Você está na página 1de 18

Moral

sexual
‘civilizada’
e doença
nervosa
moderna
FREUD, Sigmund.
1908
Estrutura 01
Inspiração do pensamento de
Freud

O que discutiremos hoje 02 Neurose e psiconeurose

03 Sobre as pulsões

Os estágios de "civilização" e o
04
recalcamento sexual

Questionamentos de Freud e
05
suas conclusões

Realidade do homem, mulher,


06
família e casamento
07
Inspiração do
pensamento de
Freud

Von Ehrenfels, em Ética Sexual (1907), fez distinção


entre a moral sexual "natural" e a "civilizada";

W. Erb (1893), argumenta o implicação da


modernidade nas causas da doença nervosa;

Von Krafft-Ebin (1895), alega grande impacto no


sistema nervoso causado pelas transformações
políticas e sociais das nações civilizadas.

Binswanger (1895): apresentou a neurastenia à seu


modo, como uma doença nova intrínseca à vida
moderna.
Freud considera essas teorias imprecisas, e defende que:

"Se deixarmos de lado as modalidades mais indefinidas de


'nervosismo' e nos atermos às doenças nervosas propriamente
ditas, veremos que a influência prejudicial da civilização reduz-se
principalmente à repressão [Unterdrückung] nociva da vida
sexual dos povos (ou classes) civilizados através da moral sexual
'civilizada' que os rege."
Neurose e
psiconeurose

Neurose: causada por interferência química, através


do impedimento da satisfação sexual na vida atual,
refletindo tensões, questões ou vícios da sua
realidade;

Psiconeurose: causada por intermediação psíquica,


podendo ser potencializada pela hereditariedade,
através de fixações e desvios (recalques) do que é
sexual na infância.
O ser humano é dotado de pulsões
Sobre as Cada indivíduo possui desejos particulares, um sentimento

pulsões de onipotência ou inclinaçções vingativas ou agressivas de


sua personalidade. No ser humano as pulsões sexuais são
mais intensas, pois para a nossa espécie o prazer é o
objetivo original, superior a reprodução.

Há uma renúncia do indivíduo à satisfação pulsional


A nossa civilização repousa sobre a repressão dessas
pulsões, através da criação familiar e da influência religiosa,
sendo condenado socialmente diante da sociedade caso
não siga tais preceitos. Dessa forma, esse comportamento
repressivo demanda grande quantidade de energia, e o ser
humano cria uma capacidade de deslocar seus objetivos (de
objetivos sexuais para não mais sexuais) sem restringir
consideravelmente sua intensidade. A essa capacidade,
Freud denomina sublimação.
O recalcamento das pulsões causam a neurose
Sobre as "Para a grande maioria das organizações parece ser

pulsões indispensável uma certa quantidade de satisfação sexual


direta, e qualquer frustração dessa quantidade, que varia
de indivíduo para indivíduo, acarreta fenômenos que,
devido aos prejuízos funcionais e ao seu caráter subjetivo
de desprazer, devem ser considerados uma doença." (p.5).

Mecanismos do homem para obtenção do prazer


Como no homem a pulsão sexual não serve originalmente à
propósitos de reprodução, mas à obtenção de determinados
tipos de prazer, é manifestada atitudes de não receber
prazer não só dos genitais mais também de outras partes do
corpo, as zonas erógenas, atingindo o estágio de
autoerotismo . Assim, Freud apresenta o problema de que
esse autoerotismo (masturbação) também é restringido
pela educação da criança e, assim, uma parte da excitação
sexual fornecida pelo corpo do indivíduo inibe-se por ser
inútil à função reprodutora.
Os estágios de
"civilização" e o
recalcamento sexual

Quando a pulsão sexual pode ser manifestada livremente


01
sem que sejam consideradas as metas de reprodução;

Quando tudo na pulsão sexual é reprimido, exceto quando


02
serve ao objetivo de reprodução;

Quando só a reprodução legítima é admitidida como meta


03 sexual. A esse estágio corresponde a moral sexual
"civilizada" da atualidade.
Quando a pulsão sexual pode ser manifestada livremente sem que sejam
01
consideradas as metas de reprodução:

Freud defende que ninguém, estando inserido da


civilização que vivemos, consegue desenvolver a pulsão
sexual de maneira perfeita e completa. Os que se
permitem desenvolver minimamente essa pulsão são
caracterizados como desviantes nocivos da sexualidade
normal. Freud pôde exemplificar dois casos: os
pervertidos e os homossexuais.

Os pervertidos e os homossexuais são analisados de


maneira variável, a depender se sua pulsão é forte ou
fraca.
Análise dos pervertidos e homossexuais, segundo Freud:

Se sua pulsão for fraca, o indivíduo recalca todos os seus


desejos e sua única satisfação é ser socialmente aceito. Para
Freud, não ser quem se é, neste caso, "é como se essses
indivíduos estivessem interiormente inibidos e exteriormente
paralizados" (p.6).
Se for forte, existiriam dois desfechos possíveis:
1) No primeiro, esses indivíduos não abririam mão dos seus
desejos e sofreriam as consequências do seu desvio de
padrão de civilização;
2) No segundo, o sujeito conseguiria recalcar seus desejos
por influência da educação e exigências sociais, mas essa
repressão "seria falsa, ou melhor, frustrada". (Seria então a
situação do segundo tópico, que será tratado a seguir).
Dessa forma, os fenômenos substitutivos surgidos em
consequência dessa repressão Freud chama de doença
nervosa, ou psiconeurose.
Quando tudo na pulsão sexual é reprimido, exceto quando serve ao
02
objetivo de reprodução:

Se trata da repressão às custas da aceitação social, causadora das


doenças nervosas, como foi citado anteriormente. Ou seja, geralmente
uma parcela da civilização é caracterizada como pervertida, e a outra,
que se esforça para não ser, é impelido às doenças nervosas.

"Uma das óbvias injustiças sociais é que os padrões de civilização


exigem de todos uma idêntica conduta sexual, conduta esta que pode
ser observada sem dificuldades por alguns indivíduos, graças às suas
organizações, mas que impõe a outros os mais pesados sacrifícios
psíquicos. Entretanto, na realidade, essa injustiça é sanada pela
desobediência às junções morais." (p.7).
03 Quando só a reprodução legítima é admitidida como meta sexual:

A esse estágio corresponde a moral sexual "civilizada" da atualidade,


para onde a humanidade caminha, segundo Freud.

Seríamos assim, cada vez mais adeptos à cultura, através de


influências religiosas e educações moralistas. Dessa forma, seria
proibida toda atividade sexual fora do matrimônio e a castidade
admirada. Para pensar esse terceiro estágio, Freud faz três
questionamentos, que abordaremos a seguir.
Questionamentos de Freud e suas conclusões
Que deveres exige do indivíduo o terceiro estágio de
01
civilização?

"O terceiro estágio cultural exige dos indivíduos de ambos os sexos a prática da
abstinência até o casamento, obrigando os que não contraem um casamento
legítimo a permanecerem abstinentes por toda a sua vida." (p.7-8).

A satisfação sexual legítima permitida pode oferecer uma compensação


02
aceitável pela renúncia a todas as outras satisfações?

Não. Para justificar, Freud traz os exemplos: 1) como a moral sexual restringe as
relações sexuais até dentro do casamento, o casal teria que se contentar com
poucos atos procriadores; 2) todos os artifícios contraceptivos reduzem o prazer
sexual, ferem a sensibilidade das paretes e podem até causar doenças; 3) medo
exacerbado das consequências do ato sexual; 4) fazem com que os casais se
sintam como antes de se casarem; 5) prejudica o relacionamento familiar.
Questionamentos de Freud e suas conclusões
Qual a relação entre os possíveis efeitos nocivos dessa renúncia e seus
03
proveitos no campo cultural?

"A retardação do desenvolvimento e da atividade sexual a que aspiram a nossa


civilização e educação certamente não é nociva a princípio [...]. Mas a
abstinência mantida por um longo período depois dos vinte anos já apresenta
perigo para o jovem, e mesmo que não acarrete uma neurose, causa outros
prejuízos." (p.9). Dentre esses prejuízos, Freud cita o "enrijecimento" do caráter,
o esgotamento de energia por parte daquele que recalca, e como poucos
conseguem liberar (sublimar) essas energias em outras atividades, como, por
exemplo, nas artes. Freud termina dizendo que não acredita que a abstinência
sexual produza homens enérgicos e autoconfiantes, nem pensadores originais e
revolucionários. "Com frequência produz homens fracos mas bem comportados,
que mais tarde se perdem na multidão que tende a seguir, de má vontade, os
caminhos apontados por indivíduos fortes." (p.10).
Realidade A satisfação sexual é refletida na determinação do homem
para suas ações em outras áreas da vida. Logo, quando
do homem, essa satisfação é reprimida, as outras áreas da sua vida
mulher, também serão impactadas negativamente.

família e
Realidade da sexualidade feminina, conservadorismo e
casamento educação feminina;

Abtenção segundo Freud: não entender sexo apenas


através dos órgãos genitais, mas como através também das
zonas erógenas. Freud problematiza as formas de fazer
sexo: masturbação como maneira de atingir seus objetivos
sem esforços, objetos sexuais levados a níveis de perfeição
inatingíveis, etc.
Sendo o sexo convencional (penetração) reprimido, o uso de
Realidade outros tipos de atividade sexual torna-se corriqueiro. A ética
do homem, da civilização também condena essas atitudes por
teoricamente, degradarem as "emoções amorosas", mas, em
mulher, contrapartida, promove uma expansão da satisfação
família e homossexual.
casamento A problemática do casamento: os indivíduos que seguem a
moral da civilização se guardam até o casamento, possuem
grande expectativa erótica e são decepcionados: o marido
apresenta pouca potência sexual por práticas sexuais em
condição de satisfação anormal, dessa forma a mulher não
se satisfaz e apresenta predisposição para frigidez. Assim,
esse casal insatisfeito está predisposto há duas situações: 1)
ter mais filhos, visto que o uso de anticoncepcionais
diminuirá uma libido que já é baixa; 2) e deixar de fazer sexo,
por não ser prazeroso para o casal.
Seguindo esse fio, tendo o casal deixando de lado a vida
Realidade sexual, que Freud pontua como a "base de sua vida
do homem, conjugal", o casal que segundo a ética civilizada não deve
procurar satisfação fora do casamento, se vê privado das
mulher, relações sexuais, estando novamente predispostos à
família e doença nervosa.
casamento O relacionamento desgastado proveniente de uma moral
sexual civilizada traz como consequência a insatisfação ao
relacionamento do casal, em que a mulher encontra-se
frígida e o homem fraco. Assim o reflexo dessa frustração
influência a vida do filho, disseminando a doença nervosa.
Os filhos são apresentados à insatisfação do casal de
maneira que o que parece ser uma doença nervosa
hereditária nada mais é do que os reflexos de uma mãe
excessivamente terna e ansiosa, o que afeta a vida
emocional da criança,e consequentemente também sua
vida sexual.
Conclusão
Em sua afirmativa final, Freud retrata a dificuldade em
que as neuroses ainda não são aceitas em âmbito geral
na sociedade, no entanto a importância negligenciada a
esse assunto afeta de maneira fundamental as atividades
culturais de uma civilização e a saúde mental dos
indivíduos.
"Já é sabido, muito ao contrário, que uma neurose crônica,
mesmo que não destrua por completo a capacidade vital do
indivíduo, representa em sua vida uma séria desvantagem,
talvez de grau idêntico a uma tuberculose ou um defeito
cardíaco." (p.13)

Você também pode gostar