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CARTILHA DE

GOVERNANÇA
EM ENTIDADES
ESPORTIVAS
LEI 9.615/98
Fernando Marinho Mezzadri, Luiz Gustavo Nascimento Haas,
Raimundo da Costa Santos Neto e Thiago de Oliveira Santos
(Responsáveis técnicos)

CARTILHA DE GOVERNANÇA EM ENTIDADES ESPORTIVAS LEI 9.615/98

1ª Edição

Brasília, DF
2018
Ficha catalográfica elaborada por Marcia Andreiko – CRB9/1582

C327 Cartilha de governança em entidades esportivas Lei


9.615/98 / responsáveis técnicos Fernando Marinho
Mezzadri ... [et al.]. – Brasília : Ministério do
Esporte, 2018.
70 p. : color.

1. Brasil. Lei 9.615, de 24 de março de 1998. 2.


Esportes - Brasil - Administração. 3. Governança
corporativa - Brasil. I. Mezzadri, Fernando Marinho. II.
Brasil. Ministério do Esporte.

CDD (22. ed.) 796.069


RESPONSÁVEIS TÉCNICOS:
Fernando Marinho Mezzadri
Luiz Gustavo Nascimento Haas
Raimundo da Costa Santos Neto
Thiago de Oliveira Santos

COLABORADORES:
Daniel Chierighini Barbosa
Diego Ferreira Tonietti
Joabe Pereira Coutrin
João Victor Moretti de Souza
Wagner Alessander Ferreira
SUMÁRIO

1. Introdução............................................................................................................................................................................................................13

2. Princípio da Transparência e Controle Social...........................................................................................................................21

3. Princípio da Democracia e Equidade............................................................................................................................................33

4. Princípio da Prestação de Contas (Accountability)..............................................................................................................43

5. Princípio da Responsabilidade...........................................................................................................................................................53

6. Referencial Básico.......................................................................................................................................................................................70
PREFÁCIO

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A presente cartilha surgiu da necessidade Sem qualquer pretensão doutrinária,
de se apresentar um material com a presente cartilha busca ser um meio
regras mínimas de transparência, prático de consulta sobre orientações
gestão democrática e responsabilidade atuais emanadas daqueles que têm
dos gestores, apontando uma nova a obrigação de fiscalizar os gastos
direção a ser seguida pelas entidades de recursos públicos distribuídos a
componentes do Sistema Nacional do tais entidades e visa a democratizar a
Desporto. O material foi concebido a informação, muitas vezes restrita ao
partir de uma visão não só do Ministério universo jurídico, a todos aqueles que
do Esporte, mas dos próprios órgãos tenham o interesse em conhecer mais
de controle, como o Tribunal de Contas sobre as diretrizes de governança da Lei
da União e a Controladoria-Geral da Pelé e como transformá-las em ações
União, externadas em seus acórdãos e concretas.
auditorias. Neste trabalho, contamos com o
Ela foi elaborada em linguagem simples, auxílio fundamental de nossos técnicos
com o objetivo de orientar os gestores de e com uma parceria realizada com
entidades beneficiadas pelos recursos a Universidade Federal do Paraná.
da Lei Agnelo Piva na elaboração de Acreditamos que, mais do que fiscalizar,
seus regulamentos internos e na própria é função do Ministério do Esporte
gestão da entidade. informar as entidades, os atletas e a

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sociedade civil, por meio da difusão
do conhecimento e cooperar para um
ambiente esportivo mais transparente e
saudável.
Desejamos que este material seja apenas
um ponto de partida para muitas outras
ações com foco no desenvolvimento
institucional do esporte, constituindo-
se em parte do grande legado imaterial
deixado pela Rio 2016.

Leonardo Picciani
Ministro de Estado do Esporte

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INTRODUÇÃO

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Perspectiva
histórica da
governança
A governança tem sido uma área sob responsabilidade de uma única
de grande evolução nas questões pessoa ou família.
relacionadas à gestão de organizações
A pulverização da propriedade das
públicas e privadas. A questão fundamental empresas, por meio das ações nas bolsas
que preocupava as pessoas de valores, permitiu o surgimento das
comprometidas com as organizações, diretorias executivas que contavam com
sejam públicas ou privadas, era procurar profissionais contratados para conduzir
formas de garantir que os gestores as operações diárias e que certamente
tomassem decisões de acordo com o passaram a influenciar as tomadas de
interesse geral dos interessados e não decisões das organizações. O poder
somente seguindo vontades pessoais passava a ser compartilhado entre os
(CLARKE, 2004). donos das empresas e administradores
O surgimento das discussões acerca profissionais, o que trouxe uma gestão
da governança das organizações no mais moderna e menos personalizada.
mundo corporativo surge na década A grande expansão dos debates acerca
de 1930, logo após o crash da bolsa da governança voltou a tomar corpo
de Nova York, com a publicação nos anos 1990 com o aparecimento de
das primeiras obras que analisaram grandes escândalos de corrupção em
algumas alterações que acorreram nas empresas multinacionais, como Enron
corporações daquela época. A principal e WorldCom. Como resposta a essa
mudança está relacionada à separação movimentação no mercado de ações e à
da propriedade e da gestão, já que, desconfiança por parte dos investidores,
no início do século XX, tanto o capital começaram a surgir relatórios, guias
quanto a gestão das empresas estavam e leis, publicados por entidades

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responsáveis pelo desenvolvimento assunto no país. Em 1999, o IBGC lança
e pela regulamentação do mercado, a 1ª versão do Código das Melhores
para apresentar os primeiros princípios Práticas de Governança Corporativa.
da governança, fundamentados na Em 2015, o documento chegou a sua
ética e transparência na gestão das 5ª versão, consolidando-se como uma
organizações. importante ferramenta na disseminação
dos conceitos sobre governança.
Dentre os documentos que foram
pioneiros na definição dos princípios de Atualmente, a adoção de boas práticas
governança, destacamos o Relatório de governança traz grandes benefícios
Cadbury e o Relatório “Principles of para as organizações não somente
Corporate Governance” da Organização do meio corporativo, mas também
para a Cooperação e Desenvolvimento de entidades públicas e privadas
Econômico (OCDE). sem fins lucrativos. A cobrança da
sociedade por atitudes mais éticas e
No Brasil, o processo de disseminação transparentes reforça a importância do
dos princípios de governança também desenvolvimento dessas práticas dentro
aconteceu no decorrer dos anos dos mais variados contextos.
1990, juntamente com o processo de
abertura do mercado e a entrada de
grupos internacionais em processos
de privatizações, fusões, aquisições e
incorporações. Destaca-se a criação
do Instituto Brasileiro de Governança
Corporativa (IBGC) no ano de 1995, que
se tornou uma grande referência no

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A governança
nas organizações
esportivas
Para entender como os princípios de As organizações esportivas, no formato
governança podem ser aplicados nas que conhecemos, surgiram durante
organizações pertencentes ao ambiente o século XX, utilizando de uma lógica
esportivo, é preciso primeiramente federativa (piramidal) de gestão amadora
buscar algumas reflexões sobre a e em uma dinâmica de promoção social.
governança nas organizações sem fins Ou seja, o sistema esportivo atual vive
lucrativos. um processo de mudança, deixando
As organizações sem fins lucrativos sua lógica pretérita para adotar novos
possuem historicamente bases nos princípios de gestão profissional e
valores de filantropia, voluntariado e de geração de negócios. No mundo
prestação de serviços. Em grande moderno, há uma necessidade
parte das sociedades do mundo, essas irreversível de profissionalização das
organizações possuem um importante referidas entidades, com vistas,
papel em tarefas sociais como educação, inclusive, à sua subsistência numa
esporte, saúde, cidadania, artes e outras. época em que cada vez mais se exigem
ética e transparência na administração,
Os fatores-chaves que diferenciam as
seja pública, seja privada.
organizações não lucrativas dos outros
tipos de organizações são: a primazia Esse conflito entre o velho e o novo
da sua missão de serviço; as diversas paradigma na gestão das organizações
fontes de financiamento; a mistura de esportivas já era destacado em 2001,
trabalhos voluntários e profissionais; o pelo então presidente do Comitê
expressivo papel que elas têm na vida Olímpico Internacional (COI) Jaques
dos indivíduos; e o seu papel na defesa Rogge, que, no prefácio do documento
das mudanças sociais. “Rules of the Game”, destacou o desafio

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que seria para o ambiente esportivo dos novos desafios dos dirigentes e de
conciliar os valores tradicionais do outros agentes envolvidos na gestão
esporte com os novos interesses dessas organizações. Pesquisadores na
comerciais e sociais. área da governança nas organizações
esportivas apresentam alguns fatores
A adoção de princípios de boa externos e internos que influenciam na
governança por parte das entidades adoção de boas práticas; são eles:
de administração do desporto é um

Relacionamento
entre governo
e o 3º setor

Pressão das Ambiente


partes regulador
interessadas

Organizações
esportivas

Existência de
guias de Globalização
governança
pelas agências
esportivas
Políticas
esportivas
governamentais

Influências externas na governança de organizações esportivas não lucrativas


(Adaptado Hoye & Cuskelly, 2007, p.19).

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Nota-se a existência de diversas Esse relacionamento entre órgãos
pressões por parte de diferentes órgãos públicos e entidades sem fins lucrativos,
do ambiente externo das organizações quando realizado de forma estratégica,
esportivas para que sejam adotadas boas consegue atender as demandas das
práticas de governança. Essa pressão diversas esferas do ambiente esportivo.
é resultado da grande importância das Além disso, existem diversos países que
entidades de administração do desporto elaboraram guias de governança para as
no desenvolvimento das modalidades e organizações esportivas (ex.: Reino Unido,
no contexto esportivo. Austrália, Nova Zelândia). Essa crescente
preocupação reforça a importância do
A globalização tem alterado, de
tema no desenvolvimento da gestão
modo rápido e intenso a forma
de organizações esportivas, tendo em
com que o esporte é produzido e
vista o protagonismo das entidades de
consumido mundialmente. O esporte
administração do desporto na sociedade
de alto rendimento é o fenômeno mais e o alto investimento público nessas
influenciado por este contexto, tendo organizações.
em vista a maior repercussão dos atletas
de alto nível em eventos internacionais. Visando auxiliar os gestores das
Tais consequências também chegam ao entidades componentes do Sistema
Nacional do Desporto, o Ministério do
esporte de base, isto porque as crianças
Esporte buscou criar um instrumento
são bastante influenciadas nas suas
didático e de fácil leitura, reunindo
escolhas esportivas.
princípios básicos de boa governança
O poder público é outro agente espalhados em diversos normativos
que possui grande influência nas como a Lei Pelé (Lei nº 9.615/1998), o
organizações esportivas no que Marco Regulatório da Organizações da
concerne à adoção de boas práticas Sociedade Civil (Lei nº 13.019/2014),
de governança. Não somente por ser a Lei de Acesso à Informação (Lei nº
responsável pela elaboração de políticas 13.527/2011), a Lei do PROFUT (Lei nº
relacionadas diretamente ao ambiente 13.155/2015), bem como apresentar os
esportivo, mas também por depender de conceitos fundamentais da governança
organizações do 3º setor para entregar e o que as entidades podem fazer para
determinados serviços à sociedade. aprimorá-la em seu âmbito de atuação.

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PRINCÍPIO DA
TRANSPARÊNCIA E
CONTROLE SOCIAL

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O que é?
O princípio da transparência surgiu da e o controle social na gestão de recursos
necessidade de aperfeiçoamento dos públicos no âmbito das entidades
instrumentos de controle de gestão. A esportivas:
melhoria da gestão está intimamente
• publicação de informações de
ligada à publicidade das informações
interesse público.
sobre a administração de determinada
entidade, seja ela pública ou privada. • espaços para a participação da
comunidade esportiva na busca de
O atendimento às regras de transparência
soluções para problemas na gestão
está relacionado à disponibilidade da
das entidades do sistema nacional do
organização de publicar informações
desporto.
que sejam de interesse público e
não somente aquelas impostas por • construção de canais de comunicação
disposições de leis ou regulamentos. As e de diálogo entre a comunidade
informações divulgadas não devem ser esportiva e os dirigentes.
exclusivamente de caráter econômico- • funcionamento das Comissões,
financeiro, mas também aquelas que
órgãos coletivos das entidades, com
contenham dados e informações
o papel de participar da elaboração,
referentes a aspectos estratégicos (ex.:
execução e fiscalização das políticas
planejamentos estratégicos), estruturais
esportivas desenvolvidas pela
(ex.: organogramas, relações de
entidade.
associados), de performance (ex.: metas
e indicadores de performance) e de •
modernização dos processos
governança (ex.: código de ética) (IBGC, administrativos, que, muitas vezes,
2015). dificultam a fiscalização e o controle
por parte da comunidade esportiva.
Com base na cartilha Olho vivo
(CGU, 2012), adaptamos os seguintes • simplificação da estrutura de
elementos, entendendo serem apresentação do orçamento
elementos mínimos para a transparência da entidade, o que aumenta

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a transparência do processo na gestão e no controle das atividades
orçamentário. desenvolvidas pelas entidades
responsáveis pelo desenvolvimento do
É através de amplo e irrestrito
desporto.
conhecimento sobre os dados de
gestão que se possibilita uma maior Desta forma, é obrigação das entidades
participação dos interessados na de administração do desporto gerir com
administração da entidade, bem como zelo a importante tarefa de fomento
o exercício de uma fiscalização eficaz do desporto, atuando de forma ética,
por parte deles. justa, consistente, buscando sempre
incentivar a participação de todos
Entidades que atendem adequadamente
os interessados por meio de uma
ao princípio da transparência são
administração transparente e dotada
capazes de transmitir à sociedade a
de mecanismos de controle externo
imagem de organizações confiáveis,
e interno.
tanto em suas relações com as entidades
e pessoas filiadas quanto nas relações
com organizações externas.
Sem uma administração transparente,
resta prejudicado qualquer instrumento
de controle social. Uma gestão
transparente garante que instrumentos
de controle social possam ser utilizados
apropriadamente, criando um ambiente
propício ao aperfeiçoamento da gestão.
O controle social eficiente, aliado a boas
práticas relacionadas a uma gestão
democrática, permite que todos possam
exercer seu papel no planejamento,

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O que diz a
Lei Pelé?
O princípio da transparência encontra-se Art. 18-A. IV - Sejam transparentes
abrigado no próprio texto constitucional, na gestão, inclusive quanto aos
no artigo 37, sob a denominação de dados econômicos e financeiros,
contratos, patrocinadores, direitos
princípio da publicidade.
de imagem, propriedade intelectual
Considerando que grande parte dos e quaisquer outros aspectos de
recursos administrados pelas entidades gestão.
desportivas advém de fonte pública (Lei Art. 18-A. VII – estabeleçam em
Agnelo Piva), a Lei Pelé (Lei nº 9.615, seus estatutos:
de 24 de março de 1998) apresentou
b) instrumentos de controle social.
o princípio da transparência como de
c) transparência da gestão da
observância obrigatória, dispondo em
movimentação de recursos.
seu artigo 2º, parágrafo único, que a
exploração e a gestão do desporto Art. 18-A. VIII - Garantam a todos
profissional constituem exercício de os associados e filiados acesso
irrestrito aos documentos e
atividade econômica sujeitando-se,
informações relativos à prestação
especificamente, à observância dos
de contas, bem como àqueles
princípios da transparência financeira
relacionados à gestão da respectiva
e administrativa, dentre outros. entidade de administração do
Para dar efetividade à norma, o legislador desporto, os quais deverão ser
apresenta as seguintes obrigações para publicados na íntegra no sítio
as entidades do Sistema Nacional do eletrônico desta.
Desporto receber em qualquer forma A publicação de documentos financeiros,
de aporte de recurso público com base de relatórios de gestão, de contratos,
na Lei nº 9.615/98: bem como a criação de órgãos de

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ouvidoria são obrigações mínimas público geral, da gestão da entidade,
cujo objetivo é atender às disposições inclusive os relativos à execução
existentes na Lei Pelé relacionadas ao orçamentária, tais como:
princípio da transparência e ao controle I - as ações relacionadas ao recebimento
social. e destinação de recursos públicos,
Desta forma, é importante que o gestor com a indicação dos respectivos
fique atento às questões de transparência instrumentos de formalização dos
na gestão da movimentação de recursos acordos, seu respectivo valor, prazo
e de fiscalização interna, e que garanta de vigência, nome da pessoa, física ou
acesso irrestrito a todos os associados e jurídica, contratada, entre outros;
filiados aos documentos e informações II - a elaboração de relatórios de gestão e
relativos à prestação de contas, bem de execução orçamentária, atualizados
como aqueles relacionados à gestão. periodicamente; e
Nesse processo, a internet é III - a publicação anual de seus balanços
ferramenta fundamental a ser utilizada, financeiros.
devendo todos os documentos serem
É importante ressaltar que, nos casos
disponibilizados na íntegra no sítio
relacionados à contratação de serviços
eletrônico oficial de cada entidade.
ou aquisição de produtos com recursos
Para o efetivo exercício de controle provenientes de fonte pública, a
social e de transparência da gestão entidade deverá estabelecer um sistema
da movimentação de recursos e de compras e contratações de serviços,
de fiscalização interna, devem ser garantindo assim a total transparência
publicados aqueles documentos que nos processos, com base no Decreto nº
permitam o acompanhamento, pelo 8.726, de 27 de abril de 2016.

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Nesses casos, a entidade deverá publicar públicos, a qualquer título, propiciar
todos os contratos estabelecidos e os meios para o atendimento das
em vigência em sua íntegra. O não disposições da Lei de Acesso à
cumprimento da referida norma pode Informação, conforme determina a LAI:
implicar em dificuldades para aprovação
das prestações de contas junto aos Art. 1º Esta Lei dispõe sobre
órgãos de controle. os procedimentos a serem
Por fim, é importante destacar que a observados pela União, Estados,
Lei nº 12.527, de 18 de novembro de Distrito Federal e Municípios,
2011, também conhecida como Lei com o fim de garantir o acesso
de Acesso à Informação, estabelece a informações previsto no inciso
procedimentos que devem ser utilizados XXXIII do art. 5º, no inciso II do § 3º
pelos órgãos públicos para garantir do art. 37 e no § 2º do art. 216 da
acesso às informações. Constituição Federal.
A Lei de Acesso à Informação dispõe Art. 2º Aplicam-se as disposições
que a aplicação das regras previstas desta Lei, no que couber, às
nesta norma deve ser seguida entidades privadas sem fins
por “entidades privadas sem fins
lucrativos que recebam, para
lucrativos que recebam recursos
realização de ações de interesse
públicos diretamente do orçamento
público, recursos públicos
ou mediante subvenções sociais,
contrato de gestão, termo de parceria, diretamente do orçamento ou
convênios, acordo, ajustes ou outros mediante subvenções sociais,
instrumentos congêneres”. contrato de gestão, termo de
parceria, convênios, acordo, ajustes
É obrigação dos dirigentes envolvidos
ou outros instrumentos congêneres.
na gestão de entidades desportivas
que recebam recursos públicos, a
O Decreto 7.724/12 determina
qualquer título, que atentem às normas
e aos procedimentos estabelecidos na documentos mínimos a que devem ser
mencionada lei. dado transparência pelas entidades que
É obrigação do gestor das entidades recebem recurso público a qualquer
desportivas beneficiárias de recursos título. Dispondo:

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Art. 63. As entidades privadas § 3º As informações de que trata
sem fins lucrativos que receberem o caput deverão ser publicadas a
recursos públicos para realização partir da celebração do convênio,
de ações de interesse público contrato, termo de parceria, acordo,
deverão dar publicidade às ajuste ou instrumento congênere,
seguintes informações: serão atualizadas periodicamente
I - cópia do estatuto social e ficarão disponíveis até cento
atualizado da entidade; e oitenta dias após a entrega da
II - relação nominal atualizada dos prestação de contas final.
dirigentes da entidade; e
III - cópia integral dos convênios, Além das informações citadas, a Lei
contratos, termos de parcerias, nº 13.019/2014 trouxe mais algumas
acordos, ajustes ou instrumentos exigências de transparência, sempre
congêneres realizados com que for formalizada qualquer parceria
o Poder Executivo federal, com o poder público, determinando em
respectivos aditivos, e relatórios seu Art. 11;
finais de prestação de contas, na
forma da legislação aplicável. Art. 11. A organização da sociedade
civil deverá divulgar na internet e
§ 1º As informações de que trata o
em locais visíveis de suas sedes
caput serão divulgadas em sítio na
sociais e dos estabelecimentos
Internet da entidade privada e em
quadro de avisos de amplo acesso em que exerça suas ações todas
público em sua sede. as parcerias celebradas com a
administração pública.
§ 2º A divulgação em sítio na
Internet referida no §1º poderá ser Parágrafo único. As informações
dispensada, por decisão do órgão de que tratam este artigo e o art.
ou entidade pública, e mediante 10 deverão incluir, no mínimo:
expressa justificação da entidade, I - data de assinatura e identificação
nos casos de entidades privadas do instrumento de parceria e do
sem fins lucrativos que não órgão da administração pública
disponham de meios para realizá-la. responsável;

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II - nome da organização da
sociedade civil e seu número de
inscrição no Cadastro Nacional
da Pessoa Jurídica - CNPJ da
Secretaria da Receita Federal do
Brasil - RFB;
III - descrição do objeto da parceria;
IV - valor total da parceria e valores
liberados, quando for o caso;
V - situação da prestação de
contas da parceria, que deverá
informar a data prevista para a sua
apresentação, a data em que foi
apresentada, o prazo para a sua
análise e o resultado conclusivo.
VI - quando vinculados à
execução do objeto e pagos com
recursos da parceria, o valor total
da remuneração da equipe de
trabalho, as funções que seus
integrantes desempenham e
a remuneração prevista para o
respectivo exercício. (Incluído pela
Lei nº 13.204, de 2015)

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O que a entidade pode fazer sobre
a transparência dos seus dados
para melhorar seus indicadores de
governança?
Apesar de não haver determinação preferência em local de fácil acesso,
legal específica sobre a periodicidade os seguintes documentos: estatuto,
da publicação de seus balancetes, é código de ética e/ou conduta, relação
recomendado que as organizações de dirigentes eleitos contendo nome
o publiquem mensalmente e/ou e cargo, organograma completo
trimestralmente, de forma a ser mais contendo nomes e cargos, relação
transparente na gestão da movimentação de associados ativos, relatórios
de seus recursos financeiros. anuais de atividades, planejamento
e/ou orçamento anual aprovado em
Sem prejuízo das obrigações legais assembleia geral, contratos firmados
anteriormente elencadas, no que diz desde que não tenham cláusulas
respeito à publicação de documentos de confidencialidade, editais de
relativos à gestão das entidades convocação de assembleias gerais
esportivas, e considerando o que é ordinárias e extraordinárias, atas
estabelecido na definição do princípio das reuniões dos diferentes órgãos
da transparência, espera-se que as e, por fim, os regulamentos gerais
entidades de administração do desporto e das competições organizadas ou
divulguem nos sítios eletrônicos, e de homologadas pela entidade.

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O que a entidade pode fazer para
melhorar seus instrumentos de controle
social?
A criação de instrumentos de controle O Ministério da Transparência e
social é fundamental, sendo de grande Controladoria-Geral da União (CGU)
importância que as entidades de elaborou um documento, denominado
administração do desporto tenham “Olho Vivo no dinheiro público”, que
em suas estruturas organizacionais um apresenta uma série de orientações para
órgão de Ouvidoria, autônomo e sem o exercício do controle social na gestão
subordinação aos órgãos de direção, pública e que pode ser usado como
em pleno funcionamento. Este canal referência para a entidades esportivas
serve de ferramenta para que as partes na elaboração de seus mecanismos de
interessadas obtenham informações controle.
sobre a gestão da organização, Permitir a participação do público ou
façam sugestões, elogios ou mesmo mídia nas assembleias gerais é também
denúncias sobre a administração da uma forma de aumentar o controle
entidade desportiva. social das organizações esportivas.
Outra forma da criação de instrumentos Esse tipo de iniciativa permite à entidade
de controle social está na criação de ser mais transparente nos momentos
conselhos para desempenhar funções de tomada de decisões estratégicas.
de mobilização, consultoria e fiscalização. A transmissão das assembleias e
Estes órgãos, para que tenham a reuniões por meio da internet também
devida efetividade nas questões é uma interessante opção para
relacionadas ao controle social, devem melhoria dos controles sociais e da
permitir a participação de integrantes ampla participação da sociedade.
independentes, ou seja, não envolvidos
com a direção da organização.

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PRINCÍPIO
DA DEMOCRACIA
E EQUIDADE

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O que é?
A democracia no ambiente esportivo É importante ressaltar que a Constituição
está relacionada à possibilidade de Federal de 1988, no art. 217, garante
acesso ao poder, à rotatividade nos às entidades esportivas autonomia na
órgãos de direção e à representação sua organização e funcionamento, não
dos agentes que compõem o círculo classificando essas organizações como
de atuação da organização (ex.: atletas, entidades públicas propriamente ditas.
árbitros, entidades de prática, dirigentes, No entanto, o princípio de democracia,
patrocinadores, mídia, entre outras e, consequentemente, de ampla
partes interessadas) nos órgãos de participação, é fundamental para o seu
tomada de decisão. funcionamento, tendo em vista que o
Desta forma, entende-se que o esporte é uma manifestação de caráter
aumento da participação de todos social que influencia indistintamente os
os atores envolvidos nas atividades mais diversos setores da sociedade,
das entidades de administração do podendo ser considerado um bem
desporto pode ajudar a aumentar a público imaterial.
qualidade e a legitimidade das tomadas Sendo assim, é importante que os
de decisões, tornando as ações destas dirigentes das entidades esportivas
organizações mais próximas daquilo permitam que os mais variados grupos
que os envolvidos no esporte gostariam envolvidos no desenvolvimento do
que fosse realizado. desporto tenham oportunidade de

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escolher os representantes dos órgãos
diretivos e que o acesso ao poder não
tenha cláusula de barreira que impeça
que pessoas que não estejam ligadas
ao atual grupo de poder possam se
candidatar e participar dos processos
eletivos.
Além do princípio da Democracia,
é importante ressaltar a importância
de adotar o princípio da equidade,
que é caracterizado pelo tratamento
justo e isonômico de todas as partes
interessadas, levando em consideração
seus direitos, deveres, necessidades,
interesses e expectativas (IBGC, 2015).
O tratamento equânime das partes
interessadas segue questões ligadas a
peso de votos e tratamento igualitário
de participantes esportivos.

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O que diz a Lei Pelé?
O princípio da Democracia está presente a) Princípios definidores de gestão
de forma significativa na legislação democrática;
esportiva do Brasil. Dentre os princípios [...]
fundamentais expostos no artigo 2º da
Lei Pelé, destaca-se a necessidade de e) Alternância no exercício dos
democratização do acesso às atividades cargos de direção;
desportivas sem qualquer distinção ou [...]
discriminação.
g) Participação de atletas nos
As últimas alterações na Lei Pelé (Lei colegiados de direção e na eleição
nº 12.868, de 2013) inseriram diversas para os cargos da entidade.
obrigações que as entidades de
Art. 18-A – VIII - § 3º II - São
administração do desporto devem
inelegíveis o cônjuge e os parentes
cumprir para atender aos dispositivos
consanguíneos ou afins até o 2º
da Lei. A legislação apresenta
(segundo) grau ou por adoção.
as seguintes obrigações para as
entidades pertencentes ao Sistema Já quanto ao processo eleitoral,
Nacional do Desporto: estabelece regras objetivas:

Art. 18-A – V - Garantam a Art. 22. Os processos eleitorais


representação da categoria assegurarão:
de atletas das respectivas I - colégio eleitoral constituído de
modalidades no âmbito dos órgãos todos os filiados no gozo de seus
e conselhos técnicos incumbidos direitos, admitida a diferenciação
da aprovação de regulamentos de valor dos seus votos;
das competições.
II - defesa prévia, em caso de
Art. 18-A – VII – Estabeleçam em impugnação, do direito de
seus estatutos: participar da eleição;

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III - eleição convocada mediante Art. 23. Os estatutos ou
edital publicado em órgão da contratos sociais das entidades
imprensa de grande circulação, de administração do desporto,
por três vezes; elaborados de conformidade com
esta Lei, deverão obrigatoriamente
IV - sistema de recolhimento dos
regulamentar, no mínimo:
votos imune a fraude;
[...]
V - acompanhamento da apuração
pelos candidatos e meios de III - a garantia de representação,
comunicação. com direito a voto, da categoria
de atletas e entidades de
§ 1º Na hipótese da adoção de prática esportiva das respectivas
critério diferenciado de valoração modalidades, no âmbito dos
dos votos, este não poderá órgãos e conselhos técnicos
exceder à proporção de um para incumbidos da aprovação de
seis entre o de menor e o de maior regulamentos das competições.
valor. (Renumerado do parágrafo
[...]
único pela Lei nº 13.155, de 2015)
§ 2º Os representantes dos atletas
§ 2º Nas entidades nacionais de de que trata este artigo deverão
administração do desporto, o ser escolhidos pelo voto destes,
colégio eleitoral será integrado, em eleição direta, organizada
no mínimo, pelos representantes pela entidade de administração
das agremiações participantes da do desporto, em conjunto com
primeira e segunda divisões do as entidades que os representem,
campeonato de âmbito nacional. observando-se, quanto ao
(Incluído pela Lei nº 13.155, de processo eleitoral, o disposto no
2015). art. 22 da Lei nº 9.615/1998.

37
O que é OBRIGATÓRIO sobre a
representação dos atletas?
Nos conselhos técnicos, incumbidos posicione claramente quanto à forma
da aprovação de regulamentos das de participação e eleição de atletas
competições, deve-se garantir a nestes colegiados, destaca-se que as
representação de atletas nos estatutos regras estabelecidas individualmente
e regimentos das entidades de por cada entidade para a escolha dos
administração do desporto. representantes dos atletas devem
No caso de conselho técnico, os estar descritas de forma clara e direta
representantes dos atletas deverão nos seus estatutos e não haja somente
ser escolhidos pelo voto dos pares, a menção de que os mesmos possuem
em eleição direta, organizada pela participação nos colegiados de direção
entidade, em conjunto com as que os e eleições. Essas determinações
representem, observando-se, quanto vão ao encontro do entendimento já
ao processo eleitoral, o estabelecido no consolidado no âmbito do Tribunal de
Art. 22 da Lei Pelé. Contas da União (TCU), nas auditorias
realizadas e consubstanciadas nos
Já nos colegiados de direção, embora a Acórdãos, 3.148/2016 - TCU - Plenário,
Lei Pelé tenha garantido a participação 3.150/2016 - TCU - Plenário, 3.151/2016
de atletas, a mesma foi omissa quanto - TCU - Plenário, e 3.152/2016 - TCU -
à sua forma de participação. Ainda Plenário.
que a Lei nº 9.615/1998 não se

38
O que é OBRIGATÓRIO sobre a
alternância de poder na entidade?
Neste caso, faz-se necessário que as
entidades de administração do desporto
prevejam em seus estatutos a menção
da obrigatoriedade de alternância
no exercício dos cargos de direção,
sendo o máximo de 4 anos, permitida
uma única recondução. Há também
a vedação à eleição do cônjuge e de
parentes consanguíneos ou afins, até 2º
grau ou por afinidade, do Presidente e/
ou dirigente máximo, com a finalidade
de se coibir em fraudes ao princípio da
alternância previsto na Lei.

39
O que pode ser feito pela entidade
sobre a representação dos atletas nos
órgãos diretivos e sua participação na
eleição para os cargos da entidade
desportiva?
A lei prevê duas hipóteses sobre a participar do órgão diretivo, é requisito
participação de atletas. Num primeiro obrigatório que os procedimentos
momento, como representante da sejam realizados de forma transparente
categoria de atletas junto ao órgão e com regras definidas no estatuto.
diretivo, e num segundo momento, como Noutro prisma, enquanto parte do
sujeito com capacidade eleitoral ativa. colégio eleitoral, é fundamental que
Inicialmente é importante salientar não existam restrições para que um
que, a despeito da obrigatoriedade atleta seja eleitor, como, por exemplo,
de participação de atletas nos órgãos a necessidade de ter sido medalhista
diretivos, a lei foi omissa sobre como olímpico ou ter ocupado determinada
aconteceria essa representação junto posição em ranking mundial, sob pena
aos órgãos executivos da entidade de criar em condições que restrinjam a
desportiva. Todavia, considerando o ampla participação de interessados.
princípio da democratização da gestão, Sugere-se que os requisitos para
é aconselhável que tal representação permitir a participação de atletas nos
ocorra por meio de processo eleitoral processos democráticos se restrinjam
que permita aos atletas a escolha de à necessidade de filiação obrigatória
seu(s) representante(s). na respectiva entidade há pelo menos
Independentemente da forma como 1 (um) ano e que o atleta tenha idade
aconteça a indicação do atleta para igual ou superior a 16 anos (desde que

40
emancipado ou acompanhado dos pais)
ou seja maior de 18 anos.
Não se pode esquecer de que, por
determinação legal, na hipótese da
adoção de critérios diferenciados na
valoração dos votos (pesos), esta não
poderá exceder à proporção de um
para seis entre o menor e o maior valor.
Embora não seja obrigatório, é
recomendado que exista também
disposição das entidades esportivas
em permitir a participação nos
processos eletivos e/ou nos órgãos
diretivos de representantes de árbitros
e treinadores, bem como, de qualquer
outro agente que tenha importância
no desenvolvimento de determinadas
modalidades.

41
42
PRINCÍPIO DA
PRESTAÇÃO
DE CONTAS
(ACCOUNTABILITY)

43
O que é?
O conceito de accountability diz constituir-se num meio de promover
respeito à obrigação que tem as às partes interessadas (ex.: atletas,
pessoas ou entidades às quais se treinadores, clubes, patrocinadores e
tenham confiado recursos, de assumir outros) informações de forma concisa,
as responsabilidades de ordem fiscal e compreensível, clara e inteligível (IBGC,
gerencial que lhes foram conferidas, e 2015).
de prestar contas a quem lhes delegou
De forma geral, as entidades de
essas responsabilidades demonstrando
administração do desporto e seus
o bom uso desses recursos (AKUTSU &
gestores são responsáveis pela
PINHO, 2002).
consolidação da sua prestação
Na governança, a accountability está de contas por meio de relatórios
intimamente ligada à prestação de financeiros, assumindo integralmente
contas. Esta envolve responsabilidade, as consequências de seus atos e
controle, transparência, além de omissões, devendo atuar com diligência
justificativas para as ações que foram ou e responsabilidade no âmbito do seu
deixaram de ser empreendidas (RAUPP papel no Sistema Nacional de Desporto.
& PINHO, 2015). Este processo deve

44
O que é o conselho fiscal?
O conselho fiscal da entidade de
administração do desporto deve ser
o principal organismo de controle
e de fiscalização desse princípio,
constituindo-se em importante órgão
regulador e fiscalizador no processo de
prestação de contas. É obrigatório que
o Conselho Fiscal seja independente da
diretoria e do conselho de administração,
se possível eleito através de processo
democrático. Ele pode servir como vetor
da implementação de boas práticas
de governança, direcionando seu foco
para a transparência, o controle e a
fiscalização dos atos internos da entidade,
com o objetivo de contribuir para o
melhor desempenho da organização
(IBGC, 2015).

45
O que diz a Lei Pelé?
A Lei nº 9.615/1998, como condição
para que entidade desportiva receba
recursos públicos, e para garantir a
eficácia decorrente do princípio ora
em análise, exige que as entidades de
administração do desporto:

Art. 18-A. Sem prejuízo do


disposto no art. 18, as entidades
sem fins lucrativos componentes
do Sistema Nacional do Desporto,
[...], somente poderão receber
recursos da administração pública
federal direta e indireta caso:
[...]
VI. Assegurem a existência e a
autonomia do seu conselho fiscal;
VII. Estabeleçam em seus
Estatutos:
[...]
d) fiscalização interna;
f) aprovação das prestações de
contas anuais por conselho de
direção, precedida por parecer
do conselho fiscal.

46
O que é OBRIGATÓRIO para a formação
de um Conselho Fiscal autônomo?
Corroborando o que dispunha a Lei A existência e autonomia dos conselhos
Pelé, a Lei nº 13.155/2015, que criou a fiscais das entidades de administração do
Responsabilidade Fiscal do Esporte - desporto são premissas fundamentais
LRFE (PROFUT), trouxe balizas mais para o cumprimento da legislação.
claras aos requisitos de um conselho Sem que os requisitos anteriores sejam
fiscal, ao estabelecer que será atendidos, não há como se falar em
considerado autônomo o conselho independência do conselho fiscal.
fiscal que tenha asseguradas condições
de instalação, de funcionamento e de
independência, garantidas, no mínimo,
por meio das seguintes medidas:
I - escolha de seus membros mediante
voto ou outro sistema estabelecido
previamente à escolha;
II - exercício de mandato de seus
membros, do qual somente possam
ser destituídos nas condições
estabelecidas previamente ao seu
início e determinadas por órgão
distinto daquele sob a sua fiscalização;
e
III - existência de regimento interno
que regule o seu funcionamento.

47
O que pode ser feito pela entidade
sobre o conselho fiscal?
Como sugestão às entidades de dos seus deveres legais e estatutários,
administração do desporto, é importante como:
que a escolha de seu conselho fiscal - a possibilidade de fiscalização, por
ocorra por meio de voto direto e que qualquer de seus membros, dos atos
haja a vedação de participação em sua dos administradores e de verificação
composição de atores que também do cumprimento dos seus deveres
exerçam cargo de direção. Tais medidas legais e estatutários.
tendem a garantir uma constituição
hígida e independente de um conselho - o direito de opinar sobre o relatório
fiscal. anual da administração, fazendo
constar do seu parecer as informações
À luz da legislação vigente, sugere-se às complementares que julgar
entidades de administração do desporto necessárias ou úteis à deliberação da
a definição das principais competências assembleia-geral.
do seu conselho fiscal, especialmente
aquelas relacionadas à fiscalização, - a possibilidade de denunciar por
análise e verificação do cumprimento qualquer de seus membros, aos órgãos
de direção e, se estes não tomarem

48
as providências necessárias para a financeiras elaboradas periodicamente
proteção dos interesses da entidade, à pela entidade.
assembleia-geral os erros, as fraudes - o poder de requisição de qualquer
ou os crimes que descobrirem, e dos seus membros de esclarecimentos
sugerir providências úteis à melhor ou informações, desde que relativas à
gestão da entidade. sua função fiscalizadora, assim como
- a convocação da assembleia- a elaboração de demonstrações
geral ordinária, se os órgãos da financeiras ou contábeis especiais.
administração retardarem por mais - a possibilidade de apurar fato cujo
de 1 (um) mês essa convocação, e da esclarecimento seja necessário ao
extraordinária, sempre que ocorrerem desempenho de suas funções e
motivos graves ou urgentes, incluindo formular, com justificativa, questões a
na agenda das assembleias as matérias serem respondidas pelos órgãos de
que considerarem necessárias. direção.
- a possibilidade de analisar o
balancete e demais demonstrações

49
O que é
OBRIGATÓRIO
sobre a prestação
de contas da
entidade?
Por exigência da legislação, cabe ao
conselho fiscal, por meio de parecer,
a recomendação ou não da aprovação
das prestações de contas anuais das
entidades de administração do desporto.

50
O que pode ser feito pela entidade
sobre a prestação de contas?
Uma vez que o princípio da prestação de 3)
apresentação de informações
contas envolve essencialmente valores referentes à força de trabalho, gastos
como responsabilidade, controle e com pessoal e ao cumprimento da
transparência, sugere-se às entidades legislação trabalhista.
de administração do desporto apresentar 4) apresentação de informações sobre
às partes interessadas os pareceres do a gestão de compras e contratações.
conselho fiscal devidamente subscritos
por contador legalmente habilitado, e 5) apresentação de informações sobre
auditadas por empresa particular as atas a gestão de transferências, se for o
de aprovação e o relatório de gestão das caso.
contas referentes ao exercício anterior. 6)
apresentação das demonstrações
contábeis.
Alguns itens possíveis de constar no
relatório de gestão da entidade: Esses itens devem ter o detalhamento
de informações suficientes (texto
1)
apresentação dos resultados descritivo) que possibilite à sociedade
quantitativos e qualitativos da gestão, o entendimento da utilização anual dos
em especial quanto à eficácia e recursos públicos e privados.
eficiência no cumprimento dos
objetivos estabelecidos para o Tais requisitos asseguram às partes
exercício (planejamento anual). Os interessadas informações concisas e
resultados devem ser embasados fidedignas sobre o andamento dos
por análise crítica por ocasião do não processos operacionais da entidade de
atingimento eventual de metas anuais. administração do desporto, permitindo
2)
os indicadores utilizados pela que estas sejam capazes de legitimar a
entidade utilizados para aferição do aprovação das suas contas.
atingimento das metas anuais.

51
52
PRINCÍPIO DA
RESPONSABILIDADE

53
O que é?
No contexto de governança, diz respeito no planejamento de suas atividades,
ao zelo que a organização deve ter buscando atender às demandas de
pela sua sustentabilidade, visando sua todos, e não apenas dos seus vértices
longevidade, incorporando indicadores estratégicos (ETHOS, 2009).
de ordem social na definição das suas No esporte, questões como a
operações (IBGC, 2015; TCU, 2014). sensibilidade das entidades em se
Para o desenvolvimento sustentável das relacionar com a comunidade e o seu
entidades da administração do desporto, poder mobilizador e multiplicador de
pressupostos como a responsabilidade ações socialmente responsáveis são
com o esporte em todas as suas algumas das premissas que ajudam
dimensões, a administração de seus a transmitir uma melhor imagem da
recursos e a percepção do impacto na entidade.
comunidade e nas partes interessadas Neste sentido, a responsabilidade das
são fundamentais. Por consequência, tais entidades de administração do desporto
práticas devem assegurar um impacto assume-se como um ponto fundamental
positivo na gestão destas entidades para potencializar o desenvolvimento
(SMITH & WESTERBEEK, 2007). do esporte, na medida em que reflete a
Deste modo, por meio de uma conduta preocupação com o impacto social das
responsável pautada no princípio ações dessas entidades, a eficiência dos
ético nas suas ações, a entidade deve seus processos internos, o cumprimento
potencializar a sua capacidade de ouvir dos seus deveres, o que contribui, assim,
com equidade os interesses das partes para o desenvolvimento do Sistema
e, se assim for devido, incorporá-los Brasileiro de Desporto.

54
A responsabilidade dos gestores da
entidade
No contexto da governança, um ações e na responsabilização pelos
modelo de gestão de entidades de seus atos junto aos instrumentos de
administração do desporto deve controle interno e externo à entidade.
propiciar o equilíbrio entre as legítimas Ainda assim, um dos grandes desafios
expectativas das diferentes partes está em determinar quanto de risco
interessadas, a responsabilidade e aceitar nas decisões tomadas pelos
discricionariedade dos dirigentes e a gestores dessas entidades. Numa
necessidade de prestar contas (IFAC, organização ideal, este risco, se
2001). assumido em um nível não aceitável,
No escopo do desenvolvimento deve ativar controles internos que
das suas atividades, as entidades auxiliem o gestor na melhor tomada
de administração do desporto, de decisão sem incorrer em atos
nomeadamente os seus dirigentes fraudulentos ou temerários.
e gestores, precisam satisfazer uma No esporte brasileiro, a Lei nº 13.155, de
gama complexa de objetivos políticos, 4 de agosto de 2015, conhecida como
econômicos, esportivos e sociais, o que “Lei do PROFUT”, trouxe a figura da
os submete a um conjunto de influências gestão temerária como instrumento
que tendencialmente norteiam as suas para a responsabilização dos gestores
decisões. das entidades de administração do
Neste sentido, definições claras desporto (i.e., artigos 24 a 27), pela prática
sobre o papel de cada gestor dessas de atos ilícitos de gestão irregulares,
entidades devem estar estabelecidas temerários ou, ainda, contrários ao
em códigos de ética e conduta previsto no contrato social ou estatuto.
formalmente instituídos, claros e O professor Luiz Regis Prado caracteriza
suficientemente detalhados. Isto a gestão fraudulenta como o incremento
permite maior transparência nas suas relevante do risco, produto de confiança

55
demasiadamente imprudente e objetivos sociais, funciona como um
audaciosa, com reflexos em transações importante indicador para potencializar
perigosas. Assim, fica claro que a Lei o desenvolvimento do esporte, à
preocupou-se em proteger as entidades medida que reflete a preocupação
desportivas de administradores com o impacto das decisões tomadas
aventureiros, despreocupados com o pelos responsáveis administrativos
resultado final de seus atos de gestão. da entidade, estabelecendo diretrizes
De modo objetivo, a Lei do PROFUT e correções para atos irregulares
elencou condutas vedadas aos cometidos pelos gestores e o
dirigentes das entidades, impondo uma descumprimento dos seus deveres
série de penalidades para aqueles que estatutários.
aderirem a comportamentos pouco Este cenário contribui para maior
cautelosos na condução das entidades transparência nos atos da entidade,
desportivas. maior controle social pelas partes
Do ponto de vista da responsabilidade interessadas e para a responsabilização,
do gestor, este mecanismo, além de forma efetiva, dos dirigentes pelas
de proteger as entidades e os seus entidades de administração do desporto.

56
O que diz a Lei Pelé?
Para garantir os pressupostos da do Sistema Nacional do Desporto,
responsabilidade às entidades de referidas no parágrafo único do
administração do desporto, dispõe a Lei art. 13, somente poderão receber
Pelé: recursos da administração pública
federal direta e indireta caso: [...]
Art. 18. Somente serão beneficiadas
com isenções fiscais e repasses III - destinem integralmente
de recursos públicos federais da os resultados financeiros à
administração direta e indireta, nos manutenção e ao desenvolvimento
termos do inciso II do art. 217 da dos seus objetivos sociais.
Constituição Federal, as entidades [...]
do Sistema Nacional do Desporto
que: Com a finalidade de zelar pela prudente
e responsável administração das
I - possuírem viabilidade e entidades do desporto, o art. 44, da Lei
autonomia financeiras; nº 13.155/2015, estendeu a aplicação da
II - estiverem em situação regular figura da gestão temerária para toda e
com suas obrigações fiscais e qualquer entidade do sistema nacional
trabalhistas; do desporto. Dispõe a Lei do PROFUT:
[...] Art. 24. Os dirigentes das entidades
V - demonstrem compatibilidade desportivas, independentemente
entre as ações desenvolvidas da forma jurídica adotada, têm
para a melhoria das respectivas seus bens particulares sujeitos ao
modalidades desportivas e o Plano disposto no art. 50 da Lei nº 10.406,
Nacional do Desporto. de janeiro de 2002.

Art. 18-A. Sem prejuízo do Art. 50. Em caso de abuso


disposto no art. 18, as entidades da personalidade jurídica,
sem fins lucrativos componentes caracterizado pelo desvio de

57
finalidade, ou pela confusão Art. 25. Consideram-se atos de
patrimonial, pode o juiz decidir, gestão irregular ou temerária
a requerimento da parte, ou do praticados pelo dirigente aqueles
Ministério Público quando lhe que revelem desvio de finalidade
couber intervir no processo, que os na direção da entidade ou
efeitos de certas e determinadas que gerem risco excessivo e
relações de obrigações sejam irresponsável para seu patrimônio,
estendidos aos bens particulares tais como:
dos administradores ou sócios da I - aplicar créditos ou bens sociais
pessoa jurídica. em proveito próprio ou de terceiros;
§ 1º Para os fins do disposto nesta II - obter, para si ou para outrem,
Lei, dirigente é todo aquele que vantagem a que não faz jus e
exerça, de fato ou de direito, poder de que resulte ou possa resultar
de decisão na gestão da entidade, prejuízo para a entidade desportiva;
inclusive seus administradores.
III - celebrar contrato com empresa
§ 2º Os dirigentes de entidades da qual o dirigente, seu cônjuge
desportivas respondem solidária ou companheiro, ou parentes,
e ilimitadamente pelos atos ilícitos em linha reta, colateral ou por
praticados e pelos atos de gestão afinidade, até o terceiro grau,
irregular ou temerária ou contrários sejam sócios ou administradores,
ao previsto no contrato social ou exceto no caso de contratos de
estatuto. patrocínio ou doação em benefício
§ 3º O dirigente que, tendo da entidade desportiva;
conhecimento do não cumprimento IV - receber qualquer pagamento,
dos deveres estatutários ou doação ou outra forma de repasse
contratuais por seu predecessor ou de recursos oriundos de terceiros
pelo administrador competente, que, no prazo de até um ano,
deixar de comunicar o fato ao antes ou depois do repasse,
órgão estatutário competente será tenham celebrado contrato com a
responsabilizado solidariamente. entidade desportiva;

58
V - antecipar ou comprometer II - comprove que agiu de boa-fé e
receitas referentes a períodos que as medidas realizadas visavam
posteriores ao término da gestão a evitar prejuízo maior à entidade.
ou do mandato, salvo: § 2º Para os fins do disposto no
a) o percentual de até 30% (trinta inciso IV do caput deste artigo,
por cento) das receitas referentes também será considerado ato
ao primeiro ano do mandato de gestão irregular ou temerária
subsequente; ou o recebimento de qualquer
b) em substituição a passivos pagamento, doação ou outra
onerosos, desde que implique forma de repasse de recursos por:
redução do nível de endividamento; I - cônjuge ou companheiro do
VI - formar défice ou prejuízo anual dirigente;
acima de 20% (vinte por cento) II - parentes do dirigente, em linha
da receita bruta apurada no ano reta, colateral ou por afinidade, até
anterior; o terceiro grau; e
VII - atuar com inércia administrativa III - empresa ou sociedade civil da
na tomada de providências qual o dirigente, seu cônjuge ou
que assegurem a diminuição companheiro ou parentes, em linha
dos défices fiscal e trabalhista reta, colateral ou por afinidade, até
determinados no art. 4o desta Lei; e o terceiro grau, sejam sócios ou
VIII - não divulgar de forma administradores.
transparente informações § 3º Para os fins do disposto no
de gestão aos associados e inciso VI do caput deste artigo,
torcedores. não serão considerados atos de
§ 1º Em qualquer hipótese, o gestão irregular ou temerária
dirigente não será responsabilizado o aumento de endividamento
caso: decorrente de despesas relativas
ao planejamento e à execução de
I - não tenha agido com culpa obras de infraestrutura, tais como
grave ou dolo; ou estádios e centros de treinamento,

59
bem como a aquisição de terceiros § 2º A assembleia geral poderá
dos direitos que envolvam a ser convocada por 15% (quinze
propriedade plena de estádios e por cento) dos associados com
centros de treinamento: direito a voto para deliberar sobre
I - desde que haja previsão e a instauração de procedimento de
comprovação de elevação de apuração de responsabilidade dos
receitas capazes de arcar com o dirigentes, caso, após três meses
custo do investimento; e da ciência do ato tido como de
gestão irregular ou temerária:
II - desde que estruturados na
forma de financiamento-projeto, I - não tenha sido instaurado o
por meio de sociedade de referido procedimento; ou
propósito específico, constituindo II - não tenha sido convocada
um investimento de capital assembleia geral para deliberar
economicamente separável das sobre os procedimentos internos
contas da entidade. de apuração da responsabilidade.
Art. 26. Os dirigentes que § 3º Caso constatada a
praticarem atos de gestão responsabilidade, o dirigente será
irregular ou temerária poderão ser considerado inelegível por dez
responsabilizados por meio de anos para cargos eletivos em
mecanismos de controle social qualquer entidade desportiva.
internos da entidade, sem prejuízo Art. 27. Compete à entidade
da adoção das providências desportiva, mediante prévia
necessárias à apuração das deliberação da assembleia
eventuais responsabilidades civil e geral, adotar medida judicial
penal. cabível contra os dirigentes para
§ 1º Na ausência de disposição ressarcimento dos prejuízos
específica, caberá à assembleia causados ao seu patrimônio.
geral da entidade deliberar sobre a § 1o Os dirigentes contra os quais
instauração de procedimentos de deva ser proposta medida judicial
apuração de responsabilidade. ficarão impedidos e deverão ser

60
substituídos na mesma assembleia. caso a medida judicial não tenha
§ 2º O impedimento previsto no sido proposta após três meses da
§ 1º deste artigo será suspenso deliberação da assembleia geral.

O princípio da prudência fiscal na


condução dos trabalhos da entidade
Trata-se de princípio que enseja gestão no médio e longo prazo. A observância
cautelosa com os gastos da entidade da gestão fiscal responsável está
e paralelamente exige a adoção de refletida na figura da gestão temerária,
medidas condicionantes de uma prevista na Lei da APFUT, consoante os
trajetória de ajuste fiscal, assegurando a artigos 24 e 27 da referida norma.
sustentabilidade financeira da entidade

61
O que é OBRIGATÓRIO sobre a viabilidade
e autonomia financeira da entidade?
Atualmente, a viabilidade e autonomia Ainda no que compete às
financeira da entidade, para fins legais, responsabilidades do dirigente máximo
deve ser comprovada por meio de da entidade e às suas atribuições, a
declaração firmada pelo Presidente legislação prevê a necessidade de:
ou dirigente máximo da entidade e - manter a escrituração completa de suas
contador legalmente habilitado, sob as receitas e despesas em livros revestidos
penas do Artigo 299 do Código Penal. das formalidades que assegurem a
respectiva exatidão, de acordo com
Art. 299. Omitir, em documento a legislação e normas editadas pelo
público ou particular, declaração Conselho Federal de Contabilidade;
que dele devia constar, ou nele
inserir ou fazer inserir declaração - manter e conservar em boa ordem,
falsa ou diversa da que devia ser pelo prazo de cinco anos, contado da
escrita, com o fim de prejudicar data da emissão, os documentos que
direito, criar obrigação ou alterar a comprovem a origem de suas receitas
verdade sobre fato juridicamente e a efetivação de suas despesas, bem
relevante: Pena - reclusão, de um a como a realização de quaisquer outros
cinco anos, e multa, se o documento atos ou operações que venham a
é público, e reclusão de um a três modificar sua situação patrimonial; e
anos, e multa, se o documento é - apresentar à Secretaria da Receita
particular. Parágrafo único - Se o Federal do Brasil, anualmente,
agente é funcionário público, e Declaração de Rendimentos, em
comete o crime prevalecendo-se conformidade com o disposto em
do cargo, ou se a falsificação ou ato daquele órgão, sem prejuízo da
alteração é de assentamento de exigência de apresentação da cópia do
registro civil, aumenta-se a pena de respectivo recibo de entrega da referida
sexta parte. Falso reconhecimento
Declaração de Rendimentos.
de firma ou letra.

62
O que pode ser feito pela entidade para
melhorar sua transparência no quesito
de viabilidade e autonomia financeira?
De forma a ajudar as entidades
de administração do desporto a
potencializarem a sua viabilidade e
autonomia financeira, algumas medidas
podem ser adotadas, como:
- índice de gastos administrativos inferior
a um referente ao último exercício
encerrado, composto pela divisão
das despesas administrativas sobre a
receita total;
- não ter despesas maiores que receitas
nos últimos 3 anos;
- ser capaz de conduzir suas atividades
operacionais sem a necessidade de
grandes somas de recursos públicos
como, por exemplo, ter receita anual
da entidade com menos de 50% de
recursos públicos.

63
O que é OBRIGATÓRIO sobre os
requisitos fiscais e trabalhistas?
Adicionalmente e com base na A comprovação dos requisitos fiscais
legislação em vigor, é dever da com exceção da CNDT e PIS/PASEP
entidade estar em regularidade com pode ser feita mediante extrato emitido
as suas obrigações financeiras, fiscais e pelo sistema de consulta de requisitos
trabalhistas. Para efeito de comprovação fiscais disponibilizado pela Secretaria do
destas regularidades e consequente Tesouro Nacional.
verificação dos requisitos fiscais para Adicionalmente, destaca-se que,
serem beneficiadas com isenções fiscais quando do procedimento de verificação
e repasses de recursos públicos federais do cumprimento das exigências
da administração direta e indireta, estas estabelecidas nos artigos 18 e 18-A
entidades devem apresentar: para a celebração de parcerias, a
- Certidão Conjunta de Débitos relativos administração pública federal consultará
a Tributos e Contribuições Federais e à o Cadastro de Entidades Privadas Sem
Dívida Ativa da União fornecida pelos Fins Lucrativos Impedidas - CEPIM,
sistemas da Secretaria da Receita Federal o Sistema de Convênios - SICONV, o
do Brasil - RFB e da Procuradoria-Geral Sistema Integrado de Administração
da Fazenda Nacional – PGFN; Financeira do Governo Federal -
- Certidão Negativa de Débito (CND); SIAFI, o Sistema de Cadastramento
Unificado de Fornecedores - SICAF e
- Certificado de Regularidade do Fundo o Cadastro Informativo de Créditos não
de Garantia do Tempo de Serviço – Quitados do Setor Público Federal -
CRF/FGTS; CADIN, para verificar se há informação
- Certidão Negativa de Débitos sobre ocorrência impeditiva à referida
Trabalhistas (CNDT); certificação e celebração.
- Comprovante de regularidade perante A manutenção, atualização e
o PIS/PASEP; posse destas certidões demonstra

64
fundamentalmente a responsabilidade
da entidade com a sua imagem perante
as partes interessadas e o Sistema
Nacional de Desporto.
Neste sentido, sugere-se a manutenção
destas certidões e comprovantes num
portal virtual de fácil acesso às partes
interessadas, de forma a garantir,
também, transparência na partilha
das informações no que se refere ao
cumprimento da legislação. Para além
disto, com relação às obrigações fiscais,
sugere-se à entidade a manutenção
das certidões negativas de existência
de débitos com tributos da União, do
Estado e do Município em que esta
estiver sediada.

65
O que é OBRIGATÓRIO sobre a
destinação de recursos para os
objetivos sociais da entidade?
Deve também a entidade de seus objetivos sociais, comprovando o
administração do desporto destinar destino dessas verbas sempre que lhe
integralmente os resultados financeiros à for solicitado.
manutenção e ao desenvolvimento dos

O que pode ser feito pela entidade


sobre a destinação de recursos para os
seus objetivos sociais?
Ainda que exista uma gestão superavitária, de potencializar o desenvolvimento
é importante que os gestores atendam do esporte no país, a entidade deverá
de forma adequada às demandas do estabelecer compatibilidade entre
desenvolvimento das modalidades as ações previstas e as metas, que
esportivas. Desta forma, não basta apenas se constituíam como base para o
buscar um balanço positivo, mas também desenvolvimento do esporte no Brasil.
atender, de forma responsável, todas Estas condições são fundamentais
as suas atribuições enquanto entidade para a garantia da sustentabilidade
promotora do esporte. da entidade e contribuem para uma
Deste modo, no desenvolvimento imagem responsável perante as partes
dos seus projetos e com o objetivo interessadas.

66
O que é OBRIGATÓRIO sobre as
responsabilidades do gestor da
entidade?
Apesar de a Lei nº 13.155, de 4 de [...] Pessoas físicas e jurídicas
agosto de 2015, conhecida como “Lei do de direito privado, com ou sem
PROFUT”, estar diretamente ligada ao fins lucrativos, encarregadas da
estabelecimento de princípios e práticas coordenação, administração,
de responsabilidade fiscal e financeira e normalização, apoio e prática
de gestão transparente e democrática do desporto, bem como as
para entidades desportivas profissionais incumbidas da Justiça Desportiva
de futebol, em suas disposições finais e, especialmente:
e transitórias obriga o cumprimento I - o Comitê Olímpico Brasileiro -
do disposto nos artigos 24 a 27 já COB;
supracitados, por todas as entidades
que compõem o Sistema Nacional do II - o Comitê Paraolímpico Brasileiro
Desporto caracterizadas no art. 13 da Lei - CPB;
Pelé, ou seja: III - as entidades nacionais de
administração do desporto;
IV - as entidades regionais de
administração do desporto;
V - as ligas regionais e nacionais;
VI - as entidades de prática
desportiva filiadas ou não àquelas
referidas nos incisos anteriores.
VII - a Confederação Brasileira de
Clubes - CBC.

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O que pode ser feito pelo gestor sobre
as suas responsabilidades à frente da
entidade?
A responsabilização por atos ilícitos, Adicionalmente, a manutenção de
atos de gestão irregular ou temerários um sistema eficaz de transparência na
praticados pelo gestor no âmbito do seu prestação de contas, controle social e de
mandato na entidade, constitui-se como riscos tende a potencializar a imagem de
um mecanismo de controle importante instituição responsável, o que melhora,
para a manutenção da transparência na por exemplo, a interação com as partes
forma como as decisões são tomadas. interessadas e a visibilidade perante os
Neste sentido, sugere-se ao gestor e parceiros institucionais.
à entidade a definição clara das suas
funções e das responsabilidades,
certificando-se do seu cumprimento o
órgão de controle interno, neste caso, o
seu conselho fiscal.

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Referencial Básico
Para organização desta cartilha, além da legislação sobre o esporte brasileiro, referência básica
para a construção deste instrumento, recorreu-se aos mais diversos documentos acadêmicos
sobre o tema da governança corporativa e no âmbito do esporte, incluindo-se manuais,
modelos e códigos de diversos países, entre os quais:
- Akatsu, L. & Pinho, J. G. de. (2002). Sociedade da informação, accountability e democracia
delegativa: investigação em portais de governo no Brasil. Revista de Administração Pública,
36, 5, 723-745;
- Clarke, T. (2004) Theories of corporate governance: The philosophical foundations of
Corporate Governance. Londres: Routledge.
- Controladoria-Geral da União (2012). Cartilha Olho Vivo no Dinheiro Público – Controle
Social. 3ed. Brasília: Gráfica Positiva.
- European Olympic Comitee (2001). The rules of the game. Conference report and conclusions.
- Hoye, R. & Cuskelly, G. (2007) Sport Governance. Oxford: Elsevier.
- Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (2015). Código das melhores práticas de
governança corporativa. 5ed. São Paulo: IBGC.
- Instituto Ethos de Empresa e Responsabilidade Social (2009). Relatório de Sustentabilidade
Instituto Ethos e UniEthos 2008. São Paulo: Gráfica Ideal.
- International Federation of Accountants (2001). Governance in the public sector: A governing
body perspective. Internacional Public Sector Study 13. New York: IFAC.
- McGowan, R. A., & Mahon, J. F. (2009). Corporate Social Responsibility in Professional Sports: An
Analysis of the NBA, NFL, and MLB. Academy of Business Disciplines Journal, 1(1), 45-82;
- Raupp, F. M., & Pinho, J. A. G. (2016). Review of passive transparency in Brazilian city councils.
Revista de Administração, 51(3), 288-296.
- Smith, A., & Westerbeek, H. (2007). Sport as a Vehicle for Deploying Corporate Social
Responsibility. Journal of Corporate Citizenship, 43-54. 70.
- Sport & Recreation New Zealand (2004). Nine steps for a effective Governance: Building
high performing organisations. 2ed. Nova Zelândia: Sport & Recreation New Zealand.
- Tribunal de Contas da União (2014). Referencial básico de governança aplicável a órgãos
e entidades da administração pública. 2ed. Brasília: TCU, Secretaria de Planejamento,
Governança e Gestão.
- UK Sport (2004). Good Governance guide for national governing bodies. Londres: UK Sport.

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