «a actividade dos órgãos do
estado que tem por objecto directo e imediato estatuir normas de carácter geral
e impessoal inovadoras da Ordem Jurídica».

Nos termos do artigo 168 da CRM, a AR é o mais alto órgão legislativo da


República de Moçambique; determina as normas que regem o funcionamento
do Estado e a vida conómica e social através de leis e deliberações de carácter
genérico. Nos termos do nº 3 do artigo 178 da CRM, com excepção de certas
matérias, a AR pode autorizar o Governo a legislar sobre outras matérias sob a
forma de Decreto-Lei.

De 25 de Junho de 1975 (dia da proclamação da Independência Nacional a 1977


(ano do início das funções da Assembleia Popular, hoje Assembleia da República)
o poder legislativo era exercido pelo Conselho de Ministros, pois o artigo 72 da
Constituição da República de 1975 estabelecia que «Até entrar em funcionamento
a Assembleia popular, a sua competência legislativa será exercida pelo Conselho
de Ministros».

XIII.2.2. Função executiva

É da competência do Governo [Conselho de Ministros (CM)]. É através da qual o


Governo do país promove e execução e materialização das Leis da Assembleia
da República, das normas provenientes da actividade do Presidente da
República. Nos termos do nº 1 do artigo 202 da CRM«O Conselho de Ministros
assegura a administração do país, garante a integridade territorial, vela pela
ordem pública e pela segurança e estabilidade dos cidadãos, promove o
desenvolvimento económico, implementa a acção social do Estado, desenvolve
e consolida a legalidade e realiza a política externa do país». Nos termos do
artigo 206 da CRM o CM responde perante o Presidente da República (PR) e
perante aAR pela realização da política interna e externa e presta contas das
suas actividades.

XIII.2.3. Função judicial ou jurisdicional

É da responsabilidade dos Tribunais. Consiste em fazer observar as leis, julgando


as violações que existirem, aplicando sanções aos violadores das leis, isto é

Manual de Ciência..., pág. 166


185

81
dirimir litígios (conflitos). A função jurisdicional está prevista no artigo 211 da
CRM:

«1. Os tribunais têm como objectivo garantir e reforçar a legalidade como factor
de estabilidade jurídica, garantir o respeito pelas leis, assegura os direitos e
liberdades dos cidadãos, assim como os diferentes órgãos e entidades com
existência legal.

2. Os tribunais penalizam as violações da legalidade e decidem pleitos de


acordo com o estabelecido na lei».

XIII.2.4. Funções política, administrativa e técnica

Alguns autores falam também da função política, função administrativa, função


técnica e outras.

A função política está diluída nas funções executiva, legislativa e judicial. A


função política está, basicamente, no relacionamento entre estas três funções.

As funções técnica e administrativa estão, essencialmente, contidas na função


executiva.

Quadro resumo das Funções do Estado

Órgão(s) que o Consiste em


exerce(m)
Função Legislativa Assembleia da República Essencialmente aprovar
(ou Poder leis, fiscalizar o executivo
Legislativo) e representar os cidadãos.

Função Executiva (ou Conselho de Ministros Executar as leis aprovadas


Poder Executivo) pela Assembleia da
República e executar
ordens e instruções do
Presidente da República
Função Judicial ou Tribunais Dirimir litígios
jurisdicional (ou
Poder Judicial)

82
XIII.3. Fins do Estado

De acordo com Maria Manuela Magalhães Silva e Dora Resende Alves 186 «Os fins
do Estado são os objectivos que o Estado visa atingir» . São, fundamentalmente,
três os fins do Estado: segurança, bem estar e justiça.

XIII.3.1. Segurança

De acordo com Marcelo Rebelo de Sousa e Sofia Galvão187«A Segurança reveste


de diversas facetas: a Segurança interna, ou ordem interna, e a Segurança
externa, ou defesa da colectividade perante o exterior; a Segurança
individual, proporcionada pela definição, através de normas jurídicas
executadas pelos órgãos do Estado, dos direitos e deveres reconhecidos a dado
cidadão, a e Segurança colectiva, enquanto realidade que envolve toda a
comunidade considerada»

Para Maria Manuela Magalhães Silva e Dora Resende Alves 188 na «(...)segurança
individual, cada cidadão deve saber o que pode contar dentro das fronteiras do
Estado. Tal conhecimento poderá ser proporcionado mediante a definição,
através de normas jurídicas, dos direitos e deveres de cada cidadão.(...) Nestes
termos a segurança pode confundir-se com a certeza jurídica, isto é, cada
cidadão deve ter a certeza do que pode e deve fazer e estar certo de que caso
alguém não cumpra para com ele os deveres que a lei impõe, os órgãos do
Estado estarão prontos a defendê-lo. No entanto, aqui a segurança surge mais
como segurança física e moral, segurança dos bens do indivíduo, da sua
integridade física e moral. (...) segurança colectiva pressupõe a defesa da
colectividade face ao exterior».

De acordo com Diogo Freitas do Amaral189, segurança desdobra-o em:

Segurança internacional – garante a paz entre os povos;


186
Noções de Direito Constitucional e Ciência Política, pág. 133
187
Introdução.., pag. 25
188
Noções de Direito Constitucional e Ciência Política, pág. 133

Manual..., pag. 55
189

83
Segurança publica interna – garante a ordem a tranquilidade públicas;

Segurança individual – a polícias e demais autoridades devem garanti-la, por isso


devem prevenir a prática de crimes contra a vida, a liberdade ou a propriedade das
pessoas.

Segurança económico social – alcança-se através do estímulo à poupança


individual, recursos às seguradoras, sistema público de segurança social.

Nos termos do artigo 261 da CRM a política de defesa e segurança do Estado visa
defender, dentre outras coisas, a segurança dos cidadãos contra qualquer
agressão armada.

XIII.3.2. Bem estar

Para Marcelo Rebelo de Sousa e Sofia Galvão190«o Bem-Estar económico, social e


cultural consiste na promoção das condições de vida dos cidadãos em termos de
garantir o acesso, em condições sucessivamente aperfeiçoadas, a bens e
serviços considerados fundamentais pela colectividade, tais como bens
económicos que permitam a elevação do nível de vida de estratos sociais cada
vez mais amplos, e serviços essenciais, por exemplo, os que contemplam a
educação, a saúde e a segurança social».

O bem estar não significa apenas a satisfação material dos cidadãos, mas implica
também o seu bem estar espiritual e cultural. O Bem estar consiste na promoção
das condições de vida dos cidadãos em termos de garantir o acesso aos bens e
serviços considerados fundamentais pela colectividade, tais como: a
alimentação, o vestuário, a habitação, etc e serviços essenciais (educação,
saúde, segurança social, etc.). O bem estar espiritual pressupõe a satisfação de
necessidades espirituais tais como a cultura, o lazer, o desporto, etc. O bem
estar material e espiritual é um dos objectivos fundamentais do Estado
moçambicano, conforme o estabelecido na alínea c) do artigo 11 da CRM. Por
outro lado, nos termos do nº 2 do artigo 149 da CRM, o Presidente da
República, quando é investido, presta um juramento, em que, dentre outras

Introdução.., pag. 26
190

84
coisas, jura dedicar todas as suas energias a promoção e consolidação do bem
estar do povo moçambicano.

XIII.3.3. Justiça

De acordo com Maria Manuela Magalhães Silva e Dora Resende Alves 191 «O
Estado deve proteger a colectividade do arbítrio e da violência individual e
satisfazer assim a ideia de justiça».

No entender de Marcelo Rebelo de Sousa e Sofia Galvão192 «A justiça visa a


substituição, nas relações entre os seres humanos, do arbítrio por um conjunto
de regras capaz de, consensualmente, estabelecer uma nova ordem e, assim,
satisfazer uma aspiração por todos sentida». Estes autores distinguem os
seguintes tipos de justiça:

Justiça comutativa«nos termos da qual o Estado deve garantir, nas relações


entre cidadãos, a equivalência dos valores permutados, o que significa que
cada qual deve receber, nas relações recíprocas, de acordo com a prestação
que efectuou a certo ou certos cidadãos».

Justiça distributiva«segundo a qual cada cidadão deve receber proventos da


colectividade de acordo com o tipo de actividade produtiva que,
permanentemente, lhe presta ou a situação social de carência em que se
encontra»

Justiça redistributiva que «visa corrigir desigualdades existentes (por exemplo,


impondo encargos maiores aos mais favorecidos para reequilibrar a situação
dos mais carenciados)».

Marcelo Rebelo de Sousa e Sofia Galvão193fazem-nos notar que os fins do Estado


são prosseguidos de maneira diferente, conforme os regimes políticos e
económicos de cada Estado.

191
Noções de Direito Constitucional e Ciência Política, pág. 133

Introdução.., pag. 25
192

Introdução.., pag. 26
193

85
Nos termos do nº 1 do artigo 62 da CRM o Estado moçambicano garante o acesso
dos cidadãos aos tribunais. Nos termos do nº 2 do artigo 149 da CRM, o
Presidente da República, quando é investido, presta um juramento, em que,
dentre outras coisas, jura «fazer justiça a todos os cidadãos».

XIII.4. Formas de Estado

XIII.4.1.Conceito

Formas de Estado é o modo de o Estado dispor o seu poder político em face de


outros poderes políticos de igual natureza (em termos de coordenação e
subordinação) e quanto ao povo e o território (que ficam sujeitos a um ou a mais de
um poder político).

XIII.4.2. Formas de estados e figuras afins

 Forma de Governo
É o modo de uma comunidade política organizar o seu poder político ou
estabelecer a diferenciação entre governantes e governados. A Formas de Governo
encontra-se a partir da resposta a alguns problemas básicos: o da legitimidade, o da
participação dos cidadãos na vida política, o da liberdade política e o da unidade ou
divisão do poder.

Exemplo de Forma de Governo: A Monarquia Absoluta, o Governo representativo


Liberal, Democracia representativa, o Governo fascista, a República, etc.

 Sistema de Governo
É o sistema de órgãos de função política. Apenas se reporta a organização interna
do Governo, aos poderes e ao estatuto dos governantes.

Exemplo de Sistema de Governo: o Sistema Parlamentar, o Sistema


Presidencialista, o Sistema Semi-presidencialista.

XIII.4.3. Critérios de determinação das Formas de Estado

Para se determinar as Formas de Estado deve-se ter em conta os seguintes critérios:

86
a) Critério da unidade e pluralidade de poderes políticos no mesmo Estado
sendo um deles soberano. De acordo com este critério temos o Estado
Unitário ou Simples.

b) Critério da unidade e pluralidade de ordenamentos jurídicos no mesmo


Estado sendo um deles soberano. De acordo com este critério temos
Estados complexos ou compostos.

Estados unitários ou Estados simples

Num Estado unitário há um poder político originário para todo o território.

O Estado Unitário pode ser Estado Unitário centralizado ou Estado Unitário


descentralizado ou regional.

a) Estado Unitário Centralizado

No Estado Unitário Centralizado existe apenas um único poder político estadual.

Nos termos do artigo 8 da CRM, a República de Moçambique é um Estado


unitário. Moçambique tem descentralização administrativa atraves das autarquias
locais e temos órgãos de governação descentralizada provincial e distrital. Importa
referir que tanto as autarquias locais assim como os órgaos de governação
descentralizada provincial e distrital não têm poder legislativo, dispondo, apenas,
do poder regulamentar. Por isso, em virtude de o nosso País não haver
descentralização política podemos afirmar que Moçambique é um Estado unitário
centralizado194.

b) Estado Unitário descentralizado ou regional

Existe o fenómeno da descentralização política. A descentralização política é


sempre a nível territorial: são as províncias ou regiões que se tornam autónomas
politicamente em virtude de os seus órgãos desempenharem funções políticas.
Participam ao lado dos órgãos estaduais, no exercício de alguns poderes ou
competências de carácter legislativo e governativo. Dentro da categoria de Estados
Unitários descentralizados podemos ainda encontrar Estado Unitário Regional
194
Centralizacao política apenas, pois, administrativamente está descentralizado

87
Integral (se todo o território do Estado encontra-se dividido em regiões autónomas)
e Estado Unitário Regional Parcial (se apenas algumas parcelas do território são
politicamente autónomas).

Podemos dar como exemplo de Estado unitário descentralizado a República


portuguesa em virtude de ter assembleias regionais com poderes legislativos.

Não confundir a descentralização política regional com a Regionalização. A


Regionalização consiste na desconcentração regional e, sobretudo, na criação de
autarquias supra-municipais.

Estados Complexos ou compostos

De acordo Marcelo Rebelo de Sousa 195«No Estado complexo podem existir dois ou
mais planos de poder político estadual.(...) Um deles – o prevalecente – é o do
poder político soberano, que integra os órgãos que desempenham as funções do
Estado soberano.(...) Outro ou outros é ou são os planos dos poderes políticos
dependentes, que exercem as funções dos Estados não soberanos».

Marcelo Rebelo de Sousa196 acrescenta que «O Estado complexo ou composto


possui um domínio reservado que abarca usualmente as matérias da representação
externa, da defesa nacional e da moeda e da política financeira soberana.
Diversamente, os Estados dependentes podem participar na revisão da constituição
do Estado complexo, bem como numa das suas Câmaras parlamentares deste.
Além disso, e dentro dos limites da Constituição do estado complexo, os estados
não soberanos dispõem da faculdade de autoconstituição e exercem as funções
política, legislativa, judicial e administrativa».

Nos Estados complexos deve ser feita a distinção entre a Federação e a União Real.

Na Federação existe uma estrutura de poderes políticos sobrepostos enquanto que


na União Real existe uma estrutura de fusão de poderes políticos das entidades
componentes.

a) Estado Federal (Federação)

195
“Estado” in Dicionário Jurídica de Administração Pública, Vol. IV, pag. 215
196
“Estado” in Dicionário Jurídica de Administração Pública, Vol. IV, pag. 215

88
É uma associação ou união de Estados que dá lugar à criação de um novo Estado e
em que surgem novos órgãos de poderes políticos sobrepostos aos órgãos dos
Estados federados.

A Federação tem a sua origem numa Constituição Federal, resultante do exercício


de um poder constituinte autónomo e é ela que define a «competência das
competências».

O Estado Federal pode ser resultado da desagregação de um Estado Unitário (Ex.:


Brasil, que é um Estado Federal constituído de 27 Estados federados) ou resultar
da agregação de Estados pré-existentes (Ex.: EUA é um Estado federal constituído
de 50 Estados federados).

A Nigéria também é exemplo de um Estado federal constituído de 19 Estados


federados.

Características do Estado Federal

1. A Federação assenta numa estrutura de sobreposição porque um poder novo e


distinto (o poder federal), surge acima dos poderes políticos dos Estados nela
integrantes (os Estados Federados).
2. Esta estrutura de sobreposição recobre os poderes políticos locais de modo
que cada cidadão fica simultaneamente sujeito a duas Constituições: a
Constituiçãofederal e a Constituição do Estado federado a que pertence. O
Cidadãoé destinatário de actos provenientes de dois aparelhos de órgãos
(legislativo, executivo e judicial).
3. Assenta também numa estrutura de participação em que o poder político
central surge como resultado da agregação dos poderes políticos locais
independentemente do modo de formação daí a terminologia clássica de
«Estado de Estado».
4. Assenta também na estrutura de integração política e jurídica dos Estados
federados papel que cabe à Constituição Federal, que é obra de um poder
constituinte autónomo distinto dos poderes constituintes dos Estados
federados embora resulta da sua integração.

b) União Real

89
É uma associação ou união de Estados que dá lugar à criação de um novo Estado,
na qual alguns dos órgãos dos Estados associados passam a ser comuns. A União
Real é regulada por uma Constituição ou outro acto jurídico específico.

A União Real é distinta da União Pessoal em que o Chefe do Estado é comum a


dois Estados. O Chefe do Estado é único a título pessoal e não orgânico. O que é
comum é o titular e não o próprio órgão. Ou seja, temos em cada estado um palácio
presidencial mas todos os palácios presidenciais são ocupados por um Único Chefe
de Estado. A União pessoal não é um Estado composto. A união pessoal
geralmente resulta de mera coincidência da designação da pessoa do Chefe do
Estado pelos ordenamentos jurídicos de dois ou mais Estados.

Exemplo de União Real: Reino Unido da Grã Bretanha (união entre Inglaterra e
Irlanda do Norte).

C) Confederação

É uma forma de associação de Estados em que os Estados intervenientes


conservam a sua soberania. Resulta de um Acordo ou Tratado entre os Estados
soberanos que se comprometem a realizar em comum certas tarefas ou a
subordinar a sua acção em determinados sectores, a uma política uniforme.

A cada Estado associado conserva-se soberano e é por isso mesmo livre de a todo o
tempo desligar-se da associação. A Confederação é usualmente dirigida por um
órgão supremo de natureza colegial. Tudo passa-se no campo do Direito
internacional e não há actuação comum no âmbito do Direito interno.

Condicionalismos de formas de Estado

O povo para definir a forma do seu Estado usa como base vários condicionalismos.

a) Estados unitários

Para um povo optar por adoptar um Estado unitário concorrem os seguintes


factores:
90
 Homogeneidade nacional e social: quando o povo tem as mesmas
características sócio-culturais ou aproximadas que não impedem a
convivência mútua.
 Continuidade histórica: quando a maioria do povo tem um passado
comum
 Continuidade geográfica: quando o clima é aproximado em várias
regiões do País.

b) Estados compostos

Para um povo optar por adoptar um Estado composto são determinantes os


seguintes factores:

 Heterogeneidade nacional e social: quando o povo apresenta


características sócio-culturais muito distintas. Por exemplo, Nigéria é
um Estado Federal com o seu povo a ter características sócio-culturais
muito distintas. Por exemplo, os Estados federados do Norte da Nigéria
o povo é essencialmente muçulmano e aplica a Sharia sem problemas.
Mas a aplicação da Sharia pode ser um problema noutros Estados
federados da Nigéria em que a maioria da população é cristã e animista.
 Descontinuidade histórica: Quando o povo tem passado diferente.
 Descontinuidade geográfica: Quando a várias regiões do País
apresentam características diferentes no que concerne ao clima e ao
relevo. Por exemplo, a antiga URSS tinha 11 fusos horários. Ou seja,
enquanto em algumas regiões ainda estão a dormir noutras regiões já
estão a trabalhar. Por isso aqui justificava-se ter um Estado Federal de
modo que, por exemplo, cada Estado federado adopte o seu horário de
trabalho e das escolas conforme o seu fuso horário.

Outros condicionalismos sobre as Formas de Estado

91
Condicionalismos políticos: Um Estado Federal faz com que o poder seja
divididos por vários partidos, ou seja, num Estado federal alguns Estados federados
são governados pelo partido que está no poder e outros governados pelos partidos
da oposição. Esta situação ajuda na estabilidade do País pois a maioria dos
segmentos políticos exerce algum poder.

Condicionalismos económicos: Um Estado federal tem uma máquina da


Administração pública muito pesada em virtude tem ter muitas instituições
públicas. A existência de muitas instituições públicas leva a muitos gastos dos
fundos públicos.

Os condicionalismos políticos podem levar um Estado com homogeneidade


nacional e social, continuidade histórica e continuidade geográfica, que por estas
características devia ser um Estado unitário mas devido a factores políticos,
sobretudo a partilha do poder, optar por ser um Estado composto do tipo federal.

Por outro lado, os condicionalismos económicos podem levar um Estado com


heterogeneidade nacional e social, descontinuidade histórica e descontinuidade
geográfica, que por estas características devia ser um Estado composto (pode ser
do tipo federal) opte por ser um Estado Unitário por esta ser uma forma de Estado
com menos despesa pública por ter poucas instituições públicas.

XIII.5. Órgãos do Estado

XIII.5.1.Noção

Marcelo Rebelo de Sousa e Sofia Galvão197definem órgão do Estado como «um


centro institucionalizado de poderes e deveres que participa no processo de
formação e manifestação de uma vontade imputável ao Estado-colectividade».

XIII.5.2.Classificação dos Órgãos do Estado

Os órgãos do Estado classificam-se tendo em conta vários critérios dos quais


destacaremos dois: Critério que atende ao número de titulares providos no órgão e
o critério que atende a esfera de competência geográfica dos órgãos.

Introdução.., pag. 24
197

92
XIII.5.1.1. Critério que atende ao número de titulares providos no órgão

Com este critério podemos encontrar:

a) Órgãos singulares - são aqueles que tem apenas um titular. Ex.: Presidente
da República, Provedor da Justiça, Coroa, etc.
b) Órgãos colegiais - são aqueles que tem mais de um titular. Ex.: Assembleia
da República (constituído de 250 deputados, nos termos do nº 2 do artigo
169 da CRM), Conselho de Ministros(nos termos do nº 1 do artigo 200 da
CRM é composto pelo Presidente da República, Primeiro Ministro e
Ministros).

XIII.5.1.2. Critério que atende a esfera de competência geográfica dos órgãos

De acordo com este critério temos:

a) Órgãos centrais - são aqueles que tem ou exercem a sua competência em


todo o território nacional. Os órgãos centrais do Estado constam do artigo 138
conjugado com o artigo 133 ambos da Constituição da República de
Moçambique (CRM).Nos termos do artigo 133 da CRM, são órgãos (centrais)
de soberania: O Presidente da República, a Assembleia da República, o
Governo, os Tribunais e o Conselho Constitucional.
b) Órgãos locais - são os que tem a sua competência limitada a uma determinada
circunscrição administrativa (provincia, distrito, posto administrativo,
localidade ou povoacao.

XIII.5.1.3. Critério que atende as competências dos órgãos

a) Órgãos deliberativos – são órgãos que manifestam a vontade funcional.


b) Órgãos consultivos – são órgãos que tem a função de ajudar os outros a
deliberarem através da emissão de pareceres.

XIII.5.4. Critério que atende a hierarquia

a) Órgãos independentes: exercem as suas competências sem obediência ou


instruções outros, baseando a sua actuação na lei ou no interesse público.

93
b) Órgãos hierarquizados ou subordinados: aqueles que estão sujeitos ao
dever de acatar ordens e instruções de outros.

XIII.6. Estado de Direito

Para Jorge Reis Novais198 Estado de Direito é o «Estado organizado e limitado


juridicamente com vista à garantia das liberdades e direitos fundamentais e
juridicamente vinculado à promoção das condições do livre e autónomo
desenvolvimento da personalidade individual».

Ainda de Acordo com Novais199 a submissão do Estado ao Direito verifica-se num


triplo sentido:

 Personalização jurídica do Estado: «o Estado, mesmo quando surge


investido de soberania, é considerado sujeito de Direito, pessoa jurídica
submetida ao Direito e que assume deveres e direitos nas relações que
estabelece com os cidadãos»;
 «o reconhecimento jurídico da autonomia dos cidadãos converte as
liberdades e os direitos fundamentais que se impõem ao Estado como
direitos subjectivos públicos e cuja garantia, como tal, se alcandora a fim
essencial do Estado»;
 «são primordialmente jurídicas as técnicas destinadas a garantir os
direitos fundamentais, ou seja: a organização jurídica integral dos poderes
do Estado- que transforma o anterior exercício potencialmente arbitrário do
poder em competência e que através da hierarquização dos actos estaduais
garante a sua sindicabilidade – e a consagração complementar das
correlativas garantias jurídicas dos particulares».
Novais acrescenta que a consagração dos direitos fundamentais e a divisão dos
poderes são elementos constitutivos do Estado de Direito.

Deve ficar claro que não basta um Estado sujeitar-se ao Direito por ele criado. É
preciso ser aferida a justiça dessas leis. Muitos Estados autoritários fundavam as
suas actuações no Direito por eles criado. Mas como esse Direito não era justo, era
criado apenas para se dizer que o Estado agiu conforme a lei. Aqui estamos perante

«Estado de Direito» in Dicionário Jurídico da Administração Pública, vol. IV, pág.250


198

Dicionário Jurídico..., pags. 250/251


199

94
um Estado de Legalidade e não um Estado de Direito. Um Estado de Direito tem
de fundar a sua actuação na lei justa, razoável e moralmente aceite.

Nos termos do artigo 3 da CRM a República de Moçambique é um Estado de


Direito.

XIII.6.1. Estado de Direito Formal

Estado de Direito Formal é aquele que a legalidade da sua actuação está


consagrada na lei.

XIII.6.2. Estado de Direito material

Estado de Direito Material é aquele que materializa (executa) o Estado de Direito.


Ou seja, não basta o Estado de Direito Formal (Estado de direito no papel,
teoricamente) mas temos ter um Estado de Direito efectivo, ou seja um estado de
Direito que materializa o Direito que está consagrado na lei (no papel).

Se analisamos a legislação de um certo Estado podemos constatar que o referido


Estado é de Direito, mas até aqui este é Estado de Direito Formal. A nossa análise
deve ir ao terreno (na prática) e ver se efectivamente esse Estado materializa ou
não o Direito. Ou seja, temos que ver se aquilo que está na lei (no papel) é aplicado
ou não. Podemos ter uma boa lei escrita mas enquanto que no terreno as coisas são
diferentes. No terreno podemos ter casos de abusos de direito fundamentais dos
cidadãos através da actuação dos agentes do Estado (polícia, juízes, funcionários
das cadeia e demais funcionários e agentes do Estado).

PERGUNTAS DE CONSOLIDAÇÃO E QUESTÕES PARA REFLEXÃO


XIII

1.Imagine que está a cumprir o Serviço Militar e está afecto à Marinha de


Guerra e vê, para além das 200 milhas da costa de Moçambique, um barco
tripulado por paquistaneses e a cometer actos de pirataria. Responda às
seguintes questões:

a) Como se chama a zona para além das 200 milhas da costa de um


Estado?

95
b) Se o seu Comandante perguntasse a si se a Marinha de Guerra de
Moçambique podia apresar ou não o referido barco que resposta
daria? Justifique a sua resposta.
c) Se o seu Comandante perguntasse, também, o que pode-se fazer
aos tripulantes e o barco que resposta daria? Justifique a sua
resposta.
2. Qual é a importância do Território do Estado?

3.A família do senhor Nhantumbo está a passar momentos de grande aflição:


A esposa dele (a senhora Verónica) voltando do mercado a caminho da casa,
cerca das 12 horas, sofreu roubo de celular e fios de ouro que trazia. O
senhor Nhantumbo, por sua vez, foi expulso da empresa onde trabalhava
sem justa causa em 2008, tendo imediatamente se dirigido ao Tribunal para
intentar uma acção judicial com vista a anulação da sua expulsão. Até o
presente momento o Tribunal ainda não decidiu sobre o pedido do senhor
Nhantumbo.

a) O roubo que a senhora Verónica sofreu revela que há um dos fins do


Estado que não está sendo convenientemente conseguido. Qual?
Justifique.
b) A demora da decisão do tribunal sobre a expulsão do senhor
Nhantumbo revela que há um dos fins do Estado que não está sendo
convenientemente conseguido. Qual? Justifique
4.Em 25 de Junho de1975 proclamamos a Independência Nacional.
Imaginemos que aos 20 de Junho de 1975, Samora Machel, então Presidente
da FRELIMO, colocasse a si a seguinte questão: “meu filho, dentro de dias
vamos proclamar a independência de Moçambique. Nesses termos, urge
identificar a forma de Estado ideal para Moçambique. Por exemplo Nigéria,
EUA, Brasil e outros são Estados federais. Mas Zâmbia, Malawi e outros
são Estados unitários. Qual, meu filho, acha que é a forma ideal para
Moçambique?”.

 Com base nos conhecimentos que tem sobre as Formas de Estado ajude o
Presidente Machel a escolher a forma de Estado ideal para Moçambique,
dentre as duas formas de Estado referidos nos exemplos que o Presidente
Machel deu. Explique bem ao Presidente Machel porque é que acha que

96
certa forma de Estado é ideal para Moçambique e porque é que a outra não é
ideal.
5. Sobre as Formas de Estado preste atenção à seguinte hipótese:

O Estado “República Da Alta Democracia” acaba de conquistar a sua


independência. O seu povo está a elaborar uma Constituição da República.
Este Estado caracteriza-se por ter uma população de 3 milhões de habitantes,
só tem uma única tribo. A maioria população professa a religião cristã e só
uma minoria professa a religião muçulmana. A maioria da população no
passado vivia da Agricultura, Pesca e pequena indústria. O seu território tem
uma superfície pequena (apenas 100 Km2), predomina o clima tropical
húmido, tem um único fuso horário.

 Com base nos conhecimentos que têm sobre as Formas de Estado (sobretudo
os Condicionalismos sobre Formas de Estado) diga se este Estado deve
consagrar na sua Constituição da República a forma de Estado Unitário ou
Estado composto (complexo). Justifique a resposta
6. Escolha um dos fins do Estado e explique-a, não esquecendo de abordar a
realidade concreta do Estado moçambicano.

7.Usando suas palavras, indica as características de um Estado federal

8. Qual é a diferença entre os Estado federal a Estado federado?

9. Um Estado federado é soberano? Justifique a sua resposta.

10.Dê exemplos de órgãos singulares.

11.Dê exemplos de órgãos colegiais.

12. O Conselho Constitucional é um órgão do Estado. Como classifica este órgão?


Justifique a sua resposta.

RELAÇÃO JURÍDICA

1.Conceito da Relação Jurídica

97
De acordo com Ana Prata200 Relação Jurídica «Em sentido lato, é qualquer relação
da vida social que seja juridicamente relevante, isto é, a que o direito atribua
afeitos. Em sentido restrito, é a relação interprivada que o direito regula através da
atribuição a um sujeito de um direito e a imposição ao outro de um dever ou
sujeição».

Inocêncio Galvão Telles201 define Relação Jurídica como «relação social tutelada
pelo Direito mediante a atribuição de um poder a um dos sujeitos e a imposição de
um correspondente dever ao outro».

Interessa-nos a relação jurídica em sentido restrito.

Exemplos de Relação Jurídica em sentido restrito: as relações entre comprador e


vendedor; entre senhorio e inquilino; entre o empregador e o trabalhador.

Relação Jurídica Simples e Relação Jurídica Complexa

De acordo com Maria Helena Diniz202 Relação Jurídica Simples «É a que se


constitui de um só direito subjectivo. Cada sujeito ocupa uma posição: um a ativa e
outro a passiva”, enquanto Relação Jurídica Complexa “É a que contém vários
direitos subjetivos; casos em que as pessoas ocupam, simultaneamente, as duas
posições, figurando, ao mesmo tempo, como sujeito ativo e passivo. Por exemplo,
em uma compra e venda, o comprador tem direito à entrega do objecto comprado
(sujeito ativo), e o dever de pagar o preço (sujeito passivo), e o vendedor tem o
direito de receber o pagamento do preço (sujeito ativo) e o dever de entregar a
coisa vendida (sujeito passivo)»

Relações jurídicas nos vários ramos de Direito

As relações jurídica são muitas que podemos imaginar e observar no dia a dia.
Podemos ter relações jurídicas em todos os ramos do Direito, por isso pode-se falar
em: relação jurídico-fiscal; relação jurídico-laboral; relação jurídico-obrigacional;
relação jurídico constitucional; relação jurídico-aduaneira; etc.

2. Elementos da Relação Jurídica

200
Dicionário Jurídico, 5ª edição, 1º volume, pág. 1271
201
Introdução ao Estudo do Direito, volume II, 10ª edição, pag. 151
202
Dicionário Jurídico, vol. 4, pag. 121

98
São elementos da Relação Jurídica: os sujeitos, o objecto, o Facto jurídico e a
Garantia.

a) Sujeitos – são as pessoas entre as quais se estabelece a relação. São pelo


menos, dois: o sujeito activo e o sujeito passivo.
 Sujeito activo é o titular do direito subjectivo, é o titular que detém o poder.
 Sujeito passivo é o que sofre a correspondente vinculação jurídica.
Os sujeitos da Relação Jurídica devem possuir Personalidade Jurídica. O
Direito atribui personalidade jurídica não só as pessoas singulares ou físicas
(seres humanos), mas também a pessoas colectivas. Temos, assim, que podem ser
sujeitos da relação jurídica as pessoas singulares ou físicas ou as pessoas
colectivas.

b) Objecto –é aquilo sobre que incidem os poderes do sujeito activo da Relação


Jurídica. É, em suma, o bem que a relação jurídica garante ao seu sujeito
activo. Este objecto pode ser uma coisa ou a uma conduta do sujeito passivo.
A conduta pode ser Positiva ou negativa.
 Coisa corpórea – «é toda e qualquer parte do mundo exterior
susceptível de submissão à vontade humana como matéria de
aproveitamento económico. Seus traços essenciais são, pois, a
materialidade ou delimitação no espaço e a possibilidade de utilização
ou assenhoramento para fins economicistas. Uma coisa em sentido
físico pode não ser em sentido jurídico, justamente por falta de valor
económico»203
 Coisa incorpórea - coisas incorpóreas são as «criações intelectuais
(ou obras) do domínio literário, científico e artístico, por qualquer
modo exteriorizadas. Trata-se de produtos espirituais vistos na sua
forma ideal ou intelectual, distintos e independentes da respectiva
corporização ou encarnação exterior, através da qual se dá a sua
aparição no mundo sensível».204
 Coisa presente – “Por contraposição a coisa futura, qualifica-se como
presente a que existe material e juridicamente, se encontra em poder

INOCÊNCIO GALVÃO TELLES INTRODUÇÃO...,VOLUME II, 10ª EDIÇÃO, PAG. 192


203

INOCÊNCIO GALVÃO TELLES Introdução...,volume II, 10ª edição, pags. 193/194


204

99
do declarante – ou que ele tem direito – ao tempo da declaração a ela
referente”205
 Coisa futura – “O conceito (..) de coisa futura (...) abrange, para além
das coisas que não têm ainda existência material ou que, tendo-a, não
possuem autonomia jurídica, aquelas que, embora já existindo, não
estão em poder daquele que delas dispõe ou a que ele não tem direito
quando sobre elas realiza negócio jurídico”. 206
 Coisas fungível – “Fungível é, pois, a coisa que pode ser substituída
por outra do mesmo género, qualidade e quantidade”207
 Coisa infungível –é o “Bem individualizado, identificado
especificamente e insuceptível de ser substituído por outro”208,.
 Coisa no comércio – “São consideradas no comércio todas as que são
susceptíveis de ser objecto de relações jurídicas privadas”209.
 Coisa fora do comércio – “Todas as coisas que não podem ser
objecto de direitos privados, tais como as que se encontram no
domínio público e as que, por sua natureza, são insusceptíveis de
apropriação individual”210.
 Frutos –“Diz-se fruto de uma coisa tudo o que ela produz
periodicamente sem prejuízo da sua substância (...). Tanto podem ser
os pêssegos do pessegueiro, a cortiça do sobreiro, as rendas de um
apartamento ou os juros de um depósito”211
 Benfeitorias –“são todas as despesas efetuadas para melhorara ou
conservar uma coisa”.212

 Conduta positiva – corresponde a uma acção positiva ou prestação. A


prestação pode ser de facto positivo ou negativo e prestação de coisa.
Haverá prestação de facto positivo quando o sujeito passivo está adstrito
a realizar uma actividade à favor do sujeito activo. Em contrapartida,
haverá uma prestação de facto negativo quando o sujeito passivo está
205
ANA PRATA, Dicionário Jurídico, 5ª edição actualizada, vol. I
206
Op. Cit.
207
Op. Cit.
208
ANA PRATA, Dicionario Jur’idico
209
ANA PRATA, Dicionario Jur’idico
210
ANA PRATA, Dicionario Jur’idico
211
MARQUES, Maria Manuel Leitão; RAMOS, Maria Elizabete; FRADE, Catarina e PEDROSO, João, Manual de
Introdução ao Direito, pag. 104
212
Ibdem

100
adstrito a abster-se de realizar qualquer actividade ou praticar qualquer
acção.
 Conduta negativa corresponde a uma omissão do sujeito passivo, isto é,
corresponde a uma prestação de facto negativo.
c) Facto jurídico – as relações jurídicas não surgem espontaneamente: Para se
constituírem torna-se necessário um acontecimento que as faz surgir,
acontecimento esse que pode ser natural ou proveniente de uma acção
humana, e se designa por facto jurídico. Assim podemos definir facto jurídico
como sendo todo o evento (natural ou voluntário) que produz consequências
jurídicas. O facto jurídico tem um papel condicionante para o surgimento da
relação jurídica, é uma condição ou pressuposto da sua existência.
d) Garantia – esta consiste na susceptibilidade de protecção coactivo do poder
de que é titular o sujeito activo da relação jurídica e traduz-se no conjunto de
providências que a lei estabelece para assegurar essa protecção. As
providências aqui referidas são adoptadas pelo Estado por intermédio dos
tribunais.

3. Sujeitos de Relação Jurídica

4.1. Noção

São sujeitos de Relação Jurídica as pessoas ou entes que estabelecem a Relação


Jurídica. São os titulares do direito subjectivo (sujeito activo) e dever jurídico
(sujeito passivo).

4.2. Classificação dos sujeitos de uma Relação Jurídica

Os sujeitos de uma Relação Jurídica classificam-se em: pessoas singulares ou


físicas e pessoas colectivas. Os sujeitos de uma Relação Jurídica devem possuir
Personalidade Jurídica, visto que, faltando esta, não podem adquirir a qualidade de
sujeitos.

A. Pessoas singulares
São os seres humanos (Homens) individualmente considerados (António, Berta,
Carlos, Dinis, Eunice, Fátima, etc.).

a) Personalidade Jurídica das Pessoas Singulares

101
Todo o sujeito de Relação Jurídica tem de ser pessoa em sentido jurídico e é
pessoa, neste sentido, todo o ente que tem personalidade jurídica. Entende-se por
Personalidade Jurídica a susceptibilidade (possibilidade) de ser sujeito de direitos e
obrigações. É a qualidade de um ente ser susceptível de lhe serem atribuídos
direitos e lhe imposto vinculações jurídicas.

A lei atribui personalidade jurídica todas as pessoas (seres humanos) que tenham
nascimento completo e com vida, cessando com a sua morte. Há duas exigências
para que uma pessoa tenha personalidade jurídica (ver o nº 1 do artigo 66 do
Código Civil):

 Nascer completo;
 Nascer com vida
A pessoa nasce completa quando se desprende do cordão umbilical da mãe. A
pessoa nasce com vida quando está em respiração após esse desprendimento ou
tenha respirado alguns instantes após esse desprendimento.

b) Termo da personalidade jurídica das pessoas singulares


A Personalidade Jurídica cessa com a morte, nos termos do nº1 do artigo 68 do
Código Civil.

c) Capacidade jurídica de gozo das pessoas singulares


O artigo 67 do Código Civil dispõe que: “As pessoas podem ser sujeitos de
quaisquer relações jurídicas, salvo disposição legal em contrário; nisto consiste a
sua capacidade jurídica”.

A capacidade jurídica de gozo de direitos é inerente a sua capacidade


jurídica.Quem tem personalidade jurídica, tem também, necessariamente,
capacidade jurídica de gozo, só que esta pode ser mais ou menos limitada pelo
direito objectivo. A diferença radica em a personalidade jurídica ser uma noção
qualitativa, enquanto quer a capacidade jurídica de gozo de direitos ser uma noção
simultaneamente qualitativa e quantitativa: A quantidade de direitos e vinculações
jurídicas de que uma pessoa é susceptível de ser sujeito.

d) Capacidade jurídica de exercício das pessoas singulares


Como o exercício de direitos se traduz na prática de actos, capacidade jurídica de
exercício vem a ser, pois, a possibilidade de uma pessoa praticar validamente actos

102
jurídicos por si próprio, isto é, através da sua actividade pessoal e sem necessidade
de autorização de outra pessoa. Por outras palavras, entende-se por capacidade
jurídica de exercício de direitos a aptidão para gerir razoavelmente por si, pessoal e
livremente os seus interesses, isto é, exercer por si direitos e cumprir por si
obrigações.

Para ter capacidade jurídica de exercício a lei civil exige 21 anos de idade. Todos
os indivíduos que estão a baixo desta idade são considerados menores, isto é, não
tem capacidade jurídica de exercício. A capacidade jurídica de exercício pressupõe
a existência da capacidade jurídica de gozo. Isto não significa, porém, que onde
haja capacidade jurídica de gozo exista necessariamente capacidade jurídica de
exercício. Certas pessoas possuindo capacidade jurídica de gozo, acham-se,
contudo, interinamente desprovidas da capacidade jurídica de exercício.

Ex.: Todos os menores de 21 anos têm capacidade jurídica de gozo e, em


contrapartida, não tem capacidade jurídica de exercício.

De sublinhar que a lei reconhece personalidade jurídica aos nascituros, mas os


direitos destes, o seu exercício depende do seu nascimento completo e com vida.
Daí que se conclui que a lei não se limita a proteger o ser que nasceu completo e
com vida. A protecção da lei é também extensiva, em certos casos e condições a
seres ainda não nascido, só que essa protecção torna-se eficaz quando esses seres
nascem completos e com vida. (ver o nº 2 do artigo 66 do Código Civil).

INCAPACIDADES CIVIS

As pessoas singulares podem estar numa situação de incapacidade civil.

Noção de incapacidade civil

Incapacidades civis são as situações em que um sujeito não pode gozar e exercer os
seus direitos nem cumprir as suas obrigações por consequência da sua idade,
deficiência física ou mental transitória ou permanente.

Tipos de Incapacidades Civis

As capacidades civis de exercício estabelecidas pelo Código Civil são:


menoridade, interdição, inabilitação e incapacidade acidental.

103
a) Menoridade (artigo 122 do Código Civil)
 Noção
É uma incapacidade que consiste no facto de o sujeito que a possui não poder reger
a sua pessoa e administrar os seus bens em virtude de possuir uma idade inferior a
21 anos (ver o artigo 122 do Código Civil).

 Âmbito da Menoridade
A menoridade abrange, em princípio, quaisquer negócios jurídicos de natureza
pessoal ou patrimonial do menor. É uma incapacidade geral. O artigo 123 do
Código Civil dispõe que “salvo disposição em contrário da lei (artigo 127 do C.
Civil) os menores carecem de capacidade para o exercício de direitos”. Em
conformidade com a ressalva feita no artigo 127 do Código Civil (excepções à
incapacidade dos menores) existem algumas excepções à incapacidade dos
menores. Assim, os menores podem praticar actos de administração ou disposição
dos bens que o menor haja adquirido por seu trabalho ou indústria, vivendo sobre
si com permissão dos pais, ou pelas armas, letras ou profissão liberal vivendo ou
não em companhia dos pais. São válidos os negócios jurídicos próprios da vida
corrente do menor, que, estando ao alcance da sua capacidade natural, só
impliquem despesas, ou disposição de bens de pequena importância. São válidos os
negócios jurídicos relativos à profissão, arte ou ofício que o menor tenha sido
autorizado a exercer, ou os praticados no exercício dessa profissão, arte ou ofício.
Os menores podem celebrar validamente casamento civil, tradicional ou religioso,
desde que tenham uma idade igual ou superior a 18 anos.

 Efeitos da Menoridade nos Negócios Jurídico


Nos termos do nº1 do artigo 125 do Código Civil, os negócios jurídicos praticados
ou celebrados pelo menor estão feridas de anulabilidade, isto é, podem ser
anulados. As pessoas com legitimidade para arguir essa anulabilidade são os
representantes legais do menor, isto é: através do requerimento do pai, da mãe, do
tutor ou do administrador de bens, desde que a acção seja proposta no prazo de um
ano a contar da data do conhecimento que o requerente haja tido do negócio
impugnado, mas nunca depois de o menor atingir a maioridade ou ser emancipado.
A requerimento do próprio menor, no prazo de um ano a contar da data da sua
maioridade ou emancipação. A requerimento de qualquer herdeiro do menor, no

104
prazo de um ano a contar da morte deste, ocorrida antes de expirar o prazo referido
na alínea b) do nº 1 do artigo 125 do Código Civil.

 Cessação da incapacidade dos menores


A incapacidade dos menores termina quando estes atingem a maioridade (artigo
130 do Código Civil) ou forem emancipados (artigo 133 do Código Civil).

b) Interdição (artigo 138 do Código Civil)


 Noção
É uma incapacidade que consiste no facto de um indivíduo se encontrar totalmente
impossibilitado do exercício dos seus direitos e cumprimento das suas obrigações
por estar gravemente afectado por anomalia psíquica, surdez mudez ou cegueira
(ver o nº 1 do artigo 138 do Código Civil).

 Pessoas sujeitas à Interdição


A incapacidade resultante da interdição é aplicável apenas à maiores, pois os
menores embora dementes, surdos-mudos ou cegos, estão protegidos pela
incapacidade por menoridade. Porém, nos termos do nº 2 do artigo 138 do Código
Civil, a interdição pode ser requerida e decretada dentro do ano anterior à
maioridade, mas só produz efeitos após a maioridade. Todavia a interdição por
anomalia psíquica pode ser requerida e decretada a partir dos dezassete anos do
interditando com os efeitos do número anterior, isto é, só produz efeitos após a
maioridade do menor e sem prejuízo do disposto no artigo 2299 do Código Civil.
A Interdição é decretada por sentença transitada em julgado a requerimento do
cônjuge do interditando, do tutor, do curador ou de qualquer parente sucessível
deste ou pelo Ministério Público. A sentença definitiva de interdição carece de
promoção oficiosa de registo para produzir efeitos perante terceiros (ver artigo 147
do Código Civil).

 Cessação da incapacidade de Interditos


Nos termos do artigo 151 do Código Civil, cessando a causa que determinou a
interdição pode esta ser levantada a requerimento do próprio interdito ou das
pessoas mencionadas no nº 1 do artigo 141 do Código Civil (cônjuge do
interditando, tutor, curador, ou qualquer parente sucessível).

105
c) Inabilitação (artigo 152 do Código Civil)
Nos termos do artigo 152 do Código Civil, “podem ser inabilitados os indivíduos
cuja anomalia psíquica, surdez-mudez ou cegueira, embora de carácter
permanente, não seja de tal grave que justifique a sua interdição assim como
aqueles que, pela sua habitual prodigalidade ou pelo abuso de bebidas alcoólicas
ou de estupefacientes, se mostrem incapazes de reger convenientemente o seu
património”. A Inabilitação deve ser decretada por uma sentença judicial
transitada em julgado a requerimento das pessoas referidas no nº 1 do artigo 141 do
Código Civil por força da aplicação do artigo 156 do Código Civil. Ainda por
aplicação deste preceito legal, a Inabilitação é aplicável à maiores com as
excepções constantes dos nºs 2 e 3 do artigo 138 do Código Civil. É aplicável
ainda à Inabilitação o disposto no artigo 151 do Código Civil, isto é, para a
cessação da Inabilitação é necessário a cessação da causa que determinou a
Inabilitação, processando-se assim o levantamento da Inabilitação a requerimento
das pessoas indicadas no nº 1 do artigo 141 do Código Civil (ver o artigo 156 do
Código Civil). A propósito do levantamento da Inabilitação, especial atenção
merece o regime constante do artigo 155 do Código Civil. Estabelece-se que
quando a Inabilitação tiver por causa a prodigalidade ou abuso de bebidas
alcoólicas ou estupefacientes, o seu levantamento não será deferida antes que
decorrem cinco anos sobre o trânsito em julgado da sentença que a decretou ou da
decisão que haja desatendido um pedido anterior.

d) Incapacidade acidental (artigo 257 do Código Civil)


Esta abrange todos os casos em que a declaração negocial é feita por quem devido
a qualquer causa: embriaguez, estado hipnótico (forte sono artificialmente
provocado), intoxicação (quando atinge o ponto máximo da curva alcoolémia),
delírio, ira, estiver transitoriamente incapacitado de se representar o sentido dela ou
não tenha livre exercício da sua vontade (ver o artigo 257 do Código Civil). Os
actos praticados em estado de incapacidade acidental são anuláveis desde que o
facto seja notório ou conhecido do declaratário e deve ser feita pelo próprio lesado.
(ver o artigo 287 do Código Civil).

Meios de Suprimento de Incapacidades

Designa-se por meios de suprimento de incapacidades as situações jurídicas que


permitem resolver problemas técnico-jurídicos emergentes ou nascentes de uma

106
situação de incapacidade. Esses meios compreendem o poder paternal, a tutela, a
emancipação, a administração de bens e a família de acolhimento.

a) Poder Parental
 Âmbito
Nos termos artigo 292 da Lei da Família, “Os filhos estão sujeitos ao poder
parental até atingir a maioridade ou a emancipação”.

 Conteúdo do Poder Paternal


Nos termos do artigo 293 da Lei da Família “1. O poder parental consiste no
especial dever que incumbe aos pais de, no superior interesse dos filhos, garantir a
sua protecção, saúde, segurança e sustento, orientando a sua educação e
promovendo o seu desenvolvimento harmonioso. [...] 2. O poder parental inclui
igualmente a representação dos filhos menores, ainda que nascituros, bem como a
administração dos seus bens. [...]3. Os pais, de acordo com a maturidade dos
filhos, devem ter em conta a sua opinião nas questões da vida familiar e
reconhecer-lhes autonomia na organização da própria vida”.

Nos termos do estabelecido no artigo 297 da Lei da Família “Os pais não podem
renunciar ao poder parental nem a qualquer dos direitos e deveres que aquele
especialmente lhes confere, sem prejuízo do que na presente Lei se estabelece
acerca da família de acolhimento e da adopção".

b) Tutela
 Noção
Nos termos do artigo 339 da Lei da Família “O poder parental é suprido por meio
da tutela ou da família de acolhimento”. O artigo 342 da Lei da Família dispõe que
“A tutela tem por objectivo a defesa dos direitos, a protecção da pessoa e do seu
património e a satisfação das obrigações do incapaz ou interdito por decisão
judicial”.

Dipõe o artigo 340 da Lei da Família que “1. O menor está obrigatoriamente
sujeito à tutela se os pais: [...] a) tiverem falecido; [...] b)estiverem inibidos do
poder parental quanto à regência da pessoa do filho; [...] c) estiverem há mais de 6
meses impedidos de facto de exercer o poder parental; [...]d)forem incógnitos.

107
[...]2. Havendo impedimento de facto dos pais, deve o Ministério Público tomar as
providências necessárias à defesa do menor, independentemente do decurso do
prazo referido na alínea c) do número 1 do presente artigo, podendo para o efeito
promover a nomeação de pessoa que, em nome do menor, celebre os negócios
jurídicos que sejam urgentes ou de manifesto proveito para este”.

No que concerne à tutela de maiores, o artigo 341 da Lei da Família preceitua que
“Estão também sujeitos à tutela os maiores interditos ou incapazes de dispor da sua
pessoa e bens, em razão de anomalia psíquica, de surdez, de mudez ou de algum
outro motivo e não possam ser representados pelos seus pais”.

c) Emancipação
 Noção
Nos termos do artigo 133 do Código Civil, a Emancipação atribui ao menor plena
capacidade de exercício dos seus direitos, habilitando (o menor) a reger a sua
pessoa e a dispor livremente dos seus bens como se fosse maior, salvo o disposto
no artigo 136 do Código Civil.

 Factos constitutivos da Emancipação


A emancipação pode resultar:

 Do casamento do menor;
 Da concessão do pai ou da mãe quando exerçam plenamente o poder
parental;
 Da concessão do Conselho de Família, na falta dos pais ou estando eles
inibidos do poder parental.
A emancipação por concessão do pai, mãe ou Conselho de Família só é possível
com a aquiescência do menor e depois deste haver completado dezoito anos de
idade.

Salientar que a emancipação só é aplicável apenas a menores que tenham


completado 18 anos que exercendo todos e quaisquer tipo de actos ou apenas uma
parte de actos (emancipação restrita) não significa terem se tornado maiores de
idade, apenas agem como se fossem maiores.

d) Administração de Bens
 Noção
108
Nos termos do artigo 383 da Lei da Família “Quando haja lugar à instituição da
administração de bens do menor, à designação do administrador aplicam-se as
disposições relativas à nomeação de tutor, com ressalva do preceituado nos artigos
seguintes”. Nos termos do artigo 389 da Lei da Família “A administração de bens
cessa nos mesmos moldes que a tutela”.

e) Família de Acolhimento
Nos termos do disposto do artigo 390 da Lei da Família “1. A família de
acolhimento é um meio alternativo de suprir o poder parental, proporcionando ao
menor órfão, filho de pais incógnitos, abandonado ou desamparado a integração
numa família que o recebe e trata como filho, ressalvadas as especificidades
constantes na presente subsecção. [...]2. A inserção do menor em família de
acolhimento só é decretada pelo tribunal competente, verificada a impossibilidade
de adopção ou de constituição da tutela”.

Formas de Suprimento de Incapacidades

Formas de suprimento de incapacidades são os modos de agir estabelecidos pelo


Direito com vista ao efectivo exercício dos direitos e cumprimento das vinculações
do incapaz. São duas as formas de suprimento de incapacidades: Representação e
Assistência.

a) Representação
Na Representação há, pois, uma pessoa que por determinação legal, vai agir em
substituição do incapaz, como se fosse este, em nome e no interesse dele (interesse
do incapaz). Assim o acto materialmente praticado por outra pessoa é visto
juridicamente como acto do incapaz. (ver o artigo 258 do Código Civil)

b) Assistência

109
Na Assistência, o Assistente apenas colabora com o incapaz que também intervêm
no acto. Deste modo, para que o acto seja validamente praticado torna-se agora
necessário o concurso da vontade do incapaz e do Assistente. O incapaz pode agir
pessoalmente mas não livremente. A Assistência compreende as seguintes
modalidades consoante o modo porque se opera a conjugação das vontades do
incapaz e do Assistente: autorização, comparticipação e a confirmação. A
diferença entre estas formas resulta do momento em que a vontade do Assistente
se manifesta em relação ao acto do incapaz.

Assim, há Autorização se a vontade do Assistente se manifesta num momento


logicamente anterior ao acto.

Há Comparticipação se a vontade do Assistente se manifesta no próprio acto, em


que o Assistente deve, portanto participar.

Diz-se que há Confirmação quando a manifestação da vontade do Assistente é


posterior ao acto do incapaz. Em tais casos o suprimento da incapacidade envolve
a cessação do vício que resulta do facto de o acto ter sido praticado pelo menor.

Nos termos do disposto no nº 1 do artigo 26 da lei do Trabalho “O empregador só


pode admitir ao trabalho o menor que tenha completado quinze anos de idade,
mediante autorização do seu representante legal”.
Por sua vez, os n’umeros 1 e 2 do artigo 27 da Lei do Trabalho preceituam que “1.
O contrato de trabalho celebrado directamente com o menor de idade
compreendida entre doze e quinze anos só é válido mediante autorização, por
escrito, do seu representante legal.[…]2. A oposição do representante legal do
menor ou a revogaçãoda autorização, prevista no número anterior, pode ser
declarada a todo o tempo, tornando-se eficaz decorrido um prazo não superior a
trinta dias.”

B. Pessoas colectivas

1. Nocao de Pessoa Colectiva

2. Classificacao das Pessoas Colectivas

Há duas modalidades de classificação das pessoas colectivas: classificação


doutrinária e classificação legal.

110
a) Classificação doutrinária
 Pessoas Colectivas de Direito Público (Ex.:o Estado, as autarquias
locais, institutos públicos, etc.) dotadas de poderes de autoridade ou Jus
imperi.
 Pessoas Colectivas de Direito Privado (Ex.: as associações, sociedades
comerciais, etc.), não estão dotadas de poderes de autoridade.

b) Classificação legal
Nos termos do artigo 157 do Código Civil, as pessoas colectivas
classificam-se em associações, fundações e sociedades.

 Associações – são pessoas colectivas de substrato pessoal que não


tenham por fim a obtenção de lucros para distribuir pelos sócios.Tem o
seu regime no artigo 52 da CRM, nos artigos 167 a 184 do Código
Civil, na Lei nº 8/91 de 18 de Julho, no Decreto nº 21/91 de 3 de
Outubro, no Diploma Ministerial nº 31/92 de 4 de Março e no Decreto-
Lei nº 3/2006.
 Fundações –tem um substrato integrado por um conjunto de bens
adstrito pelo fundador (que pode ser pessoa singular ou pessoa
colectiva) a um escopo ou interesse de natureza social. Numa fundação
é fundamental o elemento patrimonial, sendo a actividade pessoal dos
administradores subordinada à afectação patrimonial feita pelo
fundador e estando ao serviço dela. Tem o seu regime nos artigos 185 a
194 do Código Civil e no Decreto-Lei nº 3/2006.
 Sociedades comerciais (Ver o Código Civil e o artigo 82 e seguintes do
Código Comercial)

3. Pessoas Colectivasde Direito Privado

Noção de Pessoa colectiva de Direito Privado


Pessoas Colectivas de Direito Privado são organizações constituídas por uma
pluralidade de Homens ou de massas de bens que mediante reconhecimento do
Estado, se constituem com o fim de prosseguir em comum um determinado
interesse. Esta é definição para pessoas colectivas de Direito privado.

111
Exemplos de Pessoas Colectivas de Direito privado

 Associação dos Amigos do Ambiente


 Fundação Maria de Lurdes Mutola;
 Sociedade de Estudos de Impacto Ambiental, Lda;
 Transportes Rodiviários, SA;
.
Personalidade jurídica das Pessoas Colectivas de Direito Privado
A personalidade jurídica das pessoas colectivas de Direito Privado adquire-se no
acto de reconhecimento pelo Estado, que tem como conteúdo os direitos e deveres
ligados ao seu fim [ver o artigo 8 da Lei nº 8/91, de 18 de Junho (lei que regula o
direito de livre associação)]. Tratando-se de uma associação ou de uma fundação
este reconhecimento consiste na celebração, após o despacho do Ministro da
Justiça, de uma escritura pública notarial e posterior publicação dos estatutos no
Boletim da República (ver artigos 2 e 3 do Diploma Ministerial nº 31/92 de 4 de
Março).

Porém, tratando-se de uma sociedade comercial, além da celebração da escritura


pública notarial, necessário se torna o registo do acto constitutivo na
Conservatóriana Conservatória do Registo das Entidades Legais, nos termos do
Decreto-Lei nº 1/2006.

A personalidade jurídica das pessoas colectivas de Direito Privado cessa com a sua
dissolução ou com a realização do fim a que se propunham ou com a verificação
dos factos constantes no artigo 10 da Lei nº 8/91 de 18 de Julho.

Capacidade jurídica de gozo das Pessoas Colectivas de Direito Privado


A capacidade jurídica de gozo das pessoas colectivas de Direito Privado restringe-
se ao seu fim ou escopo que se propõe prosseguir, isto é, não gozam de uma
capacidade genérica de gozo, esta apenas assiste as pessoas físicas ou singulares.
Este é o Princípio da Especialidade, previsto no artigo 8 da Lei nº 8/91 de 18 de
Julho.

Capacidade jurídica de exercício das Pessoas Colectivas de Direito


Privado
A capacidade jurídica das pessoas colectivas de Direito Privado é genérica, não
sofrendo qualquer tipo de restrições. Nos termos do nº 3 do artigo 3, da Lei nº 8/91,

112
as associações poderão ser livremente constituídas por cidadãos maiores de dezoito
anos de idade em pleno gozo dos seus direitos civis.

Elementos constitutivos das Pessoas Colectivas de Direito Privado


São elementos constitutivos das pessoas colectivas de Direito Privado: o substrato
pessoal, o substrato patrimonial, o elemento teleológico, o elemento organizatório,
o elemento intencional e o elemento jurídico.

 Substrato pessoal – compreende o conjunto de pessoas que se juntam para


realizarem um certo fim juntando esforços próprios a atingir esse fim. Ex.:
António, Berta, Cadre, Domingos, Elizabete, Fábio, Gulamo, Hilário, Izilda,
João, Luís, Marta, etc.
 Substrato patrimonial – compreende o conjunto de bens através das quais se
atinge o fim preconizado. Ex.: Armando, Bento, Cacilda, etc. para constituírem
a sociedade (pessoa colectiva) contribuíram com os seguintes bens: um camião,
um computador, edifício onde vai funcionar a sociedade e o dinheiro para as
despesas correntes do funcionamento da sociedade.
 Elemento teleológico – é o fim ou escopo que a pessoa colectiva pretende
atingir, que deve ser o fim determinável, lícito, não contrário à lei, à ordem
pública e aos bons costumes. Ex.: uma sociedade comercial se propõe a
importar e exportar bebidas alcoólicas, o seu fim é importar e exportar bebidas
alcoólicas.
 Elemento organizatório – é o conjunto de regras que vão reger a disciplina e o
funcionamento da pessoa colectiva: São os estatutos da Pessoa Colectiva.
 Elemento intencional – é a vontade ou intenção das pessoas físicas ou
singulares de constituir a pessoa colectiva. É manifestada no contrato ou acto
constitutivo.
 Elemento jurídico – é o reconhecimento atribuído pelo Estado à pessoa
colectiva, conferindo-lhe personalidade e capacidade jurídica.

c) Algumas pessoas colectivas de Direito Privado especiais


Estas pessoas colectivas de Direito Privado especiais para além do regime do
Código Civil sobre as pessoas colectivas, seguem também um regime
estabelecido em lei especial.

113
 Cooperativas
Estão previstas no nº 4 do artigo 99 da CRM. O seu funcionamento é
regido pela Lei nº 23/2009. O artigo 2 da desta lei define cooperativas
como «pessoas colectivas autónomas, de livre constituição, de capital e
composição variáveis e de controlo democrático, em que os seus membros
obrigam-se a contribuir com bens e serviços para o exercício de uma
actividade económica, de proveito comum, através de acções mútuas e
mediante partilha de risco, com vista à satisfação das suas necessidades e
aspirações económicas e um retorno patrimonial predominantemente
realizado na proporção das suas operações».

O artigo 3 da Lei nº 23/2009 apresenta os graus das cooperativas: São


cooperativas de primeiro grau as que são constituídas por pessoas
singulares e/ou colectivas, cujo objecto assenta na prestação directa de
serviços aos seus membros. São cooperativas de segundo grau ou de
grau superior as que consistem em uniões, federações e confederações de
cooperativas, cujo objectivo é a coordenação, a orientação e a organização,
em maior escala, dos serviços de interesses de suas filiadas.

O artigo 10 da Lei nº 23/2009, estabelece que as cooperativas constituem-


se através de um contrato de sociedade.

O artigo 11 da Lei nº 23/2009, estabelece que o número de membros de


uma cooperativa é ilimitado, não podendo ser inferior a cinco nas
cooperativas de primeiro grau e nunca inferior a dois nas cooperativas de
segundo grau.

O cooperativismo guia-se pelos seguintes princípios: princípio da adesão e


demissão livre e voluntária; princípio da gestão e administração
democr’atica pêlos membros; princípio da participação econ’omica dos
membros; princípio da autonomia e independencia; princípio da educação,
formação e informação dos membros; princípio da intercooperação e o
princípio do interesse pela comunidade213.As cooperativas observas os
“valores de ajuda mútua, responsabilidade, democracia, igualdade,

Cooperativismo como alternativa de Desenvolvimento, págs. 8/9


213

114
equidade, solidariedade, honestidade, transparência, responsabilidade
social e preocupação com o seu semelhante”214.

 Associações económicas
Ver a Lei nº 4/84, de 6 de Abril, alterada pela Lei nº 5/85, de 12 de
Novembro.

 Sindicatos
Ver a Lei nº 23/2007, de 2 de Agosto (Lei do Trabalho), muito em
especial os artigos 137 e seguintes.

 Associações de empregadores
Ver a Lei nº 23/2007, de 2 de Agosto (Lei do Trabalho), muito em
especial os artigos 137 e seguintes.

 Partidos políticos
Nos termos do nº 1 do artigo 1 da Lei nº 7/91, «São partidos políticos as
organizações de cidadãos constituídas com o objectivo fundamental de
participar democraticamente na vida política do país e de concorrer, de
acordo com a Constituição e as leis, para a formação e expressão da
vontade política do povo, intervindo, nomeadamente, no processo eleitoral,
mediante apresentação ou o patrocínio de candidaturas».

Estão previstos nos artigos 53, 74, 75, 76 e 77 da CRM. A CRM é


complementada pela Lei nº 7/91, de 23 de Janeiro, alterado pela Lei nº
14/92 de 14 de Outubro. O Diploma Ministerial nº 11/91, de 13 de
Fevereiro, regulamenta o registo dos partidos políticos. Na legislação
eleitoral, também, tem muitas disposições que se referem aos partidos
políticos.

3. Pessoas Colectivas de Direito Público


(usar com base a CRM, legislação sobre a governação descentralizada,
lei de base da administração p’ublica, Carta das Nacoes Unidas e outras
convenções internacionais que tratam do reconhecimento dos Estados)
214
Idem, pág. 9

115
Estado
Orgaos de Governacao Descentralizada Provincial e Distrital
Autarquias Locais

Institutos Públicos

FACTO JURIDICO

1. Conceito de Facto Jurídico


Facto Jurídico é todo o acontecimento natural ou voluntário (humano) a que a
ordem jurídica atribui como efeito a criação, modificação ou extinção de uma
Relação Jurídica.

2. Classificação de Factos Jurídicos


Para a classificação dos factos jurídicos toma-se como base os seguintes critérios:
critério que atende a exteriorização ou não da vontade humana e o critério que
atende a conformidade ou não do facto com a ordem jurídica.

b.1. critério que atende a exteriorização ou não da vontade humana

De acordo com este critério os factos jurídicos podem ser:

b) Factos naturais – são acontecimentos produtores de efeitos jurídicos mas não


traduzem a exteriorização de uma vontade humana. Ex.: o nascimento, a
morte natural, um incêndio (em certas condições), uma tempestade, um
terramoto, etc.
c) Factos voluntários – são acontecimentos produtores de efeitos jurídicos que
representam a manifestação de uma vontade humana. Ex.: o Testamento,
qualquer Contrato, etc.
Os factos jurídicos são correntemente designados por factos jurídicos em sentido
estrito (próprio) enquanto que os factos voluntários são, com propriedade,
chamados Actos Jurídicos.

b.2. critério que atende a conformidade ou não do facto com a ordem jurídica

Tomando como base este critério os actos jurídicos podem ser:

116
 Actos lícitos – são os actos jurídicos que estão conforme com o direito
objectivo. Ex.: Se alguém, tendo para tanto capacidade de exercício, vende a
outrem um objecto que lhe pertence, pratica um acto lícito.

Diferença entre Negócios Jurídicos e simples Actos Jurídicos

Negócios Jurídicos – são factos voluntários constituídos por uma ou mais


declarações de vontade a que o ordenamento jurídico atribui efeitos jurídicos
concordantes com o conteúdo da vontade das partes.

Simples Actos jurídicos – são factos voluntários cujos efeitos jurídicos se


produzem, mesmo que não tenham sido previsto ou querido pelos seus autores,
embora, muitas vezes, haja concordância entre a vontade dos seus autores e os
referidos efeitos.

 Actos ilícitos – são actos jurídicos que violam ou ofendem o direito objectivo.
Ex.: se alguém deliberadamente mata outrem, pratica um acto jurídico ilícito ou
contrário à lei, na medida em que esta (a lei) impõe aos seus destinatários o
dever jurídico de não matar. Os actos ilícitos subclassificam-se em ilícitos civis
e ilícitos criminais. Os ilícitos civis são aqueles que violam interesses
meramente individuais ou particulares (ex.: Aurélio danifica o pomar da Berta).
Os ilícitos criminais são aqueles que ofendem interesses de toda a colectividade
(ex.: Domingos falsifica documentos). Os actos ilícitos criminais podem ainda
ser subclassificados por ilícitos intencionais e ilícitos meramente culposos. É
acto ilícito criminal intencional quando for praticado com o intuito (objectivo)
condenável de causar danos por parte do agente. É acto ilícito criminal
meramente culposo quando há apenas negligência ou imprudência por parte do
seu autor.

PERGUNTAS DE CONSOLIDAÇÃO E PERGUNTAS PARA REFLEXÃO

1. Ao longo das aulas falamos da classificação dos sujeitos de uma Relação


Jurídica. Nessa classificação vimos pessoas singulares (ou físicas) e pessoas
Colectivas. Responda às seguintes questões:
a) Como é que as pessoas singulares adquirem personalidade jurídica?
b) Como é que cessa a personalidade jurídica das pessoas singulares?

117
c) Como é que as pessoas colectivas de Direito privado adquirem
personalidade jurídica?
d) Como é que cessa a personalidade jurídica das pessoas colectivas de Direito
privado?
2. Ao longo das aulas falamos dos Tipos de Incapacidades Civis e as formas de
suprimento dessas incapacidades. Preste atenção à seguinte hipótese e responde
às perguntas colocadas:
O Sr. António nasceu em 1960. Em 1995 casou com a senhora Berta e dessa
relação nasceram 2 filhos. Desde o ano 2000 até a actualidade que o Sr. António
tem anomalia psíquica (maluco).

a) Que tipo de incapacidade civil afecta o Sr. António? Justifique a tua


resposta.
b) Qual é o meio de suprimento dessa incapacidade? Justifique a sua resposta.

3. Júlio tem a receber da empresa Consultoria, Contabilidade & Marketing Lda. a


quantia de 200.000,00 MT.
a) Indica o sujeito activo e o sujeito passivo desta Relação Jurídica.
b) Classifique os sujeitos desta Relação Jurídica.
4. Abel Bento Cossa tem a receber da Associação dos Amigos do Idoso. uma
máquina de costura.
a) Indica, justificando, o sujeito activo e o sujeito passivo desta Relação
Jurídica.
b) Classifique os sujeitos desta Relação Jurídica.
c) Fale da maneira como cada um dos sujeitos desta Relação Jurídica adquire
personalidade jurídica.
d) Fale da maneira como cada um dos sujeitos desta Relação jurídica cessa a
sua personalidade jurídica.
e) Seria correcto se alguém dissesse que objecto desta Relação Jurídica é uma
coisa incorpórea? Justifique a sua resposta.

NORMA JURIDICA

1. Noção em sentido Estrito

118
Para João de Castro Mendes 215 a Norma Jurídica «(...) exprime a ligação de um
acontecimento ou situação da vida social, como consequente da necessidade de
uma conduta, traçada em termos gerais e abstractos. A representação do evento ou
situação da vida diz-se previsão da norma; o estabelecimento, como consequente,
da necessidade de uma conduta, diz-se estatuição. Por isso, pode-se definir a
norma como a ligação de uma estatuição à previsão de um evento ou situação».

A expressão Norma Jurídica admite dois sentidos a saber:

a) Sentido amplo ou lato – Norma Jurídica é qualquer comando escrito, geral,


abstracto e hipotético criado ou imposto à sociedade pelo Estado para
disciplinar as relações sociais.
Ex.: artigo 81 do Código Civil.

b) Sentido restrito – Norma Jurídica é a ligação de uma tese ou estatuição a uma


previsão ou hipótese.
Ex.: artigo 155 do Código Penal

Nota bem: as normas jurídicas em que não seja possível identificar uma previsão
ou hipótese e uma tese ou estatuição são designadas normas jurídicas em sentido
amplo. Ex.: artigo 82 do Código Civil.

Todas as normas jurídicas onde é possível encontrar a previsão ou hipótese e a tese


ou estatuição são designadas por normas jurídicas em sentido restrito ou normas
jurídicas completas.

2. Estrutura da norma jurídica em Sentido Estrito

Para João de Castro Mendes216 «Na estrutura da norma jurídica, encontramos três
elementos: previsão, estatuição e sanção. Os dois primeiros elementos são
comuns a todas as normas; a sanção, na forma especial da sanção coactiva, é
própria da norma jurídica, quando completa ou perfeita».

Como se pode depreender a norma jurídica tem como estrutura a previsão ou


hipótese e a tese ou estatuição. Importa referir que algumas normas podem
começar com a previsão ou hipótese e terminar com a tese ou estatuição. Outras

Introdução..., pag. 41
215

Introdução..., pag. 41
216

119
podem começar com a tese ou estatuição e terminar com a previsão ou hipótese.
Ou seja, a ordem não interessa.

Previsão ou Hipótese

A este respeito João de Castro Mendes217 escreve que na previsão a «(...) norma
jurídica fixa padrões de conduta adequados às situações que de futuro advenham;
e, por isso, antes demais, contém uma representação dessa situação futura».

João de Castro Mendes218 acrescenta que «A previsão não aparece sempre de forma
clara. Tomemos a norma não matar: na sua forma completa, tal norma exprimir-
se-à por: se alguém se encontrar em situação de poder matar outro (previsão), não
o deve fazer (estatuição)».

Podemos definir Previsão ou Hipótese como o retrato descrito de um caso da vida


real ou seja é a situação da vida real descrita em forma de hipótese que a lei
considera idónea para produzir um certo resultado.

Tese ou Estatuição

Podemos definir Tese ou Estatuiçãocomo consequência da verificação da previsão


ou seja o que vai acontecer a quem se encontrar na situação prevista na hipótese da
norma.

Exemplos de Hipótese ou previsão e Tese ou Estatuição

Ex.1: Aquele que perfizer 21 anos de idade adquire plena capacidade de exercício
de direitos, ficando habilitado a reger a sua pessoa e dispor dos seus bens.

Neste exemplo a parte sublinhada (aquele que perfizer 21 anos de idade) é a


previsão ou hipótese. E a parte não sublinhada constitui Tese ou Estatuição
(adquire plena capacidade de exercício de direitos, ficando habilitado a reger a sua
pessoa e dispor dos seus bens)

Ex.2: Qualquer pessoa que voluntariamente matar outra será punida com a pena de
prisão maior de 16 a 20 anos.

Introdução..., pag. 41
217

Introdução..., pag. 42
218

120
Neste exemplo a parte sublinhada (Qualquer pessoa que voluntariamente matar
outra) é a previsão ou hipótese. E a parte não sublinhada constitui Tese ou
Estatuição (será punida com a pena de prisão maior de 16 a 20 anos)

3. Caracteres da Norma Jurídica

São caracteres da Norma Jurídica aqueles aspectos ou caracteres que determinam a


essência da Norma Jurídica face às outras normas de conduta social. Podemos
agrupar em 5:

a) Estatalidade ou estadualidade – toda a norma jurídica provém do poder


político instituído, poder político estatal, isto é, produzida pelo Estado.

b) Generalidade – as normas jurídicas dirigem-se a todos os membros duma


sociedade jurídica que constituem o Estado incluindo os estrangeiros residentes
no território desse Estado independentemente da cor, raça, origem étnica,
religião, grau de instrução, etc. A Norma jurídica é uma regra geral e não
individual.

c) Imperatividade ou obrigatoriedade – as normas jurídicas são, em princípio,


imperativas. Os destinatários da norma jurídica não tem a faculdade de escolher
em cumpri-las ou não cumpri-las. A adesão ao conteúdo das normas jurídicas
não depende da sua vontade e consciência, isto é, o seu cumprimento não é
facultativo, é obrigatório.

d) Coercibilidade – as normas jurídicas são coercivas; a não observância da


norma jurídica implica o recurso a força quando necessário, consubstanciada na
aplicação de sanções pelos tribunais aos infractores.

e) Hipoteticidade – as normas jurídicas são hipotéticas porque aparecem em


forma de hipótese, em forma de previsão, isto é, aparecem antes da verificação
de casos concretos. São abstractas porque não se dirigem a um número
determinado de casos concretos mas a um número indeterminado de casos.

121
4. Espécies de normas jurídicas

Do ponto de vista doutrinário as normas jurídicas classifica-se tendo em conta os


seguintes critérios:

1º Critério da natureza da conduta exigida aos destinatários da norma;

2º Critério da função da norma jurídica no sistema jurídico;

3º Critério da regulamentação das matérias pela norma jurídica no sistema jurídico.

Dos três critérios mencionados apenas estudaremos o primeiro. De acordo com


este critério as normas jurídicas classificam-se em normas jurídicas imperativas e
normas jurídica dispositivas.

A. Normas jurídicas imperativas, obrigatórias ou injuntivas – são todas


aquelas que fixam comandos positivos ou negativos, ou seja, aquelas normas
jurídicas com relação as quais o destinatário está vinculado e não se lhe assiste
o direito ou a liberdade de optar em cumpri-las ou não cumpri-las. Contêm o
Jus Imperi do poder político.
Estas normas (normas jurídicas imperativas, obrigatórias ou injuntivas)
subclassificam-se em:

a)Normas imperativas perceptivas – são todas aquelas que fixam comandos


positivos, isto é, impõem o dever de agir, de praticar actos, de realizar algo. Ex.:
nº 1 do artigo 1323 do Código Civil: «Aquele que encontrar animal ou outra
coisa móvel perdida e souber a quem pertence deve restituir o animal ou a coisa
a seu dono, ou avisar este do achado(...)»
b)Normas imperativas proibitivas – são todas aquelas que fixam comandos
negativos, o dever de não praticar actos, omitir não fazer nada. A proibição
pode ser directa ou indirecta. As normas jurídicas de proibição directa vedam de
forma imediata a observância de uma determinada conduta. Ex.: Não é
permitido fumar na sala de aulas. As normas de proibições indirectas vedam de
forma indirecta a prática de determinada conduta, isto é, através de fixação de
sanções aos infractores. Ex.: Qualquer pessoa que voluntariamente matar outra
será punida com a pena de prisão maior de 16 a 20 anos.
B. Normas jurídicas dispositivas – são aquelas normas com relação as quais o
destinatário tem o direito ou a liberdade de escolher e adoptar a prática de uma
122
conduta. Cumpre se quiser e não cumpre se não querer. As normas jurídicas
dispositivas subclassificam-se em:
a) Normas jurídicas dispositivas facultativas - são todas aquelas que fixam
poderes, direitos ou permissões.
b) Normas jurídicas dispositivas supletivas – são todas as situações de omissões,
esquecimentos das partes nos negócios jurídicos, isto é são normas que
integram lacunas.

5. Relação entre as Normas Jurídicas

a) Subsidiariedade

A subsidiariedade consiste na aplicação de uma norma à situações reguladas por


outra norma constante do mesmo diploma legal ou norma constante de outro
diploma legal.

b) Consupção

A consumpção consiste na aplicação da norma que regula (geralmente punição) de


maneira mais abangente (pena mais grave) excluíndo a aplicação de normas que
regulam de forma menos abrangente (menos gavosa) a situação.

Exemplo: António viola sexualmente e mata uma mulher. Para punir António não
vai ser aplicada a pena da violação e a pena de homicídio (matar). Ao António ser-
lhe-á aplicada a pena de homicídio qualificado (punida com a pena de vinte a vinte
quatro anos, nos termos do artigo 351 do Código Penal de 1886) porque pune de
uma maneira mais gravosa em relação á pena de violação sexual (punida com a
pena de dois a oito anos, nos termos do artigo 393 do Código Penal de 1886).

c) Cumulação
A Cmulação consiste na aplicação de várias normas para uma determinada
situação. Cada uma das normas aplicadas desempenha a sua própria função.
Exemplo: Um Enfermeiro de um Posto de Saúde do Sistema Nacional de Saúde
bateu, na presença dos doentes, numa Servente, sua colega do posto, causando-
lhe ferimentos graves na cara e noutras partes do corpo o que lhe causou

123
deformidades notáveis e ipossibilidade de trabalhar durante 20 dias. A
Cumulação, neste exemplo vai consistir na aplicação ao Enfermeiro de sançao
criminal (pelo crime de agressão); sanção disciplinar (por agredir colega de
serviço no local de trabalho) e sanção civil (por, com a sua agressão, ter
provocado deformidades notáveis e na presençã de pessoas). Pela mesa ao
Enfermeiro ser-lhe-ão aplicadas várias sanções cada uma delas com os seu fim.

d) Especialidade
Consiste na aplicação de normas especiais em detrimento de normas gerais.

e) Execepcionalidade
Consiste na aplicação de uma norma excpecional em detrimento de uma norma
não excepcional.

PERGUNTAS DE CONSOLIDAÇÃO E QUESTÕES PARA REFLEXÃO

1.As normas jurídicas não são as únicas que pautam a conduta humana, já que, na
verdade, a actividade social do homem igualmente se desenvolve em sectores a que
o direito é estranho.

a) Distinga as normas jurídicas das restantes normas de conduta social.


b) Quais são as características fundamentais da norma jurídica.
c) Existem normas jurídicas destinadas apenas a regulamentar o Presidente da
República. Podemos dizer que essas normas tem carácter geral? Em que
consiste a sua generalidade?

2.Preste atenção às seguintes normas:

Artigo 510 do Código Penal

O Servidor Público que, com intenção de obter vantagem patrimonial ou não


patrimonial, induzir, intencionalmente, em erro o superior hierárquico para
decidir qualquer pretenção, será punido com pena de prisão e multa até um
ano.

Artigo 1323 do Código Civil

124
Aquele que encontrar animal ou outra coisa móvel perdida e souber a quem
pertence, deve restituir o animal ou a coisa a seu dono ou avisar este do
achado.

Artigo 515 do Código Penal

O Servidor Público, sem que especiais motivos de interesse público o


justifiquem, der a dinheiro público destino para uso público diferente daquele a
que se encontra legalmente afectado, será punido com pena de prisão até um
ano e multa correspondente.

a) Faça a estrutura das normas contidas nos artigos 510 e 515 do Código
Penal e artigo 1323 do Código Civil.
b) Classifique quanto à natureza da conduta exigida aos seus destinatários as
normas contidas nos artigos 510 e 515 do Código Penal e artigo 1323 do
Código Civil.

LICITUDE E ILICITUDE

As pessoas (singulares ou colectivas) que agem conforme a lei estão numa


situação de licitude e é o que se pretende.

Contudo, as pessoas nem sempre agem em conformidade com a lei, entrando


numa situação de Ilicitude.

Consoante a natureza as leis infringidas, a pessoa pode estar em ilícito civil,


ilícito criminal, ilícito disciplinar ou estar, com a mesma conduta, ao mesmo
tempo, em iltícitos civil, criminal e disciplinar.

Ilícito civil

O ilícito civil pode advir da violação de normas de direito privado.

A prática de ilícito civil incorre a aplicação de sanções ou medidas de natureza


civil, tais como a indemnização, restituição.

Ilícito criminal (Crime)

125
O ilícito criminal ou penal consiste na violação de uma norma de natureza
criminal ou penal. Os ilícitos criminais são aqueles que são qualificado expressa
e taxativamente por lei como crimes. Esses actos estão previstos no Código Penal
e noutra legislação penal.

Esses actos são os que são considerados pelo legislador como perigosos, ou seja,
a sua prática reiterada pode destruir a sociedade e por isso são punidos com penas
de prisão e ou pena de multa.

Ilícito disciplinar

As pessoas devem cumprir com a disciplina imposta por lei ou pelos


regulamentos ou estatutos das organizações a que pertencem.

As pesoas por serem trabalhadores, estudantes, membros de uma associação,


membros de um clube desportivo, membros de um partido político ou outras
situações estão sujeitas a uma disciplina. Violada essa disciplina ligitima que a
organização a que uma pessoa pertença exerça o poder disciplinar sobre o seu
membro.

A aplicação de uma sanção disciplinar, por regra, deve ser precedida de um


processo disciplinar em que o suposto infractor é acusado e é entregue uma Nota
de Acusação (ou Nota de Culpa), para, querendo, a presentar a sua defesa,
apresentar testemunhas, requerer providências que julgar pertinentes para o
apuramento da verdade dos factos.

Para os trabalhadores da Administração Pública (Estado ou Autarquias Locais) o


processo disciplinar é regulado pelo Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes
do Estado (ver, fundamentalmente, os artigos 78 a 119) e no Regulamento do
Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado.

Certos agentes ou funcionários do Estado, para além do Estatuto Geral dos


Funcionários e Agentes do Estado, os seus processos disciplinares são regidos
por estatutos específicos que regulam a sua profissão. Por exemplo: Os
magistrados judiciais têm o seu regime disciplinar regulado no Estatuto dos
Magistrados judiciais; os polícias têm o regime disciplinar no Estatuto do Polícia;
os professores têm o regime disciplinar no Estatuto do Professor.

126
Para trabalhadores do sector privado e das empresas públicas as regras do
processo disciplinar estão previstas na Lei do Trabalho, aprovado pela Lei nº
23/2007 (ver, principalmente, os artigos 62 a 69).

As associações, cooperativas, partidos políticos e outras organizações têm as suas


normas disciplinares nos seus estatutos ou regulamentos para os seus membros.

As sanções disciplinares, conforme a gravidade e circunstâncias do ilícito


disciplinar, podem ser a advertência, repreensão pública, multa, despromoção,
demissão e expulsão.

Causas de exclusão de ilicitude

Há comportamentos que praticados em situações genéricas são considerados


ilícitos e por isso puníveis mas os mesmos comportamentos praticados e
circunstâncias especiais levam a que quem as cometeu não seja sancionado. Não
é sancionado a pessoa numa situação de acção directa, legítima defesa, estado de
necessidade ou consentimento do ofendido.

 Acção directa (será desenvolvido no capítulo dos Meios de tutela Jurídica)

 Legítima defesa (será desenvolvido no capítulo dos Meios de tutela Jurídica)

 Estado de necessidade (será desenvolvido no capítulo dos Meios de tutela


Jurídica)

 Consentimento do ofendido

A pessoa que sofreu ofensa (lesão) pode pode consentir que outra pessoa provoque
essa lesão.

Por exemplo, os doentes consentem que os médicos e outro pessoal sanitário os


possam provocar dor ao longo do processo de tratamento.

O consentimento pode ser expresso ou presumido.

O Consentimento do ofendido está previsto na alínea e), nº 1 do artigo 35; alínea


f), nº 1 do artigo 51 e no artigo 56, todas as disposições do Código Penal.

127
MEIOS DE TUTELA JURÍDICA

1. Noção

Ao longo das aulas dissemos o Direito objectivo é ordem que é imposta a todos e
do Direito subjectivo é e faculdade que as pessoas têm de gozar os seu direitos.
Não basta dizer isto sem dizer como garantir que essa ordem e essas faculdades
sejam cumpridas.

O Estado cria mecanismos de tutela jurídica, ou seja, meios ao dispor das pessoas e
do próprio Estado para fazer valer a ordem estabelecidas pelo Direito bem como os
direitos das pessoas. Ou seja, não basta dizer que há comandos obrigatórios e há
direitos das pessoas sem haver meios de obrigar à força o cumprimento desses
comandos e o respeito dos direitos das pessoas. O pessoal da saúde quando nos diz
que a vitamina C é importante para a nossa saúde de seguida nos tem dito qual é a
fonte da vitamina C.

Antigamente havia a tutela privada e só mais tarde é que a tutela pública foi
instituída. Actualmente temos a tutela pública (que é a regra) e a tutela privada
(que é excepção, e aplicada só nos casos admitidos por lei).

Sobre a justiça privada (tutela privada) José de Oliveira Ascensão 219 faz-nos
perceber que «o sistema de justiça privada é sempre mau. Por um lado, porque fica
dependente da força: a justiça satisfaz-se ou não consoante, mais ou menos
casualmente, o ofendido ou seus familiares tiverem ou não a força suficiente para a
impor. Por outro lado, como ninguém é bom juiz em causa própria, todos terão a
tendência de avolumar os agravos sofridos, e de minimizar os efectivamente
praticados. Cria-se pois a luta e a insegurança permanentes no seio da comunidade.
(…) É por isso que desde o princípio nós vemos os órgãos públicos procurar
intervir, encetando caminho que tem como epílogo ou monopólio dos meios de
coerção por parte do Estado».

2. Tutela preventiva e tutela repressiva

Introdução..., pag.88
219

128
De acordo com José Dias Marques220«As medidas destinadas a tutelar as normas
jurídicas podem funcionar de dois modos diferentes: umas vezes, ex ante,
impossibilitam, dificultam ou tornam inconveniente para o sujeito a violação da
norma ou grupo de normas cujo cumprimento se trata de garantir; outras vezes,
actuando ex post, criam para o violador da norma jurídica um sacrifício maior que
o que resultaria de facto de lhe ter obedecido. No primeiro caso dirigem-se com
carácter preventivo ou dissuasor aos que eventualmente poderiam desobedecer ao
comando jurídico; no segundo, agem repressivamente contra aqueles que já
desobedeceram».

José Dias Marques221 acrescenta que «No campo da tutela preventiva, que é
extremamente vasto, cabe distinguir entre a prevenção dos actos ilícitos enquanto
se admite que sejam praticados por quaisquer pessoas (prevenção geral) e a
prevenção daqueles actos que se calcula possam vir a ser cometidos por uma certa
pessoa em particular (prevenção individual)».

José Dias Marques222 continua dizendo que «Quanto à tutela repressiva traduz-se
ela na organização de sanções aplicáveis em consequência da violação das normas
jurídicas. (…) O que há de característico na tutela repressiva é constituir ela uma
reacção do direito contra os factos ilícitos; logo que estes ocorrem, segue-lhes
como necessário efeito jurídico a adstrição a suportar uma privação de bens
(liberdade, vida, dinheiro...). A esta privação se dá o nome de sanção, e à
necessidade de suportá-la o de responsabilidade. No sentido mais amplo do
termo, diz-se que alguém é responsável, ou que tem responsabilidade, quando se
encontra adstrito a suportar uma sanção, sendo que esta, por seu turno, pode ser
definida como toda a privação de bens imposta pelo direito como consequência da
prática de um facto por ele proibido».

2. Tutela Pública (Justiça Pública)


A tutela pública constitui o regime regra. Ela abrange a tutela judiciária, a
tutela administrativa e a tutela política.

a) Tutela judiciária
220
Introdução..., pag. 66
221
Introdução..., pags. 66/67
222
Introdução..., pag. 67

129
É feita através dos tribunais. Para tal os tribunais contam com a colaboração dos
sujeitos processuais (partes e seu advogados, testemunhas, declarantes, peritos,
etc.); polícia e procuradoria. Como se sabe, quando uma pessoa tem o seu direito
violado ou na eminência da violação pode contactar a polícia, que encaminha o
caso ao tribunal, onde para além do juiz vai intervir o procurador junto desse
tribunal. O cidadão pode fazer denúncia à procuradoria ou pode intentar uma acção
junto de um tribunal.

Por outro lado, a polícia e o Ministério público podem actuar oficiosamente


quando tiverem conhecimento da violação do Direito.

b) Tutela administrativa
É exercida pelos órgãos públicos (Estado, Institutos públicos, órgãos de
governação descentralizada provincial e distrital, autarquias locais, etc.) usando
mecanismos administrativos.

Como se sabe, quando uma pessoa tem o seu direito violado ou na eminência da
violação pode contactar uma instituição da administração pública (ministério,
direcção provincial, direcção distrital, município, vereação, etc). As pessoas podem
endereçar queixas, petições e reclamações a estas entidades.

c) Tutela política
Como se sabe, quando uma pessoa tem o seu direito violado ou na eminência da
violação pode recorre a órgãos políticos tais como Assembleia da República e
Presidente da República.

4. Tutela através da arbitragem, mediação e conciliação

A lei admite que os litígios sejam resolvidos por mecanismos extra judicias de
resolução de conflitos. Esses mecanismos podem se a arbitragem e conciliação. O
Código de Processo Civil (artigos 49, 90), a Lei de Arbitragem (Lei nº 11/99, de 8
de Julho), Lei nº 23/2007 (aprova a Lei do Trabalho: artigos 180 a 193) e outras

130
autorizam que os litígios sejam resolvidos por Árbitros ou por Centros de
Arbitragem e Conciliação.+++ falar também da arbitragem administrativa +++

5. Tutela Comunitária

Em alguns casos o Estado delega a tutela pública à comunidade. No nosso país


temos os tribunais comunitários e o policiamento comunitário. Os tribunais
comunitários foram criados e regulados o seu funcionamento pela Lei nº 4/92, de 6
de Maio. Por outro lado, o artigo 5 da Lei nº 24/2007 dispõe sobre os tribunais
comunitários.

6. Tutela Privada (Justiça Privada)

Naqueles casos em que a tutela pública não pode intervir ou pode intervir tarde, a
lei, excepcionalmente, admite a justiça privada. Nos termos do artigo 1 do Código
de Processo Civil «a ninguém é lícito o recurso à força com o fim de realizar ou
assegurar o próprio direito, salvo nos casos e dentro dos limites declarados por
lei».

Ou seja, em princípio, só os poderes públicos é que têm a tutela jurídica, mas, em


caso de impossibilidade da tutela pública ou a tutela ser tarde, a lei delega a tutela
jurídica aos particulares.

A tutela privada abrande o direito de resistência, a legítima defesa, a acção directa,


o estado de necessidade e o direito de retenção.

a) Direito de resistência
De acordo com Domingos Pereira de Sousa o ”direito de resistência é a faculdade
atribuída ao particular de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos,
liberdades e garantias”223.

Nos termos do artigo 80 da CRM «O cidadão tem o direito de não acatar ordens
ilegais ou que ofendam os seus direitos, liberdades e garantias».

b) Legítima defesa

Noções Fundamentais de Direito, pág. 98


223

131
É um conceito tratado com profundidade no Direito Penal e no Direito das
obrigações.

Está prevista na circunstância 17ª do artigo 45; alímea b), nº 1 do artigo 51; na
alínea c) do artigo 52; artigos 53 e 185, todas as disposições do Código Penal e no
artigo 337 do Código Civil.

Para Domingos Pereira de Sousa a “legítima defesa é o ato que afasta uma
agressão ilícita, atual ou iminente, contra a pessoa ou o património do agente ou de
terceiro, quando não seja possível recorrer à autoridade pública e desde que o
prejuízo causado não seja superior àquele que se pretende evitar”224.

Sobre a Legítima defesa José Dias Marques225 ensina-nos que «Por via da legítima
defesa considera-se justificado o acto destinado a afastar qualquer agressão
dirigida contra o agente ou terceiro, desde que na agressão e na defesa se
verifiquem os requisitos de que a lei faz depender aquela justificação (artigo 337.º
do Código Civil). Exemplo: A pretende apunhalar B, que, com um tiro num braço,
o impede que prossiga a agressão».

 Legítima defesa pessoal e Legítima defesa patrimonial


Podemos recorrer a legítima defesa para nos defender como pessoas (Legítima
defesa pessoal) e para defender os nossos bens (legítima defesa patrimonial).

 Legítima defesa própria e Legítima defesa alheia


Podemos recorrer a legítima defesa para defender os nossos próprios interesses
(legítima defesa própria) o para defender interesses doutras pessoas (legítima
defesa alheia).

c) acção directa
Está prevista no artigo 336 do Código Civil.

De acordo com Domingos Pereira de Sousa Acção directa “é o recurso à força pelo
particular para evitar a inutilização prática de um direito, no caso de ser impossível
recorrer a meios coercivos normais”226.

224
Noções Fundamentais de Direito, pág. 99
225
Introdução..., pag. 76
226
Noções Fundamentais de Direito, pág. 98

132
Sobre a acção directa José Dias Marques227 ensina-nos que «A permissão da acção
directa torna justificado o recurso à força com o fim de realizar ou assegurar o
próprio direito quando tal se torne indispensável (pela impossibilidade de recorrer
em tempo útil aos meios coercivos comuns) para evitar a inutilização prática dos
direito, não devendo, porém, o agente usar da força senão na medida necessária
para evitar o prejuízo (artigo 336.º, nº 1) e sem que haja sacrifício de interesses
superiores aos que o agente visa realizar ou assegurar (artigo. Cit., nº 3). Exemplo:
um filho menor foi confiado pelo tribunal à guarda do pai; entretanto, a mãe
subtrai-o a essa guarda e prepara-se para sair do País com ele: é lícito ao pai
impedir pela força a saída, contanto que não exceda os limites em que a lei lhe
consente esta acção directa».

d) Estado de necessidade
Para Domingos Pereira de Sousa Estado de Necessidade “é a situação de perigo
eminente em que alguém se encontra e que justifica a licitude da ação de destruir
ou danificar uma coisa alheia para remover o perigo atual ou iminente de um dano
manifestamente superior, quer do agente quer de terceiro”228.

José Dias Marques229 ensina-nos que «O que há de característico na legítima defesa


é que ele pressupõe uma agressão ilegal do direito que se defende. Por vezes,
porém, o direito encontra-se numa situação de perigo, resultante de factos stricto
sensu e, daí, insusceptível de configurar-se como resultado de uma agressão
determinada por uma vontade alheia. (…) Em tais casos, para obviar a que se
inutilize o interesse juridicamente protegido, admite a lei, ao lado de um “direito de
defesa”, também um “direito de necessidade”, cujo exercício torne lícitos certos
actos que, de outro modo, o não seriam (artigo 339.º do Código Civil). Exemplo: A
utiliza o automóvel de B, sem autorização deste, para transportar ao hospital um
ferido em estado grave; ou invade o quintal do vizinho para dele retirar seu cavalo
que aí caiu a um poço e está em risco de afogar-se».

O estado de necessidade está preisto na alínea a), nº 1 do artigo 51 e no artigo 52,


ambas disposições do Código Penal e no 339 do Código Civil.

227
Introdução..., pag. 76
228
Noções Fundamentais de Direito, pág. 99
229
Introdução..., pags. 76/77

133
e) Direito de retenção
De acordo com Domingos Pereira de Sousa o direito de retenção “consiste na
faculdaddee de que goza o credor, de em determinadas situações reter uma coisa
do seu devedor para o coagir a cumprir a sua obrigação”230.

A este respeito, José Dias Marques231 ensina-nos que «No normal desenvolvimento
da vida jurídica, pode suceder que uma certa coisa de certa pessoa venha a
encontrar-se em poder de um credor, existindo um nexo jurídico entre este crédito
e aquela detenção. Cruzam-se aqui duas relações creditórias interdependentes: uma
que tem por objecto a entrega da coisa certa, outra que tem por objecto a realização
de outra qualquer prestação, em regra pecuniária. (…) Ora, na hipótese de o dono
da coisa retirada não cumprir a sua obrigação, tal facto não deveria constituir, em
princípio, razão suficiente para que o detentor não lhe devolvesse a coisa em tempo
oportuno. Este entregar-lha-ia dirigindo-se depois aos tribunais para obter a tutela
judiciária (pública) do seu crédito insatisfeito. (…) A lei admite, porém, nalguns
casos, um certo desvio a esta aplicação rigorosa da regra da tutela púbica (Código
de Processo Civil, artigo 1.º) e consente que o credor insatisfeito retenha em seu
poder a coisa do devedor como meio de o coagir ao cumprimento da sua obrigação.
É o que se chama direito de retenção (Código Civil, artigo 754.º). Exemplo: A,
relojoeiro, detém o relógio de B, que lho entregou para consertar, enquanto não for
pago do preço do conserto».

O direito de retenção está previsto nos artigos 754 e seguintes do Código Civil.

X. ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA DE MOÇAMBIQUE


Como forma de saber como usar a tutela judicial, mostra-se importante
abordar o funcionamento dos tribunais.

III.1. Função dos Tribunais

Nos termos do artigo 212 da CRM os tribunais têm a função educacionais:


«Os tribunais educam os cidadãos e a administração pública no
cumprimento voluntário e consciente das leis, estabelecendo uma justa e
harmoniosa convivência social».
Noções Fundamentais de Direito, pág. 100
230

Introdução..., pags. 77/78


231

134
III.2. Objectivos dos Tribunais

Nos termos do nº 1 do artigo 211 da CRM, «Os tribunais têm como


objectivo garantir e reforçar a legalidade como factor da estabilidade
jurídica, garantir o respeito pelas leis, assegurar os direitos e liberdades dos
cidadãos, assim como os interesses jurídicos dos diferentes órgãos e
entidades com existência legal».

III.3. Divisão Judicial

Sobre a divisão judicial o artigo 25 da Lei 24/2007, na redaccao dada pela


Lei nº 24/2014, de 23 de Setembro, estabelece que:

«1. Divisão judicial do país é determinada por critérios que atendam


ao número de habitantes, ao volume e à natureza da procura da tutela
judicial, à aproximação da justiça ao cidadão e às necessidades do
sistema de administração da justiça.

2. A divisão judicial pode coincidir com a divisão


administrativa do país».
Nos termos do nº 1 do artigo 222 da CRM na República de Moçambique
existem os seguintes tribunais: O Tribunal Supremo; O Tribunal
Administrativo e os tribunais judiciais. Nos termos do nº 2 do mesmo
artigo «Podem existir tribunais administrativos, de trabalho, fiscais,
aduaneiros, marítimos, arbitrais e comunitários». O nº 6 do artigo 222 e o
artigo 223 prevêem a existência de tribunais militares.

Deve merecer especial atenção à última parte do nº 3 do artigo 224 da


CRM que estabelece que a lei pode prever a existência de um escalão de
tribunais entre os tribunais província e o Tribunal Supremo. Efectivamente,
a alínea b), nº 1 do artigo 29 da Lei nº 24/2007, criou os Tribunais
Superiores de Recurso e já estão em funcionamento.

III.3.3. Tribunal Supremo

No que concerne a definição, sede, composição, organização e


competências, ver os artigos 224 a 226 da CRM, os artigos 39 e seguintes
da Lei nº 24/2007, o Despacho de 29 de Novembro de 2006, do Vice

135
Presidente do Tribunal Supremo, Despacho de 8 de Maio de 8 de Maio de
2009, do Presidente do tribunal Supremo, Resolução nº 7/2006 do
Conselho Nacional da Função Pública.

III.3. 2. Tribunais Superiores de Recurso


No que concerne a definição, sede, composição, organização e
competências, ver os artigos 58 e seguintes da Lei nº 24/2007, Despacho
29 de Outubro de 2010 do Presidente do Tribunal Supremo

III.3. 3. Tribunais Judiciais de Província


No que concerne a definição, sede, composição, organização e
competências, ver os artigos 68 e seguintes da Lei nº 24/2007, Despacho
de 10 de Abril de 2009, do Presidente do Tribunal Supremo, Resolução nº
1/2009, do Tribunal Supremo, Despacho de 28 de Maio de 2004, do
Presidente do Tribunal Supremo, Decreto nº 53/2005, de 22 de Dezembro,
Resolução nº 7/2006 do Conselho Nacional da Função Pública, Decreto nº
59/2003 de 24 de Dezembro.

III.3. 4. Tribunais Judicias de Distrito

No que concerne a definição, sede, composição, organização e


competências, ver os artigos 78 e seguintes da Lei nº 27/2007, Decreto nº
59/2003, Despacho de 27 de Fevereiro de 2003, do Presidente do Tribunal
Supremo, Resolução nº 1/2009 do Tribunal Supremo, Despacho de 10 de
Abril de 2009, do Presidente do Tribunal Supremo.

III.3. 5. Tribunal Administrativo


No que concerne a definição, sede, composição, organização e
competências, ver, a Lei nº 7/2015 de 6 de Outubro de 2015: Altera e
republica a Lei nº 24/2013, de 1 de Novembro, que aprova a Lei Orgânica da
Jurisdição Administrativa.

III.3. 6. Tribunais Administrativos


No que concerne a definição, sede, composição, organização e
competências, ver a Lei nº 7/2015 de 6 de Outubro de 2015: Altera e
republica a Lei nº 24/2013, de 1 de Novembro, que aprova a Lei Orgânica
da Jurisdição Administrativa.

136
III.3. 7. Tribunais Fiscais
No que concerne a definição, sede, composição, organização e
competências, ver a Lei nº 7/2015 de 6 de Outubro de 2015: Altera e
republica a Lei nº 24/2013, de 1 de Novembro, que aprova a Lei Orgânica
da Jurisdição Administrativa., Lei nº 10/2001, Decreto nº 17/2004,
Despacho de 28 de Março de 2007, do Presidente do Tribunal
Administrativo, Decreto nº 58/2003.

III.3. 8. Tribunais Aduaneiros


No que concerne a definição, sede, composição, organização e
competências, ver a Lei nº 7/2015 de 6 de Outubro de 2015: Altera e
republica a Lei nº 24/2013, de 1 de Novembro, que aprova a Lei Orgânica
da Jurisdição Administrativa., Lei nº 2/2004, Decreto nº 48/2005,
Despacho de 24 de Outubro de 2008, do Presidente do Tribunal
Administrativo.

III.3. 9. Tribunais marítimos


No que concerne a definição, sede, composição, organização e
competências, ver a Lei nº 5/96, de 4 de Janeiro.

III.3.10. Tribunais de trabalho

No que concerne à definição, composição, organização e competências dos


Tribunais de Trabalho, ver o nº 2 do artigo 223 da CRM e A Lei nº
10/2018, de 30 de Agosto (Lei sobre os Tribunais de Trabalho).

III.3. 11. Tribunais arbitrais

No que concerne a definição, sede, composição, organização e


competências, ver artigos 7, , 8 e 9 da Lei nº 24/2007, Lei nº 11/99, de 8 de
Julho.

+++FALAR DAS SECCOES ARBITRAIS NOS TRIBUNAIS +++

III.3.12. Tribunais comunitários

137
No que concerne a definição, sede, composição, organização e
competências ver o artigo 5 da Lei nº 24/2007, de 20 de Agosto; Lei nº
4/92, de 6 de Maio.

III.3.13. Tribunais militares

O artigo 223 da CRM estabelece que «Durante a vigência do estado de


guerra são constituídos tribunais militares com competência para o
julgamento de crimes de natureza estritamente militar».

III.4. Competência dos Tribunais

A competência dos tribunais varia em razão da matéria, do território, do


valor ou da hierarquia. Geralmente, os juízes antes do início do julgamento
de um determinado processo costuma aferir a competência do tribunal para
apreciar o caso submetido a julgamento. Os outros intervenientes
processuais (Magistrado do ministério Público e Advogado) podem alegar
a incompetência do tribunal para apreciar certo caso.

III.4. 1. Competência em razão da matéria


Existem determinadas matérias que só é competente o Tribunal Supremo.
Outras matérias são da competência do Tribunal Administrativo e tribunais
administrativos, dos tribunais fiscais, dos tribunais aduaneiros, dos
tribunais militares etc.

Se um tribunal não tem competência para apreciar determinada matéria


diz-se incompetente em razão da matéria.

III.4.2. Competência em razão do território

Os Tribunais Superiores de Recurso, Tribunais Judiciais de Província e


tribunais judiciais de distrito tem as suas competências circunscritas num
determinado território (região, província ou distrito).

Em princípio, o Tribunal Judicial de Sofala não pode julgar um crime


cometido em Nampula. O Tribunal Judicial Distrital de Vilanculos não
pode julgar um crime cometido em Massinga.

138
Se um tribunal não tem competência para apreciar certos assuntos em
razão do território diz-se incompetente em razão do território.

III.4.3. Competência em razão do Valor (Alçada)

A lei determina a alçada dos tribunais judiciais de distrito. Por exemplo,


nos termos da alínea b), nº 1 do artigo 84 da Lei nº 24/2007, estabelece
que, em matéria cível, o tribunal judicial de distrito de 1ª classe
funcionando em primeira instância, compete julgar acções cujo valor não
exceda cem vezes o salário mínimo nacional.

Se um tribunal não tem competência para apreciar certa matéria em razão


do valor diz-se incompetente em razão do valor.

Sobre as alçadas o artigo 38 da Lei nº 24/2007, estabelece que:

«1. Em matéria cível a alçada dos tribunais judiciais de província é


de valor equivalente a cinquenta vezes o salário mínimo nacional e a
dos tribunais judiciais de distrito, de 1ª e 2ª classes, é de vinte e
cinco e dez vezes o salário mínimo, respectivamente.

2. Em matéria criminal não há alçada, sem prejuízo das disposições


relativa ao recurso».

O artigo 118 da Lei nº 24/2007, para efeitos desta lei, o salário mínimo
nacional é o que vigora na Função Pública.

Alçada é o limite dentro do qual um tribunal julga definitivamente sem


possibilidade de recurso aos tribunais superiores.

III.4.4. Competência em razão da Hierarquia

Os processos judiciais cíveis e ou criminais que envolvem certas


individualidades (Deputados, Presidente da República, Juízes do Tribunal
Supremo, do Tribunal Administrativo, etc.) só podem ser apreciados pelo
Tribunal Supremo.

Um processo cível que envolve, por exemplo, em deputado e um


comerciante de factos ocorridos em no Distrito de Songo deve ser

139
apreciado no Tribunal Supremo e não do tribunal judicial do distrito do
Songo ou no tribunal judicial da província de Tete.

O tribunal que não tem competência em razão da hierarquia diz


incompetente em razão da hierarquia.

III.5. Recursos

III.5.1. Generalidades sobre os recursos

Caso um tribunal inferior profira uma decisão (Acórdão ou despacho) as


partes, dentro dos limites da lei, podem recorrer ao tribunal
hierarquicamente superior ao que proferiu a decisão. Nos termos do nº 1 do
artigo 678 do Código de Processo Civil «Só admitem recurso ordinário as
decisões proferidas em causas de valor superior à alçada do tribunal a que
se recorre».

A decisão final de um tribunal singular (com apenas um juiz) chama-se


sentença.

A decisão final de um tribunal colegial (com mais de um juiz: juri) chama-


se acórdão.

O recurso é interposto no tribunal que proferiu a decisão.

A matéria dos recursos está regulada no artigo 356 e artigos 451 e


seguintes do Código de Processo Penal; 676 e seguintes do Código de
Processo Civil, e na legislação que regula a organização e funcionamento
dos tribunais.

III.5.2. Recursos nos diferentes tribunais

Recurso nos tribunais judiciais

 Das decisões dos tribunais judiciais de distrito cabe recurso ao


tribunal provincial onde se localiza o tribunal distrital (O processo
quando chega no tribunal provincial é encaminhado para uma das
suas secções);

140
 Das decisões das Secções do Tribunal judicial de província cabe
recurso ao tribunal Superior de Recurso;
 Das decisões dos Tribunais Superiores de Recurso cabe recurso a
uma das secções do Tribunal Supremo;
 Das decisões da secção do Tribunal Supremo cabe recurso ao
Plenário do Tribunal Supremo;
 Das decisões do Plenário do Tribunal Supremo não há recurso
ordinário.

Recurso nos tribunais marítimos

 Das decisões dos tribunais marítimos (ou dos tribunais judiciais,


enquanto não forem implantados os tribunais marítimos) cabe
recurso à Secção do Tribunal Supremo;
 Das decisões da secção do Tribunal Supremo cabe recurso ao
Plenário do Tribunal Supremo;
 Das decisões do Plenário do Tribunal Supremo não há recurso
ordinário.

Recurso nos tribunais administrativos

 Das decisões dos tribunais administrativos de cada província e da


cidade de Maputo cabe recurso às Secções do Tribunal
Administrativo;
 Das decisões das secções do Tribunal Administrativo cabe recurso
ao Plenário do Tribunal Administrativo;
 Das decisões do Plenário do Tribunal Administrativo não há recurso
ordinário.

Recurso nos tribunais fiscais

 Das decisões dos tribunais ficais de cada província e da Cidade de


Maputo, cabe recurso a Segunda Secção do Tribunal Administrativo
(Secção do Contencioso Fiscal e Aduaneiro);

141
 Das Decisões da Secção do Contencioso Aduaneiro e Fiscal do
Tribunal Administrativo cabe recurso ao Plenário do Tribunal
Administrativo
 Das decisões do Plenário do Tribunal Administrativo não há recurso
ordinário.
Recurso nos tribunais aduaneiros

 Das decisões dos tribunais aduaneiros de cada província ou Cidade


de Maputo, cabe recurso a Segunda Secção do Tribunal
Administrativo (Secção do Contencioso Fiscal e Aduaneiro);
 Das Decisões da Secção do Contencioso Aduaneiro e Fiscal do
Tribunal Administrativo cabe recurso ao Plenário do Tribunal
Administrativo
 Das decisões do Plenário do Tribunal Administrativo não há recurso
ordinário.

PERGUNTAS DE CONSOLIDAÇÃO E QUESTÕES PARA REFLEXÃO


XV

1. Que meios de tutela jurídica estão previstos nos artigos 70 e 80 da


Constituição da República? Justifique a sua resposta.
2. Explique o que é legítima defesa alheia e dê um exemplo.
3. Caracterize a tutela judicial, devendo indicar artigo(s) da Constituição
que consagra(m) este meio de tutela jurídica.

JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL

Para além dos tribunais o Conselho Constitucional tutela os interesses das pessoas.

+++ACRESCENTAR O CONSELHO CONSTITUCIONAL++

De acordo com o Breve Historial do Conselho constitucional, publicado no site 232 deste órgao “O
Conselho Constitucional foi criado pela Constituição de 1990, fazendo-o constar do elenco dos
Órgãos do Estado e de soberania e definindo-o como órgão de competência especializada no
domínio das questões jurídico-constitucionais. […] As suas competências eram, entre outras,
apreciar e declarar a inconstitucionalidade e a ilegalidade dos actos legislativos e normativos dos
232
http://www.cconstitucional.org.mz/O-Conselho/Breve-Historial (acesso em 26/2/2020)

142
órgãos do Estado; dirimir conflitos de competência entre os órgãos de soberania e pronunciar-se
sobre a legalidade dos referendos. […]No domínio específico das eleições, cabia ainda ao
Conselho Constitucional a supervisão do processo eleitoral; a verificação dos requisitos legais
exigidos para as candidaturas a Presidente da República; a apreciação, em última instância, das
reclamações eleitorais; e a validação e proclamação dos resultados finais do processo eleitoral.
[…]Apesar da sua criação pela Constituição de 1990, o Conselho iniciou as suas funções apenas
em finais de 2003. Em 2004, uma nova Constituição da República é aprovada tendo entrado em
vigor a 21 de Janeiro de 2005, a qual veio introduzir uma nova concepção do órgão alargando as
suas suas competências”.

No site233 do conselho Constitucional podemos ler que “A Constituição da República de


Moçambique define o Conselho Constitucional como órgão de soberania ao qual compete
especialmente administrar a justiça em matérias de natureza jurídico-constitucional. […]Criado
pela Constituição de 1990, as suas funções foram transitoriamente exercidas pelo Tribunal
Supremo até 3 de Novembro de 2003, data em que o Conselho Constitucional passou a existir
como instituição autónoma. […]A natureza e atribuições fixadas por lei ao Conselho
Constitucional, designadamente a apreciação e declaração da inconstitucionalidade das leis e a
ilegalidade dos actos normativos dos órgãos do Estado, contencioso eleitoral e da legalidade da
constituição dos partidos políticos, suas coligações e respectivas denominações, siglas e
símbolos, conferem ao Conselho Constitucional um papel de relevo na consolidação do Estado
de Direito Democrático em Moçambique”.

FONTES DO DIREITO

1. Noção de Fontes de Direito

A expressão Fontes de Direito comporta vários sentidos.

Para João de Castro Mendes234«Podemos à expressão fonte do direito fixar cinco


acepções ou sentidos principais:

233
http://www.cconstitucional.org.mz/O-Conselho/Apresentacao (acesso em 26/2/2020)
Introdução ao Estudo do Direito, págs. 79/80
234

143
-Sentido filosófico (ou metafísico): fundamento da obrigatoriedade da norma
jurídica (seja entendido como a vontade do Estado ou a justiça, ou noutra posição
jurisfilosófica diversa).

-Sentido sociológico (habitualmente chamado material): factor que provocou o


aparecimento da norma e condicionou o seu conteúdo concreto.

-Sentido político: órgãos de onde emanam as normas jurídicas.

-Sentido técnico jurídico ou formal: modos de formação e de revelação das


normas jurídicas. São tradicionalmente reduzidas a quatro: A lei e o costume são
primariamente modos de formação (fontes jurisessendi), a jurisprudência e a
doutrina de revelação (fontes juriscognosciendi) das normas jurídicas.

-Sentido material ou instrumental: textos ou diplomas que contêm normas


jurídicas».

José de Oliveira Ascensão235 entende que a expressão Fontes do Direito pode-se


falar nos seguintes sentidos: histórico, instrumental, sociológico, orgânico e
técnico jurídico:

« (…) histórico. Têm-se em atenção as origens históricas dum sistema e as


influências que sobre ele se exerceram. Assim se dirá que o Direito Romano é
fonte do nosso direito.

(…) orgânico. São os órgãos que estão incumbidos da produção das normas
jurídicas. Serão fontes do direito uma autarquia local, uma assembleia legislativa,
um tirano...»

Diogo Freitas do Amaral236 identifica sentidos extra-jurídicos e jurídicos da


expressão Fontes do Direito. São sentidos extra jurídicos o sentido cultural (o
Direito é um fenómeno cultural); sentido histórico; sentido económico social
(muitas normas jurídicas têm como causa factores de ordem económico-social);
sentido político (as transformações políticas operam transformações jurídicas). São
Introdução …, págs. 229 /230
235

Manual...págs. 344 a 351


236

144
sentidos jurídicos o sentido consuetudinário (os costumes, os usos e as praxes
influenciam o legislador, os tribunais e a doutrina); sentido legislativo externo (às
vezes a normas jurídicas de um país são retirado de outro ou outros ordenamentos
jurídicos); sentido legislativo interno (legislação anterior pode influenciar
legislação nova; há ramos do Direito que influenciam outros ramos do Direito);
Sentido orgânico-institucional; sentido orgânico-individual; sentido autoral (as
normas jurídicas têm um ou vários autores que estudaram e elaboraram os
respectivos projectos); sentido doutrinal (os escritos teóricos e teóricos práticos
publicados dos docentes, investigadores e especialistas do Direito influenciam o
legislador a aprovar normas jurídicas); sentido jurisprudencial (a jurisprudência
pode influenciar o legislador a produzir normas); sentido jurídico textual; Sentido
jurídico-forma.

Vamos apenas nos concentrar nas Fontes do Direito no sentido técnico jurídico,
que, como sabemos, é o modo de formação ou revelação das normas jurídicas.

2. Principais Fontes de Direito

A organização das Fontes de Direito não é igual nos diferentes ordenamentos


jurídicos. Mas existem aquelas fontes chamadas tradicionais que todos os
ordenamentos jurídicos aceitam, isto é, aquelas fontes que predominantemente são
aceites em todos os sistemas jurídicos, embora com predominância de algumas
sobre as outras. São elas:

 A lei;
 O Costume;
 A Jurisprudência;
 A Doutrina;
 Princípios Gerais do Direito;
 Equidade.

No nosso País as Fontes de Direito reconhecidas pelo nosso Direito São:

 A lei;
 Os Assentos do Tribunal Supremo; e os

145
 Princípios Gerais do Direito.

Pela leitura dos artigos 1 a 4 do Código Civil deixa claro que o Direito
moçambicano não reconhece o Costume como fonte primária de Direito, ou seja, o
Costume é fonte de Direito se a lei permitir. A Equidade é usada nos casos
previstos na lei ou por acordo das partes em litígio.

3. - Classificação das Fontes de Direito

As Fontes de Direito classificam-se em imediatas ou directas e mediatas ou


indirectas.

3.1.Fontes imediatas ou directas – são as leis dos órgãos estaduais (Assembleia


da República, Conselho de Ministros), diplomas ministeriais, regulamentos,
decretos presidenciais, etc. São também fontes imediatas ou directas as normas dos
órgãos autárquicos.

3.2.Fontes mediatas ou indirectas – são o costume, os Assentos, os Princípios


Gerais do Direito e a Equidade.

3.3.Fontes tradicionais são a Lei, o Costume, Jurisprudência e a Doutrina.

3.4.Fontes modernas os Princípios Gerais do Direito e os Assentos.

Quando se fala de Fontes de Direito não se refere apenas as fontes tradicionais mas
também as fontes modernas.

146
a) Lei
Lei é toda a disposição normativa emanada de um órgão do Estado

Pela sua importância como principal Fonte de Direito, será tratada com
pormenores num capítulo a parte.

b) Costume
É uma prática reiterada de conduta (social) acompanhada de convicção de
obrigatoriedade seguida por certos membros de uma sociedade fixados num espaço
e num certo tempo histórico.

Classificação do Costume

Diogo Freitas do Amaral237 classifica o Costume da seguinte maneira:

De acordo com o tipo de normas que criam, os costumes podem ser internacionais,
constitucionais, administrativos, penais, civis, comerciais, etc.

Pelo critério do respectivo âmbito territorial, os costumes podem ser


internacionais, nacionais, regionais e locais, institucionais.

Quanto às relações entre o costume e a lei, temos:

 Costumes Secundumlegem – são os que estão conforme a lei;


 Costumes Contra legem- são práticas consuetudinárias opostas ao estabelecido
na lei;
 Costumes Praeterlegem- são os que originam normas que dispõem sobre
matérias não reguladas na lei, servindo como meio de integração de lacunas.

Manual... págs. 375/376


237

147
Elementos do Costume

Diogo Freitas do Amaral238 identifica os seguintes elementos:

 Corpus – é a prática habitualmente seguida;


 Ânimos – é a convicção de que essa prática costumeira é imposta ou permitida
pelo Direito;
 Duração – é o período de tempo necessário para que o costume seja fonte de
Direito.

Distinção entre Costume e usos sociais

Para Diogo Freitas do Amaral239«O costume distingue-se dos meros usos, ou usos
sociais, porque nestes falta o elemento do animus – a convicção da obrigatoriedade
ou licitude de uma certa prática habitual. Mas, (…) se há usos sociais que não têm
qualquer relevância jurídica – por ex., o dever de cortesia que impõe que toda a
carta tenha resposta -, já outros usos sociais podem ser juridicamente relevantes
(obrigatórios, lícitos ou, simplesmente, atendíveis)».

Nos termos do nº 1 do artigo 3 do Código Civil “Os usos que não forem contrários
aos princípios da boa fé são juridicamente atendíveis quando a lei o determina”. O
nº 2 do artigo 13 da Lei nº 23/2007, de 1 de Agosto (Lei do Trabalho) dispõe que
“Consideram-se fontes de direito do trabalho os usos laborais de cada profissão,
sector de actividade ou empresa, que não forem contrários à lei e ao princípio da
boa fé, excepto se os sujeitos da relação individual ou colectiva de trabalho
convencionarem a sua inaplicabilidade”. Carlos Antunes e Outros 240 comentam
sobre os “usos” constantes do artigo 13 da Lei do Trabalho nos seguintes termos:
“Os usos da profissão e das empresas, não sendo verdadeiras fontes do Direito do
Trabalho (embora juslaboralistas os denomines de ´fontes mediatas´, por
contraposição às ´fontes imediatas´de Direito do Trabalho), são práticas que o nº 2
deste preceito manda atender desde que não contrariem as normas aplicáveias ao
contrato de trabalho e não sejam contrárias aos princípios da boa-fé, a não ser que
as partes, por escrito, as excluam. [...] Os usos laborais são, pois, práticas usuais e
constantes observadas no exercício de certas profissões, ou em certas empresas,
238
Manual..., pag. 373
239
Manual..., pag. 374
240
Lei do Trabalho de Moçambique Anotada, anotação ao artigo 13, pág. 47

148
sem que essa observância seja acompanhada da convicção da sua obrigatoriedade e
coercibilidade. [...] Note-se que quando a lei fala de ´usos laborais de cada
profissão, sectores de actividade ou empresa, se refere aos usos de certos sectores,
identificáveis por profissões, por actividade económica (empresas) ou a práticas de
uma empresa, em concreto”.

O artigo 4 da Lei da Família, sobre usos e costumes, dispõe que “1. No domínio
das relações intra e inter-familiares reconhecem-se e valorizam-se os usos e
costumes locais em tudo o que não contrarie a Constituição da República e a
presente Lei. [...]2. Na solução de conflitos familiares deve-se procurar buscar
orientação nos usos e costumes locais predominantes na organização sócio-familiar
em que os conflituantes estão integrados”.

Fundamento Jurídico do costume

Diogo Freitas do Amaral241 apresenta duas teorias que explicam o fundamento


jurídico do costume como fonte do Direito:

«a) Teoria estatista: o costume é juridicamente vinculativo apenas na medida em


que é querido como tal pela vontade do Estado-Nação (costumes nacionais) ou
pela vontade dos diferentes Estados (costumes internacionais);

b) Teoria pluralista: o costume é juridicamente vinculativo porque, e na medida em


que, é querido pela vontade do Povo (ou dos povos, ou da população local)».

b) Jurisprudência
É o conjunto de decisões tomadas pelos tribunais e outros órgãos 242 no julgamento
dos casos a si interpostos pelos interessados.

Nos termos do artigo 2 do Código Civil “nos casos declarados na lei, podem os
tribunais fixar, por meio de assentos, a doutrina com força obrigatória geral”.

A Jurisprudência reveste de forma de Assento quando proferida pelo Tribunal


Supremo (TS) e pressupõe:
Manual..., pags. 376/377
241

Como seja o Conselho Constitucional


242

149
 Existência de dois acórdãos contraditórios, proferidos em secções diferentes
(mas que tratam da mesma matéria, por e exemplo duas secções criminais)
do Tribunal Supremo ou por dois Tribunais Superiores de Apelação;
 Essa contradição diz respeito a mesma questão de Direito.
Quando isto acontece TS reúne-se em Plenário onde toma a sua decisão em forma
de Assento, uniformizando a Jurisprudência contraditória das secções em conflito
de entendimento. Nos termos da alínea a), do artigo 45 da Lei nº 24/2007, de 20 de
Agosto (Lei da Organização Judiciária), compete ao Plenário do TS, como tribunal
de segunda instância, «uniformizar a jurisprudência quando no domínio da mesma
legislação e sobre uma mesma questão fundamental de direito tenham sido
proferidas decisões contraditórias nas várias instâncias do Tribunal Supremo ou
nos tribunais superiores de apelação».

Os assentos estão também regulados nos artigos 763 a 770 do Código de Processo
Civil.243

Regra geral, em Moçambique a Jurisprudência não é Fonte de Direito porque o


Juiz julga de acordo com a lei e a sua consciência. A Jurisprudência tem carácter
persuasivo ou apelativo, não vinculando outros Juízes, salvo os Assentos.

c) Doutrina
Diogo Freitas do Amaral244 define Doutrina, como Fonte de Direito nos seguintes
termos: «conjunto das noções, teóricas e opiniões, formuladas por escrito pelos
teóricos da Ciência do Direito (“jurisperitos”), que dão a conhecer aos juristas
práticos, aos estudantes e aos cidadãos comuns o conteúdo e significado de um
certo ordenamento jurídico, e influencia os Poderes legislativo e judicial no
exercício das suas funções».

A Doutrina não é Fonte imediata de Direito, mas é fonte mediata ou indirecta.

d) Princípios Gerais do Direito

243
Para mais detalhes ver CARLOS PEDRO MONDLANE Código de Processo Civil Anotado e Comentado, 2ª
edição, páginas 41 e 786 a 793
244
Manual...,pag. 427

150
Diogo Freitas do Amaral245 define Princípios gerais de Direito como«as máximas
ou fórmulas, enunciadas de forma condensada, que exprimem as grandes
orientações e valores que caracterizam uma dada ordem jurídica, ou um certo ramo
ou subramo do Direito»

Determinam por si só a vida e a lógica do sistema jurídico.

Dentre os vários Princípios Gerias do Direito merecem destaque os seguintes:

i. Princípio da não retroactividade da lei: uma lei só se aplica aos casos que
se verificam depois da sua entrada em vigor;
ii. Princípio da derrogação da lei anterior pela lei posterior : a lei nova
afasta a aplicação da lei antiga, sendo que as duas leis são relativas à mesma
matéria;
iii. Princípio da Prescrição. Os direitos quando não exercidos dentro de
determinado tempo previsto na lei extinguem-se.

Para além dos Princípios Gerais do Direito aplicáveis a todos os ramos do Direito,
muitos ramos do Direito têm princípios jurídicos próprios.

Mais detalhes sobre os Princípios Gerais do Direito num dos capítulos.

e) Equidade

Para Ana Prata246 “Chama-se juízo de equidade aquele que o julgador formula para
resolver litígio de acordo com um critério de justiça sem recorrer a uma norma pré-
estabelecida. Julgar segundo a equidade significa, pois, dar a um conflito a solução
que se entende ser a mais justa, atendendo apenas às características da situação e
sem recurso a jorma jurídica eventualmente aplicável”.

De acordo com José Falcão e outros as “normas jurídicas, gerais e abstractas, são
elaboradas com vista a regular sutuações da vida consideradas como tipo; por isso,
acontece por vezes que a norma, abstractamente justa para o tipo de casos que
prevê, se revela pouco adequada ou até injusta quqndo aplicada a um caso concreto

Manual...,pag. 499
245

Dicionário Jurídico
246

151
determinado, mercê de circnstâncias particulares que ele porventura apresente. [...]
Ora, a função da equidade traduz-se em o juiz tomar na devida consideração a
circunstâncias especiais de cada caso concreto, e não aplicar a norma geral na sua
rigidez e inflexibilidade”247.

José Falcão e outros terminam a bordagem dizendo que “não poderá a equidade ser
consierada como uma verdadeira fonte de direito (fonte indirecta), pois a força
vinculativa advém-lhe da lei, que define os termos e limtes em que se pode recorrer
à equidade e os termos da sua obrogatoriedade”248.

Nos termos do artigo 4 do Código Civil “Os tribunais só podem resolver segundo a
equidade: [...] a) Quando haja disposição legal que o permita; [...] b) Quando haja
acordo das partes e a relação jurídica não seja indisponível; [...] c) Quando as
partes tenham previamente convencionado o recurso à equidade, nos termos
aplicáveis à cláusula compromissória”.

PERGUNTAS DE CONSOLIDAÇÃO E QUESTÕES PARA REFLEXÃO

1. Apresente os vários sentidos da expressão “Fontes de Direito”


2. Indique as Fontes de Direito que conhece.
3. Define o costume secundumlegem.
4. Fale da Jurisprudência, não se esquecendo de falar dos Assentos.
5. Como se chama o conjunto de opiniões, pareceres ou pontos de vista de
juristas sobre o Direito?
6. Fale da relação entre a lei e o costume, não se esquecendo de dar exemplos.
Responda, no mínimo, em 10 linhas.

LEI

FALCÃO, José, e outros. Noções Gerais de Direito, pág. 63


247

Op. Cit, pág. 64


248

152
A Palavra lei comporta vários significados, fora do âmbito do Direito e dentro do
âmbito do Direito.

Fora do âmbito do Direito (Fora do âmbito jurídico) a palavra lei significa


princípio ou princípios que regem todos os seres; relações necessárias que derivam
da natureza das coisas; cada uma das regras a que estão sujeitos os fenómenos da
natureza. É comum falar-se de lei da atracção, lei da gravidade, etc.

Dentro do âmbito ético (âmbito do dever ser) a lei abarca quaisquer espécies de
regras da sociedade (leis jurídicas, leis morais, leis religiosas, leis de trato social,
leis costumeiras, etc.).

Dentro do âmbito jurídico otermolei tem vários significados:

-Lei significa Fonte de Direito. É o modo de formação, revelação e aquisição de


eficácia das normas jurídicas.

-Lei significa toda a disposição normativa emanada de um órgão do Estado. Este


significado que está consagrado no nº 2 do artigo 1 do Código Civil: «Consideram-
se leis todas as disposições genéricas provindas de órgãos estaduais competentes
(...)».

-Lei significa aquela que é aprovada pela Assembleia da República, ou seja, aquela
aprovada por uma assembleia legislativa.

Nos termos do artigo 6 do Código Civil «A ignorância ou má interpretação da lei


não justifica a falta do seu cumprimento nem isenta as pessoas das sanções nela
estabelecidas».

Vamos abordar a lei como Fonte de Direito.

1. Espécies de Leis

Podemos identificar várias espécies de leis.

a) Lei em sentido formal (Lei ordinária) – é a que provêm do órgão do Estado


que detêm a competência Legislativa, segundo as regras estabelecidas no seu
153
regimento e sancionada pelo Chefe do Estado. Actualmente em Moçambique as
leis em sentido formal são as que emanam da Assembleia da República (AR). Mas
a AR, nos termos do nº 3 do artigo 178 da CRM, pode autorizar o Governo a
legislar aprovando decretos-lei.

b) Lei em sentido material – são todas as espécies de leis incluindo as leis em


sentido formal: Constituição, Leis da autoria da Assembleia da República (leis
propriamente ditas), leis que alteram a Constituição (leis constitucionais), os
Decretos do Conselho de Ministros, os Decretos presidenciais, Diplomas
ministeriais, etc.

São leis em sentido material porque não só variam os órgãos da sua proveniência
mas também o seu conteúdo ou matéria varia, isto é, não regulam a mesma
matéria.

 Lei geral
Maria Helena Diniz249 dá várias definições da Lei Geral«a)Lei promulgada para
reger genericamente um ramo jurídico, como ocorre com a consolidada ou
codificada; b) aquela que institui o regime-regra da relação jurídica por ela
disciplinada; c) lei comum aplicável, em sua generalidade, a todas as pessoas sem
qualquer distinção. É aquela que se aplica indistidamente a pessoas, bens, etc.,
contrapondo-se à lei especial, que diz respeito a uma categoria de pessoas ou
bens».

 Lei especial
Maria Helena Diniz250 define lei especial da seguinte maneira: «É a que se ocupa
somente de alguns institutos jurídicos, de pessoas que ocupam certa posição ou
cargo, ou determinadas matérias, dando-lhes tratamento diverso».

Dicionário Jurídico, Vol. 3, pág. 91


249

Dicionário Jurídico, Vol. 3, pág. 90


250

154
 Lei excepcional
Para Maria Helena Diniz251 lei excepcional «É a que visa disciplinar alguma
situação anômala, como epidemia, guerra, revolução, cataclisma, calamidade
pública, tendo duração ou vigência temporária, uma vez que é aplicada apenas
durante o período de emergência».

Relação entre a Lei geral, especial e excepcional

Em matéria laboral (trabalho) podemos dizer que a Lei nº 23/2007 (Lei do


Trabalho) é lei Geral. A alínea a), nº 3 do artigo 2 da Lei nº 27/2007, de 1 de
Agosto (Lei do Trabalho) estabelece que as relações jurídicas de trabalhos dos
funcionários do Estado serão regulados pela legislação específica. A Lei nº
10/2017, de 1 de Agosto que aprova o Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes
do Estado é lei especial em relação à lei do trabalho. Por outro lado, a alínea a), nº
1 do artigo 3 da Lei nº 23/2007, estabelece que o trabalho doméstico será regido
por legislação especial. O Decreto nº 40/2008, de 26 de Novembro, que aprova o
Regulamento do Trabalho Doméstico, é lei especial em relação à Lei do Trabalho.
Nos termos do nº 3 do artigo 7 do Código Civil, «A lei geral não revoga a lei
especial, excepto se outra for a intenção inequívoca do legislador». Contudo,
costuma se dizer que a Lei especial afasta (“revoga”) a Lei geral porque, por
exemplo, em matéria de trabalho relativamente ao trabalhador da função pública
primeiro temos de consultar o Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do
Estado e, em caso de lacunas, podemos nos socorrer com a lei do Trabalho que é a
lei geral. Ou seja, uma questão que tenha uma lei especial deve primeiro ser tratado
com base nesta lei e só em caso de lacunas da lei especial é que podemos recorrer à
lei geral.

Dependendo das circunstâncias uma lei que em relação a outra lei é especial na
relação com as outras leis pode ser considerada geral. Ou seja, dissemos que o
Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado é lei especial em relação à
Lei do Trabalho, mas o Estatuto Geral dos Funcionários do Estado é lei geral em
relação ao Estatuto do Professor (Resolução nº 4/90, de 27 de Junho, do Conselho
Dicionário Jurídico, Vol. 3, pág. 91
251

155
Nacional da Função Pública), Estatuto dos Magistrados Judiciais (aprovado pela
Lei nº 7/2009, de 11 de Março), Estatuto dos Magistrados do Ministério Público
(aprovado pela Lei nº 4/2017, de 18 de Janeiro), e outros estatutos que regem
funcionários e ou agentes do Estado. Ou seja, se estamos perante uma questão de
trabalho de um Juiz (Magistrado Judicial) primeiro temos de consultar o Estatuto
dos Magistrados Judiciais, subsidiariamente o Estatuto dos Funcionários e Agentes
do Estado e caso a lacuna persiste podemos recorrer à Lei do Trabalho.

Também se diz alei excepcional afasta as leis geral e especial.

 Leis de valor reforçado


Para melhor compreensão, abordaremos este tema depois de falarmos a
hierarquia das leis.

 Leis avulsas (extravagantes)


Diogo Freitas do Amaral252 apresenta a seguinte noção de leis avulsas
(antigamente chamadas extravagantes): «leis que, normalmente de extensão
reduzida, regulam uma matéria delimitada e circunscrita, sem grandes
preocupações de apuro científico, e sem designação formal de código».

Para Ana Prata253«Designa-se por lei avulsa ou extravagante o diploma que vem
regular uma matéria que deveria estar, ou estava, integrada num Código, mas
cuja potencial frequente alterabilidade aconselha a sua regulação em diploma
autónomo».

Maria Helena Diniz254 define lei extravagante como «Lei esparsa, ou seja,
editada isoladamente(...). Em regra, advém após a promulgação de um código,
para completá-lo ou para revogar alguns de seus preceitos relativos à matéria
que a ele diz respeito».

Para explicar o conceito de lei extravagante podemos dar como exemplo o


antigo Código Penal. Depois da sua aprovação, em 1886, foram sendo
252
Manual de Introdução ao Direito, vol. I, pág. 404
253
Dicionário Jurídico, vol. I, pág. 864
254
Dicionário Jurídico, Vol. 3, pág. 91

156
aprovadas várias leis (leis extravagantes) que alteram o antigo Código Penal, é
o caso da Lei nº 5/99 de 2 de Fevereiro, Lei nº 8/2002, de 5 de Fevereiro e
outras. Também foram aprovadas várias leis (leis extravagantes) que
complementam o antigo Código Penal é o caso da Lei nº 1/79; Lei nº 9/87,
sobre os crimes contra a Economia; Lei nº 17/87, sobre os Crimes Militares;
artigos 41 e seguintes da Lei de Imprensa (Lei nº 18/91) que regulam sobre os
crimes de abuso à liberdade de imprensa, imprensa clandestina.

 Lei consolidada (consolidação da lei)


Lei consolidada é aquela cujas alterações são inseridas no lugar próprio
publicando-os um texto com as alterações e, em anexo, outro texto integral da
lei.

Nos termos do artigo 304 da CRM«1. As alterações da Constituição são


inseridas no lugar próprio, mediante as substituições, as supressões e os
aditamentos necessários. […] 2. A Constituição, no seu novo texto, é publicada
conjuntamente com a lei de revisão».

O artigo 304 da CRM deixa claro que se a CRM for alterada deve-se publicar
uma lei com as alterações da CRM e, em anexo, um texto da Constituição
consolidada.

Há países, como Brasil, que impõe que uma lei basta sofrer cinco alterações
deve ser consolidada. No parlamento brasileiro existe uma Comissão
Parlamentar encarregue de fazer a consolidação das leis.

A consolidação das leis visa tornar fácil a consulta de uma lei que tenha sofrido
alterações.

Tem sido comum alguns Juristas publicarem, em livro, algumas leis por eles
consolidadas.

 Leis codificadas (códigos)

157
Diogo Freitas do Amaral255 define Códigos como «as leis de grande ou média
extensão, que regulam todo um ramo do direito ou uma parte importante dele,
de modo cientificamente estruturado, e com a designação formal de código».

Voltaremos a tratar desta matéria no capítulo da Codificação.

2. Regime Jurídico da Lei em Moçambique ou Processo Legislativo

Nesta parte vamos, apenas tratar da Lei em sentido formal, ou seja, da lei aprovada
pela Assembleia da República. O estudo do regime jurídico da Lei implica o
estudo do processo de elaboração da Lei. Este processo está consagrado na CRM,
no Regimento da Assembleia da República (RAR),aprovado pela Lei n°
13/2014, de 17 de Junho, alterada e republicada pela Lei n° 12/2016,de 30 de
Dezembro, no Código Civil e na Lei sobre a VacatioLegis.O Processo Legislativo
compreende as seguintes fases:

1ª fase: Concepção ou apresentação do texto de lei

A designação varia conforme quem apresenta. Nos termos nº 1 do artigo 120 do


Regimento da Assembleia da Repúblicas, as iniciativas de lei dos deputados e
órgãos da AR são Projectos de lei. Nos termos do nº 2 do artigo 120 do
Regimento da Assembleia da República, as iniciativas de lei do Presidente da
República e do Governo são propostas de lei. Ou seja, os órgãos externos à AR
apresentam propostas de lei e os órgãos da AR apresentam projectos de lei.

As entidades ou órgãos com iniciativa de lei constam do artigo 182, nº 1 da CRM,


designadamente, os deputados, as Bancadas Parlamentares, as Comissões da AR,
ao Presidente da República, e ao Governo.

Nesta questão de iniciativa de lei, merece atenção especial o estabelecido no nº 2


do artigo 182 da CRM, nos termos da qual «Os deputados e as bancadas
parlamentares não podem apresentar projecto de lei que envolva, directa ou

Manual..., pág. 405


255

158
indirectamente, o aumento de despesas ou a diminuição das receitas do Estado, ou
que modifique, por qualquer modo, o ano económico em curso».

Há países como Portugal, Brasil e outros que os cidadãos têm iniciativa de lei, é a
chamada iniciativa popular.

Há pessoa que defendem que no nosso país os cidadãos deviam ter iniciativa de
Lei, ou seja terem a faculdade de apresentar uma proposta de lei à AR. Os cidadãos
têm os seus representantes (os deputados da AR) e tem um Governo. Se os
cidadãos têm uma iniciativa de lei podem contactar as entidades com iniciativa de
Lei para estas apresentarem esta iniciativa. Aliais, isto já aconteceu com os
projectos de Lei Contra a Violência Doméstica, Lei da Defesa do Consumidor, Lei
que regula o acesso de menores a clubes nocturnos e a Lei do Direito à
Informação. Os anteprojectos destas leis foram elaborados por organizações da
sociedade civil e depois foram encaminhados à AR para este órgão adoptar como
sua iniciativa. O importante não é os cidadãos terem iniciativa de Lei mas sim
terem ideias que sejam transformáveis em Lei. Isto porque mesmo as entidades
com iniciativa de lei já viram os seus projectos ou propostas não se transformarem
em Lei. Por outro lado, nos países, como Portugal, em que os cidadãos têm
iniciativa de lei ela é pouco exercida pelos cidadãos.

2ª fase: Apreciação e aprovação na generalidade

A apreciação e aprovação na generalidade é feita pelo Plenário da Assembleia da


República, constituído por todos os 250 deputados que compõem a AR.

Nos termos do nº 1 do artigo 128 do Regimento da Assembleia da República, o


debate na generalidade incide sobre os princípios fundamentais (debate-se se a
iniciativa de lei é ou não oportuna, tem ou não mérito, etc.) e a sistemática do
projecto ou da proposta de lei.

Nos termos do nº 2 do artigo 128 do Regimento da AR, concluído o debate na


generalidade, procede-se a votação para passar ao debate na especialidade. A
votação pode determinar que o projecto ou proposta seja rejeitada e não passa para
o debate na especialidade.

159
3ª fase: Apreciação e aprovação na especialidade

Antigamente o debate e aprovação na especialidade ocorria, também, no Plenário.


Mas o Regimento da AR aprovado em 2001 passou a estabelecer que o debate na
especialidade ocorre, regra geral, nas comissões de trabalho da AR.

Nos termos do nº 1 do artigo 129 do Regimento da AR, o debate na especialidade


é feita na Comissão responsável pela apresentação do parecer e, havendo mais que
uma Comissão, o Presidente da AR indica aquela que coordena os trabalhos de
harmonização prévia antes do reenvio ao Plenário.

Nos termos do nº 2 do artigo 129 do Regimento da AR o debate na especialidade


consiste na discussão artigo por artigo, alínea por alínea ou número por número,
seguindo-se a votação. Se neste debate não há consenso entre os deputados recorre-
se à votação da matéria que não colhe consenso.

Nos termos do nº 6 do artigo 129 do Regimento o debate é concluído na Comissão


com a votação, enviando-se o projecto ou proposta ao Plenário com o relatório do
debate e os resultados da votação final.

4ª fase: votação final global

De acordo com o previsto no nº 1 do artigo 135 do Regimento da AR, depois de o


texto global ter sido votado favoravelmente na especialidade, o Presidente da AR
submete-o ao Plenário para a votação definitiva. O nº 2 deste mesmo artigo,
estipula que a votação final não é precedida de debate, podendo cada bancada
apresentar uma declaração de voto.

Nos termos do artigo 136 do Regimento da AR caso haja empate na votação, a


questão é levada novamente a debate passadas 48 horas e por um dia de sessão
apenas, e caso se verifique segundo empate na votação o projecto ou proposta de
lei considera-se rejeitada.

5ª fase: Promulgação
160
Uma vez aprovada a lei pelo Plenário da AR, o Presidente da AR, nos termos do
artig 140 do RAR, assina e envia ao Presidente da República para assinar a lei e
ordenar que essa lei vá à publicação no Boletim da República. A Promulgação é
um acto solene na qual o Presidente da República assina a lei e manda à Imprensa
Nacional de Moçambique para publicação no Boletim da República. Nos termos
do artigo 138 do Regimento da AR, o Presidente da República pode vetar a lei,
por mensagem fundamentada, devolvê-la para reexame pela Assembleia da
República. Por outro lado, nos termos do artigo 245 da CRM o PR antes de
promulgar a lei pode remeter ao Conselho Constitucional para apreciação
preventiva da constitucionalidade. Se o Conselho Constitucional declarar a lei
inconstitucional o PR não assina a lei e devolve à AR justificando porque é que
não promulgou. Nos termos do artigo 141 do Regimento da AR, recebida na AR a
lei devolvida pelo PR o Presidente da AR remete às Comissões competentes para
procederem o reexame antes do reexame pelo Plenário. O artigo 144 do Regimento
da AR estabelece que se a lei reexaminada for aprovada por maioria de dois terços,
o Presidente da República deve promulgar a lei e mandar publicar.

6ª fase: Publicação

É o acto jurídico pelo qual se leva a lei ao conhecimento da sociedade, dos


cidadãos, dos destinatários de uma determinada lei. A publicação deve ser feita no
Jornal Oficial do Governo, isto é, no Boletim da República (BR). Os outros
jornais em circulação no país (Noticias, O País, Savana, Domingo, Zambeze, etc.)
podem apresentar o texto de uma lei, mas essa presentação não se considera
publicação da lei. Se a lei não aprece no Boletim da República, a lei não se
considera publicada. Nos termos do nº 1 do artigo 5 do Código Civil, uma lei só se
torna obrigatória depois de publicada no Jornal Oficial (fazendo-se uma
interpretação actualista, entenda-se Boletim da República). A publicação das leis
no Boletim da República, também, é regulada na alínea a), nº 1 do artigo 143 da
CRM.

7ª fase: entrada em vigor(Início da vigência da lei)

161
É o início da vigência e da aplicação da lei. A lei pode entrar em vigor no dia da
sua publicação (costuma aparecer um artigo com os seguintes dizeres a presente lei
entra imediatamente em vigor ou a presente lei entra em vigor na data da sua
publicação). A lei pode entrar em vigor decorrido algum tempo depois da sua
publicação no Boletim da República. Este intervalo de tempo que separa a data da
publicação da lei e da sua entrada em vigor chama-se vacatiolegis. Nos termos do
nº 2 do artigo 5 do Código Civil «Entre a publicação e a vigência da lei decorrerá o
tempo que a própria lei fixar ou, na falta de fixação, o que for determinado em
legislação especial». Quando a lei não fixa a data da sua entrada em vigor nem fixa
vacatiolegis, nos termos da Lei nº 6/2003 essa lei entra em vigor 15 dias depois da
data da sua publicação. A lei nº 6/2003, é a lei especial, referida pela última parte
do nº 2 do artigo 5 do Código Civil.

A Vacatiolegis tem como importância permitir que a lei seja profundamente


estudada e divulgada antes da sua entrada em vigor.

No nosso país temos a VacatioLegis Simultânea pois as leis entram em vigor no


mesmo dia em todo o território nacional. Há países que adoptam a VacatioLegis
Sucessiva, em que as leis não entram em vigor na mesma data em todas as
províncias ou regiões do país. Num lugar a mesma lei pode entrar em vigor, por
exemplo, 30 dias após a publicação, mas para em certas províncias entrar em vigor
passados 60 dias após a publicação. De acordo com José Dias Marques 256 «O
sistema português é o sucessivo, como se vê da referida Lei 6/83 em cujo artigo 2.º
se diz que os diplomas entram em vigor no continente no quinto dia após a sua
publicação, nos Açores e na Madeira do décimo quinto dia e em Macau e no
estrangeiro no trigésimo dia». Ainda de acordo com José Dias Marques 257 «a lei
entra em vigor em períodos diversos conforme o maior afastamento das várias
regiões em relação ao poder central».

3. Processo de Elaboração de Outros Diplomas Legais

O processo de elaboração de leis pela Assembleia da República (como sabemos,


leis em sentido formal) está na CRM e no Regimento da Assembleia da República.

Introdução ..., pág. 123


256

Introdução..., pág. 123


257

162
Tanto a CRM assim como o Regimento da AR estão publicadas no Boletim da
República. Por outro lado, as sessões da Assembleia da República e das Comissões
de Trabalho da AR são públicas, salvo deliberação em contrário. A Assembleia da
República é um órgão representativo, por isso, justifica-se que o seu modo de
produzir normas seja público e tenha sessões públicas.

Contudo, o processo de elaboração de outras leis (Decreto presidencial, Decreto do


Conselho de Ministros, Diploma Ministerial, Aviso do Governador do Banco de
Moçambique, etc.) não está publicado em nenhum diploma publicado no Boletim
da República, na Internet ou noutro lugar acessível ao público. Pode ser que o
processo esteja publicado num diploma de circulação restrita. Por outro lado, as
sessões do Conselho de Ministros e suas comissões não são públicas.

Por isso para conhecermos o processo de elaboração destes outros diplomas legais
podemos entrevistar certas individualidades tais como Ministros, Vice Ministros,
ex-Ministros, ex-vice ministros, governadores e ex-governadores do Banco de
Moçambique, Assessores e ex-Assessores destas individualidades.

Nestas entrevistas podemos colocar as questões que abordamos quando abordamos


o processo de elaboração de leis pela Assembleia da República. Por exemplo,
quem tem iniciativa de propor a aprovação de um Decreto presidencial, Decreto do
Conselho de Minidtros, etc; como se faz o debate destes diplomase outras
perguntas que julgarmos pertinentes.

+++++ENTREVISTAR O DOUTOR ALBANO MACIE ++++

6. Validade e invalidade das leis

As leis para regularem a vida do homem em sociedade precisam de ser válidas.

Para serem válidas as leis precisam de obedecer o estabelecido na Constituição

da República e noutras leis que regulam o processo de elaboração de leis.

De acordo com Marcelo Rebelo de Sousa e Sofia Galvão 258 «Mas, e se aquilo que
se considera lei não passar de uma mera aparência de lei? E se a lei, existindo
embora, for inválida? E se a lei existente e válida não produzir efeitos?(...) Para

Introdução ao Estudo do Direito, pág. 123


258

163
que uma lei exista é necessário que preencha certos requisitos mínimos de
identificabilidade formal, orgânica e material».

As leis quando não obedecem o estabelecido na Constituição da República e


noutras leis podem ter os seguintes vícios:

 Ilegalidade: é ilegal aquela lei que não respeita o estabelecido noutra ou


noutras leis. Um decreto do Conselho de Ministros pode ser ilegal por
contrariar o estabelecido numa lei ordinária.
 Inexistência jurídica: sofre de inexistência aquela lei que viola requisitos
essenciais para a sua formulação; lei que contêm um vício insanável.
Marcelo Rebelo de Sousa e Sofia Galvão259, consideram, por exemplo que
é inexistente a lei que:
 Lei não promulgada pelo Presidente da república. É inexistente por
inconstitucionalidade formal;
 Lei não votada pela Assembleia da República. É inexistente por
inconstitucionalidade formal;
 Lei aprovada com a usurpação da função legislativa;
 Lei que «violar o conteúdo essencial dos mais importantes direitos
fundamentai consagrados na Constituição – os direitos absolutos,
cujo exercício não pode ser suspenso nem na vigência de estado de
sítio ou de estado de emergência - , por exemplo, suprimindo o
direito à vida de cidadãos de certa raça ou fieis de determinada
religião. È uma inexistência por inconstitucionalidade material».
 Inconstitucionalidade: é inconstitucional a lei que viola a Constituição da
República. Há vários tipos de inconstitucionalidades:
1. Inconstitucionalidade Orgânica: quando a lei foi aprovado por um
órgão do Estado constitucionalmente incompetente;
2. Inconstitucionalidade Formal: quando a lei foi aprovada sem
obedecer as formalidades previstas na Constituição da República.
3. Inconstitucionalidade material: quando a lei aprovada tem um
conteúdo contrário à Constituição da República.

7. Cessação da vigência da lei


Introdução..., págs. 123/123
259

164
Toda a lei em sentido material assim como em sentido formal tem um momento
em que inicia a sua vigência que se designa por início da vigência ou da produção
de efeitos. E tem outro momento em que essa vigência acaba, e designa-se por
Cessação da vigência. O início da vigência duma lei é sempre o momento da sua
entrada em vigor que pode coincidir ou não com a data da sua publicação.

A Cessação da Vigência da lei está regulada no artigo 7 do Código Civil.

A cessação da vigência da lei podeser definitiva ou temporária. A lei cessa a sua


vigência quando deixa de obrigar os seus destinatários, quando deixa de produzir
os seus efeitos.

A cessação definitiva da vigência de uma lei pode se alcançar por duas vias, por
dois processos: Caducidade e Revogação. A cessação temporária da vigência da
lei pode ser por suspensão da lei. Uma lei que não caducou, não foi revogada nem
suspensa pode, em alguns casos, estar em desuso.

a) Caducidade

A Caducidade reveste de seguintes modalidades:

o Por decurso do prazo – quando uma lei contêm dentro de si ou fixa um


certo prazo de tempo para a sua vigência (1,2,3,4, anos, etc.);
o Quando se extinguem as circunstâncias transitórias que determinavam a
vigência da lei (uma lei criada para vigorar durante o Inverno ou Verão);
o Quando se extinguem os pressupostos que determinavam a aplicação da
lei.

b) Revogação

Revogação é a manifestação de uma nova vontade do legislador que retira da


circulação uma determinada lei, isto é, através de uma lei nova o legislador manda
cessar, ou deixar de produzir os efeitos de uma leia antiga.

A Revogação classifica-se quanto a:

Forma ou valor, pode ser:


165
1. Revogação Expressa - quando a nova lei declara expressamente a cessação
da lei antiga;
2. Revogação Tácita - quando a nova lei não declara a cessação da lei antiga
apenas as duas leis apresentam uma normação diferente sobre a mesma
matéria, inferindo-se daí que a lei antiga foi revogada tacitamente pela lei
nova.

o Quanto ao conteúdo ou extensão a revogação pode ser:


1. Revogação Total ou abrogação – quando uma determinada lei em vigor no
seu todo cessa a sua vigência e entra em vigor uma outra lei. É o fenómeno de
substituição das leis.
2. Revogação Parcial ou derrogação – ocorre quando certos preceitos de uma
lei cessam sua vigência.

A lei que revoga outra chama-se lei revogatória e a lei que cessa a sua vigência
chama-se lei revogada.

Repristinação

Repristinação é o reinício da vigência de uma lei revogada em consequência da


revogação da sua lei revogatória. Há Repristinação tácita quando a revogação da
lei revogatória importa o renascimento da lei que esta revogara. No nosso país
vigora a Repristinação expressa,isto porque nos termos do nº 4 do artigo 7 do
Código Civil “A revogação da lei revogatória não importa o renascimento da lei
que esta revogara”.

Temos alguns exemplos concretos de repristinação expressa:

 O parágrafo 2º do artigo 166 do antigo Código Comercial (Código de 1888)


tratava dos títulos ao portador das sociedades anónimas. Mais tarde foi
aprovado o Decreto-lei nº 19/77, de 28 de Abril que regulava sobre acções
das sociedades. Este decreto-lei revogou tacitamente o parágrafo 2º do artigo
166 do Código Comercial de 1888. Mais tarde foi aprovada a Lei nº 14/91,
de 3 de Agosto que revogou expressamente e totalmente o Decreto-lei nº

166
19/77 e restabeleceu expressamente a regra estabelecida no parágrafo 2º do
artigo 166 do Código Comercial de 1888.
 Os artigos 90 e 91 da Lei nº 6/2006, de 2 de Agosto (Lei Orgânica do
Conselho Constitucional), regulam sobre acórdão e sorteio, respectivamente.
O artigo 137 da Lei nº 7/2007, de 26 de Fevereiro (Lei sobre a eleição do
Presidente da República) revogou tacitamente os artigos 90 e 91 da Lei nº
6/2006. A lei nº 5/2008, de 9 de Julho alterou a Lei nº 6/2006. O artigo 2 da
Lei nº 5/2008 revogou expressamente o artigo 137 da Lei nº 7/2007 e
repristinou expressamente os artigos 90 e 91 da Lei nº 6/2006.
 O artigo 2 Lei nº 35/2014, de 31 de Dezembro revogou os artigos 4, 16, 17,
30, 31, 32 e 33 da Lei n.º 9/87, de 19 de Setembro; o artigo 38 da Lei n.º
17/87, de 21 de Dezembro e os artigos 204, 205, 206 e 207 da Lei n.º
2/2006, de 22 de Março. O artigo 3 da Lei nº 24/2019, de 24 de Dezembro,
Lei que aprova o Código Penal, preceitua que “São repristinados:[...] a) os
artigos 4, 16, 17, 30, 31, 32 e 33 da Lei n.º 9/87, de 19 de Setembro; [...] b)o
artigo 38 da Lei n.º 17/87, de 21 de Dezembro; [...] c)os artigos 204, 205,
206 e 207 da Lei n.º 2/2006, de 22 de Março”.

 Suspensão da lei
De acordo com Diogo Freitas do Amaral260 «Uma lei pode ser suspensa por
outra lei, ou por uma fonte hierarquicamente superior. Neste caso ela deixará
de vigorar enquanto estiver suspensa. Se foi suspensa por certo prazo (por
ex., 1 ano), a lei retomará automaticamente a sua vigência uma vez
decorrido esse prazo; se foi suspensa sine die, a lei só voltará a vigorar se
uma nova lei vier repô-la em vigor».

Alguns Chefes de Estado que ascendem ao poder por Golpe de Estado


costumam suspender a Constituição.

Nos termos do nº 2 do artigo 180 da CRM «A Assembleia da República


pode suspender no todo ou em parte a vigência do decreto-lei até a sua
apreciação». Por outro lado, nos termos do nº 1 do artigo 177 do Regimento
da Assembleia da República, «A Assembleia da República pode suspender,
no todo ou em parte, mediante resolução, a vigência do decreto-lei até à
publicação da lei que o vier a alterar ou até a rejeição de todas as propostas».
Manual..., pág. 414
260

167
 Desuso da lei
Sobre o desuso da lei, Diogo Freitas do Amaral 261 dá a sua noção nos
seguintes termos: «É a situação em que a lei deixa de se aplicar, porque
ninguém a aplica, porque cai no esquecimento geral, ou porque se formou
um costume contra legem que tomou o lugar da lei e a substituiu. A lei perde
eficácia jurídica porque perdeu a sua eficácia social: extinguiu-se
paulatinamente e definhou. Caiu em desuso».

8. Hierarquia das leis

Em muitos domínios da vida temos hierarquias e ordem de precedência. A


hierarquia visa dar uma certa ordem e coerência no ambiente onde ela existe.

Para o caso das leis temos também a sua hierarquia. Uma lei hierarquicamente
inferior não pode regular de uma maneira que viola o previsto numa lei
hierarquicamente superior. Por exemplo todas das leis (leis propriamente ditas,
decretos, diplomas ministeriais, etc) não podem contrariar a Constituição. Uma das
funções principais do Conselho Constitucional é fiscalizar a conformidade das leis
com a Constituição. Por outro lado os tribunais não podem aplicar leis
inconstitucionais. Por outro lado um decreto não pode contrariar uma Lei ou a
Constituição. Um diploma Ministerial não pode contrariar um decreto, uma lei ou a
Constituição.

Em primeiro lugar, ou seja, no topo da hierarquia das leis temos a CRM, leis de
alteração da CRM. Isto porque, nos termos do nº 3 do artigo 2 da CRM «As
normas constitucionais prevalecem sobre todas as restantes normas do
ordenamento jurídico». Há tratados e acordos internacionais com dignidade
constitucional, ou seja, esses tratados e acordos são ratificados ou referidos pela
Constituição. Por exemplo, Nos termos do nº 2 do artigo 17 da CRM «A República
de Moçambique aceita, observa e aplica os princípios da Carta da Organização das
Nações Unidas e da Carta da União Africana». Por outro lado, nos termos do artigo
43 da CRM «Os preceitos constitucionais relativos aos direitos fundamentais são

Manual..., pág. 415


261

168
interpretados e integrados de harmonia com a Declaração Universal dos Direitos
do Homem e a Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos». Todos estes
tratados referidos na CRM têm uma hierarquia igual à da CRM, são tratados com
dignidade constitucional.

Em segundo lugar temos as Lei aprovadas pela AR, Decretos lei, e os tratados
internacionais ratificados pela AR. Em virtude de a matéria que versam os
decretos-lei serem da competência da AR e o Governo aprovar os Decretos-lei por
autorização da AR os Decretos lei tem a mesma hierarquia com as leis aprovadas
pela AR. Nos termos do nº 2 do artigo18 da CRM «As normas de direito
internacional têm na ordem jurídica interna o mesmo valor que assumem os actos
normativos infraconstitucionais emanandos da Assembleia da República e do
Governo, conforme os casos». O previsto no nº 2 do artigo 18 da CRM deixa claro
que os tratados internacionais ratificados pela AR têm o valor hierárquico
equivalente à lei da AR e os tratados internacionais ratificados pelo Conselho de
Ministros têm o valor hierárquico ao decreto aprovado pelo Conselho de Ministros.

Em terceiro lugar temos os decretos (normativos) presidenciais.

Em quarto lugar temos os decretos do Conselho de Ministros bem como os tratados


internacionais ratificados pelo Conselho de Ministros.

Em quinto lugar temos diplomas e despachos normativos do Primeiro Ministro.

Em sexto lugar temos os Diplomas Ministeriais e Portarias. O primeiro Diploma


Ministerial foi aprovado em Março de 1979, tinha o número 36/79. A última
Portaria foi aprovada em Fevereiro de 1979, tinha o número 35/79. Os actos dos
Ministros eram denominados Portaria e em 1979 é substituída essa denominação
(de Portaria) por Diploma Ministerial.

Em sétimo lugar temos os despachos normativos dos Ministros.

Em resumo, no nosso país temos a seguinte hierarquia das leis:

169
1º Constituição da República; Leis de Alteração Constitucional e os tratados e
acordos internacionais com dignidade constitucional;

2º Leis ordinárias; Decretos-Lei; Tratados e acordos internacionais ratificados


pela AR;

3º Decretos Presidenciais;

4º Decretos do Conselho de Ministros e Tratados e acordos internacionais


ratificados pelo Conselho de Ministros;

5º Diplomas e despachos normativos do Primeiro Ministro;

6º Diplomas Ministeriais e Portarias;

7º Despachos normativos dos Ministros.

Algumas observações sobre a Hierarquia das leis:

 No nosso País temos, com valor normativo, os Avisos do Governador do


Banco de Moçambique [ver a alínea g) do nº 1 do artigo 143 da CRM].
Nalgumas vezes os Avisos do Governador do Banco de Moçambique
regulam leis aprovadas pela Assembleia da República. Os avisos nestas
condições estão hierarquicamente abaixo da lei. Noutros casos esses avisos
regulam o estabelecido em decretos do Conselho de Ministros e sendo assim
estão imediatamente abaixo dos decretos do Conselho de Ministros.
 Os Assentos do Tribunal Supremo (denominados actos jurisdicionais
normativos), os acórdãos do Conselho Constitucional e outras decisões de
outros tribunais que a lei confira força obrigatória geral integram a
hierarquia da lei sobre a qual versam.

9. Aplicação da Lei

A aplicação da lei implica um exercício duplo: Por um lado, a determinação da


legislação aplicável ao caso e, por outro lado, a fixação da estatuição.

170
Na determinação da norma aplicável há que ter em conta o facto em análise
(comércio, imposto, terra, trabalho, etc.) e a determinação da legislação
aplicável ao facto em análise.

Neste exercício da determinação da legislação aplicável há que ter em conta a


aplicação das leis no tempo e a aplicação das leis no espaço.

 Aplicação da Lei no tempo


A aplicação das leis no tempo está regulada nos artigos 12 e 13 do Código Civil.

António Menezes Cordeiro262 abordando o Direito transitório geral, apresenta os


antecedentes que estiveram na origem do artigo 12 do Código Civil: «Na visão
clássica, partia-se da ideia dos direitos adquiridos: os direitos validamente
constituídos ao abrigo da lei velha devem ser respeitados, mantendo esta a sua
aplicação; pelo contrário, as expectativas caíram de imediato no âmbito da lei
nova. Fortemente influenciada pela ideia liberal da não retroactividade das leis,
esta concepção revelou-se insuficiente. Certos direitos, como o de propriedade,
tendem, uma vez constituídos, a perdurar indefinidamente; a manutenção, para
todo o sempre, da lei sob a qual ela se tenha formado, obrigaria à aplicação de leis
antigas e desajustadas, impedindo qualquer uniformização nos regimes das
diversas situações coexistentes. Há, pois, que aceitar a existência de direitos
sujeitos à lei nova. Por outro lado, a distinção entre direitos e expectativas é difícil,
dando lugar a inúmeras dúvidas. Na base da críticas à doutrina dos direitos
adquiridos tentou-se outra via, num esforço que viria a culminar no a. 12.º do
Código Civil. (…) A pedra angular do Direito transitório é, de facto, a da neo-
retroactividade da lei; mas esta deve ser entendida em sentido material, como
inaplicabilidade, às que a lei disponha para o futuro, ficando ressalvados os efeitos
já produzidos pelos factos que ela venha regular, mesmo quando, à lei nova se
atribua eficácia retroactiva. Assente este aspecto, reconhece-se ao legislador a
possibilidade de, nas alterações legislativas, conservar ou não o regime da lei
antiga». Mais adiante António Menezes Cordeiro263 acrescenta que «Quando a lei
nova disponha sobre a validade formal de certos factos ou sobre seus efeitos,
entende-se que só visa os factos novos; mas quando disponha sobre as situações
262
«Lei (aplicação temporal da) » in Polis, vol. 3, colunas 1100 e1101,
263
«Lei (aplicação temporal da) » in Polis, vol. 3, coluna 1101

171
jurídicas, abstraindo dos factos que lhe deram origem, abrange todas as que
subsistam à data da sua entrada em vigor – a.12.º, 2, do Código Civil. P.ex., se a lei
nova viera a estabelecer formalidades diferentes para a celebração de casamentos,
mantêm-se válidos os casamentos contraídos ao abrigo da lei antiga; mas se ela
alterar os poderes da mulher, todas as uniões existentes são atingidas,
independentemente da sua constituição».

António Menezes Cordeiro264 acrescenta que «Cabe falar (…) em Direito


transitório especial, para designar as regras que resolvem os conflitos temporais de
normas, em ramos jurídicos especiais. Assim, nos termos do a. 2º 4, do Código
Penal, havendo a sucessão de normas desde a prática do crime e até ao trânsito em
julgado da sentença, deve aplicar-se o regime que, no concreto, se mostre mais
favorável ao agente. No Direito Processual já se defendeu a regra temporal da
aplicação imediata da lei nova, dadas as finalidades instrumentais do processo».
No Direito Fiscal, António Menezes Cordeiro265, entende que «defende a melhor
doutrina a não retroactividade da lei fiscal, por força do princípio constitucional da
igualdade: a aplicação da lei tributária nova a factos passados levaria a colectar
diversamente situações patrimoniais actuais idênticas ou a onerar em termos iguais
riquezas diferentes».

Em princípio, a lei nova revoga a lei anterior. Mas podemos aplicar a lei antiga se
estamos a analisar factos que ocorreram quando a lei antiga estava em vigor. Para
regular um facto, salvo algumas excepções, usa-se a lei que estava em vigor no
momento em que o acto foi praticado ou o acto ocorreu e não a lei que está em
vigor no momento em que o caso é julgado.

Exemplo:

Em Agosto de 2007 foi publicada a Lei nº 23/2007 (Lei do Trabalho), para entrar
em vigor em 1 de Fevereiro de 2008. Mas se um certo tribunal estiver a apreciar
uma matéria em Junho de 2008 um caso laboral que aconteceu em 2007 terá que
aplicar a Lei 8/98 já revogada pela Lei 23/2007.

Esta regra geral referida não se usa em leis criminais. Em matéria criminal aplica-
se a lei mais favorável ao arguido.

264
«Lei (aplicação temporal da)» inPolis, vol. 3, coluna 1101
265
«Lei (aplicação temporal da)» inPolis, vol. 3, coluna 1102

172
 Aplicação da Lei no espaço
Em princípio as leis valem no território do Estado que as produziu. Este é o
princípio da territorialidade das leis.

Dentro de um Estado há leis que se aplicam em todo o território do Estado mas


pode haver leis que têm aplicação em algumas partes do território desse Estado.
Por exemplo, a lei de terras têm aplicação em todo o território moçambicano, mas
a legislação autárquica é aplicável, apenas, em autarquias locais.

O princípio da territorialidade das leis pode sofrear algumas excepções. Pode haver
situações jurídica que ligadas a mais de um Estado. É o exemplo de uma empresa
sul africana que compra milho no Zimbabwe para ser distribuído a moçambicanos
no Malawi. Aqui levanta-se a questão de saber qual é a lei que vai regular tal
compra e venda de milho. Estas questões são resolvidas pelo Direito Internacional
Privado (artigos 14 a 65 do Código Civil).

10. Leis de Valor Reforçado

a) Noção
Podemos dizer lei de valor reforçado é aquela que sendo da mesma hierarquia com
as outras, por imperativos legais ou por coerência legislativa, deve ser respeitada
por outras de igual hierarquia que vierem a ser aprovadas.

Algumas leis de valor reforçado costumam exigir uma certa maioria para a sua
aprovação.

b) Leis de base
As leis de bases podem ser aprovadas por motivos de técnica legislativa ou por
imperativos constitucionais.

Temos a Lei nº 7/2012, de 8 de Fevereiro, que é a Lei de Base da Organização e


Funcionamento da Administração Pública.

173
Uma lei de base fixa as bases gerais de um determinado assunto, devendo ser
complementada por outras leis, de igual hierarquia ou de hierarquia inferior.

c) Leis Orgânicas
Maria Helena Diniz266 define lei orgânica como aquela que «Rege a actuação de
um órgão público ou serve de fundamento e organiza uma instituição jurídica».

No nosso país temos algumas leis orgânicas, podendo-se destacar a Lei Orgânica
do Conselho Constitucional (Lei nº 6/2006, de 2 de Agosto), a Lei Orgânica do
Ministério Pública (Lei nº 4/2017, de 4 de Janeiro), a Lei da Organização
Judiciária (Lei nº 24/2007, de 20 de Agosto), a Lei Orgânica da Jurisdição
Administrativa (Lei nº 24/2013, de 1 de Novembro, alterada e republicada pela Lei
nº 7/2015, de 6 de Outubro). Podem ser aprovadas leis complementares a estas leis
orgânicas mas estas leis complementares não podem contrariar o regime padrão já
fixado nas leis orgânicas. Por exemplo uma lei de organização de quaisquer
tribunais (ex. Lei dos Tribunais Fiscais) não pode contrariar o estabelecido na Lei
da Organização Judiciária.

d) Leis que exijam uma maioria especial para a sua aprovação


No nosso país temos leis que para a sua aprovação exigem uma maioria diferente
do das outras leis. Estas leis não podem ser contrariadas por uma lei que não exija
esta maioria especial.

o Nos termos do artigo 307 da CRM «A letra e a música do hino nacional são
estabelecidas por lei, aprovada nos termos do nº 1 do artigo 303». O nº 1 do
artigo 303 da CRM exige que seja aprovada por uma maioria de dois terços
dos deputados da AR. A letra e a música do Hino Nacional foi aprovada pela
Lei nº 13/2002, de 3 de Maio. A Letra do hino não foi alterada, mas a lei
preambular foi alterada pela Lei nº 18/2013, de 12 de Agosto.
o Nos termos do artigo 308 da CRM a moeda nacional é o metical e só pode
ser alterada por lei aprovada nos termos do nº 1 do artigo 303 da CRM.

Dicionário Jurídico, vol. 3, pág. 95


266

174
e) Leis que devem ser respeitadas por outras leis de igual hierarquia
Existem leis que devem ser respeitadas por outras de igual hierarquia por razões de
coerência legislativa.

No nosso país, podemos dar como exemplos:

 A Lei nº 13/92, de 14 de Outubro, que Acordo Geral de Paz tem muitas


disposições que deviam ser respeitadas pela legislação eleitoral para as
primeiras eleições multipartidárias.
 A Lei nº 9/2002, de 12 de Fevereiro que cria o Sistema de Administração
Financeira do Estado (SISTAFE) aprova muitas regras que devem ser
respeitadas por todas as leis que aprovam o Orçamento do Estado de cada
ano.
 A Resolução da Assembleia da República que aprova o Programa
Quinquenal do Governo deve deve ser respeitada por todas as resoluções que
aprovam o Plano Económico e Social.

PERGUNTAS DE CONSOLIDAÇÃO E QUESTÕES PARA REFLEXÃO

1. Ao longo das aulas falamos das fases da feitura da lei em Moçambique.


Responda às seguintes questões:
a) Com base na Constituição da República, indique a quem pertence a
iniciativa de lei no nosso país.
b) No nosso país temos a iniciativa popular? Justifique a sua resposta.
c) Uma lei assinada pelo Presidente da Assembleia da República e pelo
Presidente da República mas não publicada no Boletim da República é
obrigatória ou não. Justifique a sua resposta.
d) Qual é a diferença entre Projecto de Lei e Proposta de Lei?
e) Qual é a diferença entre o debate na generalidade e debate na especialidade
de uma Lei na Assembleia da República?
f) Quem tem a competência de promulgar as Leis em Moçambique? Se quem
tem competência para promulgar a Lei tiver dúvidas quanto à
constitucionalidade da lei que atitudes pode tomar?

175
2. Como se chama ointervalo de tempo que separa a data da publicação de uma lei
no Boletim da República e da sua entrada em vigor? Qual é a importância desse
intervalo de tempo?

TÉCNICA LEGISLATIVA

Técnica Legislativa pode ser definida como conjunto de procedimentos relativos


ao processo de elaboração e redacção de diplomas legais (Constituição, Leis,
decretos, diplomas ministeriais, etc.).

A Técnica Legislativa abrange um conjunto de actos que vão desde a concepção


dos projectos de diplomas legais até a redacção final dos mesmos.

A Técnica Legislativa abrange fundamentalmente a Legística material (conteúdo


do diploma legal) e a Legística formal (aspectos gráficos do diploma legal:
gramática, linguagem, estrutura, sistematização, etc.).

Essas técnicas podem ser usadas, com as necessárias adaptações, para a elaboração
de outros documentos de carácter normativo e ou regulamentar, tais como decretos,
diplomas ministeriais, despachos normativos, estatutos de associações, acordos de
empresa, regulamentos de empresa, regulamentos de requisição de fundos da
empresa, etc.

 Legística material
Quando queremos elaborar um diploma legal (lei, decreto, diploma ministerial,
despacho normativo, etc.) surge o problema de saber como ter informações sobre
aquele assunto que queremos legislar. Ou seja, se, por exemplo, queremos fazer
diploma legal sobre o Comércio Electrónico onde podemos encontrar informação
que vai constar desse diploma legal. Para tal sugerem-se alguns passos, podendo-se
destacar os seguintes:

1. Consulta da Constituição, legislação em vigor e ou conexa

176
Antes de aprovar uma lei (ou outro diploma legal) é preciso ver se a CRM permite
que se aprove um diploma legal com esse conteúdo. Por exemplo a CRM estipula
que em Moçambique não há Pena de Morte, por isso quando estivermos a elaborar
uma Lei que fixa as penas não podemos colocar como uma das penas a Pena de
Morte.

O assunto que queremos legislar pode ser que tenha leis e nós queremos fazer
alteração. Para tal é preciso analisar a legislação em vigor e ver o que há a
acrescentar.

Pode ser que o assunto que queremos legislar não tenha ainda nenhum diploma
legal. Para tal podemos consultar legislação conexa ao assunto que queremos
legislar.

A consulta da legislação em vigor e a legislação conexa visa produzir uma lei


coerente com as outras leis.

2. Consulta do Direito Internacional


A matéria que queremos legislar pode ser que tenha algumas convenções
internacionais. Por isso a análise dessas convenções internacionais é fundamental.

3. Consulta da Doutrina
É preciso também consultar livros, revistas, teses académicas, Internet e outros
estudos sobre o assunto que queremos legislar.

4. Consulta das recomendações dos organismos internacionais


que tratam da matéria
Os organismos internacionais tais como OIT, OMS, OMC, FMI, SADC, União
Africana, etc. elaboram vários estudos sobre vários assuntos na qual propõem
algumas recomendações normativas sobre várias matérias.

177
5. Consulta da jurisprudência
Temos de consultar as decisões dos tribunais que tenham como litígio o assunto
que queremos legislar.

6. Consulta ao Direito Comparado


Aqui temos de consultar a legislação, jurisprudência e doutrina dos outros países
para buscar mais ideias.

Mas aqui é preciso muita atenção pois nem sempre aquilo que é viável noutros
países é viável para o nosso. Por isso a legislação e jurisprudência dos outros
países deve ser usada com as devidas cautelas.

7. Solicitação de pareceres
Se estamos a elaborar uma lei podemos solicitar pareceres de pessoas e órgãos
externos ao nosso. Podemos solicitar pareceres de consultores, das organizações
(associações, órgãos públicos, empresas, instituições religiosas, etc.) que lidam
com o assunto que pretendemos legislar. Por exemplo, se estamos a elaborar um
diploma legal sobre a imprensa podemos solicitar pareceres de entidades ligadas ao
assunto, tais como Sindicato Nacional de Jornalistas, Gabinete de Informação,
MISA Moçambique, Conselho Superior de Comunicação Social, Escola de
Jornalismo, etc.

8. Realização de consultas públicas


Uma grande fonte da informação é a consulta pública. A consulta pública pode ser
organizada em consulta pública a especialistas e outras pessoas ligadas ao assunto
e a consulta pública ao público em geral. Ou seja se queremos legislar sobre o
Comércio Electrónico podemos realizar uma consulta na qual só participam
especialistas sobre o assunto (técnicos de informática, juristas, comerciantes,
economistas, empresas de informática, etc.). Mas também podemos realizar outras
consultas públicas na qual participam quaisquer cidadãos.

178
A consulta pública pode ser através de reuniões públicas, debates na rádio,
televisão, imprensa, Internet, etc.

Antes do debate é desejável que os participantes tenham a proposta do diploma


legal ou tenham uma lista dos principais problemas na área.

Durante a consulta pública as várias contribuições devem ser registadas e depois


analisadas para ver a sua pertinência.

 Leis esperimentais
Para ter o melhor conteúdo (melhor solução legal) vimos que podemos fazer o que
foi referido na legística material. Mas mesmo assim pode ainda surgirem dúvidas
sobre a exequebiblidade do que consta de uma determinada lei. Nesses casos em
vez de se publicar a lei para valer em todo território ou em todas as situações pode-
se publicar uma lei experimental para funcionar em algumas parcelas do território
ou em algumas situações. Durante a vigência da lei experimental vê-se na prática
os méritos e ou deméritos da lei.

 Legística formal
A Legística Formal trata da redacção do diploma legal. Alguns países como
Portugal e Brasil têm as leis-formulário, que publicam as regras da legística
formal. Angola tem alguns artigos no regimento do seu parlamento que tratam
desta matéria. A legística formal trata da estrutura, gramática, linguagem, estrutura,
sistemática, etc. É que a lei, tal como um texto, requerimento, carta, etc., tem a sua
estrutura.

o Estrutura do diploma legal


Os diplomas legais, geralmente, têm a seguinte estrutura:

Epígrafe: indica o tipo de diploma legal (Ex.:Lei nº 1/2011; Decreto nº 4/2010,


Diploma Ministerial nº 5/88, etc.);

179
Ementa: resume o conteúdo do diploma legal. Caso altera um diploma legal deve
indicar o número desse diploma. Este procedimento facilita o arquivo e
pesquisa. (Ex.: Cria a Ordem dos Médicos Veterinários de Moçambique e
aprova o seu estatuto; Estabelece a base jurídica para a prossecução, defesa e
protecção dos direitos e deveres do veterano da Luta de Libertação Nacional e
do Combatente da Defesa da Soberania e da Democracia, e revoga a Lei nº
3/2001, de 17 de Janeiro);
Diploma preambular: alguns diplomas legais têm de ter uma lei preambular,
decreto preambular, diploma ministerial preambular. Geralmente os
diplomas legais que aprovam os códigos, os regimentos, os regulamentos, os
estatutos e outros costumam ter um diploma preambular. Podemos dar o
exemplo da Lei nº 10/2017, de 1 de Agosto, esta é lei preambular do Estatuto
Geral dos Funcionários e Agentes do Estado. Costuma-se denominar, também,
Diploma de apresentação ou diploma de aprovação.
Preâmbulo: parte inicial da lei que costuma apresentar uma breve fundamentação
e ou historial; fórmula de promulgação (entidade que aprova). O preâmbulo não
vincula, apenas explica. Actualmente usa-se preâmbulos curtos. Mas é ideal que
o preâmbulo traga o resumo da legislação anterior bem como um resumo dos
fundamentos para a aprovação do novo diploma.
Livro: diplomas legais muito grandes em extensão, como códigos, costumam estar
divididos em livros. Tem numeração romana e tem título do livro. Os livros
subdividem-se em títulos. Por exemplo, o Código Civil tem o Livro I que tem
como título (título do livro I) Parte geral. O Livro I do Código Civil está
subdividido em vários títulos. O Título I tem como título Das lei, sua
interpretação e aplicação.
Título: É a subdivisão do Livro. Tem numeração romana e título. Subdivide-se em
capítulos
Capítulo: diplomas legais muito grandes em extensão têm capítulos. Um diploma
legal pode ter um capítulo com disposições iniciais, onde é apresentado o
objecto, âmbito, definições, etc.; depois segue-se os capítulos que apresentam
as várias subdivisões do conteúdo do diploma legal; no fim aparecem o capítulo
de disposições finais e transitórias. Os capítulos têm numeração romana.
Secção: é a subdivisão do capítulo
Subsecção: é a subdivisão da secção;

180
Artigo: É a unidade básica de estrutura de um diploma legal. Se o diploma é
constituído de um artigo escreve-se “artigo único” e segue o texto. As frases
iniciam com letra maiúscula e termina com ponto. Deve conter um único
comando normativo.
Base: algumas leis não estão estruturadas em artigos mas sim em bases. As bases
têm as mesmas características e funções dos artigos.
Número: é a subdivisão do artigo. Um artigo com muito conteúdo recomenda a
sua divisão em números. Os números iniciais fixam regra geral e os números
finais as excepções à regra geral fixada nos números anteriores.
Alínea: os números podem ser estruturados em alíneas, começando pela alínea a)
até onde for necessário. Inicia com letras minúsculas e termina com ponto e
vírgula, com excepção da última alínea que termina com ponto.
Anexos: consoante a conveniência, um diploma legal pode ter anexos onde são
apresentados glossários, tabelas, fórmulas científicas, mapas, figuras e outro
conteúdo que não fica bem estar ao longo do articulado.

o Regras de redacção dos diplomas legais


1. Usar frases impositivas;
2. Evitar o uso de muitos adjectivos;
3. Respeitar as regras de pontuação;
4. Conciliar termos técnicos e termos comuns, de modo a facilitar a sua
compreensão;
5. Evitar o uso de palavras ambíguas, que possibilitem o duplo sentido;
6. Evitar o uso de siglas, e quando usá-las pôr entre parênteses o seu
significado quando usado pela primeira vez no texto;
7. Indicar expressamente outros diplomas legais em que se faça remissão a
elas;
8. Palavras em língua estrangeira deve ser escritas em itálico.

PERGUNTAS DE CONSOLIDAÇÃO E QUESTÕES PARA REFLEXÃO

181
1. Imagine que tem a missão de elaborar o projecto dos Estatutos da
Associação dos Estudantes da ISGECOF. Que passos podem seguir até a
redacção da proposta dos estatutos?
2. Imagine que o seu bairro está para organizar um concurso literário. Faça
um regulamento do concurso literário do seu bairro. Nesse regulamento
deve constar, dentre outros assuntos, prazo do concurso, os requisitos
para participar, géneros literários admissíveis, remessa das criações
literárias para concurso, júri para analisar as propostas, premição,
reclamações.

182
INTERPRETAÇÃO DA LEI E INTEGRAÇÃO DE LACUNAS

1. Noção de Interpretação da Lei


As leis existem para serem aplicadas à casos concretos, e para tal é preciso
compreende-las, através da sua interpretacao. Não existem leis claras que
dispensam a sua interpretação. Esta técnica de esclarecer as leis chama-se
Hermenêutica e a pessoa que faz este trabalho chama-se Hermeneuta.

Definição

Interpretação da lei é a operação hermenêutica que consiste na determinação do


sentido e alcance de uma lei e na integração de lacunas. Também se chama
Exegese.

2. Elementos de Interpretação

Para a interpretação de uma lei toma-se como base alguns elementos dos quais
passamos a destacar os seguintes: elementos gramatical, racional, histórico,
sistemático, sociológico e o elemento teleológico.

1. Elemento Gramatical – é o texto da lei. Daí que se designa por elemento textual
ou literal. O elemento gramatical é a base da interpretação na medida em que o
conteúdo da lei está expresso em palavras que constituem o texto da lei.
2. Elemento Racional –é a ratio legis, ou seja, é a razão de ser de uma lei, os
porquês que levaram o legislador a aprovar aquela lei; é a justificação da lei.
3. Elemento Histórico –compreende as ideias, os pensamentos que eram
dominantes no momento da elaboração da lei. Abrange a ocasiolegis que são os
condicionalismos sócio-políticos, económicos que de alguma forma
influenciaram o legislador na aprovação da lei.
4. Elemento sistemático –atende a relação da lei a interpretar com outras leis do
mesmo sistema jurídico. As normas jurídicas não se aplicam de forma isolada,
mas sim de forma integrada e harmonioso. O elemento sistemático consiste em

183
procurar o sentido e alcance da lei em relação com outras do mesmo sistema
jurídico.
5. Elemento Sociológico –atende os efeitos que uma lei pode produzir na
sociedade, são os impactos, as implicações dessa lei na sociedade.
6. Elemento Teleológico – atende a finalidade ou objectivos que a lei pretende
alcançar.

Aplicação simultânea dos elementos de interpretação

Apesar desta distinção dos elementos da interpretação, no processo de


interpretação os vários elementos podem ocorrer em simultâneo. Esta distinção tem
efeitos meramente didácticos e metodológicos. O Código Civil regula sobre esta
questão. Nos termos do artigo 9 do Código Civil (sobre a interpretação da lei), «1.
A interpretação não deve cingir-se à letra da lei, mas reconstituir a partir dos textos
o pensamento legislativo, tendo sobretudo em conta a unidade do sistema jurídico,
as circunstâncias em que a lei foi elaborada e as condições específicas do tempo
em que é aplicada. (…) 2. Não pode, porém, ser considerado pelo intérprete o
pensamento legislativo que não tenha na letra da lei um mínimo de
correspondência verbal, ainda que imperfeitamente expresso. (…) 3. Na fixação do
sentido e alcance da lei, o intérprete presumirá que o legislador consagrou as
soluções mais acertadas e soube exprimir o seu pensamento em termos
adequados».

A reconstituição «a partir dos textos o pensamento legislativo» leva em alguns


casos o intérprete da lei procurar os trabalhos preparatórios das leis. São
trabalhos preparatórios das leis: o anteprojecto, audições públicas, o projecto ou a
proposta da lei, os pareceres, os debates da lei e outros documentos ligados
soprocesso de elaboração da lei.

3. Espécies de Interpretação
A interpretação da Norma Jurídica é feita tendo em conta os seguintes critérios:
critério da fonte ou valor e o critério do resultado.

184
 Critério da Fonte ou Valor
Com base neste critério temos as seguintes espécies de interpretação:

a) Interpretação Autêntica - é feita pelo mesmo órgão que elaborou a lei através
de uma lei de valor hierárquico igual ao da lei interpretada. Maria Helena
Diniz267 define lei interpretativa como «Aquela que elucida o conteúdo,
sentido ou alcance de outra». Esta interpretação vincula todos os órgãos e
instituições públicas e privadas e o público em geral. Exemplos concretos de
interpretação autêntica:
 A Assembleia da República aprovou a Lei nº 15/91, de 3 de Agosto
que estabelece normas sobre a reestruturação, transformação e
redimensionamento do sector empresarial do Estado incluindo a
privatização e a alienação a título oneroso de empresas,
estabelecimentos, instalações e participações sociais da propriedade
do Estado. Mais tarde a Assembleia da República aprovou a Lei nº
17/92, de 14 de Outubro que esclarece dúvidas de interpretação do
artigo 16 da Lei nº 15/91, de 3 de Agosto;
 O Ministério da Indústria, Comércio e Turismo aprovou, pelo
Diploma Ministerial nº 202/98, de 12 de Novembro, o Regulamento
de Registo de Operador de Comércio Externo. Mais tarde o mesmo
ministério aprovou o Diploma Ministerial nº 48/2000, de 5 de Abril,
que esclarece dúvidas na interpretação do artigo 17 do regulamento
aprovado pelo Diploma Ministerial nº 202/98, de 12 de Novembro.

Delegação da interpretação autêntica

Em alguns casos o órgão que aprova uma determinada lei delega noutro órgão
(geralmente inferior) a fazer a interpretação autêntica da lei, caso surjam
dúvidas. Muitas vezes o Conselho de Ministros quando aprova um Decreto
delega num ministro a competência para esclarecer as dúvidas resultantes da
interpretação desse Decreto. Exemplos concretos de delegação da interpretação
autêntica:

 O Decreto nº 53/2010, de 22 de Novembro, aprova o Estatuto da


Universidade Pedagógica. O artigo 77 do Estatuto da Universidade
Dicionário Jurídico, vol. 3, pág. 92)
267

185
Pedagógica estabelece que «os casos omissos e as dúvidas suscitadas na
aplicação deste Estatuto serão resolvidos pelo Conselho Universitário»;
 O Diploma Ministerial nº 222/2010, de 17 de Dezembro aprova o Plano
de Contas aplicável às entidades habilitadas ao exercício da actividade
seguradora, bem como às entidades gestoras de fundos de pensões. O
artigo 5 deste diploma ministerial estabelece que «As dúvidas e omissões
que surgirem da interpretação e aplicação do presente Diploma
Ministerial são resolvidas pelo Inspector-Geral de Seguros»;

b) Interpretação Oficial –é feita por outros órgãos que não foram autores da lei e
só vinculam o órgão que a faz através de uma lei ou outro instrumento (Aviso,
Circular, Ordem de serviço, etc) de valor hierárquico inferior ao da lei
interpretada.
c) Interpretação Judicial – é feita pelos Juízes na aplicação dos casos submetidos
ao tribunal. Esta interpretação será vinculativa para o Juiz e as partes litigantes.
d) Interpretação doutrinária –é feita pelos estudiosos ou tratadistas do Direito.
Esta interpretação não é vinculativa mesmo para o seu autor.

 Critério do Resultado
Com base neste critério temos as seguintes espécies de interpretação:

 Interpretação Declarativa – aqui o intérprete baseia-se na letra da lei. O


intérprete apenas declara o que está escrito na lei, sem aumentar (interpretação
extensiva) nem diminuir (interpretação restritiva).

 Interpretação extensiva – aqui toma-se como base a letra e o espírito da lei. A


letra exprime o que se disse na lei e o espírito exprime o que se pretendia dizer.
Para que haja interpretação extensiva é preciso que o texto peque por defeito,
isto é, que os termos da lei digam menos do que se pretendia dizer, ou seja, que
a letra da lei seja inferior ao espírito, que os termos nos dêem a entender menos
do que a lei devia dar. A interpretação extensiva consiste em estender, alargar o
sentido das palavras para alcançar o espírito.

186
 Interpretação Restritiva –esta ocorre quando o texto da lei pelo excesso, isto
é, quando a letra seja superior ao espírito da lei, quando os termos dizem mais
do que se pretendia dizer.

 Interpretação Abrogante ou revogatória –esta interpretação ocorre sempre


que há divergências insanáveis entre duas normas resultando o afastamento de
uma delas (afastamento da mais antiga).
 Interpretação actualista – de acordo com Ana Prata268«A interpretação da lei
deve ser actualista, isto é, ter em conta as circunstâncias em que vai ser
aplicada, de forma a dar-lhe o sentido que, em tais condições, seja o mais
adequado a prosseguir o fim que ela quis assegurar ou que, com a sua aplicação
actual, permita adoptar, para o problema nela previsto, a solução que quis
consagrar. (…) O artigo 9.º, nº1, in fine, C.C., determina que a lei deve se
interpretada ´tendo sobretudo em conta[...] as condições específicas do tempo
em que é aplicada».

4. Argumentos interpretativos
Na interpretação das leis (e, também, dos factos jurídicos) os intérpretes
costumam-se socorrer, também, de alguns argumentos, denominados argumentos
interpretativos e argumentos forenses.

Argumento de maioria de razão ou a fortiori

De acordo com Ana Prata269 este argumento «apresenta duas formas principais – a
lei que proíbe o menos também proíbe o mais (aplicável a normas proibitivas) e a
lei que permite o mais também permite o menos (aplicável a normas permissivas).
Por exemplo, da norma que proíba alguém hipotecar certo bem retira-se [da norma]
que a respectiva venda se encontra igualmente proibida, ou da regra que permita a
venda retira-se a permissão para a hipoteca».

Alberto Marques dos Santos, no seu artigo Argumentação Jurídica: os melhores e


os piores argumentos na retórica forense, o Argumento a fortiri«Também
Dicionário Jurídico, vol.I, pag. 803
268

Dicionário Jurídico, vol.I, pag. 155


269

187
chamado de argumento a minori ad majus. É um argumento tipicamente jurídico,
de origem latina, e sua melhor expressão talvez esteja no brocardo “quem pode o
mais, pode o menos”. Esse argumento baseia numa espécie de analogia,
semelhança ao argumento a pari. A diferença está em que não se apontam as duas
hipóteses como simplesmente análogos, mas se afirma que a hipótese proposta é
uma forma “maior” da hipótese paradigma. Assim, o argumento a fortiri trabalha
com uma ponderação de valores, relacionado duas hierarquias: a hipótese proposta,
para a qual se quer a aceitação do auditório, é dada como uma forma mais “ampla”,
“maior”, mais “grave” ou mais “evidente” da hipótese-paradigma, que se sabe
previamente aceita pelo auditório. (…) D menor se deduz o maior, do menos
evidente se deduz o mais evidente. P. ex.: se a negligência deve ser punida, a fortiri
deve ser punido o ato premeditado. (…)Com frequência se argumenta a fortiri na
análise da credibilidade das testemunhas, com base na frase bíblica “quem é infiel
no pouco, tembém o é no muito”. P. ex.: estando demonstrado que a testemunha X
mentiu sobre a cor do carro acidentado, a fortiri também não merece crédito quanto
à culpa na causação do acidente».

Argumento de identidade de razão ou a pari

Ana Prata270 apresenta a noção deste argumento nos seguintes termos: «se a lei
estabelece certo regime para uma situação e se uma outra [lei], embora não
abrangida directamente por ela, é idêntica à primeira, então deve considerar-se que
também reentra nela».

Alberto Marques dos Santos, no seu artigo Argumentação Jurídica: os melhores e


os piores argumentos na retórica forense271 diz que o argumento a pari«Também
chamado de argumento simile ou pari ratione. Argumento fundado na analogia,
defende que dois casos merecem a mesma solução por que são similares. Funda-se
no brocardo ubi eadem ratio, ibieademdisposito (princípio da semelhança). É
largamente utilizado na retórica forense nos casos em que se sustenta que dois
casos devem ser assimilados porque a ambos se aplica a mesma ratio legis. Tem
esteio forte na regra constitucional da isonomia (duas situações iguais devem
receber tratamentos iguais), e também na interpretação lógica do Direito. (…)
P.ex.: se o casamento entre a vítima e o agressor extingue a punibilidade do
Dicionário Jurídico, vol.I, pag. 155
270

271
Disponível no site: http://albertossantos.worldpress.com/artigos-juridicos/argumentação-forense/ (artigo
acedido em 21/10/2011)

188
estupro, a pari ratione a união estável entre ambos deve produzir o mesmo efeito.
(...) se o aborto é lícito na gravidez resultante de estupro, a pari é também lícito na
resultante de atentado violento ao pudor».

Argumento a Contrário sensu

Para Ana Prata272«se a lei enuncia dado regime para certo tipo de situações, devem
as não previstas reger-se de forma diversa. Este argumento tem de ser usado com
cautela, pois só procede se se demonstrar que o regime estabelecido pela lei se
justifica apenas em relação ao tipo de situações regulado, isto é, tipicamente se a
norma tem carácter excepcional».

5. Lacunas e sua integração


1. Noção de Lacuna
Lacuna é uma situação da vida social relevante para o Direito mas que a lei não a
regula.

2. Integração de Lacunas
Para a integração de lacunas usa-se o processo intra-sistemático que consiste em o
hermeneuta procurar encontrar dentro do sistema jurídico as normas a aplicar ao
caso relevante mas não regulado. O processo normal intra-sistemático de
integração de lacunas é o recurso à Analogia

Nos termos do artigo 10 do Código Civil (sobre a integração de lacunas da lei), «1.
Os casos que a lei não preveja são regulados segundo a norma aplicável aos casos
análogos.(...) 2. Há analogia sempre que no caso omisso procedam as razões
justificativas da regulamentação do caso previsto na lei. (…) 3. Na falta de caso
análogo, a situação é resolvida segundo a norma que o próprio intérprete criaria, se
houvesse de legislar dentro do espírito do sistema».

A analogia é semelhança jurídica entre casos previstos pelo Direito e não


previstos, sendo que os casos previstos se designam por Casos análogos.

Dicionário Jurídico, vol.I, pag. 155


272

189
Daí resulta que a integração de lacunas com recurso à analogia significa a
aplicação aos casos não regulados, omissos, das soluções aplicáveis aos casos
regulados mas com as necessárias adaptações.

Por exemplo, o artigo 7 do Código Comercial estabelece que «Os casos que o
presente Código não preveja são regulados segundo as normas desta lei aplicáveis
aos casos análogos e, na sua falta, pelas normas do Direito Civil que não forem
contrários aos princípios do Direito Comercial».

Nos termos do artigo 9 do Código Penal «Não é admissível analogia ou indução


por paridade, ou maioria de razão, para qualificar qualquer facto como
crime(...)».PROCURAR A LEI DO SISTEMA TRIBUT’ARIO DA REP’UBLICA
DE MOCAMBIQUE ++=

PERGUNTAS DE CONSOLIDAÇÃO E QUESTÕES PARA REFLEXÃO

1. Indique e explique as espécies de interpretação da lei segundo o critério da


fonte ou valor.
2. Fale do Argumento a contrário sensu.
3. O que entendes por OccasioLegis?
4. O nº 1 do artigo 2 da Lei nº 5/2008, estabelece o seguinte: “É revogado o
artigo 137 da Lei nº 7/2007”
 Como classifica a revogação acima apresentada? Justifique a resposta.
5. Quais são os elementos que servem de base para a interpretação de uma lei?
6. Uma vez feita a interpretação, o intérprete pode chegar a determinados
resultados. Quais são esses resultados? Refira-se resumidamente a tais
resultados.
7. Defina Lacuna e diga qual o principal mecanismo usado para a sua solução.
8. Fale sobre a Caducidade de uma lei.
9. Conhece alguma lei que está em desuso no nosso país? Em caso afirmativo,
qual é a referida lei?.
10.Usando os conhecimentos que têm sobre a Cessação da vigência das leis,
diga se o Acordo Geral de Paz está ainda em vigor ou não.

190
11.Fale, no mínimo em cinco linhas, sobre a Revogação de uma lei.
12.Fale sobre a repristinação de uma lei.
13.Presta atenção ao estabelecido no artigo 222 da Lei nº 23/2007, de 1 de
Agosto (Lei do Trabalho), interprete o artigo e responde às perguntas
colocadas:
«ARTIGO 222

(Noção)

1. Acidente de trabalho é o sinistro que se verifica, no local e durante o


tempo do trabalho, desde que produza, directa ou indirectamente, no
trabalhador subordinado lesão corporal, perturbação funcional ou
doença de que resulte a morte ou redução na capacidade de trabalho
ou ganho.
2. Considera-se ainda acidente de trabalho o que ocorra:
a) na ida ou regresso do local de trabalho, quando utilizado o meio de
transporte fornecido pelo empregador, ou quando o acidente seja
consequência de particular perigo do percurso normal ou de outras
circunstâncias que tenham agravado o risco do mesmo percurso;
b) antes ou depois da prestação do trabalho, desde que directamente
relacionado com a preparação ou termo dessa prestação;
c) por ocasião da prestação do trabalho fora do local e tempo do
trabalho normal, se verificar enquanto o trabalhador executa ordens
ou realiza serviços sob a direcção e autoridade do empregador;
d) na execução de serviços, ainda que não profissionais, fora do local e
tempo de trabalho, prestados espontaneamente pelo trabalhador ao
empregador de que possa resultar proveito económico deste.
3. Se a lesão resultante do acidente de trabalho ou doença profissional
não for reconhecida imediatamente, compete à vítima ou aos
beneficiários legais provar que foi consequência dele.»

a) Imagine que Berta Borges é Contabilista da Sociedade de Estudos


Financeiros Lda. e estava a viajar de casa para o serviço na sua
motorizada e sozinha despistou-se e foi embater numa árvore. Como
resultado desse acidente contraiu ferimentos no braço esquerdo e

191
perna direita. Berta Borges sofreu um acidente de trabalho?
Justifique a sua resposta com base na interpretação do artigo acima
transcrito.
b) Imagina que Berta Borges depois do acidente foi hospitalizada. O
Administrador da Sociedade de Estudos Financeiros Lda manda,
num fim de semana, Olinda Orga, Estafeta da mesma sociedade,
comprar uma refeição e entregar à colega hospitalizada. Durante o
percurso para o hospital Olinda Orga pisou na casca da banana e
caiu tendo contraído ferimentos nos joelhos. O acidente que Olinda
Orga sofreu é acidente de trabalho? Justifique a sua resposta com
base na interpretação do artigo acima transcrito.
14.Leia o artigo 8 da Lei nº 22/2019, de 11 de Dezembro e diga, justificando, se
no nosso país é admitido o casamento homossexual.
15.Leia o artigo 137 da Constituição da República de Moçambique (CRM) e
diga, justificando, se o Primeiro Ministro pode exercer, simultaneamente,
também a função de Ministro ou Vice-Ministro.
16.Leia o artigo 186 da CRM e diga, justificando, se é possível a Assembleia da
República aprovar uma lei com apenas 64 votos a favor?
17.Explique o estabelecido no nº 3 do artigo 87 da CRM.
18.Explique a alínea t), nº2 do artigo 178 da CRM.
19.Leia o artigo 109 da CRM e diga, justificando, se o Estado, como
proprietário da mesma, pode ou não vender a terra.
20.Leia o artigo 13do Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado,
provado pela Lei nº 10/2017, de 1 de Agosto e responda, justificando, às
seguintes perguntas:
a) Uma pessoa de nacionalidadeburundesa pode ser nomeada para o
quadro de pessoal do aparelho do Estado?
b) Uma pessoa que tem 28 anos de idade que ainda não cumpriu o
Serviço Militar Obrigatório e nem fez recenseamento para o
Serviço Militar Obrigatório pode ser nomeada para o quadro de
pessoal do aparelho do Estado?
22.O nº 1 do artigo 42 das Normas de Funcionamento dos Serviços da
Administração Pública, aprovadas pelo Decreto nº 30/2001, de 15 de
Outubro «No atendimento têm prioridade os idosos, os doentes, as
mulheres grávidas, e as pessoas portadoras de deficiência ou
192
acompanhadas de crianças de colo e, ainda, outros casos específicos
com necessidade de atendimento prioritário». Se as pessoas referidas
na passagem acima transcrita tem prioridade em relação a outras
pessoas não referidas, qual deve ser a prioridade entre as pessoas
referidas no artigo acima citado?
23.Interprete e diga em termos muito simples o que estabelece o artigo 88
do Código Civil.
24.Uma das partes do artigo 86 do Código Civil estabelece que «A
mulher casada tem o domicílio do marido». Interprete e comente esta
parte do artigo.
25.O artigo 9 do antigo Estatuto Orgânico da Presidência da República,
aprovado pelo Decreto Presidencial, nº 5/2008, de 15 de Junho,
estabelece que: «1. São funções do Gabinete da Esposa do Presidente
da República: [...] a)Apoiar a Esposa do Presidente da República no
exercício das funções oficiais decorrentes desta qualidade; (...) b)
Apoiar a Esposa do Presidente da República na realização de
iniciativas de carácter social e cultural que ela decida desenvolver»
 Suponhamos que no futuro tenhamos uma Presidente da República, será que
o Gabinete referido no artigo 9 pode apoiar o Esposo da Presidente da
República? Justifique a sua resposta.

CODIFICAÇÃO

1. Noção de Código
Para Mário Bigotte Chorão273«Num sentido mais genérico, simples
compilação, privada ou oficial, de fontes jurídicas, que podem ser de
diferentes datas e abranger distintas matérias. Numa acepção mais
específica, adequada à codificação moderna, iniciada em fins do séc. XVIII
e princípios do séc. XIX, diplomas legislativos elaborados segundo critérios
sistemático-científicos, que respeitam a todo um importante sector ou ramo
do Direito e se destina a regulá-lo duradoiramente a partir de certo
momento».

273
«Código» in Polis: enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado, vol. 1, coluna 952

193
De acordo com João de Castro Mendes 274«Um código é uma lei que reúne,
de modo sistemático e tanto quanto possível completo, toda a
regulamentação de um certo ramo de direito ou parte importante deste».

Para Marcelo Rebelo de Sousa e Sofia Galvão 275 «Código é uma lei que
disciplina unitária, científica e sistematicamente os aspectos fundamentais
de uma determinada matéria jurídica. Em regra, de um ramo do Direito».

Com base nas definições acima apresentadas e análise das características de


alguns códigos podemos dizer que Código é uma lei em sentido material que
reúne nela de uma maneira técnico-científica e sistemática aspectos
fundamentais de um ramo de Direito, vários ramos do Direito ou parte dum
ramo de Direito.

O Código é uma lei em sentido material pois pode ser aprovado por uma lei
da AR, Decreto-Lei, Decreto ou outro tipo de diploma legal.

Um código reúne de forma técnico científica aspectos fundamentais do


Direito. Um código está elaborado com um elevado rigor técnico científico o
que leva com que alguns livros estruturam-se como está estruturado o código
ou parte dele.

Um código reúne de forma sistemática pois as matérias tem uma alta


coerência.

Um código reúne aspectos fundamentais de um ramo de Direito. Por


exemplo o Código Penal reúne aspectos fundamentais do Direito Penal; o
Código Comercial reúne aspectos fundamentais do Direito Comercial.

Um código reúne aspectos fundamentais de vários ramos do Direito. O


Código Civil reúne aspectos fundamentais de vários ramos de Direito:
Direito Internacional Privado, Direito das Obrigações, Direito Reais e
Direito das Sucessões.

Um código reúne aspectos fundamentais de uma parte de um ramo de


Direito. Os aspectos fundamentais do Direito Fiscal encontram-se repartidos
em vários códigos: código do IVA, Código do IRPS, Código do IRPC,
Introdução..., pag. 111
274

Introdução..., pag. 318


275

194
Código dos Benefícios Fiscais, Código das execuções Fiscais, Código da
Sisa, Código do Imposto sobre Sucessões e Doações. Ou seja, cada um
desses códigos regula uma parte fundamental do Direito Fiscal.

É ideia comum de que uma Constituição da República é um Código, embora


não haja consenso entre os autores: Por exemplo, para José de Oliveira
Ascensão276«a Constituição Política é um verdadeiro Código de Direito
Constitucional, embora tradicionalmente não se use esta designação». Com
entendimento contrário estão Marcelo Rebelo de Sousa e Sofia Galvão 277,
pois defendem que «Estamos a referir apenas os códigos propriamente ditos
e não as Constituições Políticas, documentos unitários, mas carecidos,
amiúde, de sistematização científica».

Ainda de acordo com João de Castro Mendes278«Diziam os antigos que os


códigos se caracterizavam pelos três s:(ser um diploma) sintético,
sistemático e científico (palavra que nos tempos antigos se escrevia com
sc)».

Segundo Mário Bigotte Chorão279«O termo código relaciona-se com o


vocábulo latino “codex”, que designou, em certa altura, o conjunto de tábuas
ou folhas escritas, unidas umas às outras à maneira dos modernos livros
impressos, e distinto do “volumen”, constituído por folhas enroladas. Foi
esse mesmo termo que veio a usar-se para nomear as colectâneas de fontes
jurídicas (CodexGregorianus, CodexHermogenianus, CodexTheodosianus,
CodexJustianus, etc».

2. Breve referência histórica


De acordo com Marcelo Rebelo de Sousa e Sofia Galvão 280«Os
conhecedores da História mesopotâmica lembram-se do Código de
Hamurabi. Os estudiosos de Roma pensam nos Códigos de Teodósio ou de
Justiniano. É certo que existiram e é bem verdade que se revelaram

276
Introdução..., pag. 326
277
Introdução..., pag.319
278
Introdução ao Estudo do Direito, pag. 111
279
«Código», in Polis: enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado, vol. 1, colunas 952/953
280
Introdução..., pag. 319

195
instrumentos políticos fundamentais. Mas não eram “códigos”; não, no
sentido que acabamos de fixar. (…) Tratavam-se de simples compilações
mais ou menos caóticas, mais ou menos empíricas, mais ou menos
fragmentárias. Numa linha muito semelhante à da “Lei das XII Tábuas” ou à
das nossas “Ordenações”. (…) Só o moderno movimento codificador
permite que se fale tecnicamente de “código”. A partir do final do século
XVIII».

De acordo com Diogo Freitas do Amaral281 «surgiram pela primeira vez em


Portugal grandes compilações de normas jurídicas, a que se chamou
ordenações: assim, as Ordenações Afonsinas (de 1446), as Ordenações
Manuelinas (de 1514) e as Ordenações Filipinas (de 1602). Eram já, de certo
modo, manifestações de um fenómeno de pré-codificação; mas ainda não
eram verdadeiros códigos, pois não ostentavam esse nome, nem obedeciam a
uma estrutura cientificamente sistematizada e apurada. Eram mais colecções
ou compilações de leis avulsas do que textos unitários gizados segundo
critérios científicos».

Mário Bigotte Chorão282 resume a história da codificação nos seguintes


termos:

«Um dos primeiros códigos modernos surge, em 1794, na Prússia. (…) é o


Código Geral dos estados prussianos (…) vasta obra com matérias de vários
ramos jurídicos, elaborada segundo um método exageradamente casuístico
(…) em contradição, afinal, com as pretensões simplificadoras do
iluminismo codificador. Lugar muito saliente na história jurídica ocupa a
codificação francesa, levada a cabo sob a égide de Napoleão. E nela avulta o
Code civil desFrançais, de 1804, que em 1907, recebeu o nome de
CodeNapoléon. (…) É também digno de menção, no movimento
codificador, o Código Civil austríaco de 1811. (…) Na Alemanha travou-se,
em 1814, uma polémica, que ficou célebre, entre Thibaut e Savingny,
exponente da Escola Histórica do Direito, o primeiro, a favor (…) e, o
segundo, contra (…) a codificação. Mas também este país veio a aderir ao
movimento codificador, sucedendo-se vários C., a partir de 1861(...) Em

Manual..., vol. I, pag. 405


281

«Código» in Polis, vol. I, colunas 954 a 956


282

196
Portugal ensaiaram-se as primeiras tentativas de codificação no reinado de
D. Maria I, devendo-se a Pascoal José de Melo freire (1738-1798) um
Projecto de Código de Direito Público e um Projecto de Código de Direito
Criminal. Mas só mais tarde(...) surgiram os primeiros códigos: Código
Comercial (Ferreira Borges), em 1833; Código Administrativo (passos
Manuel), em 1833; Código Penal, em 1852; Código Civil (Código de
Seabra), em 1867; Código de Processo Civil, em 1876. Posteriormente
apareceram novos C., para os mesmos ou para outros ramos jurídicos, v.g., o
Código Penal de 1886, O Código Comercial (Veiga Beirão), de 1888, O
Código de Processo Comercial de 1895, o Código de Processo Penal de
1929, etc.».

Em virtude de Moçambique ter sido colónia de Portugal muitos códigos


atrás referidos vigoraram ou ainda vigoram no nosso país. O Código Penal
de 1886 vigorou até 2015. O Código Comercial de 1888 foi substituído, a
poucos anos pelo Código Comercial aprovado pelo Decreto-Lei nº 2/2004.O
Código de Processo Penal de 1929 ainda está em vigor mas vai deixar de
vigorar porque em Julho de 2019 a Assembleia da República aprovou novo
Código de Processo Penal.

3. Características do Código
De acordo com José de Oliveira Ascensão 283 caracteriza um código moderno
em contraposição com os códigos antigos nos seguintes termos:

«1) o Código moderno deve regular unitariamente um ramo do direito,


enquanto que em códigos antigos se manifesta a tendência para regular
todos os ramos do direito. […] não possuindo pois a especialização que
modernamente se exige. […]

2) O código moderno contém a disciplina fundamental desse ramo. Pode


essa disciplina ser completa ou praticamente completa […] ou pelo
contrário ser constituída apenas pelos princípios gerais[…]: em ambos
casos se pode dizer que o código contém a disciplina fundamental desse
ramo.[…]
Introdução..., pag. 311/312
283

197
3) O código moderno é sistemático e científico, enquanto os códigos antigos
se caracterizavam frequentemente em seriações de textos, que quando
muito obedeceriam a critérios empíricos».

4. Causas da Codificação
Diogo Freitas do Amaral284 apresenta as seguintes causas da codificação:

«O Direito é um produto da Razão humana; (…) Como tal, deve ser lógico,
claro, bem ordenado, compreensível e igual para todos; (…) Os
costumes, sobretudo locais, são incertos, difíceis de conhecer e, muitas
vezes contraditórios, pelo que não produzem um Direito aceitável; (…)
As leis avulsas são heterogéneas, contraditórias, promulgadas em épocas
diferentes e por legisladores diversos e, portanto, não obedecem a um
pensamento unitário, coerente, racional, que é indispensável em qualquer
diploma legal, por razões de justiça e segurança ou certeza jurídica; (…)
Os direitos medieval, renascentista e absolutista exacerbavam o poder do
Estado, reduzindo a pouco os direitos individuais de cada um, ao passo
que o direito do Estado Liberal, saído da Revolução Francesa e das
revoluções congéneres que se propagaram na Europa, deve respeitar os
direitos humanos (…); Logo, o direito post-revolucionário, para respeitar
a Justiça, a Segurança e os Direitos Humanos, deve ser expresso em
códigos racionais, científicos e inteligíveis, redigidos em preceitos iguais
para todos os cidadãos».

As causas da codificação podem ser agrupadas em ideológicas, políticas,


técnico jurídicas e práticas.

a) Causas Ideológicas

De acordo com Oliveira Ascensão285 «O grande movimento racionalista é o


primeiro elemento que devemos pôr na origem da codificação. (…)
Manual..., vol. I, pags. 406/407
284

Introdução...,pág. 314
285

198
ojusracionalista se dissociava da ordem que encontrava na sociedade, e
como considerava, não só lícita mas necessária, a sua substituição por
uma ordem racional, por vezes em contraste com a ordem existente. (…)
Essa substituição era também possível. A razão humana podia elevar-se à
totalidade dos princípios que deveriam regular a vida social – ao direito
natural, dentro da visão da época. O direito positivo deveria reflectir
fielmente esse direito natural. O Código estava pois destinado a ser a
raisonécrite, participando do carácter sacral de que na época estava
nimbada a referência à razão humana».

b) Causas políticas

Oliveira Ascensão286 distingue causas de política interna e de política


externa:

«1) No plano interno, a codificação permite realizar dois grandes objectivos:

-impor uma legislação geral, que arredasse estatutos especiais. (…) o código
podia permitir, impondo-se como lei comum a todas as pessoas, abolir os
privilégios ou leis particulares existentes;

-favorecer uma unificação política por meio da unificação jurídica. (…) As


circunstâncias da época tornavam precárias unidades políticas como a da
França e de Espanha, a braços com diferenças profundas entre o Norte e
o Sul, ou entre as várias regiões. Noutros casos, como na Itália ou
Alemanha, havia uma pluralidade de Estados que aspiravam à unidade,
ainda não conseguida. Em todos os casos, a submissão dos direitos locais
a um código nacional prepararia ou consolidaria essa unificação. Pois que
todas a sociedade se caracteriza pelo seu direito, a imposição de um
direito comum é um passo considerável para a constituição de uma única
sociedade.

(…)

Introdução...,págs. 314/315
286

199
2) No plano externo, não podemos esquecer outros factores que estiveram
presentes no movimento da codificação. Se um certo país se consegue
reduzir a lei o conjunto de princípios que se afirmaram impostos pela
razão humana, esses princípios, cuja praticabilidade se pressupõe, podem
exercer grande atracção sobre países vizinhos. Nomeadamente, podem
conseguir o favor de certas camadas, preparando terreno para a sua
aceitação geral. (…) o Código Civil Francês de 1804 (…) conhecido por
Código de Napoleão, não apenas por ter sido elaborada sob a égide deste
como até pela valiosa intervenção pessoal de Napoleão teve na sua
elaboração. Este código, tradutor de um modo individualista de conceber
a sociedade, funcionou nas guerras napoleónicas como arma ofensiva: o
prestígio que ganhou no estrangeiro preparou o terreno, conquistando os
espíritos, para a conquista pelas armas, que se seguiu de perto».

José de Oliveira Ascensão287acrescenta que «O factor político surge por


vezes entremeado com factores de ordem ideológica ou jurídica. Assim,
ficou célebre a polémica travada entre Thibault, partidário da
codificação, e Savigny, o mestre da escola histórica, que a ela se opunha.
As posições assumidas por estes autores são consequentes com os seus
pressupostos filosóficos-jurídicos gerais. Se para Savigny o direito
assentava no espírito do povo, o código consistiria necessariamente em
algo postiço que cristalizaria o direito, impedindo a espontaneidade da
sua criação. Já Thibault assentava em pressupostos diferentes. (…) São
pois corentes com as suas premissas filosófico-jurídicas gerais as
posições que estes autores tomaram. Mas é necessário não esquecer que,
para além disso, também eram diversas as respectivas orientações
políticas; pelo que, discutindo a codificação, não deixavam de ter em
conta também as consequências políticas previsíveis desta, mesmo sem o
afirmarem expressamente. Essas consequências eram desejadas por
Thibault e receadas por Savigny. Já se disse, embora com exagero, que a
escola histórica conseguiu retardar quase um século a codificação na
Alemanha».

Introdução...,pág. 315
287

200
c) CausasTécncico-jurídicas

José de Oliveira Ascensão288 escreve que «Se o código é um instrumento


científico e sistemático, tem de ter na sua base um plano, uma ordenação
técnica das matérias, em que se apoie. Isso significa que a codificação
supõe um estado científico na análise do material jurídico, que tornou
possível essa sistematização. Foi justamente isso o que se verificou no
séc. XVIII: esforços doutrinários muito fecundos tornaram possível a
codificação. A visão de conjunto de cada ramo de direito que forneceram
está na base da estrutura dos códigos que foram surgindo, que se afastam
decididamente da mera justaposição de textos legais».

d) Causas Práticas

José de Oliveira Ascensão289 entende que «Uma evolução social profunda, e


nalguns casos precipitada, reclamava tradução no plano jurídico,
exigindo grandes restruturações. A essa evolução não eram já estranhos a
revolução industrial e o predomínio das classes burguesas.(...) è também
muito significativa a situação caótica em que na época se encontravam as
fontes do direito. (…) Difícil era não aspirar a definir num único diploma
todas as normas reguladoras de certo sector da vida social».

Para Mário Bigotte Chorão290 a «Pretensão dominante da codificação foi


reagir contra a multiplicidade, dispersiva e confusa, das fontes do Direito, e
imprimir a estas unidade, clareza e estabilidade, segundo critérios de
ordenação sistemática».

5. Vantagens e desvantagens da Codificação


1. Vantagens da Codificação

288
Introdução..., pág. 316
289
Introdução...,pág. 317
290
«Código», in Polis: enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado, vol. 1, coluna 953

201
De acordo com Marcelo Rebelo de Sousa e Sofia Galvão 291 «Na época
[entenda-se do surgimento da codificação], as vantagens imediatas foram
várias (…). ultrapassou-se a fragmentação do Direito. Ultrapassou-se a
multiplicidade confusa das ordens consuetudinárias. (…) Mas algo ficou.
Muito mais sólido e perene. I) A facilitação na apreensão do Direito. (…) II)
A coerência sistemática das soluções jurídicas. (…) III) A segurança das
referências interadas no trabalho do jurista».

Para Mário Bigotte Chorão292«A experiência feita comprovou inegáveis


vantagens da codificação, como meio de facilitar o conhecimento e a
aplicação prática do sistema normativo e como garantia de segurança
jurídica».

De acordo com José de Oliveira da Ascensão 293 a codificação tem vantagens


pois

«Permite um conhecimento fácil do direito, o que é um dom precioso. Se o


direito é regra da vida, deve ser conhecido; e quanto possível conhecido
directamente por aqueles cuja vida rege, e não só pelos juristas. (…)
Trazendo uma regulamentação unitária evita incongruências entre as várias
fontes, e faz avultar os grandes princípios que regulam aquele sector da vida
social. (…) pela sistematização científica que traz, dá ao intérprete um mapa
onde situar facilmente todo o novo caso; e esse mapa revela-se fecundo nos
entendimentos que torna possíveis. Tem também interesse para os casos
omissos, pois pode ser utilizado como ponto de partida para a integração de
lacunas».

Para A. Rodrigues Queiró294, todas as formas de codificação «visam e têm


realmente como efeito tornar o direito mais facilmente reconhecível, mais
simples, mais claro, mais certo, mais estável e mais coerente em relação a
todos os seus possíveis destinatários».

2. Desvantagens da Codificação
291
Introdução..., pags. 319/320
292
«Código», in Polis: enciclopédia Verso da Sociedade e do Estado, vol. 1, colunas 953/954
293
Introdução..., pags. 317 e 318
294
«Codificação», in Enciclopédia Luso Brasileira da Cultura, Edição século XXI, coluna 258

202
Para Mário Bigotte Chorão295 a codificação tem como desvantagens
o«imobilismo legislativo, conservadorismo doutrinal e idolatria legalista,
com a consequente frustração de finalidades essenciais do Direito.
Sobretudo na fase inicial, inquinada de “ideologismo” legalista e
codificador, a codificação favoreceu, incontestavelmente, algumas perigosas
distorções quanto à verdadeira natureza e metodologia do Direito:
sacrificou-se o pluralismo social e jurídico ao minismo estatista; em nome
do primado da lei ignorou-se o valor do costume e das fontes autónomas;
pretendeu-se que o ordenamento positivo estaria isento de lacunas (princípio
da plenitude do ordenamento jurídico); quis-se proibir ao juiz a interpretação
da lei codificada ou impor-lhe uma subserviente aplicação literal».

De acordo com José de Oliveira da Ascensão 296«(...) o incoveniente


específico do código é a rigidez. O Código representa um grande esforço
para quem o elabora, e quanto maior esse esforço mais respeito impõe após
realizado. (…) Os códigos são pouco alterados. (…) O incoveniente estende-
se também ao campo doutrinário, pois há tendência de fazer coincidir as
sistematizações legais e doutrinárias».

Para Marcelo Rebelo de Sousa e Sofia Galvão297 as desvantagens da


codificação são «Fundamentalmente duas. O sistema tende a tornar-se
rígido. E o jurista sente-se tentado a uma atitude meramente contemplativa e
exegética. (…) Um “código” é o resultado de um enorme esforço de
elaboração. De um trabalho de anos. Todas as alterações exigem uma
meditação profunda. É bem pesada a sua solidez. Já a vida é permanente
mutação, pulsar contínuo e imparável. Homens e instituições em constante
movimento, num percurso de que se não advinha o fim. É, por isso, quase
fatal que exista algum desfazamento. O preço de uma sistematização unitária
e científica bem pode estar na desesperada tentativa de fixar o dinamismo da
existência. (…) Por isso, deve caber ao jurista um papel decisivo. Adaptar o
Direito à vida. Adaptar respostas consolidadas à permanente mudança de
problemas e exigências. (…) Porém, não tem sido esta a tendência que a
prática vem desvendando. Fomenta-se o apego aos textos, elogia-se a

295
«Código», in Polis: enciclopédia Verso da Sociedade e do Estado, vol. 1, coluna 954
296
Introdução..., pag. 318
297
Introdução..., pag. 320

203
exegese arguta. Esquece-se a dimensão verdadeiramente criadora do
trabalho do jurista. Esquece-se a procura do Direito justo. O jurista
contempla o que lhe é dado e torna-se estruturalmente conservador».

Para A. Rodrigues Queiró298 «a estabilidade do direito codificado, na medida


em que faz cristalizar a sua evolução, prejudica de algum modo o progresso
jurídico. Emgeral, porém, está-se de acordo em que este preço deve ser pago
para se obter o máximo de ordem e de harmonia na vida jurídica».

2. Código em Sentido Formale Código em Sentido Material


De acordo com José de Oliveira Ascensão 299 «O problema ainda é agravado
pelo facto de certas leis trazerem a denominação de “Código” apesar de não
revestirem as características atrás assinaladas, ou pelo contrário não serem
designadas códigos e obedecerem a essas características. Por isso se fala por
vezes em códigos em sentido formal em contraposição a códigos em sentido
material (…), sendo códigos em sentido formal aqueles que o legislador
assim o denomina, e códigos em sentido material os diplomas que revestem
as características fundamentais que a doutrina assinala».

3. Formas da Codificação
De acordo com A. Rodrigues Queiró300 a Codificação pode assumir três
formas diferentes:

- Primeira forma :

«Com a primeira obtém-se a concentração da generalidade das normas de


um ramo ou de um sub-ramo de direito, vindo, portanto os códigos
elaborados nesta orientação a constituir, se não a fonte única de direito no
âmbito desse ramo ou sub-ramo da ordem jurídica, ao menos a fonte
principal, ao lado da qual poderão existir e vigorar leis acessórias ou leis
especiais (do tipo comum, fragmentário ou avulso, ou sistematizadas),
justificadas pela especificidade dos regimes que consagram ou das
298
«Codificação», in Enciclopédia Luso Brasileira da Cultura, Edição século XXI, coluna 258
299
Introdução …, pag.326
300
«Codificação» inEnciclopédia Luso Brasileira da Cultura, Edição século XXI, coluna 258

204
matérias reguladas».Exemplos: Codificação «do direito constitucional, do
direito civil, do direito comercial, do direito criminal, do direito
processual civil, do direito processual criminal e do direito canónico
(pontífício da Igreja Latina)»

-Segunda forma:

«visa-se reunir e sistematizar apenas princípios relativamente firmes,


constantes e gerais de um ramo ou sub-ramo da ordem jurídica,
conservando-se de fora, não só todos os princípios mais ou menos
incertos e questionados (aos cuidados da jurisprudência e da doutrina)
como ainda todas as disposições de carácter mais ou menos mutável,
contingente e temporário, todas as normas de âmbito pessoal ou
territorial restrito e todas as normas de natureza técnico-organizatória».
Exemplos: as codificações «tentadas já em alguns países, dos princípios
gerais do direito administrativo».

-Terceira forma:

«quando se trata, simplesmente, de reunir, sistematizada e ordenadamente,


todo o conjunto das normas que precedentemente regulavam ou que hão-
de vir a regular uma dada matéria ou assunto (codificação por matérias
ou ramificada)». Exemplos: codificação «do tipo (…) Cód.
Administrativo [português], dos vários códigos fiscais, dos códigos dos
registos, do tipo dos que em Itália se chamam “textos únicos”, e ainda as
codificações do direito internacional».

4. Codificação em Moçambique
a) Considerações gerais

A Codificação em Moçambique teve grande influência da codificação em


Portugal. Como se sabe, Moçambique foi colónia de Portugal, por isso
muita legislação (incluindo códigos) que era aprovada em Portugal era,
posteriormente, extensiva às colónias portuguesa de que Moçambique faz
parte.

205
Um considerável número de códigos em vigor em Moçambique foram
aprovados no período colonial. O artigo 71 da Constituição da República
Popular de Moçambique, de 1975, preceituava que “Toda a legislação
anterior no que for contrária à Constituição fica automaticamente
revogada. A legislação anterior no que não for contrária à Constituição
mantém-se em vigor até que seja modificada ou revogada”. Esta
disposição constitucional mantinha em vigor muita legislação, incluindo
códigos, aprovada no tempo colonial.

Após a Independência Nacional a codificação continuou influenciada pelo


Direito comparado, muito em especial o Direito português.

Assim, certos códigos, em Moçambique e noutros países perderam aquela


rigidez quanto a sua alteração e revisão. É o caso dos códigos relativos à
matéria fiscal. Às vezes são alterados ou revistos antes de passar 10 anos
da sua vigência. Por outro lado, certos códigos regulam certas parcelas de
um determinado ramo do Direito e não a totalidade de um ramo de
Direito.

Também, em Moçambique e no mundo, tem sido aprovados códigos com


poucos artigos relativamente aos códigos antigos.

O Direito evolui no mundo e em Moçambique em particular e certas


matérias justificaram a aprovação de códigos. É o caso do Código da
Propriedade Industrial e o Código da Publicidade.

O primeiro código aprovado após a independência nacional (sem considerar


a Constituição de 1975 e as alterações feitas aos códigos aprovados no
tempo colonial) foi o Código do Imposto de Consumo, aprovado pelo
Decreto-Lei nº 27/76, de 29 de Junho.

O Código de Estrada que vigorou desde o tempo colonial sofreu alterações


tendo sofrido uma revisão em 2011. No que concerne às alterações ao
Código de Estrada merece realce o facto de algumas alterações terem
sido feitas por leis em sentido formal e outras por decretos do Conselho
de Ministros. Isto podia criar confusões no que respeita à hierarquia das
leis.

206
b) Principais códigos em Moçambique

Os códigos são apresentados em ordem alfabética. Outra ordenação poderia


ter sido adoptada como a ordenação cronológica ou a ordenação por
ramos de Direito.

 Código Civil. Aprovado pelo Decreto-Lei nº 47 344, de 25 de


Novembro de 1966. Tornado extensivo a Moçambique pela Portaria
nº 22869, de 4 de Setembro. O Livro I trata da parte geral. O Título I
trata das leis, sua interpretação e aplicação e o Título II trata das
relações jurídicas. O Livro II trata do Direito das Obrigações. O Título
I trata das obrigações em geral e o Título II trata dos contratos em
especial. O Livro III trata do Direito das coisas. O Título I trata da
posse; o Título II trata do direito de propriedade; o Título III trata do
usufruto, uso e habitação; o Título IV trata da enfiteuse; o Título V
trata do direito de superfície e o título VI trata das servidões prediais.
O Livro IV trata do Direito da Família, mas já foi revogado pela Lei
da Família. O Livro I trata do Direito das sucessões. O Título I trata
das sucessões em geral; O título II trata da sucessão legítima; o Título
III trata da sucessão legitimária e o Livro IV trata da sucessão
testamentária. O Decreto-Lei nº 3/2006, de 23 de Agosto estabelece o
regime para a constituição, alteração e dissolução das pessoas
colectivas e altera os artigos 168, 185, 1143, 1232 e 1239 do Código
Civil. A lei nº 10/2004, de 25 de Agosto aprova a Lei da Família e
revoga o Livro IV do Código Civil.A Lei nº 10/2004, de 25 de Agosto
foi revogada pela Lei nº 22/2019, de 11 de Dezembro. Importa referir
também que o Livro V do Codigo Civil atinente ao Direito das
Sucessoes foi revogado Lei nº 23/2019, de 23 de Dezembro.
 Código Comercial. Aprovado pelo Decreto-Lei nº 2/2005, de 27 de
Dezembro. Revoga o Código Comercial anterior que tinha sido
aprovado pela Carta de Lei de 28 de Junho de 1888, com excepção do
articulado respeitante às sociedades cooperativas e ao comércio

207
marítimo. Foi alterado pelo Decreto-Lei nº 2/2009, de 4 de Abril. O
seu Decreto-Lei preambular tem 7 artigos. O Código Comercial tem
838 artigos. O Livro Primeiro trata do exercício da empresa
comercial. Este livro compreende o Título I que trata das disposições
gerais; o Título II que trata da capacidade empresarial, empresários e
suas obrigações; o Título III trata dos lugares destinados ao comércio
(mercados e feiras; armazéns gerais do comércio; armazéns ou lojas
de venda); o Título IV trata do Estabelecimento Comercial. O Livro
Segundo trata das Sociedades Comerciais. O Título I é a parte geral; o
Título II trata das Sociedades Comerciais em Especial (Sociedade em
nome Colectivo, Sociedade em Comandita, Sociedade de Capital e
Indústria, Sociedade por Quotas, Sociedade por Quotas com Único
Sócio, Sociedade Anónima). O Livro Terceiro trata dos Contratos e
Obrigações Comerciais. O Título II é a parte geral; o Título II trata
dos Contratos em Especial (compra e venda mercantil, contrato de
reporte, contrato de fornecimento, escambo ou troca, contrato de
prestação de serviços mercantis, contrato de agência, contrato de
transporte, contrato de consórcio). O Livro Quarto trata dos Títulos de
Crédito. O Título I trata dos títulos de crédito em geral; o Título II
trata das Letras e Livranças, o Título III trata do Cheque).
 Código da Estrada. Aprovado pelo Decreto-Lei nº 1/2011, de 23 de
Março; publicado no BR nº 12, 4º Suplemento, de 23 de Março de
2011. Tem uma rectificação publicada no BR nº 17, I Série, de 29
Abril de 2011. Este código revoga o anterior aprovado pelo Decreto-
Lei nº 36 672, de 20 de Maio de 1954. O Decreto-Lei preambular do
Código da Estrada tem 3 artigos e a Código da Estrada tem 186
artigos e 2 anexos. O Título I trata das disposições gerais; o Título II
trata do trânsito de veículos e animais; o Título III trata do trânsito de
peões; o Título IV trata dos veículos; o Título V trata da habilitação
legal para conduzir; o Título VI trata da responsabilidade (acidentes
de viação); o Título VII trata dos procedimentos de fiscalização e o
Título VIII trata do processo [de contravenções].
 Código da Propriedade Industrial. Foi aprovado pelo Decreto nº
47/2015, de 31 de Dezembro. Nos termos do artigo 2 do Código «O
presente diploma estabelece o regime especial de proteccao dos
208
direitos da propriedade industrial e define os direitos e obrigações
emergentes da sua concessão e registo, incluindo os mecanismos de
fiscalização e as sanções que resultem da sua violação, com vista a
promoção da inovação, transferência e disseminação de tecnologia e
protecção dos consumidores».
 Código da Publicidade. Aprovado pelo Decreto nº 65/2004, de 31 de
Dezembro; publicado no BR nº 52, I Série, de 31 de Dezembro de
2004. O seu decreto preambular tem 5 artigos e o próprio código tem
40 artigos.
 Código das Custas Judiciais. Aprovado pelo Decreto nº 43809, de
20 de Julho de 1961. Alterado por vários diplomas, podendo-se
destacar o Decreto nº 48152, de 23 de Dezembro de 1967; Decreto nº
570/73, de 31 de Outubro; Decreto nº 82/2009, de 29 de Dezembro;
Decreto nº 9/2018, de 9 de Março..
 Código das Execuções Fiscais. Aprovado pelo Decreto nº 38 008, de
31 de Março de 1951. Revogados os artigos 147 e 148 do Código das
Execuções Fiscais, pelo Decreto-Lei nº 1/2013, de 4 de Julho.
 Código de Benefícios Fiscais. Aprovado pela Lei nº 4/2009, de 12 de
Janeiro. O Código foi publicado com erros por isso foi publicado o
Aviso de 30 de Abril de 2009 que rectifica o artigo 36 da Lei nº
4/2009.
 Código de Processo Civil. Aprovado pelo Decreto-Lei nº 44 129, de
28 de Dezembro de 1961. Alterado pelo Decreto-lei nº 47 690 de 11
de Maio de 1967. Tornado extensivo a Moçambique pela Portaria nº
23 090, de 26 de Dezembro de 1967. Foi alterado pelo Decreto-Lei nº
1/2009, de 24 de Abril. O Livro I trata da acção. O Título I trata da
acção em geral e o Título II trata da acção executiva. O Livro II trata
da competência e das garantias da imparcialidade. O Livro III trata do
Processo. O Título I trata das disposições gerais; o Título II trata do
processo de declaração; o Título III trata do processo de execução e o
Título IV trata dos processos especiais. O Livro IV trata do tribunal
arbitral. O Título I trata do tribunal arbitral voluntário e o Título II
trata do tribunal arbitral necessário. A Lei da Arbitragem (Lei nº
11/99, de 8 de Julho) também alterou alguns artigos do Código de
Processo Civil. O Decreto-Lei nº 1/2013, de 4 de Julho, revogou os
209
artigos 1122 a 1325 do Código de Processo Civil.
 Código de Processo de Trabalho. Aprovado pelo Decreto-Lei nº 45
497, de 30 de Dezembro de 1963, extensivo a Moçambique pela
Portaria nº 87/70, de 16 de Março.
 Código de Processo Penal.Aprovado pelanº 25/2019, de 26 de
Dezembro que revoga o antigo Código de Processo Penal,aprovado
pelo Decreto nº 16489, de 15 de Fevereiro de 1929, tornado extensivo
a Moçambique pelo Decreto nº 19271, de 24 de Janeiro de 1931.
 Código do Imposto de Selo. Aprovado pelo Decreto nº 6/2004, de 1
de Abril. Alterado pelo Decreto nº 38/2005, de 29 de Agosto.
 Código do Imposto Sobre Consumos Específicos. Aprovado pela
Lei nº 17/2009, de 10 de Setembro. Alterado pela Lei nº 5/2012, de 23
de Janeiro e Lei nº 2/2013, de 7 de Janeiro
 Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas
Colectivas.Aprovado pela Lei nº 34/2007, de 31 de Dezembro;
publicado no BR nº 52, 3º Suplemento, de 31 de Dezembro de 2007.
Foi alterado pela Lei nº 20/2009, de 10 de Setembro, pela Lei nº
4/2012, de 23 de Janeiro e alterado também pela Lei nº 19/2013, de 23
de Setembro. A sua lei preambular tem 4 artigos e o próprio código
tem 77 artigos.
 Código de Execução de Penas. Aprovado pela Lei nº 26/2019, de 27
de Dezembro.
 Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares.
Aprovado pela Lei nº 33/2007, de 31 de Dezembro; publicado no BR
nº 52, 3º Suplemento, de 31 de Dezembro de 2007, alterado também
pela Lei nº 20/2013, de 23 de Setembro. A sua Lei preambular tem 4
artigos e o próprio código conta com 74 artigos.
 Código do Imposto sobre o Valor Acrescentado. Aprovado pela Lei
nº 32/2007, de 31 de Dezembro; publicado no BR nº 52, 3º
Suplemento, de 31 de Dezembro de 2007. Alterado pela Lei nº
3/2012, de 23 de Janeiro. A sua lei preambular tem 4 artigos e o
próprio código com 52 artigos e 2 anexos.
 Código do Imposto Sobre Sucessões e Doações. Aprovado pela Lei
nº 28/2007, de 4 de Dezembro; publicado no BR nº 48, I Série, 4º
Suplemento, de 4 de Dezembro de 2007. Tem apenas 22 artigos.
210
 Código do Mercado dos Valores Mobiliários. Aprovado pelo
Decreto-Lei nº 4/2009, de 24 de Julho; publicado no BR nº 29, 2º
Suplemento, de 24 de Julho de 2009. O seu decreto-lei preambular
tem 3 artigos e o código conta com 157 artigos. Nos termos do artigo
1 do Código do Mercado de Valores Mobiliários «O presente Código
tem por objecto estabelecer os princípios e disposições fundamentais
porque se regem a organização e o funcionamento dos mercados dos
valores mobiliários, assim como as operações neles realizados e as
actividades que nesses mercados exerçam todos os agentes que neles
intervêm». A alínea h), nº 1 do artigo 3 do Código do Mercado dos
Valores Mobiliários, estabelece que «Mercado de valores mobiliários
– o conjunto dos mercados organizados ou controlados pelas
autoridades competentes e onde esses valores se transaccionam».
 Código do Notariado. Aprovado pelo Decreto-Lei nº 4/2006, de 23
de Agosto; publicado no BR nº 34, I Série, de 23 de Agosto de 2006.
O seu decreto-lei preambular tem 2 artigos e o próprio código tem 213
artigos.
 Código do Registo Civil. Aprovado pela Lei nº 12/2018, de 4 de
Dezembro.
 Código do Registo Predial.Aprovado peloDecreto-Lei nº 2/2018, de
23 de Agosto que revoga o anterior que tinha sido aprovado pelo
Decreto-Lei nº 47 611, de 28 de Março de 1967, extensivo ao ultramar
pela Portaria nº 23 088, de 26 de Dezembro de 1967.
 Código do SISA. Aprovado pelo Decreto nº 46/2004, de 27 de
Outubro; publicado no BR nº 43, I Série, de 27 de Outubro de 2004.
Tem apenas 42 artigos. Nos termos do nº 1 do artigo 1 do Código da
Sisa, «A Sisa incide sobre as transmissões, a título oneroso, do direito
de propriedade ou de figuras parcelares desse direito, sobre os bens
imóveis». Nos termos do nº 2 do artigo 1 do Código do Sisa «(...)
consideram-se bens imóveis, os prédios urbanos situados em território
nacional».
 Código dos Benefícios Fiscais. Aprovado pela Lei nº 4/2009, de 12
de Janeiro; publicado no BR nº 1, I Série, 3º Suplemento, de 12 de
Janeiro de 2009. Tem uma lei preambular com 4 artigos e o próprio
código com 54 artigos. Esta lei tem uma falha de Técnica Legislativa:
211
o artigo 4 da lei preambular estabelece que “A presente Lei entra em
vigor em 1 de Janeiro de 2009”, depois segue a data da aprovação pela
Assembleia da República e a assinatura do presidente deste órgão. De
seguida é apresentada a data da promulgação pelo Presidente da
República seguido de sua assinatura. Por sua vez o artigo 54 do
Código repete o que consta do artigo 4 da lei preambular seguido da
data da aprovação pela AR e a assinatura do presidente deste órgão e a
data da promulgação pelo PR e a assinatura deste. Ou seja, o artigo 54
do Código dos Benefícios Fiscais é desnecessário tendo em conta o
previsto no artigo 4 da lei preambular.
 Código Penal.Aprovado pela Lei nº 24/2019. De 24 de Dezembro.
Revoga o anterior,aprovado pela Lei nº 35/2014, de 31 de Dezembro
que por sua vez substitui o Código Penal aprovado pelo Decreto de 16
de Setembro de 1886.
 Código Penal e Disciplinar da Marinha Mercante. Aprovado pelo
Decreto-Lei nº 33252, de 20 de Novembro de 1943 e tornado
extensivo a Moçambique pela Portaria nº 10607, de 19 de Fevereiro
de 1944.
 Código Tributário Autárquico. Aprovado pelo Decreto nº 63/2008,
de 30 de Dezembro.

PERGUNTAS DE CONSOLIDAÇÃO E QUESTÕES PARA


REFLEXÃO

1. Comente, exaustivamente, a seguinte afirmação: “um código é uma lei em


sentido material que reúne de uma maneira técnico científica e sistemática
aspectos fundamentais de um ramo de Direito, vários ramos de Direito ou
parte de um ramo de Direito”
2. Na sua opinião se a codificação tem desvantagens porque é que até hoje
ainda são aprovados códigos?
3. Fale da forma de codificação usada no Código Civil
4. O primeiro código aprovado no nosso país após a independência nacional
regula matéria de que ramo do Direito?
5. Explique profundamente a seguinte afirmação: “Os códigos caracterizam-se
pelos três «S»”
212
6. Preste atenção à seguinte passagem e reponde à pergunta colocada: “o
Código de Napoleão funcionou nas guerras napoleónicas como arma
ofensiva: o prestigio que ganhou no estrangeiro preparou o terreno,
conquistando os espíritos para a conquista pelas armas que seguiu de
perto”.
 A passagem acima transcrita refere-se a causas técnico jurídicas da
Codificação? Justifique a sua resposta.

7. Comente as seguintes afirmações:


a) “O Código Civil é um código em sentido formal”;
b) “A Constituição da República é um código em sentido formal”;
c) “O código é sempre uma lei aprovada pelo parlamento”
d) “Com a codificação ultrapassou-se a fragmentação do Direito”
e) “A codificação leva ao imobilismo legislativo e ao conservadorismo
doutrinal”
8. Diferencie um código de simples compilações de leis
9. Indique o diploma legal que aprova o Código da Publicidade
10.Indique o diploma legal que aprova o Código Tributário Autárquico

PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO

1. Noção de Princípios Gerais de Direito

Diogo Freitas do Amaral301 define Princípios gerais de Direito como «as máximas
ou fórmulas, enunciadas de forma condensada, que exprimem as grandes
orientações e valores que caracterizam uma dada ordem jurídica, ou um certo ramo
ou subramo do Direito»

Determinam por si só a vida e a lógica do sistema jurídico.

Manual de Introdução ao Direito, volume I,pag. 499


301

213
2. Diferença entre princípio e regra

De acordo com Diogo Freitas do Amaral 302 “os princípios são a fonte geradora de
regras; as regras são o produto dimanado dos princípios. Estes são a causa; aquelas
são o efeito”.

Diogo Freitas do Amaral303 continua a distinção dos princípios e regras nos


seguintes termos: “os princípios são fórmulas com um reduzido grau de
determinabilidade, que por isso carecem, para ser aplicados, da mediação do
legislador ou do juiz; as regras possuem um maior grau de determinabilidade, pelo
que são susceptíveis de aplicação imediata (…)”.

Diogo Freitas do Amaral304 termina a distinção dizendo que a “necessidade de


distinção entre princípios e regras não se coloca a respeito daquele tipo de
princípios que denominamos como princípio-norma, em que o princípio é, ele
próprio, uma norma de conduta bem determinada e precisa”

3. Classificação dos Princípios Gerais de Direito

Diogo Freitas do Amaral305 apresenta a seguinte classificação:

 Quanto à forma:

a) Princípios expressos: são os que «se encontram enunciados de modo


expresso (por ex., o princípio do Estado de Direito Democrático, no art. 2º
da CRP; o princípio do efeito útil dos tratados, no art. 44º da Convenção de
Viena sobre o Direito dos Tratados entre Estados (1969); ou o princípio de
que só um tribunal judicial pode condenar alguém a uma pena criminal, no
art. 8º do CPP)»
302
Manual de Introdução ao Direito, volume I, página 501
303
Manual de Introdução ao Direito, volume I, página 501
304
Manual de Introdução ao Direito, volume I, página 501
305
Manual de Introdução ao Direito, volume I, páginas 502/503

214
b) Princípios deduzidos: não estão expressamente enunciados, «têm de ser
deduzidos de valores superiores (o princípio da presunção da inocência do
arguido».

c) Princípios induzidos: não estão expressos, são «induzidos das várias


disposições legais parcelares (o princípio da igualdade dos Ministros, dentro
de qualquer governo)».

 Quanto à função:

a) Função programática: «função geradora de normas jurídicas (por ex., o


princípio da boa fé, assim basicamente enunciado no art. 266º, nº 2, da CRP,
dá origem às normas do art. 6º-A do CPA, que caracterizam os vários
deveres de actuação da Administração pública segundo o princípio da boa
fé)».

b) Função interpretativa:«consiste na função auxiliar da interpretação das leis


(por ex., o princípio favor laboratoris leva a interpretar certas normas de
Direito do Trabalho de maneira mais favorável ao trabalhador – art. 4º do
Cód. Do trab.)».

c) Função integradora: «consiste na função que os princípios gerais de


Direito desempenham como meios de integração de lacunas da lei».

d) Função invalidante: «tais princípios quando violados por uma norma ou


acto jurídico de grau hierárquico inferior, tornam essa norma ou esse acto
inválidos».

 Quanto à estrutura:

215
a) Princípios-valor: «que apenas referem um valor jurídico superior, de onde
podem brotar diversas normas jurídicas, por dedução (por ex., o “princípio
da justiça” ou o “princípio da boa fé”)».

b) Princípios-norma: «cujo enunciado contém em si mesmo uma norma


jurídica directamente aplicável (por ex., “in dubio pro reo”)».

c) Princípios-síntese: «que revelam, por indução, uma directriz contida em


várias normas de conduta (por ex., o “princípio da igualdade dos
Ministros”)».

António Mezes Cordeiro306 apresenta a seguinte classificação:

a) Princípios Injuntivos – “se impõem às partes”


b) Princípios Supleticos – “se podem ser afastados por cláusulas em
contrário”
c) Princípios Prescritivos - “quando (...) determinam condutas”
d) Princípios Indicativos – “quando (...)sejam apenas auxiiaresde
interpretação”
e) Princípios Impositivos – “sempre que moldem as regras onde
aflorem”
f) Princípios Integrativos – “sempre que (...) actuem perante lacunas”

4. Alguns princípios em especial

i. Princípio da igualdade

Está consagrado no artigo 35 da CRM, nos termos da qual “Todos os cidadãos são
iguais perante a lei, gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos
deveres, independentemente da cor, raça, sexo, origem étnica, lugar de nascimento,
religião, grau de instrução, posição social, estado civil dos pais, profissão ou opção
política”.

“Princípios Gerais doe Direito” in POLIS: Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado: Antropologia, Direito,
306

Economia, Ciência Política, tomo 4, coluna 1490

216
De acordo com Carlos Alberto da Mota Pinto307 “O que o princípio da igualdade
impõe é uma proibição do arbítrio na diferenciação das hipóteses legais. Impõe que
o legislador não possa tratar arbitrariamente o essencialmente igual como desigual,
nem o essencialmente desigual arbitrariamente como igual”.

Este princípio está consagrado também no artigo 21 da Lei nº 7/2012, de 8 de


Fevereiro (Lei de Base da Organização e Funcionamento da Administração
Pública); artigo 6 da Lei nº 14/2011, de 10 de Agosto (Lei que Regula a formação
da vontade da Administração Pública e estabelece as normas de defesa dos direitos
e interesses dos particulares).

ii. Princípio da proporcionalidade

Este princípio aplica-se naqueles casos em que pela actuação de qualquer pessoa
(singular ou colectiva, pública ou privada) pode lesar os direitos de outrem.

De acordo com este princípio o uso da força deve ser proporcional aos objectivos a
atingir e lesando pouco os direitos e interesses das pessoas.

Por exemplo, estabelece o nº 2 do artigo 6 da Lei nº 14/2011, de 10 de Agosto que


“As decisões da Administração Pública em desrespeito a direitos subjectivos e
interesses legítimos dos cidadãos só podem afectar essas posições em termos
adequados e proporcionais ao objectivos a atingir”. O nº 3 do mesmo artigo elucida
que “a proporcionalidade implica que, de entre as medidas convenientes para a
consecução de qualquer fim legal, os agentes da Administração Pública devem
adoptar as que acarretem consequências menos graves para a esfera jurídica do
administrado”.

Este princípio aplica-se também aos casos de legítima defesa, acção directa e
estado de necessidade.

Teoria Geral do Direito Civil, 3ª edição, pág. 70


307

217
iii. Princípio da Imparcialidade

De acordo com este princípio a Administração Pública deve tratar as pessoas com
imparcialidade (neutralidade).

Está consagrado em muita legislação, sendo de destacar o nº 2 do artigo 217 da


CRM; o artigo 22 da Lei nº 7/2012, de 8 de Fevereiro; artigo 7 da Lei nº 14/2011,
de 10 de Agosto.

iv. Princípio da Garantia dos Direitos dos Cidadãos

De acordo com este princípio os direitos dos cidadãos devem ser garantidos pelo
Estado e outros poderes públicos.

Está consagrado no artigo 56 da CRM.

v. Princípio do contraditório

Segundo este princípio qualquer pessoa tem direito de apresentar contraditório em


torno dos factos alegados que lhe digam respeito.

vi. Princípio da Defesa

De acordo com este princípio, nenhuma condenação deve ser feita sem que o
acusado tenha direito de apresentar a defesa.

Este princípio está consagrado em muitas normas relativas a processo penal,


processo civil, processos disciplinares e outras.

vii. Princípio da celeridade processual

218
Este é o princípio típico do Direito processual, nos termos do qual os processos
devem ser conduzidos de modo a ser conclusos o mais urgente possível ou em
prazo razoável.

RAMOS DO DIREITO

O Direito tal como os outros ramos do conhecimento humano tem as várias


divisões e subdivisões. Se formos a falar da Contabilidade podemos encontrar a
Contabilidade Geral, Contabilidade Analítica, Contabilidade Industrial,
Contabilidade de Seguros, etc. Na Economia podemos ter a Microenomia,
Macroeconomia, Economia Internacional, etc. Na Geografia temos a Geografia
Física e a Geografia Económica, e cada uma destas divisões da Geografia tem as
suas subdivisões: na Geografia económica podemos destacar a Geografia da
população (Demografia), a geografia dos transportes, a Geografia da Indústria e
daí em diante.

1. Requisitos para que uma área do saber do direito possa constituir um ramo

Para que uma área de saber do Direito seja considerada Ramo de Direito são
necessários, pelo menos, um dos seguintes requisitos:

Princípios jurídicos próprios


Atrás vimos os Princípios Gerais do Direito. Um ramo de direito precisa de ter
princípios próprios desse ramo.

219
Autonomia legislativa
Uma área de saber jurídico precisa de ter uma lei ou leis que tratam
exclusivamente dessa matéria.

Autonomia didáctica
Uma área de saber jurídico precisa de ter uma disciplina (cadeira) que ensina essa
matéria.

2. Importância da determinação do ramo de Direito

Ajuda a determinar o Tribunal e outros órgãos competentes para resolver eventuais


litígios: se a pessoa tem uma questão de Direito de Trabalho vai procurar resolver a
questão nos tribunais de trabalho (ou nas secções laborais dos tribunais judiciais)
ou contactar o Ministério do Trabalho ou direcções provinciais de trabalho ou
Centros de arbitragem e Conciliação Laboral. Se a pessoa tem assunto aduaneiro
vai contactar os tribunais aduaneiros ou a Autoridade Tributária de Moçambique
(muito em especial a Direcção Geral das Alfândegas, Direcções regionais das
alfândegas, etc)

Ajuda a determinar os princípios de direito aplicáveis: se for no âmbito do Direito


Privado usa-se os princípios da liberdade e da igualdade entre as partes. Já no
direito público usa-se muito o princípio da competência e da prevalência do
interesse público sobre o interesse particular.

Ajuda a fazer a divisão do trabalho (especialização) entre os vários juristas (juízes,


Advogados, procuradores, docentes, investigadores, etc.): Há juristas, por exemplo,
que se dedicam ao Direito Fiscal, outros que se dedicam ao Direito Comercial,
outros que se dedicam ao Direito Constitucional, por aím em diante.

Ajuda a determinar a legislação aplicável: se a pessoa tem um assunto fiscal, por


exemplo, vai procurar a legislação fiscal.

3. Direito Interno e Direito Internacional

220
Direito Interno é um conjunto de normas jurídicas que regulam as relações sociais
que se desenrolam no âmbito interno de um determinado Estado. Tem uma eficácia
interna, isto é, só são válidas dentro do território de um determinado Estado e,
excepcionalmente, no estrangeiro.

Direito Internacional é o conjunto de normas jurídicas que regulam as relações


sociais que se desenrolam no âmbito de mais de um Estado. O Direito
Internacional subdivide-se em Direito Internacional Público e Direito Internacional
Privado. Mais adiante vamos aprofundar sobre o Direito Internacional.

4. Direito público e Direito privado

A classificação fundamental do Direito interno é a que separa o Direito Público do


Direito Privado. Para este efeito tem sido propostos vários critérios, mas vamos
nos referir a três: o critério de interesses, o critério da natureza ou qualidade dos
sujeitos e o critério da posição dos sujeitos na Relação Jurídica.

Critérios para determinar se uma norma ou relação jurídica é do direito


público ou do direito privado

1. Critério dos interesses


Explicando este critério, José Dias Marques308 escreve que «dir-se-á que as normas
de Direito Privado são as que configuram relações em que conflituam apenas
interesses privados; e que são normas de Direito Público as que regulam relações
em que conflituam o interesse público e o interesse privado».

Críticas ao Critério dos Interesses

José Dias Marques309 critica este critério nos seguintes termos: «É sabido, porém,
que ao mesmo tempo que entre o interesse público e o privado se dão situações de

Introdução ao Estudo do Direito, pag. 233


308

Introdução ao Estudo do Direito, pag. 233


309

221
conflito, ocorrem igualmente situações de solidariedade, acontecendo que da
protecção normativa do interesse do Estado igualmente beneficie o indivíduo,
assim como a protecção dos interesses deste pode ser útil a toda a comunidade».

É por isso que José Dias Marques310 reformula o Critério dos Interesses nos
seguintes termos: «Daí a necessidade de atender não apenas à existência ou
inexistência, do interesse público mas antes ao modo da protecção jurídica tanto
desse interesse como do interesse dos particulares. Partindo desta ideia, caberá
então distinguir aqueles casos em que a protecção directa do interesse público
conduz à satisfação reflexa dos interesses privados (Direito Público), daqueles
outros em que a lei organiza directamente a protecção de interesses privados
(Direito Privado) sem prejuízo, aliás, da satisfação reflexa dos interesses públicos
que com eles se encontram em conexão. E, deste modo, será norma qualificada
como pertencente ao Direito Público ou ao Direito Privado conforme os direitos
por ela atribuídos visam proteger directamente o interesse da comunidade ou dos
particulares.(...) Vistas as coisas sob este prisma, dir-se-á, por exemplo, que o
Direito Processual Civil é público porque o interesse que ele protege directamente
é o interesse colectivo da realização do Direito sem prejuízo de reconhecer-se que,
com a satisfação imediata deste interesse, fica reflexamente beneficiado o
particular que se dirigiu aos tribunais e deles obteve e tutela do seu direito».

Apesar desta reformulação, José Dias Marques311continua criticando este critério:


«Se bem se repara, porém, o mencionado critério dos interesses, ainda que na
exposta forma, apresenta uma natureza pré-jurídica pois não respeita a um
elemento configurado na própria norma (o sujeito, o poder, etc.) mas a algo que lhe
pré-existe e lhe serve de base económica ou social -o interesse (…) Daí que autores
tendam a afastar-se do critério (material) dos interesses e a optar por critérios
formais que, em virtude desta sua natureza, possam separar com mais rigorosa
exactidão o Direito Público do Direito Privado».

João de Castro Mendes312 também critica esta teoria da seguinte maneira: «A este
critério têm-se dirigido muitas críticas. Em algumas há uma ponta de exagero – por
exemplo, na que sustenta que o critério pretende reduzir o direito privado a um

310
Introdução..., págs. 233/234
311
Introdução..., pag. 234
312
Introdução ao Estudo do Direito, pag. 179

222
direito individualista, que beneficia os particulares isoladamente considerados, sem
a união numa solidariedade comum (…)».

João de Castro Mendes acrescenta que «o critério não é suficientemente preciso,


dando origem a fundadas dúvidas de aplicação em caso de fronteira. Expondo uma
apenas das possíveis, salientaremos que as normas que permitem no direito
português a instituição de fundações parece protegerem – e protegerem
directamente – o «interesse social» (cfr. Artigo 188º, nº 1, e, ainda, 190º, nº 1,
alínea b), do Código Civil) que estas necessariamente prosseguem – e, no entanto,
são direito privado (regulados no Código Civil) e não direito público».

2. Critério dos sujeitos na Relação Jurídica


De acordo com João de Castro Mendes313«Seriam relações de direito público
aquelas de que fosse um dos sujeitos o Estado, ou outra pessoa colectiva dotada de
autoridade política; relação de direito privado aquela em que nenhum dos sujeitos
pertencesse às referidas categorias».

Críticas

João de Castro Mendes314 entende que este critério também é insuficiente, porque
«O Estado – para falar só neste caso fundamental – aceita muitas vezes intervir, no
mesmo plano que os particulares, em relações que continuam, portanto, a ser de
direito privado – pode ter (ao lado do domínio público) o seu domínio privado
(Código Civil, art. 1304º), pode ser responsabilizado em termos de direito privado
(artigo 501º do Código Civil), pode ser herdeiro nos mesmos termos (artigo 2153º
do Código Civil, etc».

João de Castro Mendes315 acrescenta que «Deve exigir-se portanto que a relação,
para ser de direito público, se trave entre entidades dotadas de autoridade política
e que intervenham na relação munidas dessa autoridade, reservando para o
campo das relações de direito privado, não só as relações entre particulares (não
dotados de autoridade política), mas também as relações de que sejam sujeitos
313
Introdução..., pág. 179
314
Introdução..., pág. 179
315
Introdução..., págs. 179/180

223
entidades dotadas de autoridade política, mas intervenham nessa relação
desprovidas dessa autoridade, no mesmo plano que os particulares».

3. Critério da posição dos sujeitos na Relação Jurídica


De acordo João de Castro Mendes316 «Parece-nos mais curial este critério, dito
critério da posição dos sujeitos na relação jurídica. Tal critério distingue, pois,
primariamente as relações: relações jurídicas de direito público e relações jurídicas
de direito privado; só secundariamente as normas que as disciplinam ou regula.
São relações jurídicas de direito público aquelas em que intervêm entidades
munidas (enquanto munidas) de autoridade pública, de jus imperii, designadamente
o estado; e são normas jurídicas de direito público as que disciplinam essas
relações. São relações jurídicas de direito privado as que se estabelecem entre
particulares em que intervenham – mas despidos do seu imperium -, o Estado ou
outra entidade que o possua; paralelamente, o direito privado é formado pelas
normas que disciplinam tais relações»

v. Conclusão

De toda a reflexão acima exposta sobre a distinção de uma relação jurídica de


Direito Público e relação jurídica de Direito Privado e a observação que fazemos
das várias relações jurídicas chegamos à seguinte conclusão:

Estamos perante uma relação jurídica de Direito Público naqueles casos em que,
pelo menos, um dos sujeitos da relação jurídica é Estado ou outra pessoa colectiva
de Direito Público (Autarquia local, Instituto Público, etc) e, excepcionalmente,
privados, no uso do jus imperii(poder de autoridade pública). Estamos perante
uma relação Jurídica de Direito privado naqueles casos em que nenhum dos
sujeitos da relação jurídica está no uso do jusimperi.

Para melhor compreensão vamos dar alguns exemplos:

-Se o Estado, através da Autoridade Tributária de Moçambique, cobra imposto à


empresa Entreposto de Moçambique (relação jurídico fiscal) estamos perante uma

Introdução..., pág. 180


316

224
relação jurídica de Direito Público, pois, nesta relação o Estado está no uso do seu
jus imperri. Aqui entre o Estado e a Entreposto de Moçambique não há igualdade
entre as partes, pois uma das partes (neste caso o Estado) está em supremacia em
relação à outra parte. O Estado está numa relação de supremacia em relação à
empresa Entreposto de Moçambique. Em caso de conflito entre o Estado e a
empresa Entreposto de Moçambique vão se aplicadas, primeiramente, normas de
Direito fiscal e subsidiariamente de outros ramos de Direito e o conflito vai ser
dirimido por um tribunal fiscal podendo caber recurso ao Tribunal Administrativo.

-Mas se o mesmo Estado, através da mesma Autoridade Tributária de


Moçambique, vai à empresa Entreposto de Moçambique comprar uma frota de
viaturas de marca Mercedes aqui estamos perante uma relação jurídica de Direito
Privado pois nenhum dos sujeitos da relação jurídica está no uso
dosseusjusimperii. Aqui o Estado actua como um particular. Não exerce autoridade
sobre a empresa Entreposto de Moçambique. Aqui as duas partes estão vinculadas
a um contrato de compra e venda e em igualdade de circunstâncias. Em caso de
conflito vão ser usadas normas do Direito das Obrigações (direito privado) e o
conflito será dirimido num tribunal judicial.

-Se estamos perante uma relação jurídica entre a empresa Entreposto de


Moçambique e a empresa Coca-Cola para o fornecimento de refrigerantes, estamos
perante uma relação de direito Privado, pois nenhuma das partes está investida de
jus imperri. Em caso de conflito vão ser usadas normas do Direito das Obrigações
e o conflito será dirimido num tribunal judicial.

-Se estamos perante uma relação jurídica entre o Conselho Municipal da Cidade de
Maputo e o Ministério das Pescas relativa à atribuição do direito de uso e
aproveitamento da terra, estamos perante uma relação jurídica de Direito Público
pois o Conselho Municipal está no uso do seu jus imperii. Em caso de conflito
recorre-se à normas de Direito Público e o conflito será dirimido no Tribunal
Administrativo.

-Nos anos passados o Estado moçambicano havia concessionado a cobrança de


impostos aduaneiros a uma empresa privada, a CrownAgents. Esta empresa nas
relações que tinha com os contribuintes exercia uma autoridade pública, por isso as
relações jurídicas em que era sujeito em matéria de direitos aduaneiros eram

225
relações jurídicas de Direito público, pois uma das partes (empresa privada
CrownAgents) estava investida de poderes de autoridade pública (jus imperii)

4.1. Ramos do Direito Privado Comum

O Direito Privado se subdivide em Direito Privado Comum ou Civil e o Direito


Privado Especial.

Importa referir que o Direito Civil é subsidiário de todos ramos do Direito


(incluindo os do Direito Público).

A classificação tradicional do Direito Civil é a chamada classificação germânica do


Direito Civil a qual se divide em quatro partes: Direito das obrigações, Direitos
reais, Direito da Família, Direito das Sucessões.

A. 0
B. Direito das Obrigações

É um conjunto de normas que regulam a chamada relação creditícia ou relação


jurídica obrigacional.

A obrigação é o vínculo jurídico por virtude do qual uma pessoa fica adstrita para
com a outra a realizar uma prestação ou à realização de uma prestação. (ver o
artigo 397 do Código Civil).

O sujeito activo de uma relação jurídica obrigacional chama-se credor, enquanto


que o sujeito passivo chama-se devedor. O sujeito activo numa relação jurídica
obrigacional tem direito à crédito enquanto que o sujeito passivo tem uma
obrigação.

Ciencias auxiliares ao Direito das Obrigações

+++++++

Enquadramento institucional do Direito das Obrigações

226
o Instituicoes moçambicanas
+++
o Instituicoes internacionais
++++

Legislação Fundamental sobre o Direito das Obrigações

O Direito das obrigações tem o seu repositório no Livro II do Código Civil (do
artigo 397 a 1250 do Código Civil). São fontes de obrigações os contratos, a
responsabilidade civil, a gestão de negócios e o enriquecimento sem causa.++++++

Bibliografia fundamental sobre o Direito das Obrigações escrita por


moçambicanos ou escrita por estrangeiros sobre a realidade moçambicana

ALFREDO, Benjamim. Iniciação ao Estudo dos Contratos. Maputo: Edição do


Autor, 2012;BACHIR, Mahomed. Leasing, in BACHIR, Mahomed e MASSAI,
Charles A. Temas de Direito. Mauto: Jorge de Oliveira – Edicao, Publicidade e
Marketing, 2001; BACHIR, Mahomed. O Problema da Representacao “Aparente”
no Contrato de Agência, in BACHIR, Mahomed e MASSAI, Charles A. Temas de
Direito. Mauto: Jorge de Oliveira – Edicao, Publicidade e Marketing, 2001;

++++++

 Direitos Reais ou Direito das Coisas


É um conjunto de normas jurídicas que disciplinam uma relação jurídica em que o
bem garantido é uma coisa. Designa-se por direito real ao poder directo e imediato
sobre uma coisa. Por outras palavras os direitos reais estudam a ligação de uma
pessoa com os bens.

Este direito real permite extrair da coisa as utilidades que ela apresenta e isso
implica por parte de todas as outras pessoas um dever geral de respeito. É a
chamada obrigação passiva universal.

Ciencias auxiliares ao Direito das Coisas ou Direitos Reais

+++++++

227
Enquadramento institucional dos Direitos Reais

o Instituicoes moçambicanas
+++
o Instituicoes internacionais
++++
Legislação Fundamental sobre os Direitos Reais

Os Direitos Reais tem o seu repositório no Livro III do Código Civil (do artigo
1251 a 1575 do Código Civil). Os Direitos Reais tratam de muitas matérias
podendo-se destacar a posse, a propriedade, o usufruto, o direito de superfície.+++
+++

Bibliografia fundamental sobre os Direitos Reais escrita por moçambicanos


ou escrita por estrangeiros sobre a realidade moçambicana

++++++

 Direito da Família
É o conjunto de normas e princípios jurídicos que regulam as relações jurídicas
provenientes do casamento, procriação e adopção. Destes três factos derivam os
seguintes vínculos jurídicos básicos: matrimónio, parentesco e afinidade.

Matrimónio é o conjunto de relações que se estabelecem entre os cônjuges.

Ciencias auxiliares ao Direito da Família

São ciências auxiliares ao Direito da Fam’ilia a Antropologia, a Sociologia, a


Medicina Legal, a Psicologia e outras.

+++++++

Enquadramento institucional do Direito da Família

o Instituicoes moçambicanas
-Ministerio do Genero, Criança e Acção social;

228
-Tribunal de Menores da Cidade de Maputo;
-Trinbunais judiciais.

o Instituicoes internacionais
-UNICEF
-Save the Children
-+++

++++
Legislação Fundamental sobre o Direito da Família

O Direito da Família tem o seu repositório a Lei da Família, aprovada Lei nº


22/2019, de 11 de Dezembro. Esta (Lei da Família). Esta Lei revoga Lei nº
10/2004, de 25 de Agosto que revogou o Livro IV do Código Civil. Merece
destaque, também, a Lei nº 19/2019, de 22 de Outubro, Lei de Prevenção e
Combate às Uniões Prematuras.

Bibliografia fundamental sobre o Direito da Família escrita por


moçambicanos ou escrita por estrangeiros sobre a realidade moçambicana:

ANA PESSOA PINTO. A Situação Legal da Mulher em Moçambique:O direito a


alimentos. Maputo: Centro de estudos Africanos, 1992 ;ANGELINA DAS
NEVES, Direitos da Crianaca e o Natal. Maputo: UNICEF; Edicoes Paulinas,
1993;CARLOS PEDRO MONDLANE Lei da Promoção e Protecção dos Direitos
da Criança Anotada e Comentada. Maputo: Centro de Formação Jurídica e
Judiciária, 2011; GITA HONWANA WELCH, Os Direitos da Crianca
Mocambicana. Maputo: Ministério da Justiça, 1988; GITA HONWANA WELCH.
O Casamento. Maputo: Ministério da Justiça, 1988;++++++

 Direito das Sucessões


É um conjunto de normas jurídicas que regulam a sucessão por causa da morte
ou sucessão mortis causa. A sucessão mortis causa é o chamamento de uma ou
mais pessoas à titularidade das relações jurídicas patrimoniais da pessoa falecida.
A pessoa falecida chama-se autor da sucessão.

229
Ciencias auxiliares ao Direito das Sucssoes

São ciências auxiliares ao Direito das Sucessoes a Antropologia, a Sociologia, a


Medicina Legal, a Psicologia e outras.

Enquadramento institucional do Direito das Sucessões

o Instituicoes moçambicanas
+++
o Instituicoes internacionais
++++
Legislação Fundamental sobre o Direito das Sucessões

O Direito das Sucessões tem o seu repositório na Lei nº 23/2019, de 23 de


Dezembro que revoga o Livro V do Código Civil (do artigo 2024 a 2334 do
Código Civil).

Bibliografia fundamental sobre o Direito das Sucessões escrita por


moçambicanos ou escrita por estrangeiros sobre a realidade moçambicana:
BENIGNA ZIMBA e OLGA MARTINS. Propriedade, sucessão herança. Maputo:
Centro de estudos Africanos, 1992; LUIS FILIPE SACRAMENTO. A Mulher e o
Direito Sucessório no Quadro Legal Moçambicano. Maputo: Centro de estudos
Africanos, 1992 LUIS FILIPE SACRAMENTO. A Mulher e o Direito Sucessório
Moçambicano in Revista da Faculdade de Direito da UEM, nº 2; LUIS FILIPE
SACRAMENTO. A Heredetariedade do Direito a Indemnização. In Revista da
Faculdade de Direito da UEM, nº 2 ;LUIS FILIPE SACRAMENTO e AIRES
JOSÉ MOTA DO AMARAL. Direito das Sucessoes. Maputo: Livraria
Universitaria da Universidade Eduardo Mondlane, 199++;

++++++

4.2. Ramos do Direito Privado Especial

Fazem parte o Direito do Trabalho e o Direito Comercial.

230
A. Direito do Trabalho
Para Mónica Filipe NhaneWaty317 o «Direito do Trabalho corresponde ao conjunto
de princípios e normas jurídicas disciplinadoras do contrato de trabalho; ou seja,
que respeitam a uma actividade produtiva exercida livremente para outrem e de
forma subordinada, bem como todas as restantes normas e princípios que estejam
relacionadas com o trabalho subordinado, sempre que tais normas e princípios
tenham sido elaborados com a finalidade de directa ou indirectamente,
regulamentar o trabalho subordinado».

É o ramo de Direito que trata da relação do trabalho subordinado não regulado por
outros ramos do Direito. É um conjunto de normas jurídicas que regulam as
relações jurídicas provenientes do Contrato de Trabalho. Designa-se por Contrato
de Trabalho, nos termos do artigo 1152 do Código Civil, ao vínculo jurídico pelo
qual uma pessoa se obriga mediante retribuição a prestar a sua actividade
intelectual ou manual a outra pessoa sob autoridade e direcção desta.

Sobre se o Direito do Trabalho faz parte do direito público ou direito privado, vale
pena ver a reflexão de Mónica Filipe NhaneWaty318: «O Direito do Trabalho é
tradicionalmente no âmbito do Direito Privado – o contrato de trabalho é negócio
jurídico obrigacional, e não se põe em dúvida a sua natureza privatística. (…)
Como se baseia no contrato de trabalho, toda a regulamentação de Direito do
Trabalho deveria enquadrar-se no Direito privado. Autores há, porém, que
levantam dúvidas e consideram-no ramo de Direito Público, ou híbrido (misto de
Direito Privado e de Direito Público)».

Esta autora319 acrescenta que«“Observando o Direito do Trabalho em confronto


com as várias teorias de destrinça Direito Privado/Direito Público, pela teoria do
interesse, conclui-se que no Direito do Trabalho contrapõem-se interesses
privados; pela teoria da natureza do sujeito, os intervenientes nas relações laborais,
tanto na relação individual quanto na relações colectivas, são sujeitos de Direito
Privado, e nenhum está munido de iusimperii. (…) No Direito do Trabalho, vigora
um princípio de liberdade na celebração dos contratos, tanto individuais como
colectivos, e existe igualdade entre as partes, pelo menos, em termos abstractos.
(…) Excluindo a relação laboral da função pública, o contrato de trabalho é
317
Direito do Trabalho, pag. 13
318
Direito do Trabalho, pag. 21
319
Op. Cit., pag. 22

231
obrigacional. O Direito do Trabalho autonomizou-se do Direito das Obrigações,
mas o seu núcleo essencial, é o contrato de trabalho, incluindo no âmbito dos
contratos previstos neste ramo de Direito, com algumas especificidades, sendo por
isso o seu regime de Direito Privado».

Ciencias auxiliares ao Direito do Trabalho

São ciências auxiliares ao Direito do Trabalho a Economia, Medicina Legal, +++

Enquadramento institucional do Direito do Direito do Trabalho

o Instituicoes moçambicanas
Públicas
-Ministerio do Trabalho, Emprego e Seguranca Social;

Privadas
-OTM – Central Sindical;
-Partido Trabalhista;
+++
o Instituicoes internacionais
-Organizacao Internacional do Trabalho
++++
Legislação Fundamental sobre o Direito do Trabalho

O Direito do Trabalho tem o seu repositório na Lei do Trabalho, aprovado pela


Lei nº 23/2007, de 1 de Agosto, publicado no Boletim da República nº 31, I Série.
Merece atenção, também, Regulamento de Trabalho Doméstico, aprovado pelo
Decreto nº 40/2008, de 26 de Novembro; o Regulamento do Trabalho Desportivo,
aprovado pelo Decreto nº 24/2011, de 9 de Junho; Regulamento de Contratação de
Cidadãos de Nacionalidade Estrangeira no Sector de Petróleos e Minas, aprovado
pelo Decreto nº 63/2011, de 7 de Dezembro.++++++

Bibliografia fundamental sobre o Direito do Trabalho escrita por


moçambicanos ou escrita por estrangeiros sobre a realidade moçambicana

232
MÓNICA FILIPE NHANE WATY. Direito do Trabalho. Maputo: W&W Editora,
2008

++++++

B. Direito Comercial

Diogo Freitas do Amaral320 define Direito Comercial como «ramo do direito


privado constituído pelo sistema de normas jurídicas que regulam o estatuto dos
comerciantes e o regime dos actos e actividades de comércio».

Também, podemos dizer que o Direito Comercial é um conjunto de normas


jurídicas que regulam os actos de comércio sejam ou não comerciantes as pessoas
que neles intervêm. Isto significa que o Direito Comercial não é um Direito dos
comerciantes, mas direito aplicável aos actos considerados pela lei objectivamente
comerciais ainda que praticados por não comerciantes.

Do Direito Comercial autonomizou-se o Direito dos transportes e o Direito


Empresarial.

Ciencias auxiliares ao Direito Comercial

São ciências auxiliares do Direito Comercial a Economia, a Contabilidade +++.

+++++++

Enquadramento institucional do Direito Comercial

o Instituicoes moçambicanas
-Ministerio da Ind’ustria e Com’ercio;

+++
o Instituicoes internacionais
-Organizacao Internacional do Comércio;

Manual..., pag.309
320

233
-++++
Legislação Fundamental sobre o Direito Comercial

O Direito Comercial tem o seu repositório no Código Comercial, aprovado pelo


Decreto-Lei nº 2/2005, de 27 de Dezembro, publicado no Boletim da República, nº
51, I Série, 5º Suplemento, alterado pelo Decreto-lei nº 2/2009.

++++++

Bibliografia fundamental sobre o Direito Comercial escrita por


moçambicanos ou escrita por estrangeiros sobre a realidade moçambicana

DUARTE DA CONCEIÇÃO CASIMIRO. A transmissão da empresa à luz da Lei


do trabalho Moçambicana. Lisboa: Almedina, 2006;JOSÉ IBRAHIMO ABUDO.
Lições de Direito Comercial. Maputo: Universidade Mussa bin Bique, 2009;
MANUEL GUILHERME JÚNIOR. Manual de Direito Comercial Moçambicano,
vol. 1.Maputo: Escolar Editora, 2013 ++++++

4.3. Ramos do Direito Público

Constituem ramos do Direito Público o Direito Constitucional, o Direito


Administrativo, o Direito Criminal (ou Direito Penal), o Direito Financeiro, o
Direito Fiscal, o Direito Processual (civil e penal).

A. Direito Constitucional
Diogo Freitas do Amaral321 define Direito Constitucional como «ramo do direito
público composto pelo sistema de normas jurídicas que regulam a organização e o
funcionamento dos Poderes do Estado, asseguram a protecção efectiva da
constitucionalidade das leis e dos direitos fundamentais dos cidadãos, e definem as
tarefas essenciais do Estado, bem como os grandes objectivos da governação
pública».

O Direito Constitucional tem o seu repositório na Constituição da República.


Consta também de leis que complementam a Constituição: Regimento da
Assembleia da República, Estatuto do Deputado, legislação eleitoral, Lei Orgânica
do Conselho Constitucional e outras.
Manual..., pag. 266
321

234
Ciencias auxiliares ao Direito Constitucional

São ciências auxiliares do Direito Constitucional a Ciencia Política, +++.

Enquadramento institucional do Direito Constitucional

o Instituicoes moçambicanas
-Assembleia da República;
-Conselho Constitucional
+++
o Instituicoes internacionais
++++

Bibliografia fundamental sobre o Direito Constitucional escrita por


moçambicanos ou escrita por estrangeiros sobre a realidade moçambicana

FERNANDO JOSÉ FIDALGO DA CUNHA, Democracia e Divisao do poder:


uma leitura da Constituicao moçambicana. Maputo: Ministério da Justica: 199?;
JORGE BACELAR GOUVEIA,Direito Constitucional de Moçambique. Maputo;
Liboa: Instituto de Direito da Língua Portugues, 2015;

++++++

Do Direito Constitucional está a autonomizar-se o Direito Parlamentar, Direito da


Nacionalidade, o Direito Eleitoral e os Direitos Fundamentais.

Direito Parlamentar

Diogo Freitas do Amaral do Amaral322 define Direito Parlamentar como


«ramo de direito público que consiste no sistema de normas jurídicas que
regulam a organização e o funcionamento da Assembleia da República».
Manual, … pag. 294
322

235
Ciencias auxiliares ao Direito Parlamentar

+++++++

Enquadramento institucional do Direito Parlamentar

o Instituicoes moçambicanas
-Assembleia da República
+++
o Instituicoes internacionais
-Uniao Interparlamentar
-Associacao Parlamentar da Commonwealth
-Forum dos Parlamentos da CPLP;
-Forum Parlamentar da SADC
++++
Legislação Fundamental sobre o Direito Direito Parlamentar

O Direito Parlamentar tem as suas normas na CRM, no Regimento da Assembleia


da República (aprovado pela Lei n° 13/2014, de 17 de Junho, alterada e
republicada pela Lei n° 12/2016,de 30 de Dezembro), no Estatuto do Deputado
(aprovado pela Lei nº 31/2014, de 30 de Dezembro), na Lei Orgânica da
Assembleia da República (aprovada pela Lei nº 13/2013, de 12 de Agosto). O
Direito Parlamentar tem as suas normas contidas noutros diplomas que regulam de
forma residual matérias parlamentares: Lei de imprensa (Lei nº 18/91, de 10 de
Agosto), Lei eleitoral, Lei sobre a Comissão Nacional dos Direitos Humanos, Lei
das Petições, Código Penal, Código de Processo Penal.

Bibliografia fundamental sobre o Direito Parl;amentar escrita por


moçambicanos ou escrita por estrangeiros sobre a realidade moçambicana

ALBANO MACIE, Direito do Processo Parlamentar Moçambicano. Maputo:


Escolar Editora,2012; FILOMENA DA CONCEIÇÃO GRACHANE,
Procedimento Legislativo: uma resenha do processo de construção do Estado
Moçambicano na vertente de produção de leis. Maputo:Edição da Autora, 2019;

236
FREDERICO FERNANDO NGOME, Glossário Parlamentar. Maputo:
Secretariado Geral da Assembleia da República, 2004; JOSEPH HANLON, Guia
sobre a Assembleia da República. Maputo: AWEPA, 1997

++++++

Direito da Nacionalidade

É o ramo de Direito Público constituído pelo sistema de normas jurídicas


que regulam, essencialmente, a aquisição, perda, reaquisição da
nacionalidade bem como as restrições por causa dela.

Ciencias auxiliares ao Direito da Nacionalidade

Ciencia Politica

Relacoes Internacionais

+++++++

Enquadramento institucional do Direito da Nacionalidade

o Instituicoes moçambicanas
-Ministério do Interior
+++
o Instituicoes internacionais
++++
Legislação Fundamental sobre o Direito da Nacionalidade

As normas do Direito da Nacionalidade estão contidas na Constituição [artigos 5,


23 a 34, na alínea a), nº 2 do artigo 147 e na alínea l), nº 1 do artigo 292], na Lei
da Nacionalidade (lei sem número, assinado, pelo Presidente da FRELIMO, em 20
de Junho de 1975,; complementada pela Lei nº 2/82 e alterada pela Lei nº 16/87) e
no Regulamento da lei da Nacionalidade (Decreto nº 3/75, de 16 de Agosto;
alterado pelo Decreto nº 5/88). Consta, residualmente, doutra legislação como a
legislação eleitoral, legislação militar e outra.

237
Bibliografia fundamental sobre o Direito da Nacionalidade escrita por
moçambicanos ou escrita por estrangeiros sobre a realidade moçambicana

+++VER O ARTIGO DE EUGENIO BALATE INSERIDO NA OBRA SOBRE


REVISAO DA CONSTITUIÇÕ DE 1990+++

Direito Eleitoral

O Direito Eleitoral pode ser definido como sistema de normas que regulam o
processo eleitoral para os cargos políticos e autárquicos.

Ciencias auxiliares ao Direito Eleitoral

São ciências auxiliares do Direito Eleitoral a Ciencia Política, +++.

Enquadramento institucional do Direito Eleitoral

o Instituicoes moçambicanas
Públicas
-Comissao Nacional de Eleicoes;
Secretariado Técnico de Administração eleitoral
-Conselho Constitucional
Privadas
-EISA
-Observatório Eleitoral
+++
o Instituicoes internacionais
++++
Legislação Fundamental sobre o Direito Eleitoral

O Direito Eleitoral tem as suas normas contidas na CRM [artigos 73, 74, 135, 146,
147, 154, alínea d) do artigo 158, alínea d) do artigo 165, 169, alínea d), nº 2 do
artigo 178, nº 2 do artigo 187, alínea d), nº 2 do artigo 243, nºs 1 e 2 do artigo 278,
nº 2 do artigo 279, nºs 1 e 2 do artigo 282, nº 2 do artigo 283, nºs 2, 4 e 5 do artigo
289, alínea e), nº 1 do artigo 300, artigo 311], legislação eleitoral: Actualmente

238
estão em vigor a Lei 2/2019, de 31 de Maio, que Altera e republica a Lei nº 8/2013,
de 27 de Fevereiro, que estabelece o quadro jurídico para a eleição do Presidente
da República e dos deputados da Assembleia da República; Lei nº 3/2019, de 31 de
Maio, que Estabelece o Quadro Jurídico para a eleição dos membros da
Assembleia Provincial e do Governo de Província; Lei nº 7/2018, de 3 de Agosto,
alterada e republicada pela Lei nº 14/2018, de 18 de Dezembro (Atinente a Eleição
dos Titulares dos Órgãos das Autarquias Locais. A Comissão Nacional de Eleições
aprova muitas deliberações que complementam a legislação acima referida. O
conselho constitucional tem muitos acordaos e deliberações sobre as eleições.++++
++

Bibliografia fundamental sobre o Direito Eleitoral escrita por moçambicanos


ou escrita por estrangeiros sobre a realidade moçambicana

ALBANO MACIE, Etiologia das Sucessivas Reformas do Direito Eleitoral


PositivoMoçambicano e Perspectiva da sua Evolução: Com Êfase à Comissão
Nacional de Eleições, Maputo: Edição do Autor, 2013;EDSON DA GRAÇA
FRANCISCO MACUÁCUA, Moçambique: Constituição Eleitoral e Legislação
Eleitoral. Maputo: Escolar Editora, 2019; Evolução das reformas Eleitorais em
Moçambique: Desafios e perspectivas (1994-2018). Maputo: Instituto para a
Democracia Multipartidária, 2018; GILLES CISTAC, Manual Prático de
Jurisprudência Eleitoral. Maputo: Escolar editora, 2011;GILLES CISTAC, O
Direito Eleitoral Moçambicano: Le Droit Électoral Mozambicain (edição
bilingue). Maputo: Universidade Eduardo Mondlane, 1994;Guião Prático do
Processo eleitoral.Maputo: Instituto para a Democracia Multipartidária, 2018;
JOSÉ ÓSCAR MONTEIRO,57 Perguntas Sobre a Lei Eleitoral: Uma abordagem
explicativa da Lei 3/99. Maputo: Fundação Friedrich Ebert, 1999++++++

Direitos Fundamentais

Os Direitos Fundamentais podem ser definido como sistema de normas que


regulam o++++++.

Ciencias auxiliares aos Direitos Fundamentais

+++++++

239
Enquadramento institucional dos DireitosFundamentais

o Instituicoes moçambicanas
P’ublicas
-++++

Privadas
-
+++
o Instituicoes internacionais
++++
Legislação Fundamental sobre o Direitos Fundamenatais

Os Direitos Fundamentais têm as suas normas contidas na CRM [artigos +++],


legislação diversa:.++++++

Bibliografia fundamental sobre o DireitosFundamentais escrita por


moçambicanos ou escrita por estrangeiros sobre a realidade moçambicana

Os Direitos Humanos. Quelimane: Docese de Quemilane, 1993; MANUEL


UACHE BEMBELE, Constitucionalização do Aval do Estado em Moçambique in
Humanitas: Revista da escola superior de Gestão, Ciência e Tecnologia da
Universidade “A Politécnica”, nº 4, Março de 2009;RACHEL THOMPSON e
MARIA ESTHER ALMEIDA. Manual de Direitos Humanos, Direitos Humanos
da Mulher e da Crianca. Maputo: Minist’erio do Interior; WLSA Mocambique,
2006;

++++++

B. Direito Administrativo
Diogo Freitas do Amaral do Amaral323 define Direito Administrativo como «ramo
do direito público constituído pelo sistema de normas jurídicas que regulam a
organização e o funcionamento dos órgãos do Poder Executivo do Estado, bem

Manual, … pag. 269


323

240
como dos entes públicos menores, e que asseguram a protecção dos direitos dos
particulares face à Administração pública e desta perante aqueles».

Albano Macie324 define Direito Administrativo como «conjunto de normas e


princípios jurídicos que disciplina a actividade administrativa de gestão pública».

Aborda fundamentalmente os seguintes temas:

 Direito administrativo e Administração Pública


 Direito Administrativo e Ciência da Administração
 Fontes do Direito Administrativo
 Teoria Geral da Organização Administrativa: pessoas colectivas públicas;
Serviços públicos; Sistemas de Organização Administrativa
(centralização e descentralização; Concentração e Desconcentração;
Integração e Devolução de poderes); Princípios Fundamentais da
Organização Administrativa
 Actividade Administrativa: Princípios fundamentais da Actividade
Administrativa; Regulamento Administrativo; Acto Administrativo
(conceito, espécies, validade, invalidade, eficácia, interpretação,
execução, extinção suspensão e modificação); Contrato Administrativo;
Procedimento Administrativo; Responsabilidade Civil da Administração;
Garantias dos Particulares (garantias políticas, garantias graciosas ou
administrativas; Provedor de Justiça; Garantias contenciosas ou
jurisdicionais)

Ciencias auxiliares ao Direito Administrativo


São ciências auxiliares do Direito Administrativo a Ciencia da
Administracao, Gestao, Administracao Pública +++.

Enquadramento institucional do Direito Administrativo

o Instituicoes moçambicanas
-Ministerio da Administracao Estatal e Função Pública
-Tribunal Administrativo
-Tribunais administrativos

Lições de Direito Daministrativo, vol. 1. Maputo: Escolar Editora, 2012, pag. 41


324

241
+++
o Instituicoes internacionais
++++
Legislação Fundamental sobre o Direito Administrativo

O Direito Administrativo tem o seu repositório em muitas normas avulsas mas


podemos destacar o Decreto nº 30/2001, de 15 de Outubro; a Lei nº 14/2011, de 10
de Agosto (que regula a formação da vontade da Administração Pública); Lei nº
7/2012, de 8 de Fevereiro (Lei de Base de Organização e Funcionamento da
Administração Pública); no Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado,
aprovado pela Lei nº 10/2017, de 1 de Agosto; no Regulamento do Estatuto Geral
dos Funcionários e Agentes do Estado, aprovado pelo Decreto nº 5/2018, de 26 de
Fevereiro;Decreto Lei nº 2/2011, de 19 de Outubro, sobre a contratação de
estrangeiros na Função Pública moçambicana, Lei nº 4/2019, de 31 de Maio, que
Estabelece os princípios, as normas de organização, as competencias e
funcionamento dos órgãos executivos de goveranaco descentralizada provincial;
Lei nº 5/2019, de 31 de Maio que Estabelece o quadro legal da tutela a que estão
sujeitos os órgãos de governação descentralizada provincial e das auatraquias
locais; Lei nº 7/2019, de 31 de Maio que estabelece o quadro legal sobre a
organização e funcionamento dos órgãos de representação do Estado na provincia.
Em Julho de 2019, a Assembleia da República aprovou a Lei que Define o Regime
Financeiro e Patrimonial dos Órgão de Governação Descentralizada Provincial e a
Lei de Representação do Estado na Cidade de Maputo.

++++++

Bibliografia fundamental sobre o Direito Administrativo escrita por


moçambicanos ou escrita por estrangeiros sobre a realidade moçambicana:

ALBANO MACIE, Impugnação Contenciosa: Do Acto Administrativo Definitivo e


Executório ao Acto Lesivo e Prejudicial?: Anotação ao Acórdão nº 6/CC/2016, de
23 de Fevereiro, do Conselho Constitucional. Maputo: Edição do Autor, 2018;
ALBANO MACIE, Lições de Direito Administrativo Moçambicano em Especial
Função Pública: Funcionários e Agentes do Estado. Volume III. Maputo: Edição
do Autor, 2013

++++++

242
Do Direito Administrativo autonomizou-se o Direito Financeiro e está-se
autonomizando o Direito das Autarquias Locais. Também, está a
autonomizar-se o Direito Militar, o Direito Policial, Direito Escolar, Direito da
Saúde, Direito da informação, Direito do urbanismo.

Direito das Autarquias Locais

Podemos definir Direito das Autarquias Locais como sistema de


normas que regulam a organização, competências e funcionamento
das Autarquias Locais.

Ciencias auxiliares ao Direito das Autarquias Locais

São ciências auxiliares do Direito das Autarquias Locais, para al;’em das auxiliares
ao Direito Administrativo, o Urbanismo, +++.

+++++++

Enquadramento institucional do Direito das Autarquias Locais

o Instituicoes moçambicanas
P’ublicas
-Ministerio da Administracao Estatal e Funcao Publica
-Autarquias Locais
Privadas
Associacao Nacional de Municipios
+++
o Instituicoes internacionais
++++
Legislação Fundamental sobre o Direito das Autarquias Locais

243
Tem as suas normas contidas na CRM [artigos 271 a 281]. Consta da
legislação autárquica: Lei nº 2/97, de 18 de Fevereiro (revogados os
artigos 20 a 24 desta lei pela Lei nº 1/2008; Lei 7/97 de 31 de Maio
(tutela administrativa); Lei nº 6/2007 (altera a Lei nº 7/97); Lei nº
8/97, de 31 de Maio (Estatuto especial da Cidade de Maputo); Lei nº
9/97 de 31 de Maio (estatuto dos titulares dos órgãos autárquicos); Lei
nº 11/2003 (altera a Lei 9/97); Lei nº 21/2007 (altera a Lei nº 9/97);
Lei nº 10/97, de 31 de Maio (criação de municípios nas cidades e
vilas); Lei no 3/2008 de 2 de Maio de 2008 (Cria autarquias de vila em
algumas circunscrições territoriais); Lei nº 1/2008, de 16 de Janeiro
(Finanças e património autárquicos)

++++++

Bibliografia fundamental sobre o Direito das Autarquias Locais escrita por


moçambicanos ou escrita por estrangeiros sobre a realidade moçambicana

GILLES CISTAC, Manual de Direito das Uatarquias Locais. Maputo: Livraria


Universitária, 20+++

++++++

Direito Militar

Diogo Freitas do Amaral325 define Direito Militar como «ramo do


direito público constituído pelo sistema de normas jurídicas que
regulam a organização e o funcionamento das Forças Armadas, bem
como os poderes destas sobre a pessoa e os bens dos cidadãos, e os
direitos e garantias destes face àqueles».

Edilenice Passos e Lucivaldo Vasconcelos Barros326 definem Direito


Militar «como ramo do Direito Público que regula e disciplina as
matérias de natureza militar». Estes autores continuam dizendo que

Manual..., pag. 295


325

Fontes de Informação para Pesquisa em Direito, pags. 36/37


326

244
«O direito militar pode ser estudado sob três aspectos: administrativo,
disciplinar e penal, apesar de o aspecto penal ser o mais evidenciado.
O alvo do direito administrativo militar é o estudo dos direitos e
obrigações dos servidores militares ativos e inativos. (…) O direito
disciplinar militar tem por objeto a disciplina militar e procura
estabelecer regras no sentido de mater a ordem e o respeito entre os
comandantes e comandados. (…) o direito penal militar pode ser
conceituado como um direito penal especial amparado em um
conjunto de normas aplicáveis aos militares».

Ciencias auxiliares ao Direito Militar

+++++++

Enquadramento institucional do Direito Militar

o Instituicoes moçambicanas
-Minist’erio da Defesa Nacional
-Conselho Nacional de Defesa e Seguranca
-Academia Militar Samora Machel
+++
o Instituicoes internacionais
++++
Legislação Fundamental sobre o Direito Direito Militar

Tem as suas normas contidas na Constituição [alínea a) do artigo 11,


artigos, 22, alínea b) do artigo 166, 161, 265 a 270] e demais
legislação sobre os militares e as Forças Armadas [Lei nº 17/91 de 1
de Outubro, aprova a Política de Defesa e Segurança; Lei nº 16/2001,
de 10 de Agosto, combatente; Lei nº 32/2009, de 25 de Novembro: Lei
do Serviço Militar; Decreto nº 7/2010, de 15 de Abril: Regulamento
da Lei do Serviço Militar; Lei nº 10/2009, de 11 de Março:
funcionamento dos tribunais comuns quando julgam crimes
estritamente militares; Decreto 4/98, de 17 de Fevereiro (alterado pelo
Decreto nº 46/2006, de 30 de Novembro e pelo Decreto nº 51/2008, de

245
21 de Outubro): estatuto dos Militares das FADM; Decreto nº
41/2011: estrutura orgânica das FADM].

++++++

Bibliografia fundamental sobre o Direito Militar escrita por moçambicanos ou


escrita por estrangeiros sobre a realidade moçambicana

++++++

Direito Policial

Diogo Freitas do Amaral327 define Direito Policial como «ramo do


direito público constituído pelo sistema de normas jurídicas que
regulam a organização e o funcionamento das força de segurança
interna (polícia), bem como os poderes destes sobre os cidadãos, e os
direitos e garantias destes face a ela».

Ciencias auxiliares ao Direito Policial

+++++++

Enquadramento institucional do Direito Policial

o Instituicoes moçambicanas
Públicas
-Ministério do Interior
-Academia de Ciencias Policiais
+++
Privadas

Manual..., pags. 295/296


327

246
Associacao dos Ex-policias
o Instituicoes internacionais
-INTERPOL
++++
Legislação Fundamental sobre o Direito Policial

Tem as suas normas contidas na Constituição [fundamentalmente nos


artigos 254 e 255 e residualmente na alínea e) do artigo 161, na alínea
d), nº 1 do artigo 172, alínea b), artigo 203, nº 1 do artigo 204] e na
legislação policial [Lei nº 16/2013, de 12 de Agosto: cria a PRM;
Decreto nº 27/99, de 24 de Maio (alterado pelo Decreto nº 20/2004, de
2 de Junho: estatuto orgânico da PRM; Deliberação nº 123/2008 de 1
de Novembro, da CNE: Código de Conduta para os agentes da PRM
em processos eleitorais; Decreto nº 26/2002, de 30 de Outubro: cria os
serviços sociais da PRM].

++++++

Bibliografia fundamental sobre o Direito Policial escrita por moçambicanos


ou escrita por estrangeiros sobre a realidade moçambicana

++++++

Direito Escolar ou Direito da Educação

Diogo Freitas do Amaral328 define Direito Escolar como «ramo de


direito público constituído pelo sistema de normas jurídicas que
regulam a organização e o funcionamento das escolas públicas,
privadas e cooperativas, bem como os direitos e os deveres dos
cidadãos perante o ensino, e os professores, estudantes e funcionários
perante a escola».

Manual..., pag. 296


328

247
Maria Helena Diniz329 prefere o termo Direito da Educação, que a
define como «Conjunto de normas relativas à formação e informação
dos indivíduos à política educacional, à organização; à administração
e ao currículo escolares e à didática».

Tem as suas normas na Constituição [fundamentalmente nos artigos


88, 113 e 114 e residualmente na alínea c), nº 2 do artigo 217, na
alínea i), nº 1 do artigo 204, 297 e 298] e demais legislação sobre a
educação: Lei nº 18/2018, de 28 de Dezembro (Lei do Sistema
Nacional de Educação); Lei nº 27/2009, de 29 de Setembro (Ensino
Superior); Decreto nº 27/2011, de 25 de Julho (Inspecção às
instituições do Ensino Superior); Decreto nº 48/2010, de 11 de
Novembro (Licenciamento e funcionamento das instituições do ensino
superior); Estatuto do Professor, aprovado pela Resolução nº 4/90, de
27 de Junho, do Conselho Nacional da Função Pública); Estatuto
Orgânico do Ministério da Educação, aprovado pela Resolução nº
1/2011, de 14 de Abril, da Comissão Interministerial da Função
Pública. Importa referir que os estabelecimentos de ensino públicos
são criados por um decreto, diploma ministerial330 ou outro diploma.
No que concerne ao estabelecimentos do ensino particular tem havido
um diploma ou despacho que autoriza uma pessoa singular ou
colectiva a criar um estabelecimento de ensino 331. Os curricula da
maioria dos estabelecimentos públicos são aprovados pelo Ministério
da Educação. Os currícula dos estabelecimentos do ensino superior
(público e privado) são aprovados pelos mesmos estabelecimentos.

329
Dicionário Jurídico, vol. 2, pág. 148
330
Por exemplo, o Diploma Ministerial nº 113/97, de 17 de dezembro, criou a Escola Primária do 2ª Grau de
Mubukwane; publicado no BR nº 51, I Série, de 17 de dezembro de 1997. Através do Diploma Ministerial nº 93/95,
de 19 de Julho foi criado o Instituto de Línguas e publicado o seu estatuto orgânico; publicado no BR nº 29, I
Série, de 19 de Julho de 1995. Na prática tratou-se de regularizar juridicamente uma instituição que já estava em
funcionamento. O Diploma Ministerial nº 59/2002, de 3 de Maio foi aprovado novo estatuto orgânico do Instituto de
Línguas. Publicado no BR nº18, 3º Suplemento, I Série, de 3 de Maio de 2002.
331
Por exemplo, o Decreto nº 29/2004 de 20 de Agosto autorizou a Arquidiocese de Maputo e a Fundação Cardeal
Dom Alexandre dos Santos a criar a UNIVERSIDADE SÃO TOMÁS DE MOÇAMBIQUE. Publicado no BR nº
33, I Série, de 20 de Agosto de 2004. Este Decreto foi alterado pelo Decreto nº 67/2004, de 15 de Dezembro. Com
esta alteração a Arquidiocese de Maputo foi autorizada a retirar-se da sua intenção de instituir a USTM. Assim, a
USTM foi criada apenas pela Fundação Cardeal Dom Alexandre dos Santos

248
Ciencias auxiliares ao Direito da Educação

São ciências auxiliares do Direito da Educacao a Pedagogia, a Psicologia, ++++.

Enquadramento institucional do Direito da Educação

o Instituicoes moçambicanas
-Minist’erio da Educacao e Desenvolvimento Humano;
-Ministerio do Ensino Superior +++
-Universidade Pedag’ogica
o Instituicoes internacionais
-UNESCO
++++
Legislação Fundamental sobre o Direito da Educacao

++++++

Bibliografia fundamental sobre o Direito da Educacao escrita por


moçambicanos ou escrita por estrangeiros sobre a realidade moçambicana:

++++++

Direito da saúde

Diogo Freitas do Amaral332 define Direito da Saúde como «ramo de


direito público constituído pelo sistema de normas jurídicas que
regulam a organização e o funcionamento das unidades de saúde do
Estado e do sector privado, bem como os seus deveres para com os
cidadãos e os direitos destes para com aqueles».

Manual..., pag. 296


332

249
Ciencias auxiliares ao Direito da Saúde

São Ciencias Uxiliares do Direito da Saúde a Medicina, +++.

Enquadramento institucional do Direito da Saúde

o Instituicoes moçambicanas
-Ministério da Sa’ude
-+++
o Instituicoes internacionais
-Organizacao Mundial da Saúde
-++++
Legislação Fundamental sobre o Direito da Saúde

Tem as suas normas contidas na Constituição (fundamentalmente artigos 89 e 116


e residualmente na última parte da alínea c) do artigo 11, alínea e), do artigo 45,
alínea b), nº 2 do artigo 81 e alínea i) nº1 do artigos 204) e demais legislação sobre
a saúde: Lei nº 25/91, de 31 de Dezembro (Cria o Serviço Nacional de Saúde); Lei
nº 26/91, de 31 de Dezembro (autoriza a prestação de cuidados de saúde, por
pessoas singulares ou colectivas de direito privado com carácter lucrativo ou não);
Lei nº 24/2009, de 28 de Setembro (Medicina privada; altera a Lei nº 26/91);
Decreto nº 52/2010, de 23 de Março (cria o Instituto da Medicina Tradicional);
Resolução nº 11/2004, de 14 de Abril, do Conselho de Ministros (aprova a política
da Medicina Tradicional); Lei nº 4/98, de 14 de Janeiro (Lei do medicamento),
Estatuto do Médico na Administração Pública, aprovado pela Assembleia da
República em 2013.

++++++

Bibliografia fundamental sobre o Direito da Saúde escrita por moçambicanos


ou escrita por estrangeiros sobre a realidade moçambicana:

++++++

250
Direito da Informação

Para Diogo Freitas do Amaral333, Direito da Informação é «o ramo do


direito público constituído pelo sistema de normas jurídicas que
regulam a organização e o funcionamento da Comunicação Social,
bem como das formas mais recentes de transmissão eclectrónica de
informações, assegurando a intervenção reguladora do Estado e os
direitos e garantias dos cidadãos perante ele».

Ciencias auxiliares ao Direito Informação

São Ciencias Auxiliares do Direito da Informacao o Jornalismo, +++

Enquadramento institucional do Direito Informação

o Instituicoes moçambicanas
-Gabinete de Informacao
Conselho Superior da Comunicacao Social
-MISA Mocambique
-Sindicato Nacional dos Jornalistas
o Instituicoes internacionais
-UNESCO
-Reporteres sem Fronteiras

Legislação Fundamental sobre o Direito Informação

Tem as suas normas na Constituição (artigos 48, 49 e 50), na Lei de Imprensa (Lei
nº 18/91, de 10 de Agosto: lei de imprensa; Decreto nº 60/2004, de 8 de
Dezembro), Lei do Direito a Informacao; Regulamento da Lei do direito a
Informacao; e outra legislação (por exemplo a legislação eleitoral tem disposições
sobre o Direito de Antena para a campanha eleitoral).

Manual..., pag. 297


333

251
Bibliografia fundamental sobre o Direito Informação escrita por
moçambicanos ou escrita por estrangeiros sobre a realidade moçambicana:

++++++

Direito do Urbanismo

Digo Freitas do Amaral334 define Direito do Urbanismo como «ramo


do direito público constituído pelo sistema de normas jurídicas que
regulam a intervenção do Estado e dos municípios no correcto
ordenamento físico dos aglomerados urbanos e respectiva expansão».

Tem as suas normas contidas na Constituição (nº 2 do artigo 7 e artigo


91) e demais legislação específica (ex.: Decreto nº 60/2006, de 26 de
Dezembro: aprova o Regulamento do Solo Urbano) e na legislação
relativa às autarquias locais.

Ciencias auxiliares ao Direito do Urbanismo

+++++++

Enquadramento institucional do Direito do Urbanismo

o Instituicoes moçambicanas

+++
o Instituicoes internacionais
++++
Legislação Fundamental sobre o Direitodo Urbanismo

Manual..., pag. 298


334

252
++++++

Bibliografia fundamental sobre o Direito do Urbanismo escrita por


moçambicanos ou escrita por estrangeiros sobre a realidade moçambicana

++++++

C. Direito Financeiro
Teodoro Andrade Waty335 define Direito Financeiro como «conjunto de normas
jurídicas que regulam a actividade económica do Estado ou outro ente público com
vista à afectação de bens para a satisfação de necessidades sociais, isto é, as
normas que regulam a obtenção, a gestão e o dispêndio dos meios financeiros
públicos ou, ainda, o ramo do Direito que disciplina juridicamente a actividade
financeira do Estado».

Diogo Freitas do Amaral336 define Direito financeiro como «ramo de direito


público constituído pelo sistema de normas jurídicas que regulam a administração
dos dinheiros do estado e dos entes públicos menores, estabelecendo os direitos e
garantias das entidades públicas e os direitos dos particulares em matéria de
irregularidades cometidas naquela actividade».

Ciencias auxiliares ao Direito Financeiro

São Ciencias Auxiliares do Direito Financeiro a Economia, a Fiscalidade, +++.

+++++++

Enquadramento institucional do Direito Financeiro

Introdução às Finanças Públicas e Direito Financeiro, pag. 51


335

Manual..., pag. 281


336

253
o Instituicoes moçambicanas
-Ministerio da Economia e Financas
+++
o Instituicoes internacionais
Fundo Monetario Internacional
++++
Legislação Fundamental sobre o Direito Financeiro

Tem as suas normas contidas na CRM [artigos 126 a 132, alíneas l),m) e p) do nº 2
do artigo 178, alínea e), nº 1 do artigo 203, alínea a), nº 1 do artigo 207 e 272].
Tem o seu repositório na lei que aprova o Orçamento do Estado de cada ano e a
Legislação sobre o SISTAFE: Lei nº 9/2002, de 17 de Fevereiro: Cria o SISTAFE;
Decreto nº 23/2004, de 20 de Agosto: Regulamento da Lei do SISTAFE; Diploma
Ministerial nº 169/2007, de 31 de Dezembro: aprova o Manual de Administração
Financeira e Procedimentos contabilísticos.

++++++

Bibliografia fundamental sobre o Direito Financeiro escrita por


moçambicanos ou escrita por estrangeiros sobre a realidade moçambicana

MANUEL UACHE BEMBELE, Constitucionalização do Aval do Estado em


Moçambique in Humanitas: Revista da escola superior de Gestão, Ciência e
Tecnologia da Universidade “A Politécnica”, nº 4, Março de 2009;

++++++

Do Direito Financeiro autonomizou-se o Direito Fiscal.

D. Direito Fiscal
De acordo com Teodoro Andrade Waty337 Direito Fiscal é «um conjunto de normas
que reflectem a incidência, o lançamento, a liquidação e a cobrança dos impostos».

Direito Fiscal, pag. 19


337

254
Diogo Freitas do Amaral338 define Direito Fiscal como «ramo do direito público
constituído pelo sistema de normas jurídicas que definem os impostos e o
respectivo montante a pagar pelos cidadãos e pelas empresas ao estado e aos entes
públicos menores, e asseguram a protecção dos direitos dos contribuintes perante a
Administração tributária, e desta perante eles».

O Direito fiscal debruça-se, fundamentalmente, sobre os vários impostos, os entes


públicos (Estado e ou Autarquias Locais) cobradoras de tais impostos, as várias
categorias de contribuintes (pessoas singulares e ou pessoas colectivas), infracções
fiscais, contencioso fiscal e outras matérias.

O Direito Fiscal autonomizou-se do Direito financeiro. Aliais, para Teodoro


Andrade Waty339, «O Direito Fiscal, ficou claramente defendido, é um ramo do
Direito Financeiro». Do Direito Fiscal autonomizou-se o Direito Aduaneiro. A
este respeito, Teodoro Andrade Waty340 considera «o Direito Aduaneiro ou
Alfandegário, que disciplina os impostos aduaneiros ou alfandegários e que é
tradicionalmente um ramo especial do Direito fiscal».

Ciencias auxiliares ao Direito Fiscal

+++++++

Enquadramento institucional do Direito Fiscal

o Instituicoes moçambicanas
+++
o Instituicoes internacionais
++++
Legislação Fundamental sobre o Direito Fiscal

O Direito Fiscal tem as suas normas na CRM [fundamentalmente, a alínea c) do


artigo 45, os artigos 127, alínea o) nº 1 do artigo 178] e na legislação fiscal como

338
Manual...,pag. 286
339
Direito Fiscal, pag. 29
340
Direito Fiscal,pag. 33

255
seja o Codigo do IVA, Codigo do IRPS, Codigo do IRPC, Codigo das Execucoes
Fiscais, aprovado pelo Decreto nº 38.088, de 19 de Dezembro de 1950;
Contencioso das Contribuicoes e Impostos, aprovado pelo Diploma Legislativo nº
782, de 28 de Março de 1945.

++++++

Bibliografia fundamental sobre o Direito Fiscal escrita por moçambicanos ou


escrita por estrangeiros sobre a realidade moçambicana:

CLÁUDIO PENE. Apontamentos de Direito Fiscal Moçambicano Maputo: Escolar


Editora, 2014; CLOTILDE CELORICO PALMA. Introdução ao Imposto sobre o
Valor acrescentado Moçambicano. Coimbra: Almedina, 2012; GRAÇA FUMO e
IDÁLIA MAGANE. Código do IVA Comentado. Maputo: Moçambique Editora,
2004, IBRAHIMO IBRAHIMO. O Direito e a fiscalidade. Maputo: ARTC
Editora, 2002; TEODORO ANDRADE WATY.Introdução ao Direito Fiscal.
Maputo: W&W Editora, 2004; TEODORO ANDRADE WATY.Introdução às
Finanças Públicas e Direito Financeiro. Maputo: W&W Editora, 2004, VASCO
BRANCO GUIMARÃES. Manual de Direito Fiscal Moçambicano. Maputo: +++
+, 1993 ++++++

F. Direito Aduaneiro

Abílio Guimarães341 apresenta três definições de Direito Aduaneiro: «O Direito


aduaneiro é o conjunto de normas relativas à entrada e saída de mercadorias de um
território aduaneiro, e o estabelecimento e percepção de taxas e impostos que sobre
elas recaem, bem como à criação, lançamento, liquidação e cobrança de direitos e
demais imposições aduaneiras .(...) Direito aduaneiro é o conjunto de normas que
regulam o estabelecimento e percepção de impostos e taxas cuja cobrança esteja a
cargo das Alfândegas.(...) Direito aduaneiro (ou Direito Alfandegário) é o capitulo
do Direito Fiscal que tem como objecto as normas reguladoras das obrigações de
imposto aduaneiro e da actividade administrativa que lhe está anexa ou
teologicamente subordinada».
Direito Aduaneiro e Fiscal e Procedimentos Técnicos Aduaneiros, 2ª edição, pag. 29
341

256
Diogo Freitas do Amaral342 define Direito Aduaneiro como «ramo do direito
público constituído pelo sistema de normas jurídicas que estabelecem os impostos
e as taxas cobradas nas alfândegas sobre os bens importados do exterior ou para ele
exportados».

Podemos sintetizar as definições acima apresentadas dizendo que o Direito


Aduaneiro é o sistema de normas e princípios jurídicos que regulam a cobrança de
impostos e taxas nas operações de importação, exportação ou trânsito de
mercadorias.

Ciencias auxiliares ao Direito Aduaneiro

+++++++

Enquadramento institucional do Direito Aduaneiro

o Instituicoes moçambicanas
+++
o Instituicoes internacionais
++++
Legislação Fundamental sobre o Direito Aduaneiro

O Direito Aduaneiro tem o seu repositório em muita legislação, podendo-se


destacar a Pauta Aduaneira (Lei nº 18/2017, concernente à revisão do texto da
Pauta Aduaneira, aprovado pela lei nº 11/2016, de 30 de Dezembro), o
Contencioso Aduaneiro, aprovado pelo Decreto nº 33 531, de 21 de Fevereiro de
1944.

++++++

Manual..., pag. 298


342

257
Bibliografia fundamental sobre o Direito Aduaneiro escrita por
moçambicanos ou escrita por estrangeiros sobre a realidade moçambicana:

++++++

A. Direito Criminal ou Direito Penal


Para Diogo Freitas do Amaral343 Direito Penal é «o ramo de direito público
constituído pelo sistema de normas jurídicas que qualificam os factos ilícitos de
maior gravidade social como crimes e estabelecem para eles as penas tidas por
adequadas».

Por outras palavras, o Direito Penal é o conjunto de normas que:

1º: identificam, dentre vários comportamentos, aqueles cujo grau de perigosidade é


elevado ou maior e descreve e tipifica como crimes;

2º: fixa as penas a aplicar aos sujeitos desses comportamentos, em atenção à


gravidade do mal, em atenção ao grau de culpabilidade do agente.

Do Direito Penal autonomizou-se o Direito Penitenciario.

Ciencias auxiliares ao Direito Penal

+++++++

Enquadramento institucional do Direito Penal

o Instituicoes moçambicanas
+++
o Instituicoes internacionais
++++
Legislação Fundamental sobre o Direito Penal

Manual..., pag. 273


343

258
Tem as suas normas contidas na CRM [nº 2 do artigo 40, 59, 60, 61, 62, 63, 64,65,
66, 67, 152, 153, alínea i) do artigo 158, 173, 174, alínea v), nº 2 do artigo 178, nº
2 do artigo 211, nº 6 do artigo 222, 223]. O Direito Penal ou Criminal tem o seu
repositório no Código Penal, aprovado pela Lei nº 24/2019, de 24 de Dezembro.
Para além do Código Penal existe a seguinte legislação penal: Lei nº 17/87, de 21
de Dezembro (Lei dos Crimes Militares); Lei nº 19/91, de 16 de Agosto (Lei dos
crimes contra a segurança do Estado); Lei nº 3/97, de 13 de Março (Lei da Droga);
Lei nº 14/2013, de 12 de Agosto (Lei de combate ao Branqueamento de Capitais e
Financiamento ao Terrorismo); Lei nº 6/2004, de 17 de Junho (mecanismos
complementares de combate à corrupção); Lei nº 6/2008, de 9 de Julho (tráfico de
pessoas); Lei nº 29/2009, de 29 de Setembro (Lei sobre a Violência Doméstica) Lei
nº 17/2011, de 10 de Agosto (Rege os casos e termos da efectivação da extradição).
Existem leis que criminalizam certas práticas: Lei de Imprensa; Lei Cambial,
legislacao eleitoral, Lei do ambiente, Lei nº 19/2019, de 22 de Outubro, Lei de
Prevenção e Combate às Uniões Prematuras).

++++++

Bibliografia fundamental sobre o Direito penal escrita por moçambicanos ou


escrita por estrangeiros sobre a realidade moçambicana:

ALBANO MACIE. Direito Penal I (Texto de Apoio) Parte Geral I. Maputo:


Edição do Autor, 2018; ALCIDO SIDÓNIO MATIAS SITOE. Uma Abordagem
Jurídica à Volta dos Linchamentos. Maputo: Centro de Formacao Jurídica e
Judiciária, 2012; ELÍSIO DE SOUSA. Código Penal Moçambicano: Anotado e
Comentado. Maputo: Escolar Editora, 2015; ELÍSIO DE SOUSA. Manaual de
Direito Criminal Moçambicano. 2ª edição. Maputo: Escolar Editora, 2016;
FERNANDO PEREIRA JORGE.Noções dos Princípios Gerais do Direito
Criminal. Maputo: Ministério do Interior, 199?;JORGE DOS REIS BRAVO,
Manual Sobre Corrupcao, Criminalidade Organizada e Econ’omico-financeira.
Maputo: Centro de Formacao Jur’idica e Judici’aria, 2010; RIZUANE
MUBARAK Direito Penal e Criminalística: da teoria universal à realidade
nacional. Maputo: Escolar Editora, 2016;

++++++

259
G. Direito Penitenciario
++++

Ciencias auxiliares ao Direito Penintenciario

+++++++

Enquadramento institucional do Direito Penitenciario

o Instituicoes moçambicanas
+++
o Instituicoes internacionais
++++
Legislação Fundamental sobre o Direito Penitenciario

Tem as suas normas contidas na CRM [artigo 64]. O Direito Penitenciario tem o
seu repositório no Código de Execucao de Penas, aprovado pela Lei nº 26/2019,
de 27 de Dezembro.

++++++

Bibliografia fundamental sobre o Direito Penitenciario escrita por


moçambicanos ou escrita por estrangeiros sobre a realidade moçambicana:

MASSAI, Charles A. Unificacao do Sistema Prisional Mocambicano in BACHIR,


Mahomed e MASSAI, Charles A. Temas de Direito. Mauto: Jorge de Oliveira –
Edicao, Publicidade e Marketing, 2001

H. Direito Processual (civil e penal)

260
É um conjunto de normas jurídicas que regulam as formas de resolução de litígios
em juízo. Regulam a organização judiciária, o modo como se organiza os tribunais
e a sua esfera de competências.

 Direito Processual Civil


++++DEFINIR O DIREITO PROCESSUAL CIVIL+++

O Direito Processual Civil tem o seu repositório no Código de Processo Civil.

Trata de questões como competência dos tribunais, patrocínio judiciário,


petição inicial, contestação, despacho saneador, julgamento, sentença, revisão
da sentença, recurso, etc.

Ciencias auxiliares ao Direito Processual Civil

+++++++

Enquadramento institucional do Direito Processual Civil

o Instituicoes moçambicanas
+++
o Instituicoes internacionais
++++
Legislação Fundamental sobre o Direito Processual Civil

++++++

Bibliografia fundamental sobre o Direito Processual Civil escrita por


moçambicanos ou escrita por estrangeiros sobre a realidade moçambicana:

CARLOS PEDRO MONDLANE. Código de Processo Civil anotado e comentado.


2ª edição. Maputo: Escolar Editora, 2016; RIBEIRO CUNA. Manual de Direito
Processual Civil I. Maputo: W Editora, 2018; ________. Manual de Direito
Processual Civil II. Maputo: W Editora, 2018; LUÍS FILIPE SACRAMENTO e

261
BERNARDO BENTO CHUZUAIO,. Direito Processual Civil: Accao Executiva e
Recursos. Maputo: Imprensa Universitaria, 2014; TOMÁS TIMBANE. Licoes de
Processo Civil I. Maputo: Escolar Editora, 2010; _________. A Revisao do
Processo Civil. Maputo: Faculdade de Direito da UEM, 2007;

++++++

 Direito Processual Penal


++++DEFINIR O DIREITO PROCESSUAL PENAL+++

Trata de matérias como a denúncia, queixa ou participação, investigação criminal,


detenção, prisão, bisca e captura, defesa do arguido, assistente, julgamento,
sentença, recursos, etc.

Ciencias auxiliares ao Direito Processual Penal

+++++++

Enquadramento institucional do Direito Processual Penal

o Instituicoes moçambicanas
+++
o Instituicoes internacionais
++++
Legislação Fundamental sobre o Direito Processual Penal

O Direito Processual Penal temo seu repositório no Código de Processo Penal,


aprovado pela Lei nº 25/2019, de 26 de Dezembro. Tem normas contidas na CRM
(artigos 62, 63, 64, 65, 66, 68, 152, 153, 173, 174, 210, 235, 296).

++++++

262
Bibliografia fundamental sobre o Direito Processual Penal escrita por
moçambicanos ou escrita por estrangeiros sobre a realidade moçambicana:
Caução. Maputo: Liga Mocambicana dos Direitos Humanos, 199++; CUNA,
Ribeiro.Licoes de Direito Processual Penal. Maputo: Escolar Editora, 2014; DIAS,
Mario Ernesto. O Regime jurídico da Prisao Preventiva e da Liberdade
Provosoria na Lei Penal Mocambicana. Maputo: Ndjira, 2005; NKUTUMULA,
Alberto. Da Inadmissibilidade da Liberdade Provisoria, in Boletim Informativo da
Ordem dos Advogados de Mocambique, Setembro de 2012; UACHE, Fernando
Henrique. Manual Prático de Processo Penal. 3ª edição. Maputo: Alcance
Editores, 2014

++++++

5. Direito Internacional

No Direito Internacional temos o Direito Internacional Público e o Direito


Internacional Privado.

A. Direito Internacional Público

Direito Internacional Público é o conjunto de normas jurídicas que regulam as


relações entre os Estados soberanos, organizações internacionais e outros sujeitos
de Direito Internacional (uma pessoa pode ser sujeito de Direito Internacional
Público), isto é resulta da vontade dos Estados soberanos e organizações
internacionais. A sua principal fonte de Direito são os tratados (convenções,
acordos internacionais). São Sujeitos do Direito Internacional público: osEstados;
as Organizações Internacionais (ex.: ONU, União Africana, SADC, União
Europeia, etc.) e os Indivíduos

Ciencias auxiliares ao Direito Internacional Público

+++++++

Enquadramento institucional do Direito Internacional Público


263
o Instituicoes moçambicanas
+++
o Instituicoes internacionais
 Organizacao das Nacoes Unidas;
 Uniao Africana
 SADC
 Uniao europeia
 MERCOSUL
++++
Legislação Fundamental sobre o Direito Internacional Público

Tem as suas normas contidas na CRM [artigo 6, alínea j) do artigo 11, 17, 18, 19,
20, 21, 22, alínea f), nº 1 do artigo 143, 161, alínea c), nº1 do artigo 171, alíneas e),
t) e u) do nº 2 do artigo 178, alínea f) do artigo 194, alínea g), do nº 1 do artigo
203, 264, 265, alíneas a) e e) do artigo 265, 305 e 306]

++++++

Bibliografia fundamental sobre o Direito Internacional Público escrita por


moçambicanos ou escrita por estrangeiros sobre a realidade moçambicana

IAN BROWNILE, Fronteiras e Corredores. Maputo: Minist’erio da Justica, 1987;

++++++

Do Direito Internacional Público está se autonomizando o Direito


Internacional humanitário. O Direito Internacional humanitário trata da
observância dos Direitos Humanos na Guerra. É por isso que o Direito
internacional humanitário aborda questões como o tratamento dos
refugiados, as acções da Cruz Vermelha Internacional. Do Direito
Internacional Humanitário está se autonomizando oDireito da Guerra. O

264
Direito da Guerra trata do tratamento dos feridos em combates, tratamentos
de prisioneiros de guerra, uso de armas, etc.

O Direito Internacional Público tem como sub-ramos o Direito Diplomático


e Consular, o Direito Internacional Económico, o Direito Aéreo
Internacional, o Direito Cósmico Internacional.

Direito Diplomático e Consular

De acordo com G.I. Tunkin344«O Direito Diplomático e Consular é a parte


do Direito Internacional Público e compreende os princípios e normas sobre
o regime das relações entre os Estados e entre outros sujeitos do Direito
Internacional».

Ciencias auxiliares ao Direito Diplomático e Consular

Enquadramento institucional do Direito Diplomático e Consular

o Instituicoes moçambicanas
+++
o Instituicoes internacionais
++++
Legislação Fundamental sobre o Direito Diplomático e Consular

++++++

Bibliografia fundamental sobre o Direito Diplomático e Consular escrita por


moçambicanos ou escrita por estrangeiros sobre a realidade moçambicana

++++++

Direito Internacional Económico


Direito Internacional, pag. 257
344

265
De acordo com G.I. Tunkin345«o Direito Internacional Económico, como
ramo do Direito Internacional Público, é um conjunto de normas que
regulam as relações entre os sujeitos do Direito Internacional por causa da
sua actividade na esfera das relações económicas internacionais».

Ciencias auxiliares ao Direito Internacional Económico

+++++++

Enquadramento institucional do Direito Internacional Económico

o Instituicoes moçambicanas
+++
o Instituicoes internacionais
++++
Legislação Fundamental sobre o Direito Internacional Económico

++++++

Bibliografia fundamental sobre o Direito Internacional Económico escrita por


moçambicanos ou escrita por estrangeiros sobre a realidade moçambicana

++++++

Direito Aéreo Internacional

Para G.I. Tunkin346«O Direito Aéreo Internacional é a parte do Direito


Internacional que compreende um sistema de normas reguladoras das
relações entre os Estados no que se refere à utilização do espaço aéreo a fim
de realizar as comunicações aéreas internacionais e garantir a sua
segurança».

Ciencias auxiliares ao Direito Aéreo Internacional


Direito Internacional, pag. 362
345

Direito Internacional, pag. 435


346

266
+++++++

Enquadramento institucional do Direito Aéreo Internacional

o Instituicoes moçambicanas
+++
o Instituicoes internacionais
++++
Legislação Fundamental sobre o Direito Aéreo Internacional

++++++

Bibliografia fundamental sobre o Direito Aéreo Internacionalescrita por


moçambicanos ou escrita por estrangeiros sobre a realidade moçambicana

++++++

Direito Cósmico Internacional

De acordo com G.I. Tunkin347«O Direito Cósmico Internacional é o ramo do


Direito Internacional que regula as relações entre os seus sujeitos por motivo
da sua actividade de exploração e uso do Espaço Cósmico, incluindo os
corpos celestes».

Ciencias auxiliares ao Direito Cósmico Internacional

+++++++

Enquadramento institucional do Direito Cósmico Internacional

o Instituicoes moçambicanas
Direito Internacional, pag. 449
347

267
+++
o Instituicoes internacionais
++++
Legislação Fundamental sobre o Direito Cósmico Internacional

++++++

Bibliografia fundamental sobre o Direito Cósmico Internacional escrita por


moçambicanos ou escrita por estrangeiros sobre a realidade moçambicana

++++++

B. Direito Internacional Privado

Para Diogo Freitas do Amaral348 Direito Internacional Privado «é o ramo do direito


privado constituído pelo sistema de normas jurídicas que, na ausência de regulação
directa do conteúdo das relações privadas internacionais, designam as leis
competentes (nacionais ou estrangeiras) para regular essas relações».

Podemos, também, dizer que o Direito Internacional Privado é o conjunto de


normas jurídicas que disciplinam as situações privadas internacionais, em razão
da natureza plurilocalizada destas situações. Tem o seu repositório nos artigos 14
a 65 do Código Civil.

Exemplos:

 Uma empresa sul africana contrata uma empresa zambiana para fornecer
milho à população zimbabweana. Aqui levanta-se o problema de saber
qual a lei (sul africana, zambiana ou zimbabweana?) a ser aplicada e
qual o tribunal que vai resolver um eventual conflito.
 Um brasileiro e uma zimbabweana querem se casar em Moçambique.
Aqui levanta-se o problema de saber qual a lei que vai regular esse
casamento (lei brasileira, lei zimbabweana, ou lei moçambicana?)

Manual..., pág. 316


348

268
Ciencias auxiliares ao Direito Internacional Privado

Enquadramento institucional do Direito Internacional Privado

o Instituicoes moçambicanas
+++
o Instituicoes internacionais
++++
Legislação Fundamental sobre o Direito Internacional Privado

++++++

Bibliografia fundamental sobre o Direito Internacional Privado escrita por


moçambicanos ou escrita por estrangeiros sobre a realidade moçambicana

BACHIR, Mahomed. Nocao de Arbitragem Privada Internacional na Lei de


Abitragem Mocambicana, in BACHIR, Mahomed e MASSAI, Charles A. Temas
de Direito. Mauto: Jorge de Oliveira – Edicao, Publicidade e Marketing, 2001;

++++++

6. Novos ramos de Direito

A. Direito da Informática
De acordo com Garcia Marques e Lourenço Martins 349«O Direito da
Informática abrange, assim, o estudo da multiplicidade das questões jurídicas
suscitadas pela informática, podendo ser singelamente definido como o
conjunto de regras de direito aplicáveis à informática».

Características do Direito da Informática

Direito da Informática, 2ª edição, pag. 109


349

269
Garcia Marques e Lourenço Martins350 apresentam as seguintes características
do Direito da Informática:

-«carácter evolutivo: o que resulta da circunstância de lhe competir proceder


ao enquadramento jurídico de tecnologias em permanente evolução, cujas
aplicações se encontram em progresso contínuo e acentuada. (…) importa
legislar neste domínio com prudência, a fim de evitar que as soluções
adoptadas se revelem, a curto prazo, ultrapassadas»;

-«dimensão internacional: O carácter transnacional das tecnologias da


informação e comunicação está presente a todo o momento da
regulamentação»;

-«originalidade, traduzida na convivência de um regime jurídico comum


com regras específicas. Essa especificidade manifestar-se-ia, pelos menos,
de três maneiras: (i) pela publicação de textos particulares em certos
domínios, v.g. Dados pessoais, protecção das topografias dos
semicondutores, programas de computador, criminalidade informática; (ii)
pela adopção de regras antigas a situações específicas, por exemplo, no
domínio dos contratos (v.g., em França, a jurisprudência desde cedo
enfatizou a importância das obrigações de colaboração e conselho dos
fornecedores de equipamentos aos compradores, decorrentes do princípio da
boa fé); (iii) combinação de regras antigas com regras novas, por exemplo
no campo da repressão da criminalidade»;

-«pluridisciplinaridade (…) Resulta dessa circunstância a grande dificuldade


(e a intolerável pretensão) em se pretender ser especialista da generalidade
do “Direito da Informática” ou do “Direito tecnológico” -ou seja, do
conjunto das questões jurídicas que gravitam à volta das tecnologias da
informação e da comunicação ou delas irradiam -, o que recomenda a
conveniência de trabalhar em equipa, assim reunindo experiências e
conhecimentos de diferentes colaboradores».

Direito da Informática e os Ramos tradicionais do Direito

Direito da Informática, 2ª edição, pags. 114 a 116


350

270
De acordo com Garcia Marques e Lourenço Martins351 «a disciplina dos
problemas colocados pela informática pode situar-se nos mais diferenciados
ramos tradicionais do Direito. (…) dentro do direito Privado: (a) inserem-se no
âmbito dos Direitos Reais questões como as que se referem à protecção do
software ou dos bancos e bases de dados; (b) no Direito das Obrigações
inscrevem-se naturalmente as matérias relativas às relações contratuais entre
fornecedores e utilizadores de material ou serviços informáticos e tantas outras
relacionadas com a responsabilidade civil resultantes do respectivo
incumprimento ou cumprimento defeituoso; (c) no domínio do Processo Civil
insinuam-se todos os problemas relativos ao regime da prova ou à repartição do
ónus da prova. (…) Já no âmbito do Direito Público se situam todas as questões
subsumíveis no trinómio Informática, Administração Pública e Direito
Administrativo e, bem assim, as respeitantes à protecção dos dados pessoais, da
vida privada e das liberdades públicas contra a utilização da informática. São
também evidentes as conexões com o Direito internacional – Pública e Privado
– sendo, por outro lado, um facto notório a importância crescente dos
problemas jurídico-penais suscitados pela informática. Isto sem falar das
´interfaces`que se estabelecem com outros ramos do Direito, como é o caso do
Direito Comercial, do Direito Bancário ou do próprio Direito Médico.(...)
Expressões como dinheiro plástico, moeda electrónica, telemática, caixas
automáticas,porta-moedaselectrónico são exemplos de termos que passaram a
fazer parte do léxico corrente dos dias de hoje».

As suas normas estão previstas no artigo 71 da CRM. Tem as suas normas na


Política de Informática (aprovada pela Resolução nº Resolução nº 28/2000, de
12 Dezembro), Lei nºm 3/2017, de 9 de Janeiro(Lei das Trasancções
Electrónicas); legislação eleitoral (software para o apuramento dos
resultados),legislação fiscal programas do Governo, Agenda 2025.

Ciencias auxiliares ao Direito da Informática

+++++++

Enquadramento institucional do Direito da Informática


Direito da Informática, 2ª edição, pags. 116/117
351

271
o Instituicoes moçambicanas
+++
o Instituicoes internacionais
++++
Legislação Fundamental sobre o Direito da Informática++++++

Bibliografia fundamental sobre o Direito da Informática escrita por


moçambicanos ou escrita por estrangeiros sobre a realidade moçambicana

++++++

B. Direito do Consumidor
Para Mouzinho Nicol´s352 «O Direito do Consumidor é uma disciplina jurídica
recente, que nasce, se desenvolve e frutifica na sociedades sofisticadas e nos
mercados complexos». Ainda de acordo com Nicol´s353«O aparecimento
desse direito decorre da incapacidade do mercado de consumo proteger, com
as suas próprias leis, o consumidor de maneira adequada. Pela mesma razão
explica-se a intervenção estatal que se observa nessa área, seja através de
legislação especial, seja mediante a expedição de normas administrativas e a
criação de órgãos especializados de protecção ao consumidor».

Tem as suas normas contidas na CRM [alínea d), nº 2 do artigo 81, 92, alínea
e), nº 2 do artigo 203], na Lei nº 22/2009, de 28 de Setembro (Lei de Defesa
do Consumidor), Lei das Transacções Electónicas e demais legislação
avulsa: para ver legislação moçambicana sobre o Direito do Consumidor ver
a obra de Mouzinho Niocol´sProtecção do Consumidor na Ordem Jurídica
Moçambicana, páginas 121 e seguintes..

Ciencias auxiliares ao Direito +++++++

+++++++

Enquadramento institucional do Direito ++++

Direito do Consumidor na Ordem Jurídica Moçambicana, pag. 41


352

Direito do Consumidor...Pag. 42
353

272
o Instituicoes moçambicanas
+++
o Instituicoes internacionais
++++
Legislação Fundamental sobre o Direito ++++

 Lei de Defesa do Consumidor


 Lei do Comércio Privado (Lei nº. 7/79, de 3 de Julho:Cria a base legal para
o licenciamento e funcionamento do sector comercial privado na República
Popular de Moçambique)

 Lei das transacções electrónicas (ver o capítulo +++


++++++

Bibliografia fundamental sobre o Direito +++++ escrita por moçambicanos ou


escrita por estrangeiros sobre a realidade moçambicana

++++++

C. Direito Agrário
Diogo Freitas do Amaral354 define Direito Agrário como «ramo do direito
constituído pelo sistema de normas jurídicas, públicas e privadas, comunitárias
e nacionais, que regulam o regime jurídico dos agricultores e da agricultura
como actividade privada e, bem assim, a intervenção do estado no ordenamento
e no incentivo públicos dessa actividade».

Tem as suas normas na CRM (artigos 103, 109, 110, 111), na Lei nº 19/97, de
1 de Outubro :aprova a Lei de Terras e revoga a Lei nº 6/79 e 1/86, de 3 de
Julho e 16 de Abril, respectivamente; no Decreto nº 66/98, de 8 de Dezembro
(alterado pelo Decreto nº 1/2003, de 18 de Fevereiro e pelo Decreto nº 50/2007,
de 16 de Outubro): aprova o Regulamento da Lei de Terras e revoga o Decreto
nº 16/87, de 15 de Julho; Diploma Ministerial nº 158/2011, de 15 Junho: adopta
procedimentos específicos para a consulta às comunidades locais no âmbito da
titulação do direito de uso e aproveitamento da terra.
Manual...págs. 333/334
354

273
Ciencias auxiliares ao Direito Agrário

+++++++

Enquadramento institucional do Direito Agrário

o Instituicoes moçambicanas
+++
o Instituicoes internacionais
++++
Legislação Fundamental sobre o Direito Agrário

++++++

Bibliografia fundamental sobre o Direito Agrário escrita por moçambicanos


ou escrita por estrangeiros sobre a realidade moçambicana

M. L. CORREIA MATOS. Notas sobre o Direito da Propriedade da Terra dos


Povos Angoni, Acheua e Ajaua da Província de Moçambique. +++++: Memória do
Instituto de Investigação de Moçambique, 1965++++++

D. Direito do Ambiente
Para Diogo Freitas do Amaral355 Direito do Ambiente é «o ramo do direito
constituído pelo sistema de normas jurídicas – internacionais, comunitárias e
nacionais, públicas e privadas – que regulam a protecção concedida pelas
autoridades oficiais à conservação da Natureza e à manutenção e revitalização
de um ambiente humano, sadio e ecologicamente equilibrado».

Edilenice Passos e Lucivaldo Vasconcelos Barros356 define Direito do Ambiente


(que eles designa Direito ambiental) como «ramo do direito público interno que
se ocupa dos princípios e normas destinados a impedir a destruição ou a
degradação do meio ambiente».Quanto ao que este ramo de Direito trata, estes
Manual..., pág. 334/335
355

Fontes de Informação para Pesquisa em Direito,pag. 20


356

274
autores dizem que «Abrange medidas administrativas e jurídicas, que
prescrevem a reparação económica e financeira de danos causados aos
ecossistemas, e, em geral, ao ambiente natural». Estes consideram que o Direito
do Ambiente é «um desmembramento do direito administrativo, que vem
evoluindo e ganhando autonomia em face dos abusos predatórios causados aos
ecossistemas existentes».

Edilenice Passos e Lucivaldo Vasconcelos Barros357 apresentam os princípios


do Direito do Ambiente: «princípio do direito humano fundamental; princípio
da necessidade da intervenção estatal; princípio da prevenção; princípio da
prevenção; princípio da precaução; princípio do poluidor-pagador; princípio do
desenvolvimento sustentável; princípio da função sócioambiental da
propriedade e o princípio da cooperação Estado-colectividade».

Carlos Serra e Albano Macie358 entendem que «o Direito do Ambiente, não


obstante se tratar de um direito novo e, acima de tudo, inovador, com princípios
específicos e uma série de institutos genuínos, é também um direito transversal
ou horizontal, no sentido de que pressupões a intervenção de praticamente todas
as disciplinas clássicas de direito: levantando problemas no âmbito das relações
jurídicas entre sujeitos particulares (Direito civil) e ainda nas relações entre
diversos sujeitos que compõem a comunidade internacional (Direito
Internacional Público), implicando opções fundamentais da comunidade
politicamente organizada (Direito Constitucional), implicando a definição das
principais agressões ao bem jurídico ambiente como tipos legais de crime
(Direito Penal) e, finalmente, porque o ambiente constitui um sector a todos os
níveas fundamental de intervenção da Administração Pública e das relações
jurídicas entre a Administração e os Particulares (Direito Administrativo».

Tem as suas normas na CRM [alínea f) do artigo 45, 90, 117, alínea d), do nº 1
do artigo 276], Lei do Ambiente (Lei nº 20/97, de 1 de Outubro),Lei nº
16/2014, de 20 de Junho, concernente ao estabelecimento dos princípios e
normas básicos sobre a protecção, conservação, restauração e utilização
sustentável da diversidade biológica nas áreas de conservação, bem como o
enquadramento de uma administração integrada, para o desenvolvimento

Fontes de Informação para Pesquisa em Direito,pag. 22)


357

Direito do Ambiente – Contributos para reflexão, pag.186


358

275
sustentável do país, alterada e republicada pelaLei nº 5/2017, de 11 de Maio;
outra legislação ambiental. e em várias convenções internacionais que
Moçambique ratificou sobre o ambiente.

Ciencias auxiliares ao Direito +++++++

+++++++

Enquadramento institucional do Direito ++++

o Instituicoes moçambicanas
+++
o Instituicoes internacionais
++++
Legislação Fundamental sobre o Direito ++++

++++++

Bibliografia fundamental sobre o Direito +++++ escrita por moçambicanos ou


escrita por estrangeiros sobre a realidade moçambicana

CUNHA, Fernando e SERRA, Carlos Manuel. Manual do Direito do Ambiente. 2ª


edição. Maputo: Centro de Formacao Jur’idica e Judici’aria, 2008.

++++++

E. Direito Bancário
Teodoro Andrade Waty359 define Direito Bancário como «um conjunto
estruturado ou um sistema de normas e princípios jurídicos (...) que regulam
especificamente a actividade bancária bem como as vicissitudes das
instituições de crédito e de outras que constituem o sistema financeiro».

Introdução ao Direito Bancário, vol. I, pag. 11


359

276
Para Diogo Freitas do Amaral360 Direito Bancário é o «ramo do direito
constituído pelo sistema de normas jurídicas, públicas e privadas, que regulam
as instituições bancárias e financeiras do país, e a sua fiscalização pelo Estado e
pelo Banco de Portugal, bem como as operações bancárias e financeiras por
aquelas realizadas com os seu clientes».

As normas do Direito Bancário constam da CRM [artigos 126, 132, alínea g), nº
1 do artigo 143, alínea d), nº 2 do artigo 159, 308]; Lei do Banco de
Moçambique (Lei nº 1/92, de 3 de Janeiro), Lei sobre Instituições de Crédito
(Lei nº 15/99, de 1 de Novembro; alterado pela Lei nº 9/2004, de 21 de Julho),
Avisos do Governador do Banco de Moçambique.

Ciencias auxiliares ao Direito +++++++

+++++++

Enquadramento institucional do Direito ++++

o Instituicoes moçambicanas
+++
o Instituicoes internacionais
++++
Legislação Fundamental sobre o Direito ++++

++++++

Bibliografia fundamental sobre o Direito +++++ escrita por moçambicanos ou


escrita por estrangeiros sobre a realidade moçambicana

++++++

F. Direito Rodoviário

Manual...,pag. 334
360

277
Maria Helena Diniz361 define Direito Rodoviário como «Complexo de normas
disciplinadoras do uso das rodovias».

Tem o seu repositório no Código da Estrada, aprovada pelo Decreto-Lei nº


1/2011, de 23 de Março e noutra legislação complementar.

Ciencias auxiliares ao Direito +++++++

+++++++

Enquadramento institucional do Direito ++++

o Instituicoes moçambicanas
+++
o Instituicoes internacionais
++++
Legislação Fundamental sobre o Direito ++++

++++++

Bibliografia fundamental sobre o Direito +++++ escrita por moçambicanos ou


escrita por estrangeiros sobre a realidade moçambicana

++++++

G. Direito dos Registos e Notariado

Diogo Freitas do Amaral362 define Direito dos Registos e Notariado como


«ramo de direito constituído pelo sistema de normas jurídicas, públicas e
privadas, que regulam a organização e funcionamento dos serviços públicos
nacionais destinados a arquivar e dar fé pública a determinadas situações e
actos jurídicos de natureza privada que carecem, para protecção de terceiros,
de ser dotadas de adequada publicidade».
Dicionário Jurídico, vol. 2, pág. 177
361

Manual..., pág. 332


362

278
Consta dos seguintes diplomas legais: Código de Registo Civil; Código do
Registo Predial, Código do Registo Automóvel; Código do Notariado,
Registo das Entidades Legais.

Ciencias auxiliares ao Direito +++++++

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Enquadramento institucional do Direito ++++

o Instituicoes moçambicanas
+++
o Instituicoes internacionais
++++
Legislação Fundamental sobre o Direito ++++

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Bibliografia fundamental sobre o Direito +++++ escrita por moçambicanos ou


escrita por estrangeiros sobre a realidade moçambicana

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H. Direito da Segurança Social


Diogo Freitas do Amaral363 define Direito da segurança Social como «ramo de
direito constituído pelo sistema de normas jurídicas, públicas e privadas, que
regulam o sistema de segurança social, com vista à protecção dos indivíduos
na doença, velhice, desemprego, e outras situações de carência económica
ou incapacidade para o trabalho».

É um ramo que está-se autonomizando-se do Direito do Trabalho (segurança


social dos trabalhadores do sector privado) e do Direito Administrativo
(segurança social dos funcionários e agentes do Estado).

Manual..., pág. 333


363

279
Para Mónica Waty364 a «segurança social apresenta-se, assim, como um ramo
autónomo do Direito Público, com repercussões em vários ramos do Direito
Público e Privado. A sua ligação com o Direito do Trabalho é óbvia. Mas a
segurança social não é um ramo do Direito do Trabalho».

Tem as suas normas na Lei do Trabalho (Lei nº 23/007); Lei da Protecção


Social (Lei nº 4/2007); Estatuto geral dos Funcionários e Agentes do Estado,
Regulamento do estatuto geral dos Funcionários e agentes do Estado;
Sistema de segurança social para os trabalhadores do Banco de
Moçambique. Também tem as suas normas na CRM [artigos 85, 95, 124,
125, alínea h), nº 1 do artigo 203]

Ciencias auxiliares ao Direito +++++++

+++++++

Enquadramento institucional do Direito ++++

o Instituicoes moçambicanas
+++
o Instituicoes internacionais
++++
Legislação Fundamental sobre o Direito ++++

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i. Direito Desportivo

Direito do Trabalho, pag. 23


364

280
Diogo Freitas do Amaral365 define Direito Desportivo como «ramo do direito
constituído pelo sistema de normas jurídicas – internacionais e nacionais,
públicas e privadas, estaduais e não-estaduais – que regulam as actividades
desportivas, bem como o seu condicionamento e fiscalização por organismos
internacionais privados e pelo estado».

Maria Helena Diniz366 define Direito Desportivo como «Conjunto de normas


reguladoras de jogos e competições desportivas».

O Direito Desportivo tem as suas normas na CRM (artigo 93), Lei do Desporto
(Lei nº 11/2002, de 12 de Março), Regulamento da Lei do Desporto
(Decreto nº 3/2004, de 29 de Março; alterado pelo Decreto nº 41/2008, de 4
de Novembro), Decreto sobre o trabalho desportivo, Decreto-Lei sobre
Sociedades desportivas (recentemente aprovado pelo Conselho de Ministros)
e outra legislação.

Ciencias auxiliares ao Direito +++++++

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Enquadramento institucional do Direito ++++

o Instituicoes moçambicanas
+++
o Instituicoes internacionais
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Legislação Fundamental sobre o Direito ++++

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++++++
Manual...,pag. 337
365

Dicionário Jurídico, vol. 2, pág. 159


366

281
J. Direito da Propriedade Industrial
Diogo Freitas do Amaral367 define Direito da Propriedade Industrial como
«ramo do direito privado constituído pelo sistema de normas jurídicas que
atribuem direitos exclusivos aos criadores de modelos originais de utilidade
para a indústria, regulando nomeadamente as patentes, as marcas e as
denominações de origem».

Tem o seu repositório no Código da Propriedade Industrial.

Ciencias auxiliares ao Direito +++++++

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o Instituicoes internacionais
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Legislação Fundamental sobre o Direito ++++

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K. Direito Marítimo
De acordo com Diogo Freitas do Amaral 368 Direito Marítimo é o «ramo do
direito privado constituído pelo sistema de normas que regulam as
Manual..., pág. 325
367

Manual..., pág. 325


368

282
instituições da marinha mercante e o comércio realizado através da
navegação pelo mar».

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L. Direito Económico
De acordo com Eurico Heitor Consciência369 “O Direito Económico é constituído
pelo conjunto de normas e princípios juridicos que regem a actividade produtiva na
perspectiva do interesse da comunidade”.

O Direito Económico trata fundamentalmente da Intervenção do Estado. Essa


intervenção pode ser directa ou indirecta.

Não há consenso na doutrina sobre o âmbito do Direito Económico: alguns


consideram Direito Público da Economia, outros consideram Direito da Economia
Breve Introdução oa Estudo do Direito, 5ª edição, pág. 85
369

283
outros ainda consideram que o Direito Económico trata da Intervenção do Estado
na Economia.

O Direito Económico aborda questões como: Constituição económica, tipos de


empresas, nacionalizações, fomento económico, planeamento económico, etc.

As normas do Direito Económico estão na CRM (artigos 96 a 111) e demais


legislação: Lei do Sector Empresarial do Estado; Estatuto Geral das Micro,
Pequenas e Médias Empresas, aprovado pelo Decreto nº 44/2011, de 21 de
Setembro; Lei nº 15/2011, de 10 de Agosto (parcerias público privados); etc.

Ciencias auxiliares ao Direito +++++++

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o Instituicoes internacionais
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7. Ramos do Direito Misto

Há ramos do Direito que são mistos, ou seja, num mesmo ramo de direito
encontramos normas e princípios de Direito Público e normas e princípios de
Direito Privado.

284
É o caso do Direito Desportivo, Direito da segurança Social, Direito dos Registos e
Notariado, Direito Bancário, Direito do Ambiente, Direito Agrário, Direito do
Consumidor, Direito Económico entre outros.

Direito Privado

Direito Público

PERGUNTAS DE CONSOLIDAÇÃO E QUESTÕES PARA REFLEXÃO

1. Fale do Direito Eleitoral, não se esquecendo de referir sobre os requisitos


para que uma área do saber jurídico possa constituir um ramo do Direito.
2. O Testamento é matéria de que ramo do Direito? Esse ramo é do Direito
Público ou Privado? Justifique a sua resposta.
3. Que ramo do Direito autonomizaram-se do Direito financeiro?
4. Comente a seguinte afirmação: “O Direito Financeiro é um ramo de Direito
Público qualquer que seja o critério usado para determinar se faz parte do
Direito Público ou Privado”.
5. Fale do Direito Parlamentar, não se esquecendo de referir sobre os requisitos
para que uma área do saber jurídico possa constituir um ramo do Direito.
6. A Gestão de negócios é matéria de que ramo do Direito? Esse ramo é do
Direito Público ou Privado? Justifique a sua resposta.
7. Que ramos do Direito autonomizaram-se do Direito Comercial?
8. Comente a seguinte afirmação: “O Direito Aduaneiro é um ramo de Direito
Público qualquer que seja o critério usado para determinar se é Direito
Público ou Privado”
9. Com base no que já aprendeu até aqui na cadeira de Introdução ao Estudo do
Direito e noutras cadeiras, qual é a importância de distinguir Direito Público
e Direito Privado?
10.Comente a seguinte afirmação: “O Direito do Trabalho é um ramo de
Direito misto ou híbrido”
11.Comente a seguinte afirmação: “O Direito Fiscal é um ramo de Direito
Público qualquer que seja o critério usado para determinar se é Direito
285
Público ou Privado”
12.Fale da autonomia do Direito das Autarquias Locais face ao Direito
Administrativo
13.Quais são as semelhanças e diferenças entre Direito Fiscal e Direito
Aduaneiro?

SISTEMAS JURÍDICOS

O Direito, tal como outras áreas da vida social, agrupa-se em sistemas, tipos,
etc.

Podemos dar exemplo das religiões: temos religiões cristãs, religiões


protestantes, religião muçulmana, religião hindu, religião tradicional
africana (religião animista), etc.

É muito importante cada Estado saber em que sistema jurídico pertence. Isto
ajuda muito no Direito Comparado. Ou seja, os legisladores e juristas
(docentes de Direito, Juízes, Procuradores, Advogados, etc.) procuram
estudar o Direito dos países com um sistema jurídico igual ao do seu
Estado. O Estudo do Direito dos países do nosso sistema ajuda na
resolução e ou compreensão de questões jurídicas com que se depara no
dia a dia. Se o nosso legislador que fazer uma lei sobre a organização dos
tribunais tenderá a inspirar-se em lei sobre a organização dos tribunais
dos países que tem o mesmo sistema jurídico com o nosso.

Mas isto não impede que, também, se estude sistemas jurídicos diferentes do
nosso. Esse estudo ajuda aprofundar o conhecimento do Direito e a
compreender outros institutos jurídicos. Por outro lado, podemos estudar
o Direito do sistema jurídico diferente ao nosso para aferir o seu direito
costumeiro (se este for semelhante ao nosso). Por exemplo, em
Moçambique estamos integrados no Sistema Romano Germânico mas se
queremos legislar sobre o casamento tradicional podemos estudar o
Direito (doutrina, legislação e jurisprudência) do Zimbabwe que está
integrado no Sistema da CommonLaw para ver como é tratado o

286
casamento tradicional. Por outro lado, existem questões jurídicas que não
diferem muito de um sistema para o outro. Por exemplo, o cheque, letra e
livrança costuma estar sujeito a uma regulamentação jurídica similar em
países que pertence a sistemas jurídicos diferentes. Podemos dizer a
mesma coisa no que concerne a questões globais como a Informática,
HIV/SIDA, Ambiente, Comércio, etc.

Factores políticos, de desenvolvimento económico e tecnológico podem nos


fazer a estudar o Direito dos países com factores políticos e
desenvolvimento económico e tecnológico similar ao nosso.

Por outro lado, os sistemas jurídicos tendem a se aproximar, embora


lentamente. As Organizações Internacionais, sobretudo através de
Convenções Internacionais tendem a aproximar a regulamentação
jurídica dos diferentes países. Por exemplo, temos a Convenção das
Nações Unidas Sobre a Corrupção que propõe certa regulamentação
jurídica sobre o combate à corrupção.

1. Sistema Ocidental
Dentro deste sistema temos o Subsistema Romano Germânico e o
Subsistema Anglo-Saxónico.

Os dois subsistemas que formam o Sistema Ocidental têm algumas


características comuns. De acordo com José de Oliveira de Ascensão 370 o
Sistema Ocidental assenta na herança grega, no cristianismo e no
capitalismo:

«1) O sistema ocidental assenta na herança grega. Desde então o


indivíduo começa a ser olhado com interesse novo, diferente do
característico das formas de vida mais aglutinadoras anteriormente
existentes. Interesse que viria depois a desabrochar no respeito pela
pessoa humana, quando se dá a intervenção do cristianismo. Esse
respeito pode ter sofrido ocasos, ou pelo contrário ter sido mal
Introdução..., pags. 201/202
370

287
entendido, degenerando em individualismo, mas não deixa de ser
um elemento de referência essencial. [...] 2) A mensagem grega,
transmitido através do império romano, atingiu todos os países
europeus. Recebeu depois o segundo elemento ideológico
fundamental: o cristianismo. À sua luz se forjou, no longo cadinho
da Idade Média, uma civilização nova. É certo que (…) são
flagrantes os desvios que se verificaram no espírito cristão, mas
este não deixa de continuar a oferecer um quadro de referência
essencial para a definição desta civilização. […] 3)Sobrepõe-se
depois uma estruturação de índole materialista, o capitalismo,
altamente favorecida pelo desenvolvimento técnico conseguido a
partir da chamada revolução industrial. O capitalismo tem também
o seu espírito, que é muito diverso do espírito cristão, mas não
pode também deixar de ser tomado em conta para a definição da
base ideológica actual da civilização ocidental. Esta base é pois
ideologicamente tripartida».

Apesar de ter as características comuns atrás referidas os dois subsistemas


têm diferenças. De acordo com Marcelo Rebelo de Sousa e Sofia
Galvão371 «É muito diferente a utensilagem mental dos juristas de um e
de outro [sub] sistema. Diferem ramos e divisões do Direito, institutos
jurídicos, instrumentos de análise e construção dogmática. (…) O próprio
peso social relativo das diversas profissões jurídicas varia entre os [sub]
sistemas – sendo mais relevante na família romano-germânica a função
pública e na família anglo-saxónica a magistratura judicial e a advocacia.
A formação do jurista, ela mesma, é bem diversa da romanística. Como
diz Martinek, a preparação em escolas de Direito norte-americanas
caracteriza-se por treino em vez de formação, senso comum em vez de
ciência, concretização em vez de abstracção, tópica em vez de
sistémica».

Estas diferenças e outras veremos a seguir na caracterização dos dois


subsistemas.

Introdução..., págs. 304/305


371

288
a) Subsistema Romano Germânico (Subsistema do Direito civil ou
Sistema do Direito Escrito)

De acordo com Marcelo Rebelo de Sousa e Sofia Galvão 372 o (Sub) Sistema
Romano Germânico teve a Grécia como berço e ganhou maturidade em
Roma. O capitalismo é a marca económica deste sistema.

José de Oliveira Ascensão373 faz-nos notar que não quer dizer que todas a
regiões ocupadas por romanos o subsistema romano germânico se tenha
instalado. Há zonas em que o Direito Romano se implantou mas depois
foi erradicado, após a ocupação por outros imperadores.

José de Oliveira Ascensão374 acrescenta que «o prestígio do direito romano


acabou por o levar a prevalecer sobre os elementos indígenas das ordens
jurídicas de territórios que tinham ou não estado directamente submetidos
ao domínio romano. Nos primeiros, em que o nosso se inclui, operam-se
através dos séculos sucessivas recepções do direito romano, que são tão
importantes para a romanização da sua ordem jurídica como legado
deixado directamente pelos romanos. Mas mesmo em países como a
Alemanha, em que a influência directa foi pequena, o sistema é hoje
profundamente romanista; os elementos germanistas, que alguns autores
tentam por vezes apaixonadamente exaltar, representam um pequeno
resíduo em confronto com os romanistas».

De acordo com Marcelo Rebelo de Sousa e Sofia Galvão375 o Sistema


Romano Germânico «caracteriza-se por assentar no Direito Romano,
nomeadamente no domínio do Direito Privado, por reconhecer à lei um
lugar cimeiro entre os modos de criação do Direito (embora com alguma
hipocrisia de permeio), por minimizar o papel do costume, por conceber
a subordinação estrita da jurisprudência à lei e por revelar uma técnica
científica apurada no tratamento abstracto do material jurídico. O sistema
romano-germânico privilegia o raciocínio dedutivo, abstracto e genérico,
em detrimento do raciocínio indutivo, concreto e pontual. A
interpretação, a integração de lacunas e a aplicação revestem-se de
372
Introdução..., pág. 303
373
Introdução...,pag. 203
374
Introdução...,pag. 203
375
Introdução..., pags 303/304

289
carácter essencialmente normativo. O Estado e a Administração Pública
ancestralmente dominam a sociedade civil».

Para José de Oliveira Ascensão376 «A lei ocupa indiscutivelmente o lugar


cimeiro: ao ponto de em todos os países ter havido a tendência de
confundir direito e lei. (…) O costume, que tem sempre relevância, quer
se lha reconheça teoricamente quer não, ocupa um lugar modesto. (…) A
jurisprudência (…) surge como um elemento subordinado à lei. É certo
que modernamente tem havido tentativas para a revalorizar, mas não
parece poder-se ultrapassar a afirmação de que a jurisprudência é fonte
mediata do direito».

b) Subsistema da CommonLaw (Subsistema Anglo-Saxónico)

- Países da CommonLaw

De acordo com José de Oliveira Ascensão377 «Este sistema não foi no


essencial sensível à influência do direito romano; manteve-se arreigado
às suas origens próprias. Transplantou-se depois à América do Norte e a
todas as regiões que constituíram o Império britânico. Aí, pode ter tido de
sofrer distorções, mas permaneceu sempre o elemento predominante».

- Caraterísticas do Subsistema da CommonLaw

De acordo com Marcelo Rebelo de Sousa e Sofia Galvão 378 o «sistema de


commonlaw (…) caracteriza-se por reconhecer um papel preponderante à
jurisprudência, com a consagração da regra do precedente (pela qual as
decisões dos tribunais superiores vinculam os tribunais inferiores, que
terão de decidir da mesma maneira os casos análogos futuros). (…)
Relevante é também o papel do costume, por contraste com uma
tradicional parcimónia no uso da lei. (…) O sistema anglo-saxónico
376
Introdução..., pag. 204
377
Introdução..., pág. 205
378
Introdução..., pag. 304

290
prefere o raciocínio específico, a análise da solução do caso concreto à
construção de conceitos mais afastados da realidade. A Sociedade civil
afirma o seu controlo sobre o poder político do Estado».

A Menezes Cordeiro379 apresenta a características deste subsistema nos


seguintes termos: «a) é um direito jurisprudencial – a solução do caso
concreto não é procurada a partir da lei mas a partir de casos semelhantes
já decididos; b) é um Direito que não deriva da recepção do Corpus
IurisCivilis – tal recepção não ocorreu no início, dado o retrocesso da
romanização (…); c) é um Direito tradicionalista – ao contrário do
sucedido no Continente europeu, o liberalismo impôs-se por via
reformista e não revolucionária, não houve fracturas determinantes de
novos fenómenos de recepção, de forma que, ainda hoje, o C. L. é Direito
mediaval, devidamente adaptado; d) é um Direito mais
predominantemente histórico-cultural e escassamente voluntarista-
racional – como consequência da sua evolução, o C. L. tem uma estrutura
profundamente diferente da dos Direitos continentais, implicando
conceitos de apreensão difícil, insusceptíveias de explicação lógica mas,
tão-somente, capazes de compreensão histórica».

-Divisão do Direito

De acordo com A. Menezes Cordeiro380 «As suas divisões fundamentais não


correspondem às dos Direitos continentais nem obedecem a critérios
lógicos, p.ex., em vez da contraposição Direito público/privado surge a
repartição CommonLaw/Equity, baseada no facto de antigamente haver
precedentes derivados de tribunais de C. L. e de tribunais de Equity, hoje
desaparecidos».

5. Evolução do Subsistema da CommonLaw

379
«CommonLaw», in Pólis: Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado, vol. 1. - 2ª edição, colunas 1038/1039
380
«CommonLaw», in Pólis: Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado, vol. 1. - 2ª edição, coluna 1039

291
De acordo com A. Menezes Cordeiro381 «As reformas processuais do séc.
XIX simplificaram o sistema judicial britânico mas mantiveram intacto o
espírito da C. L. Mais recentemente, seja pelas necessidades da sociedade
técnica seja pela aplicação de políticas reformistas, surgiram numerosas
leis que provocam uma certa aproximação aos sistemas jurídicos
continentais. As leis são, porém, entendidas peculiarmente: menos do que
elas dizem, interessa a forma porque sõ aplicadas pelos tribunais que
geram precedentes vinculativos. Por outro lado, a moderna ciência do
Direito tem vindo a retirar dos precedentes grandes princípios, que, sob a
diversidade formal, acentuam também uma aproximação aos sistemas do
continente. Finalmente, o C. L., que sempre influenciara o Direito
internacional público, é interferido, recentemente, pelo Direito
comunitário, que também enriquece».

2. Sistema Muçulmano (Sistema Islâmico)


De acordo com Marcelo Rebelo de Sousa e Sofia Galvão382 este sistema
caracteriza-se pela «indistinção existente entre a religião e o Direito. O
Alcorão é, a um tempo, livro sagrado e lei fundamental da nação árabe.
Maomé representa a fé e a regra. (…) E aqui reside a grande força do
sistema. É a manutenção desta base e da sua imutabilidade que sustentam
a ordem estabelecida. A identificação cultural que a justifica explica-se
pela perenidade das verdades islâmicas fundamentais. (…) Por ser assim,
os quadros tradicionais recebem elementos estranhos sem perda da sua
individualidade. A religião garante a invulnerabilidade. (…) A
ocidentalização do Direito muçulmano, de que modernamente tanto se
fala, terá sempre, portanto, de ser entendida dentro de certos limites. Se é
verdade que aspectos fundamentais do Direito Constitucional, do Direito
Administrativo, do Direito Comercial, do Direito penal ou do Direito
Processual sofreram a influência romanística e da commonlaw, nem por
381
«CommonLaw», in Pólis: Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado, vol. 1. - 2ª edição, colunas 1039/1040
Introdução..., pág. 306
382

292
isso se pode afirmar – de modo automático e inquestionado – que o
Direito muçulmano se ocidentalizou. (…) A consciência da matriz
cultural muçulmana pode tornar bem mais pertinente reconhecer a
islamização dos contributos das famílias de Direito ocidentais».

Para Inocêncio Galvão Telles383 «o Direito muçulmano não goza de


verdadeira autonomia, não constituindo um ramo jurídico acabado.
Forma um todo com a religião; aspectos religiosos e aspectos jurídicos
encontram-se entretecidos, com o predomínio dos primeiros; o Direito é
apenas uma das faces da religião islâmica. Esta comporta, por um lado,
uma teologia, que fixa os dogmas e especifica aquilo que um muçulmano
deve crer; e comporta, por outro lado, o “char” ou “char´ia” (“o
caminho a seguir”), que prescreve o que ele deve ou não deve fazer e que
consubstancia, afinal, o Direito muçulmano».

Inocêncio Galvão Telles384 acrescenta que «o Direito muçulmano preocupa-


se pouco com as sanções jurídicas que prescreva. Verdadeira sanção é
religiosa, a saber, o estado de pecado em que incorre o crente se deixar de
observar o que a religião lhe comanda. (…) Isto mesmo explica que o
Direito muçulmano se aplique apenas nas relações entre muçulmanos e
que a sociedade islâmica seja uma sociedade essencialmente teocrática,
em que o estado apenas vale como servidor da religião revelada. No
entanto, e sem quebra destes princípios, tem-se verificado ultimamente
maior abertura do islamismo, que procura adaptar-se ao mundo moderno,
dialogar com outras religiões e dar maior peso, na actividade do estado, a
factores que vão para além dos puros princípios morais e de dogma,
como sejam os aspectos de desenvolvimento económico e social».

Ainda de acordo com Inocêncio Galvão Telles 385 «O fundamento do Direito


muçulmano, como de toda a civilização muçulmana, contém-se no
Corão, constituído pelo conjunto das revelações de deus – Alá – ao
último dos seus profetas e enviado, Maomé. As disposições de natureza

383
Introdução ao Estudo do Direito, vol. II, 10ª edição, pag. 237
384
Introdução..., pag. 238
385
Introdução..., pag. 238

293
jurídica constante do Corão são assaz insuficientes para poder dizer-se
que forma um código. Os juízes não têm sequer de referir-se
directamente a essas disposições, mas às obras dos doutores que fixaram,
em termos de autoridade, a sua interpretação. (..) O texto complementar
do Corão é a Suna, formado pelo conjunto de tradições relativas aos actos
e falas de Maomé, transmitidas ao longo dos tempos por uma série
ininterrupta de intermediários, as quais têm sido objecto de trabalho
minucioso de autores preocupados em averiguar a sua autenticidade».

3. Sistema Hindu
De acordo com José IbrahimoAbudo386 o “Direito hindu é o direito religioso
e tradicional da comunidade da religião do mesmo nome, também
chamada bramânica, uma religião politeísta, sendo maior parte das
divindades fenómenos naturais, como é o caso de Agni, o fogo, de grande
uso nos sacrifícios, deus Indra, o deus da guerra, etc.”.

Inocêncio Galvão Telles387 caracteriza este sistema nos seguintes termos:


«Os princípios da religião hindu encontram-se nos srutis, textos sagrados
que remontam a tempos muito recuados (1500 a 600 a. C.). Os srutis
expõem a ordem fundamental que reina no mundo, tal como é concebida
na religião bramânica, a par de prescrições rituais, hinos sagrados, regras
sobre a linguagem e ensinamentos da astronomia. (...) Os srutis são a
Verdade mesma e a fonte de todo o conhecimento. Encontram-se aí
descritos, designadamente, os princípios de moral a que os homens
devem obedecer numa sociedade que se quer plenamente harmónica com
a ordem divina. (...) para compreender, na plenitude do seu sentido, os
srutis, há que recorrer a outra espécie de livros, os satras, que se
pronunciam sobre os fins legítimos que os homens podem prosseguir,
além da sua salvação. Um desses fins é a realização da justiça. Os sastras
ensinam como os homens devem conduzir-se para a alcançar, através de
certo número de orientações que constituem a ciência do dharma. O
dharma contém as regras de direito, aliais formuladas e agrupadas de

Introdução ao Estudo do Direito, volume II, pág. 61


386

Introdução..., pag. 239


387

294
maneira muito diversa da dos outros Direitos ocidentais. As prescrições
de natureza jurídica aparecem misturadas com as de ordem ritual e, no
fundo, prendem-se mais com a Religião do que com o Direito».

4. Sistema Socialista ou Soviético (Sistema Marxista Leninista)


Marcelo Rebelo de Sousa e Sofia Galvão 388 caracterizam este sistema nos
seguintes moldes: «O sistema marxista-leninista nasceu da aplicação da
ideologia marxista através da implantação revolucionária da “ditadura do
proletariado” e marcou, até muito recentemente, os Direitos da Europa de
Leste e ainda marca alguns países do Sudeste asiático e de Cuba. (…)
Este sistema opera um corte com o sistema romanístico, no qual
mergulha as suas raízes, em prol de uma estruturação própria da
sociedade e da vida. (…) O Direito não se distingue do Estado, e lei é o
modo quase exclusivo de criação jurídica, a noção de legalidade
socialista unifica e estabiliza o sistema. Criaram-se novos institutos
jurídicos mais adequados à construção da sociedade nova (por exemplo,
unidades colectivas de produção como os kolkhozes), eliminaram-se
alguns (por exemplo, a sucessão por morte ou a propriedade privada dos
meios de produção), retomaram-se outros (por exemplo, a proibição da
aplicação analógica da lei penal). (…) Tudo se dirige à plena realização
final do comunismo e da Sociedade sem classes».

De acordo com L. Barbosa Rodrigues389 o Sistema Comunista tem as


seguintes características:

“Primeiro, o trans-personalismo ateu.

Segundo, a concepção da economia como infra-estrutura determinante da


evolução história.

Terceiro, a afirmação do Estado e do Direito como super-estrturas


instrumentais ao serviço da classe em cada modelo económico
dominante.

Introdução..., pag. 305


388

Introdução ao Direito: Geral, Interno, da União Europeia e Internacional, págs. 97-98


389

295
Quarto, o determinismo finalístico da sociedade comunista, de uma
sociedade igualitária, sem classes, sem Estado e sem Direito – ou sem
necessidade de coercibilidade jurídica.

Quinto, a revolução como metodologia transformadora e, mais do que isso,


como revolução permanente, com as inevitáveis consequências para os
princípios da constitucionalidade e da legalidade.

Sexto, a ditadura do ploretariado, enquanto fase intermédia desse percurso.

Sétimo – e absolutamente essencial – a exist~encia de um partido único


como instrumento de prossecução do escopop comunista. [...] Partido
único que dirige e controla o Estado, que dirige e controla todos os
órgãos, que escolhe e demite todos os titulares destes, que dirige e
controla todos os actos pelos mesmos praticados, independentemente do
escalão, do procedimento ou da forma que revistam. [...] E, mais
relevante, ue dirige autoritariamente a própria comunidade, com a
inerente compressão ou negação das liberdades pessoais, políticas,
laborais, económicas, sociais e culturais”.

L. Barbosa Rodrigues390 continua caracterizando o Sistema Comunistas


referindo que “Tecnicamente o modelo comunista elimina a distinção
entre Direito Publico e Direito Privado. [...] Desde logo porque postula
a colectivização dos meios de produção e o desaparecimento da
propriedade privada, tanto para a fruição em vida como para a disposição
sucessória. [...] Ou porque pressupõe a inerente substituição desta por
formas mais ou menos explícitas de propriedade pública, e só
residualmente por propriedade individual, por propriedade de uso
necessariamente pessoal. [...] Depois, porque a actividade económica
resulta não do mercado, da livre concorrência, ou do mercado com
intervenção estadual, mas de planificação centralizada. [...] A
organização do poder político exclui igualmente a separação e
interdependência de funções do Estado. [...] Em rigor, porém, todas as
deliberações e decisões são tomadas antecipadamente pelos órgãos do
Partido Comunista que, desse modo, se sobrepõe ao próprio Estado. [...]
O acto legislativo detém o monopólio da produção de Direito, ainda que
Introdução ao Direito: Geral, Interno, da União Europeia e Internacional, pág 98
390

296
a interpretação e integração do mesmo seja realizada à luz da ideologia
comunista.[...] A jurisprudência não se perfila como fonte de Direito,
ainda que os juízes e os designados assessores populares sejam
igualmente escolhidos pelo Partido.[...] E o costume – essencial na
generalidade do território no momento anterior à Revolução – não é
reconhecido pelo Estado como Direito”.

Marcelo Rebelo de Sousa e Sofia Galvão391 antevêem a transformação deste


sistema em Romano Germânico, nos seguintes termos: «A evolução
política recente nos países do Leste europeu deixa, mesmo onde o
sistema menores mudanças, adivinhar um incremento desta tendência. A
implosão da União Soviética, com o aparecimento de múltiplos Estados
soberanos, a cisão operada na Juguslávia e na Checoslováquia, a
reunificação alemã, bem como a evolução processada nos Estados
ligados à NATO ou a candidatos à União europeia, podem apontar,
irreversivelmente, no plano da identificação jurídica, para um reencontro
com a matriz romano-germânica. Só o tempo dirá qual o sentido último
dos horizontes que hoje se recortam, em diversos pontos, de forma ainda
pouco tranquila».

Este sistema vigorou na antiga União Soviética, Mongólia, Correia do Norte,


na China e continua a vigorar em Cuba.

5. Sistema Chinês
De acordo com Inocêncio Galvão Telles392 «A concepção de ordem social
que vigorou ininterruptamente na China desde remotos tempos e já tinha,
dalgum modo, expressão nas ideias de Confúcio (sécs. VI-V a.C.), era
completamente diversa da ocidental. (...) A ideia fundamental que estava
na base da referida concepção, desligada aliais de qualquer dogma
religioso, era a ideia de harmonia. Há harmonia na natureza, decorrente
de regras invariáveis, sobre que os homens não têm poder.
Semelhantemente, deve haver harmonia entre os homens, e, sendo estes
senhores dos seus actos, da forma como se conduzirem dependerá a
Introdução..., pags. 305/306
391

Introdução ao Estudo do Direito, volume II, 10ª edição, págs.239/240


392

297
harmonia ou desarmonia entre eles. O equilíbrio cósmico deve ser
acompanhado do equilíbrio humano. E este outro equilíbrio só se atingirá
se os homens, nas suas relações sociais, colocarem em primeiro lugar a
conciliação ou consenso. Cumpre evitar, quanto possível, condenações,
sanções, decisões por maioria. Toda a contestação, mais do que resolvida,
convém que seja dissolvida naturalmente, sem deixar vestígios ou
ressentimentos. (...) Mais do que a coação vale a persuasão».

Inocêncio Galvão Telles393 acrescenta que «Compreende-se o papel menor


reservado ao direito neste quadro cultural. O homem não deve reivindicar
direitos; deve antes procurar a conciliação, abstendo-se de atitudes
agressivas. Dai a forte desconfiança em relação aos juristas, acusados de,
ao invocarem regras abstractas e rígidas. (...) As soluções a prosseguir
devem mostrar-se conformes com a equidade e o humanismo, fora de
estritos esquemas jurídicos. (...) as leis não são o modo normal de regular
conflitos entre os homens. Eles podem desempenhar um papel útil
propondo modelos de conduta e formulando ameaças contra os que não
os respeitam. (...) Segundo os Chineses, o Direito seria bom só para os
que eles apelidavam de “bárbaros”: para os desprovidos de todo o senso
moral e social, para os criminosos incorrigíveis, para os estrangeiros que
não comungavam os ideais da civilização chinesa».

Contudo, de acordo comInocêncio Galvão Telles394, aquela maneira de ver o


Direito sofreu alterações no século XX em virtude, por um lado, do
movimento codificador e da revolução comunista. A China elaborou
códigos inspirados nos códigos ocidentais. Por outro lado, a implantação
do Comunismo na China em 1949 aderindo o Direito Soviético: o Direito
que no passado ficou apagado passou a ter primazia, através da
implantação do princípio da legalidade. Mas houve resistência e o
Governo viu-se obrigado a recuar um pouco mas sem atingir aquelas
ideias iniciais em que o Direito aprovado pelo Estado tinha pouca
importância. Devia ser resgatada a conciliação mas sem perder de vista as
preocupações políticas.

Introdução ao Estudo do Direito, volume II, 10ª edição, págs.240/241


393

Introdução..., volume II, 10ª edição, págs. 241/242


394

298
Ultimamente a china aprova muitas leis sobre diversificadas matérias.
Também é um dos países que ainda aplica a Pena de Morte para crimes
considerados graves.

6. Sistemas Africanos

6.1. Localização no tempo

Podemos abordar este direito nos três períodos principais: antes da dominação
colonial, durante a dominação colonial e após a dominação colonial.

a) Antes da dominação colonial

Antes da dominação colonial os povos africanos tinham as suas normas. Eram


normas de organização política, económica e social.

Na organização política, os povos tinham normas ligadas a organização do poder,


sua transmissão, etc.

Na organização económica tinham normas ligadas a terra (agricultura) e pecuária.

Na organização social tinham normas ligadas a família: nascimento, casamento,


morte, sucessão.

b) Durante a dominação colonial

Durante a dominação colonial o Direito Africano sofreu influência europeia. Havia


imposição do Direito europeu. Mas o Direito Africano continuou a vigorar nas
relações entre os africanos: «Nas relações jurídicas entre indígenas, os direitos da
família, sucessões e regime de propriedade são regulados segundos os usos e
costumes privativos das populações das regiões em que êles habitam».395 É por isso

395
Ver Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, volume XIII. (S.L.): Página Editora, 1998, página, 705

299
que «O dec.n.º 12.533, de 23-X-1926, promulgou o estatuto político, civil e
criminal dos indígenas de Angola e Moçambique»396

Em algumas colónias (sobretudo as portuguesas) os africanos tinham de ser


assimilados. O africano depois de atingir um certo nível de habilitações literárias e
com conhecimentos de etiqueta europeia (por exemplo, saber comer na mesa)
podia ter o estatuto de assimilado e era como europeu e passava a ser regido pelo
direito europeu. O africano era educado pelos europeus a ter vergonha da sua
tradição.

Aqueles que não eram assimilados nas relações entre eles eram regidos por normas
costumeiras (normas do Direito Africano).

c) Depois da dominação colonial

Neste período assiste-se a continuação do Direito Africano em paralelo com o


Direito de origem europeia (Direito do antigo colonizador: que podia ser do
sistema jurídico Romano Germânico ou da CommonLaw).

Em África existem muitas comunidades rurais em que a acção do Estado (quer no


período colonial quer depois da independência nacional) é muito insignificante.
Sendo assim, nessas zonas acaba vigorando o Direito Africano (direito
consuetudinário). De acordo com Luis Filipe Sacramento397 «No caso concreto de
Moçambique, uma boa parte da litigiosidade que ocorre no mundo rural continua a
ser resolvida por recurso a regras consuetudinárias e a função de julgar está nas
mãos de régulos, muénes ou chefes tradicionais que, muitas vezes, têm junto de si
um colégio de julgadores, mas que, no acto de decisão, seguem a orientação do
chefe, por ser quem está investido de poderes de equidade, respeitabilidade e
legitimidadde (sic) recebidos dos antepassados».

Por outro lado, os Estados independentes permitiram a existência de mecanismos


extra-judiciais de resolução de conflitos, dentre eles o Direito Consuetudinário
(Direito Africano, através dos tribunais comunitários). Por exemplo, nos termos do
artigo 4 da CRM, «O Estado reconhece os vários sistemas normativos e de
Ver Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Volume X. – (S.L.): Página Editora, 1998, página 403
396

Poder Judicial Governo e Administração a Experiência Moçambicana in Revista Jurídica, Vol. VI, Stembro de
397

2004, pag. 169

300
resolução de conflitos que coexistem na sociedade moçambicana, na medida em
que não contrariem os valores e os princípios fundamentais da Constituição».

Notou-se também a incorporação de alguns institutos do direito consuetudinário na


legislação aprovada pelos poderes públicos.

6.2. Localização no espaço

O Direito Africano localiza-se, naturalmente, no continente africano. Contudo, este


direito não é uniforme em todo o continente e mesmo dentro de um país. É certo,
pode ter algumas similaridades mas, também, tem muitas diferenças. Pode-se dizer
que cada grupo étnico tem as suas normas consuetudinárias (entenda-se normas do
Direito Africano).

6.3. Características

 Essencialmente, é um Direito oral (não escrito);


 Não é estudado em escolas e universidades. É transmitido para os seus
destinatários oralmente de geração para geração, sobretudo dos mais
velhos (ou experientes) aos mais novos (ou inexperientes). Pode ser
encontrado escrito (embora sem referência de “Direito”) nos livros e
outros documentos escritos por historiadores, antropólogos, sociólogos e
outros estudiosos;
 Cumprimento das normas é apoiado por mitos e crenças mágico-
religiosas. Existem várias normas de conduta social em que se considera
que a sua violação pode acarretar sanções pelos espíritos, por deuses ou
outras forças sobrenaturais. Sanções essas que podem ser a morte;
doenças; azar; maus resultados na agricultura, caça, pesca, etc;
esterilidade e outros males. Estas crenças fazem com que estas normas
sejam cumpridas por medo.

6.4. Principais ramos do Direito

301
No Direito Africano podemos identificar os seguintes ramos de Direito: Direito
político, Direito da Família, Direito da Terra, Direito do trabalho, Direito fiscal,
etc.

a) Direito político ou constitucional

O Direito Africano tem muitas normas que regulam o poder político: formas de
ascensão ao poder político, transmissão do poder político e relação entre os
governantes e governados. O poder político, geralmente, é exercido pelas famílias
mais antigas da região. O poder é transmitido aos filhos (geralmente ao filho mais
velho) por sucessão em caso de morte do Rei. Não se conhecem eleições para a
escolha dos governantes.

Um dirigente tem o seu conselho de pessoas que o ajudam a tomar decisões.

Tem funcionários como mensageiros cuja função é transmitir mensagens aos


dirigentes vizinhos e aos governados.

Os dirigentes acabam exercendo o poder executivo, o poder legislativo e o poder


judicial.

b) Direito da família e Sucessões

Temos normas ligadas ao nascimento, atribuição do nome, casamento, divórcio,


viuvez, herança.

Casamento: a poligamia é admitida. O casamento é uma união de duas famílias e


não apenas união de duas pessoas. Há transmissão por herança do poder político,
das terras, dos animais e, certos casos, de mulheres.

c) Direito da Terra

302
Um dos grandes recursos dos africanos é a terra, água (oceanos, rios e lagos),
animais, etc.

Por esse motivo há muitas normas que regulam a terra. A terra é de toda a
comunidade mas os chefes repartem-na pelos membros. Existe um princípio de que
a terra é de quem a trabalha.

Existem terras que são exploradas por famílias para a agricultura e pecuária.
Existem terras que são da comunidade: para a caça, colheita de frutos silvestres,
procura de medicamentos à base de plantas, etc..

d) Direito do Trabalho

Tem sido comum os jovens serem empregados noutras famílias como pastores
de gado e terem como recompensa uma cabeça de gado por ano.

Tem sido notório uma pessoa (ou a sua família) cultivar a machamba do outro e
ter como recompensa produtos agrícolas.

e) Direito das obrigações

A compra e venda processa-se pela troca de bens (produtos agrícolas, animais,


etc.) e pelo dinheiro.

f) Direito das coisas

Existem muitas normas que regulam as coisas. Por exemplo, se uma galinha
põe ovos na casa do vizinho este tem de cuidar a galinha até tirar pintos. O
dono da galinha tem direito de levar a galinha e os pintos mas depois de
crescerem o vizinho na qual a galinha pôs ovos tem direito a vir escolher
uma galinha das que nasceram em casa dele.

g) Direito Fiscal

303
Os súbditos são obrigados a pagar aos seus chefes vários impostos. Os
impostos são pagos em produtos agrícolas, produtos da caça e em dinheiro.
Com estes impostos os súbditos agradecem ao chefe pelas suas preces
(cerimónias mágico-religiosas) que fazem com que a população tenha boa
colheita e sucessos na caça.

7. Sistemas Híbridos
Sobre este tema Carlos Ferreira de Almeida398 escreve o seguinte:

«Dizem-se sistemas jurídicos híbridos aqueles que não são


susceptíveis de integração numa dada família de direitos, em
virtude de os seus elementos determinantes corresponderem a
elementos característicos de mais do que uma.

Exemplos:

-sistema jurídico escocês: por força da recepção do direito romano,


guarda características comuns dos direitos romano-germânicos,
revelando outras que lhe advieram da união política com a
Inglaterra e que são próprias dos sistemas de commonlaw;

-sistemas jurídicos da Louisiana (Estados Unidos) e do


Quebec(Canadá): em razão de anterior colonização francesa,
adoptaram codificação do tipo romano-germânico, mas vêm
sofrendo dos direitos dos restantes Estados federados (que
pertencem à família de direitos da commonlaw) influências várias,
designadamente quanto ao valor do precedente jurisprudencial;

-sistema jurídico da República da África do Sul: para além da


coexistência das comunidades africanas com as de origem
europeia, o direito implantado por estas tem dupla matriz –
romano-holandês (direito romano tal como vigorava na Holanda no
século XVII) e commonlaw (importado pelos colonos de cultura
inglesa)».

Introdução ao Direito Comparado, pags. 30/31


398

304
8. A convergência dos Sistemas Jurídicos
Sobre a convergência dos sistemas jurídicos, Marcelo Rebelo de Sousa e
Sofia Galvão399 fazem-nos notar «que se assiste um processo lento, mas
inequívoco, de aproximação entre famílias de Direito. Próprio de
integrações regionais (como a União europeia).Próprio da
universalização aberta ou acentuada pelas tecnologias da informação. É a
família romano-germânica a caminhar no sentido do concreto, da
aplicação individualizadora, das cláusulas gerais e dos conceitos
indeterminados, da capacidade criadora da jurisprudência. É a família
anglo-saxónica a avançar para o abstracto, o reforço do papel da lei. É a
acelerada encruzilhada de Direitos da família marxista-leninista com a
família romano-germânica. É mesmo e ainda a evolução do sistema
extremo-oriental. Só não sucede, porventura, idêntico fenómeno no que
respeita à família de Direitos de matriz muçulmana».

9. Direito comparado
Marcelo Rebelo de Sousa e Sofia Galvão400 realçam a importância do Direito
comparado nos seguintes termos:

«(...) porque o conhecimento e a compreensão do nosso Direito supõem quer


a reflexão sobre o sistema em que nos integramos, quer a reflexão sobre
os demais sistemas existentes. (…) É que perceber um qualquer Direito
impõe integrações, comparações, distinções. (…) é preciso comparar os
Direitos. Porque a comparação ajuda a compreender. E pode comparar-se
em termos gerais, relacionando o Direito português com o Direito norte-
americano, ou dos Direitos ocidentais com o sistema muçulmano. Ou
pode-se comparar aspectos específicos, confrontando a compra e venda
em Portugal com a compra e venda no Egipto, a sucessão por morte em
Portugal com a sucessão por morte em Inglaterra, o sistema eleitoral
português com o sistema eleitoral mexicano. (…) Esta comparação de
Direitos é tradicionalmente designada, numa fórmula que é de resto
399
Introdução..., págs. 307/308
Introdução..., pags. 308/309
400

305
passível de maiores críticas, por Direito Comparado. Em rigor, não se
trata de um ramo do Direito, mas de uma disciplina que estuda o direito,
comparando-o com um ou vários outros, quer em termos globais (macro-
comparação), quer instituto a instituto ou figura a figura (micro-
comparação). (…) Seja como for, o certo é que conhecer e compreender
o que somos impõe que se conheça e se compreenda o que os outros são.
Que se apontem semelhanças e diferenças e que se comparem soluções».

PERGUNTAS DE CONSOLIDAÇÃO E QUESTÕES PARA REFLEXÃO

1. Comente a seguinte afirmação “O Alcorão é fonte principal do Direito


Hindu”
2. Explique ligação entre o Costume e a Jurisprudência como Fontes do
Direito no (Sub)Sistema da CommonLaw
3. Qual é o sistema jurídico que tem os Kolkhozes como um dos institutos
jurídicos?
4. Diga, justificando em cada frase, quais das seguintes frases configuram
macrocomparação e quais configuram microcomparação:
a) Estudo comparativo sobre a Eleição do Presidente da República em
Portugal e em Angola
b) Estudo comparativo sobre o Sistema Jurídico Hindu e Sistema
Jurídico Chinês
c) Requisitos para a celebração do casamento em Moçambique e no
Brasil
d) Estudo comparativo entre o Direito moçambicano e o Direito
malawiano

5. Aida numa conversa com Bento disse o seguinte: “eu sou


moçambicana, estudo Direito em Moçambique, vivo em Moçambique e
vou trabalhar em Moçambique, por isso não há necessidade de
conhecer o Direito de outros países!”. Comente a afirmação da Aida

306
6. O Direito Comparado faz parte do Direito Publico ou Direito Privado?
Justifique a sua resposta
7. Compare, devendo apresentar diferenças ou semelhanças onde houver,
o (Sub)sistema da CommonLaw e o (Sub)sistema Romano Germanico,
tendo como base:
 as Fontes do Direito;
 Relação entre a Sociedade Civil e o Estado;
 Divisão do Direito;
 Cristianismo;
 Capitalismo; e
 Ligação com a Grecia.

APLICAÇÃO DO DIREITO NA SOLUÇÃO DE CASOS CONCRETOS


1. Trabalho do Jurista (ou outro aplicador do Direito)
De acordo com João Baptista Machado401 «Diz-se que o trabalho do jurista é
realizado em três planos distintos, se bem que intimamente interconexos: no
plano da descrição ou da captação do ´dado´, no plano da explicação e
sistematização e no plano da aplicação à realidade. A estes três planos
corresponderiam, respectivamente, a procura das normas válidas do sistema e a
sua interpretação, a construção de conceitos jurídicos fundamentais e de
instituições, bem como a sistematização mais geral desses conceitos e
instituições, e por fim a aplicação das normas aos casos concretos da vida. O
esforço de interpretação, construção e sistematização (...), sendo um trabalho
realizado sobre as normas de determinado direito positivo, remataria na
constituição de um corpo doutrinal-conceitual a que se chama dogmática
jurídica».
Ruy Rosado de Aguiar Júnior402 entende que «O TRABALHO DO JURISTA
depende basicamente da pesquisa bibliográfica. O advogado, o juiz, o professor,
seja quem for, que atue na área jurídica e vier a ser chamado a dar um conselho,
um parecer, uma aula, elaborar trabalho académico, promover ou julgar uma
acção, começará pelo recolhimento de todos os dados informativos que lhe
permitirão aproximar-se do caso ou da questão. Esses dados deverão ser
encontrados nas fontes apropriadas e não é preciso enfatizar o quanto tais

Introdução ao Direito e ao Discurso Legitimador, pag. 359


401

402
Prefaceando a obra: PASSOS, Edilenice; BARROS, Lucivaldo Vasconcelos. Fontes de Informação para
Pesquisa em Direito, pag.xiii

307
informações devem ser verazes, atualizadas, adequadas e completas, na medida
do possível e dos meios colocados à disposição».

2. Factos jurídicos num caso concreto


Tivemos a ocasião de definir o que sejam factos jurídicos.
Por se falar de factos jurídicos (factos relevantes ao Direito) logo depreende-se
de que há factos não jurídicos (factos não relevantes ao Direito).
Quando há um acontecimento há uma cadeia de factos jurídicos e factos não
jurídicos. É preciso separar os factos não jurídicos dos factos jurídicos. Aos
factos não jurídicos não precisam ser analisados (pelo menos, para a análise
jurídica). Deve ser dada toda a atenção aos factos jurídicos.
Quando acontece um facto jurídico temos de o interpretar e compreender
correctamente. À partida parece fácil identificar o facto jurídico em concreto.
Mas pode não ser fácil chagar-se à conclusão de que facto jurídico se trata.
Vamos dar alguns exemplos:
Se um motorista que está a conduzir o seu automóvel não parar para deixar a
escolta presidencial passar, o polícia de trânsito que está na rua pode multar
esse motorista por não ter dado prioridade ao veículo prioritário. Mas o chefe da
escolta pode entender que aquele motorista fez um atentado à vida do
Presidente.
Tal como se pode depreender o facto é o mesmo (não parar perante um veículo
prioritário) mas a qualificação jurídica é diversa dos vários aplicadores da lei
(polícia de trânsito e chefe da escolta).
Dentro dos factos jurídicos é preciso distingui-los com precisão uns factos
jurídicos dos outros. Há factos jurídicos do direito das obrigações, factos
jurídicos do direito comercial, factos jurídicos do direito das sucessões, etc. Se
há uma compra e venda é preciso ver se estamos perante uma compra e venda
civil (regulada pelo Direito das Obrigações) ou se estamos perante uma compra
e venda comercial ou mercantil (regulada pelo Direito Comercial) Por outro
lado, um mesmo facto jurídico pode estar ligado a mais de um ramo de Direito.
Exemplo de um facto que é relevante a vários ramos do Direito: Imaginemos a
morte de uma pessoa. Logo à partida entra o Direito das sucessões porque
procura-se saber quem deve herdar. Se essa pessoa que morreu era um
trabalhador entra o Direito do Trabalho (se era trabalhador do sector privado) e
entra o Direito Administrativo (se era trabalhador da Administração Pública).
Se essa pessoa tinha um conta bancária pode entrar o Direito Bancário para se
saber o que vai acontecer à referida conta. Por outro lado, existe o imposto das
sucessões, dai a entrada do Direito Fiscal.

308
Este enquadramento dos factos aos vários ramos de Direito ajuda a determinar a
legislação e princípios jurídicos aplicáveis. Vimos isto quando falamos dos
Ramos do Direito.

3. Normas aplicáveis a factos concretos


Depois de termos os factos jurídicos surge a necessidade de saber quais são as
normas jurídicas aplicáveis a esses factos jurídicos.
Até aqui determinamos os factos jurídicos tendo em conta os conhecimentos
gerais que temos sobre os factos. Mas quando consultarmos as normas jurídicas
aplicáveis podemos chegar à conclusão de que certos factos que consideramos
jurídicos podem não serem jurídicos, pois as normas jurídicas não atribui
nenhuns efeitos jurídicos.
As normas jurídicas estão em leis. As leis são publicadas no Boletim da
República, nos livros (colectâneas de legislação ou em anexo a um manual),
revistas , CDs, na Internet e em outros suportes. Por isso temos de recorrer a
essas fontes para encontrarmos a lei que precisamos. A doutrina e a
jurisprudência ajudam a indicar a legislação aplicável.
A legislação pode ser vasta que até pode não desempenhar eficazmente o seu
papel. Vale a pena citar a passagem da obra de Edilenice Passos e Lucivaldo
Vasconcelos Barros403: «A multidão das leis é também uma das causas da
morosidade da justiça, pois a legislação é confusa, contraditória e múltipla
permitindo que a “ fronteira entre o lícito e ilícito fique incerta. A segurança
das relações sociais, principal mérito do direito, se evapora” (Ferreira Filho,
2001, p.13)»
Estes autores404 acrescentam que «Outra dificuldade está em descobrir as
alterações que uma norma jurídica sofreu. (...) é preciso identificar também
todas as alterações sofridas pelas normas que alteram a norma pesquisada».
Depois de encontrar a lei temos de interpretá-la para aplica-la a um caso
concreto. Para temos de ver aquela facto jurídico enquadra-se em que norma
jurídica.

O Boletim da República
O Boletim da República é produzido pela Imprensa Nacional de Moçambique.
Tem I, II e III Séries do Boletim da República 405. A Legislação é publicada na I

403
Fontes de ..., pag. 100
404
Fontes de ...cit. Pág. 105
405
Para aprofundar sobre o passado do funcionamento da Imprensa Nacional de Moçambique ver: o Regulamento da
Imprensa Nacional de Mocambique, aprovado pelo Diploma Legislativo nº 3051, de 28 de Novembro de 1979
(publicado no Boletim Oficial nº 104, I Série, de 28 de Novembro de 1970). Este diploma regova o anterior
regulamento aprovado pela Portaria nº12857, de 20 de Janeiro de 1959

309
Série. Os Acórdãos do Conselho Constitucional são publicadas também nesta
série.
No fim de cada ano, a Imprensa Nacional Publica dois índices (um do I
Semestre e outro do II Semestre) sobre toda a legislação que publicou nos
boletins da República. Pode-se mostrar muito fundamental fotocopiar estes
índices da legislação para facilitar a procura. Por outro lado, pode-se
dactilografar o índice da legislação para ter em formato Word para facilitar a
busca dos termos desejados. Por outro lado há bases de dados da legislação à
venda pela empresa Pandora Box. Esta empresa disponibiliza também
legislação em CDs e ou pela Internet.
A II Série do Boletim da República publica informações sobre funcionários
públicos (abertura dos concursos de ingresso, lista dos admitidos, nomeação,
promoção, demissão, expulsão, morte, etc.). A II Série publica também os
Acórdãos do Tribunal Administrativo e do Tribula Supremo.
A III Série, além das posturas municipais, publica os estatutos das várias
pessoas colectivas privadas (associações, sociedades, partidos políticos, etc).
Qualquer pessoa (singular ou colectiva) pode comprar Boletins da República na
Imprensa Nacional ou fazer uma assinatura para a Imprensa Nacional passar a
enviar no endereço acordado.

Livros
O Centro de Formação Jurídica e Judiciária, algumas editoras, algumas
instituições costuma publicar legislação compilada em livros . Alguns livros
jurídicos costumam apresentar em anexo legislação sobre o assunto que tratam.

Revistas
Algumas revistas especializadas publicam legislação sobre o assunto ligados à
sua linha editorial.

Internet
Os sites indicados na bibliografia publicam legislação. Geralmente, algumas
instituições publicam legislação ligada à área dessa instituição.

4. Interpretação prévia da lei antes do facto jurídico


Nas linhas anteriores falamos da identificação dos factos para depois
procurarmos a lei. Mas pode-se dar o caso de estudarmos primeiro a lei para
quando acontecer um facto jurídico já sabermos qual é a lei aplicável à aquele
caso. Daí que quando é aprovado uma nova lei ou quando temos uma lei pela
primeira vez podemos fazer uma leitura para vermos o que ele trata para caso
aconteçam factos já sabermos que a solução está na lei tal. Por exemplo dentro
310
de meses vai ser aprovada a legislação eleitoral. É importante depois da sua
aprovação os interessados em assuntos eleitorais ver o que essa legislação trata.
Os que conhecem a actual legislação eleitoral devem ver o que mudou na
legislação.
A interpretação da lei segue aquelas técnicas já aprendidas em capítulos
anteriores.

5. Papel da doutrina
A doutrina ajuda na identificação dos factos jurídicos, na identificação da
legislação aplicável, na interpretação e aplicação a casos concretos.
Quando consultamos a lei podemos não compreender alguns termos, podemos
recorrer à doutrina (livros, revistas, dicionários jurídicos, enciclopédias gerais e
jurídicas, Internet, etc.) para compreender o sentido de certos termos. Também
podemos consultar a outras pessoas (quer sejam do nosso nível quer seja do
nível mais elevado ao nosso) para ajudarem-nos a entender o sentido das
palavras constantes da lei.
Sobre a Internet vale a pena citar Edilenice Passos e Lucivaldo Vasconcelos
Barro406: «É preciso ter muita cautela antes de utilizar a informação colhida na
Web. Deve-se lembrar que é relativamente fácil para alguém criar um
documento electrónico da forma como lhe aprouver e “disponibilizá-lo ao
mundo em um servidor/provedor de acesso à internet, muitas vezes gratuito”
(Bueno e Vidotti, 2000). Não é exigido das pessoas que produzem informação
na Internet qualquer tipo de qualificação. As informações ali colocadas não
passam por nenhum filtro ou critério de seleção. (...) Para não incorrer no erro
de fornecer informação inexata ou desactualizada é necessário adotar um
protocolo para selecionar e avaliar os sítios da internet. (...) Autoria. O
primeiro passo é verificar se é uma página institucional ou pessoal. As páginas
de organismos internacionais ou governamentais conferem certa credibilidade
às informações. (...) Páginas pessoais com autores ou editores identificados e
que tenham reconhecida competência na matéria tratada garantem, de certa
forma, a veracidade dos dados apresentados. (...) O corpo editorial de uma
publicação é outro fator que auxilia na avaliação de qualquer tipo de fonte. No
universo dos documentos impressos uma publicação com o corpo editorial
significa que o trabalho de um autor passou por diversos filtros, o que
geralmente inclui a revisão pelos pares. No ambiente da internet este é um
elemento que pode dar informações quanto à qualidade da fonte. Assim, é
relevante avaliar a autoridade do editor e da organização responsável pelo sítio
que disponibiliza a fonte (Kirt apud Tomaél, 2001). (...) Também é de suma
importância ter a forma de contacto com os responsáveis pela página para
Fontes de ..., pags. 118/119
406

311
dirimir dúvidas, solicitar informações e/ou orientações. (...) Atualidade A
internet é sinónimo de atualidade. Páginas sem data não são confiáveis. Muitas
vezes, o usuário, pelo assunto, pode estabelecer uma data provável, mas em
algumas situações a informação, apesar de ser adequada, não pode ser utilizada
porque não está datada. Se o sítio não contiver a data da última atualização isso
é sinal de pouca preocupação do seu editor com a atualidade dos dados»
Por isso um profissional ou estudante de Direito deve sempre consultar a
doutrina para actualizar os seus conhecimentos.

6. Papel da jurisprudência
A par da doutrina, a jurisprudência ajuda identificação dos factos jurídicos, na
identificação da legislação aplicável, na interpretação e aplicação a casos
concretos.
A norma às vezes tem expressões com um conteúdo muito vago que precisa de
ser restringido. È preciso consultar jurisprudência para ver qual tem sido o
entendimento dos juízes sobre o sentido das normas vagas.
O Tribunal Administrativo e o Tribunal Supremo publicam a sua jurisprudência
na II Série do Boletim da República. Os acórdãos do Conselho Constitucional
são publicados, como se disse, na I Série do Boletim da República. O Conselho
Constitucional publica os sua acórdão na sua página da Internet.
Sobre a Jurisprudência, para além do que vimos quando tratamos das Fontes do
Direito, vale a pena ver a ideia de Edilenice Passos e Lucivaldo Vasconcelos
Barro407: «Tecnicamente, a jurisprudência é conhecida como a ciência da lei,
pois fundamenta-se em conhecimentos baseados na lei e articulados com outros
princípios jurídicos relevantes para se chegar a uma decisão judicial, a fim de
solucionar as demandas e litígios caso por caso. À medida que os casos
concretos se repetem, é natural que sentenças e acórdãos passem a consolidar
uma orientação uniforme, de tal forma que se pode depreender,
antecipadamente, e com segurança quase total, como decidirão os tribunais a
respeito de casos concretos que a eles foram submetidos. (...) Há na
jurisprudência essa uniformidade e pacificidade de decisões sobre determinado
caso. Seu conhecimento pelo advogado e demais operadores do direito é
indispensável, pois, ao tomarem conhecimento de uma lide submetida às suas
apreciações, indagarão se existe, a respeito, uma decisão uniforme assentada.
Havendo entendimento sobre o caso, não precisarão descobrir a motivação
necessária à fundamentação da sentença, podendo repetir o que se acha
assentado pelos tribunais».

Fontes de ..., pag. 70


407

312
Estes autores408 acrescentam que as decisões jurisprudenciais na esfera judicial
«Representam o conjunto de decisões atribuídas a determinado juízo, seção,
vara ou tribunal de carácter judiciário que versem sobre qualquer matéria de
direito. Pode-se citar a jurisprudência civil (relativa a danos morais, pensão
alimentícia, guarda e outras matérias), jurisprudência comercial (sobre o
comércio, título de crédito, etc.), jurisprudência penal (a respeito dos crimes de
peculato, crimes ambientais, etc), jurisprudência administrativa (matéria sobre
nomeação, transferência, etc), jurisprudência processual (matéria sobre a
decadência, prescrição, preclusão, etc) ou, ainda jurisprudência processual
relacionada a cada ramo do direito, como, por exemplo, civil, penal, comercial,
trabalhista, administrativo e outros campos jurídicos (processo de separação,
júri, processo falimentar, recurso trabalhista, processo de demissão de servidor,
etc.)».

7. Papel dos trabalhos preparatórios da aprovação de diplomas legais


Quando interpretamos a lei às vezes surge a necessidade de sabermos qual foi a
intenção do legislador quando legislou de uma certa forma. Por isso, pode-se
mostrar pertinente consultarmos os debates, proposta/projectos de diploma
legal, pareceres elaborados, etc. Também podemos entrevistar os legisladores e
ou seus assessores/colaboradores.

8. Solução do caso
Depois da verificação dos factos, interpretação da lei ou das leis, estamos em
condições de aplicar o Direito na solução de casos concretos. Dito doutra
maneira, precisa de fazer a pesquisa jurídica para aplicar o Direito a casos
concretos. Edilenice Passos e Lucivaldo Vasconcelos Barro409, citam Wholters
que diz que «a pesquisa é a alma do trabalho do advogado, do jurista, do
magistrado, do juiz e de todos aqueles que lidam com a matéria jurídica».

a) Promover ou mover uma acção judicial


O Advogado para mover uma acção judicial e o procurador para promover
uma acção judicial precisam de conhecer os factos, procurar a legislação e
interpretá-la para saber se dá ou não para uma acção judicial.

b) Julgar uma acção judicial


O Juiz da causa precisa de conhecer os factos (constantes do processo ou
alegados pelas partes em julgamento), procurar a legislação citada pelas

Op. cit. Pág. 73


408

Fontes de ..., pag. 97


409

313
partes e outra que julgar conveniente. Precisa de interpretar essa legislação
para aplicar a casos concretos.

c) Emitir um parecer jurídico


O Jurista às vezes é solicitado um parecer na organização onde trabalha
(empresa. Ministério, partido político, associação, instituição religiosa,
etc.).
Por outro lado, no seu escritório ou empresa de consultoria pode sr solicitado
a dar parecer sobre certa questão de direito.

d) Resolver uma caso num procedimento laboral


Os juristas e outras pessoas que tratam de assuntos legais precisam de fazer
uma pesquisa jurídica para solucionar os vários assuntos que lhes são
submetidos. Geralmente, os funcionários que trabalham no sector de
Recursos Humanos precisam de fazer uma pesquisa jurídica para dar
andamento aos casos a eles submetidos. Há legislação ou acordos de
empresa sobre admissão de pessoal, promoção de pessoal, contratação de
pessoal, rescisão de contratos, despedimento de pessoal, processos
disciplinares, etc. Também , caso de acidentes de trabalho e ou doenças
profissionais o pessoal dos recursos humanos precisa de fazer uma pesquisa
jurídica para dar andamento dos casos submetidos a eles.
O pessoal que trabalha noutros sectores como finanças, aprovisionamento,
obras, etc. precisam de fazer a pesquisa jurídica para saber a legislação
aplicável aos vários casos a eles submetidos. Em caso de viagem de serviço
os funcionários das finanças precisam de consultar a legislação para ver qual
é o valor monetário a dar ao funcionário em viagem de serviço. O pessoal
ligados ao aprovisionamento precisa de conhecer a legislação sobre o
processo de contratação de bens e serviços. Na Administração Pública
existem as UGEAs (Unidades Gestoras de Aquisições).

e) Processo disciplinar
Todas as pessoas envolvidas num processo disciplinar (Instrutor e Escrivão
do Processo Disciplinar, arguido e seu defensor, sindicato, a pessoa que vai
fazer emitir o parecer e quem vai fazer a decisão final) precisam de fazer a
pesquisa jurídica.

f) Elaborar um trabalho académico


O docente e estudante precisam de fazer pesquisa jurídica para preparar as
aulas, fazer trabalhos ao longo do curso, dissertação ou tese e outros trabalhos
académicos.
314
g) Outros fins
A pesquisa jurídica pode ser para vários fins difíceis de imaginar. Pode fazer
uma pesquisa jurídica para sustentar as suas ideias numa encontro (reunião,
palestra, debate, etc), para escrever uma artigo jurídico para publicação dentre
outras finalidades.

BIBLIOGRAFIA

Esta bibliografia sugestiva, os estudantes estão livres de consultar outra desde que
se enquadra na matéria conforme o Plano Analítico. Por outro lado, ao longo das
aulas, devido à dinâmica das aulas e dificuldades dos estudantes, o docente poderá
recomendar outra bibliografia.

1. Livros
 ABUDO, José Ibrahimo. Introdução ao Estudo do Direito, vol. I. Maputo:
Edição do Autor, 2011;
 ___________________________ Introdução ao Estudo do Direito, vol. II.
Maputo: Edição do Autor, 2011;
 ALFREDO, Benjamim. Noções Elementares de Direito Comercial e
Empresarial. – Maputo: Edição do Autor, 2013;
 ________________________Noções Gerais de Finanças Públicas e Direito
Financeiro. – Maputo: Edição do Autor, 2015;
 ALMEIDA, Carlos Ferreira de; CARVALHO, Jorge Morais. Introdução ao
Direito Comparado. – 3ª edição. – Coimbra: Edições Almedina, 2015;
 AMARAL, Diogo Freitas do. Manual de Introdução ao Direito, vol. I e Vol.
II. Coimbra: Almedina, 2004;
 ASCENSÃO, José de Oliveira. Introdução ao Estudo do Direito. Lisboa:
Universidade de Lisboa, 1973;
 ASCENSÃO, José de Oliveira. O Direito, Introdução e Teoria Geral: uma
perspectivaluso-brasileira.Coimbra: Almedina, 2001;
 CAUIO, Carlos Alberto. Discurso do Ilustre Bastonário Dr. Carlos Alberto
Cauio, por ocasião da Tomada de Posse dos Membros dos Órgaos da Ordem
dos Advogados de Moçambique: Separata da Revista da Ordem dos
Advogados, Ano 56, II – Lisboa, Agosto de 1996;

315
 CHORÃO, Mário Bigotte. Temas Fundamentais do Direito, Coimbra:
Livraria Almedina, 1982;
 CORDEIRO, António Menezes. “Princípios Gerais do Direito” in POLIS:
Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado: Antropologia, Direito,
Economia, Ciência Política, tomo 4;
 DAVID, Réne. Os Grandes Sistemas Jurídicos Contemporâneos. São Paulo:
Martins Fontes, 1996;
 DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico. Volumes 1 a 4. São Paulo:
Editora Saraiva, 1998;
 FALCÃO, José; CASAL, Fernado; Oliveira; António Sarmento de; CUNHA,
Paulo Ferreira da. Noções Gerais de Direito. – Vila Nova de Gaia: Calendário
de Letras, 2014;
 HERVADA, Javier; CUNHA, Paulo Ferreira da. Direito: Guia Universitário.
Porto: Rés Editora, 1983;
 LATORE, Angel. Introdução ao Direito. Coimbra: Livraria Almedina, 1997;
 LIMA, Pires; VARELA, Antunes. Código Civil Anotado. (6 volumes).
Coimbra: Coimbra Editora, 1998;
 MACHADO, João Baptista. Introdução ao Direito e ao Discurso
Legitimador. Coimbra: Livraria Almedina, 1990;
 MARQUES, José dias. Introdução ao Estudo do Direito. Lisboa: Editora
Danúbio, 1984;
 MENDES, João Castro. Introdução ao Estudo do Direito. Lisboa: (S.N.),
1994;
 OLIVEIRA, Fernando. Breve Glossário de Latim para Juristas. Lisboa:
Editora Cosmos, 1999;
 PINTO, Carlos Alberto da Mota. Teoria Geral do Direito Civil.- 3ª edição. –
Coimbra: Coimbra Editora, 1989.
 POLIS Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado: Antropologia
cultural, Direito, Economia, Política.Volumes 1 a 5. Lisboa: Editorial Verbo,
1997;
 PRATA, Ana. Dicionário Jurídico: direito civil, direito processual civil,
organização judiciária.Coimbra: Almedina, 1995;
 REALE, Miguel. Lições Preliminares do Direito. Coimbra: Livraria
Almedina, 1982;

316
 SOUSA, Marcelo Rebelo; GALVÃO, Sofia. Introdução ao Estudo do
Direito. Lisboa: LEX, 2000;
 TELLES; Inocêncio Galvão. Introdução ao Estudo do Direito. Lisboa:
Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa, 1990 (vol. 1);
1989 (vol. 2).

2. Revistas
 Revista Jurídica da Faculdade de Direito da UEM
 Revista Humanitas da Universidade A Politécnica
 Tribunal Supremo: Boletim Informativo;
 LEGAL: Boletim Informativo da Procuradoria Geral da República;
 Boletim da Ordem dos Advogados de Moçambique

3. Internet
 Noções Gerais de Direito (Manuel Cavaleiro de Ferreira), disponível no site:
www.geocities.com/mcavaleirof/ngd.html?200820
 http://www.mundojuridico.adv.br
 http://www.portaldogoverno.gov.mz/ (Site do Governo da República de
Moçambique: publica legislação e outros documentos)
 http://www.cconstitucional.org.mz/ (Site do Conselho Constitucional:
publica legislação sobre o Conselho, Acórdão e Deliberações do Conselho);
 http://www.ta.gov.mz/(Site do Tribunal Administrativo: publica legislação
sobre o Tribunal Administrativo)
 http://www.pgr.gov.mz/ (Site da PGR; publica legislação sobre a PGR,
Informes anuais do PGR à AR, boletim informativo da PGR)
 http://www.at.gov.mz/ (Site da Autoridade Tributária de Moçambique)
 http://www.dno.gov.mz/ (site da Direcção Nacional do Orçamento. Publica
legislação, documentos e manuais ligados à área)
 http://www.oamoz.org/pt/web/guest/pagina-inicial.htm (Site da Ordem dos
Advogados de Moçambique)
 http://www.salcaldeira.com/ (site do escritório do Advogado José Caldeira.
Fornece legislação nacional e artigos de interesse jurídico)

317
 http://www.acismoz.com/ (Site da Associação de Comércio e Indústria:
Publica vários estudos jurídicos em português e inglês)
 http://www.cta.org.mz/ (site do CTA, Confederação das Associações
Económicas de Moçambique: publica legislação relevante e outros
documentos)
 http://www.cip.org.mz/ (Site do Centro de Integridade Pública: publica
muitos estudos)

4. Legislação
 Constituição da República de Moçambique (publicada no BR nº 51, I série,
de 22 de Dezembro de 2004), alterada e republicada pela Lei nº 1/2018, de 12
de Junho (publicada no BR nº 115, 2º Suplemento, de 12 de Junho de 2018 );
 Código Civil, aprovado pelo Decreto-Lei nº 47 344, de 25 de Novembro de
1966; extensivo a Moçambique através da Portaria nº 222869, de 4 de
Setembro de 1967, do Ministro do ultramar;
 Regimento da Assembleia da República, aprovado pela Lei n° 13/2014, de 17
de Junho, alterada e republicada pela Lei n° 12/2016,de 30 de Dezembro.

BIBLIOGRAFIA

1. Legislação

 Constituição da República de Moçambique (publicada no BR nº 51, I série,


de 22 de Dezembro de 2004), alterada e republicada pela Leinº 1/2018, de 12
de Junho, publicada no BR nº 115, I Serie, 2º Suplemento;
 Código Civil de 1966;

318
 Lei nº 10/2004, de 25 de Agosto (Lei da Família), publicada no BR nº 34,
Suplemeto.

2. Livros
 ABUDO, José Ibrahimo. Introdução ao Estudo do Direito, vol. I. Maputo,
(S.N.), 2011;
 ____________________Introdução ao Estudo do Direito, vol. II. Maputo,
(S.N.), 2011;
 AMARAL, Diogo Freitas do. Manual de Introdução ao Direito, vol. I e Vol.
II. Coimbra: Almedina, 2004;
 ASCENSÃO, José de Oliveira. Introdução ao Estudo do Direito. Lisboa:
Universidade de Lisboa, 1973;
 ASCENSÃO, José de Oliveira. O Direito, Introdução e Teoria Geral: uma
perspectiva luso-brasileira.Coimbra: Almedina, 2001;
 CAUIO, Carlos Alberto. Discurso do Ilustre Bastonário Dr. Carlos Alberto
Cauio, por ocasião da Tomada de Posse dos Membros dos Órgaos da Ordem
dos Advogados de Moçambique: Separata da Revista da Ordem dos
Advogados, Ano 56, II – Lisboa, Agosto de 1996;
 CHORÃO, Mário Bigotte. Temas Fundamentais do Direito, Coimbra:
Livraria Almedina, 1982;
 CUNA, Ribeiro Josė. O Ministério Público. Maputo: Centro de Formacao
Jurídica e Judiciária, 2011
 DINIZ, Maria Helena. Dicionário jurídico. Volumes 1 a 4. São Paulo: Editora
Saraiva, 1998;
 GOUVEIA, Jorge Bacelar. Direito Constitucional de Moçambique. Lisboa e
Maputo: Instituto de Direito de Língua Portuguesa, 2015;
 HERVADA, Javier; CUNHA, Paulo Ferreira da. Direito: guia universitário.
Porto: Rés Editora, 1983;
 LATORE, Angel. Introdução ao Direito. Coimbra: Livraria Almedina, 1997;
 LIMA, Pires; VARELA, Antunes. Código Civil anotado. (6 volumes).
Coimbra: Coimbra Editora, 1998;
 LOURENÇO, António Caetano. Noções Fundamentais do Direito: Lições e
Experiências. Maputo: Publifix, 2013.

319
 MACHADO, João Baptista. Introdução ao Direito e ao Discurso
Legitimador. Coimbra: Livraria Almedina, 1990;
 MARQUES, José dias. Introdução ao Estudo do Direito. Lisboa: Editora
Danúbio, 1984;
 MENDES, João Castro. Introdução ao Estudo do Direito. Lisboa: (S.N.),
1994;
 Oliveira, Fernando. Breve Glossário de Latim para Juristas. Lisboa: Editora
Cosmos, 1999;
 POLIS Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado: Antropologia
cultural, Direito, Economia, Política.Volumes 1 a 5. Lisboa: Editorial Verbo,
1997;
 PRATA, Ana. Dicionário Jurídico: direito civil, direito processual civil,
organização judiciária.Coimbra: Almedina, 1995;
 REALE, Miguel. Lições Preliminares do Direito. Coimbra: Livraria
Almedina, 1982;
 Rodrigues L. Barbosa. Introdução ao Estudo do Direito geral, Interno, da
União europeia e Internacional. Lisboa: Quid Juris Sociedade Editora, 2012;
 SANTOS, Boaventura de Sousa; TRINDADE, João Carlos. Conflito e
Transformação Social: Uma Paisagem das Justiças em
Moçambique(volumes 1 e 2). – Porto: Edições Afrontamento, 2003;
 SOUSA, Domingos Pereira de. Noções Fundamentais de Direito. Coimbra:
Comibra Editora, 2013;
 SOUSA, Marcelo Rebelo; GALVÃO, Sofia. Introdução ao Estudo do
Direito. Lisboa: LEX, 2000;
 TELLES; Inocêncio Galvão. Introdução ao Estudo do Direito. Lisboa:
Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa, 1990 (vol. 1);
1989 (vol. 2).
 WHITE,Rosa. Procuradoria Geral da República de Moçambique. Maputo:
Procuradoria Geral da República, 1997

3. Revistas
 Revista Jurídica da Faculdade de Direito da UEM
 Revista Humanitas da Universidade A Politécnica
 Tribunal Supremo: Boletim Informativo;

320
 LEGAL: Boletim Informativo da Procuradoria Geral da República (publicado
em papel e no site da PGR);
 Boletim da Ordem dos Advogados de Moçambique;
 Revista Científica do ISCTAC (publicado no Site do ISCTAC).
 Justiça Popular (publicado pelo Ministério da Justiça)

4. Internet
 Noções Gerais de Direito (Manuel Cavaleiro de Ferreira), disponível no site:
www.geocities.com/mcavaleirof/ngd.html?200820
 http://www.mundojuridico.adv.br
 http://www.portaldogoverno.gov.mz/ (Site do Governo da República de
Moçambique: publica legislação e outros documentos)
 http://www.cconstitucional.org.mz/ (Site do Conselho Constitucional:
publica legislação sobre o Conselho, Acórdão e Deliberações do Conselho);
 http://www.ta.gov.mz (Site do Tribunal Administrativo: publica legislação
sobre o Tribunal Administrativo, Jurisprudência do Tribunal Administrativo,
Relatórios e Pareceres sobre a Conta Geral do Estado)
 http://www.pgr.gov.mz/ (Site da PGR; publica legislação sobre a PGR,
Informes anuais do PGR à AR, boletim informativo da PGR)
 http://www.at.gov.mz/ (Site da Autoridade Tributária de Moçambique)
 http://www.dno.gov.mz/ (site da Direcção Nacional do Orçamento. Publica
legislação, documentos e manuais ligados à área)
 http://www.oamoz.org/pt/web/guest/pagina-inicial.htm (Site da Ordem dos
Advogados de Moçambique)
 http://www.salcaldeira.com/ (site do escritório do Advogado José Caldeira.
Fornece legislação nacional e artigos de interesse jurídico)
 http://www.acismoz.com/ (Site da Associação de Comércio e Indústria:
Publica vários estudos jurídicos em português e inglês)
 http://www.cta.org.mz/ (site do CTA, Confederação das Associações
Económicas de Moçambique: publica legislação relevante e outros
documentos)
 http://www.cip.org.mz/ (Site do Centro de Integridade Pública: publica
muitos estudos)

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