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PT E SOCIAL-DEMOCRACIA:
São Carlos - SP
2020
São Carlos - SP
2020
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
Folha de Aprovação
Defesa de Dissertação de Mestrado do candidato Matheus Haruo Beker, realizada em 05/06/2020.
Comissão Julgadora:
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil
(CAPES) - Código de Financiamento 001.
O Relatório de Defesa assinado pelos membros da Comissão Julgadora encontra-se arquivado junto ao Programa de
Pós-Graduação em Ciência Política.
AGRADECIMENTOS
This research aims to answer the following question: does the Workers Party
act as a social democratic party? The objective is to assess whether the party had
social democratic characteristics in its party trajectory and in the policies implemented
while it was in the federal government. To contemplate this objective, we will employ
the study of social democracy characteristics and the trajectory of its parties relating
these aspects to the PT trajectory and its actions in front of the executive. Our analysis
concludes that the purpose and the way in which the PT ruled, along with the analysis
of PT's trajectory, indicate that the party has sufficiently social-democratic elements,
although not fully satisfying the social-democratic ideal type. A secondary objective is
to discuss the methodology regarding the study of social democratic parties, mobilizing
different elements from that used by traditional literature and making notes on a
different methodology. Studying and understanding the ideology that guided the PT
during the government is of great value to political science since the party has
constituted itself as the main left force in Brazil in recent decades, thus the expected
contribution is to assist future studies in understanding the Brazilian political system
and the strategies employed by PT in the past, present and future.
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE GRÁFICOS
LOPP: Lei Orgânica dos Partidos Políticos (Lei n. 5.682, de 21 de julho de 1971)
VII
SD: Social-Democracia
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 1
5. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 87
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 88
1
INTRODUÇÃO
Neste inquieto cenário uma declaração, que em outros tempos originaria certa
reação, passou despercebida. No dia 08 de outubro os candidatos Fernando Haddad
(PT) e Jair Bolsonaro (PSL), que haviam então chegado ao segundo turno das
eleições, foram convidados a uma breve entrevista no Jornal Nacional. Haddad, logo
no início de sua entrevista, disse:
Não é trivial que o candidato à presidência pelo PT diga, em rede nacional, que
“seu lado” é o da social-democracia. Fato é que o PT sempre rejeitou usar esta
denominação e os debates acerca do rótulo ideológico que deveriam ou não adotar
sempre foram muito vívidos, e a resposta usual era não importar uma ideologia
“pronta”. Ainda, o principal rival dos petistas durante 6 eleições presidenciais foi o
PSDB, sigla que se denomina social-democrata2.
1Cf. https://www.youtube.com/watch?reload=9&v=j1NxD7Yhj98
2Mesmo que seja o Partido da Social-Democracia Brasileira muito se discute se de fato o partido já foi
algum dia social-democrata Cf. Vieira (2016).
2
Tal aversão, no entanto, nunca arrefeceu a disputa intelectual, tanto fora quanto
dentro do partido com relação à sua definição ideológica. Enquanto alguns defendiam
que o PT não incorporaria rótulos, sendo antes “pós-social-democrata” e “pós-
comunista”3, preferindo construir um “Socialismo Petista”4, outros defendem a
incumbência do partido em reclamar sua natureza social-democrata5. A fundação do
PT se deu em uma conjuntura bastante específica que, no final das contas, balizou
em grande medida sua relação com as ideologias tradicionais do campo da esquerda
na época. Por um lado, por conta da luta social de sua base contra a ditadura militar
brasileira e a favor da democratização do sistema político, o PT rejeitava a
centralização do poder observada na URSS e na teoria leninista. Por outro, seus
fundadores observaram a decadência dos partidos social-democratas europeus e sua
paulatina aproximação com uma gestão econômica liberal e austera durante os anos
1970 e 1980. Dessa forma há de se compreender o desejo de fugir de rótulos prontos,
preferindo antes criar um certo socialismo, um “socialismo petista”, como indicam os
documentos do partido.
3 Cf. GARCIA, Marco A. "A Social-Democracia e o PT", Teoria & Debate, n° 12, novo 1990. Disponível
em: http://csbh.fpabramo.org.br/o-que-fazemos/editora/teoria-e-debate/edicoes-anteriores/opiniao-
terceira-social-democracia-e-o-pt
4 Cf. Partido dos Trabalhadores. “O socialismo petista”. Documento aprovado no 7° encontro nacional
6 Tradução própria. Excerto original, com destaque do trecho citado: “By contrast [do institucionalismo
sociológico e da escolha racional], historical institutionalists are more inclined to view institutions as
objects of active reinterpretation, and often of overt contention, as actors seeking power or
resources take advantage of their contradictory potential.”
4
Estudar o PT, que é uma das maiores siglas do país, bem como seu governo,
que administrou o executivo nacional por mais tempo do que qualquer outro partido
no período pós-1988, é de grande importância para o entendimento do sistema político
e do sistema partidário brasileiros. Especificamente o estudo da ideologia que pode
ter balizado as escolhas do partido, como é o caso desta dissertação, tem o potencial
de esclarecer as motivações e as razões das políticas públicas da era petista, da
natureza das relações e alianças com outros partidos nacionais e governos
internacionais, bem como do emprego das estratégias eleitorais e condutas
intrapartidárias de sua base e de seus líderes. Por fim, esta dissertação aspira não
somente atingir os objetivos propostos, mas também contribuir para com as futuras
investigações cientificas relacionadas ao PT, à social-democracia e ao sistema
partidário, mesmo para que seja contrariado.
7
Reis utiliza o argumento de Manin (1989), de que a SD ainda tem como norte
o socialismo e que essa busca pelo socialismo funciona como um guia para as ações
da SD, ou seja, as escolhas da SD seriam balizadas por esse objetivo que é tomado
conscientemente como distante e mediato, rejeitando portanto a ideia de que a SD
8
visa apenas a reforma do capitalismo. Dessa forma a SD entende que é preciso agir
dentro do sistema capitalista, e a partir da institucionalidade democrática, afim de
maximizar ganhos no sentido do socialismo. Uma das tarefas da SD, visto que sua
ação é limitada pela institucionalidade e pelas relações sociais e econômicas de seu
contexto, seria a de pautar pelo relaxamento destes limites estruturais. O argumento
de Reis, neste sentido, é de que o fato da SD ter alterado a natureza de suas pautas
políticas ao longo do tempo não se deve à uma diluição ideológica, antes é produto
de sua adaptação ao contexto histórico visando melhor adequação de sua ação ao
socialismo pela via democrática.
7 First of all, the construction of parties of the social-democratic type as parties of the working class (in
close liaison with the trade unions); next – and simultaneously – the working-class movement’s
encounter with democracy, wich assumed different forms depending on the country; in the third place,
the tendency of working-class parties – whose origin as oustiders, as it were, stuck to them – to let
themselves be integrated into the capitalist system; and finally, the tendency of the social-democratic
parties, initially largely restricted to the dimensions of a single social class, to become great working-
class/popular formations whose horizons were no longer limited exclusively to the working class.
11
local não permitir sua existência ou o direito de greve, principal instrumento de luta.
Essa situação mudaria, de maneira geral, mais para o final do século, por duas razões:
a primeira consiste na ascensão do marxismo, que, segundo Pelz (p.84), forneceu
“(...) uma estrutura que permitiu que a pessoa comum compreendesse e interpretasse
as tensões da sociedade industrial.” (tradução própria)8. Este fato fez com que os
trabalhadores agissem não apenas tendo em vista suas reivindicações imediatas, mas
também adicionou um elemento ideológico que fortalecia o ímpeto para suas
contestações, bem como possibilitou que líderes socialistas tivessem lugar e voz nos
sindicatos, auxiliando estes na mobilização da massa operária e criando um vínculo
entre eles.
Outro fator de importância, que mudou tanto a força dos sindicatos como
agentes da sociedade civil quanto sua relação com os partidos socialistas, foi a
ampliação do sufrágio, que ocorreu em diversos países europeus ao longo do século
XIX9. Este fato é de grande relevância pois fez com que, dado os objetivos e o
entendimento acerca do mundo serem semelhantes, socialistas e operários
passassem a trabalhar em conjunto para eleger representantes de seus interesses no
parlamento, criando o vínculo entre os sindicatos e os partidos que viria a ser a base
dos social-democratas.
8 “Socialism provided a framework that allowed the average person to understand and interpret the
tensions of industrial society”
9 Nos casos francês e alemão essa foi uma estratégia adotada por Napoleâo III e Bismarck para
A SD, dessa forma, criaria um entendimento teórico que une seus fundamentos
ideológicos à disputa eleitoral e ação política no parlamento. Para representar os
interesses dos trabalhadores o partido atuaria no parlamento, para tanto deveria
competir eleitoralmente. Dado que depende da participação e do voto dos
trabalhadores a missão do partido torna-se, também, lutar pelo sufrágio e
fortalecimento dos mecanismos democráticos. Uma vez no parlamento o partido
empenha-se por maior participação democrática e pela melhoria das condições de
vida do proletariado, fortalecendo assim o vínculo com seu eleitorado, formando, ao
menos na teoria, um círculo virtuoso.
12Os embates entre, de um lado, Kautsky e Bernstein e, de outro, Lênin e Rosa Luxemburgo, serviram
de pontos de afirmação de diferenças entre comunistas e social-democratas. Cf. Motta (2018)
14
13“Socialist parties initially understood themselves as class parties engaged in class struggle, drawing
upon class solidarity to defeat their class enemies. But the breakthrough for social democracy arguably
occurred when they abandoned this self-conception, and redescribed themselves as a ‘people’s party’
representing the nation as a whole and appealing to solidarity amongst co-nationals as a basis for social
justice.”
17
classe e, portanto, nos sindicatos e nos partidos com base trabalhista (ESPING-
ANDERSEN, 1988).
Para Giddens o Estado não tem o papel de prover universalmente aos cidadãos
os direitos sociais, mas sim de protege-lo das vulnerabilidades decorrentes da miséria,
ou seja, as políticas de bem-estar devem estar associadas apenas aos mais
necessitados, e que estes devem ser os responsáveis por superar a sua condição de
pobreza para buscar melhores serviços de saúde e educação, aproximando o modelo
ao welfare state liberal. Estes fundamentos limitam a desmercantilização que
discutimos anteriormente. Navarro (1999) argumenta que a posição da terceira via
coloca a SD modernizada de Giddens no campo do social liberalismo ou de uma
democracia cristã ao invés da SD.
Assim como Reis chama atenção para a questão ideológica e não apenas
histórica, acreditamos que esta é uma parte importante para definir a SD e seus
partidos. Consideramos que, para tal, um indicador compatível com nossos objetivos
é avaliar as posições tomadas pela SD em momentos cruciais de sua existência,
25
Esta dissertação afilia-se à visão de Reis (2012; 2013) sobre a forma de análise
dos partidos social-democratas. Temos, no entanto, algumas considerações teóricas
e metodológicas que visam propor um aperfeiçoamento, ainda que mínimo, da
proposta por Reis. O entendimento de Przeworski (1989) e de Kitschelt (1994),
criticada por Reis, baseia-se na ideia de, devido às mudanças sociais e econômicas
nos anos 1970 e 1980 é impossível a SD continuar a operar do mesmo modo e, devido
à natureza da ação social-democrata que pressupõe períodos no governo e portanto
a vitória eleitoral, ela estaria fadada ou a operar sob uma plataforma de partido de
gueto, caso continue com suas pautas antiquadas, ou então à desfiguração, dado que
a mudança necessária aos partidos social-democratas para continuar competindo os
colocaria fora do espectro socialista.
Como já discutido, o fato da SD ter de mudar seu modo de ação não significa
que haja uma desfiguração tal que resulte no seu desaparecimento, afinal as
ideologias são produtos da ação humana e estão sujeitas ao espírito de sua época14,
sendo consequentemente alteradas preservando a essência que as distingue.
Entender que a SD estaria fadada ao ostracismo ou à deformação é reflexo do ato de
tomar a definição de SD a partir daquilo que os social-democratas fizeram no contexto
europeu do século passado, e não a partir de sua visão de mundo fundamental. O
entendimento social-democrata acerca do Estado, da economia, da sociedade e da
finalidade de sua política é que produzem as ações social-democratas.
14Para usar do conceito hegeliano de zeitgeist. Cf. HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Fenomenologia
do espirito. Petropolis: Vozes, 1992. 358 p. (Colecao Pensamento Humano).
26
A tensão entre a disputa dos puristas e dos pragmáticos preveniria que o partido
pendesse excessivamente para um desses lados e, portanto, deixasse de ser social-
democrata. Nosso entendimento é de que esta tensão, ainda que seja elemento que
estruture os partidos social-democratas endogenamente, deve ser extrapolado para o
entendimento também de sua ação diante de elementos contextuais na sua
governação. Dessa forma as pressões e os posicionamentos da SD diante dos
15 […] parties choose from a continuum of options located between polar alternatives represented by a
logic of constituency representation and a logic of electoral competition. A logic of constituency
representation is inspired by the ideologies and political practices of core supporters. Faced with a
tradeoff between breadth of popular appeal and ideological purity of policy and strategic stances, they
prefer the latter. A logic of electoral competition, however, means adjustment of internal organization,
program, and strategy to the conditions of the "political marketplace" to maximize electoral support.
27
A) CARACTERÍSTICAS ESTÁTICAS:
III) Reformismo
B) CARACTERÍSTICAS DINÂMICAS:
VI) Desmercantilização
maior ou menor ênfase à sua consecução dependendo da oscilação dada pelo pivô
pragmatismo/purismo. A figura a seguir busca ilustrar esta dinâmica.
tendo como vice o empresário José Alencar do Partido Liberal (PL), bem como pela
já conhecida “Carta ao Povo Brasileiro”, onde Lula se compromete a conservar os
preceitos econômicos neoliberais da gestão anterior e a negar qualquer tipo de
ruptura, declamando o “espírito do Anhembi” como diz Singer (2010). Na
administração a coalizão de governo também seguiu a mesma lógica de conciliação
de classes, no intuito de garantir a governabilidade, fazendo alianças com partidos de
ideologias diferentes, tais como: PMDB, PP, PC do B, PDT, PRB, entre outros.
Esta trajetória, no que concerne à história do partido, de seu programa e de
sua organização, será detalhada neste capítulo. Tendo em vista nossa abordagem e
os objetivos deste capítulo, se faz necessária uma contextualização dos elementos
que tiveram impacto na forma, ideologia, intenção e decisão de criar o PT.
em março daquele ano e que já havia anunciado a “lenta, gradual e segura distensão”
do regime. Tal distensão tinha como objetivo a progressiva retirada dos militares do
protagonismo político preservando a sua instituição num governo democrático, bem
como assegurar que não haveria uma irrupção violenta na sociedade (LAMOUNIER,
1988).
A transição democrática brasileira seria demorada, altamente controlada pelo
regime autoritário e notadamente aversa a mudanças abruptas, sendo que o processo
iniciado em 1974 proveria indiretamente o primeiro presidente civil 11 anos depois, e
a primeira eleição presidencial direta somente após 15 anos. Kinzo (2001) divide a
transição basicamente em 3 fases. A primeira, de 1974 a 1982, foi a fase de maior
controle por parte do regime, ainda que logo em 1974 tivessem ocorrido avanços
liberalizantes em termos eleitorais e de afrouxamento da censura, ainda estava em
vigor o AI-5 e diversos outros mecanismos de repressão. Segundo a autora, três
fatores influenciaram fortemente o escopo e a natureza da transição neste início: I) o
aspecto eleitoral, que demonstrou a força do MDB nas eleições de 1974 enquanto
agente político na transição, o que deixaria claro ao regime que para manter controle
do processo de liberalização deveria também controlar o MDB; II) a disputa interna
dos militares que, com o processo de distensão, viam aumentar o atrito entre a “linha-
dura” e os castelistas, exigindo de Geisel ora atos repressivos, para satisfazer a ala
da linha-dura, ora controlá-la através, por exemplo, da demissão do ministro Sylvio
Frota que tentava a sucessão de Geisel na presidência em detrimento de João
Figueiredo; e III) o aspecto econômico, que demonstrou a incapacidade do regime de
manter os indicadores do “milagre econômico”, tendo a inflação e a dívida pública
aumentado significantemente no período. Estes três aspectos fortaleceram
A anistia e a Lei Orgânica dos Partidos Políticos viriam a ser pontos cruciais na
formação do PT e seus anos iniciais, o que será discutido na próxima seção. Por
enquanto vale ressaltar que o fim do bipartidarismo, além de cumprir com a intenção
35
de liberalização, foi uma estratégia do regime para diluir a oposição antes concentrada
no MDB, com vistas a manter a transição sob controle.
A segunda fase da transição democrática, compreendida entre 1982 e 1985,
talvez tenha sido a mais crítica em termos de estruturação do sistema político e do
sistema partidário nos anos que viriam. Com a reinstituição do pluripartidarismo em
1979, as eleições de 1982 tiveram o PDS (representante do regime) como o grande
vencedor. A oposição, no entanto, mostraria sua capacidade eleitoral ao eleger pouco
mais da metade da câmara federal17, o que acabou forçando o regime a negociar com
deputados dissidentes para posteriormente assegurar maioria.
Em 1983 o então deputado Dante de Oliveira apresenta o projeto para
realização de eleições diretas para presidente no ano de 1984, substituindo os planos
do regime de uma eleição indireta a ser realizada em 1985, o que levou à mobilização
popular na campanha conhecida como “Diretas Já”. Após o sucesso do governo em
barrar a medida “à oposição restava duas saídas: buscar simpatizantes dissidentes
dentro do governo; ou romper as regras do jogo através da mobilização da sociedade
civil” (Kinzo, 2001, p.6). Os esforços por parte do PMDB se concentraram em viabilizar
a candidatura de Tancredo Neves à presidência no processo indireto de 1985 através
de um acordo com a Frente Liberal, que colocaria José Sarney na posição de vice de
Tancredo. O PT posicionou-se contra a negociata e absteve-se do processo indireto,
inclusive expulsando 3 deputados que votaram em Tancredo.
Após a vitória do PMDB e a morte de Tancredo antes mesmo de sua posse,
José Sarney, ex-liderança do PDS, lideraria o país no primeiro governo civil em 20
anos. O saldo da posição moderada e da negociação empreendida pelo PMDB seria
positiva pelo fato de ter conquistado a vitória nas eleições indiretas, no entanto, viria
a destacar o PT pela sua posição mais crítica à não representatividade e ilegitimidade
do colégio eleitoral em escolher o primeiro presidente civil por um processo negociado
e que, no final das contas, resultou na presidência de Sarney que era
reconhecidamente uma figura representativa do regime militar e que teria um
desempenho insatisfatório no executivo.
A última fase da transição democrática ocorreu entre 1985 e 1990, e ficou
marcada pelo processo constituinte e pela primeira eleição direta para presidência
17.
O PDS elegeria 235 deputados; PMDB 200; PDT 23; PTB 13 e PT 8, totalizando 244 votos para a
oposição.
36
18 Segundo dados do IPEA, o salario mínimo real entre abril de 1964 (início da ditadura) e outubro de
1973 (final do milagre econômico) teve redução de 40,8%. Fonte: IPEA
http://www.ipeadata.gov.br/ExibeSerie.aspx?serid=37667&module=M
38
que o PT se mostrou um partido único e inovador neste sentido, garantindo à sua base
o poder de participar. Esta qualidade, no entanto, teria seu auge logo no início de vida
do PT e apenas se deterioraria, qualitativamente falando. A próxima seção tratará
destes aspectos.
A Lei Orgânica dos Partidos Políticos (LOPP) de 1979 estabelecia de que modo
os partidos deveriam requerer seu registro oficial. A primeira etapa consistia no
requerimento junto ao tribunal eleitoral pelo reconhecimento provisório do partido.
Para tanto era necessária a apresentação de documentação que comprovasse a
existência de uma comissão provisória nacional, bem como comissões provisórias
estaduais e municipais, além da publicação do manifesto partidário, estatuto e
programa. Satisfeitos esses pontos o partido tinha então o prazo de 12 meses para
realizar uma convenção nacional e estabelecer um diretório nacional, para tanto seria
preciso realizar convenções em um quinto dos municípios de ao menos 9 estados,
como é dado pelos artigos 9° e 12 da LOPP:
Apesar das dificuldades impostas pela LOPP de 1979, claramente com intuito
de fragmentar e dificultar a oposição ao regime, o PT se apoiaria em sua base e na
potência de mobilização desta para encarar o desafio de oficializar o partido, que
conseguiria em 1981 o registro definitivo. Grupos de esquerda, inclusive da luta
armada como a Liberdade e Luta (Libelu), teriam papel fundamental na organização
inicial do partido com panfletagens e recrutamento de militantes (MENEGUELLO,
1989).
42
conquistaria 235 cadeiras (49%), o PMDB 200 (41,7%), PDT 23 (4,8%), PTB 13 (2,7%)
e o PT 8 (1,6%)26, sendo que 6 destes foram eleitos por São Paulo, onde o partido
tinha maior base.
Na época concorriam as ideias de, por um lado, levar a cabo uma estratégia
eleitoral tendo em vista a vitória de cargos públicos e, de outro lado, colocar a vitória
eleitoral em um segundo plano, resguardando o partido de desvios em seu percurso
a favor dos ganhos eleitorais:
30 Ibidem
46
jornada de trabalho e direitos humanos (DE HOLANDA, 2011). Seu poder político, no
entanto, era bastante limitado, o que fez com que várias propostas petistas, que
também eram vistas como radicais, não entrassem na Carta Magna. Em
consequência o partido apresentaria sua própria versão da constituição e decidiria
votar contrariamente à versão apresentada oficialmente pelo relator.
31 Ver: http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2013/10/solenidade-comemora-os-25-anoSDa-
constituicao-brasileira.html
48
trabalhadores, mas não definia com clareza sua alternativa. Também era contrário ao
corporativismo característico do trabalhismo varguista, sendo essa uma das bases da
crítica petista ao PDT de Leonel Brizola. Essa democracia petista, de caráter liberal,
e a ideia de que era preciso ocupar as instituições democráticas para fazer as
mudanças políticas propostas levava à indagação das alianças eleitorais, do qual o
mesmo documento trata:
O programa do partido para estas eleições, segundo Amaral (2003), ainda que
não deixasse claro os conceitos de democracia e de socialismo, demonstrava
nitidamente a sobreposição da visão de que o socialismo deveria ser pautado pela
construção institucional democrática, não indicando uma opção petista pelo processo
de ruptura e revolução violenta. A disputa interna que balizava estas questões ajudou
49
32 Para uma descrição mais detalhada ver: Partido dos Trabalhadores. Regulamentação das
Tendências Internas. Anexo do 5° EN. 1987. Disponível em https://fpabramo.org.br/csbh/wp-
content/uploads/sites/3/2017/04/01-anexo.pdf
51
Outro aspecto que impactaria o partido, e que contribuiu para a crise na direção,
seria a experimentação paulatina do poder. Os petistas eleitos e os grupos
intrapartidários a eles ligados demandavam maior flexibilidade na construção de
alianças, tanto para poder governar (no caso dos prefeitos), quanto para ter alguma
influência no processo decisório (no caso dos deputados), enquanto que os grupos
mais à esquerda, ligados eminentemente à base do partido, acreditavam que as
concessões políticas desviariam o PT de sua missão.
Nacional em 2017:
(cont.) “O mundo caminha para o aumento acelerado dos conflitos entre o imperialismo e os países
dependentes, entre os super-ricos e uma crescente maioria empobrecida. Por isso mesmo, a dinâmica
atual do capitalismo é cada vez mais autoritária e incorpora, de modo crescente e permanente,
ameaças às liberdades democráticas. As políticas de superausteridade esvaziam os regimes de bem-
-estar social e impõem novas formas de exclusão social e aumento acelerado da desigualdade. Esse
mundo não pode ser compreendido e nem superado, se não empreendermos a crítica radical do
capitalismo e a defesa do socialismo democrático, recolocando essa perspectiva como motor de nossas
ações.”
52
Estas pressões ambientais causaram uma crise no partido pois, ainda que os
processos decisórios intrapartidários sempre estiveram fragmentados, a tendência
“Articulação”, que vinha sendo majoritária desde 1983, controlando as comissões e os
diretórios, via-se diante de uma gestão mais heterogênea, onde os grupos mais à
esquerda compartilhavam do poder. Além disso a própria Articulação estava dividida
com relação a essas pressões externas, o que não ajudou nas eleições do 6° Diretório
Nacional, em 1993, onde a chapa de esquerda ganharia o maior número de cadeiras.
A então gestão de esquerda, dividida entre vários grupos pouco coesos, faria
com que a estratégia para as eleições de 1994 reafirmasse a intenção socialista do
PT, porém com palavras de ordem demais e soluções práticas de menos. A recusa
da direção de fazer alianças ao centro e de construir o programa conjuntamente aos
parceiros da coligação (PCB, PC do B, PSB, PPS, PV e PSTU) rendeu críticas de
importantes setores partidários, como nota Ribeiro:
Como nota Amaral (2003) a campanha pode ser dividida entre pré-julho, onde
Lula teria considerável vantagem nas intenções de voto, deixando vários setores
petistas convencidos da vitória, e pós-julho, onde o sucesso do Plano Real alavancaria
Fernando Henrique Cardoso à cadeira presidencial ainda no primeiro turno. O PSDB
formaria uma coligação com o PFL que:
O resultado foi acachapante para o partido, da vitória certa para a derrota ainda
no primeiro turno. Tal cenário foi terreno muito favorável para a Articulação tecer
críticas contundentes à direção do partido. A mais utilizada seria sobre a incapacidade
da direção de reagir aos efeitos positivos do plano real na economia e na opinião
pública. O PT havia se posicionado contrário às medidas propostas por FHC e seu
time de economistas, o sucesso do plano e a falta de alternativas a ele por parte do
PT fez com que a campanha de Lula desfalecesse. Tal fracasso permitiria a volta da
Articulação ao comando do PT e a uma mudança radical na relação de forças dentro
partido.
alianças, procurar o petista que é só eleitor, que não é militante".35 Até o final da
década este estilo de gestão proveria três importantes mudanças ao partido.
35 https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/9/18/brasil/25.html
36 14% do eleitorado identifica-se com o PT, segundo pesquisa Datafolha de abril de 2019. Ver:
http://media.folha.uol.com.br/datafolha/2019/04/08/574c277a171a64f166dee28d083f08cfab2.pdf
55
Povo Muda Brasil, que teria Lula candidato a presidente e Leonel Brizola como
candidato a vice. O programa, como nota Amaral (2003), ainda que tivesse
predominância do PT, pela primeira vez havia sido construído em conjunto com os
partidos da coligação, e colocava proposições administrativas e a aptidão para um
eventual governo em destaque, num claro esforço da oposição ao contexto do
governo FHC.
37“PT concede quase tudo para "última cartada" de seu líder”. FSP, 6 de outubro de 2002. Disponível
em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0610200213.htm
57
Fica evidente a preocupação não apenas com a vitória nas eleições, mas
também com a governabilidade, a saída seria a construção de alianças eleitorais que
possibilitariam não apenas o apoio nos redutos estaduais, mas também uma coalizão
capaz de prover, para um hipotético governo petista, a força para promover as
mudanças desejadas no país. O diagnóstico petista de que a visão de setores
industriais, agropecuários e financeiros de que um eventual governo Lula traria
“fantasmas” como o calote da dívida pública, a nacionalização de indústrias, a
expropriação massiva de propriedades para a reforma agrária, temas que deixaram a
retórica petista já na década anterior, bem como o descontrole das finanças públicas,
faria premente a mobilização do PT no sentido de mostrar seu compromisso com a
estabilidade do sistema vigente.
38 ibidem
58
39Os debates na imprensa do partido mostram alguns dos mecanismos que são alvos de críticas, como
o artigo do ex-deputado federal e dirigente partidário Gilney Viana: https://pt.org.br/gilney-viana-ped-o-
que-era-ruim-ficou-pior/
59
social, ao acesso dos seus direitos sociais de moradia, saúde, educação e renda
através da intervenção direta do Estado nestas áreas.
A inclusão e democratização destes direitos não se deu sem contradições.
Druck (2006) e Bruera (2013) apontam para a cooptação dos movimentos sociais que
eram mais próximos ao PT através do acesso ao governo, o que aconteceu também
com os sindicatos, especialmente a CUT. Essa cooptação fazia com que houvesse
certo arrefecimento das demandas destas organizações, bem como seu controle por
parte do governo através de agentes que os dirigiam.
Outra contradição pode ser percebida ao ponderarmos que, ainda que o
governo tivesse uma conduta ativa na resolução dos problemas sociais derivados da
desigualdade social brasileira, o que caracterizou uma mudança significativa da ação
do Estado se comparado aos governos anteriores, o PT enquanto governo não atacou
com a mesma intensidade as causas mais estruturais dessa desigualdade, como o
sistema tributário regressivo. Retomaremos esta questão na seção seguinte, por ora
cabe dizer que as políticas sociais acabaram promovendo uma conexão da camada
mais pobre da população com a imagem de Lula, não por acaso um indivíduo
proveniente desta mesma classe social (SINGER, 2009).
O bom desempenho de Lula acabou por mitigar os efeitos das pressões das
elites políticas e econômicas, particularmente da mídia, sobre os escândalos de
corrupção. O bom desempenho do governo, em conjunto com o entendimento
intrapartidário de que era preciso flexibilizar o gerenciamento dos ativos governistas
em prol de uma coalizão mais ampla e mais consistente, acabou auxiliando na
heterogeneização da base aliada ao mesmo tempo que permitiu ao final do governo
Lula e início do governo Dilma, o aprofundamento das políticas sociais e uma inflexão
desenvolvimentista na área da economia.
O peemedebista Michel Temer seria vice de Dilma na chapa petista de 2010,
o acordo seria fruto do consenso intrapartidário de que era necessária maior robustez
na eventual coalizão governista e no reconhecimento do erro de não ter abarcado o
PMDB logo no início do governo Lula (AMARAL, 2010b). Contando com uma
aprovação recorde no final de seu governo, Lula efetivou sua sucessão através de
Dilma num segundo turno contra o tucano José Serra.
Dilma, logo no primeiro ano, se deparou com a queda de 6 ministros
envolvidos em casos de corrupção. Esta adversidade, no entanto, viria num momento
de ciclo centrípeto das forças políticas (ABRANCHES, 2014) onde o desempenho
70
4
3,5
3
2,5
2
1,5
2008.01
2010.07
2003.01
2003.06
2003.11
2004.04
2004.09
2005.02
2005.07
2005.12
2006.05
2006.10
2007.03
2007.08
2008.06
2008.11
2009.04
2009.09
2010.02
2010.12
2011.05
2011.10
2012.03
2012.08
2013.01
2013.06
2013.11
2014.04
2014.09
2015.02
2015.07
2015.12
Elaboração própria. Dados: IPEA
O câmbio brasileiro voltaria a se depreciar após a crise financeira de 2008 e,
com um cenário internacional desfavorável e o aprofundamento da política heterodoxa
através de intervenções anticíclicas, de modo paulatino a partir de 2011. O câmbio
valorizado e a taxa de juros elevada, portanto, contribuíram para o controle da inflação
e para a manutenção do equilíbrio fiscal num momento em que a demanda interna e
a importação aumentavam. Outro fator externo imprescindível que favoreceu o
desempenho econômico, durante os governos de Lula, foi a alta no preço das
commodities. Com as divisas geradas a partir das exportações dessas matérias
primas, o Brasil pôde pagar pelo desequilíbrio na balança comercial.
Por conta da manutenção da estrutura macroeconômica legada dos anos
1990, alguns críticos atribuem aos governos petistas um projeto neoliberal
(MACHADO, 2009; MACIEL, 2010), enquanto outros, por conta das políticas sociais,
que tem impacto econômico eminente, atribuíram aos governos petistas um prejudicial
assistencialismo e um novo populismo (MARQUES & MENDES, 2006; PINHEIRO &
GIAMBIAGI, 2006).
74
Investimentos Públicos
5,00 4,56
4,50 4,02 3,96 4,06 3,95
4,00 3,75
3,52
3,50 3,25
2,91 2,84 2,85
% PIB
possibilidade de ascensão social das classes mais baixas. (PEREIRA & CARVALHO,
2014).
É notório que essa expansão tenha se dado de forma mais aguda através das
instituições de ensino superior privadas. Ainda que o número de ingressantes em
instituições públicas tenha passado de 321 mil em 2003 para 505 mil em 2016, a
expansão do acesso ao ensino superior foi pautada pela mercantilização da educação
superior, através de grandes incentivos fiscais e concessão de financiamentos a juros
baixos nas IES privadas. A expansão das IES privadas ocorre desde o governo FHC,
mas tornou-se estratégica na gestão petista pela capilaridade e potencial de
interiorização do ensino superior no Brasil (AGUIAR, 2016), bem como a pressão das
instituições privadas através da bancada da educação no congresso (DIAP, 2017),
ainda que esta seja uma questão a ser pesquisada mais profundamente.
2.000.000
1.500.000
1.000.000
500.000
-
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Segundo Singer (2016), além de forçar a queda de juros, havia um claro tom
de embate nos discursos da equipe econômica frente à resistência do setor financeiro,
apoiado pelas pressões feitas pela grande mídia, o que desencadeou uma guerra
ideológica e uma oposição aberta à condução econômica do governo por parte de
uma ‘frente única burguesa’, que contava não apenas com o setor financeiro, mas
também com parte do setor produtivo que, numa economia moderna, guarda não
somente pautas comuns com o setor rentista, como desregulamentação das leis
trabalhistas e pressão negativa sobre a valorização dos salários, mas também estão
cada vez mais imbricados com atividades financeiras, vide a abertura de linhas de
crédito e pagamentos parcelados com juros bancados por braços financeiros das
próprias empresas varejistas e industriais.
No segundo governo de Dilma, quando havia um claro desequilíbrio dos
indicadores fiscais e econômicos, a resposta foi uma inclinação liberal, assim como
ocorreu no início do Governo Lula, também indicando uma tentativa de responder às
pressões das elites econômicas. Com a nomeação de Joaquim Levy ao Ministério da
Fazenda, o governo tratou de reduzir gastos para equilibrar a situação fiscal. Em 2015
foram tomadas medidas como o fim de incentivos fiscais, a restrição no acesso ao
seguro-desemprego e o estabelecimento de regras que dificultavam o acesso à
aposentadoria e a outros benefícios do INSS.
Assim como ocorreu com os governos social-democratas europeus a partir
do final dos anos 1970, o PT se viu obrigado a garantir a estabilidade econômica em
detrimento do avanço nas pautas de distribuição de renda e de seguridade social.
Pesou, tanto para os social-democratas europeus décadas atrás quanto para o PT, a
ineficácia de uma economia política demasiada intervencionista num cenário de
flexibilização do modelo capitalista, a globalização e financeirização da economia
moderna, e também por conta do compromisso assumido com as elites, no caso
petista eminentemente as elites financeiras, que tem como base de seu negócio a
capacidade de atrair investimentos e de produzir dividendos junto ao Estado, daí a
necessidade da estabilidade fiscal e monetária.
47 Cf. https://oglobo.globo.com/economia/lula-diz-que-tentou-fazer-reforma-tributaria-defende-atuacao-
do-bndes-2962184
48 “Judging the extent to which the hands of reluctant social democratic politicians were forced by
As contradições dos governos Lula e Dilma são nada mais que a expressão
dessa concertação de interesses. As contradições também evidenciam tanto as
intenções do PT no governo quanto as tensões na sua base de apoio e dos grupos
intrapartidários. É clara a disposição petista de buscar o crescimento econômico com
distribuição de renda e melhoria das condições dos trabalhadores ao promover uma
política de aumento real do salário mínimo, o investimento público em áreas
estratégicas e as políticas de mitigação da pobreza e capacitação dos trabalhadores.
Também é eminente a preferência por uma composição de alianças numa coalizão
heterogênea, visando garantir a governabilidade e em certa medida uma governação
democrática e inclusiva, ainda que consideremos falta grave a omissão do PT frente
à estrutura tributária regressiva do Brasil.
políticas petistas tiveram efeito muito positivo sob a ótica da distribuição de renda e
de direitos sociais. Estas questões serão melhor discutidas na seção seguinte.
5. CONCLUSÃO
Ribeiro (2010) argumenta que o PT tem um programa que não reflete sua
ação, dando eminência à busca pelo ‘socialismo petista’, e defende que o partido
abrace seu caráter reformista, apontando para a necessidade de o PT ainda ter de
passar pelo seu Bad Godesberg. O fato é que a mobilização do socialismo em seus
documentos, ainda hoje, é significativa. Embora não tomemos, como Reis (2012,
2013), a busca pelo socialismo como característica definidora da SD, a ideia do
socialismo mobiliza certos princípios que estão presentes na prática petista e social-
democrata.
REFERÊNCIAS
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lancamento-do-programa-de-aceleracao-do-crescimento/view
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