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Manual do Aluno
Educação Moral e Religiosa Católica
8.2 ano do Ensino Básico

Coordenação Geral
Cristina Sá Carvalho

Coordenação de Ciclo
Fernando Moita

Equipa de Autores
António Cordeiro
Fernando Moita
José Luís Dias
Margarida Portugal

Revisão Ortográfica
Gráfica Almondina

Design gráfico e Capa


Catarina Roque

Imagens
Dreamstime
Wikipédia

Tiragem: 2.2 edição - 30 000


ISBN: 978-972-8690-89-2
Depósito Legal: 398870/15

Edição e Propriedade
Fundação Secretariado Nacional da Educação Cristã - Lisboa, 2015

Impressão
Gráfica Almondina - Torres Novas

Aprovação
Conferência Episcopal Portuguesa

©Todos os direitos reservados para a FSNEC


Queridos Alunas e Alunos
Estimadas Famílias
Caros Docentes

É com grande alegria que vos entregamos os manuais de Educação Moral e Religiosa Católica, que foram preparados
para lecionar o novo Programa da disciplina, na sua edição de 2014. O que aqui encontrareis procura ajudar, cada um dos
alunos e das alunas que frequentam a disciplina, a «posicionar-se, pessoalmente, frente ao fenómeno religioso e agir com
responsabilidade e coerência», tal como a Conferência Episcopal Portuguesa definiu como grande finalidade da disciplina*.
Para tal, realizou-se um extenso trabalho que pretende, de forma pedagogicamente adequada e cientificamente significativa,
contribuir com seriedade para a educação integral das crianças e dos jovens do nosso País.

Esta tarefa, realizada sob a superior orientação da Conferência Episcopal Portuguesa, a responsabilidade da Comissão
Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé e a dedicação permanente do Secretariado Nacional da Educação Cristã,
envolveu uma extensa e motivada equipa de trabalho. Queremos, pois, agradecer aos autores dos textos e aos artistas que
elaboraram a montagem dos mesmos, pelo seu entusiasmo permanente e pela qualidade do resultado final. Também referimos,
com apreço e gratidão, os docentes que experimentaram e comentaram os manuais, ainda durante a sua execução, e o contributo
insubstituível dos Secretariados Diocesanos responsáveis pela disciplina na Igreja local. E a todos os docentes de Educação
Moral e Religiosa Católica, não só entregamos estes indispensáveis instrumentos pedagógicos como aproveitamos esta feliz
ocasião para sublinhar a relevância do seu fundamental papel, nas escolas e na formação das suas alunas e dos seus alunos, e
testemunhamos o nosso reconhecimento pelo seu extenso compromisso pastoral na sociedade portuguesa.

Do mesmo modo, estamos agradecidos às Famílias, porque desejam o melhor para os seus filhos e filhas e, nesse contexto,
escolhem a disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica como um importante contributo para a formação e o
desenvolvimento pleno e feliz dos seus jovens. Os jovens conformam o nosso futuro comum e o empenho sério na sua
educação é sempre uma garantia de uma sociedade mais bondosa, mais bela e mais justa.

Finalmente, queridas crianças e queridos jovens, a Igreja quer ir ao vosso encontro, estar convosco, ajudar-vos a viver bem
e, nesse sentido, colaborar com o esforço de construção de um mundo melhor a que sois chamados, enraizados e firmes
(cf. Col 2, 7) na proposta de vida que Jesus Cristo tem para cada um de vós. É esse o horizonte de vida, de missão e de futuro,
a construir convosco, que nos propomos realizar com a disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica.

Em nome da Conferência Episcopal Portuguesa e no nosso próprio, saudamos todas as alunas e todos os alunos de Educação
Moral e Religiosa Católica de Portugal com alegria e esperança,

Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé

Lisboa, 19 de março de 2015,


Solenidade de S. José, Esposo da Virgem Maria e Padroeiro da Igreja Universal

*Conferência Episcopal Portuguesa, (2006), Educação Moral e Religiosa Católica —Um valioso contributo para afirmação da personalidade, n. 6.
p•
Bem v a o ( a . ) o..o5",•2 okKof

Nesta Kovo,
o, sci.pU4.oL ae E4uco,5a1.o Morai e Rellgloso, ColaLco,
• ojuao,r-ke o, ckescobrix o, ri,9uez..rx e belezo, ao, vido,,

P,12),Io e aelxes o,mo,rro,r o, precokAcellos, VV104 o,rri•sco,,„,


por ttrAo, vlao, llvre
e aLspoKfvel po,ro, culao,r aos otúros e ao, Ko,Eurezo,.
Acelko, os aeso,flos ao, vLao,
e o,creaLko, (Ao, forso, ao &mor,
3t4eircksesEaralvLaido
e sero,s co,po,z d.e coKsErulr
pooles ae frolerktlackae,
'Desejo, o, li.berao,ae e aecide pelo melhor,
?rocuro, o seKkLao ao bem, viver
e sovkko, coKsErutr
ttINI p r q j e k 0 19C/kr& t4)14 M U , K a O K o v o .

vo,I, com cerkezok,


ser umo, preseo,54, e um bom o,polo.
Acreaffix 9ue \foles nittilo
Vem
co,mho, com os beus colego,s
koko,o,vetfakuro, ae aescobrix cks Kovo,s rob,s
9ue o..CUSCLFLUACk ae E,AttiR.C,
prorSe roxo, o & K C ) .

Abro,5o o,m1go
Os o,ukores
Unidade letiva 1 - O A m o r
Amor e fecundidade humana 9
Paternidade e maternidade responsáveis 2 0
Mensagem bíblica sobre o amor e a fecundidade 25
A alegria do amor 2 8

Unidade letiva 2 Cristianismo em caminho


Cristianismo: uma fé ao serviço dos povos 3 3
Cristianismo: uma fé, vários caminhos 3 5
A identidade das igrejas cristãs 44
A Bíblia, fonte de comunhão 46
O Ecumenismo 56
Desafios para uma vivência ecuménica 60

Unidade letiva 3 - A liberdade


A liberdade: desejo humano 65
Liberdade e opção pelo bem 71
Jogo (s) de influências 75
Condicionamentos à liberdade 80
Páscoa: itenerá rio de libertação 87
Amor de Deus e liberdade humana 92
Dignidade humana e livre escolha 99

Unidade letiva 4 - Ecologia e Valores


O mundo é a nossa casa 105
Ação humana sobre a natureza 110
A natureza na sabedoria religiosa 123
Cuidar da terra, cuidar dos outros 131
•44±,„,_

O Amor
Unidade letiva 1
Amor e fecundidade humana
Paternidade e maternidade responsáveis
Mensagem bíblica sobre o amor e a fecundidade
A alegria do amor
8

olá.
Fomos cokividados para 1-e apreserar esl-a oilidade
leiva sobre o amor e é com 3rar)de prazer 9ue o
Cozemos.

&mosumcasalapaixonado.Anossavidaérnavcaolapeloamor:amoràvida,aos
aos pobres._ a Deus.
A Mewia Y)asceu erii Florehca, a o de 1221-1. Po, proressora, escril-ora
e apaixoklada pelas 3rarKles causas Preocupou-se sempre com os mais
r)ecessil-ados e r)a se3uhela 3uerra mu i a ! I-rabali,ou como edermeira
volor)i-ária da Cruz Vermellia

O Luis liasceu em Caí-ar)ia, i o ano de InO. Foi um advo3ado


e 1-raballiou para o 3overrio ;aliaria. Apesar das suas
muias ocupaçães, ekicoyll-rava sempre [-empo para se dedicar a
várias associay3es de ajuda ilumaiiil-ária.
Cor)l-lecemo-nos em Roma em J70, e 9ual-ro anos depois, na basílica
de 3a111-a Maria Maio compromel-emo-r)os a Cazer do amor o nosso
ideal de vida .1-ivemos 9ual-ro CAos 9ue educámos com 1-0c10 o arei.° e a
9oem I-ransmil-imos a beleza da 3ekierosiciade e da caridade para com I-odos:
Cesare e Er)ricile1-1-a. A 3e3[-ação desta nossa úlima Ciia Coi
muio cliCícil por causa de uni 3rave problema de saúde. Os médicos acor)selliavam
o al)or1-0 porgue o risco de morrerem mãe e i i a era elevado, mas 1-omámos a
M N .

decisão de levar a 3ravidez al-é ao rim e ela nasceu Core e bela. Durar)[-e a
se3ulida 3uerra morglal acolliemos reCujiados na nossa casa; os nossos i l os
pa4icipavam nesacliklamica e cJelição aos mais liecessil-ados e, após a 3ueYra,
ajudaram também na recorisl-rução de casas rios bairros pobres de Roma. Apesar
das coyll-rariedades C00103 sempre unia raniília fnuÁ-0 Cel;z onde r)erdium problema
era resolvido sem diál03o e 9ue se pedisse a ajuda de Deus.

Luís faleceu em 1951, com 71 anos e Maria em 1965, com 81 anos.


Em 2001, o papa João Paulo II beatificou o casal Quattrocchi exaltando a
radicalidade com que Luís e Maria viveram o amor a Deus, o amor recíproco, o
amor aos filhos e amor aos outros.
Na cerimónia da beatificação estiveram presentes osfilhos deste casal que soube
viver com grande intensidade humana o amor conjugal e o serviço à vida.
Luís e Maria Quattrocchi — modelo de vida cristã para todos—foram o primeiro
casal a ser beatificado pela Igreja.
,
Amor e
fecundidade
humana
OWOP- FOR-CA MS POIDEOSN.D
' OSER--NMÊMO.
Éaquilo que caracteriza a pessoa e a distingue de todos os outros seres vivos.
Mesmo a atividade racional está sujeita à energia do amor: é o querer saber,
é o gostar de ir mais além, é o prazer da descoberta. Ogrego antigo
tem três palavras
Éa arte do amor que transporta o coração e a mente humana para a aventura distintas para dizer
da vida, do bem e do belo. Se por um lado continuamos prisioneiros de vontades amor:
eros (amor erótico),
egoístas, por outro lado somos a presença do dom do amor nos gestos heroicos
philla (amor
e libertadores a favor de pessoas e de causas. fraternal) e
ágape (amor
A dedicação, entrega de si próprio ao outro, é o ato mais nobre que motiva
incondicional,
cada homem e cada mulher a sentir-se parte integrante da humanidade. Sem oblafivo).
amor, a humanidade morreria!

Oamor é a mais universal, mais formidável e mais misteriosa das


energias cósmicas. É uma reserva sagrada de energia, o próprio sangue da
evolução espiritual. O amor é uma conquista aventureira. Só se mantém e
desenvolve mediante uma descoberta contínua.
Teilhard de Chardin (1881-1955)

Não é fácil definir o amor. Mas também não é difícil exprimir o que é amar:
amar é entrar em sintonia; é estimar muito. Amar é, sobretudo, querer o bem
do outro e agir de acordo com esta vontade; no limite, amar é ser capaz de se
sacrificar pela felicidade da pessoa amada.

Muito mais do que simples sentimento, o amoré uma decisão: é uma deliberação
pessoal que envolve não só as emoções, mas também a razão e a vontade. Love, Robert Clark
(Artista plástico contemporâneo)
10
Doc_l J i t
Afetiv! '
A afetividade é uma riqueza extraordinária que nos permite emocionarmo-nos
com um espetáculo grandioso ou com o sofrimento de alguém, que nos faz
vibrar de prazer perante uma obra de arte ou com a alegria de um amigo. Mas
entregue às suas próprias iniciativas, a afetividade, só por si, pode reduzir o ser
humano a um estado selvagem.
Quantas vezes, movidos unicamente pela afetividade, achamos que uma pessoa
tem razão só porque gostamos dela e que uma outra não tem razão porque
não a suportamos!? Quantas vezes, movidos unicamente pela afetividade,
estudamos bem com o professor X apenas porque ele é simpático!? Quantas
vezes, movidos unicamente pela afetividade, ficamos furiosos só porque uma
censura justa nos feriu ou porque achamos que ninguém repara nos nossos
esforços!? Quantas vezes, movidos unicamente pela afetividade, criamos
situações injustas, mal-entendidos absurdos e desfazemos laços de amizade!?
A afetividade é uma dimensão fundamental, mas a pessoa é também
1. Comenta a inteligência e vontade (autodeterminação); e para que a ação humana seja
afirmação: "Muito eticamente boa estas três dimensões devem caminhar juntas. Isoladas,
mais do que simples conduzem a pessoa a um beco sem saída. A afetividade, bem orientada pela
sentimento, o amor é inteligência, torna o ser humano capaz de amar e de ajudar os outros.
uma decisão". Adaptado de Sentido Único

O amor na arte e na cultura


O amor é um elemento tão determinante da vida humana que foi e continua
a ser tema de inúmeras obras de arte e produções culturais. A humanidade
sente necessidade de exprimir esta dimensão através da beleza e da sabedoria
que essas produções transmitem. Tanto na poesia e na literatura em geral, como
na pintura, escultura, arquitetura ou música, o amor é tema recorrente.

Doci

" minha ' •


A minha história é simples
A tua, meu Amor,
Ébem mais simples ainda:
«Era uma vez uma flor.
Nasceu à beira de um Poeta...»
Vês como é simples e linda?
(O resto conto depois;
Mas tão a sós, tão de manso,
Que só escutemos os dois.)
Sebasfião da Gama (1924-1952),
Cabo da Boa Esperança
— —
O Beijo, Auguste Rodin (1840-1917)
11

O Beijo, Gulav Klimt (1862-1918) Os amantes, Pablo Picasso (1881-1973)

t)o
Amor
Então Almitra disse: Fala-nos do Amor. E ele levantou a cabeça, olhou o povo e
disse com voz forte: Quando o amor vos fizer sinal, segui-o; ainda que os seus
caminhos sejam duros e escarpados.
E quando as suas asas vos envolverem, entregai-vos; ainda que a espada
escondida na sua plumagem vos possa ferir.
Equando vos falar, acreditai nele; apesar de a sua voz poder quebrar os vossos
sonhos como o vento norte ao sacudir os jardins.
Pois o amor, coroando-vos, também vos crucificará. O amor só dá de si mesmo
e só recebe de si mesmo. O amor não possui nem quer ser possuído. Porque
o amor basta ao amor. Quando amardes, não digais: Deus está n o meu
coração, mas antes: Eu estou no coração de Deus.
Excertos de «Sobre o Amor)),
Khaiii Gibran (1883-1931), O Profeta

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,\0\)0 f \ L \ W O \ -
%\\IÓS S\I-W\OSOSbO\S
0,\) o RUNNi 1D90\0
12

Taj Manai é um monumento construído no


século XVII em Agra, na índia. Neste mausoléu, a
alvura de cada pedra, grande ou minúscula, faz
parte de um todo arquitetonicamente perfeito,
donde lhe vem uma imponente força artística
que a todos encanta e interroga. A beleza
exterior deste monumento, considerado u m
"poema de amor em pedra", é reflexo de uma
beleza interior e misteriosa, mas real: a relação
amorosa entre Shah Jahan e Mumtaz Mahal.

Vénus (na mitologia romana) o u


Afrodite (no panteão grego) é a deusa
do amor, d o erotismo e da beleza.
Diz-se que surgiu de dentro de uma
concha d e m a d r e p é r o l a , t e n d o
sido gerada pela espuma d a água.
Foi das divindades mais veneradas
na antiguidade e a i n d a h o j e é
representada como ideal d a beleza
feminina.
O Nascimento de Vénus, Sandro Botticeili (1445-1510)

Também a sabedoria popular expressa, através de provérbios, as lições sobre


o amor que a experiência lhe foi ditando:

NMORNONOIN\ ONDEMA-NDA-
ENEMMNS í k S NUSENCASCARIS OPVORNhO
NE1A0SE K A R R I W ONMOR.) HÉÍOU-RO
MNNTEM• P S 1.0»NS, SENHOR.
FNLEM-NO
MORRER.
4A4OROLH4bE oNMOR UM
41-NEIR.4GwE \)NSig\N-\0
OCi0!3,RELHE NOKJE\TN
PA-RECE/ ,N\01-P't•
NIRO.

Amor platónico é uma expressão que designa um amor ideal, às vezes imaginário.
Em sentido popular pode significar um amor impossível de se realizar por ser
tão perfeito, puro e ideal. Refere-se ao pensador grego Platão (século V a.C.)
mas nada tem a ver com a sua filosofia. Para Platão o amor não se resume ao
plano das ideias; faz parte da realidade material.
13

A inteligência sem amor torna-te perverso


A justiça sem amor faz-te implacável
v 4_
. %
A diplomacia sem amor torna-te hipócrita
O êxito sem amor faz-te arrogante
A riqueza sem amor torna-te avarento 2. Faz uma pesquisa
A docilidade sem amor faz-te servil e recolhe diferentes
A beleza sem amor faz-te ridículo testemunhos, textos
A autoridade sem amor torna-te tirano ou frases sobre o
O trabalho sem amor faz-te escravo amor. Regista o que
A simplicidade sem amor deprecia-te mais te tocou.
A lei sem amor torna-te escravo
A política sem amor faz-te prepotente
A fé sem amor torna-te fanático
A vida sem amor... não tem sentido
Autor desconhecido

Amizade, namoro e solidariedade


A adolescência é a época das grandes amizades, da construção de relações
duradouras que muitas vezes persistem p o r toda a vida. É u m tempo d e
descoberta de si e do outro. É neste ambiente que surgem as primeiras paixões.
Quando sentimos que alguém pode ser a resposta aos nossos sonhos e anseios,
essa pessoa torna-se única. Julgamos até que não conseguimos viver sem ela.
Essa pessoa singular ajuda-nos a derrubar as barreiras, a sair da solidão e a
relacionarmo-nos melhor com os demais. Começamos então a ver e a interpretar
o mundo de maneira diferente, a estabelecer laços com diferentes pessoas.
Parece ter começado uma vida nova, em que nada nos é estranho e tudo é
passível de se concretizar. Assim se desperta também para a solidariedade e
para a adesão a grandes causas.

Amizade, namoro e solidariedade são três manifestações do amor em ação.


14

Doc.14
• -"de -- -
Um jovem disse: Fala-nos da Amizade.
Eele respondeu, dizendo:
O vosso amigo é a resposta às vossas necessidades.
Ele é vosso campo, que cultivais com amor e colheis com gratidão.
Eé a vossa mesa e a vossa lareira
pois ides até ele com fome e nele procurais a paz.
Quando o vosso amigo expõe a sua opinião,
não temais o "não" que está na vossa mente, nem segureis o "sim".
Equando ele está calado, o vosso coração não deixa de ouvir o coração dele,
pois na amizade, todos os pensamentos, todos os desejos, todas as esperanças
nascem e são partilhadas sem palavras, com alegria.
Quando vos separais de um amigo não fiqueis aflitos,
pois aquilo que mais amais nele ficará mais claro com a sua ausência,
tal como a montanha, para quem a escala, é mais nítida vista da planície.
Excertos de «Sobre a Amizade», Khaiii Gibran (1883-1931), O Profeta

Como r ' e i s
Amar é um pouco como observar uma plantinha que cresce na primavera;
com efeito, o amor tem os seus ritmos, precisa de atenções, de cuidados,
de inteligência para descobrir o que se esconde no coração do outro. E,
precisamente como as plantinhas, também o amor, no princípio, é muitíssimo
delicado. O primeiro passo é compreender: perceber se o caminho pode ser
percorrido juntos e, sobretudo, se a pessoa que vos enche de curiosidade
mostra que sente por vós os mesmos sentimentos. E não pensem que seja
fácil investigar e descobrir se o amor é realmente Amor! Gestos, palavras e
pensamentos que o outro vos dirige habitualmente tornam-se o centro das
vossas preocupações: «Não me telefona, portanto não me ama»; «Já não me
dá presentes, por conseguinte ama-me pouco». Temem que o seu sentimento
seja superficial e não sabem como ficar realmente seguros? Não tenham
pressa, deixem que o tempo passe e as coisas amadureçam.
E. Giordano, T. Lasconi e G. Boscato, Adolescentes: as perguntas inquietantes

Do
do r
Qual será a idade certa? 13? 15? 20? Talvez fiquem desiludidos, mas não há
resposta para esta pergunta! Não existe a idade do primeiro beijo ou, melhor,
não pode estar contida num determinado ano, num mês ou numa data. Está
tudo escrito na idade do coração, aquela que está dentro de vocês. A idade do
primeiro beijo sente-se por dentro: com efeito, chega um dia em que o único
modo de demonstrar o afeto à pessoa de que se gosta é o beijo.
E. Giordano, T. Lasconi e G. Boscato, Adolescentes: as perguntas inquietantes
15

Doc.7
rende
Amar não é apoderar-se do outro para se completar, mas sim dar-se ao
outro para o completar. Estarás pronto a amar autenticamente quando a tua
necessidade e, sobretudo, a tua vontade de dar forem mais fortes que a tua
vontade e a tua necessidade de receber.
São necessários muitos anos de estudo para entrar na faculdade; porquê não
admitir que é necessário muito tempo para se preparar para amar?
As paixões do adolescente não são amor: são a agitação do rapaz que encontra
a feminilidade (e não determinada rapariga), a emoção da jovem que encontra
4••
a virilidade (e não determinado rapaz). Misterioso choque de todo o ser, que 'St
descobre o que lhe falta para se expandir. Aquele que, enganado por essa forte
emoção, constrói um lar, constrói-o sobre areia.
Aprender a amar, não é fazer muitas experiências; é respeitares-te e respeitares
todos os outros, para seres capaz de respeitar profundamente o corpo e a pessoa de
um outro; é conquistares-te para te poderes dar a um outro; é esqueceres-te para
não te apoderares de um outro, mas sim ofereceres-te; é abrires-te aos outros,
aceitares os outros, compreenderes os outros, permutares com os outros, para
poderes acolher um outro.
Michel Quoist (1921-1997), Construir

Doc.8

A solidariedade não é um sentimento de compaixão vaga ou de enternecimento


superficial pelos males sofridos por tantas pessoas próximas ou distantes. Pelo
contrário, é a determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem
comum; ou seja, pelo bem de todos e de cada um, porque todos nós somos
verdadeiramente responsáveis por todos.
Papa João Paulo II (1920-2005), Sollicitudo Rei Socialis, 38

Não se cansem de trabalhar por um mundo mais


justo e mais solidário! Ninguém pode permanecer
insensível à s desigualdades q u e ainda existem
no mundo! Cada u m , n a medida das próprias
possibilidades e responsabilidades, s a i b a d a r
a s u a contribuição p a r a acabar c o m t a n t a s
injustiças sociais! Não é a cultura do egoísmo, do
individualismo, que frequentemente regula a nossa
sociedade, aquela q u e constrói e conduz a u m
mundo mais habitável; não é ela, mas sim a cultura
da solidariedade. A cultura da solidariedade é ver
no outro não um concorrente ou um número, mas
um irmão. E todos nós somos irmãos!
Papa Francisco,
XXVIII Jornada Mundial da Juventude (2013)
16

q Pop,

3 Caracteriza o
amor explicitando
as diferenças entre
amizade, namoro e
solidariedade.

Doação e fecundidade
A fecundidade — fruto do amor —além de ser um bem social por garantir a
sobrevivência da humanidade, promove também a realização pessoal.
A sexualidade — dinamismo biológico, psicológico e espiritual — é uma
componente fundamental da personalidade; é um modo de ser, de sentir
e de comunicar com os outros; é a nossa maneira de sermos homens
ou mulheres. Permite-nos estabelecer laços, dar e receber afetos e
manifesta-se em todas as relações: na camaradagem, na amizade, no
namoro, no matrimónio, no celibato. As relações interpessoais não
são necessariamente sexuais, mas são, inevitavelmente, sexuadas.
Sexualidade e genitalidade não são, pois, sinónimos; a genitalidade
é apenas um dos muitos aspetos da sexualidade: a sua dimensão
física.
A sexualidade é espaço aberto para o amor e nele encontra o seu
sentido; pressupõe a vivência da beleza e da exigência de uma relação
onde cada um é dom para o outro e ambos são dom para a realização
de um projeto aberto à vida. Enquanto força dinâmica, a sexualidade
humana orienta-se para a maturidade e para a construção do eu; abre-
-se à pessoa e ao mundo do tu numa relação interpessoal que culmina
num projeto de vida e alarga-se ao nós dentro de um clima de relações
interpessoais de aceitação e de doação.
17-

Doc.1 Doc.I0
911W
A sexualidade é u m a energia
A sexualidade afeta todos o s que nos motiva a procurar amor,
aspetos d a pessoa humana,
contacto, t e r n u r a , intimidade.
na unidade d o seu corpo e
Manifesta-se no modo como nos
da s u a a l m a . D i z respeito
sentimos, movemos, tocamos e
particularmente à afetividade,
somos tocados; é ser-se sensual
à capacidade d e a m a r e d e e ao mesmo tempo sexual. Ela
procriar e à aptidão d e criar influencia os nossos sentimentos,
laços de comunhão com outrem. ações e interações e contribui
Catecismo da Igreja Católica, 2332 para a nossa saúde física e mental.
Organização Mundial de Saúde

Asexualidade diz respeito à pessoa integral


Pensamos, agimos, sentimos e amamos
como homens ou como mulheres. O amor
vivido na relação sexual entre um homem
e uma mulher é muito mais do que mero
encontro fisiológico; f a z parte d e u m a
história pessoal c o m u m passado, u m
presente e um futuro, em que as opções
tomadas influenciam a s u a realização
e felicidade. S e n d o a l g o d e e n o r m e
responsabilidade, é igualmente fonte de
bem estar e d e complementaridade na
beleza da entrega total.

SeXOALIDADC
Foryk blol6gleck
e rsicol69i0co,

Coaskrusa'o Aberktvro, A 1 o , r 9 o , m e K 1 0
ao co o,o TI) & o NÓS
18

Instrumentalizar o corpo humano e usá-lo como se fosse um


objeto é reduzir a pessoa a coisa e desrespeitar profundamente
a dignidade humana.
A ausência de amor é geralmente a causa de muitos
problemas que se refletem diretamente nas pessoas envolvidas
na relação e, indiretamente, na sociedade. Ao contrário da
fecundidade e da felicidade — consequências de um amor
verdadeiro entre duas pessoas —, a solidão e infelicidade
poderão surgir como consequência da irresponsabilidade e
do egoísmo. A gravidez indesejada, os filhos abandonados,
os conflitos tantas vezes violentos são fenómenos complexos,
mas que manifestam a ausência da autenticidade de um amor
amadurecido pelo diálogo e por uma relação afetiva construtiva.
Para garantir a realização pessoal e a felicidade que todos procuramos é
fundamental integrar a sexualidade no contexto do próprio projeto de vida e
vivê-la com amor.

L : . > 11 ~ I 111111991 ~ 1 ~ n r : 1 1 1 7 1

• O bem-estar da pessoa que se


• Simples prazer físico egocêntrico
ama está em primeiro lugar, sem
sem atender ao bem-estar do outro.
negar o próprio bem-estar.

• Força incontrolável que se exerce • Capacidade de autocontrolo


contra a vontade do outro (violação, para corresponder aos interesses
agressão...) daquele que se ama.

• A sexualidade é vista como uma


• Comercialização da sexualidade
dádiva ao outro, um encontro que
(prostituição, pornografia).
não se vende nem se compra.

• O outro é visto como uma


• Possessão do outro como um bem liberdade, uma pessoa com
próprio (ciúme extremo). dignidade e valor que não é
pertença exclusiva de ninguém.

• A relação sexual como forma de


• Obsessão que transforma a vida realização pessoal e interpessoal
numa procura de prazer sexual. acontece no diálogo, no afeto, na
atenção ao outro, no prazer, na
entrega e no êxtase.
19

O amor tem a capacidade inovadora de dar


e renovar a vida: no sentido biológico, como
gerador de filhos; no sentido afetivo, como
promotor de bem-estar; n o sentido social,
como impulsionador de solidariedade. O amor
autêntico é sempre fecundo e criativo.
A fecundidade humana não se esgota na
capacidade de gerar fisicamente uma nova vida,
mas envolve a entrega de cada pessoa como
dom que enriquece e faz crescer os outros. Para além da geração de um filho, a
fecundidade do casal continua no cultivo da vida: cuidar, educar, apoiar, servir,
escutar, compreender... Sonhos e projetos em comum alimentam a vida fecunda
e plena do casal.
Na família — célula primordial da
sociedade — onde germina a vida,
aprendemos os primeiros passos em
direção à felicidade e à realização
pessoal e social. Nesta comunidade,
primeira escola d e sociabilidade,
aprendemos os valores que hão de
nortear a nossa vida.
Uma família alicerçada n o amor
abre-se naturalmente à relação com os outros e, atenta às dificuldades, dedica-
-se a grandes causas (ideais) e descobre maneiras de promover o bem comum.
A adoção é um testemunho 'da

que demonstra claramente a


imensidão do amor, que não está
limitado às paredes do lar, mas 4. O que é a
sexualidade?
que abre a família a o mundo
encontrando, naqueles que foram 5. Por que é que amor
autêntico é sempre
privados da sua família biológica, fecundo e criativo?
a motivação para a vivência de
um amor fecundo e imenso.

,11.!I-PREN1)1 que todo o amor é fecundo e contribui para a realização


pessoal dignificando o ser humano.
ad
Íaternid
esponsáve
Transmitir a vida humana é uma obra sublime que exige reflexão e tomadas
de decisão ponderadas e responsáveis.
Todo o ser humano tem o direito a não ser "programado" como um objeto da
técnica, mas a ser amado e desejado dentro de uma relação amorosa autêntica.
Os pais devem ter a oportunidade e o direito de escolher o número de filhos
que desejam ter, cabendo ao Estado a obrigação de garantir essa possibilidade.
Têm também obrigação de discernir, em consciência e de forma responsável, as
circunstâncias mais favoráveis ao nascimento dos filhos.
Os casais, em família, farão a escolha do momento
e d o número d e filhos c o m q u e querem
enriquecer a própria família e a sociedade.
O planeamento familiar tem sempre como
critério a dignidade da pessoa (do casal, dos
filhos já nascidos e dos filhos por nascer) e
o respeito pela vida humana em todos os
seus momentos. Esta é a proposta da Igreja
católica sobre o controlo da natalidade.

Doe
Cnntr• ;talidnde
filfr
Afecundidade é um bem, um dom, um fim do matrimónio. Dando a vida a novos
seres, os esposos participam da paternidade de Deus. A regulação dos nascimentos
representa um dos aspetos da paternidade e da maternidade responsáveis.
Catecismo da Igreja Católica, 2398-2399
21
Doc.I2
Prote i d a m r - ; d a d e e patern' •
1. A maternidade e a paternidade constituem valores sociais eminentes.
2. A mãe e o pai têm direito à proteção da sociedade e do Estado na realização
da sua insubstituível ação em relação aos filhos, nomeadamente quanto à
sua educação.
Artigo 68.9 da Constituição Portuguesa e Art. 9 33.9- da Lei n.9 7/2009

Um destes dias, o João e a Mafalda


falaram de filhos. Não dos filhos dos
outros casais, mas dos filhos que
eles próprios gostariam de vir a ter.
Ao longo da conversa nem sempre
estiveram d e acordo. O J o ã o
desejava q u e o primeiro f i l h o
fosse rapaz. Já a Mafalda ficaria
mais satisfeita s e l h e calhasse
uma rapariga. Coisa de somenos
importância, como acabaram por
concluir.
Outro aspeto abordado foi o de terem ou não filhos logo após o casamento.
Também aqui as coisas não bateram certo: enquanto ele desejava um filho o
mais depressa possível, ela gostaria de passar os primeiros dois ou três anos
sem filhos, para poderem viver, a sós, o amor a dois.
Numa coisa estiveram d e acordo:
gostavam d e t e r u m casal. M a i s
não, q u e a v i d a n ã o está p a r a
brincadeiras e os juros da habitação
estão altíssimos. Mas como resolver
o problema de adiar o nascimento
ou, uma vez já contemplados com
o casal que gostariam de vir a ter,
evitar a vinda d e outros? É que,
quem anda à chuva... molha-se —
dizia o João, numa evidente alusão
ao risco de poderem vir a aumentar
a conta, se não tomassem "certas
6. Para além do
precauções".
controlo da natalidade,
Écurioso que nem um nem o outro se lembraram de que poderiam vir a não em que outros
ter filhos, ainda que muito os desejassem... aspetos se manifesta a
Adaptado de Guias de Diálogo — CPM (curso de preparação para o casamento) responsabilidade dos
pais?
22
M5TODOSPLNI\19NE,N1ONI\MLIPtiz
Os MÉTOtOS NATURNIS baseiam-se na observa- OsMÉInOSH(IzMONINOU GOIC/OSimpedem
ção, feita pela mulher, de sinais que o seu corpo a ovulação tornando a mulher infértil. A píM01i
emite e que lhe permitem identificar os dias em tem d e ser tomada todos os dias à mesma
que está fértil. O homem está sempre fértil. hora para s e r eficaz. Alguns medicamentos
interferem c o m a ação d a pílula. A 1)(jeX5;0.-ti)
Durante o seu ciclo, a mulher passa por uma
tem mais efeitos secundários do que os outros
fase em que está fértil (pode engravidar se tiver
métodos hormonais e não deve ser tomada por
relações sexuais) e outra em que está inférfil
adolescentes. O imOnte, consiste numa vareta de
(não pode engravidar). Durante a fase fértil, a
silicone, embebida em hormonas, que é colocada,
mulher produz uma substância chamada «muco
pelo médico, debaixo da pele do braço. O odeávo
fértil», produzida no colo do útero, que desce
é colocado na pele numa zona do corpo onde a
pela vagina até ao exterior. O muco mantém os roupa não faça fricção. O ne,I VOpul é inserido
espermatozoides vivos no seu corpo. Na ausência dentro da vagina; está embebido em hormonas e
deste muco, a mulher não consegue engravidar. previne a ovulação.
o MÉt0d0 c o n s i s t e na observação da Estes métodos, embora muito eficazes, têm
existência do muco fértil, com vista a determinar efeitos secundários q u e podem s e r graves:
o período fértil da mulher. problemas de circulação sanguínea, tromboses,
OrOÀ-06k0 ,irc)---téirrAcc, junta à observação tensão arterial elevada, infeções vaginais,
do muco a observação da temperatura basal do alterações de peso e náuseas. Nunca devem ser
corpo, que fica mais alta após a ovulação, e a usados sem conselho médico.
observação de outros indicadores menores.
Se os procedimentos previstos nestes métodos
forem corretamente seguidos, são muito eficazes.
Requerem acompanhamento, por parte de uma
monitora, durante a aprendizagem. Se o casal
quiser evitar uma gravidez, então não poderá ter
relações sexuais durante o período fértil da mulher.
Para o s casais q u e t ê m dificuldade e m
engravidar, estes métodos podem ser de grande
ajuda, pois o casal aprende a identificar o s
dias do ciclo menstrual em que existem mais
probabilidades de conseguir uma gravidez.
Os métodos naturais não têm quaisquer efeitos
secundários e respeitam o biorritmo da mulher.
o CO.ItO iYte,rrompido, que consiste em retirar o
pénis da vagina antes da ejaculação, não pode ser
considerado um método de planeamento familiar.
De facto, alguns espermatozoides estão presentes
no líquido que lubrifica a glande (ponta) do pénis,
produzido pelo homem antes da ejaculação, pelo
que a gravidez pode acontecer mesmo que se
interrompa a relação sexual antes da ejaculação.
O contacto direto entre o pénis e o exterior da
vagina também pode conduzir a uma gravidez. Se
a mulher estiver na fase fértil do seu ciclo, o muco
pode manter vivos esses espermatozoides.
23

OsMÉTODOSDE ffl-E_gP'ç impedem a os M5-TOUOSCAR-\jR,G1CiOS têm como efeito a


passagem dos espermatozoides para o útero e esterilização e são, com muito raras exceções,
daí para as trompas onde está o óvulo durante as irreversíveis. A iove,g,do de, t r o i ' y r s consiste
24 horas que se seguem à ovulação. na obstrução das trompas, impossibilitando o
encontro dos espermatozoides com o óvulo. A
opre,sexvoffivoryiosc,iiiv\o,comaaparênciade voise,c,toifyiioi bloqueia os canais deferentes que
uma dedeira, tem um reservatório na ponta onde
levam os espermatozoides dos testículos para
se recolhe o sémen. Tem de ser colocado no pénis
o pénis. O homem continua a ejacular líquido
após a ereção e antes da penetração na vagina. É
seminal, produzido acima do bloqueio, mas este
importante que o pénis seja retirado da vagina
não contém espermatozoides.
antes de se perder a ereção para que o preservativo
não saia e fique retido na vagina. Apesar de, nestes
casos, poder ser facilmente retirado com os dedos, A pílUbcOdioi sexiY)te, não é um método de
o sémen passa para a vagina, permitindo uma planeamento familiar. Consiste na toma de uma
gravidez. O pre,semtivo feAiiv\im tem a aparência dose muito forte d e hormonas. Infelizmente,
de uma «manga» que forra a vagina, evitando a tem-se abusado da sua utilização, como se fosse
passagem dos espermatozoides. um método normal de planeamento familiar. Se
tomada após a fecundação, não permite a nidação
o d'2-frNno é colocado dentro da vagina por
do embrião no útero e é, portanto, abortiva.
um ginecologista. Os métodos de barreira devem
ser utilizados em conjunto com um e£pe,rmicido\
que é colocado no interior da vagina ou usados Einrio,gromde,reispmso\loidoide).Nenhumrapaz
para untar o preservativo ou o diafragma. Estes nem nenhuma rapariga devem iniciar uma vida
métodos t ê m p o u c o s e f e i t o s secundários. sexualmente ativa sem pensar muito seriamente
Por vezes, o látex ou os espermicidas podem na possibilidade de haver uma gravidez e de surgir,
provocar alergias. portanto, uma nova vida.
O preservativo masculino é o único método
que ajuda a evitar a passagem d e infeções NENNM1\/11-no'DEPLNNEMENTOFNMUNR
sexualmente transmissíveis. É-0070 EFICAZ.
odispositivoiYil-romtexiy\oMU)éumpequeno Se a decisão tomada é a d e iniciar relações
aparelho de metal ou plástico que é colocado sexuais, então um primeiro passo para se assumir
no interior do útero por um médico. Dificulta a a responsabilidade por esta decisão é a de procurar
passagem dos espermatozoides mas nem sempre aconselhamento e m relação a o planeamento
evita a fecundação e, nesse caso, dificulta a familiar. A escolha de um contracetivo é também
nidação do embrião no útero provocando um uma decisão com fortes implicações morais. O
casal deve ter sempre presente os valores éticos
aborto precoce. Alguns DIU's libertam hormonas,
implicados que são a inviolabilidade da vida humana
fazendo com que a mulher não tenha ovulações.
e o respeito pela dignidade do homem, da mulher e
Nunca deve ser colocado numa mulher que ainda
da criança que pode nascer. Determinar o número
não teve filhos porque, como irrita as paredes
de filhos e o momento do seu nascimento é uma
do útero, provoca mais facilmente infeções do
decisão que pertence ao casal. Não deve ser tomada
aparelho reprodutor q u e podem conduzir à
com base apenas e m critérios d e comodismo e
infertilidade.
facilidade mas, fundamentalmente, por critérios de
generosidade e de abertura à vida, garantindo uma
paternidade responsável. 4 1 1 1 1 1 .
Mary Anne d'Avillez (Enfermeira)
24

Planeamento familiar
A paternidade responsável engloba o planeamento da família —
o diálogo do casal sobre como viver o amor recíproco que os une
Ginecologia significa
e sobre as decisões a tomar a respeito do número de filhos que
literalmente "ciência
da mulher", mas pode ter e como vai espaçar o seu nascimento o que implica
na medicina é escolher um método de regulação da natalidade.
a especialidade
O casal deve gerir a sua fertilidade com generosidade, mas
que trata do
sistema reprodutor também deve ter em conta o equilíbrio e a sustentabilidade da
feminino. vida familiar.
Os hospitais
e centros de Antes de tomar uma decisão sobre o método de planeamento
saúde dispõem familiar a adotar, o casal deve procurar informação cientificamente
de consultas de correta sobre o funcionamento, as vantagens e desvantagens, o
ginecologia a
efeito sobre a saúde, a eficácia dos métodos existentes e as suas
que as mulheres,
implicações éticas.
adolescentes
incluídas, podem
recorrer.
Doc_13
Educação Sexu
A imagem que se pretende comunicar através da maioria das campanhas
de «educação sexual» é absolutamente falsa. Os jovens que aí aparecem
respiram saúde e alegria. No entanto, esta não é de todo a verdade daqueles
que enveredam por semelhante opção. Vida não é andar por aí com um
preservativo em cada mão, para aproveitar as oportunidades que surjam na
próxima esquina. Uma análise e investigação real e autêntica nestes domínios
mostrariam muita frustração, dor, recalcamento, complexos, vazio e ilusão. O
sexo não é apenas uma relação física, não existe preservativo que torne alguém
imune às consequências emocionais e afetivas de uma vida sexual com vários
parceiros e precocemente iniciada. O sexo não pode ser encarado apenas pela
vertente do prazer, sem ter em conta o que representa de responsabilidade
e compromisso, que só se pode realizar plenamente no casamento. É preciso
coragem para assumir o que não está na moda, mas que melhor defende as
expetativas de um futuro maravilhoso. O verdadeiro sexo seguro é aquele que
é vivido no contexto da família, na harmonia de um relacionamento de amor
autêntico e genuíno que se conjuga com fidelidade e responsabilidade.
Adaptado de Samuel Pinheiro, http://www.portalevangelico.pli

7. Em que é
que consiste o
planeamento familiar? PÇPEM.) que para viver uma paternidade/maternidade responsável o
8. O que entendes por f planeamento familiar é necessário e deverá ser sempre aberto à vida e à
"educação sexual"? realização do casal.
Os homens e as mulheres amam-se desde sempre. A Bíblia interpreta esse
amor à luz de um modelo divino: exalta o dom mútuo e completo de um ao outro.
O amor vivido na relação matrimonial é usado como comparação e metáfora do
amor de Deus para com a humanidade e da resposta desta ao Deus que é amor.
A Bíblia apresenta Deus como criador e pai da humanidade, mas apresenta-o,
também, como marido que ama incondicionalmente a comunidade humana
como uma esposa.

Logo no primeiro livro da Bíblia, o Génesis, afirma-se que o homem e a 6, e r


mulher foram criados à imagem de Deus para se unirem um ao outro e serem os
Os salmos são
dois uma só carne (cf. Gn 2, 24). A sexualidade está, pois, dentro do projeto do
poemas: cânticos de
Criador para a humanidade. Deus deu ao ser humano urna força de vida que é louvor, de súplica,
simultaneamente conforto, bem-estar afetivo e dom para o outro na comunhão de agradecimento,
amorosa aberta à vida, sempre nova. de bênção...
Rezados e cantados
individualmente e
em comunidade,
ainda hoje,
Os filhos são uma bênção fazem parte
•'Olhai: os filhos são uma bênção do Senhor; das celebrações
religiosas dos judeus
o fruto das entranhas, uma verdadeira dádiva.
e dos cristãos. Os
4Como flechas nas mãos de um guerreiro, salmos refletem
assim os filhos nascidos na juventude. o amor infinito
'Feliz o homem que deles encheu a sua aljava! de Deus pela
Não será envergonhado pelos seus inimigos, humanidade e
tornam atual o grito
quando com eles discutir às portas da cidade.
de louvor ou de
SI 127(126),3-5 súplica do crente.
26

••.• • • W E • T M L • • 1 Tái,-1,•, A ' ~ M I » Este salmo proclama a presença


amorosa de Deus no trabalho, na
vida social e, sobretudo, na família
que ele protege e abençoa com
o d o m maravilhoso d o s filhos.
Através dos filhos é garantida a
descendência e a história não só
da família, mas também do povo.
A fecundidade é uma bênção de
Deus.

O nascimento d o s f i l h o s
confirma que Deus está presente
na v i d a familiar, abençoando
e gerando novas vidas. Neste
sentido, o salmo fala dos filhos
Primeiros rassos, Van Gogh (1853-1890) [Museu Metropolitano de Kinv2 [orou&
como « f l e c h a s » , q u e r e n d o
significar a enorme importância que os filhos têm para os pais (tal como as
flechas são importantes nas mãos dos guerreiros). O pai, cercado pelos filhos, é
comparado a um combatente artilhado, pronto para enfrentar as adversidades
da vida.

As 6ênçãosfamdictres
'A tua esposa será como videira fecunda
na intimidade do teu lar;
os teus filhos serão como rebentos de oliveira
ao redor da tua mesa.
SI 128(127),3.

O salmo 128 tem como tema central a felicidade d o


ser humano q u e acolhe a s bênçãos d e Deus. Neste
salmo canta-se a convicção d e q u e q u e m respeita
os mandamentos d e Deus colhe os seus frutos d e
felicidade e paz. O bem-estar pessoal (harmonia do
casal, filhos, trabalho, vida longa) prolonga-se no
bem comum e na paz social.
27

família de Jesus
"Nisto chegam sua mãe e seus irmãos que, ficando d o lado de
fora, o mandam chamar. ",A multidão estava sentada em volta dele,
quando lhe disseram: «Estão lá fora a tua mãe e os teus 1jrmãos que te
procuram.» "Ele respondeu: «Quem são minha mãe e meus irmãos?»
"E, percorrendo com o olhar os que estavam sentados à volta dele,
disse: «Aí estão minha Mãe e meus irmãos. "Aquele que fizer a vontade
de Deus, esse é que é meu irmão, minha irmã e minha mãe.»
Mc 3,31-35

A mensagem fundamental deste texto


é q u e Jesus v e m p r o p o r u m a família
universal e d i f i c a d a n a aceitação d a
vontade de Deus: o amor, que suplanta Sn
os laços sanguíneos. A nova família que
Jesus apresenta não se limita a um espaço Na Bíblia, e ainda
hoje no oriente, a
geográfico nem a um tempo histórico: é
palavra "irmãos"
composta por todas as pessoas do mundo refere-se não
e de todos os tempos. A única condição apenas aos filhos
para pertencer a esta família onde todos dos mesmos pais,
mas também aos
são felizes, é amar a Deus e ao próximo.
parentes próximos,
O verdadeiro parentesco com Jesus está, nomeadamente os
pois, e m aceitá-lo c o m o aquele q u e é primos.
Família, Henry Moore (1898-1986) expressão plena da presença de Deus.

Os familiares consanguíneos q u e aceitam Jesus s ã o duplamente d a


sua família. Assim, longe de desprestigiar Maria, Jesus honra-a ainda mais,
tributando-lhe duas vezes o nome de mãe: porque o trouxe no seio e porque o
traz no coração.

O texto refere ainda o contraste entre "ficar d e fora" e "estar dentro",


desafiando a uma tomada de consciência e de posição: estamos afastados ou
queremos unir-nos a Jesus desejando construir a família universal? 9. À luz da
mensagem bíblica,
o que é que poderás
fazer para melhorar
- - - 1 / ( - ) P - E N ' D q u e a família é algo querido por Deus e que a mensagem o teu ambiente
cristã nos desafia à vivência dos valores familiares. familiar?
A vivência do amor, para ser sublime e bela exige respeito, responsabilidade e
fidelidade. Estas atitudes correlacionadas e características do amor tornam-nos
pessoas felizes, alegres e apaixonadas com um sorriso nos lábios e um brilho no
olhar. Quando somos irresponsáveis, desrespeitadores ou infiéis é evidente que
não estamos a amar.

P-ESPONSPD1L-ME, como a raiz da palavra indica, é dar resposta às situações;


é responder por si e pelos próprios atos, é assumir os deveres e as obrigações
correspondentes. A responsabilidade torna-nos cuidadosos para connosco
e para com os outros. Exige crescimento e maturidade e não é confiada nem
pedida a todos da mesma maneira.

SOUP-ESPONSEI,
•R-ERITONNIES t I R -
•PONbER-0 S CANSEGME•NCAS5'rSMkt\IHPÇSg,}ÕES
• l'n0 EMADOSNMENTEi
•N•SSUMOOSMEUSfkIOS NbEPENbENTEME-NTE
SUPSCOi NSEGME
' -NCANS•)
• g E•ND' OHMOSERROSE.ffl)01-0UMPÇ ' OSK,2k)MMSP-EFLE111)[k
'DEPWSf l 1 E . S Ni COi NSCAENTES.
29

RESPE-11-0, do latim respectus que significa "olhar outra vez", é apreço,


consideração, deferência, obediência; é um "olhar" que nos impede de fazer
ou dizer coisas desagradáveis. Respeitar não significa concordar em tudo, mas
significa não ofender. Seremos tanto mais respeitados quanto mais soubermos
respeitar.

SOÀ
\ ESPE1.17kD
' OP-(),UPM1X): \RLOR7-0
'DE\IMENTE
SOUPÇTENUOSfk, WiNfiCi0 PrS\)ESSONS,fkS CiZíkS
OETDE(,)0ECU
i MPP-0 OSOUTROSE OSEU EOSPr*ENIf_S
IRNM-HO

•;•'•
,„ •

HbEL-YDE-, atitude de quem é fiel e se compromete com aquilo que assume,


é lealdade, confiança, honestidade, verdade, constância, firmeza.

A fidelidade é um valor que nasce do respeito pela confiança que uma


pessoa deposita na outra e que exige responsabilidade. É, porventura, o maior
desafio que se nos coloca nos dias de hoje e na sociedade em que vivemos, no
sentido de uma vivência autêntica do amor. A fidelidade não é coisa fácil de se
concretizar e parece até que já está fora de moda! Mas vale a pena assumi-la
porque dela depende a confiança que depositamos uns nos outros, o amor e a
felicidade.

Viver a fidelidade numa relação com outra pessoa é ter a coragem de ser um
para o outro e de ser um no outro. É dizer não à mentira e aos jogos de enganos.
A fidelidade exige verdade e um grande apreço pelo outro.
Of-idelidadeé ogDKidoamore ae-elicídodeé asuaobra-prima
30

\1NEMOSFlbEMfkl)E
SO\/IOSPtMI,KS
HrCAERENC)IN CAMI),RIMOSPS NSERIO NO 11R-MMOS,
ER-MNEC)EMOS ENTREOS\IPLORES *RIAC,)0ESNSSUMIUNS EKJOLHEMOSOSOUTROS
EANSTP\NTESN E•IC5)NO EMGUEPÇC)REITWOS EPÇSPROMESSNS MEU) GI,UK)0ELES
ENNSINC)EI4g)E. ENGUILOGkUE FEM ERRAM
REPLIZAMOS

gREINI q u e a alegria do amor vive-se na responsabilidade, no respeito


e na fidelidade.

Doc_111
p,
-; A m o r
Creio que Deus é amor. Creio que Deus é bondade infinita, porque é amor
infinito. Creio que a criação é fruto do amor, porque o amor quer-nos fazer
participar na sua bondade. Creio que todo o homem, mesmo antes de o ser, foi
174P5cc4
amado, pessoalmente e infinitamente, por Deus, e sê-lo-á sempre, quaisquer
que sejam o seu rosto e os caminhos da sua vida. Creio mesmo que o homem
foi pensado pelo amor de Deus e que a «imagem» de Deus nele pode ser
10. Reflete sobre as
desfigurada, mas não destruída. Creio que o homem, feito por amor, foi criado
tuas formas de amar e
para o amor, e, portanto, livre, e convidado à felicidade infinita do amor. Creio
elabora ou escreve um
compromisso pessoal
que, com Jesus Cristo, viver é amar sob o sopro do Espírito. E creio que o amor
para cresceres mais no não pode morrer, porque vem de Deus e volta para Deus.
amor. Adaptado de Michel Quoist (1921-1997), Falai-me de amor
CristiankSMO
em caminho
Unidade letiva 2
Cristianismo: uma fé ao serviço dos povos
Cristianismo: uma fé, vários caminhos
A identidade das igrejas cristãs
A Bíblia, fonte de comunhão
O Ecumenismo
Desafios para uma vivência ecuménica
32

Olá!
Clianio-me Roer Klasci via 3ofça
ma3 eoi J71-r0, cluraril-e a 3ejur4a
Guerra Moridial Cui viver para Frariça.
Desde sempre 3ehl-; o desejo d e
rle ioril-ar a ouras pessoas para
coricre[•izarmos uol 3raricle desario,
viver [.oclos os dias a recoriciliação
0 3 CY1.31-Õo3.

3aL•es 9ue kio Crisl-iar)ismo exislem I-Yê3 3ropo3s caf-ólicos, ort-odoxos e


prol-e3I-aril-e3. Eu riasci y)umaCamaia prol-esl-aril-e, mas seril-ia-me Casciriado
pelo cal-olicisrvio e pela 04odoxia e sempre soCri ao ver pessoas, siviceras e
tiorieslas, a recusarem relacioriar-se Cralerrialmey,l-e 3(5 porque perl-ericiam
aCamílias crisl-às dirererdes. O soCrimelii-o que vi, duraril-e o errível
6erki maior
Juv)i-ei-me a ouras pe'33oé23 e Cur,dámos, eoi Taizé, unia comoriiclacie oride,
via simplicicilaide, cada um expressa a 30a Céc r i ã . OVan103 eoi corijorifo,
acolliemos quem rios procura e servimos 03 Cle3CaVoVend03. CRueYenlos,
03i'l(01á-03 de -Taize, ser um sir)al cor,crel-o de recoliciliação evire CI,i3f"ão3
••••••••••
divididos e poVo3 separados.
•••••••••••••••

o r, i d a d e l e t i v a p r o c u r a e k 4 e i l d e k - 0 3 r a Z , S e i l i 3 t - ó Y; C a 3 , c u l l - u r a i s

e reliosas gue provocaram as várias ctivisões via Cris[-iainismo. Abre-l-e à


beleza da comoritião via diCereriça. Descobre o gue podes Cazer para I-orriar
possível a Cra[erviiclade eril-re 03 poVo3, a comor)11ào el4re 03CY;31-6-to3 e a
liarmoriia rias relações erre as pessoas da1-uaescola e da l•ua Comília.

O irmão Roger Schutz foi assassinado em 2005, durante a oração da tarde,


por uma mulher que sofria de perturbações mentais. A comunidade de Taizé
continua a ser um sinal de encontro entre os povos e de construção da paz.
Para além dos programas semanais em Taizé, a comunidade promove, desde
1978, encontros anuais de oração pela paz em diferentes cidades da Europa.
O Cristianismo, que assenta a sua fé e a sua esperança em Jesus Cristo, é uma
religião profundamente inserida na vida das pessoas e dos povos.
Jesus e os apóstolos viveram num período histórico em que o império romano
dominava grande parte do mundo conhecido.
Os cristãos, pessoas reais e concretas, sempre viveram no espaço público
em que estavam inseridos, adaptando-se às condições sociais. Herdeiro do
Judaísmo e enriquecido pela civilização greco-romana, o Cristianismo, apesar de
três séculos de perseguições, criou raízes na vida de muitos homens e mulheres
que, em Jesus Cristo, encontraram sentido para a sua vida.
O Cristianismo, enquanto religião organizada e enquanto fé vivida n o
dia a dia pelos cristãos, contribuiu, e muito, para a construção da civilização
ocidental. Foi, e ainda é, um motor da construção europeia enquanto referência
de identidade perante os vários povos, línguas e culturas.
O papel do Cristianismo tem sido importante em todos os setores da vida
humana a nível pessoal e a nível coletivo. Grandes princípios e comportamentos
éticos são o resultado da presença dos valores evangélicos no pensamento e na
ação dos indivíduos e dos povos:

—PF\P-MKA-01)0\li'LOR- ED ' Pv' UMD


' NYDEEySSOçkI-NMPN'r)
—OREC)ONHECAMENTO'DE ME I\• 1-NMI'MP SN,RPriA)
—1MPOP-TPrNE)1N•Fi'ML-Pr)
—p WOMO* fk SOI-kbPgEM)E O 1EMEAMUM3
—» t 4 D g E D' O-1-12-P—i-\OE 'N't REMUNEP-gsik)
—NPOR-TkNCAt CA-(,/k E1A•I.EIR.-g)E 'DEPENSNMENTO.
34

A visão bíblica do ser humano (criado à imagem e semelhança de Deus)


moldou a cultura humanista da europa e do mundo. A Bíblia inspirou criações
intelectuais e artísticas, influenciou códigos e normas e promoveu a paz.
O Cristianismo, através das universidades, das escolas, das catedrais e dos
mosteiros, ensinou os povos, a ler e a escrever, a construir e a pintar. Nestes
centros de cultura, a Europa foi-se gerando e adquirindo novas formas de
pensar e de agir.
O Cristianismo, ao afirmar que há uma origem comum e um destino comum
do ser humano, propõe uma fraternidade universal na pluralidade de rostos e
Catedral de Braga de pensamentos. Este contributo, que o Cristianismo oferece, obriga todos a
descentrarem-se de si, a não dominar os outros e a abrirem-se à construção do
futuro.

São Bento nasceu em Núrcia (Itália) por volta do ano


480. Viveu e estudou em Roma, quando esta cidade vivia
A Assembleia a turbulência da queda do império romano no ocidente
da República (476). Desejoso de encontrar u m sentido para a sua
(Parlamento) está
existência, procura no silêncio de uma gruta em Subíaco
sediada num antigo
tempo para a oração e uma vida d e simplicidade. O
mosteiro de
S. Bento. seu estilo de vida atrai seguidores que veem nele um
pai e um guia. Organiza este grupo (Ordem Beneditina)
a q u e m p e d e u m a profunda vida interior (oração)
destinada a servir os outros através do trabalho. S ã o Bento, Fra Angelica (1395-1455)

Com o passar do tempo, o monge Bento, numa procura sincera de Deus,


dá aos seus irmãos monges a regra de vida Ora et labora (ora e trabalha) para
que todos eles dediquem tempo à oração quotidiana e ao serviço das pessoas
através do trabalho.
Após a morte de São Bento, em 547, os seus continuadores, os beneditinos,
vão tornar-se um dos pilares da construção da nova civilização. Os mosteiros
beneditinos, por toda a Europa, são espaços de paz e de oração, e poios de
desenvolvimento cultural, económico e artístico. Formavam nas suas "escolas"
1. Procura na zona as gerações futuras. Impulsionavam a agricultura e o comércio, (re)criavam a
onde moras uma
arte através dos copistas e dos artistas.
igreja, um mosteiro,
uma rua ou outro Pelo grande contributo dado ao mundo europeu por São Bento e seus filhos
espaço dedicado a (beneditinos, clunienses e cistercienses), o papa Paulo VI, em 1964, declarou-o
São Bento. patrono da Europa.
2. Iden&ica o
contributo do
Cristianismo na -•••••11

construção da l e g E - N 1 ) 1 que o Cristianismo, como comunidade dos crentes em Jesus


civilização europeia. Cristo, contribuiu para a construção da história ocidental.
O Cisma do Oriente
Ao longo do primeiro milénio, apesar de pequenas divergências e separações, o
h•d11-)
Cristianismo manteve-se globalmente unido. Contribuiu para o desenvolvimento
A palavra 'cisma'
de povos e culturas; sistematizou a sua fé no credo; organizou-se na forma — do grego
plural de celebrar a fé (oração e caridade) e foi um grande instrumento para a skhisma («fenda;
humanização de costumes e leis. Logo no início do segundo milénio acontece separação»)
uma grande rutura na Igreja cristã — o cisma do oriente. — significa
dissidência religiosa;
separação de
OME KiONTEC)EW P O M M E KiONIEC)EU? uma determinada
religião.
O diálogo entre o oriente, cuja capital era Constantinopla (antiga Bizâncio e
atual Istambul, na Turquia), e o ocidente, com capital em Roma, já várias vezes
tinha sido posto em causa.

Com a queda do império romano


do ocidente, em 476 — após a divisão MARE
GERMANICUM
do império romano e m duas partes
(império romano d o ocidente, c o m
capital e m Roma, e império romano
do oriente, com capital em Constanti- OCEANO '-",—
.,Pannoniae ,,
ATIANTICUS • '-..., •
nopla) —, a cidade de Constantinopla • _Viehnensis-,
..... , '
, Rogi'k
• * . --,
l
2 Thra?ae
antinopla,,
adquiriu progressivamente uma maior ---,_ cl
Asiana
importância. A s diferenças e n t r e o 11011.-

mundo ocidental (que falava latim) e o • MARE INTERNUM

mundo oriental (que falava grego) vão-se


acentuando a nível cultural, político e N Escala 1:30.000.000

até religioso. Império romano no início do século IV


36

As relações entre Roma e Constantinopla foram-se degradando. Os bispos


de Roma (papas) e os bispos de Constantinopla (patriarcas do oriente), cada um
à sua maneira, procuraram afirmar a sua autoridade sobre o outro. O conflito
acentuou-se de tal forma que cada um deles acusou o outro de se estar a afastar
da mensagem de Jesus Cristo.

No ano de 1054, numa procura de diálogo e conciliação, o cardeal Humberto,


enviado do papa, foi a Constantinopla, mas a tentativa saiu frustrada e aconteceu
a separação (cisma). O cardeal, em nome do papa Leão IX, dirige-se à basílica
de Santa Sofia e excomunga o patriarca Miguel Cerulário. Este, como resposta,
excomunga o cardeal. Com estes gestos, repletos de falta de compreensão e
de caridade, cada um considerava-se portador da verdade e expulsa dessa fé e
dessa comunhão o outro.

Surgem, assim, dois ramos n o


CISMA DO ORIENTE tronco d o Cristianismo: a Igreja
XI) latina, a que vulgarmente chamamos
'católica', e a Igreja oriental, a que
chamamos 'ortodoxa'.
Esta f r a t u r a n a u n i d a d e d o
Cristianismo a i n d a h o j e t e m a s
suas consequências. Católicos e
ortodoxos, apesar d o s encontros
e abraços fraternos entre o s seus
Israjo, Cc&61.•Lco, Igreja. Orkoaoxo,
líderes, continuam separados.
(tolLkxo‘) (orLexExt)
Coytsba4,ELKopLo,
Roma (rckro) kro,Eri.o,rco,)

Doc.I5
p 4.. 4 , 4 , 4 4 . _ 4 4 4 o4,,,n.

As diferenças entre as Igrejas do ocidente e do oriente, já evidentes no século IV,


tornam-se mais precisas durante os séculos seguintes. As suas causas eram múltiplas:
tradições culturais distintas (greco-oriental por um lado, romano-germânica por
outro); a ignorância mútua, não só das línguas, mas também das respetivas
literaturas teológicas e as divergências de ordem cultural.
Certos desenvolvimentos do culto e das instituições eclesiásticas conferem
ao cristianismo oriental uma fisionomia peculiar. A importância da veneração
dos ícones no império bizantino e a adição do filloque ao Credo de Niceia e
3. Identifica as razões Constantinopla — o trecho passava a ter a seguinte leitura: «O Espírito procede
que estiveram na do Pai e do Filho» — levou a que aumentasse a animosidade dos ocidentais
origem do cisma do contra os orientais.
oriente. Adaptado de Mircea Eliade, História das Ideias e Crenças Religiosas
37

Renascimento
O final do século XIV e o século XV é um período
de grandes transformações culturais. Após a peste
negra, que assolou a Europa na década de 40 do
século XIV, surgiram novas condições económicas
e visões da vida que conduziram ao aparecimento
,
da burguesia, ao incremento da vida urbana e
Pormenor da Fuga para o Egito,
a um maior apreço pelo pensamento racional e Giotto di Bondone (1266-1337)
pela arte. A imitação dos modelos da Antiguidade
Clássica, grega e latina (Renascimento), vem
colocar o ser humano no centro da vida e do
pensamento (Humanismo). Esta nova perspetiva
sonha com uma época de esplendor e luz que se
irá concretizar com a exaltação do ser humano
através da literatura, das artes, da história, da
religião, das ciências naturais.
Partindo d a s grandes cidades italianas
(Florença, Veneza, Roma, Siena), este movimento
NtlintrÈ!
difundiu-se p o r t o d a a Europa, assumindo ^ _
Cúpula da Catedral de Florença,
particularidades e estilos específicos. Filippa Brunelleschi (1377-1446)

São desta época o s grandes artistas e


pensadores que ainda hoje admiramos nas suas
criações: o poeta Dante D i v i n a Comédia); os
pintores, escultores e arquitetos Giotto, Miguel
Ângelo, Leonardo da Vinci... e tantos outros.

-13,» •

Anunciação, Snriciro Botticelli (1445-15111)

Jesus e Jose de Arima teia,


Homem Vitruvienn I ennArrinflA Vinci (14.g2-1g1m Baccio Bandinelli (1493-1560)
38

O Cisma do Ocidente
A partir do século XII foram surgindo, na Europa medieval, vários movimentos
religiosos que apelavam a uma vida cristã mais autêntica, menos opulenta, mais
centrada na Bíblia e menos ritualista.

O século XIV é um período conturbado para a Igreja católica.


Por razões políticas, entre 1309 e 1377, os papas passaram a residir em Avinhão.


Palácio dos papas, Avinhão

Outro acontecimento de divisão na Igreja foi a existência de dois papas


em simultâneo: um em Roma e outro em Avinhão. Este período, que durou
entre 1378 e 1417, a que se dá o nome de cisma do ocidente, provocou grande
P confusão nos crentes e grande descrédito na autoridade e função do papa como
pastor universal dos católicos.
4. Em que consistiu o A Igreja estava demasiado envolvida em questões políticas e económicas, em
cisma do ocidente?
prejuízo das preocupações espirituais. Havia, por isso, um forte movimento de
crítica às instituições da Igreja, exigindo a sua reforma.

A Reforma Protestante
O movimento humanista e o e s p í r i t o renascentista, a l i a d o s a o
descontentamento das pessoas devido aos abusos da Igreja, fazem emergir
a necessidade de um retorno à mensagem original de Jesus Cristo.
- Poder temporal

Causas da Reforma Protestante


ISMA DO PENSAMENTO
CIDENTE RENASCENTI
- Valorização da
razão humana
- Indulgências
- Redução da
- Descrédito do - Purificação da
ingerência
papado dos papas vivência cristã
dos papas
- Ritualismo em assuntos
nacionais
39

Lutero, o reformador
Martinho !Altero (14834546), p a d r e católico,
monge agostiniano e professor, preocupado em corrigir
alguns comportamentos e ritos da Igreja, refletiu sobre
a salvação do ser humano e condenou a "venda" das
indulgências.
A prática das indulgências era habitual desde há
vários séculos e significava o perdão das penas (castigos)
relacionadas com os pecados. Para a Igreja, o perdão dos
pecados era oferecido ao crente através da celebração
do sacramento da reconciliação (confissão). Este perdão
era condição para a salvação da pessoa. No entanto,
segundo se acreditava, se a pessoa morresse reconciliada
com Deus, mas não tivesse expiado os seus pecados mediante a penitência
adequada (jejum, gestos de caridade, etc.), teria de passar transitoriamente
pelo purgatório antes de ingressar no céu. As indulgências eram uma maneira
de obter a remissão dessas penas. Nunca a Igreja afirmou que a indulgência
correspondia a o perdão dos pecados, mas apenas a o perdão da pena
correspondente ao pecado.
Em termos populares, as indulgências eram entendidas como «um bilhete
para o céu». Para recolher benefícios, alguns na Igreja não contrariavam
convenientemente esta explicação. No início do século XVI, esta prática envolvia
vastas somas de dinheiro que eram uma fonte de rendimentos, nomeadamente
para a construção da nova basílica de
S. Pedro, em Roma.
Lutero revolta-se contra esta prática
da Igreja, põe em causa a função e o
poder d o papa, apresenta a Bíblia
como única autoridade em matéria de
fé e afirma que a salvação se alcança
pela fé e não pelas obras.
Em 1517, c o m o objetivo d e
promover um debate entre professores
e estudantes que contribuísse para a
renovação da Igreja, Lutero afixa 95 5. Faz uma biografia
Teses na porta da igreja de Wittenberg, de Martinho Lutero.

na Alemanha.
Porta da igreja de Wittenberg
40

T n e & e - h I 1 vihrt ret

Com um desejo ardente de trazer a verdade à luz, as seguintes teses serão


defendidas em Wittenberg sob a presidência do Rev. Frei Martinho Lutero,
Mestre de Sagrada Teologia. Ele pede que todos os que não puderem estar
presentes e disputar verbalmente o façam por escrito.
7. Deus não perdoa a culpa de qualquer pessoa sem, ao mesmo tempo,
sujeitá-la, em tudo humilhada, ao sacerdote, seu vigário.
21. Erram, portanto, os pregadores de indulgências que afirmam que a pessoa
é absolvida de toda a pena e salva pelas indulgências do papa.
24. Por isso, a maior parte do povo está a ser ludibriada por essa magnífica e
indistinta promessa de absolvição da pena.
37. Qualquer cristão verdadeiro, vivo o u morto, participa d e todos o s
benefícios de Cristo e da Igreja, que são dons de Deus, mesmo sem carta
de indulgência.
43. Deve ensinar-se aos cristãos que, dando ao pobre ou emprestando ao
necessitado, procedem melhor do que se comprarem indulgências.
44. Ocorre que através da obra de amor cresce o amor e a pessoa torna-se
melhor, ao passo que com as indulgências ela não se torna melhor, mas
apenas mais livre da pena.
45. Deve ensinar-se aos cristãos que quem vê um necessitado e o negligencia
para gastar com indulgências obtém para si não as indulgências do papa,
mas a ira de Deus.
50. Deve ensinar-se aos cristãos que se o papa soubesse das exigências dos
pregadores de indulgências, preferiria reduzir a cinzas a basílica de S. Pedro
a edificá-la com a pele, a carne e os ossos de suas ovelhas.
53. São inimigos de Cristo e do papa aqueles que, por causa da pregação de
indulgências, fazem calar por inteiro a palavra de Deus nas igrejas.
54. Ofende-se a palavra de Deus quando, num mesmo sermão, se dedica tanto
ou mais tempo às indulgências do que a ela.
62. O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho da glória e da
graça de Deus.

A insatisfação sentida por gente do povo, comerciantes, príncipes e reis foi


terreno fértil para a adesão às ideias de Lutero que, excomungado pelo papa em
1521, inicia outra vivência cristã a que vulgarmente se chama Protestantismo.

4L)
Por razões políticas, Lutero defendia que cada príncipe deveria escolher e
impor a religião no seu Estado. Em 1529, no encontro de Spira (Alemanha),
6. Caracteriza a L u t e r o e os seus seguidores protestaram contra a negação da liberdade de
doutrina de Marfinho o s príncipes escolherem a religião a adoptar nos seus domínios. Daí advém o
Lutero. n o m e de protestantes.
41

Doc17
ge ros I V : "O
Lutero afirma: «Não admito que a minha doutrina possa ser julgada pelos
homens, ou mesmo pelos anjos. Aquele que não aceita a minha doutrina não
pode obter a salvação». Tendo recebido a revelação de que é Deus-Pai quem
julga, condena e salva segundo a sua própria decisão, Lutero não pode tolerar
mais nenhuma outra interpretação.
Afirmava: «Se a vontade não é livre, o pecado não pode ser imputado aos
homens, já que ele só existe se for voluntário. Além disso, se o homem não
fosse livre para escolher, Deus seria responsável tanto pelas más como pelas
boas ações».
Mircea Ellacle, História das Ideias e Crenças Religiosas

João Calvino, outro reformador


João Calvin() (1509-1564), francês, seguidor dos ideais de Lutero, afirma que
a salvação da pessoa se deve ao trabalho justo e honesto. Esta declaração foi
bem aceite por banqueiros e burgueses a quem a Igreja condenava pela sua
riqueza, muitas vezes conseguida através de juros elevados.
Calvino defende a ideia da predestinação: a pessoa, quando nasce, já tem o seu
destino definido. Esta crença, preocupada em sublinhar a omnipotência de Deus,
nega a liberdade da pessoa. Ao afirmar que o ser humano nada pode fazer para
alterar o seu destino, torna-o completamente impotente perante a vontade divina. João Calvin°,
Hans Holbein (1497-1498)
Calvin° vai para Genebra (Suíça), onde as suas ideias religiosas são muito
bem acolhidas, e aí estabelece uma comunidade fortemente trabalhadora e
próspera, de comportamentos sóbrios e rigidamente controlados, negando
todos os prazeres da vida (puritanismo).

O Protestantismo
O movimento religioso de Lutero e de Calvino fez um forte apelo de regresso 7. Enumera as razões
que originaram
à simplicidade original d o Cristianismo. Apresentou a Bíblia como único o movimento
fundamento da fé e da autoridade religiosa. Na liturgia, fazia uso das línguas do religioso a que se
chamou "Reforma
país e não do latim. Preocupou-se muito com a santificação dos cristãos e com
Protestante".
a transformação da sociedade.
Os únicos sacramentos aceites são o batismo e a ceia, como recordação da
morte e ressurreição de Cristo. Recusam imagens, vestes e músicas sagradas.
O facto de Lutero (e demais reformadores) ter apresentado a Bíblia—livremente
interpretada por qualquer pessoa — como única autoridade de fé deu origem à
criação de uma multiplicidade de Igrejas protestantes: luterana, presbiteriana,
metodista, pentecostal, evangélica, congregacionista, batista e muitas outras.
42

O Protest2.- ;smo: unfr-1 e di- sida


O Protestantismo, que constitui um dos três grandes ramos do Cristianismo,
nasceu no século XVI na Europa e estendeu-se, de maneiras diversas, a todos os
continentes. Forma religiosa muito diversificada, está organizado em múltiplas
Igrejas e muitos movimentos.
No momento do nascimento do Protestantismo, podemos já verificar a sua
pluralidade: existem vários reformadores, defrontam-se várias convicções.
Existem amplos pontos de vista comuns sobre os fundamentos da Reforma,
mas basta uma só divergência para não se conseguir estabelecer uma Igreja
protestante única. O pluralismo é fruto da recusa de uma hierarquia e da
possibilidade de cada crente interpretar a Bíblia a seu modo. Ainda em vida de
Lutem, surgiram várias divergências. Este conflito mostra igualmente que, se
é certo que Lutem é o primeiro a ousar o rompimento com a Igreja católica e
é, portanto, o «pai fundador», bem depressa passa a ser um reformador entre
outros e não o chefe incontestado de todos os protestantes.
A Reforma proclamou três grandes palavras de ordem: apenas a Fé, apenas
a Escritura, apenas a Graça. A sua radicalidade identifica-se pela vontade de
suprimir os acrescentos que, segundo os seus adeptos, terão, ao longo dos
séculos, desfigurado o Cristianismo primitivo. O mesmo é dizer que o seu
movimento pretende precisamente purificar o Cristianismo.
Sendo certo que a família protestante tem muito em comum, a verdade é que
cada um dos seus ramos tem a sua especificidade própria; existem, de resto,
por vezes, querelas internas.
Adaptado de Jean Delumeau, As Grandes Religiões do Mundo

O Anglicanismo
Contemporaneamente à r e f o r m a l u t e r a n a e calvinista,
aconteceu outra separação no Cristianismo: o Anglicanismo. Em
1509, Henrique Tudor torna-se, aos 18 anos, rei de Inglaterra com
o nome de Henrique VIII. Grande devoto e defensor da fé católica,
mandou queimar, e m 1521, os escritos de Lutero e escreveu
contra ele um tratado denominado «Sete Sacramentos». Por esta
atitude, o papa atribuiu-lhe o título de «defensor da fé».

Henrique VIII e r a casado c o m Catarina d e Aragão, m a s


apaixonou-se por uma dama da corte, Ana Bolena. A relação
amorosa levou-o a rejeitar a esposa e a solicitar, ao papa, a
declaração d e nulidade d o casamento. O pontífice n ã o l h e
reconhece a nulidade afirmando, assim, a indissolubilidade do
matrimónio. Após várias ameaças ao papa, Henrique VIII, em
• 1531, obriga o parlamento inglês a aprovar várias leis que o
Henrique VIII,
Hans Holbein (1497-1498)
tornam chefe da Igreja de Inglaterra, separada do papa.
43

A Igreja anglicana é a Igreja oficial de Inglaterra e tem, ainda hoje, como


primeiro responsável o rei ou a rainha da Grã-Bretanha, tendo, em questões
religiosas, o arcebispo de Cantuária um papel primordial. No culto, segue de perto
a Igreja católica. É hoje uma federação internacional de Igrejas independentes,
mas em comunhão.

oc_19• l & t k
lho que d o
No final d o século XVI, o mapa religioso da Europa parecia u m espelho
quebrado, deformando a imagem da Igreja. N o norte, o protestantismo
dominava: o luteranismo conquistou dois terços da Alemanha; o Imperador
Carlos V reconheceu, pelo tratado de Augsburgo, em 1555, a existência oficial
de Igrejas e Estados protestantes no império onde os súbditos deveriam acatar
a religião dos seus príncipes. O Catolicismo manteve fortes posições no sul
e no oeste da Alemanha. Os países bálticos e a Escandinávia romperam com
Roma. A Holanda e a Escócia tornaram-se calvinistas. Na França, a par do
catolicismo, uma forte comunidade protestante adoptou o calvinismo. O reino
de Inglaterra identificou-se com a Igreja anglicana. A Irlanda — à excepção do
norte — permaneceu fiel a Roma, assim como a Polónia, a Itália, a Espanha e
Portugal.
Facto relevante para o catolicismo: a Espanha e Portugal — países d e
navegadores f o r a m pioneiros dos descobrimentos e fundadores de impérios,
nos quais os soberanos católicos se comprometiam a converter ao Catolicismo
os povos das terras descobertas.
Adaptado de Pierre Pierrard, História da Igreja
Lef!„N 1 !- ! _! : e l U g ~ víreglIMII
O nome deriva do protesto em
'Católico' significa 'universal'. 'Ortodoxo' significa 'reta doutrina'.
Spira.
Surge com Martinho Lutero,
Comunidade de crentes que tem Éo conjunto das Igrejas cristãs do
no século XVI, e desenvolve-
a sua origem em Jesus Cristo e oriente separadas de Roma desde
-se com Calvin() e outros
nos apóstolos. 1054.
reformadores.
A Bíblia é a única fonte de
Valoriza a Bíblia e a Tradição. Valoriza a Bíblia e a Tradição.
acesso à revelação.
A salvação provém da fé e das obras. A salvação provém da fé e das obras. A salvação provém apenas da fé.
Não há nenhuma autoridade
O papa, sucessor de S. Pedro, Não reconhece o papa como
máxima; cada Igreja é
é o pastor universal e preside pastor universal. O patriarca de
autónoma.
à unidade e à comunhão das Constantinopla é "primeiro entre
Não reconhece o papa como
comunidades. iguais".
pastor universal.
Os padres ou presbíteros e Os pastores não são
O clero é mediador entre Deus e
os bispos são servidores e mediadores entre Deus e as
as pessoas. Apenas os bispos e os
mediadores dos crentes. São pessoas. Todos os cristãos são
monges não podem casar.
celibatários. 'sacerdotes'.
Venera os santos como Venera os santos como Jesus é o único mediador
mediadores entre Deus e as mediadores entre Deus e as entre Deus e as pessoas. Não
pessoas, dando particular pessoas, dando particular veneram os santos nem a
importância à Virgem Maria. importância à Virgem Maria. Virgem Maria.
O centro do culto é a eucaristia.
O centro da vida liturgica é a No culto, sublinha o valor do
Na liturgia há variedade de ritos e
missa (eucaristia) e a celebração anúncio e a escuta da palavra
é particularmente característico o
dos demais sacramentos. de Deus.
uso de ícones (imagens sagradas).
Reconhece sete sacramentos como
sinais visíveis da graça divina:
Reconhece dois sacramentos:
batismo, eucaristia, confirmação, Reconhece os sete sacramentos.
o batismo e a ceia.
reconciliação, ordem, matrimónio
e unção dos enfermos.
45

MARCOS HISTÓRICOS DO CRISTIANISMO


Morte e Ressurreição de Jesus.
Pentecostes.
30-313 E x p a n s ã o do Cristianismo através das viagens
missionárias de Paulo e outros apóstolos.
Perseguição aos cristãos durante o império romano.
Édito de Milão: Constantino decreta o fim das
313
perseguições.
Decreto de Teodósio I: o Cristianismo torna-se a única
380
religião oficial do império.
Queda do império romano do ocidente.
476 O Cristianismo assume um papel relevante na Crucificação,
Donatello (1368-1466)
reorganização dos povos e das nações. [Museu Nacional
de Bargello,
Cisma do oriente: separação das Igrejas católica e Florença, Itália]
1054
ortodoxa.
Cisma do ocidente: um papa em Roma e outro em
1378-1417
Avinhão.

1453 Q u e d a do império romano do oriente.

1517 Lutero inicia a Reforma na Alemanha.

Henrique VIII assume-se como chefe da Igreja


1531
anglicana.

1541 Calvin° introduz a Reforma em Genebra

1545-1563 C o n c í l i o de Trento: reforma da Igreja católica romana.

8. Identifica 3
características
identitárias dos
gR_EN1)1 que o Cristianismo, uma comunidade de crentes em Cristo, é
católicos, ortodoxos
uma fé com vários caminhos: catolicismo, ortodoxia e protestantismo.
e protestantes.
A Bíblia é a fonte e a norma da fé de todos os cristãos: católicos, ortodoxos
e protestantes. É o testemunho escrito da palavra de Deus a todos os discípulos
de Jesus Cristo.

Sendo livro sagrado, a Bíblia inspira as pessoas e os povos a orientarem-se pelos


seus ensinamentos; inspira a oração pessoal e a oração comunitária; inspira a
arte e a sabedoria popular.

Éa Bíblia que nos apresenta a mensagem de Deus e a pessoa de Jesus Cristo.


Os cristãos deixam-se guiar pelos ensinamentos bíblicos em todos os momentos da
sua vida. Com a Bíblia cantam a alegria, pedem perdão pelos erros, entregam-se a
causas nobres a favor das pessoas, sonham e constroem as suas vidas e a vida
das sociedades. A Bíblia é um livro para conhecer, para amar, e para viver.

Xovo
Antigo crestamento
Testamento
27("furos,
46 Livros, escritosdepois da
escritos antes do morteeressureição Jesus.
nascimentodeJesus.
Contémamensagem, ,
Contéma história asaçõeseo destino deJesus
doencontro e da afiança 6entcomoa nova aliança,
de(Deus com como novo povo dDeus.
e
opovode Israel;
47

Organização interna da Bíblia


A Bíblia é u m a coleção d e 7 3 livros, sendo, portanto, u m a autêntica
biblioteca. Tanto judeus (só relativamente ao Antigo Testamento), como cristãos
consideram-na Escrituras Sagradas.

Os livros do Antigo Testamento, na tradição judaica, aparecem agrupados


por ordem de importância:
LEIOUTORNHLPENINTEUE)0),
PROFEINSNNTEPIORES(1-NROS1-USTOPACJOS)
PROFEINSPOSIERIORES(1-NR0SPROPEZOS))
ESC)P-tIOS(1-NP-OSSWENCANIS).
As edições cristãs da Bíblia nem todas mantêm esta ordem.

Os livros do Novo Testamento aparecem agrupados da mesma maneira em


todas as Bíblias, sejam elas da tradição católica, ortodoxa ou protestante:

(U
), PÇTROE\INNEL-HOS,01,UENNP-P-NM \ I % E NMENSNQEMbEJESUS()P-KTO)
1,-NRObOSNTOSbOSNPOSIOLOS,aUENNP-RNONNSCAMENTOE N \IffiN N P O S N
RESSURP-E001)EJESUS.)
IP-ELEEPSTOL_NSOUCARINS0,UE Sk PULOESC)P-E\IEUNSPPAMEgNSC/OMUNIbNI)ES
SETEE/NP-"INSEiNIOL\CASLE\INP-MNUTORES T O L O S OSE;PASITkOS)
EN i P-INNOSIfIREUS)
LNP-0IDONPOWPSE,GUEN;)P-ESENINP-E\IEL-Kik 1)E1)EUS(AMOESENC,)NPNP-NN
HUMNNIbNik.

Antigo Testamento Novo Testamento

Pentateuco (Torah) 5 livros 4 Evangelhos + Atos dos Apóstolos

.
2, 8 <,?,

de
ow6
' 111°

Livros Históricos - 16 livros 13 Cartas de Paulo


Josué Tobite
Juízes Judite
Rute
e e
Ester
-o , , ,
I Samuel = u I Macabeus-#
II Samuel II Macabeus

Livros Sapienc - 7 livros 7 Cartas CatÓli6s + Carta aós Fieb-reirs

Livros Proféticos - 18 livros


°selas Malaquias
Joe!
'4' I Y 3 g 74 13 Amós
2' 5 ' '
gg • § . E
— o Abdias cr - 1 2 • 2 3
z
Jonas Apocalipse
48

Formação do Antigo Testamento


A Bíblia não foi redigida num curto espaço de tempo. Foi fruto de muitos
anos de vivência e relação entre o povo de Israel e Deus e da fixação dessa
experiência por escrito. Antes de terem sido escritos, os textos da Bíblia eram
relatos orais, transmitidos de geração em geração.

Tal como a história d o povo de Israel se desenrolou e m muitos séculos,


também os livros do Antigo Testamento foram escritos ao longo de mais de
mil anos. Nestes textos alude-se aos acontecimentos que marcaram a vida e a
história do povo judeu na sua relação com os outros povos e, especialmente, na
sua relação com Deus.

Foram surgindo da experiência comunitária da fé e da vontade de transmitir


essa experiência religiosa às gerações vindouras.

Formação do Novo Testamento


Os vinte e sete livros que constituem o Novo Testamento foram redigidos ao
longo da segunda metade do século 1.

Os primeiros escritos foram as Cartas de S. Paulo, redigidas na década de 50.


Tendo Jesus morrido por volta do ano 30, verificam-se pelo menos vinte anos de
distância entre os acontecimentos e a sua narração. Foi o período da pregação
oral. Antes de ser fixada por escrito, a Boa Nova foi proclamada, escutada e vivida.

Após a morte de Jesus, os apóstolos começaram a anunciar que Jesus havia


ressuscitado e estava vivo, devido ao poder de Deus. A este anúncio fundador
da fé cristã chama-se o kerigma. A consciência
da presença d e Jesus n o meio deles leva-os
FORMA97k0 DA BÍBLIA
a consfituirem-se u m a comunidade n o v a
afastando-se aos poucos das práticas judaicas.
De Jerusalém rapidamente se difundem pela
Experi:12KcLo,
ae. vido.
Samaria, Gailleia, Ásia Menor, Grécia, Roma...
Atraídas p o r esta mensagem d e esperança, Ret,o,êos oro,i.5
pessoas oriundas de vários povos e culturas 1,• •
integram a s comunidades cristãs. P o r s e r •Fixe&93',0 por e..srLêo
necessário dar formação aos novos discípulos
f, •
Re49a1,o fi,Kod, •
de Cristo, por se tornar urgente a organização
de textos para as celebrações e por estarem
9. Qual é a
centralidade do Novo a desaparecer aqueles que contactaram com •faód.s ck loco o,kkospckro, o AT
Testamento? Jesus, a tradição oral é fixada por escrito: • Cerco, a e 50 o,Kos roxo, o t,1T
nasce, assim, o Novo Testamento.
49

Revelação e inspiração
Os cristãos acreditam que Deus se deu a conhecer na história do povo de
Israel e, de forma definitiva, na pessoa de Jesus de Nazaré. A este processo de
manifestação de Deus à humanidade chama-se 'revelação'. A Bíblia também
faz parte deste processo, pois é nela que encontramos escrita a história da
relação de Deus com a humanidade, através da história do povo de Israel e dos
acontecimentos da vida de Jesus e da sua mensagem salvffica.

Os redatores bíblicos tinham consciência de que


não estavam a escrever uma história qualquer, mas
a história da manifestação de Deus, o salvador e
libertador da humanidade.

Uma vez que a Bíblia contém a história da relação


de Deus com a humanidade, os crentes acreditam
que Deus "assistiu" os escritores sagrados no ato de
escreverem a mensagem que ele queria transmitir.
Esta ação d e Deus junto dos escritores chama-
se 'inspiração'. N u m texto d o Novo Testamento
afirma-se que «toda a Escritura é inspirada p o r
Deus» (2 Tim 3,16).

Cânone( I r k ,k7er
O cânone é a lista de livros considerados sagrados pelas comunidades dos crentes.

No tempo de Jesus, havia dois cânones para a Bíblia judaica (correspondente ao Os textos
deuterocanánicos
Antigo Testamento): o da Palestina, que só aceitava como sagrados textos escritos em
são os seguintes:
hebraico; e o de Alexandria, que incluía também livros escritos em grego. Tobite, Judite, Ester,
Os cristãos aceitaram o cânone alexandrino. P o r isso, hoje, o Antigo Sabedoria, Ben Sira,
Baruc, 12 Livro dos
Testamento usado pela Igreja católica não coincide exatamente com a Bíblia
Macabeus e 22 Livro
hebraica. Os protestantes adotaram o cânone palestino. Um pequeno conjunto dos Macabeus.
de livros, os deuterocanónicos, está integrado nas edições católicas da Bíblia,
mas não nas edições das igrejas da reforma.

O cânone do Novo Testamento é aceite por todas as igrejas cristãs.

g!'P-EN1) q u e a Bíblia é um conjunto de livros que refletem a experiência


de um povo crente. Os cristãos reconhecem na Bíblia a mensagem de
Deus para a humanidade, e usam-na na oração pessoal e da comunidade.
50

A unidade dos crentes em Cristo


Jesus Cristo apresentou uma proposta d e unidade entre todos os seres
humanos e particularmente entre os que o seguiam e amavam. Antes de morrer
deixou como que uma espécie de testamento. São as palavras de um amigo que,
à beira da morte, transmite a sua sabedoria de vida e as suas últimas vontades.

Antes de celebrar a última ceia teve um gesto que marca a ousadia, a beleza e
o desafio de ser pessoa e ser cristão: o lava-pés. A este sinal de serviço acrescenta
o seu apelo de amor: «Amai-vos uns aos outros».

mancfamento novo
'Enquanto celebravam a ceia, Jesus, sabendo perfeitamente que o Pai
tudo lhe pusera nas mãos, e que saíra de Deus e para Deus voltava,
levantou-se da mesa, tirou o manto, tomou uma toalha e atou-a
à cintura. 'Depois deitou água na bacia e começou a lavar os pés aos
discípulos e a enxugá-los com a toalha que atara à cintura.

"Dou-vos um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros; que
vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei. 'Por isto é que todos
conhecerão que sois meus discípulos se vos amardes uns aos outros.»
Jo 13,3-5; 34-35

10. Qual a mensagem


que Jesus transmite
com o lava-pés?
Lava-pés, Giovani Giuliani (1664 - 1744) [Abadia de Heiligenkenz, Áustria]
51

O ponto de referência do mandamento do amor é o próprio Jesus (assim como


eu vos amei»). Amar, à maneira de Jesus, consiste em acolher, em pôr-se ao serviço
dos outros, e m reconhecer-lhes dignidade, sem limites nem discriminação
alguma, respeitando absolutamente a liberdade de cada um. Este amor é a
marca distintiva dos discípulos de Cristo. Na comunidade cristã, na medida em 11. Qual o significado
que é uma comunidade autêntica, não pode haver espaço para ódio, inveja e as implicações do
Mandamento do
ou ciúme. Por isso os cristãos têm, hoje, a missão de procurar a unidade e o Amor?
respeito pelas suas diferenças.

Para que sejam um


"Doravante já não estou no mundo, mas eles estão no mundo, e Eu vou
para ti. Pai santo, Tu que a mim te deste, guarda-os em ti, para serem um
só, como Nós somos! ' N ã o rogo só por eles, mas também por aqueles
que hão de crer em mim, por meio da sua palavra, "-para que todos
sejam um só, como Tu, Pai, estás em mim e Eu em ti; para que assim
eles estejam em Nós e o mundo creia que Tu me enviaste.-'Eu dei-lhes
a glória que tu lhe deste, de modo que sejam um, como Nós somos Um.
"Eu neles e Tu em mim, para que eles cheguem à perfeição da unidade
e assim o mundo reconheça que Tu me enviaste e que os amaste a eles
como a mim.

A Última Ceia, Francesco Bassano (1549-1592)


52

Depois de ter dado aos discípulos as suas últimas recomendações, Jesus


dirigiu-se ao Pai, em quem depositava toda a esperança. Nesta oração, solicita
a presença protetora d e Deus, d e m o d o q u e o s seus discípulos vivam o
? q P, c g mandamento do amor, mantendo a unidade.

A relação entre o Pai e Jesus — relação de profundo amor e ínfima unidade


12. O que é que Jesus — é o modelo da relação entre os elementos das comunidades cristãs. O apelo
pede ao Pai? de Jesus é que os seus discípulos vivam quotidianamente a superação dos seus
próprios limites, até construírem relações duradouras de verdadeira amizade
promovendo a unidade.
Mas,ao olharmos para
ahistória da Igreja cristã, uerigicornos
queas limitações da naturezahumanagorammais
portes do que o apelo de Cristo.Aunidadesogreu uários
graturoa Paraque a uontode de Cristo secumprasó há
umaatitude poss(uel; procurar restabelecer o unidade
perdida ote que o amoruenço
todas as barreiras.

Jesus o único alicerce


l'Peço-vos, irmãos, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, que estejais
todos de acordo e que não haja divisões entre vós; permanecei unidos
num mesmo espírito e num mesmo pensamento. "Pois, meus irmãos, fui
informado que há discórdias entre vós. 'Refiro-me ao facto de cada um
dizer: «Eu sou de Paulo», ou «Eu sou de Apoio», ou «Eu sou de Cefas»,
ou «Eu sou d e Cristo». 'Estará Cristo dividido? Porve'ntura Paulo foi
crucificado por vós? Ou tostes batizados em nome de Paulo?

'Pois, quem é Apoio? Quem é Paulo? Simples servos, por cujo intermédio
abraçastes a fé, e cada um atuou segundo a medida que o Senhor lhe
concedeu. 'Eu plantei, Apoio regou, mas foi Deus quem deu acrescimento.
'Assim, nem o que planta nem .o que rega é alguma coisa, mas só Deus,
que faz crescer.

Apoio era um "Pois ninguém pode pôr um alicerce diferente do que já foi posto: Jesus Cristo.
cristão sábio e
intelectual de 'Portanto, ninguém se glorie nos homens, pois tudo é vosso: "Paulo,
Corinto. Apoio, Cefas, o mundo, a vida, a morte, o presente ou o futuro. Tudo é
Cefas é o nome vosso. ' M a s vós sois de Cristo e Cristo é de Deus.
de São Pedro em
aramaico. 1Cor 1,10-13;3,5-7.11.21-23
53

Depois de, na cidade de Corinto, ter anunciado Cristo e de se ter dirigido para
outros locais, Paulo manteve-se em contacto com a comunidade acompanhando
a sua vida. Os cristãos corínfios eram fervorosos, mas debatiam-se com todos os
problemas resultantes da inserção da mensagem cristã numa cultura diferente
daquela em que tinha sido anunciada originalmente.

Mapa dos lugares-chave na ação missionária de SoPaulo

O Cristianismo corria o perigo de se tornar mais uma escola de sabedoria.


Mas o Cristianismo não é apenas mais uma filosofia de vida ou uma doutrina
que se impõe pelos discursos. O Cristianismo é a adesão a uma pessoa: Jesus
Cristo, o único e verdadeiro mestre. Paulo reage com veemência: é Cristo e só
Cristo a única fonte de salvação. Ser batizado não é aderir à doutrina de um
mestre qualquer, mesmo que seja tão ilustre como Paulo; é estar em comunhão
com Cristo. Dizer que se pertence a Paulo ou a Pedro é, portanto, deturpar p
gravemente a identidade da fé cristã. Fica bem claro que o importante não é
quem batizou ou quem anunciou o Evangelho; o ponto de referência absoluto é
13. 0 que é que
Cristo, do qual os apóstolos são simples e humanos servidores.
São Paulo pede à
Os coríntios de então e os cristãos de hoje são convidados a não fixar a sua comunidade de
Corinto?
atenção em mestres humanos, mas a redescobrir Cristo, morto e ressuscitado
14. Comenta "Jesus
para dar a vida a todos. A comunidade cristã terá de ser uma verdadeira família é o único alicerce".
de irmãos, que recebe de Cristo a vida, a unidade e a comunhão.
54

Todos unidos em Cristo


'Eu, o prisioneiro no Senhor; exorto-vos, pois, a que
procedais de u m modo digno d o chamamento que
recebestes; 'com toda a humildade e mansidão, com
paciência: suportando-vos uns aos outros n o amor,
'esforçando-vos p o r manter a unidade d o Espírito,
mediante o vínculo da paz. 'Há um só Corpo e um só
Espírito, assim como a vossa vocação vos chamou a
uma só esperança; 'um só Senhor; uma só fé, um só
batismo; 'um só Deus e Pai •de todos, que reina sobre
todos, age por todos e permanece em todos.

Este texto, da carta aos Efésios — que Paulo terá escrito na prisão, em
Roma, por volta do ano 62 —, é um apelo aos crentes para que vivam o seu
compromisso com Cristo, promovendo a unidade com os outros membros da
comunidade.

A mensagem cristã exige que os crentes


vivam unidos. Ora, há comportamentos e
atitudes que são condição necessária para
que essa unidade se torne efetiva:

- a modéstia e a humildade, como


caminhos de superação d o egoísmo, d o
orgulho e da autossuficiência que afastam
os irmãos.

- a paciência e a tolerância, que permitem


compreender o outro, com os seus limites
e falhas, e aceitar as diferentes maneiras
de ser e agir.

- o a m o r c o m o suporte d a s relações
humanas.
Paulo na prisão, Rembrandt (1606-1669)

UNME UM DOM'DED
' EUS, !\)g
CAN1111-0 E ESFOKA t CA1DfkM .
55

S. Paulo compara a comunidade dos cristãos ao corpo


humano: «Há um só corpo e um só espírito)). Tal como o
corpo é formado por muitos membros, todos eles diversos,
também a comunidade cristã inclui uma diversidade de
membros. No entanto, o corpo só funciona se todos os
membros colaborarem entre si. O mesmo acontece na
Igreja: a unidade, a complementaridade d e todos o s
membros, o respeito e a cooperação entre todos são
atitudes essenciais à saúde da vida das comunidades. Os
Basílica de São Paulo fora de muros, Roma
cristãos formam uma unidade que se baseia na existência
de uma única fé, um único batismo — sinal de adesão a essa fé —, um único
Senhor — Jesus Cristo — e um único Deus, que é Pai de todos e em todos atua.

A Igreja, querida por Jesus, é uma comunidade de pessoas muito diferentes +7',Rivc4
em termos de etnias, de cultura, de língua, de condição social e económica,
de maneiras d e ser. Estas diferenças n ã o podem s e r interpretadas como
algo negativo, promotor de conflito e divisão. São, pelo contrário, fonte de 15. O que é que
São Paulo pede
enriquecimento para a vida comunitária. A diversidade é um valor que não
à comunidade
anula a unidade e o amor nas relações interpessoais e nas relações entre as de Éteso?
várias igrejas cristãs.

ÉUR-,ENT:
C)00PERREMPROJETOSEMFPNOR',IOSOTROS
ELMNWJULOS,PRI-MIPAS E MES 1-\OSflS
‘ REC)01\11-ECJEROSERROSWSTORICAS
Ki0E-1-ERE KiEllAR NSlA
' FERENCAS
REZAR-

A-pRE_N'D\ que é vontade de Jesus que todos os cristãos vivam unidos


e se respeitem.
O termo 'ecumenismo' provém do vocábulo grego oikouménê, que significa
«terra habitada» ou «casa habitada». Para o Cristianismo o ecumenismo é o
desejo e o caminho que é preciso percorrer para encontrar a unidade perdida
entre os cristãos.
O ecumenismo é a construção de uma família que partilha uma fé comum,
em Jesus Cristo, e onde todos se sintam harmoniosamente valorizados e
respeitados.
Éum movimento promotor da unidade dos cristãos e da vivência da paz.
Éum dinamismo de reconciliação, promovido pelo diálogo entre as diferentes
tradições cristãs.
Enquanto movimento cristão, o ecumenismo fundamenta-se na vontade de
Jesus: «que todos sejam um».
Doei() J i k
9IF/
Movimento Ecuménico
Por «movimento ecuménico» entendem-se as atividades e iniciativas que são
suscitadas e ordenadas no sentido de favorecer a unidade dos cristãos. Tais
são: primeiro, todos os esforços para eliminar palavras, juízos e ações que
não correspondem à condição dos irmãos separados e, por isso, tornam mais
difíceis as relações com eles; depois, o «diálogo» estabelecido entre peritos
competentes, em que cada qual explica mais profundamente a doutrina da sua
Comunhão e apresenta com clareza as suas características. Com este diálogo,
todos adquirem um conhecimento mais verdadeiro e um apreço mais justo da
doutrina e da vida de cada Comunhão. Então, estas Comunhões conseguem
também uma mais ampla colaboração em certas obrigações que a consciência
cristã exige em vista do bem comum. E onde for possível, reúnem-se em oração
unânime.
Excerto de Concílio Vaticano li, Unitatis Redíntegratio, 4
57

O ecumenismo é o esforço d e entendimento, respeito, diálogo e


reconhecimento da dignidade do outro; não é fusão nem anulação.

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A Experiência dos Focolares


O movimento dos focolares foi fundado por Chiara Lubich, em Trento (Itália),
em 1943. Chiara, uma jovem católica com uma vida evangélica totalitária e radical,
encontra no amor de Deus o sentido e o ideal para a sua vida. Esta descoberta foi
uma luz de esperança. Chiara e as suas amigas começaram por dar apoio a quem
mais necessitava: pobres, doentes, feridos e crianças. Tratava-se, portanto, de
amar a Deus através do amor aos irmãos. Este amor fez nascer nela a convicção
da necessidade de construir a unidade entre as pessoas. Para
Chiara, viver a unidade era viver a presença amorosa de Jesus
Cristo. Este estilo de vida despertou a atenção de muitas pessoas
e, desta vontade de viver o amor e a unidade fraterna entre
todos, nasceu o movimento dos focolares. A necessidade da
comunhão da Palavra de vida entre irmãos de várias igrejas faz
surgir as cidadelas: pessoas de diversas condições sociais, faixas
etárias e opções religiosas testemunham a vida do Evangelho
e do amor. Pela sua universalidade e missão, é um movimento
verdadeiramente ecuménico, que muito tem contribuído para
a fraternidade universal vivendo o desejo de Jesus: "Que todos
sejam um". Promove o diálogo constante entre cristãos de
várias Igrejas e com membros de outras religiões.
58

A Comunidade de Santo Egídio


A comunidade católica d e S a n t o Egídio constitui u m
testemunho e m prol d o ecumenismo. Foi fundada e m Roma
pelo professor Andrea Riccardi, e m 1968. Neste ano viveram-
-se tempos d e grandes mudanças n a Europa, m u i t a s delas
protagonizadas por jovens empenhados na construção de um
mundo mais justo, pacífico e fraterno.

A comunidade de Santo Egídio orienta-se por quatro princípios


nos quais encontra o seu fundamento:

(1zP\-C-,iÉ1r0
OPrNOINC)10 O E\INUtELHO
N.TNI(bikAOSP*P-ES
OECAMEMSMOE O'D1.1,-00NTEIR---RE1-2'10S0

Taizé P r i m a v e r a da Comunhão
O papa João XXIII, em 1960, acolheu o irmão Roger com estas palavras: «Oh,
Taizé, essa Primavera». Estas palavras dirigidas pelo líder dos cristãos católicos
a u m pastor protestante significavam a esperança na renovação da vontade
ecuménica.

A vivência do espírito de unidade inicia-se em 1940. No domingo de Páscoa


de 1949, sete jovens protestantes, tocados p e l o testemunho d e Roger e
depois de uma caminhada de encontro e reflexão, decidem comprometer-se
para toda a vida numa entrega a Deus: oração, serviço aos irmãos e partilha
de um estilo de vida simples e humilde. Em 1960, entram para a comunidade
membros da Igreja anglicana; em 1969 entrou o primeiro católico, um jovem
médico. A comunidade não parou de
crescer, contando h o j e c o m irmãos
provenientes de diversos continentes,
nacionalidades e confissões religiosas.

Através da oração, d o serviço, d a


partilha, d o silêncio e d o convívio
fraterno, m u i t o s j o v e n s f a z e m a
expriência d e u n i d a d e e m Ta i z e .
Voltam para suas famílias, escolas e
trabalhos acreditando que a unidade e
a reconciliação são possíveis.
59

Doc.2'
Compro -
— Queres, por amor a Cristo, consagrar-te a ele com todo o teu ser?
Quero.
— Queres realizar, de ora em diante, o serviço de Deus na nossa comunidade,

em comunhão com os teus irmãos?
— Quero.
— Queres renunciar a toda a propriedade e
viver com os teus irmãos, não só na partilha
dos bens materiais, m a s também n a
partilha dos bens espirituais, esforçando-
-te por viver a abertura do coração?
— Quero. (...)
— Queres, reconhecendo sempre Cristo
nos teus irmãos, zelar por eles nos bons
e nos maus dias, n a abundância e na
pobreza, no sofrimento e na alegria?
— Quero.
Irmão Roger, Regra de Taizé

O Concílio Vaticano
Em resposta a um desejo antigo de muitos cristãos católicos, o papa João XXIII
convocou o Concílio Vaticano II com o objetivo de responder às mudanças e exigências
dos tempos modernos e de renovar a Igreja católica nas suas várias dimensões. O
concílio Vaticano II (1962-65), chamado 'ecuménico' por causa da sua dimensão
universal, refletiu sobre a seguinte questão de alcance ecuménico: qual o contributo
dado por cada Igreja para a divisão dos cristãos e o que poderá cada uma fazer em
ordem à reconciliação e unidade? Esta foi uma das tarefas do Concílio: identificar
os obstáculos ao diálogo e à unidade e encontrar caminhos para a reconstrução da
comunhão entre os cristãos.

16. Quais as três


principais tarefas do
Concílio Vaticano
relativamente ao
ecumenismo.
Viver o ecumenismo é trabalhar pela unidade de todos os que reconhecem
Cristo como o fundamento da sua fé. Neste contexto, unidade não significa
uniformidade; não se trata de anular as tradições das diferentes confissões
cristãs e impor aos cristãos de todas as denominações uma única maneira de
viver e celebrar a fé. Isto não seria ecumenismo, mas uniformismo. A unidade
refere-se apenas ao essencial da fé, ao núcleo central do Evangelho de Cristo.
Émuito saudável e de grande importância que não nos deixemos levar por
posições extremistas. A recusa tanto do relativismo como do fundamentalismo é
essencial para a construção de sociedades humanistas, que aceitam a existência
da verdade e a possibilidade de se aceder a esta, mas também consideram que
toda e qualquer posição é relativa porque se encontra marcada pelos limites do
conhecimento humano. Só assim se torna possível o diálogo, a escuta sincera de
opiniões diferentes da nossa, bem como a abertura a novas formas de pensar,
desde que se revelem melhores aproximações à verdade.
Esta consciência está na base do ecumenismo, que significa a busca da
unidade entre as Igrejas cristãs, procurando a superação das divisões. O diálogo
tem diferentes níveis: começa, em primeiro lugar, dentro das fronteiras da própria
Igreja, alarga-se à relação com as outras Igrejas cristãs e, por fim, dirige-se à
relação com as outras religiões, com a finalidade de criar comunidades humanas
fraternas e cooperantes, para além das diferentes perspetivas e opiniões.
Premissa fundamental para a realização do diálogo é o reconhecimento dos
próprios erros. Sem a aceitação dos erros cometidos por cada Igreja, não é
possível estar aberto ao diálogo com as outras Igrejas. Perdoar e pedir perdão
— a que o papa João Paulo II chamou «purificação da memória» — são duas
atitudes complementares e construtivas.
61
onr77 ,,31FT
Todos, na verdade, se professam discípulos do Senhor, mas têm pareceres diversos e caminham
por rumos diferentes, como se o próprio Cristo estivesse dividido. Esta divisão, porém, contradiz
abertamente a vontade de Cristo e é escândalo para o mundo.
Cada qual afirma que o grupo onde ouviu o Evangelho é Igreja sua e de Deus. Quase
todos, se bem que de modo diverso, aspiram a uma Igreja de Deus una e visível, que seja
verdadeiramente universal e enviada ao mundo inteiro, a fim de que o mundo se converta
ao Evangelho e assim seja salvo, para glória de Deus.
Concílio Vaticano 11, Unitatis Redintegratio,

0 A r
. 1 , 'hW • ,

de cot
Devemos promover a formação ecuménica sobre aquilo que nos une e o que ainda nos
divide. A ignorância e a indiferença da própria fé e da fé do próximo são impedimentos
para um verdadeiro ecumenismo.
O ecumenismo progride graças ao intercâmbio d e dons, que não consiste n u m
empobrecimento, mas que constitui um enriquecimento.
Cardeal Walter Kasper (teólogo católico)

Que se pode esperar do diálogo ecuménico? Permitam-me responder a esta questão


com toda a confiança, dizendo que não se trata de um diálogo unilateral, de um diálogo
em que cada um se empenhe em falar mais forte do que os seus interlocutores, sem
querer ouvir os outros. Mas não creio que corramos este risco, pois, a partir do momento
em que duas pessoas começam a dialogar, sabem já que entre elas há algo em comum.
Roger Mehl (teólogo protestante)

O movimento ecuménico depende menos de estruturas estabelecidas do que de pessoas


inspiradas, cristãos jovens e velhos, ricos e pobres, de todas as denominações e culturas,
que acreditam numa Igreja continuamente renovada na sua fé, unidade, missão e serviço.
Conselho Ecuménico das Igrejas

kt,
rdoF ) e ç a m 3 e r e
Reconhecer os desvios do passado serve para despertar as nossas consciências diante
dos compromissos do presente, abrindo a cada um o caminho da conversão. Perdoemos
e peçamos perdão! Enquanto louvamos a Deus, não podemos deixar de reconhecer
as infidelidades ao Evangelho. Pedimos perdão pelas divisões que surgiram entre os
cristãos, pelo uso da violência que alguns deles fizeram no serviço à verdade e pelas
atitudes de desconfiança e de hostilidade às vezes assumidas em relação aos seguidores
de outras religiões.
Ao mesmo tempo, enquanto confessamos as nossas culpas, perdoamos as culpas cometidas
pelos outros em relação a nós. No decurso da história, inúmeras vezes os cristãos sofreram
maus-tratos, prepotências, perseguições por causa da sua fé. Assim como as vítimas dessas
injustiças perdoaram, de igual modo perdoamos também nós.
Homilia do «Dia do Perdão» do papa João Paulo 11, 12 de março de 2000
62
Doc.25 )111
Cristãos rezam há mais
de cem anos ' unidade
A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos tem já um século de
caminho e gerou u m movimento ecuménico notável. A colaboração
entre anglicanos, protestantes, ortodoxos e católicos na preparação e na
celebração desta Semana de Oração tornou-se familiar e apresenta-se
como fruto de uma longa caminhada.
A primeira Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos foi promovida
em 1908, de 18 a 25 de janeiro, pelo americano Paul Wattson, então
sacerdote episcopaliano (anglicano).
"(AMO 1Y)\)\ Ésignificativo que João Paulo Iltenha convidado, repetidas vezes, à purificação
1\\1\À OS\gAkS -940N\N' da memória. Só se contribui para a unidade da Igreja, quando se transmite o
lSLVb,k)
amor de Deus aos outros.
Adaptado de Revista Fátima Missionária, janeiro de 2009

() Ecumenismo j, nem
rnet-hin dr,
Para melhor se perceber esta questão temos de distinguir três dimensões
essenciais no ecumenismo: em primeiro lugar a d o amor, a fraternidade
reencontrada entre os cristãos das várias confissões; em seguida, a dimensão da
verdade, que diz mais respeito ao diálogo teológico; por último, o ecumenismo
da vida, que consiste em aproximar as Igrejas e comunidades eclesiais na sua
vida, percebendo que é mais forte o que nos une do que o que nos divide.
Quanto mais nos aproximarmos de Jesus Cristo e da vida no seu Espírito, mais
nos aproximamos entre nós.
Éimportante estar unidos em causas concretas como a paz ou o acolhimento
do imigrante, o estudo comum da Bíblia, a entreajuda no campo da paz, da
conservação do ambiente, da justiça.
Não nos podemos fechar às surpresas de Deus, que manda homens e mulheres
que destroem os muros...
Adaptado de http://www.ecciesia.pt/

17. Apresenta três


ações concretas •••••••,1

que possas realizar I l l f g R - E - N N que o movimento da unidade dos cristãos e de todos os seres
no dia a dia e que humanos também depende de mim: conhecer a minha identidade religiosa
contribuam para uma e respeitar a dos outros.
vivência ecuménica A escuta, o diálogo, o perdão e a oração são atitudes fundamentais para
de solidariedade. a vivência do ecumenismo.

"GU
\i E_1-1210 SE,ffi V "
io
A idade
Unidade letiva 3
A Liberdade: desejo humano
Liberdade e opção pelo bem
Jogo(s) de influências
Condicionamentos à liberdade
Páscoa: Itinerário de libertação
Amor de Deus e liberdade humana
Dignidade humana e livre escolha
64

-117er 4'
l\tesl-a or)iciacle leiva vais rerlel-ir sobre a liberdade,
O padre 001I-ema essericial a I-oclo o ser humano. 1--,?)r amor da
Maximiliano ficou
l i b e r d a d e , muil-os m o r r e r a m , muil-03 a o e r a m . u serJ-es,
duas semanas
naquela cela
com ceri-eza, o seu apelo, ,ser)l-es riecessiciacie de al9uma
húmida. No dia 14 aul-oriomia e rião ace4as viver complel-amer)l-e depericlekli-e
de agosto de 1941, d o s adoll-os.
quando abriram o -Também para mim a liberdade roi um apelo coril-frwo.
bunker para retirar Ah! Chamo-me Maxithiliano Kolbe. Ntasci emI2'71-1, r)a 12,lór);a. Aos l ano3,
os cadáveres,
rascinado pela Ci9ora de 3. Francisco de A33i3, C r a c l e Crar,ciscar)o.
Maximillano
ainda estava vivo.
Fui esl-uclay paral%ma e, em Icll'Z,del-ermir)aclo a Sek-Vir 03 oul-Yos, rui ordenado
Para o matar, padre.Empe e;-me napublicaçãode livros e jornais e pari-, para o Japão,
administraram-lhe como missionário. O meu o4e[-ivo e r a a j u d a r as pessoas a d e s c o b r i r a ale r i a
uma injeção letal. de viver em prol dos oul-ros.
Em 1987, o papa Re nesses à Polónia, mas a ~lha arilada pária I-iriha sido invadida pelas
João Paulo I-ropas nazis de Hil-leY Deikiu>nciel as ameaças, os crimes e as ir)jus[iças e,
também ele polaco,
por isso, Cui preso e depois levado para o terrível campo de concentração
declarou ao mundo
que o padre de Auschwil-z. e s e 'arilpo da more não éramos I-ral-ados como pessoas: a
Maximiliano era um ronle, o Crio, os -rabalilos Cor çados, as doenças... eram a nossa companhia
santo. Na cerimónia
de canonização mjulho de J71-11,um prisioneiro colise3u;u escapar.. E-si-a ruja siriricava
participou Francisco a m o r t e p a r a d e z p r i s i o n e i r o s . - To d o s s a b í a m o s . p o r c a d a e v a s ã o , d e z
Gajowniczek, pessoas seriam condenadas a morrer de Come e de sede - uma morire
aquele por quem o
e insuportável!
padre Kolbe havia
dado a vida. O comaridar)l-e do campo mandou reormr os prisioneiros e escolheu dez. Um
dos escolhidos r-j•ou: 'Minha pobre mulher e meus ri/1,03,90e os não [-orno a ver.t
!Vagueie momen[-o, senti em mim uma vor4-acie, uni fnipd-o interior cie me
dar de me eril-rear.. e avancei. O comandante 3ril-ou,
- Para! Que 9ueres, porco polaco?
- Quero morrer em ',TI, de uni clesl-es - respondi.
- 12,r9uê? - 1)errou o comavidard-e.
- J á sou velho e não p r e s o p a r a nada. A minha vida não s e r v i r á p a r a

tsI 3rande coisa... 9uero morrer por a9uele 9ue em mulher e riltios.
Vis;velmer)l-e cor)Cuso, o comarKlar)l-e 3ril-oU com Voz rouca:
1. Qual foi o maior - Quem és [-o, porco polaco?
gesto de liberdade de - U01 padre calrólico - respondi.
Maximillano Kolbe? rez-se silencio... por C,M,o comar,ciaril-e ordenou:
2. Identifica os - seja. Vai com eles.
sentimentos que este Caminhámos em direção ao "Bloco da Mo4e. Cu era o úl[-imo."Avay)cei e r,o
gesto de suprema
doação desencadeia
meu coração levava a cerl-eza de t-er dado a vida e a alegria a uma pessoa...
emti. roi para ;330 9ue eu nasci!
A liberdade é condição e característica primeira do ser humano, seja a nível
individual, seja a nível social. Sem liberdade, perdida ou nunca alcançada, o ser
humano não se realiza inteiramente como pessoa.

Liberdade e livre arbítrio


A liberdade (do latim libertas) é a possibilidade de agir sem submissão a
condicionalismos ou constrangimentos e a ausência de coação externa que obrigue
apessoa a agir de determinada maneira. É também a autonomia do ser humano, a
sua independência em relação às forças da natureza e aos demais seres humanos.
Mas ser autónomo não significa viver isolado, abandonado a si mesmo. Faz
parte da natureza humana estabelecer relação com os outros, porque o ser
humano é um ser social. Assim, as opções que cada pessoa toma têm de ter em
conta a relação com os outros, como seres igualmente livres.
A liberdade, dimensão que é exclusiva do ser humano e o distingue dos outros
elementos do reino animal, não é absoluta. Nenhuma pessoa é totalmente
independente nas decisões que toma. Ao vivermos em sociedade, somos
influenciados pelos outros, pelas suas opiniões e maneiras de viver. Para ser
verdadeiramente livre devo ter consciência das decisões que tomo. Às vezes,
por inércia ou influência, não faço as escolhas que deveria fazer. Mas nem por
isso deixo de ser livre.

Podemos não ser totalmente livres de escolher o que nos acontece,


mas, sem dúvida, possuímos a liberdade de decidir a forma como vamos
reagir ao que nos acontece. Por conseguinte, a liberdade implica a
autonomia da pessoa face aos condicionalismos e às circunstâncias.

•,

•••,• \

66

Aquilo a que nos referimos até agora é o livre-arbítrio, a simples capacidade


de agir de forma autónoma, independentemente d o facto de agirmos bem
ou mal. Se fôssemos obrigados a agir de determinada maneira não seríamos
verdadeiramente livres. De facto, quanto menor for o grau de autonomia de
alguém, menor é a sua liberdade e, portanto, a sua responsabilidade pelos atos
que pratica.

Saber Alia
Livre-arbítrio é a faculdade que a pessoa tem de se determinar sem obedecer
a outra regra que não seja a própria vontade. O livre-arbítrio permite escolher
entre o bem e o mal.
O Determinismo é uma teoria acerca do modo como se processa a relação
entre as causas e os efeitos dos fenómenos que observamos na natureza: todo
o acontecimento (B) tem como causa um acontecimento anterior (A), ou seja,
B é consequência inevitável de A. O ser humano, enquanto ser livre, escapa a
esta relação de causa-efeito. Ele é capaz de tomar opções sem que nenhuma
causa, independente da sua vontade, o obrigue a tomá-las.

O bem maior
Na vida social, o conflito entre liberdades é inevitável. Daí a necessidade de
tomar opções a partir de critérios éticos (a escolha do bem). Por isso, a liberdade
responsável é a tomada de decisão em ordem à realização do bem. Decidir-se pelo
bem implica assumir as deliberações tomadas, bem como as suas consequências.

Para os crentes em Deus, a liberdade é uma dádiva divina que deve ser usada
para a dignificação do próprio e dos outros que com ele interagem. Todas as
nossas escolhas devem ter o "carimbo" do Bem.

O "bem maior" é, contudo, a liberdade interior, que não pode ser aprisionada
por nada nem por ninguém, nem por bens materiais, nem por qualquer
VIVA f o r ç a exterior. O "bem maior" é um bem imaterial e invisível que reside
A n a profundidade do nosso coração e que devemos preservar.
19E12°410E/ Sempre que somos capazes de reconhecer aquilo que não nos
deixa ser livres, encontramo-nos no caminho do "bem maior".

A liberdade orientada para o bem


«Quero ser livre». Esta frase é a expressão de um desejo continuamente
repetido e ouvido. Fala-se de liberdade como se esta palavra mágica resolvesse
todos os problemas da humanidade. A história universal é, de certa forma, a
aventura da liberdade: afirmação e procura ou negação e ausência de liberdade.
Povos, grupos e indivíduos lutaram e lutam por fazer da liberdade uma realidade
efetiva que responda aos anseios mais profundos da natureza humana.
67

A liberdade caracteriza-se pela procura d o bem e m cada situação da


existência humana. Desde as ações mais simples às mais complexas, em cada
decisão do dia a dia, a busca que nos inquieta é a de reconhecermos aquilo
que poderá ser melhor para nós e para os outros; quer sejam as pessoas mais
próximas de nós com quem estabelecemos relações de convivência, quer seja
o mundo natural, com o qual nos 'relacionamos' e no qual procuramos deixar
uma marca ecológica. Ainda que o erro e o engano estejam sempre presentes é
a busca e a opção livre pelo bem que dá sentido à existência individual de cada
ser humano, permitindo uma diversidade de projetos, em que cada pessoa se
revê e alcança a felicidade. Há diversas formas de bem, e será essa busca que
nos leva à realização.
O ser humano é livre. Não tem simplesmente liberdade: é liberdade. Isto
significa que é um projeto no ato de se realizar, mas sempre inacabado. Esta
grande aspiração é particularmente vivida na adolescência e na juventude. O
adolescente precisa dos adultos, mas também necessita de se construir e de
voar sem a tutela deles. É um projeto de vida em ação, é uma liberdade que se
exprimenta nos diferentes momentos do quotidiano.

C)oydic,lohonmtos libexdode,
Neste processo de construção da própria vida, surgem condicionamentos,
influências (nem sempre negativas), mas também dificuldades, impedimentos,
obstáculos.
o 011E WER?
Ousa arriscar, vence a apatia, sai da rotina que te aprisiona. És liberdade, és
capaz de ser mais, de voar mais alto. És tu e os teus princípios.., não sejas "mais
um"!
A :;);-1,!-Ilaiz.•--> ai
Era uma vez um camponês que foi à floresta apanhar um pássaro para mantê-
l o cativo em sua casa. Conseguiu capturar uma águia recém-nascida e, em-
bora fosse a rainha de todos os pássaros, pô-la no galinheiro a comer
milho e ração de galinhas.
Passados cinco anos, este homem recebeu a visita de um natu-
ralista que, ao passar junto do galinheiro, exclamou:
—Aquele pássaro não é uma galinha! É uma águia!
—De facto — disse o camponês. É uma águia. Mas eu
criei-a como galinha. Por isso, apesar das asas de quase
três metros, já não é uma águia. Transformou-se em ga-
linha como as outras.
—Não — retorquiu o naturalista. Ela é e será sempre uma
águia. Tem um coração de águia que a fará voar às alturas.
—Não, não — insistiu o camponês. Ela transformou-se em galinha e nunca
voará.
-Então
Tu ésouma
naturalista pegou
águia, já na águia, ergueu-a
que pertences bemàalto
ao céu e não e desafiando-a
terra, disse:
abre as asas e voa!

Mas a águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. E, ao ver as gali-


nhas no chão a comer grãos, pulou para junto delas.
A O camponês comentou:
—Eu disse-lhe, ela é uma simples galinha!
—Não — insistiu o naturalista. Ela é uma águia. E uma águia será sempre uma
águia. Vamos experimentar novamente amanhã.
-NoÁguia, tu és uma
dia seguinte, águia! Abresubiu
o naturalista as asas
come voa!
a águia ao teto da casa e sussurrou-
-lhe:

Mas a águia tornou a pular para o chão.


O camponês sorriu e voltou à carga:
Eu tinha-lhe dito, ela agora é uma galinha!
—Não respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia e há de voar.
No dia seguinte, o naturalista e o camponês pegaram na águia, levaram-na
para fora da cidade, longe das casas, no alto de uma montanha.
O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:
Tu és uma águia, pertences ao céu e não à terra, abre as tuas asas e voa!
A águia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse nova vida. Mas não
voou. Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, para
que seus olhos pudessem encher-se da claridade solar e da vastidão do hori-
zonte. Nesse momento, ela abriu as suas potentes asas, grasnou o típico kau-
3. Identifica, a —kau das águias e ergueu-se, soberana, sobre si mesma. E
partir da história, começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez para
dificuldades à mais alto. Voou... voou.., até confundir-se com o azul
vivência da liberdade. do firmamento...
4. Relaciona Adaptado de Leonardo Boff (teólogo contemporâneo),
Liberdade e desejo A águia e o galinha: uma metáfora da condição humana
de Ser.
69

Mn
i guemé maisescrauo do queaquele
quese julga liuresemo ser.
JohcnnGoethe

Níveis de liberdade
A liberdade é vivida em níveis diferenciados.

a pessoa é livre se puder movimentar-se para


19 nível: Matena o
onde entender e se for capaz disso.

é livre quem tiver possibilidade e quiser


29 nível: interve participar na organização política, cultural e
social da comunidade onde vive.

é livre todo aquele que for capaz de manter


a consciência da sua própria dignidade e de a
391nível: Espiritual usar para criar pensamentos, sentimentos e
emoções, mesmo que a sua liberdade material
e social esteja submetida a grandes restrições.

Os reclusos são muito pouco livres no primeiro nível, mas podem sê-lo no
segundo (embora de forma bastante limitada e controlada) e no terceiro níveis.
Alguém que viva sob uma ditadura verá a sua liberdade muito restringida do
ponto de vista da intervenção social, mas poderá ser livre no terceiro nível.
Na verdade, o terceiro nível é aquele que não nos pode ser retirado por
nenhuma entidade externa. É o último reduto da liberdade humana. É aí,
no interior sagrado da consciência e do sermos pessoas, que reside a nossa
essência humana e a nossa força contra todos os contratempos e contra todas
as opressões e manipulações.
70

Expressões / impressões de liberdade


O ser humano caminha com a liberdade: liberdade sonhada e liberdade
conquistada. A liberdade permite-nos saborear em plenitude os outros bens; por
isso, desejamo-la e exigimos condições para a sua realização.

Sendo um valor tão fundamental na vida humana, a liberdade é tema de


muitos poemas, filmes, esculturas, pinturas e músicas.

A liberdade, enquanto possibilidade de criação de novos percursos, cativa,


encanta e atrai... e, por isso, é, muitas vezes, personificada, como é o caso da
Estátua da liberdade,
Nova Iorque «Estátua da Liberdade», que se encontra na ilha da Liberdade, em Nova Iorque.

Também «o desterrado» ao representar a angústia do exílio, remete para


a liberdade negada e para as consequências que essa negação tem sobre o
espírito humano.

O 25 de abril, dia da Liberdade, feriado nacional em Portugal, comemora


a «revolução dos cravos». Ficou assim conhecida por ter sido uma revolução
relativamente pacífica, na qual não se usou violência exagerada e pelo facto de
os soldados terem enfeitado com cravos os canos das espingardas.

Este acontecimento pôs termo a um regime totalitário (o chamado Estado


O Desterrado,
Soares dos Reis (1847-1889) N o v o ) , no qual as liberdades individuais (liberdade de expressão, de associação,
de intervenção política, etc.) não podiam ser plenamente exercidas.

1111< Pg)P-EN'D, q u e a pessoa é liberdade e que esta só faz sentido quando


- - o r i e n t a d a para o bem.
A consciência moral
Consciência(do latim consciedia, de cum+ média) signgica "comconhecimento", "saber
com","dar-se conta".
Este significado etimológico remete para o conhecimento que o sujeito
tem dos atos que realiza e da restante realidade (dimensão psicológica). Esse
conhecimento existe em função do exercício do pensamento crítico que leva a
pessoa a distinguir o que está bem do que está mal (dimensão moral).
A consciência moral permite julgar as situações e decidir, optando
pelo que está bem e rejeitando o que está mal. Julgar, decidir e
atuar implicam liberdade, entendida como possibilidade d e
escolha. Consciência e liberdade estão infimamente relacionadas;
sem consciência não há liberdade.

heftexoorAio e,owl-ov\omion\oro
A autonomia e a heteronomia são dois conceitos muito
importantes relacionados com a consciência moral.
De acordo com o significado etimológico (auto+nomia = «a
própria lei»), a autonomia refere-se às «normas» que estão inscritas
na consciência da pessoa e que são assumidas pela mesma para
orientar a sua vida. Por sua vez, a heteronomia (hetero+nomia
= «a outra lei») diz respeito às normas que são exteriores à
pessoa e que influenciam as suas ações (o código da estrada,
por exemplo).
72

oc 2
utonomos, r * e s e 1..o s
«Devo salvaguardar os meus valores ou deixar correr e comportar-me como
todos os outros?» Esta é uma pergunta essencial, porque da resposta depende
depois a coragem de escolher certos valores, mesmo que uma pessoa acabe
por se sentir, em parte, isolada ou ridicularizada. Então, compreende-se que a
autonomia é sinónimo de verdadeira liberdade, mas também aparentada com
a atitude de todos aqueles que renunciam a fazer como todos fazem.
Luciano Cian, Nascidos para Voar

O João não toma decisões importantes na sua vida sem consultar o horóscopo. V
Ele acredita que a posição dos astros no céu determina o futuro das pessoas.
Para agir bem, precisa de saber quais as opções que os astros favorecem
naquele momento, para não correr o risco de agir contra-corrente, o que
poderia trazer consequências imprevisíveis.
Ultimamente, foi consultar o horóscopo para saber se deve ou não namorar
com a Catarina. Ele gosta mesmo dela e sente que ela também gosta dele.
Nota-se pela maneira como olham um para o outro. Um certo brilho nos
olhos manifesta a afeição mútua. Quando falam, entendem-se muito bem.
Não têm sempre as mesmas opiniões, mas gostam de ouvir o parecer do
outro e isso fá-los pensar. A sua simples presença transforma o ambiente
perfumando de felicidade cada gesto.
Mas poderia o João tomar uma decisão tão importante sem recorrer ao
horóscopo?
O seu amigo António disse-lhe que ele era tonto. Como é que era possível
dar mais importância a uma criatura que, a troco de dinheiro, lhe iria dar
informações provenientes dos astros, em vez de ouvir a voz do coração?
— Escuta o teu íntimo. Ouve a voz da tua consciência. Não há melhor
conselheiro — disse-lhe o António.
73

A opção pelo bem


Distinguir entre o bem e o mal é ousar a aventura radical de ser livre. Há
atitudes que, podendo ser inicialmente livres, comprometem a liberdade. O
individualismo, o anarquismo e opções fundadas na ausência de informação
não ajudam a estruturar a personalidade.
DOE/D(11411SW.tomado dedecisões
semter emconsideração ossuas
consequênciassobre o uida dos outros.

IG-NORAMCIR:conduz à tomado de
decisõesmuitasuezeserrados, porquese _ I
desconhecea realidadeque está implicado.
.111rT
,
AMUEMO: recuso de todo a regra, comose o indiu(cluoposse
umailha isoladoquenãonecessito de respeitar a liberdade alheio,
11 . 11 . . 1 . 1111 W — r m " - - -

Darmo-nos aos outros e defender grandes causas


é viver a liberdade enquanto valor supremo do ser
humano, porque é a afirmação da dignidade e da beleza
de si próprio e dos demais. O bem realiza-se em valores
como a justiça, a solidariedade, a fraternidade.., que são,
sobretudo, critérios a partir dos quais orientamos a nossa
existência. São os valores que motivam e justificam as
escolhas e as ações: sentimo-nos atraídos por aquilo que
é belo; repugna-nos o que é violento e cruel; seduz-nos o
carinho e a bondade...

"Osfins nõo justificam osmeios"


Viver a liberdade é ser capaz de rejeitar o mal e procurar o bem. Muitas
vezes, alguns valores assumem-se como primeiros pelas condicionantes
temporais (o valor da paz assume-se como fundamental em tempos de guerra).
Para atingirmos um determinado fim ou darmos maior valor a um determinado
objetivo, só porque é algo bom, não nos dá o direito de fazermos tudo para o
atingir. Algo que é bom, só assim permanecerá se trilharmos caminhos de bem
para o alcançar!
Nenhum valor justifica a maldade ou a ausência de bem para com as pessoas!
74

A opção pelo bem implica discernimento e juízo crítico.

Construir-se humanamente é cumprir o dever de ser


pessoa. Não simplesmente o dever prescrito por normas
e leis, mas o dever inscrito na consciência individual. De
acordo com a mensagem cristã, o ser humano pleno só
acontece no ato de amar, de optar por orientar a vida para
o serviço dos outros.

Os animais não são livres porque agem determinados


pelo instinto; p o r isso, n ã o l h e é p e d i d a q u a l q u e r
responsabilidade pelos seus atos. A criança pequena,
porque quase totalmente dependente, também não é responsável pelas suas
ações. O jovem, em processo de afirmação, começa a descobrir que a liberdade
não é fazer tudo o que se quer, mas orientar as escolhas de acordo com a
consciência, única maneira d e construir a própria realização como pessoa.
Apenas na medida em que se é livre é que se pode ser responsabilizado pelas
próprias decisões e ações.

CO Siltto41,o
covkclieko,

CofrkscL6Ado,
13CAtt kDADE. A9Z•1,0

DLsoark"LnoleKko
• c k e aeci.salo Deelsa:o
CoKseciuktActo,s
Volores

Tudoquantoaumenta a liberdade,aumento a responsabilidade.


Uictor

-••••111

f f f l ) E _ N ' r A q u e há diferença entre heteronomia e autonomia e percebo


que para escolher é preciso discernir e fazer uma análise crítica.
Liberdade e manipulação
A comunicação constitui uma das necessidades básicas da vida social. Como
ser sociável, o ser humano evita o isolamento e exprime a sua liberdade pessoal
pelo ato comunicativo. O acesso à palavra, falada e escrita, funcionou como
motor do processo de hominização e marcou o progresso da humanidade
porque possibilitou e estreitou as relações entre povos e culturas.
O ser humano, por outro lado, é manipulável, sujeito à tutela das realidades
em que vive. Isto explica a existência de várias áreas onde a manipulação
exerce o seu poder de atuação. Associada à capacidade de comunicação e
relacionamento do ser humano, a manipulação, com diferentes nomes e de
uma forma mais ou menos consciente, tem acompanhado a humanidade ao
longo do seu percurso histórico.

Oque é a monipuloç'õo?
A manipulação consiste em privar alguém da sua liberdade, usando
estratégias que escondem a verdade, a fim de conduzir a pessoa a assumir uma
opinião ou a adotar um comportamento desejado pelo manipulador. Manipular
é construir no outro uma imagem não verdadeira do real, com aparência de
autenticidade.

As ações manipulatórias são violentas porque privam de liberdade quem


lhes é submetido. Para que funcione, contudo, é necessário que as estratégias
de manipulação estejam mascaradas, de forma a iludir os destinatários. Assim,
a manipulação condiciona a liberdade e a dignidade pessoais porque constrói
uma mensagem baseada na mentira ou, pelo menos, na ocultação deliberada
da verdade.
76
Doc.24
rP-•
A grande relutância em admitir que a manipulação está de facto presente à
nossa volta resulta de não ser nada fácil uma pessoa confessar que é, ou foi,
manipulada. A primeira fase de qualquer manipulação consiste, precisamente,
em convencer o interlocutor de que é livre. Numa escala muito maior, a nossa
sociedade difunde atualmente a ideia de que as pessoas de hoje são livres
(a publicidade serve-se amplamente desta mensagem) apesar de todas as
tentativas de influência que explicitamente as alvejam.
Philippe Breton, A Palavra manipulada

A manipulação é u m a f o r m a d e
desumanização, pois afeta a dignidade da
pessoa, manobrada como u m objeto nas
mãos do manipulador. Este pode ser uma
pessoa, u m a música, u m a publicidade,
uma organização ou uma corrente política.
Uma característica do ato manipulador é a
intenção de criar, nas pessoas manipuladas,
a falsa convicção de que tomaram decisões
livres, racionais e conscientes.

Publicidadee propagando
A publicidade e a propaganda n ã o u s a m necessariamente técnicas
manipulatórias. Tanto uma como outra pretendem influenciar o comportamento
e as escolhas alheias. Mas para haver manipulação é necessário que se falte à
verdade. Se forem usadas como instrumentos de manipulação, podem provocar
efeitos extremamente negativos nas consciências e n o comportamento das
pessoas. Neste caso são, com certeza, dois obstáculos à liberdade.

No princípio do século XX, a retórica, como arte de convencer, adquiriu novos


contornos quando aplicada a técnicas publicitárias. A publicidade nasceu com
A retórica é a mais objetivos essencialmente comerciais. As preocupações dos meios industriais
antiga disciplina que
voltaram-se não só para a produção, mas também e sobretudo para a venda.
se debruça sobre o
uso da linguagem. É A publicidade tinha como missão dar a conhecer às populações os produtos
a arte da eloquência e mobilizá-las para adquiri-los. A publicidade é
a rgumentativa, um dos meios mais requisitados para atingir fins l i e e m e e m " . . - » ~ - 1 1
tendo em vista
comerciais e mesmo políticos.
persuadir o público
de que uma opinião Mais recentemente, evoluiu p a r a formas
é preferível a outra. extremamente elaboradas e complexas.
77

Atualmente, d o m i n a t o d o s o s espaços públicos,


fazendo chegar de forma eficaz a sua mensagem às
grandes massas através dos jornais, da rádio, do cinema,
da televisão, da intemet, dos telemóveis. Influenciar
o maior número possível d e pessoas n o sentido d e
despertar nelas a necessidade de aquisição de bens e
produtos, estimular o voto num determinado partido
ou pessoa ( n o campo da política) o u provocar u m
comportamento são objetivos da publicidade.

A propaganda, e n q u a n t o técnica
manipulatória, serve-se d e diversificadas
formas d e pressão para impedir o juízo
crítico d o s recetores e convencê-los a
aderir a determinadas visões do mundo.
Um d o s recursos m a i s utilizados e
conhecidos encontra-se s o b r e t u d o n a
política, através da organização de grandes
concentrações de massas; as marchas, as
músicas, as coreografias e as luzes apelam ao sentimento colefivo de pertença
e obscurecem o uso da inteligência individual.

Doc.-m)
'«,,"%r• d r % r 1 - 3Iw
Consoante a sua área de atuação e respetiva intenção, poderemos falar de
diferentes tipos de manipulação:
— E m r a z ã o d o s u j e i t o manipulador: manipulação individual o u
institucionalizada, conforme se trate de um indivíduo ou de uma instituição
(sociedade, cultura, grupo social, nação, partido, associação) que procura
manipular a liberdade dos demais;
— Em razão do sujeito manipulado: manipulação pessoal, social ou ambiental,
conforme se procure controlar a liberdade da pessoa, do grupo social, ou do
meio ambiente em que se vive;
— Em razão do modo como se realiza: manipulação mediata ou imediata,
consciente ou inconsciente, vulgar ou científica (manipulação genética, por
5 Indica alguns dos
exemplo);
tipos de manipulação,
— Em razão dos meios empregues para a manipulação: manipulação somática,
tendo em conta:
psicológica, social ou cultural, conforme os condicionamentos que podem ter a) o sujeito
influência sobre a liberdade a partir do corpo (medicamentos, operações, manipulador;
transplantes, drogas, etc.), a partir do espírito (métodos psicológicos) ou do to) o sujeito
meio sociocultural (educação, meios de comunicação social, grupo, família, manipulado;
ideologia, utopias, etc.). c) os meios
Adaptado de http://eumatil.vilabotuol.com.br/manipulacao.htm empregados.
78

Libertar-se da manipulação
A pessoa n ã o pode ser usada c o m o u m objeto. Pode manipular-se o
telemóvel, a bola ou a esferográfica, mas não se pode usar as pessoas. Tratar
as pessoas como objetos para atingir determinados fins, através de técnicas
manipulatórias, significa diminuí-las na sua dignidade.

Sem t o m a r consciência d i s s o ,
a liberdade individual p o d e s e r
manipulada, s e a pessoa n ã o s e
precaver. O a n t í d o t o p a r a e s t e
mal é o olhar crítico às mensagens
veiculadas. Duvidar da veracidade do
que é transmitido pela publicidade
só pode ser um sinal de inteligência!

Doc_31
Quando as fotos
contam u ) 0 v e r d a d e »
Desde que existem imagens, elas são manipuladas.
6. Atividade de Atualmente esse trabalho é facilitado com o surgimento de software especial.
grupo. Escolhe um As máquinas fotográficas também se desenvolveram e hoje oferecem recursos
anúncio publicitário nunca imaginados antes.
e faz a sua análise Uma favela dos subúrbios de S. Paulo (Brasil) pode ser facilmente ocultada.
crítica. Menciona A foto manipulada mostra apenas os bairros da cidade onde não se revelam
os mecanismos os sinais de pobreza extrema. O enquadramento da imagem pode modificar
usados para exercer
radicalmente a mensagem. Só a imagem completa, não manipulada, se
influência sobre a
aproxima da verdade, pondo em evidência os contrastes sociais.
vontade com vista à
Adaptado de Christian Raeflaub, in http://wwwswissinfach/por
aquisição do produto.
79
Dor -;7

Obst ' -s
MO, " I , " M I , 1 1 1 . • •

31g,:v
Todos estamos sujeitos a um duplo condicionamento: externo (proveniente
do ambiente e do grupo, que impõe determinadas condições e coações, regras
e possibilidades) e interno (proveniente das opções livres que cada um faz,
das relações com as pessoas de quem se depende de algum modo, do próprio
carácter, etc.).
Os condicionamentos externos são devidos a muitos fatores:
1. De tipo económico — para satisfazer certas necessidades são necessários
recursos: podem-se ter poucos ou muitos;
2. De tipo material — toda a pessoa tem necessidade de coisas concretas para
viver: uma casa, um emprego, assistência social...;
3. De tipo social — nasce-se e cresce-se num contexto que tem as suas regras,
hábitos, tradições, que podem ser limitativos da liberdade de escolha, de ação,
de educação;
4. De tipo publicitário — muitas maneiras de viver são influenciadas pelos
mass media, pela informação, pela publicidade massificante.
Os condicionamentos internos estão ligados, pelo contrário, à hereditariedade,
ao tipo de evolução psicológica, afetiva, espiritual e física de cada um; e ao
grau de liberdade de decisão alcançado nas diversas fases da idade [...].
Adaptado de Luciano Cian, Nascidos para Voar

NPREM)k que estamos expostos constantemente a vários tipos de


influências, pelo que d e v o redobrar a minha atenção para não ser
vítima de manipulações que não desejo e alertar os meus amigos para
se manterem livres.
A liberdade já não passa por aqui, Luiz Morgadinho (pintor contemporâneo)

Quando a liberdade se autodestrói


Quando pensamos na palavra liberdade, a primeira ideia que nos ocorre é
«fazer o que nos apetece». Se entendermos a liberdade desta maneira, ficamos
enredados em problemas! A liberdade converte-se, assim, em libertinagem e
capricho. Pelo contrário, a liberdade está orientada para o bem, o qual nem
sempre coincide com o que nos apetece fazer.

Quando caímos nas malhas do capricho, percorremos um caminho que, mais


cedo ou mais tarde, levará ao insucesso, ao fracasso e à desilusão. Várias vezes
usamos o argumento de que somos livres, de que ninguém nos pode dizer o que
devemos fazer, para justificar a nossa apatia e desinteresse pelo trabalho e pelo
estudo. Mas apatia e desinteresse são exatamente o contrário de liberdade criadora!

- - . . ~ E m e m e m e e 111111111 São muitas as pessoas que, diariamente, violam a liberdade


dos outros, escravizando-os ou instrumentalizando-os. Algumas
identificam a liberdade com independência em relação a
qualquer responsabilidade e obrigação (social, familiar ou
escolar) ou até mesmo em relação a critérios e valores éticos.

MNSSERNESNNNUI-NTK)N1,,E•R'DNI)E
PELN0,\ÂNL,\INLEN'ENNLV1-NP-?
Seremos tanto mais livres quanto mais nos libertarmos de
tudo o que nos impede de sermos autenticamente humanos.
Isto implica uma aprendizagem contínua e progressiva.
81

Dependências
que escravizam a pessoa
Doc.33,4
r [ W S 7as
1. O tabaco
Um em cada dois fumadores, que inicie o consumo na adolescência e fume ao
longo da vida, morre devido a uma doença provocada pelo tabaco.
A exposição ao fumo ambiental do tabaco está associada a um aumento do
risco de cancro do pulmão, de doenças cardiovasculares e respiratórias nos
não fumadores expostos.
O consumo de tabaco na infância e na adolescência tem consequências
imediatas. É lesivo para a maturação e função pulmonares e diminui o
rendimento físico.

2. O álcool Fumar
O álcool aumenta, de forma diretamente proporcional, o risco de acidentes e mata
de problemas sociais.
O álcool perturba a aptidão do condutor
pelas alterações que causa a nível de
atitudes, comportamentos, reflexos,
atenção, raciocínio, capacidade d e
recolha de informação e velocidade no
tratamento da mesma. Estas alterações
t traduzem-se muitas vezes em atitudes
erradas e perigosas, n a euforia d a
velocidade, nas manobras perigosas
de que são exemplo as ultrapassagens
mal calculadas.
As repercussões familiares e sociais são
altamente importantes: conflituosidade
familiar; perturbações laborais
(baixas frequentes, faltas, conflitos, diminuição de rendimento,
sinistralidade...); complicações sociais e problemas c o m a
justiça.
A família d o doente alcoólico é u m a família doente,
emocional e afetivamente. A rutura na comunicação surge
rapidamente. São também muito frequentes os divórcios e
a violência doméstica.
Em geral, os efeitos do álcool são extremamente negativos:
mudanças bruscas d e comportamento (irritabilidade,
explosividade, desinteresse, etc.); menor aptidão para o
desempenho da atividade profissional; desmotivação para o
trabalho; fadiga mais frequente; negligência na higiene pessoal e
no vestuário; esperança devida diminuída com uma morte prematura.
Adaptado de Daniel Sampaio et ai, Consumo de Substâncias Psicootivas e Prevenção em Meio Escolar
82

Há sempre novas formas de dependência. Hoje, podemos referir a playstation


ou certos programas televisivos ou, mais grave ainda, as bebidas alcoólicas ou
os narcóticos. Sob os efeitos delirantes dos estupefacientes ou do álcool, faz-se
aquilo que normalmente não se faria. Na realidade, a sensação de libertação
que se sente é uma ilusão, pois a insatisfação permanece ou aumenta logo
que passa o seu efeito. Não só se volta ao estado anterior com o qual não se
aprendeu a conviver, como a pessoa se afunda cada vez mais num vício que a
sequestra e aprisiona.
Também não é raro que as pessoas se deixem escravizar pelas coisas, pelos
objetos que julgavam trazer-lhes liberdade. É o caso de muitos jovens que pensam
encontrar a sua libertação na moda, na busca permanente da última versão de
um jogo, do último computador, mas o que realmente encontram é a frustração.
Acabam por descobrir, afinal, que essa liberdade não passa de uma miragem e
rapidamente se transforma em escravidão. Deixam de ser eles a comandar as suas
atitudes e opções e passam a ser as coisas a orientar as suas decisões! Quando tal
acontece, as coisas deixam de existir em função das pessoas; são as pessoas que
passam a existir em função das coisas!

ÉPRECASOESTiYzNLEP-Ti'r E NO DHXNRGUE OUSODNNOSSN1_,ERDNDE


SE\IOLTÉ_CMNTP E L PRÓW1Pr. 1.1E_P-DDE É UM,RNINDEDOM,MASPODE
NUTODESIlzWR-SE,SE NOESTNERMOSNTENTOSE \IZ-NNIES•
Doc.311
fiar rin 1-aralorrtévuoi
Partindo de estudos e análises comportamentais, pode concluir-se que existem
várias tipologias de dependência ligadas a diversos fatores:
1. Os dependentes do SMS — têm necessidade contínua de enviar e receber
mensagens de texto;
2. Os dependentes do novo modelo — são aqueles que compram continuamente
novos modelos de telemóvel;
3. Ds «exibicionistas» do telemóvel d ã o grande importância à core ao design,
para além do preço. Andam sempre com o telemóvel na mão, mostrando aos
outros as funções do seu aparelho;
4. Os «game players» — transformam o telemóvel numa consola. Jogam
muito, com muita frequência e têm dificuldade em abandonar o jogo antes de
alcançarem um novo recorde;
5. Os afetados pelo Síndrome do Telemóvel Ligado (STL) têm um
verdadeiro horror do telemóvel descarregado ou desligado.
Uma pessoa que sofra de dependência do telemóvel e, por isso,
alimente uma necessidade forçada de comunicação contínua,
deveria diminuir gradualmente o seu uso: inicialmente poderia
começar por tê-lo desligado durante algumas horas por dia,
depois iria aumentando o número de horas, até poder controlar a
sua ansiedade da espera.
Adaptado de César Guerreschi, As Novas Dependências
83

YUF£I\IDÉNCIAS

POR-NEfkD
' ER-MOSROSCO
i MPOTPÇMENTO SE)C)?
PELA'WESSk ,WUPOS?
PEIA1)F\C/Un'D'E E\)\P-ENUNCig P \ i R ?
PEIA-gAS'ENCA1)E WOJETO \ n P r ?

Há jovens que, na ânsia de serem livres, se lançam numa desenfreada procura


de toda a espécie de prazeres, porque, dizem, «só assim se sentem felizes». A
verdade é que confundem felicidade com o simples prazer. Sem menosprezar o
valor do prazer na vida humana, é essencial distinguir felicidade e prazer. Este
corresponde a estados passageiros de bem-estar que rapidamente desaparecem
e, se aliados a comportamentos de risco, podem conduzir a pessoa a um abismo
sem retorno. A felicidade, pelo contrário, é um estado mais permanente e não
se circunscreve ao imediato.
Experimentamos felicidade quando nos sacrificamos
por alguém que amamos e há um "prazer" nessa
experiência. No momento em que ficamos reféns do
simples prazer, somos menos livres e, por consequência,
menos felizes. A questão é saber se o que dirige o nosso
comportamento livre é a busca do prazer imediato ou
algo mais duradouro e consistente.
84

O grave problema social do tráfico de droga


Todos os dias nos chegam notícias de pessoas apanhadas no tráfico de droga,
colocando em risco a sua própria saúde e as relações construídas com as pessoas
à sua volta f a m i l i a r e s e amigos.

O tráfico de drogas começou a expandir-se a partir da década de 1970, tendo-


-se desenvolvido devido à crise económica mundial. O narcotráfico acontece
à escala global, desde o cultivo, em vários países, de vários tipos de droga até
ao seu consumo, um pouco por todo o mundo. O valor da droga, no mercado
negro, atinge preços altíssimos.
O tráfico surge da ilegalidade das drogas e a mesma ilegalidade acarreta
importantes consequências sociais: crime, violência, corrupção, marginalidade,
- além de taxas maiores de intoxicação por produtos químicos adulterantes.
Adaptado de http://pt.wikipedia.org/wiki/Narcotr%C3%Alfico

A produção e o tráfico de drogas são atos profunda-


mente desumanos, escandalosos e imorais. O tráfico
Gs4'í& d e s m u x ‘ t e X a de drogas atenta contra o bem dos outros (vai con-
de ttá£l'ico Xe,z),
opet,g, e x ‘ c a m - s , \ , , ) , eU,Nx,
tribuir para destruir a vida e a dignidade de muitas
C011NISSW0 e t t 3 t ) ,•Xe,
r ) d e t e l i g ã o x ‘ 0 , . , ‘Ne...,,SwaS. , pessoas) e contra o próprio bem (constrói a sua
1,kov e pessoas ,,,n..vs,;)e.:\v,s 2•.%%,NZ: •,s
tráf‘co (Xe, estavzk'az\eyazs 5«o.ma‘,5.:'• vida à custa do mal dos outros e isso não o pode
1Nasequêl-tcÁa cï buszas
COMUI<XC2SX0, a Cir\'4,W a&waNKNa, • deixar ser feliz). A vontade (ou a necessidade)
têxrt .‘daàes ex-ktte, os-2SN z Qs€S
d e tuTka 0 Z . 2 4 k 0 ZtALIN<NXVZ,S2,.., (kk‘t. de organizar a vida económica não pode
váf‘cod e estxwe£2,e'Neies».
ser a qualquer preço. O tráfico e a venda
Ddoe saec: ?eaSkUC3'9.?°x‘t2'Nrs
3-73 de coc2.:vc‘2,1\-xexek(*,:2_ d % e s de, \\,ex\‘\.%.,%% de drogas ofende a vida e a dignidade
UNI2L O N V a S (),e, daqueles que (por tantas razões) a vão
-t,4a O p e t a g 7 a 0 £0v&m.k2st-x\z*xx-x
p O Y CO'N\N2, O t ó . e X ‘ 2 4 0 'W,\Ce,•C‘‘.%.\ ZÇ,Q,•ÇZ.'ÇÇVT~-0\'?!,,S consumir. A "liberdade" d e vender
u a t t o etk,x\q,s \NNeXVZYÇQ,, %).e, ko~ex\e„%.\.\\%...?,..%
• - dc,'0\,es7z,Q, •e,,C<N.%.‘-‘Q.,' Nçs\e,\\.% não respeita a responsabilidade
• q u e todos devemos t e r p r
pata a Covmssa um explorar e ut om- o
•\
\\Kx\-%
C,V• C,l) • dos H
•-"&o, zoo
aproveitamento da fraqueza,
r•x•ND\xx\z,\ Co.-çxaxza
N.5f0-5\\VWes Ce,x\-*,.\\t•s:~2;\ vício e instabilidade d o s
LeVv&,à,?,‘3•4?,Az,è,:\-•Ç‘\•z;ç\itç\z•Çè
' ••'è,S•5••%- outros e, por isso, é uma
ação imoral e, aos olhos
'ú‘.):‘(\<à&
C,00 de u m crente verda-
deiro, é pecado porque
não respeita o outro, que
,330ts"ll' é imagem e semelhança de
Deus.
1
A
f&I
85
Doe
Não podemos ignorar que, nas cidades, facilmente se desenvolve o tráfico--
de drogas e de pessoas, o abuso e a exploração de menores, o abandono
de idosos e doentes, várias formas d e corrupção e crime. A o mesmo
tempo, o que poderia ser um precioso espaço de encontro e solidariedade,
transforma-se muitas vezes num lugar de desconfiança mútua. As casas e os
bairros constroem-se mais para isolar e proteger do que para unir e integrar.
A proclamação do Evangelho será uma base para restabelecer a dignidade da
vida humana nestes contextos, porque Jesus quer derramar nas cidades vida
em abundância (cf. Jo 10,10).
Papa Francisco, Evangelli Goudium, 75

Há tantas situações no Brasil e no mundo que reclamam atenção, cuidado,


amor, como a luta contra a dependência química. Frequentemente, porém, nas 7. Procura uma
nossas sociedades, o que prevalece é o egoísmo. São tantos os "mercadores de notícia que relate
casos de dependência
morte" que seguem a lógica do poder e do dinheiro a todo o custo! A chaga
e resume o seu
do tráfico de drogas, que favorece a violência e que semeia a dor e a morte,
conteúdo.
exige da inteira sociedade um ato de coragem. Não é deixando livre o uso
das drogas que se conseguirá reduzir a difusão e a influência da dependência 8. Propõe atitudes,
química. É necessário enfrentar os problemas que estão na raiz do uso das comportamentos e
drogas, promovendo uma maior justiça, educando os jovens para os valores formas alternativas
de vida que afastem
que constroem a vida comum, acompanhando quem está em dificuldade e
os jovens das
dando esperança no futuro. Precisamos todos de olhar o outro com os olhos
dependências, com
de amor de Cristo, aprender a abraçar quem passa necessidade, para expressar vista ao exercício
solidariedade, afeto e amor. pleno da sua
Papa Francisco - Rio de Janeiro, 24 de julho de 2013 liberdade.

A minha liberdade manifesta-se no bem que provoco no outro. Se o meu


gesto, as minhas escolhas causam no outro injustiça, violência, dependência,
vida infeliz.., então não sou livre, não vivo em liberdade. A minha liberdade devo
confrontá-la, na minha consciência, com a responsabilidade e a verdade. Se o
que quero fazer, ou faço, não faz bem ao outro, não é liberdade.

Pellsei e, eni
côrhsciêylcia, decidi
O agir segundo valores fundamentados h ã o d a Y ;n1p0441y)cia a
e,s3e36oal-o3.
A palavra «consciência» é empregue n u m a
relação direta com o sujeito implicado, reforçando -Ter)3cor)3ciêr)cia
a ideia de que este decide e atua segundo um 9ue est-á3
aCazeY?
determinado grau de conhecimento.
86

Duas amigas de longa data conheceram u m rapaz e com ele


desenvolveram uma grande amizade. Com o passar do tempo, uma
delas inicia namoro com ele. O amor pairava no ar e, cegos pela
força da paixão, faltaram a várias aulas para estarem juntos sem
se preocuparem com as consequências do seu comportamento:
as aprendizagens não realizadas, as avaliações negativas, o futuro
profissional comprometido, a tristeza dos pais...
Também a amiga destes "românticos namorados" desejava faltar
às aulas para ir ter com o seu namorado, mas, consciente das consequências
das faltas injustificadas, não o fez. Afinal, a sua vida futura estava em boa parte
dependente dos resultados obtidos na escola.
A situação do par de namorados agravou-se de tal maneira que a amiga, numa
conversa privada, tomou a iniciativa de os chamar à razão. Perguntou-lhes: Têm
consciência do que estão afazer?

A pergunta Tens consciência do que estás a fazer? remete para a noção de


responsabilidade. Se a pessoa é, de facto, livre torna-se responsável pelos seus
atos. Esta responsabilidade é assumida pela consciência moral tanto do indivíduo
como do grupo social em que se está inserido e com o qual se partilham os
mesmos valores.
Somos pessoas morais, isto é, seres livres, capazes de distinguir o bem do mal
e de agir em função dessa capacidade. Somos responsáveis pelas nossas decisões
e pelos nossos comportamentos e atitudes, bem como pelas suas consequências.
Piopçãoreligioso dopessooimplico o uidosegundoprincípios e uolores.
O respeito por cada ser humano é fundamental. Permitir que a vida seja
aprisionada e destruída é ir contra a vontade de Deus que quer a felicidade de todos.

O caminho que trilhamos não nos diz respeito apenas a nós; tem repercussão
sobre a felicidade dos outros que connosco convivem. Somos responsáveis por nós
próprios, mas também pelos outros. Esta consciência deve ser motivo de reflexão
quando decidimos atuar de determinada maneira. Há pessoas que encontram na
fé e na religião um sentido para a vida e pautam a sua existência pela prática do
bem. A religião tem a virtude de levar as pessoas a pautar as suas opções de vida
por princípios e valores em favor dos outros. A vivência desses valores espelha-se
no olhar, atenção e ação que cada uma dessas pessoas exerce no relacionamento
diário com os outros. Olhando com atenção, verificamos a felicidade que sentem
e a paz que transmitem aos outros. São testemunhos de vidas com sentido.

I r g 1 : 2 . - E M ) 1 que a liberdade, apesar d o enorme poder que acarreta,


é algo frágil e que, por isso, deve ser sempre conjugada com valores
fundamentados.
Ressurreição de Jesus, Centro Aletti [Catedral de S. Sebastião. Bratislava, Eslováquia]

O Deus dos cristãos


é um Deus libertador
A palavra 'pasma' (do hebraico, pessach) significa «passagem». Para os
judeus, a Páscoa é a festa que celebra a passagem da escravidão a que estavam
sujeitos no Egito à liberdade conquistada, através da presença de Deus e da
atuação de Moisés. Para os cristãos é a celebração do sofrimento, morte e
ressurreição de Jesus Cristo. Do ponto de vista pessoal, é a passagem efetuada
por cada crente rumo a uma vida em liberdade, a uma vida sempre nova.

Qualquer q u e seja o s e u significado,


'Páscoa' implica sempre a noção de liberdade.
Liberdade negada, na escravidão sociopolítica
or
dos judeus sob o jugo dos egípcios e na morte
de Jesus; liberdade afirmada e reconquistada,
no êxodo dos israelitas em direção à Terra A Páscoa cristã
celebra-se sempre
Prometida, uma terra de sonho («onde corre
no primeiro
leite e mel», ou seja, onde há todos os bens domingo depois
em abundância) e na ressurreição de Jesus do plenilúnio (lua
pela ação de Deus, que é mais forte do que cheia) que ocorrer
imediatamente a
a morte.
seguir ao equinócio
O Deus bíblico q u e r a liberdade e a da primavera (21
vida e recusa a escravidão e a morte. Ele de março). Nunca
é antes de 22 de
é o Deus da vida e da liberdade e foi para
íZtk março nem depois
Passagem do Mar'Vermelho, a vida e para a liberdade que criou o ser de 25 de abril.
Nicholas Verdun (1130-1205)
humano.
88


Moisés e a libertação do Egito,
a Páscoa judaica
, 4 " 3 a e rrl
o s sue, por volta cio a o J•2_Wa.C.,

liereus cor)seuirani sa,Y do E3,1-0. Quer
coar-ar-r)03 coricrei-aniel,91-e o sue ,se passou2}

klessa ali-ura já 03 deScencleyli-e3 de Israel viviam r)o i L havia sual•ro séculos.


Mas, inos611-;01031-enipo3, eram oprimi-c/03 pelos ey.pcso3. Foi er)i-ão sue Deus
ir)i-erveio a Cavardo3eupovoconCiando-me a01i33ãode o Ii6erl-ar doE-340.

e . . é sue perceLe
gueDeu3iJieconCiou
e33a0;33ão7

i\faoCo;nadaCacil...eu nunca1-iv-Jia
ouvido a voz deDeu3 econCe33o
c r i e a r l d e ; 0513 ' e n , i p o s

6arailiado3emcompreender o gue
se esl-ava a passar Mas pouco a
pouco rui inl-erprear)clo 03 C0i303 sue ,
acorJ-eci.ani e, a cerl-a
-se aL.,solul-anierli-e claro 9ue Deus
corava comi3o para li.er[ar Israel.
,
Conl-e-nos enl-ão como aconteceu 89
esse processo de 1,1-,ertação.

Fui I-er com o raraó e pedi-lhe 9ue deixasse ir emI,Lerclade


osmeus irmãos liei,reus. Mas ele, nãoSOnão atendeu ao
meupedido, como ainda oy,•30u o povo a I-raLdhar mais.
Depois, soY3iram uma série de catástrores nal-uras rio E3ii-o,
nas 9uais odos reconheceram a Corça cie Deus a atuar para
olwijar o raraó a deixar o povo de Israel ir emLLerdade.
Emconse9uência disso, o Carad deu-nos aul-orização para
sairmos; mas, loco a se3uir arrependeu-se. E riO3 tivemos
de Cuir O exérc,>6 ejfpcio perseyiu-nos para nos impediY
de sairmos daguela terra onde éramos oprimidos. Deus Cez
com gUe COr)Ser'SSeMOS a t r a v e s s a r o M a r Vermelho a pé

enxul-o e os ej;pcios já não puderam alcançar-nos. Este


acontecimento ( a passar), da escravidão à lil)erdade)
roi de al Cov-oiamarcante na vida colet;va 9ue passou a
ser cele6rado anualmente, como memorial da presença
I,Lertadora de Deus.

Em9ue é 9ue este


evenl-o Coi especial?

(- Foineste contexto 9ue sur3iu a Aliança: Deus escolheu-


-nos para sermos sinal no meio de todos os povos, da sua
Corça I,Lertadora. Estal,eleceu connosco um pacto: ele
acompanliar-nos-ia const antemente,com a sua presença
protetor-a, e nds ter;amos de cumprir a sua vorade,
expressa nos Dez Mandamenl-os. Desde então,t odos os
anos, no dia i do mês de nissan, comemoramos a Páscoa,
recordando as maravilhas 9ue Deus Cezem nosso ravor

Etêm al3um ritual especial


nessa comemoração?
9. Quando é que os
judeus celebram a
festa da Páscoa?
3im. Onde 9uer 9ue estejamos, ('azemos sempre o
10. Que aconteceu no
sêder O sêcler éum jantar cheio de rituais onde são
Egito imediatamente
narrados i-odos os acontecimentos do êxodo e da
antes do faraó dar
instituição da Páscoa; recitamos a I,ênção, cantamos autorização para o
salmos, comemos pão ázimo (sem (ermento) e ervas povo de Israel sair do
amargas, entre outras i3uarias, e t erminamoscom a país?
çrase; o prOX;MOano em Jerusalem como ~mação
11.Em que consiste o
da nossa codiança na redenção Cinal do povo judeu.
sê der?
Jesus Cristo
e a Páscoa cristã
Reportagem do enviado especial de «Quero Descobrir!»

Que pretende Jesus, presença d e Pônei° Pilatos, o governador


romano, pois só ele podia legalmente ditar
ex-carpinteiro de Nazaré? uma sentença de morte. No tribunal romano,
H , algum tempo que Israel se agitava acusaram-no de instigar o povo à rebelião
por causa deste homem de cerca de 30 contra o imperador: dizia ser o rei dos judeus! O
anos que havia deixado a sua carpintaria para governador não acreditou que a acusação fosse
se tomar pregador itinerante. Dizia anunciar verdadeira, mas, perante a insistência dos chefes
uma boa-nova que vinha de Deus. A sua fama dos judeus, acabou por ceder. Afinal, Jesus não
cresceu ainda mais quando começou a realizar tinha qualquer importância para o poderoso
fenómenos extraordinários. representante do imperador romano.
O grupo dos que o seguiam aumentava
de dia para dia. De entre eles escolheu doze,
a quem chamou apóstolos. Verifiquei que
seguiam Jesus para onde quer que fosse,
ouviam a sua pregação, tinham reuniões
especiais com ele e rezavam em conjunto.

Últimos dias de um
condenado - Jesus
C omo todos os anos, também neste Jesus
celebrou a Páscoa da libertação com os
seus discípulos. Durante a ceia pascal, pegou Calvário, Joseta de Obidos (1630-1684)
no pão, abençoou-o, partiu-o e deu-o a comer [Santa Casa da Misericórdia, Peniche]
aos presentes, dizendo que aquele pão era o Depois de ter sido flagelado, Jesus f o i
seu corpo que ia ser entregue à morte; depois, crucificado — a p i o r das condenações à
pegou no cálice e abençoou-o, dizendo que morte — numa colina em frente da cidade de
aquele vinho era o seu sangue que havia de ser Jerusalém. O seu corpo foi depositado num
Última Ceia,
Jaume Huguet (1412-1492) derramado para libertação da humanidade. túmulo escavado numa rocha. Era sexta-feira.
Depois da refeição, dirigiu-se para o Jardim Passado o sábado — dia de descanso
das Oliveiras onde foi preso por indicação de rigoroso para os judeus , no domingo logo
Judas, um dos doze. Perante o tribunal judaico, de manhãzinha, alguns discipulos foram ao
procuraram incriminá-lo, acusando-o de coisas sepulcro e encontraram-no vazio. Ficaram
inimagináveis. Acabaram por condená-lo sob surpreendidos. Mas, segundo os seus relatos,
a acusação de ele se ter feito passar por filho Jesus apareceu-lhes inesperadamente. Afinal,
de Deus. N a manhã seguinte levaram-no à Jesus tinha vencido a morte e estava vivo.
A comunidade cristã.
D e p o i s de urna certa acalmia, quando parecia que o movimento
religioso iniciado por Jesus tinha morrido, eis que, durante
a festa do Pentecostes, assistimos à pregação de alguns apóstolos
do grupo dos doze, sobretudo de Pedro. Estes homens, que haviam
abandonado Jesus, e, cheios de medo, se tinham refugiado em lugar
desconhecido, estavam agora a anunciar desassombradamente a
sua ressurreição, desafiando a morte! Muitos homens e mulheres
aderiram à sua fé e aceitaram ser batizados. Da sua mensagem,
salientamos dois aspetos:

- Jesus continua a manter uma amizade misteriosa, direta e pessoal


com cada um dos que acreditam nele;

- Jesus está presente na comunidade dos crentes, que forma um povo sem
fronteiras, ao qual chamam Igreja.
A Ressurreição de Cristo, Peter Paul Rubens (1577-1640)
[Catedral de Antuérpia, Bélgica]

Libertação do povo judeu Morte e Ressurreição de


Acontecimento que
da escravidão do Egito, no Jesus, em Jerusalém, por
lhe deu origem
século XIII a.C. volta do ano 30.

Com o tríduo pascal -


conjunto de celebrações
Com o sêder u m a refeição que decorrem entre quinta-
ritual em que se narram os -feira santa e o domingo de
Como se
acontecimentos do Êxodo e Páscoa e que recordam os
comemora hoje
se come pão ázimo e ervas acontecimentos da vida de
amargas. Cristo desde a Última Ceia
com os apóstolos até à sua
ressurreição.

No dia 15 do mês de nissan No primeiro domingo a


Quando se
do calendário judaico (no seguir à lua cheia, depois do
comemora
início da primavera). equinócio da primavera.
12. Elabora um
Passagem da escravidão à Passagem da morte à vida postal de Páscoa
Significado religioso
liberdade. em plenitude. para ofereceres aos
teus pais, familiares
ou amigos, onde
constem elementos
importantes da
NPP-EM) q u e a Páscoa é a festa da liberdade/libertação e projeta o mensagem da Páscoa
cristão para a felicidade e para a esperança. cristã.
O Regresso do Filho Pródigo, John Byam Liston Shaw (1872-1919)

Parábola do pai misericordioso

"Disse ainda: «Um homem tinha dois filhos. "O mais»novo disse ao pai: 'Pai,
dá-me a parte dos bens que me corresponde.' E o pai repartiu os bens entre os
dois. "Poucos dias depois, o filho mais novo, juntando tudo, partiu para uma terra
longínqua e por lá esbanjou tudo quanto possuía, numa vida desregrada. "Depois
de gastar tudo, houve grande fome nesse país e ele começou a passar privações.
'5Então, foi colocar-se ao serviço de um dos habitantes daquela terra, o qual o
mantk)u para os seus campos guardar porcos. "Bem desejava ele encher o estômago
com as alfarrobas que os p'õrcos comiam, mas ninguém lhas dava. "E, caindo em si,
disse: 'Quantos jornaleiros de meu pai têm pão em abundância, e eu aqui a morrer
de fome! '8Levantar-me-el, irei ter com meu pai e vou dizer-lhe: Pai, pequei contra o
Céu e contra ti; "já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos
teus jornaleiros.' "E, levantando-se, foi ter com o pai.Quando ainda estava longe, o
pai viu-o e, enchendo-se de compaixão, correu a lançar-se-lhe ao pescoço e cobriu-o
de beijos.
"O filho disse-lhe: 'Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não mereço ser
chamado teu filho.'
"Mas o pai disse aos seus servos: 'Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha;
dai-lhe um anel para o dedo e sandálias para os pés.
"Trazei o vitelo gordo e matai-o; vamos fazer um banquete e alegrar-nos,
24porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi encontrado.' E
a festa principiou.
Lc 15,11-24
93

Nesta parábola há alguns aspetos que exigem conhecimento da cultura


judaica da época para se poderem interpretar corretamente: Saber
- T E g g A DISTANTE para onde foi o filho mais novo: para um judeu
Parábola — recurso
agarrado às tradições religiosas, as regiões fora da Pales-hina, sendo 'espaço
literário muito
onde se pra-bicavam religiões pag6s, 'era ferritório identificado com o pecado utilizado por Jesus.
'e o mal Éuma narrativa
- GUAgDAg Poco Snào 'era profissào que um judeu quisesse -ben para a fictícia que recorre
cultura judaica o porco 'e um animal impuro, logo n.o pode fazer parte a elementos da
da sua. ementa.; por "essa. raz'ào, guardar porcos só pode ser uma grande vida quotidiana
humilhaçào. para representar
a relação de Deus
- A POSTUgADO PAI: ao avistar o filho que r,egr,essava, o pai corre ao
com as pessoas ou
seu 'encontro; estie comporhamen-ho n o 'era acei-hível para um pai das pessoas entre si.
judeu; correr seindigno de um homem maduro. O seu objetivo é a
transmissão de uma
mensagem religiosa
A parábola do pai misericordioso, vulgarmente conhecida por parábola do ou ética, com vista
filho pródigo, tem como tema central a bondade e o amor de Deus que se a uma alteração dos
estende a todos e que respeita a liberdade humana. comportamentos.

No tempo de Jesus, os líderes religiosos afirmavam que Deus amava as


pessoas, mas não de igual modo. Ensinavam que ele preferia os que colocavam
em prática a sua vontade, expressa na Lei de Moisés. Contra esta mentalidade,
Jesus identifica Deus com o Pai da parábola: um Deus escandaloso para os que
se consideram justos e irrepreensíveis, mas fascinante e amoroso para os que
têm consciência das suas fragilidades.
A parábola apresenta-nos três personagens: o pai, o
filho mais novo e o filho mais velho. O pai é a figura central
que conjuga o respeito pelas decisões e pela liberdade
dos filhos com um amor gratuito e sem limites. Este pai
representa Deus, que ama incondicionalmente as pessoas,
qualquer que seja a sua situação e o seu comportamento.
Espera ansiosamente o regresso dos filhos perdidos
mesmo que usem mal a sua liberdade, procurando a
felicidade por caminhos errados. Este amor manifesta-
-se na emoção com que corre ao encontro do filho que
avista ao longe, com que o abraça e o beija, mesmo
antes de saber se ele mudou a sua atitude de orgulho
e de autossuficiência. Manifesta-se, também, na festa
oferecida em sua honra (reintegração na família), bem
como na oferta do fato, do anel (símbolo da autoridade)
e das sandálias (calçado do homem livre). O Regresso do Filho Pródigo,
Rembrandt (1606-1660) [Hermitage]
94

_ _ _ _ _ _ _ - - - - . ~ • • • • • • • • • = 11111 ~ 111 Cada uma das personagens entende a


liberdade a seu modo. O filho mais velho
considera q u e a liberdade consiste n a
decisão, quotidianamente renovada, d e
estar ao serviço do Pai. Mas, ao exercer
o seu juízo implacável sobre os outros,
não respeita a liberdade alheia e n ã o
aceita que o Pai o faça. O filho mais novo
kç.spello, o. começa por entender a liberdade como
libertinagem: «faço apenas o q u e m e
O,Collote, rard,00, apetece, o que m e dá imediatamente
prazer, sigo o capricho da minha vontade
PILHO MAIS superficial». Todavia, q u a n d o t o c a o
VELHO fundo da miséria humana, percebe que
Sevkle-se só se é livre junto do Pai (Deus) e com
rele9o40 roso, os outros (o irmão mais velho), apesar
seguvkao de não se sentir digno d e assumir a
o,levksao
reciei posição de filho e irmão.

O Pai representa o respeito pela


liberdade alheia: n ã o exerce s o b r e
nenhum dos filhos u m a autoridade implacável. Mesmo quando observa o
caminho que o filho mais novo percorre, respeita a sua decisão, por mais que
7•-c,
essa atitude o deixe amargurado. Concebe a liberdade como o exercício do
amor, do acolhimento e do perdão sem reservas.

13. Que razão leva o Doc_3R watis


filho mais novo a sair
da casa do seu pai? msaii).«;a1
14. Identifica as Levo-te pela mão, meu filho triste,
atitudes do pai em e assim havemos de abrir um sulco perfeito,
relação ao filho no coração desta terra.
mais novo, nos No teu coração,
vários momentos da há uma ferida sem fim,
narrativa. eu sei,
15. Especifica e sei que encontrarás nos desertos do mundo,
as conceções de nas cidades do mundo,
liberdade que o filho os sinais da tua mágoa.
mais novo assumiu ao Agora, onde estou, é sempre tarde.
longo da narrativa. Vejo-te a entrar na grande noite dos teus mares,
e acendo,
16. Com qual dos
filhos te identificas?
com a minha saudade,
uma luz intensa sobre os recifes.
17. Atualiza a Não penses que neste alto alpendre não velo o teu sono,
parábola no contexto enquanto espero por ti.
social atual. José Agostinho Baptista (poeta contemporâneo), O Filho Pródigo
95

Deus: apelo à liberdade e à vida

"Quando éreis escravos d o pecado, éreis livres n o que toca à


justiça. 'Afinal, que frutos produzíeis então? Coisas de que agora vos
envergonhais, porque o resultado disso era a morte. "Mas agora, que
estais libertos do pecado e vos tornastes servos de Deus, produzis frutos
que levam à santificação, e o resultado é a vida eterna.

"É que o salário do pecado é a morte; ao passo que o dom gratuito


que vem de Deus é a vida eterna, em Cristo Jesus, Senhor nosso.

Rom 6,20-23

O cristianismo propõe um caminho de liberdade plena quando afirma que Deus


é garante de esperança e vida feliz. O cristão é capaz de fazer escolhas de bem em
vez de optar pelo mal porque reconhece que em Jesus Cristo, dom gratuito de si
mesmo, encontra o caminho da liberdade libertadora.

O homem atual está a caminho de um desenvolvimento mais pleno da


personalidade e uma maior descoberta e afirmação dos próprios direitos.
A Igreja sabe muito bem que só Deus pode responder às aspirações mais
profundas do coração humano, que nunca plenamente se satisfaz com os
alimentos terrestres. Com efeito, o homem sempre desejará saber, ao menos
confusamente, qual é o significado da sua vida, da sua atividade e da sua morte.
Só Deus, que criou o homem à sua imagem e o remiu, dá plena resposta a estas
perguntas. Aquele que segue Cristo, o homem perfeito, torna-se mais homem.
O Evangelho anuncia e proclama a liberdade dos filhos de Deus; rejeita toda
a espécie de servidão, a qual tem a sua última origem no pecado; respeita
escrupulosamente a dignidade da consciência e a sua livre decisão; sem
descanso recorda que todos os talentos humanos devem redundar em serviço
de Deus e bem dos homens; e a todos recomenda, finalmente, a caridade.
Por isso, a Igreja, em virtude do Evangelho que lhe foi confiado, proclama os
direitos do homem e reconhece e tem em grande apreço o dinamismo do
nosso tempo, que por toda a parte promove tais direitos.
Cf. Vaticano II, Gaudium et Spes, 41

- - ' ; ( P r W - E N I ) q u e a mensagem cristã tem uma proposta de liberdade e


que Deus respeita profundamente o ser humano, não interferindo na
sua liberdade.
96

A dependência e liberdade
na relação com os bens materiais

"((Por isso vos digo: Não vos inquieteis quanto à vossa vida,
com o que haveis de comer ou beber, nem quanto ao vosso corpo,
com o que haveis de vestir. Porventura não é a vida mais do que o
alimento, e o corpo mais do que o vestido? "Olhai as aves do céu:
não semeiam nem ceifam nem recolhem em celeiros; e o vosso Pai
ceste alimenta-as. Não valeis vós mais do que elas? "Porque vos
preocupais com o vestuário? Olhai como crescem os lírios do campo:
não trabalham nem fiam! "Pois Eu vos digo: Nem Salomão, em toda
a sua magnificência, se vestiu como qualquer deles. 300ra, se Deus
veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã será•lançada
ao fogo, como não fará muito mais por vós, homens de pouca fé?
"Não vos preocupeis, dizendo: 'Que comeremos, que beberemos,
ou que vestiremos?' " O 'vosso Pai celeste bem sabe que tendes
necessidade de tudo isso. "Procurai primeiro. o Reino de Deus e
a sua justiça, e tudo o mais se vos dará por acréscimo. "Não vos
preocupeis, portanto, com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã já
terá as suas preocupações. Basta a cada dia o seu problema.»
Mt 6,25-26.28-34

"Todo" o ser humano procura ter uma boa vida, um bom


emprego, um bom carro... parece normal! Jesus neste seu
"discurso" apela a que sejamos livres em relação aos bens
materiais, ou seja, não devemos amarrar o nosso coração
e a nossa vida às coisas materiais. A procura obsessiva de
ter muito e cada vez mais, provoca angústia e ofusca-nos
perante a alegria da vida.
Se as aves e as flores do campo são "cuidadas" por Deus,
então também a nós não nos faltará o necessário (com
esforço próprio, com a ajuda dos outros, com a presença
amorosa de Deus).
O consumismo e o culto do dinheiro não traz felicidade
porque tornam o ser humano como máquinas, como
vendedores e consumidores e escravos das coisas.
97

Jesus apresenta a confiança (que não é alienante)


de sermos amados por Deus; e no trabalho, na
partilha e na fraternidade saborearmos a vida
(como os pássaros) e embelezarmos os outros
(como os lírios).
Este texto bíblico é, também, u m apelo à
vivência da liberdade. Tenho bens, uso-os, mas não
me deixo abusar por eles. Os bens que tenho, que
a minha família tem, estão ao serviço de todos,
não somos nós que estamos ao serviço deles.

\INOEMNNCAOD' OFK)E_OOK?ÉOCAMNMOR CiONlizOLP OS


MEUS1-ORPIOSE íkSM1NHSESCAL-1-M?
MEROTEROkiL,T\MOMOD ' E1,0bPTEC)NOLO,GtN
i ?SENOOTNER\INO
Pid\lkASTMO aR•ZEDO(JOM \1%?
O apelo de Jesus vai no sentido de nos libertarmos das preocupações que
conquistam o nosso coração. Quem vive para ser aplaudido só pensa no que
tem de fazer para agradar aos outros, independentemente da bondade das
decisões que toma. Quem vive para a beleza compromete muitas vezes a saúde
fazendo dietas desequilibradas
e vive uma vida superficial. Ser
escravo da beleza, do dinheiro,
do poder é não ser capaz de
saborear o encontro com as
outras pessoas, a solidariedade,
o amor, a fraternidade. Libertos
da prisão que as preocupações
materiais p o d e m constituir,
estaremos livres para viver o
essencial da vida e procurar a
Felicidade.

%Tudo é permitido» mas nem tudo é conveniente. «Tudo


é permitido», mas nem tudo edifica. 24Ninguém procure o seu
próprio interesse mas o dos outros.

1 Cor 10,23-24
..-,,,,,,•••••••••••memr-
98

A originalidade da proposta de São Paulo


consistiu em aliará liberdade a responsabilidade.
Todos os seres humanos prezam a liberdade, no
entanto, para não diminuí-la ou até destruí-la,
requer-se viver com responsabilidade. Se é
verdade que "a consciência é o sacrário das
pessoas" (GS 16), o grande desafio lançado a
todo o ser humano é saber discernir quais são
os melhores caminhos a percorrer no dia a dia.
Éassim que a pessoa se realiza e edifica o mundo à sua volta. Nesta ética cristã
da vivência da liberdade é indispensável o discernimento do que posso e do que
devo, sem antagonismos e sem frustrações.
O preço da liberdade é a obrigação de escolher e, por isso, de assumir
responsabilidades rejeitando toda a dominação e falta de coerência com os
valores em que acreditamos. Valorizando a liberdade São Paulo recomenda
que se mantenha sempre a sabedoria perante as escolhas. LiERIDE,
P-E9ONW-ME, T g * É W Este pode ser o lema de uma vida feliz e coerente.
Somos diariamente estimulados por um conjunto de
propostas que parecem oferecer a chave da felicidade:
«vive em função da tua mesada», «age no sentido de
conseguires obter sempre mais êxito junto dos rapazes /
/ raparigas», «transforma a beleza física no centro da
tua vida», «comporta-te de tal forma que consigas obter
o maior número possível de aplausos»... E estes ou
outros valores semelhantes — divulgados por meio de
técnicas nem sempre honestas — tornam-se a grande
prioridade de muitas pessoas. Este estilo de vida parece
resultar durante um tempo, mas o resultado é uma
enorme frustração: a beleza não existe para sempre, os aplausos nem sempre
são obtidos, muitas vezes não há condições propícias para se alcançar o êxito
desejado. E mesmo que tudo isto fosse possível, a frustração não deixaria de
bater à porta, porque a dependência em relação a estas realidades não dá
tréguas: uma vez preso nas suas malhas, o ser humano quer sempre mais e
mais, num movimento que não o pacifica consigo mesmo nem com os outros.

18. Comenta a frase -••••11,,

de S. Paulo: «Tudo te
é permitido, mas nem
i 'rP\-PRENI), q u e a mensagem cristã desafia o ser humano a pôr em
primeiro lugar o que é realmente importante: cada pessoa e o seu bem-
tudo te convém». -estar e felicidade.
Ésó na liberdade que o homem se pode converter ao bem. Os homens de hoje
apreciam grandemente e procuram com ardor esta liberdade; e com toda a
razão. Muitas vezes, porém, fomentam-na dum modo condenável, como se
ela consistisse na licença de fazer seja o que for, mesmo o mal, contanto
que agrade. A liberdade verdadeira é um sinal privilegiado da imagem
divina no homem. Exige, portanto, a dignidade do homem, que ele proceda
segundo a própria consciência e por livre adesão, ou seja movido e induzido
pessoalmente desde dentro e não levado por cegos impulsos interiores ou por
mera coação externa. O homem atinge esta dignidade quando, libertando-
-se da escravidão das paixões, tende para o fim pela livre escolha do bem e
procura a sério e com diligente iniciativa os meios convenientes. E cada um
deve dar conta da própria vida segundo o bem ou o mal que tiver praticado.
Cf. Concílio Vaticano II Gaudium et Spes, 17
100

Ser livre e libertar os outros nA,


••• % O •

d i a , LM' ) 1

Um dia, u m prisioneiro foi posto em liberdade. Querendo p o l o à prova,
conduziram-no ao coração de um imenso deserto cheio de vales profundos
e montanhas inacessíveis. Apenas algumas fontes, dificilmente visíveis,
ofereciam água refrescante. Nos limites daquela paisagem inóspita, existia
uma cidade onde dava alegria viver.
Os guardas disseram, então, ao prisioneiro:
—És livre. Podes fazer o que quiseres — e ali o deixaram entregue a si mesmo.
Algumas horas depois, um velho sábio nómada, que tinha atravessado muitas
vezes aquele deserto, encontrou o prisioneiro e disse-lhe:
— Sabes que, se quiseres saborear a tua liberdade, deves atravessar este deserto?
Para lá do seu termo, hás de encontrar os teus irmãos. — E ofereceu-lhe uma
bússola e um mapa onde estavam indicadas as fontes onde poderia beber e os
obstáculos que teria de ultrapassar.
— Na base da montanha vermelha poderás juntar-te a um grupo de pessoas
que também viajam para a cidade onde se pode ser feliz. Boa viagem! —
declarou o velho sábio, retirando-se.
Mas o prisioneiro pensou: "Agora sou livre. Acabou o tempo da opressão. Este
nómada quer impor-me um caminho, mas eu não aceito ordens de ninguém!"
E atirou fora a bússola e o mapa. Deambulando sem rumo pelas dunas do
deserto, acabou por se perder sem nunca ter podido alcançar a cidade da
alegria.
Um ano depois, os guardas fizeram o mesmo com outro prisioneiro. Este
encontrou o mesmo nómada e, grato pelo conselho, pela bússola e pelo mapa
que lhe havia de orientar o itinerário, seguiu as indicações. Depois de ter
percorrido alguns dias de viagem, juntou-se ao grupo de pessoas que perseguia
o mesmo fim. E com eles prosseguiu.
A jornada foi longa e difícil, mas experimentou, no meio do calor sufocante,
o conforto das fontes de água fresca. E, sobretudo, sentiu quão mais fácil é o
caminho quando é feito na companhia dos que partilham o mesmo destino.
Finalmente, numa manhã de sol, temperada por uma brisa refrescante, a cidade
desenhou-se no horizonte. Depois de um último dia de viagem, chegaram à
cidade da alegria, onde puderam descansar do longo percurso e por fim fruir
da felicidade que o encontro com os outros possibilita.
Adaptado de Pedrosa Ferreira, Razões de viver
101

Nem sempre é fácil acolher os conselhos dos outros, sobretudo dos adultos.
Vale a pena construirmos as nossas opiniões e tomarmos as nossas decisões,
mas ouvir outros ajuda-nos a decidir melhor. Nem todos os conselhos que vêm
dos outros devem ser rejeitados. E outras vezes és tu que tens de ajudar e
aconselhar outros...

Dot
ic -5 liberdade sem - e r '
Éfácil estabelecer a ordem de uma sociedade na submissão de cada um
dos seus componentes a regras fixas. É fácil moldar um homem cego que
tolere, sem protestar, um mestre. Mas é muito diferente fazê-lo reinar sobre
si próprio. Mas o que é libertar? Se eu libertar, no deserto, um homem que
não sente nada, que significa a sua liberdade? Não há liberdade a não ser a
de «alguém» que vai para algum sítio. Libertar este homem seria mostrar-lhe
que tem sede e traçar o caminho para um poço. Só então se lhe ofereceriam
possibilidades que teriam significado. Libertar uma pedra nada significa se não
existir gravidade. Porque a pedra, depois de liberta, não iria a parte nenhuma.
Antoine de Saint-Exupéry, Piloto de Guerra

Cada u m d e nós t e m pela frente, ao longo de toda a vida, u m grande


desafio: ser livre, mas também libertar os outros das várias opressões a que
estão sujeitos. Somos livres na medida em que não nos deixamos escravizar por
nada, sendo capazes de optar, com responsabilidade, por um projeto de vida
dignificante e com sentido. Seremos tanto mais livres quanto mais procurarmos
a liberdade para os outros.

••••••

I r g ) P - E N I ) \ que ser livre não é fazer o que me apetece porque nem tudo
o que eu quero é bom para mim.
[ Helvetica (11110, p 3 9 f i I n i r i r l i , • • •
To brasil@mail.com
cc Todos os alunos de EMRC do 82ano
Bcc.

Subject: E para a liberdade que Cristo nos libertou


Fronifrancisco@mail.com t )

Queridos brasileiros,
"É para a liberdade que Cristo nos libertou" (Gal SM. Com a sua Paixão,
Morte e Ressurreição, Jesus Cristo libertou a humanidade das amarras
da morte e do pecado. Procuremos conscientizar-nos mais e mais da
misericórdia infinita que Deus usou para connosco e logo nos pediu para
fazê-la transbordar para os outros, sobretudo aqueles que mais sofrem:
"Estás livre! Vai e ajuda os teus irmãos a serem livres!".
Não é possível ficar impassível, sabendo que existem seres humanos
tratados como mercadoria! Pense-se em adoções de criança para remoção
de órgãos, e m mulheres enganadas e obrigadas a prostituir-se, e m
trabalhadores explorados, sem direitos nem voz, etc. Isso é tráfico humano!
"A este nível, há necessidade de um profundo exame de consciência: de
facto, quantas vezes toleramos que um ser humano seja considerado
como um objeto, exposto para vender um produto ou para satisfazer
desejos imorais? A pessoa humana não se deveria vender e comprar como
uma mercadoria. Quem a usa e explora, mesmo indiretamente, torna-
-se cúmplice desta prepotência" (Discurso aos novos Embaixadores, 12/
XII/2013). Se, depois, descemos ao nível familiar e entramos em casa,
quantas vezes aí reina a prepotência! Pais que escravizam os filhos, filhos
que escravizam os pais; esposos que, esquecidos de seu chamamento para
o dom, se exploram como se fossem um produto descartável, que se usa
e se deita fora; idosos sem lugar, crianças e adolescentes sem voz. Sim,
há necessidade de um profundo exame de consciência. Como se pode
anunciar a alegria da Páscoa, sem se solidarizar com aqueles cuja liberdade
aqui na terra é negada?
Queridos brasileiros, tenhamos a certeza: eu só ofendo a dignidade
humana d o outro, porque antes vendi a minha. A troco de quê? De
poder, de fama, de bens materiais... E isso p a s m e m ! — a troco da minha
dignidade de filho e filha de Deus. A dignidade humana é igual em todo
o ser humano: quando a piso no outro, estou pisando a minha. Foi para
a liberdade que Cristo nos libertou! Faço votos de que os cristãos e as
pessoas de boa vontade possam comprometer-se para que mais nenhum
homem ou mulher, jovem ou criança, seja vítima do tráfico humano!
Vaticano, 25 de fevereiro de 2014.
Papa Francisco, mensagem para a Campanha da Fraternidade de 2014 (Brasil)

' 11111111 • 11111111 ~ i i i m m e ~ ~ -

Sóéd(gnodo líberdade,como t i
aquelequeseemp d o (do,
emconquísá-lo.
Johomn&oethe
n.
re a n
,ria r
r do
104

Olá!
Chamo-me Bacien-Powell. Com cerl-eza já ouve Calar
demim, al-ravés dos jovens escul-eiros 9ue conheces.
4 i\lasci em Londres em IW?.
Durante a minha permanência na escola diarterliouse
não levava os estudos tão a sério como devia, mas era rvioito sociável e hom
companheiro. Participava nos jo9os e al-ividades escolares com a ale yf-ia nal-ural
da juveni-ode e procurava diverlir-me com os meus cole9as. Jogava Coteol e era
_o_3uarcia-redes da e9uipa da escola. Gostava muito de d'esenliar e de represenl-ay.-
\Tniiauma vocação inata para a música.
Quando compleei J7anos e terminei Osestudos Cui para a índia cumprir o serviço
miiiar Dedicluei-me, de alma e coração, à carreira militar por9ue amava o conl-ac1-0
permanente com a natureza e com outros países e culturas. Como não meCalhava
coYarm, aprendi a ideni-iCicar e sey)ir pistas com o oLjetivo de explorar novas
sil-uaçães.
Quando r9ressei a lncjlaerra. dei-me conta de clue um livro meu, escrito para
militares (Actieas a Eploração sA,liar - AID3-TO3cou1Iive), estava a ser usado
nas escolas masculinas. Compreendi 9ue esl-a podia ser uma oportunidade única
para ajudar a juver4ude a crescer e então aL.racei esse clesaCio. Esi-udei os
métodos usados empodas as épo.cas na educação de jovens e dei início ao projeto
do escutismo.
tqo Verão de 1M convidei cerca de ZO rapazes para realizar umacampamento 9ue
I-eveumêxj.o enorme. Foi eni-ão 9oe comecei a escrever pevenos rascícolos scJ,re
oescul-ismo. A partir desl-a3 iknicial-;va3, o pe9oeno movimento alargou-se ao mundo
inteiro. EmJ7J2_C;zuma viagem à volta do mundo contactando com os escJeiros de
oul-ros países, para Cozer cio escul-ismo uma Cral-erniciade mundial.
Caros "'jos, 9oero repetir a3ora a mensarm clue I-ransmil-i, vezes sem corJ-a, aos
jovens escul-eiros do meu1-empo:
O esi-odo da hal-oreza mosl-rar-vos-d um mundo
cheio de coisas ',elas e maravilhosas., que
Deus çez para as pessoas serem çelizes. —
Amelhor maneira de sermos felizes é
proporcior)armos Celicidade às oul-ras pessoas.
Procurem deixar este mu)ndoumpoucomelhor
do que estava cluarIclo o enconl-raram.
A humanidade é parte integrante de um imenso universo em evolução. O
planeta onde vivemos é apenas um pequeno ponto neste grandioso cosmos;
porém, é, segundo parece, o único sítio habitável.

As palavras 1--.t-2-1-t-P1) e OCAPNP- representam realidades distintas. Habitar um Ecossistema é o


espaço é assumi-lo como seu: um local onde a felicidade é possível e a permanência conjunto de todos
desejável. Por isso, é arranjado e decorado de acordo com as necessidades físicas, os organismos que
coexistem num
emotivas e estéticas das pessoas que o habitam. É o que fazemos nas nossas casas: espaço geográfico
pintamos as paredes, penduramos quadros ou fotografias de que gostamos. Pelo delimitado, bem
contrário, ocupar um espaço é apenas tomar posse dele, torná-lo propriedade como as relações e
nossa; mas nada disso implica a identificação com o mesmo. interações entre si
e o seu ambiente.
O ser humano habita o planeta terra, sente-o como seu lugar de origem,
sítio onde nasceu e cresceu. É, de facto, a casa de toda a humanidade. Todavia,
não são apenas as pessoas que habitam o planeta: o ar, a água, as plantas, os
animais existem lado a lado com a humanidade. Todos eles estão interligados
e dependem uns dos outros. Não poderíamos sobreviver por muito
tempo com ar envenenado e água contaminada, ou sem animais
e plantas. É no meio desta magnífica diversidade ambiental
que formamos uma verdadeira comunidade, uma grande
família, que vive e habita esta Aldeia Global.

O bem-estar d e toda a humanidade depende,


em larga medida, da manutenção de um ambiente
saudável, bem como da biodiversidade.
12roeger a beleza, a dluersidode e a ultalidade da t,erra
éumdeuer de todas aspessoas.
106

1Jrn r n l o r i d 2
A beleza e diversidade naturais da terra surpreendem e prendem muitos
olhares, cativam muitos ouvidos e desafiam pincéis e esferográficas a registar
momentos e lugares. A natureza ensinou o ser humano a reconhecer, admirar
e respeitar a beleza da vida na sua diversidade. Como resposta nascem artistas
capazes de comunicar a natureza na sua pureza e simplicidade, seja pela música,
literatura, pintura, fotografia...

Doc.q3

«As Quatro Estações», de António Vivaldi, uma das obras mais


famosas da música erudita, foram publicadas em Amesterdão,
em 1725.
Vivaldi, padre, compositor, maestro e professor italiano (1678-
-1741), foi um ouvinte e apreciador da natureza, fonte de
inspiração para a sua criação artística. «As Quatro Estações» são
uma imagem musical que provoca em quem a ouve sensações
de proximidade com aves, água, vento, trovões, chuva, brisa,
insetos, etc. É uma espécie de sinfonia da natureza, retratando
as mudanças de estação: primavera, verão, outono e inverno. 111111~110Mr-
107

Doc.MLI
A Salada
No meu prato que mistura de Natureza!
As minhas irmãs as plantas,
As companheiras das fontes, as santas
A quem ninguém reza...
Ecortam-nas e vêm à nossa mesa
Enos hotéis os hóspedes ruidosos,
Que chegam com correias tendo mantas
Pedem «Salada», descuidosos...,
Sem pensar que exigem à Terra-Mãe
A sua frescura e os seus filhos primeiros,
As primeiras verdes palavras que ela tem,
As primeiras coisas vivas e irisantes
Que Noé viu
Quando as águas desceram e o cimo dos montes
Verde e alagado surgiu
Eno ar por onde a pomba apareceu
O arco-íris se esbateu...
Alberto Caeiro (heterónimo de Fernando Pessoa, 1988-1935), O Guardador de Rebanhos

Doc.q5 411,4
O E
O Grito, pintado em 1893, é uma das obras mais importantes do movimento
expressionista.
Retrata uma figura humana contorcida e sem cabelo, manifestando um estado
de profunda angústia, sofrimento e desespero existencial. O pano de fundo é
a doca de Oslofiord (em Oslo) ao pôr do sol.
O g r i t o d a personagem c e n t r a l
introduz perturbação n a paisagem
de fundo q u e partilha c o m e l a a
mesma desconfiguração. A paisagem
comunga da angústia da personagem;
toda a natureza sensível fica abalada
e desfigurada com o grito. Apenas a
1. Faz uma pesquisa
ponte e as duas personagens do canto
de obras de arte
esquerdo estão representadas e m
sobre a natureza e
linhas direitas. regista os resultados
Alguns críticos sustentam que Munch segundo os seguintes
pôs neste quadro o desespero das tópicos: nome
pessoas d e u m a i l h a o n d e t e r i a da obra; autor;
ocorrido um tsunami (representado data da execução;
pelo rio) e uma erupção vulcânica elemento(s)
(representada p e l o c é u c o r d e naturais presentes;
(1863-1944) laranja). observações pessoais.
108

Uma dádiva de Deus


A mensagem bíblica apresenta-nos Deus como criador. A terra com todos
os seus elementos vitais, o mar com todo o seu dinamismo e o céu com todos
os seus fenómenos são obra da vontade criadora de Deus. De forma muito
especial, Deus cria o ser humano à sua imagem e semelhança, incumbindo-o da
tarefa de U 0 1 U\k'À a obra da criação. Como obra-
-prima de Deus, a pessoa é o cume de toda a natureza criada.
Na perspetiva cristã, não existe oposição entre o bem das pessoas e o bem da
terra e do universo. A natureza existe em função da felicidade do ser humano,
mas tem também autonomia por ter sido criada por Deus e por ele amada.
Por isso, o bem-estar e a felicidade das pessoas estão infimamente ligados ao
equilíbrio e à saúde do ambiente natural.

De acordo c o m a narrativa d o
Génesis, tudo o que foi criado por Deus
é necessariamente bom. Assim, o ser
humano não deve exercer violência
sobre a terra, como se fosse o seu
senhor absoluto. Na verdade, todo o
ambiente natural pertence a Deus;
desrespeita-lo é manifestar u m a
imensa ingratidão para com o criador.

4Quando contemplo os céus, obra das tuas


mãos, a lua e as estrelas que Tu criaste: 'que é o
homem para te lembrares dele, o filho do homem
para com ele te preocupares? 'Quase fizeste dele
um ser divino; de glória e de honra o coroaste.
7Deste-lhe domínio sobre as obras das tuas mãos,
tudo submeteste a seus pás.
Salmo 8,4-7

Este poema bíblico exalta a grandeza do ser humano e a preocupação que


Deus tem por ele. Sendo alguém tão digno e tão importante, sendo o topo de
toda a natureza, cabe-lhe a ele cuidar e respeitar todos os seres vivos. O ser
humano tem a missão de garantir a harmonia criadora desejada por Deus.
109
pot_ tít. Sk,
O v- -1- da - ã o
Acreditando no amor de Deus criador, reconhecemos com gratidão o dom da
criação, o valor e a beleza da natureza. Olhamos, todavia, com apreensão o
facto de os bens da terra serem desfrutados sem ter em conta o seu valor
intrínseco, sem consideração pela sua escassez nem preocupação pelas
gerações futuras.
Queremos empenhar-nos juntos em criar condições sustentáveis de vida para
toda a criação. Conscientes da nossa responsabilidade perante Deus, temos 2. Em grupo,
de fazer valer e desenvolver critérios comuns para determinar o que é lícito organiza um álbum
no plano ético, mesmo que seja realizável sob o ponto de vista científico e de fotografias com
tecnológico. Em todo o caso, a dignidade única de todo o ser humano tem de o tema "Natureza,
ter o primado em relação ao que é tecnicamente realizável. dádiva de Deus"
para partilhar.
Conselho das Conferências Episcopais da Europa, Charta Oecumenica, 9

•MEN,

l i r I W R - E N 1 que a beleza e diversidade do mundo são dádiva de Deus


que exigem a relação harmoniosa entre o ser humano e a totalidade da
criação.
Carta da Terra aos Inquilinos
Senhormorador,
Uenhopor estemeioinormá-lo deque o contrato dearrendamentoque
acordámoshá váriosmilharesdeanosestá a caducar.Paraproceder à
suarenouoção terá de cumprirasseguintesobrigaçõesP-undamentais:
1.Reduzir o conta da energia,que é demasiadoeleuadaComoé que
podegastar tanto?!
2.Megociar o uso daáguo.Antes,eu ornecio águaemabundância;hoje,
já nãodisponho damesmaquantidade.
3.Cuidardemime distribuir osalimentos por todos. Porqueéquealgunscomem
emexcessoe outros morrem denome,se o quintal é tão grande?!
1.Replontar o planeta. Estou a tronsPormar-menumdeserto por causa do abate sistemático
dasP•lorestos.
5.Preseruortodos osanimaise plantas doimensojardimquesouProcureialgumasespéciese nãoas
encontreilSeique,quandoarrendeiacaso,elasexistiam.Tombemnãoviospeixesqueoutroraencham
osrioseoslagos.Pescaram-nostodos?Ondeestão?
6. Uerikar as estranhas coresqueobscurecemoscéus! Já nãoconsigo ver o azul!
7.Resolver a questão da imensaquantidade de objetos estranhos que encontrei noscaminhos:
cartões,pneus,plásticos...Éumasituação intolerável!
ocea estasexigências,preciso de saberseainda quer morar nomeuespaço.Emcaso cArmotivo,
oquepode gozer para cumprir o contrato?
Haverdade, gostaria que continuasse na minhacompanhia,mas só se aprender a respeitar os
limites.Aguardo resposta, otroués decompromisso escrito e atitudes concretas.
Atenciosamente
suacasa, a Terra
O planeta terra — que tem sido generoso, relativamente calmo e benigno
ao longo do percurso histórico da humanidade, proporcionando-lhe um habitat
com excelentes condições naturais para o seu desenvolvimento — tem vindo a
dar sinais preocupantes de mudança. Trata-se de alterações que não acontecem
apenas, nem sobretudo, devido a fatores naturais: são reações de protesto da
natureza em relação aos maleficios que a ação humana tem provocado no meio
ambiente, sobretudo a partir da revolução industrial.

bpy .110

A expressão «revolução industrial» refere-se às transformações técnicas e


económicas que se iniciaram em Inglaterra, na segunda metade de século XVIII,
e que, no decorrer do século XIX, se propagaram pelo resto da Europa e pela
América do Norte. A invenção da máquina a vapor e a sua posterior aplicação
à indústria e aos transportes trouxe benefícios: métodos de produção mais
eficientes, maior quantidade de bens de consumo disponíveis e a melhores
preços. Teve, porém, consequências de impacto negativo nas pessoas e no
meio ambiente: aumento do número de desempregados — uma vez que as
máquinas passaram a substituir a mão de obra humana —, desfiorestação,
poluição ambiental, poluição sonora, êxodo rural, crescimento desordenado
das cidades, etc.

Os séculos XIX e X X foram


mais agressivos p a r a o nosso
planeta do que todos os milénios
anteriores. Este é o reverso d o
desenvolvimento d a civilização
humana, já que foi também nestes
últimos séculos que se registaram
os maiores progressos a o nível
das conquistas tecnológicas e, em
geral, do bem-estar humano.
112

A terra: um p17•••• eta esgotado?


O ser humano, com a sua vontade de dominar, degradou e esqueceu toda uma
herança legada pelos antepassados sem se questionar sobre as consequências
que tais atitudes provocariam em si mesmo e nas gerações vindouras.

Num mundo globalizado, em que tudo está interligado, os nossos estilos


de vida e as escolhas que fazemos afetam a vida de outras pessoas e a saúde
do planeta. Estamos n u m momento crítico da história da terra! O planeta
sente-se ameaçado e apresenta sintomas graves da sua doença. Vivemos uma
crise ecológica que resulta da ação individual e coletiva do ser humano, a qual
interfere no equilíbrio global de todo o planeta:

ES,GO
i INMNTObOS
ÇEEAKOSNik1WNS

CATIA-Sf\-C)!1)A-S
POLUO()

A ecologia estuda
,t, •AGUECAMENTO,&LOM_
EXTN* -\NM-Pr'M E '161
as relações entre
os seres vivos em
consequência
dos processos
de nutrição,
reprodução e outras Doc.q./
funções biológicas
de cada espécie. !frlp
Estuda ainda as
O nosso planeta é indivisível.
influências que
Na América do Norte respiramos oxigénio produzido na floresta tropical do
sobre eles exercem
Brasil. As chuvas ácidas provenientes das indústrias poluentes do centro-oeste
as mudanças de
americano destroem florestas no Canadá. A radioatividade de um acidente
temperatura, luz,
nuclear na Ucrânia compromete a economia e a cultura da Lapónia. A queima
salinidade e outros
de carvão na China aquece a Argentina. Os clorofluorcarbonetos que um
fatores ambientais.
aparelho de ar condicionado liberta, na Europa, contribuem para a ocorrência
Estuda também a
de cancro de pele na Nova Zelândia.
influência dos seres
Quer queiramos, quer não, nós, humanos, estamos presos aos nossos semelhantes
vivos sobre o meio
e às plantas e animais do mundo inteiro. As nossas vidas estão interligadas.
ambiente.
cari Sagan (1934-1996), Biliões e Biliões
113

Aquecimento global
A terra sofre alterações climáticas periódicas devido a fatores naturais
previsíveis, como variações na inclinação do eixo terrestre, na curvatura da sua
órbita em torno do sol e alterações na radiação solar. Estas alterações ocorrem
em intervalos d e tempo longos. O aumento da temperatura média global
registada nos dois últimos séculos, com destaque para as últimas décadas, não
tem como causas principais estes fatores naturais, mas sim a atividade humana
nas áreas da indústria e consumo.

Quando se fala em aquecimento global significa dizer que o equilíbrio térmico


da terra foi perturbado.

mEK)D
' E_Po\iociNRONuMENToIf_MPElzguRA «k.ekid
çnhpv- 7
Pop_cwEST TER; N NosuEC)E?
Atualmente já
O aquecimento global tem como principal causa a libertação e acumulação
há muitos sprays
na atmosfera de gases com efeito de estufa: dióxido de carbono, óxido nitros°, e sistemas de
metano e halocarbonos (CFC— clorofluorcarbonetos, por exemplo). O dióxido de refrigeração de
carbono é um desses gases, libertado em grandes quantidades pelas chaminés eletrodomésticos
considerados
das indústrias, pelos escapes dos automóveis e pelos fogos florestais. O efeito
amigos do
de estufa é um fenómeno natural regulador da temperatura da terra, mas encontra- ambiente por não
-se desregulado como consequência da acumulação principalmente de dióxido conterem CFC.
de carbono.
A atmosfera terrestre, graças à camada de ozono, absorve parte dos raios
ultravioletas, prejudiciais ao desenvolvimento da vida, e impede que a energia
solar chegada à superfície terrestre não se desperdice para o espaço, evitando
bruscos arrefecimentos noturnos. A destruição crescente do ozono pelos gases
poluentes abrem como que um "buraco" na camada superior da atmosfera, o
que possibilita a incidência na superfície terrestre de uma maior quantidade de
raios ultravioletas. O efeito de estufa natural gravemente ampliado e o "buraco"
na camada de ozono tornaram-se problemas com múltiplas consequências:

1;1E-E-1,0E O NNELME•DC)DAS1,'UASDOMARECO i NSEMENTE


DESTRWCsk O LT
i ORA—CAN-nNENTAL,DASCADADESEN
i FRPESTRUTURAS
CASTERAS3
EXT1NC,k E ESP-CAES NMS E \IE,E1-MS
(OSURSOS\)0LARESEASFOCAS,'OR-EXEMPLO,\1ERAOOSEUWkl-AT DESIRUk)3
ALTERAÇÃOD
' OSPADRÕESMl,RATÓRIOS
DFERENTESESPCAESTERRESTRESEMARftIMAS3
PROI-FERghk ESPWES PREJUDKAKAOSERHUMANO,
COMOMOSEWTOS,FUN,OS, E T C ) 3
MMORFREGME ' NCAA
IEWESTA-DE-S,FURKAES,CACLONES,ONDASDECALOR,C)I-MIASTORRENCMSMAIS
R-OLONADIASEMDERMNADASRE,r0ESIDATERRAEPNMENTODEPERIODOS
'DESECANOUTRASP-EÍÓES,COMA-,RgIAMENTODASCANDOESPROPUSA
kNC)ENDOS3
AUMENTOkNCNC1 E \liç-P-MDOENÇAS:CANU-0,MAt—Agfk..3
MkP
, -ACZOES1-kUMANASEM IARAESCALA3
A-ÃzgA
l MENTODAFOMENOMUNDO.
115
Doc.148)1
Efeito estufa e aquecimento global
A temperatura da terra aumentou um pouco, menos de 1 grau Celsius, no
século XX. Se a quantidade de dióxido de carbono na atmosfera duplicar, o
que irá acontecer (ao ritmo atual de queima de combustíveis fósseis) por finais
do século XXI, o aumento médio da temperatura será entre 1 e 4 graus C. Isto
significa uma mudança climática mais rápida do que qualquer outra observada
desde a origem da civilização. Vão acelerar-se as extinções das espécies. Vão
tornar-se necessárias grandes deslocações de pessoas.
Já se regista uma redução da extensão da camada de gelo do Ártico. Tornaram-se
também evidentes fendas enormes na camada de gelo do Antártico. Por toda a
terra verificou-se uma sensível retração dos glaciares de montanha. Em muitas
partes do mundo estão a ocorrer situações meteorológicas extremas. O nível
dos mares continua a subir.
O aquecimento global aumenta as probabilidades
de termos mau tempo: grandes secas no interior,
fortes tempestades e inundações n a s zonas
costeiras, u m tempo muito mais quente nuns
locais e muito mais frio noutros.
As alterações do clima afetam os animais e os
micróbios portadores d e doenças. Suspeita-se
de que os recentes surtos d e cólera, malária,
febre amarela e febre d e dengue estão todos
relacionados com mudanças do tempo.
O clima esperado para o próximo século depende
do ritmo a que lançarmos para a atmosfera gases de estufa. Quanto mais gases
de estufa mais calor. Há previsões de que grandes áreas produtoras de bens
alimentares do mundo irão tornar-se quentes e ressequidas. Os países pobres
serão os mais duramente atingidos. No século XXI, a disparidade global entre
ricos e pobres pode aumentar drasticamente. Milhões de pessoas, com os
filhos a morrer de fome e com muito pouco a perder, colocarão aos ricos um
problema prático, sério e ético.
medida que a terra aquece, o
nível d o m a r sobe. Muitas ilhas
povoadas poderão ficar submersas.
Preveem-se t a m b é m i m p a c t o s
devastadores para regiões costeiras
ou junto a grandes cursos de água.
Haverá u m i m e n s o p r o b l e m a
novo d e refugiados ambientais.
A longo prazo, poderão seguir-
-se consequências a i n d a m a i s
gravosas, incluindo a derrocada do
lençol de gelo do Antártico, a sua
imersão no mar, uma enorme subida global do nível do mar e a inundação de 3. Em que medida o
quase todas as cidades costeiras do planeta. efeito de estufa afeta
Adaptado de Cari Sagan (1934-1996), Biliões e Biliões o bem-estar e saúde
do ser humano?
Adaptado de João Lin Yun, Como arrefecer o Planeta

EsP a , Irais
É,sem dúvida, cada vez mais necessário analisar os problemas ecológicos a partir
de uma perspetiva ético-morai, ou seja, a partir de questões como as seguintes:

PSg\-MES ME TOMOSTEMCOMO
HI\IPt.AN'DEOS1NTEESSES TnOS
PENPSOSNTERESSESt\IUN1TDUMS?

CANSEMINCAS1OS
C/OMPORENTOS-\UMPNIOS
SOETKAMENTE

ESPONSMAfkiEPELOS
OUW-OSEPELOPN13,1EN--EES
1SE H U M P M ?
As FLOP-ESIA,Ç, c o m t o d a a s u a biodiversidade, s ã o grandes
consumidoras de dióxido de carbono. Fomentar e preservar a florestação
poderia ser parte da solução para o problema do aquecimento global. Porém,
parece não ter sido essa a opção das grandes indústrias. Porque prevaleceram
o desenvolvimento económico e o poder que lhe está associado, procedeu-
-se à destiorestação em larga escala, empobrecendo os solos e eliminando
a possibilidade de diminuir os níveis de dióxido de carbono presentes na
atmosfera. Relacionadas com a desflorestação temos a degradação e a
erosão do solo, bem como o descontrolo do ciclo hidrológico e da qualidade
" •"

II
da água. ••• • I
1 • • • • , .

M i ~ s - 21,5

Diáriodo Mario auandocheguei, estou° omeuirmão


acordei às 7Q0h.Tomeibanho, olavar o chão: tinho entornado leite.
uesti-me,comi o pequeno-almoço,lauei Pi)udei-Oe depoispedi-lhequeme
osdentes, agorrei nomochilo e sd poro emprestasseumios-P-0(hGSporo poder
oponhor o autocarro quemelevo à escola P-ozero troloolho de Português.Eque
io interuolo domanhã,oproueitei poro gostei o blocoquecompreinosemona
loeberumsumono bar e poro comerurna ossadaoP-02erGuiõesde popel e oindo
Sandwichque trouxe de cosaDepois,eu e nãoseicomouou dizer à minhamãe...
osmeuscolegasdudámos o )ordineiroque
ckndavoo regor o )ordim do escola Claro
quepicámos todos molhadoscomaquela
brincodeird
l\ião gostei muito do sopoquecomi oo
&moço.Omeupckiueiobuscor-me à escoo
noP-imdasoulos.Pintes demedeixorem
coso, ui com de louor o corro.

i . -- --- -----
i'v,\,)!,f\. é C r i s t i n a Cruz, cidadania e Formação Cívica

A um recurso natural precioso e necessário à vida. Uma das


4. Tal como Maria,
consequências graves da crise ambiental é a crescente escassez de água doce relata um dia da tua
e potável em vários pontos geográficos da terra. Em vez de se comportar como rotina em que sejam
consumidor responsável, o ser humano tem sido um forte explorador deste evidenciadas ações
consumidoras dos
recurso natural. Por causa das diferentes atividades que exerce, esgota o s recursos naturais.
reservatórios aquíferos que dificilmente poderão ser repostos.
118

A água tem sido utilizada não só para o consumo doméstico crescente (em
que se verifica grande desperdício), mas principalmente para a agricultura e
indústria, setores em que são gastas avultadas quantidades de água. A construção
de barragens e canais tem, por sua vez, afetado uma parte dos maiores rios do
mundo.
Estas intervenções humanas deixam marcas no ciclo hidrológico. De facto, a
água arrasta consigo testemunhos de destruição humana, sob a forma de esgotos
domésticos, poluição industrial e resíduos de fertilizantes e pesticidas. E quanto
maior for o caudal de água poluída, menor é a quantidade de água disponível
para consumo. Outras consequências da poluição da água são, por exemplo, o
aparecimento de doenças várias e a extinção de muitas espécies fluviais.

5. Dos vários
Adaptado de Ricardo Garcia, Sobre a Terra
problemas ambientais
e ecológicos, quais
os que mais te AbESEP-Tkn(igsif\-0 é a consequência mais drástica que resulta, não só do abate
preocupam? massivo e continuado de árvores e dos incêndios, mas também da agricultura
6. Quais os que mais e pecuária intensivas, da crescente urbanização e da poluição provocada pelo
afetam as pessoas e o
ser humano. A desertificação arrasta consigo a destruição de ecossistemas, a
meio em que vives?
diminuição e extinção de espécies, o empobrecimento das populações... e o
7. 0 que poderá ser
melhorado em favor agravamento das condições propícias ao aquecimento global do planeta.
da saúde do planeta?

i N-

O dia 17 de junho foi escolhido para comemorar o Dia Mundial de Combate à-}
Desertificação e à Seca. Crê-se que o fenómeno da desertificação afeta cerca
de 1/3 da superfície terrestre e mais de mil milhões de pessoas.
119

Razõe l e como° Imentw- eH utivos


Se, por um lado, o ser humano é vítima da degradação ambiental, por outro, é
também o seu maior causador. Que razões poderão sustentar comportamentos
destrutivos? Não é possível enumerar todas e ainda mais complexo seria
especificar a razão de cada comportamento humano. Podemos, no entanto,
apontar as seguintes razões que sustentam muitas atitudes adversas ao bem-
-estar ecológico e ambiental:

OEosMo) ENeml-o
soE;)osOo1DNsPMsFP00
EssoPv_
l C A L E I - N o
,EsEN\l0i_\11MENTo'DlECAol\go
PWfkO I,T)Ro E Nk PP,Pt
1EM()oMuM
\toulgE 'DE *1ER Cioi"bEs
'DEIEM--Es-l-ivRNOIME1W-o E
sEMPRE\IEMR Oc)oNsEGNE ' _NEAs
NE,K1-1\gME_IDlo 0 LON,K)'PA7_03
•F

sulONN(h)N-o \)oiÁT1CAECioN0M1 E g) LuC9o.


A preservação da natureza e do ambiente em que o ser humano vive tem
de passar a estar na ordem do dia, como finalidade central da ação humana, se
quisermos construir um futuro promissor. O desenvolvimento da consciência
ecológica, que começa em cada pessoa e se estende a todas as sociedades e
culturas, deve ser um dos propósitos fulcrais da ação humana.

Este é o apelo que a terra lança aos seus


habitantes: j á n ã o é a descoberta d o espaço
terrestre q u e p o s s i b i l i t a o c o n h e c i m e n t o
e a convivência d a s civilizações, m a s s i m a
descoberta d a dependência e d a fragilidade
humanas perante u m mundo conhecido, mas
tão maltratado! É urgente a criação d e uma
civilização q u e integre valores ecológicos e
valores tecnológicos. Sem negar o progresso e
as condições de vida que dele decorrem, urge
afirmar o valor da terra, enquanto casa comum
Paisagem com oliveiras, Van Gogh (1853-1890) de toda a humanidade.
Chegou o momento d e rejeitar o s comportamentos humanos q u e
conduziram o planeta ao beco em que se encontra: a exploração desenfreada
de tudo o que, gratuitamente, a terra nos oferece com vista ao bem-estar
imediato da humanidade, sem atender às consequências negativas de tal
modelode progresso. E NEC)ESSPIOUSPP- INTEIENCA C2kkil\R
PW \ I % PI,PÇNETR-IPE i ESEP-WN E REgiEnl)k E, em
vez de se pensar exclusivamente nos benefícios a
curto prazo, as intervenções humanas devem ser 1 \
equacionadas a médio e longo prazo, prevendo
os efeitos nefastos sobre a natureza e sobre
a humanidade, tanto presente como futura.

A Solidariedade ecológica será o valor


mais adequado para combater os egoísmos
que foram ferindo o nosso ambiente. O
lucro económico, apesar de legítimo, terá
8. Identifica as razões
que poderão motivar de deixar de ser o objetivo prioritário das
comportamentos empresas, cedendo a primazia a objetivos de
destrutivos do nosso
natureza ecológica. Mas isso requer uma enorme
planeta.
mudança de mentalidade.

Salva- -Irdar natIP


Sendo a crise ecológica um problema global, a sua resolução terá de ser
necessariamente planetária. Só a cooperação de todos os países do mundo
poderá trazer soluções duradouras.
Alguns passos já foram dados no sentido da preservação do ambiente, uns
de carácter regional e nacional, outros de âmbito internacional e global.
O aparecimento de movimentos, organizações e partidos defensores do
ambiente e dos valores ecológicos é um sinal evidente de mudança na relação
e interação do ser humano com a natureza. A educação ambiental tem vindo a
ser implementada no sentido de criar nas crianças, adolescentes e jovens uma
consciência ambiental correta.
Em 1997, nasce o Protocolo de Quioto: compromisso internacional mais
ambicioso no que se refere ao respeito e à preservação do meio ambiente.
Representa um avanço, pois impõe metas aos países mais desenvolvidos para
limitar ou reduzir as emissões de gases com efeito estufa.
121

A União Europeia comprometeu-se a reduzir em 8% as emissões de gases.


Os países signatários deste protocolo desenvolveram ações de cooperação na
gestão das emissões de gases e criaram sistemas de compra e venda de direitos
de produção dos mesmos. Embora possa favorecer quem mais poder económico
possui, é um compromisso concreto, visando fins ecológicos.

Estas medidas revelam sentido de responsabilidade e solidariedade, em


particular para com as gerações futuras. Mas nem todos os países assinaram
este acordo, autoexcluindo-se na partilha destes valores. É o caso dos Estados
Unidos da América, da índia e da China, países altamente poluidores. Fatores
de ordem económica pesaram sobre a decisão destes países. Mais uma vez 9. Comenta
a afirmação
assistimos à supremacia do interesse económico sobre o interesse ecológico! "Precisamos de aliar
à ecologia a atitude
Precisamos de aliar à ecologia a atitude da ecofilia (filia = amor, amizade),
da ecofilia".
redescobrindo o papel que desempenhamos na natureza.

MEMNMN N N O N
NELN,)0P-ME,NOUNNERSO,NHUMNNNUE
E. ME. TR-N FOMNM M UN1C/0EJOM.
\-g)
OZ
\L.J) »ss4rs/Y
' •

--Nncretas a imple---tar 31IR


• Aumentar a eficiência dos automóveis para o dobro (gastar metade da
gasolina que atualmente consomem).
• Reduzir para metade o número de quilómetros percorridos por cada carro
(de 15 mil para 7,5 mil quilómetros por ano).
• Reduzir e m 25% o consumo d e eletricidade doméstica, comercial e
empresarial.
• Substituir centrais de carvão por centrais de gás natural.
• Aumentar 30 vezes a eletricidade atualmente produzida em centrais eólicas
para abandonar as centrais a carvão.
• Parar o abate de florestas.
• Utilizar práticas agrícolas sustentáveis.
João Lin Yun, Como arrefecer o Planeta
12,2

E\R1-p-lOuso bETv'poO tf_st,,PtOvnu-t-AboP_)


okuEPossN TELE\IKk)IELEMNEL
,P,(sEsGuEwo\lowAM EN sEMWE omE
NO sk NEC)Ess0Xs.

Wgir

Põe

^rise ecológica: problema mor?'


Existe no universo uma ordem que deve ser respeitada; e a pessoa humana,
dotada da possibilidade de livre escolha, tem uma grave responsabilidade na
preservação desta ordem, também em função do bem-estar das gerações
futuras. A crise ecológica é um problema moral.
O respeito pela vida e pela dignidade da pessoa humana inclui também o
respeito e o cuidado pelo universo criado, que é chamado a unir-se ao ser
humano para glorificar a Deus.
A educação para o respeito pelos animais e, em geral, pela harmonia da criação
tem, além disso, benéfico efeito sobre o ser humano como tal, contribuindo
para desenvolver nele sentimentos de equilíbrio, de moderação e de nobreza
e habituando-o a elevar-se «da grandiosidade e beleza das criaturas à
transcendente beleza e grandeza do seu Autor».
João Paulo II, 12 de março 1982, na Praça de Sta. Maria dos Anjos, em Assis

A ecologia humana estuda as relações entre a espécie humana e os outros


componentes dos ecossistemas. Tem como objetivo fundamental conhecer a
forma como as sociedades humanas concebem, usam e afetam o ambiente,
incluindo a maneira como respondem às mudanças ambientais, quer a nível
biológico, quer a nível social ou cultural.

Para além de ser uma ciência, a ecologia humana propõe uma reflexão sobre
os grandes caminhos que conduzem à felicidade da pessoa.

Assim sendo, é preciso repensar o progresso dentro destes limites, recusando


os modelos de desenvolvimento que têm sido seguidos até agora, uma vez que
Ci\aN tos EgN-CAs! põem em causa a sustentabilidade da natureza e o futuro da humanidade.
(wE ultliNs>
DEl»Nto-os
1,114os.
que é preciso sensibilizar o ser humano para o s graves
prejuízos que as suas ações provocam no equilíbrio do ambiente vital
onde todos habitamos.
Todas as tradições religiosas exaltam a bondade de
Deus manifestada nas obras da criação e o respeito que
os seres humanos devem à natureza. Com a sua beleza,
diversidade e pureza a natureza reflete a bondade de
Deus. Perante as maravilhas criadas, o crente retribui com
gratidão e louvor. As diferentes tradições religiosas veem
a natureza como um espaço onde se faz a experiência de
encontro com o divino: na montanha, no vale, na floresta,
no mar, no deserto. A natureza é uma dádiva divina que
merece o empenho do ser humano na sua preservação e
conservação.
O Hinduísmo sugere que tudo, desde as rochas até
ao cosmos, é casa de Deus, por isso, toda a criação tem
um carácter sagrado. Uma metáfora para expressar esta
realidade éa que considera todo o mundo como uma floresta.
Se for gerida numa base renovável, a floresta fornece a
prosperidade dos seus produtos,
oferece abrigo do sol quente e das 2 r t
••••7

chuvas torrenciais e é um espaço


privilegiado d e contemplação.
Todos o s seres humanos são
parte dessa floresta. O corte de
uma árvore, na perspetiva ética
do Hinduísmo, implica que se
plantem cinco.
• f - ? ' - ~ 5 1 1 1 1 .
124

Oot_ç' J i t
Hino à deusa terra
A verdade, a grandeza, a ordem universal, a força, a consagração, o fervor
criador, a exaltação espiritual, o sacrifício, sustentam a terra.
A vasta terra, que os deuses insones guardam sempre atentamente, nos dará
mel precioso.
011v As tuas montanhas nevadas e as tuas florestas, ó terra, serão bondosas para
çaber nós! Na terra castanha, negra, vermelha, multicor, na terra firme, me estabeleci
e não suprimi, nem matei, nem feri.
No teu seio, aceita-nos, ó terra, e em teu umbigo, na força nutriente que
O Atharva-Veda cresceu de teu corpo, purifica-te para nós! A terra é a mãe e eu, o filho da terra.
— «conhecimento Os mortais nascidos de fi vivem em ti; tu sustentas tanto os bípedes quanto os
dos sacerdotes quadrúpedes. Tuas, ó terra, são as cinco raças de homens.
atharvan» — é Aquilo, ó terra, que cavo e firo de ti, rapidamente crescerá de novo. Que eu
um texto sagrado não possa, ó tu que és pura, perfurar o teu ponto vital, nem o teu coração.
do Hinduísmo. Foi À terra, sobre a qual há alimento e arroz e cevada, sobre a qual vivem estas
escrito em sânscrito, cinco raças de homens, à terra que engorda com a chuva, reverência!
por volta do ano
Excerto de At/larva-Veda, 8
1500 a.C..

O Budismo recomenda a moderação no uso dos recursos


naturais: podem reunir-se bens da natureza, tal como a abelha
recolhe o néctar, mas apenas se se produzir mel. O Budismo é rico
em metáforas concebidas a partir do ar livre, lembrando que Buda
recebeu a sua iluminação enquanto estava sentado debaixo de
uma árvore. Um texto budista (o Avastamsako Sutra «Escritura
da Flor Ornamental») fala assim da natureza: «A floresta existe
dependente do solo, o solo permanece sólido porque se apoia
na água, a água depende do vento, o vento pende do espaço;
o espaço não depende d e
nada».
No Judaísmo, sensível aos problemas
ambientais, o ensinamento dos rabinos
contra os desperdícios e a destruição («não
destruireis») faz parte d o mandamento
que recomenda a utilização das próprias
energias criativas em imitação do Criador.
No Islão, muitos versos do Alcorão possuem
aplicação na relação do ser humano com o meio
ambiente. À humanidade foi dado o usufruto da terra,
mas sem danos nem desperdício: «Comei e bebei,
mas sem excessos e sem desperdiçar; por certo Alá
não ama os que excedem os limites» (Alcorão 7, 32).
125

Alá e a terra
ÉAlá quem faz cair, para vós, a água da chuva. Dela tirais a vossa bebida e,
devido a ela, brotam as plantas em que pastais o vosso gado.
Com ela germinam os cereais, a oliveira, a tamareira, as uvas e toda a classe de
frutos. Sem dúvida nisso está um sinal para que o povo reflita.
Deus pôs ao vosso serviço a noite e o dia. O sol, a lua e as estrelas estão
submetidos à sua ordem. Sem dúvida, isso são sinais para um povo que faça
uso da razão.
EEle pôs ao vosso serviço as coisas que para vós criou na terra. Sem dúvida,
isso é um sinal para um povo que tenha cautela.
Alcorão 16, 10-15

Contributo do Cris: m o
nn cuidado da nature
O Cristianismo, além dos ensinamentos bíblicos, foi
pródigo, ao longo da história, em homens e mulheres
que souberam amar a na-
tureza e, através dela, o seu
Criador. No século XII, a freira
alemã Hildegarda de Bingen
(mística, filósofa, composi-
tora e escritora) deixou-nos
este testemunho: « O es-
pírito de Deus é vida que concede vida. Raiz do mundo
das árvores e vento nos seus galhos. É vida reluzente
atraindo todos os louvores. Toda desperta. Toda em
ressurreição.»
-
Hildegarda num manuscrito medieval
Cântico dos três jovens
Obras do Senhor, bendizei todas o Senhor:
- a Ele a glória e o louvor eternamente!
58Céus,
'Anjos do Senhor,
"Sol e lua,
"Estrelas dos céus,
"Chuva e orvalho,
"Todos os ventos,
66Fogo e chama,
"Frio e calor,
"Orvalho e geada,
"Frio e gelo,
"Gelos e neves,
-"Noites e dias,
"Luz e trevas,
"Relâmpagos e nuvens,
"Que a terra bendiga o Senhor:
"Montes e colinas,
"Tudo o que germina na terra,
"Mares e rios,
'Fontes,
"tudo o que se move nas águas,
"Todas as aves do céu,
81Todos os animais, selvagens e domésticos,
"Vós, seres humanos, bendizei o Senho:
- a Ele a glória e o louvor eternamente!

cf. Dn 3,57-82

Bendizelo Senhor:
- o Ele a glário e o louuor
eernornentel
Este hino de louvor, que convida repetidamente o crente a bendizer a Deus,
é um apelo a toda a criação para o glorificar; um cântico de agradecimento que
os judeus e os cristãos elevam a Deus por todas as maravilhas do universo.

Como um coro magnífico de barítonos, tenores, contraltos e sopranos, também


mares, montanhas, árvores e céus cantam em uníssono as maravilhas de Deus. É 7.é(p
4 11 0 ' .
um cântico inspirador que os homens e as mulheres também cantam sempre que
descobrem o seu verdadeiro lugar na criação e cumprem a vontade de Deus.
10. Tendo presente as
diferentes perspetivas
religiosas sobre a
criação e a natureza,
A Ko,kurezo, 4 1 identifica três
valores cuja prática é
A Kolttrezo, essencial para que o
o resreilo b o o , ser humano viva em
Ck paz com a terra.
soLidoxleackae. A Kolurezo,
hunno,Ko, 11. Faz uma pesquisa
refLebe de textos sagrados das
o, bovkao,ae. ao diferentes tradições
CrLaaor religiosas sobre a
relação entre o ser
humano e a criação.
Ilustra esses textos com
A nat;;reza minha fotos à tua escolha
e partilha os teus
Os problemas ecológicos que afetam a terra e os seres vivos, em geral, e a resultados on-line.
vida humana, em particular, são sinais de que o princípio do amor, defendido
tão radicalmente por Jesus, não é transformado em princípio orientador da ação
concreta: amor a Deus que se revela no amor ao próximo e a todas as criaturas
que habitam a face da terra. O
amor não se circunscreve à relação
entre pessoas; deve manifestar-se
igualmente na relação das pessoas
com a natureza.

São Francisco de Assis é um


testemunho cristão desta relação.
Nasceu e m A s s i s e m 11 8 1 ,
morreu a 3 de outubro de 1226 e
foi canonizado (declarado santo)
em 1228. Pela sua relação ímpar
com a natureza, é universalmente
conhecido como o santo protetor
dos animais e do meio ambiente.
Cântico das Criaturas, Maria Ludgera Haberstroh
{igreja de Nossa Senhora, Frankfurt]
128

Não é fácil, para as pessoas do nosso tempo, compreender a forma como


Francisco de Assis entendia a relação do ser humano com os seres irracionais,
principalmente com as realidades inanimadas. Aprendemos a olhar as coisas como
simples objetos, que se encontram à disposição do nosso projeto utilitarista. A
atitude franciscana, pelo contrário, interpreta as coisas e os seres vivos como
integrados num projeto mais vasto do qual faz também parte a humanidade. Por
isso, a relação preconizada por Francisco é de simpatia, admiração e celebração.
S. Francisco rompe com os esquemas do cálculo superficial, que vê nas coisas
apenas a sua utilidade económica, com vista à obtenção de lucro.

FRANCASE)0SOU I P - HP1-R-MONC)15S\J\Kii'LPRPrI1C)OUbEMODO
UTOW1)N U N N E R S
Tinha uma relação fraterna com todos os
seres da criação. O amor e o respeito de Francisco
pela natureza não correspondiam a atitudes
abstratas, convencionais ou impessoais. Tratava
cada ser com delicada cortesia, respeitando
sempre a sua própria individualidade e o seu
lugar no cosmos. A partir da sua fé, razão de ser
de toda esta visão, celebrava a grande presença
de Deus na criação.

rmão de S. Fr. -isco às a!'


Francisco percorria o vale. Viu, reunido, um bando enorme de aves das mais
diversas espécies: pombos bravos, gralhas e corvos. A o vê-las, Francisco,
homem de grande sensibilidade e singular ternura pelas criaturas irracionais
e inferiores, correu alegremente para elas. E estando já perto, vendo que elas
o esperavam, saudou-as como era seu costume. Notando com espanto que
elas não fugiam como sempre fazem, com imensa alegria lhes pediu que se
dignassem escutar a palavra de Deus. Entre outras coisas, disse-lhes:
— Avezinhas, minhas irmãs, muito têm de louvar o vosso Criador e amá-lo
continuamente, já que vos deu penas para se cobrirem, asas para voar e tudo o
mais de que têm necessidade. Fez-vos nobres entre as demais criaturas e deu-vos
por morada a limpidez do espaço. Não semeiam nem colhem e, apesar disso,
ele vos protege e guia, libertando-vos de preocupações.
Por fim, abençoou-as e deu-lhes licença para irem à sua vida, indo também
ele embora, cheio de alegria e louvando a Deus, a quem todas as criaturas
veneram de tantas maneiras.
Tomás Celan° (frade franciscano, biógrafo da vida de São Francisco; 1200-1260), Vida Primeira
129

O olhar d e Francisco sobre as coisas revela também a sua atitude d e


despojamento (pobreza). Tudo é obra do Senhor. Tudo pertence a Deus. Qualquer
relação com os seres que fosse interesseira, egoísta ou instrumentalizadora
estava longe da sua intenção. Para ele, as coisas devem ser conservadas ou
protegidas, para o uso que o ser humano pretende fazer delas, mas, sobretudo,
porque existem. Liberto da cobiça, do desejo
de posse e de domínio, Francisco coloca-se
no meio das criaturas, como seu irmão, e não
acima delas. Vê os animais, as plantas e até os
seres inanimados à luz da vontade amorosa
de Deus; por isso, canta a bondade de Deus
presente em todas as criaturas.

S. Francisco defende que o ser humano


tem de ser «total»: não apenas espírito, nem
apenas matéria, mas a unidade entre as duas
dimensões. Por isso, via vestígios do Espírito
de Deus, em todas as criaturas.

A atitude de Francisco perante a natureza


não podia passar despercebida aos ecologistas
e a quantos s e preocupam c o m o m e i o
ambiente. Em 1979, João Paulo II declarou
São Francisco de Assis patrono dos ecologistas. São Francisco de Assis, João D. Filipe
(pintor contemporâneo) [coleção pessoal]

1,1
Cor -mr-1-1ção do Criador nas criat1,1----,
Francisco louvava o Criador em todas as suas obras. Nas coisas belas reconhecia
a suprema Beleza, pois a todas ele ouvia proclamar: «Quem nos criou é
infinitamente bom». Abraçava todas as coisas com um amor e um entusiasmo
jamais vistos e falava com elas acerca de Deus, convidando-as a louvá-lo.
Aos irmãos q u e cortavam l e n h a proibia-lhes arrancarem a s árvores
completamente, impedindo-as de voltarem a rebentar. Ao hortelão mandava
que, ao redor da cerca, deixasse uma faixa por cultivar, a fim de que, a seu
tempo, o verdor das ervas e a beleza das flores anunciassem a beleza do Pai de
todas as coisas. Mandou reservar um canteiro na horta para o cultivo de flores
e plantas aromáticas, a fim de evocarem, em quantos as vissem, o perfume da
vida eterna.
Afastava do caminho os vermes para não serem pisados. Chamava irmãos a
todos os animais, embora tivesse preferência pelos mais mansos.
Tomás Celan° (1200-1260), Vida Segunda
130

Doe_SS
Declaração de S. Francisco
cornr nadroeiro da
Entre os santos que respeitaram a natureza como maravilhosa dádiva de Deus
ao género humano, figura merecidamente São Francisco de Assis. Pois, com
sensibilidade singular, ele apreciava todas as obras do Criador e, como que
divinamente inspirado, criou o admirável «Cânfico das Criaturas», as quais, o
irmão sol sobretudo, a irmã lua e as estrelas do céu, lhe davam ensejo de dar
devidamente louvor, glória, honra e toda a bênção ao altíssima omnipotente
e bom Senhor.
Por isso proclamamos São Francisco de Assis padroeiro celestial de todos os
cultores da ecologia.
João Paulo II, 29 de novembro de 1979

k211, q p „ ,
)L'q

12. Faz uma pesquisa


sobre Francisco de
Assis e elabora-
-lhe um Cartão de
Cidadão. Acrescenta-
-lhe os momentos
mais importantes
da sua vida.
13. Procura na tua
área de residência
locais e monumentos Hoje somos interpelados a desenvolver relações que impliquem o cuidado para
com o nome deste
santo.
com todas as formas de vida, de modo que o grito de Oseias (profeta do Antigo
Testamento, do século VIII a.C.) nunca mais ecoe nas consciências individuais e
coletivas: «a seca vai causar estragos: as pessoas vão morrer, juntamente com os
animais do campo e as aves do céu; e até os peixes vão desaparecer.» (Os 4,3).

./
l i r P g - E N t ) \ que a natureza é local de encontro com Deus e motivo de
gratidão e louvor, como testemunha São Francisco de Assis.
Problemas como a criação e o transporte de animais, o abate indiscriminado
e massivo de árvores.., precisam de ser equacionados à luz de uma visão ética!
O amor, na perspetiva cristã, evita a avidez, a ostentação, a exploração das
pessoas e dos recursos naturais. Como administrador dos bens ambientais,
o ser humano deve centrar-se naquilo que é realmente importante e não na
simples vontade de poder indiscriminado que tudo arrasa à sua passagem.

ESONSW1A•DED ' OSERH\VÍNIO


NOSELX-1-As•ROTECAOD ' OPNKe_N1E
NNIVR.)tNCLU1,A(AMNt 'MO> O
CÀAA-1)0tPSPK5WASPESSOK.
FA(J1-0) O PizESER\IAMOS SMLE 1)0
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C)R1PgCO i NW
' ,)0-ESPA•P-A-OEM—ESTAP-
EPAR. _A-FUIWO t HUMW1)A-E
As alterações climáticas e a degradação,
cada vez mais visível, do meio ambiente
provocarão ainda mais desigualdades
sociais. Cada vez menos pessoas, em
todo o mundo, verão salvaguardados
os meios de subsistência. Se nada for
feito, a pobreza e a fome hão de afetar
um número cada vez maior de seres
humanos.
132

Doc.SL
Números para refletir
• 1,2 mil milhões de habitantes do planeta, dos quase 6 mil milhões, sobrevivem
em condições de extrema pobreza.
• 6,3 milhões de crianças morrem de fome por ano e há 842 milhões de pessoas
subnutridas no mundo.
• Cerca de 115 milhões de crianças não vão à escola e há 876 milhões de
Iletrados.
• 13 milhões de crianças morrem antes dos 5 anos de idade devido a causas
que poderiam ser evitadas.
• 2 mil milhões de pessoas no mundo não têm acesso a fontes de energia e mil
milhões não têm acesso fácil a água potável.
• Apesar de só 15% da população mundial viver nos países ricos, é responsável
por 50% das emissões de dióxido de carbono no mundo.
• 20% da população mundial consome 80% dos recursos do nosso planeta.
• Muitos países pobres gastam mais em juros da dívida externa do que na
resolução dos seus problemas sociais.
Adaptado de Pax Christi (Semana da Paz 2007)
A Sociedade Ponto Verde, S.A. é uma
entidade privada, sem fins lucrativos, com sociedade
amissão de promover a recolha seletiva,
a retoma e a reciclagem de resíduos de
embalagens a nível nacional.
Ponto verde
Presta apoio às autarquias com programas de recolha seletiva e triagem de
embalagens não reutilizáveis; assegura a retoma, valorização e reciclagem dos
resíduos separados (papel ou cartão, vidro, plástico, madeira, aço e alumínio);
assume a gestão e o destino final das embalagens não reutilizáveis; promove a
sensibilização e educação ambiental junto dos consumidores e apoia programas
de investigação que fomentem o desenvolvimento do mercado de produtos e
materiais reciclados.

A Quercus, associação nacional d e conservação


da natureza, é uma Organização Não-Governamental
de Ambiente (ONGA), independente, apartidária, de •

âmbito nacional, sem fins lucrativos. É constituída


por cidadãos que se juntaram, em torno do mesmo
interesse, pela conservação da natureza e dos recursos
naturais e pela defesa do ambiente numa perspetiva de
desenvolvimento sustentado.
A Associação designa-se Quercus, por serem os carvalhos, as azinheiras
e os sobreiros (cuja designação comum, em latim, é "quercus") as árvores
características dos ecossistemas florestais mais evoluídos que cobriam o nosso
país e de que restam, atualmente, apenas relíquias muito degradadas.
Desde a sua fundação, tem vindo a ocupar na sociedade portuguesa um lugar
simultaneamente interpelante, construtivo e de defesa das múltiplas causas da
natureza e do ambiente.

A Greenpeace, Organização Não-Governamental


com sede em Amesterdão (Holanda), preocupa-se
<PEACE"
com questões relacionadas com a preservação do meio ambiente e com o
desenvolvimento sustentável. Realiza campanhas dedicadas à problemática
das florestas, do clima, do nuclear, dos oceanos, da engenharia genética, das
substâncias tóxicas, dos transgénicos e das energias renováveis.
As campanhas, protestos e gestos significativos da Greenpeace procuram
atrair a atenção dos meios de comunicação e da opinião pública para assuntos
urgentes e assim provocar o repúdio das agressões ao meio ambiente. Promove
também campanhas para proteger a biodiversidade, estimular a agricultura
socialmente responsável e rejeitar os organismos geneticamente modificados.
O nome da organização (junção das palavras «green» e «peace») expressa a
ideia da relação entre pacifismo e defesa do meio ambiente.
134

Saber 4- 9

• APGVN Associação Portuguesa de Guardas e Vigilantes da Natureza


• OMAR - Centro de Investigação Marinha e Ambientai
• Conselho Ibérico para a Defesa da Natureza
• FAPAS - Fundo para a Proteção dos Animais Selvagens
• GAIA - Grupo Académico de Intervenção Ambiental
• GEOTA - Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente
• InfoNature
• Instituto da Conservação da Natureza
• LPN, Liga para a Proteção da Natureza

A reciclagem consiste no reaproveitamento


e reutilização d e alguns materiais. U m a
das vantagens d a reciclagem diz respeito
à preservação d o ambiente. A reciclagem
diminui, por exemplo, o abate de árvores para o
fabrico de papel. Evita, também, a acumulação
de resíduos que não são biodegradáveis,
podendo ser recuperados e reciclados.

14. OLHA o mundo


que te rodeia! A Reciclagem é o novo tratamento dado a materiais — papel, vidro, plástico,
partir do verbo metal — para possibilitar a sua reutilização e, assim, preservar o ambiente e os
CUIDAR, indica o quê recursos naturais. «É a obtenção de materiais a partir de resíduos, introduzindo-
e quem necessita dos -os de novo no ciclo de reutilização.»
teus cuidados. Dicionário Técnico — Ecologia, vol. 1

15. Faz pesquisas


sobre associações,
organizações ou Outra vantagem está relacionada com o aspeto comercial, pois os produtos
movimentos de reciclados são de baixo custo.
defesa do ambiente.
Escolhe uma e Os resíduos recicláveis são todos aqueles que podem ser utilizados para o
apresenta os fabrico de outros. Alguns dos resíduos domésticos são recicláveis, tais como
seguintes dados:
nome, origem e
os jornais, as revistas, papel de escrita, caixas de cartão, pacotes de bolachas
local de intervenção; de leite e de sumo, de cartão, frascos e boiões de vidro, garrafas de vidro e
objetivos e ações plástico, frascos de detergentes e champôs, sacos de plástico limpos, latas de
realizadas; forma de
funcionamento.
conserva, latas de bolachas, entre outros. Estes resíduos devem ser colocados
nos respetivos ecopontos.
135

Alguns desaf s
Face aos graves problemas ambientais q u e ameaçam a vida n a terra,
é urgente assumir atitudes capazes d e garantir a sobrevivência d o nosso
planeta. Podemos esperar e exigir do Estado e dos organismos competentes
uma política adequada, mas não podemos querer que os outros façam a nossa
parte. É fundamental que cada pessoa reveja o seu dia a dia e adote atitudes
verdadeiramente ecológicas.

ESP(/\1(-1\1?"211-W) — \folve,rrAo--v\oç Y)o\ procuro\ de, ,ÇokAcõe,s po\lffl


o,çprobexAç eLoklicoç e,e/mpex\ho\rmo--Y\o,çe/Mcç5eçcov\cre,to\s•
SOUDPP-E1)N1)E.—\lex o\mture,?-o\Y\k)COMOcoYjuidode,
ON5rAC
i AÇOC' ),çe,ro do,çiyytexe,,Çse£pe,ÇçocAisMQS 411°72:4)..)C

COMO19COLÇQo\ho\bfto\rpe,loLç(exo\V)-e,ç\IY\dourols• 16. Escreve uma carta


dirigida ao planeta
terra e na qual dês
SO— veiry\o,ç ,oit,Mo\r cosdé/Kii9\ de,%,\e,19\ a conhecer o teu
vido\deipmde,do19\mbie,v\te,\,o\turo\ be,struir o 9\mb.le,vvte,o\é
l m\ contributo para a
habitabilidade da
de,,çex rn19tode,Y\(\r9\-t'Idãoe,mre,bWo t i e x , é, to\mbém i umo\ nossa casa comum.
19\fitude,suicidó\rá.
136

CaraTerra,
Começopor lhe agradecer a sua preocupação sobre os problemas que agetam o nosso
contrato. Esperoquese encontreumpoucomelhor.Seique jáP-uilongedemais,quenãocuidei do
meioambiente e quepoluí para lá de tudo o queseria sensato,masisso está a mudar.
Tenhovindo a tomaralgumasprovidências para que o nosso contrato de arrendamento seja
mesmorenovado.Eis o que, para já,meé possívelgozer:
- Reduzir o usode recursos e o desperc.cio:poupandoágua,desligandolâmpadaseequipamentos
semprequenãoestiverem a ser utilizados,valorizandoenergiasrenováveis,usando o rosto e o
versodecada olha depapel,guardandoosdocumentosnocomputadoremvezdeosimprimir.
- Utilizar prioritariamente produtos biodegradáveis, recicláveis ou quepossam ser reutilizáveis,
evitando todos os descartáveis.
Prevenir toda a espécie de riscos ambientais,avisando a proteção civil sempreque observar
fogueiras, lixosacumuladosouquaisquer outros perigos.
Contribuir concreta e eç-etivamente para a melhoria da vida na nossa casa, participando
emações de voluntariado ambiental,ajudando a limpar as praias, a cuidar das árvores e a
resgataranimaisabandonados.
Comprometo-mea cumprir integralmente as açõesacimaenunciadas e a convenceros outros
inquilinos a P-ozer omesmo,
Esperoque desta -gormo o nosso contrato nãosejacancelado e quevoltemos a viver felizes
nestacasaqueamamos.
Comosmelhorescumprimentos,
sua(seu) inquilino(o)

iofTerra não éuma


herançadosnossos
país.
Éantesum
empréstimodos
nossosithos,
(provérbio chinês)
0
f l s n o a c a n

SECRETARIADO NACIONAL DA EDUCAÇÃO CRISTÃ


Quinta do Cabeço, Porta D — 1885-076 Moscavide
Tel.: 218 851 285 Fax: 218 651 3551snec@snec.pt www.educris.com

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