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INEST, RELAÇÕES INTERNACIONAIS, ALUNA: GRAZIELA MELO,

PROFESSOR: MARCIO MALTA, TPRI


Platão: A criação da Metafísica

Filho de Aristo e Perictona, Platão é um dos pensadores mais importantes de toda a


história da Filosofia. Nascido em 427 a.C. em Atenas, Platão descendia da antiga
nobreza daquela cidade. Pela sua descendência, teve uma educação esmerada para se
tornar um guerreiro bom e belo, tal como era comum àqueles que pertenciam à sua
estirpe, frequentando o ginásio para formação do belo e sendo educado pela música e
pela poesia para a formação do guerreiro bom. Ao mesmo tempo, foi formado para a
política, na nova Areté, e para a guerra, segundo os antigos costumes da aristocracia.
Estudou com Crátilo, com o qual aprendeu as ideias de Heráclito. Aos vinte anos,
tornou-se discípulo de Sócrates, tendo sido o mais importante de seus seguidores. Teve
contato com os pitagóricos, com os quais aprendeu a importância da Matemática.
Alguns defenderão que, com os pitagóricos, conheceu o pensamento de Parmênides.
Morreu em 347 a.C., aos 80 anos. Não se sabem as causas exatas de sua morte, mas, ao
que tudo indica, foi acometido por alguma doença. Diz-se que, ao receber a visita de um
amigo, já no leito de morte, em estado febril, solicitou à escrava que tocasse a lira
enquanto conversava com seu visitante, como era de costume e fazia parte da
hospitalidade ateniense. Segundo esse relato, algumas horas mais tarde a febre
aumentou e Platão faleceu. A Atenas que Platão conheceu em sua infância, a que vivia
seu auge de desenvolvimento político, econômico, cultural e que despontava como
centro do mundo, não foi a mesma Atenas de sua juventude e maturidade. A Atenas que
Platão conheceu ao se tornar jovem estava em claro declínio, devido, principalmente, à
Guerra do Peloponeso. Prestes a ser invadida pelas tropas da Macedônia, a grande polis
grega havia perdido sua democracia e seu povo estava desorientado. Aos dois anos de
idade, Platão vivenciou dois fatos importantes que representam os problemas aos quais
a cidade estava submetida: a morte de Péricles, um dos mais importantes políticos
atenienses, e uma peste, que matou milhares de pessoas, aprofundando ainda mais a
grave crise ateniense. Devido a esses fatos, Atenas tentou, inclusive, negociar uma
trégua com seus inimigos espartanos, trégua essa que durou curtos seis anos, sendo a
guerra restabelecida até 404 a.C., com a vitória de Esparta.
A segunda área em que Platão se destaca é na Acadêmica. A escola fundada por Platão,
conhecida como Academia, foi o primeiro instituto de pesquisa filosófica do mundo.
Em clara oposição à retórica sofística (Platão declarou uma verdadeira guerra contra
este grupo), a Academia se diferencia por pregar a discussão e a dialética aplicada como
o ideal e o espírito da educação, de forma que seus alunos possam se tornar autônomos
no pensamento. Isso significa que Platão não tem um conjunto de saberes que são
transmitidos como ideias prontas e acabadas, pelo contrário, o objetivo de sua escola é
desenvolver no aluno o livre pensamento, estimular a pesquisa ética e política, induzir à
busca pelas verdades que são postas à prova pelos argumentos contrários e pela
discussão, método característico do processo dialético. A Academia manteve vivo e
atuante o espírito socrático.
Após muitos anos discutindo-se a autenticidade dos escritos de Platão, hoje se acredita
que temos acesso à totalidade de suas obras. Estas se dividem em treze cartas, duas
obras não dialogadas, escritas na forma de longos trechos expositivos (Apologia de
Sócrates) e (Menexeno) e vinte e três diálogos, em que o personagem principal é sempre
Sócrates, seu mestre, dialogando com um ou alguns homens. Quanto aos diálogos,
podemos dividi-los em socráticos, aqueles nos quais Platão tenta ser fiel às ideias de
Sócrates, e os não socráticos, nos quais Platão, apesar de continuar a se referir a
Sócrates como protagonista, coloca na boca deste suas próprias ideias. Os diálogos não
socráticos também recebem uma divisão: diálogos da mocidade (em que Platão ainda
está bem próximo das ideias de Sócrates), da maturidade (não aporéticos, isto é,
inconclusivos, em que Platão expõe com mais clareza as suas próprias ideias) e da
velhice (em que Platão assume um tom menos de diálogo e mais de discurso).
Por metafísica, entende-se aquilo que está para além do mundo físico ou material. De
acordo com a metafísica, também chamada de ontologia, os seres são formados por duas
dimensões: a física, que compreende as coisas materiais e sensíveis, portanto mutáveis,
e a essência, que se constitui naquilo que é imutável e que só é compreendido pela
racionalidade humana. Dessa forma, pode-se dizer que a metafísica busca encontrar ou
conhecer aquilo que é essencial do ser e que está para além de sua matéria. Diz-se que
Platão fundou a metafísica, pois a filosofia platônica foi a primeira a afirmar a
existência de uma outra realidade superior à realidade do mundo sensível. Essa
dimensão suprassensível, metafísica, ficou conhecida como o mundo inteligível ou,
como é mais comumente chamada, mundo das ideias. É interessante ressaltar que,
atualmente, existem algumas críticas a esse nome, pela confusão que pode trazer. No
entanto, nessa concepção, deve-se entender por ideias não uma simples formulação
racional da inteligência humana ou capacidade intelectiva, mas formas inteligíveis que
existem por conta própria e que constituem a essência ou causa primeira da realidade
sensível. Platão está preocupado com um conhecimento do ser que ultrapasse a simples
aparência, que pode gerar uma multiplicidade de saberes. Para ele, existe um saber
único sobre as coisas, um saber imutável e essencial que deve ser encontrado para que o
homem possua o conhecimento verdadeiro. Aqui encontramos a diferença entre Platão e
Sócrates. Enquanto Sócrates está preocupado em conhecer a essência da ação, ou seja,
os conceitos sobre os valores ou princípios que devem ser tomados como fundamentos
das ações humanas – por isso sua discussão é sobre o que é justiça, coragem, amor,
amizade, virtude, etc. –, Platão vai mais além em busca de uma teoria do ser. Com essa
teoria, Platão buscará pensar uma natureza última dos seres,
em que tudo o que existe, sejam coisas materiais, ou imateriais, se origine de algo que
seria a verdadeira perfeição dessas coisas ou seres. Dessa maneira, Platão está
procurando a natureza essencial do ser. Conhecer a essência é conhecer validamente e
perfeitamente o que a coisa é em si e não somente o que se pensa sobre a coisa a partir
de sua manifestação visível nos seres. É precisamente essa natureza essencial que Platão
chama de ideia ou forma e que está em um nível superior, no mundo inteligível ou das
ideias, como dito anteriormente. Essa separação entre o sensível e o inteligível, entre o
visível e o invisível, está na base da teoria do conhecimento de Platão. Assim, conhecer
verdadeiramente o que uma coisa é significa encontrar, por meio da razão, a ideia que a
originou, a forma inteligível, do mundo superior e perfeito das ideias, onde estão as
verdades, as essências de todas as coisas.
É neste contexto que Platão fala do Demiurgo, uma espécie de deus-artífice que criou
todas as coisas do mundo sensível. Assim, o Demiurgo, tomando como modelo as ideias
inteligíveis ou formas perfeitas, que são eternas e imutáveis, plasmou, deu forma à
matéria disforme (assim como o Deus cristão, ao criar o homem, modelou o barro
disforme), imprimindo nessa matéria a forma, de acordo com o modelo perfeito. Para
compreendermos melhor: há uma forma (o mundo ideal ou das formas perfeitas) que foi
o modelo de todas as coisas. A partir desse modelo, o Demiurgo criou todas as coisas
sensíveis, que são, por isso mesmo, uma cópia (o mundo sensível). Sendo cópia,
segundo Platão, o mundo sensível é imperfeito, mutável, passageiro. Alcançar a verdade
última e essencial das coisas exige um exercício de reflexão para que o homem alcance
a própria ideia em si, os modelos que foram utilizados para a criação. Assim, a verdade
para Platão não está na realidade sensível, que não passa de cópia imperfeita, mas na
imutabilidade, na perfeição das ideias que devem ser buscadas pelo homem.
Encontrando-as, o homem encontra a verdade, a essência. Desse modo, fica ainda mais
fácil compreendermos a diferença entre a filosofia de Platão e a de seu mestre. A
Sócrates interessa a vida do homem real, em sociedade, e como esse homem deve agir.
Por isso, é conhecido como o “pai da ética”, pois sua preocupação é com o
comportamento do homem e com a vida em sociedade. Já para Platão a filosofia é
essencialmente teoria, tentativa de contemplar, por um processo de abstração, a natureza
verdadeira e última dos seres. Sua preocupação é com o fundamento de toda a realidade.
É claro que Platão também se preocupa com as ações humanas, como pode ser
verificado na República e na Carta sétima. No entanto, como estamos enfatizando aqui,
Platão funda uma teoria do conhecimento, mostrando ao homem como é possível
conhecer o mundo e as coisas de forma verdadeira. Apesar de estarmos no mundo e
também participarmos de sua imperfeição, porque também somos materiais, nossa alma,
nossa inteligência deve buscar a verdade dos seres, verdade esta que se encontra em
uma dimensão superior.
Um dos pontos fundamentais da filosofia platônica é sua resposta ao problema nascido
do embate entre Parmênides e Heráclito quanto ao ser e ao seu conhecimento. Heráclito
é o filósofo do devir, para ele, tudo está em constante movimento. Segundo seu
pensamento, não há o que se conhecer, porque o objeto a ser conhecido muda o tempo
todo, assim como o sujeito conhecedor. Para Platão, o erro heraclitiano foi o de
considerar que a única coisa que existe é o devir, não existindo nada além do mundo
físico, da materialidade das coisas sensíveis que estão, inegavelmente, em constante
transformação. Ao contrário de Heráclito, Parmênides acredita que o que existe é
somente o ser, entendido como aquilo que é imóvel, imutável e eterno.
Assim, para Parmênides só existiria a essência, sendo que a aparência, aquilo, que se
transforma, seria o não ser. Segundo Platão, Parmênides também cometeu um erro, pois
não há como negar a existência das coisas sensíveis. Desse modo, Platão procura trazer
uma resposta ao problema dos dois mais importantes pré-socráticos, ao propor que o ser
e o não ser existem, mas cada um possui características fundamentalmente distintas. Ao
pensar no mundo sensível e no mundo inteligível, Platão identificou o inteligível com a
teoria proposta por Parmênides, pois as ideias inteligíveis são perfeitas e imutáveis. Já a
tese de Heráclito é identificada com o mundo sensível, em que tudo está em constante
movimento. O homem vive no mundo sensível, estando, portanto, à mercê da mudança
e da transitoriedade. Porém, a alma do homem, que veio do inteligível, corresponderia
àquilo que não muda, e é por meio dela que o homem busca as verdades, as ideias, as
essências da realidade inteligível. Com base no que foi discutido até aqui, nos
perguntamos: como esse conhecimento, essa subida do sensível ao inteligível para
atingir a verdade “em si e por si” acontece?
Para Platão, o conhecimento das ideias acontece por meio da dialética, que busca a
verdade num processo de ascensão, isto é, o homem não alcança a verdade de uma só
vez, mas tal conhecimento se dá numa subida gradativa e constante até que o sujeito
alcance a ideia em si mesma, ou seja, contemple, no final desse processo, a forma
inteligível.
A caverna é o mundo sensível onde vivemos. A pouca luz da fogueira que projeta as
sombras na parede da caverna é um reflexo da luz verdadeira sobre o mundo sensível.
Os prisioneiros são todos os homens que estão presos no mundo sensível e imperfeito.
As sombras são as coisas sensíveis que os homens tomam como verdadeiras, mas que
não passam de cópias das ideias perfeitas. As correntes são os preconceitos dos homens,
a confiança nas opiniões obtidas pelos sentidos. O instrumento que faz possível se
libertar das correntes para sair da caverna é a dialética. O prisioneiro que escapa é a
representação do filósofo que busca o conhecimento e não se contenta com aquilo que é
“normal”. A luz que o prisioneiro vê é o próprio Sol, a ideia do bem, que ilumina todo o
mundo inteligível como o Sol ilumina o sensível. O retorno à caverna com a intenção de
levar os homens para fora é o convite ao diálogo filosófico. Dessa forma, o
conhecimento, como representado no Mito da Caverna, é um ato de libertação e de
iluminação da alma rumo à verdade; é a tentativa de retirar o homem da ignorância das
trevas e levá-lo à claridade do conhecimento
Será que todos os homens podem se libertar da caverna para atingir a visão do Sol,
alcançando a verdade? Todos os homens podem sair da ignorância, do conhecimento
sensível e imperfeito e alcançar o conhecimento perfeito e verdadeiro do inteligível? A
resposta de Platão a essas perguntas encontra-se na teoria da reminiscência da alma.
Utilizando-se de imagens, recurso didático muito característico do filósofo, Platão tenta
tornar claro seu pensamento por meio do mito de Er, conhecido também como o Mito
da Reminiscência ou da Anamnese. Nesse mito, Platão narra a história do pastor Er,
que, levado por uma deusa, visita o reino dos mortos, onde ficam as almas de todos os
homens serenamente contemplando as ideias ou formas inteligíveis. Nesse lugar, as
almas aguardam um dia em que poderão se encarnar em novos corpos, sendo que elas
poderão escolher a vida que terão na Terra. Após sua escolha, elas são encaminhadas ao
rio do esquecimento, Léthe (contrário a Alétheia, que significa verdade ou o não
esquecido). Aquelas almas que escolherem uma vida de prazeres, desejos, luxúrias,
fama, prestígio, riquezas, bebem a água do rio do esquecimento em muita quantidade.
Aquelas almas que escolherem uma vida de conhecimento, de sabedoria, bebem a água
do rio em pouca quantidade. Nesse caso, as almas que beberam muita água se afastam
quase por completo do conhecimento, pois esquecem as ideias que um dia
contemplaram. Já as almas que beberam pouca água estão mais próximas do
conhecimento, pois facilmente podem se lembrar das ideias perfeitas que um dia
contemplaram. Estas últimas almas desejarão a verdade, serão por ela atraídas, amarão o
saber, pois nelas haverá a vaga lembrança daquilo que um dia contemplaram. Assim,
podemos compreender por que, para Platão, conhecer é relembrar. As ideias já foram
contempladas, o homem já as conhece pela alma. O processo de conhecimento consiste
em, por meio da dialética, levar a alma à lembrança daquilo que já existe dentro dela.
A filosofia está entre a ignorância e a sabedoria, pois é o reconhecimento de que não se
sabe, mas que se pode saber.
Sendo um filósofo que se importou fundamentalmente com a vida da cidade, Platão
tratou em sua obra mais importante, a República, da política e procurou apontar quais
são os caminhos adequados para que a cidade possa ser corretamente governada, de
forma a alcançar seu bem maior: a felicidade dos cidadãos no cumprimento da justiça.
Segundo o filósofo, a finalidade da política não é outra senão a realização da justiça
para o bem comum da cidade, e nunca a simples posse do poder. Nesse aspecto, o
homem livre é somente o cidadão da polis, sendo que sua liberdade se realiza
exclusivamente na cidade, vivendo junto aos seus concidadãos. Sendo então a moral
privada, particular, inferior à moral pública, coletiva. Os interesses pessoais devem estar
abaixo dos interesses coletivos.
Contrariando os sofistas, Platão acredita que a cidade não deve ser governada pelo
melhor discurso, pois este pode não ser a melhor ideia. O filósofo não acredita que
qualquer pessoa possa ocupar o governo da cidade, sendo averso à democracia e à
monarquia, acreditando que a cidade deve ser governada pelos melhores em inteligência
e sabedoria, ou seja, por um governo de poucos a favor de todos, sendo estes poucos os
filósofos. Enfim, Platão propõe uma sofocracia (Sophos: sábios; Kratia: poder). Tal
como a alma possui três partes ou faculdades, a polis também é possuidora de três partes
ou classes sociais distintas: a dos magistrados, a dos guerreiros ou soldados e a do povo,
constituída pelos agricultores, comerciantes e artesãos. Em um regime democrático, as
três classes governam conjuntamente. Na aristocracia tradicional, os guerreiros
poderiam ocupar a função de magistrados. Na monarquia, um guerreiro ou um rico
comerciante, artesão ou agricultor poderia ocupar o posto de magistrado. O que há de
errado nessas formas de governo, segundo Platão, é que em todas pode haver uma
confusão de funções, o que levará à injustiça, característica de cidades mal governadas.
Na concepção política platônica, o povo é responsável pela sobrevivência da polis, ao
produzir o que é necessário para que a cidade se mantenha, como alimentos,
construções, manufaturas, etc. A classe social do povo corresponde, na teoria da
tripartição da alma, à parte inferior, à alma apetitiva ou concupiscente e está preocupada
com o bem pessoal, com a riqueza e o prestígio. Se essa parte comandasse a cidade, esta
estaria à mercê do enriquecimento, da vida luxuosa e de prazeres, o que não traria como
consequência o bem comum, finalidade última do governo. A classe dos guerreiros, que
corresponde à alma irascível, é responsável pela defesa da cidade. Se essa classe
ocupasse o governo, prevaleceriam os combates, a guerra, o gosto pela luta em busca de
fama e glória. Nesse caso, a cidade estaria envolvida em intermináveis conflitos, tanto
externos quanto internos, e, assim, fica evidente que o bem comum não seria alcançado.
A terceira classe social, representada pelos magistrados, a menos numerosa de todas, é
encarregada de fazer as leis e torná-las efetivas. Porém, como acontece na alma, em que
a parte racional pode estar dominada pelas outras, desviando-se de seu objetivo, os
magistrados podem se ver dominados pelas outras classes sociais. O povo pode dominá-
la pela corrupção e os guerreiros pelo medo. Além disso, os magistrados podem não
conhecer verdadeiramente a ideia de justiça, o que comprometeria a qualidade das leis.
A classe dos magistrados seria constituída por aqueles que seriam preparados para o
governo da cidade. A função destes seria promover a justiça e não simplesmente deter o
poder. E como estes homens seriam escolhidos e preparados para se tornarem filósofos?
O sistema educacional proposto por Platão é bem particular.

ARISTÓTELES:

Aristóteles nasceu em 384 a.C., em Estagira (por isso é também conhecido como o
estagirita), cidade grega situada a noroeste da Península da Calcídia. Seu pai, Nicômaco,
era médico e, como tal, descendia de uma família de médicos, pertencendo a uma
corporação em que a prática da medicina passava de pai para filho. Nicômaco era o
médico particular de Amintos, rei da Macedônia, sendo possível que Aristóteles tenha
passado a primeira infância na capital dessa região. Apesar de perder o pai com 7 anos
de idade, acredita-se que Aristóteles tenha sido iniciado na ciência da Medicina, pois,
sendo pertencente a tal família, estava destinado a ser também um médico. Essa
iniciação e as práticas de medicina de sua família marcarão seu grande interesse pela
natureza, pela Biologia, pelo estudo das plantas, dos animais, dos astros e da alma. Aos
18 anos, Aristóteles se transfere para Atenas e passa a acompanhar as lições dadas por
Platão na Academia. Ali permaneceu por 19 anos, até a morte de seu mestre, tornando-
se seu discípulo mais importante. Deixou a Academia de Platão, pois não concordava
com os novos rumos dados pelo novo diretor, Espeusipo (sobrinho de Platão). Este
transformou a escola platônica em um grande centro matemático e astronômico, por
acreditar que só por meio da Matemática se poderia chegar às verdades
O pensamento de Platão influenciou decisivamente as ideias de Aristóteles, apesar das
críticas realizadas ao mestre, principalmente no que diz respeito à divisão entre mundo
ideal e mundo real. A importância desses dois pensadores foi tão grande que todo o
pensamento ocidental teve como base de sua origem e constituição os sistemas
filosóficos elaborados por eles. Saindo de Atenas, Aristóteles passou por Eólida, Assos,
Aterneu, casando-se com Pítia, filha do rei Hémias. Depois se transferiu para Mitilene e
só então foi convidado por Filipe da Macedônia para ser o preceptor de seu filho,
Alexandre, que mais tarde se tornou Alexandre, o Grande. Em 335 a.C., quando
Alexandre herdou o trono de seu pai, Aristóteles voltou para Atenas, onde fundou sua
própria escola, o Liceu. Situada num bosque perto da cidade, sua escola era constituída
por um prédio, um jardim e uma alameda para passeio (perípatos). Devido a esse lugar e
ao hábito de Aristóteles de discutir filosofia e ministrar seus ensinamentos caminhando
com seus alunos é que a escola ficou conhecida como Escola Peripatética. Com a morte
de Alexandre em 323 a.C., surgiram em Atenas sentimentos antimacedônicos, o que fez
com que Aristóteles fosse acusado pelo povo da cidade de traidor, uma vez que teve
ligação com a Macedônia. Segundo o próprio filósofo, ele saiu de Atenas e foi para a
cidade de Eubéia, “para evitar que um novo crime fosse cometido contra a filosofia” (o
primeiro foi a morte injusta de Sócrates). Aristóteles veio a falecer em 321 a.C., aos 63
anos, devido a uma doença no estômago que o acompanhara por alguns anos.
Os escritos de Aristóteles se dividem em dois grupos. O primeiro é o dos “exotéricos”,
destinados às pessoas de fora da Escola, ao público em geral, e sendo compostos, em
sua maioria, de diálogos. O segundo é o dos “esotéricos” ou “acromáticos”, destinados
ao público interno do Liceu e que tratavam de estudos e de ensinamentos mais
especializados. A maioria dos escritos de Aristóteles são cópias de suas lições
compiladas por seus discípulos e obras ditadas pelo mestre e escritas pelos seus alunos.
O primeiro grupo de escritos se perdeu quase por completo, restando apenas alguns
fragmentos e títulos. Porém, a maior parte de sua obra acromática resistiu às vicissitudes
do tempo e das contingências, chegando aos dias atuais, todas tratando de problemas
filosóficos e das ciências naturais. Alguns autores defendem que, ao todo, seriam
quatrocentas as obras de Aristóteles. Outros dirão que esse número pode chegar ao total
impressionante de mil obras
Para se conhecer Aristóteles, é necessário antes compreender a filosofia platônica. Isso
porque muito da filosofia aristotélica se apresenta como uma crítica àquilo que seu
mestre disse. Isso pode dar a impressão de inimizade ou oposição entre os dois, mas, ao
contrário, Aristóteles foi um genuíno platônico, principalmente por desenvolver uma
visão crítica, ou seja, por ser um filósofo propriamente dito, aquele que busca o saber
com seus próprios esforços e atitude. Partindo da teoria de seu mestre, Aristóteles tenta
superá-la. Uma diferença fundamental entre os dois é que Platão nutria um grande
interesse pela matemática, vista como meio de alcançar o conhecimento verdadeiro, e
não pelas ciências empíricas, pois, para ele, a verdade está além da matéria, além
daquilo que pode ser experimentado. Aristóteles, ao contrário, volta-se diretamente para
os fenômenos da natureza, para aquilo que pode ser experimentado, com o objetivo de
conhecer as coisas e o mundo por meio da empiria. Porém, a diferença mais importante
entre os mestres da filosofia antiga e ocidental é a rejeição de Aristóteles ao dualismo
platônico expresso nas duas realidades: o sensível, mundo real e imperfeito, e o
inteligível, mundo ideal, das formas perfeitas. Aristóteles apontará as dificuldades de se
estabelecer as relações existentes entre o inteligível e o sensível. Segundo ele, existem
dois problemas em se admitir a diferença entre essas duas realidades: como garantir a
existência da realidade superior e como admitir os efeitos dessa existência para o
conhecimento dos seres. Aristóteles afirmará que aquilo que Platão chama de ideia
inteligível, que estaria na origem de todos os seres – como a ideia de beleza –, não passa
de uma característica dos próprios seres, uma qualidade, não existindo, portanto, uma
ideia de beleza separada dos seres reais. Para o estagirita, quando o homem conhece,
por exemplo, a beleza, o que permanece na mente são as representações ou abstrações
daquilo que se conheceu e não uma entidade metafísica, uma ideia separada que existe
por conta própria fora do intelecto humano. Aristóteles se esforçará para demonstrar que
o inteligível de Platão está no próprio sensível, sendo possível que o homem conheça o
próprio sensível e faça uma ciência verdadeira a partir dele. A grande diferença entre os
dois maiores pensadores da Antiguidade é que, enquanto Platão tentou explicar por que
o mundo é como é, buscando suas respostas no inteligível, fora da realidade sensível,
Aristóteles tentou explicar como o mundo é como é,
buscando suas respostas no próprio sensível, nas coisas em si, encontrando seu sentido e
explicação nele mesmo. De uma forma mais simples: segundo o estagirita, a divisão que
Platão faz da realidade é desnecessária e leva a uma duplicidade incoerente, podendo
tornar a vida e o mundo sensível sem sentido. Desse modo, Aristóteles elaborará uma
filosofia em que o inteligível platônico está no próprio sensível, sendo possível assim
um conhecimento, uma ciência verdadeira da realidade em si, isto é, é possível conhecer
as ideias universais ou as essências dos seres, pois elas estão nas próprias coisas.
De acordo com o que foi dito, para Aristóteles, a ciência tem como objetivo conhecer
verdadeiramente as coisas do mundo. O conhecimento de todos os seres, dos modos de
ação do homem e dos objetos produzidos pelos homens é a própria filosofia. Vale dizer
que, desde Aristóteles até o século XIX, não havia diferença entre filosofia e ciência.
Segundo o filósofo, as ciências se diferenciam de acordo com o seu objeto de estudo.
Desse modo, o estagirita divide as ciências em três: ciências teóricas ou teoréticas,
ciências práticas e ciências produtivas ou poiéticas. • Ciências teóricas ou teoréticas:
São as ciências que buscam o saber em si mesmo. Tais ciências investigam as causas e
os princípios dos seres que existem na natureza independentemente da vontade e da
ação do homem e que se desenvolvem sem qualquer participação humana. Como
independem da ação humana, o conhecimento desses seres só pode se dar por teoria ou
contemplação. Fazem parte das ciências teóricas físicas (que investigam os seres que
tem movimento): a ciência da natureza (o que chamamos de física), a biologia e a
psicologia. Temos também a ciência teorética matemática, que estuda as coisas que,
embora tenham existência física, podem ser estudadas sem relação com a materialidade
em movimento. Fazem parte dessa ciência a aritmética, a música, a geometria e a
astronomia. Enfim, temos a filosofia primeira ou metafísica ou teologia, que se refere ao
estudo mais importante e fundamental da filosofia aristotélica, ou seja, ao estudo dos
primeiros princípios de todos os seres, ao estudo do ser enquanto ser. Refere-se também
ao estudo da substância imóvel e independente do ser, aquilo que está para além da
mobilidade e da materialidade das coisas. A filosofia primeira diz respeito também ao
princípio de todas as coisas, ao ser imutável que é o princípio do mundo, ao ser
absolutamente necessário a tudo o que existe, se referindo àquilo que Aristóteles
chamará de primeiro motor imóvel.
Ao afirmar que “concebemos a filosofia como possuindo a totalidade do saber, tanto
quanto isto é possível, mas sem possuir a ciência da cada objeto determinado”,
Aristóteles está dizendo que a filosofia primeira ou metafísica é a mais difícil e a mais
ampla de todas as ciências, uma vez que sua busca se concentra nas coisas que estão
mais distantes das sensações, ou seja, nas essências que, apesar de estarem nas próprias
coisas, só podem ser concebidas enquanto ideias ou conceitos dos seres. É precisamente
a ciência que se ocupa das realidades que estão acima das realidades físicas. Dessa
forma, a filosofia aristotélica busca o conhecimento daquilo que está para além do
mundo empírico, uma realidade metaempírica. A metafísica, sendo o conhecimento por
excelência, tem sentido em si mesma, não estando voltada para o conhecimento prático
e empírico, com utilidade imediata na vida dos homens. A metafísica responde não às
necessidades materiais da vida humana, mas às necessidades espirituais, às necessidades
de saber, que são próprias e exclusivas do homem. Dessa forma, o filósofo afirma que
“todas as outras ciências podem ser mais necessárias ao homem, mas superior a esta
nenhuma”.
Ao contrário de Platão, Aristóteles concebia que a realidade que existe é única e
material. Enquanto Platão buscava as verdades ou o conhecimento verdadeiro dos seres
na realidade inteligível, Aristóteles busca esse conhecimento, a essência dos seres, na
própria realidade existente. Essa realidade é constituída por seres singulares, concretos e
mutáveis, e é nessa realidade que o homem deve buscar as verdades através da
experimentação desses seres. É a partir das experiências da realidade empírica que os
homens devem estabelecer definições essenciais dos seres e atingir o universal, que é o
objetivo da metafísica. Para isso, o sujeito conhecedor deve partir dos dados sensíveis
que lhe mostram o individual e o concreto para alcançar, por um processo de indução
(da experiência dos seres particulares para um conceito geral), as verdades universais ou
essências dos seres. Dessa forma, o conceito universal ou essência seria um produto do
intelecto humano e não uma ideia em si e por si buscada em outra realidade, como
queria Platão. Assim, o homem poderia alcançar as estruturas primeiras dos seres – o
objeto da metafísica –, que seriam os conceitos gerais obtidos por meio dos dados
capturados pelos cinco sentidos. Para compreendermos como é possível alcançar o
conhecimento dos seres, precisamos antes entender alguns conceitos fundamentais da
teoria do conhecimento de Aristóteles.
As formas, na filosofia de Aristóteles, seriam as ideias de Platão. Porém, se para este a
ideia existe fora dos seres, para Aristóteles, as ideias são abstraídas dos próprios seres
por meio do pensamento indutivo. Por exemplo: a ideia de homem só é possível por
meio de uma abstração da forma que está contida em todos os homens reais. Pela
experiência de vários homens particulares, o intelecto separa matéria e forma e alcança
a forma, a ideia de homem por meio da abstração.
Após tratar das ciências teoréticas, Aristóteles trata das ciências práticas, aquelas que
dizem respeito ao comportamento dos homens vivendo em sociedade e o fim que eles
querem atingir, tanto indivíduos quanto como seres políticos. O princípio fundamental
que guiará toda a reflexão aristotélica é a noção de felicidade. Para o filósofo, todas as
ações humanas têm um fim que devem alcançar, que seria o seu “bem” último. Todas
essas ações, em conjunto, tenderiam para o bem supremo do homem, que é a felicidade.
Por felicidade, Aristóteles entende a busca pelo aperfeiçoamento. Dessa forma, o
homem precisa se tornar perfeito exatamente naquilo que o separa de todos os outros
seres, ou seja, na capacidade racional. Felicidade não seria a posse de bens materiais,
nem o prazer do gozo e desmedido, nem a honra diante dos homens. O homem,
enquanto ser racional, tem como fim a realização de sua natureza específica, a
racionalidade. É exatamente na realização de sua natureza de ser racional que consiste a
felicidade. Como já vimos, o homem não tem somente uma alma racional, mas possui
também uma alma ou natureza apetitiva que busca a satisfação dos prazeres. Porém, ele
não deve se entregar a esses prazeres, devendo submetê-los à sua capacidade racional.
Tais apetites e instintos se opõem à razão, mas podem ser regulados e submetidos a ela.
Tal submissão ocorre por meio das virtudes éticas, pelas quais a razão impõe sua
determinação aos apetites e instintos, podendo dominá-los. Tais virtudes constituem o
que conhecemos por “justa medida” ou “meio termo”, que seria a medida entre o
excesso e a falta. Exemplos: O sentimento original é o prazer, seu excesso é a
libertinagem, sua falta é a insensibilidade, seu meio termo ou virtude é a temperança.
Honra: seu excesso é a vulgaridade, sua falta é a vileza, sua virtude é o respeito próprio.
Generosidade: seu excesso é a prodigalidade, sua falta é a avareza e sua virtude é a
liberalidade. Dessa maneira, praticando constantemente a virtude, tornando-a hábito,
modo de ser, ela se torna a vitória da razão sobre os instintos. Segundo Aristóteles, o
homem não nasce bom, mas torna-se bom a partir da prática da virtude, alcançando
assim a felicidade.
Segundo Aristóteles, o homem é um “animal político”. Isto significa que o homem
nasceu para viver na cidade, em comunidade e não pode se realizar, encontrar a
felicidade, sem que conviva com os demais homens. Aristóteles dirá que o homem
político, o cidadão da polis, é aquele que participa da vida política da cidade, que ocupa
cargos na administração pública. Os escravos e estrangeiros, assim como os homens
livres que não tinham tempo para se dedicar à política, acabavam sendo meios para
atingir a felicidade dos verdadeiros cidadãos. O pensamento aristotélico traz o
preconceito claro da cultura grega de seu tempo: aqueles que não são cidadãos, os
escravos (bárbaros presos de guerra) e estrangeiros têm uma natureza inferior à do
homem grego.
“Platão e Aristóteles são semelhantes em relação a existência do homem contemplado
no mundo e o significado dessa existência. Ambos tentaram entender o que significa
estar ciente de uma existência e como a existência está relacionada com a dos outros.

Platão foi aluno de Sócrates, Aristóteles foi um estudante de Platão. Embora ele
discorde de seu professor sobre alguns pontos-chave, muito do trabalho de Aristóteles é
considerado uma evolução das ideias formuladas pela primeira vez por Platão. A obra
de Platão, no entanto, foi mais individualmente focada e preocupada com a alma.

Aristóteles era mais um pensador político que tentou colocar suas ideias em um
contexto social. Para ele, era impossível considerar um sem considerar o outro. Muito
de seu pensamento científico foi com base neste mesmo princípio. Para Platão, ser era
ser. Para Aristóteles, observar era ser.

Muitas das ideias de Aristóteles são um casamento entre as de Sócrates e Platão. Diz-se
que Platão foi o primeiro filósofo político e Aristóteles foi o primeiro cientista político.
Os dois filósofos fundaram escolas. A escola de Platão era A Academia, em que
Aristóteles estudou. A escola de Aristóteles foi o Liceu, que foi parcialmente financiado
por Alexandre, o Grande.

A principal diferença entre Platão e Aristóteles encontra-se em suas crenças sobre o que
era mais autêntico sobre a existência. Platão acreditava que a realidade última não está
presente em experiências cotidianas. Aristóteles pensava que o mundo de todos os dias é
mais autêntico do que o mundo das ideias de Platão.

Platão e Aristóteles aparecem no centro da pintura do mestre italiano Rafael “a escola


de Atenas”. Suas posturas mostram a diferença entre as suas prioridades filosóficas.
Platão está apontando para cima, para enfatizar sua crença de que a realidade é além do
cotidiano, no  “mundo das ideias” ou “mundo das formas”. Na pintura, Platão está
segurando uma cópia de seu tratado “Timeu”, no qual ele descreve sua filosofia das
origens do mundo físico. Aristóteles, por outro lado, tem uma cópia do “Ética” em sua
mão. Sua mão é espalmada para baixo, mostrando sua ênfase sobre a Terra e a vasta
gama de ensinamentos morais.

Tanto Platão quanto Aristóteles escreveram sobre muitos assuntos diferentes, que vão
desde a forma adequada de governo, passando por uma definição de beleza estética e
indo até a própria natureza da realidade. A divisão entre as suas perspectivas
permaneceu entre muitos filósofos modernos também”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

AZEVEDO, Tiago. > https://psicoativo.com/2017/04/diferencas-e-semelhancas-entre-


aristoteles-e-platao.html < Último acesso em 15 de Abril de 2021

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