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EDUCAÇÃO GREGA
LUCIANA RICOMINI
INTRODUÇÃO
A EDUCAÇÃO ESPARTANA
Grécia achava-se dividida em Cidades-Estado, das quais as mais conhecidas são
as antagônicas Esparta e Atenas. Esparta ocupava o fértil vale do rio Eurotas, na região da
Lacônia, ao sudeste da península do Peloponeso.
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No oitavo e no sétimo século a.C, Esparta travou uma guerra com Missênia. Essa
guerra teve por motivo básico o desejo de Esparta de se apoderar das terras férteis dessa
região, que eram as melhores de todo o Peloponeso."(PEDRO. Antônio & CÁCERES.
Florival. História Geral. p. 48).
"Por volta do século IX, o legislador Licurgo organiza o Estado e a educação. De
início os costumes não são tão rudes, e a formação militar é entremeada com a esportiva e
a musical. Com o tempo e, sobretudo no século IV a.C. quando Esparta derrota Atenas - o
rigor da educação se assemelha à vida de caserna" (ARANHA. Maria Lúcia de Arruda.
História da Educação. p. 38).
"A visão que os gregos tinham do mundo os distinguia de todos os demais povos do
mundo antigo, ao contrário destes, os gregos em vez de colocarem a razão humana a
serviço dos deuses ou dos deuses monarcas, enalteceram a razão como instrumento a
serviço do próprio homem (...) Recusavam qualquer submissão aos sacerdotes e tampouco
se humilhavam diante dos seus deuses. Glorificavam o homem como o ser mais importante
do universo (...) O primeiro povo a enfrentar explicitamente o problema da natureza, as
idéias, as tarefas e objetivos do processo educativo foi o povo grego. Os alicerces
institucionais dessa atitude encontram-se na realidade sócio-poética da Grécia, processo
que se realiza entre 1200 e 800 a.C. Trata-se do período pré-Homérico (GILES. Thomas
Ranson. História da Educação. p. 11). Esse período recebeu esse nome, devido ao
conhecimento baseado na interpretação da lendas contidas nos poemas épicos: A ILÍADA e
A ODISSÉIA, que a tradição atribui ao poeta grego Homero (op. cit. p. 46)
"Nessa época as principais ocupações são a agricultura e o pastoreio. Excetuando-
se algumas formas de artesanato, não há especialização, e a estratificação da sociedade é
mínima"
EDUCAÇÃO ATENIENSE
Atenas passou pelas mesmas fases de desenvolvimento de Esparta; mas enquanto
Esparta se deteve na fase guerreira e autoritária, Atenas priorizava a formação intelectual
sem deixar de lado a educação física que não se reduzia apenas a uma simples destreza
corporal mas que vinha acompanhada por uma preocupação moral e estética.
A primeira parte de sua cultura aparecem formas simples de escolas e a educação
deixa de ficar restrita à família e a partir dos 7 anos começava a educação propriamente
dita, que compreendia a educação física, a música e a alfabetização. O pedotriba era o
responsável em orientar a educação física na palestra onde os exercícios físicos eram
praticados.
Além da educação física, a educação musical era extremamente valorizada não se
limitando apenas à música mas também a poesia, canto e a dança. Os locais que eram
praticados eram geralmente as palestras ou, então, em lugares especiais. O ensino
elementar como a leitura e a escrita durante muito tempo não teve a sua devida atenção
como teve as práticas esportivas e musicais tanto que os mestres eram geralmente pessoas
humildes e mal pagas e não tinham tanto prestigio quanto o instrutor físico.
Com o passar do tempo foi se exigindo uma melhor formação intelectual delineando-
se três níveis de educação: elementar, secundária e superior. O didáscalo era o
responsável em ensinar a leitura e a escrita em locais não definidos e com métodos que
dificultam a aprendizagem e por volta dos 13 anos completava-se a educação elementar.
Aqueles que tinham maiores condições de continuar os seus estudos entravam para
a educação secundária ou ginásio onde, inicialmente, eram praticados os exercícios físicos
e musicais, mas com o tempo deu-se lugar as discussões literárias abrindo espaço para o
estudo de assuntos gerais como a matemática, geometria e astronomia principalmente a
partir das influências dos professores. O termo secundário chegou mais próximo do seu
conceito atual quando foram criadas as bibliotecas e salas de estudos.
Dos 16 aos 18 anos, a educação superior só se dá com os sofistas, que mediante
retribuições elevadas se encarregavam de preparar a juventude para a oratória. Sócrates,
Platão e Aristóteles também ministravam a educação superior.
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Neste contexto não havia uma preocupação com o ensino profissional, pois estes
eram aprendidos no próprio mundo do trabalho com exceção da medicina que era uma
profissão altamente valorizada entre os gregos e que tomavam como parte integrante da
cultura grega.
PERÍODO CLÁSSICO
Atenas havia se tornado o centro da vida social, política e cultural da Grécia, em
virtude do crescimento das cidades, do comércio, do artesanato e das artes militares.
Atenas viva seu momento de maior florescimento da democracia. "A democracia grega
possuía duas características de grande importância para o futuro da filosofia. Em primeiro
lugar, a democracia afirmava a igualdade de todos os homens adultos perante as leis e o
direito de todos de participar diretamente do governo da cidade, da polis. Em segundo lugar,
e como conseqüência, a democracia, sendo direta e não por eleição de representantes no
governo, garantia a todos a participação no governo e os que dele participavam tinham
direito de exprimir, discutir e defender em público suas opiniões sobre as decisões que a
cidade deveria tomar. Surgia assim, a figura do cidadão". (CHAUÍ, Marilena. Convite à
Filosofia, p. 36).
Contudo, é bom lembrarmos que as opiniões, não eram simplesmente jogadas às
assembléias e aceitas por elas, era necessário que o cidadão além de opinar, falar, deveria
também buscar persuadir a assembléia, daí o surgimento de profundas mudanças na
educação grega, pois antes da democracia as famílias aristocratas eram donas não só da
terra como também do poder. A educação possuía um padrão criado por essas famílias que
era baseado nos dois poetas gregos Homero e Hesíodo que afirmava que o homem ideal
era o guerreiro belo e bom.
Entretanto, com a chegada da democracia, o poder sai das mãos da aristocracia e,
"esse ideal educativo vai sendo substituído por outro. O ideal de educação do Século de
Péricles é a formação do cidadão."(IDEM. P. 36)
O cidadão somente se faz cidadão a partir do momento em que
exerce seus direitos de opinar, discutir, deliberar e votar nas assembléias. Dessa forma, o
novo ideal de educação é a formação do bom orador, ou seja, aquele que saiba falar em
público e persuadir os outros na política.
Para suprir a necessidade de dar esse tipo de educação aos jovens em substituição
a educação antiga, surgem os sofistas que foram os primeiros filósofos do Período Clássico.
Em síntese, os sofistas surgem por razões políticas e filosóficas, entretanto, mais por
funções políticas.
Os sofistas foram filósofos que surgiram de várias partes do mundo e não tinham
portanto, uma origem bem definida. "Sofista significa (...) "sábio" - "professor de sabedoria".
(...)[Em] um sentido pejorativo, passa a significar "homem que emprega sofismas", ou seja,
homem que usa de raciocínio capcioso, de má-fé com intenção de enganar.
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A PEDAGOGIA GREGA
O termo pedagogia é de origem grega e deriva da palavra paidagogos, nome dado
aos escravos que conduziam as crianças à escola. Somente com o tempo, esse termo
passa a ser utilizado para designar as reflexões feitas em torno da educação. Assim, a
Grécia clássica pode ser considerada o berço da pedagogia, até porque é justamente na
Grécia que tem início as primeiras reflexões acerca da ação pedagógica, reflexões que vão
influenciar por séculos a educação e a cultura ocidental.
Os povos orientais acreditavam que a origem da educação era divina. O
conhecimento que circulava na comunidade resumia-se aos seus próprios costumes e
crenças. Essa realidade impedia uma reflexão sobre a educação, uma vez que esta era
rígida e estática, fruto de uma organização social teocrática. A divindade, portanto, era
autoridade máxima, logo, sua vontade não poderia ser contestada.
Na Grécia Clássica, pelo contrário, a razão autônoma se sobrepõe às explicações
puramente religiosas e místicas. A inteligência crítica, o homem livre para pensar e formar
os juízos a cerca da sua realidade, preparado não para submeter-se ao destino, mas para
influenciar e ser agente de transformação como cidadão, eis no que resume-se a
revolucionária concepção grega da educação e seus fins.
Dentro dessa nova mentalidade, surgem várias questões cuja reflexão visa
enriquecer os fins da educação. Como por exemplo:
- O que é melhor ensinar ?
- Como é melhor ensinar ?
Essas questões enriquecem as reflexões de vários filósofos e dão origem à dimensões
tendenciosas. Para entendermos melhor é necessário fazermos a divisão clássica da
filosofia grega, não esquecendo que o eixo central é Sócrates:
Período pré-socrático (Século VII e VII a.C.); os filósofos das colônias gregas que iniciam o
processo de separação entre a filosofia e o pensamento mítico.
Período socrático (Séculos V e IV a.C.) Sócrates, Platão e Aristóteles. Os sofistas são
contemporâneos de Sócrates e alvos de suas críticas. Isócrates também é desse período.
Período pós-socrático (Séculos III e II a.C.) época helenística, após a morte de Alexandre.
Fazem parte ainda as correntes filosóficas mais famosas: o estoicismo e o epicurismo.
PERÍODO PRÉ-SOCRÁTICO
O período pré-socrático inicia-se por volta do século VI a.C., quando aparecem os
primeiros filósofos nas colônias gregas da Jônia e na Magna Grécia. Podemos dividi-los em
várias escolas:
Escola Jônica: fazem parte os seguintes filósofos: Tales, Anaximandro, Anaxímenes,
Heráclito, Empídoeles;
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O PENSAMENTO DE PLATÃO
Se Sócrates foi o primeiro grande educador da história, Platão foi o fundador da
teoria da educação, da pedagogia, e seu pensamento foi baseado na reflexão pedagógica,
associada à política.
Platão nasceu em Atenas (428 -347 a.C.) de família nobre. Foi discípulo de
Sócrates, que induziu ao estudo da filosofia. O vigor de seu pensamento nos faz questionar
sempre o que de fato é socrático e que já é sua criação original.
Para que possamos compreender a proposta de Platão, não podemos dissociá-la do
projeto inicial que é, antes de tudo, político: vejamos algumas características do
pensamento filosófico de Platão.
Platão se preocupou a vida inteira com os problemas políticos. A situação de seu
país, saído de uma tirania, o impede de participar ativamente da vida política, em
compensação, de dica a esta, grande parte de seus escritos entre eles as obras mestras, A
República e as leis.
No livro VII de A República, Platão relata o mito da caverna. A análise deste mito
pode ser feita pelo menos sob dois pontos de vista:
1. Epistemológico (relativo ao conhecimento): compara o acorrentado ao homem comum
que permanece dominado pelos sentidos e só atinge um conhecimento imperfeito da
realidade.
2. Político: quando o homem se liberta dos grilhões é o filósofo, ultrapassa o mundo
sensível e atinge o mudo das idéias, passando da opinião à essência, deve se dirigir aos
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homens para orientá-los. Cabe ao sábio dirigir, sendo-lhe reservada a elevada função da
ação política.
A UTOPIA PLATÔNICA
Platão propõe uma utopia, onde são eliminadas a propriedade e a família, e todas as
crianças são criadas pelo estado, pois para Platão, as pessoas não são iguais, e por isso
devem ocupar posições diferentes e serem educadas de acordo com essas diferenças.
Até os 20 anos, todos merecem a mesma educação. Ocorre o primeiro corte e
definem-se quem tem "alma de bronze", são os grosseiros, devem se dedicar a agricultura,
comércio e ao artesanato.
Mais dez anos de estudo, se dá o segundo corte. Aqueles que tem "alma de prata".
É a virtude da coragem. Serão guerreiros que cuidarão da defesa da cidade, e a guarda do
rei.
Os que sobrarem desses cortes por terem "alma de ouro" serão instruídos na arte de
dialogar e preparados para governar.
Quando analisamos o postulado platônico voltado para sua época, é visível uma
dicotomia na relação corpo e espírito.
Na Grécia Antiga, o cuidado com o aspecto físico do corpo merecia uma atenção
muito especial. No entanto, Platão apesar de reconhecer a importância atribuída aos
exercícios físicos, acreditava que uma outra educação merecia relevante atenção ao ponto
de ser superior às questões corporais. Trata-se da educação espiritual. No desenvolvimento
de seus argumentos, ao tratar da superioridade da alma sobre o corpo, Platão explicita que
a alma ao ter que possuir um corpo, torna-se degradante. Para Platão o corpo possui uma
alma de natureza inferior que dividida em duas partes: uma que age irrefletidamente, de
maneira impulsiva e outra voltada para os desejos e bens materiais. Argumenta ainda que
todo problema humano está centrado na tentativa de superar a alma inferior através da
alma superior. Se esta não controlar a alma inferior, o homem será incapaz de possuir um
comportamento moral.
Nesta concatenação está explícito o ideal pedagógico na concepção platônica. O
conhecimento para ele é resultado do lembrar do que a alma contemplou no mundo das
idéias. Nesse sentido a educação consiste no despertar no indivíduo do que ele já sabe e
não no apropriar de um conhecimento que está fora. Ele enfatiza ainda a necessidade da
educação física no sentido de que esta proporcione ao corpo uma saúde perfeita, evitando
que a fraqueza torne-se um impecílio à vida superior do espírito.
Outro aspecto na pedagogia platônica é a crítica que se faz aos poetas. Na época, a
educação das crianças eram baseadas em poemas heróicos da época, contudo, ele diz que
a poesia deveria ser restrito ao gozo artístico e não ser usada na educação. Argumenta que
ao ser trabalhado uma imitação, como as dos textos das epopéias, o conhecimento
verdadeiro torna-se cada vez mais distante: "o poeta cria um mundo de mera aparência".
Em Aristóteles (384-332 a.C.)podemos perceber um outro aspecto da pedagogia
grega. Apesar deste ser discípulo de Platão, conseguiu ao longo do tempo, através de
influências, inclusive a do seu pai, superar o que herdou de seu mestre. Aristóteles
desenvolveu, ao contrário de Platão, uma teoria voltada para o real, onde procurava explicar
o movimento das coisas e a imutabilidade dos conceitos. Trabalho totalmente divergente à
superioridade do mundo das Idéias desenvolvida por Platão.
Em seu raciocínio, ao explicar a imutabilidade dos conceitos, Aristóteles afirmava
que todo ser possui um "suporte aos atributos variáveis", ou melhor, esse ser ou substância
possui variáveis e que essas variáveis são, em síntese, características que geralmente
damos a ele e ressalta que algumas dessas características assumem valores essenciais no
sentido de que se estas faltarem o ser não será o que é. Por outro lado, existem outros que
são acidentais, uma vez que sua variação necessariamente não irá alterar a essência do
ser. Ex.: velho, novo.
Outros conceitos também são usados por Aristóteles para a explicação do ser.
Conceitos intimamente ligados como forma e matéria são em seu postulado ricos e, tal
explicação, uma vez que ele considera a forma como princípio inteligível. Uma essência que
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determina a todos que são o que são. "Numa estátua por exemplo, a matéria é o mármore;
a forma é a idéia que o escultor realiza". Assim como os pré-socráticos Heráclito e
Parmênides, Aristóteles, também se preocupou com o devir, com o movimento e
conseqüentemente às suas causas. Ainda se utilizando dos conceitos de forma e matéria,
ele argumenta que tudo tende a atingir a sua forma perfeita, assim uma semente de uma
árvore, tende a se desenvolver e se transformar em uma árvore novamente. Dessa maneira
tudo para Aristóteles tem um devir, um movimento, uma passagem do que ele chama de
potência para o ato.
Aristóteles ao fazer tal abordagem, comenta ainda que o movimento assume
algumas características: movimento qualitativo onde uma dada qualidade é alternada;
movimento quantitativo em que se percebe a variação da matéria e por fim o movimento
substancial onde o que se tem um existência ou inexistência, o que nasce ou que se
destrói.