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Queridos Alunas e Alunos
Estimadas Famílias
Caros Docentes

É com grande alegria que vos entregamos os manuais de Educação Moral e Religiosa Católica, que foram preparados
para lecionar o novo Programa da disciplina, na sua edição de 2014. O que aqui encontrareis procura ajudar, cada um dos
alunos e das alunas que frequentam a disciplina, a «posicionar-se, pessoalmente, frente ao fenómeno religioso e agir com
responsabilidade e coerência», tal como a Conferência Episcopal Portuguesa definiu como grande finalidade da disciplina*.
Para tal, realizou-se um extenso trabalho que pretende, de forma pedagogicamente adequada e cientificamente significativa,
contribuir com seriedade para a educação integral das crianças e dos jovens do nosso País.

Esta tarefa, realizada sob a superior orientação da Conferência Episcopal Portuguesa, a responsabilidade da Comissão
Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé e a dedicação permanente do Secretariado Nacional da Educação Cristã,
envolveu uma extensa e motivada equipa de trabalho. Queremos, pois, agradecer aos autores dos textos e aos artistas que
elaboraram a montagem dos mesmos, pelo seu entusiasmo permanente e pela qualidade do resultado final. Também referimos,
com apreço e gratidão, os docentes que experimentaram e comentaram os manuais, ainda durante a sua execução, e o contributo
insubstituível dos Secretariados Diocesanos responsáveis pela disciplina na Igreja local. E a todos os docentes de Educação
Moral e Religiosa Católica, não só entregamos estes indispensáveis instrumentos pedagógicos como aproveitamos esta feliz
ocasião para sublinhar a relevância do seu fundamental papel, nas escolas e na formação das suas alunas e dos seus alunos, e
testemunhamos o nosso reconhecimento pelo seu extenso compromisso pastoral na sociedade portuguesa.

Do mesmo modo, estamos agradecidos às Famílias, porque desejam o melhor para os seus filhos e filhas e, nesse contexto,
escolhem a disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica como um importante contributo para a formação e o
desenvolvimento pleno e feliz dos seus jovens. Os jovens conformam o nosso futuro comum e o empenho sério na sua
educação é sempre uma garantia de uma sociedade mais bondosa, mais bela e mais justa.

Finalmente, queridas crianças e queridos jovens, a Igreja quer ir ao vosso encontro, estar convosco, ajudar-vos a viver bem
e, nesse sentido, colaborar com o esforço de construção de um mundo melhor a que sois chamados, enraizados e firmes
(cf. Col 2, 7) na proposta de vida que Jesus Cristo tem para cada um de vós. É esse o horizonte de vida, de missão e de futuro,
a construir convosco, que nos propomos realizar com a disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica.

Em nome da Conferência Episcopal Portuguesa e no nosso próprio, saudamos todas as alunas e todos os alunos de Educação
Moral e Religiosa Católica de Portugal com alegria e esperança,

Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé

Lisboa, 19 de março de 2015,


Solenidade de S. José, Esposo da Virgem Maria e Padroeiro da Igreja Universal

*Conferência Episcopal Portuguesa, (2006), Educação Moral e Religiosa Católica — Um valioso contributo para a formação da personalidade, o. 6.
Manual do Aluno
Educação Moral e Religiosa Católica
9.2 ano do Ensino Básico

Coordenação Geral
Cristina Sá Carvalho

Coordenação de Ciclo
Fernando Moita

Equipa de Autores
António Cordeiro
Fernando Moita
José Luís Dias
• Margarida Portugal

Revisão Ortográfica
Gráfica Almondina

Design gráfico e Capa


Catarina Roque

Imagens
Dreamstime
Wikipédia
Direção-Geral do Património Cultural / Divisão de Documentação, Comunicação e Informática

Tiragem: 15 000
2.2 edição: outubro 2015
ISBN: 978-972-8690-87-8
Depósito Legal: 399588/15

Edição e Propriedade
Fundação Secretariado Nacional da Educação Cristã - Lisboa, 2015

Impressão
Gráfica Almondina - Torres Novas

Aprovação
Conferência Episcopal Portuguesa

©Todos os direitos reservados para a FSNEC


'••••P r • •

• -••••,•••••• • •

Chegaste à me+a final do 3» ciclo.


Otempo passa depr'essai...

Aans•redade dá agora lugar à coragem de vencer para s'eguir para o 'ensino Recundária
Sabes o ()uh irnpor+anfe 'e saber op+ar pelo caminho ber+o.
horizonte mais próximo pensas na área de 'es+udos a sfguir,
no mais dis+ante, proje+as uma vida de realizaç'ób pessoal
O'esforço 'e a de+errningw
saio duas a++h)des que +e ajudarb a olhar 'estes horizontes com 'esperança.
g'econhebe o, dignidade humana
'e s'eras capaz d-e vaiorizw- a vida,
Pergun+a por D-eus
'e descobrirás o s'eu amor,
Procura rozbs'es de viver
'e ousa arriscar por um ideal d-e vida feliz
' •
QUEgOSEg!... voi, com berheza, cudar---i-e op+ar rnelhor s ' e g u i r 'em fren+e corn corag-ern.
• " e s rnui+o mais do qu'e ailuilo que vês 'ern
Fos+e fei+o(a) para voar al+ol
Vem dai_
E proje+a viver o +eu fu+vro, com os +eus amigos, colaborando no, cons-h-uç'ào d-e um mundo melhor
com as r'efkx5-es que a disciplina de E.M.KC. p r o O e para o 9.° ano.

Abraço amigo
Osau+or'es
- 4-
1
Unidade letiva 1
1
Dignidade da Vida Humana
O dom supremo da vida humana 9
O valor da vida 1 7
Mensagem cristã sobre o amor ao próximo 3 0
A dignidade da vida humana em atitudes 3 4
Vida humana: Originalidade e Beleza 3 6

Unidade letiva 2
Deus, Mistério de amor
A questão da existência de Deus 5 5
O fenómeno religioso 6 7
Deus: oceano de amor 7 7
Deus transforma os corações... as pessoas constroem a sociedade 8 2

Unidade letiva 3
Projeto de Vida
Projeto (s) 9 5
Projeto de vida e vocação 9 7
A felicidade como projeto 1 0 4
Opções de vida e "opção fundamental" 1 0 7
Projetos de encontro com Deus 1 1 1
A fé como fonte de felicidade 1 1 9

dom supremo da vi
Oval
a obre o amor a
da humana •
'á r i g i na
Olá!
Com certeza já ouviste falar de mim. Sabes que tenho um carinho
especial pelo teu país, que visitei cinco vezes.
Chamo-me Karol lõzef V\iojtyla 'e, quando fui eleito papa em 1979,
'escolhi o nome Toa° Paulo
i\lasci Wadowice, urna pequena cidade perto de Cracovia (Polónia),
em 1920. Era o mais novo de três filhos. A minha Mãe faleceu quando eu
tinha nove anos; os meus irrn6os tarnbérn morreram muito jovens.
Fui ba-Hzado logo em criança e aos nove anos -Hz a primeira cornunhrc'w.Aos dezoito,
recebi a confirrnaçaoe matriculei-me na universidade de Cracovia e numa escola de
tea-h-o - uma das minhas grandes paixbes.
Quando o ex,ercito nazi ocupou a Polóniase fechou a universidade, 'em 1939, -hve de
ir -h-abalhor numa fábrica de produtos químicos, de modo a 'evitar a deportaçaio para. a
Alemanha
•Por volta dos vinte e dois anos Sfnii vocaç'ào pára ser padre 'e ingressei no seminário
cfeCracovia ordenado o n õ i a d e novembro de 191-1, já a guerra
i\los anos que se seguiram continuei a 'estudar tarnbern fui professor Em
1958 fui ordenado bispo "e participei nos trabalhos do Concílio Vaticano 11 (19(Q2-19(95).
Escolheram-me para apresenta- 'esta unidade letiva sobre a dignidade da vida
humana por ter sido a temática que mais me preocupou 'e que mais me fez refletir,
escrever, falar e viajar
Sempre que tinha oportunidade alertava os pessoas com quem me encontrava
para o inestimável valor da vida humana, a riqueza que cada ser humano - Onico
irrepe-Hvel - signi-Hca para o outro e para o mundo.
Desejo sinceramente que a reflex'olo que vais fazer ao longo desta unidade letiva
-Heajude a reconhecer o bem e a beleza de cada pessoa •

João Paulo II percorreu o mundo revelando o seu amor por toda a


humanidade. Fez viagens apostólicas a cento e vinte e nove países.
O seu amor aos jovens impulsionou-o a iniciar as Jornadas Mundiais
da Juventude. E a sua atenção para com a família deu origem aos
Encontros Mundiais das Famílias. Faleceu n o dia 2 de abril d e
2005. Desde essa noite até ao dia 8 de abril, momento em que se
celebraram as exéquias, deslocaram-se mais de três milhões de
peregrinos à basílica de São Pedro para lhe prestar homenagem.
Foi canonizado em 27 de abril de 2014.

8
Dignidade (do latim dignitas — virtude, honra, consideração) é uma
característica inerente ao ser humano. A pessoa desenvolve-se num contínuo
processo de autorrealização pessoal e social, mas esse facto não altera nem
diminui a sua constante dignidade. Pelo simples facto de ser humana, a pessoa
goza de valor inestimável e merece todo o respeito.
A dignidade da pessoa humana—núcleo essencial dos direitos fundamentais
é o supremo valor ético da civilização moderna.

u és especial
No início de uma conferência, um famoso orador mostrou uma nota de
cinquenta euros, e perguntou:
—Quem quer esta nota?
Todos os que estavam na assembleia levantaram a mão.
O conferencista amarrotou-a e voltou a perguntar, enquanto a exibia:
—Quem está ainda interessado nesta nota?
Eas mãos voltaram a erguer-se.
Então, deixou-a cair no chão e pisou-a violentamente. Depois pegou na nota suja
e amarrotada e perguntou de novo:
—E agora? Ainda há alguém que a queira?
Emais uma vez as mãos se levantaram.
—Meus amigos—continuou o conferencista —, seja o que for que eu faça com
esta nota, a maior parte das pessoas permanecerá interessada nela, porque, apesar
do seu aspeto, não perde valor. Limpa ou suja, amarrotada ou não, valerá sempre
cinquenta euros.
Mas, como podem calcular, não vim aqui para vos falar de questões financeiras.
Muitas vezes, na vida pessoal, somos amarrotados, humilhados e conspurcados
por decisões que tomamos ou por circunstâncias que não dependem da nossa
vontade. Quando tal sucede sentimo-nos profundamente desvalorizados ou mesmo
insignificantes. Mas, aconteça o que acontecer, seja qual for a forma como nos
sentimos, nunca perderemos o nosso valor nem a nossa dignidade. Quer estejamos
sujos ou limpos, diminuídos ou inteiros, perdidos ou norteados, nada nos pode
roubar o que verdadeiramente somos. É que o valor das nossas vidas não reside
fundamentalmente no que fazemos ou sabemos, reside sobretudo no que somos. E
todos somos especiais, porque únicos e irrepetíveis.
1\10meio dos adversidades da vida, n.o nos ,eweçaimos
Autor desconhecido

SE
A vida—dádiva de Deus
e p r i m o r 1 d i r - ' ) humano
Na perspetiva religiosa Deus é a origem da vida. É nele que se encontra a
plenitude da existência, em toda a sua perfeição, a qual não conhece início nem
terá ocaso. O ser humano é um ser vivente porque recebeu de Deus a vida como
um dom inestimável.
A vida é, pois, o primeiro dom de Deus. Todo o crente sente que tem para com
ele uma enorme dívida de gratidão. Nada fez para merecer existir e, contudo,
Deus quis que existisse. Por isso agradece a Deus esta dádiva fundamental.
Mas a melhor maneira de a agradecer é cultivá-la e respeitá-la, como quem
1. Em que consiste
cuida da maior prenda que alguma vez lhe tenha sido oferecida. É por isso que
a dignidade da vida
humana? o respeito pela vida faz parte do Decálogo: «Não matarás».
2. Qual o motivo pelo A vida humana é o valor primordial e condição de possibilidade de todos
qual se pode afirmar
os outros valores. Como poderíamos, por exemplo, exigir que se fizesse justiça
que a vida humana é
o valor primordial? a alguém se lhe negássemos o direito de existir? Se a vida humana não estiver
assegurada é simplesmente impossível a realização dos outros valores.

A criação de Adão, Miguel Ângelo (1475-1564) [capela Sistina]

Jec rações r1 c L 0 3
A dignidade da vida humana é um valor partilhado
pelas várias civilizações, que, de uma ou de outra forma,
a entendem como um dom a respeitar e a preservar.
Uma vez que o ser humano é — em variadas situações —
agredido, negado e violentado, ficando a vida humana
seriamente comprometida, a humanidade elaborou
códigos que têm como objetivo defender expressamente
a vida humana e a sua dignidade.
ramento de Hipócrates
Juro por Apoio médico, por Esculápio, por Higia, por Panaceia e por todos os
deuses e deusas que acato este juramento e que o procurarei cumprir com todas
as minhas forças físicas e intelectuais. Mesmo instado, não darei droga mortífera
nem a aconselharei; também não darei pessário abortivo às mulheres. Guardarei
castidade e santidade na minha vida e na minha profissão.
https://www.ordemdosmedicos.pt/

Hipócrates nasceu no século V a.C., na Grécia. Médico, compreendia a sua atividade


como um serviço à vida. É considerado o «pai da medicina».

'aração Universal dos Direitos Humanos


Artigo 1.2
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados
de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de
fraternidade.
Artigo 2.2
Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados
na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de
sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou
social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Além disso, não
será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional
do país ou do território da naturalidade da pessoa.
Artigo 3.2
Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
https://dre.pticomum/html/legisicludh.html
A Declaração Universal d o s Direitos Humanos (DUDH) f o i proclamada
a 10 de dezembro de 1948 com o objetivo de defender a dignidade humana
(severamente humilhada na segunda guerra mundial) e continua a exprimir o
grito humano de libertação de todas as formas de opressão. No humanismo dos
seus artigos manifesta-se o sonho de uma sociedade onde todos possam ser
felizes, qualquer que seja a sua condição. Esta chama tem iluminado o mundo
inteiro, incluindo o processo de construção europeia.

Ao expor os direitos, liberdades e garantias do ser humano, este documento,


baseado na noção de dignidade humana, apresenta a vida como u m valor
primordial e inviolável.

Diadosdirei+os humanos
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Artigo 1.9
Portugal é uma República soberana,
baseada na dignidade da pessoa humana
e na vontade popular e empenhada na
construção de uma sociedade livre, justa e
solidária.
Artigo 13.9
Todos os cidadãos têm a mesma dignidade
social e são iguais perante a lei.
Artigo 24.9
A vida humana é inviolável. Em caso algum
haverá pena de morte.
http://dre.pt/comum/html/legisicrp.html

A Constituição da República Portuguesa, l e i fundamental d e Portugal


(promulgada e m abril de 1976), reconhece a dignidade da pessoa, da qual
decorrem os outros direitos e afirma a inviolabilidade da vida humana.
Carta dos Direitos
F n t a i s da União Europeia
Preâmbulo
Os povos da Europa, estabelecendo entre si uma união cada vez mais estreita,
decidiram partilhar um futuro de paz, assente em valores comuns. Consciente do seu
património espiritual e moral, a União baseia-se nos valores indivisíveis e universais
da dignidade do ser humano, da liberdade, da igualdade e da solidariedade.
Artigo 1.2
A dignidade do ser humano é inviolável. Deve ser respeitada e protegida.
Artigo 2.2
Todas as pessoas têm direito à vida. Ninguém pode ser condenado à pena de morte,
nem executado.
Artigo 3•2
Todas as pessoas têm direito ao respeito pela sua integridade física e mental.
No domínio da medicina e da biologia, devem ser respeitadas, designadamente:
—a proibição das práticas eugénicas, nomeadamente das que têm por finalidade
a seleção das pessoas; — a proibição de transformar o corpo humano ou as suas
partes, enquanto tais, numa fonte de lucro.
Artigo 4•2
Ninguém pode ser submetido a tortura, nem a tratos ou penas desumanos ou degradantes.
http://eur-lex.europa.eu/ptitreaties/index.fitm

A Carta dos Direitos Fundamentais d a União Europeia, formalmente


adotada em dezembro de 2000, representa um compromisso político e social
onde se afirma que o direito à vida e a dignidade do ser humano fazem parte do
património ético dos povos da europa.

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3. Qual a finalidade
das declarações de
direitos humanos?
(-12v i r 1 b i I m n 2 nas r e l i g i õ e s
Todas as religiões exaltam o valor da vida e da dignidade humana apelando
ao respeito pela pessoa.

Eu n ã o desejo matar o s meus professores, fios, filhos,


avós, sogros, netos, cunhados e outros parentes. Ó Senhor
Krishna, que prazer há em matar os nossos primos? Por
matar os nossos semelhantes nós iremos incorrer num
crime e, consequentemente, num pecado. Portanto, nós não
mataremos os nossos primos. Como pode alguém ser feliz
depois de matar os seus parentes, ó Krishna? De qualquer
modo, eles estão cegos pela ambição e não veem maldade na
destruição da família ou pecado por traírem os seus amigos.
Bhagavad-Gita

Idismo
Tudo o que existe no mundo possui uma alma, não só o ser
humano e os animais, como também as plantas, as pedras, as
gotas de água, etc.
O respeito pela vida é o primeiro e o mais importante
mandamento budista.
Por essa razão é que, ao andar, deve o monge varrer diante
de si para não correr o risco de matar algum animal pequeno.
A doutrina budista proclama o respeito absoluto pela vida
humana.
Mircea Eliade, História das Ideias e Crenças Religiosas

.fiNelm•'

Islão
Vós que credes, sede firmes na distribuição da justiça, mesmo
contra vós mesmos, vossos pais e vossos parentes, trate-se de
ricos ou indigentes. Deus vela sobre todos.
Quem matar uma pessoa seja julgado como se houvesse
matado toda a humanidade.
Todos os crentes são irmãos. Fazei a paz entre os vossos irmãos
e temei a Deus.
Alcorão 4,135; 5,33; 49,10
ILlift:maiiin

laísr e Cristia m o
A vida é sempre um bem. Esta é uma intuição ou até um dado de experiência, cuja
razão profunda o homem é chamado a compreender.
Por que motivo a vida é um bem? Esta pergunta percorre a Bíblia inteira, encontrando
já nas primeiras páginas uma resposta eficaz e admirável. A vida que Deus dá ao
homem é diversa e original, se comparada com a de qualquer outra criatura viva,
dado que ele, apesar de emparentado com o pó da terra, é, no mundo, manifestação
de Deus, sinal da sua presença, vestígio da sua glória. Isto mesmo quis sublinhar
Santo ireneu de Lião, com a célebre definição: «A gloria de Deus é o homem vivo».
Ao homem foi dada uma dignidade sublime, que tem as suas raízes na ligação ínfima
que o une ao seu Criador: no homem, brilha um reflexo da própria realidade de Deus.
«Que é o homem para Vos lembrardes dele, o filho do homem para dele cuidardes?»
— interroga-se o salmista (Sal 8,5). Diante da imensidão do universo, coisa bem
pequena é o homem; mas é precisamente este contraste que faz sobressair a
sua grandeza: «Pouco lhe falta para que seja um ser divino; de glória e de honra
o coroastes» (Sal 8,6). A glória de Deus resplandece no rosto do homem. Nele, o
Criador encontra o seu repouso, como comenta, maravilhado e comovido, Santo
Ambrósio: «Terminou o sexto dia, ficando concluída a criação do mundo com a
formação daquela obra-prima, o homem, que exerce o domínio sobre todos os seres
vivos e é como que o ápice do universo e a suprema beleza de todo o ser criado.
Verdadeiramente deveremos manter um silêncio reverente, já que o Senhor Se
repousou de toda a obra do mundo. Repousou-Se no íntimo do homem, repousou-
-Se na sua mente e no seu pensamento; de facto, tinha criado o homem dotado de
razão, capaz de O imitar, desejoso das graças celestes».
João Paulo II, Evangellum Vitoe, 34-35

15
Defesa da vida kumarla
—Um percurso

Car+a dos Direl-hos


Fundamen+Dis da Uni60
Mondornen+o EUrOgia
Pr'ec'el±os do Amor
de Buda (Tesus) DUDH

\I 1998
19%2000
St. k l i t i ae. S t . V a.C.
ac. a c .
Cons-1-!-Fuiçai'o da
Decak)go TUrarnfrItO deE)hagavad-G!±a Akorn gepóbka Porfuguesa
Hipócrai-es

Age de foi modo quf 1-rat-es a humanidade, 1-an-t-o na ±ua pessoa


4. Por que é que a como na do ou-h-o, sempre ,e ao mesmo i-ernpo, como um -Hm ,e nunca
vida é sempre um simpksmen+'e como um meia
bem?
Irrirnanufl Kanf (17211-4801-0

que a dignidade da pessoa humana é um valor inalienável, mas


que precisa de ser cuidado.
A vida humana é o valor primordial, pelo que
toda a ação política, económica e pessoal deve ter
como parâmetro orientador e balizador o princípio
da dignidade da pessoa humana.

Apesar de ser o valor primeiro, a vida pode não


ser um valor supremo. Sempre se considerou uma
característica de heroísmo ou de santidade dar a
vida para ajudar os semelhantes (valor ético) ou
para defender as próprias crenças (valor religioso).

Ainda q u e n ã o seja u m b e m absoluto, p o r


ser humana, a vida merece e exige o devido
respeito, porque cada pessoa transporta consigo
a dignidade da sua pertença à condição humana.
Cada humano "é presença de Deus".

i. d a vida até à morte


A revelação bíblica mostra-nos a existência humana como resultado da bondade
divina, isto é, como um dom que suscita em nós gratidão e não nos dispensa da
responsabilidade de cuidar dele. Para o crente, a vida não está à inteira disposição
de quem quer que seja, não é arbitrariamente disponível, mas tem de ser respeitada
como a condição básica de realização pessoal.
A vida humana é prévia a qualquer projeto pessoal, por isso ninguém é senhor absoluto
da sua própria vida e muito menos senhor da vida dos outros. A convicção de que só
Deus é o Senhor da vida não retira ao ser humano a sua responsabilidade de procurar
as melhores opções para cuidar da vida que tem diante de si. Cada pessoa deve
ser respeitada como sujeito da sua própria existência e nunca simplesmente como
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objeto do qual se possa dispor arbitrariamente. (...) A obrigação moral de garantir
à vida humana uma especial proteção está testemunhada em preceitos primordiais 5. Por que é que a
da humanidade, com expressões diversas em todas as culturas, e codificada no vida humana é um
mandamento bíblico do Decálogo: «Não matarás» (Dt 5,17). 1 valor primordial mas
não absoluto?
Nota Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa, 2009
Par a própria vida pelo outro
Ao longo da história, encontramos vários testemunhos de pessoas que, com
toda a dignidade, foram capazes de entregar a sua própria vida em prol dos
outros. Giana Beretta Molla e Martin Luther King são dois exemplos de entrega
da própria vida em beneficio da vida de outrem.

Mãe de Farm _d
Gianna Beretta Molla (1922-1962), médica italiana, casada e mãe de quatro filhos,
foi proclamada santa pela Igreja católica.
Fruto do seu matrimónio com Pietro Molla nasceram quatro crianças: Pierluigi,
Mariolina, Laura e Gianna Emanuela. Na última gestação, aos 39 anos, descobriu
que tinha um fibroma no útero. Foram-lhe apresentadas três opções: retirar o útero
doente, o que ocasionaria a morte da criança; abortar o feto; ou, a mais arriscada,
submeter-se a uma cirurgia de risco e preservar a gravidez. Não hesitou! Disse:
«Salvem a criança, pois tem o direito de viver e ser feliz!» Submeteu-se à cirurgia.
Alguns dias antes do parto, sempre com grande confiança em Deus, disponibilizou-se
para sacrificar a sua vida se essa fosse a condição para salvar a do filho: «Se tiverem
de decidir entre mim e o meu filho, nenhuma hesitação: exijo que escolham a
criança. Salvem-na». Deu entrada, para o parto, na sexta-feira santa de 1962. No
dia seguinte, 21 de abril, nasceu Gianna Emanuela. Gianna Beretta morreu uma
semana depois.
Foi beatificada em 1994, Ano Internacional da Família, e canonizada no dia 16
de maio de 2004, recebendo do papa João Paulo II o sugestivo título de «Mãe de
Família».
Adaptado de http://www.vaticon.vo/
Fm nrol dA i e da - e r n i d a d e ".1.1111.111
Martin Luther King (1929-1968) foi um pastor batista e um importante ativista
político norte-americano. Lutou em defesa dos direitos sociais para os negros e as
mulheres, combatendo o preconceito e o racismo. Defendia a luta pacífica, baseada
no amor ao próximo, como forma de construir um mundo melhor, fundamentado
na igualdade de direitos sociais e económicos.
Em 1955 foi um dos líderes ao boicote às empresas de transportes, que levou
a Suprema Corte Americana a pôr fim à discriminação que havia contra os
negros nos transportes públicos. Na década de 1960 Luther King liderou várias
manifestações pacíficas defendendo os direitos dos negros. Em 1964 recebeu
o Prémio Nobel da Paz por combater pacificamente o preconceito racial nos
Estados Unidos. Em 1968 organizou a Campanha dos Pobres, apelando à
justiça social e económica.
Com a sua atuação social e política, Luther King despertou muito ódio naqueles
que defendiam a segregação racial. Durante quase toda a sua vida adulta foi
constantemente ameaçado de morte por estas pessoas e grupos.
Na manhã de 4 de abril de 1968, antes de uma marcha, Martin Luther King foi
assassinado no quarto de um hotel na cidade de Memphis.
A sua atuação foi fundamental nas mudanças que ocorreram nas leis dos Estados Unidos
da América nas décadas de 1950 e 1960. As leis segregacionistas foram caindo dando
espaço a uma legislação mais justa e igualitária.
Adaptado de Christy Whitman, O jovem Mortin Luther King

MARTIN LUTHER KING

6. Dar a própria
vida por uma causa
ou um projeto será
estupidez ou uma
atitude aliciante e
radical? Justifica a
resposta.

Oque maisprseocupa nãoséo gri-to doscorrup-i-os,dosviokn+os,dosci-esones+os,


dossserncorá-ser, dosssernséficaOclu,e mais preocupa 'e o siÊncio dos bons.
Lu-ifierKing
Dar a vida pela verdade libertarlora
Ao apresentar-se como pastor, Jesus quer identificar-se com a vida e o
cuidado de cada pessoa. A figura do Bom Pastor transporta-nos para a doação,
a simplicidade, o serviço, a proteção total.

O Bom Pastor
"Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida
pelas ovelhas. " E u sou o bom pastor; conheço as
minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-me,
"assim como o Pai me conhece e Eu conheço o Pai; e
ofereço a minha vida pelas ovelhas.
Jo 10,11.14-15

Um pastor de ovelhas cuida do rebanho para sua


própria conveniência: para aproveitar a lã, o leite
e a carne; e em situação de perigo (por exemplo
ataque de um lobo) foge, deixando as ovelhas em
risco. Mas um bom pastor nunca abandona as suas
ovelhas. U m b o m pastor é aquele que se torna
íntimo do rebanho, que conhece cada ovelha e é
reconhecido por elas. Conduz cada uma a pastagens
seguras e refrescantes s e n d o especialmente
atencioso p a r a c o m a ovelha debilitada ( q u e
carrega aos ombros) sempre com a preocupação
Bom Pastor, Vitral da Igreja de Santo
de não perder nenhuma. Condestável, Lisboa

Jesus é o Bom Pastor que protege, ama e salva da destruição proporcionando


a vida eterna, ou seja, uma vida em comunhão com o próprio Deus. Morreu
dando a vida por nós, suas ovelhas, mas ressuscitou e continua a ser o Bom
Pastor.

Também estas "ovelhas", cada uma na sua medida, têm a missão de imitar o
Pastor, oferecendo a vida pelos outros numa dinâmica de amor gratuito. Ser Bom
Pastor é entregar-se a projetos de amor ao serviço dos outros dignificando a vida.

que o valor da vida humana implica um agir ético em situações


vitais do quotidiano.
G r U p n ç P M dPW,2 - a g e m Social

A ética vigente exige o respeito pela pessoa e pelos seus direitos, garantindo
o exercício d a liberdade e o reconhecimento fundamental dos valores d a
igualdade e da fraternidade, que excluem quaisquer segregações. Mas apesar
da consciência universal dos direitos humanos, o preconceito e a discriminação
continuam a produzir ataques à dignidade humana.
Muitos grupos minoritários ou
«não produtivos» continuam em
situação de desamparo.

Ideologias racistas e fanatismos


políticos e religiosos continuam a
dizimar vidas humanas.

Crianças, idosos, deficientes e


doentes terminais continuam a
ser maltratados.

A vida é um bem inestimável. Mas a história da humanidade está repleta


de contínuos atentados à vida humana e de brutais violências contra o ser
humano.
Tal acontece porque cada pessoa é, e m si mesma,
um ser dividido; n o seu coração habitam o bem e o
7. Pesquisa noticias
mal. Por imperativos egoístas ou p o r condicionalismos
sobre grupos em
sociais, aprisiona, por vezes, a liberdade e a dignidade desvantagem social.
dos outros. Se é verdade que «a medida do amor é amar
sem medida» — princípio que tem sido testemunhado
por muitas pessoas de bem —, também é verdade que
outros não se deixaram transformar pela beleza da vida.
Eo preço a pagar tem sido excessivo.

ruim"'
Maus - ; °Dl c r i e ic
Os maus tratos contra crianças e jovens podem ser definidos como qualquer ação
ou omissão não acidental perpetrada pelos pais, cuidadores ou outrem que ameace
a segurança, dignidade e desenvolvimento biopsicossocial e afetivo da vítima.
Qualquer tipo de mau trato atenta, de forma direta, contra a satisfação adequada
dos direitos e das necessidades fundamentais das crianças e jovens, não garantindo,
por este meio, o crescimento e desenvolvimento pleno e integral de todas as suas
competências físicas, cognitivas, psicológicas e socioemocionais.
Associação Portuguesa de Apoio à Vítima,
Manual Crianças e Jovens vítimas de violência: compreender, intervir e prevenir
APAV sos vít• d F ,
.tutklut
ApoioaVítima
Nos últimos anos aumentaram as queixas de violência contra idosos. O aumento
da esperança média de vida e o enfraquecimento dos sistemas de proteção social,
coloca-os numa situação de grande fragilidade. É urgente mudar mentalidades
(7)7 20 00 77)
e recuperar o respeito pelo saber de experiência feito. Tendemos a associar
www.apav.pt imediatamente o termo violência a maus tratos físicos, no entanto, o âmbito da
violência contra os idosos assume muitos outros contornos tão ou mais graves
do que a agressão física, tais como agressões psicológicas, privação de cuidados
adequados, abandono, desvalorização d a s u a personalidade e experiência,
usurpação e administração indevida dos seus próprios bens.
A sociedade atual tem vindo a tratar muito mal os idosos, desvalorizando-os
constantemente. Os ritmos de vida, as exigências profissionais e
a falta de medidas específicas para o desenvolvimento de
o
recursos para integração e proteção dos idosos acabam
por potenciar uma cultura em que os mais velhos são
postos de parte por não corresponderem aos padrões
sociais de beleza, dinheiro e consumo.
Épreciso recuperar a importância do papel do idoso
para a comunidade e assegurar ou reforçar a formação
dos técnicos que trabalham diretamente com eles
TA11-'-/EFA em casas de repouso e lares. Se antigamente os
mais velhos eram respeitados, tidos como fonte
de sabedoria, hoje a permanente falta de tempo
8. Comenta
a afirmação e a busca incessante pela novidade ignora a sua
«Anfigamente os experiência de vida. Esta é uma atitude que nos
mais velhos eram cabe alterar e que espelha também a nossa fuga
respeitados, tidos perante o inevitável envelhecimento.
como fonte de Excertos de Vânia Machado,
sabedoria». Família Cristã, fevereiro de 2009

Cristãos enfrentam perseguição


em mais de 60 países
A Coreia do Norte ocupa, pelo 129 ano consecutivo, o primeiro lugar na World
Watch List de 2013.
A World Watch List é um ranking de 50 países onde a perseguição aos cristãos por
motivos religiosos — e não por motivos políticos, económicos, sociais, étnicos ou
acidentais é mais grave.
A opressão comunista na Coreia do Norte não deixa espaço para qualquer outra re-
ligião que não seja a adoração da dinastia Kim. Os cristãos são enviados para campos
de trabalho de onde não há libertação possível.
Por causa do fundamentalismo islâmico, em 2013 a Somália é o segundo lugar do
mundo onde é mais difícil ser cristão e a Síria, o terceiro.
Adaptado de http://wwwworldwatchlist.us/
Na origem dos atentados à dignidade humana estão, quase sempre, atitudes
preconceituosas e egoístas.
o 1,'RECCI\TCEI-TC é um juízo (opinião) preconcebido, injustificado e
irracional. Manifesta-se geralmente em atitudes discriminatórias relativamente
a determinadas pessoas, lugares, ideologias ou tradições que, pelo simples facto
de serem diferentes, são considerados destituídos de valor. Indica, portanto,
desconhecimento e ignorância relativamente ao outro. Em geral, a ignorância
produz o medo do que se desconhece e conduz à adoção de comportamentos
defensivos que podem manifestar-se desde a simples indiferença até à violência
explícita. O outro, cuja verdadeira natureza se ignora, é entendido como uma
ameaça, como um potencial inimigo que deve, por conseguinte, ser combatido
ou mesmo eliminado. O preconceito conduz ao autoritarismo, à discriminação,
à marginalização e à violência.

O R A C I S M O é uma forma de pensar e de agir fundada num preconceito.


Acredita-se que alguns indivíduos ou grupos, pelo simples facto de possuírem
determinadas características fisicas hereditárias ou certo tipo de manifestações
culturais, são seres inferiores. O racismo baseia-se em opiniões preconcebidas e
injustificadas segundo as quais as diferenças biológicas entre os seres humanos
lhes atribuem um estatuto superior ou inferior. De acordo com esta ideologia,
os seres humanos não têm todos o mesmo valor nem são todos dotados da
mesma dignidade. O valor depende da sua pertença a determinados grupos
raciais. O racismo pretende justificar a escravidão, a opressão, o domínio de
uns povos sobre outros, o genocídio contra um grupo ou uma etnia. O racismo
afirma a necessidade de um grupo social dominante (em termos económicos ou
numéricos) se distanciar de outros grupos que, por razões históricas, possuem
tradições ou comportamentos diferentes. O grupo dominante constrói um mito
(um estereótipo) sobre os outros grupos e com base nessa ideia preconcebida
nega-lhes a liberdade ou mesmo o direito à existência.
Ser racista é desprezar o outro em nome da sua pertença
a um grupo que se distingue pela cor da pele ou p o r outras
caraterísticas físicas, normalmente associadas ao uso de uma
língua própria, à prática de uma religião diferente, etc. Os racistas
utilizam sempre argumentos de ordem irracional para justificar a
hierarquização entre as pessoas.

Oshomens diferem peio saber,


mass'Ol'o iguais na sua apildao paro, o saber
Cíc'ero, filósofo romano
f
As diferenças entre as pessoas ou os grupos humanos não justificam que se
lhes atribua um valor diferente. Ser pobre ou rico, europeu ou asiático, preto ou
branco, não retira nem acrescenta dignidade ou valor às pessoas.

X E N C F C M A é um medo injustificado perante estranhos; é a aversão e


9. Define hostilidade relativamente a povos estrangeiros. Trata-se de um fenómeno que
"preconceito" e esteve presente ao longo de toda a história da humanidade e que ainda é atual,
"racismo" ilustrando-
particularmente face aos imigrantes.
-os com episódios
históricos.
Preconceito e racismo originaram episódios de inaudita crueldade, entre
muitos outros: o estalinismo, o nazismo e o apartheid.

k 3 TA L I - N i - S M O é o regime político
adotado p o r Joseph Stalin, líder da União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) entre 1929
e 1953.

Stalin i m p ô s a o s soviéticos u m governo


totalitário, baseado na eliminação de qualquer
oposição a o regime e na constituição d e u m
poderio militar que colocou a URSS em condições
de levar adiante uma Guerra Fria com os Estados
Unidos. A grande meta de Stalin era tornar a URSS uma potência industrial. Para
construir as indústrias expropriou os agricultores. Muitos camponeses e fazendeiros
ricos foram mortos. Toda a produção tinha de ser entregue ao Estado e os operários
foram impedidos de mudar de emprego e de fazerem greves. Cerca de 20 milhões
de pessoas foram mortas nas perseguições políticas e na coletivização forçada das
terras agrícolas e outros 20 milhões terão sido vítimas de prisões e exílios. Stalin é
considerado um dos piores tiranos da história.
N A Z I S M C é a ideologia de Adolf Hitler,
líder da Alemanha de 1933 a 1945.
Eleito democraticamente, o führer iniciou uma
propaganda alienante, recorrendo à violência
policial para implantar uma ditadura baseada no
pangermanismo, no racismo, no antissemitismo,
no anticomunismo e na oposição ao liberalismo.
O povo alemão, como todos os outros, era
bastante miscigenado (mistura de várias etnias)
e, portanto, não havia uma «raça pura» cujos
traços físicos fossem inteiramente distintos dos
do resto da humanidade. A propaganda nazi defendia a pureza racial do povo
alemão e a sua superioridade em relação a todos os povos, pelo que o nazismo
implementou formas de discriminação com vista a «purificar» o povo alemão
de todo o contágio que pudesse tornar-se um obstáculo à manutenção da «raça
pura ariana».
A sede de poder de Hitler não tinha limites. Invadiu e anexou vários países
europeus, dando origem à Segunda Guerra Mundial. Um grande objetivo de
Hitler era a extinção do povo judeu (a «solução final»). Confinou a população
judaica a guetos, sujeitou-a à deportação em massa e isolou-a em campos de
concentração. Nestes "campos de morte", para além de serem sujeitas a trabalhos
forçados, as pessoas viviam em condições desumanas. Eram permanentemente
torturadas e utilizadas como cobaias em experiências científicas que tinham
por objetivo melhorar artificial e cientificamente a «qualidade» da população
alemã. Estima-se que cerca de seis milhões de judeus foram vítimas do nazismo.
A este genocídio chama-se geralmente «holocausto». Mas o ódio de Hitler
não se confinava apenas ao povo judeu; comunistas, homossexuais, ciganos,
pessoas com deficiência e todos os que se opusessem à sanguinária ideologia
nazi eram considerados como indignos de existir.
A : P A R T I L L I D (separação) foi o regime
que manteve a população da África do Sul sob
o domínio de u m povo de origem europeia
(Holanda e Inglaterra) durante quase cinquenta
anos. Embora a segregação na África do Sul
existisse desde a colonização no século XVII,
a partir de 1948 passou a ser uma prática
legal. Tal legislação dividia os habitantes em
grupos raciais. A segregação acontecia nas

11117.111111111111.11' áreas residenciais, na saúde, na educação e


em vários serviços públicos. Aos negros, indianos e mestiços eram prestados
serviços muito inferiores.

Este regime político racista, em que uma minoria branca dominava uma maioria
negra, chegou ao seu termo quando, por pressão mundial e após a libertação
de Nelson Mandela, foram convocadas as primeiras eleições para um governo
multirracial de transição, em abril de 1994. Mandela assumiu então a presidência
da África do Sul, tornando-se o primeiro presidente negro do país.

Dar VO7 m e m a não tem


A história da humanidade é testemunha de como o ser humano abusou, e abusa
ainda, do poder e das capacidades que lhe foram confiadas por Deus, dando lugar
a diversas formas de discriminação injusta e de opressão para com os mais fracos e
os mais indefesos. Os atentados quotidianos contra a vida humana; a existência de
grandes áreas de pobreza, onde as pessoas morrem de fome e de doença, excluídas
dos recursos cognitivos e práticos, que muitos países possuem em abundância;
um progresso tecnológico e industrial que cria o risco concreto de uma queda do
ecossistema; o uso das investigações científicas no âmbito da física, da química
e da biologia para fins bélicos; as numerosas guerras que ainda hoje dividem
povos e culturas, infelizmente são apenas alguns sinais eloquentes de como o ser
humano pode fazer mau uso das suas capacidades e tornar-se o pior inimigo de si
mesmo, perdendo a consciência da sua alta e específica vocação de colaborador
da obra criadora de Deus. Paralelamente, a história da humanidade manifesta um
real progresso na compreensão e no reconhecimento do valor e da dignidade de
cada pessoa. Assim, por exemplo, as proibições, jurídico-políticas, e não apenas
TAI--111EFA éticas, das diversas formas de racismo e de escravidão, das injustas discriminações
e marginalizações das mulheres e crianças e das pessoas doentes ou com grave
deficiência são testemunhos evidentes do reconhecimento do valor inalienável e
10. Comenta a frase: da intrínseca dignidade de cada ser humano e sinal de um progresso autêntico. A
«A Igreja sente Igreja sente o dever de, com coragem, dar voz a quem a não tem. O seu é sempre
o dever de, com o grito evangélico em defesa dos pobres do mundo, de quantas são ameaçados,
coragem, dar voz a I desprezados e oprimidos nos seus direitos humanos.
quem a não tem»
Congregação para a Doutrina da Fé, Dignitas Personae, 36-37
Quar - ) um Homem Quiser
Tu que dormes à noite na calçada do relento
Numa cama de chuva com lençóis feitos de vento
Tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento
És meu irmão amigo
És meu irmão.
Etu que dormes só no pesadelo do ciúme
Numa cama de raiva com lençóis feitos de lume
Esofres o Natal da solidão sem um queixume
És meu irmão amigo
És meu irmão.
Natal é em dezembro
Mas em maio pode ser.
Natal é em setembro
Équando um homem quiser.
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da mulher.
Tu que inventas ternura e brinquedos para dar
Tu que inventas bonecas e comboios de luar
Ementes ao teu filho por não os poderes comprar
És meu irmão amigo
És meu irmão.
Etu que vês na montra a tua fome que eu não sei
TAREFA
Fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei
Pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei 11. Comenta o verso
És meu irmão amigo «Natal é quando
És meu irmão. nasce uma vida a
José Carlos Ary dos Santos (1937-1984), As Palavras dos Canções amanhecer».

Presépio, Faustino José Rodrigues (1760-1829) [Museu Nacional de Arte Antiga]

interpretar criticamente factos sociais sobre a situação


de grupos minoritários e m desvantagem e reconheço a
importância da proposta do agir ético cristão.
A Igreja Católica na promoção
digrdHe v i d a b a n a -
De acordo com os apelos e ensinamentos da Igreja Católica cada pessoa
deve considerar o próximo como "outro eu", respeita-lo e rejeitar tudo o que
viola a integridade pessoal e social — porque qualquer forma de discriminação é
contrária à vontade de Deus.

Respeito pel P•less, h u r r


A Igreja recomenda a reverência para com o homem, de maneira que cada um deve
considerar o próximo, sem exceção, como um «outro eu», tendo em conta, antes de
mais, a sua vida e os meios necessários para a levar dignamente.
Sobretudo em nossos dias, urge a obrigação de nos tornarmos o próximo de todo
e qualquer homem, e de o servir efetivamente quando vem ao nosso encontro,
quer seja o ancião, abandonado de todos, ou o operário estrangeiro injustamente
desprezado, o u o exilado, o u o indigente que interpela a nossa consciência,
recordando a palavra do Senhor: «todas as vezes que o fizestes a um destes meus
irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes» (Mt 25,40).
Concílio Vaticano II, Gaudium et Spes, 27

28
-de essL.
A igualdade fundamental entre todos os homens deve ser cada vez mais reconhecida,
uma vez que, dotados de alma racional e criados à imagem de Deus, todos têm a
mesma natureza e origem; e, remidos por Cristo, todos têm a mesma vocação e
destino divinos.
Sem dúvida, os homens não são todos iguais quanto à capacidade física e forças
intelectuais e morais, variadas e diferentes em cada um. Mas deve superar-se e
eliminar-se, como contrária à vontade de Deus, qualquer forma social ou cultural
de discriminação, quanto aos direitos fundamentais da pessoa, por razão do sexo,
etnia, cor, condição social, língua ou religião. É realmente de lamentar que esses
direitos fundamentais da pessoa ainda não sejam respeitados em toda a parte. Por
exemplo, quando se nega à mulher o poder de escolher livremente o esposo ou o
estado de vida ou de conseguir uma educação e cultura iguais às do homem.
Além disso, embora entre os homens haja justas diferenças, a igual dignidade pessoal
postula, no entanto, que se chegue a condições de vida mais humanas e justas. Com
efeito, as excessivas desigualdades económicas e sociais entre os membros e povos
da única família humana provocam o escândalo e são obstáculo à justiça social, à
12. Qual a posição da
equidade, à dignidade da pessoa humana e, finalmente, à paz social e internacional. Igreja Católica sobre
Procurem as instituições humanas, privadas ou públicas, servir a dignidade e o a dignidade da vida
destino do homem, combatendo ao mesmo tempo valorosamente contra qualquer humana?
forma de sujeição política ou social e salvaguardando, sob qualquer regime polífico, 13. A que desafios
os direitos humanos fundamentais. interpela esta
concílio Vaticano II, Gaudium et Spes, 29 mensagem?

I I q u e a mensagemcristãa p e l a à defesae à promoçãod a


dignidade humana.

29
Na parábola do bom samaritano, Jesus afirma a dignidade da vida humana,
qualquer que seja a sua proveniência, e revela a natureza de uma religião
autêntica, que consiste não apenas na adesão a determinadas crenças ou na
prática de alguns rituais, mas fundamentalmente numa vida orientada pelo
princípio do amor ao próximo.
O desafio é valorizar a vida, tornando-se próximo de quem precisa.

Pará bota do bom samaritano


- "Levantou-se, então, um doutor da Lei e perguntou-lhe, para o experimentar:
«Mestre, que hei de fazer para possuir a vida eterna?» 26Disse-lhe Jesus: «Que
está escrito na Lei? Como lês?» " O outro respondeu: «Amarás ao Senhor, teu
Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças e
com todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a fi mesmo.» 28Disse-lhe
Jesus: «Respondeste bem; faz isso e viverás.» " M a s ele, querendo justificar a
pergunta feita, disse a Jesus: «E quem é o meu próximo?» "Tomando a palavra,
Jesus respondeu:
«Certo h o m e m descia d e Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos
salteadores q u e , depois d e o despojarem e encherem d e pancadas, o
abandonaram, aeixando-o meio morto. " P o r coincidência, descia poraquele
caminho u m sacerdote que, ao vê-lo, passou ao largo. " D o mesmo modo,
também um levita passou por aquele lugar e, ao vê-lo, passou adiante. " M a s
um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, encheu-se de
compaixão. "Aproximou-se, ligou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho,
colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou
dele. "No dia seguinte, tirando dois denários, deu-os ao estalajadeiro, dizendo:
'Trata bem dele e, o que gastares a mais, pagar-to-ei quando voltar.' "Qual
destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos
I A Quem ajudaria salteadores?» 37Respondeu: «O que usou de misericórdia para com ele.» Jesus
eu? Porque ajudo os retorquiu: «Vai e faz tu também o mesmo.»
outros? Quem precisa
mais da minha ajuda?
Um d o u t o r d a L e i interroga Jesus
sobre o que deve fazer para alcançar a
vida eterna. É a questão central da vida
humana: como alcançar a plenitude da
vida, a felicidade sem limites? Mas, na
boca do doutor da Lei, é também uma
pergunta armadilhada, porque pretendia
apanhar Jesus e m f a l s o e conseguir
matéria para o condenar. Jesus, porém,
devolve-lhe a pergunta, conduzindo-o
à Lei d e Moisés, e o escriba recita o
preceito do amor a Deus e ao próximo.
Vendo a sua síntese aprovada, o doutor
da Lei acrescenta outra questão muito
discutida: «E quem é o meu próximo?»
No tempo de Jesus não havia consenso
entre os mestres a respeito desta questão O Bom Somoritono,
e muitos consideravam que o próximo clive UptIon (1911-2006)

era apenas o que pertencia ao mesmo grupo étnico, à mesma religião e ao


mesmo grupo social. Jesus, no entanto, tinha uma perspetiva muito diferente da
que era geralmente defendida. É precisamente para explicar a sua interpretação
que conta a «parábola do bom samaritano».

---N

Os doutores da Lei ou escribas eram peritos na interpretação da Lei de Moisés,


cujo cumprimento impunham ao povo. Os sacerdotes, no tempo de Jesus, estavam
encarregues de oferecer diariamente sacrifícios n o Templo de Jerusalém. Além
das tarefas cultuais, competia-lhes a instrução do povo em assuntos religiosos
e a administração dos bens do Templo. Os levitas eram auxiliares dos sacerdotes,
constituindo uma espécie de baixo clero.
Judeus e samaritanos eram dois povos que viviam separados. Os judeus desprezavam
os samaritanos por serem o resultado da miscigenação entre israelitas e outros povos 15. Se Jesus contasse
estrangeiros e por não frequentarem o templo de Jerusalém. Por outro lado, os esta parábola hoje,
samaritanos retribuíam aos judeus o mesmo desprezo. que personagens
escolheria?

A parábola situa-nos na estrada, de cerca de trinta quilómetros, que desce de


Jerusalém para Jerico. Era um itinerário perigoso, cheio de contracurvas e ravinas,
onde facilmente se escondiam salteadores. Ora «um homem» não identificado
(pelo contexto, depreende-se que é u m judeu, pois veio de Jerusalém) foi
assaltado por bandidos e deixado caído na berma da estrada. Trata-se, portanto,
de um homem ferido, abandonado, a necessitar de ajuda urgente.
Pela estrada passaram sucessivamente um sacerdote
e um levita que o ignoraram. Nada se diz a respeito das
razões que levaram estes homens a não prestar ajuda
ao moribundo. Talvez o medo de serem também eles
assaltados, ou a preocupação com a pureza legal (que
proibia que tocassem em sangue), ou a pressa, ou a simples
indiferença diante d o sofrimento alheio. Apesar dos
seus conhecimentos religiosos não se sentem animados
por qualquer espécie de sentimento de misericórdia!
Eles sabem tudo sobre Deus, lidam diariamente com o
culto divino, mas, afinal, nada sabem a respeito da sua
verdadeira natureza: o amor e a vida em plenitude. A
sua religião resume-se a um conjunto de ritos estéreis,
cerimónias faustosas e solenes, contudo sem a densidade
A Palestina no tempo de Jesus espiritual que só o amor pode oferecer.
Pela estrada passou, finalmente, um samaritano: um estrangeiro, um inimigo
de Israel e da sua religião, um infiel às tradições judaicas antigas, um homem que
vivia, sob a ótica dos judeus, longe da salvação e do amor de Deus. No entanto,
foi ele quem parou — sem medo de correr riscos ou de adiar os seus interesses
pessoais — para cuidar do homem estendido na berma da estrada. O samaritano
poder-se-ia ter deixado conduzir pelo ódio entre os dois povos. Porém, a sua
atitude marcou a diferença. Cheio de compaixão aproximou-se do homem caído,
desinfetou-lhe as feridas com vinho, atenuou-lhe as dores com azeite, levou-o
para a estalagem e ainda pagou para cuidarem dele. Apesar de ser um estrangeiro
e de pertencer a outro grupo religioso, deixou-se guiar pela atenção ao próximo,
independentemente do seu grupo de pertença, porque tinha um coração repleto
de amor e, portanto, cheio de Deus.

O Bom Sommitono, Dinah Roe Kendall (pintora contemporânea)


Ao apresentar como modelo um samaritano, Jesus ultrapassa as
expetafivas do doutor da Lei, dado que o herói da história não é quem
seria de esperar, mas, pelo contrário, alguém que despertava os piores
sentimentos: um excluído, um estrangeiro, um ser menor.
Toda a parábola se centra na ideia de que o amor não tem qualquer
espécie de limite, é universal e estende-se a todas as pessoas, porque
todas são portadoras da mesma dignidade. E é sobretudo aquele que
precisa de auxílio que constitui o nosso próximo. O critério do amor
concreto não é a pertença étnica, religiosa ou outra, mas a necessidade
das pessoas que se cruzam connosco no percurso da vida.
«VOi {-GIZ o Mesrrio» — Com este desafio Jesus desloca totalmente
o centro da questão. Não se trata de saber quem é o nosso próximo,
porque toda a pessoa o é; trata-se, isso sim, d e saber como nos
tornamos próximos do outro. A narrativa inverte os papéis e coloca o
próximo não do lado daquele que deve ser amado, mas daquele que
deve amar. O doutor da Lei esperava um esclarecimento teórico, porém O Bom Somoritono
foi remetido para a sua responsabilidade de praticar os mandamentos. Van Gogh (1853-1890)

Oamor ao próximo e sinónimo de disponibilidade para ajudar qualquer


pessoa que precise, seja amiga ou inimiga, conhecida ou desconhecida, da
mesma efilia ou de qualquer ou±ra; significa reconhecer em ±odos e em
cada um a dignidade de ser pessoa

«Que fazer para -1-er direi-1v à vida eferna?» —A conclusão é óbvia: para
alcançar a felicidade é preciso amar a Deus e tornarmo-nos próximos dos que
necessitam da nossa ajuda. Trata-se, portanto, de fazer com que o amor percorra
as duas coordenadas fundamentais da existência: a vertical (relação com Deus)
e a horizontal (relação com os outros).
Como o bom samaritano que se aproximou do homem caído para o levantar,
Jesus nasceu para salvar e libertar a humanidade.
O homem ferido, caído, espoliado e incapaz de se ajudar a si mesmo,
personifica a condição da humanidade submetida ao poder do mal e do egoísmo. 16. Identifica
O bom samaritano simboliza Jesus Cristo, que se aproximou de nós assumindo situações atuais
e concretas que
a condição de homem para propor à humanidade um Deus próximo que eleva
esperam por um
a condição humana. «bom samaritano».
17. Refere situações
em que tenhas agido
que a parábola do bom samaritano explicita a grandeza da como o sacerdote ou
dignidade humana e desafia à prática do amor. o levita da parábola.
Numa sociedade marcada pelos valores económicos, que atribui maior
importância ao ter do que ao ser, em muitas situações parece prevalecer a
importância da aquisição e manutenção de bens materiais em detrimento da
defesa do valor essencial que é a pessoa humana.

Todos os dias vemos, ouvimos e lemos notícias em que se atenta contra a


dignidade da vida humana por razões insignificantes: uma discussão motivada
pela simples e natural diferença de opiniões ou a disputa acerca de uma
propriedade. E a violência gera sempre mais violência. Num processo de
descuipabilização, encontramos atenuantes que pretendem «explicar» os nossos
desvarios em momentos de mau humor: desestruturação familiar, pobreza,
desemprego, deficiente acesso à educação ou à saúde, ausência de perspetivas
de futuro, incapacidade para sonhar ou para nos empenharmos fortemente na
realização dos nossos sonhos. E apesar de não constituírem justificações para os
comportamentos desumanos, são motivos que nos põem à mercê dos nossos
piores instintos.
Cada pessoa vale por si mesma e
não porque alguém a ama e lhe quer
bem, ou porque é reconhecida pelos
demais (embora, p o r s e r pessoa,
mereça ser amada e respeitada por
todos). É por causa do valor inalienável
de cada pessoa que todos têm direito
a s e r reconhecidos e valorizados,
sobretudo os mais vulneráveis, os que
se sentem excluídos e aqueles cuja
voz não é escutada pela sociedade.
Onde n ã o h á reconhecimento d a
dignidade, não há humanidade. Daí
que a dignidade humana exija a
responsabilidade de cada um pelo seu
próximo.
34
A prática dos valores éticos — respeito, tolerância, paciência, solidariedade,
carinho, dedicação, diálogo, justiça... — é essencial ao reconhecimento efetivo da
dignidade da vida humana.

011, * 0 • • * * * * * * *

FRATERNIDADE
Empenhop-essoaJ na
COMOCENTRO
DASESCOLHAS DO,5ATENTA-D0,5
MORAIS à vida humana

,•,77•

• PARTICIPAÇÃO
EMGRUPOSE
ORGANIZAÇÕES
DEDEFESAE
:11PROMOÇÃODAVIDA TAREFA
-1 ts-

18. 0 que é que


podes fazer para
promover a dignidade
humana?

quais são as atitudes que promovem a dignidade da vida


humana e sinto-me desafiado a vivê-las no meu quotidiano.

Klb pode haver paz verdadeira s'ern


vela vida,
Tddo Paulo I I

35
Toda a pessoa — independentemente da sua cor, nacionalidade, religião ou
condição social — encontra na organização taxonómica um estatuto de pertença
e dignidade distinto dos outros seres vivos.

aika
A taxonomia — ciência que tem por finalidade a classificação dos seres vivos —
cataloga o ser humano da seguinte forma:
- Reino: Animalla (o homem é um animal)
- Filo: Chordata (possui uma coluna vertebral)
- Classe: Mommaiia (classe dos que mamam; inclui todos os mamíferos)
- Subclasse: Placenta/ia (é um mamífero cuja fêmea possui placenta)
- Ordem: Primata
- Família: Hominidae (a este grupo pertencem também os gorilas e os chimpanzés)
- Género: Homo
- Espécie: Homo Sapiens
- Subespécie: Homo Sapiens Sapiens

TAREFA
Os dados científicos remetem-nos para a singularidade d o ser humano,
enquanto indivíduo que se distingue dos outros seres vivos. Possuidor d e
19. Identifica a
singularidade uma inteligência superior, capaz de criar mundos alternativos, de desenvolver
do ser humano consciência ética e de se reconhecer numa relação social, o ser humano foi
relativamente aos
ganhando consciência da sua dignidade. Mas a sua ação ora se orienta para a
outros seres vivos.
defesa da mesma, ora a fere, pondo em causa a própria vida humana.
iírin cIA vida humana
O primeiro facto biologicamente identificável na formação do ser humano
é a fusão de duas células (ovácito e espermatozoide) provenientes de cada um
dos progenitores, contendo cada uma metade do número de cromossomas de
um ser humano.
A fusão dos dois gâmetas inicia o ciclo vital de uma nova
pessoa. O seu corpo terá um desenvolvimento autónomo,
contínuo e progressivo a partir das fases mais primordiais,
seguindo um percurso que está inscrito nos seus genes.

O zigoto (célula resultante da fusão dos gâmetas) é, sem


dúvida nenhuma, um ser vivo com caraterísticas genéticas
humanas. O momento a partir do qual se inicia a vida da
pessoa ainda está sujeito a debate e há diferentes opiniões:

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nasce pay-ia a flAAA,c,i,o1A4tw,e1A.,to ao 20. Qual a razão
soc;edade. de muitas pessoas
defenderem que a
vida humana tem
Linício no momento
da fecundação?
A Igreja Ca+t5lica afirma guie a vida hurncula ±,ern início no momen-h) da fecundaOlo.
AVIDA.HUMANA-NOÚTERO

FECUW)AÇÃO BLA3-1-00-1-0 DUAS 3EMANIA3 QUATRO 3EMANIA3


Ogameta masculino ACAMINIHO DO OTERO Osernbrio produz hormonas Ocoraçâo já começou a bater
(espermatozolde) 'e o gâmeta Três a quatro dias após a que fazem cessar o ciclo Olhos, orelhas, nariz, boca e
feminino (ovocito) Urrern-S'e fecondaçdo, o blastocito, menstrual da mãe. Começam língua desenvolvem-se; o fígado
formando o zigoto (ernbriâo resultante dos divisb'es do zigoto, a formar-se a coluna e intestinos começam a +ornar
unicelular). É o inicio de uma implanta-se na parede do Otero vertebral, a 'espinal medula forma. Mede cerca de 5
nova. vida e dá origem ao sernbriâo. e o sistema nervoso. Mede milímetros.
cerca de 2 milímetros

3E13 3EMANIA3 DOZE 3EMANIA3


01-TO 3EMANIA3 DEZ 3EMANiA3
Oc'Érebro coordena Podem ser observados
formaçâo dos órg'aos está Oc‘Érebro 'esta completamente
movimentos de mosculosse de movimentos espontâneos 'e
finalizada 3 o visíveis traços formado e o feto pode sentir
órgâos e possível medir a mostra uma personalidade
faciais, mos, pês, dedos e dor Todas as partes do corpo
atividade cerebral através de específica A rnaie começará a
unhas. O feto mostra resposta sâosensíveis ao toque; se a
'eefro-encefologramaTÓL'É um sentir, 'em breve, os primeiros
reflexa a 'estímulos. Mede palma da rddf3 for tocada,
feto. Mede cerca de treze batimentos da criança
vinte e cinco mirim-e-h-os. afasta-a decididamente. Chupa ponto,peando e movendo-se
milímetros. no dedo. A face tem feições dentro da sua barriga. Mede
rnw-cadamente humanas. Mede cerca de sete centímetros.
cerca de quatro centímetros.

VIt4TE 3EMANIA3 VINITE E 01-TO


3EMANIA3
Demonstro, que n o sé indiferente
ao que se passa no mundo Ainda 'estará mais oito a doze
extrauterina assusta-se e sossega semanas no ventre materno
como reaçâo a estímulos externos. a crescer mas já 'é capaz de
Mede cerca de 22 centímetros. nascer (prernatvro) e sobreviver
fora do Ofiera Mede cerca de 37
centímetros.
1\163 03 3 -)
diga Adaptado de http://vida.aaldela.net/desenvolvimentoembrionartahtm
e de Embryo and Fetos in http://wwwworcorg/fetal.phtml
Três razões médicas
para ser ; r y i , - i t p r i r
1 - Uma mulher, com uma gravidez normal e com um feto em desenvolvimento,
normal, não é uma pessoa doente. Por isso, ao médico apenas cabe uma intervenção
de vigilância que, em muitos países, é feita por enfermeiros especializados e o
médico só é chamado a intervir quando há risco de doença e a gravidez passa a ser
classificada como gravidez de risco. Portanto, destruir um feto em desenvolvimento
não é um ato médico, porque a gravidez não é uma doença. Nenhum médico o
pode praticar em circunstância nenhuma.
2—E se a mulher grávida pedir o abortamento ao médico, invocando motivos sociais ou -"Immo=
económicos e declarando que não pode suportar mais o estado de gravidez? O médico
terá de lhe responder que não pode dar satisfação ao seu pedido porque a função que
lhe cabe desempenhar como médico e a sua competência específica só podem estar ao
serviço do diagnóstico e tratamento de doentes. Se a causa do pedido de abortamento
não é uma doença mas uma carência financeira ou um abandono e marginalização
social, é às estruturas de proteção e segurança social e familiar que compete eliminar
as causas do pedido de abortamento. Se o médico acolhesse o pedido e praticasse o
crime do abortamento, ofendendo as disposições do seu código de deontologia, não
iria resolver nada; os ditos motivos sociais ou económicos ficariam na mesma ou piores
do que estavam antes do abortamento. Este teria sido um crime inútil e deixava a porta
aberta para novo pedido de abortamento algum tempo depois.
3— O médico não pode praticar o abortamento não só por estas duas razões, mas
ainda por outras de natureza médica. O médico sabe que esta intervenção abortiva
sobre o corpo da mulher grávida, além de provocar, obviamente, a morte do feto,
tem riscos importantes para a mãe, tanto no ato de fazer o abortamento como no
futuro, no que se refere à sua saúde geral e à sua saúde sexual. Mesmo o chamado
«abortamento seguro» pode complicar-se com infeção uterina e das trompas, com
septicemia, com esterilidade pós-abortamento, com depressão moderada ou grave; 21. Elabora um
em casos raros até com suicídio da mãe. Cabe ao médico, contudo, acolher as mulheres poema, uma quadra
que se fizeram abortar, sem qualquer discriminação, tratar as alterações patológicas ou um slogan que
de que sofram, físicas ou psicológicas, e promover a informação necessária para que expresse a beleza e
aquela pessoa não volte a encontrar-se na situação que a levou a fazer-se abortar. o mistério da vida
Daniel Serro, http://abortaaaldela.net/ humana.
O •hnri-n
O aborto consiste na expulsão v o l u n t á r i a ou involuntária d e um embrião
ou de um feto quando o mesmo não tem condições de vida fora do útero.

O a b o r t o p o d e s e r espontâneo (involuntário) o u induzido (provocado


voluntariamente). São vários o s fatores q u e p o d e m originar u m a b o r t o
espontâneo: desenvolvimento anormal d o embrião o u d o feto, problemas
uterinos, diabetes, alterações hormonais, entre outros. Também o consumo
excessivo de álcool e drogas pode ocasionar o aborto espontâneo.

A expressão eutemística «Interrupção Voluntária da Gravidez» (IVG) designa


oficialmente o aborto induzido.

Se aceitarmos que a vida humana tem o seu início no momento da fecundação,


torna-se evidente que realizar uma interrupção voluntária da gravidez é atentar
contra a vida de um ser humano.
SabOgg

A palavra «aborto» — «não nascido» p r o v é m do latim abortus, que significa


privação (ab) do nascimento (ortus). Derivado de aboriri, Abortus designa também
crepúsculo, desaparecimento e morte.

INDUZIDO

voLuNrrAglo TEgAPEUTICO

• Violgao • MalforrnaOes congÉni-has


•116,e adokscene • Perigo de vida da ni'àl'e
• Bebe n.o des,ejado
• Fal-l-a de condiç'des 'económicas
O aborto induzido pode ser realizado através de medicamentos — aborto
químico — o u através de técnicas cirúrgicas — aborto cirúrgico. O aborto
químico é realizável apenas durante as primeiras doze semanas de gravidez
e consiste na administração de medicamentos que provocam a expulsão do
embrião. Nos casos em que o aborto químico não se revela eficaz, recorre-se a
técnicas cirúrgicas. É de referir e salientar a crueldade destas técnicas.

C n n s e al l n ri ,R ç d o 3 r t n
Embora o a b o r t o realizado adequadamente n ã o
implique graves riscos para a saúde física da mulher até
às dez semanas, o perigo aumenta progressivamente
para além desse tempo. Entre as possíveis complicações
fisiológicas d o aborto destacam-se as hemorragias, as
infeções, as lacerações cervicais, as perfurações uterinas,
o aumento d a possibilidade d e u m a n o v a gravidez
terminar em aborto espontâneo ou em parto prematuro
e a esterilidade. Estas consequências surgem com maior
frequência no aborto mais tardio.

Entre os eventuais efeitos psicológicos sobressaem


sentimentos de culpa, baixa autoestima, impulsos suicidas,
frustração e depressão.

Legislação portuguesa sobre o aborto


Até 1984, o aborto era legalmente A Lei n." 90/97 alargou os prazos de
proibido em Portugal. permissão do aborto até às vinte e quatro
A Lei n.' 6/84, de 11 de maio, veio semanas nos casos de malformação
permitir a realização da interrupção ou de perigo de doença incurável do
voluntária da gravidez até às doze nascituro; e até às dezasseis semanas
semanas nos casos de perigo de morte nos casos de crime contra a liberdade
ou de grave perigo para a saúde fisica e autodeterminação sexual (violação).
ou psíquica da mulher e nos casos de A L e i n ' 16/2007 introduziu, nas
gravidez resultante de violação; e até primeiras dez semanas de gestação, a
às dezasseis semanas nos casos de legalização da interrupção voluntária
doença grave ou malformação fetal. da gravidez por opção da mulher, ou
seja, sem necessidade de apresentar
qualquer justificação.
Todos os códigos penais das civilizações antigas puniam severamente a prática
abortiva. O primeiro Estado do mundo a liberalizar o aborto foi a União Soviética de
Viadimir Lenine, em 1926; o segundo foi a Alemanha de Adolf Hitler, em 1935. Ainda
na década de 30, o aborto foi legalizado na Islândia, na Dinamarca e na Suécia. Após
a Segunda Guerra Mundial foi legitimado em quase todo o mundo. Atualmente,
existem legislações de toda a espécie (desde a total proibição à permissão até aos
nove meses), revelando que na base destas leis não estão critérios científicos nem
critérios morais universalmente aceites.

Argumentos a favor e contra o aborto


Quase ninguém é a favor do aborto. A maior parte das pessoas considera-o um
mal a evitar. A polémica situa-se sobretudo no combate ao aborto clandestino
que, realizado sem quaisquer condições de higiene, tem provocado inúmeras
mortes e graves problemas de saúde às mulheres que a ele recorrem. Alguns
consideram que a única maneira de erradicar esta calamidade é liberalizar o
aborto voluntário em unidades de saúde com condições médicas adequadas.
Outros pensam que esta não pode ser a solução e advogam maior controlo e
fiscalização com vista a erradicar o aborto clandestino. Mas o problema não
se coloca só a este nível. Para alguns, o aborto é simplesmente uma opção da
mulher, no uso da sua liberdade, que deve ser reconhecida legalmente.

Para que o aborto seja excluído ou reduzido ao mínimo, todos defendem a


promoção do planeamento familiar e a adoção de medidas socioeconómicas de
apoio às famílias e às mães solteiras, bem como a educação sexual dos jovens.
A FAVOR CONTRA

O embrião é um ser distinto do corpo


A mulher tem direito a tomar as decisões que materno. A mulher não tem o direito de
entender a respeito do seu próprio corpo.
tomar decisões sobre a vida do filho.

O embrião é um ser humano, pois não
O embrião e o feto não são um ser humano. há pessoa que não passe pelas fases
embrionária e fetal.

Há soluções jurídicas em que o aborto


Éhumilhante para a mulher ser levada a continua a ser proibido, mas a mulher,
tribunal por abortar. Passa a ser duplamente mesmo que o cometa, não é penalizada.
vítima. Pelo contrário, as clínicas clandestinas e os
técnicos envolvidos deverão ser punidos.

Não se podem desprezar as dificuldades Os problemas sociais e económicos


económicas e sociais de educar um filho resolvem-se com apoios adequados e não
não desejado. com o aborto.

A l e i n ã o deve permitir o q u e está


eticamente errado só porque o Estado não
consegue resolver os problemas através
A despenalização é necessária para resolver dos meios adequados. Legalizar o que está
o problema do aborto clandestino. mal não elimina o mal: torna-o bom aos
olhos das pessoas. Além disso, o aborto
clandestino continuará a existir se não
houver fiscalização por parte do Estado.

As mulheres têm direito de abortar em O aborto não pode ser um direito, porque
condições de segurança. O aborto só é está em causa o valor da vida de outrem.
perigoso quando é feito sem condições de Devem é ser criadas condições para que
higiene e por pessoal incompetente. todos possam ter filhos com dignidade.

O primeiro direito da criança é ser desejada. O primeiro direito da criança é o direito à vida.

O facto de a penalização do aborto não


o eliminar não é razão suficiente para
A penalização do aborto não elimina o aborto. o legalizar. A lei serve para regular o
comportamento das pessoas em sociedade
e para defender os seus direitos.

Não se resolve uma dificuldade fazendo


Enos casos dramáticos em que o bebé uso de qualquer meio. Os meios usados
é deficiente, em que há perigo para a têm de ser eticamente corretos. O valor da
saúde psíquica da mãe, em que a gravidez vida humana é superior a outros valores,
decorreu de uma violação, ou nos casos como a situação económica, a integridade
em que a família é demasiado pobre? mental o u física da criança e a saúde
psíquica da mulher.
Proteger 2 vida
O cristianismo afirma que o direito à vida
é inviolável e que a vida humana é um bem
precioso desde o momento da conceção;
por isso, rejeita a s práticas abortivas.
Porém, t a l c o m o Jesus condenava o
pecado mas absolvia o pecador, também
a Igreja condena o aborto mas manifesta
enorme compreensão pelas mulheres que
o praticaram. São inúmeras as instituições
católicas de apoio às mulheres e à vida:
a PAV - Ponto d e Apoio à Vida ( w w w.
apoloavida.pt); a ADAV - Associação de Defesa e Apoio à Vida (www.adav.
coimbradigital.net). Estas organizações têm feito um trabalho notável de defesa
da vida, na promoção da dignidade da mulher e no apoio às famílias.

hcar " N t t n a o r

A vida humana deve ser respeitada e protegida, de modo absoluto, a partir do


momento da conceção. Desde o primeiro momento da sua existência, devem ser
reconhecidos a todo o ser humano os direitos da pessoa, entre os quais o direito
inviolável de todo o ser inocente à vida.
«Antes de te formar no ventre materno, Eu te escolhi; antes que saísses do seio da
tua mãe, Eu te consagrei» (Jr 1,5). «Tu conhecias já a minha alma e nada do meu ser
Te era oculto, quando secretamente
era f o r m a d o , m o d e l a d o n a s
profundidades da terra» (SI 139,15).
A Igreja afirmou sempre o e r r o
moral de todo o aborto provocado.
O aborto e o infanticídio são crimes
abomináveis. A colaboração formal
num aborto constitui falta grave.
A Igreja pune com a pena canónica
da excomunhão este delito contra
a v i d a humana. N ã o pretende,
deste modo, restringir o campo
da misericórdia. Simplesmente
manifesta a gravidade d o c r i m e
cometido, o prejuízo irreparável
causado ao inocente que foi morto,
aos seus pais e a toda a sociedade.
Catecismo da Igreja Católica, 2270-2272
Adoção: dom a l e g r i a
Nós estamos aqui hoje porque fomos amados por Deus, que nos criou, e pelos
nossos pais, que nos aceitaram e gostaram suficientemente de nós para nos darem
a vida. A vida é o maior dom de Deus, que criou um mundo suficientemente grande
para todas as vidas que ele deseja que nasçam. Só os nossos corações é que não
são suficientemente grandes para as desejar e aceitar. Como seria bonito se todo
o dinheiro utilizado para encontrar formas de matar pessoas fosse utilizado, em
vez disso, para as alimentar, acolher e educar!
Temos demasiadas vezes receio dos sacrifícios que devemos fazer. Mas onde
há amor, há sempre sacrifício, e quando amamos até nos fazer doer, há sempre
alegria e paz (...).
Estamos a combater o aborto pela adoção — cuidando da mãe e adotando a
criança. Salvámos milhares de vidas. Por favor, não matem os bebés. Entreguem-
-mos. Estou disposta a receber qualquer bebé que pretendam fazer abortar e a
entregá-lo a um casal que o amará e será amado por ele. Só na nossa casa de Calcutá
salvámos mais de três mil crianças de abortos. Estas crianças trouxeram muito amor
e alegria aos seus pais adotivos e, por sua vez, cresceram no meio do amor e da
alegria. Para mim, as nações que legalizaram o aborto são as nações mais pobres.

Teresa de Calcutá (1910-1997), Discurso na Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento

22. Apesar de ser


legal, consideras
que o aborto é
eticamente aceitável?
Justifica a tua
resposta.
23. Explicita as
convicções e ações da
Igreja Católica face ao
aborto.
A dignidade da pessoa humana
loenQ- T h i c e
Aqueles que têm uma vida deficiente ou enfraquecida reclamam u m respeito
especial. As pessoas doentes ou deficientes devem ser amparadas, para que possam
levar uma vida tão normal quanto possível.
Quaisquer que sejam os motivos e os meios, a eutanásia direta consiste em pôr fim à
vida de pessoas deficientes, doentes ou moribundas. É moralmente inaceitável. Assim,
uma ação ou uma omissão que, de per si ou na intenção, cause a morte com o fim de
suprimir o sofrimento, constitui um assassínio gravemente contrário à dignidade da
pessoa humana e ao respeito do Deus vivo, seu Criador.
A cessação d e tratamentos médicos onerosos, perigosos, extraordinários o u
desproporcionados aos resultados esperados, pode ser legítima. Não que assim
se pretenda dar a morte; simplesmente se aceita o facto de a não poder impedir.
As decisões devem ser tomadas pelo paciente se para isso tiver competência
e capacidade; de contrário, por quem para tal tenha direitos legais, respeitando
sempre a vontade razoável e os interesses legítimos do paciente.
Mesmo que a morte seja considerada iminente, os cuidados habitualmente devidos
a uma pessoa doente não podem ser legitimamente interrompidos. O uso dos
analgésicos para aliviar os sofrimentos do
moribundo, mesmo correndo-se o risco de
abreviar os seus dias, pode ser moralmente
conforme com a dignidade humana, s e
a morte não for querida, nem como fim
nem como meio, mas somente prevista
e tolerada como inevitável. Os cuidados
paliativos constituem uma forma excecional
da caridade desinteressada; a esse título,
devem ser encorajados.
Catecismo da Igreja Católica, 2276-2279

Cuidados Paliativos são cuidados ativos e globais, prestados aos doentes e às suas
famílias por uma equipa multidisciplinar, quando a doença já não responde ao
tratamento curativo e a expectativa de vida é relativamente curta.

A eutanásia
Eutanásia ( d o grego eu = bom + thonos = morte) significa literalmente boa
morte e consiste em pôr fim à vida de um doente incurável.

A eutanásia distingue-se do suicídio assistido na medida em que neste é o


próprio doente que provoca a sua morte (ainda que para isso disponha da ajuda
de alguém) e naquela é outra pessoa que executa a ação.
A distanásia, considerada morte com sofrimento,
é o oposto da eutanásia. Consiste em atrasar o mais
possível o momento da morte usando todos os meios,
mesmo que a cura não seja uma possibilidade e se
inflijam sofrimentos adicionais ao doente. A eutanásia
passiva não provoca deliberadamente a morte, mas
traduz-se num "deixar morrer" através da supressão
de todas e quaisquer ações q u e tenham p o r f i m
prolongar a vida. A eutanásia ativa é planeada entre o
doente e o profissional de saúde que a realiza.

Os que a defendem acreditam que a eutanásia é um caminho para evitar o


sofrimento de pessoas em fase terminal ou sem qualidade de vida. Quando se fica
dependente de outros, o medo de ser um fardo, o receio da solidão e a revolta
podem levar o paciente a pedir o direito de morrer. Nesta lógica defende-se a
autonomia absoluta de cada pessoa, alegando o direito à autodeterminação e o
direito à escolha do momento da morte.
Os defensores da eutanásia não apoiam a morte e m si mesma, apenas
consideram nocivo prolongar uma vida de sofrimento e com custos elevados.
A eutanásia é, porém, um assunto controverso com implicações religiosas,
éticas, legais e sociais. Na perspetiva religiosa, considerando que só Deus pode
tirar a vida de alguém, a eutanásia é vista como uma usurpação de um direito
exclusivo do Criador; na perspetiva da ética médica, de acordo com o juramento
de Hipócrates, a eutanásia é considerada homicídio; do ponto de vista legal,
excetuando os de poucos países, todos os códigos penais do mundo consideram
crime qualquer ato antinatural na extinção de uma vida; do ponto de vista social
considera-se que uma pessoa, ainda que a sofrer demasiado, se for bem tratada
e amada não pede a eutanásia.

r "anási2 " Liomicídio


A eutanásia, em sentido estrito, pode ser definida como qualquer ação ou omissão
destinada a provocar a morte de um ser humano com a finalidade de suprimir o
sofrimento, pondo fim "docemente" à vida própria ou alheia. Trata-se, na realidade,
de uma ação suicida (quando o sujeito pretende acabar com a própria vida) ou
homicida (quando um médico, um familiar ou um legislador se arroga o poder de
decidir a respeito da sobrevivência de seus semelhantes).
A distanásia consiste em prolongar a vida de um doente além do tempo, devido a
motivos familiares (herança), políticos (como chefes de governo) ou outros, sem
respeitar o direito do paciente a uma morte digna. Trata-se de um comportamento
ilícito, a nti ético.
Maurício Levy Júnior, http://vida.aaldelo.netieutanosio-olgumas-rellexoes/
A vida é bela
Todos os homens podem, e devem, em qualquer circunstância, considerar que a vida
é bela e viver de acordo com isso. Ninguém tem motivos para a considerar desprovida
de nobreza e grandiosidade. A dor e as contrariedades sempre fizeram parte da vida
dos homens, e nem por isso eles deixaram de a amar.
Mas acontece que nesta vida se sofre realmente e que — ao contrário do que
antigamente sucedia — aqueles que sofrem são agora muitas vezes abandonados
pelos outros e têm de viver sozinhos com a sua dor. À qual se acrescenta, então, a
dor enorme da solidão.
Sempre houve doentes e anciãos, mas
antigamente e r a m considerados u m
tesouro. A g o r a n ã o passam d e u m
estorvo... E é só por isso que hoje se fala
em eutanásia, quando no passado havia
apenas o suicídio: o suicídio é uma decisão
pessoal; a eutanásia acabará por ser uma
imposição da sociedade.
Há em muitas cabeças uma noção da vida
gfa que é chocantemente pobre, tristemente
vazia. Consiste em olhar para a vida de uma forma utilitária, com base numa
conceção egoísta e em critérios apenas económicos: se uma vida não é útil —se não
é produtiva, se não proporciona todo o prazer e n t ã o não tem razão de ser.
Enem sequer é nas pessoas muito doentes, ou nos idosos que estão perto da morte,
que essa mentalidade é frequente. Não. É nos outros, nos que estão convencidos
de que ainda vão ficar aqui muito tempo e se acham no direito de construir uma
sociedade com regras que lhes parecem mais perfeitas do que as da natureza, livres
de quaisquer critérios e valores que não sejam os económicos e os do bem-estar.
A grande questão da eutanásia não consiste em se cada pessoa pode, ou não, ter a
liberdade de escolher o seu destino.
Éainda pior do que isso: a questão está em que o triunfo desta visão utilitária da
vida levaria à eliminação de pessoas que, não querendo elas mesmas acabar com
a vida, são consideradas inúteis por uma sociedade que se tornou
materialista (a decisão é transferida para os médicos, para os
familiares e para os parlamentos).
É muito fácil aproveitar-se da extrema debilidade — física e
emocional — de um doente terminal. Até para o convencer
das presumíveis vantagens de uma "morte doce". Muito
mais fácil do que proporcionar-lhe todo o apoio e carinho
de que necessita para levar a vida até ao fim — sem
desistir—e morrer com verdadeira dignidade.
A dor é também uma falsa questão. A medicina sabe
tirar a dor, e o resto... aguenta-se. O pior é a solidão e o
abandono. Isso é que é difícil de suportar. E tem uma
solução bem simples... Bastaria que todos os que estão
à volta do doente olhassem para aquela vida — para a
vida — sem egoísmo.
Paulo Geraldo, http://vida.aaldeia.net/vida-bela/
çolfriírlin
O principal argumento daqueles que defendem a eutanásia incide sobre o direito
que o indivíduo tem, em determinadas circunstâncias normalmente associadas a
um forte sofrimento físico ou psíquico decorrentes de uma doença incurável — de
poder decidir pôr termo à sua vida. Julgo que a morte não é em si um direito; antes
uma inevitabilidade. Aquilo que todo o ser humano tem direito é de viver e morrer
com dignidade.
Outro argumento para justificar a eutanásia corresponde "ao sofrimento da
pessoa". O sofrimento é muitas vezes visto como algo indigno, desumano, motivo
de vergonha e que por isso deve ser banido a qualquer preço, pelo que a eutanásia
passa ser a vista como um gesto de compaixão. Esta "piedade hipócrita" esconde,
por vezes, uma injustiça e um sentimento egoísta, uma vez que considera que
os mais fracos, as vítimas do infortúnio, aqueles que adoecem ou simplesmente
envelhecem, já não têm lugar nesta sociedade.
O homem é o único ser vivo que reflete sobre a sua própria morte.
Sabemos ainda que, por detrás do desejo de morrer, existem várias doenças mentais
tratáveis — como é o caso da depressão. A existência de um "suicídio racional" é
algo questionável e a história dá-nos um exemplo extraordinário a este respeito:
a esmagadora maioria dos prisioneiros dos campos de concentração, mesmo
sendo submetidos a um sofrimento atroz e às mais diversas torturas, raramente se
suicidavam.
Quase diariamente, os psiquiatras na sua atividade clínica confrontam-se com
doentes que tentaram o suicídio ou que têm ideias de o vir a concretizar. A posição
do psiquiatra é sempre a mesma: demover a pessoa, protegê-la de si própria, aliviar-
-lhe a angústia e transmitir-lhe palavras de esperança. Diante de tanta tragédia, e da
nossa impotência, muitas vezes o papel do médico limita-se a acolher o sofrimento
da pessoa. A escutá-la e a sofrer com ela. A pessoa depois de ajudada, recupera a
alegria de viver e encontra um sentido para a vida.
A resposta à eutanásia está nos cuidados paliativos. É através desta visão
humanista da medicina que se procuram solucionar os problemas decorrentes da
doença prolongada, incurável e evolutiva, prevenindo o sofrimento que acarreta, 24. Comenta a
proporcionando a maior qualidade de vida possível aos doentes e às famílias. Os afirmação «A
defensores da eutanásia ou, em sentido lato, do suicídio assistido, apresentam-na eutanásia não é uma
como um ato de misericórdia e de compaixão perante o sofrimento de um doente prova de amor, mas
vítima de uma doença grave e incurável. A eutanásia não é uma prova de amor, mas antes o testemunho
antes o testemunho egocêntrico da sua rejeição. egocêntrico da sua
rejeição».
Pedro Afonso (Psiquiatra), Jornal Público - 28.06.2007
o Evangelho d vidA
Na fidelidade à mensagem cristã, que exige a promoção da dignidade humana
em todas as situações, a ação da Igreja Católica na defesa da vida tem sido uma
constante ao longo da história.

A defesa da vida humana abrange a promoção


de uma adequada compreensão da existência
como d o m d e Deus. E s t e horizonte é t i c o
iluminador, exige o empenho comprometido na
luta contra todas as formas de atentado à vida, e
na criação de condições de apoio para que seja
concreto o apreço pela vida e pela família.

O Papa João Paulo II sublinhou que "converter-


-se a o Evangelho significa revisar t o d o s o s
ambientes e dimensões da vida, especialmente
o que pertence à ordem social e à obtenção do
bem comum".

r%valor incomparável da peçcna humana


O homem é chamado a uma plenitude de vida que se estende muito para além das
dimensões da sua existência terrena, porque consiste na participação da própria
vida de Deus. A sublimidade desta vocação sobrenatural revela a grandeza e o valor
precioso da vida humana (...).
O Evangelho da vida, recebido de Deus, encontra um eco profundo e persuasivo no
coração de cada pessoa, crente e até não crente, porque se ele supera infinitamente
as suas aspirações, também lhes corresponde de maneira admirável. Mesmo por
entre dificuldades e incertezas, todo o homem sinceramente aberto à verdade e ao
bem pode, pela luz da razão e com o secreto influxo da graça, chegar a reconhecer,
na lei natural inscrita no coração, o valor sagrado da vida humana desde o seu início
até ao seu termo, e afirmar o direito que todo o ser humano tem de ver plenamente
respeitado este seu bem primário. Sobre o reconhecimento de tal direito é que se
funda a convivência humana e a própria comunidade política.
A Igreja (...) sente-se chamada a anunciar aos homens de todos os tempos este
«evangelho», fonte de esperança invencível e de alegria verdadeira para cada época
da história. O Evangelho do amor de Deus pelo homem, o Evangelho da dignidade
da pessoa e o Evangelho da vida são um único e indivisível Evangelho.
Épor este motivo que o homem, o homem vivo, constitui o primeiro e fundamental
caminho da Igreja.
João Paulo II, Evangelium Vitoe, 2

A Associação das Famílias (AF) tem uma ação multifacetada na promoção da


qualidade de vida das famílias (www.a-familias.org).
A , v a , - l e a c a s à vi L l u m a n a
Tudo quanto se opõe à vida, como seja toda a espécie de homicídio, genocídio,
aborto, eutanásia e suicídio voluntário; tudo o que viola a integridade da pessoa
humana, como as mutilações, os tormentos corporais e mentais e as tentativas
para violentar as próprias consciências; t u d o quanto ofende a dignidade da
pessoa humana, como as condições de vida infra-humanas, as prisões arbitrárias,
as deportações, a escravidão, a prostituição, o comércio de mulheres e jovens; e
também as condições degradantes de trabalho, em que os operários são tratados
como meros instrumentos de lucro e não como pessoas livres e responsáveis. Todas
estas coisas e outras semelhantes são infamantes; ao mesmo tempo que corrompem
a civilização humana, desonram mais aqueles que assim procedem, do que os que
padecem injustamente; e ofendem gravemente a honra devida ao Criador.
Não é menos verdade que estamos perante uma realidade mais vasta que se pode
considerar como verdadeira e própria estrutura d e pecado, caracterizada pela
imposição de uma cultura anti solidária, que em muitos casos se configura como
verdadeira «cultura de morte».
A vida que requereria mais acolhimento, amor e cuidado, é reputada inútil ou
considerada como u m peso insuportável, e, consequentemente, rejeitada sob
múltiplas formas. Todo aquele que, pela sua enfermidade, a sua deficiência ou,
mais simplesmente ainda, a sua própria presença, põe em causa o bem-estar ou os
hábitos de vida daqueles que vivem mais avantajados, tende a ser visto como um
inimigo a eliminar. Desencadeia-se assim uma espécie de «conjura contra a vida».
João Paulo II, Evangellum Vitae, 3.12

Avida ,é valiosa ,e todos pockrnos opor-nos à. "cultvra de rnorfe".


51
Muitos são ainda os esposos que, com generosa responsabilidade, sabem acolher
os filhos como «o maior dom do matrimónio». E não faltam famílias que, para
além do seu serviço quotidiano à vida, sabem também abrir-se ao acolhimento
de crianças abandonadas, de adolescentes e jovens em dificuldade, de pessoas
inválidas, de idosos que vivem na solidão. Numerosos são os centros de ajuda à
vida ou instituições análogas, dinamizadas por pessoas e grupos que, com admirável
dedicação e sacrifício, oferecem apoio moral e material às mães em dificuldade,
tentadas a recorrer ao aborto. Surgem e multiplicam-se ainda o s grupos d e
voluntários, empenhados em dar hospitalidade a quem não tem família, encontra-
-se em condições de particular dificuldade ou precisa de reencontrar um ambiente
educativo que o ajude a superar hábitos destrutivos e recuperar o sentido da vida.
A medicina, promovida com grande empenho por investigadores e profissionais,
prossegue no seu esforço por encontrar remédios cada vez mais eficazes: resultados,
antes totalmente impensáveis e capazes de abrir promissoras perspetivas, são
hoje obtidos em favor da vida nascente, das pessoas que sofrem e dos doentes
25. Identifica os
em fase grave ou terminal. Várias entidades e organizações mobilizam-se para levar
valores fundamentais
aos países mais atingidos pela miséria e por doenças crónicas, tais benefícios da
à efetiva promoção
medicina mais avançada. Do mesmo modo, associações nacionais e internacionais
da dignidade da vida
humana.
de médicos movem-se rapidamente, para prestar socorro às populações provadas
por calamidades naturais, epidemias ou guerras. Apesar de estar ainda longe da
26. Identifica
sua plena consecução uma verdadeira justiça internacional na partilha dos recursos
e caracteriza
instituições ou médicos, como não reconhecer, nos passos até agora dados, o sinal de crescente
grupos de defesa da solidariedade entre os povos, de apreciável sensibilidade humana e moral, e de
dignidade da vida maior respeito pela vida?
humana. João Paulo II, Evangellum Vitoe, 26

que é fundamental relacionar os dados da ciência com a


perspetiva da Igreja sobre questões fundamentais da vida
humana e promover o diálogo entre a cultura e a fé.
Uni
A questão da existê
O fenómeno religioso
Deus: oceano de amor
ransforma os coraç oas constroem a sociedade
•Igib,
Olá!
Omeu nome 'é Teresa Sou conhecida por Teresa de Lisieux e por
Teresinha do Menino 7resus.
Wasci'em 1873 no norte de França. A minha m'»le, Zelia, pari-lu para o
Lséuquando eu -tinha quatro anos; estabeleci ent'áo uma forte lig4u'o ó,
minha irmai PCLUlirt€, que se +ornou a minha segunda máse.Depois, rnudámo-
-nos — o meu pai, Luís, 'eu "e as minhas tr,ês irm'ás p a r a Lisieux.
Osmeus pais eram profundamente religiosos. Todos os dias rezavam
e -tudo 'era feito para que se cumprisse a vontade de Deus. As minhas irrn'às en+rararn no Carmelo
(convento das irrríc'Is carmelitas) e eu senti, ainda adolescente, um amor profundo por Deus. Tornar-me
freira foi o caminho que escolhi para viver esse amor
Com 16,anos en-h-ei no COM/s€11±0.NIa vida rotineira e -tranquila que incluía momentos de oraçb
trabalhos domés-hcos, descobri a 'pequena via", a via do amor que se revela nas pequenas coisas do
dia a dia. Deitei que Deus me envolvesse com o seu amor intenso e apaixonante, ele que f a origem
do amor, que ,é o próprio Amor Simplesmente deitei-me conduzir por Deus. Entregava-me a todas as
atividades com generosidade, como se fosse o próprio Deus a pedir-me que o fizesse. Era a Ele que ,eu
servia. Esta descoberto_ +rouxse-me uma felicidade imensa que pensei n o existir Desejava que todos
experimentassem esse amor
Sei que vives num tempo e numa 'época onde o amor de Deus 'É muito necessário. Westa unidade
ousa fazer a descoberta radical de Deus, do Amor que existe no teu coração e no abraço dos que
precisam de ti.

Saber
Teresa de Lisieux morreu em 1897, com apenas 24 anos. Em 1920 foi declarada
santa e, mais tarde, doutora da Igreja por causa dos seus belíssimos escritos,
sobretudo a História de uma Alma, onde descreve o seu percurso espiritual de
encontro com Deus.
Pelo seu a m o r universal e pelo desejo profundo de que todas as pessoas
encontrassem Deus, foi proclamada padroeira dos missionários, aqueles que
anunciam Deus e partilham com os mais pobres uma vida simples. A festa de
Santa Teresinha do Menino Jesus celebra-se a 1 de outubro.

coraçrón da Igreja 'eu serei o amor,


r\lb obstoritse a minha p-equenez, compreendi que o amor ,e o caminho mais
f.XCe
' k11—€que nos leva com segurança ate Deus.
1. Pesquisa e redige Compreendi que o amor 'encerra todas as vocaç5es 'e que o amor ,é tudo,
uma biografia de
Teresa de Lisieux
evidenciando a sua
abraça todos os tempos e todos os lugares Wrna. palavra, o amor ,e eterno...
'CnCOn-l-rel a minha vocaç6a o Amor!
ir
vocação. Sanla fer,esa do t—knino Jesus
A interrogação sobre Deus é uma questão humana fundamental. De uma
forma ou de outra, todas as pessoas, questionando-se sobre si mesmas e sobre
o sentido das suas vidas, acabam por colocar a questão de Deus.

A procura do Transcendente, da Divindade, do Sagrado, é uma realidade


humana e universal. Sujeitas às mais variadas situações existenciais, como
a experiência d o sofrimento, da finitude, d a ausência d e sentido, ou, pelo
contrário, a experiência d o encontro, da verdade, da felicidade, as pessoas
acabam por se interrogar sobre a existência de Deus.

O ser humano é um ser religioso. Desde sempre todos os povos procuram


respostas às questões profundas da existência humana:

PODEREMOS
ESPERARO TRIUNFO
DOBEMSOBRE O
MAL?

Perante interrogações como estas, Deus surge como a origem primeira e o


fim último, no qual se encontra a bondade sem limites e a esperança de uma
felicidade sem ocaso.
Acreditar e confiar em Deus é uma atitude humana.

Saber
O Alfa (A / a) e o Omega (O / co) são respetivamente a primeira e a última letra do
alfabeto grego. No livro do Apocalipse afirma-se que Deus é o princípio e o fim de
todas as coisas - "Eu sou o Alfa e o Omega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o
Fim" (Ap 22, 13).
Crença e rp.75n
A impossibilidade d e demonstrar "cientificamente" a existência d e Deus
não implica que não haja razões que sustentem a fé. Deus não é nenhuma
hipótese absurda ou irracional. Bem pelo contrário. Nenhum telescópio pode
observar Deus, porque ele não se encontra em nenhum ponto do universo e,
simultaneamente, é omnipresente.

Se pudéssemos compreender Deus totalmente, ele deixaria d e ser Deus


— o infinito, o eterno, o absoluto — e passaria a ser um objeto limitado do
mundo em que vivemos, que nós poderíamos manipular a nosso bel-prazer. É
por ser infinito que Deus está sempre para lá de todas as nossas capacidades de
compreensão, de todas as nossas teorias e de todas as questões. Ele é o mistério
absoluto que nós podemos apenas entrever, mas não decifrar inteiramente. O
que não significa que não possamos encontrar razões para acreditar nele.

Razões para acreditar...

r -amena • • • • Q . 0 6 . i i , • 0 1 0 0 0 • 11 •

A ovdem do oinivev-3o
Aex;s1-êr)ci.adevaloYe,s
__ é u éICoor);versaisss, gue
podemseY poro3de
I-udo reCeYêr,c;a
_ çoi desar;a aacYecl;1-arolos
de um emDeus.
à-4-e ;seri e.

Faceaoabsov-cloda ilovíe,
goepdeIt-r>ljesao desejo
hunlar,ode elevr),dacle, vale
apenaacvedd-avemDeus
gue,avai-)1--ea vida e oarkloy
corbo vealidade.
••


44t„;-'Y'',.•
56
k.
Durante uma conferência, o orador lançou o seguinte desafio:
— Tudo o que existe será obra de um Deus criador?
Vários alunos responderam:
— Sim!
O conferencista objetou:
— Se foi Deus quem criou tudo, então também o mal é obra dele. Partindo do
princípio de que as nossas obras são um reflexo de nós mesmos, se Deus criou o mal
é porque é mau. Ora a ideia de um Deus mau é contraditória. Logo, Deus não existe.
Um silêncio profundo fez-se sentir diante d e tal argumento e o orador
regozijava-se por ter provado mais uma vez que a fé era um mito.
Então, outro estudante levantou a mão e disse:
— O frio existe?
— É lógico que o frio existe ou por acaso nunca sentiste frio?
O rapaz respondeu:
— De facto, o frio não existe! Segundo as leis da física, o que consideramos
frio, na realidade é a ausência de calor. Todo o corpo ou objeto é suscetível de
estudo quando possui ou transmite energia; o calor é o que faz com que este
corpo tenha ou transmita energia. Nós criámos o conceito de frio para descrever
o que sentimos na ausência de calor.
— E existe a escuridão? — insistiu o estudante.
O conferencista respondeu:
— Parece que sim.
— Novamente comete um erro. A escuridão também não tem existência
própria. A escuridão na realidade é a ausência de luz. A luz é passível de ser
investigada, a escuridão não! Até podemos decompor a luz branca nas várias
cores que a compõem. A escuridão não! U m simples raio de luz atravessa
as trevas e ilumina a superfície sobre a qual incide. O conceito de escuridão
desenvolveu-se para descrever o que observamos na ausência de luz.
Finalmente, o jovem perguntou ao conferencista:
— O mal existe?
— Basta observarmos o mundo com atenção para nos confrontarmos com
crimes e violência por todo o lado. Tudo isso é manifestação do mal.
O estudante respondeu:
— Na realidade, o mal não existe, pelo menos não existe por si mesmo. O
mal é simplesmente a ausência do bem. Tal como o frio e as trevas não existem
por si mesmos, o mal é um conceito que o ser humano utiliza para descrever a
ausência do bem ou de Deus. Por isso, Deus não pode ter criado o mal. A fé, o
bem ou o amor são realidades existentes, à semelhança do calor e da luz. O mal,
pelo contrário, é mera manifestação da ausência de Deus, ou seja, é o resultado
da ação do ser humano quando expulsa Deus do seu coração.
Autor desconhecido
Só existe um problema: voltar a descobrir que existe uma
vida do Espírito, a única que satisfará o homem. É urgentíssimo
falar aos homens... Necessitam tanto, tanto de Deus.
AntOine Saint-Exupéry (escritor francês do século XX)

Criaste-nos para ti, Senhor, e o nosso coração está inquieto


enquanto não repousar em ti.

Santo Agostinho (bispo do século IV)

Achar que o mundo não tem um criador é o mesmo que


afirmar que um dicionário é o resultado de uma explosão

numa tipografia.
Benjamin Franklin (cienfista e escritor americano do século XVIII)

Hoje Deus é verdade! Passem para cá papel e tinta. Se


preferem, escreverei a sangue esta notícia: Hoje, Deus é
verdade como o Sol.
Sebastião da Gama (poeta português do século XX)

Para que serve crer?


Vemos claramente para que serve não crer: para estar apenas
sobre a terra, que é a menos estável de todas as moradas, e para
nunca ouvir, em resposta às perguntas que o coração coloca, outra
voz senão a própria.
André Frossard (jornalista e escritor francês do século XX)

A fé é um ato de coragem, na confiança radical, sem acesso


à plena certeza racional. Mas o crente tem a convicção de que
acreditar em Deus é mais razoável do que não acreditar.
Anselmo Borges (padre português, filósofo e teólogo contemporâneo)

Afé acontece quandoalguémq,Nemconfacfo com uma lradiçao


religiosa, faz a experiÊncia de ,encontro com a presença de Deus.
cusa de Deus
Ateísmo significa literalmente «sem deus»: a (negação) + theos (deus). É uma
atitude de vida que nega a existência de Deus ou de qualquer divindade.

ATEISMC,
TEÓgI.C_C» COrlSiSfe n a P g A . F. , e a afi-Fude das
afirrngb ca-legórica da no pessoas que vivem sem qUakitJef
exis-le'ncio, de Deus. É uma referÊncia a Deus, indi-feren-les
conceçao ma-Ferialis*-a ques-&) do sobrena.-lural. Vivem
realidade (nada há. paro. alÉm como se Deus n o exis-Hsse
daquilo que se pode observar, ou n'à'ose in+eressam pelas ques-1-5es
seja, do mundo rna-lerio,I). relacionadas com a transcendências

O ateísmo é uma opção filosófica de quem se assume responsável pelos


seus atos e pela sua forma de viver, de quem dá valor à sua vida e à dos outros,
de quem cultiva a razão e confia no método científico para construir modelos
da realidade e de quem não remete as questões do bem e do mal para seres
hipotéticos, nem para a esperança de uma existência após a morte.
Associação Ateísta Portuguesa, http://wwwooteistoportugueso.org/

-.11100•0.111.

Não tenho necessidade de Deus, nem saberia o


que fazer com ele.

Cl
Jean-Paul Sartre (filósofo e escritor francês do século XX)

A vocaç d r h r - ' 0 er 1 0
A razão mais sublime da dignidade do homem consiste na sua vocação à união com
Deus. É desde o começo da sua existência que o homem é convidado a dialogar com
Deus: pois, se existe, é só porque, criado por Deus por amor, é por ele por amor
constantemente conservado; nem pode viver plenamente segundo a verdade, se
não reconhecer livremente esse amor e se entregar ao seu Criador. Muitos dos
nossos contemporâneos não atendem a esta íntima e vital ligação a Deus, ou até a
rejeitam explicitamente.
Concílio Vaticano II, Gaudium et Spes, 19

59
Agnosticismo significa literalmente «ignorância», «desconhecimento»:
a (negação) + gnose (conhecimento). É a afirmação da impossibilidade de
alguém se pronunciar sobre a existência de Deus.

O agnosticismo opõe-se ao teísmo (crença na existência de um deus


pessoal) por considerar que o conhecimento humano não tem qualquer
possibilidade de aceder a Deus. Opõe-se ao ateísmo porque também não
encontra razões para negar pura e simplesmente a sua existência. É, pois,
uma atitude cética, na qual a dúvida leva o ser humano a suspender o
4 juízo acerca de Deus.

Para muitos agnósticos, é impossível a o entendimento humano


conhecer Deus, porque ele se encontra para além das possibilidades dos
métodos experimentais.

Tenho consciência do sagrado, do mistério que há no ser humano, e


não vejo por que não confessar a emoção que sinto diante de Cristo e
do seu ensinamento... Sinto grande respeito diante de Cristo, mas não
creio na sua ressurreição.
Albert Camus (escritor francês do século XX)

Não sou um ateu total, todos os dias tento encontrar um


sinal de Deus, mas infelizmente não o encontro.
José Saramago (escritor português do século XX)

Virou-se para Deus minha alma triste!


Amortalhei na Fé o pensamento,
Eachei a paz na inércia e esquecimento...
Só me falta saber se Deus existe!
Antero de Quental (poeta português do século XIX)

Os argumentos relativos ao problema da existência de Deus têm sido viciados pela


circunstância de frequentemente se querer demonstrar, não a simples existência de
Deus, senão a existência de determinado Deus, isto é, dum Deus com determinados
atributos.
Resta saber se existe no raciocínio humano o poder de chegar até ali, e, chegando
até ali, de ir mais além.
Fernando Pessoa (1888-1935), Ideias Filosóficas
Relativismo é uma posição que nega a possibilidade de nos aproximarmos,
por tentativas sucessivas, da verdade de Deus. Defende que tudo o que se diga,
se pense ou se faça é igualmente válido e igualmente bom. Todas as decisões
e todas as atitudes estão justificadas à partida porque cada um tem «a sua
verdade». Assim sendo, tudo é relativo; não existem verdades absolutas, nem
pontos de orientação seguros. Caminhamos às cegas pelo mundo.

No fundo, o relativismo é, em muitos casos, uma forma de desculparmos as


nossas ações ou palavras menos agradáveis. Qualquer que seja a nossa posição,
temos sempre razão, uma vez que não existe um padrão de conduta, nem uma
hierarquia de valores. Poderemos até manipular a verdade (as opiniões) conforme
mais nos convier; aquilo que hoje afirmamos, amanhã poderemos negar.

Cada pessoa pode criar as suas próprias crenças, os seus próprios valores

o
e conduzir a vida de acordo com eles, sem qualquer padrão ético. Confunde-se
assim valores morais com caprichos.

-ca sinc i e hon- - f r d a d e


O crente, o agnóstico, o ateu, em vez de se excluírem, devem encontrar-se e
enriquecer-se mutuamente num conflito dialógico de razões, e, por paradoxal que
pareça, num diálogo sincero e aberto, concluirão que há entre eles muito mais
sintonias do que poderiam supor à primeira vista. Quantos crentes, por exemplo,
não ficarão surpreendidos ao descobrir que a racionalidade da fé, não podendo ser
evidente, convive com a dúvida, a opinião, a suspeita...
Fé religiosa e dúvida não se excluem.
Por outro lado, é bem possível que também ateus e agnósticos aceitem que há um
Mistério inominável que a todos envolve...
2. Comenta a
O que deve unir crentes e não crentes é a busca honesta e sincera da verdade e o
afirmação «Fé
combate generoso por uma humanidade melhor, mais solidária e feliz. religiosa e dúvida não
Anselmo Borges (teólogo contemporâneo), Janela do (In)Visível se excluem».

-us: acolher c o n f - -
A fé em Deus é uma realidade com sentido. A crença não é uma atitude
irracional; traduz-se na confiança em Deus e num consequente compromisso de
vida. Acreditar em Deus é acolher e confiar no sentido último da vida.

Todas as pessoas hão de morrer. A experiência de finitude é universal. Mas a morte


é um absurdo porque põe limites insuperáveis ao desejo de eternidade e de felicidade
que habitam o coração humano. Deus é a resposta a este desejo de eternidade e de
felicidade sem limites. Se Deus existir, podemos esperar que a vida e o amor sejam a
última realidade para o ser humano, e que a morte, o nada e o esquecimento eterno
não sejam a última palavra para a vida humana. Acreditar em Deus é confiar que a
vida humana tem um sentido que ultrapassa os anos que vivemos.
61
,z;são (
Todos os seres humanos estão conscientes do infinito e da eternidade. A única
diferença que existe entre eles é saber até que ponto essa consciência abala cada
indivíduo considerado isoladamente. Um acredita num deus pessoal acima das
coisas e das pessoas, o outro acredita no seu próprio querer como seu deus, uns são
humildes, outros revoltam-se, e todos — seja qual for o comportamento individual
de cada um —, todos são crentes.
Arth u r Schnitzier (1862-1931), Espírito e Religião

fl rir
Quando os meus filhos eram pequenos e eu pensava por eles e decidia por eles,
tudo era fácil e somente a minha liberdade estava em causa. Mas chegado o
momento em que eu pensei que o meu papel consistia em habituá-los a escolhas
progressivas, notei que a inquietação se instalava em mim. Ao deixar os meus filhos
tomar decisões e, portanto, correr riscos, aceitava, ao mesmo tempo, o risco de ver
surgir outras liberdades para além da minha. Se, muitas vezes, continuei a escolher
3. Por que razão em vez dos meus filhos, era, tenho de o confessar, para lhes poupar o sofrimento
Arthur Schnitzler provocado por uma opção que eles iriam talvez lamentar, mas era também, e talvez
afirma que «todos mais, para não experimentar a prova de um desacordo entre a sua escolha e aquilo
são crentes»? Será que eu teria desejado que eles fizessem. Isto significava falta de amor da minha
que ele desconhece a parte, porque agindo deste modo desejava essencialmente pôr-me ao abrigo de
existência de ateus e um possível sofrimento, o sofrimento que experimentei sempre que os meus filhos
agnósticos?
optaram por um caminho diferente daquele que me parecia o melhor para eles.
Foi assim que comecei a perceber que Deus «Pai» possa sofrer. Nós somos seus
filhos. Ele quer que sejamos livres no nosso crescimento e o infinito do seu amor
impede-o de exercer qualquer constrangimento. O seu amor puro, sem qualquer
traço de cálculo, implica, desde o princípio, a aceitação do sofrimento inerente a
esta liberdade total que ele quer para nós.
Francois Varilion (1905-1978), O sofrimento de Deus

O Filho Pródigo, Hans Feibusch (1898-1998)

A parábola do "filho pródigo", melhor dito, do Pai misericordioso, transporta-nos


para a representação de um Deus que sofre quando o filho sai de casa e se alegra e
faz festa no abraço do reencontro.
Uma hist( l e fé
Conhecem a parábola do pai misericordioso que tinha dois filhos? O mais
novo resolveu um dia sair de casa, mas o mais velho permaneceu sempre junto
do pai. Pois bem, tenho sido uma espécie de irmão do filho pródigo.

Na verdade, não me lembro de não ter tido fé. Desde que me conheço que
me entendo como cristã. É que nasci numa família católica, comecei a frequentar
muito cedo os grupos juvenis da paróquia e todos os meus amigos mais ínfimos
eram cristãos.

Como é que Jesus entrou na minha vida?

Foram os testemunhos da minha família, dos padres, dos catequistas, dos


amigos e até dos colegas não crentes, que me levaram a deixá-lo entrar.

De início eu não percebia nada. la à igreja porque os meus amigos estavam


lá e sempre nos divertíamos. Na verdade, frequentava a igreja porque era o
único sítio onde os meus pais me deixavam ir sozinha. Mas a um dado momento
comecei a interessar-me pelas coisas de Deus e a sentir um desejo irresistível
de o conhecer melhor. E foi assim, sem grandes sobressaltos, que Jesus se
introduziu na minha vida. Não vi nenhuma luz misteriosa nem ouvi qualquer
espécie de trovão inexplicável! Apenas fui sentindo que nunca estava sozinha,
havia uma constante presença amiga na minha vida.

Por volta dos 12 anos comecei a frequentar um movimento católico que


me marcou definitivamente. Embora o abandonasse ao fim de três anos por
me sentir desenquadrada, tenho de reconhecer que foi nele que aprendi a
encontrar-me com Deus. Aos 14 anos fui a Coimbra, a uma assembleia desse
movimento, e aí tive a minha primeira experiência consciente de oração e de
comunhão com Deus e com os outros. Não sei dizer como foi. Há coisas que
não se explicam. Vivem-se. Apenas sei que encontrei Jesus e que nele achei um
sentido pleno para a minha vida.
Gt);c1a

1
3 1 ~ ~ 1 ~ ~

1
A i t u r ' e Deu'-
Não posso duvidar de que tudo aquilo que eu amo neste mundo — as árvores, as
rosas, os pássaros, um sorriso — é ainda muito mais amado por Deus. Mas tudo
aquilo que eu não posso amar — o mal que faço aos meus irmãos e aquele que
eles me fazem a mim, a injustiça, a miséria, a fome, a doença — será contemplado
serena e passivamente por Deus, porque a perfeição da sua natureza imortal o
impede de vibrar? Prefiro nem dizer nada a respeito da criança que é torturada ou
do inocente que é humilhado!
A obra criadora é uma aventura. Deus aventurou-se, arriscou. Abriu à humanidade
um caminho de liberdade, com todos os perigos inerentes.
François Vadiou (1905-1978), O sofrimento de Deus

k IP.
A c i -
Sim, temos, de facto, necessidade de Deus, presença em cada um de nós da exigência
de procurar o sentido da vida, de ser responsável por descobri-lo e por realizá-lo.
Precisamos de Deus para tomar consciência da unidade da vida, dessa mesma vida
que anima a subida da seiva nas árvores e a palpitação do sangue no coração dos
seres humanos.
Temos necessidade de Deus cuja presença em nós se manifesta pela possibilidade
permanente d e não nos abandonarmos à passividade mas de assumirmos a
responsabilidade de participar na pilotagem da criação continuada da vida.
O Deus de que precisamos é esse Deus uno e total, presente em todos nós e cuja
unidade é a única que pode dar sentido a todas as coisas como seu fim último e único.
Deus é essa presença que está em nós sem ser de nós. Não podemos captá-lo nem
AZ-11, pelos nossos sentidos nem pelos nossos conceitos.
Tal é a fé perene e universal: a afirmação do sentido da existência, da unidade do
mundo, da criação divina da vida. Para se ser humano tem-se necessidade dessa fé,
4. Identifica situações
seja qual for o nome que se dê ao Deus ao qual ela se dirige.
que constituem
obstáculo ao Adaptado de Roger Garaudy (191?„-2012), Será que precisamos de Deus?
acolhimento de Deus.
» O S
Não acredito em nada. As minhas crenças
Voaram como voa a pomba mansa,
Pelo azul do ar. E assim fugiram
As minhas doces crenças de criança.
Fiquei então sem fé; e a toda a gente
Eu digo sempre, embora magoada:
Não acredito em Deus e a Virgem Santa
Éuma ilusão apenas e mais nada!
Mas avisto os teus olhos, meu amor,
Duma luz suavíssima de dor...
Egrito então ao ver esses dois céus:
Eu creio, sim, eu creio na Virgem Santa
Que criou esse brilho que m' encanta!
Eu creio, sim, creio, eu creio em Deus!
Florbela Espanca (1894-1930), A Mensageira das Violetas

Crentes e não crentes fazem as mesmas experiências de finitude, do dever


moral, da liberdade, do sentido e da ausência dele, bem como da morte. O
que distingue o crente do não crente é a interpretação que cada um faz dessas
experiências. O crente é , p o r definição, otimista. Transporta Deus para a
compreensão da pessoa e da história atribuindo-lhe um sentido definitivo. O
não crente, negando Deus, nega a possibilidade de a vida, a história e o universo
terem um sentido definitivo.
65
As c( ; para o ) com Dew-
Deus não aparece a um olhar vago, a uma pessoa distraída, a um indivíduo perdido
na diversão. O encontro com Deus tem lugar no próprio centro da pessoa.
Deus também não aparece a um olhar anónimo, caraterístico da pessoa massificada.
O Deus que dá o seu nome ao revelar-se, chama o ser humano pelo seu nome
próprio e exige que esteja desperto para a sua condição de pessoa.
A redescoberta de Deus exige de nós uma cura lenta de sossego, de concentração,
de interiorização, de contemplação, de disponibilidade, de gratuidade, de liberdade
interior, de criatividade; necessitamos de um longo período de reabilitação para o
espiritual...
5. Em que
circunstâncias é Começa a haver encontro com Deus quando um ser humano pessoalmente adulto
possível que o ser reconhece a realidade transcendente, reconhece-a como pessoal e põe nela a sua
humano se encontre salvação definitiva.
com Deus? _Juan Martín Velasco (teólogo contemporâneo), Lo Religión en nuestro tiempo

DEUSEYIST-

AT acreditam que
afirrncum que ciedararn que n.o
n'àf' sabem

que é possível equacionar respostas fundamentadas sobre a


existência de Deus e sinto-me desafiado a desenvolver uma
posição pessoal.
O ser humano sempre procurou uma resposta para os grandes enigmas que
o inquietam e ao mesmo tempo o deslumbram: o sentido e o fim da vida, a
origem do bem e do mal, o que há para além da morte...
A busca da felicidade é uma luta constante na qual as pessoas se empenham
com paixão. E, consciente ou inconscientemente, todos procuramos a Verdade,
o Bem, a Beleza e a Paz como fins supremos, nos quais encontramos a plenitude.
A procura do transcendente por parte do ser humano começa no início da
humanidade. De facto, os vestígios mais antigos que conhecemos da vida dos
humanos (pinturas rupestres, túmulos, imagens...) denotam que a religiosidade
é um elemento comum a todos os povos, para quem a existência do Sagrado é
uma realidade próxima e necessária.
As representações da divindade que aparecem em diferentes épocas nas
diversas culturas manifestam que o ser humano é naturalmente religioso.
Se olharmos para as antigas culturas, em todas elas encontramos elementos
religiosos comuns: sacerdotes, lugares sagrados (altares, templos), objetos
sagrados (sinais religiosos, instrumentos de culto), tempos sagrados (festas,
romarias), rituais, histórias e livros sagrados.

Elementos constitutivos do fenómeno religioso


- Doutrina: conjunto de dogmas e/ou crenças.
- Ritos: cerimonias cultuais através das quais se presta adoração a Deus.
- Ética: conjunto de normas a viver no dia a dia.
- Relação com a divindade: a religião não é em primeiro lugar doutrina, rito
ou lei; é fundamentalmente relação pessoal com Deus e com a comunidade.

6. Por que é que


a experiência do
sagrado constitui um
dos principais aspetos
da vivência histórica
da humanidade?
RepresentacF)es de Deus
A noção da existência de Deus não só povoa a mente humana, como pertence
à linguagem da humanidade de todas as épocas e latitudes.

No Antigo Egito, uma civilização que prosperou


ao longo do rio Nilo desde cerca de 3100 a.C. até
ao século I d.C., desenvolveu-se o culto de certos
animais como o gato, o gavião, o crocodilo, a íbis,
o escaravelho, o boi. Os deuses assumiam traços
destes animais sagrados e eram representados sob
estranhas formas, meio animais, meio humanas.

Muitos deuses estavam ligados às forças d a


natureza: o poder do sol, a beleza da lua ou as
cheias do rio Nilo.

Rá - deus-Sol, rei dos deuses, pai da humanidade e protetor dos reis e dos mortos.
Ámon - deus da fertilidade, patrono dos faraós.
Osíris - protetor do mundo além-túmulo. Deus da fertilidade e da vegetação. Mais tarde,
tornou-se o deus supremo do Egito, ao lado de Rá, bem como rei e juiz dos mortos.
ísis - deusa lunar, rainha dos deuses, a grande deusa-mãe, deusa dos cereais e da fertilidade.
Horo c o m cabeça de falcão é o deus do
céu e do Sol.
& -
Mon - deus do Sol. Durante um curto " L i
período tornou-se o deus único. ;:"1. „ w • C
Anúbis - deus dos mortos, guardião de 1.
túmulos e de cemitérios.

Na Grécia os deuses eram imortais mas


possuíam características semelhantes aos seres
humanos: ira, bondade, egoísmo, compaixão,
ciúme, fraqueza, força, vingança... As principais
divindades habitavam o Monte Olimpo, d e
onde decidiam a vida dos mortais, embora elas
próprias estivessem submetidos ao destino. Zeus
era a divindade suprema do panteão. Os gregos
acreditavam que os deuses desciam do monte sagrado
para se relacionarem com as pessoas. Os heróis eram
filhos de divindades e de seres humanos.
Cada cidade da Grécia Antiga possuía um deus protetor e cada divindade
representava uma força da natureza ou um sentimento humano. A religião e
mitologia gregas serviam para explicar fenómenos da natureza e transmitir
conselhos para a vida.

Ao invadir a Grécia e o império helénico, os romanos adotaram e adaptaram


o panteão grego.

Acrópole, Atenas Panteão, Roma

Saber
Nome Nome
Função
Rincão romano
grego
Zeus Rei dos deuses e dos seres humanos Júpiter
Poseición Causador dos terramotos e senhor dos mares Neptun—ol
Hades Deus do mundo subterrâneo Plutão
Héstia Deusa da Lareira, símbolo do Lar Vesta
1Ares Violento e conflituoso deus da guerra Marte ,-••••••

rAfrodite Deusa do amor, da beleza e da fertilidade Vénus 7. Caracteriza a


FA-rtemisa Deusa da caça e da juventude Diana religiosidade das
civilizações egípcia e
Hefesto Deus do fogo, da metalurgia e dos artífices Vulcano
greco-romana.

Representações de Deus
no Antigo Testamento
No Antigo Testamento, a afirmação do monoteísmo é essencial. A proibição
da adoração de imagens, para além de ser um imperativo do Decálogo («Não
faças para ti imagens esculpidas, representando o que há no céu, na terra ou nas
águas»), está também relacionada com a natureza misteriosa e transcendente
de Deus, que não é nenhum objeto do mundo nem pode ser representado como
tal. Ele é um Deus santo, totalmente distinto do resto do universo. Por isso,
Israel não identifica Deus com as forças da natureza, apesar de estas poderem
ser uma manifestação da sua ação.
Desde a sua origem, o povo d e Israel
sentiu e desenvolveu a ideia d e que tinha
sido eleito p o r Deus d e e n t r e t o d o s o s
povos da terra. Deus estabeleceu com ele
uma aliança que havia de marcar toda a sua
história. Por isso, o Deus de Israel é um Deus
nacional. No entanto, pouco a pouco, vai-se
desenvolvendo a consciência de que, sendo
o único Deus existente, é também o Deus de
todos os povos, um Deus universal.

Em determinados momentos da história


de Israel, Deus f o i identificado c o m o u m
guerreiro que lutava ao lado de Israel contra
os seus inimigos, ao mesmo tempo que se
manifestava protetor e libertador d o povo
A mão de Deus, Auguste Rochn (1840-1917) perante a prepotência dos impérios.

Na história d e Israel encontramos várias experiências de Deus: d e uma


formulação muito elementar que se aproxima das conceções das religiões
politeístas dos povos com que Israel contactava, evolui-se para o monoteísmo
absoluto e, sobretudo, para a compreensão de um Deus que é pai e protetor.

Nos textos da Bíblia, Deus aparece descrito muitas vezes


com características antropomórficas: atribuem-se-lhe formas e
sentimentos da pessoa humana. De facto, como poderia o ser
humano falar de Deus senão recorrendo àquilo que ele conhece?
Esta maneira metafórica de abordar Deus é, pois, uma tentativa
de desvendar um pouco a sua natureza misteriosa.

A presença de Deus na Bíblia é descrita como uma presença


pessoal e atuante com quem Israel pode conversar, em quem
pode confiar e a quem deve obedecer. Como uma espécie de
legislador, Deus apresenta a sua vontade num código de leis —
cujas regras centrais se referem tanto ao culto como à conduta
ética de vida — e promete-lhe a sua presença protetora, caso
cumpra os mandamentos expressos nesse código.

No Antigo Testamento, podemos ler textos que expressam


uma imagem positiva d e Deus e textos q u e l h e atribuem
caraterísticas claramente negativas. Esta dupla face de Deus
está relacionada com a evolução religiosa que Israel foi fazendo
ao longo do seu percurso histórico, purificando a ideia de Deus
dos elementos negativos.
O nome de Deus havia de designar a sua identidade. Contudo, esta é-nos
desconhecida, porque Deus é o grande mistério. É por isso que a questão do
nome de Deus é tão importante no Antigo Testamento. E não existe apenas um
nome, apesar de um deles ser o mais importante, mas uma multiplicidade de
nomes, evidenciando múltiplas caraterísticas de Deus.

Por respeito para com Deus, os israelitas não pronunciavam o nome de Deus
que tinha sido revelado a Moisés no Monte Sinai («YHWI-1», «Aquele que é» ou
«Aquele que está presente»). Em vez dele, pronunciavam outros nomes que
aparecem igualmente na Bíblia: El (Deus), Elohim (Deus), Adonal (Meu Senhor),
El-Shoddoi (Omnipotente).
rnn)
YHWH em aramaico
«YHWH», mais do que uma simples definição, é a indicação de uma presença. e em hebraico moderno

Quer dizer que Deus não abandona Israel à sua sorte; torna-se conhecido no
encontro e na relação que estabelece com cada um e com o povo. Israel vê no
tetragrama «YHWH» o símbolo do mistério da vida íntima da divindade; é o nome
próprio de Deus, ou seja, a sua identidade, razão pela qual não era pronunciado.

A importância do nome: o nome não existe apenas para designar e distinguir as


coisas e as pessoas, mas é, essencialmente, um elemento definidor da identidade.
Tudo o que existe tem existência para nós, porque tem um nome pelo qual o
conhecemos. Dar um nome, nas civilizações antigas, significava dominar ou atribuir
determinadas características ou funções a alguém. Se se conhece o nome de uma
pessoa, pode exercer-se influência sobre ela.
O nome designa de tal forma a identidade e a função que em determinados cargos
ou relações de pertença se muda o nome da pessoa (como acontece com o papa),
querendo significar uma mudança radical de vida.
O DPIIÇ de IPÇIJS C r k t o
Jesus Cristo acreditava no único Deus do Antigo Testamento: o Deus criador,
omnipotente e juiz mas a sua relação profunda com ele e a sua relação com a
vida das pessoas manifestam uma outra imagem de Deus.
Se o Antigo Testamento lhe atribuía caraterísticas positivas e simultaneamente
negativas, Jesus vem trazer a grande novidade: Deus é Pai inequivocamente bom.
Éum Deus que ama os seus filhos tal como eles
são. E como qualquer bom pai ou boa mãe, também
mostra a sua preferência pelos mais pequenos e pelos
mais frágeis.
Jesus apresenta-nos um Deus bom que se torna
presente no amor e na salvação oferecida a todas as
pessoas. Deus é pai, não apenas dos que cumprem a lei
de Moisés, dos que lhe prestam culto, dos que julgam
ter uma vida honesta, dos que pertencem ao povo de
Israel, mas igualmente dos estrangeiros, dos perdidos,
dos pecadores, dos excluídos, dos desprezados, dos
marginalizados. Não porque aprove o comportamento de
cada um, mas porque ama a todos com amor infinito,
como um pai ama o filho e se dispõe a acolhê-lo na
O Regresso do Filho Pródigo, Esteban Murillo (1617-1683)
bondade do seu coração.
A mensagem de Jesus, não nos apresenta um Deus que esteja ao serviço do
poder, que esteja do lado da violência, que decida de forma arbitrária, salvando
apenas quem bem entender, que anule a liberdade do ser humano. É um
Deus profundamente interessado em resgatar o ser
humano dos seus medos, das suas frustrações,
das suas debilidades, tornando-se o garante de
uma vida em plenitude, fundada no amor e na
solidariedade.
Os cristãos, tal como Jesus, acolhem
a presença d e u m Deus que lhes
8. Quais as
características do oferece confiança, liberta-os dos seus
Deus de Jesus Cristo? medos e dos seus egoísmos e leva-os
a servir os outros.

,
Ignoto Deo
Desisti de saber qual é Teu nome,
Se tens ou não tens nome que Te demos,
Ou que rosto é que toma, se algum tome,
Teu Sopro tão além de quanto vemos.
Desisti de Te amar, por mais que a fome
Do Teu amor nos seja o mais que temos,
Eempenhei-me em domar, nem que os não dome,
Meus, por Ti, passionais e vãos extremos.
Chamar-Te amante ou pai..., grotesco engano
Que por demais tresanda a gosto humano!
Grotesco engano o dar-te forma! E enfim,
Desisti de Te achar no quer que seja,
De Te dar nome, rosto, culto, ou igreja...
—Tu é que não desistirás de mim!
José Régio (1901-1969), Biografia

rbo de
Queres saber de que cor Queres saber o lugar Queres saber o segredo
São os sonhos de Deus Da morada de Deus Do coração de Deus
Volta a olhar o mundo Volta a olhar o Homem Volta a olhar o amor
Pela primeira vez Pela primeira vez Pela primeira vez

Pois o Verbo de Deus acampou entre nós

Tolent-ino Mendonça (teólogo e poeta contemporâneo)


A ri-e de "dizer" Deus
A arte, em geral, e a arte sacra, em particular, tem um profundo sentido
espiritual, uma vez que revela o sentido oculto da vida e do universo.

Todas as formas de arte são extensões da obra criadora de Deus, o primeiro


e eterno artista. O universo inteiro é uma grande obra de arte. Mas, para além
da natureza, podemos observar a maravilha da criação artística de Deus em nós
mesmos.

A pessoa humana é a tela: Deus vai desenhando a obra de arte que é a vida
humana.

Quando analisamos uma obra de arte descobrimos a mão do artista, intuímos


qual foi a sua ideia e o que quis fazer. Da mesma maneira, podemos descobrir a
mão de Deus na obra de arte que é cada pessoa. Damo-nos conta de que nada é
Cristo Pantocráto fruto da casualidade ou da fatalidade; tudo depende simultaneamente da força
criadora e amorosa de Deus e do livre consentimento humano.

Pletó, Miguel Ângelo (1475-1564), [Basílica de S. Pedro, Roma]

A iconografia (do grego Eikon = imagem + graphia = escrita) é uma forma de


linguagem visual que utiliza imagens para representar determinado tema. A
iconografia estuda a origem e a formação das imagens. A palavra ícone quer dizer
literalmente «imagem». Na sua origem, o verdadeiro sentido de ícone é o de uma
imagem que nos leva a Deus.

74
O catalão Antoni Placid Gaudí i Cornet (1852-1926) foi arquiteto e um dos
maiores símbolos da cidade de Barcelona. Artista modernista e cristão convicto,
quis que a sua obra principal — a igreja da Sagrada Família, em Barcelona —
exprimisse a grandeza, a harmonia e a vitalidade do Criador. Dedicou quarenta
anos da sua vida a esta construção monumental. Gaudí pretendeu com a sua obra
elevar a alma humana a Deus. É quase impossível passar pela extraordinária igreja
como um simples turista; pois este templo é um sinal luminoso da presença de
Deus, a revelação explícita da fé num Deus vivo e próximo.

O peregrino, em permanente busca de si mesmo e de Deus, contempla


esta obra artística para nela fazer a experiência de encontro com o sagrado.
A arte de Gaudí é um apelo
à conversão d o coração,
abrindo-o àquele q u e é o
autor d a beleza. To d a a
beleza e x t e r i o r e i n t e r i o r
9. Comenta a
da igreja coloca a pessoa seguinte afirmação de
diante de Deus e interpela-a Van Gogh: «Procura
compreender o que
a compreender a sua vida
dizem os artistas nas
à luz da realidade eterna e suas obras-primas,
transcendente, o u seja, d o os mestres sérios. Aí
está Deus».
próprio mistério de Deus.
Seeur e r faI i D e u s
Se eu quiser falar com Deus
Tenho que ficar a sós
Tenho que apagar a luz
Tenho que calar a voz
Tenho que encontrar a paz
Tenho que folgar os nós
Dos sapatos, da gravata
Dos desejos, dos receios
Tenho que esquecer a data
Tenho que perder a conta
Tenho que ter mãos vazias
Ter a alma e o corpo nus
Se eu quiser falar com Deus
Tenho que me aventurar
Tenho que subir aos céus
Sem cordas p'ra segurar
Tenho que dizer adeus
Dar as costas, caminhar
Decidido, pela estrada
Que ao findar vai dar em nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Do que eu pensava encontrar
Gilberto Gil (compositor e cantor contemporâneo)

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que o ser humano necessita de representar Deus para mais


facilmente se relacionar com ele. As diferentes formas de arte
são aproximações ao mistério que é Deus.

76
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A tradição judaica — e particularmente a cristã — revelam a imensidão e a


bondade de Deus. Deus é o Amor.
SaP"‘•
O autor do livro
de Ben Sira (Sir) é
As obras cfe Deus estão acima de todo o touvor um crente judeu
"Por muito que digamos, muito nos ficará por dizer; mas o resumo de todo que, no final da
sua vida, quis
o nosso discurso é este: «Ele é tudo.» " O n d e encontraremos nós a força para o
legar uma espécie
glorificar? Sendo o Todo-Poderoso, está acima de todas as suas obras. " O Senhor de testamento
é terrível e soberanamente grande, o seu poder é maravilhoso. " G l o r i f i c a i espiritual às
o Senhor e exaltai-o, tanto quanto puderdes, porque Ele será sempre maior. gerações futuras.
No seu livro
Exaltai-o com todas as vossas forças, não vos canseis, porque jamais chegareis
reforça a ideia
ao fim. " Q u e m o viu a fim de o poder descrever? Quem é capaz de o louvar da fidelidade à
como Ele é, em toda a sua amplidão? "Bem numerosas ainda são as suas obras religião de Israel,
ocultas, pois não vimos senão um pouco das suas obra. " O Senhor fez todas as confrontada
coisas, e Ele deu sabedoria aos homens piedosos. naquele
tempo com o
Sir 43,27-33
pensamento e
civilização dos
gregos.

O texto pretende sublinhar a grandeza e o mistério de Deus. Das suas palavras


depreende-se que não pode haver um discurso acabado sobre Deus porque a
linguagem humana é limitada e incapaz de revelar plenamente a sua natureza.

Ele está em todas as coisas e, simultaneamente, acima de todas as coisas; é


Todo-Poderoso, invisível e, de certo modo, desconhecido, dada a sua grandeza
humanamente incompreensível.

O imenso amor de Deus acontece na criação do universo e do ser humano,


na dádiva da sabedoria para que cada um possa conduzir a vida pelo caminho
da alegria, e, na infinidade de belezas presentes em cada pessoa e na natureza.

O autor convida os crentes ao louvor deste Deus, surpreendente e próximo


em quem confia.
O Senhor émeu Pastor
O Senhor é meu pastor: nada me falta.
'Em verdes prados me faz descansar
e conduz-me às ágüas refrescantes.
'Reconforta a minha alma
e guia-me por caminhos retos, por amor do seu nome.
'Ainda que atravesse vales tenebrosos,
de nenhum mal terei medo
porque Tu estás comigo.
A tua vara e o teu cajado dão-me confiança.
'Preparas a mesa para mim
à vista dos meus inimigos;
ungiste com óleo a minha cabeça;
a minha taça transbordou.
'Na verdade, a tua bondade e o teu amor
hão de acompanhar-me todos os dias da minha vida,
e habitarei na casa do Senhor
para todo o sempre.

Este salmo, atribuído ao rei David (séc. X a.C.), ele próprio pastor na sua
juventude, é um poema-oração que canta a confiança e a fé em Deus. Deus é o
Pastor que guarda, orienta e conduz as pessoas. Nele os crentes encontram refúgio
e segurança. Daqui nasce a convicção de que Deus é uma presença fiel e protetora.

Para melhor se entender esta representação de Deus é importante t e r


presente a vida de um pastor da época. Os pastores não eram proprietários de
grandes rebanhos, mas de um pequeno número de ovelhas, das quais cuidavam
com carinhojá que constituíam o seu património material e o sustento da família.
Era costume, entre os pastores, juntar à noite os seus pequenos rebanhos num
curral comum, guardados por vigias. A voz de cada pastor era identificada pelas
respetivas ovelhas, que se reuniam à volta do seu guia para uma nova pastagem.
Esta imagem era usada para exprimir a relação do povo de Israel com Deus, uma
vez que Israel escuta a voz do seu Pastor e a ele confia a sua vida.
Os pastores, preocupados com a satisfação dos seus rebanhos,
percorriam grandes distâncias para encontrar prados verdejantes. Tal
como o pastor enfrentava a aridez das terras, a escuridão da noite ((<vale
tenebroso») e os perigos que ameaçavam os rebanhos, assim Deus
é aquele que tranquiliza o seu povo com a sua presença, no meio das
adversidades da vida. Apenas pede uma atitude: que as suas "ovelhas"
nele depositem a sua confiança, o escutem e sigam.

O cajado, usado para afugentar os animais selvagens e para levantar


as ovelhas caídas, remete para um Deus cuidadoso, protetor, meigo e
sempre atento a todos. Conduçao do Rebanho,
Silva Porto (1850-1893),
[Museu Nacional
A promessa d e vida eterna ("habitarei n a casa d o Senhor para t o d o o Soares dos Reis, Porto]
sempre") assegura ao crente que a meta do seu caminho não é obscura nem
incerta e é motivo de alegria por experimentar a companhia amorosa de Deus,
que se cultiva na coerência entre a fé e as obras de amor.

Apeto à justiça e à santidade


'Não vos fieis em palavras de mentira, dizendo: 'Templo do Senhor, templo
do Senhor! Este é o templo do Senhor'.

'Mas, se endireitardes os vossos caminhos e emendardes as vossas obras,


se verdadeiramente praticvdes a justiça uns com os outros, 'se não oprimirdes
o estrangeiro, o órfão e a viúva, n e m derramardes neste lugar o sangue
inocente, se não seguirdes, para vossa desgraça, deuses estrangeiros, 'então,
Eu permanecerei convosco neste lugar, nesta terra que dei desde sempre e para
sempre a vossos pais. 'Contudo, eis que vos enganais a vós mesmos, confiando
em palavras vãs, que de nada vos servirão. 'Roubais, matais, cometeis adultérios,
jurais faiso e procurais deuses que vos são desconhecidos; " e depois, vindes
apresentar-vos diante de mim, neste templo, onde o meu nome é invocado, e
exclamais: 'Estamos salvos!' Mas seguidamente voltais a cometer todas essas
abominações. "Porventura, este templo, onde o meu nome é invocado, é a
vossos olhos, um covil de ladrões? Ficai sabendo que Eu vi todas estas coisas.
Jr 7,4-11

Jeremias viveu num dos períodos mais conturbados da história do povo de Israel:
a destruição de Jerusalém e o exílio na Babilónia (séc. VII a.C.). Não lhe foi fácil
a missão de profeta, mas a sua confiança em Deus permitiu-lhe vencer os mais
variados obstáculos, nomeadamente, a oposição da aristocracia judaica.

79
O profeta Jeremias denuncia o facto de o
povo de Israel sobrevalorizar o templo e o culto
e desvalorizar o comportamento ético. Denuncia
a decadência de um povo que esquece a vontade
de Deus para se centrar exclusivamente num
culto sem sentido. O templo era o lugar sagrado
por excelência, mas não podia servir para
camuflar uma religião ritualista que não atende
aos valores morais e ao comportamento justo.
Por isso, o templo não pode ser o lugar mágico
da salvação. O culto essencial a Deus é a prática
da justiça e do bem. Jeremias apela à conversão
do coração — que implica uma alteração radical
da forma de conduzir a vida e uma mudança
essencial na relação com as outras pessoas —
como sinal de uma fé autêntica que não se pode
Jeremias, Jean Vernet (1789-1863) esgotar em rituais.

Fécom obras
'De que aproveita, irmãos, que alguém diga que tem fé, se não tiver obras
de fé? Acaso essa fé poderá salvá-lo?'Se um irmão ou uma irmã estiverem nus
e precisarem de alimento quotidiano, "e'um de vós lhes disser: ((Ide em paz,
tratai de vos aquecer e de matar a fome», mas não lhes dais o que é necessário
ao corpo, de que lhes aproveitará? "Assim também a fé: se ela não tiver obras,
está completamente morta.
Tg 2,14-17

Para se ser um cristão autêntico, não é suficiente acreditar e proclamar a fé


com palavras. A fé e as obras são inseparáveis. O verdadeiro crente, age no seu
dia a dia conforme aquilo que proclama e acredita. A fé sem obras é morta.
Tiago sublinha a necessidade de que a fé não permaneça apenas teórica,
mas se manifeste de modo ativo e em obras.
A fé só faz sentido se transformar a vida, não só a vida de quem acredita
mas também ajudar os irmãos na caridade. É esta a fé, que nos põe ao serviço
de Deus e dos irmãos, que nos tornará vivos e felizes. A fé é viva quando se
concretiza em obras. Quem não sabe amar a Deus e aos irmãos acabará por se
dar conta de que atravessou a vida sem a saborear.
O povo de Israel, tantas vezes violentado e derrotado pelos grandes impérios,
esperava de Deus a salvação que se havia de manifestar através do advento
do Messias, daquele que seria o sinal de um Deus Todo-Poderoso e libertador,
capaz de devolver a identidade e a independência do povo enquanto nação.

A revelação da vontade libertadora de Deus atinge o seu ponto mais alto com o
nascimento do Deus-Menino, Jesus, o Deus-connosco, o Bom Pastor, o rosto visível
de Deus invisível. A sua mensagem de fraternidade universal pretende reunir todas
as pessoas dos vários quadrantes da terra sob a presença do amor de Deus.

Jesus é o rosto de Deus Pai, que não limita o seu amor infinito ao povo de
Israel, mas inclui a totalidade da humanidade. Por isso, os que seguem Jesus,
o Bom Pastor, reconhecem-se como irmãos e veem, nos outros, pessoas
10. Comenta a
igualmente amadas por Deus.
afirmação «Jesus,
E porque «Deus é Amor», os cristãos vivem o mandamento do amor até o Deus-connosco,
o rosto visível de
ao limite. A fé cristã vive-se na relação com o próximo, na construção de um Deus invisível,
mundo mais solidário e fraterno. Deus conta com as capacidades e limitações de pretende reunir todas
cada pessoa para se dar a conhecer. Quem se empenha em servir os outros é o as pessoas sob a
orientação do amor
autêntico rosto de Deus a atuar na história. E é na história que ficam gravadas de Deus».
as memórias de testemunhos de fé reveladores do rosto de Deus.

que a experiência da bondade de Deus transforma a vida do


crente num apelo à esperança e empenha-o na construção de
um mundo solidário. A fé exige obras de amor.
O cristão sente em si o imperativo de ser presença transformadora de Deus
no mundo que o rodeia. Cada crente é o rosto e as mãos de Deus a atuar na
história; é o coração de Deus a fazer o Bem e a multiplicar o amor.

A fraternidade faz parte da identidade do próprio ser humano, enquanto


ser aberto e atento aos outros, ao mundo e a Deus. A relação com os outros
manifesta-se e m experiências d e encontro e d e diálogo interpessoais. A
fraternidade decorre deste encontro com um «tu» com quem nos cruzamos e
relacionamos e a quem reconhecemos a filiação divina. Sempre que se ignora
esta dimensão altruísta e de sacralidade do outro, surge o egoísmo e a solidão.
Viver a fraternidade é construir relações interpessoais marcadas por laços de
irmandade, das quais nascem frutos de amizade, comunhão e cooperação,
valores que tornam a pessoa humanamente mais rica e mais autêntica.

Vidas cor -enfic1(


São inúmeros os crentes que, seduzidos pelo amor de Deus, contribuíram e
contribuem para uma sociedade mais fraterna.

ÇHC-• 9 1.-)p!iç p n C r 'Ir t r - r i n P n i - P me


João de Deus, também conhecido por João Cidade, nasceu em Montemor-o-
-Novo (Alentejo) em 1495 e faleceu em Granada (Espanha) em 1550. Depois duma
vida cheia de aventuras na carreira militar, o seu desejo de perfeição levou-o a
ambicionar coisas maiores e entregou-se ao serviço dos enfermos. Apaixonado
por Deus, viveu esse amor na assistência aos pobres e aos doentes. Fundou
um hospital em Granada e associou à sua obra um grupo de companheiros que
mais tarde constituíram a Ordem dos Irmãos Hospitaleiros tendo como missão
o cuidado do doente mental.
São João de Deus é o padroeiro dos hospitais, dos doentes e dos enfermeiros.
Num tempo em que o doente mental era visto com desdém e alvo de
preconceitos, este " l o u c o p o r Deus" doou-se totalmente a cada pessoa
incompreendida. S. João de Deus viveu o amor de Deus na pessoa do doente. E
S. João de Deus
esse amor, tornado ação, deu sentido à sua vida e é a expressão de que a fé em
Deus só é viva quando amamos e servimos os outros.
,u perece,
- a boa ob- - r r ' e c e
Vêm aqui tantos pobres, que até eu me espanto como é
possível sustentar a todos. Entre todos — doentes e sãos,
gente de serviço e peregrinos h á aqui mais de cento e dez
pessoas. Como esta casa é geral, recebe doentes de todos
os géneros e condições: tolhidos, mancos, leprosos, mudos,
dementes, paralíticos, alguns já muito velhos e outros
muito crianças ainda, e por cima disto muitos peregrinos
e viajantes, que cá chegam e aqui encontram lume, água,
sal e vasilhas para cozinhar os alimentos. Vendo-me tão
carregado de dívidas que já mal me atrevo a sair de casa,
e vendo tantos pobres, irmãos e próximos meus, sofrerem
para além das suas forças e serem oprimidos por tantos
infortúnios no corpo ou na alma, sinto profunda tristeza por
não poder socorrê-los, mas confio em Cristo.
João de Deus, Liturgia das Horas

, Virente de Paulo e a opção pelos pobres


Vicente de Paulo nasceu em 1581, numa aldeia do sul da França. Destacou-
-se, desde cedo, por uma notável inteligência e sentido religioso da vida. Estudou
teologia e foi ordenado sacerdote.

Confrontado com tanta pobreza em contraste com a riqueza de poucos, Vicente


começou a distribuir bens aos pobres e a fazer visitas aos enfermos nos hospitais.

Naquele período, a marinha francesa estava em expansão e, para resolver o


problema da mão de obra necessária para o remo, era costume a condenação
às galés. Vicente empenhou-se nesta missão lutando por mais dignidade para
estes prisioneiros que viviam em condições sub-humanas. Vendo o abandono
espiritual dos camponeses, fundou a Congregação da Missão, para evangelização
do «pobre povo do interior».

Inspirado pelo seu amor a Deus e aos mais desamparados, S. Vicente de Paulo
concretizou muitas obras de amor e fraternidade. A sua vida é uma história de
doação aos irmãos indigentes e é um hino de amor a Deus. O pai dos pobres S. Vicente de Paulo

inspirou as Conferências Vicentinas que, espalhadas pelo mundo inteiro, vivem


permanentemente o amor a Deus na ajuda aos mais carenciados.

Seprocurardes o. Deus, fncon+rá-lo-'eis por +oda a par n a


11. Idenfifica o que
pessoa do pobre. significa ser cristão
Amemos a. Deus, irrros, amemos o, Deus. Mas que seja com o para São Vicente de
Paulo, a partir das
suor do nosso ros+o e o 'esforço dos nossos braços.
suas frases.
Aristides de Sousa Mendes e a obediência
à própria consciência
Aristides de Sousa Mendes do Amaral e Abranches
nasceu em 1885, em Cabanas de Viriato, Viseu. Licenciou-
-se e m Direito e , depois d e t e r exercido funções
diplomáticas em várias cidades, foi nomeado cônsul em
Bordéus.

As forças nazis de Hitler tinham entrado em Paris e


uma multidão de pessoas fugira para o sul, esperando
deixar a França. O destino era Bordéus, onde um visto
português podia assegurar-lhes u m a passagem a t é
Portugal, que era um país neutro; dali talvez pudessem
obter uma passagem para a América.

Salazar, no entanto, tinha ordenado às embaixadas portuguesas que não


emitissem passaportes ou vistos a determinados grupos de pessoas, entre
os quais os judeus e os exilados políticos portugueses. Aristides, com grande
compaixão, decide desobedecer às ordens de Salazar concedendo vistos de
forma indiscriminada e gratuita a cerca de trinta mil pessoas, de modo a salvar o
maior número possível de refugiados das mãos sanguinárias do nazismo. Cerca
de dez mil desses refugiados eram judeus.

«Tenho de salvar 'estas pessoas, quartos ,eu puder Se desobedeço


a ordens, prefiro 'es—ar com Deus f con+ra os homens do que com os
homens 'e con-hl Deus»

ie G

-d0/40,
Homem p r o f u n d a m e n t e c r e n t e , Visto neste C o n s i l l o de I
em flordéus, a a:v4..dy,„/"?-49
Aristides s e n t i u o a p e l o d e D e u s
Valido para uma s'o viagem
ouvindo a sua consciência, dialogando O Cônsul,

com a sua família e inquietando-se com


os dramas humanos que presenciou.

O A l t o Comissariado p a r a o s
Refugiados da Sociedade das Nações
calculou q u e nesse verão d e 1 9 4 0 ?agou q u a n
O O
tenham entrado em Portugal quarenta W l . n n ( , r 9 4 : 4 2 , '•9,:f. e . • (14 T n i x d a t l e h n d o

importAneut iwkçadt, I I N / /
mil refugiados. N a s u a c a s a e m ,

Cabanas de Viriato, Aristides recebeu Cr511,tiludo d. 1,01,1 K C )


. . . . • .. . . .
dezenas de refugiados.
1 6 MAI19hp
84
Como consequência d a sua desobediência a o governo, f o i chamado a
Lisboa, demitido das funções diplomáticas e proibido de exercer a profissão de
advogado. Teve de vender todos os seus pertences pessoais para alimentar a 12. Como avalias, do
sua família. Morreu na penúria em 1954. ponto de vista ético,
o facto de Aristides
Snher de Sousa Mendes
ter desobedecido à
Em 1967, em Nova Iorque, o Yad Vashem, organização judaica para a recordação lei vigente e de se
dos mártires e heróis do Holocausto, homenageou Aristides de Sousa Mendes com ter prejudicado a si
a sua mais alta distinção: uma medalha comemorativa com a inscrição do Talmude: próprio para salvar
«Quem salva uma vida humana é como se salvasse o mundo inteiro». Disseram outras vidas?
então: «Como judeus salvos por um homem justo, é nossa obrigação recordar a sua 13. Como vivenciou
vida, a bondade de um homem que, contra tudo e todos, na sua época, lesou a si Arisfides de Sousa
Mendes o seu amor a
mesmo para salvar outras vidas».
Deus?

PapaJoão'ill - 3 m p r e e r -',odomur m c erno


Ângelo Giuseppe Roncalli — papa João XXIII, o «Papa Bom» — nasceu em
1881 numa aldeia do norte de Itália, de uma família numerosa de humildes
trabalhadores agrícolas.

Pela sua capacidade de diálogo e pela sua humildade, foi escolhido para
ser diplomata do Vaticano, ou seja, representante do papa em vários países.
Cultivou relações respeitosas c o m todos, n u m espírito d e tolerância e
acolhimento. Manteve permanentemente na sua vida diplomática uma atitude
de simplicidade evangélica, inclusive nos assuntos mais complexos.

Durante a Segunda G u e r r a M u n d i a l
(1939-1945) s a l v o u m u i t o s j u d e u s .
Como embaixador d o Vaticano concedeu
permissão de trânsito para que pudessem
viajar e saírem d o s países o n d e e r a m
perseguidos.

Em 1958 foi eleito papa, escolhendo o


nome João (XXIII), em homenagem a São
João, o apóstolo e evangelista do amor.

Foi u m papa empreendedor, corajoso,


simples e cordial. Recebeu pessoas detodas as
nações e crenças e cultivou um extraordinário
sentimento de acolhimento para com todos.
Sustentava-o um profundo amor a Deus e
aos outros. Os seus gestos irradiavam a paz
de quem confia profundamente em Deus.
Visitou e c o n f o r t o u crianças gravemente
doentes internadas em hospitais. Numa visita a
uma cadeia conseguiu criar um ambiente familiar
e ao apresentar-se aos reclusos dizendo "sou Ângelo,
vosso irMào. Aqui, na. pris'ào, ,es-i-amos na Caso, do Pai.
Pus os meus olhos nos vossos olhos, coloquei o meu
coração jun-fo ao vosso corgai'9."
Com as suas palavras e os seus gestos simples,
conseguiu transmitir a misericórdia de Deus para
com os presos.

Preocupou-se c o m a condição social d o s


trabalhadores, d o s pobres, d o s órfãos e d o s
;44) marginalizados.
Preocupado com o afastamento da Igreja e m relação à sociedade, foi o
impulsionador de uma grande reforma na Igreja Católica: o Concílio Vaticano II
(1962-1965). Este acontecimento provocou uma renovação da Igreja e da sua
relação com o mundo, através da recuperação da mensagem originária de Jesus
Cristo (o regresso à essência do cristianismo).

«Agora ao vol+arern para casa 'erICOntrafa'0 as vossas crianças. De'em a


cada urna delas um beijo ou urna carícia 'e digam-lhe: "Es+'e ,É o beijo do papa'.
14. Refere dois gestos Talvez as 'erICOnir'Crn com alguma lágrima por "enxugar renham uma palavra
de solidariedade do deconsolo para +odos avelfs que sofrem. Saibam os afill-os que o papa 'es+á
papa João XXIII.
com os seus -filhos, sobre+udo nas horas de +risftza ,e clf amargura. E peço-vos:
vamos amar-nos uns aos ou+ros, sempre cheios de confiança 'em Chs+o que nos
* d a 'e nos ,escu+a»•
Rries de F011 ! I c i e a entrega ft
Charles Eugène de Foucauld nasceu na França em 1858. Ficou órfão de pai e
mãe ainda criança. Herdeiro de uma enorme fortuna, delapidou-a rapidamente
no jogo e em excentricidades. Como militar percorreu a Argélia e Marrocos em ,
projetos de investigação para a Sociedade Francesa de Geografia.

Uma prolongada reflexão sobre a vida espiritual conduziu-o a uma conversão


súbita que o fez ingressar num mosteiro. Ordenado sacerdote em 1901 regressou
à Argélia e levou uma vida isolada do mundo. Aprendeu a língua e as tradições
dos povos do deserto do Saara.

A decisão que levou Charles de Foucauld a viver com os tuaregues (nómadas


do deserto) foi motivada pelo seu total despojamento, amor radical e entrega aos
outros. Os tuaregues chamavam-no «marabuto branco», que significa homem de
oração ou homem de Deus. Através da sua vida, manifestou a presença de Deus,
completamente comprometido com os pobres e com as pessoas de outras religiões.

Foi assassinado por assaltantes em 1916. O papa Bento XVI beatificou-o em


2005.

.hnnclono
Meu Pai,
Eu me abandono a ti,
Faz de mim o que quiseres.
O que fizeres de mim,
Eu te agradeço.
Estou pronto para tudo, aceito tudo.
Desde que a tua vontade se faça em mim
Eem tudo o que tu criaste,
Nada mais quero, meu Deus.
Nas tuas mãos entrego a minha vida.
Eu te a dou, meu Deus,
Com todo o amor do meu coração, 15. Comenta a
Porque te amo afirmação de Charles
Eé para mim uma necessidade de amor dar-me, de Foucauld: «Logo
Entregar-me nas tuas mãos sem medida que descobri que
Com uma confiança infinita existe Deus, entendi
Porque tu és... que não podia fazer
Meu Pai! outra coisa a não ser
Charles de Foucauld viver por ele.»

Os exemplos destas pessoas que emprestaram a sua própria vida a Deus


vivendo-a como doação em favor dos outros « Q u e m guarda a própria vida
para si, perde-a, mas quem a entrega, ganha-a» — são testemunhos de vidas
com sentido.
instituiões cristãs
São muitas as organizações que se dedicam, em nome de Deus e a partir da
experiência crente, a fazer o Bem e a afirmar a dignidade da vida humana.

A Cáritas é uma organização humanitária da Igreja católica presente em mais


de duzentos países. De forma coletiva e individual a sua missão é trabalhar para
Can"tas construir um mundo melhor, especialmente para os pobres, oprimidos e os que
Portuguesa vivem situações de precariedade pontual ou contínua.

Esta organização, constituída por homens e


mulheres de boa vontade, procura viver o amor a
Deus no serviço ao outro. Rege-se pela doutrina
social da Igreja e orienta a sua ação de acordo
com os imperativos da caridade, dando resposta
às situações mais graves de pobreza, exclusão
social e situações de emergência em resultado
de catástrofes naturais ou calamidade pública.

As Conferências de S. Vicente de Paulo ou Conferências


'<,S k0 V j e
Vicentinas são um movimento de católicos que se dedica,
sob o lema da justiça e da caridade, à realização de t(
'C
iniciativas destinadas a promover o bem do próximo,
'-7.•
em particular d o s social e economicamente mais c . )
--
desfavorecidos. u O
‹s_f C )
Tiveram origem e m 1813 com Frederico Ozanam, • •
que deu início a uma obra de ajuda e de bem fazer àqueles PO rtu gaN
que vivem em situação de miséria e precariedade social.

A grande referência da vivência da caridade é, tal como o nome indica,


S. Vicente de Paulo que trilhou um caminho de dedicação radical aos pobres e
às várias misérias humanas.

As Conferências Vicentinas, reúnem-


-se semanalmente p a r a d e b a t e r e
sugerir maneiras de atender as famílias
carentes. "Formar uma rede de caridade
de ajuda ao próximo" é o grande desafio
desta instituição que alivia o sofrimento
dos pobres e incentiva a promoção da
dignidade humana, tornando, assim,
bem visível o amor de Deus.
As Misericórdias nasceram do preceito cristão da caridade, expresso nas 14
obras de Misericórdia: sete espirituais (mais orientadas para questões morais e
SANTA
religiosas) e sete corporais (relacionadas, sobretudo, com preocupações materiais). CASA
Misericórdia de Lisboa. Por boas causas.

Iras oe Misericó L L
7 espirituais: 7 corporais:
- Ensinar os simples - Remir os cativos e visitar os presos
- Dar bom conselho - Curar e assistir os doentes
- Corrigir com caridade os que erram - Vestir os nus
- Consolar os que sofrem - Dar de comer a quem tem fome
- Perdoar os que nos ofendem - Dar de beber a quem tem sede
- Sofrer as injúrias com paciência - Dar pousada aos peregrinos
- Rezar a Deus pelos vivos e pelos mortos - Sepultar os mortos.
http://www.ecciesia.pt/catolicopedia/

O espírito de misericórdia converte-se em ação organizada através da rainha


D. Leonor (1458-1525), viúva de D. João II. A rainha instituiu a Irmandade de
Nossa Senhora da Misericórdia, com "cem homens de boa fama e sã consciência
e honesta vida", assumindo o compromisso de apoiar os mais desfavorecidos e
levar a cabo as 14 obras de Misericórdia.

Saber
Fundada em 1498, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, primeira ONG d o
mundo, procura a realização da melhoria do bem estar da pessoa no seu todo,
prioritariamente dos mais desprotegidos. É conhecida pela sua ação social
desenvolvendo também um importante trabalho nas áreas da saúde, educação e
ensino, cultura e promoção da qualidade de vida.
Rainha Dona Leonor,
José Malhoa (1855-1933)
As misericórdias, espalhadas por todo o país, reúnem milhares de pessoas
que, em irmandade, aliviam o sofrimento de muitos e manifestam o amor
misericordioso de Deus.
O Ninho é uma Instituição Particular de Solidariedade Social, que tem por

°ninho objetivo a promoção humana e social de mulheres vítimas de prostituição.


O Ninho conhece, analisa e intervem na prostituição de rua e noutros locais
de prostituição.
Tem uma intervenção séria e coerente na denúncia da prostituição, das suas
causas e consequências e no acolhimento e apoio às mulheres e famílias vítimas
de exploração sexual.

le "O Ni!
Que a prostituição é uma violação dos Direitos Humanos, uma exploração que decorre
das injustiças e desigualdades sociais.
Que não se combate a prostituição com medidas coercivas, mas por uma política
social global, uma transformação das estruturas e uma mudança de mentalidades.
Que a prostituição é uma empresa comercial gigantesca que despreza a dignidade
humana em nome da rentabilidade financeira.
Que se reprima realmente o proxenetismo organizado.
Que legalizar a prostituição é legalizar máfias e organizações criminosas que traficam
crianças, mulheres e 'jovens tornando-os escravos dos tempos modernos, apoiando
a violência institucionalizada pelo Estado, tornando-o proxeneta pactuando com
criminosos.
http://www.oninho.pt/content/oninho/principios.htm

16. Faz uma pesquisa O Ninho foi fundado em Portugal no ano de 1967, seguindo o modelo do Ninho
sobre instituições francês instituído pelo padre André Marie Talvas, em 1936. Nasceu a partir das
de origem religiosa necessidades sentidas pelas mulheres prostituídas. Estrutura uma metodologia de
empenhadas no intervenção que se vai adequando às realidades. Conhecer o meio da prostituição
bem comum e anota e os seus agentes foi o início de uma intervenção inovadora que, na década de
o contributo de sessenta, poucas pessoas compreendiam.
cada uma delas na Em 2003 a Assembleia da República Portuguesa atribuiu o prémio direitos humanos
transformação da
ao Ninho.
sociedade.
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•S'
Tudo o que não cresce, decresce e arrisca-se a desaparecer. Este parece ser um
princípio básico da vida. Não há meio-termo, ninguém fica de fora desta realidade.
Se deixo de investir numa relação, ela não se aguenta; se não dou continuidade à
minha formação, deformo-me inevitavelmente, e por aí fora._ E quem não continua
a investir na fé e no amor, corre o risco de perder ambas as coisas.
Vasco Pinto Magalhães (teólogo contemporâneo), Não Há Soluções, Há Caminhos

Concede-nos que nos lembremos sempre que tu também falas quando te calas.
Enquanto esperamos a tua vinda, dá-nos também esta confiança: Tu calas-te por
amor e também falas por amor. Assim, quer te cales, quer fales, és sempre o mesmo
Pai, o mesmo coração paternal, quer nos guies com a tua voz, quer nos eduques
com o teu silêncio.
Kierkegaard (filósofo e teólogo dinamarquês do séc. XIX)

que Deus atua no mundo através das ações e do testemunho


de pessoas q u e ousam confiar nele e se emprenham na
transformação da sociedade e no bem comum.

Deus real se Se tmanifes-ta no hoje.


Deusfs-1-(51em-1-odao,pcu--he.
Exis+ea. ±,en-i-ga'fo de procurar Deus no passado ou no fu±ura
Mas o Deus 'concre±o",Éhoje.
Papo. Francisco
,1,10111101111
aj ap almol owo 9 •
3 o4uo3ua ap solafoJ
Qq5do„ a ep!A a
id OW03 apepplia.3
OA a epin ap 04aloid
4afoid

BAROI apepun
OÊ Sou Mario, a Mole de Jesus. Ser m e foi a grande
opç6o do meu Pg0TETO DE VIDA-.
Wisci em iazaré da Galikia. De acordo com o costvme
judaico de 'ellf-60, aos três anos os meus pois - Toaquirn
e Ana - levaram-me ao templo de Jerusalém para
me consagrarem a Deus, Depois ensinaram-me a
confiar nele
Opovo judeu ansiava pelo Messias, o Salvador E Deus
escoheu-me para ser a m e do Messias esperado.
Eu era ainda muito jovem quando Deus, através do anjo
Gabriel, me convidou a aceitar este projeto. A-brindo o
coraçasi 01) seu convite, dei-lhe o meu "sim" incondicional.
Foi entg que começou -a. minha aventura no mis-herío da
vontade-de-Deus. - -
l\l'aa penses que foi fácil! Eu n'õb tinha absoluta
11;-"Al' certeza do que me estava a acontecer Foram rnomen-hbs
par-Ficularmente difíceis de dovido, e perplexidade. Mas
1_ Indica os nomes
que conheces e
a graça de Deusse.5-1-CLVO.'ern mim f. com a sua força
pelos quais Maria é decidi orientar -toda a minha liberdade para a realizaçb do
evocada e venerada projefo benevolente de Deus. Fui descobrindo o meu futuro através de um processo
em Portugal. Ex.:
interior Fe, disponibilidade, humildade, pron-hdb, org'is'w e doaçab foram as atitudes
Nossa Senhora de
Fátima. que marcaram -todo'esSl€percurso.
Foi assim que me +ornei parte integrante da his-h3ria da relaçaio de Deus com a
humanidade: acolhi o Filho de Deus e entreguei-o GB mundo.
\l,esta unidade le-liva em que vais reflei-ir sobre o teu projefo de vida, procura
estar (1+'el-F-0 aos sinais da vida e à voz da tua consctência. Nta'o tenhas medo e ousa
dar sentido à tva. própria 'eXiSfênCia, Coragem!

Em 25 de março de 1646, nas Cortes de Lisboa, D. João IV proclamou Maria Padroeira


de Portugal, sob o título de Nossa Senhora da Imaculada Conceição.
No mundo inteiro, a devoção e o culto a Maria têm sido expressos em todas as
formas de arte. Para além da pintura e da escultura de todos os tempos, são
Nossa Senhora da Conceição, inúmeras as obras literárias e musicais dedicadas à Mãe de Jesus.
Santuário de Vila Viçosa
Comecemos por recordar o tempo de infância, um tempo em que germinam
tantos projetos. Lembras-te das brincadeiras do faz de conta?! Brincar aos
bombeiros, aos pais e mães, aos heróis... Brincar ao faz de conta é o primeiro
exercício de olhar a vida como uma dádiva posta ao serviço dos outros, motivada
pela resposta a questões e desejos de presente e futuro:

Oquf queres s'er- quando for,es crescido(a)?


Hoje somos crescidos e a pergunta persegue-nos: "O que quero ser?"

141:>_41t,ei Wriçu'itor?!
- 1 1 y•,
Cozinheiro?!-I
PROJETO
Pescador!Futebolista

Pãdren ;;••

Uma das metáforas mais utilizadas para falar da vida é a de um projeto que
nasce com cada pessoa e que se concretiza nas diferentes fases de crescimento,
cujo objetivo é a experiência da felicidade. Associada à imagem de projeto está
também a de caminho. O projeto pessoal de vida é um apelo constante a caminhar,
a libertar-se da inércia e do comodismo que a nada conduzem, para percorrer
itinerários com objetivos traçados, sendo o mais importante a realização pessoal.
95
A palavra i m a j i1(!) deriva do latim e significa «lançar para a frente», sugerindo

2. Que outras movimento, ação, uma trajetória que se visualiza no tempo e no espaço, com
palavras associas a um ponto de partida e outro de chegada. Envolve também a construção de algo
"projeto"? Regista-as novo e a transformação da realidade presente, sugerindo a ideia de futuro.
e partilha-as com os
colegas, os quais A definição d e projeto mistura u m conjunto de verbos e substantivos dela
farão o mesmo. decorrentes e com ela relacionados:
Desta partilha, quais
AVA L I A
as palavras que mais
7,1TVOS
vezes se repetem?
A'J'ÉGIA 'ALIVÇ,ÃO
Por outro lado, é u m termo utilizado e m diferentes áreas da atividade
humana. Uma obra de engenharia, por exemplo, nasce sempre de um projeto,
que mais não é do que a concretização de ideias e intenções organizadas para
servirem determinados fins.
Há projetos pessoais e h á projetos colefivos. Pessoais:
passar de ano, tirar um curso superior, exercer determinada
Umprojeto consiste na profissão, casar, ser missionário; coietivos: projeto educativo
deflnlção de orn conjunto de de um agrupamento de escolas, clube de futebol, associação
obje-hvos a atingir, bem corno de estudantes, etc..
na planificação de estrateglas
A n í v e l pessoal p o d e m o s interrogar-nos: p r o j e t o o u
atividacks que visem ahngir os
projetos? A minha vida envolve e é envolvida por um projeto ou
olif-hvos propostos.
é a experiência progressiva de diferentes projetos consoante o
crescimento e a maturidade pessoais?

zei
UMFgOTETO
•É urn processo que nos •Permite que as pessoas
permite aplicar ideias na aprendam 'e cresçam
-ftansforrnação da realidade, "experimentando;
atraves de estraiegias •gesulta de uma atividade pessoal
açã-esconcretas; oucoletivo, que obedece a um
•Tem corno obje-hvo alterar a plano previamente 'estabelecido;
realidad-epessoal ou social; •Inclui um processo avaliativo,
•Concretiza-se num centrado na relação 'entre os
determinado C011-HeX-h3 ideias,as gbes
'espacial e temporal; oproduto final.
O projeto de vida de cada pessoa ganha um significado especial porque se
relaciona com o dom da vida e o valor e dignidade de cada ser humano. Pensar
o projeto de vida pessoal não pode ser equiparado aos demais projetos da
atividade humana. Tal como cada pessoa é original, única e irrepetível, também
o seu projeto de vida assumirá esta grandeza e importância.
A vida pessoal não se limita a um somatório de vivências sem relação entre
si. E muito menos é o resultado de um conjunto de ações com vista à simples
sobrevivência. Não chega repetir diariamente os mesmos atos e comportamentos:
comer, estudar, praticar desporto, descansar, estar com amigos, ir a concertos,
"estar ligado" às redes sociais... É necessário definir um projeto de vida que
ultrapasse o âmbito restrito da mera sobrevivência. Neste contexto todos temos
a capacidade humana de, no exercício da liberdade, tomar decisões e percorrer
caminhos que dão um sentido à vida.
Neste caminho pessoal, incluem-se a alegria da relação, o risco da aventura,
enveredando por caminhos ainda não percorridos, e, muitas vezes, o sofrimento
provocado pelos fracassos. Os objetivos que cada pessoa traça, no seu projeto de
vida passam pela consciência de que ninguém pode caminhar isolado quando a
finalidade última é a procura e vivência da felicidade. Tal finalidade só se alcança
de mãos dadas com os outros, nossos irmãos na grande aventura da vida.
Oquf me faz s'enfir

Oque falta fazer para que a minha


existência seja perfeita?

Qual o meu lu5ar• na sociedade?

3. Responde às ue 11=C21pessog1 qiuero dteixalr o mun&o e nos outros?


questões enunciadas.
As respostas poderão
,• . .
•••••%„à.
ser dadas através de
uma fotomontagem
com o título "EU, •,
,,•• Q
Projeto". u e caminhoquero percorrer?

•T J â . 7 f 4 „

Será.qu-esesi-ouscchs-K1-1-0••:;!'
como,.rn.inho,_ vida?

, •4).
;-$

Quais as
minhas qualidades
e aptidôles?

Estas e muitas outras questões são já um primeiro passo na definição de


um projeto de vida. Sem nos conhecermos a nós próprios não estaremos
aptos a traçar um projeto adequado à nossa situação concreta. Encontrar
as respostas para estas perguntas é um momento essencial na definição das
linhas principais do próprio projeto de vida. Mas essas respostas remetem para
uma multiplicidade de projetos de vida alternativos. Impõe-se, portanto, um
conjunto de escolhas.
COMOSEREI DAQUI A VINITE AN1W
Bonn, daqui a vinte anos._ - nunca -tinha pensado nisso - acho que
serei parecida com o que sou gora, mas já estarei casada e talvez já
tenha sido me. Sempre sonhei ter g-Émeos, gostava de lhes dar nomes
invulgcu-es mas bonitos. Penso que o meu marido também será da área
dos dências, mas médico no, pois n o iria 'estar muito tempo 'em casa,

GOSktria de trabalhar num laboratório. Descobrir a cura


para doenças, melhorar a vida das pessoas que nalgum
momento mais frágil ficaram infetadas 'e que talvez já
tenham perdido a esperança Gostaria de ser famosa
devido ao meu trabalho, de ser um exemplo para os jovens
estudantes, E porque n o sonhar com o Prémio Nlobel?

Tulgo que n o estarei 'em Portugal. Talvez viva nos Estados Unidos da América numa
cidade ou enfao numa povoaçao mais calma

Aminha família deverá 'estar +oda perto de mim. O meu pai 'e a minha mae
estarao a gozar a vida, a viajar pelo mundo 'e a cuidar dos netnhos. O meu
irmo será um artista de renome 'e respeitada 'estará talvez casado e com
filhos. A minha irrna a acabar o curso ou, entao, já 'estará a trabalhar t\leste
momento ainda n o sei ao certo o que 'ela quererá seguir, mas decerto há de
querer 'enveredar por algo que tenha a ver com filmes. Seremos uma fornia
grande 'e feliz. Aos domingos encontrar-noyernos para o almoço de família O
l\latal será sempre muito festivo e harmonioso. As crianças adorara° abrir os
presentes 'e o meu pai será o Pai klatal.

Hei de ter muitos conhecidos e amigos, mas terei um grupo restrito de amigos
ínfimos. Dar-nos-emos t o bem que talvez saibamos tudo sobre os outros.
Conhecer-nos-emos melhor do que ninguém, saberemos quando algum de nós
está bem ou mal quando alguém precisa de ajuda O meu marido estola
incluído neste grupo, n o fosse ele o meu melhor amigo.

Para conseguir chegar onde pretendo terei


decerto de confiar 'em mim mesma Winguém
'é Cifilfis-fra s,em ter autoconfiança, ninguém
ganha o Premio t\lobel do pé para a mala.
Terei de trabalhar muito, mas devido ao meu
esforço constante honesto hei de obter a
recompensa que mereço.
Adolescente de 15 anos
A Vocação
É comum ouvirmos falar de vocação como o exercício
de uma profissão: «a minha vocação é ser médico», «tens
vocação para mecânico», «a minha mãe diz que tenho vocação
para ser enfermeira». A vocação pessoal, no entanto, não se
limita ao exercício de uma atividade profissional. O projeto de
vida pessoal, ou vocação, realiza-se no exercício de diversas
funções, profissionais ou não, na vivência de determinados
estados de vida, na tomada de opções pessoais quanto à
maneira de orientar a própria existência.

O termo vocação provém do verbo latino vocare («chamar»), remetendo para a ideia
de chamamento divino dirigido a cada ser humano, o qual inicia com a própria vida:
Deus chama-nos a existir. A vocação passa pelos valores e opções que assumimos,
pelo estado de vida que abraçamos (ser casado, ser celibatário entregando-se a
uma causa) e, naturalmente, também pela escolha de uma profissão.

Na perspetiva cristã, quem chama é Deus, o


único capaz de entrar na vida de cada pessoa. •
Quando um adolescente ou jovem se questiona
sobre qual o seu maior desejo para a sua vida,
a resposta imediata é a felicidade. Esta é a
vocação universal que mora no íntimo de cada ser
humano e que necessita de toda uma vida para se
poder realizar. Os cristãos exprimem este desejo
universal de uma outra forma:

o. vocação de quaiquer pessoa. 'eS'€!'"


vivendo ,ern cornunhb com Deus,
qu'e arnor, fazendo o bern a +lodos.

Enquanto chamamento, a vocação espera de cada pessoa uma resposta, que


passa por um projeto de vida. A vocação só se realiza se cada pessoa descobrir
os seus talentos, as suas qualidades e aptidões e os mobilizar para construir-se
quotidianamente na sua vida e na vida dos outros.
Éar>lahei-vacomo
Éo()Iodocoincireo re3pohdenlos
como d a m o s Seni-ido
h o , s s a 3 03p1V•aÇõe3
à n o s s a plreSpVia
proruk1da3e
vida. a o . h o 3 , 5 0 3 301n/103
dereilcidade.

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Vocação...
( õ 9ue perhsas tu?)
lékicia_clextue-Deus_
da_pezioa_

' gg,

Ao longo da vida, são vários os momentos em que é necessário tomar


decisões face ao projeto vocacional. Começa no ensino básico, continua num
curso técnico ou na universidade e prolonga-se durante a vida na carreira
pessoal e profissional.

O exercício de uma atividade profissional poderá proporcionar maior ou


menor autorrealização e felicidade. Em parte, a realização profissional depende
do facto de termos tomado as opções corretas no tempo oportuno. Há momentos
em que temos de escolher o caminho a percorrer e a profissão pela qual havemos
de enveredar no futuro.
101
.fo
Recomeça...
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
Eos passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
Enunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar
Evendo
Acordado,
O logro da aventura,
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde com lucidez te recomeças.
Miguel Torga (1907-1995), Diário, XIII

A vocação pessoal descobre-se olhando para si e para as


necessidades do mundo. O medo, o egoísmo, o consumismo,
a preguiça, não são critérios de escolha adequados. Olhar com
lucidez para aquilo que se é, procurar ser competente no que
se faz, ser fiel às opções importantes que se tomaram, ser
persistente e sereno são atitudes indispensáveis à descoberta
e ao desenvolvimento de uma vocação.
A escolha d e uma vocação está infimamente ligada à
felicidade pessoal: contribui para a felicidade das pessoas que
nos rodeiam; implica o desenvolvimento e enriquecimento da
sociedade. A vocação de cada um é sempre um projeto em
construção. E é caminhando que se descobre e faz o caminho.
Há duas maneiras de nos posicionarmos na vida: deixarmo-nos
conduzir por ela ou sermos nós a conduzi-Ia.

Que dignidade e o. nossa s,e permi-i-imos que a vida s,e nos


imponha ssern que nós nos imponhamos a ,ela?
Que dignidade ,é a nossa se somos jogue+es nas mãos
influências ohelas e vivemos ao sabor da propaganda ,e da
moda ou da disposição pessoa] do mornen±o?
102
Ter u m ideai, seguir uma vocação não é
ter uma fantasia o u u m sonho absurdo; é a 4. Comenta a
seguinte afirmação:
antecipação de uma realidade futura. Um ideal
"A vida sem
é uma tomada de posição frente à vida; é uma objetivos, sem ideais,
decisão que orienta todas as decisões. Quem é simplesmente
tem um ideal compromete-se consigo e com os absurda".

outros, constrói a sua personalidade, que não é


neutra nem indiferente perante os valores, governa
a sua vida e é senhor do seu destino.

"--4rer-19r cr-- ~
• ^ . « . %

O camaleão é um excelente professor.


Observem-no de perto.
Qualquer que seja a direção que escolhe, não muda. Faça o mesmo. Tenha
uma meta na sua vida e não deixe que nada nem ninguém o distraia.
A cabeça d o camaleão nunca mexe, mas os seus olhos mexem-se
constantemente. Não lhes escapa nada. O que significa: descubra
tudo o que conseguir. Nunca pense que é a única pessoa no mundo.
Onde quer que esteja, o camaleão adapta a sua cor consoante o
meio. Isto não é hipocrisia. Significa, sim, ser tolerante e também
ter competências sociais. A confrontação não leva a lado
nenhum. Não nascem resultados construtivos de uma batalha.
Devemos sempre tentar perceber os outros. Nós existimos e
devemos aceitar que os outros também existem.
Quando o camaleão se mexe, levanta as patas e hesita. Isto
significa caminhar com cuidado. Quando se mexe, agarra-
-se bem com a sua cauda — se perder a base, ainda se
consegue agarrar. Protege a sua retaguarda. Por isso,
faça o mesmo: não aja por impulso.
Quando o camaleão avista a sua presa, não a ataca com
um salto, mas usa a língua. Se a conseguir alcançar
com a língua, melhor; caso contrário, recolhe a língua
e ninguém sai prejudicado. O que quer que faça,
faça-o com cuidado. Se quiser fazer algo duradouro,
seja paciente, seja bom, seja humano.
Amadou Hampaté Bâ (1901-1991)

que é fundamental saber quem sou e que definir um projeto de


vida pessoal conduz-me à felicidade.

103
A felicidade é a vocação fundamental do
ser humano, a sua primeira inclinação e
objetivo último da sua existência, para a
qual apontam todos os seus esforços.
A nossa vida está repleta de decisões
importantes, u m a s fundamentais,
outras nem tanto; umas conscientes,
outras inconscientes. Mas e m cada
uma delas jogamos a nossa felicidade.
Aquilo que somos e seremos no futuro
depende das vicissitudes da vida, mas
em maior grau das nossas escolhas,
do que tivermos decidido ser e fazer.
Todos imaginamos como gostaríamos
de ser e o que fazer da vida, ou seja,
que projeto de vida queremos para nós.
Ser feliz é o maior projeto de cada
pessoa. Mas quantas vezes as nossas
opções concretas contradizem e s t e
grande projeto!
Cada um de nós é um projeto:
projeto d e alegria, d e beleza, d e
felicidade. Somos nós os verdadeiros
artistas (escultores) da nossa própria
vida e d a nossa felicidade. E não
podemos delegar nos outros esta
‘1,44eg/e #
missão, permitindo que nos moldem a
seu bel-prazer! Somos chamados a dar
forma à nossa própria vida, fazendo as
escolhas que nos tornarão livres e felizes.
Nas pedreiras de Carrara (Itália), encontraram um bloco de mármore de
extraordinárias dimensões. A pedra era tão perfeita que não quiseram quebrá-
-Ia. Conservaram-na inteira, pensando que alguém pudesse extrair dela algo
excecional.
Chamaram os melhores escultores, mas nenhum quis encarregar-se do
projeto. Algum tempo depois, Miguel Ângelo deparou-se com este enorme
pedaço de mármore. Observou a pedra e imediatamente viu que o rei David
morava no seu interior. Decidiu então trabalhar neste novo projeto. Utilizando
os instrumentos necessários, começou a extrair todos os pedaços de mármore
que encerravam a escultura. Pouco a pouco, o seu David foi tomando forma.
Toda a sua beleza, que só Miguel Angelo conhecia enquanto esteve oculta no
enorme pedaço de mármore, apareceu, imponente, aos olhos de todos.

David, Miguel Ângelo


(1475-1564)
Senfimo-nos atraídos por diversas realidades e valores que podem construir- [Galeria da Academia,
-nos enquanto seres humanos ou, pelo contrário, destruir-nos, apesar de nos Florença]

oferecerem algum bem-estar momentâneo. Aprender a distinguir aquilo que


conduz à felicidade autêntica e duradoura é uma tarefa urgente. Ir retirando, a
pouco e pouco, o pedaço de pedra que esconde a beleza que somos, libertarmo-
EYISTE UM
-nos daquilo que está a mais ou que em nada contribui para a nossa plena
CAMINHO PARA
realização, organizar a vida de maneira consciente, segundo uma escala de valores
AFELICIDADE.
que nos faça crescer enquanto pessoas em todas as suas dimensões é um trabalho
AFELICIDADE É
sempre inacabado que durará a vida toda! A construção da nossa personalidade
OCAMINHO
é tarefa de todos os dias, por meio dos nossos projetos, das nossas decisões (por HahoÁrna Gandhl
mais insignificantes que possam parecer!) e das ações que realizamos. (186,9-191-18)

Não somos, contudo, seres isolados. Precisamos de partilhar a vida com os


outros, sobretudo com aqueles que têm projetos semelhantes ao nosso. Sendo
nós os artistas da nossa existência, não podemos sê-lo inteiramente sozinhos!
Se é verdade que cada um terá de tomar as suas decisões, só no encontro com
os outros e com os seus projetos poderemos realizar algo de efetivamente
interessante no mundo, tornando possível a vivência da felicidade. Caminhando
e crescendo juntos, daremos verdadeiro sentido à nossa vida.
Feliz só será
Feliz só será
A alma que amar.
Star alegre
E triste,
Perder-se a pensar,
Desejar
Erecear
Suspensa em penar,
Saltar de prazer,
De aflição morrer —
Feliz só será
A alma que amar.
Johann Wolfgang Goethe (1749-1832), Canções

c,

Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço
que a minha vida é a maior empresa do mundo. E que posso evitar que ela vá à
falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios,
incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas
e tornar-se autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz
de encontrar um oásis no recôndito da sua alma. É agradecer a Deus em cada
manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter
coragem para ouvir um «não». É ter segurança para receber uma crítica, mesmo
ANIOSSA
que injusta.
FELICIDADE
Augusto Cury (médico e escritor contemporâneo), Dez leis para ser feliz
DEPENDE MAIS DO
QUETEMOSt\1AS
WSSASCABEÇAS,
DOQUE \10S
NOSSOSBOLSOS.
Artur Schwenhauer
(1788-/M)

5. Em grupo,
comenta a afirmação
de Schopenhauer.

106
Ao olharmos o mundo que nos rodeia, notamos que as pessoas se
comportam de maneiras muito diferentes. Aquilo que para algumas é mal,
outras consideram-no bom! Cada pessoa observa e julga segundo o universo de
valores que assumiu no seu projeto de vida.
Chamamos valor a tudo o que tem importância real na existência humana.
Se as pessoas não têm todas o mesmo conjunto de valores, a diferença ainda se
acentua mais na forma como os hierarquizam. De facto, cada pessoa estabelece
uma hierarquia de valores — desde o que assume maior relevância até ao
que se revela menos importante — conforme a educação que teve, a época e
o ambiente em que vive. Os valores adotados e a escala de valores respetiva
constituem uma opção fundamental. Essa opção condiciona todas as escolhas,
decisões e comportamentos, uma vez que define os princípios pelos quais cada
pessoa se deixa orientar e o ideal de realização pessoal a que aspira.

VERDADE
MUITO 'DINHEIRO
ALTRUISMO
5 TELEMÓVEIS
USTIA
1 COMPUTADOR
AMIGOS
1 TABLET
SOLIDARICDADE
AMIGOS
ESFORÇO
ROUPA COOL 6. comenta as
PERSISTÊNCIA
CONSUMOS duas "operações
HUMILDADE
FESTAS
matemáticas".

FELICIDADE?

Anossa personalidade vai-se estruturando e definindo por meio das escolhas que
fazemos na vida. A vida humana não está pré-determinada — não existe um destino
escrito nos astros que nos seja imposto —, somos nós próprios que a construímos,
em liberdade, através das opções que tomamos dentro das circunstâncias em que
vivemos. Sendo livres, somos plenamente responsáveis pela vida que escolhemos
viver. E ser responsável implica assumir as consequências das opções tomadas (sejam
boas ou más) e saber responder por elas perante nós mesmos e perante os outros.
R( y bille s o b m La4„
Criado por Deus para a felicidade, o ser humano encontra na sua dedicação ao bem
da comunidade em que se insere os meios para realizar essa felicidade pessoal e
social. Ninguém pode ficar excluído dessa tarefa permanente.
A crise que atinge o nosso mundo e, em particular, o nosso país e o espaço europeu
em que se situa, não é apenas uma crise económica mas também, e sobretudo,
uma crise espiritual e moral. Entre outros aspetos, ela traduz-se na relativização
de valores e princípios, na perda de confiança num futuro melhor, na demissão
em lutar por uma sociedade mais justa e pacífica, no refugiar-se em seguranças
meramente individuais e privadas.
O ser humano, entendido como pessoa em comunidade, e os critérios evangélicos
da construção da comunidade, fundada no amor, implicam a urgência em despertar
os dinamismos inerentes à pessoa, tais como a confiança e a esperança num futuro
com sentido de vida, a participação solidária e o empenhamento responsável pelo
bem comum.
7. Identifica alguns Portugal pode ser diferente, com o contributo positivo de todos. Os cidadãos
dos "pecados sociais" devem ter consciência da sua responsabilidade no crescimento da sociedade como
que dificultam a
comunidade. Ao olharmos o nosso país, com os problemas que o atravessam, na
construção de uma
perspetiva da edificação de uma sociedade solidária, identificamos algumas atitudes
sociedade mais
solidária, justa e
e linhas de comportamento, a que podemos chamar «pecados sociais» e que exigem
fraterna. Propõe uma conversão à solidariedade responsável na construção do bem comum.
soluções. , Carta Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa, 2003

PR R E A
EL n t - - - ' Como seres que se realizam apenas na relação
com os outros, não convivemos bem com uma
sociedade desonesta e imoral, o n d e a opção
fundamental consiste, essencialmente, em obter
prazer para si mesmo. Através das nossas ações
construímos o u impedimos a felicidade das
pessoas com quem lidamos, da mesma forma
que elas o fazem em relação a nós, através do
modo como se relacionam connosco. Temos nas
nossas mãos, em cada dia, a responsabilidade de
tornar a vida de alguém mais feliz.

No entanto, podemos observar


muitíssimas pessoas q u e n ã o
têm condições m í n i m a s p a r a
se sentirem felizes, porque lhes
faltam os bens essenciais, tanto
os b e n s materiais c o m o , m u i t a s
vezes, os bens espirituais (o afeto, o
acolhimento, a atenção dos outros).

4ik
Uma má escolha é uma porta aberta para a infelicidade. Por vezes até
sabemos o que queremos ser ou vir a fazer, só que, dominados pela preguiça,
não nos esforçamos o suficiente por alcançar essa meta. E sem esforço nada de
verdadeiramente duradouro se pode alcançar. Acabamos por ficar pelo caminho.
Ecom tal comportamento "condenamos" o nosso futuro. É verdade que nem
tudo poderá estar perdido. É sempre possível procurar, mais tarde, alterar o
nosso itinerário. Mas se tudo for feito no momento certo, será certamente mais
fácil e gratificante.

P a r i p a r na construção da sociedade
A participação na vida pública (na escola, na turma, no bairro) é um direito SA-13Eg
de todos os cidadãos e, simultaneamente, um dever moral. Pertencendo a uma Er\IC01\11-gAgA-
comunidade, não devemos deixar, por mãos alheias, a definição dos destinos da ALEGgIADOS
vida pública. Somos chamados a intervir ativamente na sua definição. OUTgOS, É O
Há muitas formas de intervenção: SEGgEDODA-
Em campanhas de solidariedade; nas eleições e nas consultas, na escola, FELICIDADE
em cargos para que fomos escolhidos; em associações com vista a tornar a G'corg-esEyernanos
(1888-191-18)
sociedade mais justa e humana. Quando adulto, posso e devo participar na
atividade política e em organizações que procurem transformar a sociedade e
promover o bem comum.
SEUM HOMEM A solução para os problemas que vão surgindo
kik DESCOBgIU não está, decididamente, em «cruzar os braços»,
f\IADAPELO QUAL adotando uma atitude passiva e permitindo que
MOggEgIA o mundo aconteça, à nossa volta, sem o nosso
ESTÁPg0l\ITO PARA contributo. E m p e n h o n a educação escolar,
VIVEg. informar-se, formar-se e intervir, usando todas
ti Lufher King as possibilidades legítimas ao alcance, contribui
(1929-1%8) para a realização pessoal e o desenvolvimento
da democracia, a valorização do debate de ideias
e a promoção de novos modos de vida.

A mudança acontece, antes de mais, em cada pessoa e alcança a sociedade


quando se unem esforços pelo bem de todos. Ser empreendedor na construção
da sociedade é um desafio que nasce no coração e vontade de cada pessoa em
fazer da sua vida um projeto diferente, único e admirável.

APESSOA
QUEr\ILNICA O trabalho é uma vocação inerente ao ser humano, é participação na obra criadora
de Deus, é realização da pessoa humana na sua dignidade em solidariedade
EggOU FOI
efetiva com os outros seres humanos. O trabalho é uma dimensão fundamental da
AQUELAQUE existência humana sobre a terra.
klUNICAFEZ Carta Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa, 2003
COISAALGUMA
fichei Quois-1-
(/92/-1997)

8. identifica os
aspetos da vida
em sociedade que,
no teu entender,
merecem mais
atenção e cuidado.
Que contributo
poderás dar?

que um projeto devida pessoal que conduza à felicidade necessita


de ser orientado por valores promotores da vida e da dignidade
das pessoas.
A vida é entendida, pelos crentes, como uma dádiva de Deus, marcada por
experiências de encontro: na oração, no afeto, na partilha, na alegria, na amizade,
no serviço, na justiça. O grande projeto de Deus é a humanidade, é a felicidade de
cada um e de todos.

Éa fé em Deus que sustenta a vida de muitas pessoas e que as motiva a confiar,


a ter esperança e a testemunhar um projeto de salvação e não de perdição. Abraão
e S. Paulo são dois destes testemunhos que merecem ser conhecidos.

O projet•,„Jr l e Ahraão
Abraão viveu n o século XIX a.C. n o Próximo Oriente Antigo. Nesse
contexto histórico e geográfico eram comuns as migrações de povos em
busca de melhores condições de sobrevivência. A vida destes povos, que
dependia da sua harmonia com a natureza, era constantemente ameaçada
por forças imprevisíveis. Incapazes de exercer qualquer influência sobre
essas forças, o s povos prestavam-lhes culto, procurando aplacar o s
fenómenos naturais divinizando-os (politeísmo). Cada grupo tribal adorava
os seus deuses exprimindo, na devoção que lhes prestava, o seu medo e as
suas aspirações de vida. Abraão era um homem perfeitamente integrado
neste ambiente: prestava culto aos deuses que herdara do seu pai, Taré.

Porém, na sua inquietude humana e religiosa, experimentou a presença


Abraão e Isaac,
de um Deus único e invisível, que não se confundia com nenhuma força natural autor anónimo

(monoteísmo). Tratava-se de uma presença benevolente, viva e afiva. Pouco a


pouco, foi descobrindo o "rosto" de Alguém inteiramente diferente de todas
as divindades antigas. Já não era a divindade que dependia dos desejos e das
necessidades das pessoas; era Deus quem se tornava surpreendentemente
presente, agindo como quem ama, d o qual a existência humana dependia.
Abroao liber-±ou-se da r'eligib dos s'eus on-hepossados cd3rgou uma nova vida
'espirii-uai fundada na r e l g b corri o Deus único p'essoal Descobriu, assim, a
sua vocação, o seu projeto de vida.
A vocação de Abraão
'O Senhor disse a Abrão:
«Deixa a tua terra, a tua família e a casa do teu pai, e vai para a terra que Eu

te indicar'Faeride fi um grande povo, abençoar-te-ei, engrandecerei o teu nome e


serás uma fonte de bênçãos.
'Abençoarei aqueles que te abençoarem, e amaldiçoarei aqueles que te
amaldiçoarem. E todas as famílias da terra serão em ti abençoadas.»
4Abrão partiu, como o Senhor lhe dissera, levando consigo Lot. Quando saiu
de Haran, Abrão tinha setenta e cinco anos.
'Tomou Sarai, sua mulher, e Lot, filho do seu irmão, assim como todos os
bens que possuíam e partiram todos para a terra de Canaã, e chegaram à terra
de C a n a l 'Abrão percorreu-a até ao lugar de Siquém, até aos carvalhos de
Moré. Os cananeus viviam, então, naqueía terr'a. 70 Senhor apareceu a Abrão e
disse-lhe: «Darei esta terra à tua descendência.» E Abrão construiu ali um altar
ao Senhor, que lhe tid,j-ia aparecido.
Gn 12,1-7

Abraão confiou nesta "voz misteriosa" que lhe preencheu o coração e abriu
possibilidades imprevisíveis. Outrora vivia sob o medo da ação de forças estranhas,
às quais prestava culto para estabelecer uma relativa harmonia com a natureza e
preservar a sua família de todos os seus malefícios. Agora tornara-se o confidente
de Deus, sinal de bênção para todos os povos e pai de um novo povo de crentes.
EDeus cumpriu efetivamente a sua promessa. Contra toda a expetativa, por
causa da idade avançada, Abraão e Sara tiveram um filho a quem deram o nome
de Isaac, o qual haveria de ser o pai de Jacob, que, por sua vez, seria o pai dos
"fundadores" das doze tribos de Israel.

11

ii
lescendê
de AL•ra • Isaac

Tacob

L1
5,•Jà
r-4 • c§"
, P, • • • • • • • •
Abraão é apresentado como o crente ideal: sabe escutar Deus e acolher os seus
projetos com obediência incondicional e confiança total. Mesmo que as propostas
de Deus pareçam incompreensíveis ou que os seus desafios interfiram com os
projetos humanos, o crente acolhe os planos de Deus e realiza-os com fidelidade.

O comportamento de Abraão revela, antes de mais, o lugar absolutamente


central que Deus ocupou na sua existência. Deus é, para Abraão, o valor máximo,
a opção fundamental; por isso, mostra-se disposto a oferecer a Deus o dom
total e irrevogável de si próprio, da sua família, do seu futuro, dos seus sonhos,
das suas aspirações, dos seus projetos, dos seus interesses. Para Abraão, nada
mais conta quando estão em jogo os planos de Deus; nem o apego à sua terra
de origem, nem o dinheiro, nem o poder, nem o reconhecimento social, nem
o sucesso. N10. Sua r,elgão com Deus, Abraão micuilfesta r,espeito, humildade,
disponibilidade, obedÊncia, confiança, amor ,e f — ahl-vdes quf o definem como
crente ideai f modelo para os cr'en-hes de todas as ,epocas.

Itinerário de Abraão

Abraão desafia cada crente a confiar em Deus, mesmo quando os caminhos


de Deus se revelam estranhos e incompreensíveis. Quando os nossos projetos se
desmoronam, quando as nuvens negras da violência e da opressão se acastelam
no horizonte da nossa existência, quando o sofrimento nos leva ao desespero, é
preciso continuar a caminhar serenamente, confiando nesse Deus que é a nossa
esperança e que tem um projeto de vida plena para nós e para o mundo.

A ideia de que a obediência de Abraão a Deus é fonte de vida para ele,


para a sua família e para todos os povos do mundo deve ser uma espécie de
garantia que atesta a validade deste caminho. Fazer de Deus o centro da própria
existência e renunciar aos critérios egoístas e interesses mesquinhos para
cumprir os planos de Deus, não é uma escravidão, mas um caminho de acesso
à vida plena e verdadeira.
?L l a- n n a l
Há algumas pessoas que nascem com «bicho-carpinteiro» ou leveza de borboleta que
nunca «aquecem» o lugar, outras vivem presas a teias do passado endurecidas como
as pedras de um cais sem coragem para zarpar. Entre umas e outras estão aquelas que
ousam responder ao apelo do futuro e, como Abraão, confiar numa voz que chama mais
além. Ponho-me a imaginar: a quantos fez Deus o mesmo apelo que Abraão escutou?
Como amadureceu nele esta capacidade de ouvir e a coragem de trocar a certeza pela
promessa, a segurança pelo risco? Como foi capaz de vencer as inúmeras vozes, dentro
e fora de si, que aconselhavam a prudência e a estabilidade da vida que levava? Já tinha
idade para ter juízo! Sim, mas falou mais forte o desejo de, com Sara e a descendência
prometida, passar da solidão à comunhão, do «eu» ao «nós», construir uma casa com
o seu nome, ser bênção como Deus lhe prometia.
A novidade não está em Abraão partir (quantos povos sempre se movimentaram por
razões de sobrevivência, ainda hoje com tantos dramas de fome e de guerra?); está
na confiança naquele que o chama. Mais importante que o longo caminho ou a meta
a alcançar, o que é novo é esta descoberta de Deus que caminha entre os homens. E
imprime no coração e na vida dos que aprenderam a escutá-lo esta disponibilidade
constante para partir. O caminho de Deus com os homens é para realizar, já na história,
a justiça, a paz e o amor que o próprio Deus é. Então, saber com quem se vai é mais
importante do que qualquer mapa!
Padre Vítor Gonçalves, Jornal Voz da Verdade, 17/fev/2008 (excerto)

Pauir-
Paulo, originariamente Saulo, nasceu por volta do ano 8 da era
cristã, em Tarso, na Ásia Menor (atual Turquia), de uma família
judaica da diáspora, que observava rigorosamente a religião dos
seus pais. Simultaneamente, contactou com a vida e a cultura do
império romano. Recebeu a sua primeira educação religiosa em
Tarso tendo por base a lei de Moisés e depois foi para Jerusalém
aprofundar os seus conhecimentos religiosos. Estudou aramaico,
hebraico, grego e latim. Aprendeu ainda uma profissão manual,
o fabrico de tendas, que lhe permitiu sustentar-se sem depender
de ninguém.

Judeu convicto, Saulo estava convencido de que o cristianismo


era uma seita nociva que introduzia ideias novas na religião dos
seus antepassados. Por isso, perseguia os adeptos de Jesus. Ainda
adolescente, assistiu a o apedrejamento d o diácono Estêvão, o
primeiro mártir da Igreja cristã. Por volta do ano 35, com cerca de 30
anos, dirigiu-se a Damasco, cidade da Síria, para prender um grupo
de cristãos. Já próximo de Damasco, Saulo teve uma experiência
religiosa que iria mudar radicalmente o curso da sua vida.
Conversão de Paulo, Gustave Doré (1832-1883)
114
Conversão de Sauto
'Saulo, entretanto, respirando sempre ameaças e mortes contra
os discípulos do Senhor, foi ter com o•Sumo Sacerdote 'e pediu-lhe
cartas para as sinagogas de Damasco, a fim d e que, se encontrasse
homens e mulheres que fossem desta Via, os trouxesse algemados
para Jerusalém. 'Estava a caminho e já próximo de Damasco, quando
se viu subitamente envolvido p o r uma intensa l u z vinda d o Céu.
'Caindo. por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: «Saulo, Saulo, porque
me persegues?,» 'Ele perguntou: «Quem és Tu, Senhor?» Respóndeu:
«Eu sou Jesus, a quem tu persegues. 'Ergue-te, entra na cidade e dir-
-te-ão o que tens a fazer.» 'Os seus companheiros de viagem tinham-se
detido, emudecidos, ouvindo a voz, mas sem verem ninguém. 8Saulo
ergueu-se do chão, nas, embora tivesse os olhos abertos, não via nada.
Foi necessário levá-lo pela mão e, assim, entrou em Damasco, 'onde
passou três dias sem ver, sem comer nem beber. "Havia em Damasco
um discípulo chamado Ananias. O Senhor disse-lhe n u m a visão:
«Ananiasl» Respondeu: «Aqui estou, Senhor.» 110 Senhor prosseguiu:
«Levanta-te, vai à casa de Judas, na rua Direita, e pergunta por um
homem chamado Saulo de Tarso, que está a orar neste momento.»
'Saulo, entretanto, viu numa visão um homem, de nome Anafilas,
entrar e impOr-lhe as mãos para recobrar a vista. "Ananias respondeu:
«Senhor, tenho ouvido muita gente faiar desse homem e a contar'todo
o mal que ele tem feito aos teus santos, em Jerusalém. "E agora está
aqui com plenos poderes dos sumos sacerdotes, para prender todds
qántos invocam o teu norne.» "Mas o Senhor disse-lhe: «Vai, pois
esse homem é instrumento da minha escolha, para levar o meu nome
perante os pagãos„os reis e os filhos de Israel. "Eu mesmo lhe hei de
mostrar quanto ele tem de sofrer pelo meu, nome.» '7Então, Ananias
partiu, entrou na dita casa, impôs as mãos sobre ele e disse: «Saulo,
meu irmão, foi o Senhor que me enviou, esse Jesus que te apareceu
no caminho em que vinhas, para • recobrares a vista e ficares cheio do
Espírito Santo.» 'Nesse instante, caíram-lhe dos olhos uma espécie de
escamas e recuperou a vista. Depois, levantou-se e recebeu o batismo.
"Depois de se ter alimentado, voltaram-lhe as forças e passou alguns
dias com os discípulos, em Damasco. "Começou, então, imediatamente,
a proclamar nas sinagogas que Jesus era o Filho de Deus.
Após o encontro transformador n o
9. Que aspetos caminho d e Damasco, d e perseguidor
diferentes e comuns dos cristãos, Paulo passou a s e r u m
identificas no projeto
apaixonado missionário d o Evangelho.
de vida de Abraão e
Paulo? Dedicou o resto d a sua vida a Cristo,
numa contínua identificação com ele ao
10. Partir é um verbo
sugestivo para definir ponto de poder dizer: «para mim viver é
um projeto de vida. Cristo» (El 1,21) e «já não sou eu que vivo,
Que destino esboças
é Cristo que vive em mim» (GI 2,20).
para o partir da tua
vida? Nas suas viagens missionárias, s o b
constantes perigos, difundiu a mensagem
cristã pelo império romano, permitindo,
assim, que o Cristianismo ultrapassasse a
fronteira do povo judeu e abraçasse todos
os povos que então eram conhecidos.

Preso p o r causa d a sua paixão n o


anúncio do Evangelho, Paulo acabou por
ser decapitado, de acordo com a tradição,
no ano 67, perto de Roma.

São Paulo, Marco Pino (1521-1583)

SÍRIA s - s .
DarOz.L;co

-4- - Primeira Viagem


- Segunda Viagem
- - - - -Terceira Viagem
- - - - - Viagem a Roma

A
N Escala: 1:30.000.000

As viagens missionárias do apóstolo Paulo


Pará bofa dos tafentos
" O Reino do Céu será também como um homem que, ao partir
para fora, chamou os servos e confiou-lhes os seus bens. " A um
deu cinco talentos, a outro dois e a outro um, a cada qual conforme
a sua capacidade; e depois partiu. "Aquele que recebeu cinco
talentos negociou com eles e ganhou outros cinco. ' D a mesma
forma, aquele que recebeu dois ganhou outros dois. "Mas aquele
que apenas recebeu um foi fazer um buraco na terra e escondeu
4 o dinheiro do seu senhor. 'Passado muito tempo, voltou o senhor
daqueles servos e pediu-lhes contas. "Aquele que tinha recebido
cinco talentos aproximou-se e entregou-lhe outros cinco, dizendo:
'Senhor, confiaste-me cinco talentos; aqui estão outros cinco que
eu ganhei.' "O senhor disse-lhe: 'Muito bem, servo bom e fiel, foste
fiel em coisas de pouca monta, muito te confiarei. Entra no gozo do
teu senhor.' "Veio, em seguida, o que tinha recebido dois talentos:
'Senhor, dise ele, confiaste-me dois talentos; aqui estão outros dois
que eu ganhei.' "O senhor disse-lhe: 'Milito bem, servo bom e fiel,
foste fiel em coisas de pouca monta, muito te confiarei. Entra no
gozo do teu senhor.' "Veio, finalmente, o que tinha recebido um só
talento: 'Senhor, disse ele, sempre te conheci como homem duro,
que ceifas onde não semeaste e recolhes onde não espalhaste. 'Por
isso, com medo, fui esconder o teu talento na terra. Aqui está o que
te pertence.' "O senhor respondeu-lhe: 'Servo mau e preguiçoso!
Sabias que eu ceifo onde não semeei e recolho _onde não espalhei.
"Pois bem, devias ter levado p meu dinheiro aos banqueiros e, no
meu regresso, teria levantado o meu dinheiro com juros.' "'Tirai-lhe,
pois, o talento, e dai-o ao que tem dez talentos. "Porque ao que tem
será dado e terá em abundância; mas, ao que não tem; até o que tem
lhe será tirado.
11. Como valorizas
Mt 25'44-29 o s teus talentos?

Talento é um peso ou uma moeda. Como moeda, equivalia a 6.000 denários.


Um denário era o valor pago por um dia de trabalho.
S,erei capaz de vencer o medo se as dificuldades?
Es'e n o for capaz, o que me aconfec,e?
Oqu,e fazer da minha vida?
A grande riqueza da vida não está no valor dos bens materiais que se possuem
ou desejam. Um projeto de vida não se adquire com dinheiro. O seu valor vem
dos dons e capacidades que Deus dá a cada um para que rendam o mais possível.
A vida é o primeiro dom precioso a merecer da parte da pessoa o maior esforço
para a tornar bela e valiosa. As capacidades e aptidões, os talentos, não são para
esconder, para guardar no íntimo do egoísmo; tão pouco são para enterrar com
o medo de falhar.

Énecessário arriscar e depositar todo o esforço e trabalho para que um talento


seja partilhado e valorizado pelos outros. A quantidade de talentos não é aqui
importante, mas sim a atitude perante o que somos em vista ao que nos valoriza.

Ninguém é um excelente aluno se não se esforçar com muitas horas de estudo,


através do qual as capacidades intelectuais são desenvolvidas e se "multiplicam"
em resultados de sucesso. Ninguém é o melhor nadador, músico, médico... se não
partir com vontade e determinação para uma batalha contra o medo, a preguiça,
o egoísmo, a apatia, para alcançar a vitória da realização pessoal. Um atleta sabe
muito bem o significado do sacrifício para fazer render os talentos.

A-rnie-K apenas aguarda a chegada.0 percurso 'é• urn desafio cons-Fan-f-e a n.o
parar 'e, quando s'e cat néc'essário r'ecomeçar.

-•
a E 1111 O ! 1111 IE Cl 11111
- p i c a r indiferente?--
Ove deas
teus takn+os?
- ,
Ell-F'erTa-bS com medo de
--1,e•conheclos
-s,eres obs,ervadovalorizá-los
e cosfigado"?

parfihae s,ervço--OD

,•••

que no encontro com Deus, muitos construímos um projeto de


vida com sentido.
Aexperiência de encontro com Deus dá um significado definitivo à vida e
consistência à esperança. A fé não depende apenas da nossa vontade, mas é um
dom de Deus que se faz presente na vida de cada pessoa. No entanto, depende
da nossa vontade acolhê-la no espaço mais profundo da nossa consciência onde
Deus caminha connosco.

Aexperiência de fé cristã manifesta-se na relação pessoal e comunitária


com Jesus Cristo, acolhendo-o e aceitando a sua presença na própria vida, O
contacto com Deus torna o crente capaz de se distanciar do desejo egoísta,
pondo a sua vida ao serviço dos outros. Amar à maneira de Jesus é fazer uma
opção preferencial pelo outro, não enriquecendo o próprio desejo egoísta e
diminuindo os sonhos narcisistas. É a transformação do desejo egocêntrico em
doação gratuita.

A experiência d e f é d o s
crentes das diferentes tradições
religiosas não fecha, nem pode
fechar, o s e r humano e m s i
mesmo. Abre-o a o m u n d o e
aos o u t r o s n u m a constante
vontade d e rentabilizar o s
seus talentos, n a construção
de uma sociedade mais justa
e humana, onde todos tenham
direito a u m l u g a r e vejam
reconhecida a sua dignidade.
Ter fé é abraçar o amor que
Deus é e transformá-lo em
doação constante aos outros
que c o n n o s c o p a r t i l h a m a
vida. Neste sentido, os crentes
encontram na fé a fonte de
felicidade.
Jicidade humana nasce:
o
E
ro
3
••••••5

do amor a Deus e ao próximo


O crente judeu escuta o Senhor, de quem recebe, através de Moisés, os
Mandamentos como uma dádiva para que, cumprindo-os, viva feliz e não caia
em qualquer tipo de escravidão. A liberdade vive-se no amor a Deus e prolonga-
-se no amor ao próximo.

mor a Deus e ao próximo


espe '31 o inimigo
Jesus Cristo é o rosto do Amor e de uma Boa Nova porque não exclui ninguém
do seu amor. Amar a Deus e o próximo inclui os inimigos, que são motivo de
perdão e de acolhimento. Esta é uma proposta exigente, mas o caminho certo,
a verdade sem medos e a vida plena de felicidade porque assente num projeto
de salvação.

pít, d UdjULÇd,
Verdele e das boas obras
O crente encontra a sua felicidade na submissão à vontade de Alá e na prática
dos cinco princípios fundamentais: a profissão de fé, a oração cinco vezes ao dia,
a esmola, o jejum e a peregrinação.
da realização do dharma
Dharma é a consciência d e pertencer a u m universo organizado e ,
consequentemente, a obrigação de aceitar o seu lugar na vida pelo cumprimento
dos deveres religiosos, morais e sociais. Para os hindus, uma correta prática do
dharma tem um efeito favorável sobre o karma, o que permite a cada indivíduo
renascer numa casta e num plano de existência mais elevado, aproximando-se,
deste modo, do objetivo final, o nirvana.

;o•

da superação da dor e do sofrimento


O objetivo do Budismo é ajudar as pessoas a encontrar o caminho para a
iluminação, no qual se atinge o estado de nirvana — total serenidade e libertação
em relação a qualquer forma de desejo, erradicando assim as causas de todo o
;==~
sofrimento.

da preservação da ordem cósmica


e do fator humano
As pessoas receberam do Céu o dom da vida e todas as propriedades
inatas à natureza humana, sobretudo a faculdade do discernimento moral. A
perceção do que é justo e do que é errado é comum a todos os seres humanos e
distingue-os dos animais. Há, portanto, uma igualdade fundamental entre todas
as pessoas, independentemente das ciasses sociais. Todos os seres humanos
têm a capacidade de atingir a perfeição.
A esperauttçãl, a 2a1egiril e a confiainçi são próprias de quem tem fé.
Na fé encontra-se a paz necessária para o discernimento, para vencer o medo das
opções e arriscar num futuro desejado. A aventura é própria de quem é jovem,
mas ninguém pode aventurar-se na escuridão sem saber para onde caminha.
Definir um projeto de vida implica, por isso, ver com clareza quem somos e para
onde queremos caminhar. É necessária a coragem para optar e a confiança para
avançar. Tal como Abraão e Paulo, é essencial escutar o chamamento interior
e responder à vontade de Deus, que poderá ser diferente da nossa. Escutar os
apelos de S. Paulo poderá ser um bom princípio para seguir em frente com o
projeto de vida. Ousa confiar!

Oamorfaz o bem
'Que o vosso amor seja sincero. Detestai o mal e apegai-vos ao bem. '°Sede
afetuosos uns para com o s outros n o amor fraterno; adiantai-vos uns aos
outros na estima mútua. "Não sejais preguiçosos na vossa dedicação; deixai-
-vos inflamar pelo Espírito; entregai-vos ao serviço do Senhor. 'Sede alegres
na esperança, pacientes na tribulação, perseverantes na oração. "Partilhai com
os santos que passam necessidade; aproveitai todas as ocasiões para serdes
hospitaleiros. "Bendizei os que vos perseguem; bendizei, não amaldiçoeis.
"Alegrai-vos com os que se alegram, chorai com os que choram. "Preocupai-vos
em andar de acordo uns com os outros;, não vos preocupeis com as grandezas,
mas entregai-vos ao que é humilde; não vos julgueis sábios por vós próprios.
"Não pagueis a ninguém o mal com o mal; interessai-vos pelo que é bom diante
de todos os homens. "Tanto quanto for possível e de vós dependa, vivei em paz
com todos os homens

Rm 12,9-18

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que a fé é um elemento importante da experiência de felicidade.


Da a! n i n g u é m é excluído
Convido todo o cristão, em qualquer lugar e situação que se encontre, a renovar
hoje mesmo o seu encontro pessoal com Jesus Cristo ou, pelo menos, a tomar a
decisão de se deixar encontrar por Ele, de o procurar dia a dia sem cessar. Não
há motivo para alguém poder pensar que este convite não lhe diz respeito, já que
«da alegria trazida pelo Senhor ninguém é excluído». Quem arrisca, o Senhor não
o desilude; e, quando alguém dá um pequeno passo em direção a Jesus, descobre
que Ele já aguardava de braços abertos a sua chegada.
Como nos faz bem voltar para Ele, quando nos perdemos! Insisto uma vez mais: Deus
nunca se cansa de perdoar, somos nós que nos cansamos de pedir a sua misericórdia.
Aquele que nos convidou a perdoar «setenta vezes sete» ( M t 18,22) dá-nos o
exemplo: Ele perdoa setenta vezes sete. Volta uma vez e outra a carregar-nos aos seus
ombros. Ninguém nos pode tirar a dignidade que este amor infinito e inabalável nos
confere. Ele permite-nos levantar a cabeça e recomeçar, com uma ternura que nunca
nos defrauda e sempre nos pode restituir a alegria. Não fujamos da ressurreição de
Jesus; nunca nos demos por mortos, suceda o que suceder. Que nada possa mais do
que a sua vida que nos impele para diante!
Papa Francisco, Evangelli Gaudium, 3
Conheço Barcos
--Conheço barcos que ficam no porto
Com medo de que as c&rentes os arrastem violentamente
Conheço barkos que enferrujam no porto
Pata não arriscarem o futuro ausente.
-Conheço barcos que se esquecem de zarpar.
Por estarem a envelhecer, temerem o tempo
Ea solidão das vagas e o fragor do vento...
A sua viagem terminou antes de começar.
Conheço barcos tão amarrados
Que ignoram ser possível sonhar.
Conheço barcoi—e ficam parados
,Por terem receio de se desencontrar.
Conheço barcos que-V.-elejam aos pares,
Afrontando ° temporal quando o furacão os fustiga.
Conheço barcos que arranham as vigas
Nas rotas abertas no corpo dos mares.
Conheço barcos que regressam ao porto,
Com rombos no casco, mas dignos e fortes.
Conheço barcos que são solidários
Porquê-partilharam os ventos do Norte.
Conheço barcos que transbordam de amor
Quando navegaram até ao último dia.
Jamais4eeolheram as velas de_condor
Porque no e u coração habita a-ous_glia.
Autor desconhecido
Adapdodeernrcdigitaèorn

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1 Esperança

Risco

Vocação
1 Responsabilidade

Respeito

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Syr&• E 7 , 5 0 (IVA incluíd


ISBN 978-972-8690-87-E,
SECRETARIADO NACIONAL DA EDUCAÇÃO CRISTÃ
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