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Modulo 01: Mito e Filosofia

O MITO

É quase um consenso entre os estudiosos de Filosofia que existiu uma forma


anterior à das explicações filosóficas, que podemos denominar de explicação mítica.
Chamaremos aqui, pois, de mito, toda tentativa de explicação que antecede, em uma
sociedade humana, as buscas de compreensão ancoradas mais firmemente na razão
(Filosofia) ou mesmo em tentativas de experimentação para as teorias propostas
(Ciência).
O ser humano, nos primeiros estágios de seu desenvolvimento rumo à
racionalidade, tinha extrema dificuldade para explicar os fenômenos que o cercavam.
Qual é o motivo para períodos longos de seca, seguidos de outros, abundantes de
chuvas? Por que, enquanto chove, os raios e os trovões se fazem presentes? Em
função de quê a alternância do dia e da noite? Ou de forma mais existencial: De onde
viemos? Para onde vamos? O que estamos exatamente fazendo aqui? Na ausência
de respostas racionais ou científicas para questões de tão necessária compreensão,
surgem então as explicações míticas. De acordo com Auguste Comte, num primeiro
momento, as divindades serão forças da natureza fetichizadas, ou seja, que ganham
uma vida diferente daquela que realmente possuem, e o sol se transforma em
divindade, e a lua em outra, e a floresta em outra. As divindades africanas, presentes
na umbanda ou no candomblé, até hoje são ligadas a forças ou elementos da
natureza.
Desse modo surgem também as divindades gregas, como Poseidon, o deus das
águas, Atena, a deusa da sabedoria, ou Afrodite, a deusa do amor. Vale ressaltar que
os deuses gregos são antropomórficos, ou seja, possuem forma humana, e, além
disso, sentimentos humanos, como amor, e ódio. Mentem, enganam, o que demonstra
claramente sua imperfeição, e não são, como o Deus abraãmico, seres com poder
ilimitado.
A dificuldade de explicação racional citada acima no texto, assim, não permitia aos
gregos conhecer muitas coisas que os cercavam, tais como os fenômenos da
natureza, e quando se deparavam com algo que, para eles, era inexplicável (como o
trovão e o relâmpago, por exemplo) estes homens se espantavam, isto é, temiam,
naturalmente, o desconhecido. Contudo buscavam conhecer o que estava
acontecendo ao seu redor, isto é, conhecer a ordem natural do mundo, o que implica,
também, compreender as causas e efeitos dos fenômenos naturais.

A COSMOGONIA

A palavra cosmogonia vem da junção de duas palavras Gregas, quais sejam:


Cosmos que significa mundo ordenado e organizado e gonia que significa geração,
nascimento. De maneira que cosmogonia pode ser compreendida como uma narrativa
sobre o nascimento e a organização do mundo, a partir de forças gerativas.

A MITOLOGIA

A primeira explicação encontrada por estes indivíduos para os fenômenos se


pautou na formação da sua primeira idéia de divindade, ou seja, os deuses criaram os
relâmpagos e os trovões no intuito de se comunicar com os homens. Como já foi dito
anteriormente, o conhecimento desses primeiros homens era estritamente baseado
nos sentidos e, por isso, percebe-se nos relatos mitológicos a menção a deuses, com
características humanas (como Zeus que trai sua esposa Era com uma humana e tem
um filho semi-Deus, Hércules; alem das constantes lutas entre os deuses), sendo que,
de certo modo, existia um Deus para cada necessidade dos homens. Talvez por essa
razão, atualmente, tem-se os mitos como fábulas ou contos folclóricos, o que é
completamente errado.
Os mitos gregos são provenientes de uma tradição oral muito forte, como na
maioria dos povos antigos, sociedades ágrafas, transmitida de geração em geração
pelos poetas. É necessário distinguir, no entanto, duas classes de poetas, quais
sejam: os aedos, aos quais á atribuída a autoria das narrativas, dos quais os principais
exemplos são Hesíodo (Teogonia) e Homero (Ilíada e Odisséia); e os rapsodos,
responsáveis pela transmissão oral dos poemas. A questão central é que os autores
dos poemas não são exatamente os aedos, mas as divindades que falariam por meio
deles, como se pode notar pela citação abaixo, que pertence ao início da Ilíada, de
Homero.

Canta-me a cólera – ó deusa – funesta de Aquiles Pelida, causa que foi de os


Aquivos sofrerem trabalhos sem conta e de baixarem para o Hades as almas de
heróis numerosos e esclarecidos, ficando eles próprios aos cães atirados e como
pasto das aves. (HOMERO. Ilíada. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996, p.43)

Quem narra é a deusa, a musa, e isso está bem claro na passagem. É isso que faz
com que o mito seja tão respeitado, à semelhança da Bíblia, escrita por homens e
inspirada por Deus, e é esse o motivo pelo qual somente a confluência de uma série
de fatores históricos, no seu conjunto, permitiu que essa forma de explicação de
mundo fosse questionada com eficácia no imaginário grego. A guerra de Tróia, por
exemplo, ocorre por causa de intrigas entre os deuses e deusas do Olimpo, e seu
desfecho, a queda das muralhas, foi decidido pelo príncipe troiano Páris, antes sequer
dos conflitos terem início. A idéia de um destino imutável e controlado pelos deuses é
uma das estruturas lógicas presentes nas explicações míticas. O processo de
ordenamento do mundo também é explicado, lembrando que para o grego não existe
criação, pois tudo que existe sempre existiu. O surgimento ou domínio de alguns
instrumentos ou técnicas, como o uso do fogo, também estaria explicado nas
narrativas míticas.

O NASCIMENTO A FILOSOFIA: LOGOS

CONDIÇÕES HISTÓRICAS QUE PROPICIARAM O SURGIMENTO DA FILOSOFIA

Por um longo período, que vai aproximadamente do século VIII ao V a.C, diversas
condições foram amadurecendo e favorecendo o aparecimento e a consolidação de
uma forma mais racional de compreensão da realidade e dos próprios seres humanos.
É sempre importante lembrar que não há uma ruptura entre o mito e o pensamento
filosófico, visto que os mitos continuam presentes na vida de grande parte da
população, ao passo que a filosofia, no começo, era prática de poucos, extremamente
elitizada que era. Dentre os principais fatores históricos que, na sua confluência,
resultaram em um maior espaço para a aparição de explicações racionais, seguem-se
os mais relevantes.

- AS VIAGENS MARÍTIMAS, que geraram dois efeitos mais diretos: as trocas


culturais, que conduziram os gregos a um contato com outros povos que originou a
geometria, por exemplo, em função da experiência egípcia, ou a história, derivada das
genealogias dos babilônios; e o descrédito com relação à palavra do poeta, pois a
desmistificação se deu, nesse momento, com a decadência do mito. Vale ressaltar que
quem narrava os eventos passados não era exatamente o poeta, simples transmissor
das informações que recebia das musas, que consistiam em divindades gregas.
- A INVENÇÃO DO CALENDÁRIO, que demonstra o amadurecimento da capacidade
de abstração ao qual havia chegado o povo grego, pois rompe-se com o tempo cíclico,
baseado principalmente na natureza, para adotar uma noção linear, baseada
sobretudo na observação astronômica, que permite, inclusive, uma maior precisão na
datação dos eventos.

- A INVENÇÃO DA MOEDA, que permitiu uma forma de troca que não se realizava
através das coisas concretas ou dos objetos concretos trocados por semelhantes, mas
uma troca abstrata, uma troca feita pelo cálculo do valor semelhante das coisas
diferentes, revelando, portanto, uma nova capacidade de abstração e de
generalização;

- A INVENÇÃO DA ESCRITA ALFABÉTICA, que conduz, com a diminuição


considerável do número de símbolos, assim como com a ampliação de seu grau de
abstração, uma maior democratização do contato com a escrita. Vale ressaltar que os
gregos não inventaram a escrita, mas um alfabeto com um número bastante reduzido
de signos. A filosofia, assim como qualquer conhecimento sistematizado, demanda
registro, por isso a escrita alfabética é tão relevante.

- O SURGIMENTO DA POLIS (Cidade Estado), As póleis eram cidades


relativamente pequenas, com autonomia bélica, econômica e política. Em função da
geografia do território grego, extremamente acidentado, não foi possível organizar um
grande império, o que conduziu à formação das Cidades Estados. Atenas, por
exemplo, representa até hoje um modelo de democracia direta, aquela em que todos
os cidadãos auxiliam a decidir as questões políticas. Na ágora, espaço circular no
centro da cidade, os cidadãos se reuniam para decidir os rumos a serem tomados pela
coletividade. Deve-se lembrar, no entanto, que os critérios de cidadania só abrangiam
os homens, com maioridade, filhos de mulheres atenienses, que tivessem terras e
escravos. Isso correspondia, na prática, a mais ou menos 10% da população total. No
entanto, isso é muito diferente de uma época na qual as divindades falavam e os
homens simplesmente concordavam em função da autoridade de quem falava.

A COSMOLOGIA

A palavra cosmologia é derivada de duas palavras Gregas, a saber: Cosmos que


significa mundo ordenado e organizado e logos que significa pensamento racional.
Dessa forma podemos defini-la como a busca de um conhecimento racional acerca da
ordem do mundo, estudo do mundo existente, diferente das cosmogonias míticas, que
se pretendiam narrativas de como a realidade havia se originado ou funcionava.

A PALAVRA FILOSOFIA – PHILO-SOPHIA

É atribuída ao filósofo grego Pitágoras de Samos (aquele do


teorema!) a formulação da palavra filosofia. Ele afirmara que
pertence aos deuses a sabedoria plena e completa, mas que os
homens podem desejá-la ou amá-la, tornando-se filósofos.
A palavra filosofia é grega. É composta por duas outras: philo
e sophia. Philo deriva-se de philia, que significa amizade, amor
fraterno, respeito entre os iguais. Sophia, quer dizer sabedoria e
dela vem à palavra sophos, sábio.
Filosofia significa, portanto, o amor, no sentido de amizade,
O Pensador pela sabedoria, e a postura do filósofo é justamente a daquele
Auguste Rodin
que busca constantemente, ciente que jamais possuirá totalmente
o objeto do seu amor. De acordo com o filósofo da ciência do século XX Karl Popper,
quanto mais conhecimento, maior é a consciência do indivíduo de sua ignorância.
Desse modo, a prática filosófica dispensa o pedantismo, o exibicionismo intelectual, a
arrogância. É em função disso que Sócrates se transforma no filósofo por excelência,
com sua conhecida máxima: sei que nada sei.

Exercícios propostos:

QUESTÃO 01: (Unimontes)


O conhecimento científico é uma conquista recente da história da humanidade. Ele
tem apenas pouco mais de trezentos anos e surgiu no século XVII com a revolução
galileana. Durante vários séculos, as indagações humanas foram respondidas de
forma mitológica e com conceitos filosóficos e teológicos. Quando estudamos a
questão do conhecimento, temos a percepção de que somente a ciência tem a
resposta definitiva para os problemas da vida humana. Das afirmações abaixo que se
referem à ciência, marque a CORRETA.

A) A ciência não é a única maneira de responder às questões da vida. Podemos


também encontrar respostas satisfatórias nos mitos e na religião.
B) A ciência é a única forma absoluta de responder às questões do nosso tempo, pois
somente ela possui a verdade.
C) A ciência é irrefutável e somente ela possui a verdade.
D) A ciência é a única via de resposta para a história da humanidade, pois somente
ela possui métodos seguros e irrefutáveis.

QUESTÃO 02: (UFU)


Leia o texto e as assertivas abaixo a respeito das relações entre o nascimento da
filosofia e a mitologia.

O nascimento da filosofia na Grécia é marcado pela passagem da


cosmogonia para a cosmologia.
A cosmogonia, típica do pensamento mítico, é descritiva e explica como do
caos surge o cosmos, a partir da geração dos deuses, identificados às
forças da natureza. Na cosmologia, as explicações rompem com a
religiosidade: a arché (princípio) não se encontra mais na ordem do tempo
mítico, mas significa princípio teórico, enquanto fundamento de todas as
coisas. Daí a diversidade de escolas filosóficas, dando origem a
fundamentações conceituais (e portanto abstratas) muito diferentes entre si.
ARANHA, M. L. A; MARTINS, M. H. P. Filosofando. São Paulo: Moderna,
1993, p. 93.

I - Uma corrente de pensamento afirma que houve ruptura completa entre mito e
filosofia, tal corrente é a que defende a tese do milagre grego.
II - Outra corrente de pensamento afirma que não houve ruptura completa entre mito e
filosofia, mas certa continuidade, é a que defende a tese do mito noético.

Assinale a alternativa correta.

A) I é falsa e II verdadeira.
B) I é verdadeira e II falsa.
C) I e II são verdadeiras.
D) I e II são falsas.

QUESTÃO 03: (UFU)

A atividade intelectual que se instalou na Grécia a partir do séc. VI a.C. está


substancialmente ancorada num exercício especulativo-racional. De fato,
―[...] não é mais uma atividade mítica (porquanto o mito ainda lhe serve),
mas filosófica; e isso quer dizer uma atividade regrada a partir de um
comportamento epistêmico de tipo próprio: empírico e racional‖. SPINELLI,
Miguel. Filósofos Pré-socráticos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998, p. 32.

Sobre a passagem da atividade mítica para a filosófica, na Grécia, assinale a


alternativa correta.

A) A mentalidade pré-filosófica grega é expressão típica de um intelecto primitivo,


próprio de sociedades selvagens.
B) A filosofia racionalizou o mito, mantendo-o como base da sua especulação teórica e
adotando a sua metodologia.
C) A narrativa mítico-religiosa representa um meio importante de difusão e
manutenção de um saber prático fundamental para a vida cotidiana.
D) A Ilíada e a Odisseia de Homero são expressões culturais típicas de uma
mentalidade filosófica elaborada, crítica e radical, baseada no logos.

Questões Enem:

QUESTÃO 01:
“Entre os ‘físicos’ da Jônia, o caráter positivo invadiu de chofre a totalidade
do ser. Nada existe que não seja natureza, physis. Os homens, a
divindade, o mundo formam um universo unificado, homogêneo, todo ele
no mesmo plano: são as partes ou os aspectos de uma só e mesma physis
que põem em jogo, por toda parte, as mesmas forças, manifestam a
mesma potência de vida. As vias pelas quais essa physis nasceu,
diversificou-se e organizou-se são perfeitamente acessíveis à inteligência
humana: a natureza não operou ‘no começo’ de maneira diferente de como
o faz ainda, cada dia, quando o fogo seca uma vestimenta molhada ou
quando, num crivo agitado pela mão, as partes mais grossas se isolam e
se reúnem.”
VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego.
Trad. de Ísis Borges B. da Fonseca. 12.ed.
Rio de Janeiro: Difel, 2002. p.110.
O fragmento trará do contexto de surgimento da filosofia. Sobre tal temática, a partir
do fragmento, é possível inferir que

A) para explicar o que acontece no presente é preciso compreender como a natureza


agia “no começo”, ou seja, no momento original.
B) a explicação para os fenômenos naturais pressupõe a aceitação de elementos
sobrenaturais.
C) o nascimento, a diversidade e a organização dos seres naturais têm uma
explicação natural e esta pode ser compreendida racionalmente.
D) a razão é capaz de compreender parte dos fenômenos naturais, mas a explicação
da totalidade dos mesmos está além da capacidade humana.
E) a diversidade de fenômenos naturais pressupõe uma multiplicidade de explicações
e nem todas estas explicações podem ser racionalmente compreendidas.

QUESTÃO 02:
“Há, porém, algo de fundamentalmente novo na maneira como os Gregos
puseram a serviço do seu problema último – da origem e essência das
coisas – as observações empíricas que receberam do Oriente e
enriqueceram com as suas próprias, bem como no modo de submeter ao
pensamento teórico e causal o reino dos mitos, fundado na observação das
realidades aparentes do mundo sensível: os mitos sobre o nascimento do
mundo.”
Fonte: JAEGER. W. Paidéia. Tradução de Artur M. Parreira.
3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1995, p. 197.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a relação entre mito e filosofia na Grécia,
é possível inferir que a filosofia
A) em que pese ser considerada como criação dos gregos, se origina no Oriente sob o
influxo da religião e apenas posteriormente chega à Grécia.
B) apresenta uma ruptura radical em relação aos mitos, representando uma nova forma
de pensamento plenamente racional desde as suas origens.
C) apesar de ser pensamento racional, se desvincula dos mitos de forma gradual, sem
rupturas.
D) e mito sempre mantiveram uma relação de interdependência, uma vez que o
pensamento filosófico necessita do mito para se expressar.
E) já estava no mito, uma vez que este buscava respostas para problemas que até hoje
são objeto da pesquisa filosófica.

Exercícios de fixação:

1- Leia atentamente os textos abaixo, respectivamente, de Platão e de Aristóteles:

[...] a admiração é a verdadeira característica do filósofo. Não tem outra origem


a filosofia. (PLATÃO, Teeteto. Tradução de Carlos Alberto Nunes. Belém:
Universidade Federal do Pará, 1973. p. 37.)

Com efeito, foi pela admiração que os homens começaram a filosofar tanto no
princípio como agora; perplexos, de início, ante as dificuldades mais óbvias,
avançaram pouco a pouco e enunciaram problemas a respeito das maiores,
como os fenômenos da Lua, do Sol e das estrelas, assim como a gênese do
universo. E o homem que é tomado de perplexidade e admiração julga-se
ignorante (por isso o amigo dos mitos é, em certo sentido, um filósofo, pois
também o mito é tecido de maravilhas); portanto, como filosofavam para fugir à
ignorância, é evidente que buscavam a ciência a fim de saber, e não com uma
finalidade utilitária. (ARISTÓTELES. Metafísica. Livro I. Tradução Leonel
Vallandro. Porto Alegre: Globo, 1969. p. 40.)

Com base nos textos acima e nos conhecimentos sobre a origem da filosofia, é correto
afirmar:

A) A filosofia surgiu, como a mitologia, da capacidade humana de admirar-se com o


extraordinário e foi pela utilidade do conhecimento que os homens fugiram da
ignorância.
B) A admiração é a característica primordial do filósofo porque ele se espanta diante
do mundo das ideias e percebe que o conhecimento sobre este pode ser vantajoso
para a aquisição de novas técnicas.
C) Ao se espantarem com o mundo, os homens perceberam os erros inerentes ao
mito, além de terem reconhecido a impossibilidade de o conhecimento ser adquirido
pela razão.
D) Ao se reconhecerem ignorantes e, ao mesmo tempo, se surpreenderem diante do
anseio de conhecer o mundo e as coisas nele contidas, os homens foram tomados de
espanto, o que deu início à filosofia.
E) A admiração e a perplexidade diante da realidade fizeram com que a reflexão
racional se restringisse às explicações fornecidas pelos mitos, sendo a filosofia uma
forma de pensar intrínseca às elaborações mitológicas.
QUESTÃO 02: (UEM)
“Ao criticar o mito e exaltar a ciência, contraditoriamente o positivismo fez nascer o
mito do cientificismo, ou seja, a crença cega na ciência como única forma de saber
possível. Desse modo, o positivismo mostra-se reducionista, já que, bem sabemos, a
ciência não é a única interpretação válida do real. De fato, existem outros modos de
compreensão, como o senso comum, a filosofia, a arte, a religião, e nenhuma delas
exclui o fato de o mito estar na raiz da inteligibilidade. A função fabuladora persiste
não só nos contos populares, no
folclore, mas também na vida diária, quando proferimos certas palavras ricas de
ressonâncias míticas – casa, lar, amor, pai, mãe, paz, liberdade, morte – cuja definição
objetiva não esgota os significados que ultrapassam os limites da própria
subjetividade.” (ARANHA, M. L.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à
filosofia. 4ª. ed. rev. São Paulo: Moderna, 2009, p. 32)

A partir do trecho citado, assinale o que for correto.

01) Ao contrário da ciência, o senso comum, a religião e a filosofia refletem uma


imagem incompleta e precária do real.
02) O mito do cientificismo é a aplicação do rigor formal do método científico à dança,
à música e a diversas outras formas de expressão popular.
04) O positivismo utiliza o inconsciente e o mito como forma de expressão do mundo.
08) Explicações de caráter mítico, apesar de pertencerem ao período antigo,
sobrevivem na modernidade.
16) A função fabuladora recupera aspectos do mito que se distinguem da razão e do
método científico.

QUESTÃO 03: (UEM)


“Mais que um saber, a filosofia é uma atitude diante da vida, tanto no dia a dia como
nas situações-limite, que exigem decisões cruciais. Por isso, no seu encontro com a
tradição filosófica, é preferível não recebê-la passivamente como um produto, como
algo acabado, mas compreendê-la como processo, reflexão crítica e autônoma a
respeito da realidade.” (ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução
à filosofia. 4ª. ed. São Paulo: Moderna, 2009, p.20)

Com base no excerto citado, assinale o que for correto.

01) A filosofia é uma forma de conhecimento que questiona a realidade.


02) A filosofia é um saber teórico, não pragmático, que desconsidera a aplicação
prática.
04) A filosofia é uma experiência de vida que responde às questões fundamentais da
existência.
08) A filosofia não pode ser reaberta ou discutida, pois os filósofos já morreram.
16) A filosofia é uma ideologia, pois não se ocupa com o debate político.

QUESTÃO 04: (UEM)


O mito é um modo de consciência que predomina nas sociedades tribais e que, nas
civilizações da antiguidade, também exerceu significativa influência. Ao contrário,
porém, do que muitos supõem, o mito não desapareceu com o tempo. Sobre os
significados do mito, assinale o que for correto.

01) O mito, como as lendas, é pura fantasia, pois não possui nenhuma coerência
lógica e, por ser dissociado da realidade, não expressa nenhuma forma de verdade.
02) O mistério é um dos componentes do mito: apresenta um enigma a ser decifrado e
expressa o espanto do homem diante do mundo.
04) Uma das funções do mito é fixar os modelos exemplares de todos os ritos e de
todas as atividades humanas significativas. Portanto, o mito é um meio de orientação
das sociedades humanas.
08) O mito é uma intuição compreensiva da realidade, cujas raízes se fundam na
emoção e na afetividade. O mito expressa o que desejamos ou tememos, como somos
atraídos pelas coisas ou como delas nos afastamos.
16) O mito é uma forma predominante de narrativa nas culturas que não conhecem a
escrita. Um de seus objetivos é contar a origem de um grupo humano.

QUESTÃO 05: (UEM)


“A filosofia surgiu quando alguns gregos, admirados e espantados com a realidade,
insatisfeitos com as explicações que a tradição lhes dera, começaram a fazer
perguntas e buscar respostas para elas, demonstrando que
o mundo e os seres humanos, os acontecimentos materiais e as ações dos seres
humanos podem ser conhecidos pela razão humana” (CHAUI, Marilena. Convite à
filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2011. p.32).

Considerando o exposto, assinale o que for correto.

01) A filosofia surgiu na Grécia durante o séc. VI a.C.. Apesar de seu nascimento ser
considerado o “milagre grego”, é conhecida a frequentação de Atenas por outros
sábios que viveram no século VI a.C., como Confúcio e Lao Tse (provenientes da
China), Buda (proveniente da Índia) e Zaratustra (proveniente da Pérsia), fazendo da
filosofia grega uma espécie de comunhão dos saberes da antiguidade.
02) O surgimento da filosofia é coetâneo ao advento da pólis (cidade). Novas
estruturas sociais e políticas permitiram o desenvolvimento de formas de
racionalidade, modificadoras da prática do mito.
04) Por serem os únicos filósofos a praticar a retórica, os sofistas representam,
indiscutivelmente, o ponto mais alto da filosofia clássica grega (séculos V e IV a.C.),
ultrapassando Sócrates, Platão e Aristóteles.
08) Filósofo é aquele que busca certezas sem garantias de possuí-las efetivamente.
Por essa razão, o filósofo deseja o conhecimento do mundo e das práticas humanas
por meio de critérios aproximativos e compartilhados (de aceitação comum), através
do debate.
16) A atividade filosófica pode ser definida, entre outras habilidades, pela capacidade
de generalização e produção de conceitos, encontrando, sob a multiplicidade de
objetos do mundo, relações de semelhança e de identidade.

QUESTÃO 06: (UEM)


“O que é um filósofo? É alguém que pratica a filosofia, em outras palavras, que se
serve da razão para tentar pensar o mundo e sua própria vida, a fim de se aproximar
da sabedoria ou da felicidade. E isso se aprende na escola? Tem de ser apreendido,
já que ninguém nasce filósofo e já que filosofia é, antes de mais nada, um trabalho.
Tanto melhor, se ele começar na escola. O importante é começar, e não parar mais.
Nunca é cedo demais nem tarde demais para filosofar, dizia Epicuro [...]. Digamos que
só é tarde demais quando já não é possível pensar de modo algum. Pode acontecer.
Mais um motivo para filosofar sem mais tardar” (COMPTESPONVILLE, André.
Dicionário Filosófico. Apud ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena
Pires. Filosofando: introdução à filosofia. 4ª. ed. revista. São Paulo: Ed. Moderna,
2009. p.15).

A partir dessas considerações, assinale o que for correto.

01) A filosofia é uma atividade que segue a via pedagógica de uma prática escolar, já
que não pode ser apreendida fora da escola.
02) O enunciado relaciona a filosofia com o ato de pensar.
04) O enunciado contradiz a motivação filosófica contida na seguinte afirmativa de
Aristóteles: “Todos os homens têm, por natureza, desejo de conhecer”.
08) Para André Compte-Sponville, quanto antes e com mais intensidade nos
dedicarmos à filosofia, mais cedo estaremos livres dela, pois todo assunto se esgota.
16) A citação do texto afirma que sempre é tarde para começar a filosofar, razão pela
qual a filosofia é uma prática da maturidade científica e o coroamento das ciências.

QUESTÃO 07:
“Mais que saber identificar a natureza das contribuições substantivas dos
primeiros filósofos é fundamental perceber a guinada de atitude que
representam. A proliferação de óticas que deixam de ser endossadas
acriticamente, por força da tradição ou da ‘imposição religiosa’, é o que
mais merece ser destacado entre as propriedades que definem a
filosoficidade.”
OLIVA, Alberto; GUERREIRO, Mario. Pré-socráticos: a invenção da
filosofia.
Campinas: Papirus, 2000. p. 24.
O texto trata de uma “guinada de atitude” presente no início da filosofia, que podemos
sintetizar como sendo
A) a aceitação acrítica das explicações tradicionais relativas aos acontecimentos
naturais.
B) a discussão crítica das idéias e posições, que podem ser modificadas ou
reformuladas.
C) a busca por uma verdade única e inquestionável, que pudesse substituir a verdade
imposta pela religião.
D) a confiança na tradição e na “imposição religiosa” como fundamentos para o
conhecimento.
E) a desconfiança na capacidade da razão em virtude da “proliferação de óticas”
conflitantes entre si.

QUESTÃO 08:
“Há, porém, algo de fundamentalmente novo na maneira como os Gregos
puseram a serviço do seu problema último – da origem e essência das
coisas – as observações empíricas que receberam do Oriente e
enriqueceram com as suas próprias, bem como no modo de submeter ao
pensamento teórico e causal o reino dos mitos, fundado na observação das
realidades aparentes do mundo sensível: os mitos sobre o nascimento do
mundo.”
Fonte: JAEGER. W. Paidéia. Tradução de Artur M. Parreira.
3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1995, p. 197.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a relação entre mito e filosofia,
estabeleça a relação existente entre a filosofia e as viagens empreendidas pelos gregos,
sobretudo em função do comércio e expansão territorial.

QUESTÃO 09:
Leia atentamente o texto e assinale (V) para cada afirmação verdadeira e (F) para
cada afirmação falsa.
“De fato, é no plano político que a Razão, na Grécia, primeiramente se
exprimiu, constituiu-se e formou-se. A experiência social pôde tornar-se
entre os gregos o objeto de reflexão positiva, na cidade, a um debate
público de argumentos. O declínio do mito data do dia em que os primeiros
Sábios puseram em discussão a ordem humana, procurando defini-la em
si mesma, traduzi-la em fórmulas acessíveis à sua inteligência, aplicar-lhe
a norma do número e da medida. Assim se destacou e se definiu um
pensamento propriamente político, exterior à religião, com seu vocabulário,
seus conceitos, seus princípios, suas vistas teóricas. Este pensamento
marcou profundamente a mentalidade do homem antigo; caracteriza uma
civilização que não deixou, enquanto permaneceu viva, de considerar a
vida pública como o coroamento da atividade humana. Para o grego, o
homem não se separa do cidadão; a phrónesis, a reflexão, é o privilégio
dos homens livres que exercem correlatamente sua razão e seus direitos
cívicos. Assim, ao fornecer aos cidadãos o quadro no qual concebiam suas
relações recíprocas, o pensamento político orientou e estabeleceu
simultaneamente os processos de seu espírito nos outros domínios.”
VERNANT, J.-P. As Origens do Pensamento Grego.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994, p.94-95.
A partir da leitura do fragmento acima, esclareça a relação existente entre a atividade
política que amadureceu na Grécia do período arcaico para o clássico e o surgimento
do pensamento filosófico.

QUESTÃO 10:
“Há, porém, algo de fundamentalmente novo na maneira como os Gregos
puseram a serviço do seu problema último – da origem e essência das
coisas – as observações empíricas que receberam do Oriente e
enriqueceram com as suas próprias, bem como no modo de submeter ao
pensamento teórico e causal o reino dos mitos, fundado na observação das
realidades aparentes do mundo sensível: os mitos sobre o nascimento do
mundo.”
Fonte: JAEGER. W. Paidéia. Tradução de Artur M. Parreira.
3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1995, p. 197.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a relação entre mito e filosofia, o que
podemos afirmar que há de novidade na filosofia, quando comparada com as
explicações míticas?

Modulo 2: Pré-socráticos

PERÍODO COSMOLÓGICO

Pré-socráticos é o termo utilizado para designar os primeiros filósofos, os quais


deram início ao período cosmológico, isto é, foram os primeiros a questionar as
explicações sobrenaturais presentes nos mitos e procurar uma compreensão racional
do cosmos. Estes pensadores também são denominados filósofos da natureza, e
buscavam conhecer as causas dos fenômenos naturais, ou seja, tinham o intuito de
determinar o princípio constitutivo ou causa primordial – arché – da natureza – physis
–, baseando-se na observação e no raciocínio.
Sobre a definição de arché, temos nas palavras de Giovanni Reale e Dario
Antiseri:

“Princípio” (arché) não é um termo de Tales (talvez tenha sido introduzido por seu
discípulo Anaximandro, mas alguns pensam numa origem mais tardia), mas é
certamente o termo que indica melhor do que qualquer outro o conceito daquele
quid do qual derivam todas as coisas. Como nota Aristóteles em sua exposição
sobre o pensamento de Tales e dos primeiros físicos, o “princípio” é “aquele do
qual derivam originalmente e no qual se ultimam todos os seres”, é “uma realidade
que permanece idêntica no transmutar-se de suas alterações, ou seja, uma
realidade “que continua a existir imutada, mesmo através do processo gerador de
todas as coisas”. [...] Em suma, o “princípio” pode ser definido como aquilo do qual
provêm, aquilo no qual se concluem e aquilo pelo qual existem e subsistem todas
as coisas. (REALE, G.; ANTISERI, D. 1990, p. 29-30).

PRINCIPAIS FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS

- Filósofos da Escola Jônica:

- Tales de Mileto: “Tudo é água”.


- Anaxímenes de Mileto: “E assim como nossa alma, que é ar, nos mantém
unidos, da mesma maneira o vento envolve todo o mundo.”
- Anaximandro de Mileto: “Nem água nem algum dos elementos, mas alguma
substância diferente, ilimitada, e dela nascem os céus e os mundos neles
contidos.”
- Heráclito de Éfeso: “Tudo flui, nada persiste, nem permanece o mesmo.”

- Filósofos da Escola Itálica:

- Pitágoras de Samos: “Todas as coisas são números”

- Filósofos da Escola Eleata:

- Parmênides de Eléia: “O ser é e o não ser não é”


- Zenão de Eléia: “O que se move sempre está no mesmo agora”

- Filósofos da Escola da Pluralidade:

- Empédocles de Agrigento: “Pois destes (os elementos) todos se constituíram


harmonizados, e por estes é que pensam, sentem prazer e dor”
- Demócrito de Abdera: “O homem, um microcosmo.”

HERÁCLITO DE ÉFESO (545 – 480 a.C.)

“O ser não é mais do que o vir a ser”

Heráclito nasceu em Éfeso por volta de 545 a.C., cidade da


Jônia, filho de uma família que ainda conservava prerrogativas
reais. De temperamento esquivo, nunca quis participar da vida
política, e não demonstrava apreço pelos cidadãos de sua cidade.
Foi considerado obscuro, e isso por duas razões: tendência ao
isolamento e ao silêncio; escrita complexa, composta por
aforismos, conjuntos de raciocínios mais curtos, com menor
desenvolvimento de explicações do ponto de vista didático, e
mesmo com uma ausência de preocupação com a apresentação
de exemplos. Sua filosofia teve reconhecimento, mais tardiamente, pela maneira como
este filósofo percebeu o cosmos, isto é, sua interpretação do modo como a physis
“funcionava”. Como percebemos na passagem abaixo.

“Este cosmos (sentenciou Heráclito), igual para todos, nenhum dos deuses e
nenhum dos homens o fez; sempre foi, e sempre será...”. Ninguém o fez porque
ele é eterno, e, por conseqüência, incriado e imperecível: desprovido de uma
vontade criadora anterior (ou externa) à sua destinação de se reproduzir sempre.
Por isso, este mundo, é indicado como dado, posto aí, diante dos nossos olhos e
dos nossos sentidos, e o que temos a fazer, é buscar compreendê-lo por aquilo
que se mostra. [...] O mundo de fenômenos ao mesmo tempo em que se mostra,
oculta as suas razões. É de sua índole, tanto o se ocultar como também o se
assumir, mediante um aparência ou maquiagem comunicativa, pela qual a
Natureza provoca em nós o desejo de a conhecer.[...] Conhecemos a Natureza
não tanto por aquilo que se mostra, mas principalmente por aquilo que inferimos
sobre ela.. (SPINELLI, M., 1998, p. 193)

Miguel Spinelli deixa claro um ponto importante na teoria de Heráclito, o de que o


mundo é eterno e, por isso, incriado. Isso demonstra que, diferentemente dos outros
filósofos Pré-socráticos, ele não procurava prioritariamente um princípio constitutivo do
cosmos, o qual seria um elemento contido na Natureza, mas sim busca compreender
a sua ordem, isto é, como o mundo é a partir da sua organização e ordenação.
Heráclito não procura a arché somente no sentido de um elemento de que o cosmos é
constituído, mas a lei que o rege, partindo, é claro, das observações feitas na própria
Natureza. Para o mesmo, a realidade é um constante fluxo, ou seja, é sempre
mutável. Os sentidos, porém, para ele, nos mostram certa regularidade, que não
condiz com a mudança constante que ocorre realmente. E isso mostra que tanto para
Heráclito quanto para Parmênides existe uma cisão entre pensar e sentir.

A LUTA DOS CONTRÁRIOS – GUERRA E PAZ

“O conflito é o pai e o rei de todas as coisas” ... . “O oposto é conveniente, e das


coisas diferentes nasce a mais bela harmonia” ... . Sem nascimento e
perecimento, sem geração e destruição, vida e morte, a perpetuidade do mundo
seria insustentável, e, por conseqüência, a sua própria existência. Sem oposição
ou diferenças, também o viver humano seria insustentável, pois desativaria todo o
móvel do seu querer e agir, e, conseqüentemente, o próprio logos 1 autentificador
do nomos2 da deliberação humana. (SPINELLI, M., 1998, p. 196)

Para Heráclito o que comanda a ordem do mundo é a luta, ou melhor, harmonia dos
contrários, a perenidade das coisas que fazem parte da Natureza, seja homem, planta,
animal, mineral ou qualquer outra coisa. O mundo é eterno, assim como a sua ordem,
porém suas partes, aquilo de que ele se constitui está em constante renovo, em um
eterno devir. Em outras palavras, se não existir guerra não há paz, se não existir morte
não há vida nem nascimento, sem a perenidade das coisas tudo seria eterno e posto,
condição que, para Heráclito, é perceptivelmente incoerente com a realidade. A teoria
heraclitiana consiste, então, no estabelecimento de uma lei que rege o cosmos, a de
que tudo é um eterno devir, um vir a ser constante, pois tudo nasce, cresce e morre. O
jovem envelhece, o verde apodrece, tudo está sujeito ao tempo e, assim, a harmonia
dos contrários, já que é por existir os contrários que se tem uma perfeita ordenação da
existência do mundo.

NOTA: Pela maneira como percebia o desenvolvimento natural das coisas, Heráclito
foi considerado o pai da dialética, isto é, via a realidade como um eterno embate entre
opostos, um momento superando o outro.

O LOGOS NA TEORIA HERACLITIANA

1 Logos é logos no alfabeto grego e significa pensamento racional, sendo que na filosofia de Heráclito é o
que vai determinar a lei que rege a ordem do mundo.
2 Nomós em grego significa lei, deliberação, governo, princípio regulativo.
Mas ela é detentora (e isso é muito importante de salientado na filosofia de
Heráclito), de uma ciência específica e própria, ou seja, de um saber que, de certo
modo, se esconde por detrás de uma aparência observável, e que cabe ao logos
humano desocultá-la, pela via da observação e da inferência. Esse seu saber é a
sua lei (nomos), e também o seu logos, aquele que “tudo governa”: o pensamento
que governa tudo através de tudo.[...] O logos, em referência ao cosmos,é
expressão dessa articulação, pela qual o cosmos ou o ser pode ser entendido
como uma unidade de contrapostos. (SPINELLI, M., 1998, p. 193 e 195)

Spinelli, na passagem acima, demonstra, novamente que Heráclito busca


encontrar o princípio regulativo do cosmos, o logos que governa a ordem do mundo,
isto é, assim como os homens o cosmos também tem um logos. A razão conduz as
ações dos homens e o logos faz o mesmo com a ordem do mundo, estabelecendo a
harmonia entre os contrários, que é o nomos (a lei) que rege os acontecimentos na
Natureza. Dessa forma pode-se dizer que o logos (a razão) do cosmos (espaço
ordenado) consiste no princípio que regula a ordem do mundo, é a expressão da
harmonia entre os contrários.

O FOGO COMO PRINCÍPIO DE TODAS AS COISAS

Dado que a sua Filosofia da Natureza é uma filosofia das relações, o fogo
(coextensivo do logos) nela se apresenta com elemento constituinte do cosmos e
também como a metáfora mais significativa do seu filosofar.[...] Mas o que
Heráclito observou (talvez diante da lareira), é que o fogo não existe isoladamente
na Natureza, a não ser em Relação: se há fogo, há algo que queima. (SPINELLI,
M., 1998, p. 199 e 200)

Para Heráclito o fogo é algo que, mais que simplesmente constituir, exprime
exatamente a “natureza” do cosmos, pois ele vive da constante mudança, da harmonia
entre contrário, pois a sua vida consiste em destruir algo – o combustível – que se
transforma em fumaça. O fogo retrata bem o que Heráclito quer dizer com guerra e
paz, pois a primeira seria o fogo queimando, destruindo o combustível e o
transformando; já a segunda seria o fogo se apagando, isto é, deixando de queimar, e
por isso deixando de existir. A guerra é a luta entre os contrários que faz com que
exista uma ordem no mundo, a qual o mantém existindo, a paz seria o fim, ou a não
existência, desta luta, uma perpetuidade que acabaria com a ordem e,
conseqüentemente, o mundo.

PARMÊNIDES DE ELÉIA (540 – 470 a.C.)

“O ente é, pois é ser e nada não é.”

A IMUTABILIDADE DO SER

Parmênides nasceu em Eléia, hoje Vélia, na Itália por volta de 540 a.C. Foi iniciado
na filosofia pelo pitagórico Ananias e tem-se que foi político ativo e formador de boas
leis para a cidade. Escreveu um poema intitulado Sobre a Natureza, o qual se divide
em três partes: uma primeira que denominaríamos de prólogo, ou seja, uma
introdução, a segunda (da qual teve-se acesso à vários fragmentos) que trata dos
caminhos da verdade; e a terceira (da qual conservam-se apenas fragmentos) que
aborda os caminhos da opinião. Tem-se que a filosofia parmenidiana levanta-se contra
o dualismo pitagórico (ser e não-ser, cheio e vazio,...) e, de acordo com alguns
intérpretes, contra o mobilismo de Heráclito.
Vejamos uma passagem de um poema de Parmênides na qual podemos encontrar
os principais elementos de seu pensamento.

Só nos resta neste momento, uma única via da qual se possa falar: que é. Sobre
ela há um grande número de sinais: que sendo não-gerado é imperecível um todo
inteiro inabalável e sem fim. Jamais foi nem será, porque é todo presente, um e
contínuo. Que origem poder-se-ia atribuir-lhe? Como e de onde cresceria? Não te
permitirei dizer nem pensar que ele possa ter crescido do não-ser; pois não se
pode dizer nem pensar o que não é. Se viesse do nada qual a necessidade o teria
impelido a nascer mais cedo ou mais tarde? Assim, pois, é necessário que ele
seja absolutamente ou não seja. Também a força da convicção jamais concederá
que do não-ente possa nascer algo dele. A justiça não permite por um
afrouxamento de suas amarras, que nasça ou pereça, mas o mantém. Esta
decisão recai sobre a seguinte afirmativa: Ou é ou não é [...]. Como poderia
perecer o ente? Como poderia ser gerado? Pois se nasceu, não é, e também não
é se um dia devesse ser. [...]. Também não é divisível, pois é completamente
idêntico a si mesmo. Nada poderia ser-lhe acrescido o que impediria de conter-se,
nem retirado, pois o ente é todo pleno. Por isso é todo contínuo [...] Idêntico a si
mesmo, em si mesmo repousa, imóvel em seu lugar; pois a poderosa
Necessidade o mantém nos limites de um liame que de todos os lados o encerra,
de tal modo que ao ente está estabelecido como norma não ser inacabado.

A passagem acima vem confirmar o motivo pelo qual Parmênides desacredita do


conhecimento proporcionado pelos sentidos, ou seja, o Ser dos sentidos está em
movimento e por isso ele constantemente deixa de ser o que é e se transforma em
outro Ser (o não-ser anterior), o que para o autor é inconcebível, pois o não-ser não
existe. Em outras palavras, admitir o movimento implica em admitir que uma pessoa
deixa de ser jovem e se transforma em velho (que é o mesmo que dizer que se
transforma no não-jovem, que não existe).
Para Parmênides o Ser, o pensar e o dizer são a mesma coisa, pois não se pode,
em hipótese alguma, admitir que o não-ser possa ser pensado ou dito. O Ser uno e
eterno do autor só pode ser concebido pela razão, sendo que os sentidos não podem
expressá-lo. Tem origem na história da filosofia o princípio de identidade, que a firma
que o ser é sempre idêntico a si mesmo. Juntamente com ele, começa a busca da
filosofia pela permanência, pela constância, pela regularidade, que encontraremos nas
ideias de Platão ou nas essências de Aristóteles. Mesmo as ciências, na sua busca
pelas leis, não deixam de ansiar por algo contínuo, permanente, no real.

A CRÍTICA AO CONHECIMENTO PELOS SENTIDOS

Discordando do pensamento de Heráclito, Parmênides faz


uma crítica ao conhecimento das coisas sensíveis, as quais
estão em constante mutação, porque não há como formular um
conhecimento a respeito de algo que em um dado momento é X
e logo depois se torna Y. Para este pensador é impossível
conhecer todas as coisas em todos os seus momentos, pois só
se poderia realmente ter acesso a um saber concreto sobre algo
se fosse possível conhecê-lo nos diversos momentos de sua
existência. Para o autor, então, a realidade não é acessível
pelos sentidos, mas tão somente pela razão, que jamais poderia
Fisionomia Atribuída a conhecer algo que muda constantemente, mas somente estar
Parmênides (segunda
metade do séc. VI e conhecendo este algo. O conhecimento pronto e acabado só
primeira metade do pode existir frente a uma realidade que não mude, e só assim
séc. V a.C.). pode-se afirmar que se conhece alguma coisa em sua plenitude.
Como para este filósofo, ao contrário de Heráclito, os sentidos nos mostram mudança,
estes não são via de acesso confiável à realidade tal qual ela é. Se só o Ser pode ser
conhecido, e este é imóvel, imutável, eterno, sempre idêntico a si mesmo, único e uno,
o que percebemos na realidade é na verdade aparência, e só pode produzir o que vai
ser chamado de doxa, termo grego que, correntemente, é traduzido como opinião,
conhecimento transitório. Só a razão pode acessar o que realmente é (existe, pode ser
pensado e dito),e para fazê-lo ela deve se afastar dos enganos da mudança e buscar
o que permanece.

Exercícios propostos:

QUESTÃO 01: (Unimontes)


O primeiro filósofo de que temos notícias é Tales, da colônia grega de Mileto, na Ásia
Menor. Tales foi um homem que viajou muito. Entre outras coisas, dizem que, certa
vez, no Egito, ele calculou a altura de uma pirâmide medindo a sombra da mesma no
exato momento em que sua própria sombra tinha a mesma medida de sua altura.
Dizem ainda que, em 585 a.C., ele previu um eclipse solar. (GAARDER, J. O Mundo
de Sofia. São Paulo: Companhia das Letras, 1995). Aos primeiros filósofos que se
debruçaram sobre os problemas do cosmo, podemos chamá-los, além de pré-
socráticos, de

A) naturalistas ou fisicistas.
B) existencialistas.
C) empiristas.
D) espiritualistas.

QUESTÃO 02: (UFU)


Sobre o pensamento de Heráclito de Éfeso, marque a alternativa INCORRETA.

A) Segundo Heráclito, a realidade do Ser é a imobilidade, uma vez que a luta entre os
opostos neutraliza qualquer possibilidade de movimento.
B) Heráclito concebe o mundo como um eterno devir, isto é, em estado de perene
movimento. Nesse sentido, a imobilidade apresenta-se como uma ilusão.
C) Para Heráclito, a guerra (pólemos) é o princípio regulador da harmonia do mundo.
D) Segundo Heráclito, o um é múltiplo e o múltiplo é um.

QUESTÃO 03: (UFU)


Leia atentamente o texto abaixo.

Na filosofia de Parmênides preludia-se o tema da ontologia. A experiência


não lhe apresentava em nenhuma parte um ser tal como ele o pensava,
mas, do fato que podia pensá-lo, ele concluía que ele precisava existir: uma
conclusão que repousa sobre o pressuposto de que nós temos um órgão de
conhecimento que vai à essência das coisas e é independente da
experiência. Segundo Parmênides, o elemento de nosso pensamento não
está presente na intuição mas é trazido de outra parte, de um mundo
extrassensível ao qual nós temos um acesso direto através do pensamento.
NIETZSCHE, Friedrich. A filosofia na época trágica dos gregos.
Trad. Carlos A. R. de Moura. In Os pré-socráticos. São Paulo:
Abril Cultural, 1978. p. 151. Coleção Os Pensadores

Marque a alternativa INCORRETA.

A) Para Parmênides, o Ser e a Verdade coincidem, porque é impossível a Verdade


residir naquilo que Não-é: somente o Ser pode ser pensado e dito.
B) Pode-se afirmar com segurança que Parmênides rejeita a experiência como fonte
da verdade, pois, para ele, o Ser não pode ser percebido pelos sentidos.
C) Parmênides é nitidamente um pensador empirista, pois afirma que a verdade só
pode ser acessada por meio dos sentidos.
D) O pensamento, para Parmênides, é o meio adequado para se chegar à essência
das coisas, ao Ser, porque os dados dos sentidos não são suficientes para apreender
a essência.

Questões Enem:

QUESTÃO 01:

“O mesmo é em (nós?) vivo e morto, desperto e dormindo, novo e velho;


pois estes, tombados além, são aqueles e aqueles de novo, tombados
além, são estes.”
Os Pré-Socráticos. Trad. de José Cavalcante de Souza, 1ª ed.
São Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 93. (Os Pensadores)

A partir do fragmento apresentado, do filósofo pré-socrático Heráclito de Éfeso, pode-


se perceber que para tal filósofo
A) não existe a noção de “oposto”, pois todas as coisas constituem um único
processo de mudança que expressa a concórdia e a harmonia do “fluxo” contínuo da
natureza.
B) a equivalência de estados contrários com “o mesmo” exprime a alternância
harmônica de polos opostos, pela qual um estado é transposto no outro, numa
sucessão mútua, como o dia e a noite. Todas as coisas são “Um”, toda a
multiplicidade dos opostos constitui uma unidade, e todos os seres estão num fluxo
eterno de sucessão de opostos em guerra.
C) se o morto é vivo, o velho é novo, e o dormente é desperto, então não existe o
múltiplo, mas apenas o “Um”, como verdade profunda do mundo. A unidade
primordial é a própria realidade da physis e a multiplicidade, apenas aparência.
D) a alternância entre polos opostos constitui um fluxo eterno, regido pela “guerra” e
pela “discórdia”, que ocorre sem qualquer medida e proporção. A guerra entre
contrários evidencia que a physis é caótica e denota o fato de que o pensamento de
Heráclito é irracionalista.

E) apesar de uma aparência de mudança que se apresenta aos nossos sentidos, o


cosmos é essencialmente imutável, imóvel, eterno, uno e único. Não podemos, desse
modo, deixar-nos guiar pelos dados sensoriais, mas buscar aquilo que é idêntico a si
mesmo, denominado por Heráclito de Ser.

QUESTÃO 02:

“Só é possível pensar e dizer que o ente é, pois o ser é,


mas o nada não é; sobre isso, eu te peço, reflita,
pois esta via de inquérito é a primeira de que te afasto;
depois afasta-te daquela outra, aquela em que erram os mortais
desprovidos de saber e com dupla cabeça, pois, no peito, a hesitação
dirige
um pensamento errante: eles se deixam levar surdos e cegos, perplexos,
multidão inepta, para quem ser e não ser é considerado o mesmo e não o
mesmo,
para quem todo o caminho volta sobre si mesmo”.
Parmênides, Sobre a Natureza, 6, 1-9.
O fragmento acima é um trecho do poema “Sobre a Natureza”, do filósofo Parmênides
de Eléia, e de sua leitura é possível concluir que

A) a identidade é uma característica inerente ao domínio da opinião, uma vez que a


pluralidade das opiniões é o que atesta a identidade de cada indivíduo.
B) segundo Parmênides, um mesmo homem não pode entrar duas vezes em um
mesmo rio, posto que a mutabilidade do mundo impede que o mesmo evento se
repita.
C) uma das leis lógicas, presente no pensamento de Parmênides, é o princípio de
identidade, segundo o qual todas as coisas podem ser e não ser ao mesmo tempo.
D) o caminho da verdade é também a via da identidade e da não contradição. Nesse
sentido, somente o Ser – por ser imóvel e idêntico – pode ser pensado e dito.
E) é possível a coexistência harmoniosa entre o ser e o não ser, visto que a relação
entre as duas instâncias gera a Unidade do Cosmos.

Exercícios de Fixação:

QUESTÃO 01: (UFU)


De acordo com o pensamento do filósofo Parmênides de Eléia, marque a alternativa
correta.

A) A identidade é uma característica inerente ao domínio da opinião, uma vez que a


pluralidade das opiniões é o que atesta a identidade de cada indivíduo.
B) Segundo Parmênides, um mesmo homem não pode entrar duas vezes em um
mesmo rio, posto que a mutabilidade do mundo impede que o mesmo evento se
repita.
C) Uma das leis lógicas, presente no pensamento de Parmênides, é o princípio de
identidade, segundo o qual todas as coisas podem ser e não ser ao mesmo tempo.
D) O caminho da verdade é também a via da identidade e da não contradição. Nesse
sentido, somente o Ser – por ser imóvel e idêntico – pode ser pensado e dito.

QUESTÃO 02: (UFU)


De um modo geral, o conceito de physis no mundo pré-socrático expressa um
princípio de movimento por meio do qual tudo o que existe é gerado e se corrompe. A
doutrina de Parmênides, no entanto, tal como relatada pela tradição, aboliu esse
princípio e provocou, consequentemente, um sério conflito no debate filosófico
posterior, em relação ao modo como conceber o ser.

Para Parmênides e seus discípulos:


A) A imobilidade é o princípio do não-ser, na medida em que o movimento está em
tudo o que existe.
B) O movimento é princípio de mudança e a pressuposição de um não-ser.
C) Um Ser que jamais muda não existe e, portanto, é fruto de imaginação
especulativa.
D) O Ser existe como gerador do mundo físico, por isso a realidade empírica é puro
ser, ainda que em movimento.

QUESTÃO 03: (UFU)


Leia estes dois fragmentos de Heráclito e indique quais proposições são verdadeiras
(V) e quais são falsas (F).
I - É necessário saber que a guerra é comum e que a justiça é
discórdia e que tudo acontece mediante discórdia e necessidade.
II – A guerra é o pai de todas as coisas e de todas ela é a
soberana, e a uns ela apresenta-os como deuses, a outros, como homens;
de uns ela faz escravos, de outros, homens livres.
Fragmentos extraídos de Kirk, Raven e Schofield. Os filósofos
pré-socráticos.
Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1994.

1( ) Quando Heráclito, no primeiro fragmento, afirma que a guerra é comum e


que a justiça é discórdia, indica que a manifestação ininterrupta dos contrários é que
assegura o fluxo sem termo do devir.
2( ) O segundo fragmento indica que a guerra é soberana e que, portanto, não
pode haver vencedor entre os combatentes.
3( ) Guerra e discórdia são metáforas características do pensamento de Heráclito
e descrevem a mudança contínua por que passam todas as coisas.
4( ) Os dois fragmentos indicam que a natureza foi criada pela guerra dos
contrários e será extinta por este mesmo desequilíbrio.

QUESTÃO 04: (UFU)


Leia atentamente o texto e assinale (V) para cada afirmação verdadeira e (F) para
cada afirmação falsa.
Fragmentos 1
“Não podemos entrar duas vezes no mesmo rio porque suas águas não
são as mesmas e nós não somos os mesmos.”
“O que se opõe a si mesmo está em acordo consigo mesmo; harmonia de
tensões contrárias como as do arco e da lira”
“Para as almas, morrer é água; para a água, morrer é terra; da terra,
porém, forma-se a água e da água, a alma”
“O fogo vive a morte da terra e o ar vive a morte do fogo; a água vive a
morte do ar e a terra a da água”
Fragmentos 2
“é preciso que de tudo te instruas, do âmago inabalável da verdade
(aletheia)
bem redonda, e das opiniões (dóxa) dos mortais, em que não há fé
verdadeira.
(...)
...eu te direi, e tu, recebe a palavra que ouviste,
os únicos caminhos de inquérito que são a pensar:
o primeiro, que é; e, portanto, que não é não ser,
de Persuasão é caminho, pois à verdade acompanha.
O outro, que não é; e, portanto, que é preciso não ser.
Eu te digo que este último é atalho de todo não crível,
pois nem conhecerias o que não é, nem o dirias...
(...)
Pois o mesmo é a pensar e portanto ser.
(...)
Necessário é o dizer e pensar que o ente é; pois é ser.
E nada não é. Isto eu te mando considerar”.
CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da filosofia: dos pré-
socráticos a Aristóteles. São Paulo: Brasiliense, 1994, pp. 66-73.
1( ) Os fragmentos acima exprimem o pensamento de dois dos mais importantes
filósofos do chamado período pré-socrático, os primeiros atribuídos a Heráclito de
Éfeso, que compreendia a realidade como fluxo ou devir permanente e eterno, e, os
segundos, à Parmênides de Eléia, para quem a realidade é aquilo que permanece
sempre idêntico a si mesmo e imutável.
2( ) A tese sobre a realidade ou o Ser de Heráclito pode ser expressa, em
síntese, da seguinte maneira: “O ser é (existe) e o não-ser não é (não existe)”. Já a
tese de Parmênides se resumiria assim: “O não-ser é (existe) e o ser não é (não
existe)”.
3( ) Como Heráclito e Parmênides pensavam apenas por metáforas (linguagem
figurada), pode-se dizer que estavam muito mais próximos dos poetas, como Homero
e Hesíodo, do que dos filósofos e da busca da verdade.
4( ) Embora a concepção do Ser ou da realidade seja para Heráclito e
Parmênides bastante distinta e até mesmo oposta, é necessário reconhecer que,
tanto para um quanto para outro, os sentidos e o senso comum não alcançam o
verdadeiro conhecimento, mas engendram apenas a opinião (doxa). Para ambos,
apenas o pensamento (logos) pode conhecer a verdade.

QUESTÃO 05: (UFU)


Leia os seguintes fragmentos, atribuídos, respectivamente, a Heráclito de Éfeso e a
Parmênides de Eléia.
Não compreendem como o divergente consigo mesmo concorda;
harmonia de tensões contrárias, como de arco e lira.
Fr. 51, Os Pré-Socráticos. São Paulo: Abril
Cultural, 1973, p. 84. (Col. Os Pensadores)

Por outro lado, imóvel em limites de grandes liames


é sem princípio e sem pausa, pois geração e perecimento
bem longe afastaram-se, rechaçou-os fé verdadeira (...)
(...) O mesmo é pensar e em vista do que é pensamento.
Pois não sem o que é, no qual é revelado em palavra,
acharás o pensar (...).
Sobre a Natureza, vv. 8, 26-28; 34-36. Os Pré-Socráticos. São
Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 149. (Col. Os Pensadores)

Tomando os fragmentos citados como referência, assinale com (V) as afirmativas


verdadeiras e com (F) as afirmativas falsas.

1( ) Para Heráclito, a guerra entre contrários, como as tensões do arco e


das cordas de uma lira, geram uma unidade. Tal unidade expressa a harmonia
segundo a qual o kosmos é ordenado num equilíbrio dinâmico de sucessão de
opostos, movimento contínuo e pluralidade, cujo Logos é Um.
2( ) O ser parmenidiano é ingênito, incorruptível e, por conseguinte, imóvel,
imutável e uno. Sempre idêntico a si mesmo, o ser não admite diferenciações. Ser e
pensamento coincidem, se há ser, então o não-ser é impossível e impensável, por
isso, os opostos não podem coexistir ou alternar-se um ao outro.
3( ) Heráclito, ao contrário de Parmênides, concebe toda a physis como um
fluxo incessante e como multiplicidade que exclui a possibilidade de alternância de
opostos no kosmos. A afirmação de que ninguém pode entrar duas vezes no
mesmo rio indica que o movimento contínuo das coisas sensíveis ocorre num
sentido que não admite a contradição.
4( ) Parmênides, ao identificar o ser imutável, incorruptível e imóvel com o
pensamento, mostra que o “caminho da verdade” surge a partir do devir e da
multiplicidade que caracterizam a physis. O pensamento e o logos formam-se a partir
dos sentidos e da percepção do múltiplo, já que o pensamento depende da existência
de algo real.

QUESTÃO 06: (UFU)


A partir do texto abaixo, assinale (V) para as afirmativas verdadeiras e (F) para as
falsas.
Parmênides de Eléia, filósofo grego, pertenceu a uma escola antiga. Sua
filosofia forçou Platão e Aristóteles a buscar soluções para as questões do
Ser e da linguagem. Escreveu um poema filosófico em versos: Sobre a
Natureza. Lembrando-se ainda do seguinte: Parmênides negava a
existência do movimento, pois para ele não existia o espaço vazio,
sustentou que tudo o que existe é um que permanece imóvel em si
mesmo, sem que encontre algum lugar onde mover-se; estabeleceu
também um princípio para o discurso e a ciência da natureza, a partir
destes versos: necessário é dizer e pensar que só o ser é; pois o ser é, e o
nada ao contrário, nada é: afirmação que bem deves considerar...
Fragmentos extraídos de SPINELLI, Miguel. Filósofos pré-socráticos.
Porto Alegre: Edipucrs, 1998.
1( ) A escola a que pertenceu Parmênides é conhecida como Escola Eleata.
Além dele, encontramos Zenão, seu discípulo; Xenófanes, seu mestre; e Melisso. Eles
defendiam que tudo o que existe é um.
2( ) Parmênides, assim como Heráclito, pensa que tudo flui na natureza e que só
o não-Ser existe.
3( ) Parmênides, filósofo imobilista, pensava que só o Ser é. Ele negava a
existência do movimento.
4( ) Podemos concluir a partir do texto que é impossível conhecer aquilo que
existe e, portanto, é necessário determinar que só o Nada é princípio do pensamento e
do discurso.

QUESTÃO 07: (UFU)


Leia os fragmentos atribuídos a Parmênides de Eléia e, a partir deles, marque para as
alternativas (V) verdadeira ou (F) falsa.
 (...) pois o mesmo é a pensar e portanto ser.
 Necessário é dizer e pensar que (o) entre é; pois é ser, e nada não é;
isto eu te mando considerar (...).
Sobre a Natureza, vv. 3; 6. In: Os Pré-Socráticos. São Paulo:
Abril Cultural, 2000, p. 123. Coleção Os Pensadores

1( ) Parmênides elege o Ser como princípio absoluto de verdade que se identifica


com o pensamento e define o que pode ser afirmado. O Ser deve ser afirmado e o
não-Ser negado. Afirmar o não-Ser significa contradizer e negar o Ser, o que é uma
falsidade.
2( ) Segundo Parmênides, somente o Ser é pensável e exprimível. Todo
pensamento implica que o Ser é pensado, pois não se pode pensar o não-Ser. Este é
inteiramente indizível, inexprimível e impossível. Ser, pensar e dizer implicam-se
mutuamente.
3( ) Parmênides elege a multiplicidade como princípio absoluto da Natureza.
Somente o pensamento pode dar conta da multiplicidade e do movimento das coisas.
O Ser identifica-se com p pensamento, pois este é um movimento constante.
4( ) Parmênides identifica o Ser e o não-Ser com o pensamento, que pode
expressar tanto o que existe como o que não existe e, por isso, nada não é. O
pensamento nunca é idêntico a si mesmo e todas as coisas são pensáveis e
exprimíveis.

QUESTÃO 08: (UFU)


O pensamento de Parmênides constituiu uma das mais profundas doutrinas dos
filósofos da physis. Seu poema possui uma estrutura bem definida em três partes:
prólogo, caminho da verdade e caminho da opinião. Acerca deste poema, responda as
seguintes questões:

A) O poema de Parmênides pertence a qual período da História da Filosofia?


B) Em qual dos temas seguintes o poema de Parmênides melhor se encaixa: política,
ética, lógica, metafísica ou estética? Justifique sua resposta.
C) A que parte do poema refere-se o fragmento abaixo: prólogo, caminho da verdade
ou caminho da opinião? Justifique sua resposta.
Fragmento 7:

“(...) afasta, portanto, o teu pensamento desta via de investigação, e nem


te deixe arrastar a ela pela múltipla experiência do hábito, nem governar
pelo olho sem visão, pelo ouvido ensurdecedor ou pela língua; mas com a
razão decide da muito controvertida tese, que te revelou minha palavra.”
BORNHEIM, G. Os Filósofos Pré-Socráticos.
São Paulo: Cultrix, 1993, p. 55.

QUESTÃO 09: (UFU)


“Vou explicar-me, e não será argumento sem valor, a saber: que nenhuma
coisa é una em si mesma e que não há o que possas denominar com
acerto ou dizer como é constituída. Se a qualificares como grande, ela
parecerá também pequena; se pesada, leve, e assim em tudo o mais, de
forma que nada é uno, ou algo determinado ou como quer que seja. Da
translação das coisas, do movimento e da mistura de umas com as outras
é que se forma tudo o que dizemos existir, sem usarmos a expressão
correta, pois em rigor nada é ou existe, tudo devém. Sobre isso, com
exceção de Parmênides, todos os sábios (…) estão de acordo: Protágoras,
Heráclito e Empédocles (…)”.
Platão. Teeteto. Trad. Carlos Alberto
Nunes. Belém: EDUFPA, 2001, p. 50.
Tendo em vista o trecho de Platão citado acima, explique, a partir da distinção entre o
uno de Parmênides e o devir de Heráclito, por que no mobilismo nada é e por que para
Parmênides apenas o Ser é.
QUESTÃO 10: (UFU)
“Ao Logos, razão e palavra do que sempre é, os homens são incapazes de
compreendê-lo, tanto antes de ouvi-lo quanto depois de tê-lo ouvido pela
primeira vez, porque todas as coisas nascem e morrem segundo este
Logos. Os homens são inexperientes, mesmo quando eles experimentam
palavras ou atos tais quais eu corretamente os explico segundo a
natureza, separando cada coisa e explicando como cada uma se
comporta. Enquanto isso os outros homens esquecem tudo o que eles
fazem despertos assim como eles esquecem, dormindo, tudo o que eles
veem.”
Adaptado de HERÁCLITO. Pré-Socráticos. São Paulo:
Abril Cultural , 1978. p. 79. Coleção “Os Pensadores”
A partir do aforismo de Heráclito, responda às questões propostas:
A) Heráclito pode corretamente ser caracterizado como um filósofo empirista, cuja
fonte de conhecimento se encontra nas sensações?
B) Qual é o fundamento permanente de todo conhecimento e quem, segundo o texto,
corretamente o conhece e o enuncia?

Modulo 3: Sócrates e o período antropológico


SÓCRATES (470 – 399 a.C.)

“Tudo que sei é que nada sei”

PERÍODO SOCRÁTICO OU ANTROPOLÓGICO

Sócrates nasceu em Atenas por volta de 470/469 a.C. e morreu em 399 a.C.
devido a uma condenação, a qual se fundamentou nas acusações de ser corruptor da
juventude e de não acreditar nos deuses da cidade. Era filho de um escultor e de uma
parteira. Nunca escreveu nada, e a maioria do que conhecemos de sua filosofia
chegou-nos por intermédio dos diálogos de Platão, o que acabou por gerar uma
dúvida sobre se Sócrates realmente havia existido ou se seria simples personagem
das obras de Platão. A maioria dos comentadores sérios, no entanto, têm optado pela
primeira possibilidade.
O que se pode perguntar, no entanto, é o seguinte: o que o tornou tão importante
para os estudiosos da filosofia? Por que se tornou um marco, a ponto de
classificarmos todos os que vieram antes dele como Pré-socráticos? A resposta não
envolve, como deve parecer óbvio, somente elementos cronológicos. O período
socrático foi também denominado de antropológico. Analisando a palavra, vemos que
esta é formada por dois radicais gregos: antropo, que vem de anthropos, que se refere
à idéia de homem, e lógico, que deriva de Logos, que significa estudo, razão. Dessa
maneira podemos afirmar que antropologia é o estudo do homem em seus mais
variados aspectos, principalmente cultural e social.
Essa divisão existe na história da Filosofia porque Sócrates mudou o enfoque da
investigação filosófica, não se preocupando em compreender o mundo natural, como
os filósofos que o antecederam, mas procurando conhecer o homem e seu aspecto
social e político, como percebemos na seguinte citação abaixo:
Os naturalistas procuraram responder à seguinte questão: “O que é a natureza ou
a realidade última das coisas?” Sócrates, porém, procura responder à questão: “O
que é a natureza ou realidade última do homem?”, ou seja, o que é a essência do
homem?”. (REALE, G.; ANTISERI, D. 1990, p. 87).

Nesse momento de desenvolvimento principalmente cultural do mundo grego, além


das questões voltadas à natureza (cosmologia), a filosofia começa a preocupar-se
com a sociedade e o indivíduo, principalmente no que diz respeito às questões morais.
O cidadão guerreiro belo e bom (Arete – modelo de virtude) já não satisfazia o modelo
de cidadão da polis. Era, então, necessário formar um novo cidadão para comandar as
cidades. Neste contexto surgem os Sofistas (professores estrangeiros), os quais se
diziam capazes de ensinar a arte e a técnica do discurso (oratória e retórica). Saber
falar em público era essencial em um sistema democrático, no qual as decisões eram
tomadas em praça pública (Ágora), por vontade da maioria dos cidadãos, após
ouvirem os discursos prós e contra os temas a serem votados. Os Sofistas ensinavam
a jovens aristocratas, e recebiam por isso. Acreditavam que tudo poderia ser ensinado,
porque tudo era convenção entre os homens. Por isso acreditavam que a realidade
era relativa, sendo os resultados dependentes de acordos entre os homens.
O mais importante deles foi Protágoras de Abdera, cuja principal afirmação foi a de
que “O homem é a medida de todas as coisas, das que são enquanto são e das que
não são enquanto não são.”
Górgias de Leontini também foi muito importante, afirmou que podemos pensar o
inexistente e comunicar irrealidades através da linguagem. Portanto, não há diferença
entre (doxa) opinião e (Alétheia) verdade, assim como pensavam os outros sofistas e
os gregos de sua época.
Sócrates formulou uma ética racionalista (metódica) onde a virtude (Areté) se
identifica com o conhecimento. A verdade só pode ser conhecida, portanto se o
indivíduo deixar para trás as ilusões dos sentidos, as palavras e as opiniões. Conhecer
para Sócrates consistia em se elevar da aparência para a essência, da opinião
individual para o conceito universal dos seres, dos valores, da vida moral e da política.
Mencionamos acima a preocupação socrática de compreender qual a essência do
homem, a qual parece-nos estar expressa na seguinte passagem:

Um dos raciocínios fundamentais feitos por Sócrates para provar essa tese é a
seguinte: uma coisa é o “instrumento” que se usa e outra é o “sujeito” que usa o
instrumento. Ora, o homem usa seu próprio corpo como instrumento, o que
significa que o sujeito, que é o homem, e o instrumento, que é o corpo, são coisas
distintas. Assim, à pergunta “o que é o homem”, não se pode responder que é o
seu corpo, mas sim que é “aquilo que se serve do corpo”. Mas “o que se serve do
corpo é a psyché, a alma (= inteligência) [...] (REALE, G.; ANTISERI, D. 1990, p.
88).

Para Sócrates, a educação da alma é importante, pois ela é a essência do homem.


Ela determina as ações dos homens ela pode bem conduzir-nos a uma vida virtuosa.
Aquele que tem conhecimento não reúne todas as características necessárias à
virtude (justiça, fortaleza, temperança, sabedoria...) e o vício nada mais é que a falta, a
privação de conhecimento, ou seja, a ignorância.
Tomando este preceito como base, podemos também afirmar que tudo o que é
exterior à natureza da alma do homem não pode ser considerado virtude. Desse
modo, riqueza, poder, fama, beleza e saúde física, dentre outras coisas, não
constituem valores éticos, pois “em si mesmos não têm valor”.
Este filósofo ficou conhecido também por sua máxima, “tudo que sei é que nada
sei”. Com tal afirmação quis dizer que o conhecimento do homem é pequeno,
imperfeito, superficial e que o conhecimento pleno e total das coisas naturais só
pertence aos deuses. É presunção se considerar conhecedor das coisas criadas por
aqueles que nos criaram.
Mas se virtude é sinônimo de conhecimento e Sócrates diz não saber nada então
não é virtuoso? Claro que o conhecimento que ele está admitindo como igual à virtude
não trata de conhecimentos acerca o mundo natural, do qual os deuses são artífices,
mas de conhecimentos práticos e de uma tentativa de uma melhor compreensão de
nossa alma.

O provável, senhores, é que, em verdade, o sábio seja deus e queira dizer, em


seu oráculo, que pouco valor ou nenhum tem a sabedoria humana; evidentemente
se terá servido deste nome de Sócrates para me dar como exemplo, como se
dissesse: “O mais sábio dentre vós, homens, é quem, como Sócrates,
compreendeu que sua sabedoria é desprovida verdadeiramente desprovida do
mínimo valor”. (PLATÃO, 2004, p. 47).

De tal modo que o não-saber socrático já constitui uma sabedoria. Ao reconhecer


sua própria ignorância, Sócrates buscou levar aos demais atenienses tal
conhecimento; utilizando, para isso, sua dialética, que analisamos agora.

O MÉTODO SOCRÁTICO

Sócrates afirma, em sua defesa, escrita por Platão, que


começou a travar as conversas com seus concidadãos em
função de uma experiência mística. Um antigo amigo, que à
época de seu julgamento já havia morrido, de nome Querefonte,
visitara certa vez o Oráculo de Apolo, na cidade de Delfos, e fez
uma pergunta sobre a sabedoria do nosso filósofo. A resposta da
sacerdotisa do templo dava a possibilidade de interpretação de
que Sócrates fosse mais sábio que os demais. Para afastar tal
forma de entender a resposta, ele se pôs a conversar com
algumas pessoas, fazendo perguntas que ele próprio não sabia
responder, com uma expectativa inicial de receber instrução. Para a sua surpresa,
seus interlocutores, que no início assumiam uma postura até mesmo arrogante, ao
final mostravam-se tão ignorantes quanto ele sobre o tema da reflexão. Ao cabo de
alguns destes diálogos, ele percebeu de que sabedoria o deus falava que ele era
detentor enquanto faltava aos demais: o dos seus limites, da própria ignorância,
presente na afirmação famosa “sei que nada sei”. A partir de então Sócrates se vê
investido pelo deus de uma missão, que consistia em conduzir os seus concidadãos a
um melhor conhecimento de si mesmos, a inscrição no portal do templo: “Conhece-te
a ti mesmo”.
Sócrates, na intenção de realizar sua missão, adotava sempre o diálogo que
assumia uma dupla forma, conforme se tratava de um adversário a refutar ou de um
“discípulo” a instruir. No primeiro caso, assumia humildemente a atitude de quem
aprende e ia multiplicando as perguntas até encontrar o adversário presunçoso em
evidente contradição, constrangendo-o à confissão humilhante de sua ignorância. É a
ironia socrática. No segundo caso, tratando-se de um “discípulo’, multiplicava ainda
mais as perguntas, dirigindo-as agora a fim de obter, por indução dos casos
particulares e concretos, um conceito, uma definição geral do objeto em questão. A
este processo pedagógico, em memória da profissão materna, denominava-se
maiêutica, ou engenhosa obstetrícia do espírito, que facilitava a parturição das idéias.
Partindo da consciência da sua própria ignorância (“só sei que nada sei”), utilizava
como método não a exposição, mas a dialética (aqui com o sentido de arte do diálogo
e da discussão), que passava por três momentos distintos:

- IRONIA: em grego significa interrogação. Consistia em uma cadeia de perguntas


realizadas por Sócrates que iam, pouco a pouco, conduzindo o interlocutor á
consciência da própria ignorância.
- APORIA: do grego a = não e poria vem de poros que significa saída. O termo, então,
significa sem saída, e relaciona-se ao final de todo o diálogo platônico de primeira
fase, também dito diálogo socrático. Acredita-se que em sua primeira fase de escritos
Platão tenha tão somente reproduzido a prática de Sócrates nas ruas e praças de
Atenas. É assim que podemos diferenciar o que seja socrático do que seja já teoria
platônica. Todos os diálogos socráticos são aporéticos, ou seja, não apresentam
nenhuma resposta ao seu final, o que não poderia ser diferente, visto que Sócrates só
tinha consciência da própria ignorância.

- MAIÊUTICA: Traduzido ao pé da letra o termo significa arte de parturejar, ou seja, de


trazer à luz novos seres humanos. Essa é a profissão da parteira, ainda muito comum
em certas regiões do Brasil. Era esse o ofício desempenhado pela mãe de Sócrates.
No diálogo Teeteto nosso filósofo afirma que sua atividade se parece muito com
aquela realizada pela sua mãe, visto que nessa nova etapa, posterior à destruição do
falso saber do interlocutor, Sócrates buscaria auxiliar aquele com quem dialogava a
conceber ideias verdadeiras, seguras, que estariam, evidentemente, dentro do próprio
indivíduo que travava diálogo com o filósofo. E é óbvio que só poderia ser assim, visto
que o único conhecimento afirmado por ele é o da sua própria ignorância.

NOTA: Todos que se dispunham a dialogar com Sócrates o faziam por vontade
própria, não havia nenhum tipo de insistência ou coação.

Exercícios Propostos:

QUESTÃO 01: (UFU)


Marque a alternativa que expressa corretamente o pensamento de Sócrates.

A) Sócrates estabelece uma ligação muito estreita entre o conhecimento da virtude e a


ação humana, a ponto de sustentar que aquele que conhece o que é o correto não
pode agir erroneamente, visto que o erro de conduta é fruto da ignorância sobre a
verdade.
B) O fim último do método dialético socrático era a refutação do seu interlocutor. Assim
sendo, é legítimo afirmar que o reconhecimento da própria ignorância equivale à
constatação de que a verdade é relativa a cada indivíduo.
C) Sócrates é considerado um divisor de águas na Filosofia graças a sua teoria ética
sobre a imobilidade do Ser. Por isso, sua missão sempre foi a investigação de um
fundamento absoluto da moral.
D) Sócrates fazia uso de um método refutativo de investigação, o que significa que seu
principal intento era levar o interlocutor à contradição, independentemente se o último
estivesse ou não com a razão.

QUESTÃO 02: (UFU)


Leia o trecho abaixo, que se encontra na Apologia de Sócrates de Platão e traz
algumas das concepções filosóficas defendidas pelo seu mestre.

Com efeito, senhores, temer a morte é o mesmo que se supor sábio quem
não o é, porque é supor que sabe o que não sabe. Ninguém sabe o que é a
morte, nem se, porventura, será para o homem o maior dos bens; todos a
temem, como se soubessem ser ela o maior dos males. A ignorância mais
condenável não é essa de supor saber o que não se sabe?
Platão, A Apologia de Sócrates, 29 a-b, In. HADOT, P. O que é a Filosofia
Antiga? São Paulo: Ed. Loyola, 1999, p. 61.
Com base no trecho acima e na filosofia de Sócrates, assinale a alternativa
INCORRETA.

A) Sócrates prefere a morte a ter que renunciar a sua missão, qual seja: buscar, por
meio da filosofia, a verdade, para além da mera aparência do saber.
B) Sócrates leva o seu interlocutor a examinar-se, fazendo-o tomar consciência das
contradições que traz consigo.
C) Para Sócrates, pior do que a morte é admitir aos outros que nada se sabe. Deve-se
evitar a ignorância a todo custo, ainda que defendendo uma opinião não devidamente
examinada.
D) Para Sócrates, o verdadeiro sábio é aquele que, colocado diante da própria
ignorância, admite que nada sabe. Admitir o não-saber, quando não se sabe, define o
sábio, segundo a concepção socrática.

QUESTÃO 03: (UFU)


O diálogo socrático de Platão é obra baseada em um sucesso histórico: no fato de
Sócrates ministrar os seus ensinamentos sob a forma de perguntas e respostas.
Sócrates considerava o diálogo como a forma por excelência do exercício filosófico e o
único caminho para chegarmos a alguma verdade legítima.

De acordo com a doutrina socrática,


A) a busca pela essência do bem está vinculada a uma visão antropocêntrica da
filosofia.
B) é a natureza, o cosmos, a base firme da especulação filosófica.
C) o exame antropológico deriva da impossibilidade do autoconhecimento e é,
portanto, de natureza sofística.
D) a impossibilidade de responder (aporia) aos dilemas humanos é sanada pelo
homem, medida de todas as coisas.

Questões Enem:

QUESTÃO 01:

Sócrates ocupava-se de questões éticas e não da natureza em sua totalidade,


mas buscava o universal no âmbito daquelas questões, tendo sido o primeiro a
fixar a atenção nas definições. Aristóteles. Metafísica, A6, 987b 1-3. Tradução
de Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 2002.

Em um importante trecho da sua obra Metafísica, Aristóteles se refere a Sócrates nos


termos acima. Sócrates inaugura um novo período na filosofia grega. Além do objeto
diferente, o método deste filósofo também era algo inovador, e consistia

A) em um exercício dialético, cujo objetivo era livrar o seu interlocutor do erro e do


preconceito − com o prévio reconhecimento da própria ignorância −, e levá-lo a
formular conceitos de validade universal (definições).
B) na busca pela “Arché”, pelo princípio supremo do Cosmos. Por isso, o método
socrático era idêntico aos utilizados pelos filósofos que o antecederam (Pré-
socráticos).
C) em um procedimento empregado simplesmente para ridicularizar os homens,
colocando-os diante da própria ignorância. Para Sócrates, conceitos universais são
inatingíveis para o homem; por isso, para ele, as definições são sempre relativas e
subjetivas, algo que ele confirmou com a máxima “o Homem é a medida de todas as
coisas”.
D) em uma forma de exortar os seus concidadãos para a mudança interior e o cuidado
com a alma, parte mais importante do homem. Em razão de discursar de forma
eloquente diante dos demais cidadãos da polis, terminou por ser considerado,
inclusive por seus seguidores mais direto, um mestre da arte sofística.
E) em uma forma de melhorar os seus concidadãos por meio da investigação
filosófica. Para ele, isso implica não buscar “o que é”, mas aperfeiçoar “o que parece
ser”. Por isso, diz o filósofo, o fundamento da vida moral é, em última instância, o
egoísmo, ou seja, o que é o bem para o indivíduo num dado momento de sua
existência.
QUESTÃO 02:
“Assim, Cálicles, desmanchas o nosso convênio e te qualificas para
investigar comigo a verdade, se extremares algo contra tua maneira de
pensar.”
PLATÃO. Górgias. Trad. de Carlos Alberto Nunes.
Belém: EDUFPA, 2002, p. 198, 495a.
A partir do fragmento acima é possível inferir que a base da filosofia socrática é
A) a educação mediante os discursos políticos e jurídicos encenados nos tribunais
atenienses. Sócrates parte das proposições dos adversários para encontrar um
discurso oposto que seja retoricamente persuasivo.
B) a procura da verdade acerca do conhecimento da Natureza e da maneira de pensar
sobre os princípios racionais que governam o cosmos a partir do conhecimento
acumulado pelos filósofos anteriores.
C) a refutação, a partir de um convênio em busca da verdade, de todas as proposições
de seus interlocutores com o intuito de demonstrar que o conhecimento das questões
morais é impossível.
D) a procura da perfeição da alma, mediante o exame de si mesmo e dos
concidadãos, que é a condição da excelência moral. A refutação socrática é,
sobretudo, um modo de testar a verdade da excelência da vida.
E) o ensino da melhor forma de argumentação, em um momento no qual as atividades
políticas eram tidas em alta conta na sociedade ateniense, e exigiam capacidade
argumentativa dos jovens.
Exercícios de fixação:

QUESTÃO 01: (UFU)


Leia atentamente o trecho do diálogo platônico Apologia de Sócrates:
Como se dá, caro amigo, ...não te envergonhes de só te preocupares com
dinheiro e de como ganhar o mais possível, e quanto à honra e à fama, à
prudência e à verdade, e à maneira de aperfeiçoar a alma, disso não
cuidas nem cogitas?
PLATÃO, Apologia de Sócrates. Trad. de Carlos Alberto
Nunes. Belém: EDUFPA, 2001. p. 130, 29d-e.
A partir do texto acima, escolha a alternativa que melhor exprime a ética socrática.

A) Sócrates define a virtude a partir de um conjunto de ações que são ensinadas aos
discípulos por meio de exemplos. Somente a ciência constitui o saber, pois não se
pode conhecer a essência da virtude. O aperfeiçoamento da alma só acontece
através do saber técnico, que permite ao homem voltar-se para a prática do bem.
B) O exame da alma constitui, para Sócrates, simultaneamente uma investigação
acerca da verdade e a escolha de um modo de vida virtuoso. Na investigação sobre a
essência das virtudes são empregadas a refutação e a ironia, que expurgam as falsas
opiniões acerca do bem e conduzem a razão para os verdadeiros valores.
C) O objetivo da investigação filosófica é o exame da natureza e da cosmologia, pelo
qual são delimitados os critérios racionais que permitem o abandono dos falsos
valores e que conduzem ao aperfeiçoamento da alma pela ciência. A investigação
socrática não se ocupa das questões éticas e políticas.
D) O aperfeiçoamento da alma só ocorre pelo abandono das preocupações éticas e
pela investigação racional do discurso lógico. O exame filosófico é propiciado pela
refutação e pela ironia, que permitem a defesa de argumentos contrários e
configuram as regras do discurso político persuasivo.
QUESTÃO 02: (Unimontes)
A originalidade da cidade grega é que ela está centrada na ágora (praça pública),
espaço onde se debatem os problemas de interesse comum. A polis se faz pela
autonomia da palavra, não mais a palavra mágica dos mitos, palavra dada pelos
deuses e, portanto, comum a todos, mas a palavra humana do conflito, da discussão,
da argumentação. O saber deixa de ser sagrado e passa a ser objeto de discussão.
Toma lugar um movimento importante liderado por pensadores que estimulavam e
detinham o domínio da palavra. Os pensadores que estimulavam a arte da palavra e
da discussão foram alvo de críticas de Sócrates.

Assinale a alternativa que indica esses pensadores.


A) Os pensadores a que fazemos referência foram os naturalistas que eram hábeis em
ensinar e viajavam de cidade em cidade ensinando a arte da argumentação.
B) Os pensadores a que fazemos referência foram os enciclopedistas que eram hábeis
em ensinar e viajavam de cidade em cidade ensinando a arte da argumentação.
C) Os pensadores a que fazemos referência foram os sofistas que eram hábeis em
ensinar e viajavam de cidade em cidade ensinando a arte da argumentação.
D) Os pensadores a que fazemos referência foram os materialistas que eram hábeis
em ensinar e viajavam de cidade em cidade ensinando a arte da argumentação.

QUESTÃO 03: (Unimontes)


Via de regra, os sofistas eram homens que tinham feito longas viagens e, por isso
mesmo, tinham conhecido diferentes sistemas de governo. Usos, costumes e leis das
cidades-estados podiam variar enormemente. Sob esse pano de fundo, os sofistas
iniciaram em Atenas uma discussão sobre o que seria natural e o que seria criado pela
sociedade. (GAARDER, J. O Mundo de Sofia. São Paulo: Companhia das Letras,
1995).

Sobre os sofistas, é INCORRETO afirmar que

A) eles tiveram papel fundamental nas transformações culturais de Atenas.


B) eles se dedicaram à questão do homem e de seu lugar na sociedade.
C) eles eram mercenários e só visavam ao lucro na arte de ensinar.
D) eles foram os primeiros a compreender que o “homem é medida de todas as
coisas”.

QUESTÃO 04: (UEM)


Protágoras de Abdera (480-410 a.C.) é considerado um dos mais importantes sofistas.
Ensinou por muito tempo em Atenas, sendo atribuído à sua autoria a seguinte máxima
da filosofia: “O homem é a medida de todas as coisas”. Sobre Protágoras e os
sofistas, assinale o que for correto.

01) De forma semelhante a pensadores contemporâneos, os sofistas problematizam a


multiplicidade de perspectivas do conhecimento.
02) O relativismo de Protágoras pode ser defendido filosoficamente a partir da
percepção do movimento, tese já defendida anteriormente por Heráclito.
04) Platão e Aristóteles contrapuseram-se aos sofistas, ao não defender o homem
como medida de todas as coisas.
08) Em razão de seu humanismo, atribui-se a Protágoras a inversão copernicana, isto
é, a tese de que não é o sol que gira em torno da Terra, mas a Terra que gira em torno
do sol.
16) O saber contido na frase de Protágoras é prático, além de teórico, ou seja,
mobiliza o campo da filosofia para a retórica.

QUESTÃO 05: (UFU)


Assinale (V) ou (F) para as seguintes características gerais do período socrático.
1( ) Sócrates e Platão aceitam a validade das opiniões e das percepções
sensoriais e trabalham com elas para produzir argumentos de persuasão.
2( ) A Filosofia está voltada para a definição das virtudes morais e das virtudes
políticas, tendo como objeto central de suas investigações a moral e a política.
3( ) As idéias se referem à essência íntima, invisível, verdadeira das coisas e só
podem ser alcançadas pelo pensamento puro, que afasta os dados sensoriais, os
hábitos recebidos, os preconceitos, as opiniões.
4( ) O ponto de partida da Filosofia é a confiança no pensamento ou no homem
como um ser racional, capaz de conhecer-se a si mesmo e, portanto, capaz de
reflexão. Reflexão é a volta que o pensamento faz sobre si mesmo para conhecer-se;
é a consciência conhecendo-se a si mesma como capacidade para conhecer as
coisas, alcançando o conceito ou a essência dessas coisas.

QUESTÃO 06: (UFU)


Leia atentamente o texto e assinale (V) para cada afirmação verdadeira e (F) para
cada afirmação falsa.

“(...) Porém a grande superioridade de minha arte consiste na faculdade de


conhecer de pronto se o que a alma dos jovens está na iminência de
conceber é alguma fantasia e falsidade ou fruto legítimo e verdadeiro.
Nesta particular sou igualzinho às parteiras: estéril em matéria de
sabedoria, tendo grande verdade o que me acusam, de só interrogar os
outros, sem nunca apresentar opinião pessoal sobre nenhum assunto, por
carecer, justamente, da sabedoria. E a razão é a seguinte: a divindade me
incita a partejar os outros, porém me impede de conceber. Por isso
mesmo, não sou sábio, não havendo um só pensamento que eu possa
apresentar como tendo sido invenção de minha alma e por ela dado à luz.
Porém os que tratam comigo, suposto que alguns, no começo, pareçam de
todo ignorantes, com a continuação de nossa convivência, quantos a
divindade favorece progridem admiravelmente, tanto no seu próprio
julgamento como no de estranhos. O que é fora de dúvida é que nunca
aprenderam nada comigo; neles mesmos é que descobrem as coisas
belas que põem no mundo, servindo, nisso tudo, eu e a divindade como
parteira”.
Platão, Teeteto, (150b-c) Trad. Carlos Alberto Nunes. Belém: UFPA, 2001,
P.47.
1( ) No trecho acima, Sócrates nomeia a arte que pratica como a maiêutica, visto
que, por meio dela, ele será capaz de gerar seus próprios pensamentos.
2( ) A exposição de Sócrates permite afirmar a defesa do inatismo, ou seja, que
as idéias racionais nascem com os homens, pois a verdade existe na alma e não é
adquirida pela experiência.
3( ) Sócrates claramente afirma, no texto, indagar toda pessoa que se disponha a
discutir exclusivamente valores morais, pois qualquer um pode conceber
pensamentos.
4( ) A atividade socrática afirma, descrita por Platão, exercida por meio de
questionamentos. Comparável ao das parteiras, seu trabalho, em relação à alma, nada
concebe por si, sendo estéril. Mas, mesmo assim, Sócrates se julga capaz de
distinguir o pensamento verdadeiro do falso.

QUESTÃO 07:
Leia atentamente o trecho abaixo da Apologia de Sócrates.
“- Continuo até hoje a andar por toda a parte, obediente à intimação
divina, a examinar e questionar o estrangeiro ou concidadão que se me
afigura sábio. E quando não me parece que o seja, sempre que ponho em
relevo sua ignorância é para bem servir a divindade.”
PLATÃO. Apologia de Sócrates, (23b). Belém: EDUFPA, p. 121.
Considerando o trecho citado e tendo em vista o procedimento de Sócrates e sua
filosofia, marque para as afirmativas abaixo (V) verdadeira ou (F) falsa.
1( ) A investigação socrática é exercida somente no domínio da política. A sua
missão divina consiste em mostrar aos homens sua ignorância na matéria política e
na constituição das leis.
2( ) Na refutação (élenkhos), por meio de perguntas e respostas breves,
Sócrates leva o interlocutor a se comprometer com uma definição P da qual deriva
uma crença Q. A crença Q implica, por sua vez, a consequência não-P, ou seja, uma
afirmação contraditória.
3( ) O exame socrático consiste em interrogar estrangeiros e concidadãos
acerca das questões que dizem respeito somente à imortalidade da alma. Se o
interlocutor revela uma falsa piedade, Sócrates usa a refutação para revelar sua
ignorância em relação à moral religiosa.
4( ) A intimação divina exige um “exame da alma” que visa despojar os homens
da pior ignorância, que é a falsa pretensão de saber. Para Sócrates, não se pode
investigar as ações virtuosas sem que, antes, se conheça o que é a virtude “em si”.

QUESTÃO 08: (UFU)


"Pois eu, Atenienses, devo essa reputação exclusivamente a uma sabedoria. Qual
vem a ser esta sabedoria? A que é, talvez, a sabedoria humana. É provável que eu a
possua realmente, os mestres mencionados há pouco possuem, talvez uma sobre-
humana, ou não sei que diga, porque essa eu não aprendi, e quem disser o contrário
me estará caluniando."
"Submeti a exame essa pessoa – escusado dizer o seu nome; era um
dos políticos. Eis, Atenienses, a impressão que me ficou do exame e da
conversa que tive com ele; achei que ele passava por sábio aos olhos de
muita gente, principalmente aos seus próprios, mas não o era. Meti-me,
então, a explicar-lhe que supunha ser sábio, mas não o era. A
consequência foi tornar-me odiado dele e de muitos dos circundantes. (...)
ele supõe saber alguma coisa, mas não sabe, enquanto eu, se não sei,
tampouco suponho saber."
"E se algum de vós redarguir que se importa, não me irei embora
deixando-o, mas o hei de interrogar, examinar e confundir e, se me parecer
que afirma ter adquirido a virtude e não a adquiriu, hei de repreendê-lo por
estimar menos o que vale mais e mais o que vale menos."
Platão, Defesa de Sócrates. São Paulo, Abril Cultural, 1973. 20d/e;
21c; 29e.
A partir dos textos citados caracterize a filosofia socrática.
QUESTÃO 09: (UFU)
Acusações contra Sócrates:
Acusações mais antigas:
“Sócrates é réu de pesquisar indiscretamente o que há sob a
terra e nos céus, de fazer que prevaleça a razão mais fraca e
de ensinar aos outros o mesmo comportamento.”

Acusações mais recentes (de Meleto):

“Sócrates é réu de corromper a mocidade e de não crer nos


deuses em que o povo crê e sim em outras divindades novas.”
Platão, Defesa de Sócrates. Coleção .Os Pensadores..
São Paulo: Nova Cultural, 1987, pp. 6, 11.
As citações acima correspondem respectivamente às acusações mais antigas e mais
recentes perpetradas contra Sócrates, levando-o a julgamento. Com base nessas
acusações, exponha os principais argumentos do discurso de Sócrates em defesa de
si mesmo, destacando justamente o sentido radical e profundo do pensamento
socrático.

QUESTÃO 10: (UFU)


Em diversos diálogos platônicos, a personagem de Sócrates é caracterizada por um
procedimento investigativo refutatório que se contrapõe ao gênero de discurso
empregado pelos mestres de retórica. Tomando o seguinte extrato do Górgias como
ponto de partida, explicite:
A) os temas que compõem o campo de investigação da Filosofia socrática;
B) o modo como a refutação socrática opera.
“– (...) Receio contestar-te para que não penses que falo menos pelo
prazer de esclarecer o assunto em discussão do que por motivos
pessoais. (..)E em que número me incluo? Entre as pessoas que têm
prazer em ser refutadas, no caso de afirmarem alguma inverdade, e
prazer também em refutar os outros, se não estiver certo, do mesmo
modo, o que disserem, e que tanto se alegram com serem refutadas como
em refutarem (...) ”.
PLATÃO. Górgias. (457e-458a). Belém:
EDUFPA, 2002. p. 142-143.

Modulo 4: Platão e a teoria da reminiscência

Platão nasceu em Atenas em 427 a.C. Seu


verdadeiro nome era Aristócles. Platão era um apelido,
derivado, de acordo com alguns, de seu vigor físico; ou
como outros atestam, da extensão de sua testa (em
grego, platôs significa amplitude, largueza). Platão fazia
parte de uma família bastante ligada ao cenário político
da Grécia. Sua mãe tinha parentesco com Sólon e seu
pai era descendente do rei Codros. Desse modo que
desde a juventude Platão já tinha a política como seu
ideal. Seu primeiro contato com Sócrates se deu quando
Recorte da Obra A escola de estava com aproximadamente vinte anos, sendo que seu
Atenas (1511-1512) do pintor objetivo inicial não era fazer da filosofia a finalidade
Renascentista Rafael.
última de sua vida, mas se preparar melhor para a vida
política. É fato que os acontecimentos e o convívio com Sócrates o encaminharam em
outra direção, e ele dedicou-se, por todo o restante de sua vida, a uma das mais
vastas produções filosóficas da história da filosofia.
- A atividade literária de Platão abrange mais de cinqüenta anos de sua vida: desde a
morte de Sócrates até a sua morte. A parte mais importante da atividade literária de
Platão é representada pelos diálogos – em três grupos principais, segundo certa
ordem cronológica, lógica e formal. As obras de Platão são geralmente classificadas
em diálogos socráticos, de maturidade e de velhice. Os primeiros são diálogos que
defendem a memória de Sócrates e o apresentam discutindo, geralmente, temas
morais, sem chegar, porém, a conclusões, ou seja, são os diálogos aporéticos – sem
saída – de Sócrates, que são combativos e visam acabar com opiniões inconsistentes,
levando o conhecimento verdadeiro às pessoas. Nos diálogos de maturidade Platão
vai afirmando, cada vez mais, a independência de seu pensamento em relação ao de
Sócrates. Mas são os diálogos de velhice que apresentam a última formulação do
pensamento platônico.

O MÉTODO PLATÔNICO

O diálogo, para Platão, não deve permanecer no nível do confronto de


consciências, mas precisa tornar-se o embate entre teses. Deve ser um método que
suba progressivamente do plano relativo e instável das opiniões (doxa) até a
construção de formas mais seguras do conhecimento (episteme), rumo à conquista da
verdade. O método proposto por Platão é, num primeiro momento uma dialética
ascendente, que procura explicar a situação atual do universo e dos seres, não por
uma situação anterior, mas por meio de causas intemporais, que expliquem sempre
porque cada coisa é o que é. Platão, com isso, está adotando um método explicativo
típico da matemática, o método dos geômetras, que consiste basicamente no
seguinte: diante de um problema, levanta-se uma hipótese para resolvê-lo; sendo
satisfatória passa-se então a verificar se ela se sustenta a si mesma, ou se supõe
outra hipótese mais geral, e assim por diante. Cria-se então uma cadeia de hipóteses
interdependentes, que buscam uma sustentação última – uma não-hipótese – que se
baste a si mesma e que sustente todas as demais levantadas anteriormente. Vê-se,
então, na matemática, um prenúncio para essa dialética platônica, pois ela dá uma
idéia do mundo inteligível, já que a geometria nos leva a conceber seres eternos e
imutáveis – linha, reta, círculo, figuras idealmente perfeitas – e toda idéia como
veremos na sua teoria das idéias ou formas de Platão, e imutável, perfeita e eterna.

CRÍTICA AO CONHECIMENTO SENSÍVEL

Segundo Platão, permanecer no nível das sensações impede a construção de um


conhecimento seguro e estável. De fato as sensações fornecem apenas evidências
momentâneas e individuais, e um conhecimento baseado apenas nelas é um
conhecimento somente daquilo que aparece a cada pessoa, no momento em que
aparece como tal. O conhecimento sensível está no plano da opinião e é instável e
relativo ao momento e à forma como se percebe determinada coisa. Dessa maneira
não é possível conhecer nada, pois tudo está constantemente mudando.

SOBRE O CONHECIMENTO

Como em Sócrates a filosofia de Platão tem um fim prático, moral; é a grande


ciência que resolve o problema da vida. Este fim prático realiza-se, no entanto,
intelectualmente através da especulação, do conhecimento da ciência. Mas –
diversamente de Sócrates que limitava a pesquisa filosófica, conceptual ao campo
antropológico e moral – Platão estende tal indagação ao campo metafísico e
cosmológico, isto é, a toda realidade.
Este caráter íntimo, humano, religioso da filosofia, é tornado especialmente vivo,
angustioso pela viva sensibilidade do filósofo em face do universal vir-a-ser, nascer e
perecer de todas as coisas, em face do mal, da desordem que se manifesta em
especial no homem, onde o corpo é inimigo do espírito, o sentido se opõe ao intelecto,
a paixão contrasta com a razão. Assim, Platão o espírito humano peregrino neste
mundo e prisioneiro na caverna do corpo. Deve, pois, transpor este mundo e libertar-
se do corpo para realizar o seu fim, isto é, chegar à contemplação do inteligível.
A diferença essencial entre o conhecimento sensível e o intelectual, universal, está
nisto: o conhecimento sensível, embora verdadeiro não sabe que o é, donde pode
passar indiferentemente ao conhecimento diverso e cair no erro sem o saber, ao
passo que o segundo, além de ser um conhecimento verdadeiro, sabe que o é, não
podendo de modo algum ser substituído por um conhecimento diverso errôneo. Poder-
se-ia também dizer que o primeiro sabe que as coisas estão assim, sem saber porque
o estão, ao passo que o segundo sabe que as coisas devem estar necessariamente
assim como estão, precisamente porque é ciência, isto é, conhecimento das coisas
pelas causas.

A TEORIA DAS IDEIAS

Como principal conseqüência da utilização do método dos geômetras, Platão


propõe que se afirme hipoteticamente a existência de formas ou essências ou idéias,
que seriam modelos eternos das coisas sensíveis. Essas essências seriam
incorpóreas e imutáveis, existindo em si mesmas. Embora Platão as chame também
de idéias, elas não existem na mente humana, como conceitos ou representações
mentais, nem os objetos – de que são modelos –, nem nos sujeitos – que conhecem
esses sujeitos. Cada coisa corpórea e mutável seria o que ela é – uma cadeira, por
exemplo – porque participa da essência que lhe seve de modelo – a cadeira em si, a
essência ou a idéia de cadeira. Uma cadeira que vemos ou tocamos pode ser de metal
ou madeira, de várias cores ou modelos; ela muda, envelhece e é destruída com como
tempo, mas a essência de cadeira permanece sempre a mesma, fora do tempo e do
espaço, é sempre única. Não podemos apreender com os sentido essa essência ou
idéia incorpórea e intemporal, pois nossos sentido só captam o material, dotado de
alguma concretude, que está situado no espaço e no tempo. Só podemos alcançá-la
pelo intelecto.

ALMA E REMINISCÊNCIA

Como o homem – ser concreto que existe no tempo e no espaço – pode conhecer
as essências incorpóreas e intemporais? Essa possibilidade depende de outra
hipótese: é preciso supor que ele possua algo incorpóreo e indestrutível, algo de
natureza semelhante à das idéias. É necessário supor que ele abriga em seu corpo
uma alma, também pura forma imortal. Essa alma já teria contemplado as essências
antes de se prender ao corpo ao qual provisoriamente vinculada. Unida ao corpo,
alojada a ele como em uma prisão ela esquece daquele conhecimento anterior. Mas
os sentidos apreendem objetos que são cópias imperfeitas daquelas essências que a
alma contemplara, e isso permite que ela vá lembrando das idéias. Assim, o
conhecimento é, na verdade, reconhecimento, reminiscência, retorno.

A IDÉIA DE BEM

A adoção do método dos geômetras faz da filosofia, inicialmente, um jogo de


hipóteses. Se até o final o conhecimento permanecer com esse jogo, ele permanecerá
no âmbito do provável, do possível, do hipotético, não chegando à certeza. Desse
modo, a escalada do conhecimento resultará na garantia da verdade se, no final,
depois de percorrer todas as hipóteses, levar ao absoluto, ao necessário, ao não-
hipotético. Platão considera que, usando o conhecimento dialético, o filósofo pode
atingir as essências eternas. E, seguindo as articulações que ligam as essências, vai
conquistando essências cada vez mais gerais, até que por fim, contempla aquele
absoluto, uma superessência. Na República, Platão o denomina de Bem. Ele seria a
fonte de toda a luz, fazendo com que os objetos possam ser conhecidos, e que nós
possamos conhecê-los.

A POLÍTICA: ARISTOCRACIA DE FILÓSOFOS

Para Platão o modelo político presente em sua cidade naquele momento não
representava as melhores possibilidades para um governo em nome da Justiça e do
Bem. É importante, neste momento, que entendamos o que o faz pensar assim. A
base para tal crítica nós já construímos: o ser humano é composto de corpo e alma, e
esta última, antes de ser aprisionada para a experiência sensível, esteve no plano
inteligível, e contemplou diretamente as formas perfeitas. A questão é que as almas
tiveram, ao longo das suas existências, experiências muito distintas, o que fez com
que escolhessem, para a vida que na qual se encontram, projetos também muito
diferentes. Foi isso que fez com que umas optassem por uma vida mergulhada na
satisfação pelos bens materiais, enquanto outras escolheram uma existência mais
contemplativa, de reflexão, dedicada à filosofia.
Em seu famoso dialogo “O Banquete” Platão nos apresenta uma alma que seria
dividida em três partes: racional, emocional e apetitiva, sendo que esta última é
justamente aquela que mais se compraz com a satisfação das necessidades do corpo.
Para ele, uma alma equilibrada possui uma parte racional que reina absoluta sobre as
outras duas, controlando-as de perto. A cidade ideal também seria assim. Nela,
aqueles que possuem a parte racional da alma mais proeminente (almas de ouro) e
que, por isso mesmo, optaram por uma vida menos afeita ao material e mais dedicada
à contemplação, deveriam ser os governantes da polis, os filósofos. Representando as
emoções, porque lutam por amor à cidade, e porque tem na coragem a característica
fundamental, estariam os militares, comandados pela elite de magistrados. No lugar da
parte apetitiva, exatamente porque a têm mais acentuada em sua alma, estariam os
grupos que se dedicariam a cuidar da manutenção material da cidade, os agricultores,
pastores, artesãos, comerciantes. Em tal formação os mais capazes estariam na
posição de comando, e ordenariam a cidade sempre na direção do Bem. Em uma
democracia, como a que existia, os filósofos, sendo minoria, seriam sempre vencidos
nas votações pelos demagogos e pelos insensatos, e as decisões ficariam sempre nas
mãos dos menos capacitados, o que representaria prejuízo para o coletivo.
A ALEGORIA DA CAVERNA

Trata-se de um trecho do Livro VII da República de Platão, as falas na primeira


pessoa são de Sócrates, e seus interlocutores, Glauco e Adimanto, são os irmãos
mais novos de Platão.

- Depois disso, continuei, compara nossa natureza, conforme seja ou não


educada, com a seguinte situação: imagina homens de morada
subterrânea em forma de caverna, provida de uma única entrada com vista
para uma luz em toda sua largura. Encontram-se nesse lugar, desde
pequenos, pernas e pescoço amarradas com cadeias, de forma que são
forçados a ali permanecer e a olhar apenas para frente, impossibilitados,
como se acham, pelas cadeias, de virar a cabeça. A luz de um fogo aceso,
a grande distância brilha no alto e por trás deles; entre os prisioneiros e o
foco de luz há um caminho que passa por cima, ao longo do qual imagina
agora um murozinho, à maneira do tabique que os politiqueiros levantam
entre eles e o público e por cima do qual executam suas habilidades.
- Figuro tudo isso, respondeu.
- Observa, então, ao comprido desse murozinho homens a carregar toda a
sorte de utensílios que ultrapassa a altura do muro, e também estátuas e
figuras de animais, de pedra ou de madeira, bem como objetos da mais
variada espécie. Como é natural, desses carregadores uns conversam e
outros se mantêm calados.
- Imagens muito estranhas, disse, como também os prisioneiros de que
falas.
- Parecem-se conosco, respondi. Para começar achas mesmo que em
semelhante situação poderiam ver deles próprios e dos vizinhos alguma
coisa além da sombra projetada pelo fogo, na parede da caverna que lhes
fica em frente?
- De que jeito, perguntou, se a vida inteira não conseguem mexer a
cabeça?
- E com relação aos objetos transportados, não acontecerá a mesma
coisa?
- Como não?
- Logo, se fossem capazes de conversar, não acreditas que pensariam
estar designando pelo nome certo tudo o que vêem?
- Necessariamente.
- E se no fundo da prisão se fizesse ouvir um eco? Sempre que se falasse
alguma coisa das estátuas, não achas que eles só poderiam atribuir a voz
às sombras em desfile?
- Sim, por Zeus! exclamou.
- De qualquer forma, continuei, para semelhante gente a verdade
consistiria apenas na sombra dos objetos fabricados.
- É mais do que certo, respondeu.
- Considera agora, lhe disse, quais seriam as conseqüências da libertação
desses homens depois de curados de suas cadeias e imaginações, se as
coisas se passassem do seguinte modo: vindo a ser um deles libertado e
obrigado imediatamente a levantar-se, a virar o pescoço, andar e olhar na
direção da luz, não apenas tudo isso lhe causaria dor, como também o
deslumbramento o impediria de ver os objetos cujas sombras até então ele
enxergava. Como achas que responderia a quem afirmasse que tudo o
que ele vira até ali não passava de brinquedo e que somente agora, por
estar mais próximo da realidade e ter o rosto voltado para o que é mais
real é que ele via com maior exatidão; e também se o interlocutor lhe
mostrasse os objetos, à medida que fossem desfilando e o obrigasse, à
custa de perguntas a designa-los pelos nomes? Não te parece que ficaria
atrapalhado e imaginaria ser mais verdadeiro tudo o que ele vira até então
do que como naquele instante lhe mostravam?
- Muito mais verdadeiro, respondeu.
- E no caso de o forçarem a olhar para a luz, não sentiria dor nos olhos e
não correria para junto das coisas que lhe era possível contemplar, certo
de serem todas elas mais claras do que as que lhe então apresentavam?
- Isso mesmo, disse.
- E agora, perguntei; se o arrastassem a força pela rampa rude e empinada
e não o largasse enquanto não houvessem alcançado a luz do sol não te
parece que sofreria bastante e se revoltaria por ver-se tratado daquele
modo? E depois de estar no claro, não ficaria com a vista ofuscada sem
enxergar nada do que lhe fosse então indicado como verdadeiro?
- De fato, respondeu; pelo menos no começo.
- Precisaria, creio, habituar-se para poder contemplar o mundo superior.
De início, perceberia mais facilmente as sombras; ao depois as imagens e
dos outros objetos refletidos na água; por último os objetos, no rasto deles,
o que se encontra no céu e o próprio céu, porém sempre enxergando, com
mais facilidade, durante a noite, à luz da lua e das estrelas, do que de dia
ao Sol com todo o seu fulgor.
- Não há dúvida.
- Finalmente, segundo penso, também o Sol, não na água ou sua imagem
refletida em qualquer parte, mas no lugar certo, que ele poderia ver e
contemplar tal como é mesmo.
- Necessariamente, disse.
- De raciocínio em raciocínio, chegaria à conclusão de que o Sol é que
produz as estações e tudo dirige no espaço visível, e que, de alguma
modo, é a causa do que ele e seus companheiros estavam habituados a
distinguir.
- É evidente, respondeu, que depois de tudo, ele concluiria dessa maneira.
- E então? Quando se lembrasse de sua primitiva morada, da sabedoria lá
reinante e dos companheiros de prisão: não te parece que se felicitaria
pela mudança e lastimaria a sorte deles todos?
- Sem dúvida.
- E as honrarias e os elogios entre eles mesmos, os prêmios para quem
percebesse com mais nitidez as imagens em desfile e se lembrasse com
exatidão do que costumava aparecer em primeiro lugar ou por último, ou
concomitantemente, e que por isso, ficasse em condições de prever o que
iria dar-se: acredita-se que semelhante indivíduo do outro tempo ou
invejasse os que entre eles fossem alvo de distinções ou fizessem parte do
governo? Ou com ele se passaria aquilo de Homero: Pois preferira viver
empregado em trabalhos do campo, sob um senhor sem recursos e vir a
sofrer seja o que for a voltar para semelhantes ilusões e viver a antiga
vida?
- É também o que penso, respondeu; agüentaria tudo para não voltar a
viver daquele jeito.
- Considera também o seguinte, lhe falei: se esse indivíduo baixasse de
novo para ir sentar-se ao seu antigo lugar, não ficaria com os olhos
obnubliados pelas trevas por vir da luz do Sol assim tão de repente?
- Sem dúvida, respondeu.
- E se tivesse de competir outra vez a respeito das sombras com aquele
eternos prisioneiros quando ainda se ressentisse da fraqueza da vista, por
não se ter habituado com o escuro – o que não exigiria pouco tempo – não
se tornaria objeto de galhofa dos outros e não diriam estes que o passeio
lá por cima lhe estragara a vista e que não valia a pena sequer tentar
aquela subida? E se por ventura ele procurasse liberta-los e conduzi-los
para cima, caso fosse possível aos outros fazer uso das mãos e mata-lo,
não lhe tiraria a vida?
- Com toda certeza, respondeu.
- Agora, meu caro Glauco, precisarás essa alegoria a tudo que expusemos
antes, para compartilhar, para comparar o mundo percebido pela visão
com o domicílio carcerário, e a luz do fogo que nele esplende com a
energia do Sol. Quanto à subida para o mundo superior e a contemplação
do que lá existe se vires nisto a ascensão da alma para a região inteligível,
não te terás desviado das minhas esperanças, já que tanto ambicionas
conhecê-las. Só Deus sabe se esta de acordo com a verdade. O que vejo,
pelo menos, é o seguinte: no limite extremo da região do cognoscível está
a idéia do bem, dificilmente perceptível, mas que, uma vez apreendida,
impõe-nos de pronto a conclusão de que é a causa de tudo o que é belo e
direito, a geratriz, no mundo visível, da luz e do senhor da luz, como no
mundo inteligível é dominadora, fonte imediata da verdade e da
inteligência, que precisará ser contemplada por quem quiser agir com
sabedoria, tanto na vida pública como na particular.
- Concordo com tua maneira de pensar, me disse, até onde consigo
acompanhar.
(PLATÃO, 1988, p. 281-284)
BREVE EXPLICAÇÃO DA ALEGORIA DA CAVERNA

O que é a caverna? O mundo em que vivemos. Que são as sombras das


estatuetas? As coisas materiais e sensoriais que percebemos. Que é o prisioneiro que
se liberta e sai da caverna? O filósofo. O que é a luz exterior do Sol? A luz da verdade.
O que é o mundo exterior? O mundo das idéias ou da verdadeira realidade. Qual o
instrumento que liberta o filósofo e com o qual ele deseja libertar os outros
prisioneiros? A dialética. O que é a visão do mundo real iluminado? A filosofia. Por que
os prisioneiros zombam e, se pudessem, matariam o filósofo (aqui Platão se refere a
condenação de Sócrates à morte pela assembléia ateniense)? Porque imaginam que o
mundo sensível é o mundo real e o único verdadeiro.
Após essa breve explanação de alguns pontos referentes a Alegoria da Caverna,
passaremos a análise dos seus dois aspectos mais importantes, o epistemológico
(referente ao conhecimento) e o político (relativo ao poder).
Na dimensão epistemológica, percebe-se a distinção das duas principais formas de
conhecimento enunciadas por Platão na sua “Teoria das Idéias”: doxa ou opinião,
referente ao mundo sensível, dos fenômenos, e a episteme referente ao mundo
inteligível das idéias.
O mundo sensível, acessível aos sentidos, é o mundo da multiplicidade, do
movimento, e é ilusório, pura sombra do verdadeiro mundo. Assim, mesmo se
percebemos inúmeras abelhas dos mais variados tipos, a idéia de abelha deve
permanecer imutável, deve ser una, consistindo, assim, na verdadeira realidade. Com
isso Platão se aproxima do instrumental teórico de Parmênides.
Do seu mestre aproveita a noção de logos, e continuando o processo de
compreensão do real, cria a palavra idéia (eidos), para referir-se a intuição intelectual,
distinta da intuição sensível.
Portanto acima do ilusório mundo sensível, há o mundo das idéias gerais, da
essências imutáveis que o homem atinge pela contemplação e pela depuração dos
enganos dos sentidos.
Sendo as idéias a única verdade, o mundo dos fenômenos só existe na medida em
que participa do mundo das idéias do qual é apenas sombra ou cópia. Por exemplo,
um cavalo só é um cavalo enquanto participa da idéia de “cavalo em si”.
Se lembrarmos do que foi dito, a respeito dos Pré-socráticos, podemos verificar
que Platão tenta superar a oposição do pensamento de Heráclito (que afirma a eterna
mutabilidade do ser) com a posição de Parmênides (que afirma a imobilidade do ser).
Para Platão, a mutabilidade do ser da teoria do primeiro refere-se ao mundo sensível
(da doxa), e a imutabilidade do ser da teoria do segundo refere-se ao mundo
inteligível, ou mundo das idéias.
A questão política, que também pode ser trabalhada na “Alegoria da Caverna”,
permite ao aluno pensar sobre o seu mundo através da analogia do homem que sai da
caverna, vê o mundo como ele realmente é e retorna para tentar mostrar aos outros o
que é a realidade, contudo, se estes pudessem, o matariam. Nesta passagem do VII
livro da República, Platão se refere a Sócrates que conheceu a realidade e tentou abrir
os olhos dos atenienses. Pergunta-se então: Por que os governantes de Atenas
fizeram de tudo para condenar e matar Sócrates, acusando-o de ser o corruptor da
mocidade? É simples, porque Sócrates estava fazendo uma revolução, mostrando aos
atenienses que aquilo que julgavam conhecer estava errado, sendo que, com isso, ele
demonstrou que inclusive o conceito de virtude – que todos julgavam que os
governantes possuíam, e por isso tinham direito de comandar a polis – estava errado,
então, por que aquele que descobri que não é virtuoso está no poder? Sócrates
estava mostrando que todos os conhecimentos e costumes que a sociedade de
Atenas tinha – e mantinha os governantes no poder – estavam errados, e isso era
prejudicial aos que detinham o poder, por isso era necessário calar Sócrates.
Outra analogia possível é a de que Sócrates fosse a “esquerda” e os governantes
de Atenas a “direita”, a primeira diz que o governo da “direita” está errado e mostra por
que, e por isso são tachados de comunistas, alienados, loucos, anarquistas e muito
mais. Estes são conceitos que não haviam na época, mas que representam a situação
atualizada do acontecido, daí vê-se o por que do empenho em continuar com os
cursos técnicos, e da crítica aos ditos cursos de humanas, os primeiros formam
profissionais e os outros intelectuais, sendo estes últimos nada mais do que problemas
para o sistema posto pelos governantes.
A sociedade deve ser constituída de homens iguais, sendo que através do voto
escolhe-se alguns para serem não governantes, mas representantes, ou seja, o povo
paga alguém para que tome conta do que é público, dessa forma o “governante” não é
nada mais que um empregado do povo, que não está conseguindo cumprir a sua
função, pois as sociedades – cidades, Estados, países – estão um caos.
E aí proponho a seguinte questão: em uma empresa privada, um empregado
descontente com seu salário pode aumentá-lo? A resposta é NÃO. Então por que o
empregado do povo pode? Por que se encontra tantas dificuldades para demitir esse
empregado quando ele não cumpre seu papel? Por que contratamos alguém para
tomar conta de tudo que é público e encontra-se estradas esburacadas, sem
sinalização, não há atendimento médico, dentre outras coisas e, mesmo assim, não se
consegue demiti-lo? É pelo fato de que a minoria da população não pensa assim, ou
não tem consciência desses fatores, imaginam que são governados, e os governantes
têm o poder e, por isso, nada se pode fazer.
Todas essas reflexões parecem estar distantes do que é exposto por Platão na
“Alegoria da Caverna”, mas não está, pois Sócrates morreu para que não abrisse a
mente dos atenienses para fatores como esses. Apresento o seguinte exemplo no
intuito de esclarecer melhor ainda a relação feita acima: Se, para os atenienses, o que
dá direito ao governo é o fato de um homem ser virtuoso e Sócrates mostra que o que
eles tinham como virtude está errado, o povo de Atenas poderia se perguntar: Por que
ele está no poder? Eu o considerava virtuoso, porém, vi que o que considerava virtude
está errado, então ele não é mais virtuoso e por isso deve deixar o poder. É claro que
as coisas não aconteciam de forma tão simples, mas o raciocínio é correto e caso
viesse a ser colocado poderia acabar com a forma de governo posta no momento.

Exercícios propostos:

QUESTÃO 01: (UEL)


Leia o texto a seguir.

Para esclarecer o que seja a imitação, na relação entre poesia e o Ser, no Livro
X de A República, Platão parte da hipótese das ideias, as quais designam a
unidade na pluralidade, operada pelo pensamento. Ele toma como exemplo o
carpinteiro que, por sua arte, cria uma mesa, tendo presente a ideia de mesa,
como modelo. Entretanto, o que ele produz é a mesa e não a sua ideia. O
poeta pertence à mesma categoria: cria um mundo de mera aparência.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a teoria das ideias de Platão, é correto
afirmar:
A) Deus é o criador último da ideia, e o artífice, enquanto coparticipante da criação
divina, alcança a verdadeira causa das coisas a partir do reflexo da ideia ou do
simulacro que produz.
B) A participação das coisas às ideias permite admitir as realidades sensíveis como as
causas verdadeiras acessíveis à razão.
C) Os poetas são imitadores de simulacros e por intermédio da imitação não alcançam
o conhecimento das ideias como verdadeiras causas de todas as coisas.
D) As coisas belas se explicam por seus elementos físicos, como a cor e a figura, e na
materialidade deles encontram sua verdade: a beleza em si e por si.
E) A alma humana possui a mesma natureza das coisas sensíveis, razão pela qual se
torna capaz de conhecê-las como tais na percepção de sua aparência.

QUESTÃO 02: (UEL)


Leia o texto a seguir e responda à questão.

Texto I
– Considera pois – continuei – o que aconteceria se eles fossem soltos das
cadeias e curados da sua ignorância, a ver se, regressados à sua natureza, as
coisas se passavam deste modo. Logo que alguém soltasse um deles, e o
forçasse a endireitar-se de repente, a voltar o pescoço, a andar e a olhar para a
luz, a fazer tudo isso, sentiria dor, e o deslumbramento impedi-lo-ia de fixar os
objetos cujas sombras via outrora. Que julgas tu que ele diria, se alguém lhe
afirmasse que até então ele só vira coisas vãs, ao passo que agora estava
mais perto da realidade e via de verdade, voltado para objetos mais reais? E se
ainda, mostrando-lhe cada um desses objetos que passavam, o forçassem com
perguntas a dizer o que era? Não te parece que ele se veria em dificuldade e
suporia que os objetos vistos outrora eram mais reais do que os que agora lhe
mostravam? (PLATÃO. A República. 7. ed. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1993.
p. 318-319.)

O texto é parte do livro VII da República, obra na qual Platão desenvolve o célebre
Mito da Caverna.
Sobre o Mito da Caverna, é correto afirmar.

I. A caverna iluminada pelo Sol, cuja luz se projeta dentro dela, corresponde ao mundo
inteligível, o do conhecimento do verdadeiro ser.
II. Explicita como Platão concebe e estrutura o conhecimento.
III. Manifesta a forma como Platão pensa a política, na medida em que, ao voltar à
caverna, aquele que contemplou o bem quer libertar da contemplação das sombras os
antigos companheiros.
IV. Apresenta uma concepção de conhecimento estruturada unicamente em fatores
circunstanciais e relativistas.

Assinale a alternativa correta.


A) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
B) Somente as afirmativas II e III são corretas.
C) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
D) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
E) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas.

QUESTÃO 03: (Unimontes)


Durante muito tempo, os filósofos ocidentais explicaram o ser humano como composto
de duas partes diferentes e separadas: o corpo (material) e a alma (espiritual). Essa
tendência recebe o nome de

A) dualismo psicofísico.
B) psicomaterialismo.
C) monofisismo.
D) somatismo.

Questões Enem:

QUESTÃO 01:
“Sócrates: Tomemos como princípio que todos os poetas, a começar por
Homero, são simples imitadores das aparências da virtude e dos outros
assuntos de que tratam, mas que não atingem a verdade. São
semelhantes nisso ao pintor de que falávamos há instantes, que
desenhará uma aparência de sapateiro, sem nada entender de sapataria,
para pessoas que, não percebendo mais do que ele, julgam as coisas
segundo a aparência?”
Glauco – “Sim”.
Fonte: PLATÃO. A República. Tradução de Enrico Corvisieri.
São Paulo: Nova Cultural, 1997. p.328.

Muito da filosofia de Platão pode ser vinculado ao conceito de mímesis, que significa
cópia ou imitação. Sobre este conceito percebe-se que tal filósofo
A) critica a pintura e a poesia porque ambas são apenas imitações diretas da
realidade.
B) entende que os poetas e pintores têm um conhecimento válido dos objetos que
representam.
C) compreende que tanto os poetas quanto os pintores estão afastados dois graus da
verdade.
D) critica os poetas e pintores porque estes, à medida que conhecem apenas as
aparências, não têm nenhum conhecimento válido do que imitam ou representam.
E) defendia que a poesia e a pintura são cópias imperfeitas do mundo das ideias ou
inteligível.

QUESTÃO 02:
“Você está acompanhando, Sofia? E agora vem Platão. Ele se interessava
tanto pelo que é eterno e imutável na natureza quanto pelo que é eterno e
imutável na moral e na sociedade. Sim... para Platão tratava-se, em ambos
os casos, de uma mesma coisa. Ele tentava entender uma ‘realidade’ que
fosse eterna e imutável. E, para ser franco, é para isto que os filósofos
existem. Eles não estão preocupados em eleger a mulher mais bonita do
ano, ou os tomates mais baratos da feira. (E exatamente por isso nem
sempre são vistos com bons olhos). Os filósofos não se interessam muito
por essas coisas efêmeras e cotidianas. Eles tentam mostrar o que é
‘eternamente verdadeiro’, ‘eternamente belo’ e ’eternamente bom’.”
GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia. Trad. de João Azenha Jr.
São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 98.

O texto acima faz referência a um dos mais importantes filósofos da antiguidade,


Platão, que viveu em Atenas. Para este filósofo

A) o mundo das idéias é o mundo do “eternamente verdadeiro”, “eternamente belo” e


“eternamente bom” e é distinto do mundo sensível no qual vivemos.
B) tudo aquilo que pode ser percebido diretamente pelos sentidos constitui a própria
realidade das coisas.
C) era impossível que o homem pudesse ter idéias verdadeiras sobre qualquer coisa,
seja sobre a natureza, a moral ou a sociedade, porque tudo é sonho e ilusão.
D) as idéias sobre a natureza, a moral e a sociedade podem ser explicadas a partir
das diferentes opiniões das pessoas.
E) o filósofo deve preocupar-se com as coisas efêmeras e cotidianas do mundo, tidas
por ele como as mais importantes.

Exercícios de Fixação:
QUESTÃO 01: (Unimontes)
No livro VII de A República, Platão ilustra o seu pensamento com o famoso mito da
caverna. A análise do mito pode ser feita sob dois pontos de vista: o epistemológico e
o político. Pensando na dimensão política, marque a alternativa INCOMPATÍVEL com
o ponto de vista de Platão.

A) A família e a propriedade devem ser mantidas, pois representam um bem para o


Estado.
B) A família e a propriedade devem desaparecer e o Estado deve incumbir-se da
educação das crianças.
C) O fim da família e da propriedade colocam fim à cobiça e aos interesses
decorrentes dos laços familiares.
D) As pessoas são diferentes e devem ocupar lugares diferentes na sociedade.

QUESTÃO 02: (UFU)


Leia o trecho abaixo.

E que existe o belo em si, e o bom em si, e, do mesmo modo,


relativamente a todas as
coisas que então postulamos como múltiplas, e, inversamente,
postulamos que a cada uma
corresponde uma idéia, que é única, e chamamos-lhe a sua essência
(507b-c).
PLATÃO. República. Trad. de Maria Helena da Rocha Pereira.
8ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. 1996.

Marque a alternativa que expressa corretamente o pensamento de Platão.


A) Somente por meio dos sentidos, em especial da visão, pode o filósofo obter o
conhecimento das idéias.
B) No pensamento platônico, o conhecimento das idéias permite ao filósofo discernir a
unidade inteligível em face da multiplicidade sensível.
C) Para que a alma humana alcance o conhecimento das idéias, ela deve elevar-se às
alturas do inteligível, o que somente é possível após a morte ou por meio do contato
com os deuses gregos.
D) Tanto a dialética quanto a matemática elevam o conhecimento ao inteligível; mas,
somente a matemática, por seu caráter abstrato, conduz a alma ao princípio supremo:
a idéia de Bem.

QUESTÃO 03: (UFU)


Leia o seguinte trecho da Alegoria da Caverna.

Agora imagine que por esse caminho as pessoas transportam sobre a


cabeça objetos de todos os tipos: por exemplo, estatuetas de figuras
humanas e de animais. Numa situação como essa, a única coisa que os
prisioneiros poderiam ver e conhecer seriam as sombras projetadas na
parede a sua frente.
CHALITA, G. Vivendo a Filosofia. São Paulo: Ática, 2006, p. 50.

Com base na leitura do trecho acima e em seus conhecimentos sobre a obra de


Platão (428 a.C. – 348 a.C.), assinale a alternativa INCORRETA.

A) Platão distingue o mundo sensível ou das aparências, onde tudo o que se capta por
meio dos sentidos pode ser motivo de engano, e o mundo inteligível, onde se
encontram as ideias a partir das quais surgem os elementos do mundo sensível.
B) Platão tinha como principal objetivo o conhecimento das ideias: realidades
existentes por si mesmas, essências a partir das quais podem ser geradas suas
cópias imperfeitas.
C) O pensamento de Platão deu origem aos fundamentos da ciência moderna graças
ao seu método de observação e experimentação para o conhecimento dos fenômenos
naturais.
D) A obra de Platão está fundamentada em um método de investigação conhecido
como dialética cujo objetivo é superar a simples opinião (doxa) e atingir o
conhecimento verdadeiro ou ciência (episteme).

QUESTÃO 04: (UEM)


Para Platão, o mundo sensível, que se percebe pelos sentidos, é o mundo da
multiplicidade, do movimento, do ilusório, sombra do verdadeiro mundo, isto é, o
mundo inteligível das ideias. Sobre a filosofia de Platão, assinale o que for correto.

01) É com a teoria da reminiscência que Platão explica como é possível ultrapassar o
mundo das aparências; essa teoria permite explicar como os sentidos servem apenas
para despertar na alma as lembranças adormecidas do mundo das ideias.
02) Para Platão, um homem só é um homem enquanto participa da ideia de homem.
04) A epistemologia e a filosofia política são, para Platão, duas áreas de conhecimento
dissociadas, pois a política deve se submeter à realidade dos acontecimentos e não
pode ser orientada por um mundo ideal.
08) Platão distingue quatro graus de conhecimentos: crença, opinião, raciocínio e
intuição intelectual. O raciocínio, que se realiza de maneira perfeita na matemática,
purifica o pensamento das crenças e opiniões e o conduz à intuição intelectual, ao
verdadeiro conhecimento, isto é, às essências das coisas – às ideias.
16) A teoria cosmológica do primeiro motor imóvel e a teoria estética da mímesis, de
Aristóteles, fundamentam-se na teoria platônica da participação entre o mundo
fenomênico e o mundo das ideias.

QUESTÃO 05: (UEM)


Uma das obras de Platão (428-347 a.C.) mais conhecidas é A República, na qual se
encontra o mito da caverna. “Platão imagina uma caverna onde pessoas estão
acorrentadas desde a infância, de tal forma que, não podendo ver a entrada dela,
apenas enxergam o seu fundo, no qual são projetadas as sombras das coisas que
passam às suas costas, onde há uma fogueira. Se um
desses indivíduos conseguisse se soltar das correntes para contemplar, à luz do dia,
os verdadeiros objetos, ao regressar, relatando o que viu aos seus antigos
companheiros, esses o tomariam por louco e não acreditariam em suas palavras.”
(ARANHA, M.L.A. e MARTINS, M.H. Filosofando: introdução à filosofia. 3.ª ed. revista.
São Paulo: Moderna, 2003, p.121).

Sobre a citação acima e o alcance epistemológico do mito da caverna, assinale o que


for correto.

01) As imagens produzidas na caverna são sombras que não devem ser confundidas
com a realidade.
02) A todo aquele que sai da caverna é vetada a possibilidade de retorno.
04) A imagem da fogueira substitui, fora da caverna, a presença do sol, responsável
pela verdadeira luz.
08) Tal qual o mito da Esfinge, decifrado por Odisseu, Platão descreve três estados da
humanidade: infância, juventude e maturidade.
16) Tal qual o mundo sensível, ilusório e efêmero, as imagens da caverna possuem
um grau ontológico deficitário ou duvidoso.

QUESTÃO 06: (UEL)


“Quando é, pois, que a alma atinge a verdade? Temos de um lado que,
quando ela deseja investigar com a ajuda do corpo qualquer questão que
seja, o corpo, é claro, a engana radicalmente.
- Dizes uma verdade.
- Não é, por conseguinte, no ato de raciocinar, e não de outro modo, que a
alma apreende, em parte, a realidade de um ser?
- Sim.
[...] - E é este então o pensamento que nos guia: durante todo o tempo em
que tivermos o corpo, e nossa alma estiver misturada com essa coisa má,
jamais possuiremos completamente o objeto de nossos desejos! Ora, esse
objeto é, como dizíamos, a verdade.”
PLATÃO. Fédon. Trad. Jorge Paleikat e João Cruz
Costa. São Paulo: Nova Cultural, 1987. p. 66-67.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a concepção de verdade em Platão, é
correto afirmar:
A) O conhecimento inteligível, compreendido como verdade, está contido nas idéias
que a alma possui.
B) A verdade reside na contemplação das sombras, refletidas pela luz exterior e
projetadas no mundo sensível.
C) A verdade consiste na fidelidade, e como Deus é o único verdadeiramente fiel,
então a verdade reside em Deus.
D) A principal tarefa da filosofia está em aproximar o máximo possível a alma do corpo
para, dessa forma, obter a verdade.
E) A verdade encontra-se na correspondência entre um enunciado e os fatos que ele
aponta no mundo sensível.
QUESTÃO 07: (UFU)
O parágrafo abaixo, retirado da República de Platão, integra uma célebre imagem
que é conhecida na História da Filosofia como “analogia do Sol”.
“- Podes, portanto, dizer que é o Sol, que eu considero filho do bem, que o
gerou à sua semelhança, o qual bem é, no lugar inteligível, em relação à
inteligência e às coisas inteligíveis, o mesmo que o Sol é no lugar visível,
com relação à vista e às coisas visíveis.”
PLATÃO. República. VI, (508c).
Com relação à narrativa que expõe a “analogia do Sol”, marque para as afirmativas
abaixo (V) verdadeira ou (F) falsa.
1( ) O Bem representa a Divindade; e o Sol, gerado à sua imagem e
semelhança, representa a inteligência humana. A existência dos seres visíveis não
depende da presença do Sol. Do mesmo modo, a existência das Formas inteligíveis
não depende do Bem.
2( ) A alma é a sede da inteligência, como o olho é o órgão da visão. Além de
causar a luz, o Sol é a causa da geração e crescimento do seres visíveis.
Analogamente, o Bem é a causa da inteligibilidade das Formas e da existência do Ser
de todas as coisas.
3( ) A luz representa para a visão o mesmo que a Verdade e a Justiça
representam para a inteligência. Assim como o olho só pode ver algo visível por meio
da luz solar, assim também a inteligência só pode apreender a Forma inteligível se for
iluminada pelo Bem.
4( ) Para Platão, o mundo inteligível e as Formas, por serem divinos, não têm
nenhuma relação com o mundo visível humano. O Sol simboliza a inteligência
humana e é apenas uma imagem enfraquecida do Bem, que só pode ser alcançado
pela inteligência divina.

QUESTÃO 08: (UFU)


"Fica sabendo que o que transmite verdade aos objetos que podem ser
conhecidos e dá ao sujeito que conhece esse poder, é a idéia do bem.
Entende que é ela a causa do saber e da verdade, na medida em que esta
é conhecida, mas, sendo ambos assim belos, o saber e a verdade, terás
razão em pensar que há algo de mais belo ainda do que eles. E, tal como
se pode pensar corretamente que neste mundo a luz e a vista são
semelhantes ao sol, mas já não é certa tomá-las como pelo sol, da mesma
maneira, no outro, é correto considerar a ciência e a verdade, ambas elas
semelhantes ao bem, mas não está certo tomá-las, a uma ou a outra, pelo
bem, mas sim formar um conceito mais elevado do que seja o bem."
Platão. A República, 5. ed, tradução de Maria Helena da Rocha Pereira.
Porto: Fundação Calouste Gulbenkian, 1987. 508e – 509a)
A partir da análise do trecho acima pergunta-se: para Platão a verdade do
conhecimento necessita ou não de uma norma superior? Justifique a resposta
explicando a analogia que Platão estabelece entre o inteligível e o sensível.
QUESTÃO 09: (UFU)
Leia, abaixo, o trecho de Platão, extraído da Apologia de Sócrates.

“(…) descobrem uma multidão de pessoas que supõem saber alguma


coisa, mas que na verdade pouco ou nada sabem. (…) e afirmam que
existe um tal Sócrates (…) que corrompe a juventude. Quando se lhes
pergunta por quais atos ou ensinamentos, não têm o que responder; não
sabem, mas para não mostrar seu embaraço apresentam aquelas
acusações que repetem contra todos os que filosofam: ‘as coisas do céu e
o que há sob a terra; o não crer nos deuses; fazer prevalecer o discurso e
a razão mais fraca’. Isso porque não querem dizer a verdade: terem dado
prova de que fingem saber, mas nada sabem.”
Apol., 23 c-e.
A partir do trecho apresentado acima, responda às seguintes questões.
A) Para Platão, qual a verdadeira acusação que se faz contra Sócrates?
B) Quais elementos característicos da filosofia socrática podem ser extraídos deste
trecho?
C) Que acusações, tendo em vista as características específicas da filosofia de
Sócrates, são apresentadas como não tendo fundamento?

QUESTÃO 10: (UFU)


Platão é conhecido, na história da Filosofia, como o filósofo que propôs a hipótese da
existência de uma ordem de realidade inteligível que é, ao mesmo tempo, distinta dos
seres sensíveis e em relação com eles.
– “Logo – prosseguiu Sócrates – não compreendo nem posso admitir
aquelas outras causas científicas. Se alguém me diz por que razão um
objeto é belo, e afirma que é porque tem cor ou forma, ou devido a
qualquer coisa desse gênero – afasto-me sem discutir, pois todos esses
argumentos me causam unicamente perturbação. Quanto a mim, estou
firmemente convencido, de um modo simples e natural, e talvez até
ingênuo, que o que faz belo um objeto é a existência daquele belo em si,
de qualquer modo que se faça a sua comunicação com este. O modo por
que essa participação se efetua, não o examino neste momento; afirmo
apenas, que tudo o que é belo é belo em virtude do Belo em si.”
PLATÃO, Fédon, 100 c-d. Trad. e notas de Jorge Paleikat e João Cruz
Costa.
5ª ed. São Paulo: Nova Cultural, 1991, p. 107. (Os Pensadores)
A partir do trecho do Fédon explicite:
A) a hipótese proposta por Platão;
B) a relação entre essas duas ordens de realidade.

Módulo 05: Aristóteles: Metafísica e Lógica.

Nascido em Estagira, fronteira com a Macedônia,


Aristóteles (384-322 a.C) era filho de um médico,
Nicômaco. Aos dezoito anos passa a viver em Atenas,
onde se iniciam seus estudos na Academia, escola
filosófica fundada por Platão. Permaneceu aí por
aproximadamente vinte anos, até a morte de seu
mestre. Após isso é convidado por Filipe II, rei da
Macedônia, auxiliar na formação do jovem Alexandre,
função que ocupa até a coroação do rapaz. Retorna
para Atenas e funda o Liceu, local no qual se realizam estudos de filosofia e de
alguns ramos da ciência, como física e biologia. Desse autor estudaremos três
campos do conhecimento, quais sejam: a metafísica, a lógica e a ética.

A METAFÍSICA.
O primeiro campo que estudaremos de Aristóteles é a Metafísica, que foi
denominada pelo filósofo de filosofia primeira, e consistiria basicamente no
estudo do ser e das suas causas. Ao estudar tais temas, no entanto, nosso
pensador se afasta do idealismo platônico, adotando uma posição que
denominaremos de empirista, ou realista. O realismo aristotélico representa, na
Grécia antiga, ao lado das filosofias de Sócrates e Platão, outra tentativa de
superação da oposição dos pensamentos de Parmênides e Heráclito. O
primeiro negava a realidade do movimento e da mudança, enquanto o segundo
via o Ser, sobretudo, como o vir-a-ser, afirmando que toda permanência e
estabilidade resultam do equilíbrio entre os pólos opostos.
Defendendo a possibilidade de uma ciência sobre o real e concreto,
Aristóteles afirma que é possível conhecer o que é o real concreto e mutável
por meio de definições e conceitos que permanecem inalterados. Basta que,
para isso, seja estabelecido previamente o que importa ser conhecido acerca
do Ser, distinguindo-o daquilo que pode ser deixado de lado por ser meramente
ocasional, factual ou acidental. Considera o universo como um todo ordenado
segundo leis constantes e imutáveis. Essa ordem imutável e eterna rege não
só os fenômenos da natureza como também os de ordem política, moral ou
estética. Antecedendo, como fundamento, as diversas ciências que se
interessam por determinados aspectos do ser, existe uma ciência “primeira”, a
Sabedoria (depois designada como Metafísica),que estuda o Ser e procura
enunciar essa ordem subjacente que torna inatingíveis todos os fenômenos.
Dessa forma a Filosofia de Aristóteles representa um grande esforço para
solucionar o problema do Ser e da ciência. Em face disto ele tem que dar a
tríplice resposta: a Parmênides, a Heráclito e a Platão.
Com relação ao primeiro, Aristóteles rompe a realidade compacta, estática,
imóvel e indiferenciada do Ser parmenídeo, mediante as noções de per se e
per accidens assim como as de ato e potência. Desse modo, afirmamos todo
ser como composto de uma essência, conjunto de atributos imutáveis, que
definem o que o ser é, e de acidentes, características mutáveis do ser, sem
que essa modificação interfira na essência. Podemos, por exemplo, afirmar que
a essência do ser humano é composta de sua mortalidade, de sua animalidade
e de sua racionalidade, enquanto o fato de ser mais alto ou mais baixo, mais
gordo ou mais magro, ter olhos claros ou escuros, seriam atributos acidentais.
Assim sendo, não existe um ser único, mas muitos seres. Cada Ser é uma
substância individual concreta que pode ser afetada de muitos modos por
múltiplas modificações acidentais. O Ser uno não passa de um conceito
abstrato da mente. Ao conceito unívoco de Parmênides opõe o seu conceito
analógico: “O ente e o uno dizem-se de muitos modos.”
Com a teoria do ato e da potência Aristóteles salva o movimento dos seres.
Não é o Ser que se move, mas os seres concretos e particulares. Todos os
seres, exceto o Primeiro Motor Imóvel, movem-se.
Em resposta a Heráclito nosso autor recorda que os seres particulares
movem-se, mas as essências são imóveis e permanecem através de todas as
mudanças e mutações.
Por fim, em contraposição a Platão, Aristóteles considera que não existem
dois mundos ontologicamente distintos, mas sim um só. Os universais
(substâncias segundas) não têm realidade ontológica, mas lógica. São
conceitos formados pela mente mediante abstração. A verdadeira realidade
ontológica é constituída pelas substâncias individuais (substâncias primeiras)
em suas três grandes definições: terrestres, celestes e divina.
Aristóteles não usa a palavra Metafísica, mas sim Filosofia Primeira. Ele
pensa em uma ciência cujo objeto não é nenhuma parte determinada do Ser,
como, por exemplo, a medicina ou a matemática, mas o Ser em geral, isto é, o
Ser como tal, com o que dele depende: “Há uma ciência que considera o Ser
como tal e com tudo o que essencialmente lhe concerne.” A esta ciência, ou
seja, a Filosofia Primeira cabe o estudo dos primeiros princípios das primeiras
causas de todas as coisas e investiga o “Ser enquanto Ser”.
Ao definir a ontologia ou Metafísica como o estudo do “Ser enquanto Ser”,
Aristóteles está dizendo que a Filosofia Primeira estuda as essências sem
diferenciar essência física, matemática, astronômica, humana, etc., pois cabe
às diferentes ciências estudá-las enquanto diferentes entre si. Quanto à
Metafísica cabem três estudos:

 Primeiro Motor Imóvel: a realidade primeira e suprema da qual todo


restante procura aproximar-se, imitando a sua perfeição imutável. As
coisas se transformam, diz Aristóteles; por que desejam encontrar a sua
essência total e perfeita, imitável como a essência divina. Pela mudança
incessante que buscam imitar o que não muda nunca. Daí, o Primeiro
Motor Imóvel do mundo, ou seja, aquilo que sem agir diretamente sobre
as coisas, ficando à distância delas, as atrai, é desejado por elas. Tal
desejo as faz mudar para um dia não mais mudar. Esse desejo, segundo
Aristóteles, explica porque há o devir e porque este é eterno, pois as
coisas naturais nunca poderão alcançar o que desejam, isto é, a
perfeição imutável. A mudança ou o devir é a maneira pela qual a
Natureza, ao seu modo, se aperfeiçoa e busca imitar a perfeição do
imutável divino. O Primeiro Motor Imóvel é o princípio que move toda a
realidade, e é denominada dessa maneira porque não se move e não é
movido por nenhum outro ente, pois, mover significa mudar, sofrer
alterações quantitativas e qualitativas, nascer e perecer, e o Primeiro
Motor Imóvel é perfeito, não muda nunca.

 Primeiros Princípios e Causas Primeiras: de todos os seres ou


essências existentes.

 Propriedades ou atributos Gerais: de todos os seres, sejam eles quais


forem, graças aos quais podemos determinar a essência particular de
um Ser particular existente. A essência ou ousia é a realidade primeira
e última de um Ser, aquilo sem o qual um Ser não poderá existir ou
deixará de ser o que é. À essência entendida sob esta perspectiva
universal, Aristóteles dá o nome de substância: o substrato ou suporte
permanente de qualidade ou atributos necessários de um Ser. A
metafísica estuda a substância em geral.

A TEORIA DAS QUATRO CAUSAS

Aristóteles apresenta a Metafísica, em primeiro lugar, como “busca das


causas primeiras”, de forma que devemos identificar quais e quantas são essas
“causas”. Ele esclareceu que as causas necessariamente devem ser finitas
quanto ao número e estabeleceu que, no que se refere ao mundo do devir,
reduzem-se às seguintes quatro causas, em vista das quais pode-se dizer que
um Ser é:

 CAUSA MATERIAL: é aquilo de que uma essência é feita, sua matéria.


Ex.: o mármore utilizado na confecção de uma estátua.

 CAUSA FORMAL: é aquilo que explica a forma que uma essência


possui. Ex.: uma estátua de um homem, diferente de uma estátua de um
cavalo.

 CAUSA EFICIENTE OU MOTRIZ: é aquilo que explica como a matéria


recebeu uma forma para constituir sua essência, ou seja, refere-se ao
agente que produziu diretamente a coisa. Ex.: o escultor que fez a
estátua.

 CAUSA FINAL: é o motivo, a razão ou finalidade para alguma coisa


existir e ser tal como ela é. Ex.: o escultor que fez a estátua com a
finalidade de exaltar a figura do soldado ateniense. Esta causa é o
motivo pelo qual a causa eficiente deu causa formal à causa material.

O SER É:

MATÉRIA E FORMA

Para Aristóteles os entes são compostos de matéria e forma, logo não há


matéria sem forma, nem forma sem matéria.

 MATÉRIA

A matéria é o elemento de que as coisas da Natureza (animais, homens,


plantas, artefatos, dentre outras coisas) são feitos; sua principal característica é
possuir virtualidades ou conter em si mesma a possibilidade de transformação,
isto é, mudança.

 FORMA

A forma é o que individualiza e determina uma matéria, fazendo existir as


coisas e seres particulares; sua principal característica é ser aquilo que uma
essência é num determinado momento, pois a forma é aquilo que atualiza as
virtualidades contidas na matéria.

ATO E POTÊNCIA

A matéria tem potencialidades indeterminadas e a forma lhe dá


determinações na constituição de um ente em ato.

 O ATO

O ato é a atualidade de uma matéria, ou seja, sua forma num dado instante
no tempo; ato é a forma que atualizou uma potência contida na matéria. Ex.: a
árvore é o ato da semente; o adulto é o ato da criança.
 A POTÊNCIA

A potência é o que está contido em uma matéria e pode vir a existir, se for
atualizado por alguma causa. Ex.: a criança é um adulto em potência ou em
potencial; a semente é a árvore em potência ou em potencial.

- OBS.: A Potência e a Matéria são idênticas, assim como a Forma e o Ato. A


Matéria ou Potência são uma realidade passiva que precisa do Ato e da Forma,
isto é, da atividade que cria os seres indeterminados.

ESSÊNCIA E ACIDENTE

 ESSÊNCIA

A essência é a unidade interna e indissolúvel entre uma matéria e a sua


forma, unidade que lhe dá um conjunto de propriedade ou atributos que a
fazem ser necessariamente aquilo que ela é. Assim, por exemplo, um Ser
humano é, por essência ou essencialmente, um animal mortal, racional, dotado
de vontade, gerado por outros semelhantes a ele e capaz de gerar outros
semelhantes a ele.

 ACIDENTE

O acidente é uma propriedade ou atributo que uma essência pode ter ou


deixar de ter sem perder o seu Ser próprio. Por exemplo, um Ser humano é
racional e mortal por essência, mas é baixo ou alto, gordo ou magro, negro ou
branco, por acidente. A humanidade é a essência (animal, mortal, racional),
enquanto o acidente é o que existindo, ou não, nunca afeta o Ser da essência
(baixo, alto, gordo, magro, negro, branco). A essência é o universal, e o
acidente o particular.

O SER COMO SUBSTÂNCIA

Por diversas vezes, em sua Metafísica, Aristóteles afirma que o Ser pode
ser dito em diferentes sentidos: é, portanto, um conceito analógico. O primeiro
desses sentidos, que é o mais fundamental, é o que corresponde mais de perto
àquilo que o Ser é em si mesmo, isto é, a substância, ousia. A substância
pode, por sua vez, ser simples (Deus) ou composta (os demais seres). A
ciência do Ser é, portanto, a ciência do Ser imóvel, substância absolutamente
simples (Deus) e, ao mesmo tempo, ciência dos entes compostos, os entes da
Natureza, que estão em constante movimento. Enquanto ciência do Ser, a
Filosofia é uma ciência da substância. A substância é um indivíduo uno em si
mesmo e separado dos demais.
A substância significa o que algo é em seu sentido mais completo e forte,
ela é a primeira categoria do Ser, o substrato ou o sujeito que permanece
através de todas as mutações acidentais, locais, qualitativas e quantitativas. É
próprio da substância ser ela mesma o Ser mesmo. Ela é o primeiro tanto na
ordem lógica (como conceito) como na ontológica (como coisa). Existem duas
classes de substâncias:
a) Este homem, esta árvore, esta pedra, são substâncias primeiras.
b) O homem, a árvore, a pedra, são substâncias segundas.

PLATÃO ARISTÓTELES

Mundo das idéias ou formas: Essência: é a unidade interna e


lugar onde se encontram as indissolúvel entre uma matéria e
verdadeiras formas, universais, a sua forma, unidade que lhe dá
eternas, imóveis, ou seja, onde um conjunto de propriedade ou
se tem o conhecimento atributos que a fazem ser
verdadeiro sobre o ser. necessariamente aquilo que ele
Por exemplo: a idéia universal e é.
perfeita de homem, a qual me Por exemplo: é o que faz de
possibilita identificar todo um todos os homens...homens.
grupo de seres, como homens.

Mundo sensível: lugar onde se Acidente: é uma propriedade ou


encontram as cópias imperfeitas atributo que uma essência pode
das formas encontradas no ter ou deixar de ter sem perder o
mundo das idéias. É no mundo seu Ser próprio. É o que
sensível que encontramos os individualiza o ser.
seres individuais.
Por exemplo: são as cópias Por exemplo: é o que
individuais e imperfeitas das individualiza Sócrates no que
Pintura intitulada A escola de Atenas do artista idéias, ou seja, são homens que concerne ao grupo de seres de
renascentista Rafael retratando Platão e possuem individualidades, o que que ele faz parte, ou seja, é o
Aristóteles: o primeiro apontando para cima impossibilita que estejam na que o diferencia dos outros
(mundo das idéias) e o segundo para baixo (a forma ideal. homens.
importância da experiência sensível para
formação do conhecimento)
Para Aristóteles Platão dividiu o ser, separando a essência do
acidente, de tal forma que ele descaracterizou o ser, pois para
o primeiro o ser é um misto de essência e acidente e, quando
Platão separa o mundo das ideias do mundo sensível está, na
verdade, separando a essência do acidente, e para Aristóteles
é impossível que exista um ser que é pura essência (forma) ou
mesmo puro acidente (matéria).

LÓGICA

O termo lógica é a tradução para o português da palavra grega organon, que


nada mais significa que instrumento. Desse modo, a lógica, para Aristóteles,
não consistiria em um campo de produção de conhecimento, tal como se
apresentam a metafísica ou a ética, mas sim um conjunto de procedimentos
que devem ser realizados para se utilizar corretamente a capacidade de
raciocinar. Para o autor, assim, o biólogo, o físico, o químico ou o astrônomo,
qualquer um deve organizar logicamente seu pensamento, se tem alguma
pretensão de chegar a verdade.

O TERMO
A ideia, conhecida como noção ou conceito, é a simples representação
intelectual de um objeto. Não deve ser confundida com a imagem, que é uma
representação sensível do objeto. O termo é a expressão verbal da ideia e, do
ponto de vista lógico, não pode ser confundido com a palavra.
No que diz respeito à ideia podemos fazer algumas considerações sobre
dois de seus elementos mais importantes, a saber: a compreensão, que é o
seu conteúdo, ou seja, o conjunto de elementos de que uma ideia se compõe;
e a extensão que corresponde a um conjunto de sujeitos de que uma ideia
convém.
Uma proposição é constituída por elementos que são seus termos.
Aristóteles define os termos ou categorias como “aquilo que serve para
designar uma coisa”. São palavras não combinadas com outras e que
aparecem em tudo quanto pensamos e dizemos. Há dez categorias ou termos:

I. SUBSTÂNCIA: homem, Sócrates.


II. QUANTIDADE: dois metros, um quilo.
III. QUALIDADE: branco, grego, agradável.
IV. RELAÇÃO: o dobro, a metade.
V. LUGAR: em casa, na rua.
VI. TEMPO: ontem, amanhã.
VII. POSIÇÃO: sentado, deitado.
VIII. POSSE: armado, isto é, tendo armas.
IX. AÇÃO: corta, fere.
X. PAIXÃO/PASSIVIDADE: é cortado, é ferido.

As categorias/termos, indicam o que uma coisa é, faz ou como está. São


aquilo que nossa percepção e nosso pensamento captam imediatamente e
diretamente numa coisa, não precisando de qualquer demonstração, pois nos
dão a apreensão direta de uma entidade simples. Possuem duas propriedades
lógicas:

- EXTENSÃO: é o conjunto de objetos designados por um termo.


- COMPREENSÃO: é o conjunto de propriedades que esse mesmo termo
designa.

POR EXEMPLO: Uso a palavra homem para designar Pedro, Paulo, Sócrates,
e uso a palavra metal para designar ouro, ferro, prata.

A extensão do termo homem será o conjunto de todos os seres que podem


ser designados por ele. Se, porém, tomarmos o termo homem e dissermos que
é um animal, vertebrado, mamífero, bípede, mortal e racional, essas qualidades
formam sua compreensão. Quanto maior a extensão de um termo menor a sua
compreensão. Por exemplo: Sócrates (extensão menor). Sua compreensão,
porém, será maior, pois Sócrates possui todas as propriedades do termo
homem mais a suas propriedades enquanto pessoa determinada.
Essa distinção permite classificar os termos ou categorias em três tipos:

 GÊNERO: extensão maior, compreensão menor. Ex.: animal.


 ESPÉCIE: extensão média e compreensão média. Ex.: homem,
indivíduo.
 INDIVÍDUO: extensão menor, compreensão maior. Ex.: Sócrates.

Na proposição, as categorias ou termos são predicados atribuídos a um


“sujeito”. O sujeito (S) é uma substância; os predicados (P) são as
propriedades atribuídas aos “sujeito”; a atribuição ou predicação se faz por
meio do verbo de ligação ser. Ex.: João é lindo e modesto.

A PROPOSIÇÃO

A proposição é um discurso declarativo, que enuncia ou declara


verbalmente o que foi pensado e raciocinando pelo juízo. A proposição reúne
ou separa verbalmente o que o juízo reuniu ou separou mentalmente.
A reunião ou separação dos termos recebe o valor de verdade ou de
falsidade quando o que foi reunido ou separado em pensamento e linguagem
está reunido/separado na realidade (verdade), ou quando o que foi reunido
está separado na realidade (falsidade). A reunião se faz pela afirmação S é P.
A separação se faz pela afirmação S não é P. A proposição apresenta o juízo
(coloca o pensamento na linguagem) e a realidade (declara o que está unido
ou separado na realidade). Do ponto de vista do “sujeito” existem dois tipos de
proposições:

As proposições se classificam segundo a qualidade, quantidade e a


relação. Do ponto de vista da qualidade, as proposições se dividem em:

 AFIRMATIVAS: as que atribuem alguma coisa a um sujeito: S é P.


 NEGATIVAS: as que separam o sujeito de alguma coisa: S não é P.

Do ponto de vista da quantidade, as proposições se dividem em:

 UNIVERSAIS: quando o predicado se refere à extensão total do sujeito,


afirmativamente (Todos os S são P.) ou negativamente (Nenhum S é
P.).
 PARTICULARES: quando um predicado é atribuído a uma parte da
extensão do sujeito, afirmativamente (Alguns S são P.) ou
negativamente (Alguns S não são P.).
 SINGULARES: quando o predicado é atribuído a um único indivíduo,
afirmativamente (Este S é P.) ou negativamente (Este S não é P.).

OS TRÊS PRINCÍPIOS DA LÓGICA FORMAL

Como todo pensamento e todo juízo, a proposição está submetida aos três
princípios lógicos e fundamentais, condições de toda verdade, quais sejam:
I. PRINCÍPIO DE IDENTIDADE: um Ser é sempre idêntico a si mesmo. A é A.
II. PRINCÍPIO DA NÃO-CONTRADIÇÃO: é impossível que um Ser seja e não
seja idêntico a si mesmo ao mesmo tempo e na mesma relação. É impossível
A é A e não-A ao mesmo tempo.
III. PRINCÍPIO DO TERCEIRO EXCLUÍDO: dadas duas proposições com o
mesmo sujeito e o mesmo predicado, uma afirmativa e outra negativa, uma
delas é necessariamente verdadeira e outra falsa. A é B ou não-B, não
havendo terceira possibilidade.

Graças a esses princípios obtemos a última maneira pela qual as


proposições se distinguem. Trata-se da classificação das proposições segundo
a relação:

 CONTRADITÓRIAS: quando temos o mesmo sujeito e o mesmo


predicado, uma das proposições é universal afirmativa (Todos os S são
P.) e a outra é particular negativa (Alguns S não são P.); ou quando se
tem uma universal negativa (Nenhum S é P.) e uma particular afirmativa
(Alguns S são P.).
 CONTRÁRIAS: quando, no mesmo sujeito e no mesmo predicado, uma
das proposições é universal afirmativa (Todos os S são P.) e outra é
universal negativa (Nenhum S é P.); ou quando uma das proposições é
particular afirmativa (Alguns S são P.) e a outra é particular negativa
(Alguns S não são P.).
 SUBALTERNAS: quando uma universal afirmativa subordina uma
particular afirmativa de mesmo sujeito e predicado, ou quando uma
universal negativa subordina uma particular negativa também de
mesmo sujeito e predicado.

O SILOGISMO
Aristóteles dizia que a verdade e a falsidade são propriedades das coisas e
não do pensamento; que a realidade ou a irrealidade também são propriedades
das coisas e não do pensamento, mas que um pensamento verdadeiro deveria
exprimir a realidade da coisa pensada, enquanto que um pensamento falso
nada poderia exprimir.
Ele elaborou uma teoria do raciocínio como inferência. Inferir é tirar um
proposição como conclusão de uma outra ou de várias proposições que a
antecedem, as quais são a sua explicação ou a sua causa. O raciocínio é uma
operação do pensamento realizada por meio de juízos, anunciada
linguisticamente e logicamente pelas proposições encadeadas formando,
assim, um silogismo. O raciocínio e o silogismo são operações mediatas de
conhecimento, pois a inferência significa que só conhecemos alguma coisa (a
conclusão) por meio ou mediação de outras coisas.
O silogismo possui três características principais, a saber:

I. é MEDIATO: exige um percurso de pensamento e de linguagem para que se


possa chegar a uma conclusão, isto é, exige uma mediação para que se possa
chegar a uma conclusão.
II. é DEDUTIVO: é um movimento de pensamento e de linguagem que partem
de certas afirmações verdadeiras para chegar a outras também verdadeiras
que dependem necessariamente das primeiras.
III. é NECESSÁRIO: porque é dedutivo (as consequências a que se chega na
conclusão resultam necessariamente da verdade do ponto de partida). Por
isso, Aristóteles considera o silogismo que parte de proposições apodídicas
superior ao que parte de proposições hipotéticas ou possíveis, designando-o
como nome de ostensivo, pois ostenta ou demonstra claramente a relação
necessária e verdadeira entre o ponto de partida e a conclusão.

Todos os homens são mortais.


Sócrates é homem.
Logo Sócrates é mortal.

Um silogismo é constituído por três proposições, sendo duas premissas e a


última conclusão. As premissas possuem termos chamados extremos e a
função do termo médio é ligar os extremos. Esta ligação é a inferência ou
dedução e sem ela não há raciocínio nem demonstração.
A premissa maior deve conter o termo maior (“mortais”) e o termo médio
(“homens”); a premissa menor deve conter o extremo menor (“Sócrates”) e o
termo médio (“homens”). A conclusão deve conter o extremo maior e o menor,
jamais deve conter o termo médio (no caso, deve conter “mortal” e “Sócrates, e
nunca deve conter o termo “homem”). De forma que, a função do termo médio
é a de ligar os extremos, ele deve estar nas premissas, mas nunca na
conclusão.
A inferência silogística deve obedecer a oito regras, sem as quais a
dedução não terá validade, não sendo possível dizer se a conclusão é
verdadeira ou falsa. São elas:

I. Um silogismo deve ter um termo maior, um menor e um médio e somente


três termos, nem mais nem menos.
II. O termo médio deve aparecer nas duas premissas e jamais aparecer na
conclusão; deve ser tomado em toda sua extensão (ou seja, como um
universal) pelo menos um vez, pois, do contrário, não se poderá ligar o termo
maior ao menor. Por exemplo, se dissermos “Os nordestinos são brasileiros” e
“Os mineiros são brasileiros”, não podemos tirar conclusão alguma, pois o
termo médio “brasileiros” foi tomado sempre em parte de sua extensão e
nenhuma vez no todo de sua extensão.
III. Nenhum termo pode ser mais extenso na conclusão que nas premissas,
pois, neste caso concluiria-se mais do que se teria permitido. Isso significa que
uma das premissas sempre deverá ser universal (afirmativa ou negativa).
IV. A conclusão não pode conter o termo médio, já que a função deste se
esgota na ligação entre o maior e o menor, ligação que é a conclusão.
V. De duas premissas negativas nada pode ser concluído, pois o termo médio
não terá ligado os extremos.
VI. De duas premissas particulares nada poderá ser concluído, pois o termo
médio não terá sido tomado em toda sua extensão pelo menos uma vez e não
poderá ligar o maior ao menor.
VII. Duas premissas afirmativas devem ter a conclusão afirmativa, o que
evidente por si mesmo.
VIII. A conclusão sempre acompanha a parte mais fraca, isto é, se houver uma
premissa negativa, a conclusão será negativa; se houver uma premissa
particular, a conclusão será particular; se houver uma premissa particular
negativa, a conclusão será particular negativa.

Exercícios propostos:

QUESTÃO 01 (UFU)
Leia atentamente o texto abaixo.

“Logo, o que é primeiramente, isto é, não em sentido determinado,


mas sem determinações, deve ser a substância. Ora, em vários
sentidos se diz que uma coisa é primeira, e em todos eles o é a
substância: na definição, na ordem de conhecimento, no tempo.”
ARISTÓTELES. Metafísica. (1028a 30-35). Tradução de Leonel
Vallandro. Porto Alegre: Globo, 1969. p.147-148.

De acordo com o pensamento de Aristóteles, marque a alternativa


INCORRETA.
A) Para Aristóteles, o conhecimento somente é possível tendo por objeto as
substâncias, pois dos acidentes não é possível se fazer ciência.
B) A substância, ao contrário do acidente, é a categoria por meio da qual
sabemos o que uma coisa é, pois é a partir da substância que definimos uma
coisa.
C) Pode-se dizer que, para a metafísica aristotélica, a substância é a
característica necessária de uma coisa, uma vez que nos indica em que
sentido uma coisa é.
D) Segundo a metafísica aristotélica, a definição de cada ser é apreendida pela
ordenação e classificação de suas características acidentais.

QUESTÃO 02 (UFU)
Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C), apesar de ter sido discípulo de Platão, criou
sua própria filosofia. Uma das diferenças marcantes entre os dois é a
importância dada aos fenômenos naturais do chamado mundo sensível. No
mundo sensível, a mudança é constante, característica que Aristóteles procura
explicar a partir das concepções de matéria, forma, potência e ato.
Com base nos seus conhecimentos e no texto acima, assinale a alternativa que
define corretamente a concepção aristotélica de ato e potência.

A) A potência e o ato são conceitos que não se referem, de fato, às coisas


materiais sujeitas à transformação.
B) A potência é o momento presente, atual da matéria; ato é o que ela poderá
vir a fazer.
C) A potência e o ato não se relacionam com a matéria.
D) A potência é o que a matéria virá a ser, seu devir, o princípio do movimento;
ato é aquilo que ela é no presente.
QUESTÃO 03 (UFU)
Analise as seguintes afirmativas a respeito da lógica de Aristóteles.
I - A forma mediata do pensamento ou raciocínio é chamada, por Aristóteles,
de silogismo.
II - Em grego, syllogismós significa raciocinar, vem do verbo syllogizo, que
significa reunir, juntar pelo pensamento, conjeturar.
III - O silogismo é um raciocínio indutivo.
IV - O exemplo clássico de silogismo é aquele que contém duas premissas e
uma conclusão.

Marque a alternativa correta.

A) Apenas as afirmativas I, II e III são verdadeiras.


B) Somente a afirmativa III é falsa.
C) Todas as afirmativas são falsas.
D) Somente as afirmativas II e IV são verdadeiras.
Questões Enem:
QUESTÃO 01
Leia os textos a seguir.

Aristóteles, no Livro IV da Metafísica, defende o sentido epistêmico do


princípio de não contradição como o princípio primário, incondicionado e
absolutamente verdadeiro da “ciência das causas primeiras”, ou melhor,
o princípio que se apresenta como fundamento último (ou primeiro) de
justificação para qualquer enunciado declarativo em sua pretensão de
verdade.

“É impossível que o mesmo atributo pertença e não pertença ao mesmo


tempo ao mesmo sujeito, e na mesma relação. [...] Não é possível, com
efeito, conceber alguma vez que a mesma coisa seja e não seja, como
alguns acreditam que Heráclito disse [...]. É por esta razão que toda
demonstração se remete a esse princípio como a uma última verdade,
pois ela é, por natureza, um ponto de partida, a mesma para os demais
axiomas.” (ARISTÓTELES. Metafísica. Livro IV, 3, 1005b apud FARIA,
Maria do Carmo B. de. Aristóteles: a plenitude como horizonte do ser.
São Paulo: Moderna, 1994. p. 93.)

A partir da leitura dos textos acima é possível concluir que, na filosofia


aristotélica,

A) aqueles que sustentam, com Heráclito, conceber verdadeiramente que


propriedades contrárias podem subsistir e não subsistir no mesmo sujeito
opõem-se ao princípio de não contradição.
B) pelo princípio de não contradição, sustenta-se a tese heracliteana de que,
numa enunciação verdadeira, se possa simultaneamente afirmar e negar um
mesmo predicado de um mesmo sujeito, em um mesmo sentido.
C) nas demonstrações sobre as realidades suprassensíveis, é possível
conceber que propriedades contrárias subsistam simultaneamente no mesmo
sujeito, sem que isso incorra em contradição lógica, ontológica e epistêmica.
D) para que se possa fundamentar o estatuto axiomático do princípio de não
contradição, exige-se que sua evidência, enquanto princípio primário, seja
submetida à demonstração.
E) com o princípio de não contradição, torna-se possível conceber que, se
existem duas coisas não idênticas, qualquer predicado que se aplicar a uma
delas também poderá ser aplicado necessariamente à outra.

QUESTÃO 02

Só julgamos que temos conhecimento de uma coisa quando


conhecemos sua causa. E há quatro tipos de causa: a essência, as
condições determinantes, a causa eficiente desencadeadora do
processo e a causa final. (ARISTÓTELES. Analíticos Posteriores. Livro
II. Bauru: Edipro. 2005. p. 327.)

O texto acima foi escrito pelo professor de Alexandre Magno, Aristóteles.


Discípulo de Platão durante duas décadas, o filósofo terminou por se afastar
das tendências filosóficas de seu mestre, entendendo que

A) a existência de um plano superior constituído das ideias e atingido apenas


pelo intelecto permite a compreensão objetiva dos fenômenos que ocorrem no
mundo físico.
B) a realidade, sendo constituída por seres singulares, concretos e mutáveis,
pode ser conhecida indutivamente pela observação e pela experimentação.
C) para a compreensão das transformações e da mutabilidade dos seres,
deveria recorrer ao princípio da criação divina.
D) na metafísica, a compreensão do devir de todas as coisas está vinculada à
determinação da causa material e da causa formal sobre a causa final.
E) todas as coisas tendem naturalmente para um fim (telos), sendo esta
concepção teleológica da realidade a que explica a natureza de todos os seres.

Exercícios de Fixação:
QUESTÃO 01 (UFU)
Em primeiro lugar, é claro que, com a expressão “ser segundo a
potência e o ato”, indicam-se dois modos de ser muito diferentes e,
em certo sentido, opostos. Aristóteles, de fato, chama o ser da
potência até mesmo de não-ser, no sentido de que, com relação ao
ser-em-ato, o ser-em-potência é não-ser-em-ato.
REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. Vol. II. Trad. de
Henrique Cláudio de
Lima Vaz e Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 1994, p. 349.

A partir da leitura do trecho acima e em conformidade com a Teoria do Ato e


Potência de Aristóteles, assinale a alternativa correta.

A) Para Aristóteles, ser-em-ato é o ser em sua capacidade de se transformar


em algo diferente dele mesmo, como, por exemplo, o mármore (ser-em-ato) em
relação à estátua (ser-em-potência)
B) Segundo Aristóteles, a teoria do ato e potência explica o movimento
percebido no mundo sensível. Tudo o que possui matéria possui potencialidade
(capacidade de assumir ou receber uma forma diferente de si), que tende a se
atualizar (assumindo ou recebendo aquela forma).
C) Para Aristóteles, a bem da verdade, existe apenas o ser-em-ato. Isto ocorre
porque o movimento verificado no mundo material é apenas ilusório, e o que
existe é sempre imutável e imóvel.
D) Segundo Aristóteles, o ato é próprio do mundo sensível (das coisas
materiais) e a potência se encontra tão somente no mundo inteligível,
apreendido apenas com o intelecto.

QUESTÃO 02 (UFU)
[...] após ter distinguido em quantos sentidos se diz cada um [destes
objetos], deve-se mostrar, em relação ao primeiro, como em cada
predicação [o objeto] se diz em relação àquele.
Aristóteles, Metafísica. Tradução de Marcelo Perine. São Paulo: Edições
Loyola, 2002.
De acordo com a ontologia aristotélica,
A) a metafísica é ―filosofia primeira‖ porque é ciência do particular, do que não é nem
princípio, nem causa de nada.
B) o primeiro entre os modos de ser, ontologicamente, é o ―por acidente‖, isto é, diz
respeito ao que não é essencial.
C) a substância é princípio e causa de todas as categorias, ou seja, do ser enquanto
ser.
D) a substância é princípio metafísico, tal como exposto por Platão em sua doutrina.

QUESTÃO 03
Na Metafísica, Aristóteles afirma: “O ser se diz de muitos modos, mas se diz
em relação a um termo único e única natureza e não de modo equívoco. [...]
uns são ditos ser porque são substâncias, outros porque são afecções de
substâncias, outros porque são um caminho para a substância, ou destruições,
privações, qualidades, causas produtivas ou geradoras para a substância ou do
que é dito relativamente da substância, ou são negações de uma delas ou da
substância; por esta razão dizemos inclusive que o não ser é não ser”
(ARISTÓTELES, Metafísica,livro IV, cap. 2. In: FIGUEIREDO, V. Filósofos na
sala de aula. Volume 3. São Paulo: Berlendis & Vertecchia, 2008, p. 33-34).

A partir do trecho citado, assinale a(s) alternativa(s) correta(s).

01) Um ser pode ser a negação de uma substância.


02) Do ser pode-se gerar uma substância, sem que isso que a gerou seja
necessariamente uma substância.
04) A substância é anterior e prioritária ao ser.
08) A substância é necessariamente um ser.
16) Uma das exigências da definição de ser é que ela seja unívoca.

QUESTÃO 04 (UEM)
A lógica é o estudo que visa à formalização de regras com o fim de orientar o
bom funcionamento e a validade dos raciocínios e argumentos. Sobre as
considerações da lógica na história da Filosofia, assinale o que for correto.

01) O primeiro grande filósofo a sistematizar as regras para o bom


funcionamento da proposição e dos juízos foi Erasmo de Roterdam, já que,
apesar de tratar do silogismo, Aristóteles não pode ser considerado o fundador
da lógica.
02) Pode-se chamar de raciocínio indutivo a passagem do particular ao
universal, e de raciocínio dedutivo o movimento contrário, a passagem do
universal ao particular.
04) A lógica também pode ser definida como a parte da Filosofia que estuda os
conjuntos coerentes de enunciados, a partir do conceito de inferência válida.
08) A pós-modernidade introduz, como método de garantir a verdade científica,
os princípios da geometria euclidiana.
16) A alta Idade Média pode ser caracterizada pelo profundo debate em torno
do pensamento lógico. Prova disso, é o reconhecimento de uma disciplina
autônoma, que incorpora a dialética, compilada em grandes manuais, sob o
título de Summae ou Summulae.

QUESTÃO 05 (UEM)
Segundo a lógica clássica ou aristotélica, temos uma teoria do raciocínio como
inferência (do latim inferre,“levar para”). “Inferir é obter uma proposição como
conclusão de uma outra ou de várias outras proposições que a antecedem e
são sua explicação ou sua causa. O raciocínio realiza inferências. [Ele] é uma
operação do pensamento realizada por meio de juízos e enunciada por meio de
proposições encadeadas, formando um silogismo. Raciocínio e silogismo são
operações mediatas de conhecimento, pois a inferência significa que só
conhecemos alguma coisa (a conclusão) por meio de outras coisas.” (CHAUÍ,
M. Convite à filosofia. 14.ª ed. São Paulo: Ática, 2011, p. 141).

Segundo o fragmento transcrito, é correto afirmar que

01) todo pensamento humano é um raciocínio.


02) o silogismo é resultado de uma inferência sobre proposições.
04) o conhecimento científico é mediado por raciocínios lógicos.
08) a conclusão é a explicação das proposições das quais foi inferida.
16) o raciocínio é o resultado de um silogismo.

06

QUESTÃO 06 (UEM)
Considere os silogismos seguintes e depois assinale o que for correto.
a) Todo brasileiro é sul-americano.
Ora, todo paranaense é brasileiro.
Logo, todo paranaense é sul-americano.

b) Todos os mamíferos são mortais.


Ora, todas as aranhas são mortais.
Logo, todas as aranhas são mamíferos.

01) As conclusões são deduções válidas das premissas.


02) O silogismo b é um exemplo de falácia.
04) Paranaenses e aranhas são termos médios.
08) “Todo paranaense é sul-americano” é uma premissa verdadeira.
16) Ambos os silogismos são compostos por proposições categóricas.

QUESTÃO 07 (UEM)
A lógica formal aristotélica estuda a relação entre as premissas e a conclusão
de inferências válidas e inválidas (segundo a forma), a partir de proposições
falsas e verdadeiras (segundo o conteúdo). Chamamos de falácias ou sofismas
as formas incorretas de inferência. Levando em conta a forma da inferência,
assinale o que for correto.
01) A inferência “Fulano será um bom prefeito porque é um bom empresário.” é
uma falácia.
02) A inferência “Todos os homens são mortais. Sócrates é homem, logo
Sócrates é mortal.” é válida.
04) A inferência “Ou fulano dorme, ou trabalha. Fulano dorme, logo não
trabalha.” é uma falácia.
08) A inferência “Nenhum gato é pardo. Algum gato é branco, logo todos os
gatos são brancos.” é uma falácia.
16) A inferência “Todos que estudam grego aprendem a língua grega. Estudo
grego, logo aprendo a língua grega.” é válida.

QUESTÃO 08 (UFU)

E na verdade, o que desde os tempos antigos, assim como agora e sempre,


constitui o eterno objeto de pesquisa e o eterno problema: “o que é o ser”,
equivale a este: “que é a substância”.
ARISTÓTELES, Metafísica, VII, 1. Trad. de Marcelo Perine.
São Paulo: Loyola, 2002, p. 289.

Considerando o assunto abordado no trecho acima,

A) explique o conceito de substância.


B) cite quatro outras categorias aristotélicas.
QUESTÃO 09 (UFU)

"E se indagamos quais são os princípios ou elementos das substâncias, relações


e quantidades - se são os mesmos ou diferentes - é claro que quando os nomes
das causas são usados em vários sentidos as causas de cada um são as
mesmas, mas quando distinguimos os sentidos elas são diferentes".
(Aristóteles - Metafísica - Editora Globo - Porto Alegre.)

O texto de Aristóteles refere-se à distinção das causas em sua teoria da


causalidade. Quais são as causas aristotélicas? Descreva a especificidade de
cada uma delas.

QUESTÃO 10: (UFU)


Considere o silogismo a seguir e responda as questões propostas.

Todos os animais mamíferos são carnívoros.


Ora, todos os gatos são animais mamíferos.
Logo, todos os gatos são carnívoros.

A) O que é um silogismo?
B) Explique por que o silogismo do exemplo é um silogismo válido, mesmo
considerando que a premissa maior desse argumento é falsa (o que nos prova
a experiência).
C) Qual é o termo médio desse silogismo e qual o seu papel no argumento?
Módulo 06: A questão da felicidade: ética aristotélica e
helenismo.

Aristóteles: Ética.

Na obra Ética a Nicômaco Aristóteles apresenta o essencial de sua doutrina


moral. É interessante perceber como sua obra apresenta uma noção de
conjunto: o mesmo autor que inaugurou a noção de causa final, única
apresentada de forma inédita por ele, inicia a obra perguntando-se pela
finalidade da ação humana. A essa questão nosso autor esboça, de forma
sucinta, a seguinte resposta: a finalidade de toda ação humana é a procura
pela felicidade.
A partir daí o filósofo realiza um inventário de motivações que poderiam
conduzir um ser humano á felicidade, e analisa de maneira mais
pormenorizada três: as honras, o prazer e a virtude. O primeiro item, de acordo
com sua teoria, não deveria ser preferido por alguém que queira realmente
atingir a felicidade, e isso porque aquele que dependesse de honrarias para ser
feliz estaria sempre na dependência de outros seres humanos, ou seja, de
elementos externos a si mesmo, e por isso fora do seu controle. Quanto ao
prazer, como veremos um pouco abaixo, seu problema essencial reside no fato
de primar pelos excessos, e não pela moderação, o que o autor condena
sobremaneira. Também no prazer, grande parte das vezes, o sujeito se
encontra na dependência da colaboração de outra pessoa.
Desse modo, dos três elementos comentados pelo autor, somente a vida
virtuosa consiste em elemento que deve realmente ser considerado na busca
pela felicidade, pois que o indivíduo, para obtê-la, só depende de si mesmo;
nem reconhecimento alheio, nem prazer excessivo.
A partir desse momento torna-se necessário, então, que o autor defina
melhor o que se deve entender por virtude, já que realiza a defesa de uma vida
virtuosa como única possibilidade de verdadeira felicidade. E ele a define,
então, em contraposição ao vício. Desse modo se procede a uma definição
que, a partir da citação que segue, podemos atingir:

“A virtude é, pois, uma disposição de caráter relacionada com a


escolha e consistente numa mediania, isto é, a mediania relativa a
nós, a qual é determinada por um princípio racional próprio do
homem dotado de sabedoria prática. E é um meio-termo entre dois
vícios, um por excesso e outro por falta; pois que, enquanto os
vícios ou vão muito longe ou ficam aquém do que é conveniente no
tocante às ações e paixões, a virtude encontra e escolhe o meio-
termo.“
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco, II, 6. São Paulo:
Nova Cultural, 1987. Col. Os Pensadores, p. 33.
 Virtude: Ato ou sentimento marcado pela moderação ou pelo
equilíbrio, aquilo que Aristóteles denomina de meio termo entre a
falta e o excesso. Desse modo, a coragem virtuosa seria o equilíbrio
entre a covardia, vício por falta, e a temeridade, vício por excesso. O
soldado deve ter coragem suficiente para adentrar no campo de
batalha, mas medo bastante para se proteger com eficiência do
inimigo, com armadura, escudo e respeito às táticas estabelecidas.

 Vício: Ato ou sentimento marcado pela falta ou pelo excesso, ou


seja, pelo desequilíbrio. É assim que o amor próprio pode ser
deturpado pela modéstia, que consiste em sua falta, assim como
pela vaidade, que é o seu excesso.

Marilena Chauí, em sua obra Filosofia: ensino médio (São Paulo: Ática, 2005,
p. 183), apresenta um quadro com as principais virtudes e os principais vícios,
baseado na obra aristotélica. A título de exemplo reproduzimos abaixo o
quadro, visando a uma melhor compreensão por parte do estudante:

Virtudes Vício por Excesso Vício por Deficiência


Coragem Temeridade Covardia
Temperança Libertinagem Insensibilidade
Prodigalidade Esbanjamento Avareza
Magnificência Vulgaridade Vileza
Respeito Próprio Vaidade Modéstia
Prudência Ambição Moleza
Gentileza Irascibilidade Indiferença
Veracidade Orgulho Descrédito
Agudeza de Espírito Zombaria Rusticidade
Amizade Condescendência Enfado
Justa Indignação Inveja Malevolência

Ao analisarmos o quadro das virtudes, é relevante lembrarmos uma


diferenciação que o próprio autor faz, entre virtude dianoética e ética. A
primeira, também designada como virtude intelectual, é aquela adquirida e
desenvolvida por meio da educação formal. A segunda, como o termo ethos
mesmo designa em grego, é adquirida e desenvolvida por meio do costume, do
hábito, da vivência. Assim, aprende-se a ser equilibrado sendo equilibrado, ou
seja, exercitando tal comportamento cotidianamente.

Helenismo:
Geralmente se divide a antiguidade grega em quatro períodos: homérico, com a
incidência das explicações míticas; arcaico, marcado pela presença da filosofia da
natureza; clássico, que consiste no auge da democracia ateniense, a guerra do
Peloponeso, e a presença de Sócrates, Platão e Aristóteles; e helenístico, que consiste na
difusão da cultura helênica ou grega para o oriente, chegando até a Índia, com a
campanha do líder macedônio Alexandre Magno. É sobre este último período que
trataremos a partir de agora.
É importante lembrar, primeiramente, que a cultura grega vai ao oriente, e influencia,
sem sombra de dúvida. No entanto, é importante ressaltar também, que o mundo grego
sofre influências das culturas orientais. O primeiro aspecto que precisa ficar claro, assim,
é o que as filosofias que surgem no período resultam do processo da miscigenação. Outro
ponto importante a ser lembrado é o fato de que as póleis gregas, antes se organizando
autonomamente como Estados legítimos, passam a partir deste momento a se verem
inseridas em um império maior. Atenas, por exemplo, após a Guerra do Peloponeso, sofre
com a hegemonia tebana, depois com a macedônia, e após um período turbulento de
dissenções políticas, surgirá um outro império, o Romano. Trata-se de um período,
portanto, em que o antigo ideal de felicidade necessariamente vinculada à polis entra em
colapso, e passa a não fazer mais sentido. Em função disso, as escolas que aparecem no
período representam uma busca pela melhor forma de vida com vistas a se atingir a
felicidade, em grego, eudaimonia, nesse momento muito vinculada a uma forma de viver
mais personalizada. Bom, feita esta pequena contextualização histórica, vamos às
correntes:

O CINISMO

Escola fundada em Atenas no século IV a.C., por um discípulo de Sócrates, de nome


Antístenes. A preocupação central da escola já havia sido evidenciada pelo primeiro no
seu discurso de defesa: a preocupação do homem ateniense com os bens materiais e as
convenções sociais, em detrimento do cuidado com a alma e com a virtude. A questão é
que o cinismo leva isso a consequências extremas. O próprio nome da escola vem do
radical grego vinculado à palavra cão, o que significa que o filósofo de tal corrente
buscaria uma vida parecida com a deste animais quando se encontram sem dono. Mas
em que isso implicaria? Bem, um animal assim não possui nenhum apego a bens
materiais ou a convenções sociais, e seu abandono, na verdade, o deixa em outra
condição: a liberdade. É exatamente esta a relação feita por aquele que segue tal
percepção de vida. O desapego à matéria e ao status conduz à liberdade, e esta à
tranquilidade da alma, em grego, ataraxia. Esta deveria ser a meta do homem. A
tranquilidade da alma ou ausência de perturbação, neste período, é praticamente o
sinônimo de felicidade.
O cínico mais famoso foi Diógenes de Sínope, figura que viveu na cidade de Atenas
e foi contemporânea de Platão e Aristóteles. Dizem que perambulava pelos espaços
públicos, sem nenhuma posse, apenas com um barril que lhe cobria as partes íntimas.
Seu desapego e seu jeito crítico de ser – por vezes andava pela polis no meio do dia com
uma lanterna acesa e, quando perguntado sobre o que procurava, respondia procurar “um
homem”, ou seja, humanidade – fizeram com que fosse uma das figuras mais lembradas
do período em que viveu.

O CETICISMO.

Escola fundada por Pirro de Élis, ainda no século IV a.C. Segundo Diógenes Laércio
ele teria acompanhado Alexandre na sua campanha até a Índia, e lá haveria deparado
com os chamados gimnosofistas (sábios nus), que seriam faquires ou mestres iogues, em
uma busca de paz espiritual marcada pelo distanciamento do mundo e sobretudo das
sensações. Ao retornar à Grécia inicia a sua caminha pessoal nessa busca e a orientação
de discípulos. As escolas helenistas, majoritariamente, nos apresentam uma concepção
física, ou seja, nos dizem como as cosias são e, a partir disso, nos orientam sobre como
nos comportarmos com relação a elas. O ceticismo funciona basicamente assim.
Portanto, Pirro, que não havia deixado nada escrito, teria nos chegado por meio de seus
seguidores pensando da seguinte maneira:
1) as coisas seriam, segundo Pirro, indiferentes, instáveis e indecisas. Como elas
nos aparecem assim, nossas sensações não nos apresentam algo seguro com relação ao
mundo pois, principalmente em razão da instabilidade, o que me parece ser agora, pode
parecer não ser no futuro. Isso inviabiliza minhas opiniões, que não merecem confiança,
já que se baseiam em algo tão inseguro.
2) em função de tal concepção sobre como as coisas são, só nos resta agir de uma
maneira, que consiste na abstenção total de juízos, a aphasia (ausência de discurso) e a
apraxia (inação). Com o tempo, e provavelmente não com Pirro, virá o termo époche, que
significa suspensão de juízos sobre as coisas.
3) o resultado de tal comportamento diante do mundo, o que não impede o indivíduo
de continuar refletindo, em contato com o real – o termo cético vem de uma radical grego
que significa busca, meditação, reflexão – é a tranquilidade da alma ou ataraxia, que
conduz o indivíduo à felicidade. A história da filosofia demonstra que hipóteses opostas
sobre o real por vezes são apresentadas, e o critério de verdade destas se encontram
nelas mesmas. Desse modo, na ausência de possibilidade de se decidir por uma ou por
outra posição dogmática, o cético, se abstém de emitir um sim ou um não, e isso lhe
garante a imperturbabilidade. O grande sistematizador do ceticismo foi Sexto Empírico.

O EPICURISMO.

Escola fundada em 306 a.C, na cidade de Atenas, em um jardim, por Epicuro. Ele
entendia que a filosofia deveria ser um remédio para os grandes males que afligem o ser
humano, dentre os quais alguns medos, como o da vida, da morte, do além-túmulo e dos
deuses. Assim como o ceticismo, a chave para a ataraxia, entendida aqui como ponto a
ser atingido para se chegar à eudaimonia, envolve uma concepção física, ou seja sobre
como as coisas funcionam. Tal concepção Epicuro retoma de Demócrito e Leucipo, que
eram atomistas. Parte-se, portanto, do pressuposto de que tudo quanto existe resulta da
combinação aleatória dos átomos, inclusive nossas almas e o mundo dos deuses, que
existe paralelamente ao nosso, sem que eles estabeleçam interação conosco. Os
resultados de tal pressuposição são os seguintes: a vida se resume às sensações, que
podem ser boas ou ruins; a morte nada mais é do que o fim das sensações, ela não existe
enquanto existirmos, e quando ela for, não seremos mais; como nossa alma se
desagrega, da mesma forma que nosso corpo, em uma concepção totalmente
materialista, não existe absolutamente nada além túmulo, e não devemos nos ocupar
disso também; os deuses, apesar de existirem, não interagem conosco, pois vivem em
uma condição de felicidade plena, o que exclui qualquer perturbação com o nosso plano.
Resta saber, portanto, como devemos lidar com as sensações durante a vida. Para
os epicuristas, o prazer (hedoné) em si não é algo ruim, mas é necessária uma
inteligência prática (phronesis) para que o indivíduo saiba lidar com ele. Decorre disso
uma divisão das sensações boas em três grupos e, a partir disso, a orientação de como
nos vincularmos ou não a cada um.
 Prazeres naturais e
necessários: são aqueles vinculados à existência do indivíduo e, portanto,
devem ser satisfeitos, como a alimentação, a hidratação, o abrigo, a
vestimenta.
 Prazeres naturais e
desnecessários: são aqueles que, apesar de vinculados à existência do
sujeito, extrapolam o campo da necessidade, como degustar um prato
refinado ou tomar um vinho de determinada safra. O vínculo equivocado com
o supérfluo, tornando-o necessário, pode conduzir o indivíduo à perturbação
e, consequentemente, à perda da felicidade.
 Prazeres não naturais e
desnecessários: são aqueles que, além de não serem necessários,
extrapolam as necessidades naturais, tais como o poder, a honra, o
reconhecimento. A dependência do indivíduo com relação a outras pessoas e
suas ações, para atingir tais prazeres, potencializa os níveis de perturbação
aos quais ele está exposto. Tais prazeres, portanto, não devem ser o foco de
busca do homem prudente.

Percebe-se, portanto, que o epicurismo vincula a ataraxia ao vínculo aos prazeres


corretos. Existem, nesse período, os hedonistas, que realmente defendem o vínculo
absoluto com o prazer, e a anulação máxima da dor. Para os epicuristas, devemos nos
vincular aos prazeres certos, que podem nos garantir satisfação sem nos trazer
perturbações, os naturais e necessários. Os sofrimentos são inevitáveis, mas são
passageiros, e sempre suportáveis. Devemos, portanto, evitar a confusão entre
epicurismo e hedonismo que, como visto, estão longe de ser a mesma coisa.

O ESTOICISMO.

Escola fundada em Atenas no ano 300 a.C, por Zenão de Cítio, pensador de origem
fenícia. O nome estoicismo deriva do termo grego stoa poikilé, “pórtico pintado”, local
onde os seus integrantes se reuniam. O desenvolvimento da doutrina, no entanto, se
deveu a discípulos e sucessores, como Cleantes e Crisipo. No seu período latino,
encontraremos provavelmente os nomes mais ilustres da escola, como Epicteto, Sêneca
e Marco Aurélio, já na era cristã. Nesta escola, novamente, encontraremos uma
concepção física, ou seja, sobre como as coisas são, embasando uma lógica, que não
comentaremos aqui, e uma ética, nosso objeto de estudo. Dessa forma, a conduta
humana adequada está intimamente ligada a como o mundo funciona, e talvez nestes
filósofos mais do que nas outras escolas.
Para os estoicos o cosmos seria o resultado da interação de dois princípios: um
passivo, a matéria, e um ativo, o Logos (razão). Tal Logos teria alguma materialidade,
sendo entendido por alguns dos membros da escola como o fogo, por outros como o éter.
Ele irradia sua força sobre a matéria, formando, como resultado, tudo quanto existe. O
homem, como parte integrante do cosmos, tem também uma parte do Logos, a alma, e
uma parte de matéria, corpo. Tudo que nos ocorre, portanto, resulta do controle desta
razão imanente sobre o real, e é exatamente o que nos deveria acontecer. Alguns
estoicos denominam tal ordenamento de Providência. Na filosofia, concepções como esta
costumam ser denominadas de pan-logismo, e encontraremos em Spinoza ou em Hegel
percepções equivalentes, guardadas as devidas ressalvas.
A implicação necessária do que acompanhamos na física do estoicismo só pode nos
encaminhar para uma ética: é livre o individuo que conforma as suas ações com os rumos
para os quais a Providência o conduz. Mas isso significa que tal escola acredita que
existe um destino que deverá se cumprir? Que as coisas deverão acontecer de uma
determinada maneira? Majoritariamente sim. Mas isso não retira completamente a minha
liberdade? Por incrível que pareça, não. A questão aqui consiste em distinguir, no fluxo
das nossas vidas, as coisas que são necessárias daquelas que são livres. São
necessários os elementos da nossa vida que não dependem de nós, como diversas
condições do nosso próprio corpo e o que nos é externo. São livres, ou seja, dependem
de nós, os nossos estados de ânimo.
Um grande problema para os indivíduos consiste em acreditar que podem alterar
aquilo que não podem, isto é, os eventos que nos são indiferentes. Ao buscarem mudar o
necessário, e não conseguirem exatamente por este motivo, evidentemente se perturbam
e, como vimos, perturbação é sinônimo de infelicidade. Ao entendermos os eventos como
necessários, e nos conformarmos a eles, justamente porque os entendemos assim,
lidamos melhor com tudo o que nos ocorre, e optamos bem sobre a única coisa sobre a
qual nos compete escolher: os nossos estados de ânimo.
A percepção de que as relações são desencadeadas de maneira necessária deve
conduzir o homem sábio à indiferença com relação ao que ele não pode controlar, que é a
grande maioria dos elementos da sua vida. Tal posição diante das coisas, denominada de
apatheia, conduz o ser humano à tranquilidade da alma (ataraxia), e esta à eudaimonia.
De tal percepção, presente no estoicismo, surge a expressão amor fati, que significa amor
aos fatos, ou amor a tudo que nos ocorre na vida, seja o que consideramos agradável,
seja o que achamos ruim. Mesmo porque, o que cada indivíduo é, em qualquer momento
de sua vida, é o resultado de todos os eventos que ele já vivenciou e que, portanto, se
bons ou ruins, foram necessários para que ele fosse o que é. O homem não deve buscar
o poder ou status, mas não deve se furtar a eles se o destino o colocar em algum lugar
mais nobre, como ocorreu com Marco Aurélio, pensador importante da escola, que
ocupou o maior cargo político de Roma no período: Imperador. Trata-se de uma corrente,
como se percebe, que teve bastante longevidade, já que vamos do século III a.C. a, pelo
menos, 180 d.C., com Marco Aurélio, sem contar a possível influência que ainda se
manteve durante longo período, e sobre o próprio cristianismo nascente, do que nos dão
conta alguns historiadores. O tema da felicidade, como foi visto, e de como atingi-la a
partir de uma vida adequada, foi amplamente tratado no período, com uma rica produção
textual. Grande parte do que foi escrito, no entanto, acabou por se perder ao longo do
tempo. As influências sobre nossa cultura e os filósofos posteriores, no entanto, é
inegável.

Exercícios Propostos:

QUESTÃO 01 (UEL)
Leia o texto a seguir.

A virtude é, pois, uma disposição de caráter relacionada com a


escolha e consiste numa mediania, isto é, a mediania relativa a nós,
a qual é determinada por um princípio racional próprio do homem
dotado de sabedoria prática.
(Aristóteles. Ética a Nicômaco. Trad. de Leonel Vallandro e Gerd
Bornheim. São Paulo: Abril Cultural, 1973. Livro II, p. 273.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a situada ética em Aristóteles,


pode-se dizer que a virtude ética

A) reside no meio termo, que consiste numa escolha situada entre o excesso e
a falta.
B) implica na escolha do que é conveniente no excesso e do que é prazeroso
na falta.
C) consiste na eleição de um dos extremos como o mais adequado, isto é, ou o
excesso ou a falta.
D) pauta-se na escolha do que é mais satisfatório em razão de preferências
pragmáticas.
E) baseia-se no que é mais prazeroso em sintonia com o fato de que a
natureza é que nos torna mais perfeitos.

QUESTÃO 02 (UEM)
Afirma o filósofo Epicuro (séc. III a.C.), conhecido pela defesa de uma filosofia
hedonista: “(...) o prazer é o começo e o fim da vida feliz. É ele que
reconhecemos como o bem primitivo e natural e é a partir dele que se
determinam toda escolha e toda recusa e é a ele que retornamos sempre,
medindo todos os bens pelo cânon do sentimento. Exatamente porque o prazer
é o bem primitivo e natural, não escolhemos todo e qualquer prazer; podemos
mesmo deixar de lado muitos prazeres quando é maior o incômodo que os
segue.” (EPICURO, A vida feliz. In: ARANHA, M. L.; MARTINS, M. P. Temas
de filosofia. 3.ª ed. rev. São Paulo: Moderna, 2005, p. 228.)

Considerando os conceitos de Epicuro, é correto afirmar que

01) estudar todo dia não é bom porque a falta de prazer anula todo
conhecimento adquirido.
02) todas as escolhas são prazerosas porque naturalmente os seres humanos
rejeitam toda dor.
04) comer uma refeição nutritiva e saborosa em demasia é ruim porque as
consequências são danosas ao bem estar do corpo.
08) a beleza corporal é uma finalidade da vida humana porque o prazer de ser
admirado é a maior felicidade para o ser humano.
16) o prazer não é necessariamente felicidade porque ele pode gerar o seu
contrário, a dor.

QUESTÃO 03 (UEM)
“Acostuma-te à ideia de que a morte para nós não é nada, visto que todo bem
e todo mal residem nas sensações, e a morte é justamente a privação das
sensações. A consciência clara de que a morte não significa nada para nós
proporciona a fruição da vida efêmera, sem querer acrescentar-lhe tempo
infinito e eliminando o desejo de imortalidade. Não existe nada de terrível na
vida para quem está perfeitamente convencido de que não há nada de terrível
em deixar de viver. É tolo, portanto, quem diz ter medo da morte, não porque a
chegada desta lhe trará sofrimento, mas porque o aflige a própria espera.”
(Epicuro, Carta sobre a felicidade [a Meneceu]. São Paulo: ed. Unesp, 2002, p.
27. In: COTRIM, G. Fundamentos da Filosofia. SP: Saraiva, 2006, p. 97).

A partir do trecho citado, é correto afirmar que

01) a morte, por ser um estado de ausência de sensação, não é nem boa, nem
má.
02) a vida deve ser considerada em função da morte certa.
04) o tolo não espera a morte, mas vive apoiado nas suas sensações e nos
seus prazeres.
08) a certeza da morte torna a vida terrível.
16) a espera da morte é um sofrimento tolo para aquele que a espera.

Questões Enem:

QUESTÃO 01
Na Ética a Nicômaco, Aristóteles afirma: “Então, quando a amizade é por
prazer ou por interesse mesmo, duas pessoas más podem ser amigas, ou
então uma pessoa boa e outra má, ou uma pessoa que não é nem boa nem má
pode ser amiga de outra qualquer espécie; mas pelo que são em si mesmas é
óbvio que somente pessoas boas podem ser amigas. Na verdade, pessoas
más não gostam uma da outra a não ser que obtenham algum proveito
recíproco” (ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco. In: Filosofia. Vários autores.
Curitiba: SEED-PR, 2006, p. 123).

A partir da leitura do trecho citado, é possível inferir que para o autor

A) a amizade não comporta uma esfera de interesses particulares.


B) A amizade, em nenhum caso, é consequência de condicionantes pessoais
dos amigos.
C) As amizades desinteressadas não existem, visto que alguém sempre tem a
ganhar na relação.
D) A amizade interessada entre pessoas más também é amizade.
E) A amizade é falsa quando não há interesse ou prazer na relação.

QUESTÃO 02

Habitua-te a pensar que a morte nada é para nós, visto que todo o mal e
todo o bem se encontram na sensibilidade: e a morte é a privação da
sensibilidade. (EPICURO. Antologia de textos. Coleção Os Pensadores.
São Paulo: Victor Civita. 1973. p. 22.)

Para Epicuro (341 – 270 a.C), a morte nada significa porque ela não existe
para os vivos, e os mortos não estão mais aqui para explicá-la. De fato, quando
pensamos em nossa própria morte, podemos nos imaginar mortos, mas não
sabemos o que é a experiência do morrer. Epicuro lamenta que

A) as pessoas encarem a morte com coragem.


B) as pessoas amem a morte e a desejem.
C) as pessoas aceitem a morte como seu destino final.
D) as pessoas não acreditem na imortalidade da alma.
E) as pessoas fujam da morte como se fosse o maior dos males.
Exercícios de Fixação:

QUESTÃO 01 (UFU)
Em sua obra Ética a Nicômaco, Aristóteles propôs a ideia de que a virtude é a
disposição para buscar o meio termo ou a justa medida entre o excesso e a
falta em determinada conduta.
Com base nessa afirmação e em seus conhecimentos sobre a obra de
Aristóteles, assinale a alternativa correta.

A) Coragem é o justo meio entre covardia e temeridade.


B) Covardia é o justo meio entre temeridade e coragem.
C) Temeridade é o justo meio entre coragem e covardia.
D) Coragem, covardia e temeridade não são termos que se relacionam à
ética.

QUESTÃO 02 (UFPB)
O filme Alexandre representou a vida do famoso imperador da Macedônia que
constituiu um grande império, incluindo a Grécia, o Egito, a Síria, a Pérsia, indo
até as fronteiras com a Índia. Alexandre foi educado pelo filósofo Aristóteles e o
seu registro memorável na História deve-se, além de seus feitos militares, à
difusão da cultura grega nas regiões do Oriente por ele conquistadas. Esse
processo histórico-cultural, conhecido como helenismo, caracterizou-se pelo(a):

A) formação de uma nova cultura, sem elementos culturais gregos nem


orientais.
B) desaparecimento das culturas orientais diante da cultura grega ou helênica.
C) conflito cultural irreconciliável entre a cultura grega e as culturas orientais.
D) desaparecimento da cultura grega diante das culturas orientais (persa e
egípcia).
E) constituição de uma cultura diferenciada, com elementos gregos e orientais.

QUESTÃO 03 (UENP)
Apesar de sua diversidade e suas diferenças teóricas, todas as escolas do
helenismo colocam a ética como a parte mais importante da filosofia. Analise
as afirmativas sobre as concepções éticas dessas escolas:

I. para os epicuristas o prazer é o bem ético, por isso defendiam o hedonismo


radical.
II. o cético pirrônico deseja chegar a e permanecer na tranquilidade decidindo-
se por alguma doutrina específica.
III. segundo Epicuro, para alcançar o bem ético o filósofo deve atuar sempre
que possível na política.
IV. os estóicos preconizavam que a virtude para chegar ao bem ético deveria
basear-se nas inclinações e desejos.
V. os céticos praticavam a suspensão do juízo (époche) como meio de se
chegar à tranquilidade da alma.
VI. os cínicos eram críticos dos costumes estabelecidos porque acreditavam
que as cidades existentes afastavam os seres humanos da felicidade, que para
eles consistia no retorno à natureza.
VII. segundo os estóicos, o filósofo só encontrará a felicidade ética se admitir
que tudo que ocorre no mundo é justo, porquanto se realiza segundo as leis de
uma divindade racional.
Assinale a alternativa CORRETA.
A) Somente as afirmativas I, II, V e VII são corretas.
B) Somente as afirmativas II, III, V e VI são corretas.
C) Somente as afirmativas V, VI e VII são corretas.
D) Somente as afirmativas II, V, VI e VII são corretas.
E) Somente as afirmativas I, VI e VII são corretas.

QUESTÃO 04 (UENP- adaptada)


Sobre as escolas éticas do período helenístico, da antiguidade clássica da
Filosofia Grega, associe os nomes das escolas com as características
apresentadas e assinale a alternativa correta.
I – epicurismo
II – estoicismo
III – ceticismo
IV – cinismo
A - É uma moral vinculada às sensações. O fim supremo da vida é o prazer
sensível; mas deve-se vincular somente aos prazeres que não retirem a
tranquilidade
B – Vincula a felicidade à liberdade, e esta ao desprezo com relação aos bens
materiais e às convenções sociais.
C - Se nada é verdadeiro, tudo vale igualmente.
D - A paixão é sempre substancialmente má, pois é movimento irracional,
morbo e vício da alma

a) I – A, II – B, III – C, IV – D
b) I – A, II – B, III – D, IV – C
c) I – A, II – D, III – C, IV – B
d) I – A, II – D, III – B, IV – C
e) I – D, II – A, III – B, IV – C

QUESTÃO 05 (PUC-GO- adaptada)


Segundo conta o mito de Pandora, no fundo da caixa aberta por ela, da qual
saíram todos os males, estava a esperança. O papel da esperança,
aprisionada no fundo da caixa, talvez fosse compensar os males que foram
libertados. Afinal, todos querem alcançar a felicidade. Tendo como referência a
filosofia helenística, analise os itens que seguem:

I - Para os hedonistas, o bem se encontra no prazer. Em sentido bastante


genérico, pode-se dizer que a civilização contemporânea é hedonista, por
identificar a felicidade com a aquisição de bens de consumo.
II - Sêneca, um estoico tardio, é sucinto e objetivo no que tange à
esperança. Segundo esse filósofo, a esperança seria o último mal a
emergir da funesta caixa. Viver em esperança é decepcionar-se, pois não
há como escapar dos infortúnios da vida. Entretanto, se escapar é
impossível, é possível uma educação filosófica que nos auxilie a lidar mais
tranquilamente com tais revezes. De alguns textos de Sêneca, derivam
ditados populares assaz conhecidos, tais como: “O tempo é o remédio para
todos os males”; “Quem persevera sempre alcança”.
III - Para Epicuro, a felicidade não se orienta pela busca do prazer, mas no
exercício constante da virtude. Reconhece que o ser humano é apenas
uma parte da natureza e por isso deve aceitar o destino e lutar contra as
forças da paixão, causadoras de intranquilidade e dor. Para tanto, deve
eliminar as paixões (apatia) e atingir a imperturbabilidade (ataraxia),
aceitando com impassibilidade o seu destino.
IV - De acordo com o poeta Homero, Pandora abriu a caixa movida por
uma incontrolável curiosidade e, ao abri-la, liberou todos os males,
desgraças e calamidades que afligem a humanidade. No fundo da caixa,
entretanto, restou a esperança. O ceticismo traz uma interpretação que
sugere ser a esperança a grande salvadora. Afinal, ela acarreta a
possibilidade de assumir opiniões e, ao tomar decisões, vemos a
esperança florescer.
Após sua análise sobre os itens acima, assinale, abaixo, apenas a
afirmativa verdadeira:

A) Os itens I e II são verdadeiros.


B) Os itens I e III são verdadeiros.
C) Os itens II e III são verdadeiros.
D) Os itens II e IV são verdadeiros.
TEXTO PARA AS QUESTÕES 6 E 7 (UnB)
Ora, entre os antigos, normas de vida e exercícios espirituais formavam a essência
da “filosofia”, não da religião, e a religião estava mais ou menos separada das ideias
sobre a 4 morte e o além. Havia seitas, que eram filosóficas, pois a filosofia era a
matéria de seitas que propunham convicções e normas de vida a quem elas
pudessem interessar; um individuo 7 se tornava estoico ou epicurista e se conformava
mais ou menos a suas convicções.
Paul Veyne. O Império Romano In: Philippe Ariès e Georges Duby. História da vida
privada: do Império Romano ao ano mil. São Paulo: Companhia das Letras, 2010 p.
201 (com adaptações).

Considerando o texto acima, assinale a opção correta nos itens 06 e 07, que são do
tipo C.

06- Das informações do texto depreende-se que o saber filosófico

A) foi precursor da organização de crenças em religiões.


B) era formado, inicialmente, por ideias relacionadas a espiritualidade e a conduta
humana.
C) resultou, dado seu caráter normativo, no segregacionismo dos povos nos
primórdios da humanidade.
D) predominava entre os povos antigos, porque contemplava discussões sobre a
morte e o mundo não visível, o além.
07- Com relação ao assunto tratado no texto acima, assinale a opção correta.

A) O Epicurismo foi uma escola filosófica que se caracterizou pela adoção de uma
ética afeita aos prazeres materiais.
B) O Estoicismo foi uma escola filosófica que se caracterizou pela adoção de uma
ética negadora dos prazeres imateriais.
C) A religião, que constitui a verdade, pode ser considerada a continuação da
filosofia, que se orienta pela busca da verdade.
D) O Epicurismo e o Estoicismo orientavam regras de viver, por isso constituíam
seitas filosóficas entre os antigos da civilização helênica.

QUESTÃO 08
Em que consiste a époche na concepção filosófica do ceticismo? O que justifica tal
postura?

QUESTÃO 09
Como a física atomista nos auxilia a nos livrar dos nossos medos de acordo
com o epicurismo?

QUESTÃO 10
Qual é a liberdade existente para o homem, de acordo com a filosofia estoica?

Módulo 07: A patrística: Santo Agostinho.


Durante certo tempo, Roma ofereceu resistência ao ensino e propagação
da filosofia grega. Isso por acreditar que ela desviava os cristãos da crença nos
dogmas, ou fazia nascer heresias, devido a seus instrumentos conceituais para
a compreensão de certos aspectos da religião. Porém, com a difusão das obras
de Platão e de Aristóteles, não foi mais possível ignorar a herança intelectual
grega.
A partir da aceitação da cultura pagã, o ensino na idade média passou a
contar com temas vinculadores do saber profano à teologia sustentada na
autoridade da revelação.
Nesse sentido, a filosofia é a demonstração da verdade através de
instrumentos que permitam ao filósofo triunfar sobre os detentores da pretensa
verdade. A filosofia não é a busca da verdade, pois a verdade já foi trazida pela
própria palavra de Deus. As questões de âmbito teológico são mais
importantes para o homem, por tratarem de sua salvação. No âmbito filosófico,
também não há que se buscar a verdade, visto que ela está posta nas obras de
Aristóteles. Há, portanto, duas sínteses: a das verdades profanas, constituída
pela doutrina de Aristóteles; e a das verdades cristãs, contidas nas sagradas
escrituras e nas interpretações autorizadas dos textos sacros. A filosofia
medieval pode ser dividida em quatro grandes momentos:

- Padres Apostólicos: os primeiros padres da igreja cristã, como Paulo, que


repudiavam a filosofia em favor da fé.
- Padres Apologistas: buscavam defender a fé cristã da influência da filosofia.
- Patrística: primeiras buscas de conciliação entre fé e razão. Utilização da
filosofia platônica. O maior pensador foi Agostinho de Hipona.
- Escolástica: movimento das primeiras universidades, vinculadas à igreja.
Reaparecimento das obras de Aristóteles. O maior pensador foi Tomás de
Aquino.

A FILOSOFIA PATRÍSTICA

É a filosofia dos padres da igreja católica. Com o objetivo de unir religião e


filosofia, os padres introduziram idéias novas para os pagãos, tais como a ideia
de criação do mundo, de pecado original, de Deus como trindade una,
encarnação e morte de Deus. Santo Agostinho e Boécio introduziram a idéia de
“homem interior”, ou seja, de consciência moral ou livre arbítrio, pelo qual o
homem se torna responsável pelo mal no mundo.
Essa filosofia é uma retomada da filosofia platônica, na qual é valorizado o
suprassensível, e a qual remete o homem a um comportamento ético rigoroso,
já que o mundo corpóreo ou sensível afasta o homem do supremo bem. Com
isso, é indispensável que o homem paute seu comportamento na justa medida,
ou seja, mantenha sob controle suas paixões de forma racional. Seu principal
representante foi, sem sombra de dúvida, Aurélio Agostinho.

Agostinho de Hipona (354-430 d.C), ou Santo


Agostinho, como ficou conhecido em função da
compreensão da igreja católica, foi o maior expoente da
Patrística. Nasceu em Tagaste, na África, em 13 de
novembro de 354, filho de um pagão e de uma cristã
fervorosa, Mônica, depois canonizada santa pela igreja.
Entretanto, ao ir para Cartago, a fim de aperfeiçoar seus
estudos, aderindo ao maniqueísmo, seita que atribuía à
realidade substancial tanto o bem quanto o mal,
buscando encontrar uma explicação para o problema do
mal e uma justificação da vida.
Até seus trinta e dois anos abandona o maniqueísmo e retoma a filosofia
neo-platônica, que lhe ensinou a espiritualidade de Deus e a negatividade do
mal, e se converte, finalmente, ao cristianismo. Concebendo uma vida cristã,
encontra a possibilidade de por fim a suas angústias, e encontra na filosofia a
felicidade, passando a utilizá-la como instrumento em favor da fé, de onde tira
a máxima “entender para crer e crer para entender”.
A filosofia agostiniana se funda a partir da tríade: fé, esperança e amor,
onde o sujeito do conhecimento está pronto para conhecer Deus se for
iluminado por Ele, pois como no âmbito da física as coisas devem ser
iluminadas pela luz do sol para serem conhecidas, o mesmo ocorre com
relação às coisas divinas, pois Deus é o sol que as ilumina.
Ocorre, porém, que a opção de utilizar ou não as virtudes supracitadas
depende do homem, que possui o livre arbítrio, ou seja, a capacidade de
escolher ou não as coisas divinas, que são o Bem. Agostinho toma isso como
base para sua filosofia, pois se crê pela vontade, e essa é irracional, visto que
não se pode explicar e entender porque se ama, sendo que se ama pela
vontade de amar.

FÉ E RAZÃO: A BUSCA DA FELICIDADE


Para Agostinho, o problema da felicidade constitui a motivação do pensar
filosófico. A filosofia é entendida como uma disciplina teórica que coloca
problemas à estrutura do mundo físico ou à natureza dos deuses, mas não
como um questionamento sobre a condição humana à procura da beatitude.
Agostinho se preocupa com o problema das relações entre razão e fé, entre
o que se demonstra racionalmente e o que se sabe pela convicção interior,
entre a verdade revelada e a verdade lógica, entre a religiosidade cristã e a
filosofia pagã. Através da fé nas escrituras busca o entendimento daquilo que
elas ensinam, pois, a fé para ele é a via de acesso à verdade eterna. Mas a fé
não pode ser demonstrada sem o trabalho da razão, que a precede e é a sua
conseqüência, pois é necessário compreender para crer e crer para
compreender.

A DOUTRINA DA ILUMINAÇÃO DIVINA

Percorri o melhor possível, com os sentidos, o mundo exterior.


Observei em mim a vida do corpo e os próprios sentidos. Passei
depois às profundezas da memória, a essas amplidões sucessivas,
admiravelmente repletas de inumeráveis riquezas. Observei-as,
estupefato. Mas, sem Vós, nada pude distinguir. Contudo, reconheci
que Voes nada disto éreis.
Não era eu quem descobria estas maravilhas. É certo que as
percorri a todas e tentei distingui-las e avaliá-las no seu justo valor,
tomando e interrogando os seres que traziam mensagens aos meus
sentidos. [...] Mas não era eu quem fazia tudo isso, nem era a força
com que eu agia, a qual não éreis Vós, porque sois luz imutável que
eu consultava acerca da existência, da qualidade e do valor em
todas as coisas. (AGOSTINHO. 2004, p. 303-304).

Agostinho acredita que as verdades contidas nas filosofias pagãs provém


da mesma fonte das verdades cristãs. Por isso as verdades dos filósofos
pagãos (Platão e Aristóteles) são verdades porque Deus permitiu que esses
homens vislumbrassem a Sabedoria. Devido à iluminação interior, alguns
aspectos das filosofias pagãs permitem a compenetração das verdades
absolutas da religião.
Através da doutrina da iluminação divina, Agostinho explica como é possível
ao homem receber de Deus as verdades eternas, pois todo conhecimento
verdadeiro é resultado de uma iluminação divina, que faz com que o homem
contemple as ideias, arquétipos eternos de toda a realidade. Não que a luz
divina possa ser vista, mas ela serve para iluminar as ideias.
Para elaborar sua teoria, o autor busca recursos na alegoria da caverna de
Platão, que mostra ser o conhecimento resultado do Bem, considerado como o
sol que ilumina o mundo inteligível. Mas Agostinho entende a percepção do
inteligível na alma como uma irradiação divina no presente, e não como
descoberta de um conteúdo passado.
Assim como os objetos exteriores só podem ser vistos quando iluminados
pela luz do sol, também as verdades da sabedoria precisariam ser iluminadas
pela luz divina para se tornarem inteligíveis. Contudo, o homem possui seu
próprio intelecto, sendo que a iluminação permite ao intelecto pensar
corretamente por ordem natural, estabelecida por Deus, existente entre as
coisas do mundo e as verdades inteligíveis, denominadas pela palavra ideia,
forma, espécie, razão ou regra.
Por conseguinte, todo conhecimento verdadeiro é o resultado de uma
iluminação divina, levando o homem à contemplação das ideias, arquétipos ou
modelos eternos de toda a realidade, não podendo porém a luz divina ser vista,
só servindo para iluminar.
À semelhança de Platão, em Agostinho tudo que existe é cópia de modelos
eternos e perfeitos que se encontram em um plano suprassensível, e a verdade
não pode ser encontrada no meio externo ao homem, que só é estimulado
pelos objetos para buscar as verdades em seu interior. Diferente de Platão, no
entanto, Agostinho não admite a existência da metempsicose e,
consequentemente, de vidas passadas. Para ele a alma humana é criada
juntamente com o corpo, em um único ato de Deus. Ao invés de buscar o
conhecimento no passado, a partir da lembrança ou reminiscência, como quer
o filósofo grego, o homem, para o bispo de Hipona, busca a Deus no presente,
que o ilumina na busca da verdade, também, no presente.

Exercícios Propostos:

QUESTÃO 01 (UFU)
Leia o texto a seguir.

“No que diz respeito a todas as coisas que compreendemos, não


consultamos a voz de quem fala, a qual soa de fora, mas a verdade
que dentro de nós preside à própria mente, incitados talvez pela
palavra a consultá-la.”
De Magistro, Cap. XI, 38, In Os Pensadores, SANTO AGOSTINHO.
São Paulo: Nova Cultural, 1987. p. 319.

Marque a afirmativa INCORRETA.

A) Segundo Agostinho, a verdade não se descobre pela consulta das palavras


que vêm de fora. O processo da descoberta da verdade dá-se através da
interioridade.
B) Segundo Agostinho, a linguagem humana não tem um poder causal, mas
apenas uma função instrumental de utilidade.
C) Segundo Agostinho, a linguagem humana é a condição para conhecer a
verdade que dentro de nós preside à própria mente.
D) Segundo Agostinho, a verdade que dentro de nós preside à própria mente
pressupõe a iluminação divina e não o recurso à memória.

QUESTÃO 02 (UFU)
A filosofia grega se expandiu para além das fronteiras do mundo helênico e
influenciou outros povos e culturas. Com o cristianismo não foi diferente e, aos
poucos, a filosofia foi absorvida. Conforme Chalita, um dos motivos dessa
absorção foi: [...] a necessidade de organizar os ensinamentos cristãos, de
reunir os fatos e conceitos do cristianismo sob a forma de uma doutrina e
elaborar uma teologia rigorosa. (CHALITA, G. Vivendo a Filosofia. São Paulo:
Ática, 2006, p. 94.)
Uma das características da patrística é a busca da conciliação entre a fé e a
filosofia, e Agostinho de Hipona, ou Santo Agostinho (354 d.C. – 430 d.C.),
influenciado pelo neoplatonismo, tornou-se uma referência para a filosofia
cristã.
Em relação ao desenvolvimento das ciências naturais, porém, o pensamento
de Agostinho não deu grande impulso uma vez que sua filosofia – tal como a
do mestre Platão – não adotava os fenômenos naturais como objeto de
reflexão.

Com base nos textos acima e em seus conhecimentos sobre a obra de


Agostinho de Hipona, assinale a alternativa INCORRETA.

A) Agostinho de Hipona criou a doutrina da iluminação divina baseado na teoria


da reminiscência de Platão, conciliando de modo original a fé cristã e o
pensamento filosófico.
B) A observação, a experimentação e a aplicação dos princípios da geometria
sobre os fenômenos naturais foi uma das principais características da filosofia
de Santo Agostinho.
C) Conforme Agostinho de Hipona, a filosofia grega é um instrumento útil para
a fé cristã.
D) As verdades eternas e imutáveis, que têm sua sede em Deus, só podem ser
alcançadas pela iluminação divina.

QUESTÃO 03 (UFU)
Leia o trecho extraído da obra Confissões.

Quem nos mostrará o Bem? Ouçam a nossa resposta: Está gravada


dentro de nós a luz do vosso rosto, Senhor. Nós não somos a luz que
ilumina a todo homem, mas somos iluminados por Vós. Para que
sejamos luz em Vós os que fomos outrora trevas. SANTO AGOSTINHO.
Confissões IX. São Paulo: Nova
Cultural,1987. 4, l0. p.154. Coleção Os Pensadores

Sobre a doutrina da iluminação de Santo Agostinho, marque a alternativa


correta.

A) A irradiação da luz divina faz com que conheçamos imediatamente as


verdades eternas em Deus. Essas verdades, necessárias e eternas, não estão
no interior do homem, porque seu intelecto é contingente e mutável.
B) A irradiação da luz divina atua imediatamente sobre o intelecto humano,
deixando-o ativo para o conhecimento das verdades eternas. Essas verdades,
necessárias e imutáveis, estão no interior do homem.
C) A metáfora da luz significa a ação divina que nos faz recordar as verdades
eternas que a alma possuía antes de se unir ao corpo.
D) A metáfora da luz significa a ação divina que nos faz recordar as verdades
eternas que a alma possuía e que nela permanecem mediante os ciclos da
reencarnação.

Questões Enem
QUESTÃO 01 (ENEM 2011)

O texto abaixo reproduz parte de um diálogo entre dois personagens de um


romance.

- Quer dizer que a Idade Média durou dez horas? – Perguntou Sofia.
- Se cada hora valer cem anos, então sua conta está certa. Podemos imaginar
que Jesus nasceu à meia-noite, que Paulo saiu em peregrinação missionária
pouco antes da meia noite e meia e morreu quinze minutos depois, em Roma.
Até as três da manhã a fé cristã foi mais ou menos proibida. (...) Até as dez
horas as escolas dos mosteiros detiveram o monopólio da educação. Entre dez
e onze horas são fundadas as primeiras universidades.
Adaptado de GAARDER, Jostein. O Mundo de Sofia, Romance da História
da Filosofia. São Paulo: Cia das Letras, 1997.

O ano de 476 d.C., época da queda do Império Romano do Ocidente, tem sido
usado como marco para o início da Idade Média. De acordo com a escala de
tempo apresentada no texto, que considera como ponto de partida o início da
Era Cristã, pode-se afirmar que

A) as Grandes Navegações tiveram início por volta das quinze horas.


B) a Idade Moderna teve início um pouco antes das dez horas.
C) o Cristianismo começou a ser propagado na Europa no início da Idade
Média.
D) as peregrinações do apóstolo Paulo ocorreram após os primeiros 150 anos
da Era Cristã.
E) os mosteiros perderam o monopólio da educação no final da Idade Média.

QUESTÃO 02
Para Agostinho, as Verdades Eternas e imutáveis (que Platão coloca no mundo
das Ideias) têm sua sede em Deus, que é a Verdade. Não as conhecemos por
meio de uma recordação ou reminiscência de uma existência anterior à atual,
como pensava Platão, mas mediante um ato consciente de interiorização, no qual
a razão toma consciência da presença de Deus. A presença divina é a Luz que
nos faz ver essas Verdades Eternas
BOEHNER, P. e GILSON, E. História da Filosofia Cristã. Petrópolis: Vozes,
1988. p. 164.

O texto acima refere-se à doutrina da Iluminação Divina, elaborada por


Agostinho de Hipona. Em tal doutrina, o filósofo entendia que

A) o conhecimento que possuímos nesta vida provém de uma recordação do


mundo das Ideias.
B) o conhecimento verdadeiro que o homem pode alcançar nesta vida é
proveniente das verdades eternas que se encontram na mente de Deus.
C) o conhecimento se daria por reminiscência, e esta seria possível em função
da metempsicose.
D) no processo do conhecimento humano, por causa da Iluminação Divina, a
razão é totalmente passiva.
E) a única fonte de conhecimento são os dados empíricos, como bem já havia
afirmado Aristóteles.

Exercícios de Fixação:

QUESTÃO 01

A casa de Deus, que cremos ser uma, está, pois, dividida em três:
uns oram, outros combatem, e outros, enfim, trabalham. (Bispo
Adalberon de Laon, século XI, apud LE GOFF, Jacques. A
civilização do ocidente medieval. Lisboa: Editorial Estampa, 1984. P.
45-46)

A sociedade do período medievo possuía, como uma de suas características, a


estrutura social extremamente rígida e segmentada. A sociedade dos homens
era um reflexo da sociedade divina. Essa estrutura é uma herança da filosofia

A) patrística, de Santo Agostinho.


B) escolástica, de Abelardo.
C) racionalista, de Platão.
D) dialética, de Hegel.

QUESTÃO 02 (Uncisal)
Uma das preocupações de certa escola filosófica consistiu em provar que as
ideias platônicas ou gêneros e espécies aristotélicos são substâncias reais,
criadas pelo intelecto e vontade de Deus, existindo na mente divina. Reflexões
dessa natureza foram realizadas, majoritariamente, no período da história da
filosofia

A) pré-socrática
B) antiga
C) medieval
D)moderna
E) contemporânea

QUESTÃO 03 (Uncisal)
A filosofia de Santo Agostinho é essencialmente uma fusão das concepções
cristãs com o pensamento platônico. Subordinando a razão à fé. Agostinho de
Hipona afirma existirem verdades superiores e inferiores, sendo as primeiras
compreendidas a partir da ação de Deus. Como se chama a teoria agostiniana
que afirma ser a a ação de Deus que leva o homem a atingir verdades
superiores?

A) Teoria da Predestinação
B) Teoria da Providência
C) Teoria Dualista
D) Teoria da Emanação
E) Teoria da Iluminação
QUESTÃO 04

“Agostinho afirmava que as verdades da fé não são atingíveis pela razão, mas
acreditava ser possível demonstrar o acerto de nelas se crer. Fé e razão
guardariam, portanto, estreita relação, daí a sua máxima, inspirada num versículo
de Isaías: “Compreende para crer, crê para compreender”.”
INÁCIO, Inês & LUCA, Tânia R. de. O pensamento
medieval. São Paulo: Ática, 1988, p. 25.

O texto acima permite que se conclua que

A) para compreender os mistérios da fé, a razão não é suficiente, é preciso


antes a fé, a crença em tais mistérios para, em seguida, com a ajuda da
iluminação divina, podermos entender as verdades de fé.
B) Agostinho é o bispo católico que, por ter sido professor de filosofia antes de
sua conversão, negou completamente a possibilidade de se conferir às
verdades cristãs uma forma racionalmente compreensível.
C) segundo Agostinho, nada que nossa razão não seja capaz de compreender
deve ser digno de fé, isto é, a razão humana é o critério absoluto que nos leva
a crer ou não em Deus.
D) Agostinho considera a filosofia inútil porque não nos ajuda a entender nada
sobre os mistérios da fé. Em função disso, afirma a necessidade de afastar a
religião das ameaças da razão.
E) por fazer parte da corrente filosófica denominada apologética, o filósofo
recusou veementemente a possibilidade de conciliação entre religião e
filosofia, ou seja, entre fé e razão.

QUESTÃO 05 (UFU)

A filosofia de Agostinho (354 – 430) é estreitamente devedora do


platonismo cristão milanês: foi nas traduções de Mário Vitorino que leu
os textos de Plotino e de Porfírio, cujo espiritualismo devia aproximá-lo
do cristianismo. Ouvindo sermões de Ambrósio, influenciados por
Plotino, que Agostinho venceu suas últimas resistências (de tornar-se
cristão). PEPIN, Jean. Santo Agostinho e a patrística ocidental. In:
CHÂTELET, François (org.) A Filosofia medieval. Rio de Janeiro Zahar
Editores: 1983, p. 77.

Apesar de ter sido influenciado pela filosofia de Platão, por meio dos escritos
de Plotino, o pensamento de Agostinho apresenta muitas diferenças se
comparado ao pensamento de Platão. Assinale a alternativa que apresenta,
corretamente, uma dessas diferenças.

A) Para Agostinho, é possível ao ser humano obter o conhecimento verdadeiro,


enquanto, para Platão, a verdade a respeito do mundo é inacessível ao ser
humano.
B) Para Platão, a verdadeira realidade encontra-se no mundo das Ideias,
enquanto para Agostinho não existe nenhuma realidade além do mundo natural
em que vivemos.
C) Para Agostinho, a alma é imortal, enquanto para Platão a alma não é
imortal, já que é apenas a forma do corpo.
D) Para Platão, o conhecimento é, na verdade, reminiscência, a alma
reconhece as Ideias que ela contemplou antes de nascer; Agostinho diz que o
conhecimento é resultado da Iluminação divina, a centelha de Deus que existe
em cada um.

QUESTÃO 06 (UEM)
Um texto de um filósofo anônimo da Idade Média apresenta de modo claro um
problema central para a filosofia e a ciência do seu tempo. Ele afirma: “Boécio
divide em três as partes da ciência especulativa: natural, matemática e
teológica. Da mesma forma, o Filósofo [isto é, Aristóteles] divide-a em natural,
matemática e metafísica. Assim, isto que Boécio chama teologia, o Filósofo
chama metafísica. Elas são, portanto, idênticas. Mas a metafísica não é acerca
de Cristo. Logo, a teologia também não o é” (Quaestio de divina scientia. In:
FIGUEIREDO, V. Filósofos na sala de aula. Vol. 3. São Paulo: Berlendis &
Vertecchia, 2008, p. 68).

A partir do trecho citado, assinale a(s) alternativa(s) correta(s).

01) A teologia apresenta-se na Idade Média como a ciência principal.


02) A teologia é objeto da filosofia de Aristóteles, apesar de ela não ter esse
nome para ele.
04) A teologia é uma ciência que não diz respeito à investigação da natureza
de Cristo.
08) A teologia é, para esses filósofos, tão científica quanto a matemática.
16) A teologia e a metafísica são conhecimentos adquiridos por meio da ciência
especulativa.

QUESTÃO 07

Deus cria as coisas a partir de modelos imutáveis e eternos, que são as ideias
divinas. Essas ideias ou razões não existem em um mundo à parte, como afirmava
Platão, mas na própria mente ou sabedoria divina, conforme o testemunho da
Bíblia.

“Que a mesma sabedoria divina, por quem foram criadas todas as coisas,
conhecia aquelas primeiras, divinas, imutáveis e eternas razões de todas as
coisas antes de serem criadas, a Sagrada Escritura dá este testemunho: ‘No
princípio era o Verbo e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. Todas
as coisas foram feitas pelo Verbo e sem Ele nada foi feito’. Quem seria tão néscio
a ponto de afirmar que Deus criou as coisas sem conhecê-las? E se as conheceu,
onde as conheceu senão em si mesmo, junto a quem estava o Verbo pelo qual
tudo foi feito?” (Santo Agostinho, Sobre o Gênese, V, 29)

COSTA, José Silveira da. A Filosofia Cristã. In: RESENDE, Antônio.


Curso de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar/SEAF, 1986, p. 78, Capítulo 4.

A Patrística, filosofia cristã dos primeiros séculos, poderia ser definida como

A) retomada do pensamento de Platão, conforme os modelos teológicos da


época, estabelecendo estreita relação entre filosofia e religião.
B) configuração de um novo horizonte filosófico, proposto por Santo Agostinho,
inspirado em Platão, de modo a resgatar a importância das coisas sensíveis,
da materialidade.
C) adaptação do pensamento aristotélico, conforme os moldes teológicos da
época, a partir das versões em grego e árabe.
D) criação de uma escola filosófica, que visava combater os ataques dos
pagãos, rompendo com o dualismo grego.
E) busca de demonstrar que filosofia e religião deveriam permanecer
separadas, em função de sua especificidade.

QUESTÃO 08 (UFU)
"Creio tudo o que entendo, mas nem tudo que creio também entendo. Tudo o que
compreendo conheço, mas nem tudo que creio conheço."
Agostinho. De Magistro. São Paulo: Abril Cultural, 1973. p. 319. (Coleção "Os
Pensadores").

A citação de Agostinho refere-se à relação entre fé e razão. Explique como


este filósofo concebe esta relação.

QUESTÃO 09 (UFU)
Leia os textos abaixo.

“Ultrapassarei a memória, para encontrar-te. Mas onde, ó bondade


verdadeira e suavidade segura? Encontrar-te onde? Se te encontro fora da minha
memória, é porque me esqueci de ti. E como poderei encontrar-te, se não me
lembro de ti?.”

“Está gravada dentro de nós a luz da tua face, Senhor. De fato, não somos nós a
luz que ilumina todo homem, mas somos iluminados por ti, para que sejamos luz
em ti, nós que fomos trevas um dia.”
SANTO AGOSTINHO. Confissões. São Paulo:
Abril Cultural, 1973. Col. Os Pensadores.

Com base nos textos acima, responda:

A) por que, segundo Santo Agostinho, a verdade eterna encontra-se dentro e,


ao mesmo tempo, fora da memória?
B) por que, para Santo Agostinho, a ação divina da iluminação torna-se
necessária?

QUESTÃO 10 (UFU)
Leia com atenção o texto abaixo em que o autor comenta e cita Santo
Agostinho, e, em seguida, responda as questões apresentadas.

Deus cria as coisas a partir de modelos imutáveis e eternos, que são as ideias
divinas. Essas ideias ou razões não existem em um mundo à parte, como afirmava
Platão, mas na própria mente ou sabedoria divina, conforme o testemunho da
Bíblia.

“Que a mesma sabedoria divina, por quem foram criadas todas as coisas,
conhecia aquelas primeiras, divinas, imutáveis e eternas razões de todas as
coisas antes de serem criadas, a Sagrada Escritura dá este testemunho: ‘No
princípio era o Verbo e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. Todas
as coisas foram feitas pelo Verbo e sem Ele nada foi feito’. Quem seria tão néscio
a ponto de afirmar que Deus criou as coisas sem conhecê-las? E se as conheceu,
onde as conheceu senão em si mesmo, junto a quem estava o Verbo pelo qual
tudo foi feito?” (Santo Agostinho, Sobre o Gênese, V, 29)
COSTA, José Silveira da. A Filosofia Cristã. In: RESENDE, Antônio.
Curso de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar/SEAF, 1986, p. 78, Capítulo 4.

A) Explique a relação, sugerida neste texto, entre a teoria das Ideias de Platão
e o pensamento de Agostinho.

B) Explique como Agostinho usa essa teoria para explicar o conhecimento


humano, na sua conhecida Doutrina da Iluminação Divina.

Módulo 08: Escolástica: Problema dos Universais e Tomás de


Aquino.
A ESCOLÁSTICA

Aproximadamente no século IX da era cristã as instituições estatais


começam a se complexificar, exigindo cada vez mais, para a realização das
funções nelas exercidas, mão de obra capacitada. O analfabetismo,
excetuando-se o clero, assola o território hoje conhecido como Europa. É em
função disso que um Imperador analfabeto, chamado Carlos Magno, atenta
para a necessidade da formação de uma classe que representará, futuramente,
a possibilidade de uma burocracia mais funcional. Ocorre, por esse motivo, a
chamada Renascença Carolíngia, que é realizada com o auxílio do pensador
Alcuíno de York, com a fundação das escolas. Nelas eram ministradas as sete
artes liberais: o Trivium (gramática, retórica e dialética) e o Quadrivim
(aritmética, geometria, música e astronomia. Todas elas, no entanto,
submissas à teologia, pois essas escolas se encontravam ligadas ou a
mosteiros os a catedrais.

O PROBLEMA DOS UNIVERSAIS

A relação entre voces e res, entre linguagem e realidade, que está no


centro dos estudos gramaticais e da dialética, constitui o elemento essencial da
questão dos universais, vivamente debatida no século XII por suas implicações
lingüísticas, gnosiológicas e teológicas. Com efeito, o problema dos universais
diz respeito à determinação do fundamento e do valor dos conceitos e termos
universais, como, por exemplo, “animal” e “homem”, aplicáveis a uma
multiplicidade de indivíduos. Mas, em geral, trata-se de um problema que diz
respeito à determinação da relação entre as ideias ou categorias mentais,
expressos em termos linguísticos, e as realidades extra mentais, ou, em última
análise, é o problema da voces e a res, entre as palavras e as coisas, entre o
pensamento e o Ser. O problema envolve, portanto, o fundamento e a validade
do conhecimento e, em geral, do saber humano.

A POSIÇÃO NOMINALISTA

Doutrina filosófica surgida na Idade Média que consiste em uma tomada de


posição frente ao problema dos universais. Na investigação acerca da natureza
dos termos genéricos, o nominalismo, tomado em seu sentido amplo, afirma:
as espécies e os gêneros, em última instância, os universais, não são
realidades. Eles constituem somente nomes, palavras empregadas a fim de
agrupar conjuntos de indivíduos. Frente a esta questão, a postura nominalista
opõe-se à solução realista, que afirma a realidade dos universais, presentes no
intelecto divino anteriormente às coisas. Os realistas representam uma
interpretação do platonismo desde a perspectiva da filosofia medieval. Deste
modo, os universais possuem a função de modelos ideais, a partir dos quais
são criados os entes singulares.
O nominalismo surge na Idade Média, ainda que tenha sido prefigurado por
várias argumentações de filósofos antigos. Seu florescimento ocorreu em dois
períodos distintos: no século XI, com Roscelino de Compiègne, e no século
XIV, com Guilherme de Ockham. Do primeiro, conhecemos seu pensamento
somente através das refutações de seus contraditores. Segundo estes,
Roscelino negaria qualquer realidade aos universais, considerando-os
simplesmente como um sopro de voz (em latim, flatus vocis). A postura de
Guilherme, por sua vez, confere aos universais a natureza de signos, palavras
que permitem ao intelecto humano reunir determinados grupos de entes sob a
mesma designação, abstraindo suas diferenças individuais.
Em ambos os casos, a concepção nominalista afirma o individual como a
única forma verdadeira de existência. Deste modo, os conceitos universais
permanecem tão estranhos aos entes como as palavras que empregamos para
designá-los. O nominalismo aponta, necessariamente, para uma tendência
gnosiológica de tipo empirista, uma vez que se a realidade é unicamente
composta de indivíduos, somente a apreensão do particular, isto é, a
experiência sensível, nos permite acesso à realidade.
A postura nominalista foi criticada de várias formas. Santo Anselmo refuta a
posição de Roscelino, valendo-se do seguinte argumento: mesmo que o
universal seja apenas um sopro de voz, ele ainda é alguma coisa, provida de
realidade. Como tal, seria preciso apreendê-lo, conhecê-lo por meio do
intelecto. Contudo, toda apreensão intelectiva somente pode ocorrer por meio
dos universais, que, assim, estariam presentes nos sons enquanto estes se
configuram “entes naturais”.
O nominalismo encontrou vários seguidores diretos, nos séculos XIV e XV,
como Pedro de Ailly, João Buridano, Nicolau de Oresme e Alberto de Saxônia.
Suas teses foram retomadas e reinterpretadas durante a era moderna por
várias vertentes filosóficas. O empirismo inglês, o positivismo clássico e o
materialismo de Feuerbach são alguns destes exemplos. Atualmente, o
neopositivismo, bem como determinadas vertentes da lógica e da filosofia da
linguagem, integram-se a uma postura nominalista, ainda que cada uma destas
correntes reveja esta postura a partir de seus próprios paradigmas.

A POSIÇÃO REALISTA

O realismo consiste no pensamento que compreende essência da realidade


como algo material ou empírico, substantivamente determinado. Oposto ao
idealismo, que concebe a consciência do sujeito como fundamento de todo
real, o realismo afirma que as coisas existem nelas mesmas, fora e
independente da consciência subjetiva do homem. Por querer pensar as coisas
"tal como elas mesmas são", o realismo se constitui em um pensamento
objetivo que, ao contrário das especulações dialéticas dos idealistas, busca ser
sempre positivo e, antes de tudo, pragmático.
Tanto o realismo como o idealismo nascem da compreensão dicotômica
que pensa o real como um composto de matéria e espírito, corpo e alma;
sendo a matéria o elemento sensível e exterior, o mundo, e o espírito, o
elemento inteligível e interno, o homem. A partir da separação homem-mundo,
a verdade passa a ser concebida como a adequação entre o sujeito e o objeto.
Todavia, na medida em que sendo originariamente separados e com essências
distintas, como pode haver a síntese entre sujeito e objeto que constitui o
conhecimento verdadeiro? Em outras palavras: a ligação, que é o lugar da
verdade, se dá no homem, e por isso é subjetiva, ou no mundo, e assim
objetiva? Em que instância, no homem ou no mundo, se encontra o "entre" que
une sujeito e objeto? Enquanto o idealismo afirma que o fundamento desta
relação é o homem, pois só conhecemos o que o pensamento coloca
previamente nas coisas, o realismo afirma que o fundamento da relação é o
mundo, pois o pensamento apenas representa e, assim expõe, o que as coisas
são nelas mesmas. Assim, a partir do pressuposto da separação ontológica de
homem e mundo, o realismo se constitui como um pensamento contraposto ao
idealismo, por pensar o mundo e não o homem como o fundamento da
realidade.
Os movimentos filosóficos do realismo mais importantes são o atomismo, os
universais, os empiristas e os materialistas.
Para o realismo de Guilherme de Champeaux, por vezes denominado
ultrarrealismo, os universais existem como entidades reais. Em alguns autores,
à moda do platonismo, tais modelos ideais se encontrariam na mente de Deus
e, portanto, fora dos seres individuais. O realismo aristotélico trabalha com a
existência dos universais nos próprios individuais que, portanto, somente se
diferenciariam em função de sua acidentalidade.

PEDRO ABELARDO (1079 - 1142) - O REALISMO MODERADO

Nasceu em Le Pallet, perto de Nantes (França). Além do papel filosófico


importante que desempenhou na discussão acerca dos universais, tornou-se
famoso por sua dramática história pessoal. Lecionou filosofia e teologia em
Paris, tendo suas aulas reunido um número considerável de alunos. Entre
estes se encontrava Heloísa, por quem Abelardo perdidamente se apaixonou.
Perseguidos pelo cônego Fulbert, tio da jovem, casaram-se secretamente em
Paris. Abelardo, temendo por sua segurança, abrigou-a em uma abadia, onde
Heloísa acabou por fazer profissão de fé. Atacado por homens a mando do tio
de Heloísa, Abelardo foi mutilado. Entrou para uma abadia, onde se tornou
monge, contudo voltando posteriormente a lecionar. A correspondência trocada
por Abelardo e Heloísa, quando ambos já se encontravam devotados à vida
monástica, figura entre os mais tocantes escritos amorosos da literatura
ocidental.
No campo filosófico, Abelardo sobressai por suas opiniões polêmicas.
Estudou lógica com Roscelino e, posteriormente, com Guilherme de
Champeaux. Estes dois filósofos representam duas posições opostas quanto
ao problema dos universais e Abelardo termina por refutar a ambas. Roscelino
representa uma posição nominalista extremada frente a esta questão,
defendendo a tese de que só podemos encontrar na realidade os entes
individuais, sendo o universal, desta forma, apenas uma emissão sonora, um
mero nome. Guilherme de Champeaux, por sua vez, defende uma postura
realista, ao afirmar, seguindo uma interpretação de Platão tornada canônica na
Idade Média, a existência real dos universais, ou antes, a existência mais real e
autêntica destes frente aos entes particulares. Abelardo refuta o nominalismo
de Roscelino, defendendo que os universais apresentam uma realidade mental.
E refuta o realismo de Guilherme de Champeaux, afirmando que, se o universal
é um atributo, ele não pode ser uma realidade, uma vez que uma realidade não
pode ser predicada por outra realidade, pois “nenhuma realidade pode ser dita
acerca de muitas coisas, mas somente um nome”. Os debates entre Abelardo e
seu mestre realista parecem ter levado este último, por fim, a atenuar sua
posição. A tese de Abelardo frente a esta questão pode ser, assim, resumida: o
universal é um nome, e um nome é uma voz significativa. Deste modo, a
discussão, até o momento predominantemente metafísica, se transfere para o
domínio da lógica, cabendo a esta a tarefa de aclarar o sentido da significação,
bem como de investigar a relação que esta mantém com o significado.
As idéias de Abelardo também causaram polêmica no âmbito das
indagações teológicas. Seu pensamento neste campo constitui, igualmente,
uma dupla oposição: por um lado, contra aqueles que se negavam a aplicar a
dialética, isto é, as forças da razão, à investigação de questões relativas ao
divino; por outro, contra os que tratavam a dialética como o único modo seguro
de acesso a Deus. Contra uma acusação de ser excessivamente dialético,
esquecendo assim a importância da revelação para a teologia, escreve
Abelardo: “Não quero ser tão filósofo que resista a Paulo, nem tão aristotélico,
para afastar-me de Cristo”. Apesar disso, sua postura lhe valeu censuras, em
especial de São Bernardo. Suas opiniões teológicas foram condenadas por
dois concílios, sendo consideradas heréticas. Seu primeiro livro, Introdução à
Teologia, foi proibido pelo Concílio de Soissons em 1121.
Abelardo contribui também para as investigações de ordem ética, trazendo
à baila a discussão acerca da importância da intenção no julgamento de um ato
moral. O todo de seu pensamento exerceu influência sobre filósofos de seu
século, bem como, um século depois, sobre São Tomás de Aquino, um dos
maiores expoentes da filosofia na Idade Média.
Principais obras de Abelardo: Sobre a Unidade e Trindade Divina, Sim e
Não, Teologia Cristã, Lógica para principiantes, História das minhas
Calamidades.
Faleceu em 21 de abril, em Chalon-sur-Saône, aos sessenta e três anos.

TOMÁS DE AQUINO (1225 – 1274)

Tomás de Aquino nasceu em 1225 em Roccasseca e lá


mesmo morreu em 1274, filho dos condes de Aquino,
estudou as artes liberais.
Adaptou a filosofia grega de Aristóteles ao pensamento
cristão da Escolástica, mas seus pensamentos são de
cunho dogmático cristão dos Padres da Igreja e da tradição
Medieval anterior. Preocupava-se com a demonstração da
existência de Deus e a explicação da essência na medida
em que é possível, a interpretação racional dos dogmas.
Por um lado a Trindade, a criação do mundo, a Eucaristia e
por outro lado a Ética orientada para uma vida
sobrenatural; o problema dos universais e muitos outros.
Para ele a teologia funda-se na Revelação divina, enquanto a filosofia tem
por base o exercício da razão humana. Não é o homem que faz teologia, mas
Deus, ao revelar-se, pois Deus é a própria verdade, e o uso correto da razão
conduz a verdade. Daí não pode haver conflito entre a filosofia e a teologia
porque seria uma discórdia no âmbito da verdade, como podemos perceber em
suas palavras.

É um fato que esses princípios naturalmente inatos à razão humana


são absolutamente verdadeiros; são tão verdadeiras que chega a
ser impossível pensar que possam ser falsos. [...] A mesma coisa
que o mestre inculca no espírito do seu discípulo, a ciência do
mestre a inclui, a menos que este ensinamento do mestre esteja
imbuído de hipocrisia, o que não se pode supor em Deus. Ora, o
conhecimento dos princípios que nos são conhecidos naturalmente
nos é dado por Deus, uma vez que Deus é o autor da nossa
natureza. Por conseguinte, tais princípios naturais estão incluídos
também na sabedoria divina. Portanto, tudo aquilo que contradiz tais
princípios, contradiz a sabedoria divina. Ora, isto não pode
acontecer em Deus. Tudo o que a revelação divina nos manda crer,
é impossível que contrarie o conhecimento natural. (AQUINO, T.
2004, p. 143-144)

Desse modo, podemos sintetizar da seguinte maneira as relações que


Aquino estabelece entre razão natural e fé:
 as duas são formas distintas de se acessar a verdade, sendo que a
razão o faz por meio do que o filósofo denomina evidência
intrínseca, ou seja, demonstração lógica ou empírica das coisas, e
a fé por meio da confiança na autoridade do Deus revelante. Desse
modo, dão origem a duas ciências distintas: a filosofia e a teologia.
 como ambas nos foram infundidas pelo mesmo ser, que é Deus, é
incoerente imaginar que Ele nos concederia uma razão que nos
levasse a negar as verdades que nos são resultado da Sua
revelação. Em função disso, não deve haver conflito entre fé e
razão quando consideram o mesmo objeto, e caso tal ocorra,
devemos optar pela revelação, visto que a razão pode ser
conduzida de maneira equivocada.
 ainda que a razão possa, sozinha, atingir as verdades referentes
ao mundo natural e até a algumas relacionadas a Deus, Aquino
acha que nem todos os seres humanos o podem igualmente, e
mesmo aqueles que têm essa possibilidade, poderiam errar muito
antes de consegui-lo. Em função disso, é interessante que Deus
revele as verdades que devemos atingir para, posteriormente, a
razão demonstra-las, por meio da concatenação dos raciocínios e
da observação das coisas, por meio da evidência intrínseca. A fé,
portanto, termina por ser superior à razão.

OS PRINCÍPIOS DO CONHECIMENTO

Tomás de Aquino concilia as verdades da razão aristotélica e o conteúdo da


revelação bíblica e, com isso, prova a existência de Deus. Racionalmente o
mundo é concebido como um conjunto de criaturas contingentes, cuja
existência é dada por Deus, criadas a partir do nada e escalonadas de acordo
com os graus diversos de perfeição e participação na essência e na existência
de Deus.
No ápice da hierarquia das criaturas encontram-se os anjos, que são
criaturas como as demais, embora incorpóreas possuem a mais alta perfeição
dentre todas as criaturas. Já o homem é um ser dotado de corpo e alma, mas
não possui uma inteligência pura como a dos anjos, por ter sua alma ligada ao
corpo e devido a essa dupla natureza o homem pode conhecer o inteligível,
mas não pode manter contato direto com ele. Seu conhecimento parte dos
sentidos que revelam objetos concretos e singulares, mas através da abstração
consegue formular conceitos universais.
Tomás de Aquino afirma que o intelecto pode gerar conceitos abstratos e
universais porque não se limita a receber e registrar os dados fornecidos pelos
sentidos, embora o conhecimento tenha início no plano corpóreo se finaliza no
plano espiritual.
Retomando as idéias de Aristóteles sobre o Ser e o saber, Tomás de
Aquino enfatizou a importância da realidade sensorial. No processo de
conhecimento dessa realidade, ressaltou uma série de princípios considerados
básicos, dentre os quais se destacam:

- Princípio de contradição: o ser é ou não é. Não existe nada que possa ser
e não ser ao mesmo tempo e sob o mesmo ponto de vista.
- Princípio da substância: na existência dos seres podemos distinguir a
substância (a essência, propriamente dita, de uma coisa, sem a qual ela não
seria aquilo que é) e o acidente (a qualidade não-essencial, acessória do ser).
- Princípio da causa eficiente: todos os seres que captamos pelos sentidos
são seres contingentes, isto é, não possuem, em si próprios, a causa eficiente
de suas existências. Portanto, para existir, o Ser contingente depende de um
outro Ser que representa a sua causa eficiente: este outro Ser é chamado de
Ser necessário.
- Princípio da finalidade: todo ser contingente existe em função de uma
finalidade, de um objetivo, de uma “razão de ser”. Enfim, todo Ser contingente
possui uma causa final.
- Princípio do ato e da potência: todo Ser contingente possui duas
dimensões: o ato e a potência. O ato representa a existência atual do Ser,
aquilo que está realizado e determinado. A potência representa a capacidade
real do ser, aquilo que não se realizou mas pode realizar-se. É a passagem da
potência para o ato que explica toda e qualquer mudança.

AS PROVAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS

O Ser é o conceito mais universal de todos , segundo Tomás de Aquino,


que aproveita o ensinamento aristotélico. Mas esta universalidade não é o
gênero como demonstrou Aristóteles, contrapondo-se à opinião de Platão. O
ente é um transcendental que está presente em todas as coisas sem confundir-
se com nenhuma delas.
A palavra Ser possui dois sentidos, quais sejam: a essência e a existência.
Tomás de Aquino afirma que há distinção entre a essência e a existência das
criaturas, que são entes contingentes. Porém, em Deus, não há essa distinção,
pois a existência de Deus provém de sua essência.
Para Tomás de Aquino há cinco vias, isto é, cinco maneiras de demonstrar
a existência de Deus, que são:

1ª) O PRIMEIRO MOTOR: Tudo aquilo que se move é movido por outro Ser.
Por sua vez, este outro Ser, para que se mova, necessita também que seja
movido por outro Ser. E, assim, sucessivamente. Se não houvesse um primeiro
Ser movente, cairíamos num processo indefinido. Logo, conclui Tomás de
Aquino, é necessário chegar a um primeiro Ser movente que não seja movido
por nenhum outro. Esse ser é Deus.
2ª) A CAUSA EFICIENTE: Todas as coisas existentes no mundo não possuem
em si próprias a causa eficiente de suas existências. Devem ser consideradas
efeitos de alguma causa. Tomás de Aquino afirma ser impossível remontar
indefinidamente à procura das causas eficientes. Logo, é necessário admitir a
existência de uma primeira causa eficiente, responsável pela sucessão de
efeitos. Essa causa primeira é Deus.
3ª) SER NECESSÁRIO E SER CONTINGENTE: Este argumento é uma
variante do segundo. Afirma que todo Ser contingente, do mesmo modo que
existe, pode deixar de existir. Ora, se todas as coisas que existem podem
deixar de Ser, então, alguma vez, nada existiu. Mas, se assim fosse, também
agora nada existiria, pois aquilo que não existe somente começa a existir em
função de algo que já existia. É preciso admitir, então, que há um ser que
sempre existiu, um ser absolutamente necessário, que não tenha fora de si a
causa da sua existência, mas, ao contrário, que seja a causa da necessidade
de todos os seres contingentes. Esse ser necessário é Deus.
4ª) OS GRAUS DE PERFEIÇÃO: Em relação à qualidade de todas as coisas
existentes, pode-se afirmar a existência de graus diversos de perfeição. Assim,
afirmamos que tal coisa é melhor que outra, ou mais bela, ou mais poderosa,
ou mais verdadeira etc. Ora, se uma coisa possui “mais” ou “menos”
determinada qualidade positiva, isto supõe que deve existir um Ser com o
máximo dessa qualidade, ao nível da perfeição. Devemos admitir, então, que
existe um Ser com o máximo de bondade, de beleza, de poder, de verdade,
sendo, portanto, um Ser máximo e pleno. Esse ser é Deus.
5ª) A FINALIDADE DO SER: Todas as coisas brutas, que não possuem
inteligência própria, existem na natureza cumprindo uma função, um objetivo,
uma finalidade, semelhante a flecha dirigida pelo arqueiro. Devemos admitir,
então, que existe algum Ser inteligente que dirige todas as coisas da natureza
para que cumpram seu objetivo. Esse ser é Deus.
Assim, Tomás de Aquino reviveu em grande parte o pensamento aristotélico
com a finalidade de nele buscar os elementos racionais que explicassem os
principais aspectos da fé cristã. Enfim, fez da filosofia de Aristóteles um
instrumento a serviço da religião católica, ao mesmo tempo que transformou
essa filosofia numa síntese original.
Enfim, a idéia principal que anima as cinco vias acima descritas é Deus,
invisível e infinito, demonstrável por seus efeitos visíveis e finitos. Visto que
sabe-se que Deus é, porém não se sabe o que é. Mas pode saber-se algo a
respeito de Deus, através da visão das criaturas, que pode se dar pela via da
causalidade, da excelência e da negação. De todos esses modos, há duas
possibilidades de ver: uma conforme a simples razão natural, alguns vêem a
luz mas não estão na luz; a outra através da revelação que é superior a razão,
porque está na luz vista pela razão.
Portanto, o mundo é criado por Deus por um ato livre e voluntário, e a
criação é a posição do mundo na existência que pela revelação se realiza no
tempo, mesmo que não possa ser demonstrado racionalmente. Deus é a causa
exemplar e também a causa final, visto que todos os fins se dirigem para ele.
Sobre a questão dos Universais, Aquino toma uma posição que poderíamos
entender como resultante de seu contato com as três grandes escolas
apresentadas anteriormente. O autor termina por assumir um posicionamento
realista, entendendo a existência do universal em três instâncias: ante rem, isto
é, antes dos seres, na mente de Deus; in re, ou seja, nas coisas, enquanto
essências dos próprios seres individuais; e post rem, posterior às coisas, na
nossa mente, a partir da sua assimilação por meio da abstração, à moda
aristotélica.

Exercícios propostos:

QUESTÃO 01 (UFU)
Com efeito, existem a respeito de Deus verdades que ultrapassam totalmente as
capacidades da razão humana. Uma delas é, por exemplo, que Deus é trino e uno. Ao
contrário, existem verdades que podem ser atingidas pela razão: por exemplo, que
Deus existe, que há um só Deus etc.
AQUINO, Tomás de. Súmula contra os Gentios. Capítulo Terceiro: A possibilidade de
descobrir a verdade divina. Tradução de Luiz João Baraúna. São Paulo: Abril Cultural,
1979, p. 61.

Para São Tomás de Aquino, a existência de Deus se prova

A) por meios metafísicos, resultantes de investigação intelectual.


B) por meio do movimento que existe no Universo, na medida em que todo movimento
deve ter causa exterior ao ser que está em movimento.
C) apenas pela fé, a razão é mero instrumento acessório e dispensável.
D) apenas como exercício retórico.

QUESTÃO 02 (UFU)
Leia o texto a seguir sobre o problema dos universais.

“Ockham adota o nominalismo, posição inaugurada em uma versão


mais radical por Roscelino (séc. XII), [que] afirma serem os
universais apenas palavras, flatus vocis, sons emitidos, não havendo
nenhuma entidade real correspondentes a eles.”
MARCONDES, D. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos
a Wittgenstein. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2005. p. 132.

Marque a alternativa correta.

A) Segundo o texto acima, o termo “humanidade”, aplicável a uma


multiplicidade de indivíduos, indica um modo de ser das realidades extra
mentais.
B) Segundo o texto acima, o termo “humanidade”, aplicável a uma
multiplicidade de indivíduos, é apenas um conceito pelo qual nos referimos a
esse conjunto.
C) Segundo o texto acima, o termo “humanidade”, aplicável a uma
multiplicidade de indivíduos, determina entidades metafísicas subsistentes.
D) Segundo o texto acima, o termo “humanidade”, aplicável a uma
multiplicidade de indivíduos, determina formas de substância individual
existentes.

QUESTÃO 03 (UFU)
Santo Tomás de Aquino, nascido em 1224 e falecido em 1274, propôs as cinco
vias para o conhecimento de Deus. Estas vias estão fundamentadas nas
evidências sensíveis e racionais. A primeira via afirma que os corpos
inanimados podem ter movimento por si mesmos. Assim, para que estes
corpos tenham movimento é necessário que algo os mova. Esta concepção
leva à necessidade de um primeiro motor imóvel, isto é, algo que mesmo não
sendo movido por nada pode mover todas as coisas.

Sobre a primeira via, que é a do movimento, marque a alternativa correta.


A) Para que os objetos tenham movimento é necessário que algo os mova;
dessa forma, entende-se que é necessário um primeiro motor. Logo, podemos
entender que Deus não é necessário no sistema.
B) Para Santo Tomás, os objetos inanimados movem-se por si mesmos e esse
fenômeno demonstra a existência de Deus.
C) A demonstração do primeiro motor não recorre à sensibilidade, dispensando
toda e qualquer observação da natureza, uma vez que sua fundamentação é
somente racional.
D) Conforme o argumento da primeira via podemos concluir que Deus é o
motor imóvel, o qual move todas as coisas, mas não é movido.

Questões Enem:

QUESTÃO 01

“Tampouco é inevitável que, se afirmarmos que Deus é exclusivamente ser


ou existência, caiamos no erro daqueles que disseram que Deus é aquele
ser universal, em virtude do qual todas as coisas existem formalmente.
Com efeito, este ser que é Deus é de tal condição, que nada se lhe pode
adicionar. (...) Por este motivo afirma-se no comentário à nona proposição
do livro Sobre as Causas, que a individuação da causa primeira, a qual é
puro ser, ocorre por causa da sua bondade. Assim como o ser comum em
seu intelecto não inclui nenhuma adição, da mesma forma não inclui no
seu intelecto qualquer precisão de adição, pois, se isto acontecesse, nada
poderia ser compreendido como ser, se nele algo pudesse ser
acrescentado.”
AQUINO, Tomás. O ente e a essência. Trad. de Luiz João
Baraúna. São
Paulo: Nova Cultural, 1988, p. 15. Coleção “Os Pensadores”.
Em O ente e a essência, Tomás de Aquino argumenta sobre a existência de
Deus, refutando teses de outras doutrinas da filosofia escolástica. O autor está
seguro de que nada se pode acrescentar a Deus, porque

A) sua essência composta de essência e existência é autossuficiente para gerar


indefinidamente matéria e forma, criando todas as coisas.
B) sua essência simples é gerada incessantemente, embora não seja
composta de matéria e forma, multiplica-se em si mesmo na pluralidade dos
seres.
C) é essência divina, absolutamente simples e idêntica a si mesma,
constituindo-se, necessariamente, uma essência única.
D) é ser contingente, no qual essência e existência não dependem do tempo,
por isso, gera a si mesmo eternamente, dando existência às criaturas.
E) é ser necessário, que depende de outros seres para existir mas que, a
partir do momento em que existe, alcança a plenitude.

QUESTÃO 02

“Em sua teoria do conhecimento, Tomás de Aquino substitui a doutrina da


iluminação divina pela da abstração, de raízes aristotélicas: a única fonte de
conhecimento humano seria a realidade sensível, pois os objetos naturais
encerrariam uma forma inteligível em potência, que se revela, porém, não aos
sentidos que só podem captá-la individualmente - mas ao intelecto.”
INÁCIO, Inês C. e LUCA, Tânia Regina de. O pensamento medieval.
São Paulo: Ática, 1988, p. 74.
Considerando a citação acima, pode-se entender que
A) o texto faz referência à influência de Aristóteles no pensamento de Tomás
de Aquino, que se opõe, em muitos pontos, à tradição agostiniana, que tinha
influência de Platão.
B) o texto expõe a doutrina da iluminação, formulada por Tomás de Aquino
para explicar a origem de nosso conhecimento.
C) para Tomás de Aquino, a realidade sensível é apenas uma cópia enganosa
da verdadeira realidade que se encontra na mente divina.
D) Tomás de Aquino substitui a doutrina da iluminação pela teoria da
abstração aristotélica, a fim de mostrar que a fé em Deus é incompatível com
as verdades científicas.
E) o texto mostra o desprezo pelo conhecimento da realidade material que
marcou o período final da Idade Média.

Exercícios de Fixação:

QUESTÃO 01 (UFU)
A teologia natural, segundo Tomás de Aquino (1225-1274), é uma parte da
filosofia, é a parte que ele elaborou mais profundamente em sua obra e na qual
ele se manifesta como um gênio verdadeiramente original. Se se trata de física,
de fisiologia ou dos meteoros, Tomás é simplesmente aluno de Aristóteles, mas
se se trata de Deus, da origem das coisas e de seu retorno ao Criador, Tomás
é ele mesmo. Ele sabe, pela fé, para que limite se dirige, contudo, só progride
graças aos recursos da razão.
GILSON, Etienne. A Filosofia na Idade Média, São Paulo: Martins Fontes,
1995, p. 657.
De acordo com o texto acima, é correto afirmar que

A) a obra de Tomás de Aquino é uma mera repetição da obra de Aristóteles.


B) Tomás parte da revelação divina (Bíblia) para entender a natureza das
coisas.
C) as verdades reveladas não podem de forma alguma ser compreendidas pela
razão humana.
D) é necessário procurar a concordância entre razão e fé, apesar da distinção
entre ambas.

QUESTÃO 02 (UEM)
“Os artigos de fé não são princípios de demonstrações nem conclusões, não
sendo nem mesmo prováveis, já que parecem falsos para todos, para a maioria
ou para os sábios, entendendo por sábios aqueles que se entregam à razão
natural, já que só de tal modo se entende o sábio na ciência e na filosofia.”
(OCKHAM, G. [1280-1349]. In: COTRIM, G. Fundamentos de Filosofia, São
Paulo: Saraiva, 2006, p. 120).

A partir do trecho citado, é correto afirmar que

01) os argumentos calcados na fé não podem ser submetidos a demonstrações


lógicas.
02) o filósofo apresenta a típica separação entre aquilo que é do domínio da fé
e do domínio da razão para o pensamento medieval.
04) os artigos de fé são falsos por natureza, visto que não estão submetidos
nem à ciência nem à filosofia.
08) as demonstrações e as conclusões, para os filósofos, não podem ser
deduzidas a partir de princípios falsos.
16) a distinção entre a teologia e a ciência ou a filosofia está, entre outras
coisas, nos diferentes procedimentos ou nos métodos de comprovação
utilizados por elas.

QUESTÃO 03 (UFU)
Para responder a questão, leia o seguinte texto.

O universal é o conceito, a ideia, a essência comum a todas as coisas


(por exemplo, o conceito de ser humano). Em outras palavras, pergunta-
se se os gêneros e as espécies têm existência separada dos objetos
sensíveis: as espécies (por exemplo, o cão) ou os gêneros (por exemplo,
o animal) teriam existência real? Ou seriam apenas ideias na mente ou
apenas palavras? (ARANHA, M. L. A. & MARTINS, M. H. Filosofando.
3ª edição. São Paulo: Moderna, 2003, p. 126.)

A resposta correta à pergunta formulada no texto acima, sobre os universais, é:

A) Segundo os nominalistas, as espécies e gêneros universais são meras


palavras vazias, flactus vocis, sem existência real.
B) Segundo os nominalistas, os universais são conceitos, mas têm fundamento
na realidade das coisas.
C) Segundo os nominalistas, os universais (gêneros e espécies) são entidades
realmente existentes no mundo das Ideias, sendo as coisas deste mundo
meras cópias destas Ideias.
D) Segundo os nominalistas, os gêneros e as espécies universais existem
realmente, mas apenas na mente de Deus.

QUESTÃO 04 (UFU)
A respeito da questão dos universais na Idade Média, leia o texto abaixo.

“ A tendência no século XI era dizer que os universais têm algum tipo de


existência na realidade, fora do pensamento humano. Roscelino foi um
dos primeiros pensadores medievais a sustentar que os universais são
meras palavras. Pedro Abelardo, utilizando-se de novas teorias lógicas e
novos instrumentos dialéticos, procurou expor uma solução
intermediária, dizendo que os universais não podem ser coisas que
existem realmente nem são apenas nomes, mas nomes com um
significado, isto é, os universais são conceitos”. Texto adaptado de:
NASCIMENTO, Carlos Arthur Ribeiro. O que é
filosofia medieval. São Paulo: Brasiliense, 1992. p. 40-42.

Marque, para as afirmativas abaixo, (V) Verdadeira, ou (F) Falsa.

1 ( ) A posição de Roscelino ficou conhecida como nominalismo.


2 ( ) A posição mais representativa no século XI ficou conhecida como
nominalismo.
3 ( ) Segundo o realismo, os universais têm algum tipo de existência na
realidade.
4 ( ) A posição de Pedro Abelardo pode ser considerada rigorosamente como
realista.

QUESTÃO 05 (UFU)
O texto que segue refere-se às vias da prova da existência de Deus.

As cinco vias consistem em cinco grandes linhas de argumentação por


meio das quais se pode provar a existência de Deus. Sua importância
reside sobretudo em que supõe a possibilidade de se chegar no
entendimento de Deus, ainda que de forma parcial e indireta, a partir da
consideração do mundo natural, do cosmo, entendido como criação
divina. MARCONDES, D. Textos básicos de filosofia: dos pré-socráticos
a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999. p. 67.

A partir do texto, marque a alternativa correta.

A) As cinco vias são argumentos diretos e evidentes da existência de Deus.


B) Tomás de Aquino formula as cinco vias da prova da existência de Deus,
utilizando, sistematicamente, as passagens bíblicas para fundamentar seus
argumentos.
C) As cinco vias partem de afirmações gerais e racionais sobre a existência de
Deus, para chegar a conclusões sobre as coisas sensíveis, particulares e
verificáveis sobre o mundo natural.
D) Tomás de Aquino formula as argumentações que provam a existência de
Deus sob a influência do pensamento de Aristóteles, recorrendo não à Bíblia,
mas, sobretudo, à Metafísica do filósofo grego.

QUESTÃO 06 (UFU)
Leia com atenção o texto abaixo:

“Nos três primeiros artigos da 2ª questão da Suma de Teologia, Tomás


de Aquino discute sobre a existência de Deus. Suas conclusões são: 1)
a existência de Deus não é auto evidente, sendo preciso demonstrá-la;
2) a existência de Deus não pode ser demonstrada a partir de sua
essência (pois isso ultrapassa a nossa capacidade de conhecimento); 3)
a existência de Deus pode ser demonstrada, contudo, a partir de seus
efeitos (demonstração quia), isto é, a partir da natureza criada podemos
conhecer algo a respeito do seu Criador. A partir disso, ele desenvolve
cinco argumentos ou vias segundo as quais se pode mostrar, a partir
dos efeitos, que Deus existe.” Adaptado de: MARCONDES, Danilo.
Iniciação à história da filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000.
p. 126-130.

Sobre as cinco vias da prova da existência de Deus, elaboradas por Tomás de


Aquino, assinale a alternativa INCORRETA.

A) Nos argumentos de Tomás de Aquino sobre a existência de Deus, pode-se


perceber a influência dos escritos de Aristóteles em seu pensamento.
B) Segundo a prova teleológica, tudo que obedece a uma finalidade pressupõe
uma inteligência que o criou com tal finalidade, como o carpinteiro em relação a
uma mesa; ora, percebemos a finalidade no Universo (todas as criaturas têm
uma finalidade); logo, Deus é o princípio que dá essa finalidade ao Universo.
C) Segundo a prova que se baseia no movimento, Deus é considerado o motor
imóvel, isto é, como a causa primeira do movimento que percebemos no
mundo, e deve ser imóvel para evitar o regresso ao infinito.
D) Qualquer pessoa que consiga compreender os argumentos das cinco vias
conhecerá, com certeza evidente, a essência de Deus.

QUESTÃO 07

“O sistema tomista baseia-se na determinação rigorosa das relações entre a razão


e a revelação. Ao homem, cujo fim último é Deus, o qual excede toda a
compreensão da razão, não basta a investigação filosófica baseada na razão.
Mesmo aquelas verdades que a razão pode alcançar sozinha, não é dado a todos
alcançá-las, e não está livre de erros o caminho que a elas conduz. Foi, portanto,
necessário que o homem fosse instruído convenientemente e com mais certeza
pela revelação divina. Mas a revelação não anula nem torna inútil a razão: ‘a graça
não elimina a natureza, antes a aperfeiçoa’. A razão natural subordina-se à fé tal
como no campo prático as inclinações naturais se subordinam à caridade.”
ABBAGNANO, Nicola. História da Filosofia.
Lisboa: Presença, 1978, p. 19-30, Vol. IV.
Com base no texto, infere-se que Tomás de Aquino

A) rejeitava as verdades da fé cristã que não pudessem ser explicadas


plenamente pela razão humana.
B) desprezava, por serem inúteis, as tentativas racionais em compreender as
verdades da fé cristã.
C) buscava conciliar as verdades da fé cristã com as exigências da razão
humana ou da filosofia.
D) subordinava a fé à razão natural, só sendo digno de crença o que pudesse
ser cientificamente comprovado.
E) combatia veementemente a busca, comum no seu tempo, de inserir
Aristóteles na teologia cristã.

QUESTÃO 08 (UFU)
Leia o texto a seguir e responda às questões propostas.

Para os filósofos, durante a Idade Média, que faziam da ideia geral uma realidade,
a própria espécie constituía necessariamente uma realidade, ao passo que se a
ideia geral for apenas um nome, a verdadeira realidade se encontra nos indivíduos
que constituem a espécie. Em outras palavras, para um realista, a humanidade é
uma realidade, existe realmente como algo separado dos homens singulares; para
um nominalista a única coisa real são os indivíduos humanos, “humanidade” não
passa de um conceito, ou nome. Roscelino adota abertamente a segunda solução
do problema. Para ele, o termo “homem” ou “humanidade” não designa nenhuma
realidade que seja, em qualquer grau, a da espécie humana.
GILSON, ETIENNE.A filosofia na Idade Média.
São Paulo: Martins fontes, 1998, p. 189

A) Segundo o texto acima, nominalistas e realistas interpretam de modo


diferente a relação entre as palavras ou ideias e a realidade existente fora de
nossa mente. Explique essas duas posições filosóficas (nominalismo e
realismo).

B) Segundo o texto, Roscelino é nominalista ou realista? Por quê?

QUESTÃO 09 (UFU)

"A criação das coisas por parte de Deus é a melhor, pois é próprio de quem é o
melhor fazer tudo da melhor maneira. Ora, é melhor fazer uma coisa em vista de
um fim do que fazê-la sem visar a uma finalidade. Por conseguinte, Deus fez as
coisas com vistas a uma meta".
Tomás de Aquino - Compêndio de Teologia - Col. Os Pensadores

Esse argumento da finalidade das coisas é frequente no pensamento de


Tomás de Aquino.
Explique como Tomás de Aquino utiliza-o para provar a existência divina.

QUESTÃO 10 (UFU)

"Para que, pois, a salvação dos homens seja alcançada de maneira mais
conveniente e segura foi necessário que fossem instruídos a respeito das coisas
divinas, pela divina revelação. Donde a necessidade de uma ciência sagrada,
obtida pela revelação, além das disciplinas filosóficas que são investigadas pela
razão. Por isso, nada impede que as mesmas coisas de que tratam as disciplinas
filosóficas, na medida em que são cognoscíveis pela luz da razão natural, sejam
tratadas por outra ciência, na medida em que são conhecidas pela luz da
revelação divina".
Tomás de Aquino - Suma Teológica, I Q.I, art.1., Porto Alegre, Ed. Sulina

O texto acima de Tomás de Aquino refere-se ao problema da relação entre


revelação (fé) e Filosofia (razão). Explicite, a partir do texto, qual é a posição de
Tomás de Aquino sobre o referido problema.

Módulo 09: René Descartes e David Hume:

RENÉ DESCARTES (1596-1650)

René Descartes nasceu em La Haye, na França,


filho de burgueses. Estudou no colégio jesuíta de La
Flèche, instituição de bastante renome, o que lhe deu
respaldo para sua crítica ao método escolástico.
Vejamos de que pressupostos parte o autor para a
construção do seu pensamento:

Inexiste no mundo coisa mais bem distribuída que o bom


senso, visto que cada indivíduo acredita ser tão bem
provido dele que mesmo os mais difíceis de satisfazer
em qualquer outro aspecto não costumam desejar possuí-lo mais do que já
possuem. E é improvável que todos se enganem a esse respeito; mas isso
é antes uma prova de que o poder de julgar de forma correta e discernir
entre o verdadeiro e o falso, que é justamente o que é denominado bom
senso ou razão, é igual em todos os homens; e, assim sendo, de que a
diversidade de nossas opiniões não se origina do fato de serem alguns
mais racionais que outros, mas apenas de dirigirmos nossos pensamentos
por caminhos diferentes e não considerarmos as mesmas coisas. Pois é
insuficiente ter o espírito bom, o mais importante é aplica-lo bem. As
maiores almas são capazes dos maiores vícios, como também das
maiores virtudes, e os que só andam muito devagar podem avançar bem
mais, se continuarem sempre pelo caminho reto, do que aqueles que
correm e dele se afastam. (DESCARTES, René. Discurso do método. São
Paulo: Editora Nova Cultural, 2004, p. 35).

Da passagem acima, tiramos algumas ideias importantes:

- Razão: sinônimo de bom senso, é o poder de julgar de forma correta e


discernir entre o verdadeiro e o falso.
- Diversidade de opiniões: deve-se ao fato de tomarmos caminhos (métodos)
diferentes, e de não considerarmos as mesmas coisas.
- A razão humana é universal.
É por causa do pressuposto de que a razão humana é universal que
Descartes busca conceber um método (caminho) que permita bem conduzir a
mesma, para se chegar a conhecimentos seguros. Seu método é composto de
quatro regras somente, as quais ele julga suficientes. O primeiro preceito do
seu método “era o de nunca aceitar algo como verdadeiro que não conhecesse
claramente como tal”, ou seja, consiste em duvidar de tudo até que algo se
mostre claro e evidente à razão, e aqui nota-se os critérios de verdade para
Descartes: clareza e evidência. O segundo consistia em “repartir cada uma
das dificuldades que [...] analisasse em tantas parcelas quantas fossem
possíveis e necessárias a fim de melhor solucioná-las”. A essa segunda etapa
se denomina análise, nome que é utilizado na química. O terceiro o “de
conduzir por ordem meus pensamentos, iniciando pelos objetos mais simples e
mais fáceis de conhecer, para elevar-me, pouco a pouco, como galgando
degraus, até o conhecimento dos mais compostos [...]”. A esta etapa
denomina-se síntese. Por fim, o quarto e último preceito consistia em “efetuar
em toda parte relações metódicas e revisões tão gerais nas quais eu tivesse a
certeza de nada omitir”. Para o autor, o conhecimento a que se chegasse após
seguir devidamente as quatro etapas seria totalmente seguro.
Seguindo os preceitos acima o indivíduo conseguiria evitar dois vícios da
alma apontados por Descartes como inimigos do conhecimento: a precipitação
e a prevenção. Por precipitação compreendemos aqui a postura daquele que
salta etapas que podem ser importantes em busca de atingir o conhecimento
mais rapidamente, e podemos afirmar que isso é fruto do excesso de
confiança. Ao contrário, a prevenção é o vício que conduz aquele que se
dedica ao conhecimento a duvidar de sua capacidade de atingi-lo. Todos nós já
dissemos ou ouvimos alguém dizer sobre um determinado assunto: “isso não
entra na minha cabeça!” Essa é a típica atitude preventiva com relação ao
conhecimento. A utilização do método conduz o ser humano a um
conhecimento seguro, o que dissipa as possibilidades de prevenção.
Ao buscar utilizar seu método, o autor deve necessariamente cumprir a
primeira regra. E é assim, colocando em suspenso tudo em que até então
acreditava, que Descartes chega à primeira verdade indubitável de sua
filosofia, a saber, o cogito ergo sum, que significa penso, logo existo. Isso ele
faz em suas Meditações sobre Filosofia Primeira, e podemos acompanhar
razoavelmente seu raciocínio.
A primeira coisa que é pelo autor colocada em dúvida são os sentidos. “Ora,
notei que os sentidos às vezes enganam e é prudente nunca confiar
completamente nos que, seja uma vez, nos enganaram”. A essa dúvida,
porém, Descartes coloca um limite, afirmando que de algumas coisas que os
sentidos nos mostram torna-se difícil duvidar, como, por exemplo, “que agora
estou aqui, sentado junto ao fogo, vestindo esta roupa de inverno, tendo este
papel às mãos e coisas semelhantes”. Nota-se que se torna difícil duvidar da
existência do próprio corpo. Descartes ultrapassa esse limite ao afirmar: “com
frequência o sono noturno não me persuadiu dessas coisas usuais, isto é, que
estava aqui, vestindo esta roupa, sentado junto ao fogo, quando estava, porém,
nu, deitado entre as cobertas”. Assim, colocando o argumento da dificuldade
que existe em separar vigília de sonho, ele mostra a possibilidade de duvidar
da própria existência corpórea. Porém, novamente o autor impõe um limite para
sua dúvida, quando escreve que “esteja eu acordado ou dormindo, dois e três
juntos são cinco e o quadrado não tem mais que quatro lados”. Com isso ele
quer dizer que existem certas relações no mundo, que estejamos vigiando ou
dormindo, são sempre as mesmas, o que torna difícil delas se poder duvidar.
Ele porém ultrapassa esse limite com o seguinte argumento:

Suporei, portanto, que não há um Deus ótimo, fonte soberana da verdade,


mas algum gênio maligno, e ao mesmo tempo, sumamente poderoso e
manhoso, que põe toda a sua indústria em que me engane: pensarei que o
céu, o ar, a terra, as cores, as figuras, os sons e todas as coisas externas
nada mais são do que ludíbrios dos sonhos, ciladas que ele estende à
minha credulidade. (DESCARTES, René. Meditações. São Paulo: Editora
Nova Cultural, 1999, p. 255)

Ao supor a existência de um tal ente, que podemos comparar à “Matrix”


contemporânea, Descartes escapa de qualquer limite para sua dúvida, e é por
isso que a mesma é chamada hiperbólica, exagerada. Para garantir a
possibilidade de conhecimento verdadeiro, o autor deverá refutar seu
argumento mais forte para a dúvida, que é o do gênio maligno, e é isso que
ele fará nas demais meditações, provando a existência de um Deus perfeito,
que por assim ser, jamais poderia ser enganador. É porém, duvidando
radicalmente de tudo que Descartes chega ao cogito, e a afirmação que
enuncia essa verdade indubitável é a seguinte: “Não há dúvida, portanto, de
que eu, eu sou, também, se me engana: que me engane o quanto possa,
nunca poderá fazer, porém, que eu nada seja, enquanto eu pensar que sou
algo”. Essa é, então, a primeira verdade a que chega o autor.
Por sua descrença nos sentidos, Descartes recebe grosseiramente o rótulo
de racionalista, ou seja, daquele que acredita que se conheça
verdadeiramente tão somente por meio da razão. Porém ele admite a
existência de ideias que nos vêm dos sentidos, às quais denomina
adventícias, porém, por nos enganarem algumas vezes, não são dignas de
confiança. Existem também as ideias que ele chama de fictícias, que são
aquelas formadas por nossa imaginação, utilizando as anteriores.
Conhecimento verdadeiro, livre de engano, entretanto, só se tem através das
ideias inatas, que ele denomina a marca do Criador na criatura. As ideias de
Deus e dos entes matemáticos são desse tipo, e é nas ideias com as quais
nascemos que devemos confiar plenamente. Podemos, evidentemente, notar
extrema semelhança entre as ideias inatas de Descartes e as ideias imutáveis
de Platão, podendo ser colocados ambos grosseiramente sob o rótulo que
utilizamos de idealistas, ou seja, daqueles que acreditam no conhecimento
através das ideias.

Resumindo: aplicação o método

Todos os homens são dotados de razão, porém chegam a resultados


diferentes, por isso há necessidade de estabelecer um método. Descartes
estabelece, então, as 4 regras do método que são:

Evidência: algo só deve ser aceito como verdadeiro se se mostrar claro e


evidente (indubitável)
Análise: dividir as dificuldades em tantas partes quantas forem necessárias
para melhor resolvê-las.
Síntese: ordenar os pensamentos partindo dos objetos mais simples para os
mais complexos.
Revisão/ Enumeração: realizar relações tão completas e revisões tão gerais
que se tivesse certeza de nada omitir

Aplicação do método:

1º Passo: Dúvida metódica para chegar à evidência (1ª regra do método). Para
chegar a um princípio indubitável Descartes utiliza a dúvida metódica, sendo
que duvida primeiramente dos sentidos (pois eles nos enganam); depois se
questiona sobre a vigília (como sei que estou acordado e não dormindo); em
seguida duvida da própria natureza corpórea. O filósofo francês começa a
duvidar de tudo o que possa gerar o mínimo de questionamento (dúvida
hiperbólica – exagerada). Contudo chega um ponto em que não pode duvidar
de uma coisa: de que duvida, sendo que esta é um pensamento. Desse modo,
formulou-se o primeiro princípio indubitável: Penso, logo existo. Que é a
EVIDÊNCIA.

2º Passo: Agora que encontrou um princípio indubitável (Penso, logo existo),


deve buscar o conhecimento verdadeiro a partir dele. Dessa forma, Descartes
passa a analisar o próprio pensamento (o qual se torna o objeto a ser
conhecido). Aplica então a ANÁLISE, dividindo o pensamento em tantas partes
quantas forem possíveis, as quais chamou ideias.

Observe a seguir as ideias que constituem as partes do pensamento para


Descartes:

AS IDÉIAS

Ideias adventícias: oriundas das percepções sensíveis, por isso são


passíveis de dúvida.
Ideias fictícias: formadas por nossa imaginação a partir das ideias
adventícias. Podemos compará-las a montagens feitas pela imaginação.
Ideias inatas: marcas de Deus no homem. Nascemos com elas, por isso são
verdadeiras e correspondem ao real. Ex. ideias de Deus, matemáticas.

3º Passo: Agora que dividiu o objeto (pensamento), deve partir do mais


simples para o mais complexo (SÍNTESE), isto é, das ideias inatas (puro
pensamento, então mais simples), depois as adventícias (são mediatas, pois
entre a razão e o objeto da experiência sensível temos os sentidos como
mediadores) e, por fim, as fictícias (as quais são mais complexas por serem
“montagens feitas a partir das ideias adventícias).

4º Passo: Aplica então a REVISÃO ou ENUMERAÇÃO, na qual vai tomar as


ideias inatas (que são verdadeiras e indubitáveis por serem puro pensamento)
para avaliar as outras. Percebendo, então, que as adventícias podem ser
verdadeiras ou falsas (pois os sentidos podem me enganar) e as fictícias são
falsas (são “montagens” feitas a partir das adventícias, e não das inatas)
DAVID HUME (1711-1776)

Nasceu em Edimburgo, na Escócia, e estudou Filosofia,


Direito e Comércio. Realizou várias viagens, nas quais
conheceu pensadores como Adam Smith e Jean-Jacques
Rousseau. Foi, dentro da história da Filosofia, um dos
maiores representantes da corrente chamada empirismo,
que vem do termo grego empeiria, que quer dizer
experiência. Fez talvez a mais radical crítica à Metafísica
Clássica (Parte da Filosofia que estuda o Ser e suas causas,
segundo Aristóteles), questionando noções como a de
causalidade e substância. Vejamos, através de um trecho
do próprio autor, quais são os pressupostos de seu pensamento.

“Cada um admitirá prontamente que há uma diferença considerável entre


as percepções do espírito, quando uma pessoa sente a dor do calor
excessivo ou o prazer do calor moderado, e quando depois recorda em
sua memória esta sensação ou a antecipa por meio de sua imaginação.[...]
Podemos, por conseguinte, dividir todas as percepções do espírito em
duas classes ou espécies, que se distinguem por seus diferentes graus de
força e de vivacidade. As menos fortes ou menos vivas são geralmente
denominadas pensamentos ou ideias.[...] Pelo termo impressão, entendo,
pois, todas as nossas percepções mais vivas, quando ouvimos, vemos,
sentimos, amamos, odiamos, desejamos ou queremos.[...] Parece que esta
proposição não admitirá muita controvérsia: todas as nossas ideias são
cópias das impressões[...]”. (HUME. D. Investigação acerca do
entendimento humano. In. HUME. Tradução de Anoar Aiex. São Paulo:
Nova Cultural, 2004, p. 35-36)

Os trechos acima podem enganar-nos, demonstrando falsa simplicidade.


Entretanto, o que é importante que fique bem entendido no raciocínio do autor
é o limite que este impõe à nossa possibilidade de conhecer, quando coloca
como única porta de entrada para a nossa mente o acesso a ela dado pelos
sentidos. Explorando o texto conclui-se que, para Hume, não exista ideia em
nossa mente que não tenha entrado pelos sentidos, teoria essa já defendida
anteriormente por filósofos como Aristóteles.
Nascemos, então, para o autor, como folhas em branco, nas quais, através
dos dados sensoriais, vão sendo impressas informações sobre o mundo.
Nesse sentido, nota-se enorme diferença entre as teorias de Hume e
Descartes, sendo que para o segundo existem ideias que existem em nossa
mente que não adentraram pelos sentidos, que são denominadas inatas, e
inclusive só elas são verdadeiramente confiáveis. Para Hume, confiáveis ou
não, as ideias fornecidas pelos sentidos são nosso único acesso à realidade e
ao conhecimento, que, assim sendo, será bem mais limitado que para
Descartes.
O gráfico de Hume é simples: dois tipos de percepções, ou seja, de formas de
perceber o mundo, diferenciadas simplesmente pelo grau de força e vivacidade
com que nos afetam. Às mais fortes, que são provenientes
dos sentidos ou dos sentimentos que possuímos, dá-se o
nome de impressões. Às mais fracas, cópias das
primeiras, chama-se ideias. As segundas agrupam-se em
nossa mente em duas faculdades, como também foi afirmado no texto, uma de
recordação, denominada memória, outra de antecipação, que recebe o nome
de imaginação. O interessante é que o fato de uma ideia estar em uma ou em
outra faculdade não é responsabilidade da própria faculdade, mas da forma
mesmo de se relacionar das ideias. Assim, se uma ideia ainda está muito forte
em minha mente, a ponto de ao buscá-la, outras que se encontram ligadas a
ela lhe venham junto, esta encontra-se no campo da memória. Porém, se
existe uma ideia em minha mente que já se encontra, de tão fraca,
completamente solta que não a ligo mais à impressão que a originou, esta
encontra-se no campo da imaginação. É por isso que o autor afirma que:

“[...] embora o nosso pensamento pareça possuir esta liberdade ilimitada,


verificaremos, através de um exame mais minucioso, que ele está
realmente confinado dentro de limites muito reduzidos e que todo poder
criador do espírito não ultrapassa a faculdade de combinar, de transpor,
aumentar ou de diminuir os materiais que nos foram fornecidos pelos
sentidos e pela experiência. Quando pensamos numa montanha de ouro,
apenas unimos duas ideias compatíveis, ouro e montanha, que outrora
conhecêramos”. (HUME. D. Investigação acerca do entendimento humano.
In. HUME. Tradução de Anoar Aiex. São Paulo: Nova Cultural, 2004, p. 36)

É pela radicalidade com que Hume defende sua teoria do conhecimento


que ele será, naturalmente, levado a criticar algumas noções correntes da
Metafísica de sua época. O tipo de conhecimento que é possível segundo os
pressupostos do autor é o chamado indutivo, grosso modo, o que parte das
experiências particulares para leis gerais. Tal tipo de conhecimento jamais
pode levar a conhecimento verdadeiro, mas somente provável.
Sendo imposto pelo autor um limite tão grande à nossa capacidade de
conhecer, ele é levado, por exemplo, a questionar a noção de causalidade
(causa e efeito). Se o que possuímos são experiências particulares e subjetivas
(relativas ao sujeito), pode-se e deve-se questionar como se chega à afirmação
de que sempre determinada causa leva a determinado efeito. Que o sol tenha
nascido até hoje, enquanto vivi, é fato verdadeiro, que nascerá amanhã, porém,
é apenas bastante provável, pois bem pode ocorrer, e sabemos disso, que não
nasça. Ao se comprar na verduraria uma banana madura, se ela vem a ficar
podre, dizemos que “aquela banana apodreceu”. Nada há, aparentemente, que
nos permita dizer que uma banana madura é a mesma coisa que uma banana
podre, a não ser que recorramos à noção da metafísica aristotélica que
chamamos substância, ou seja, que afirmemos que a tal fruta possui uma
banalidade que não se modifica. Pelo método de conhecimento proposto por
Hume, porém, se as ideias de causalidade e substância, assim como outras da
Metafísica, correspondessem a algo existente, deveríamos evidentemente
encontrar as impressões que lhes deram origem. Isso porém não ocorre.
Refuta-se o autor, como ele mesmo afirma, de maneira muito fácil: basta
mostrar uma só ideia que esteja em nossa mente e que não possua sua fonte
nos sentidos. Ele próprio analisa a ideia de Deus, e conclui que a mesma é
uma ideia complexa, formada por um conjunto de ideias simples, como
bondade e sabedoria, cada uma advindo de uma impressão. Assim, as ideias
acima citadas, de substância e causalidade também, se não correspondem a
impressões reais que lhes deram origem, só podem ser fruto de nossa
imaginação. Analisando um trecho em que trata da causalidade, podemos ver
como tais noções metafísicas se formam em nossa mente.

“[...] como o espírito tem encontrado em numerosos casos que dois


gêneros quaisquer de objetos – a chama e o calor, a neve e o frio –
sempre têm estado em conjunção, se, de novo, a chama ou a neve se
apresentassem aos sentidos, o espírito é levado pelo costume a esperar
calor ou frio, e a acreditar que esta qualidade existe realmente e que se
manifestaria se estivesse mais próxima de nós”. (HUME. D. Investigação
acerca do entendimento humano. In. HUME. Tradução de Anoar Aiex. São
Paulo: Nova Cultural, 2004, p. 64)

Pela citação podemos entender como, para David Hume, é possível o


aparecimento de certas noções metafísicas em nossa mente: estas são
geradas pelo costume, que chamamos também de hábito, que criamos ao ver
que a certos eventos seguem-se outros, uma espécie de ilusão ou crença, que
faz com que acreditemos, por exemplo, que o sol nascerá sempre, pelo simples
fato de ter nascido até hoje. Os limites que o autor impõe ao conhecimento
retiram qualquer possibilidade de universalidade e de necessidade nas
ciências, e vieram a causar o que se chama de A Grande Crise da Metafísica.
O mérito de Hume é, porém, o de ter abalado as bases do dogmatismo que
imperava até então na filosofia.

EXERCÍCIOS PROPOSTOS:

QUESTÃO 01: (UFU)


Cartesius era o nome latino de Descartes. Daí, denominarem de cartesiano o
pensamento do filósofo francês, Descartes.

Assinale a alternativa que caracteriza, corretamente, o pensamento cartesiano.

A) As ideias inatas são obscuras e falsas, já que o verdadeiro conhecimento


"vem de fora".
B) As ideias inatas resultam, exclusivamente, da capacidade de pensar do
homem, por isso, são verdadeiras, já que não nascem com eles.
C) O fundamento do pensamento é a dúvida, já que é puro pensamento.
D) Para Descartes, Deus, era um ser perfeito e, nesse sentido, não se pode
provar sua existência.

QUESTÃO 02 (UFU)
Leia o texto e as assertivas abaixo.
René Descartes (1596 – 1650) é considerado por muitos “o pai da filosofia
moderna”, pois em obras como O discurso sobre o método e Meditações
metafísicas colocou em xeque conhecimentos considerados indubitáveis. Em
especial, suas reflexões o levam a questionar o valor epistemológico dos
conhecimentos do senso comum, dos argumentos de autoridade e do
testemunho dos sentidos.

I - Descartes foi um dos filósofos da Era Moderna que valorizou o papel do


método no avanço do conhecimento.
II - Descartes colocou em dúvida o valor das informações que se obtêm por
meio da experiência sensível.
III - As teorias de Descartes seguiram o modelo aristotélico de investigação dos
fenômenos naturais.

Assinale a alternativa correta.

A) I e III são verdadeiras.


B) II e III são verdadeiras.
C) I e II são verdadeiras.
D) I e III são falsas.

QUESTÃO 03 (UFU)
David Hume (1711-1776) é um dos representantes do empirismo. Sua teoria
sobre as ideias parte do princípio de que não há nada em nossa mente que
não tenha passado antes pelos sentidos, portanto, as ideias vão se formando
ao longo da vida. Dessa forma, Hume afasta-se do princípio da corrente
racionalista ou inatista segundo a qual afirma que há ideias inatas em nossa
mente.

De acordo com o pensamento de Hume, é correto afirmar que

A) as percepções dos sentidos geram impressões e ideias.


B) as ideias que podem ser consideradas verdadeiras são as inatas.
C) as ideias fictícias são as que têm mais alto grau de ser.
D) as percepções dos sentidos nos enganam, por isso as ideias daí
decorrentes são falsas.

QUESTÕES ENEM

QUESTÃO 01
“Mas logo em seguida, adverti que, enquanto eu queria assim
pensar que tudo era falso, cumpria necessariamente que eu, que
pensava, fosse alguma coisa. E, notando que esta verdade eu
penso, logo existo era tão firme e tão certa que todas as mais
extravagantes suposições dos céticos não seriam capazes de a
abalar, julguei que poderia aceitá-la, sem escrúpulo, como o primeiro
princípio da Filosofia que procurava.”
DESCARTES, René. Discurso do método. Trad. de J. Guinsburg e
Bento Prado Júnior.
São Paulo: Nova Cultural, 1996. p. 92. Coleção Os Pensadores.
René Descartes é um dos principais filósofos da modernidade. Para este autor,
A) não podemos conhecer nada com certeza, pois tudo quanto pensamos está
sujeito à falsidade.
B) o “eu penso, logo existo” expressa uma verdade instável e incerta, o que fez
Descartes ser vencido pelos céticos.
C) a expressão “eu penso, logo existo” representa a verdade firme e certa com
a qual Descartes fundamenta o conhecimento e a ciência.
D) as “extravagantes suposições dos céticos” foram impedimento para
encontrar uma verdade que servisse como princípio para a filosofia.
E) ao acreditar que tudo era falso, era possível colocar em dúvida sua própria
existência.

QUESTÃO 02
“Embora nosso pensamento pareça possuir esta liberdade ilimitada,
verificaremos, através de um exame mais minucioso, que ele está
realmente confinado dentro de limites muito reduzidos e que todo
poder criador do espírito não ultrapassa a faculdade de combinar, de
transpor, aumentar ou de diminuir os materiais que nos foram
fornecidos pelos sentidos e pela experiência.”
HUME, David. Investigação acerca do entendimento humano.
Trad. de Anoar Aiex.
São Paulo: Nova Cultural, 1996. p. 36. Coleção Os Pensadores.

O texto nos apresenta o pensamento de um dos mais importantes filósofos da


corrente empirista: David Hume. Para este filósofo
A) os sentidos e a experiência estão confinados dentro de limites muito
reduzidos.
B) todo conhecimento depende dos materiais fornecidos pelos sentidos e pela
experiência.
C) o espírito pode conhecer as coisas sem a colaboração dos sentidos e da
experiência.
D) a possibilidade de conhecimento é determinada pela liberdade ilimitada do
pensamento.
E) para formar as ideias, o pensamento descarta os materiais fornecidos pelos
sentidos.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO:

QUESTÃO 01 (UFU)
No escrito publicado postumamente, Regras para a orientação do espírito,
Descartes fez o seguinte comentário:

“Mas, toda vez que dois homens formulam sobre a mesma coisa
juízos contrários, é certo que um ou outro, pelo menos, esteja
enganado. Nenhum dos dois parece mesmo ter ciência, pois, se as
razões de um homem fossem certas e evidentes, ele as poderia
expor ao outro de maneira que acabasse por lhe convencer o
entendimento.”
DESCARTES, René. Regras para a orientação do espírito. Trad.
de Maria
Ermantina Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 6-7.

Para alcançar a verdade das coisas, isto é, o conhecimento certo e evidente, é


necessário um método composto de regras muito simples que evitem os
enganos e as opiniões prováveis. Segundo Descartes, somente duas ciências
podem auxiliar na fundamentação do método para a investigação da verdade,
são elas:
A) teologia e filosofia.
B) mecânica e física.
C) fisiologia e filologia.
D) aritmética e geometria.

QUESTÃO 02 (UFU)
Sobre a filosofia de Descartes, pode-se afirmar, com certeza, que as suas mais
importantes consequências foram:

I- a afirmação do caráter absoluto e universal da razão que, através de suas


próprias forças, pode descobrir todas as verdades possíveis.
II- a adoção do Método Matemático, que permite estabelecer cadeias de
razões.
III- a superação do dualismo psicofísico, isto é, a dicotomia entre corpo e
consciência.

Assinale a alternativa correta.

A) II e III
B) III
C) I e III
D) I e II

QUESTÃO 03: (UFU)


Descartes (1596-1650) é importante para a Filosofia Moderna porque foi quem
superou o ceticismo da filosofia do século XVI. Embora tenha se servido do
recurso dos céticos . a dúvida ., Descartes utilizou este recurso para atingir a
ideia clara e distinta, algo evidente e, portanto, irrefutável. Com base neste
argumento,

I- a evidência não diz respeito à clareza e à distinção das coisas;


II- a análise é o procedimento que deve ser realizado para dividir as
dificuldades até a sua menor parte;
III- a enumeração é a primeira regra do método para a investigação da
verdade;
IV- a síntese proporciona a ordem para os raciocínios, desde o mais simples
até o mais complexo.

Estão corretas as afirmações:

A) I, II e III
B) I, III e IV
C) II e IV
D) II e III

QUESTÃO 04: (UFU)


Leia com atenção a citação e, em seguida, analise as assertivas.

"E, tendo notado que nada há no eu penso, logo existo, que me assegure
de que digo a verdade, exceto que vejo muito claramente que, para
pensar, é preciso existir, julguei poder tomar por regra geral que as coisas
que concebemos mui clara e mui distintamente são todas verdadeiras,
havendo apenas alguma dificuldade em notar bem quais são as que
concebemos distintamente."
DESCARTES, Discurso do Método. São Paulo:
Abril Cultural, 1973. p. 55. Coleção "Os Pensadores"

I- Este "eu" cartesiano é a alma e, portanto, algo mais difícil de ser conhecido
do que o corpo.
II- O "eu penso, logo existo" é a certeza que funda o primeiro princípio da
Filosofia de Descartes.
III- O "eu", tal como está no Discurso do Método, é inteiramente distinto da
natureza corporal.
IV- Ao concluir com o "logo existo", fica evidente que o "eu penso" depende das
coisas materiais.

Assinale a alternativa cujas assertivas estejam corretas.

A) Apenas II e IV.
B) I, II, IV.
C) Apenas III e IV.
D) Apenas II e III.

QUESTÃO 05 (UFU)
Segundo David Hume, é correto afirmar que o princípio de causalidade é

A) o resultado da nossa forma habitual de perceber os fenômenos, uns em


conjunção com os outros.
B) o nexo, fixado por Deus na criação, entre os objetos da experiência.
C) o conhecimento a priori da natureza e dos seus fenômenos.
D) o ato de conectar os objetos da experiência a partir dos valores e interesses
utilitários de uma classe social.

QUESTÃO 06 (UFU)
O texto abaixo comenta a correlação entre ideias e impressões em David
Hume.

Em contrapartida, vemos que qualquer impressão, da mente ou do corpo, é


constantemente seguida por uma ideia que a ela se assemelha, e da qual
difere apenas nos graus de força e vividez. A conjunção constante de nossas
percepções semelhantes é uma prova convincente de que umas são as causas
das outras; [...].
HUME, D. Tratado da natureza humana. São Paulo: Editora da
Unesp/Imprensa Oficial do Estado, 2001. p. 29.

Assinale a alternativa que, de acordo com Hume, indica corretamente o modo


como a mente adquire as percepções denominadas ideias.

A) Todas as nossas ideias são formas a priori da mente e, mediante essas


ideias, organizamos as respectivas impressões na experiência.
B) Todas as nossas ideias advêm das nossas experiências e são cópias das
nossas impressões, as quais sempre antecedem nossas ideias.
C) Todas as nossas ideias são cópias de percepções inteligíveis, que
adquirimos através de uma experiência metafísica, que transcende toda a
realidade empírica.
D) Todas as nossas ideias já existem de forma inata, e são apenas
preenchidas pelas impressões, no momento em que temos algum contato com
a experiência.

QUESTÃO 07: (UFU)


David Hume, filósofo do século XVIII, partindo da teoria do conhecimento,
sustentava que

I- o sujeito do conhecimento opera associando sensações, percepções e


impressões recebidas pelos órgãos dos sentidos e retidas na memória.
II- as ideias de essência e de causalidade nada mais são do que o resultado de
hábitos mentais de associações e impressões semelhantes ou de impressões
sucessivas.
III- as ideias de essência ou substância nada mais são que um nome geral
dado para indicar um conjunto de imagens e de ideias que nossa consciência
tem o hábito de associar por causa das semelhanças entre elas.

Assinale

A) se I, II e III estiverem corretas.


B) se apenas I e II estiverem corretas.
C) se apenas II e III estiverem corretas.
D) se apenas I e III estiverem corretas.
E) se nenhuma estiver correta.

QUESTÃO 08: (UFU)


Descartes afirmou no Discurso do método que a boa condução da razão na
pesquisa da verdade das coisas deve ser feita em poucas regras. Sendo
assim, o primeiro dos quatro preceitos básicos do seu método diz o seguinte:
jamais acolha alguma coisa como verdadeira que não conheça evidentemente
como tal.

A aplicação desta primeira regra evita dois graves defeitos. Responda: quais
são e como se caracterizam os dois defeitos a que se refere Descartes?

QUESTÃO 09: (UFU)

“Na filosofia e no pensamento modernos, a dúvida ocupa a mesma


posição central que, em todos os séculos anteriores, cabia ao
thaumazein (admirar-se) dos gregos, o assombro diante de tudo o
que é como é. Descartes foi o primeiro a conceituar esta forma
moderna de duvidar, que depois dele passou a ser o motor evidente
e inaudível que vem movendo todo pensamento, o eixo invisível em
torno do qual o pensamento tem girado.”
ARENDT, Hannah. A condição humana. Trad. de Roberto
Raposo. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1999, p. 286.

Considere o texto acima e

A) aponte as características e os momentos da dúvida cartesiana;


B) explique como Descartes obteve o primeiro conhecimento certo.

QUESTÃO 10: (UFU)

"Suponha-se, agora, que esse homem adquiriu mais experiência e


viveu no mundo o tempo suficiente para ter observado uma
conjunção constante entre objetos ou acontecimentos familiares:
qual é o resultado desta experiência? Ele infere imediatamente a
existência de um objeto do aparecimento do outro. E, sem embargo,
nem toda a sua experiência lhe deu qualquer idéia ou conhecimento
do poder secreto pelo qual um objeto produz outro; e tampouco é
levado a fazer essa inferência por qualquer processo de raciocínio.
No entanto, é levado a fazê-la. (...) Há algum outro princípio que o
determina a tirar essa conclusão".
HUME, David. Investigação sobre o entendimento humano.
Col. Os Pensadores, Abril Cultural, 1978)

Qual é o princípio a que Hume se refere acima?


De acordo com o texto, aponte a sua relevância para a teoria do conhecimento.

Módulo 10: Kant: Teoria do Conhecimento e Ética.

Teoria do conhecimento

ImmanueI Kant (1724-1804) Nasceu em Konigsberg,


na Alemanha. Teve vida longa e tranqüila dedicada ao
ensino e à investigação filosófica. Realiza uma brilhante
síntese entre as filosofias racionalista e empirista, além
de mudar completamente o foco da filosofia até então, a
ponto de seu pensamento ser considerado como sendo
uma “revolução copernicana na filosofia”. Rejeita tanto o
racionalismo quanto o empirismo exagerados, negando
tanto as altíssimas possibilidades do primeiro quanto as
imensas limitações impostas pelo segundo. Kant, para
tal, defende uma tese que podemos encontrar no trecho abaixo.

“Que todo o nosso conhecimento começa com a experiência, não há


dúvida alguma, pois, do contrário, por meio do que a faculdade de
conhecimento deveria ser despertada para o exercício senão através
de objetos que tocam nossos sentidos e em parte produzem por si
próprios representações, em parte põe em movimento a atividade do
nosso entendimento para compará-las, conectá-las ou separá-las e,
desse modo, assimilar a matéria bruta das impressões sensíveis a
um conhecimento dos objetos que se chama experiência? Segundo
o tempo, portanto, nenhum conhecimento em nós precede a
experiência, e todo ele começa com ela. [...] Mas embora todo o
nosso conhecimento comece com a experiência, nem por isso todo
ele se origina justamente da experiência. Pois poderia bem
acontecer que mesmo o nosso conhecimento de experiência seja
um composto daquilo que recebemos por impressões e daquilo que
a nossa própria faculdade de conhecimento (apenas provocada por
impressões sensíveis) fornece de si mesma, cujo aditamento não
distinguimos daquela matéria-prima antes que um longo exercício
nos tenha tornado atento a ele e nos tenha tornado aptos à sua
abstração. [...] Portanto, é pelo menos uma questão que requer uma
investigação mais pormenorizada e que não pode ser logo
despachada devido aos ares que ostenta, a saber se há um tal
conhecimento independente da experiência e mesmo de todas as
impressões dos sentidos. Tais conhecimentos denominam-se a
priori e distinguem-se dos empíricos, que possuem sua fonte a
posteriori, ou seja, na experiência”. (KANT, I. Crítica da Razão
Pura. In. Kant. Tradução de Valério Rohden e Udo Baldur
Moosburger. São Paulo: Nova Cultural, 2005, p. 53)

Do texto, algumas das principais ideias podem ser analisadas.


I. Experiência: conhecimento dos objetos, que se dá quando nosso
entendimento compara, conecta ou separa, e desse modo assimila a matéria
bruta das impressões sensíveis.
I. Função dos objetos:

 Produzir representações (e nesse caso, concorda com Hume)


 Colocar em movimento a atividade do nosso entendimento.

III. Tese: O conhecimento de experiência é um composto do que recebemos


por impressões (Hume) e daquilo que nossa própria faculdade de
conhecimento fornece de si mesma (ultrapassagem da teoria de Hume).

 A priori: Conhecimento independente desta ou daquela experiência e


mesmo de todas as impressões dos sentidos.
 A posteriori: Conhecimento que possui suas fontes tão somente na
experiência.

Analisando melhor o trecho e agora relacionando as ideias dele tiradas,


vemos que para Kant a experiência sensível não é algo passivo como para
Hume, ou seja, não somos simplesmente afetados. O conhecimento é, assim,
algo ativo, no qual nossas faculdades de conhecimento, que serão elencadas
abaixo, impõe sim algo de seu, e é nesse sentido que a experiência é um
composto, e é com essa tese que Kant poderá ultrapassar os limites impostos
por David Hume. Um tópico importante no pensamento kantiano é o que é
denominado Revolução Copernicana na Filosofia. Nicolau Copérnico realizou,
na física, uma mudança radical no foco de análise do universo. A teoria até
então defendida era a do geocentrismo, ou seja, a Terra estava no centro e os
demais astros giravam em torno da mesma. Este pensador afirma o
heliocentrismo, isto é, o Sol está no centro e os demais planetas giram em
torno dele.
Para Kant, o foco central da filosofia sempre foi voltado para o objeto a ser
conhecido. Partia-se então, dogmaticamente, da ideia de que a faculdade de
conhecimento possuía a capacidade de produzir informações sobre o que era
estudado. A proposta deste filósofo é inovadora porque ele propõe que, antes
que partamos ao conhecimento dos objetos, façamos uma análise da própria
faculdade de conhecimento e de seus limites e possibilidades. Tal análise foi
feita na obra Crítica da Razão Pura, na qual delineia de maneira detalhada
como se dá o conhecimento. Esse se dá para o autor da seguinte maneira:
como vimos no texto acima o primeiro passo é a sensação. Porém,
diferentemente de Hume, o que será lançado na mente não é uma
representação de sensação, mas do que Kant chama de intuição, que
podemos definir como sendo uma sensação que escolhemos em meio às
várias que nos afetam ao mesmo tempo. A intuição é formada na faculdade
chamada sensibilidade, que impõe à experiência sensível duas formas puras
existentes nela mesma, que são espaço e tempo. A intuição, formada dessa
maneira, é lançada no intelecto, que através das dez categorias de predicação,
forma o conceito através de um juízo. As categorias citadas são: Substância,
quantidade, qualidade, relação, lugar, tempo, posição, posse, ação, paixão.
Sobre isso, vejamos uma passagem do próprio autor:

“Deve-se distinguir em cada conhecimento matéria, isto é, o objeto,


e forma, isto é, a maneira como conhecemos o objeto. Por
exemplo: se um silvícola vê de longe uma casa, cujo uso não
conhece, tem, no entanto, representado diante de si precisamente o
mesmo objeto que o que sabe tratar-se de uma morada edificada
para o homem. Mas esse conhecimento de um só e mesmo objeto é,
em caso e no outro, diverso pela forma: mera intuição, em um caso,
intuição e conceito ao mesmo tempo, no outro”. (KANT, I. Manual
dos cursos de lógica geral. Tradução e notas de Fausto Castilho.
Uberlândia: EDUFU; Campinas: IFCH-UNICAMP, 1998, p. 47)

Todo conceito é emitido em forma de juízo, isto é, como dizia Aristóteles, de


uma proposição do tipo S é P. Kant irá diferenciar os tipos de juízos assim
como diferencia os tipos de conhecimento. A primeira divisão se dá entre juízos
analíticos e juízos sintéticos. Segundo o autor “juízos analíticos (os
afirmativos) são, portanto, aqueles em que a conexão do predicado com o
sujeito for pensada por identidade; aqueles, porém, em que essa conexão for
pensada sem identidade, devem denomina-se juízos sintéticos”. Falando de
forma mais simples, um juízo é analítico se o predicado for uma qualidade
implicitamente contida no sujeito, como, por exemplo, quando afirmamos que
um triângulo é uma figura de três lados. Um juízo é sintético quando a
qualidade contida no predicado não faz parte do sujeito, mas lhe é
acrescentada, como, por exemplo, quando afirmamos que Sócrates é
inteligente, pois poderia muito bem ocorrer que ele não fosse. Os juízos
sintéticos são também divididos em dois tipos: a priori e a posteriori. Um juízo é
sintético a priori quando seu predicado acrescenta alguma informação ao
sujeito, e a afirmação feita pelo mesmo não depende desta ou daquela
experiência. Um exemplo deste tipo de juízo é a afirmação de que duas retas
paralelas jamais se cruzam no espaço. É sintético porque o conceito de
espaço ou de cruzamento não está contido implicitamente no sujeito. É a priori
porque a afirmação feita não é procedente para esta ou aquela dupla de retas,
mas para qualquer dupla de retas pensada em qualquer tempo. Tal
conhecimento, portanto é universal e necessário, diferentemente do que
pensava David Hume, e isso porque todos nós possuímos uma sensibilidade
dotada de espaço e tempo e um intelecto que contém as dez categorias. Ao
conjunto destas faculdades de conhecimento Kant denomina sujeito
transcendental, sendo que devemos entender transcendental no autor o que é
anterior ou independente da experiência, diferentemente de transcendente, que
é aquilo que está além da experiência sensível. Os juízos sintéticos a posteriori
são aqueles nos quais o predicado acrescenta algo ao sujeito, porém a
afirmação depende da experiência sensível.
Apesar de ultrapassar consideravelmente os limites do conhecimento
impostos por David Hume, mostrando a possibilidade do conhecimento
universal e necessário, Kant mostra, entretanto que nossa experiência possui
uma limitação muito grande, qual seja: não é possível, através das faculdades
de conhecimento acima citadas, conhecer a coisa em si, ou seja, o objeto
como ele é nele mesmo. Isso se dá por causa da principal tese kantiana, a
saber, de que a experiência é um composto, e não nos é possível chegar ao
conhecimento do objeto em si mesmo, mas só como o mesmo se apresenta
para nossas faculdades de conhecimento, e a isso o autor chama fenômeno.

ÉTICA

Como foi visto acima, a filosofia de Immanuel Kant baseia-se na existência


de uma capacidade de conhecimento, que podemos denominar, em seu
conjunto, como razão. Sua teoria sobre a moralidade humana seguirá o
mesmo princípio, negando os fundamentos e normas morais exteriores ao
homem, e admitindo como único princípio regulador da ação humana a própria
razão. È ela quem deve indicar os caminhos que devemos seguir para agir com
verdadeira retidão. Com isso, Kant quer dizer que, ao agirmos, devemos
pensar se aquilo que estamos fazendo poderia ser feito por todas as outras
pessoas, sem prejuízo para a humanidade.
Ao iniciar a sua Fundamentação à metafísica dos costumes nosso autor
afirma que a única coisa que pode ser considerada boa em absoluto no
universo é uma boa vontade. Ora, Aristóteles, estudado anteriormente, nos
auxilia a compreender essa afirmação. A simples posse de uma qualidade
moral não significa por si mesma uma virtude, pois pode-se incorrer, na sua
utilização, em excessos. E quem controla o uso de uma qualidade que o
indivíduo possui? Sua vontade. A próxima pergunta, dessa forma é muito
simples: o que é uma boa vontade? E Kant nos responde: é a vontade de agir
por dever.
Desse modo é necessário diferenciar, na filosofia kantiana, três tipos de
conduta: ação realizada por inclinação; ação realizada conforme o dever e
ação realizada por dever. Dessas três somente a última é uma conduta
realmente moral, pois a primeira ocorre em nome da satisfação de desejos,
deliberadamente em nome de um proveito próprio, ao passo que a segunda,
apesar de estar em consonância com o que se considera correto, não é
realizada pelo ator por esse motivo. Assim sendo, o que diferencia uma ação
por dever daquela conforme o dever é a intenção que o indivíduo possui ao
agir, e aí nós nos deparamos com uma questão cabal na teoria ética de Kant:
como conhecer a real intenção de um indivíduo quando age? A resposta é: não
é possível. Mas então como podemos possuir uma noção de dever em nossa
mente se talvez nunca tenhamos presenciado uma conduta realizada
exatamente com essa intenção? A resposta é surpreendente: a noção de dever
existe em nossa mente independente das impressões dos nossos sentidos.
Mas nós sabemos, por meio de nossos estudos prévios em Kant, que algo que
existe em nossa mente assim possui uma denominação. Exatamente, o dever
é uma noção completamente a priori da nossa razão prática.
Se para o autor, o fundamental da avaliação de uma conduta moral é a
intenção de quem a praticou, independentemente de quais efeitos tal conduta
possa vir a provocar, e a melhor intenção, para ele, é aquela que se volta tão
somente para o cumprimento do dever, faz-se necessário um instrumento para
que nós saibamos o que está em conformidade com o dever em determinadas
circunstâncias concretas de nosso cotidiano. Esse instrumento pode ser
considerado o princípio racional da ação. Por isso, o dever é um imperativo
categórico, que se exprime na fórmula geral: “Age em conformidade apenas
com a máxima que possas querer que se torne uma lei universal”. Dessa
fórmula geral, Kant deriva outras três, que seguem abaixo:

I. Age como se a máxima de tua ação devesse ser erigida por tua vontade em
lei universal da Natureza;
II. Age de tal maneira que trates a humanidade, tanto na tua pessoa quanto na
de outrem, sempre como um fim e nunca como um meio;
III. Age como se a máxima de tua ação devesse servir de lei universal para
todos os seres racionais.
A primeira máxima afirma a universalidade da conduta ética. A segunda vem
lembrar a dignidade da pessoa humana, não devendo esta jamais ser tratada
como simples meio para se atingir a um fim. A terceira afirma que a
universalidade da conduta ética deve-se à racionalidade dos seres humanos,
sendo os princípios éticos da razão plausíveis para qualquer ser racional.

É com base também na universalidade da razão que entendemos o que Kant


denomina Ilustração ou Esclarecimento. Vejamos sua definição por meio de
um trecho do próprio autor:

“A ilustração é a libertação do ser humano de sua incapacidade da qual ele


próprio é culpado. A incapacidade significa a incapacidade de servir-se de
sua inteligência sem a guia de outrem. Esta incapacidade é sua culpa
porque sua causa reside, não na falta de inteligência, mas na falta de
decisão e coragem para servir-se, por si mesmo, dela sem tutela de
outrem. Sapere aude! Tem a coragem de servir-te de tua própria razão: eis
o lema da ilustração. [...] A fraqueza e a covardia são as causas de uma
grande parte dos seres humanos continuarem, de bom gosto, no seu
estado de criança, apesar de que a natureza já os tenha liberado, há
tempos, da tutela alheia; também o são de que se faça tão fácil para outros
erigirem-se em tutores”.
Esclarecimento então ocorre quando o ser humano, dotado de razão, deixa
de lado a preguiça, a fraqueza e a covardia, e utiliza a mesma, se libertando de
agir sob os juízos alheios. Para Kant, o sujeito esclarecido possui o dever moral
de fazer o que ele chama de uso público da razão, isto é, de nos diferentes
lugares em que possa se encontrar, nas diferentes funções que possa estar
realizando, tornar públicos os juízos a que sua razão lhe fizer chegar.

EXERCÍCIOS PROPOSTOS:

QUESTÃO 01 (UFU)
Considere as questões que Immanuel Kant lança ao seu leitor nas primeiras
páginas da Estética Transcendental.
Que são então o espaço e o tempo? São entes reais? Serão apenas
determinações ou mesmo relações de coisas, embora relações de espécie tal
que não deixariam de subsistir entre as coisas, mesmo que não fossem
intuídas? Ou serão unicamente dependentes da forma da intuição e, por
conseguinte, da constituição subjetiva do nosso espírito, sem a qual esses
predicados não poderiam ser atribuídos a coisa alguma?
KANT. Crítica da razão pura. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1994, p. 64.

Sobre as noções kantianas de tempo e espaço é correto afirmar que essas


noções são as formas

A) da experiência possível, que só podem ser conhecidos a posteriori.


B) da razão, resultantes da participação do homem no Ser de Deus.
C) a priori da razão, a partir das quais os objetos nos são dados na
experiência.
D) de conceber a experiência, aprendidas culturalmente desde a infância e ao
longo da nossa história.

QUESTÃO 02 (UFU)
Immanuel Kant (1724 – 1804) reconheceu a importância dos avanços das
ciências naturais, em especial da física, que passou de um conhecimento
meramente especulativo para se constituir em ciência. A metafísica, por sua
vez, não obteve o mesmo sucesso, pois, continuando a ser especulativa, por
mais que os sistemas fossem muito bem elaborados, suas verdades não eram
indiscutíveis. Assim, Kant procura dar à metafísica a mesma consistência que
possuíam outros campos do saber, fundamentados em juízos sintéticos a priori.

Com base nas explicações acima e nos seus conhecimentos, assinale a


alternativa que define a concepção kantiana de juízo sintético a priori.

A) São universais, necessários e ampliam o conhecimento.


B) Não são universais e necessários, mas permitem ampliar o conhecimento.
C) São universais e necessários, mas não permitem ampliar o conhecimento.
D) Não são nem universais e nem necessários, portanto não permitem ampliar
o conhecimento.
QUESTÃO 03 (UFU)
O texto abaixo comenta alguns aspectos da reflexão de Immanuel Kant sobre a
ética.
E por que realizamos atos contrários ao dever e, portanto, contrários à razão?
Kant dirá que é porque nossa vontade é também afetada pelas inclinações,
que são os desejos, as paixões, os medos, e não apenas pela razão. Por isso
afirma que devemos educar a vontade para alcançar a boa vontade, que seria
aquela guiada unicamente pela razão.
COTRIM, G.; FERNANDES, M. Fundamentos de Filosofia. São Paulo:
Saraiva, 2010. p. 301.

Sobre a reflexão ética de Kant, assinale a alternativa INCORRETA.

A) A ação por dever é aquela que exclui todas as determinações advindas da


sensibilidade, como os desejos, as paixões e os medos.
B) A ação por dever está fundada na autonomia, ou seja, na capacidade que
todo homem tem de escolher as regras que sua própria razão construiu.
C) A ação por dever é uma expressão da boa vontade, na medida em que
exige que a mesma regra, escolhida para um certo caso, possa ser utilizada
por todos os agentes racionais.
D) A ação por dever é aquela que reflete um meio termo ou um equilíbrio entre
as determinações das inclinações e as determinações da razão.

QUESTÕES ENEM:

QUESTÃO 01

“Até agora se supôs que todo nosso conhecimento tinha que se regular pelos
objetos; porém, todas as tentativas de mediante conceitos estabelecer algo a
priori sobre os mesmos, através do que nosso conhecimento seria ampliado,
fracassaram sob esta pressuposição. Por isso, tente-se ver uma vez se não
progredimos melhor nas tarefas da Metafísica admitindo que os objetos têm que
se regular pelo nosso conhecimento, o que assim já concorda melhor com a
requerida possibilidade de um conhecimento a priori dos mesmos que deve
estabelecer algo sobre os objetos antes de nos serem dados. O mesmo
aconteceu com os pensamentos de Copérnico que, depois das coisas não
quererem andar muito bem com a explicação dos movimentos celestes
admitindo-se que todo exército de astros girava em torno do espectador, tentou
ver se não seria mais bem-sucedido se deixasse o espectador mover-se e, em
contrapartida, os astros em repouso.”
KANT, I. Crítica da razão pura. Prefácio à segunda edição. Trad. de Valério
Rohden e
Udo Baldur Moosburger. São Paulo: Nova Cultural, 1987, p. 14. (Os Pensadores)

Considerando a leitura do trecho acima, podemos dizer que a revolução


copernicana de Kant é

A) uma revolução filosófica e científica segundo a qual o espectador não pode


permanecer fixo em sua posição, aprendendo apenas os fenômenos, mas
deve considerar que ele mesmo encontra-se em movimento para poder
perceber as coisas em si mesmas.
B) uma revolução astronômica que pretendeu mudar o curso da Filosofia
Moderna, propondo uma reavaliação da física newtoniana.
C) uma revolução filosófica que estabeleceu que o conhecimento da coisa em
si só pode ser atingido caso haja um cuidadoso estudo dos fenômenos.
D) uma revolução filosófica que afirmou a distinção entre fenômeno e coisa em
si, qualificando esta última como incognoscível.
E) uma revolução filosófica que afirmou a necessidade de se colocar no centro
dos estudos o objeto de conhecimento.

QUESTÃO 02

“Até agora se supôs que todo nosso conhecimento tinha que se regular pelos
objetos; porém, todas as tentativas de mediante conceitos estabelecer algo a
priori sobre os mesmos, através do que nosso conhecimento seria ampliado,
fracassaram sob esta pressuposição. Por isso, tente-se ver uma vez se não
progredimos melhor nas tarefas da Metafísica admitindo que os objetos têm que
se regular pelo nosso conhecimento, o que assim já concorda melhor com a
requerida possibilidade de um conhecimento a priori dos mesmos que deve
estabelecer algo sobre os objetos antes de nos serem dados. O mesmo
aconteceu com os pensamentos de Copérnico que, depois das coisas não
quererem andar muito bem com a explicação dos movimentos celestes
admitindo-se que todo exército de astros girava em torno do espectador, tentou
ver se não seria mais bem-sucedido se deixasse o espectador mover-se e, em
contrapartida, os astros em repouso.”
KANT, I. Crítica da razão pura. Prefácio à segunda edição. Trad. de Valério
Rohden e
Udo Baldur Moosburger. São Paulo: Nova Cultural, 1987, p. 14. (Os Pensador es)

Considerando a leitura do trecho acima, podemos dizer que na busca de


elaboração de uma teoria explicativa, Kant afirmou a existência do

A) conhecimento religioso e do conhecimento ateu.


B) conhecimento mítico e do conhecimento cético.
C) conhecimento sofístico e do conhecimento ideológico.
D) conhecimento empírico e do conhecimento puro.
E) conhecimento fanático e do conhecimento tolerante.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO:

QUESTÃO 01 (UFU)
Na sua obra "Crítica da Razão Pura", Kant formulou uma síntese entre sujeito e
objeto, mostrando que, ao conhecermos a realidade do mundo, participamos
da sua construção mental. Segundo Kant, esta valorização do sujeito
(possuidor de categorias apriorísticas) no ato de conhecimento, representou,
na Filosofia, algo comparável à

A) previsão da órbita do Cometa Halley no sistema solar.


B) revolução de Copérnico na Física.
C) invenção do telescópio por Galileu Galilei.
D) Revolução francesa que derrubou o Ancien Régime.
E) invenção da máquina a vapor.

QUESTÃO 02 (UFU)
Na obra Crítica da Razão Pura, Immanuel Kant, examinando o problema do
conhecimento humano, distinguiu duas formas básicas do ato de conhecer.
Assinale a alternativa CORRETA.

A) O conhecimento religioso e o conhecimento ateu.


B) O conhecimento mítico e o conhecimento cético.
C) O conhecimento sofístico e o conhecimento ideológico.
D) O conhecimento empírico e o conhecimento puro.
E) O conhecimento fanático e o conhecimento tolerante.

QUESTÃO 03 (UFU)
Em relação ao conceito de fenômeno, conforme foi apresentado por I. Kant,
assinale a alternativa INCORRETA.

A) Este conceito refere-se ao que não pode ser dado numa experiência, e,
nesse sentido, designa também o que pode ser conhecido como coisa em si.
B) Este conceito designa todos os objetos que podem ser intuídos no espaço
e no tempo
C) Este conceito refere-se a todos os objetos acerca dos quais pode ser
produzido conhecimento objetivo e verdadeiro pelas ciências empíricas.
D) Este é um conceito fundante da crítica kantiana, pois permite separar os
objetos da experiência dos que não podem estar contidos em qualquer
experiência possível.

QUESTÃO 04 (UEL)

“Em todos os juízos em que for pensada a relação de um sujeito


com o predicado [...], essa relação é possível de dois modos. Ou o
predicado B pertence ao sujeito A como algo contido (ocultamente)
nesse conceito A, ou B jaz completamente fora do conceito A,
embora esteja em conexão com o mesmo. no primeiro caso,
denomino juízo analítico, no outro sintético”.
Fonte: KANT, I. Crítica da Razão Pura. Tradução de Valério
Rohden e
Udo Baldur Moosburguer. São Paulo: Abril Cultural, 1980, p. 27.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a distinção entre juízos


analíticos e sintéticos, assinale a alternativa que apresenta um juízo sintético
a posteriori.

A) Todo corpo é extenso.


B) Todo corpo é pesado.
C) Tudo que acontece tem uma causa.
D) 7 + 5 = 12.
E) Todo efeito tem uma causa.

QUESTÃO 05 (UFU)
Autonomia da vontade é aquela sua propriedade graças à qual ela é para si mesma a
sua lei (independentemente da natureza dos objetos do querer). O princípio da
autonomia é portanto: não escolher senão de modo a que as máximas da escolha
estejam incluídas simultaneamente, no querer mesmo, como lei universal.
KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Tradução de Paulo
Quintela. Lisboa: Edições 70, 1986, p. 85.

De acordo com a doutrina ética de Kant:

A) O Imperativo Categórico não se relaciona com a matéria da ação e com o que deve
resultar dela, mas com a forma e o princípio de que ela mesma deriva.
B) O Imperativo Categórico é um cânone que nos leva a agir por inclinação, vale dizer,
tendo por objetivo a satisfação de paixões subjetivas.
C) Inclinação é a independência da faculdade de apetição das sensações, que
representa aspectos objetivos baseados em um julgamento universal.
D) A boa vontade deve ser utilizada para satisfazer os desejos pessoais do homem.
Trata-se de fundamento determinante do agir, para a satisfação das inclinações.

QUESTÃO 06 (UFU)
Os princípios práticos se dividem em dois grandes grupos, que Kant chama,
respectivamente, de ‘máximas’ e ‘imperativos’. [...] Os imperativos são os
princípios práticos objetivos, isto é, válidos para todos. Os imperativos são
“mandamentos” ou “deveres”, ou seja, regras que expressam uma necessidade
objetiva da ação, o que significa que, “se a razão determinasse completamente
a vontade, a ação ocorreria segundo tal regra” ao passo que a intervenção de
fatores emocionais e empíricos podem desviar esta vontade.
REALE,G., DARIO, A. História da Filosofia, vol. II. São Paulo: Paulus, 1990, p.
903 (adaptado)

Para Kant, é correto afirmar que os imperativos

A) são subjetivos e, dessa forma, não podem ser princípios universais.


B) devem determinar a razão, pois são princípios válidos para todos.
C) determinam a vontade, sem que as emoções interfiram.
D) sendo “máximas”, não expressam a necessidade objetiva da ação.

QUESTÃO 07 (UEL)
Na segunda seção da Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Kant nos
oferece quatro exemplos de deveres. Em relação ao segundo exemplo, que diz
respeito à falsa promessa, Kant afirma que uma:

“pessoa vê-se forçada pela necessidade a pedir dinheiro


emprestado. Sabe muito bem que não poderá pagar, mas vê
também que não lhe emprestarão nada se não prometer firmemente
pagar em prazo determinado. Sente a tentação de fazer a promessa;
mas tem ainda consciência bastante para perguntar a si mesma:
Não é proibido e contrário ao dever livrar-se de apuros desta
maneira? Admitindo que se decida a fazê-lo, a sua máxima de ação
seria: Quando julgo estar em apuros de dinheiro, vou pedi-lo
emprestado e prometo pagá-lo, embora saiba que tal nunca
sucederá”.
Fonte: KANT, I. Fundamentação da Metafísica dos Costumes.
Tradução de Paulo Quintela. São Paulo: Abril Cultural, 1980, p. 130.
De acordo com o texto e os conhecimentos sobre a moral kantiana, considere
as afirmativas a seguir:

I- Para Kant, o princípio de ação da falsa promessa não pode valer como lei
universal.
II- Kant considera a falsa promessa moralmente permissível porque ela será
praticada apenas para sair de uma situação momentânea de apuros.
III- A falsa promessa é moralmente reprovável porque a universalização de sua
máxima torna impossível a própria promessa.
IV- A falsa promessa é moralmente reprovável porque vai de encontro às
inclinações sociais do ser humano.

A alternativa que contém todas as afirmativas corretas é:

A) I e II
B) I e III
C) II e IV
D) I, II e III
E) I, II e IV

QUESTÃO 08 (UFU)

"Chamo de transcendental todo conhecimento que trata, não tanto


dos objetos como, de modo geral, de nossos conhecimentos a priori
dos objetos".
Kant - Crítica da Razão Pura - Col. Os Pensadores

Explique o significado da expressão conhecimento transcendental, no


pensamento de Kant.

QUESTÃO 09 (UFU)
O comentário abaixo foi feito por Kant (1724-1804) para justificar o início do
novo estágio da filosofia moderna, almejado com a sua obra Crítica da Razão
Pura.

"Até agora se supôs que todo nosso conhecimento tinha que se


regular pelos objetos; porém, todas as tentativas de mediante
conceitos estabelecer algo a priori sobre os mesmos, através do que
o nosso conhecimento seria ampliado, fracassaram sob esta
pressuposição."
Kant. Crítica da Razão Pura. São Paulo:
Nova Cultural, 1987. p.14. (Coleção "Os Pensadores")

A partir desta citação, explique em que consiste a Revolução Copernicana


realizada por Kant na filosofia.

QUESTÃO 10 (UFU)
Uma certa mãe, tendo preparado o almoço para seus dois filhos que estavam
na escola, deixou duas bombas de chocolate sobre a mesa e partiu para o
trabalho. O primeiro filho a chegar almoçou rapidamente, com os olhos presos
à sobremesa. Ao terminar, três pensamentos ocuparam, um após o outro, sua
reflexão:

A) primeiro, pensou em comer os dois doces, simplesmente pela ânsia


prazerosa de comê-los;
B) depois, sabendo que a mãe desaprovaria este ato, pensou em dizer-lhe
que, como ela não havia deixado nenhum bilhete, julgara que os dois doces
eram para ele e, por isso, acabou comendo os dois;
C) por fim, temendo o irmão, que era mais velho, maior e mais forte, escolheu
o doce que lhe pareceu maior e comeu-o.

I- A partir do exemplo dado acima, e a partir do conceito kantiano de


dever ou de autonomia, explique porque nem o prazer (caso A), nem a
mentira (caso B), nem a força física (caso C) podem ser fundamentos da ação
moral.
II- Em conformidade com o exemplo acima e com o pensamento de Kant,
formule uma regra que o primeiro filho a chegar poderia ter empregado para
que sua ação pudesse ser considerada moralmente correta.

Módulo 11: Nicolau Maquiavel e Thomas Hobbes

Maquiavel

Nicolau Maquiavel (1469-1527) nasceu na Itália e é


considerado o fundador do pensamento político moderno. Foi
diplomata e conselheiro dos governantes de Florença, e viu a
ascensão da burguesia comercial nas grandes cidades, assim
como a fragmentação da Itália. Vendo a vida política assim
fragmentar-se, Maquiavel funda um novo tipo de pensamento
político, negando o que se havia dito e feito até então. Nesse
sentido, nega um fundamento anterior e exterior à política,
como a natureza, no caso de Aristóteles, ou alguma influência
divina, no caso dos teólogos medievais.
O autor não aceita também a ideia de uma boa comunidade política, voltada
para o bem comum. Ao contrário, enxerga a sociedade em constante tensão,
causada pelos interesses opostos daqueles que oprimem, e assim querem
continuar, e os que são oprimidos, e não podem aceitar de bom grado essa
condição. A principal finalidade da política seria, assim, a tomada e
manutenção do poder, o que só pode ocorrer se o governante consegue dar a
essa formação, a princípio sem objetivos comuns, uma identidade.
Consequentemente, a verdadeira virtude do príncipe não deve pertencer
àquele conjunto ditado pela igreja, mas a virtù principesca deve ser a
competência política. É por isso que Maquiavel afirma que:

“Assim, deve o príncipe tornar-se temido, de sorte que, se não for amado,
ao menos evite o ódio, pois é fácil ser, a um só tempo, temido e não
odiado, o que ocorrerá uma vez que se prive da posse dos bens e das
mulheres dos cidadãos e dos súditos, e, mesmo quando forçado a
derramar o sangue de alguém, poderá fazê-lo apenas se houver
justificativa apropriada e causa manifesta”. MAQUIAVEL, N. O Príncipe. In.
Maquiavel. Tradução de Olívia Bauduh. São Paulo: Nova Cultural, 2004,
p. 106-107)

Sendo o governante uma figura competente, ele será capaz de enfrentar


todas as situações que a sorte (fortuna) lhe trouxer. Vale ressaltar que a
Fortuna, na mitologia grega, é uma deusa, ser feminino, que como tal, deve ser
conquistado, pois não se entrega facilmente a alguém. O príncipe deve, assim,
ter a capacidade de conquistar momentos promissores para o sucesso de seu
governo, além de ter a mestria necessária para ultrapassar aqueles que não se
apresentem nessa configuração. Livre dos imperativos das virtudes cristãs, o
ideal seria que o governante unisse a força, característica do leão, à astúcia,
característica da raposa, ou seja, fazer uso da violência, que é uma
prerrogativa de quem governa, com toda inteligência necessária para, como foi
dito acima, evitar o ódio dos súditos. Vale ressaltar que virtù e fortuna são as
duas condições para o sucesso de um governo. Ao usar como exemplo
Moisés, líder hebreu, como figura que possuía valor para estar à frente de uma
comunidade política, Maquiavel não deixa de evidenciar que todo esse valor,
sem uma ocasião apropriada para ser demonstrado, não conduziria à tomada
do poder. Daí a necessidade da simultaneidade entre o valor do líder e uma
ocasião apropriada.
Maquiavel não defende a Monarquia, ou qualquer outro regime político, mas
afirma que qualquer regime é legítimo se garante a liberdade dos súditos.
Nesse sentido, afirma que o governante jamais deve se aliar aos poderosos,
mas sempre ao povo, pois os poderosos são seus concorrentes. Além disso,
denuncia a corrupção política, afirmando que um dos principais fatores que
despertam o ódio do povo é a sua espoliação por parte de seus governantes. A
grande ruptura realizada pelo autor com relação principalmente ao pensamento
antigo é a separação que faz entre ética, compreendida em seu sentido mais
genérico, e Política. Não é que não exista uma moralidade na política, mas ela
possui sua lógica própria, muitas vezes distinta das demais relações sociais.
Para os gregos seria inconcebível um político sem virtudes, enquanto para
Maquiavel a única função da política é, como já foi visto, a tomada e a
manutenção do poder, o que envolveria a preocupação do governante em
conduzir da melhor maneira possível o convívio social, talvez não sendo bom
no sentido moral da palavra, mas competente para equilibrar os interesses
divergentes presentes no corpo social.

HOBBES

Thomas Hobbes (1588-1679) nasceu na uma aldeia inglesa chamada


Westport. Tendo como pressuposto que “todo ser luta para conservar-se, isto
é, evitar a morte”, e discordando de Aristóteles, que afirmava serem os homens
sociáveis por natureza, Hobbes, assim como Maquiavel, funda um pensamento
político baseado no mundo material. A sociabilidade dada aos homens por
Aristóteles custa-lhes a igualdade, ou seja, só é sustentada por serem
considerados uns superiores aos outros por natureza. Como para Hobbes
todos são iguais por natureza, possuindo todos nessa condição direito apenas
à vida e à liberdade, não se contentando nenhum em ser servo do outro, surge
um estado de natureza marcado pela guerra de todos contra todos. Daí surge a
famosa frase que afirma que “o homem é o lobo do homem”. Vejamos, nas
palavras do próprio autor, como ele imaginou o estabelecimento do Contrato
Social que deu origem ao Estado (Leviatã - Monstro bíblico).
Para ele, a única maneira que os homens tiveram para
instituir, entre si, um poder comum era:

“[...] conferir toda sua força e poder a um homem, ou a uma


assembleia de homens, que possa reduzir suas diversas
vontades, por pluralidade de votos, a uma só vontade [...] é
como se cada homem dissesse a cada homem [...] transfiro
meu direito de governar-me a mim mesmo a este Homem, ou a esta
Assembleia de homens, com a condição de transferires a ele teu direito,
autorizando de maneira semelhante todas as suas ações. [...] Feito isto, à
multidão assim unida numa só pessoa chama-se Estado [...] É esta a
geração daquele grande Leviatã [...] ao qual devemos [...] nossa paz e
defesa. Pois graças a esta autoridade que lhe é dada por cada indivíduo
no Estado, é-lhe conferido o uso de tamanho poder e força que o terror
assim inspirado o torna capaz de conformar as vontades de todos eles, no
sentido da paz em seu próprio país, e da ajuda mútua contra os inimigos
estrangeiros. É nele que consiste a essência do Estado, o qual pode ser
assim definido: uma pessoa de cujos atos uma grande multidão, mediante
pactos recíprocos uns com os outros, foi instituída por cada um como
autora, de modo a ela poder usar a força e os recursos de todos, da
maneira que considerar conveniente, para assegurar a paz e a defesa
comum. Àquele que é portador dessa pessoa se chama Soberano, e dele
se diz que possui poder soberano. Todos os restantes são súditos”.
(HOBBES, T. Leviatã ou matéria, forma e poder de um Estado Eclesiástico
e Civil. In. Hobbes. Tradução de João Paulo Monteira e Maria Beatriz
Nizza da Silva. São Paulo: Nova Cultural, 2005, p. 144)

Nota-se, então, pelas palavras do próprio autor que a sociedade civil, na


qual viviam os homens de seu tempo, só poderia ter sido gerada através de um
pacto entre os homens. O motivo pelo qual os indivíduos buscam o referido
acordo também são elencados do texto, quais sejam: a paz e a defesa. Os
homens, através da instituição do Estado, abdicam de sua liberdade individual
em prol de uma liberdade artificial, para saírem do já citado estado de guerra
de todos contra todos, denominado de estado de natureza. Essa criação é
humana, e aí o motivo da discordância com Aristóteles. Sendo o Estado uma
criação humana, nega-se a naturalidade aristotélica, e atribui-se a ele
artificialidade, no que irão concordar os demais contratualistas. Vimos através
do texto também, que para Hobbes o soberano é o monarca, isto é, o
depositário da confiança do povo, podendo este fazer o que considerar melhor,
e inclusive utilizar a força, para manter a paz. Tal poder é incontestável e
indivisível, sendo assim, absoluto. Podemos considerar então o autor um
defensor do absolutismo.
É importante, no entanto, que não se confunda monarquismo com
absolutismo. Hobbes não é um defensor do monarquismo, o que se vê
claramente na citação abaixo:

A única maneira de instituir um poder comum entre os homens,


capaz de defendê-los das invasões dos estrangeiros e das injúrias
uns dos outros (...) é conferir toda sua força ou poder a um homem
ou a uma assembleia de homens que possa reduzir suas diversas
vontades (...) a uma só vontade. Feito isto, à multidão assim unida
numa só pessoa se chama Estado.
HOBBES, T. Leviatã. Col. “Os Pensadores”. São Paulo: Abril
Cultural, 1970.

O Estado pode, assim, ser governado por um só homem ou por um grupo,


desde que não exista divisão de poder, como encontramos atualmente na
maioria dos países do planeta (executivo, legislativo e judiciário). Apesar de
aventar a possibilidade de formas de governo diversas, Hobbes acaba por
apresentar a monarquia como a mais adequada, pelo fato de nela confluírem a
vontade individual, do Rei, com a vontade pública, dos súditos, de forma mais
eficiente. A forma aristocrática, e mesmo a presença de eleições para a
escolha de quem governa de forma soberana, não são excluídas pelo autor.
Leviatã é um monstro bíblico, e no frontispício da primeira edição da obra ele
aparece gigantesco, com o corpo formado por inúmeros corpos humanos, que
representam a coletividade, com o cetro em uma mão (poder) e a espada na
outra (força). É importante lembrar que quem transferiu tais objetos simbólicos
para o Estado, em função do pacto, foram os próprios súditos, o que consiste
em outro fundamento, não religioso e nem natural, para o poder político. Assim
como em Maquiavel, aqui se encontra uma concepção de Estado ligada
intimamente à força física.

EXERCÍCIOS PROPOSTOS:

QUESTÃO 01 (UFU)
Em seus estudos sobre o Estado, Maquiavel busca decifrar o que diz ser uma verità
effettuale, a ―verdade efetiva‖ das coisas que permeiam os movimentos da
multifacetada história humana/política através dos tempos. Segundo ele, há certos
traços humanos comuns e imutáveis no decorrer daquela história. Afirma, por
exemplo, que os homens são ―ingratos, volúveis, simuladores, covardes ante os
perigos, ávidos de lucro‖. (O Príncipe, cap. XVII)

Para Maquiavel:

A) A verdade efetiva das coisas encontra-se em plano especulativo e, portanto, no


dever-ser.
B) Fazer política só é possível por meio de um moralismo piedoso, que redime o
homem em âmbito estatal.
C) Fortuna é poder cego, inabalável, fechado a qualquer influência, que distribui bens
de forma indiscriminada.
D) A Virtù possibilita o domínio sobre a Fortuna. Esta é atraída pela coragem do
homem que possui Virtù.

QUESTÃO 02 (UFU)
O desenvolvimento das ciências naturais na era moderna influenciou a corrente
filosófica denominada empirismo que tem por característica fundamental a
ênfase do papel da experiência sensível no conhecimento. Dentre os
representantes do empirismo inglês podemos destacar, entre outros nomes,
Thomas Hobbes, John Locke e David Hume. Hobbes, apesar de receber
também outras influências filosóficas como o nominalismo, é influenciado pelas
ideias empiristas, tanto que a primeira parte de seu livro O Leviatã ou Forma e
matéria do Estado é composta por uma teoria do conhecimento baseada nas
ideias desta corrente. Um dos resultados desta influência é a concepção de
pacto social: para Hobbes, observando o comportamento dos homens
podemos conhecer sua natureza, assim, conclui: os pactos sem a espada não
passam de palavras.

Com base no texto acima e em seus conhecimentos sobre a filosofia


hobbesiana, assinale a alternativa que descreve o significado da expressão: os
pactos sem a espada não passam de palavras.

A) O poder do Estado deriva da natureza humana: uma vez que os homens


concordem em obedecer a lei, cumprirão integralmente a palavra dada.
B) O poder do Estado se consolida com o uso simbólico da espada no poder
legislativo; a expressão palavras representa a lei.
C) A única forma de os homens cumprirem suas promessas é pelo medo da
punição caso fujam do compromisso de manter a palavra dada.
D) A frase de Hobbes aplica-se somente ao estado de natureza, sendo
desnecessário o uso da força no estado civil, depois do Estado constituído.

QUESTÃO 03 (UFU)
[...] a condição dos homens fora da sociedade civil (condição esta que
podemos adequadamente chamar de estado de natureza) nada mais é do que
uma simples guerra de todos contra todos na qual todos os homens têm igual
direito a todas as coisas; [...].
HOBBES, Thomas. Do Cidadão. Campinas: Martins Fontes, 1992.

De acordo com o trecho acima e com o pensamento de Hobbes, assinale a


alternativa correta:
.
A) Segundo Hobbes, o estado de natureza se confunde com o estado de
guerra, pois ambos são uma condição original da existência humana.
B) Para Hobbes, o direito dos homens a todas as coisas está desvinculado da
guerra de todos contra todos.
C) Segundo Hobbes, é necessário que a condição humana seja analisada
sempre como se os homens vivessem em sociedade.
D) Segundo Hobbes, não há vínculo entre o estado de natureza e a sociedade
civil.
QUESTÕES ENEM:

QUESTÃO 01:

“O maquiavelismo é uma interpretação de O Príncipe de Maquiavel,


em particular a interpretação segundo a qual a ação política, ou seja,
a ação voltada para a conquista e conservação do Estado, é uma
ação que não possui um fim próprio de utilidade e não deve ser
julgada por meio de critérios diferentes dos de conveniência e
oportunidade.”
BOBBIO, Norberto. Direito e Estado no pensamento de Emanuel
Kant.
Trad. de Alfredo Fait. 3.ed. Brasília: Editora da UNB, 1984. p. 14.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, para Maquiavel o poder
político é

A) independente da moral e da religião, devendo ser conduzido por critérios


restritos ao âmbito político.
B) independente da conveniência e oportunidade, pois estas dizem respeito à
esfera privada da vida em sociedade.
C) dependente da religião, devendo ser conduzido por parâmetros ditados pela
Igreja.
D) dependente da ética, devendo ser orientado por princípios morais válidos
universal e necessariamente.
E) independente das pretensões dos governantes de realizar os interesses do
Estado.

QUESTÃO 02:

Leia o texto a seguir.

“Dado que todo súdito é por instituição autor de todos os atos e


decisões do soberano instituído, segue-se que nada do que este
faça pode ser considerado injúria para com qualquer de seus
súditos, e que nenhum deles pode acusá-lo de injustiça”.
Fonte: HOBBES, T. Leviatã, ou, Matéria, forma e poder de um
estado eclesiástico e civil. Tradução de João Paulo Monteiro e
Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p. 109.

Hobbes é um dos principais defensores do absolutismo, centralização total do


poder. A partir da leitura do fragmento, infere-se que para este autor

A) o soberano não tem deveres contratuais com os seus súditos.


B) o poder político tem como objetivo principal garantir a liberdade dos
indivíduos.
C) antes da instituição do poder soberano, os homens viviam em paz.
D) o poder soberano deve obediência às leis da natureza.
E) acusar o soberano de injustiça seria como acusar a si mesmo de injustiça.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO:

QUESTÃO 01: (UFU)


Muito citado e pouco conhecido, Nicolau Maquiavel é um dos maiores
expoentes do Renascimento e sua contribuição determinou novos horizontes
para a filosofia política.

A respeito do conceito de virtù, analise as assertivas abaixo.


I- A virtù é a qualidade dos oportunistas, que agem guiados pelo instinto natural
e irracional do egoísmo e almejam, exclusivamente, sua vantagem pessoal.
II- O homem de virtù é antes de tudo um sábio, é aquele que conhece as
circunstâncias do momento oferecido pela fortuna e age seguro do seu êxito.
III- Mais do que todos os homens, o príncipe tem de ser um homem de virtù,
capaz de conhecer as circunstâncias e utilizá-las a seu favor.
IV- Partidário da teoria do direito divino, Maquiavel vê o príncipe como um
predestinado e a virtù como algo que não depende dos fatores históricos.

Assinale a ÚNICA alternativa que contém as assertivas verdadeiras.

A) I, II, e III
B) II e III
C) II e IV
D) II, III e IV

QUESTÃO 02 (UFU/PAIES)
Antônio Gramsci fez o seguinte comentário ao pensamento de Maquiavel.

“O estilo de Maquiavel não é o de um tratadista sistemático


como os tinha a Idade Média e o Humanismo, absolutamente; é
estilo de homem de ação, de quem quer impulsionar a ação.”
GRAMSCI, A. Maquiavel, a política e o Estado moderno.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1984, p. 10.

O homem de ação foi para Maquiavel o novo príncipe, o governante do


Estado. A esse respeito assinale (V) para as afirmativas verdadeiras e (F) para
as falsas.

1( ) O homem de ação é o homem capaz de aproveitar com vigor e


astúcia as situações que se lhe apresentam para alcançar o poder sobre os
seus súditos.
2( ) O homem de ação, como homem de virtude, é aquele capaz de
efetuar mudanças significativas no curso da história com a realização de
grandes obras.
3( ) O homem de ação é aquele que observa e executa os anseios do
povo em consonância com os valores espirituais e desinteressado dos bens
materiais.
4( ) O homem de ação é o príncipe bom e justo, que usa de toda a sua
sabedoria para bem interpretar a vontade do povo, mesmo que isso implique
na sua perda de poder.

QUESTÃO 03 (UFU)
Porque as leis de natureza (como a justiça, a equidade, a modéstia, a piedade, ou, em
resumo, fazer aos outros o que queremos que nos façam) por si mesmas, na ausência
do temor de algum poder capaz de levá-las a ser respeitadas, são contrárias a nossas
paixões naturais, as quais nos fazem tender para a parcialidade, o orgulho, a vingança
e coisas semelhantes.
HOBBES, Thomas. Leviatã. Cap. XVII. Tradução de João Paulo Monteiro e Maria
Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p. 103.
Em relação ao papel do Estado, Hobbes considera que:

A) O seu poder deve ser parcial. O soberano que nasce com o advento do contrato
social deve assiná-lo, para submeter-se aos compromissos ali firmados.
B) A condição natural do homem é de guerra de todos contra todos. Resolver tal
condição é possível apenas com um poder estatal pleno.
C) Os homens são, por natureza, desiguais. Por isso, a criação do Estado deve servir
como instrumento de realização da isonomia entre tais homens.
D) A guerra de todos contra todos surge com o Estado repressor. O homem não deve
se submeter de bom grado à violência estatal.

QUESTÃO 04 (UFU)
Para Hobbes (1588-1679), o homem reconhece a necessidade de renunciar ao seu
direito sobre todas as coisas em favor de um "contrato". Isso implica também na
abdicação de sua vontade em favor de "um homem ou assembleia de homens, como
representantes" da sua pessoa. Assim para Hobbes o contrato social se justifica
porque:

A) a situação dos homens, entregues a si próprios, é de segurança, de


estabilidade e de felicidade, graças a esta organização primitiva, os homens
vivem sempre em paz e harmonia.
B) as disputas são importantes para o desenvolvimento da indústria, da
agricultura, da ciência, da navegação, enfim, é ela a responsável pelas
comodidades e por todo o bem-estar dos homens.
C) os interesses egoístas predominam entre os homens, a ponto de cada
indivíduo representar um perigo eminente aos outros indivíduos, de modo que
o homem se torna o lobo do próprio homem.
D) o homem é sociável por natureza e, por meio dela, é levado a fundar um
estado social pautado pela autoridade política, abdicando dos seus direitos em
favor de um corpo político.

QUESTÃO 05 (UFU)
Leia o enunciado abaixo. Para completá-lo marque a alternativa correta.
Segundo Hobbes (séc. XVII), para cessar o estado de vida em que os
indivíduos vivem isolados e em luta permanente, onde “homem é o lobo do
homem”,

A) os homens reafirmam a liberdade natural e a posse natural de bens,


riquezas e armas.
B) os homens inventaram as armas e cercaram as terras que ocupavam.
C) os homens aceitaram que a única lei é a força do mais forte, que conquista
e conserva tudo quando usa.
D) os homens decidem passar à sociedade civil e ao Estado Civil, criando as
leis e o poder político.

QUESTÃO 06 (UFU)
Segundo Hobbes (1588-1679), podemos definir estado de natureza como
sendo o lugar onde

A) todos são bons por natureza, mas a vida em sociedade os corrompe.


B) os homens são bons, “bons selvagens inocentes”, vivendo em estado de
felicidade original.
C) todos são proprietários de suas vidas, de seus corpos, de seus trabalhos,
portanto, todos são proprietários.
D) reina o medo entre os indivíduos, que temem a morte violenta, que vivem
isolados e em luta permanente, guerra de todos contra todos.

QUESTÃO 07 (UFU)
Thomas Hobbes escreveu que:

“Uma lei de natureza (lex naturalis) é um preceito ou regra geral,


estabelecido pela razão, mediante o qual se proíbe a um homem
fazer tudo o que possa destruir sua vida ou privá-lo dos meios
necessários para preservá-la, ou omitir aquilo que pense poder
contribuir melhor para preservá-la.”
HOBBES, Thomas. Leviatã, ou matéria, forma e poder de um
Estado Eclesiástico e Civil.
São Paulo: Nova Cultural, 1988. Coleção “Os Pensadores”. p.79.

Assinale a alternativa correta.

A) A condição natural do homem é a perfeita harmonia em relação ao seu


semelhante.
B) A lei primeira e fundamental da natureza é procurar a paz e segui-la.
C) No estado de natureza, os homens são governados pela razão divina.
D) No estado de natureza, o homem não tem direito a todas as coisas, por isso,
ele tem segurança.

QUESTÃO 08 (UFU)
Sobre os conceitos de fortuna e virtù na filosofia política de Maquiavel,
considere o trecho abaixo.

O desejo de conquistar é coisa verdadeiramente natural e ordinária e


os homens que podem fazê-lo serão sempre louvados e não
censurados. Mas se não podem e querem fazê-lo, de qualquer
modo, é que estão em erro, e são merecedores de censura.
MAQUIAVEL, N. O príncipe. Trad. de Lívio Teixeira.
São Paulo: Nova Cultural, 1987, p. 14

Responda:

A) Em que condições a ação bem sucedida de quem quer conquistar não deve
ser censurada?
B) Em que consiste o erro crucial de quem fracassa na conquista de um
Estado?

QUESTÃO 09 (UFU)
"Entendo por leis civis aquelas que os homens são obrigados a
respeitar, não por serem membros deste ou daquele Estado em
particular, mas por serem membros de um Estado".
Hobbes. Leviatã. Col. Os Pensadores, Abril Cultural, 1978

Segundo Hobbes, a quem pertence a soberania e quais suas atribuições


enquanto soberano?

QUESTÃO 10 (UFU)
Leia o texto abaixo com atenção e responda as questões a seguir.

A respeito da origem do Estado, em seu livro Leviatã, Hobbes


afirma que um homem abandona o direito a todas as coisas,
transferindo este direito para um poder soberano. “O modo pelo
qual um homem transfere seu direito é uma declaração ou
expressão, mediante um sinal ou sinais voluntários e suficientes
(...) que podem ser apenas palavras ou apenas ações ou então
tanto palavras como ações.” Esta “(...) transferência mútua de
direitos é aquilo que se chama contrato.” Feito este contrato, “(...) à
multidão assim unida numa só pessoa se chama Estado (...).”
HOBBES. Leviatã. São Paulo: Abril Cultural, 1979,
p. 78-79. Col. Os Pensadores.

A) Comente pelo menos duas etapas exigidas para que haja a geração do
Estado.
B) Por que o contrato elimina a condição de guerra de todos contra todos?

Módulo 12: John Locke e Jean-Jacques Rousseau.


Locke

John Locke (1632-1704) nasceu em Wrington, na


Inglaterra. Estudou na Universidade de Oxford, onde se
formou em Medicina. É considerado um dos pais da teoria
chamada Liberalismo, por causa de sua defesa explícita
à propriedade privada. Tal defesa é fundamentada com a
introdução de um direito do homem no estado de
natureza, além dos já citados por Hobbes à vida e à
liberdade, quando afirma em sua obra Segundo Tratado
sobre o Governo: “consideremos a razão natural, que nos
diz terem os homens, uma vez nascidos, direito à própria
preservação, e, consequentemente, à comida e à bebida e a tudo quanto a
natureza lhes fornece para a subsistência [...]”. É óbvio que para assegurar o
direito à vida o homem deveria necessariamente se apropriar dos meios
necessários para sobreviver, mas ao enfatizar esse fator, Locke introduz a
propriedade privada como direito natural, tendo fundamento, como ele mesmo
afirma, pelo trabalho realizado pelo homem em busca da sobrevivência, no que
afirma que “seja o que for que ele (o homem) retire do estado que a natureza
lhe forneceu e no qual o deixou, fica-lhe misturado ao próprio trabalho,
juntando-se-lhe algo que lhe pertence, e, por isso mesmo, tornando-o
propriedade dele”.
Mas apesar de fundamentar a propriedade privada com a noção de
trabalho, o autor tem que, através do estudo, ir impondo limites à mesma e
transpondo-lhes, para ver até que ponto pode o homem acumular. O primeiro
limite imposto é o do desperdício, ou seja, já que tudo foi criado para os
homens em comum, não é permitido a nenhum homem acumular bens
perecíveis além do que possa consumir, pois que estes podem vir a fazer falta
para os outros, caso se percam. Tal limite, da perecividade, é superado com a
invenção da moeda, valor de troca que o homem pode acumular sem que se
perca. Outro limite para o acúmulo é, evidentemente, relativo às próprias
limitações físicas do ser humano, ou seja, alguém só pode acumular o quanto
possa colher. Tal limite é transposto com a introdução da noção de trabalho
alienado, defendida sob o ponto de vista de que a primeira propriedade a que
todos têm acesso é à do próprio corpo, o qual o mesmo possui o direito de
alienar a outrem, vendendo assim sua força de trabalho. Ultrapassam-se assim
todos os limites para o acúmulo de bens.
É importante lembrar que tudo que foi dito acima corresponde ao estado de
natureza, no qual, para o autor, os homens vivem em certa harmonia, guiados
pela razão. O papel do Contrato Social, para Locke, não possui assim papel tão
decisivo quanto na teoria de Hobbes. Nas palavras do primeiro:

“Sendo os homens, [...] por natureza, todos livres, iguais e independentes,


ninguém pode ser expulso de sua propriedade e submetido ao poder
político de outrem sem dar consentimento. A maneira única em virtude da
qual uma pessoa qualquer renuncia à liberdade natural e se reveste dos
laços da sociedade civil consiste em concordar com outras pessoas em
juntar-se e unir-se em comunidade para viverem com segurança, conforto
e paz umas com as outras, gozando garantidamente das propriedades que
tiverem e desfrutando de maior proteção contra quem quer que não faça
parte dela”.
LOCKE, J. Segundo Tratado sobre o governo. In: Locke. 3.ed. São Paulo:
Abril Cultural, 1983. Coleção Os Pensadores.

O papel do Estado, fundado pelo Contrato firmado entre os homens, assim,


é o de legitimar os direitos já existentes no estado de natureza. Nesse sentido,
a soberania não se encontra mais nas mãos dos poderosos, que encontram
como limite para o exercício do poder a individualidade dos homens, e seu
direito de acumular sem a interferência do Estado. Esse possui somente a
função de assegurar a qualidade de vida dos membros da sociedade civil,
dando-lhes educação, saúde e segurança. Tal modelo de Estado é ainda o que
funciona no Brasil, por exemplo, onde os governantes não possuem o direito de
se intrometerem na individualidade dos cidadãos, salvo por ordem judicial.
Dos três filósofos contratualistas que estamos estudando, somente Locke
fala de direito à insurreição, ou seja, à derrubada de algum governante que não
esteja agindo segundo o consenso a que chegaram os cidadãos.

Rousseau
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) nasceu em
Genebra, na Suíça, transferindo-se para a França em 1742,
onde escreveu suas grandes obras. Além de escritos de
Filosofia, o autor escreveu romances, e mesmo uma obra
sobre pedagogia, chamada Emílio. Vejamos, entretanto, o
que pensou o autor sobre o surgimento da Sociedade Civil.

“O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que,


tendo cercado um terreno, lembrou-se de dizer isto é meu e
encontrou pessoas suficientemente simples para acreditá-lo. Quantos
crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não pouparia ao gênero
humano aquele que, arrancando as estacas ou enchendo o fosso, tivesse
gritado a seus semelhantes: “Defendei-vos de ouvir esse impostor; estareis
perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos e que a terra não
pertence a ninguém” (ROUSSEAU, J-J. Do contrato Social. In.
ROUSSEAU II. Tradução de Lourdes Santos Machado. São Paulo: Nova
Cultural, 2005, p. 87)

Com base no trecho, podemos tecer as primeiras comparações com relação


às teorias dos dois autores anteriores. Contrastando Rousseau com Locke,
podemos ver uma diferença significativa, que também o segundo mantém com
Hobbes: para Rousseau, assim como para Hobbes, a propriedade privada não
é um direito natural. Somente Locke o acrescenta aos direitos de vida e
liberdade. A propriedade, porém é elemento importantíssimo para o
entendimento do pensamento de Rousseau, pois o mesmo atribui a seu
surgimento a responsabilidade pela criação da sociedade civil. É porque passa
a existir propriedade que surge a necessidade da criação, por meio de um
contrato, de uma sociedade artificial.
Para Rousseau, a instituição da propriedade é a causadora, como vimos,
das desavenças entre os homens, que não existiam no estado de natureza. É
aí que aparecerá um estado parecido com o que Hobbes denomina estado de
guerra, assim como a necessidade da passagem para a sociedade civil, por
meio do contrato. Para o autor, a teoria hobbesiana está equivocada, pois:
“Vivendo em sua primitiva independência, não mantêm entre si uma relação
suficientemente constante para constituir quer o estado de paz quer o de
guerra, os homens em absoluto não são naturalmente inimigos”.
Assim o autor nega ser o homem lobo do próprio homem, e funda o que
grosseiramente se denomina a teoria do “Bom Selvagem”, acreditando na
existência de um sentimento de compaixão ou piedade no ser humano, que
consiste em uma capacidade que os homens possuem de se importar com o
que acontece com os demais. Tal sentimento é importante para a defesa do
tipo de Estado defendido pelo autor, a democracia, já que tal modelo exige que
os indivíduos, ao realizarem escolhas, consigam se colocar no lugar de outros
que serão atingidos por elas. Mas como o surgimento da propriedade inicia um
novo estado de coisas, forçando a passagem para a sociedade civil, o contrato
passa a ser necessário. Sobre o mesmo, o autor afirma:

“Encontrar uma forma de associação que defenda e proteja a pessoa e os


bens de cada associado com toda a força comum, e pela qual cada um,
unindo-se a todos, só obedece, contudo a si mesmo, permanecendo assim
tão livre quanto antes. Esse, o problema fundamental cuja solução o
contrato social oferece”. (ROUSSEAU, J-J. Do contrato Social. In.
ROUSSEAU. Tradução de Lourdes Santos Machado. São Paulo: Nova
Cultural, 2005, p. 69)

A liberdade na sociedade, porém, não pode mais ser considerada natural,


visto que a associação é algo artificial. Trata-se, pois do que se chama
liberdade civil, a qual coloca a todos em pé de igualdade. A soberania para o
autor, visto que o Estado surge por meio de um consenso entre os homens,
encontra-se nas mãos do povo. O Soberano é a vontade geral, que porém não
pode ser confundida com a vontade de todos. A vontade geral é fruto de um
consenso a que chegam os membros de uma associação, podendo alguns
discordar da mesma, estando, porém obrigados a acatá-la, pela própria
natureza do acordo.

QUADRO COMPARATIVO

Thomas Hobbes John Locke J-J. Rousseau


(1588-1679) (1632-1704) (1712-1778)
Relativa harmonia
Os homens vivem
Estado Guerra de todos devido à
em harmonia “Bom
Natureza contra todos racionalidade
Selvagem”.
humana.
Direitos Vida, Liberdade,
Vida, Liberdade. Vida, Liberdade.
Naturais Propriedade.
Busca o fim dos Legitimação do Depois da fundação
Motivo do
conflitos direito à da propriedade,
Pacto
(segurança) propriedade. busca da segurança.
Modelo do
Absolutista Liberal Democrático
Estado
Soberania Governante Legislativo Povo

EXERCÍCIOS PROPOSTOS:

QUESTÃO 01 (UFU)
Para bem compreender o poder político e derivá-lo de sua origem, devemos
considerar em que estado todos os homens se acham naturalmente, sendo
este um estado de perfeita liberdade para ordenar-lhes as ações e regular-lhes
as posses e as pessoas conforme acharem conveniente, dentro dos limites da
lei de natureza, sem pedir permissão ou depender da vontade de qualquer
outro homem.
LOCKE, John. Segundo Tratado sobre o Governo. São Paulo: Abril Cultural,
1978.

A partir da leitura do texto acima e de acordo com o pensamento político do


autor, assinale a alternativa correta.
A) Segundo Locke, o estado de natureza se confunde com o estado de
servidão.
B) Para Locke, o direito dos homens a todas as coisas independe da
conveniência de cada um.
C) Segundo Locke, a origem do poder político depende do estado de natureza.
D) Segundo Locke, a existência de permissão para agir é compatível com o
estado de natureza.

QUESTÃO 02 (UFU)
Para Locke, os homens em estado de natureza são, cada um, juiz em causa
própria; assim é necessário constituir a sociedade civil mediante contrato social
para organizar a vida em sociedade. Isto se daria através do pacto, tornando
legítimo o poder do Estado. Para ele, o poder

A) encontra-se na soberania do poder executivo.


B) é confiado aos governantes e não pode ser contestado em hipótese alguma.
C) é confiado aos governantes, podendo haver insurreição, caso eles não
visem o bem público.
D) é absoluto e não há possibilidade de instituir-se um novo pacto.
E) é instituído pela vontade geral.

QUESTÃO 03 (UFU)
Jean-Jacques Rousseau analisou a concepção de “estado de natureza
humana” e chegou a conclusão bem diferente de seus antecessores, conforme
se observa no trecho abaixo.

Outros poderão, desembaraçadamente, ir mais longe na mesma direção, sem


que para ninguém seja fácil chegar ao término, pois não constitui
empreendimento trivial separar o que há de original e de artificial na natureza
atual do homem, e conhecer com exatidão um estado que não mais existe, que
talvez nunca tenha existido, que provavelmente jamais existirá, e sobre o qual
se tem, contudo, a necessidade de alcançar noções exatas para bem julgar de
nosso estado presente”.
ROUSSEAU, J.J. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade
entre os homens. Coleção Os Pensadores. Trad. Lourdes Santos Machado.
São Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 234.

Com base no trecho acima e em seus conhecimentos sobre o assunto, é


correto afirmar que, para Rousseau,

A) a natureza humana é inexistente, tudo o que somos deriva da educação.


B) refletir sobre o estado de natureza permite compreender a vida política.
C) é impossível distinguir o que há de original e artificial no ser humano.
D) raciocinar a respeito do estado de natureza humana é uma tarefa inútil.

QUESTÕES ENEM:

QUESTÃO 01:
“[...] é preciso que examinemos a condição natural dos homens, ou seja, um
estado em que eles sejam absolutamente livres para decidir suas ações, dispor de
seus bens e de suas pessoas como bem entenderem, dentro dos limites do direito
natural, sem pedir autorização de nenhum outro homem nem depender de sua
vontade.”
LOCKE, John. Segundo Tratado sobre o governo civil.
Trad. Magda Lopes e Marisa Lobo da Costa. 2. ed. Petrópolis:
Vozes, 1994. p. 83.

O filósofo inglês do século XVII, John Locke, foi um dos grandes teóricos do liberalismo,
apresentando a propriedade como um direito natural. Partindo do texto, conclui-se que na
condição natural, para o autor,

A) os homens desconhecem a noção de justiça, pelo fato de inexistir um direito


natural que assegure a ideia do “meu” e do “teu”.
B) predominam a inimizade, maldade, violência e destruição mútua,
características inerentes ao ser humano.
C) proliferam os atos de agressão física, o que gera insegurança coletiva na
manutenção dos direitos privados.
D) existe uma tripartição dos poderes como forma de manter a coesão natural e
respeitosa entre as pessoas.
E) os homens se relacionam em uma relativa paz, que inclui a boa vontade, a
preservação e a assistência mútua.

QUESTÃO 04:

“Não sendo o Estado ou a Cidade mais que uma pessoa moral, cuja
vida consiste na união de seus membros, e se o mais importante de
seus cuidados é o de sua própria conservação, torna-se-lhe
necessária uma força universal e compulsiva para mover e dispor
cada parte da maneira mais conveniente a todos. Assim como a
natureza dá a cada homem poder absoluto sobre todos os seus
membros, o pacto social dá ao corpo político um poder absoluto
sobre todos os seus, e é esse mesmo poder que, dirigido pela
vontade geral, ganha, como já disse, o nome de soberania.”
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social. Trad. de Lourdes
Santos Machado. 3.ed.
São Paulo: Nova Cultural, 1994. p. 48.

De acordo com o texto e os conhecimentos sobre os conceitos de Estado e


soberania em Rousseau, é possível concluir que

A) a soberania surge como resultado da imposição da vontade de alguns


grupos sobre outros, visando a conservar o poder do Estado.
B) o estabelecimento da soberania está desvinculado do pacto social que funda
o Estado.
C) o Estado é uma instituição social dependente da vontade impositiva da
maioria, o que configura a democracia.
D) a conservação do Estado independe de uma força política coletiva que seja
capaz de garanti-lo.
E) a soberania é estabelecida como poder orientado pela vontade geral e
legitimado pelo pacto social para garantir a conservação do Estado.
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO:

QUESTÃO 01 (UFU)
Para John Locke, filósofo político inglês, os direitos naturais do homem eram

A) família, propriedade e religião.


B) liberdade, propriedade e servidão.
C) propriedade, servidão e família.
D) liberdade, igualdade e propriedade.
E) família, religião e pátria.

QUESTÃO 02 (UFU)
John Locke (1632-1704) é considerado, na História da Filosofia, como o
fundador do liberalismo político. Segundo este filósofo inglês, o Estado surge
através de um contrato entre os indivíduos e deve ter como função básica

A) controlar, de forma absoluta, a vida de todos os cidadãos.


B) proteger os interesses dos que não possuem, contra os que possuem.
C) promover a harmonia entre os grupos rivais, preservando os interesses do
bem comum.
D) garantir os privilégios da realeza e da Igreja na Inglaterra.

QUESTÃO 03: (UFU)


John Locke (1632-1704), vigoroso adversário do absolutismo, nos seus escritos
políticos partiu da situação de que os homens isolados no estado de natureza
buscaram se reunir por intermédio de um contrato social, tendo em vista a edificação
da sociedade civil. Esta ação política associativa, quando concretizada, confere
soberania ao:

A) Poder Legislativo.
B) Poder Executivo.
C) Poder Federativo.
D) Povo.

QUESTÃO 04: (UFU)


Marque a alternativa correta, considerando aquela que melhor completa o
enunciado abaixo.
Locke (final do séc. XVII e início do séc. XVIII) legitima a propriedade privada
como direito natural, porque

A) os homens, por natureza, nascem com o direito de possuir o que já existe e


lhe é doado. Esse direito é dado por Deus.
B) Deus é o artífice do mundo que, como obra do trabalhador divino, a ele
pertence. O mundo é sua propriedade. Deus criou o homem à sua imagem e
semelhança, deu-lhe a possibilidade de, através do trabalho, ter direito à
propriedade privada.
C) os homens, sendo lobos dos homens, cercam as terras que ocupam e as
defendem com armas, porque Deus permite aos homens conquistar e
conservar a propriedade pela força do mais forte, a única lei.
D) os homens, em estado de natureza, vivem isolados pelas florestas,
sobrevivendo com o que a natureza lhes dá, desconhecendo lutas e
comunicando-se pelo gesto, grito e canto.

QUESTÃO 05: (UFU)


A relação homem-natureza consome a maior parte das obras de Rousseau,
que seguiu uma direção peculiar assentada na crítica ao progresso das
ciências e das artes.

A este respeito, pode-se afirmar que

I- prevalece, nos escritos de Rousseau, a moral fundada na liberdade, a


primazia do sentimento sobre a razão e, principalmente, a teoria da bondade
natural do homem.
II- o bom selvagem ou o homem natural é dotado de livre arbítrio e sentido de
perfeição, sentimentos esses corrompidos com o surgimento da propriedade
privada.
III- o bom selvagem, descrito por Rousseau, possui uma sabedoria mais
refinada que o conhecimento científico, o que confirma a completa ignorância
da cultura letrada.
IV- Rousseau não defende o retorno do homem à animalidade, ao contrário, é
preciso conservar a pureza da consciência natural, isto é, alcançar a verdadeira
liberdade.

Assinale a alternativa que apresenta todas as afirmativas corretas.

A) I, III e IV
B) II, III e IV
C) I, II e IV
D) I, II e III

QUESTÃO 06 (UFU)
Para Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), o contrato social que seja
verdadeiro e legítimo é aquele que:

A) os indivíduos pelo pacto reconhecem, como seus, os atos e decisões de


alguém, não podendo, legitimamente, celebrar entre si um novo pacto no
sentido de obedecer a outrem, seja no que for, sem sua licença.
B) o indivíduo pelo pacto abdica de sua liberdade, mas sendo ele próprio parte
integrante e ativa do todo social, ao obedecer à lei, obedece a si mesmo sendo,
portanto, livre.
C) pelo pacto, todos os homens associados se alienam totalmente, abdicam,
sem reserva, de todos os seus direitos em favor da comunidade, mas somente
os proprietários nada perdem, porque, somente eles, participam plenamente da
sociedade civil.
D) pelo pacto, os homens deixam de ser livres, pois o poder soberano deve ser
absoluto, ilimitado, sendo que o pouco que seja conservado da liberdade
natural do homem, instaura de novo o estado de guerra.

QUESTÃO 07 (UFU)
As assertivas abaixo referem-se ao pensamento político de Jean-Jacques Rousseau
(1712-1778).

I- No estado de natureza os indivíduos vivem isolados e vagueando pela


imensa selva, sobrevivem com aquilo que a natureza lhes oferece,
desconhecem as lutas; este estágio equivale ao estado de felicidade original: o
homem é o bom selvagem.
II- O que originou o estado de sociedade foi o aparecimento da propriedade
privada, isto é, a divisão arbitrária que define o que é meu e o que é teu; tal
situação, acarretou o rompimento do estado de felicidade original.
III- O governante é o indivíduo que está investido da soberania, é ele que
representa a vontade geral; sob esta situação política, o povo transfere de livre
e espontânea vontade os seus direitos civis ao governante.

Assinale a única alternativa que contém as afirmativas corretas.

A) Apenas I e II.
B) Apenas I e III.
C) Apenas II e III.
D) I, II e III.

QUESTÃO 08 (UFU)
Leia o trecho seguir.

“Se o homem no estado de natureza é tão livre, conforme dissemos,


se é senhor absoluto da sua própria pessoa e posses, igual ao
maior e a ninguém sujeito, por que abrirá ele mão dessa liberdade,
por que abandonará o seu império e sujeitar-se-á ao domínio e
controle de qualquer outro poder?”
LOCKE, John. Segundo Tratado sobre o governo. São Paulo:
Nova Cultural, 1991, p. 264. Col. Os Pensadores.

Apresente a resposta de John Locke a esta questão, explicitando:

A) a razão que faz com que o homem saia do estado de natureza.


B) quais direitos são garantidos no estado civil.

QUESTÃO 09 (UFU)
Interprete o fragmento abaixo.

“O princípio da vida política reside na autoridade soberana. O poder


legislativo é o coração do Estado, o poder executivo, o cérebro que
dá movimento a todas as partes.”
ROUSSEAU, Do contrato social. São Paulo:
Abril Cultural, 1978. Col. Os Pensadores

Defina, segundo Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), o conceito de


soberania e, em seguida, explique em que essa concepção se diferencia dos
outros contratualistas.
QUESTÃO 10 (UFU)
Leia o texto abaixo.

A ordem social (...) é um direito sagrado que serve de base a todos


os outros. Tal direito, no entanto, não se origina da natureza: funda-
se, portanto, em convenções. Trata-se, pois, de saber que
convenções são essas.
ROUSSEAU, J. J. Do Contrato Social. 4ª ed. São Paulo: Nova
Cultural, 1987.

Responda:

A) Porque, para Rousseau, a natureza não ordena a sociedade?


B) Porque, para Rousseau, somente a convenção ordena a sociedade?

Módulo 13: Dialética de Hegel e Marx

GEORG WILLELM FRIEDRICH HEGEL (1770-1831)

Tudo que é real é racional, tudo que é racional é real.

Para entender a filosofia de Hegel, é conveniente situar alguns pontos


básicos a partir dos quais se desenvolve a sua reflexão.
O primeiro desses pontos é o entendimento da realidade como ESPÍRITO.
Esse conceito desenvolvido a partir da filosofia de Fichte e Schelling, é
ampliado ainda mais em Hegel. Entender a realidade como espírito, de acordo
com a filosofia de Hegel, é entendê-la não apenas como substância (um
enrijecimento do espírito, como pensava Schelling), mas também como
sujeito. Isso significa pensar a realidade como processo, como movimento, e
não somente como coisa (substância).
O segundo ponto básico da filosofia Hegeliana diz respeito justamente a
esse movimento da realidade. A realidade, enquanto espírito, possui uma vida
própria, um movimento dialético. Por movimento dialético, Hegel quer
caracterizar os diversos momentos sucessivos (e contraditórios) pelos quais
determinada realidade se apresenta. Em seu texto Fenomenologia do Espírito,
Hegel usa o exemplo da planta, desenvolvendo o seguinte raciocínio:

“O botão desaparece no florescimento, podendo-se dizer que aquele


é rejeitado por este; de modo semelhante, com o aparecimento do
fruto a flor é declarada falsa existência da planta, com o fruto
entrando no lugar da flor como a sua verdade. Tais formas não
somente se distinguem, mas cada uma delas se dispersa também
sob o impulso da outra, porque são reciprocamente incompatíveis.
Mas, ao mesmo tempo a sua natureza fluida faz delas momentos da
unidade orgânica, na qual elas não apenas não se rejeitam, mas, ao
contrário, são necessárias uma para a outra, e essa necessidade
igual constitui agora a via do inteiro”.

Nesse exemplo, Hegel ressalta que a realidade não é estática, mas


dinâmica, e em seu movimento apresenta momentos que se contradizem entre
si, sem, no entanto, perderem a unidade do processo, que leva a um crescente
auto-enriquecimento.
Esse desenvolvimento, que se faz através do embate e da superação de
contradições, Hegel denominou dialética. Embora esse termo apareça já na
antiguidade, com Platão, em Hegel o conceito de dialética se aplica a algo
totalmente distinto: não é um método ou uma forma de pensar a realidade, mas
sim o movimento concreto da realidade. Por isso, para compreender o real, o
pensamento também deve ser dialético.
Hegel compreende esse movimento do real, ou do espírito que se realiza,
como um movimento que se processa em três momentos: o primeiro, do Ser-
em-si, o segundo, do Ser outro ou fora-de-si; e o terceiro que seria o retorno,
do Ser para-si. Usando o exemplo da planta, ele distingue estes momentos
dizendo: “A semente é em-si a planta, mas ela deve morrer como semente e,
portanto, sair fora-de-si, a fim de poder se tornar, desdobrando-se, a planta
para-si.”
Nesse exemplo compreende-se que a realidade para Hegel é um contínuo
devir, no qual um momento prepara o outro, mas, para que esse outro
momento aconteça, o anterior tem que ser negado.
Esses três momentos são comumente chamados de tese, antítese e
síntese. Hegel os concebe como um movimento em espiral, ou seja, um
movimento circular que não se fecha, pois cada momento final, que seria a
síntese, se torna a tese de um movimento posterior, de caráter mais avançado.
Então:
Dialética = Esse desenvolvimento, que se faz através do embate e da
superação de contradições.

Esses três momentos são comumente chamados de:

Tese: a afirmação de algo,


Antítese: negação da afirmação,
Síntese: negação da negação.

Compreender a dialética da realidade, segundo Hegel, exige um trabalho


árduo da razão, que se deve afastar do entendimento comum e se colocar do
ponto de vista do absoluto. Esse caminho da consciência que se afasta do
conhecimento comum e se eleva ao saber absoluto é o objeto da reflexão do
autor em sua obra já referida. Nela, Hegel afirma que a consciência que
alcança o saber absoluto atinge a Razão, ou seja, supera o entendimento finito
e adquire “a certeza de ser de toda a realidade”. Desse modo, a razão
alcançaria a consciência da unidade entre ser e pensar, harmonizando a
subjetividade e a objetividade.

A RELAÇÃO ENTRE FILOSOFIA E HISTÓRIA


O pensamento de Hegel se apresenta como um grande sistema, que permite
pensar tanto a natureza, a realidade física, quanto o Espírito. O fio condutor
dessa reflexão totalizante é a relação entre finito e infinito. Hegel acredita que o
trabalho da filosofia é de superação do entendimento finito e limitado das
coisas finitas e limitadas para alcançar o saber absoluto, que é o saber da
coisa em si. Assim, nesse caminhar da consciência rumo ao saber absoluto,
temos a busca da infinitude a partir da consciência finita. Como sistema
filosófico, a obra de Hegel procura demonstrar esse caminho de conhecimento
finito ao conhecimento absoluto em vários campos do saber, tanto em relação
à natureza como ao Espírito.

Em relação à natureza, Hegel reconheceu três momentos:

O ESPÍRITO SUBJETIVO: que se refere ao indivíduo e à consciência


individual.
O ESPÍRITO OBJETIVO: que se refere às instituições e costumes
historicamente produzidos pelos homens.
O ESPÍRITO ABSOLUTO: que se manifesta na arte, na religião e na
filosofia, como espírito que compreende a si mesmo.

No que se refere à história, Hegel afirma que ela é o desdobramento do


Espírito objetivo. O Espírito objetivo é a realização da liberdade na sociedade,
e se manifesta no direito, na moralidade e na “eticidade”, englobando a família,
a sociedade e o Estado. O Estado político é, na filosofia de Hegel, o momento
mais elevado do Espírito objetivo, de forma tal que “o indivíduo só existe como
membro do Estado”, conforme Hegel afirma em Princípios da Filosofia do
Direito.

Hegel diz ainda que “a história é o desdobramento do Espírito no tempo”. A


filosofia da história deve captar o movimento histórico não como momentos
estagnados, mas no ponto de vista da razão, do absoluto. Desse ponto de
vista, a história é, segundo Hegel, uma contínua evolução da ideia de
liberdade, que se desenvolve segundo um plano racional. Assim, os conflitos,
as guerras, as injustiças, as dominações de um povo sobre outro devem ser
compreendidos como contradições, como momentos negativos que funcionam
como uma mola dialética que move a história. Usando os termos da dialética
Hegeliana, esses momentos seriam a antítese, que contrapõe a tese, fazendo
surgir uma etapa superior, que seria a síntese.
Hegel sintetiza essa concepção com a frase: “Tudo que é real é racional,
tudo que é racional é real”. Isso equivale a dizer que todas as coisas
existentes, mesmo as piores fazem parte de um plano racional e que, portanto,
têm um sentido dentro do processo histórico. Essa afirmação Hegeliana
recebeu inúmeras críticas, já que pode levar a certo conformismo ou a uma
passividade diante das injustiças.
Nesse sentido pode-se classificar a concepção de História presente na obra
de Hegel como teleológica (telos = fim, meta). Dessa forma existiria um objetivo
a ser realizado ao longo do processo histórico, e esse seria a libertação do
gênero humano. Assim, ao longo desse processo de civilização pelo qual vem
passando a humanidade, aos poucos, os homens vão se tornando mais livres.
Mas aquele que lê poderia se perguntar: quem concebeu esse objetivo? Ao
que nosso autor responderia: a razão, o absoluto, espécie de divindade que
permeia e se manifesta em toda a realidade existente. Outro elemento
importante a ressaltar é que essa liberdade não é algo imanente à natureza
humana e que se consolida facilmente, mas sim uma conquista das lutas
humanas que só pode se consolidar no Estado, como objetivação das
individualidades, e como limitador das atitudes de alguns em nome dos direitos
de todos.
Diferentemente, no entanto, dos contratualistas, Hegel não concebe um
modelo político que possa ser considerado perfeito. Por isso se pode falar, em
sua teoria, no Estado como processo histórico, ou seja, como um conjunto de
instituições que, ao longo do tempo, vão se adequando às necessidades da
sociedade civil em nome da realização do projeto que o absoluto tem para o
gênero humano: sua liberdade. O fato de um indivíduo não saber desse projeto
não significa que aquele não participa deste. Cada ser humano tem um papel
na realização do projeto da liberdade, e cada momento histórico é importante
para que o todo possa ocorrer. Ao fato do absoluto se utilizar da vida dos
indivíduos sem que os mesmos saibam do que exatamente estão participando
é denominado pelo autor de astúcia da razão.

KARL MARX (1818 – 1883)

Não é a consciência dos homens que determina o seu ser social,


mas, ao contrário, é o seu ser social que determina sua consciência.

A crítica ao idealismo Hegeliano.

Karl Marx fez uma crítica do idealismo hegeliano na qual afirma que Hegel
inverte a r elação entre o que é determinante – a realidade material – e o que é
determinado – as representações e conceitos acerca dessa realidade. A
filosofia idealista seria, assim, uma grande mistificação que pretende entender
o mundo real, concreto, como manifestação de uma Razão absoluta.
Contraponto sua filosofia ao idealismo de Hegel Marx afirma:

“Os pressupostos com os quais começamos não são arbitrários,


nem dogmas, são pressupostos reais dos quais só é possível
abstrair na imaginação. Os nossos pressupostos são os indivíduos
reais, a sua ação e as suas condições materiais de vida”.

Marx procurou, portanto, compreender a história real dos homens em


sociedade a partir das condições materiais nas quais eles vivem. Essa visão da
história foi chamada posteriormente, por seu companheiro de estudos Friedrich
Engels, materialismo-histórico.

VISÃO MATERIALISTA DA HISTÓRIA

Marx, juntamente com Friedrich Engels, é o pai de uma corrente de


pensamento denominada de materialismo histórico dialético. Nela, a
apreensão da lógica do processo histórico é essencial para se entender a
realidade, premissa presente no idealismo hegeliano. Também nela, o
movimento do real é causado pela oposição constante de polos antagônicos,
outro pressuposto do hegelianismo. Onde se encontra, então, a diferença entre
os dois autores? No fato de que, enquanto a determinação da realidade se dá
das ideias humanas para o mundo concreto, na teoria de Hegel, para Marx, as
condições materiais são o fator determinante, sendo responsáveis pela
posterior modificação das formas de pensar. Acompanhemos uma afirmação
do próprio autor nos Manuscritos Econômico Filosóficos:

Mas, ao conceber a negação, segundo a relação positiva que lhe é


inerente, como o verdadeiro e único positivo, e segundo a relação
negativa, que nela reside, como único verdadeiro ato e como o ato
autoconfirmativo de todo o ser, Hegel descobriu apenas a expressão
abstrata, lógica, especulativa do processo histórico, que não é ainda
a história real do homem enquanto sujeito pressuposto, mas só a
história do ato da criação da gênese do homem.

Consequentemente pode-se compreender os pressupostos metodológicos


marxianos da seguinte maneira: as condições materiais de uma sociedade,
seu estágio mais ou menos avançado de evolução, determina todas as suas
outras possibilidades históricas; a contradição, que é responsável por gerar o
movimento da realidade, é também material, e se manifesta, sobretudo, nas
classes sociais antagônicas. Não é por acaso que Marx afirma,
categoricamente, no Manifesto do Partido Comunista que a história de todas
as sociedades que existiram até hoje tem sido a história da luta de classes.
Agora sim, compreendida a visão de mundo do autor, conseguimos
entender a escolha de seu objeto de pesquisa. Para a doutrina marxiana,
assim, aquele que desejar compreender a dinâmica de uma sociedade deverá
procurar, primeiramente, dominar intelectualmente a relação entre as classes
sociais que, segundo Marx, tende a ser sempre antagônica.
Mas o que se deve compreender por classe social? De forma bem
simplificada, a mesma consiste em um grupo de indivíduos que possui uma
mesma condição ou que realiza uma mesma função – primeiramente
econômica, mas decorrendo daí os aspectos políticos, religiosos, morais,
artísticos, dentre outros – em um determinado modo de produção. Por modo
de produção compreende-se aqui o conjunto formado pelas forças produtivas
e das relações sociais de produção de um determinado momento histórico.
De acordo com Marx, até o momento em que ele escreve, quatro modos de
produção teriam se consolidado historicamente: modo de produção tribal ou
asiático, marcado por uma economia de subsistência, com uma divisão
simples do trabalho; modo de produção antigo ou greco-romano, definido pelas
relações escravistas; modo de produção feudal, caracterizado pela presença
da servidão e da vassalagem e modo de produção capitalista, com relações de
trabalho livre e assalariado e a consolidação da propriedade privada dos meios
de produção.
Por relações sociais de produção aqui se designa o conjunto das formas de
organização dos homens para produzir e reproduzir a sua existência em
determinado momento histórico, sendo as mesmas sempre dependentes do
estágio de desenvolvimento das forças produtivas. Por forças produtivas
compreendem-se todas as condições materiais para a produção da vida do
homem, tais como a matéria-prima, a terra, as sementes, as máquinas, a mão-
de-obra. Desse modo, nota-se claramente que o jogo das classes está
intimamente ligado com as condições materiais existentes em um período.
Esperamos que no prosseguimento dos nossos estudos essa relação seja no
seu restante esclarecida.

Infra Estrutura e Superestrutura.

Para uma melhor compreensão da teoria marxiana, faz-se necessário


estudar, mesmo que de forma um pouco superficial, sua filosofia da história, ou
seja, seu entendimento sobre como a história funciona. Para tanto, um dos
roteiros possíveis é a assimilação das noções de infra e superestrutura, tal
como são apresentadas em obras como o Manifesto do Partido Comunista e a
Ideologia Alemã. Vale lembrar, antes de tudo, que a separação entre essas
duas estruturas é puramente teórica e didática, não ocorrendo da mesma
maneira na realidade concreta, na qual as mesmas se confundem.
Por infraestrutura compreende-se toda a base material de uma sociedade
qualquer, concebida como uma somatória das forças produtivas materiais – ou
seja, das condições materiais para a produção e reprodução da vida humana –
e das relações sociais de produção – as formas diversas de organização dos
homens ao produzir, principalmente no que diz respeito às formas de
apropriação das forças produtivas.
A superestrutura, ao contrário, corresponde ao imenso campo ideológico
presente em toda a sociedade. Na mesma estão presentes, por exemplo, as
noções políticas, manifestas principalmente no Estado, as relações espirituais
que se apresentam por meio das religiões, a moral, o direito, as várias
possibilidades de expressão artística ou estética, a filosofia ou as filosofias e
as possibilidades de ciência.
Resumida a composição das estruturas, nos é possível comentar um pouco
a relação entre as mesmas. De acordo com Marx, existe uma tendência
histórica da humanidade ao desenvolvimento de forças produtivas materiais.
No entanto, como já foi dito anteriormente, sempre que ocorre uma
modificação das forças produtivas, as relações sociais de produção também se
alteram, por serem dependentes das primeiras. Essa alteração, em um
primeiro momento é tênue, pois as formas de organização e de apropriação
dos homens ao produzirem e reproduzirem a sua existência possuem alguma
flexibilidade.
Em algumas ocasiões na história, porém, a flexibilidade das relações
sociais de produção chega ao seu limite, e chega-se a um momento que Marx
descreve como uma contradição entre as forças produtivas materiais, que
tendem a se desenvolver, e as relações sociais de produção, que não
suportam mais o seu desenvolvimento. Esse momento é denominado pela
teoria marxiana de revolução. A tendência observada por esses estudos é de
que as forças produtivas materiais continuem seu desenvolvimento, destruindo
as relações existentes e inaugurando novas formas de organização que
permitam a continuidade de seu fluxo evolutivo. Sobre esse tema afirma Marx
que nenhum modo de produção desaparece antes que todas as forças
produtivas do modo de produção posterior tenham se desenvolvido dentro
dele. Nota-se claramente a influência da dialética hegeliana, que afirma que
um momento gera em se próprio anterior a sua negação.
O resultado imediato de uma revolução é a mudança total da infraestrutura
material, inaugurando novas relações sociais de produção, como ocorreu,
segundo Marx, na transição do feudalismo para o capitalismo. Analisemos uma
citação do Manifesto do Partido Comunista:

A antiga organização feudal da indústria, em que esta era


circunscrita a corporações fechadas, já não podia satisfazer às
necessidades que cresciam com a abertura de novos mercados. A
manufatura a substituiu. A pequena burguesia comercial suplantou
os mestres das corporações; a divisão do trabalho entre as
diferentes corporações desapareceu diante da divisão do trabalho
dentro da própria oficina.

Mais ou menos rapidamente, de acordo com a concepção marxiana, toda


superestrutura existente anteriormente tende também à modificação. Um
exemplo talvez torne mais claro esse conjunto de ideias: somente com a
existência de uma classe burguesa o liberalismo – concepção política
notoriamente reputada à burguesia – poderia ter sido amplamente defendido.
De acordo com Marx não é possível o surgimento de um conjunto de ideias
sem que se apresentem as condições materiais para a mesma, e isso vale
para todas as formas superestruturais.
Ao votarem os eleitores acreditam que uma modificação política poderá
mudar um determinado contexto econômico. Insatisfeito com uma gestão “x”,
um conjunto de membros da sociedade civil votam em sua oposição frontal,
mas, para sua surpresa, a gestão da oposição hora eleita não se diferencia
muito da anterior (qualquer semelhança é mera coincidência). Marx ficaria
decepcionado com o pleito eleitoral? Resposta: não. O motivo para isso é
simples: Não falamos de mudanças infraestruturais, mas do sonho de que elas
fossem realizadas pelo meio político. Como vimos acima, porém, as mesmas
não são possíveis, pois não existe modificação na superestrutura antes de algo
ocorrer na infra. Assim sendo, nenhuma transformação de ordem política pode
realmente interferir consideravelmente na economia, visto que a infraestrutura
condiciona a superestrutura. Vejamos por meio de uma citação do prefácio à
Contribuição à crítica da economia política, como o próprio autor nos apresenta
isso:
Na produção social de sua vida, os homens estabelecem
determinadas relações necessárias, independentes da sua vontade,
relações de produção que correspondem a uma determinada fase do
desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. O conjunto
dessas relações de produção forma a estrutura econômica da
sociedade, a base real sobre a qual se ergue a superestrutura
jurídica e política e à qual correspondem determinadas formas de
consciência social. O modo de produção da vida material condiciona
o processo da vida social, política e intelectual em geral.

Ora, como Marx explica então o fato de praticamente toda a população de


um país depositar suas esperanças em um processo eleitoral? Ele argumenta
que, utilizando-se de uma série de artifícios, a classe economicamente
dominante acaba conseguindo proceder com uma inversão na forma das
pessoas compreenderem a realidade em que vivem valendo-se de uma série
de falsas ideias devidamente concatenadas. A esse conjunto de ideias se
denomina ideologia. Assim, um determinado discurso religioso pode contribuir
para a aceitação, por parte das massas, de um determinado estado de coisas
que as prejudique; ou um conjunto de normas jurídicas, por detrás de um
discurso pautado em uma pretensa igualdade de condições, pode facilitar a
reprodução de certas situações de exploração. Na verdade, para Marx, todas
as formas superestruturais de uma determinada época servem para justificar
certa relação de exploração de uma classe sobre a outra.
É de suma importância a compreensão mínima dessas noções
apresentadas para um mínimo entendimento do que seja a teoria de Marx. A
partir de agora, parte-se para a parte mais prática de nossos estudos, que
utilizará esse aparato teórico até agora apresentado para clarificar, por
exemplo, a natureza das relações capitalistas na concepção do autor, assim
como sua tendência à autodestruição. Analisaremos também as ideias sobre a
revolução socialista e o comunismo. Portanto, qualquer dúvida aqui deverá ser
retirada antes que se dê continuidade ao trabalho.

O capitalismo.

Depois de compreendidas minimamente as ideias gerais do pensamento de


Marx, é hora de trabalhar com questões mais práticas. É sabido que o autor é
um dos maiores teóricos do chamado comunismo. Mais que isso, os
prognósticos por ele lançados de que socialismo e comunismo seriam os
próximos modos de produção depois do capitalismo seriam, segundo ele
mesmo, científicos, e não simples frutos de uma ânsia por igualdade.
Para entender, no entanto, todo esse processo futuro, faz-se necessário
estudar o próprio sistema capitalista. Assim sendo, uma primeira questão a ser
levantada consiste no seguinte: como definir o capitalismo? Apesar da
complexidade do problema, que demandará um estudo mais detalhado, pode-
se iniciar uma conceituação com alguns elementos básicos, quais sejam:
lógica explícita da acumulação; presença da propriedade privada dos meios
de produção de riqueza, relações de trabalho livre e assalariado.
Como afirmado no início de nosso estudo, o objeto central para a
compreensão social para Marx são as classes sociais. No sistema capitalista
existem, basicamente, duas classes elementares, a burguesia, formada pelos
detentores da propriedade dos meios de produção de riqueza, e o
proletariado, grupo que por ser destituído dos meios de produção, só possui
sua força de trabalho para vender. A burguesia foi uma classe altamente
revolucionária, que modificou os rumos da humanidade indiscutivelmente, mas
longe de acabar com as desigualdades humanas, conforme prometeu, acirrou-
as ainda mais, concentrando os conflitos cada vez mais no jogo entre as duas
classes acima citadas. Vejamos uma citação do próprio autor no Manifesto do
Partido Comunista:

A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade


feudal, não aboliu os antagonismos de classe. Não fez mais do que
estabelecer novas classes, novas condições de opressão, novas
formas de luta em lugar das velhas. No entanto, a nossa época, a da
burguesia, possui uma característica: simplificou os antagonismos de
classe. A sociedade divide-se cada vez mais em dois campos
opostos, em duas classes diametralmente opostas: a burguesia e o
proletariado.

Comentadas de forma bastante simplificada as relações entre os grupos


econômicos, é necessário trabalhar um outro conceito chave do sistema
capitalista, a célula ou o átomo de toda essa estrutura tratada em nosso
estudo, qual seja: o de mercadoria. É importante ressaltar que o capitalismo
pesquisado por Marx é aquele denominado produtivo ou industrial, e que por
isso várias relações existentes em nossos dias não foram por ele tratadas. Por
mercadoria nosso autor entende tudo aquilo que no capitalismo pode assumir
um valor de uso, passível de ser convertido em um valor de troca.
Assim, a utilidade de um bem de consumo não provém de uma
preocupação do burguês em satisfazer de fato as necessidades da população.
A mesma advém do fato de que, sem que seja útil, um produto não tende a ser
consumido no sistema, impedindo o enriquecimento da classe patronal. A
burguesia só produz valores de uso pelo fato de visualizar neles a
possibilidade da troca monetária, ou seja, da conversão do bem em dinheiro.
Um outro elemento que vale ressaltar é o fato de que, se a mercadoria é o
elemento estruturante do sistema capitalista, a denominada força de trabalho
é a sua forma essencial. Com isso se quer dizer, mais exatamente, que ao se
comprar um bem de consumo no mercado, o que se adquire, em última
instância, é a força de trabalho humana, algo totalmente abstrato, mas que é
concretizada ou materializada em diferentes valores de uso. A mão-de-obra é
a unidade menor do sistema. Mas caberia perguntar: por qual motivo?
No ato de produzir, a burguesia é obrigada a fazer uma série de
investimentos a fim de consolidar sua lógica, que é a da acumulação, como já
foi dito acima. Ao fazê-lo, paga por todas as condições necessárias para a
produção, divididas em capital constante – valor despendido em meios de
produção – e capital variável – que é utilizado para empregar trabalhadores.
Nas relações com o capital variável, porém, ocorre um fenômeno que pode ser
denominado de geração de mais valia. Vejamos, em uma citação do
Dicionário do Pensamento Marxista, como isso ocorre:

O capital variável é assim chamado porque sua quantidade varia do


começo ao fim do processo de produção; o que no início é VALOR
DA FORÇA DE TRABALHO ao término é valor produzido por essa
força de trabalho em ação. A mais-valia é a diferença entre esses
dois valores: é o valor produzido pelo trabalhador que é apropriado
pelo capitalista sem que um equivalente seja dado em troca. Não
há, aqui, uma troca injusta, mas o capitalista se apropria dos
resultados do trabalho excedente não pago.

A questão, então, é sempre aumentar a produção de mais-valia. Aquela


produzida pela exploração direta da força de trabalho é denominada de
absoluta, e seu aumento ocorre com o aumento do valor total produzido por
cada trabalhador sem alteração do montante de trabalho necessário, o que
pode ocorrer com o aumento da jornada de trabalho. O inconveniente é a
possibilidade de revolta da classe operária. Para evitar isso, pode-se modificar
as relações de trabalho, de maneira a manter a mesma duração da jornada,
fazendo uma redivisão de modo a produzir mais mais-valia a ser apropriada
pelo capital. Essa é a chamada extração de mais-valia relativa.
Um último elemento importante ao se tratar da produção de mercadoria é a
questão do fetichismo. Como já foi dito, a mercadoria elementar do sistema é
a força de trabalho, e isso porque a mesma consegue ampliar, no próprio
processo de produção, uma ampliação do capital. Mas como essa relação de
exploração pode ser omitida? Segundo Marx, pelo fato de que o valor social
que pertence à mercadoria, conferido à mesma por meio do trabalho, é
apresentado como se fosse algo natural, imanente à mesma. Desse modo, os
objetos de consumo, por meio de relações sociais específicas do capitalismo,
terminam por ser o elemento essencial para a manutenção dessas mesmas
relações. A mercadoria ganha vida enquanto o ser humano é reificado,
coisificado. Outra citação do Dicionário Marxista pode ilustrar isso:

Assim, as propriedades conferidas aos objetos do processo econômico,


verdadeiras forças que sujeitam as pessoas ao domínio desse processo, são
como que uma espécie de máscara para as relações sociais peculiares ao
capitalismo.

Outro conceito chave para a compreensão do sistema é o de alienação.


Um autor anterior a Marx que já utiliza esse conceito é o filósofo alemão
Ludwig Feuerbach, quando trata do fenômeno religioso. O termo vem do latim,
alienus, que significa o outro. Assim, na religião, o ser humano criaria um outro
ser, diferente de si mesmo em natureza, que o dominaria. Essa ideia não é em
si original, já sendo apresentada por Xenófanes, filósofo pré-socrático, e por
Voltaire, pensador francês. Marx assimila o termo, dando-lhe um sentido que
aqui, de forma bastante simplificada, será compreendido como separação.
Apesar da alienação de consciência não ser descartada por Marx, sabemos
que a mesma é um fenômeno determinado pelas relações de produção. Por
isso procuraremos aqui trabalhar com as formas de alienação material.
Em primeiro lugar, o capitalismo consolida a separação entre os produtores
e os meios necessários para a produção, por meio da alienação total da força
de trabalho, com o operário alugando certa quantidade de horas de sua mão-
de-obra por dia para o burguês. Ocorre, assim, a alienação dos meios de
produção de riqueza. Um segundo ponto a ser levantado é o fato de que, com
os constantes avanços tecnológicos que ocorrem no processo produtivo, o
trabalhador tende cada vez mais a ignorar o papel que realiza no momento em
que trabalha. Vale ressaltar que, como já foi dito acima, o próprio Durkheim
apresenta os riscos de que os laços de solidariedade orgânica sejam rompidos
pela excessiva fragmentação do processo, comprometendo as relações de
interdependência. Essa ignorância do processo como um todo é o que
denominaremos de alienação do processo produtivo. Daí o estranhamento
que ocorre, a falta de identidade dos produtores com relação àquilo que
produzem.
Uma terceira forma, e talvez a mais elementar de separação, seja a falta de
acesso do trabalhador aos bens que ajuda a produzir. O fordismo pode ser
tanto um exemplo clássico da segunda forma quanto uma tentativa de superar
– em benefício, é óbvio, da classe patronal – a terceira. A questão é que o
capitalismo nunca conseguiu, e pela sua lógica, provavelmente jamais
conseguirá, superar a dificuldade de proporcionar ao proletário a capacidade
de consumir, por causa da própria lógica do sistema. A essa forma de
separação denominaremos alienação do produto final.
Vale ainda lembrar que o operário foi, muitas vezes, alienado do seu
próprio lazer, visto que, em nome da manutenção do sistema e do controle da
classe proletária, as atividades exteriores ao processo produtivo realizadas
pelo trabalhador foram monitoradas pelo patrão, ou mesmo realizadas no
interior do espaço fabril. Exemplo claro disso é visível em várias medidas
tomadas pela burguesia em nome da manutenção das relações,
principalmente no período de difusão do taylorismo.
Na próxima aula comentaremos o tema da revolução, mas uma observação
mais atenta do que acabamos de estudar já nos fornece elementos que
permitem perceber como a classe operária capitalista, sem sombra de dúvida,
teria uma série de motivos para se revoltar contra um sistema baseado na
exploração da força de trabalho e, consequentemente, organizar-se na busca
de relações menos opressoras.

Revolução, Socialismo e Comunismo.

Para encerrar nosso estudo sobre Karl Marx, é necessário trabalhar com as
questões que são, muito provavelmente, o maior motivo do sucesso da
disseminação da sua doutrina, e, no entanto, parecem extremamente mal
delimitadas. Trata-se de suas teorias sobre a transição para o socialismo e o
comunismo. Como já foi dito acima, revolução em Marx é um conceito bastante
técnico, e diz respeito a um período em que as forças produtivas materiais
entram em contradição com as relações sociais de produção existentes. É
necessário, portanto, que compreendamos, em nosso autor, o que levaria o
capitalismo a vivenciar contradição dessa ordem. Mesmo que se admita o
argumento marxiano sobre esse tema, há que se analisar como nele se
apresentam as justificativas para que após o capitalismo surja o socialismo, e
não qualquer outro modo de produção.
Nossa análise anterior sobre o capitalismo mostrou-nos uma característica
essencial do sistema, que consiste no fato de que a única lógica por ele
conhecida é a da acumulação e, por conseguinte, no fato de que tudo que é
realizado nos diversos âmbitos da vida social visa consolidar, direta ou
indiretamente, esse fim. A principal forma de satisfazer a lógica capitalista, no
entanto, é a geração constante de fluxo de consumo, ou seja, é a renovação
cotidiana das necessidades ou mesmo a criação de carências que reforcem a
tendência dos indivíduos a consumir. Nesse sentido, o capitalismo conduz a si
mesmo à destruição. Vejamos isso em uma parte do Manifesto Comunista:

As forças produtivas de que dispõe não mais favorecem o


desenvolvimento das relações de propriedade burguesa; pelo
contrário, tornaram-se poderosas demais para essas condições,
que passam a entravá-las; e toda vez que as forças produtivas
materiais se libertam desses entraves, precipitam na desordem a
sociedade inteira e ameaçam a existência da sociedade burguesa.
O sistema burguês tornou-se demasiado estreito para conter as
riquezas criadas em seu seio. De que maneira consegue a
burguesia vencer essas crises? De um lado, pela destruição
violenta de grande quantidade de forças produtivas; de outro lado,
pela conquista de novos mercados e pela exploração mais intensa
dos antigos. A que leva a isso? À preparação de crises mais
intensas e destruidoras e à diminuição dos meios de evitá-las.

Como ficou claro, Marx preconiza o fim do capitalismo por conta das crises
econômicas, justamente causadas pelo ímpeto cego da burguesia de
acumular. O autor afirma, assim, que chegará um dia em que o mercado de
consumo, por mais que sofra uma mundialização, – ou uma globalização,
termo mais contemporâneo – não será mais capaz de assimilar aquilo que é
produzido dentro do sistema. Essa é a contradição que acarretará o fim da era
do capital e o início de um novo período para a humanidade. Como foi dito em
aula anterior, num primeiro momento são tratadas as modificações na
infraestrutura, pois só posteriormente se realizam as mudanças no âmbito da
superestrutura.
A questão, no entanto, é um pouco mais complicada, e pode ser colocada
nos seguintes termos: se o fim do capitalismo se dará por causa de suas
próprias contradições, qual a necessidade da conscientização de uma classe
que levará a cabo a revolução? Por que falar em uma práxis, ou seja, de uma
prática amparada por uma compreensão de mundo coerente? É o próprio Marx
que afirma, na Ideologia Alemã, que os “filósofos só interpretaram o mundo de
diferentes maneiras; do que se trata é de transformá-lo”. Essa transformação,
que muda de fato a própria lógica da história, que sempre favoreceu a uma
minoria que foi beneficiada pela exploração de uma minoria, depende assim de
uma classe que a leve à frente, e essa classe é o proletariado moderno, com a
formação de uma consciência de classe.
De acordo com a teoria marxiana, existiria uma tendência de que a classe
operária aproveitasse o momento em que a contradição no capitalismo
conduzisse o mesmo à destruição para instaurar o que é denominado de
ditadura do proletariado, tomando posse dos meios de produção e implantando
o socialismo. Vejamos por que isso se dá:

A condição essencial da existência e da supremacia da classe burguesa é


a acumulação da riqueza nas mãos de particulares, a formação e o
crescimento do capital; a condição de existência do capital é o trabalho
assalariado. Este baseia-se exclusivamente na concorrência dos operários
ente si. O progresso da indústria, de que a burguesia é agente passivo e
inconsciente, substitui o isolamento dos operários, resultante de sua
competição, por sua união revolucionária através da associação. Assim, o
desenvolvimento da grande indústria mina o terreno em que a burguesia
acentou o seu regime de produção e de apropriação dos produtos. Antes de
mais nada, a burguesia produz seus próprios coveiros. Sua queda e a vitória
do proletariado são igualmente inevitáveis.

Aí se encontra, pois, a chave do pensamento de Marx. É desse modo que o


capitalismo tende a desaparecer, por um lado por causa de suas próprias
contradições, por outro pela ação de uma classe gerada no seu seio, que é
alienada dos meios de produção, do saber, que trabalha cotidianamente em
uma rotina que lhe imprime sofrimento físico e intelectual; que gera riqueza,
porém não enriquece a si mesma, mas a outros, com aquilo que é produzido;
que se torna cada vez mais artigo coisificado a ser trocado em um sistema cuja
única lógica é a da acumulação. São todas essas condições complexas que,
para o autor, concorrem para o fim do capitalismo e para um período em que o
Estado, - que até então adquiriu uma existência separada ao lado da
sociedade civil, e que consistia em uma forma de organização que os
burgueses davam a si mesmos para a continuidade das relações capitalistas,
como afirmado na Ideologia Alemã – controlado pelo proletariado, será
responsável pela gestão dos meios de produção e pela organização social
transitória denominada de socialismo.
Essa concepção de que o socialismo seria necessário, juntamente com a
ideia de que a classe realmente revolucionária seria o proletariado, e
consequente negligência, por exemplo, dos camponeses, foram motivos claros
para os desentendimentos entre o marxismo e os anarquistas, como Bakunin,
que não aceitavam a existência da instituição repressora do Estado após o fim
do capitalismo.
Segundo Marx, em um primeiro momento, após a revolução, a sociedade
se encontraria impregnada de ideias burguesas. Nesse momento ainda se faz
necessária a presença do Estado para que o proletariado consiga manter a
defesa dos interesses sociais dessa classe. Com o desenvolvimento das
forças produtivas dessa nova sociedade, porém os entraves causados pelo
antigo capitalismo tendem a desaparecer. A sociedade entraria então no
estágio superior da sociedade comunista e, segundo o autor, a sociedade seria
capaz de inscrever em sua bandeira a divisa “de cada um segundo sua
capacidade, a cada um segundo suas necessidades”.
É importante lembrar que nem o socialismo nem o comunismo foram
descritos por Marx de forma detalhada, pois, segundo o autor, formariam sua
identidade de forma positiva durante seu processo de consolidação. Outro
ponto que vale ressaltar é o fato de que as experiências de socialismo real,
apesar de terem sido todas influenciadas de certa forma pela teoria marxiana,
guardaram relevantes diferenças com relação às ideias defendidas por Marx,
não servindo nenhuma, em sua totalidade, de exemplo daquilo que o autor
preconizou. A atualidade da análise do capitalismo é grande, mas em muitos
pontos já não guarda congruência com o nosso tempo. Apesar disso, Marx é
sem dúvida um dos autores mais importantes para a consolidação da
sociologia, principalmente no âmbito das análises econômicas.

TEXTO COMPLEMENTAR
Prefácio à “Contribuição à Crítica da Economia Política”

O meu primeiro trabalho, empreendido para resolver as dúvidas que


me assaltavam, foi uma revisão crítica da filosofia Hegeliana do
direito, trabalho cuja introdução veio a lume em 1844, nos Anais
Franco-Alemães, que se publicavam em Paris. A minha investigação
desembocava no resultado de que tanto as relações jurídicas como
as forma de Estado não podem ser compreendidas por si mesmas,
nem pela chamada evolução geral do espírito humano, mas se
baseiam, pelo contrário, nas condições materiais de vida cujo
conjunto Hegel resume, seguindo o precedente dos ingleses e
franceses do século XVIII, sob o nome de “sociedade civil”, e que a
anatomia da sociedade civil precisa ser procurada na economia
política. Em Bruxelas para onde me transferi em virtude de uma
ordem de expulsão imposta pelo senhor Guisot, tive ocasião de
prosseguir nos meus estudos de economia política, iniciados em
Paris. O resultado geral a que cheguei e que, uma vez obtido, serviu
de fio condutor aos meus estudos, pode resumir-se assim: na
produção social da sua vida, os homens contraem determinadas
relações necessárias e independentes da sua vontade, relações de
produção que correspondem a uma determinada fase de
desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. O conjunto
dessas relações de produção forma a estrutura econômica da
sociedade, a base real sobre a qual se levanta a superestrutura
jurídica e política e à qual correspondem determinadas formas de
consciência social. O modo de produção da vida material condiciona
o processo da vida social, política e espiritual em geral. Não é a
consciência do homem que determina o seu ser, mas, pelo contrário,
o seu ser social é que determina a sua consciência. Ao chegar a
uma determinada fase de desenvolvimento, as forças produtivas
materiais da sociedade se chocam com as relações de produção
existentes, ou, o que não é senão a sua expressão jurídica, com as
relações de propriedade dentro das quais se desenvolveram até ali.
De formas de desenvolvimento das forças produtivas, estas relações
se convertem em obstáculos a elas. E se abre, assim, uma época de
revolução social. Ao mudar a base econômica, revoluciona-se mais
ou menos rapidamente, toda a imensa superestrutura erigida sobre
ela. Quando se estudam estas revoluções, é preciso distinguir
sempre entre as mudanças materiais ocorridas nas condições
econômicas de produção e que podem ser apreciadas com a
exatidão própria das ciências naturais, e as formas jurídicas,
políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas, numa palavra, as forma
ideológicas em que os homens adquirem consciência desse conflito
e lutam para resolvê-lo. [...] Nenhuma formação social desaparece
antes que se desenvolvam todas as forças produtivas que ela
contém, e jamais aparecem relações de produção novas e mais
altas antes de amadurecerem no seio da própria sociedade antiga as
condições materiais para a sua existência.
Exercícios Propostos:

QUESTÃO 01 (Unimontes)
Segundo a concepção dialética, a passagem do ser ao não ser não é
aniquilamento, destruição ou morte pura e simples, mas movimento para outra
realidade. A dialética guarda três momentos que podem ser denominados de

A) tese, antítese, contradição.


B) lógica, antítese, síntese.
C) tese, antítese, síntese.
D) lógica, contradição, síntese.

QUESTÃO 02 (UFU)
O botão desaparece no desabrochar da flor, e poderia dizer-se que a
flor o refuta; do mesmo modo que o fruto faz a flor parecer um falso
ser-aí da planta, pondo-se como sua verdade em lugar da flor: essas
formas não só se distinguem, mas também se repelem como
incompatíveis entre si [...].
HEGEL, G.W.F. Fenomenologia do Espírito. Petrópolis: Vozes,
1988.

Com base em seus conhecimentos e na leitura do texto acima, assinale a


alternativa correta segundo a filosofia de Hegel.

A) A essência do real é a contradição sem interrupção ou o choque


permanente dos contrários.
B) As contradições são momentos da unidade orgânica, na qual, longe de se
contradizerem, todos são igualmente necessários.
C) O universo social é o dos conflitos e das guerras sem fim, não havendo, por
isso, a possibilidade de uma vida ética.
D) Hegel combateu a concepção cristã da história ao destituí-la de qualquer
finalidade benevolente.

QUESTÃO 03 (UFU)
O desenvolvimento das ciências naturais trouxe impactos sobre a
produção tecnológica e chegou até os processos de trabalho,
modificando antigos sistemas por máquinas a vapor. Essas
mudanças trouxeram resultados também para as relações sociais,
como observa Karl Marx (1818-1883) em sua obra: Miséria da
filosofia:
As relações sociais estão intimamente ligadas às forças produtivas.
Apoderando-se de novas forças produtivas, os homens mudam seu
modo de produção e, mudando o modo de produção, a maneira de
ganhar a vida, mudam todas as suas relações sociais. O moinho
braçal vos dará a sociedade com o senhor feudal, e o moinho a
vapor a sociedade com o capitalista industrial.
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia: do
romantismo ao empiriocriticismo. São Paulo: Paulus, 2005, p. 195, v.
5. (Coleção Filosofia).
Com base no texto acima e no pensamento de Karl Marx, assinale a alternativa
correta.

A) O trabalho é um meio de produção de bens materiais para prover as


necessidades humanas não influenciado pelo progresso tecnológico. Assim, o
trabalho deve ser analisado como parte intrínseca da busca pela sobrevivência,
não como desenvolvimento das potencialidades humanas.
B) A diferença entre sociedades está ligada à diferença entre os meios de
produção que avançaram em tecnologia – que impactam o trabalho –
principalmente devido ao desenvolvimento das ciências naturais, a física, a
química, entre outras.
C) Karl Marx separa a humanidade do homem e o seu trabalho como coisas
que não têm mútua influência, por isso o trabalho na sociedade industrial não
pode ser alienante.
D) O desenvolvimento das ciências naturais e o capitalismo foram forças
antagônicas que se digladiaram durante as revoluções industriais, pois o
desenvolvimento tecnológico – decorrente das ciências – não alterou os
processos de trabalho.

Questões Enem:

QUESTÃO 04

“A filosofia de Hegel constitui, assim, exemplo de um grandioso e


radical investimento especulativo, qualificado como Ideia de
liberdade. Ao mesmo tempo em que tem a pretensão de analisar a
liberdade segundo um modo conceitual (lógico-ontológico), quer,
também, compreendê-la como uma forma histórica de sua
manifestação. Ou, dito de outro modo, sem abandonar o seu caráter
autorreferencial (subjetivo), o filósofo pretende efetivá-la na sua
necessária forma institucional (objetiva). (...) Se a liberdade subjetiva
não alcançar essa dimensão e se circunscrever no âmbito dos
interesses e desejos particulares dos indivíduos nas suas relações
privadas, o próprio princípio da liberdade se vê ameaçado.”
(MARÇAL, J. [org.] Antologia de textos filosóficos. Curitiba: SEED-
PR, 2009. p. 309).

Hegel realiza uma importante contribuição à filosofia ao retomar o pensamento


dialético no século XIX. O fragmento acima e os conhecimentos sobre a
Filosofia da História do autor permitem inferir que

a) a liberdade subjetiva é impossível dentro da concepção hegeliana.


b) a liberdade deve ser pensada em dois planos distintos: o primeiro,
autorreferencial ou subjetivo, e o segundo, institucional ou objetivo.
c) a efetividade do Estado e das instituições sociais constitui um obstáculo para
os desejos particulares dos indivíduos.
d) o exercício da liberdade é característico de um processo estaticamente
definido.
e) A liberdade é uma síntese da arte com o autoconhecimento.
QUESTÃO 02
“Primeiramente, o trabalho alienado se apresenta como algo externo
ao trabalhador, algo que não faz parte de sua personalidade. Assim,
o trabalhador não se realiza em seu trabalho, mas nega-se a si
mesmo. Permanece no local de trabalho com uma sensação de
sofrimento em vez de bem-estar, com um sentimento de bloqueio de
suas energias físicas e mentais que provoca cansaço físico e
depressão. Nessa situação, o trabalhador só se sente feliz em seus
dias de folga, enquanto no trabalho permanece aborrecido. Seu
trabalho não é voluntário, mas imposto e forçado.” (MARX, K.
Manuscritos econômico filosóficos. Primeiro manuscrito, XXIII. In:
COTRIM, G. Fundamentos da Filosofia. São Paulo: Saraiva, 2006, p.
25-36).

Karl Marx foi um dos mais importantes analistas do capitalismo até o século
XIX. Em seus estudos, temas como a utilização da tecnologia e a condição do
trabalhador foram alguns dos que estiveram presentes. Sobre o tema da
alienação, a partir do texto, pode-se compreender

a) que esta, com relação ao trabalho, é fruto unicamente do cansaço físico e


mental do trabalhador.
b) que a forma de trabalho típica do sistema de produção capitalista realiza o
trabalhador.
c) que segundo o filósofo, não existe a possibilidade de um trabalho que
satisfaça o homem.
d) que não há bem-estar no trabalho quando ele é imposto e forçado.
e) que um trabalho feito voluntariamente e que não negue o trabalhador é um
trabalho alienado.

Exercícios de Fixação:

QUESTÃO 01 (Unimontes)
Hegel foi o primeiro a contrapor a lógica dialética à lógica tradicional. Para ele,
compreender a natureza é representá-la como processo. Baseado nas ideias
hegelianas, é CORRETO afirmar:

A) O mundo permanece estático e não passa por mutações.


B) O mundo é dialético, isto é, está em constante movimento.
C) O mundo permanece o mesmo, sempre estático.
D) O mundo não é dialético; sendo assim, não sofre transformações.

QUESTÃO 02 (UFU)
A dialética de Hegel
A) envolve duas etapas, formadas por opostos encontrados na natureza (dia-
noite, claro-escuro, frio-calor).
B) é incapaz de explicar o movimento e a mudança verificados tanto no mundo
quanto no pensamento.
C) é interna nas coisas objetivas, que só podem crescer e perecer em virtude
de contradições presentes nelas.
D) é um método (procedimento) a ser aplicado ao objeto de estudo do
pesquisador.

QUESTÃO 03 (UEM)
“A restrição que Marx faz ao Estado de Direito burguês, enquanto
abstração da condição básica da sociabilidade humana atrelada à
imediatidade do viver-junto dos homens, é que este Estado acaba,
por força da sua estrutura burocratizante e da redução do político
aos aspectos jurídicos, representando os interesses de uma parcela
da sociedade e, nessa medida, é impotente para garantir os fins
maiores e universais da coletividade”
(Filosofia – Ensino Médio. Curitiba: SEED-PR, 2006, p.224).

Com base nessa afirmação, assinale o que for correto.

01) É nas ideias do liberalismo clássico de John Locke que Karl Marx procura
subsídios teóricos para a concepção de uma sociedade socialista, segundo a
qual a liberdade de cada indivíduo seria garantida pela emancipação política de
toda a coletividade.
02) Para Karl Marx, o fim da luta entre as classes sociais tornar-se-á possível
quando o trabalho e o capital chegarem a um acordo jurídico sobre uma forma
democrática de distribuição igualitária da renda entre todos os indivíduos de
todas as classes sociais.
04) Para Karl Marx, a lei deve garantir uma justiça social fundamentada no
princípio de que o trabalho deve ser remunerado conforme os méritos e a
capacidade produtiva de cada indivíduo.
08) O materialismo histórico de Karl Marx preconiza que a estrutura jurídico-
política instaurada com o modo de produção capitalista precisa ser mantido, de
forma que a transição para uma economia socialista possa ser efetivada sem
conturbações.
16) Para Karl Marx, o direito burguês não passa de uma ficção da lei e
expressão de uma ideologia cuja compreensão e desvelamento só pode
realizar-se a partir de uma análise da infraestrutura econômica do modo de
produção capitalista.

QUESTÃO 04 (UFU)
Em Marx, o conceito de ideologia designa uma forma de consciência invertida,
que distorce e encobre as formas de dominação existentes nas relações
sociais.
Tomando isso em consideração, marque a alternativa que apresenta
corretamente a relação entre os conceitos de estrutura e superestrutura no
pensamento de Marx.

A) Marx afirma que a superestrutura projeta falsamente as relações sociais de


produção como justas, e que uma sociedade igualitária somente poderá surgir
com a revolução da estrutura econômica da sociedade.
B) Marx afirma que a superestrutura jurídica é o fundamento da divisão social
do trabalho, e que toda revolução deve principiar com a alteração da legislação
que regulamenta a atividade econômica.
C) Marx afirma que os homens retêm em sua consciência uma imagem
transparente das relações sociais de produção, e que somente a alteração da
consciência de cada indivíduo pode conduzir à revolução dessas relações
sociais de produção.
D) Marx afirma que a democracia burguesa e os partidos políticos são o motor
da história. Logo, toda revolução social principia no domínio político, que é a
esfera em que podem se manifestar legitimamente os conflitos de interesses.

QUESTÃO 05 (UNICENTRO)
O conceito de ideologia tem vários significados. Dentre eles, “conjunto de
representações e ideias e normas de conduta, por meio das quais o homem é
levado a pensar, sentir e agir”.
A interpretação de Karl Marx sobre ideologia, que foi incorporada ao
pensamento político, está indicada na alternativa

A) “Ideologia é realmente a projeção da consciência de classe da burguesia,


que funciona para orientar o proletariado para a real consciência de sua
posição revolucionária”.
B) “Todas as formas de pensamento e de representação dependem das
relações de produção e de trabalho”.
C) “Ideologia são as maneiras como o sentido serve para estabelecer e
sustentar relações de dominação”.
D) “A consciência moral e a vontade guiada pela razão são dois elementos
fundamentais à vida ética”.
E) “Todas as desgraças que afligem a nossa bela França devem ser atribuídas
à ideologia, essa tenebrosa metafísica”.

QUESTÃO 06 (UEM)
“Marx e Hegel têm em comum a crítica à exacerbação do
individualismo egoísta moderno, bem como das suas
consequências, porém discordam quanto às possibilidades de
solução da questão. Um dos elementos fundamentais desse debate
é a questão da soberania política” (MARÇAL, Jairo (org.). Antologia
de textos filosóficos. Curitiba: SEED – PR, 2009, p.466.).

Sobre as relações entre indivíduo e Estado, assinale o que for correto.

01) Karl Marx considera que a emancipação humana realizar-se-á na


sociedade comunista, pois, nessa sociedade, o indivíduo não será mais
submetido a um Estado e à divisão social do trabalho, podendo, dessa forma,
passar do reino da necessidade ao reino da liberdade.
02) Para Karl Marx, a liberdade do indivíduo, como concebida pelo Estado
burguês, não passa de um formalismo jurídico; é uma ficção da lei, pois o
indivíduo só pode ser livre quando a esfera da produção estiver sujeita ao
controle daqueles que produzem.
04) Para G. W. Friedrich Hegel, o Estado deveria ser substituído pela
sociedade civil, pois essa pode representar os interesses coletivos e é capaz
de garantir os interesses de cada indivíduo.
08) G. W. Friedrich Hegel critica as teorias políticas contratualistas, segundo as
quais os indivíduos isolados abandonam o estado de natureza para se
reunirem em sociedade, por meio de um pacto, a fim de formar artificialmente o
Estado e garantir a liberdade individual e a propriedade privada.
16) A filosofia política de Karl Marx fundamenta-se numa nova antropologia,
segundo a qual a natureza humana varia historicamente, pois o indivíduo se
produz à medida que transforma a natureza pelo trabalho dentro de certas
relações sociais de produção.

QUESTÃO 07 (UEM)
O filósofo alemão Karl Marx (1818-1883) afirma que “A totalidade
das relações de produção forma a estrutura econômica da
sociedade, a base real sobre a qual se levanta uma superestrutura
jurídica e política, e à qual correspondem formas sociais
determinadas de consciência. O modo de produção da vida material
condiciona o processo da vida social, política e espiritual em geral.
Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, ao
contrário, é o seu ser social que determina sua consciência” (MARX,
K. Prefácio. In: Para a crítica da Economia Política. SP: Abril
Cultural, 1982, p. 23, apud FIGUEIREDO, V. Filósofos na sala de
aula. volume 2. SP: Berlendis & Vertecchia Editores, 2008, p. 121-
122).

A partir do trecho citado, assinale a(s) alternativa(s) correta(s).

01) A economia determina o que acontece nas outras partes da vida social —
tudo tem que ser explicado pela economia.
02) Essa teoria marxiana é reducionista, pois tudo se reduz a um princípio
explicativo único, o fundamento material.
04) Antes de serem elementos contraditórios, a superestrutura jurídico-política
se articula com a estrutura econômica da sociedade.
08) A consciência humana não tem o mesmo poder que as relações de
produção sobre a determinação do ser social dos homens.
16) Para a teoria marxiana, somente pode existir entre os homens relações de
produção econômica, que são determinadas materialmente.

QUESTÃO 08: (UFU)


Considere o fragmento abaixo.

“O Estado é a ideia moral exteriorizada na vontade humana e


liberdade desta. Por isso, a alteração da história pertence
essencialmente a ele, e os momentos da ideia nele se apresentam
como princípios diferenciados.”
HEGEL, G.W.F. Filosofia da História. Trad. de Maria Rodrigues
e Hans Harden. 2.ed. Brasília: Editora da UnB, 1998. p. 45.
A constatação de Hegel foi feita no início do século XIX e retrata a nova
constituição do Estado que deixou de ser a encarnação do poder divino na
figura do soberano, ou ainda, o despotismo monárquico. Com base na citação
acima, explique o Estado moderno como processo histórico.

QUESTÃO 09: (UFU)


Na obra Introdução à História da Filosofia, Hegel expressou o seguinte juízo:

“Na realidade, porém, tudo o que somos, somo-lo por obra da


história; ou para falar com maior exatidão, do mesmo modo que na
história do pensamento o passado é apenas uma parte, assim no
presente, o que possuímos de modo permanente está
inseparavelmente ligado com o fato da nossa existência histórica. O
patrimônio da razão autoconsciente que nos pertence não surgiu
sem preparação, nem cresceu só do solo atual, mas é característica
de tal patrimônio o ser herança e, mais propriamente, resultado do
trabalho de todas as gerações precedentes do gênero humano.”
Hegel. Introdução à História da Filosofia. São Paulo:
Nova Cultural, 1989. Coleção “Os Pensadores”, p. 87.

Responda:

A) qual é a meta, segundo Hegel, do processo histórico?


B) aponte a diferença fundamental entre a concepção de história de Hegel e a
de Marx.
QUESTÃO 10: (UFU)

"Não é a consciência dos homens que determina o seu ser; é o seu


ser social que, inversamente, determina sua consciência".
Marx, K. Contribuição à crítica da Economia Política.
Col. Os Pensadores, Abril Cultural, 1978.

O que significa, segundo Marx, afirmar que não são as ideias humanas que
movem a História?

Módulo 14: Filosofia da Ciência


Como nosso estudante já vem tendo contato, durante a sua formação,
como a Filosofia, nos dispensamos aqui de esclarecer extremamente o que ela
seja. No entanto, é necessário esclarecer o que seja essa área do
conhecimento que se convencionou denominar Filosofia da Ciência. A palavra
“ciência” vem do latim, scire, termo que significa literalmente saber. Assim
sendo, no sentido literal, aquele que possui ciência é aquele que sabe.

No entanto, é preciso que se avalie a palavra não em seu sentido literal,


mas em seu uso, e é aí que vamos encontrar o significado mais comum no
mundo em que vivemos: ciência é um tipo de conhecimento característico de
alguns especialistas, devidamente treinados para produzir verdades, e com
uma capacidade que está acima daquela que possui a maioria das pessoas
“comuns”. Retirando de nossa definição inicial os exageros visíveis, ficamos
com a seguinte conclusão: o que se convencionou atualmente chamar de
ciência é um conhecimento especializado, seja dos fenômenos da natureza ou
dos chamados sociais, e esse tipo de saber se desenvolveu principalmente a
partir do século XVII da era cristã.

Agora podemos tentar definir com mais clareza o que estudaremos nesse
módulo: Filosofia da Ciência é um dos vários campos filosóficos, e ele se
dedica de maneira específica ao estudo das condições dentro das quais é
produzido o conhecimento que se denomina científico, em contraposição ao
conhecimento que utilizamos em nosso cotidiano, e que será chamado aqui de
senso comum. O alcance do que é produzido pelo meio científico será
questionado, para que tenhamos uma clareza maior a respeito de “verdades”
que nos chegaram por meio das afirmações de alguns cientistas famosos.

Dissemos que a ciência será, em nossos estudos, contraposta ao senso


comum, mas o que exatamente é isso? O que denominamos aqui de senso
comum é o conhecimento que utilizamos diariamente, na maioria das vezes de
forma irrefletida, e que serve para a condução da vida de todo indivíduo no
mundo. O mesmo é obtido, grande parte das vezes, da nossa experiência, isto
é, da nossa vivência, de forma que se pode afirmar que é construído de
maneira empírica (quadro: empeiria, em grego, significa experiência, por isso
conhecimento empírico é aquele que produzimos por meio da experiência, isto
é, por meio do nosso contato com o mundo, que ocorre sempre por meio dos
cinco sentidos: tato, audição, paladar, visão e audição).

Assim, nossos avós ou bisavós construíam muitas vezes uma relação com
o mundo baseada na repetição dos eventos, o que lhes dava, a partir de certo
momento, uma ideia de que algo era verdadeiro. Vejamos um exemplo: minha
avó, quando eu começava a espirrar, fazia um chá caseiro contendo várias
plantas, que geralmente eram encontradas no quintal. Por incrível que pareça,
esse procedimento aparentemente fazia algum efeito, possivelmente um pouco
psicológico, e eu melhorava com o uso mais ou menos constante do
“medicamento”. Se perguntássemos à minha avó porque eu tinha melhorado,
ela afirmaria que o chá “é bom” para o tratamento de gripe. Se perguntássemos
a ela por que exatamente ele realiza tal efeito, muito provavelmente ela não
saberia responder.

O senso comum é assim, um conhecimento adquirido pelo uso, sem que se


possa, de fato, explicar as causas últimas do que acontece. Se reunirmos a
química e a biologia e estudarmos o chá que minha avó me dava quando
criança, as duas ciências provavelmente poderão nos explicar como substância
“X”, existente no chá, age na parte “Y” do organismo humano, causando uma
sensação de alívio. Minha avó não conseguiria fazer isso, porque não tinha
acesso a esse tipo de conhecimento, o que não as impediu de, correta ou
erradamente, fazer uso de medicamentos caseiros para o alívio de sintomas
conhecidos. Esse é o senso comum que é, na maioria das vezes, retirado das
experiências cotidianas.

Muitas vezes se acredita que o conhecimento possuído por uma pessoa


comum, analfabeta, por exemplo, seja desprovido de raciocínio lógico, o que é
um engano. Podemos sim afirmar que ele se encontra em uma lógica diferente
daquela existente no conhecimento científico. Vamos a um exemplo inspirado
no livro de Rubem Alves, Filosofia da Ciência: se andamos pela rua de carro,
com nosso pai ou nossa mãe ou alguém conhecido dirigindo, e o veículo para
de funcionar, mesmo não sendo mecânicos, formulamos algumas hipóteses.
Quais seriam essas hipóteses?

1. A gasolina acabou.
2. A bateria acabou.
3. As duas coisas aconteceram.
Para que as possibilidades acima sejam formuladas, é necessário um
modelo de motor que temos em nossa mente, e esse modelo, por mais simples
que seja, é um caixote que só funciona se lhe forem fornecidos combustível e
eletricidade. Geralmente se abre o capo em busca de uma mangueira solta ou
de um fio dependurado, ou se balança o carro ouvindo o tanque de gasolina,
para testar a possibilidade. Muitas vezes dá certo. Vamos enumerar os
procedimentos realizados?

1. Ocorreu um problema, que nos levou a nos debruçar sobre alguma


questão.
2. Levantamos algumas hipóteses para solucionar o problema.
3. Testamos as hipóteses, da mais simples de verificar para a mais
complicada.
4. Convocaremos o auxílio de um especialista (mecânico) caso não
consigamos resolver a questão.
Duas coisas devem ser percebidas com o exemplo: os procedimentos que
acabamos de descrever, apesar de bastante comuns no dia a dia das pessoas,
possui uma lógica, baseada em um determinado modelo de motor que a
grande maioria das pessoas possui; a ciência segue uma lógica muito parecida
com a que foi descrita, mas ultrapassa o senso comum em um ponto, que
passamos a tratar agora.

Se o senso comum realiza boa parte dos procedimentos utilizados na


ciência, qual seria a principal diferença entre os dois tipos de conhecimento?
Os cientistas seriam homens excêntricos, mais capazes que as pessoas
comuns para chegar à verdade, por possuírem uma inteligência superior? A
resposta é negativa, e devemos de uma vez por todas afastar esses
estereótipos. Na verdade os cientistas passam por um processo que não é
acessível à maioria das pessoas comuns: a especialização.
O que faz de um cientista, de um pesquisador, alguém mais apto a tratar
de determinadas questões é o nível de conhecimento que ele adquire, por
meio de seus estudos, sobre certo assunto. Sua dedicação a uma área, seja a
química, a física, a biologia ou a própria filosofia faz com que um indivíduo seja,
teoricamente, mais capaz de resolver problemas ligados àquele campo de
conhecimento do que outros que não são especialistas.

Desse modo, um cientista não é mais e nem menos inteligente que


ninguém, sendo antes alguém que se dedicou mais ao estudo de um
determinado assunto. E a pergunta seria: isso é um ponto completamente
positivo? Evidentemente não, e dificilmente algo nesse mundo possui somente
um lado, principalmente positivo. A vantagem da especialização consiste no
fato de que o cientista conhece cada vez melhor o objeto que se dedica a
estudar, resolvendo questões cada vez mais complicadas. A desvantagem da
especialização reside no fato de que cada vez mais o especialista perde o
contato com as áreas quer não são a sua.

Vejamos um exemplo: um biólogo que estuda as plantas (botânico), e


estuda um tipo especial de vegetal, compreende muito bem seu objeto, mas
quanto mais se dedica a ele menos consegue ter contato com outros tipos de
planta, menos ainda com outras áreas da biologia, e imagine qual é o seu
contato com a história ou a geografia. Fique a vontade para falar sobre isso
com os seus professores, pois muito provavelmente a opinião deles confirmará
o que você leu.

De acordo com Rubem Alves, um especialista é como um homem que


fosse aos poucos ficando com um sentido mais desenvolvido que os demais.
Sua visão, por exemplo, seria brilhante, tanto para enxergar de perto quanto de
longe, mas talvez seu olfato não seja tão bom assim, ou seu tato não funcione
muito bem. Desse modo, não devemos endeusar os cientistas, que são
pessoas como nós, que erram e acertam, se esforçando para desenvolver
teorias que, grande parte das vezes, beneficiam boa parte da população. Não
nos esqueçamos, no entanto, que em uma sociedade todas as funções são
igualmente importantes, e por isso não devemos valorizar uma mais que a
outra.

Finalizando o nosso trabalho, fica a grande questão: qual é, afinal, a


principal diferença entre o conhecimento comum e a ciência? Vimos que não é
o fato de se utilizar de raciocínio lógico, pois isso tanto o senso comum quanto
o conhecimento científico fazem.

Uma primeira diferença é o grau de especialização que o cientista possui


sobre determinado assunto, por causa dos anos de dedicação aos estudos e
às pesquisas em um determinado campo. Isso, no entanto, não faz do cientista
alguém melhor do que o comum dos homens.
Uma segunda diferença é o alcance da explicação. No exemplo do chá
para gripe da minha avó, percebe-se que ela não age de maneira
irresponsável, fazendo experiências com plantas desconhecidas, que poderiam
mesmo envenenar. Existe um grau de certeza, baseado no número de vezes
que certo evento aconteceu. Dizendo de outra forma: sempre que alguém
tomou o chá os sintomas da doença foram amenizados.

Essa regularidade que minha avó percebeu é chamada na ciência de lei, e


é enunciada da seguinte forma: se ocorre “X”, então ocorre “Y”. Desse modo
temos dois momentos distintos que são a observação dos fatos e a
formulação de leis que regulam algum campo da natureza ou da vida social.
No entanto o raciocínio da minha avó para por aí, e nós não podemos exigir
muito mais dela. A ciência não. Para ela não é o bastante afirmar que algo
ocorre sempre da mesma maneira, ela precisa explicar porque isso se dá. Para
isso, são necessárias mais duas etapas na construção do conhecimento, que
geralmente ultrapassam o senso comum: a formulação de uma teoria, e a
realização de experiências para testar as teorias formuladas. Assim sendo,
enquanto muitas vezes o senso comum se contenta em descrever como o
mundo funciona, a ciência busca explicar porque as coisas ocorrem dessa
maneira e não de outra.

Após essa breve introdução sobre conceitos básicos sobre a ciência


realizaremos um breve estudo sobre algumas teorias sobre a prática científica.
A partir do século XVI o debate sobre o alcance e os limites da ciência se
intensificou. Com início mais nítido em Francis Bacon, passando por René
Descartes no século XVII, chegaremos às críticas à indução realizadas por
David Hume e à tentativa de síntese de Immanuel Kant no XVIII. Como já
comentamos os três últimos, é interessante conhecer, ainda que
sinteticamente, o primeiro. Francis Bacon inova a concepção indutiva, que
como já vimos já existia pelo menos desde Aristóteles, quando distingue
experiência vaga de experiência escriturada. A primeira é o conjunto de
percepções captadas pelo observador quando opera ao acaso, a segunda
quando o observador foi determinado de sobreaviso por um determinado
motivo, e opera de forma metódica. Desse modo se percebe que nem toda
observação experimental pode ser considerada científica. Não há dúvida, no
entanto, de que a ciência é constituída de observações de experiência
escriturada. Desse modo, se o cientista “pergunta à natureza” por meio da
observação, afastando-se dos ídolos e noções falsas que ocupam o
entendimento humano, deverá chegar à verdade, às formas, não no sentido
platônico ou aristotélico do termo, mas no sentido de conceito produzido
experimentalmente.
Quais seriam, no entanto, tais ídolos? Os primeiros são os ídolos da tribo,
inerentes à própria natureza humana, que nos conduziriam a uma apreensão
do universo mais simples do que realmente é, aceitando, por exemplo, sem
problematização, os dados dos sentidos. Os segundos são os da caverna, que
são os mais particulares, pois cada pessoa tem uma tendência de conceber o
mundo da maneira que pessoalmente lhe agrada mais, muitas vezes, em
função disso, cometendo enganos. Os terceiros ídolos são os do foro (ou do
mercado), e consistem na ambiguidade das palavras, pois devemos nos
lembrar que a linguagem é uma entidade que utilizamos para significar o
mundo, que não deve ser confundida com o próprio mundo. Os últimos são os
ídolos do teatro, que consiste nos sistemas filosóficos existentes antes de sua
teoria. Todos eles seriam tão falsos quanto as peças teatrais, e nem Platão,
nem Aristóteles, escaparam de sua Crítica ferrenha. Logo, podemos concluir
que a postura de Bacon é a utilização do método indutivo de forma segura,
fazendo todas as críticas ao conhecimento produzido até então, para que
pudéssemos chegar a um conhecimento seguro.

Um século depois, surge o positivismo e, com ele, uma preocupação mais


clara com a delimitação do que seja científico. Na lei dos três estados, de
Auguste Comte, percebe-se a delimitação de três tipos específicos de
conhecimento: o religioso, o filosófico e o científico. A religião é marcada por
seu caráter sobrenatural, fictício e, assim sendo, dogmático. As sociedades
tenderiam a ultrapassar essa primeira etapa chegando a uma forma de
explicação mais racional, filosófica, denominada de metafísica, que seria
caracterizada por seu caráter abstrato. Em um terceiro momento o grupo social
alcançaria o estágio positivo ou científico, que se caracterizaria pela
comprovação experimental das proposições apresentadas. Aí encontramos um
primeiro critério de demarcação da ciência, se comparada à metafísica: a
comprovação experimental. Assim sendo, a objetividade da postura científica
passa a ser uma exigência para todo aquele que a ela se dedicar, mesmo nas
ciências consideradas humanas. Vale lembrar a postura defendida por Émile
Durkheim, um dos pais da sociologia, para quem o cientista social deveria
"tratar os fatos sociais como 'coisas'". Para um positivista, assim, o
conhecimento científico seria produzido por meio dos seguintes passos:
observação, descoberta de leis, composição de teorias explicativas das leis e
realização de experiências comprobatórias. Não é à toa que o filósofo da
ciência Karl Popper, em suas aulas para o curso de física, interpelava seus
alunos nas primeiras aulas com a ordem: observem!! Um pouco adiante
veremos, comentando esse autor, qual era o sentido de sua fala em sala de
aula.

No início do século XX um conjunto de pensadores, entre os quais


poderíamos encontrar filósofos, matemáticos, lógicos, fundou na Áustria o
chamado Círculo de Viena, também conhecido como Positivismo Lógico. A
lógica central segue basicamente o mesmo raciocínio dos positivistas
clássicos, com a ressalva de que a verdade não se encontraria exatamente no
mundo, mas na significação dos enunciados científicos. Assim sendo,
poderíamos considerar científico o ramo de conhecimento que apresentasse
enunciados significativos, o que exigiria que fossem verificados. Desse modo
se estabelece um critério para a demarcação do que seja ou não científico, que
é a verificação da significação dos enunciados apresentados. O problema é
que a significação estaria diretamente ligada à possibilidade de comprovação
experimental, o que acaba por deixar os positivistas lógicos muito próximos da
posição positivista clássica. Popper nos apresenta a compreensão de dois
importantes pensadores do Círculo:

Schlick diz: "(...) um enunciado genuíno deve ser passível de


verificação conclusiva." Waismann é ainda mais claro: "Se não houver
meio de determinar se um enunciado é verdadeiro, esse enunciado não
terá significado algum, pois o significado de um enunciado confunde-se
com o método de sua verificação. " (41)

Desse modo é fundado, pelo Círculo de Viena, o chamado verificacionismo,


ou princípio de verificação. O que se encaixa em tal princípio é denominado
ciência, o que não se enquadra é Metafísica e, assim sendo, não possui valor
de verdade. Vale lembrar que no século XVIII o campo do conhecimento que
era conhecido por Metafísica foi duramente criticado por David Hume, e Kant
dará uma outra função a esse ramo epistemológico. Para o Positivismo Lógico
só a ciência produz conhecimento válido, baseado na significação dos
enunciados apresentados, e lembrando Waismann, significação do enunciado
e verificação estão diretamente ligados.

No século XX o tema da ciência foi central nas discussões


filosóficas, e encontramos alguns nomes que precisam ser ressaltados. Um
deles é Thomas Kuhn. Em sua obra A estrutura das revoluções científicas
nosso autor faz uma análise que mistura certa psicologia com sociologia da
ciência. Sua teoria é construída em torno do conceito de paradigma. Afirma o
autor que "um paradigma é o que os membros de uma comunidade científica
compartilham e, reciprocamente, uma comunidade científica consiste em
homens que compartilham um paradigma." Mas o que Kuhn chama exatamente
de paradigma? Esse seria o conjunto formado pelos métodos, instrumentos,
conceitos e experimentos dominantes em certo período em determinada
ciência, que girariam em torno de uma teoria considerada correta. Isso significa
que naquele determinado momento histórico uma certa forma de ver o mundo
se estabelecia e se destacava com relação às outras, aparecendo como um
paradigma dominante. Tal período será denominado, na teoria de nosso autor,
de ciência normal. Os leitores devem estar imaginando que o melhor para a
ciência é que ela sempre vivencie períodos de normalidade, pois isso seria
sinal de sua total capacidade de explicar a realidade. O problema é que, no
século XX, chegamos a uma visão um pouco mais realista das possibilidades
da ciência de produzir conhecimento sobre o mundo, e a crença de que
chegaríamos à verdade sobre as coisas foi aos poucos caindo em desuso. Por
isso Thomas Kuhn afirma que a "característica mais surpreendente dos
períodos de investigação normal (...) é a de tão pouco aspirarem a produzir
novidade."

É por isso que afirmamos acima que há aqui certa psicologia da prática
científica. Pensemos em um exemplo prático: Plutão não é um planeta. Será
que é fácil para os astrônomos que anteriormente ensinaram nas universidades
que Plutão era um planeta admitirem seu engano, ou seja, admitirem que toda
uma geração de cientistas defendeu uma tese equivocada? E os manuais que
afirmavam a versão anterior, terão que corrigir o equívoco? Lançar uma edição
atualizada? Essas são algumas das implicações da aceitação de uma nova
concepção da realidade. Desse modo, a tendência de um período normal é de
realizar testes que confirmem a teoria amplamente aceita, e não que a
coloquem em questão. Mas essa hegemonia de uma teoria é, por vezes,
apenas aparente. Kuhn lembra que

Não houve nenhum período desde a antiguidade remota até os fins


do século XVIII em que existisse uma opinião única, generalizada e
aceite sobre o desenvolvimento da luz. Em vez disso havia numerosas
escolas (...) competidoras e todas realçavam como observações
paradigmáticas, o conjunto particular de fenômenos ópticos que lhes
podia explicar a sua teoria.

No entanto, por mais que um paradigma dominante tente se manter nessa


situação, em algum momento começam a surgir no universo da teoria o que o
autor denomina de anomalia, que é um problema que resiste a ser resolvido
pelo instrumental da teoria mais aceita. Tal anomalia pode iniciar certo mal
estar ou constrangimento nos cientistas da época mas, como já dissemos, a
tendência é de simples variações dentro da teoria, reformas pequenas,
reformulações ad hoc (voltadas exatamente para esse caso específico), com o
objetivo de manter a hegemonia do paradigma. No entanto, por vezes tais
modificações ad hoc não são suficientes e se estabelece um período de crise
na ciência, em função da ineficácia do aparato teórico dominante para resolver
aquela classe de problemas. Surge, então, um período de crise na ciência, com
a consequente concorrência de diversos paradigmas na busca pela
hegemonia. A meta é sanar, de maneira coerente, o problema que a teoria em
questão não conseguiu resolver. Quando isso ocorre a fase de crise na ciência
é temporariamente superada, e retornamos a um período de ciência normal,
que durará enquanto o novo paradigma estiver resolvendo os problemas
propostos à sua análise.

Outra constatação interessante à qual chegou Thomas Kuhn foi a de que a


história da ciência não é, grande parte das vezes, uma experiência de
acumulação de conhecimento. Em suas palavras: "a tradição científica normal
que surge de uma revolução científica é incompatível com as que existiam
anteriormente." Essa incompatibilidade entre o novo paradigma e o que lhe
antecedeu é algo que muitas vezes contraria nossa concepção de prática
científica. Pensamos que o desenvolvimento da ciência ocorre de forma
totalmente linear. O que o autor está afirmando é que, muitas vezes, para
resolver um problema que uma teoria anterior não conseguiu resolver, o
paradigma sucessor não realiza uma simples reforma nas concepções
anteriormente aceitas, mas rompe bruscamente com o que era apresentado
anterior, defendendo um posicionamento incompatível com o que
anteriormente era hegemonicamente aceito. No entanto a história da ciência,
para Kuhn, nos mostra isso, e para o autor seria "a transição sucessiva de um
paradigma para o outro por meio de uma revolução, o modelo ideal de uma
ciência madura."

Outro autor importantíssimo no século XX no que diz respeito


à filosofia da ciência é o austríaco Karl Raimund Popper. Apesar de
inicialmente participar das discussões do Círculo de Viena ou Positivismo
Lógico, grupo que foi acima apresentado, terminou por discordar do
posicionamento do grupo e por estabelecer um outro critério de demarcação
entre o que é científico e o que não é. É importante lembrar que o que
diferencia a ciência da Metafísica para autores como Moritz Schlick é a
possibilidade de verificação dos enunciados. Se ocorre o teste e tudo corre
como o previsto, então estamos diante de uma verdade científica. O problema,
que já nos foi apresentado por Thomas Kuhn, é que a partir daí as tentativas
terminam por buscar constantemente confirmar a teoria vigente, reforçando a
sensação de que tal teoria é verdadeira. Popper recorda, em sua obra
Conjecturas e Refutações, o problema da indução, tal como foi formulado por
David Hume no século XVIII. Relembremos: o procedimento indutivo não
possui implicação lógica, que só existe na dedução, que procede de afirmações
universais para conclusões particulares (silogismo). Assim, por maior que seja
o número de vezes que um evento ocorre, nada pode garantir que o mesmo
continuará acontecendo assim no futuro. Não é possível afirmar, assim, com
certeza, que o sol nascerá amanhã. No entanto não é absurdo esperar que ele
nasça. No entanto, só podemos afirmar a probabilidade, ainda que enorme,
que isso ocorra, nada mais. Mas o que explicaria a crença na regularidade
absoluta do mundo? De acordo com Hume, o hábito ou costume que
adquirimos em função da regularidade observada.

Popper, ao retomar Hume, mantém o posicionamento do autor do século


XVIII, e rejeita, assim, o esquema positivista que afirma a observação da
realidade como ponto de partida das teorias científicas. O rompimento ocorreu
depois que o autor assistiu uma conferência de um físico chamado Albert
Einstein, que apresentava uma teoria extremamente arrojada, com grandes
possibilidades de comprovação de seus equívocos, e que extrapolava as
possibilidades de observação experimental. Evidentemente a teoria
apresentava possibilidades de observação posterior de sua veracidade. Assim
sendo, Popper afirma que o cientista apresenta uma teoria explicativa da
realidade e que, só posteriormente, é possível realizar as observações
necessárias à sua confirmação.

No entanto, mesmo essa confirmação por meio da observação é


problematizada por nosso autor. Em suas palavras:

Importa acentuar que uma decisão positiva só pode proporcionar


alicerce temporário à teoria, pois subsequentes decisões negativas
sempre poderão constituir-se em motivo para rejeitá-la. Na medida em
que a teoria resista a provas pormenorizadas e severas, e não seja
suplantada por outra, no curso do progresso científico, poderemos dizer
que ela "comprovou sua qualidade" ou foi "corroborada" pela experiência
passada. (34)

Assim sendo, a experiência empírica jamais poderá comprovar a verdade


de uma concepção científica, somente sua validade temporária. O fato de os
experimentos confirmarem uma teoria não implica, de maneira alguma, que ela
seja verdadeira, e sim que ela é temporariamente aceitável, até que decisões
negativas demonstrem a incapacidade de adequação da explicação vigente.

Apesar disso, Popper utiliza a experiência para apresentar um critério de


demarcação alternativo entre ciência e metafísica, definindo como científica a
teoria que se mostra passível de comprovação empírica. No entanto, a
experiência, no caso de Popper, não será utilizada para a confirmação da
teoria em questão, o que conduziria, como já bem afirmou Thomas Kuhn, a
uma tendência de estagnação. A busca das experiências deve, ao contrário,
ser de elementos que refutem a teoria, ou seja, que demonstrem sua
inviabilidade. Nas palavras do próprio autor:

Contudo, só reconhecerei um sistema como empírico ou científico


se ele for passível de comprovação pela experiência. Essas
considerações sugerem que deve ser tomado como critério de
demarcação não a verificabilidade, mas a falseabilidade de um sistema.
Em outras palavras, não exigirei que um sistema científico seja
suscetível de ser dado como válido, de uma vez por todas, em sentido
positivo; exigirei, porém, que sua forma lógica seja tal que torne
possível validá-lo através do recurso das provas empíticas, em sentido
negativo: deve ser possível refutar, pela experiência, um sistema
científico empírico. (42)

Ao invés, assim, do verificacionismo dos Positivistas Lógicos, Popper nos


apresenta o falseacionismo como critério de demarcação ente a ciência e a
metafísica. O autor nos apresenta como exemplo de proposição não científica
"choverá e não choverá amanhã", exatamente porque tal assertiva não é
passível de falsificação. A afirmação de que "choverá amanhã", no entanto,
pode ser considerada científica, pois pode ser desmentida por meio da
experiência sensível. Boas teorias muitas vezes correm grandes riscos de
estarem erradas, mas enquanto são válidas, são extremamente úteis para
quem delas se utilize. A afirmação de que choverá em algum dia no ano que
vem no Brasil muito dificilmente será equivocada, no entanto, tal assertiva
pouca utilidade terá para quem dela quiser fazer uso. Choverá na última
semana de agosto do ano que vem no Brasil, proposição muito mais arriscada,
se confirmada terá trazido benefícios muito maiores a quem porventura
necessite dessa informação.

Desse modo, para nosso autor, os cientistas não devem ter medo de que
suas teorias sejam refutadas, pois só a descoberta das falhas das teorias
conduz ao desenvolvimento da ciência. Reforçar uma concepção científica já
aceita contribui muito pouco ou em nada para o progresso do conhecimento.
Muitas teorias, ao fugirem de qualquer possibilidade de refutação, se tornam
não científicas. Se afirmo, por exemplo, que todo cisne é branco, a primeira
busca que devo realizar deve ser para encontrar um cisne que não o seja. Mais
cisnes brancos encontrados não melhoram a minha teoria, mas somente
reforçam uma sensação de verdade que, como já dito acima, não deve existir
no conhecimento indutivo. No entanto tenho que ter coragem para, quando
encontrar um cisne negro, admitir a falha da minha concepção, e não buscar
saídas alternativas como afirmar que, como todo cisne é branco e esse
pássaro não é dessa cor, ele não pode ser um cisne, deve ser um "fisne".

Teorias como a psicanálise e o próprio marxismo são criticadas por Popper


pela sua falta de cientificidade, exatamente por não se mostrarem passíveis de
refutação. No caso da teoria marxista a questão é relativamente simples: um
modo de produção só desaparece quando todas as forças produtivas tiverem
sido desenvolvidas em seu interior. Assim sendo, sempre que a revolução der
errado um marxista dirá que as forças produtivas ainda não haviam se
desenvolvido completamente, evitando sempre admitir que a teoria tenha
apresentado equívocos.
Por último vale lembrar o anarquista metodológico Paul K. Feyerabend,
também austríaco. Para esse autor o único preceito que se deve admitir para a
prática científica é de que "vale tudo". Desse modo acompanhamos a denúncia
de certo caráter elitista da ciência ocidental, que considera tudo o que não é ela
mesma como algo sem fundamento seguro. Práticas como a acupuntura ou a
medicina natural, assim como a homeopatia, devem receber o mesmo status
da ciência tradicional, desde que demonstrem funcionalidade.

Se admitirmos somente o esquema positivista como válido para a


formulação de teorias científicas (observação-lei-teoria-comprovação
experimental), várias concepções científicas hoje amplamente aceitas terão
que ser recusadas, por não se adequarem a esse esquema de construção. No
livro Descobertas acidentais na ciência, Royston M. Roberts nos apresenta
uma série de exemplos de desenvolvimento científico ocorrido de forma pouco
ortodoxa. Vale lembrar as ordenhadoras e a vacina contra a varíola, ou o
próprio Viagra, que de medicamento para problemas cardíacos passa a
tratamento para impotência de forma acidental.

É importante, no entanto, diferenciar o contexto de descoberta do contexto


de justificação. Por mais que uma descoberta científica ocorra inicialmente de
forma acidental, ela só será aceita pela comunidade científica após seu
descobridor explicar com exatidão em que condições regulares tal evento
ocorre de fato, e isso exige experimentação demorada e raciocínio lógico. O
que tentamos demonstrar utilizando Feyerabend é que nem sempre o
conhecimento científico ocorre de maneira totalmente linear e esperada, aliás,
quando olhamos para a história da ciência, percebemos que grande parte das
vezes isso não aconteceu. Apesar disso, só as teorias logica e empiricamente
justificadas podem ser realmente aceitas pela comunidade científica.

Exercícios Propostos:

QUESTÃO 01 (Upe)
A validade de nossos conhecimentos é garantida pela correção do raciocínio.
São dois os modos de raciocínio: o indutivo e o dedutivo.

Sobre isso, assinale a alternativa CORRETA.


A) O raciocínio indutivo é amplamente utilizado pelas ciências experimentais.
B) O raciocínio indutivo parte de uma lei universal, considerada válida para um
determinado conjunto, aplicando-a aos casos particulares desse conjunto.
C) O raciocínio dedutivo parte de uma lei particular, considerada válida para um
determinado conjunto, aplicando-a aos casos universais desse conjunto.
D) O raciocínio dedutivo é uma argumentação na qual, a partir de dados
singulares suficientemente enumerados, inferimos uma verdade universal.
E) O raciocínio indutivo é o argumento cuja conclusão é inferida
necessariamente de duas premissas.

QUESTÃO 02 (Ufsj)
O Círculo de Viena foi um importante marco para a filosofia e, exemplarmente,
propôs que,
A) antes de ser classificado de percepção extrema ou subjetividade, todo e
qualquer dado deve ser sistematicamente analisado.
B) em qualquer evento, existe algo de subjetivo e isso é disfarçado pelas
extraordinárias extensões no mundo metafísico.
C) para ser aceita como verdadeira, uma teoria científica deveria passar pelo
crivo da verificação empírica.
D) no limite do que o sujeito pode perceber e do que é exatamente o objeto há
um abismo de possibilidades e é nisso que consiste a importância da
metafísica.

QUESTÃO 03 (UEM)
“O filósofo Thomas Kuhn afirma que uma teoria se torna um modelo
de conhecimento ou um paradigma científico. O paradigma se torna
o campo no qual uma ciência trabalha normalmente, sem crises. Em
tempos normais, um cientista, diante de um fato ou de um fenômeno
ainda não estudado, o explica usando o modelo ou o paradigma
científico existente. Em contraposição à ciência normal, ocorre a
revolução científica. Uma revolução científica acontece quando o
cientista descobre que o paradigma disponível não consegue
explicar um fenômeno ou um fato novo, sendo necessário produzir
um outro paradigma.”
(CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. 14.ª ed. São Paulo: Ática, 2011, p.
281).

Sobre isso, é correto afirmar que

01) o paradigma científico é o campo teórico do cientista porque fornece os


parâmetros para a ciência normal.
02) a teoria torna-se um modelo de conhecimento porque ela se constitui como
uma explicação dos fenômenos para o cientista.
04) o paradigma científico é incompleto porque os cientistas estão sempre
negando os paradigmas.
08) a revolução científica é um avanço na ciência porque os cientistas sempre
descobrem que as teorias anteriores estavam erradas.
16) embora verdadeiros, os paradigmas científicos são mutáveis porque os
cientistas podem alcançar os limites dos modelos teóricos.

Questões Enem:

QUESTÃO 04

“A Filosofia encontra-se escrita neste grande livro que


continuamente se abre perante nossos olhos (isto é, o Universo),
que não se pode compreender antes de entender a língua e
conhecer os caracteres com os quais está escrito. Ele está escrito
em língua matemática, os caracteres são triângulos, circunferências
e outras figuras geométricas, sem cujos meios é impossível entender
humanamente as palavras: sem eles nós vagamos perdidos dentro
de um obscuro labirinto”.
(GALILEI, Galileu. O ensaiador. São Paulo: Abril Cultural, 1973, p.
119 – Coleção Os pensadores).

O filósofo Galileu Galilei foi um dos mais importantes teóricos responsáveis


pela mudança de percepção da realidade na transição do pensamento
medieval para o moderno. O fragmento acima permite concluir que

a) Conhecer algo natural implica poder traduzir as informações em conceitos


metafísicos.
b) A matemática restringe-se ao estudo do Universo.
c) A matemática é uma língua não escrita.
d) A filosofia é o primeiro momento da investigação, que precede a matemática.
e) O estudo da filosofia identifica-se com o estudo da natureza.

QUESTÃO 05
“(...) a ciência tem mais que um simples valor de sobrevivência
biológica. Ela não é apenas um instrumento útil. Embora não possa
atingir a verdade nem a probabilidade, o esforço pelo conhecimento
e a procura pela verdade ainda são os motivos mais fortes da
descoberta científica. Não sabemos, podemos apenas conjecturar. E
nossas conjecturas são guiadas pela fé não científica, metafísica
(embora explicável biologicamente), nas leis ou regularidades que
podemos desvendar – descobrir”
(POPPER, Karl. A Lógica da pesquisa científica, in CHAUÍ (org.),
Primeira Filosofia. São Paulo: Brasiliense, 1987 – p. 213-214).

Karl R. Popper é um dos principais filósofos da ciência do século XX. De


acordo com o enunciado, e com seus conhecimentos sobre o tema, qual das
alternativas abaixo caracteriza a ciência contemporânea para Karl Popper
(1902-1994)?

a) Para Popper, o que garante a verdade do discurso científico é sua condição


de refutabilidade: quando uma teoria resiste à refutação, ela é corroborada.
Assim, não é a explicação e a justificação de sua teoria que deve preocupar
o cientista, mas sim o levantamento de possíveis teorias que a refutem.
b) Popper abandonou o empirismo para dedicar-se ao chamado anarquismo
epistemológico. Defende o pluralismo metodológico e critica as posições
positivistas e as metodologias normativas adotadas pela ciência
contemporânea.
c) Popper nega que o desenvolvimento da ciência tenha sido levado a efeito
pelo ideal de refutação. Segundo o autor, a ciência progride pela tradição
intelectual representada pelo conceito de paradigma.
d) De acordo com Popper, o homem está convencido de sua capacidade de
conhecer o mundo pela ciência. A concepção de ciência do autor tem como
pressuposto o mecanicismo e o determinismo.
e) Popper elaborou o primeiro exemplo de teoria científica encontrado na
ciência moderna: a teoria da gravitação universal, fazendo da fisiologia uma
ciência positiva, tendo por modelo o método experimental da física e da
química.

Exercícios de Fixação:

QUESTÃO 01 (UEM)
Para o filósofo Karl Popper (1902-1994), “Um cientista, seja teórico
ou experimental, formula enunciados ou sistemas de enunciados e
verifica-os um a um. No campo das ciências empíricas, para
particularizar, ele formula hipótese ou sistemas de teorias e
submete-os a teste, confrontando-os com a experiência, através de
recursos de observação e experimentação. A tarefa da lógica da
pesquisa científica, ou da lógica do conhecimento, é, segundo
penso, proporcionar uma análise lógica desse procedimento, ou
seja, analisar o método das ciências empíricas” (POPPER, K. A
lógica da pesquisa científica. São Paulo: Ed. Cultrix, 1972, p. 27).

A partir do trecho citado, assinale a(s) alternativa(s) correta(s).

01) Observação e experimentação são procedimentos científicos teóricos.


02) O cientista experimental deve comprovar suas teorias confrontando-as com
a experiência.
04) As hipóteses teóricas devem ser submetidas a teste para serem
corroboradas.
08) A comprovação científica de uma hipótese não se faz tão somente pela
análise lógica dos procedimentos.
16) A lógica do conhecimento dedica-se à análise dos sistemas de enunciados
científicos.

QUESTÃO 02 (UEM)
A filosofia da ciência contemporânea, ao contrário da tradição clássica e
moderna, que acreditava no acúmulo linear do conhecimento, questionou a
ideia de progresso e de neutralidade científica. Conceitos como crise,
anomalia, descontinuidade, ruptura e incomensurabilidade (entre paradigmas
científicos), inauguram uma nova orientação epistemológica, voltada para a
ideia de ciência construída, mais do que verdadeira ou fiel à natureza do
mundo. Sobre a filosofia da ciência contemporânea, assinale o que for correto.
01) As teorias científicas não podem ser verificadas de ponta a ponta,
possuindo elementos arbitrários na composição da teoria.
02) Segundo Paul Fayerabend, os cientistas utilizam persuasão, retórica e
propaganda para convencer a comunidade científica.
04) A validade de uma teoria científica está na maneira como explica um
conjunto ilimitado de fenômenos.
08) As teorias científicas se completam mutuamente, aproximando-se cada vez
mais da ciência divina.
16) A prática científica é igual à do senso comum, pois não se ocupa com a
verdade dos fatos.

QUESTÃO 03 (Unioeste)
“A ideia de conduzir os negócios da ciência com o auxílio de um
método que encerre princípios firmes, imutáveis e
incondicionalmente obrigatórios, vê-se diante de considerável
dificuldade, quando posta em confronto com os resultados da
pesquisa histórica. Verificamos, fazendo um confronto, que não há
uma só regra, embora plausível e bem fundada na epistemologia,
que deixe de ser violada em algum momento. Torna-se claro que
tais violações não são eventos acidentais, não são o resultado de
conhecimento insuficiente ou de desatenção que poderia ter sido
evitada. Percebemos, ao contrário, que as violações são
necessárias para o progresso. Com efeito, um dos notáveis traços
dos recentes debates travados em torno da história e da filosofia da
ciência é a compreensão de que acontecimentos e
desenvolvimentos tais como a invenção do atomismo na
Antiguidade, a revolução copernicana, o surgimento do moderno
atomismo (teoria cinética; teoria da dispersão; estereoquímica; teoria
quântica), o aparecimento gradual da teoria ondulatória da luz só
ocorreram porque alguns pensadores decidiram não se deixar limitar
por certas regras metodológicas ‘óbvias’ ou porque
involuntariamente as violaram.” Paul Feyerabend.

Considerando o texto acima, que trata do método na ciência, seguem as


afirmativas abaixo:

I. A história da atividade científica, segundo Feyerabend, mostra que os


resultados alcançados pela ciência são fruto da perseverança e do trabalho
duro dos cientistas em torno de um conjunto de métodos precisos.
II. O método em ciência, visto como a construção de um caminho que leve,
inevitavelmente, a um conjunto de verdades imutáveis, é algo sumamente
problemático.
III. O surgimento de avanços científicos significativos está intimamente ligado à
violação involuntária de regras de método que, na sua simplicidade,
emperram o avanço científico.
IV. Dada qualquer regra, por mais fundamental que se apresente para a
ciência, sempre surgirão ocasiões nas quais é conveniente ignorar a regra e
mesmo adotar uma regra contrária.
V. A epistemologia, à luz da pesquisa histórica, apresenta um conjunto de
eventos não acidentais que se mostraram decisivos quando se trata de
compreender o desenvolvimento exitoso de seus resultados.

Das afirmativas acima


A) somente as afirmações I e II estão corretas.
B) somente as afirmações IV e V estão corretas.
C) somente as afirmações I e IV estão corretas.
D) somente as afirmações II, IV e V estão corretas.
E) somente as afirmações I, III e V estão corretas.

QUESTÃO 04 (Unioeste)
“Kuhn sustenta que a ciência progride quando os cientistas são
treinados numa tradição intelectual comum e usam essa tradição
para resolver os problemas que ela suscita. Kuhn vê a história de
uma ciência ‘madura’ como sendo, essencialmente, uma sucessão
de tradições, cada uma das quais com sua própria teoria e seus
próprios métodos de pesquisa, cada um guiando uma comunidade
de cientistas durante um certo período de tempo e sendo finalmente
abandonada. Kuhn começou por chamar às ideias de uma tradição
científica um ‘paradigma’ [...] O paradigma, como um todo, determina
que problemas são investigados, que dados são considerados
pertinentes, que técnicas de investigação são usadas e que tipos de
solução se admitem. [...] Revoluções, como as de Copérnico,
Newton, Darwin e Einstein não são frequentes, diz Kuhn, e são
deflagradas por crises. Uma crise ocorre quando os cientistas são
incapazes de resolver muitos problemas de longa data com que o
paradigma se defronta”. Kneller

Considerando o texto acima e as ideias de Kuhn sobre a atividade científica,


seguem as afirmativas abaixo:

I. O paradigma determina o que uma comunidade científica pode investigar,


quais os métodos e as soluções possíveis.
II. A história da ciência mostra uma sucessão de rupturas ou revoluções, ou
seja, mudanças de paradigmas e não um processo progressivo linear
contínuo do conhecimento científico.
III. Um paradigma entra em crise e pode ser substituído por outro quando ele
não permite mais a solução de problemas considerados importantes pela
comunidade científica.
IV. A história da ciência não tem nenhuma importância para a investigação da
atividade científica, pois a ciência não é condicionada, de forma alguma, por
seu contexto histórico.
V. O progresso científico ocorre dentro de uma tradição enquanto o paradigma
permitir que os problemas considerados importantes sejam resolvidos
(ciência normal).

Das afirmativas feitas acima


A) apenas IV está correta.
B) apenas III e V estão corretas.
C) apenas I, II e IV estão corretas.
D) apenas I, II e V estão corretas.
E) apenas I, II, III, V estão corretas.

QUESTÃO 05 (Uel)
Leia o texto a seguir.

[...] não exigirei que um sistema científico seja suscetível de ser


dado como válido, de uma vez por todas, em sentido positivo;
exigirei, porém, que sua forma lógica seja tal que se torne possível
validá-lo através de recurso a provas empíricas em sentido negativo
[...]. (POPPER, K. A lógica da pesquisa científica. Trad. L.
Hegenberg e O. S. da Mota. São Paulo: Cultrix, 1972. p. 42.)

Assinale a alternativa que corresponde ao critério de avaliação das teorias


científicas empregado por Popper.
a) Falseabilidade
b) Organicidade
c) Confiabilidade
d) Dialeticidade
e) Diferenciabilidade

QUESTÃO 06 (Unioeste)
“Acredito que a função do cientista e do filósofo é solucionar
problemas científicos ou filosóficos e não falar sobre o que ele e
outros filósofos estão fazendo ou deveriam fazer (...) Quando disse
que a indagação sobre o caráter dos problemas filosóficos é mais
apropriada do que a pergunta ‘Que é a filosofia?’ quis insinuar uma
das razões da futilidade da atual controvérsia a respeito da natureza
da filosofia: a crença ingênua de que existe de fato uma entidade
que podemos chamar de ‘filosofia’ ou de ‘atividade filosófica’, com
uma ‘natureza’, essência ou caráter determinado (...) Na verdade
não é possível distinguir disciplinas em função da matéria de que
tratam (...) Estudamos problemas, não matérias: problemas que
podem ultrapassar as fronteiras de qualquer matéria ou disciplina”.
Karl Popper.

Assinale a alternativa que não corresponde à concepção de filosofia de Karl


Popper.
A) Os problemas filosóficos podem ultrapassar as fronteiras da filosofia e
implicar soluções interdisciplinares.
B) A filosofia e as demais disciplinas têm problemas em comum.
C) Não existe algo como uma entidade filosófica ou atividade com natureza
determinada que possa ser mencionada como resposta a pergunta “Que é a
filosofia?”.
D) Ao filosofo não cabe indicar o que deve ser feito, mas ocupar-se da
resolução de problemas.
E) Antes de solucionar problemas é imprescindível que se determine a
essência da filosofia, sua natureza.

QUESTÃO 07 (Unicentro)
Consideremos o campo da epistemologia contemporânea; sob esse aspecto,
podemos afirmar que a posição de Thomas Kuhn (1922-1996), em relação à
ciência, se contrapôs à concepção científica de Karl Popper (1902-1994)?
Assinale a alternativa correta.
A) Sim, Kuhn se contrapôs à teoria de Popper ao negar que o desenvolvimento
da ciência se dê mediante o ideal de refutação. Ao contrário, Kuhn afirma
que a ciência progride pela tradição intelectual representada pelo paradigma
que é a visão de mundo expressa numa teoria.
B) Não, Kuhn absorve a teoria da refutabilidade de Popper ao desenvolver sua
concepção de paradigma científico. Para ambos, o que garante a verdade de
um discurso científico é sua condição de justificação, ou seja, quando uma
teoria é justificada ela é corroborada.
C) Não, Kuhn argumentou que uma teoria, como paradigma, deve ser
desenvolvida em vez de criticada, motivo pelo qual ele não poderia opor-se
ao pensamento de Popper. Sua tentativa será outra: tentar harmonizar
aqueles pontos de vista que divergem do seu.
D) Sim, Kuhn cedo abandonou o empirismo, classificando-se como anarquista
epistemológico. Dessa forma, opôs-se não apenas à concepção
metodológica de Popper como também de outros contemporâneos seus,
como Lakatos, por exemplo. Diferentemente de Popper, Kuhn anuncia que
as teorias não são nem verdadeiras, nem falsas, mas úteis.
E) Sim, diferentemente de Popper, para quem a física newtoniana era
considerada a imagem verdadeira do mundo, tendo como pressupostos o
mecanicismo e o determinismo, Kuhn estabelece como paradigma de sua
concepção de ciência o irracionalismo de Heisenberg e seu princípio da
incerteza.

QUESTÃO 08 (Unioeste)
“Um cientista, seja teórico seja experimental, propõe enunciados, ou
sistemas de enunciados, e testa-os passo a passo. No campo das
ciências empíricas, mais particularmente, constrói hipóteses ou
sistemas de teorias e testa-as com a experiência por meio da
observação e do experimento. Sugiro que é tarefa da lógica da
investigação científica ou lógica do conhecimento apresentar uma
análise desse procedimento; isto é, analisar o método das ciências
empíricas […]. A etapa inicial, o ato de conceber ou inventar uma
teoria, não me parece exigir uma análise nem ser suscetível dela. A
questão de saber como acontece que uma nova ideia ocorre a um
homem – seja essa ideia um tema musical, seja um conflito
dramático, seja uma teoria científica – pode ser de grande interesse
para a psicologia empírica; mas ela é irrelevante para a análise
lógica do conhecimento científico.” (Popper)

Considerando o texto acima, é incorreto afirmar, sobre a filosofia da ciência de


Karl Popper, que
A) o que importa para decidir se uma atividade é ou não científica é o que o
cientista faz com suas teorias e não como ele as cria.
B) faz parte da atividade científica testar seus enunciados, e é sobre o modo de
fazer esse teste que incide a análise lógica popperiana.
C) o teste dos enunciados de uma teoria científica deve ser realizado por meio
da experiência, ou seja, por meio da observação e da experimentação.
D) o modo pelo qual um cientista concebe uma teoria é de interesse da
psicologia empírica e não da filosofia da ciência.
E) não se pode aplicar uma análise lógica em nenhuma das etapas da
atividade científica, pois o método das ciências empíricas não se diferencia
da atividade artística.

QUESTÃO 09
Defina paradigma na concepção de ciência de Thomas Kuhn.
QUESTÃO 10
Qual é o critério de demarcação estabelecido por Karl Popper para estabelecer
o que seja ou não ciência? Em que ele consiste?

Módulo 15: Estética


Outro tema de extrema importância para uma compreensão razoável da
filosofia é o que denominamos estética. Em tal área do conhecimento tratamos
de questões relacionadas à possibilidade de estabelecimento de padrões de
beleza, assim como do que pode ou não ser considerado gênero artístico.
Quando nos deparamos com telas famosas, como a de Tintoretto, do século
XVI, de Monet, do século XIX, ou de Pablo Picasso, no XX, muitas vezes
encontramos dificuldades para atribuir ou não a cada obra o conceito de
beleza, principalmente se precisarmos justificar nossa escolha. Outra questão
que merece análise é a de uma possível função prática da arte, e, se esta
existir, se pode ser definida. Portanto percebe-se a importância de um debate
sobre o tema, compreendendo que o ser humano é essencialmente um ser
capaz de comoção estética.

Seguindo o raciocínio do filósofo alemão Martin Heidegger encontraremos


o seguinte posicionamento: qualquer tentativa de definição do que seja um
artista ou uma obra de arte depende, essencialmente, de uma definição
anterior do que seja a própria arte. Desse modo procederemos aqui o estudo
de algumas concepções estéticas consideradas como marcos na história da
filosofia, partindo da antiguidade e chegando até os dias atuais, sem propor,
evidentemente, nenhuma resposta conclusiva. O que queremos dizer é que
serão estudadas algumas teorias estéticas, principalmente as mais usuais nos
vestibulares e nos currículos de estética das universidades, sem, na medida do
possível, direcionar a opinião daquele que estuda por esse texto.

Uma primeira teoria sobre a arte de significativa importância na filosofia é


aquela que nos é apresentada por Platão em sua obra. A julgar por um texto de
maturidade do autor, A república, podemos afirmar que encontramos no
mínimo um posicionamento polêmico sobre a natureza da prática artística.
Dediquemo-nos a ela.

Como já apresentado anteriormente em nosso curso, Platão trabalha com a


realidade dividida em dois planos distintos: sensível e inteligível. O primeiro
consiste naquele no qual vivemos quando ligados a um corpo físico, o segundo
corresponde a uma realidade só plenamente acessível à alma desencarnada.
O que existe aqui, no plano dos sentidos, é cópia das formas perfeitas ou
ideias presentes no plano superior. Basta lembrar da Alegoria da caverna, na
qual os prisioneiros tomavam as sombras dos objetos reais (cópias sensíveis)
pelos originais (formas ou ideias). Desse modo, a cadeira na qual me sento
enquanto escrevo esse texto é mera cópia da forma pura de cadeira que minha
alma contemplou, antes de se ligar ao meu corpo, ainda no mundo superior. Os
seres sensíveis nada mais fazem que conduzir a minha razão à reminiscência
ou recordação de uma conhecimento que eu já havia adquirido. Em que, no
entanto, tal teoria do conhecimento poderia influenciar no nosso julgamento
sobre a arte?

A arte, para Platão, é majoritariamente mímesis, termo grego que significa


imitação. Assim sendo, uma estátua, uma pintura, um poema, grande parte das
vezes, busca imitar uma realidade que se nos apresenta ou apresentou
anteriormente. Assim sendo, a obra pode ser compreendida como mera cópia
da realidade sensorial. Ora, como já apresentado acima, no entanto, os objetos
sensíveis já são compreendidos pelo nosso autor como imitações (sombras) de
uma realidade mais verdadeira e superior, ou seja, eles já são em si cópias
imperfeitas. Ao reproduzir um objeto ou uma situação por meio de uma obra,
desse modo, o artista estaria afastando-se ainda mais, assim como quem
aprecia a sua obra, da forma verdadeira inteligível. Tomando como exemplo a
cama a qual posso visualizar enquanto escrevo esse texto, teríamos a seguinte
situação: a divindade seria a criadora da ideia perfeita de mesa, presente no
mundo inteligível. Por recordar essa forma, o marceneiro foi capaz de construir
o objeto do qual me utilizo, que consiste então em uma cópia. O pintor, ao
registrar tal objeto na tela, realizando a mímesis, constrói um objeto que
consiste na cópia da cópia. Nas palavras do próprio autor: " Logo, pintor,
marceneiro, Deus, esses três seres presidem aos tipos de leito." (295)

A arte seria, assim, algo perigoso, pois tenderia a enganar os incautos, que
mergulhando no mundo da imitação, tenderiam a se afastar ainda mais da
verdade. Em outro trecho Platão afirma :

“Efetivamente, um bom poeta, se quiser produzir um bom


poema sobre o assunto que quer tratar, tem de saber o que vai
fazer, sob pena de não ser capaz de o realizar. Temos, pois, de
examinar se essas pessoas não estão a ser ludibriadas pelos
imitadores que se lhes depararam, e, ao verem as suas obras,
não se apercebem de que estão três pontos afastados do real,
pois é fácil executá-las mesmo sem conhecer a verdade,
porquanto são fantasmas e não seres reais o que eles
representam; ou se tem algum valor o que eles dizem, e se, na
realidade, os bons poetas têm aqueles conhecimentos que,
perante a maioria, parecem expor tão bem.”

Desse modo, na cidade ideal, defendida pelo autor, a poesia imitativa não
deveria existir. Sendo a arte algo que tende a afastar o ser humano do caminho
da verdade e do bem, ela deve ser considerada no mínimo perigosa. No
entanto Platão defende sua utilização enquanto forma de expressão, desde
que seja utilizada com fins educacionais. Percebe-se aí que o filósofo se
preocupa com as possibilidades de utilização da arte para finalidades variadas,
questão que se mostra presente e importante até a atualidade, basta lembrar
os estudos da Escola de Frankfurt.

Outro autor essencial no debate antigo sobre a estética é o ilustre discípulo


de Platão, o estagirita Aristóteles. Em sua obra Poética ele nos apresenta três
tipos de narrativa: tragédia, comédia e epopeia. Em sua busca constante de
classificação em todas as áreas, talvez tendência relacionada a seus estudos
biológicos, apresenta-nos uma divisão da ação humana em dois grandes
grupos: práxis e poiesis. O primeiro diz respeito a ações que não geram algo
exterior ao agente que as realizam, como é o caso de se alimentar ou tomar
banho. O segundo diz respeito àqueles comportamentos que geram algo
exterior àquele que os realizam, como é o caso do carpinteiro, que gera uma
mesa de madeira graças à sua ação. A arte estaria, desse modo, no grupo das
ações que denominamos poiesis.

Em concordância com Platão, Aristóteles compreende a arte como


mímesis, ou seja, como imitação. E é até importante, inclusive uma qualidade,
que ela assim o seja, para a realização de sua função. Mas tal caráter imitativo
não significa que a arte queira enganar quem com ela tenha contato, tentando
passar-se por verdade. Para esclarecer isso o autor usa o conceito de
verossimilhança. Nas suas próprias palavras:

Segundo o que foi dito se apreende que o poeta conta, em sua obra,
não o que aconteceu e sim as coisas quais como poderiam vir a
acontecer, e que sejam possíveis tanto da perspectiva da
verossimilhança como da necessidade.

Tentemos um exemplo: em uma animação de cinema temos uma preguiça


que se encontra com um mamute, depois com um bebê humano e um tigre de
dentes de sabre. A partir daí passam a viver uma aventura em um mundo
gelado. Três animais irracionais e uma criança de colo, por que isso nos
comoveria? A questão é que os animais são humanizados, passam a
demonstrar desconfiança, desprezo, medo, afeto, sentimentos por nós bastante
conhecidos. Acima de tudo vai surgindo entre eles uma amizade, tema também
bastante popular. Amigos em uma aventura, tentando ajudar alguém,
enfrentando desconfianças e medos, é aí que, no campo da verossimilhança,
ou seja, da possibilidade de relacionar a obra a situações reais, que ocorre a
identificação.

Também em filmes de guerra ou de ficção científica tal reconhecimento


pode ocorrer, e isso porque o que está em questão em última instância não são
questões sobre batalhas ou máquinas, mas sobre o ser humano, seus dramas,
seus medos, suas alegrias. É disso que decorre a possibilidade de comoção
estética por parte daquele que entra em contato com a obra.
Mas qual seria, então, a função da arte para Aristóteles? De acordo com o
autor, a obra de arte, quando no âmbito da verossimilhança e da necessidade,
geraria uma situação denominada catarse que, no sentido mais próximo do que
aqui devemos compreender, consistiria numa espécie de purificação. O
sofrimento ou o temor experimentado pelo expectador diante de uma obra
simula o sentimento real, sem que o indivíduo tenha, necessariamente, que
viver isso na própria pele. Assim a tragédia, por exemplo, teria um
desencadeamento de acontecimentos que teriam por função geral gerar essa
espécie de comoção estética. "Como o poeta deve proporcionar, por meio da
imitação, tão somente o prazer decorrente da pena e do terror, nota-se que é
na organização dos fatos que se incluem esses sentimentos." Aí está, bem
definida, a função da poesia de gerar a chamada catarse. Vale ressaltar que a
Poética originalmente teria dois volumes, o primeiro, ao qual temos acesso,
tratando da tragédia e a epopeia, e o segundo, da comédia. Temos esse
comentário por Averróis no século XII. No entanto, entre os séculos XII e XVI o
livro II se perdeu. Sobre isso temos uma obra interessante, O nome da rosa, de
Umberto Eco, que foi transformada no filme homônimo.

Nota-se, assim, uma posição muito mais otimista de Aristóteles, se


comparado com Platão. Vale ressaltar que esses dois autores, além de sua
importância na delimitação da estética da antiguidade, influenciam muito o
debate posteriormente, principalmente na Idade Média.

Os neoplatônicos da Idade Média, como Plotino, se afastam do


posicionamento do autor antigo. Isso porque, com o controle da igreja católica
sobre a produção artística, as obras de arte passaram a ser vistas como forma
de elevação do espírito a Deus. Como exemplo de utilização da arte para a
evangelização ou catequese, vale lembrar as vias sacras, existentes na maioria
dos templos católicos, e que lembram, por meio de imagens, os principais
momentos vividos por Cristo em seu sacrifício pela humanidade. Além disso,
era comum nas costas dos textos nos quais se lia o evangelho, figuras que
retratavam com imagens o que era lido, e que ficavam pendurados na mesa da
palavra ao longo da semana, para a compreensão dos fiéis. Todos esses
subterfúgios consistiam em formas de usar a arte em função da disseminação
do cristianismo.

Na escolástica ocorre, como já visto anteriormente, o retorno de Aristóteles


para o ocidente, e os textos da poética reaparecem. No entanto, ente os
séculos XII e XVI, como já dito, a segunda parte da obra, sobre a comédia,
desaparece, restando os comentários sobre a tragédia e a epopeia. Em um
cômputo geral, no entanto, pode-se dizer que o debate sobre a arte na Idade
Média sempre esteve ligado à religião, e a Igreja realizou, na maior parte do
tempo, uma censura bastante eficaz sobre o que era produzido.
Na modernidade, um autor importante para a compreensão estética, que
escreveu uma obra específica para tratar do tema, é Immanuel Kant. Em sua
Crítica da faculdade de julgar, o autor defende a tese de que, no ato de
elaborar um juízo estético, o indivíduo não procede de forma totalmente
consciente. Isso porque a faculdade da imaginação entra em ação nesse
momento, e ocorre o que o filósofo denomina de "jogo livre entre as
faculdades" da imaginação e do entendimento. O juízo de gosto será emitido
num primeiro momento, de forma imediata, anterior à formulação de qualquer
conceito. A formação de definições e a produção de conhecimento intelectual
interromperiam, desse modo, a fruição estética da obra de arte. De maneira
simplificada, para o autor, ou o indivíduo se comove esteticamente ou não, e
isso ocorre imediatamente. Se não ocorrer na hora, não vai acontecer mais.
Nenhum estudo da História da Arte ou sobre a técnica de produção da obra,
posterior à sua apreciação, modificará a condição estética do observador.

No entanto, apesar de não se dar no plano conceitual, mas no emocional,


dependendo da imaginação do expectador, isso não implica na total
subjetividade do juízo estético, como quando se afirma que "a beleza está nos
olhos de quem vê". Já estudamos Kant na apostila anterior e sabemos que ele
realiza uma Revolução Copernicana na filosofia, retirando o objeto do centro
das reflexões e inserindo o sujeito conhecedor. Anteriormente, então,
entendemos que a beleza seria um atributo do objeto, no caso, da obra de arte.
Como a inversão vale também para a estética kantiana, entendemos que não é
a obra de arte que é bela, mas que o sujeito atribui essa característica à peça
em observação.

Apesar disso, no entanto, como esse processo envolve de alguma forma o


entendimento, em um jogo livre com a imaginação, e sabemos que as
categorias do entendimento se encontram igualmente em qualquer sujeito
transcendental, existe certa universalidade no juízo de gosto. Desse modo,
quando afirmo que algo é belo, entendo com isso três coisas: sinto prazer
estético diante da obra; é possível atribuir beleza àquela obra; e todos os seres
racionais poderão\deverão vivenciar essa mesma comoção estética, não
porque a obra seja universalmente bela, lembre-se, a beleza não se encontra
mais nela, mas porque todo ser humano possui a mesma capacidade racional
para emitir esse juízo de gosto.

Lembre-se que para Hegel, no século XIX, a arte é uma das etapas
galgadas pelo Espírito absoluto rumo ao encontro de si mesmo, assim como a
religião e a filosofia. No jogo dialético da realidade que se desmembra em tese,
antítese e síntese, sabemos que a história é a manifestação da razão no
tempo. Desse modo a arte de um período, da mesma forma, também expressa
um nível de consciência o qual atingiu aquele estágio da humanidade. A
beleza, desse modo, seria, como todos os demais conceitos, mutável ao longo
do tempo, seguindo esse processo de desenvolvimento do Espírito rumo à sua
autoconsciência absoluta, realizando a liberdade humana. Não é demais
ressaltar que, da mesma forma que a consciência individual é a subjetivação
do Absoluto, e as instituições sociais, como o Estado, são sua objetivação, a
religião, a arte e a filosofia são suas manifestações mais sublimes, que tendem
a levar o homem ao mais alto nível de elevação.

No entanto, é o marxismo, que surge com a antítese à


filosofia hegeliana no século XIX, que irá surgir uma das mais importantes
reflexões sobre a arte do século XX. Isso ocorre em torno da chamada Escola
de Frankfurt, na Alemanha, que teve como nomes mais difundidos na história o
de Theodor Adorno, Walter Benjamin, Max Horkeimer e Herbert Marcuse. Um
nome ainda vivo da escola, que foi orientando de Adorno, é o pensador
contemporâneo Hürgen Habermas. O principal conceito formulado por essa
escola, de autoria mais específica de Adorno e Horkeimer, é o de Indústria
Cultural, cunhado em 1947, para substituir o ambíguo termo Cultura de massa,
que poderia dar a falsa impressão de que existiria uma cultura feita pelo povo e
para o povo. O termo criado pelos autores deixa claro que ocorre a assimilação
da cultura pelos moldes industriais de produção, estandardizados,
homogêneos, com uma lógica estritamente comercial. Assim sendo a obra de
arte perderia sua "aura" de superioridade, característica da cultura erudita, ou
seus traços de conexão com as tradições, característicos da cultura popular,
para receberem um tratamento homogêneo, mediano, visando atingir o maior
espectro possível da população, dando sentido ao conceito de mass media.

Mas tal cultura só passa a ser difundida e assimilada após os diversos


avanços tecnológicos surgidos na modernidade. São os meios de comunicação
de massa (m.c.m). Quando se fala de uma indústria de cultura, é óbvio que se
circunscreve a análise no interior do fenômeno da urbanização. A primeira
possibilidade de transmissão massiva de informações e de entretenimento foi,
evidentemente, a do meio escrito, por causa da imprensa, e obviamente a
primeira experiência de cultura massificada para a geração de consumo foi a
dos folhetins, os precursores das novelas no período do romantismo. A partir
desse momento se percebeu que o bem cultural poderia ser utilizado como
instrumento econômico a servir a lógica de um mercado que visa unicamente à
acumulação.
Com o passar do tempo as possibilidades de se transmitir informações
foram sendo ampliadas, e surgem as ondas de telex, rádio, a transmissão de
imagens televisivas e mesmo a internet. Segundo Marshall McLuhan o carro, a
roupa, o dinheiro ou outros bens simbólicos acabam também comunicando
formação e informação, tornando o universo cultural praticamente ilimitado.
É indiscutível a importância dos chamados meios de comunicação na
contemporaneidade, mas os posicionamentos apresentados sobre sua
contribuição positiva ou negativa com relação à formação dos indivíduos ainda
permanecem extremamente controversos. Segundo Teixeira Coelho parece ser
possível concordar com Umberto Eco que em sua obra Apocalípticos e
Integrados apresenta duas correntes conflitantes sobre o tema. Estes são
exatamente os apocalípticos, críticos ferrenhos da Indústria Cultural, e os
integrados, defensores dos meios de comunicação ou, pelo menos, pessoas
que os aceitam com maior facilidade. Nos termos de Teixeira Coelho lê-se:

De um lado, portanto, estão os que acreditam, como Adorno e


Horkheimer (os primeiros, na década de 1940, a utilizar a expressão
“indústria cultural” tal como hoje a entendemos), que essa indústria
desempenha as mesmas funções de um Estado fascista e que ela está,
assim, na base do totalitarismo moderno ao promover a alienação do
homem, entendida como um processo no qual o indivíduo é levado a não
meditar sobre si mesmo e sobre a totalidade do meio social circundante,
transformando-se com isso em um mero joguete e, afinal, em simples
produto alimentador do sistema que o envolve. Do outro lado, os que
defendem a ideia segundo a qual a indústria cultural é o primeiro
processo democratizador da cultura, ao colocá-la ao alcance da massa –
sendo, portanto, instrumento privilegiado no combate dessa mesma
alienação.

Desse modo, analisar-se-ão agora mais pormenorizadamente os


argumentos das duas correntes acima apresentadas na figura de seus
principais pensadores. A obra de referência desse estudo será a supracitada,
Apocalípticos e Integrados, do autor italiano Umberto Eco. Na verdade, o que é
importante perceber é que nenhuma das duas formas de compreensão do
fenômeno da Indústria Cultural é perfeita e dá conta de todas as questões,
sendo mais enriquecedor, pelo menos num primeiro momento, analisá-las de
maneira menos parcial.
No entendimento dos críticos dos meios de comunicação de massa, alguns
elementos devem ser postos de imediato em questão. Seguem abaixo as
posições mais relevantes desses autores, tal como nos são apresentadas por
Umberto Eco:

- Os m.c.m dirigem-se a um público heterogêneo, mas apresentam-se


segundo médias de gosto. Com isso, a cultura difundida é do tipo homogêneo,
destruindo as características culturais próprias de cada grupo étnico.
- Os m.c.m tendem a provocar emoções intensas e não mediatas, ou seja,
ao invés de simbolizarem uma emoção, de representá-la, provocam-na. Daí o
fortíssimo apelo da imagem utilizado na atualidade.
- Os m.c.m, colocados em um circuito comercial, estão sujeitos à lei da
oferta e da procura, e mesmo quando difundem os produtos da cultura
superior, difundem-nos nivelados e condensados a fim de não provocarem
nenhum esforço por parte do fruidor.
- Enfim, os m.c.m encorajam uma visão passiva e acrítica do mundo.
Desencoraja-se o esforço pessoal pela posse de uma nova experiência.
Percebe-se, assim, mesmo de forma resumida, que os meios de
comunicação seriam, para os autores mais críticos, um importantíssimo
instrumento de dominação, uma forma extremamente eficiente de
homogeneizar a maneira de ver o mundo de uma sociedade em função de
qualquer que seja a causa, aparentemente, para os mesmos, em função de
causas notoriamente econômicas.
Os integrados são representados, sobretudo, pelo canadense Marshall
McLuhan. Autor controverso, possui uma obra criticada principalmente pelo
caráter lacunar que apresenta, mas que segundo o autor, segue as
características do tempo em que é escrita. Seguem abaixo as principais
proposições desse e de outros importantes defensores dos meios de
comunicação, tal como compiladas por Umberto Eco:

- A cultura de massa não é uma prerrogativa do sistema capitalista ou da


sociedade de consumo, ou seja, de compra e venda de mercadorias, mas
aparece na China ou na União Soviética, com seus mesmos defeitos e as
mesmas virtudes.
- O excesso de informação sobre o presente com prejuízo da consciência
histórica é recebido por uma parte da humanidade que, tempos atrás, não tinha
acesso aos bens de cultura, nem informações sobre o presente e não era
dotada de conhecimentos históricos.
- Não se pode negar que o acúmulo de informação, mesmo que seja
apresentada de forma indiscriminada, deve levar necessariamente a algum tipo
de formação, e não admitir isso significa trabalhar com níveis de pessimismo
acima do racionalmente aceitável.
- Uma homogeneização dos gostos contribuiria, no fundo, para eliminar, a
certos níveis, as diferenças de casta, para unificar as sensibilidades nacionais,
e desenvolveria funções de descongestionamento anticolonialista em muitas
partes do globo.
Enfim, o debate entre as duas concepções parece girar em torno de uma
polêmica central. O que para os integrados deve ser considerado como uma
democratização da arte e da informação, segundo os apocalípticos deve ser
compreendido como um fenômeno de banalização da cultura, das artes e da
informação. Seja como for, o tema da cultura por certo ganhou bastante em
complexidade após o desenvolvimento das formas tecnológicas de sua difusão.
É em nosso tempo impossível que alguém que deseje ter o mínimo de noção
sobre o mundo que o cerca se furte a refletir minimamente sobre a influência
das ideias transmitidas de maneira cada vez mais rápida para uma parcela
cada vez maior da humanidade.

Exercícios Propostos:

QUESTÃO 01
O problema da mímesis em Platão e Aristóteles até hoje tem ressonância no
mundo contemporâneo. Grande parte do público recusa a arte produzida na
contemporaneidade por conta da estética platônica. Aristóteles liberta a arte
dos limites determinados por Platão e afirma que

A) a arte tem como fim a verdade.


B) a arte tem a ver com a catharsis, uma função social terapêutica.
C) a arte não é mimética, ou seja, transmite a essência das coisas.
D) Todas as alternativas estão corretas.
E) Nenhuma das alternativas está correta.

QUESTÃO 02 (Ueg)
Aristóteles é considerado por muitos estudiosos como o primeiro crítico literário. Sua vasta
produção, além de abordar Política, Biologia, Metafísica e Ética, também trata de Poética.
Acreditava que um grande poeta, como Homero, deveria ser considerado também um filósofo.
Nesse sentido, Aristóteles defendia que a Poesia é superior à História porque

A) a beleza formal dos versos poéticos não poderia ser igualada ao texto
informativo dos historiadores.
B) a poesia lida com conceitos universais, enquanto a narrativa histórica
precisa focar um tema específico.
C) a poesia poderia ser transformada em peças dramáticas, enquanto textos de
história só poderiam ser lidos.
D) o número de leitores de poesia era muito superior ao de leitores de textos
sobre história, na Grécia Antiga.

QUESTÃO 03 (Unesp)
Uma obra de arte pode denominar-se revolucionária se, em virtude da
transformação estética, representar, no destino exemplar dos indivíduos, a
predominante ausência de liberdade, rompendo assim com a realidade social
mistificada e petrificada e abrindo os horizontes da libertação. Esta tese implica
que a literatura não é revolucionária por ser escrita para a classe trabalhadora
ou para a “revolução”. O potencial político da arte baseia-se apenas na sua
própria dimensão estética. A sua relação com a práxis (ação política) é
inexoravelmente indireta e frustrante. Quanto mais imediatamente política for a
obra de arte, mais reduzidos são seus objetivos de transcendência e mudança.
Nesse sentido, pode haver mais potencial subversivo na poesia de Baudelaire
e Rimbaud que nas peças didáticas de Brecht. (Herbert Marcuse. A dimensão
estética, s/d.)

Segundo o filósofo, a dimensão estética da obra de arte caracteriza-se por

A) apresentar conteúdos ideológicos de caráter conservador da ordem


burguesa.
B) comprometer-se com as necessidades de entretenimento dos consumidores
culturais.
C) estabelecer uma relação de independência frente à conjuntura política
imediata.
D) subordinar-se aos imperativos políticos e materiais de transformação da
sociedade.
E) contemplar as aspirações políticas das populações economicamente
excluídas.
Questões Enem:

QUESTÃO 04

O modo de comportamento perceptivo, através do qual se prepara


o esquecer e o rápido recordar da música de massas, é a
desconcentração. Se os produtos normalizados e
irremediavelmente semelhantes entre si, exceto certas
particularidades surpreendentes, não permitem uma audição
concentrada, sem se tornarem insuportáveis para os ouvintes,
estes, por sua vez, já não são absolutamente capazes de uma
audição concentrada. Não conseguem manter a tensão de uma
concentração atenta, e por isso se entregam resignadamente
àquilo que acontece e flui acima deles, e com o qual fazem
amizade somente porque já o ouvem sem atenção excessiva.
(ADORNO, T. W. O fetichismo na música e a regressão da
audição. In: Adorno et all. Textos escolhidos. São Paulo: Abril
Cultural, 1978, p.190. Coleção Os Pensadores.)

As redes sociais têm divulgado músicas de fácil memorização e com forte


apelo à cultura de massa. A respeito do tema da regressão da audição na
Indústria Cultural e da relação entre arte e sociedade em Adorno, o fragmento
acima nos permite concluir que a

a) impossibilidade de uma audição concentrada e de uma concentração atenta


relaciona-se ao fato de que a música tornou-se um produto de consumo,
encobrindo seu poder crítico.
b) música representa um domínio particular, quase autônomo, das produções
sociais, pois se baseia no livre jogo da imaginação, o que impossibilita
estabelecer um vínculo entre arte e sociedade.
c) música de massa caracteriza-se pela capacidade de manifestar criticamente
conteúdos racionais expressos no modo típico do comportamento perceptivo
inato às massas.
d) tensão resultante da concentração requerida para a apreciação da música é
uma exigência extramusical, pois nossa sensibilidade é naturalmente mais
próxima da desconcentração.
e) audição concentrada significa a capacidade de apreender e de repetir os
elementos que constituem a música, sendo a facilidade da repetição o que
concede poder crítico à música.

QUESTÃO 05
“A cidade de Atenas promoveu um concurso para a escolha da
estátua da deusa Atena, a ser instalada no Paternon. Dois
escultores apresentaram suas obras. Uma delas era uma mulher
perfeita e foi admirada por todos. A outra, era uma figura grotesca: a
cabeça enorme, os braços muito longos e as mãos maiores que os
pés. Quando as duas estátuas foram colocadas nos altos pedestais
do Paternon, onde eram vistas de baixo para cima, a estátua perfeita
tornara-se ridícula: a cabeça e as mãos de Atena pareceram
minúsculas e desproporcionais para seu corpo; em contrapartida, a
estátua grotesca tornara-se perfeita, pois a cabeça, os braços e as
mãos se tornaram proporcionais ao corpo. A estátua grotesca foi
considerada a boa imitação e venceu o concurso.”
(CHAUÍ, Marilena, Convite à Filosofia, São Paulo, Editora Ática,
2003, p. 284, texto adaptado).

O exemplo citado no texto acima ilustra como os gregos na Antiguidade


concebiam a relação entre arte e natureza. Tendo por base a concepção
aristotélica acerca dessa relação, podemos dizer que a estátua grotesca
venceu o concurso porque o escultor

a) imitou a deusa Atena considerando que para uma obra ser bela tem de ter,
além da proporção, certa esquisitice.
b) não se preocupou em reproduzir uma cópia fiel da deusa Atena, pois no
mundo sensível temos apenas uma imitação da verdadeira realidade que se
encontra no mundo inteligível.
c) tomou como parâmetro, ao representar a deusa Atena, a ideia de que o belo
é relativo ao gosto de cada pessoa, por isso a deusa poderia ser percebida
diferentemente por cada um, dependendo do lugar onde fosse colocada.
d) reproduziu a deusa Atena tendo como padrão de beleza o imaginário
popular da época, que apreciava figuras grotescas.
e) representou a deusa Atena levando em conta que o belo consiste na
proporção, na simetria e na ordem, por isso fez um cálculo matemático das
proporções entre as partes do corpo, o local em que seria instalada e como
seria vista.

Exercícios de Fixação:

QUESTÃO 01 (Uema)
Kant definiu a Estética como sendo ciência. E completando, Alexander
Brumgarten a definiu como sendo a teoria do belo e das suas manifestações
através da arte. Como ciência e teoria do belo, a Estética pretende alcançar um
tipo específico de conhecimento que é aquele captado
A) pela lógica.
B) pela razão.
C) pela alma.
D) pelos sentidos.
E) pela emoção.

QUESTÃO 02 (UEM)
“A Estética, enquanto reflexão filosófica, busca compreender, num
primeiro momento, o que é beleza, o que é belo. A preocupação com
o belo, com a arte e com a sensibilidade” é própria da reflexão
estética. Não se trata de “uma discussão de preferências,
simplesmente com o fim de uniformizar os gostos. Então, ela não
poderá ser normativa, determinando o que deve ser,
obrigatoriamente, apreciado por todos.”
(Filosofia. Vários autores. Curitiba: SEED-PR, 2006, p. 272).
Ainda assim, a tentativa de uma definição do belo vem acompanhando a
História da Arte há muito tempo, sendo correto afirmar que

01) os padrões clássicos de beleza, como harmonia, simetria, equilíbrio e


proporcionalidade exerceram uma influência tão acentuada em todos os
períodos da História, que só viriam a ser confrontados nos anos 60 do
século XX, com a Pop Art de Andy Warhol.
02) o desenvolvimento da sociedade industrial e as inovações nas tecnologias
de comunicações passaram a interferir na formação e no
redimensionamento dos padrões de beleza. O poder dos veículos de
comunicação de massa buscou uniformizar, cada vez mais, esses ideais de
beleza, direcionando-os para o consumo.
04) Sócrates, já na antiguidade, lançava mão de um conceito familiar aos
tempos modernos, algo como uma estética funcionalista, ao associar o belo
ao útil pois, para ele, sempre que um objeto cumpria sua função era belo.
Desta forma, o filósofo refletia, em parte, o pensamento artístico grego.
08) na Idade Média, com a valorização da fé e da espiritualidade trazida pelo
cristianismo, o corpo humano foi associado ao mundo material e aos valores
terrenos. Em consequência disso, passou a ser visto como oposto à busca
do divino, tornando-se símbolo do pecado e contrário ao que se considerava
belo.
16) Aristóteles associava o conceito de belo ao conceito de bom, e, para ele, as
artes tinham uma função moral e social, ao reforçarem os laços da
comunidade. Por esse motivo, preferia a tragédia, pois, nela, a imitação das
ações humanas (boas ou más) reproduziriam um efeito chamado de
catarse, ou seja, uma purificação dos sentimentos ruins a partir da sua
visualização na arte.

QUESTÃO 03 (Uel)
Leia o texto a seguir.

Platão, em A República, tem como objetivo principal investigar a


natureza da justiça, inerente à alma, que, por sua vez, manifesta-se
como protótipo do Estado ideal. Os fundamentos do pensamento
ético-político de Platão decorrem de uma correlação estrutural com
constituição tripartite da alma humana. Assim, concebe uma
organização social ideal que permite assegurar a justiça. Com base
neste contexto, o foco da crítica às narrativas poéticas, nos livros II e
III, recai sobre a cidade e o tema fundamental da educação dos
governantes.
No Livro X, na perspectiva da defesa de seu projeto ético-político
para a cidade fundamentada em um logos crítico e reflexivo que
redimensiona o papel da poesia, o foco desta crítica se desloca para
o indivíduo ressaltando a relação com a alma, compreendida em três
partes separadas, segundo Platão: a racional, a apetitiva e a
irascível.

Com base no texto e na crítica de Platão ao caráter mimético das narrativas


poéticas e sua relação com a alma humana, é correto afirmar:
A) A parte racional da alma humana, considerada superior e responsável pela
capacidade de pensar, é elevada pela natureza mimética da poesia à
contemplação do Bem.
B) O uso da mímesis nas narrativas poéticas para controlar e dominar a parte
irascível da alma é considerado excelente prática propedêutica na formação
ética do cidadão.
C) A poesia imitativa, reconhecida como fonte de racionalidade e sabedoria,
deve ser incorporada ao Estado ideal que se pretende fundar.
D) O elemento mimético cultivado pela poesia é justamente aquele que
estimula, na alma humana, os elementos irracionais: os instintos e as
paixões.
E) A reflexividade crítica presente nos elementos miméticos das narrativas
poéticas permite ao indivíduo alcançar a visão das coisas como realmente
são.

QUESTÃO 04 (UEM)
Segundo Georg Wilhelm Friedrich Hegel, a realidade é a manifestação do
Espírito infinito ou Absoluto, que é necessariamente histórico, dialético e
realizador da unidade entre pensamento e mundo.

Sobre a manifestação do Espírito na arte, segundo a Filosofia de Hegel,


assinale o que for correto.

01) A arte, para Hegel, é a manifestação sensível do Espírito, isto é, a primeira


forma de expressão do Absoluto, sucedida pela religião e pela Filosofia.
02) Entre as obras de arte, a poesia é a mais espiritual de todas, segundo
Hegel, pois a matéria que utiliza é a linguagem.
04) Para Hegel, a arte sempre renasceu e renascerá eternamente, pois seu
conteúdo histórico deve ser atualizado ao longo do tempo.
08) A arte sacra (música-coral, arquitetura gótica, esculturas e afrescos) é,
segundo Hegel, uma forma de arte perfeita, pois a religião é a base do
artista.
16) De acordo com o processo de autoconsciência do Espírito, Hegel classifica
a arte em três momentos ou formas: simbólica, clássica e romântica.

QUESTÃO 05 (UEM)
Diz Aristóteles (388-322 a.C.), na obra Poética, sobre a noção de
imitação (mimesis) artística: “Ao homem é natural imitar desde a
infância – e nisso difere ele dos outros seres, por ser capaz da
imitação e por aprender, por meio da imitação, os primeiros
conhecimentos; e todos os homens sentem prazer em imitar. Prova
disso é o que ocorre na realidade: temos prazer em contemplar
imagens perfeitas das coisas cuja visão nos repugna, como [as
figuras dos] animais ferozes e dos cadáveres.” (ARISTÓTELES.
Poética, livro IV, §§ 13 e 14, p. 40). Do mesmo modo diz o filósofo,
na Física: “Em resumo, a arte ou completa o processo que a
natureza é incapaz de fazer inteiramente ou imita a natureza.”
(ARISTÓTELES. Física, 199a. In. FIGURELLI, R.. Antologia de
textos filosóficos. Curitiba: SEED, 2009, p. 546).
Com base nessas afirmações de Aristóteles, assinale a(s) alternativa(s)
correta(s).
01) O grande mérito do artesão ou artista está em reproduzir perfeitamente a
beleza do mundo natural.
02) O feio não decorre da percepção do objeto representado, mas, da
inabilidade do artista em representá-lo.
04) A representação de algo pode ser tão ou mais bela do que a própria coisa.
08) A arte não consegue completar a natureza, mas, na melhor das hipóteses,
apenas copiá-la ou imitá-la.
16) Proporção, harmonia, equilíbrio não são critérios de beleza para os objetos
artísticos.

QUESTÃO 06 (Uel)
Leia os textos a seguir.

[...] seria possível reconstituir a história da arte a partir do confronto


de dois polos, no interior da própria obra de arte, e ver o conteúdo
dessa história na variação do peso conferido seja a um polo, seja a
outro. Os dois polos são o valor de culto da obra e seu valor de
exposição. [...] À medida que as obras de arte se emancipam do seu
uso ritual, aumentam as ocasiões para que elas sejam expostas. (p.
172).
(BENJAMIN, W. “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade
técnica - Primeira versão”. In: Magia e técnica, arte e política:
ensaios sobre literatura e história da cultura. 7. ed. São Paulo:
Brasiliense, 1994.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensamento de Walter


Benjamin, é correto afirmar:
A) O resgate da aura artística da obra de arte promovido pela reprodutibilidade
técnica amplia sua função potencialmente democratizadora, permitindo o
acesso de um número maior de pessoas à sua contemplação.
B) O declínio da aura da obra de arte, decorrente de sua crescente elitização e
das novas técnicas de reprodução em série, reforça seu valor tradicional de
culto e amplia a percepção estética das coletividades humanas.
C) A arte, na sociedade primitiva, tinha por finalidade atender aos rituais
religiosos, por isso possuía um caráter aurático vinculado ao valor de culto, o
qual se perde com o avanço da reprodutibilidade técnica, na época moderna.
D) O cinema manifesta-se como uma obra de arte aurática, pois suscita em
cada um dos espectadores uma forma singular e única de se relacionar com
o objeto artístico no interior do qual mergulha e nele se distrai.
E) O que determina o esvaziamento da aura da obra de arte reproduzida
tecnicamente é a sua reclusão e a perda do valor de exposição, o que
restringe o acesso das massas, que se tornaram alienadas.

QUESTÃO 07 (Uel)
Leia o texto de Aristóteles a seguir:
Uma vez que o poeta é um imitador, como um pintor ou qualquer
outro criador de imagens, imita sempre necessariamente uma das
três coisas possíveis: ou as coisas como eram ou são realmente, ou
como dizem e parecem, ou como deviam ser. E isto exprime-se
através da elocução em que há palavras raras, metáforas e muitas
modificações da linguagem: na verdade, essa é uma concessão que
fazemos aos poetas.
(ARISTÓTELES. Poética. Tradução e Notas de Ana Maria Valente.
Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2004. p. 97.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a estética de Aristóteles,


considere as afirmativas a seguir:

I. O poeta pode imitar a realidade como os pintores e, para isso, deve usar o
mínimo de metáforas e priorizar o acesso às ideias inteligíveis.
II. O poeta pode imitar tendo as coisas presentes e passadas por referência,
mas não precisa se ater a esses fatos apenas.
III. O poeta pode imitar as coisas considerando a opinião da maioria e pode
também elaborar fatos usando várias formas de linguagem.
IV. O poeta pode imitar as coisas ponderando o que as pessoas dizem sobre
os fatos, mesmo que não haja certeza sobre eles.

Assinale a alternativa correta.


A) Somente as afirmativas I e II são corretas.
B) Somente as afirmativas I e III são corretas.
C) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
D) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas.
E) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

QUESTÃO 08 (Unicentro)
Todas as alternativas abaixo definem corretamente a relação crítica que se
estabelece na contemporaneidade entre Arte, Indústria cultural e Cultura de
massas, exceto.

A) Com o advento da modernidade, as artes foram submetidas às regras do


mercado capitalista e da ideologia da Indústria Cultural, baseadas na prática
do consumo de produtos culturais produzidos em série. As obras de arte são
mercadorias, como tudo que existe no capitalismo.
B) Não podemos afirmar que a contemporaneidade transformou as obras de
arte em mercadorias, pois proporcionaram sua democratização irrestrita:
todos podem ter acesso a elas, conhecê-las, incorporá-las em suas vidas,
criticá-las, graças ao capitalismo.
C) Apesar de submetida às leis do mercado capitalista e de sua ideologia, a
arte contemporânea não se democratizou, massificou-se para consumo
rápido no mercado da moda e nos meios de comunicação de massa.
D) A Indústria cultural define a cultura como lazer e entretenimento, diversão e
distração. O que nas obras de arte significa trabalho da sensibilidade, da
reflexão e da crítica é vulgarizado e banalizado; em lugar de difundir e
divulgar as artes, despertando interesse por ela, ocorre massificação da
expressão artística e intelectual.
E) Sob o controle econômico e ideológico da Indústria Cultural, a arte se
transformou em um evento para tornar invisível a realidade e o próprio
trabalho criador das obras. É algo para ser consumido e não para ser
conhecido, fruído e superado por novas obras.

QUESTÃO 09
O que significa, em Platão, afirmar que a obra de arte é uma cópia da cópia?

QUESTÃO 10
O que Aristóteles entende por catarse em sua teoria estética?

Módulo 16: A liberdade em Nietzsche e Sartre.

Nietzsche:

Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceu na localidade de Röcken, próxima a


Leipzig, em 15 de outubro de 1944, em uma família protestante. Após realizar
alguns estudos em teologia e filosofia, acabou por dedicar-se à filologia,
estudando autores como Diógenes Laércio, importante historiador da filosofia,
e os poetas Hesíodo e Homero. Além do gosto pelos livros Nietzsche também
nutria grande admiração pela música, o que se percebe pela sua amizade –
posteriormente prejudicada por questões intelectuais – com o compositor
alemão, seu contemporâneo, Richard Wagner. De 1869 a 1879 dá aula na
Universidade da Basiléia, na Suíça, mas em consequência de problemas de
saúde, decorrentes provavelmente de sífilis, abandonou as atividades
docentes. De acordo com alguns estudiosos foi em função de seus
desequilíbrios emocionais, que o conduziram à demência no final da vida, que
nosso autor escolheu os aforismos – pequenos fragmentos de texto que
guardam certa independência entre si – como estilo central de escrita, o que
torna seus textos ainda mais difíceis de se compreender. No entanto, apesar
disso e de todo o preconceito da academia com relação ao filósofo, ele se
tornou um dos nomes mais populares da filosofia contemporânea, e
tentaremos, à frente, compreender alguns dos motivos de tamanha
popularidade.
Uma das posturas centrais da filosofia nietzschiana é a denominada
transvaloração dos valores, que nada mais é do que uma postura
questionadora diante da moral social apresentada ao indivíduo. Ao realizar tal
crítica, tentando fazer uma genealogia da moral, ou seja, buscando
compreender o surgimento histórico dos valores que estão presentes na
sociedade ocidental, Nietzsche chega a uma das ideias centrais de sua
filosofia, que estará presente em toda a sua obra, qual seja: os valores
ocidentais, advindos principalmente do racionalismo filosófico e da religiosidade
cristã, conduzem o homem à negação de sua própria vitalidade, isto é, à
corrupção. Em um trecho da obra O Anticristo nosso autor assim se manifesta:

A vida mesma vale para mim como instinto de crescimento, de


duração, de acumulação de forças, de potência: onde falta a vontade
de potência, há declínio. Minha afirmação, é que a todos os valores
mais altos da humanidade falta essa vontade – que valores de
declínio, valores niilistas, sob os mais santos nomes, exercem o
domínio.

Aí está o problema dos valores: eles domam nossos instintos e, no limite,


retiram a nossa vitalidade, os nossos anseios mais elementares, a nossa
vontade de potência. Se Nietzsche fez uma genealogia, ou seja, um estudo
histórico do surgimento dos valores, ele bem poderia responder ao seguinte
questionamento: a partir de quando a moral assumiu essa postura castradora?
De acordo com o autor em dois momentos isso é bastante perceptível: no
período racionalista de Sócrates e Platão, quando se tenta submeter a
realidade observada ao crivo da razão; e quando o cristianismo se torna
hegemônico no ocidente, o que coincide com a decadência do Império
Romano. O período helênico conseguiu, de forma ímpar, conciliar a
racionalidade e os instintos do homem, e duas divindades demonstram isso
com nitidez: Apolo, o deus sol, da flecha certeira e da racionalidade, e Dionísio,
o deus do vinho, da embriaguez, que em Roma será cultuado nas bacanais,
quando recebe o nome de Baco. Desse modo existia um equilíbrio entre a
vitalidade e a razão, entre o instinto e a sociabilidade, e esse equilíbrio foi
desfeito, primeiramente, em nome de um racionalismo que a tudo quer
dominar, cerceando a capacidade de desejar do indivíduo, que recebe, em um
segundo momento, o golpe de misericórdia da moral cristã, essa que, de
acordo com o pensamento nietzschiano, seria a moral do escravo. Em outra
citação do autor, da obra Para a Genealogia da Moral, podemos perceber esse
aspecto com certa clareza:

O levante dos escravos na moral começa quando o


ressentimento mesmo se torna criador e pare valores: o
ressentimento de seres tais, aos quais está vedada a reação
propriamente dita, o ato, e que somente por uma vingança
imaginária ficam quites. Enquanto toda moral nobre brota de um
triunfante dizer-sim a si próprio, a moral de escravos diz não, logo de
início, a um “fora”, a um “outro”, a um “não-mesmo”: e esse “não” é
seu ato criador.

Um romano, no auge do seu triunfo, não exaltaria, em momento algum, a


humildade, o choro, o sofrimento, a fraqueza. Ao contrário a virtú romana, já
nos afirmava Maquiavel, exaltava o poder e a força, a capacidade de fazer
valer aquilo que se quer, e não a caridade ou o amor incondicional ao próximo.
O que ocorre é que como ao escravo é vedada toda a ação, ele só poderia
incorrer em uma moral da negação. Essa, então, se dá, em última instância, na
recusa do próprio mundo do qual se é escravo, afirmando-o imperfeito, inferior,
se comparado a um mundo no qual os verdadeiros possuidores da virtude, os
bem aventurados, serão aqueles que dominarão. Assim ocorre a exaltação da
fraqueza, em detrimento do desejo de fazer valer sua vontade de potência no
momento presente. É a supressão da vitalidade, do instinto, da força, em favor
de uma apatia que domina o indivíduo. De acordo com Nietzsche, o homem
fraco seria um camelo que possui sobre si duas corcovas: a moral social e a
religião, que o levam a negar-se a si mesmo. O homem forte, ou super-
homem, passaria pelo estágio do leão, no qual teria força suficiente para
romper com os valores que lhe foram estabelecidos, e chegaria ao estágio da
criança, com seu universo de possibilidades, efetivando, assim, a
transvaloração de todos os valores, para a afirmação individual. O homem forte
não projeta sua felicidade em um mundo superior e futuro, faz prevalecer sua
vontade e é feliz no presente.
Ao demonstrar que o bom e o ruim, o bem e o mal, não são valores
transcendentes, isto é, absolutos e a - históricos, mas sim produzidos na
dinâmica social – basta lembrar como o que é bom para o romano pode ser
ruim para o cristão –, Nietzsche abre a possibilidade para que o indivíduo
questione a moral que lhe é apresentada no seu tempo. A moral do super-
homem afirma a vontade do indivíduo, e recorda que o ser humano, além de
uma razão, possui instintos e uma vitalidade que não podem ser
completamente negados por nenhum sistema social. Consequentemente
nosso autor denuncia como degeneração tudo aquilo que exalte a fraqueza, o
sofrimento, a negação de si como condutas adequadas ou necessárias para a
felicidade do homem.
Como se pode perceber, Nietzsche é realmente um autor que polemiza e
que, no radicalismo característico de sua própria estética, subverte as crenças
tão poderosas ainda no seu tempo. Talvez isso explique um pouco o fascínio
que exerce principalmente sobre os leitores mais jovens. Quanto à possível
defesa de uma postura antissemita, ou outras controvérsias que aparecem em
algumas biografias do autor, tudo isso mereceria comentários mais
pormenorizados, que não são objetivo desse presente texto. O importante é
perceber que a base da argumentação nietzschiana repousa na historicidade
da composição dos valores, negando-lhes qualquer caráter ou validade
transcendente ou superior.

O EXISTENCIALISMOL: JEAN-PAUL SARTRE (1905-


1980)

Ao afirmarmos que o homem se escolhe a si mesmo, queremos


dizer que cada um de nós se escolhe, mas queremos dizer também
que, escolhendo-se ele escolhe a todos os homens.
Sartre recebeu significativa influência filosófica de Heidegger. Durante os
anos da Segunda Guerra Mundial, participou da luta da resistência francesa
contra o nazismo. Também aderiu ao marxismo, considerando-o a filosofia de
sua época, mas, diante da intervenção soviética na Hungria, em 1956, rompeu
com o Partido Comunista, acusando-o de se desviar do sentido autêntico do
marxismo.
Em 1964 foi agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura, mas se recusou
a recebê-lo. Não desejava reconhecer a autoridade dos juízes que lhe
ofereceram o prêmio nem aderir a essa instituição.
A principal obra filosófica de Sartre é O ser e o nada, publicada em 1939.
Nessa obra, ele ataca duramente a teoria aristotélica da potência. Para Sartre,
o ser é o que é. Trata-se, na linguagem sartreana, do ente em-si. Esse ente
“não é ativo nem passivo, nem afirmação ne m negação, mas simplesmente
repousa em si, maciço e rígido”.
Mas, além do ente em-si, Sartre concebe a existência do ser
especificamente humano, denominando-o ente para-si. O ente para-si
específico do homem se opõe ao ente em-si, que representa a plenitude do
ser. Portanto, para Sartre, a característica tipicamente humana é o nada: um
“espaço aberto”. Esse nada, próprio da existência, faz do homem um ente não-
estático, não-compacto, acessível às possibilidades de mudança.
Se o homem fosse um ser cheio, total, pleno, com uma essência definida,
ele não poderia ter nem consciência, nem liberdade. Primeiro, porque a
consciência é um espaço aberto a múltiplos conteúdos. Segundo, porque a
liberdade representa a possibilidade de escolha. Por intermédio dela, o homem
revelas suas aspirações por algo que ele ainda não é.
Assim, para o autor, se o homem não expressasse esse “vazio de ser”, sua
consciência já estaria pronta, acabada, fechada. E, nesse caso, o homem não
poderia manifestar a liberdade, pois estaria totalmente preso à realidade
estática do ser pleno.
Por isso, o homem tem como característica específica o não-ser, algo
indefinido e indeterminado. Por esse mesmo motivo, não podemos falar, da
existência de uma natureza humana universal, mas sim de uma condição
humana, isto é,

“O conjunto de limites a priori que esboçam a sua (do homem)


situação fundamental no Universo. As situações históricas variam: o
homem pode nascer escravo numa sociedade pagã – ou senhor
feudal ou proletário. Mas o que não varia é a necessidade para ele
de estar no mundo, de lutar, de viver com os outros e de ser mortal”.

É desse modo que se pode conceber, assim, o existencialismo, definido


pelo próprio Sartre como uma doutrina filosófica que acredita que no ser
humano, diferentemente dos animais irracionais, determinados biologicamente,
e dos objetos, concebidos antes na forma de ideia, a existência precede a
essência. O que significa exatamente isso? Significa que primeiro o ser
humano existe, surge no mundo, é jogado no mesmo, depois ele se faz, e a
forma como vai ser, é ele mesmo quem decide. Só assim entendemos a
afirmação sartreana de que o homem é o seu projeto, o que faz de si mesmo,
os seus atos.
Disso decorre a implicação de que um covarde não é assim designado
porque pensa de maneira pouco corajosa, mas sim porque realizou, ao longo
de sua vida, atos covardes. Sem nenhuma determinação transcendente,
biológica ou religiosa, o único elemento a ser analisado é a conduta do
indivíduo.
Um dos valores fundamentais da condição humana é, segundo Sartre, a
liberdade. É o exercício da liberdade, em situações concretas, que impulsiona
a conduta humana, que gera incerteza, que leva à procura de sentidos, que
produz a ultrapassagem de certos limites.
Diante da condição humana de ser condenado a sempre ter que escolher,
surge no homem um sentimento frente às inúmeras possibilidades com as
quais o mesmo se defronta. Não tendo ninguém que escolha por ele, o
indivíduo se vê muitas vezes perdido em uma posição na qual não quer estar, e
essa situação lhe causa angústia. Isso se resume na frase de Sartre que
afirma que “estamos sós e sem desculpa”. A angústia, assim, é o sentimento
causado pela total liberdade de escolha e pelo fato de que ninguém, em última
instância, pode escolher por nós.
Algumas pessoas, tamanho o sentimento de angústia que os afeta,
acabam se refugiando no que Sartre denomina má-fé. A má-fé é a atitude
daquele que não quer escolher, mas que finge fazê-lo através do determinismo
social ou mesmo religioso. Em síntese, agir de má-fé é atribuir as escolhas que
fazemos aos outros, ao destino ou a qualquer entidade transcendente. Sartre
chama aquele que age assim de “sujo”, “safado”, e obviamente não respeita a
atitude de alguém que rompe com a principal característica humana, a
liberdade.
Albert Camus, em seu livro O mito de Sísifo, fala do homem absurdo, que é
aquele que enfrenta com coragem a dureza de um mundo que não foi feito em
função dele. Sartre, ao ser acusado de conceber uma filosofia pessimista,
principalmente pelos cristãos, afirma que o que possui é uma dureza otimista, e
se ele retirou o paraíso do fim da vida humana, tirou também o inferno do fogo
eterno. De qualquer forma, como bom ateu que se preze, nosso autor é
pessimista com relação à realidade da finitude do ser humano, afirmando que
se nossos projetos nunca poderão ser totalmente concretizados a morte é um
absurdo, por ser exatamente a nadificação de nossos projetos.
Vale ressaltar que nosso autor é incluído no eixo temático da ética por
defender a tese da responsabilidade universal do ser humano com relação à
sua conduta, pelo fato de que quando eu faço uma escolha individual, em
última instância, ela só é responsável se for aquela que eu gostaria,
racionalmente, que todo ser humano na mesma situação fizesse. Daí decorre a
ação responsável.

RESUMINDO:

“Estamos condenados à liberdade.”


“A existência precede a essência”.
“O existencialismo não é tanto um ateísmo no sentido em que se esforçaria
por demonstrar que Deus não existe. Ele declara, mais exatamente: mesmo
que Deus existisse, nada mudaria; eis nosso ponto de vista.”
Liberdade = Escolha, de todas as oportunidades que nos são
apresentadas, somos livres para escolher qualquer uma.

Responsabilidade = Somos responsáveis por nossas escolhas e pelas


consequências das mesmas, tanto no que se refere a nós mesmos, quanto no
que se refere às formas como nossas escolhas interferiram na vida de outros.

Angústia = O fato de sermos responsáveis por nossas escolhas gera


angústia, pois podemos fazer a escolha errada e, então, seremos culpados por
todos os nossos “fracassos”.

Má fé = A angústia nos leva a termos ações de má fé, ou seja, atribuirmos


a outros a responsabilidade de nossas escolhas e das consequências das
mesmas.

Exercícios Propostos:

QUESTÃO 01 (UFFS)
No pensamento de Nietzsche, pode-se encontrar grande quantidade de
considerações a respeito dos valores.
Assinale a alternativa que não está de acordo com a filosofia de Nietzsche
sobre os valores.
A) A perda da fé em Deus conduz à transvaloração de todos os valores.
B) É preciso reconhecer que, pelos seus próprios critérios, nossa moral é
imoral.
C) Deve-se criar novos valores por meio da vontade de potência.
D) A moral deve expressar as condições de vida e de desenvolvimento de um
povo.
E) Não existe papel para a razão na compreensão dos valores.

QUESTÃO 02 (UFFS)
As alternativas a seguir apresentam e descrevem conceitos encontrados na
filosofia de Nietzsche, exceto:
A) A vontade de potência: motivo básico da ação do homem, a vontade de
viver e dominar.
B) O super-homem: indivíduo que é capaz de superar-se e possui valores
cristãos.
C) O eterno retorno: recorrência permanente dos mesmos eventos.
D) O ideal dionisíaco: conciliação do saber apolíneo e do saber dionisíaco.
E) A moral dos escravos: ressentimento dos que não podem realmente agir e
são compensados com uma vingança imaginária.

QUESTÃO 03 (UEM)
No texto O existencialismo é um humanismo, Jean-Paul Sartre argumenta
contra as acusações feitas ao existencialismo e declara: “O homem é não
apenas tal como ele se concebe, mas como ele se quer, e como ele se
concebe depois da existência, o homem nada mais é do que aquilo que ele faz
de si mesmo. Tal é o primeiro princípio do existencialismo.” (SARTRE, Jean-
Paul. O existencialismo é um humanismo. In: Antologia de textos filosóficos.
MARÇAL, Jairo (org.). Curitiba: SEED-PR, 2009, p.620).

Sobre a filosofia de Sartre, assinale o que for correto.

01) Ao expressar o primeiro princípio do existencialismo, Jean-Paul Sartre


defende a filosofia existencialista das acusações dos comunistas, que a
consideravam contemplativa e subjetivista.
02) Jean-Paul Sartre defende-se dos críticos que alegam ser sua filosofia
existencialista desumana, declarando que seus princípios filosóficos se
fundamentam no humanismo cristão.
04) A ética sartreana é individualista, pois considera que o homem, para ser
livre, deve agir sempre no sentido de alcançar objetivos que atendam
estritamente a seus interesses.
08) Jean-Paul Sartre considera que há dois tipos de existencialismo, ou seja,
um existencialismo cristão e outro ateu; ambos têm o pressuposto de que a
existência precede à essência.
16) Para Jean-Paul Sartre, o homem está condenado a ser livre. Condenado
porque não se criou a si mesmo, e, todavia, livre, pois, uma vez lançado no
mundo, ele é responsável por tudo o que faz.

Questões Enem:

QUESTÃO 04:
O Existencialismo é uma filosofia do século XX, que procura resgatar o valor da
subjetividade, da concretude da vida humana, da singularidade indeterminada.
A famosa frase de Sartre - "A existência precede a essência."- significa que o
homem é um projeto utópico de ser, condicionado pela sua existência. Neste
sentido o(s) fundamento(s) teórico(s) e histórico(s) do Existencialismo de Sartre
são:

a) o desejo de ser o que é, próprio do século XIX, e a decepção do homem


com a Igreja na sociedade atual.
b) a exaltação ao materialismo que determina a vida do homem, própria do
século XIX.
c) as filosofias de Marx e Engels e o movimento negro, o rock, o feminismo e a
revolução social pós-guerra.
d) o resgate do afeto, desejo e paixão segundo Freud e a exaltação do sexo
como finalidade ética da vida no consumismo atual.
e) a concepção de que o homem não é mais que o que ele faz na sua
existência, própria do contexto histórico dilacerado da Europa do pós-guerra.

QUESTÃO 05
“Para Sartre, principal representante do existencialismo francês, só
as coisas e os animais são ‘em si’, isto é, teriam uma essência. O
ser humano, dotado de consciência, é um ‘ser-para-si’, ou seja, é
também consciência de si. Isso significa que é um ser aberto à
possibilidade de construir ele próprio sua existência. Por isso, é
possível referir-se à essência de uma mesa (...) ou à essência de um
animal (...), mas não existe uma natureza humana encontrada de
forma igual em todas as pessoas, pois ‘o ser humano não é mais
que o que ele faz’.” (ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Temas
de filosofia. 3.ª ed. revista. São Paulo: Moderna, 2005. p. 39).

Jean-Paul Sartre é um dos principais filósofos da corrente denominada


existencialismo no século XX. Literato, filósofo, dramaturgo, foi figura
destacada no cenário intelectual. Com base na citação e nos seus
conhecimentos sobre o existencialismo, é possível concluir que

a) as coisas e os animais têm consciência de si.


b) o ser em si não pode ser senão aquilo que é, ao passo que, ao ser-para-si, é
permitida a liberdade de ser o que fizer de si.
c) a consciência humana é um fator a-histórico e necessário.
d) o homem possui uma natureza preestabelecida.
e) o existencialismo é uma metafísica de concepção essencialista.

Exercícios de fixação:

QUESTÃO 01 (UFU)
Assinale a alternativa que indica a “moral do senhor”, de acordo com
Nietzsche.
A) Os princípios metafísicos e morais dos diálogos de Platão.
B) A força, a criatividade, a saúde e o amor à vida.
C) Os princípios éticos e morais, que se encontram na Bíblia.
D) O ódio e o ressentimento dos fracos contra os mais fortes.

QUESTÃO 02 (Ufsj)
“A Filosofia a golpes de martelo” é o subtítulo que Nietzsche dá à sua obra
Crepúsculo dos ídolos. Tais golpes são dirigidos, em particular, ao(s)
A) conceitos filosóficos e valores morais, pois eles são os instrumentos
eficientes para a compreensão e o norteamento da humanidade.
B) existencialismo, ao anticristo, ao realismo ante a sexualidade, ao
materialismo, à abordagem psicológica de artistas e pensadores, bem como
ao antigermanismo.
C) compositores do século XIX, como, por exemplo, Wolfgang Amadeus
Mozart, compositor de uma ópera de nome “Crepúsculo dos deuses”,
parodiada no título.
D) conceitos de razão e moralidade preponderantes nas doutrinas filosóficas
dos vários pensadores que o antecederam e seus compatriotas e/ou
contemporâneos Kant, Hegel e Schopenhauer.

QUESTÃO 03 (UFFS)
Para lidar com o tratamento dos valores no pensamento de Nietzsche, o
conceito da "morte de Deus" é essencial.
Assinale a alternativa que reflete esse conceito.
A) A morte de Deus desvaloriza o mundo.
B) A morte de Deus gera necessariamente o super-homem.
C) A morte de Deus implica a perda das sanções sobrenaturais dos valores.
D) A morte de Deus exige o retorno a Apolo e a Dionísio.
E) A morte de Deus impossibilita a superação dos valores hoje aceitos.

QUESTÃO 04 (UNICENTRO)
O fragmento de texto, logo abaixo, é de Friedrich Nietzsche (1844-1900).
Analise-o, tendo como referência seus conhecimentos sobre o tema, e julgue
as assertivas que o seguem, apontando a(s) correta(s).
“Todo filosofar moderno está política e policialmente limitado à aparência
erudita, por governos, igrejas, academias, costumes, modas, covardias dos
homens: ele permanece no suspiro: ‘mas se... ’ ou no reconhecimento: ‘era
uma vez... ’ A filosofia não tem direitos; por isso, o homem moderno, se pelo
menos fosse corajoso e consciencioso, teria de repudiá-la e bani-la. Mas a ela
poderia restar uma réplica e dizer:
‘Povo miserável! É culpa minha se em vosso meio vagueio como uma cigana
pelos campos e tenho de me esconder e disfarçar, como se eu fosse a
pecadora e vós, meus juízes? Vede minha irmã, a arte! Ela está como eu:
caímos entre bárbaros e não sabemos mais nos salvar.”
(NIETZSCHE, F. A Filosofia na época trágica dos gregos. – aforismo 3. São
Paulo: Abril Cultural, 1978, p. 32 (Col. Os Pensadores).

I. Nietzsche critica a filosofia de sua época, afirmando que ela afastou-se da


vida, refugiando-se num universo de abstração e deduções lógicas, criando
falsos dualismos, como o de corpo e alma, mundo e Deus, mundo aparente e
mundo verdadeiro.
II. Em Sócrates, Nietzsche encontra o ideal de humanismo que irá definir sua
filosofia como “estética de si”. O par conceitual, dionisíaco (Dionísio é o Deus
da embriaguez da música e do caos) e apolíneo (Apolo é o Deus da luz, da
forma, da harmonia e da ordem), mostra a herança socrática. Da luta e do
equilíbrio final desses dois elementos opostos, surge o pensamento
nietzschiano como saber da vida e da morte, como expressão do enigma da
existência.
III. Kant e sua moral são alvos do “filosofar com o martelo” nietzschiano: o
“imperativo categórico”, isto é, a lei universal que deve guiar as ações
humanas, é para Nietzsche uma ficção que provém do domínio da razão sobre
os instintos humanos, sendo a lei de um homem descarnado e cristianizado.
IV. A vontade de potência é um conceito-chave na obra de Nietzsche. Indica-
nos as relações de força que se desenrolam em todo acontecer, assinalando
seu método histórico. Assim, Nietzsche pensa o tempo de acordo com uma
concepção própria, um tempo não-linear, que se desenvolve em ciclos que se
repetem – é o pensamento do eterno retorno, outro conceito-chave de sua
obra.
A) Apenas IV.
B) Apenas II e III.
C) Apenas II, III e IV.
D) Apenas I, II e IV.
E) Apenas I, III e IV.

QUESTÃO 05 (UNICENTRO)
Qual dos argumentos abaixo caracteriza corretamente a relação conceitual
entre existencialismo e liberdade, no pensamento de Jean-Paul Sartre (1905-
1980)?
A) O existencialismo de Sartre defende o individualismo, isto é, cada um deve
preocupar-se exclusivamente com a própria liberdade e ação.
B) O existencialismo de Sartre afirma que se o homem é livre,
consequentemente não é responsável por aquilo que faz.
C) O existencialismo de Sartre afirma que “disciplina é liberdade”. O homem
livre é aquele que recusa o individualismo para viver o conformismo e a
respeitabilidade da tradição.
D) Sartre afirma que o homem nada mais é do que “seu projeto”, não havendo
essência ou modelo para lhe orientar o caminho; está, portanto,
irremediavelmente condenado a ser livre.
E) Sartre afirma que a liberdade só possui significado no pensamento, na
capacidade que o homem tem de refletir acerca de sua existência, buscando
definir a natureza e a essência humana.

QUESTÃO 06 (UFU)
Leia o excerto abaixo e assinale a alternativa que relaciona corretamente duas
das principais máximas do existencialismo de Jean-Paul Sartre, a saber:

i. “a existência precede a essência”


ii. “estamos condenados a ser livres”

Com efeito, se a existência precede a essência, nada poderá jamais


ser explicado por referência a uma natureza humana dada e
definitiva; ou seja, não existe determinismo, o homem é livre, o
homem é liberdade. Por outro lado, se Deus não existe, não
encontramos já prontos, valores ou ordens que possam legitimar a
nossa conduta. [...] Estamos condenados a ser livres. Estamos sós,
sem desculpas. É o que posso expressar dizendo que o homem está
condenado a ser livre. Condenado, porque não se criou a si mesmo,
e como, no entanto, é livre, uma vez que foi lançado no mundo, é
responsável por tudo o que faz.
SARTRE, Jean-Paul. O Existencialismo é um Humanismo. 3ª. ed.
S. Paulo: Nova Cultural, 1987.

A) Se a essência do homem, para Sartre, é a liberdade, então jamais o homem


pode ser, em sua existência, condenado a ser livre, o que seria, na verdade,
uma contradição.
B) A liberdade, em Sartre, determina a essência da natureza humana que,
concebida por Deus, precede necessariamente a sua existência.
C) Para Sartre, a liberdade é a escolha incondicional, à qual o homem, como
existência já lançada no mundo, está condenado, e pela qual projeta o seu ser
ou a sua essência.
D) O Existencialismo é, para Sartre, um Humanismo, porque a existência do
homem depende da essência de sua natureza humana, que a precede e que é
a liberdade.

QUESTÃO 07 (UFU)
Para J.P. Sartre, o conceito de “para-si” diz respeito
A) a uma criação divina, cujo agir depende de princípio metafísico regulador.
B) apenas à pura manutenção do ser pleno, completo, da totalidade no seio do
que é.
C) ao nada, na medida em que ele se especifica pelo poder nadificador que o
constitui.
D) a algo empastado de si mesmo e, por isso, não se pode realizar, não se
pode afirmar, porque está cheio, completo.

QUESTÃO 08 (UFU)
Mas se verdadeiramente a existência precede a essência, o homem
é responsável por aquilo que é. Assim, o primeiro esforço do
existencialismo é o de pôr todo homem no domínio do que ele é e de
lhe atribuir a total responsabilidade da sua existência. E, quando
dizemos que o homem é responsável por si próprio, não queremos
dizer que o homem é responsável pela sua restrita individualidade,
mas que é responsável por todos os homens. [...]
Assim, a nossa responsabilidade é muito maior do que poderíamos
supor, porque ela envolve toda a humanidade.
SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. Trad.
Vergílio Ferreira. Lisboa:
Presença, 1970. Apud ARANHA, M. L. de Arruda e MARTINS, M. H. Pires.
Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 2009.

Conforme o texto, é correto afirmar que, para o existencialismo,

A) o homem não é responsável por todos os seus atos, pois a sociedade o


limita.
B) a humanidade é responsável pelo fato de os homens não terem plena
liberdade.
C) a sociedade limita as pessoas, logo não somos responsáveis por nossas
ações.
D) a responsabilidade não é restrita ao indivíduo, estende-se a toda
humanidade.

QUESTÃO 09
Defina moral do escravo e moral do senhor em Friedrich Nietzsche.

QUESTÃO 10
O que significa, em Sartre, afirmar que nos seres humanos a existência
precede a essência?

Gabaritos
Modulo 1:
Propostos:
1- A
2- C
3- C
Enem:
1- C
2- C

Fixação:
1- D
2- 24
3- 5
4- 16
5- 18
6- 7
7- B
8- Ao viajarem, para resolverem questões práticas de sua subsistência, muitas vezes,
os gregos tiveram contato com culturas muito distintas das suas, e aprenderam muito
com outros povos, saberes que, posteriormente, eles desenvolveram ainda mais.
Outra questão importante foi a percepção de que o mundo narrado pelo poeta não
encontrava correspondência com a realidade que eles encontraram em suas viagens.
9- A atividade política presente na Grécia do período arcaico para o clássico valorizava
novas virtudes, características do cidadão, como a capacidade de crítica e de
argumentação, a ponderação, o diálogo. Tudo isso acabou por consolidar um
ambiente propício para o desenvolvimento do debate, da reflexão, da crítica, posturas
adequadas para a filosofia.
10- A filosofia, diferente do mito, busca elaborar para a realidade explicações
racionais, baseadas, naquele momento, acima de tudo, na observação do mundo
concreto ao passo que as explicações míticas utilizavam-se amplamente de elementos
sobrenaturais.

Modulo 2:

Propostos:
1- A
2- A
3- C

Enem:
1- B
2- D

Fixação:
1- D
2- B
3- V,V,V,F
4- V,F,F,V
5- V,V,F,F
6- V,F,V,F
7- V,V,F,F
8-
A) O fragmento pertence ao período pré-socrático ou antigo.
B) Metafísica, já que é esta a área da filosofia que se dedica ao estudo do ser e das
suas causas.
C) O fragmento pertence ao caminho da opinião, visto que Parmênides nos orienta a
dele nos afastarmos.
9- Para Parmênides há uma equivalência entre o ser e a imobilidade. A partir disso, o
mundo apresentado por Heráclito, que flui o tempo todo, não pode existir de fato, só
restando existência àquilo que não muda, portanto, ao ser.
10-
A) Heráclito não pode ser corretamente considerado um filósofo empirista, já que
denuncia a incapacidade dos sentidos de apreenderem plenamente a realidade.
B) O princípio supremo da realidade é o logos, a razão que a tudo comanda, e quem
consegue assimila-lo de fato é o próprio Heráclito, ou aquele que se dedica à filosofia.

Modulo 3:

Propostos:
1- A
2- C
3- A

Enem:
1- A
2- D

Fixação:
1- B
2- C
3- C
4- 20
5- F,V,V,V
6- F,V,F,V
7- F,V,F,V
8- A partir do fragmento é possível perceber a presença da prática de Sócrates de, por
meio de perguntas e refutações, conduzir o interlocutor à consciência da insuficiência
do seu saber, da sua superficialidade.
9- Sócrates afirma que jamais ensinou a ninguém coisa alguma, que conversou
abertamente com todos que se dispuseram, o que torna estranha a acusação de
corrupção, visto que o corruptor não faz o que tem que fazer às claras. Afirma que fez
tudo isso por amor à verdade, não ao dinheiro, e que deveria seguir fazendo, pois
trata-se de uma missão dada a ele pela divindade.
10-
A) Os principais temas presentes nos diálogos de Sócrates são referentes às virtudes
e como se deve viver, portanto, temas como a beleza, a justiça, a coragem.
B) Sócrates, por meio da ironia, cadeia de perguntas com função refutatória, conduzia
o interlocutor a contradições nas suas respostas, para, no fim, leva-lo à percepção da
deficiência do seu conhecimento.

Modulo 4:

Propostos:
1- C
2- B
3- A

Enem:
1- C
2- A

Fixação:
1- A
2- B
3- C
4- 11
5- 17
6- A
7- F,V,V,F
8- A verdade para Platão necessita de uma norma superior, visto que o verdadeiro
conhecimento se dá por meio da reminiscência que a alma realiza das ideias que ela
contemplou, antes de se unir ao corpo, enquanto habitava no plano inteligível.
9-
A) A verdade é que Sócrates foi levado ao tribunal por ter exposto a ignorância dos
seus concidadãos publicamente.
B) O estágio da aporia, ausência de resposta, ao qual Sócrates conduzia seus
concidadãos no fim do diálogo. A temática da virtude.
C) As acusações improcedentes são: corromper a juventude. Pesquisar sobre as
coisas do céu e o que há sob a terra; o não crer nos deuses; fazer prevalecer o
discurso e a razão mais fraca’.
10-
A) Platão levanta a hipótese, no texto, de que existam duas ordens de realidade, a
sensível, na qual vivemos, e a inteligível.
B) Para Platão o mundo sensível é composto por cópias imperfeitas dos modelos
eternos presentes no mundo inteligível ou das ideias.

Modulo 05:
Exercícios propostos:
1- D
2- D
3- B
Questões Enem:
1- A
2- E
Exercícios de Fixação:
1- B
2- C
3- 12
4- 6
5- 6
6- 18
7- 27
8-
a) Substância, em Aristóteles, é o substrato último do ser, as características
que o definem como é e, portanto, deve ser entendida como essência.
b) Além da categoria da substância, podemos citar a da qualidade, quantidade,
relação e tempo.
9- As causas em Aristóteles são entendidas em quatro sentidos: material,
aquilo de que o ser é feito; eficiente, que é o princípio que transforma a matéria
no ser; formal, características atribuídas à matéria pela causa eficiente; final,
motivo pelo qual o ser existe.
10-
a) silogismo é a expressão linguística de um raciocínio, que consiste na
inferência realizada a partir de premissas.
b) o silogismo é válido porque a conexão entre os termos foi feita com
correção, e a análise lógica é realizada sobre a forma do raciocínio, e não
sobre o seu conteúdo.
c) o termo médio do silogismo é “animais mamíferos”.

Modulo 06:
Exercícios propostos:
1- A
2- 20
3- 17
Questões Enem:
1- D
2- E
Exercícios de Fixação:
1- A
2- E
3- D
4- C
5- A
6- B
7- D
8- A époche consiste na suspensão de juízos defendida pelo cético, com base
na tese de que as coisas se apresentam a nós de forma totalmente transitória,
e o afirmar algo sobre o mundo tem a mesma validade que o negar. É tal
postura que garante a ataraxia.
9- Ao compreendermos que somos resultado de uma combinação de átomos,
que se desagregarão com a nossa morte, o desespero diante do fim e do que
vem depois dele tende a desaparecer. Além disso, nossa relação com a vida
passa a ser de compreensão com relação às sensações às quais são
submetidas, buscando prazeres naturais e necessários, e entendendo a dor
como passageira e suportável.
10- Boa parte dos estados do nosso corpo, assim como os eventos que nos
são externos, nos são indiferentes, ou seja, escapam ao nosso controle. O que
sentimos com relação aos fatos, no entanto, está ao nosso alcance controlar, e
é exatamente com ralação aos nossos sentimentos que nos encontramos
livres.

Modulo 07:
Exercícios propostos:
1- C
2- B
3- B
Questões Enem:
1- A
2- B
Exercícios de Fixação:
1- A
2- C
3- E
4- A
5- D
6- 7
7- A
8- Para Agostinho, que elabora a teoria da Iluminação Divina, com relação às
verdades que merecem ser conhecidas, estamos na total dependência da luz
de Deus para atingi-las. Em função disso, tal filósofo subordina a razão à fé.
9-
a) A verdade se encontra dentro do homem porque Deus habita em cada um
de nós, mas evidentemente ele não se encontra aprisionado exatamente em
cada ser humano, estando evidentemente também em um plano superior.
b) As verdades eternas e imutáveis, que merecem ser conhecidas, não
poderiam ser conhecidas por seres finitos e transitórios como nós, o que
implica que dependamos da Iluminação Divina para atingi-las.
10-
a) Agostinho, como Platão, acredita que tudo seja proveniente de ideias
imutáveis, modelos perfeitos. Para o filósofo grego, no entanto, tais formas
estariam no mundo inteligível, e nós as acessaríamos, enquanto estamos aqui,
por meio da reminiscência. Para o bispo de Hipona, tais ideias estariam dentro
de Deus, e são acessíveis a partir do processo de Iluminação Divina.
b) A metáfora da luz, presente na Alegoria da Caverna, com a figura do Sol, é
atualizada, em Santo Agostinho, que compatibiliza tal ser, o Bem, com o Deus
da teologia cristã.

Modulo 08:
Exercícios propostos:
1- B
2- B
3- D
Questões Enem:
1- C
2- A
Exercícios de Fixação:
1- D
2- 19
3- A
4- V, F, V, F
5- D
6- D
7- C
8-
a) Nominalismo é a posição que afirma unicamente a existência dos
individuais, afirmando os termos universais como meras convenções
linguísticas. Os realistas defendem que os universais existem como entidades
autônomas, à moda do platonismo.
b) Roscelino, de acordo com o texto, é nominalista, visto que para ele o termo
“humanidade” não designa nenhuma realidade.
9- Segundo a prova teleológica, tudo que obedece a uma finalidade pressupõe
uma inteligência que o criou com tal finalidade, como o carpinteiro em relação a
uma mesa; ora, percebemos a finalidade no Universo (todas as criaturas têm
uma finalidade); logo, Deus é o princípio que dá essa finalidade ao Universo.
10- Para Tomás de Aquino, razão e fé são formas distintas de se chegar à
verdade, uma dando origem à filosofia, outra à teologia. Elas não devem se
contradizer, e caso isso ocorra, deve-se optar pela revelação, e reavaliar os
procedimentos da razão.

Módulo 9:
Propostos:
1- C
2- C
3- A
Enem:
1- C
2- B
Fixação:
1- D
2- D
3- C
4- D
5- A
6- B
7- A
8- Os defeitos consistem na precipitação, que consiste em apressar as
conclusões de um estudo, e a prevenção, que consiste na descrença com
relação às possibilidades de conhecer.
9-
A) Descartes inicia duvidando dos sentidos, depois da atividade da imaginação
e, por último, das certezas físicas e matemáticas.
B) Ao tentar duvidar de tudo, Descartes conclui que não pode colocar em
dúvida que enquanto duvida, pensa e, enquanto pensa, existe.
10- Hume se refere ao hábito, princípio que para ele fundamenta nossas
crenças na regularidade do mundo.

Módulo 10:
Propostos:
1- C
2- A
3- D
Enem:
1- D
2- D
Fixação:
1- B
2- D
3- A
4- B
5- A
6- C
7- B
8- Conhecimento transcendental é aquele que versa sobre as condições a
priori para a produção da experiência.
9- É a mudança de foco levada a cabo por Kant na filosofia, tirando do centro
do estudo os objetos de conhecimento e inserindo a própria faculdade de
conhecimento para ser estudada, ou seja, a razão.
10-
I- Porque só a boa vontade ou dever é fundamento adequado para a realização
da ação.
II- O menino só deve agir de uma forma que ele considere que deva ser
universalizada.

Módulo 11:
Propostos:
1- D
2- C
3- A
Enem:
1- A
2- E
Fixação:
1- B
2- V, V, F, F
3- B
4- C
5- D
6- D
7- B
8-
A) Quando querem conquistar o poder sem condições para fazê-lo
B) Tentar fazê-lo sem capacidade ou em um momento inadequado.
9- A soberania pertence ao governante ou aos governantes que devem garantir
a segurança dos súditos.
10-
A) A realização do pacto e a transferência do poder.
B) Porque ocorre a limitação do poder de cada um e o soberano passa a
garantir a segurança de todos.

Módulo 12:
Propostos:
1- C
2- C
3- B
Enem:
1- E
2- E
Fixação:
1- D
2- C
3- A
4- B
5- C
6- B
7- A
8-
A) Regulamentação e proteção dos direitos já existentes no estado de
natureza.
B) Os direitos garantidos são vida, liberdade e propriedade.
9- A soberania para Rousseau resulta da vontade geral e pertence ao povo, o
que o diferencia dos outros contratualistas.
10-
A) Porque na natureza os homens viviam em paz e não havia a necessidade
da sociedade.
B) Uma vez feito o pacto são necessárias leis, ou seja, convenções, para
ordenar a sociedade.

Modulo 13:
Exercícios propostos:
1- C
2- B
3- B
Questões Enem:
4- B
5- D
Exercícios de Fixação:
1- B
2- C
3- 16
4- A
5- C
6- 27
7- 12
8- Para Hegel, toda a realidade é resultado do desdobramento do Espírito em
busca de sua auto realização. Nesse desdobramento, vamos encontra-lo em
três formas de manifestação distintas em cada momento histórico: subjetiva,
objetiva e absoluta. O Estado é uma das formas de manifestação absoluta do
Espírito e, portanto, suas formas se desenvolvem ao longo do processo
histórico.
9-
A) De acordo com Hegel a meta do Espírito, em seu desdobramento dialético,
é o voltar-se para si mesmo, em cada momento, mais consciente de si.
B) Para Marx o processo histórico resulta do desenvolvimento das condições
materiais de existência ao longo do tempo. Para Hegel, o processo resulta do
desdobramento do Espírito no tempo, com a finalidade se se auto realizar no
conhecimento de si.
10- Marx divide, em termos didáticos, a realidade social em duas estruturas:
infraestrutura e superestrutura. Para ele há uma relação de condicionamento
entre as duas, e as mudanças sociais tendem a ter início no âmbito das
relações materiais para, em seguida, atingir os campos ideológicos.

Modulo 14:
Exercícios propostos:
1- A
2- C
3- 19
Questões Enem:
4- E
5- A
Exercícios de Fixação:
1- 30
2- 07
3- D
4- E
5- A
6- E
7- A
8- E
9- Paradigma é todo um conjunto formado pela teoria, pelos métodos, pelos
procedimentos, pelas linguagens, em suma, pela visão de mundo
compartilhada por uma determinada comunidade científica, em um período de
ciência normal.
10- Karl Popper define, como critério de demarcação para a atividade científica,
a falseabilidade ou refutabilidade. Basicamente, isso implica na compreensão
de que só são científicas teorias passíveis de teste e refutação por meio da
experiência.

Modulo 15:
Exercícios propostos:
1- B
2- B
3- C
Questões Enem:
4- A
5- E
Exercícios de Fixação:
1- D
2- 30
3- D
4- 19
5- 07
6- C
7- E
8- B
9- Como, para Platão, tudo no mundo sensível é cópia do inteligível, e a arte
grega é essencialmente naturalista, ocorre uma dupla relação de imitação
(mímesis). O mundo sensível é uma imitação do inteligível e, quando o artista
faz uma representação de um objeto qualquer, copia algo que em si já consiste
em imitação, produzindo algo mais afastado da ideia, que é o original.
10- A catarse é a purgação, a purificação, a expressão afetiva realizada pelo
indivíduo em contato com a obra de arte, em função da verossimilhança, ou
seja, pelo fato desta representar algo universal ou necessário do ponto de vista
das coisas. Isso leva o sujeito à vivência das emoções geradas pela situação
trágica sem ter que, no entanto, passar pelo próprio evento.
Modulo 16:
Exercícios propostos:
1- E
2- B
3- 25
Questões Enem:
4- E
5- B
Exercícios de Fixação:
1- B
2- A
3- C
4- E
5- D
6- C
7- C
8- D
9- A moral do escravo é negativa, reativa, resultado do ressentimento daquele
que, por não poder se afirmar diante da realidade, só pode negar a vitalidade e
o desejo, a vontade. A moral do senhor, ao contrário, é afirmativa, positiva,
característica do homem forte que diz sim à vontade e que busca sua
afirmação, viver, dominar, permanecer.
10- A afirmação significa que, para Sartre, em razão da sua racionalidade e da
ausência de determinações sobre si mesmo, o homem é condenado a ser livre,
na medida em que ele nada mais é do que o que projeta para si e o que faz de
si mesmo, ou seja, o resultado das suas escolhas pessoais. O homem, em um
primeiro momento, não tem nenhuma determinação, e ao fazer escolhas ao
longo da vida, vai produzindo sua essência.

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