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Filosofia Antiga
A Filosofia Clássica
Revisão Textual:
Aline Gonçalves
A Filosofia Clássica
• Sócrates e os Sofistas;
• O Método Socrático: Procedimento Filosófico e Medicina da Alma;
• Sócrates e o Humanismo – O Humano como Tema e Problema;
• A Moral Socrática;
• Conceito Grego de Areté e de Paideia;
• Helenismo.
OBJETIVO
DE APRENDIZADO
• Conhecer as principais escolas filosóficas do Período Helenístico, as quais estabeleceram
um contíguo de preceitos racionais para o Homem, por meio da ausência do sofrimento,
para chegar à felicidade e ao bem-estar.
UNIDADE A Filosofia Clássica
Sócrates e os Sofistas
O período clássico da história da Grécia Antiga, séculos IV, V e IV a.C., ficou carac-
terizado pelos sofistas e por Sócrates (470-399 a.C.) como o início da fase antropo-
lógica da Filosofia, marcada por uma reflexão filosófica voltada às questões humanas,
pela qual se estabeleceram os fundamentos filosóficos da cultura ocidental, alicerçados
pelo “Conhece-te a ti mesmo” de Sócrates, que se constituiu como a essência de todo
seu ensinamento filosófico posterior.
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Os sofistas (qualquer um que praticasse uma forma de sophia) eram viageiros
entre as cidades gregas, nas quais ofereciam e cobravam pelo ensino de suas habili-
dades, na defesa e na acusação em julgamentos, por isso são considerados os primei-
ros advogados profissionais; eram mestres na arte de bem falar, muitos eram sábios,
sem residência fixa, atuavam como professores itinerantes de algo que hoje podemos
chamar de Filosofia, cobrando pelo que ensinavam; normalmente, ensinavam a arte
da política e, consequentemente, a arte da retórica. Nas democracias gregas, a ca-
pacidade de discursar e de convencer era estimada como o melhor meio de ascensão
social e política.
A predicação do termo "sofista" tem sua origem na palavra grega "sophistēs", deri-
vada de "sophia" e "sophos", com o significado de "sabedoria" e "sábio", respectiva-
mente. Essa predicação foi criada por Homero, poeta da Grécia Antiga que nasceu e
viveu no século VIII a.C., autor de duas das principais obras da antiguidade: os poemas
épicos Ilíada e Odisseia, que a teria usado para delinear uma pessoa habilidosa em
alguma tarefa e, com o tempo, a palavra passou a designar a sabedoria em assuntos
ligados aos humanos, contrapondo-se a assuntos da natureza até chegar a designar
um tipo específico de profissional, o sofista.
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Aristóteles deliberou a sofística como a sabedoria (sapientia) ilusória, não real, dado
os sofistas ensinarem a argumentação a respeito de qualquer tema, mesmo quando os
argumentos não fossem corretos, pois não se interessavam pela busca da verdade, mas
pelo aprimoramento da arte de subjugar discussões; entendiam que a verdade seria rela-
tiva no espaço e tempo em que se insere.
Os sofistas não constituem uma escola filosófica específica, apenas referem uma
prática, uma forma de ser na sociedade; em particular, não são estudados como filósofos
tradicionais, mas sua importância filosófica se fez no sentido de que foram os primeiros
a questionar a sabedoria como uma doação divina; acreditavam que a retórica e a ora-
tória fariam os homens serem mais sábios e virtuosos. Os sofistas exercitavam a crítica
incisiva a seus oponentes, mesmo quando suas posições pareciam difíceis de compro-
vação, o que lhes rendeu críticas contundentes, por manter uma posição apenas de
verossimilhança, ao sustentar argumentos aparentemente verdadeiros, mesmo quando
sabiam previamente que não o seriam. Tendo em conta que, apesar das críticas, a ação
dos sofistas respondia a uma necessidade imperativa a sua época, para o incremento e
a consolidação da democracia na Atenas do século V a.C., a qual requisitava a impres-
cindível habilidade de argumentar em público, defender as próprias ideias e persuadir a
assembleia a concordar com aquilo que os beneficiaria.
A maioria dos sofistas tinha como foco de sua ação um interesse filosófico concen-
trado nos problemas do homem e da natureza, mais especificamente na oposição
entre natureza (phýsis) e cultura (nómos), tal que aquilo que fosse herdado por natu-
reza não poderia ser alterado, como a necessidade que os homens têm de se nutrir, en-
quanto o que fosse informação cultural estaria passível de alterações das mais diversas,
de acordo com a cultura onde estivesse inserido. Para os sofistas, tudo o que concernia
à vida prática, em especial a religião e a política, seria motivado por razões culturais,
logo, poderiam ser modificados. Por isso sempre alocavam normas e hábitos em situ-
ação de ambiguidade, quanto à sua pertinência e legitimidade. Essa condição permite
classificá-los como relativistas, tal a questionar a pertinência das coisas na forma como
se apresentavam; seriam adequadas ou precisariam ser alteradas?
Um dos sofistas mais conhecidos foi Górgias de Leontinos (c. 487-380 a.C.) e, de-
pois dele, Hípias de Élis, Isócrates de Atenas, Licofron, Pródico, Trasímaco, e seu
mais importante representante foi Protágoras de Abdera (c. 490-421 a.C.).
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Figura 3 – Escultura do filósofo Górgias
Fonte: warosu.org
Górgias nasceu em Leontini (atual Sicília, Itália) em 487 a.C. Além de professor de
oratória e retórica, foi embaixador em Atenas. Seu grande foco foi ensinar técnicas de
persuasão, o que lhe valeu o título de “o pai da sofística”, por ser o responsável pela in-
trodução da retórica em Atenas. Defendia a ideia de que a arte da persuasão ultrapassaria
todas as outras, posto que fizesse todas as coisas suas escravas, por submissão espontânea
e não por violência. Originalmente, a retórica seria voltada para a persuasão, porém, com
Górgias, ela se associou à arte de falar com competência, não importando com quem esti-
vesse a razão, mas, sim, quem dominasse a retórica, posto que a “verdade” não existisse.
Sua obra mais relevante tratou da natureza ou do não ser.
Com isso, Górgias tenta excluir a possibilidade de uma verdade absoluta, objetiva
e definitiva, fundamentada em uma suposta correspondência entre o ser e o pensar,
pois não há verdade racional sobre o inexistente, sobre o que é incognoscível e sobre
o que é inexprimível. Com a separação entre o pensar, o ser e o dizer, Górgias abriu
infinitas possibilidades para a retórica, pois não há uma realidade objetiva, tampouco
qualquer conhecimento absoluto ou qualquer discurso que possa pretender repre-
sentar a realidade ou a verdade.
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Protágoras, tal como outros sofistas, ensinava técnicas e métodos para fazer um
argumento frágil se transformar em um forte, ou seja, ensinava a capacidade de fazer
sobressair determinado ponto de vista sobre outro contrário, pois entendia que
a função do sofista seria fazer com que os homens expressassem essa competência.
Dessa forma, não existiria uma verdade absoluta, como não existiriam padrões mo-
rais absolutos, apenas um entendimento sábio para episódios mais oportunos, úteis e
adequados. A sociedade grega era politeísta, mas para Protágoras, que se aproximou
de certo agnosticismo, não se poderia afirmar com segurança pela fé se os deuses
existiriam ou não, dado que esse assunto seria obscuro e a brevidade da vida impediria
se encontrar uma resposta aceitável, dado o Homem ser limitado em seu conhecimento,
cabendo-lhe tão somente a necessidade de ordem e de adaptação ao mundo como lhe é
disponibilizado. Em geral, para os sofistas, seria mais provável que os deuses não exis-
tissem, embora não rejeitassem completamente a sua existência, como o fez Platão, por
exemplo. Portanto, eles estavam mais próximos do agnosticismo do que do ateísmo.
A educação grega, a princípio, se atenuou à existência e à interferência dos deuses nos
destinos da humanidade, não obstante não terem formas e pensamentos humanos.
A definição de alma para os sofistas seria de que ela teria uma natureza passiva e po-
deria ser modelada pelo conhecimento externo, algo relevante para a prática da sofís-
tica, dado que, as pessoas tendo almas passivas, poderiam ser convencidas de quaisquer
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discursos, desde que proferidos de forma sedutora; daí a necessidade de lapidar a técnica
oratória, tal que as pessoas se deixassem naturalmente ser convencidas pelo orador,
ou seja, perderiam a capacidade de refletir ou questionar, envoltas pela habilidade de
argumentar de quem realiza o discurso. Esse era um dos fundamentos da habilidade
de argumentação do sofista, mesmo em teses contraditórias. Essa habilidade envolvia,
ainda, uma estratégia outra, que envolvia ensinar os jovens a defenderem determinada
disposição para, em seguida, defenderem a posição oposta. Essa técnica argumentativa
foi denominada de antilógica, registrada por Protágoras em sua obra Antilogia, onde
pregava ser necessário aprender a argumentar pró e contra determinada posição, pois
todas as duas poderiam ser verdadeiras.
Para os gregos, natureza é tudo o que possui forma física: árvores, casas, animais. Já
aquilo que não se pode medir é considerado metafísico, ou seja, a dimensão humana
do mundo: o ser, o conhecer, o relacionar-se com os outros, os afetos. Esse experienciar
permite um sentimento de conaturalidade com a natureza, permite profundas relações
entre o ser humano e a natureza, por meio dos fenômenos dos quais a essência é
descoberta por um desvelamento, no encontro conflitante entre natureza naturada e
natureza naturante.
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Figura 4
Fonte: terapiametafisica.org.br
O historiador Diogenes Laertios faz uma crítica a Protágoras, lembrando que sua
obra foi queimada em praça pública por atenienses, os quais julgaram que ele corrompia
a juventude, e vai mais longe ao frisar que ele foi o primeiro pensador a afirmar que,
em relação a qualquer assunto, existiriam duas afirmações contraditórias. Platão, com
muita propriedade e lógica, objetou Protágoras, afirmando que se todas as crenças fos-
sem verdadeiras, a própria crença de que nem todas as crenças são verdadeiras também
seria uma verdade.
Conforme Anthony Kenny (2008), um dos responsáveis para que Protágoras se tor-
nasse um dos mais conhecidos sofistas foi o próprio Platão, que respeitou o pensamento
de Protágoras ao ponto de lhe dedicar uma obra inteira, o “Teeteto”, o que mostra que o
filósofo, mesmo sem concordar com o sofismo, respeitou o pensamento de Protágoras.
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Protágoras estaria se referindo às "coisas singulares que se nos aparecem e, assim são
para mim e, aquelas que te aparecem, que são para ti, dado que homem tu és e, homem
eu sou" (TEETETO, 152a). Aparência e sensação são sempre verdadeiras porque "a
sensação é sempre da coisa que é" (TEETETO, 152c).
Segundo Aristóteles, o objetivo dos sofistas seria tão somente vencer o debate, in-
dependentemente da busca pela verdade, o que lhes rendeu o predicado de hipócritas,
razão pela qual a palavra sofisma hoje indica uma argumentação rebuscada e sem fun-
damentação sólida.
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massas indecisas a acreditarem que ser e não ser seriam iguais. Apenas o ser pode
ser pensado, já que o não ser não é. Se eu não consigo ter uma ideia do que a coisa
é, não posso pensá-la, e o que não pode ser pensado não é ser.
Daí Parmênides conclui que só o ser é, e o não ser não é. Dessa verdade ele deduz outras:
1. O ser é todo inteiro! Se o ser tivesse partes, algo nele seria separado, não
fazendo parte do ser, mas isso seria não ser. Consequentemente, o ser, sendo
uno e indivisível, não pode ter parte;
2. O ser é imutável – o ser não pode ter surgido do não ser ou tornar-se não ser,
já que o ser só pode ser idêntico a si mesmo e não pode ser e não ser ao mes-
mo tempo. Acreditar que o ser foi gerado significa dizer que houve um tempo
quando o ser era não ser, o que é contraditório. Logo, o ser é eterno, sem
começo nem fim;
3. O mesmo se aplica ao dizer e ao pensar. Só podemos pensar no que é, pois
só o que é exprime-se em palavras e em pensamentos. Pensar em nada é não
pensar; dizer nada é ficar calado.
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Sócrates, nato em Atenas, de origem humilde, viveu na pobreza, cedendo ao abso-
lutamente necessário para sua sobrevivência e abstendo-se inteiramente de superfluida-
des, tal a manter seu estilo de vida semelhante à sua posição filosófica. Sócrates nada
escreveu e os relatos sobre ele pertencem a seus discípulos e detratores, encontrando em
Platão seu maior representante. De Sócrates se dizia que vagava pelas ruas e praças, na
Ágora ou praça central de Atenas, praça pública onde os problemas de interesse cole-
tivo são debatidos, um espaço onde se reuniam os cidadãos para discutir a vida política
e decidir sobre as ações a serem tomadas, questionando seus compatrícios sobre os va-
lores e ideais que admitiam ao opinarem sobre o mundo e onde reinava a mais absoluta
liberdade de expressão (isegoria).
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como autoridade do orador para influenciar seu público. A integridade, honestidade
e responsabilidade do orador facilitará o acesso de seus ouvintes. O Ethos consiste,
pois, na credibilidade que se deposita no orador, que envolve determinado auditório
a acreditar em uma verdade por ele exposta;
• O Logos, por sua vez, implica o que se vai dizer. Tem a ver com o conteúdo do
discurso selecionado pelo orador, o qual deve apresentar claramente a tese que vai
defender, eleger seus argumentos tal a minimizar hipóteses possíveis de refutação,
iniciando o discurso com os mais contundentes e repetindo-os no final. Trata-se de
um raciocínio lógico por meio do qual se convence o público de uma verdade;
• O Pathos refere-se à população a quem se dirige um discurso, um momento ante-
rior no qual se considera a sensibilidade do auditório, que por certo é composto de
ouvintes com características distintas, o que requer a intuição e estratégias adequa-
das para nele abrolhar as emoções e as paixões indispensáveis para provocar sua
adesão por meio de argumentos racionais, acrescidos de carisma e de habilidades
típicas da oratória, a fim de suscitar paixões e emoções dos ouvintes.
O nada saber em Sócrates tem um duplo significado, primeiro que as pessoas se-
guem opiniões, a tradição, os costumes sem refletir sobre a essência dos valores pelos
quais agem, e o reconhecimento da própria ignorância é o ponto de partida para sair
de um mundo de ilusões e daí buscar o verdadeiro conhecimento. Mas como conhecer a
essência das coisas e dos valores? A resposta implica sua outra máxima, inspirada no pór-
tico do deus Apolo: “conheça-te a ti mesmo”, ou seja, busque saber o que é o Homem,
o qual seria o provedor de todos os valores mundanos.
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Gusdorf confirma que o Homem não se vê a não ser por sua efígie especular:
Sócrates e o Humanismo –
O Humano como Tema e Problema
Sócrates entendia que a sabedoria e sua consequente verdade estariam na essência
íntima do Homem e não fora dele. Portanto, o Homem deveria buscar dentro de si, na
sua alma ou consciência, aquilo que ele é e o que ele deve fazer, já que a sua razão, ao
conhecer, julga corretamente sobre os seres. Por isso afirma-se que o pensamento de
Sócrates está voltado para o Homem, e seria o primeiro tipo de humanismo na história
do pensamento ocidental.
Para Sócrates, a alma é como uma atividade pensante do Homem ético, nela incluso,
pois há consciência e personalidade intelectual e moral, de onde se pode concluir que cui-
dar de si mesmo significaria mais que cuidar tão somente do corpo. No Fédon (1981-a),
Platão alude a Sócrates, o qual afirmava que, na busca da verdade, a alma estaria sempre
enganada por percepções do corpo, por isso estar sempre na condição de erro. No en-
tanto, Platão, ao buscar o inteligível, retoma a teoria da reminiscência, também chama-
da anamnese, em nova configuração, em particular, para conhecimentos matemáticos,
onde conclui que com os sentidos se constata a existência de coisas iguais, maiores e me-
nores, quadradas, circulares e outras análogas. Platão vai além no Filebo, onde apresenta
o traço da origem sensível na memória, enquanto no Teeteto mostra o traço de origem
inteligível e, assim, direciona a memória ao reconhecimento das essências e do universal,
para concernir à realidade perceptível.
No Fédon (1981-a), Platão reaviva Sócrates, que, na busca da verdade, afirmou ser a
alma enganada por percepções do corpo, por isso sempre na condição de erro. No entan-
to, Platão, ao buscar o inteligível, retoma a reminiscência em nova configuração, em par-
ticular, para conhecimentos matemáticos, onde conclui que, com os sentidos, se constata
a existência de coisas iguais, maiores e menores, quadradas, circulares e outras análogas.
Sócrates nominou de Maiêutica um procedimento filosófico, ou, como ele a chama-
va, uma medicina para a alma, o seu parto da verdade ou a arte de “parir o saber”, uma
práxis dialectica por meio da qual ele fazia seu interlocutor perceber a inconsistência de
seu discurso (PLATÃO, 2014).
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A Maiêutica socrática implicava Sócrates ser um questionador permanente,
incansável e irritante, posto dialogasse com todos e sobre vários contextos. Interrogava
as pessoas sobre as coisas que ele hipoteticamente achasse que deveriam saber e acabava
por descobrir que elas nada sabiam, mais parecia querer ele mesmo queria aprender com
o seu locutor. E se o interlocutor respondesse a alguma questão, novamente, Sócrates
propunha uma série de questões outras, tal que, com a continuação do diálogo, ele
acabaria por conduzir seu interlocutor a se lembrar do que já sabia, porque Sócrates
tinha em mente que a sabedoria estava dentro dos indivíduos, seria inata; costumava
afirmar que da mesma maneira que sua mãe, uma parteira, ajudava as crianças a virem
à luz, um método de argumentação, preconizado para desvendar o conhecimento
humano, como se ele estivesse latente, ou seja, ele seria um parteiro de homens, faria
nascer o “conhecimento” que já estava dentro das pessoas ao se fazer um caminho
através da dialética, a fim de, pela refutação, buscar o “conhecimento” ainda que fosse
aquele consignado na consciência da ignorância. O diálogo socrático era composto por
duas fases: a primeira envolvia Sócrates interrogar as pessoas para depois contestar suas
respostas, e a segunda na qual ele evidenciava as contradições afirmadas, quando então
novos problemas surgiam.
Sócrates tem um grande mérito pelo fato de ter conduzido o estudo da natureza em
si, para o estudo da natureza do Homem, ao se abstrair da física pura e se preocupar
apenas com as coisas morais; assim, a antropologia socrática seria a essência reguladora
da conduta humana, orientando-a no sentido do bem, e essa seria uma virtude do co-
nhecimento racional, razão pela qual se faz objeto de ensino e apreensão humana. Para
Sócrates, o conjunto de saberes envolve virtudes várias e implica o poder da alma sobre
o corpo, a temperança ou, principalmente, o domínio de si mesmo.
A Moral Socrática
A Moral Socrática envolvia uma Isonomia, tal que o estado grego fosse regido por um
princípio geral do direito segundo o qual todos são iguais perante a lei, sem que existissem
quaisquer distinções entre indivíduos em uma mesma situação. Dessa condição surgiu
o relativismo moral, no qual a democracia grega se degenerou e para o qual Sócrates
pregava a necessidade de um método simples de solução, apenas conhecer o suficiente
antes de se falar a respeito, ou seja, a democracia grega pressupunha uma isonomia ou
igualdade entre os cidadãos, certificar o conhecimento real e preparar o povo para
que expressassem suas opiniões e interesses em assembleia, de modo a construir
uma comunidade sadia. No entanto, uma desordem se estabeleceu e redundou na
inquisição de Sócrates, o conhecido escândalo do logos, pelo qual a política interna
perdeu seu vínculo com a sociedade democrática, perdeu a sua consubstancialidade,
no que a prioridade política se revestiu de uma ferramenta política que visava tão
somente convencer o seu adversário por meio de teses adversas; ensino derivado de
práticas sofistas.
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Conceito Grego de Areté e de Paideia
O surgimento da Areté demonstrou que a antiga educação grega abalizada na
ginástica, na música e na gramática não mais seria suficiente, quando então educação
física, oratória, retórica, ciência, música e filosofia, além de educação espiritual,
mostrou-se como um importante artifício da Paideia grega, palavra derivada de
paidos = criança, que significava, a princípio, a "criação dos meninos", conceito que
se alterou e passou a identificar a educação integral para a formação de um cidadão
virtuoso e capaz de desempenhar qualquer função na sociedade, com o objetivo geral
de construir o Homem enquanto Homem e cidadão. Como cita Jaeger (1995), os
gregos nominaram de paideia:
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Para Platão, tudo o que concerne ao mundo dos sentidos acaba por se corroer e se
desintegrar no tempo, pois tudo que é perceptível se faz como cópias imperfeitas de
modelos espirituais, daí a necessidade de afastamento do mundo concreto e de busca
pela sua essência.
Helenismo
Após o período socrático, surgiu o que se convencionou chamar historicamente de
helenismo, período que teve como principal característica, além da expansão territo-
rial, a assimilação dos principais traços culturais entre o mundo ocidental e o mundo
oriental da Antiguidade, e referente ao conhecimento filosófico produzido no período
entre a morte de Alexandre III Magno (356-323 a.C.), ou Alexandre, o Grande, rei
da Macedônia, conquistador do Império Persa e um dos mais importantes militares do
mundo antigo, e o início da filosofia medieval, que marcou a transição da civilização
grega para a romana, que lhe inoculou sua extensa força cultural, inaugurando um pe-
ríodo marcante da ciência e da erudição. Essa era corresponde ao período que vai de
Alexandre Magno, o macedônico, que estendeu a influência grega desde o Egito até a
Índia, até o da dominação romana (fim do séc. IV d. C. ao fim do séc. I d.C.). A principal
característica desse movimento, foi a fusão entre a tradição grega e a cultura oriental,
com a disseminação do pensamento grego por todo o seu entorno.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Filmes
Sócrates
Assista ao filme “Sócrates” (em italiano: Socrate; dir. de Roberto Rossellini), um
telefilme hispano-franco-italiano de 1971, do gênero drama biográfico-histórico,
com roteiro de Renzo Rossellini, Marcella Mariani e do próprio diretor, com base
na vida e nos pensamentos do filósofo Sócrates.
https://youtu.be/EybU4HEe-gU
Hipátia de Alexandria
Assistir ao filme Hipátia de Alexandria, a mártir da Ciência, no qual aparecem
as discussões na Ágora. O filme Ágora (Brasil: Alexandria/Portugal: Ágora) é o
título de um filme espanhol dirigido por Alejandro Amenábar, lançado na Espanha
em 9 de outubro de 2009. O filme é estrelado por Rachel Weisz, Max Minghella
e Oscar Isaac, relata a história da filósofa Hipátia, que viveu em Alexandria, no
Egito, entre os anos 355 e 415, época da dominação romana. Uma das mentes
mais brilhantes da Antiguidade, a cientista pagã foi linchada até a morte, acusada
de bruxaria pelos cristãos.
https://youtu.be/7l8kDV6-Oys
Leitura
Hamlet
Analise o texto de Hamlet, obra de Shakespeare, e compare com a fala de Sócrates
(texto retirado da apresentação: “Suprassunção, História e Liberdade em Hamlet -
Há mais coisas entre Shakespeare e Hegel do que suporia a vã filosofia” Semana
Acadêmica do PPG de filosofia da PUCRS, 2015, p. 31), de Antonius A. Minghetti.
https://bit.ly/36ajJ9d
Homem Vitruviano
Analise a obra Homem Vitruviano, nome de um desenho icônico feito por Leonardo
da Vinci (1452-1519), que representa o ideal clássico do equilíbrio, da beleza, da
harmonia e da perfeição das proporções do corpo humano, criado e desenvolvido
pelo arquiteto romano Marcos Vitrúvio Polião, autor de “Dez Livros sobre a
Arquitetura” (De Architectura Libri Decem, em latim). Compare essa obra com o
Humanismo desenvolvido por Sócrates.
https://bbc.in/3t1Z2pB
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Referências
AGOSTINHO, S. As confissões de Sto. Agostinho: retóricas da fé. Lisboa: Editora da
Universidade Católica, 2007.
BRAY, H. Sofistas e Platão. Blog Jornal de Filosofia, 20 jan. 2012. Disponível em:
<http://jornaldefilosofia-diriodeaula.blogspot.com/2012/01/os-sofista.html>. Acesso
em: 06/10/2020.
CHAUI, M. Dos pré-socráticos a Aristóteles. 2. ed. São Paulo: Cia. das Letras, 2002.
JAEGER, W. Paideia: a formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes, 1986.
KENNY, A. Uma nova história da filosofia ocidental: filosofia antiga. São Paulo:
Loyola, 2008.
KERFERD, G. B. O movimento sofista. Trad. Margarida Oliva. São Paulo: Loyola, 2003.
KRAUT, R. (org.). Aristóteles: a ética a Nicômaco. Porto Alegre: Artmed, 2009. (e-book)
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PATRÍCIO, M. F. Perenidade da Aretê como horizonte apelativo da Paideia. Sobre a
excelência em educação. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, v. 8, n. 2,
p. 287-295, s/d. Disponível em: <https://rpcd.fade.up.pt/_arquivo/artigos_soltos/
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PLATÃO. A República. Trad. Maria Helena da Rocha Pereira. 7. ed. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian, 1993.
________. Protágoras. In: Diálogos I: Teeteto, Sofista, Protágoras. Bauru, SP: Edipro,
2007.
________. Górgias. Trad., apresentação e notas Jaime Bruna. 2. ed. Rio de Janeiro:
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