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Análise e produção de textos de

comunicação I

Rafael Batista Andrade

Formação Inicial e
Continuada

IFMG
Semana 3 Análise e produção de artigos de opinião

Objetivos
Analisar aspectos linguístico-discursivos de artigos de opinião.
Produzir um artigo de opinião segundo as regras desse gênero
de discurso.

Mídia digital: Antes de iniciar os estudos, vá até a sala


Análise e produção de artigos
.

3.1 Análise de aspectos linguístico-discursivos de artigos de opinião

Durante as duas semanas anteriores, você compreendeu a importância dos gêneros


de discurso carta de leitor e resenha na sua formação cidadã e profissional. Em síntese, este
curso lhe tem proporcionado uma visão mais ampla sobre a leitura e a produção de textos
de parte dos gêneros que circulam na esfera jornalística com o intuito de que sua voz
também tenha destaque na formação da opinião pública em nível regional, nacional e
internacional. Nesta última semana, o encerramento deste momento de aprendizagem de
habilidades essenciais para sua atuação no século XXI ocorrerá com base na análise do
artigo de opinião.
Embora a palavra opinião apareça explicitamente, apenas na denominação desse
último gênero de discurso, ao longo dessas últimas semanas, você percebeu que as
sequências argumentativas (trechos do texto em que se explicitam os pontos de vista que o
autor defende em relação a certos temas) estão presentes nos três gêneros de discurso
selecionados para este curso. Essa foi a estratégia com a qual este curso lhe propôs uma
espécie de tripé argumentativo para o desenvolvimento de práticas do pensamento crítico,
competência discursiva de extrema relevância para a sua atuação social e profissional,
sobretudo nas próximas décadas do século XXI.
Nesta época da Pós-verdade (Fake News), você viu que a mídia de referência possui
um papel relevante na formação da opinião pública. Foi por essa razão que recebeu o
incentivo de publicar cartas de leitor, sobretudo nos meios de comunicação de referência
que privilegiam a modalidade escrita. Na sequência, pôde compreender que a resenha é
escrita por especialistas, mas que alguns traços de sua composição são importantes para o
exercício da sua cidadania e do seu pensamento crítico. Logo, você foi instigado a publicar
resenhas em meios de comunicação que possuem respaldo institucional. Por fim, você
compreenderá o gênero de discurso artigo de opinião, por meio de trabalhos científicos que
elucidam esta proposta de análise e produção de textos de comunicação.

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De forma similar à resenha, o artigo de opinião possui um processo de produção mais
restrito que a carta de leitor. Dessa forma, alcançar esse espaço na mídia de referência é
uma tarefa um pouco complexa, que inclusive pode demandar muito tempo. Tanto é assim
que Cunha (2012, p. 75) destaca o fato de o autor e o leitor do artigo de opinião assumirem
posições . De fato, constata-se que, em cada
jornal, há colunistas que cativam um público determinado por meio de uma longa carreira
que se centra no letramento e na argumentação.
Mas, também, se deve destacar o esforço de alguns jornais na promoção do debate
público com a participação de representantes de diferentes esferas sociais que assinam
artigos de opinião. A título de exemplo, na edição impressa do dia 14 de dezembro de 2020
do Jornal Estado de Minas, houve a participação, na seção Opinião, de um empresário
(Carlos Rodolfo Schneider), de uma professora do curso de tecnologia em gerontologia
cuidado ao idoso, do Centro Universitário Internacional Uninter (Fabiana da Silva Prestes) e
de um jornalista da Academia Mineira de Letras (Fábio P. Doyle).
Vê-se, pois, que há muitos motivos para investir não apenas na leitura do artigo de
opinião, mas também em sua produção, uma vez que a diversidade das áreas em que
atuamos pode enriquecer esses debates. Certamente, enquanto estudante, cidadão ou
profissional de diferentes ramos, sua contribuição será valiosa para se aprimorar o debate
público, principalmente por meio de uma democratização das vozes de autores de artigos
de opinião nos diferentes meios de comunicação do Brasil, e até mesmo do exterior. Para
que esse objetivo seja alcançado, um bom início, como temos visto, é a análise desse gênero
de discurso a fim de compreender suas características e, posteriormente, planejar suas
publicações; seja a curto prazo, seja a longo prazo.
Segundo o estudo proposto por Cunha (2012), o artigo de opinião ocupa o polo
oposto, na esfera jornalística, ao das notícias. Estas visam informar o leitor, enquanto aquele
é marcado pela ação de comentar os fatos recentes, geralmente polêmicos, que interessam
o cidadão. Trata-se, pois, de análises mais apuradas com as quais a opinião pública vai se
posicionar ou se reposicionar de acordo com diferentes pontos de vista que cada autor
apresenta em artigos de opinião, geralmente em consonância com o status social que possui
como profissão, atividade social, membros de instituições governamentais, não-
governamentais, internacionais etc.
Um dos pontos mais esclarecedores desse trabalho é o seguinte: você não pode se
contentar em apenas explicitar o seu ponto de vista, pensando que, com isso, produziria um
artigo de opinião. Para Cunha (2012), o autor de artigos de opinião precisa traçar estratégias
textuais e discursivas que possam modificar a visão do mundo do leitor sobre determinados
fatos e/ou temas a ponto de convencê-lo que as sequências argumentativas apresentadas
superam as opiniões adversárias com as quais o leitor tenderia a estar de acordo.
Roulet (2006) também trouxe contribuições valiosas para a compreensão e a
produção do referido gênero de discurso. Segundo o autor, algumas estratégias
argumentativas que são de muita importância no artigo de opinião são: a) a introdução de
argumentos para reforçar um ponto de vista; b) a rejeição de ideias por meio da inserção de
contra-argumentos; c) comentários de partes do próprio artigo de opinião que se elabora; d)
reformulação ou esclarecimento de ideias apresentadas ao longo do texto.

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Por fim, ainda com base no trabalho de Cunha (2012), alguns pontos são levados em
conta no artigo de opinião. É muito comum que o próprio título do artigo de opinião já
antecipe a orientação argumentativa que o autor assumirá ao longo do texto. Depois disso,
comumente, no primeiro parágrafo, ocorre uma delimitação do tema abordado com a
explicitação do tema a ser defendido pelo autor. Nos parágrafos do desenvolvimento, que
podem variar muito em termos numéricos (de um a vários parágrafos dois, três, quatro
etc.), os autores de artigo de opinião tratam alguns subtemas de forma mais detalhada, com
uma análise cuja finalidade é convencer o leitor a aderir a tese defendida. Por fim, apresenta-
se uma conclusão na qual há uma interpretação das análises a fim de reafirmar a tese
defendida ao longo do texto.
Vejamos todas essas características neste caso concreto.

Trump, pior do que Carter e Bush pai

Figura 3: Presidente Donald Trump, ao embarcar em helicóptero no jardim da Casa Branca


Fonte: CHERISS MAY / REUTERS

Donald Trump fracassou como presidente. Perdeu por sua incompetência. E não cansa de
perder. Perdeu nas urnas, perdeu na Suprema Corte e perdeu no Colégio Eleitoral. Sua
tentativa de atacar o sistema democrático americano e dar um golpe não deu certo. Os EUA
não são uma república das bananas, apesar do atual ocupante da Casa Branca lembrar
líderes populistas autoritários latino-americanos.

Será presidente de um mandato. Mais grave, diferentemente de George Bush e de Jimmy


Carter, possui poucos argumentos para justificar sua derrota. Caso tivesse adotado uma
postura menos negacionista na pandemia, teria sido reeleito.

Carter perdeu porque a situação econômica era ruim e seu adversário, Ronald Reagan, além
do carisma, foi um dos maiores fenômenos políticos dos últimos 100 anos nos EUA.
Conseguiu não apenas ser ultra popular dentro de seu Partido Republicano, como também
entre eleitores democratas.

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Bush, por sua vez, perdeu por três motivos. Recessão econômica, um talentoso adversário
como Bill Clinton e a presença de um terceiro candidato, Ross Perot, que atraiu parcela do
voto conservador há um enorme debate se Bush teria vencido sem esta candidatura
independente.

Já Trump enfrentou Joe Biden, que estava aposentado e nunca despertou grandes paixões.
Ninguém o responsabilizou pela crise econômica. Sabem que o mundo todo enfrenta o
mesmo problema e a economia americana vinha tendo uma boa performance, apesar do
aumento do déficit. O problema mesmo foi seu comportamento negacionista 7.

Destaca-se, primeiro, o status do autor desse artigo de opinião. Guga Chacra, além
de ser colunista do jornal O Globo, é comentarista de política internacional da Globonews e
da TV Globo nos Estados Unidos. Logo, sua opinião possui o respaldo desse status, que
também é reforçado pela sua formação acadêmica, uma vez que ele é Mestre em Relações
Internacionais pela Columbia University de Nova York. Ademais, o próprio título já antecipa
a orientação argumentativa de seu artigo de opinião: uma avaliação negativa da postura de
Donald Trump no final do mandado presidencial.
Uma característica que não foi apontada anteriormente, e que aparece no referido
artigo de opinião, é o uso de imagem após o título do texto. Trata-se de um traço que
normalmente caracteriza esse gênero de discurso, ainda que a ausência desse elemento
visual em nada diminui sua finalidade, seu eixo temático e sua estrutura composicional. Algo
muito mais frequente, enquanto elemento constitutivo do artigo de opinião, é o fato de se
apresentar, no primeiro parágrafo, uma delimitação do tema abordado. No caso do texto de
Guga Chacra, delimita-se o fracasso do presidente Donald Trump com a inserção de fatos
que marcaram o mandato do presente dos Estados Unidos nos últimos anos, comparando-
o com líderes populistas autoritários da América Latina. Fica explícita, portanto, a tese que
será defendida: Donald Trump foi o pior presidente dos Estados Unidos, quando comparado
com Carter e Bush pai.
Nos parágrafos seguintes, Guga Chacra procura convencer o leitor de que sua tese
é plausível e deve ser aderida por este. No segundo parágrafo, indica que o próprio fato de
Donald Trump ter cumprido apenas um mandado presidencial já é um indício de seu mau
desempenho. Também mostra que Trump não teria justificativas para não ter conseguido
ser reeleito, comparando-o, genericamente, com George Bush e Jimmy Carter. Por essa
razão, dedica o terceiro parágrafo a explicações da derrota de Carter e, o quarto, aos motivos
pelos quais Bush foi derrotado por Bill Clinton. Por fim, o autor evidencia que Donald Trump
enfrentou um candidato já aposentado, Joe Biden, e foi derrotado principalmente por causa
da postura negacionista que assumiu, principalmente durante o enfretamento da pandemia
do novo coronavírus, o que justifica a classificação que o colunista atribui a Donald Trump:
um presidente pior do que Carter e Bush pai.

7 Disponível em: http://blogs.oglobo.globo.com/guga-chacra/post/trump-pior-do-que-carter-e-bush-pai.html.


Acesso em 15 dez. 2020.

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3.2 A busca pelo status de leitor e de articulista com o artigo de opinião

Com a leitura e a produção de artigos de opinião, você poderá moldar parte de seu
status profissional, social e acadêmico. Esta é a principal contribuição que este curso visa
dar a você. Não se deve concluir, de tudo que foi dito no item anterior, que a produção de
artigos de opinião está restrita aos colunistas de jornais e que se deve almejar ser
responsável por uma coluna regular de jornal ou revista. Evidentemente, se isso vier a
ocorrer, será um diferencial para o seu status profissional, social e acadêmico.
Mas a própria leitura de artigos de opinião em diversos meios de comunicação
mostrará a você que há possibilidades de produzir artigos de opinião em curto prazo. Veja,
por exemplo, que, na seção de opinião do jornal Folha de São Paulo, há um convite para o
envio de artigos de opinião na seção denominada Tendência/Debates. Vê-se, pois, que esse
jornal já separou um espaço para que não colunistas publiquem o referido gênero de
discurso. Dessa forma, o seu status de articulista, ainda que seja eventual, pode ser
desenvolvido e isso certamente poderá ter reflexos positivos em sua vida pessoal,
profissional, acadêmica e social.

Figura 4: Tendências/Debates.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/tendenciasdebates/envie_seu_artigo.shtml (acesso em: 20
jan.2021).

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Dica do Professor: analise a seção Opinião de
diferentes jornais e revistas de prestígio em nível
nacional e internacional a fim de verificar se algum deles
faz esse tipo de convite à comunidade para a publicação
de artigos de opinião.

3.3 Produção de artigos de opinião

O tópico anterior foi encerrado com uma dica de análise para que você tenha uma
referência de jornais e revistas para possíveis publicações de seus artigos de opinião. Ficou
claro também que, diferentemente da carta de leitor, a publicação de artigos de opinião pode
demandar muito mais tempo. Nesse sentido, é importante que busque alternativas para sua
participação no debate público a curto prazo.
Ao longo destas três semanas, tenho insistido no papel relevante de meios
alternativos de comunicação, desde que estes possuam credibilidade, como vimos no caso
do Jornal de Resenhas. Logo, certifique-se de que sua pesquisa tenha contemplado esses
meios, além de jornais e revistas da esfera regional, como, por exemplo, de associações de
bairros. Isso porque, a curto prazo, o mais provável é que sua publicação ocorra nesse
espaço de debate público, o que não significa um trabalho menor.
Uma maneira de você atestar a credibilidade do jornal ou revista nos quais pretende
publicar seu texto está na verificação do histórico desse meio de comunicação. Os
responsáveis, as parcerias realizadas, os autores que publicam matérias nele. Dentre essas
parcerias, certamente aquelas realizadas com instituições de ensino, pesquisa e extensão
possuem um valor que deve ser levado em conta. Um exemplo pode ser visto no projeto
ComuniCong (ANDRADE, 2020), que ao realizar uma parceria com o site Hiperteia
proporcionou a publicação de artigos de opinião da comunidade da cidade de Congonhas-
MG e de outras regiões do Alto Paraopeba.
Por fim, como a produção e a publicação de artigo de opinião demandará um tempo
que extrapola os objetivos deste curso, você deve perseguir a escrita desse gênero de
discurso ao longo de sua trajetória pessoal, profissional, acadêmica e social. Pode começar
essa produção e refletir sobre tudo o que aprendeu ao longo deste curso a fim de realizar a
atividade final.
Atividade: Para concluir o curso e gerar o seu
certificado, vá até a sala virtual e responda ao
Este teste é constituído
por 10 perguntas de múltipla escolha, que se baseiam na
prática de análise e produção dos gêneros de discurso
carta de leitor, resenha e artigo de opinião. Para se
preparar, faça uma revisão dos principais tópicos
trabalhados ao longo destas três semanas.

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Por fim, em Grande sertão: veredas, há um enunciado em que Guimarães Rosa nos
deixa uma importante reflexão sobre o processo de aprendizagem:
mas o que se aprende (RONÁI, 1983, p. 15).
Ao vivenciar esta experiência de análise e produção de textos de comunicação, espero que
tenha aprendido não só a importância da leitura e produção de cartas de leitor, resenhas e
artigos de opinião, mas também, e principalmente, a fazer muitas perguntas sobre a sua
participação no debate público. Este depende muito da busca constante pelo
aperfeiçoamento de sua vida profissional, social, acadêmica, pessoal e social. Na plataforma
+ IFMG, você encontrará algumas respostas para perguntas que passou a fazer por meio
deste curso e passará a fazer muitas outras perguntas que darão contribuições significativas
para sua trajetória.

Parabéns pela conclusão do curso. Foi um prazer tê-lo conosco!

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