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Governança no esporte: Um olhar sobre a transparência

na Confederação Brasileira de Handebol

Marcelo Oliveira Leite


Philipe Rocha de Camargo

O handebol no Brasil foi reconhecido a partir dos anos 30, trazido por imigrantes
alemães e introduzido na cidade de São Paulo, onde se consolidou e formou a primeira
entidade de gestão da modalidade, a Federação Paulista de Handebol (FPH), criada em
1940. A modalidade ficou restrita no estado até a década de 60, quando foi apresentada
para professores de outros estados de uma forma mais didática, para que se fosse realizada
nas escolas, durante um curso internacional realizado na cidade de Santos-SP. (MELHEM,
2004; REIS, 2012). Nesse momento, o esporte no Brasil, era organizado pela
Confederação Brasileira de Desportos (CBD), que criou um departamento especifico de
handebol. O surgimento desse novo departamento, favoreceu a disseminação do esporte
em todo o território nacional. Por determinação do Ministério da Educação e Cultura
(MEC), o handebol deixou de ser gerido pela (CBD) e ficou a disposição da nova entidade
criada para gerenciar a modalidade.
Em 1979 foi fundada a Confederação Brasileira de Handebol (CBHb), entidade
que gerencia a modalidade no Brasil até os dias atuais. (CBHb, 2013), com filiação de
todos os estados do Brasil. O handebol brasileiro começou a despontar no cenário
internacional a partir do mundial adulto feminino que aconteceu no ano de 2013 quando a
seleção brasileira de handebol indoor, foi campeã. Gozzer, (2013) aponta que esse
crescimento1 se deu devido há alguns fatores: maior investimento público e privado;
contratação de treinadores europeus; intercâmbio de atletas; fases de preparação e
treinamentos.
O meu interesse pelo handebol se faz por mais de 10 anos. O motivo de relevância
da pesquisa, se dar pelo fato de vivenciar a modalidade e perceber as dificuldades que se
1
Referente a ascensão do Handebol até o ano de 2013
1
enfrenta hoje, para manter e desenvolver a modalidade, sabendo que verbas que eram
destinadas para a aplicação de projetos e ações de desenvolvimento da modalidade, não
foram aplicadas da forma correta e também não foram destinadas da forma que deveriam.

Na década de 90, grandes empresas americanas passaram por problemas


relacionados a sua gestão administrativa, gerando conflito entre administradores e
acionistas. Esses conflitos, geraram preocupações nas organizações, fazendo-as olharem
para duas situações que não faziam parte da geração dos conflitos, mas que poderiam
ser consideradas essenciais na resolução de alguns problemas encontrados: a
transparência e responsabilidade social. A partir daquele momento, começaram a
despontar estudos que levaram à criação de mudanças na lei, nas estratégias e práticas
de gestão e na condução dos negócios dessas empresas (SERAFIM; QUELLAS;
ALLEDI, 2010). Esse processo de mudança foi denominado de “Governança
Corporativa”.
O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, conceitua esse processo como:
O sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas,
monitoradas incentivadas e envolvendo os relacionamentos entre sócios,
conselhos de administração, diretoria, órgãos de fiscalização e controle e
demais partes interessadas. (IBGC, 2015, p. 20)

Para a Organisation For Economic Co-Operation And Development – OECD, a


governança corporativa é um conjunto de relações que envolvem gestores, conselhos
administrativos, acionistas e demais partes interessadas (OECD, 2004). Seguindo a
definição de governança corporativa e com intuito de fazer com que as empresas
conseguissem desenvolver sua gestão, foram criados princípios básicos para
fundamentar, proteger e potencializar os valores das organizações. Incluem-se nesses
princípios a transparência, a equidade, a prestação de contas (accountability) e a
responsabilidade Social (IBGC (2015).
Os assuntos relacionados a má gestão das entidades esportivas têm se destacado no
cenário esportivo internacional, por conta das quebras de conduta e de normas, por parte
das entidades esportivas. Isso tem justificado a crescente preocupação com a aplicação
de práticas de governa nas entidades esportivas, já que, de acordo com Healey (2012), a
governança interfere diretamente na forma como as organizações são geridas e
controladas. (HEALEY, 2012).
A Governança no esporte, foi criada para ser responsável diretamente pela gestão
do financiamento e direção das entidades esportivas, tendo como diretriz a
2
implementação

3
De normas, de condutas, que regem a atuação da entidade perante à sociedade e a
grupos de interesse, respeitando as especificidades de cada um desses grupos. Chappelet
(2018, p.08) diz que essa governança deve ser monitorada ao longo do tempo, para que
se tenha um diagnóstico preciso do processo de condução das entidades esportivas. Ele
ainda relata que a aplicação da governança, tem que ser feita exclusivamente com o
objetivo de ajudar a organização esportiva, evitando criar uma competição interna.
Estudos sobre governança corporativa no esporte, ou governança no esporte, estão
em crescimento e têm sido abordados por diversos pesquisadores das ciências do
esporte. Hums e MacLean (2009, p.04) afirmam que Governança no esporte é execução
do poder e da autoridade em uma organização esportiva, incluindo a elaboração de
políticas, determinando a missão da organização, as regras de elegibilidade e de
afiliação e o poder regulatório. Segundo Ferkins (2007), para que haja uma melhora na
eficiência e na eficácia2 das práticas de boa governança nas entidades esportivas, é
necessário desenvolver o conhecimento na área. Além disso, as boas práticas de
governança nas entidades esportivas têm sido executadas como uma alternativa de
combate à corrupção. (BRITO, 2015) alerta para o fato de que, atualmente, o esporte
tem um alto envolvimento com dinheiro, instigando comportamentos oportunistas para
se obter vantagens.

Assim como na governança corporativa, a governança no esporte baseia-se em


quatro dimensões para direcionar as entidades esportivas a terem sucesso nas suas
práticas de governança. Geeraert (2018,p.12) aponta que essas dimensões contribuem na
compreensão da justiça e da legitimidade no comprimento das regras e condutas dentro
das entidades esportivas. Sendo essas dimensões a transparência, o processo
democrático, a prestação de contas e controle interno e a Responsabilidade social. Como
objetivo central desse estudo, nosso foco será em apenas uma dessas dimensões: a
transparência, que segundo o IBGC (2015) se baseia na disponibilização das
informações para as partes interessadas, essas informações não são apenas as que são
impostas por lei e regulamentações. Deve ser considerado nessa concessão de
informações, os demais fatores que orientam as atividades de gestão e que conduzem à
conservação e à melhoria dos valores organizacionais, não focando apenas do
desempenho econômico financeiro. Para Moser (2001) a transparência é a vitrine de um
processo de trabalho que não está visível para os sujeitos que não estão diretamente
envolvidos, mas que demonstra o bom funcionamento da instituição.

2
Referente a avaliação das práticas de governança.
4
Meijer (2007, p.168) diz que aplicação da transparência nas entidades esportivas
simplifica o acesso da comunidade e das partes interessadas às mais variadas ações de
gestão que envolvem essas organizações. Além dessa facilitação do acesso às
informações, a transparência tem a prestação de contas como um dos seus pilares
fundamentais. Bovens et al. (2014) dizem que é através do acesso de prestação de
contas que a sociedade e as partes interessadas terão mais confiança nas entidades,
criando, assim, um vínculo maior de fidelidade.

Em 24 de Março de 1998, ao ser sancionada a Lei n°9.615, nominada como Lei


Pelé, estabeleceu-se também normas de condução do esporte que incluíam, dentre outras
coisas, os aspectos relacionados à transparência, e que deveriam ser utilizados pelas
entidades esportivas brasileiras (BRASIL, 1998). Apesar de ter sido criada em 1998, foi
a partir de 2013 que as entidades firmaram o compromisso de implementar boas práticas
de governança em seus processos de gestão. Via Lei Pelé, é possível observar a
imposição da aplicação dos princípios da governança, principalmente em relação à
regulamentação da prestação de contas sobre os diversos recursos financeiros, mas que
era justificado, sobretudo, pelo financiamento público às entidades de administração do
esporte. Entre esses princípios, incluíam-se: a) a transparência financeira e
administrativa; b) a moralidade na gestão desportiva; c) a responsabilidade social de
seus dirigentes; d) o tratamento diferenciado em relação ao desporto não profissional; e
e) a participação na organização desportiva do País.

No Art.18 da Lei Pelé, determina que as entidades esportivas, só receberão


recursos oriundos do governo federal caso cumpram:

I - Seu presidente ou dirigente máximo tenham o mandato de até 4 (quatro) anos,


permitida 1 (uma) única recondução;

II - Destinem integralmente os resultados financeiros à manutenção e ao


desenvolvimento dos seus objetivos sociais;

III - sejam transparentes na gestão, inclusive quanto aos dados econômicos e


financeiros, contratos, patrocinadores, direitos de imagem, propriedade intelectual e
quaisquer outros aspectos de gestão;

IV - Garantam a representação da categoria de atletas das respectivas modalidades


no âmbito dos órgãos da entidade incumbidos diretamente de assuntos esportivos e dos

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órgãos e conselhos técnicos responsáveis pela aprovação de regulamentos das
competições;

VI - Assegurem a existência e a autonomia do seu conselho fiscal;

VII - estabeleçam em seus estatutos:

a) princípios definidores de gestão democrática;


b) instrumentos de controle social;
c) transparência da gestão da movimentação de recursos;
d) mecanismos de controle interno;
e) alternância no exercício dos cargos de direção;
f) aprovação das prestações de contas anuais por conselho de direção, precedida por
parecer do conselho fiscal;
g) participação de atletas nos colegiados de direção e na eleição para os cargos da
entidade;
h) colégio eleitoral constituído de todos os filiados no gozo de seus direitos,
observado que a categoria de atleta deverá possuir o equivalente a, no mínimo, 1/3 (um
terço) dos votos;
i) possibilidade de apresentação de candidatura ao cargo de presidente ou dirigente
máximo da entidade com exigência de apoio limitada a, no máximo, 5% (cinco por cento)
do colégio eleitoral;
j) publicação prévia do calendário de reuniões da assembleia geral e posterior
publicação sequencial das atas das reuniões realizadas durante o ano;
k) participação de atletas nos colegiados de direção e no colégio eleitoral por meio
de representantes de atletas eleitos diretamente e de forma independente pelos atletas
filiados da entidade;

No segundo parágrafo é determinado que o Ministério do Esporte seja


responsável por fiscalizar o cumprimento dessas ações e a distribuição dos recursos
empregados nas entidades esportivas.

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Ao considerar a importância dos princípios da governança nos processos de
gestão das entidades, bem como ao compreender os aspectos legais impostos pela Lei
n°9.615/98 - Lei Pelé, esse estudo propõe analisar o indicador “transparência” na
Confederação Brasileira de Handebol. Nosso objetivo será, portanto, analisar se e como
a Confederação Brasileira de Handebol (CBHb) desenvolve os princípios de
transparência financeira e administrativa, como previstos pela legislação.

O interesse na realização desse estudo se deu pelo fato de que, ao longo dos
últimos anos, escândalos na gestão de algumas entidades esportivas (Confederação
Brasileira de Atletismo -CBAt, Confederação Brasileira de Vôlei – CBV, Confederação
Brasileira de Basquete – CBB - Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos -
CBDA, Confederação Brasileira de Tênis - CBT), incluindo a CBHb, têm sido
revelados pelos veículos midiáticos, “...fraudes e irregularidades afetam pelo mesmo
onze confederações no esporte do Brasil” (NEXOJORNAL, 2017). Para além de
apresentarem as fragilidades e as irregularidades das entidades, esses episódios
evidenciam a ausência dos princípios de governança no esporte brasileiro.

Em razão dos processos jurídicos desencadeados por esses eventos, algumas


dessas entidades passaram por mudanças em sua gestão administrativa, levando ao
afastamento de gestores suspeitos de envolvimento com casos do desvio de recursos
públicos destinados a manutenção e ao desenvolvimento do esporte.

METODOLOGIA

Essa pesquisa segue uma estratégia de pesquisa a nível exploratório e documental,


e pode ser caracterizado como pesquisa qualitativa. Segundo Creswell (2007, p.37) “a
pesquisa qualitativa inicia com suposições, uma visão de mundo, e a possibilidade de uso
de teorias, e o estudo dos problemas de pesquisa a partir dos significados que os
indivíduos dão aos problemas sociais e humanos.
Denzin e Licoln (2000) diz que o pesquisador que utiliza esse tipo de estratégia
pesquisa, desempenha um grande número de tarefas, desde da realização de entrevista e
observações, interpretação e análise de documentos, até a reflexão e introspecção intensas,
contextualizado o projeto de pesquisa no âmbito das experiências compartilhadas com os
sujeitos do estudo.
Nessa estudo, foi dado uma especial atenção ao indicador “transparência” Baseado

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na Lei Pelé 9.615/98 e na Cartilha de Governança, selecionamos 10 elementos que irão
compor o quadro da transparência: cópia do estatuto social atualizado; relação nominal
atualizada dos dirigentes da entidade; cópia integral dos convênios, contratos, termos de
parcerias, acordos, ajustes ou instrumentos congêneres realizados com o poder executivo
federal, respectivos aditivos, e relatórios finais de prestação de contas, na forma da
legislação aplicável; publicação anual de informações sobre as ações relacionadas ao
recebimento e destinação de recursos públicos com a indicação dos respectivos
instrumentos de formalização dos acordos, seu respectivo valor, prazo de vigência, nome
da pessoa física ou jurídica contratada; publicação anual de relatórios de gestão e de
execução orçamentária; publicação anual de balanços financeiros; registro atualizado das
competências e estrutura organizacional, endereços e telefones das respectivas unidades e
horários de atendimento ao público; informações sobre remunerações recebidas por
ocupante de cargo, posto, graduação, função, incluindo auxílios, ajuda de custo diárias,
além de quaisquer outras vantagens pecuniárias, inclusive indenizatórias, oriundas de
verbas públicas; informações concernentes a procedimentos prévios à contratação,
inclusive os respectivos editais e resultados, bem como instrumentos contratuais ou
congêneres celebrados; seção contendo respostas às perguntas mais frequentes da
sociedade; ferramenta de pesquisa de conteúdo que permita o acesso à informação de
forma objetiva, transparente e em linguagem de fácil compreensão; possibilitar a
exportação de relatórios em diversos formatos eletrônicos, inclusive abertos e não
proprietários, tais como planilhas e textos, de modo a facilitar a análise das informações.

De modo a identificar as ações de transparência desenvolvidas ou não pela


entidade, analisou-se o portal virtual da CBHb. A opção pela busca dessas informações
via página virtual oficial se deu baseado nas recomendações propostas pela Cartilha de
Governança em Entidades Esportivas - Lei 9.615/98 (MEZZADRI et al., 2018),
elaborada pelo Instituto de Pesquisa Inteligência Esportiva e pelo extinto Ministério do
Esporte. No documento elaborado, sugere-se o desenvolvimento de um canal de
comunicação aberto, que viabilize o diálogo entre a organização esportiva e a sociedade.
Via cartilha, é sugerido que os gestores utilizem a internet como ferramenta
fundamental na divulgação das informações referentes à prestação de contas, às ações
sociais, à aplicação de recursos, à possibilidade de compreensão das deliberações
relacionadas à transparência e ao controle social.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

A busca realizada na página virtual oficial da CBHb permitiu a coleta das


informações necessárias para que a proposta desse estudo fosse realizada: Identificar e
analisar se e como a Confederação Brasileira de Handebol (CBHb) desenvolve os
princípios de transparência financeira e administrativa, como previstos pela legislação.
Os elementos coletados não estiveram apresentados, todavia, de maneira padronizada. A
coleta apontou a existência de elementos disponíveis e de fácil acesso, em outros casos,
disponibilizados, mas que demandaram um considerado esforço para a sua identificação
e, por fim, documentos/elementos que não estavam disponíveis. De modo que fosse
possível uma ampla visualização de como se caracterizou a coleta desses dados, eles
foram apresentados no Quadro 1.

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CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE HANDEBOL - CBHb
ELEMENTOS STATUS
Cópia do estatuto social atualizado DIVULGADO
Relação nominal atualizada dos dirigentes da
NÃO DIVULGADO
entidade
cópia integral dos convênios, contratos, termos de
parcerias, acordos, ajustes ou instrumentos
congêneres realizados com o Poder Executivo
federal, respectivos aditivos, e relatórios finais de DIVULGADO, MAS COM DIFÍCIL ACESSO
prestação de contas, na forma da legislação
aplicável.

Publicação anual de informações sobre as ações


relacionadas ao recebimento e destinação de
recursos públicos com a indicação dos respectivos
DIVULGADO, MAS COM DIFÍCIL ACESSO
instrumentos de formalização dos acordos, seu
respectivo valor, prazo de vigência, nome da
pessoa física ou jurídica contratada;
Publicação anual de relatórios de gestão e de
execução orçamentária e Publicação anual de DIVULGADO, MAS COM DIFÍCIL ACESSO
balanços financeiros;
Registro atualizado das competências e estrutura
organizacional, endereços e telefones das
NÃO DIVULGADO
respectivas unidades e horários de atendimento ao
público;
Informações sobre
remunerações recebidas por
ocupante de cargo,
NÃO DIVULGADO
posto, graduação, função, incluindo auxílios,
ajuda de custo diárias, além de quaisquer outras
vantagens pecuniárias, inclusive indenizatórias,
oriundas de verbas públicas;
informações concernentes a procedimentos
prévios à contratação, inclusive os respectivos
DIVULGADO, MAS COM DIFÍCIL ACESSO
editais e resultados, bem como instrumentos
contratuais ou congêneres celebrados;
seção contendo respostas às perguntas mais
NÃO IDENTIFICADO
frequentes da sociedade.
ferramenta de pesquisa de conteúdo que permita o
acesso à informação de forma objetiva,
IDENTIFICADO
transparente e em linguagem de fácil
compreensão;

A lei Pelé sugere que no portal da transparência se tenha uma cópia do estatuto
social. Esse documento deve conter informações sobre ações e obrigações da entidade
esportiva. Na CBHb, o acesso à essa informação se deu de maneira facilitada, logo na
primeira aba, na parte superior do layout do site. Para o IBGC (2015), o estatuto é um
contrato que rege e estabelece a forma de funcionamento da organização, incluindo a
função de cada agente de governança. Sua função é contribuir com a transparência do
sistema de governança da organização, estimulando o desenvolvimento de confiança
para com todas as partes interessadas. Na aba de acesso, encontramos alguns outros
documentos, datados do ano de 2018.
10
11
Também esteve à vista, uma ata de assembleia geral realizada na cidade de Recife
no dia 26 de julho do ano de 2019. Na ocasião, foi solicitado essa reunião extraordinária
para votação de uma alteração estatutária para sua adequação conforme a Lei Pelé (Lei
nº 12.868, de 2013). Essa adequação se refere às normativas estabelecidas pela lei Pelé,
que previram a obrigatoriedade da participação no colegiado eleitoral de 16 (dezesseis)
atletas, eleitos por seus pares dentro de cada entidade esportivas, 27 (vinte e sete)
federações, 5 (cinco) clubes e 1 (um) árbitro. A proposta foi aprovada por 15 federações,
rejeitada por 8 federações e 2 federações estavam ausentes e não tiveram direito de voto.
Além disso, a Lei 12.868 de Outubro de 2013 estabeleceu que o estatuto contivesse
informações a respeito do cumprimento de: a) princípios definidores de gestão
democrática; b) instrumentos de controle social; c) transparência da gestão da
movimentação de recursos; d) fiscalização interna; e) alternância no exercício dos cargos
de direção; f) aprovação das prestações de contas por conselho de direção, precedida por
parecer do conselho fiscal; g) participação dos atletas nos colegiados de direção e na
eleição para os cargos da entidade. Partindo dessas orientações, foi verificado no estatuto
todas as seções e constatado que depois da alteração estatutária em 2018, o documento
ainda não se enquadrava totalmente dentro da nova atualização da Lei Pelé.

A alteração realizada no estatuto da CBHb está dentro do que se pede os órgãos


regulamentadores das entidades sem fins lucrativos. Segundo Mezzadri et al.(2018) e
ratificado pelos apontamentos trazidos pela Lei, duas são as hipóteses sobre a
participação do atletas. A primeira como representante da categoria atleta junto ao órgão
diretivo, e a segunda como um sujeito com capacidade eleitoral ativa. Seguindo essa
hipótese, e baseando-se também nas diretrizes estatutária, verificamos no site da CBHb
o que é informado sobre a participação do atleta no processo do desenvolvimento da
governança dentro da entidade, se os atletas são convocados para as reuniões
extraordinárias, e se sabem sobre as decisões tomadas pelo conselho administrativo.
Grigaliūnaitė; Eimontas (2019, p.20) apontam que quanto maior for o envolvimento do
atleta no processo decisório da entidade esportiva, melhor é o desempenho com se
refere a transparência. Ainda segundo os autores esse envolvimento pode trazer
benefícios, tanto para atleta como para a entidade esportiva.
O segundo elemento de análise, diz respeito à visualização da relação nominal
atualizada dos dirigentes das entidades. Entretanto, no site não foi possível identificar
quem, ou quais são os membros da equipe diretiva da confederação. IBGC, (2015, p.
69) define diretoria como o órgão responsável pela gestão da organização, cujo
12
principal

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objetivo, é fazer com que a organização cumpra seu objetivo e sua função social. É
através da diretoria que são exercidos os métodos de orientações aprovados pelo
conselho de administração. Esse conselho é responsável por monitorar o desempenho
dessa gestão, providenciando um retorno adequado a todas as partes interessadas.
(OCDE, 2016, p. 53). No site da CBHb na parte esquerda lateral da página,
encontramos alguns subtópicos que nos levam a outras páginas de acesso. Nos campos
de acesso aos conteúdos da diretoria, encontramos uma página apenas com a descrição
Diretoria, mas sem nenhuma informação. Em todos os documentos, encontra-se a
assinatura do presidente em exercício, mas não se acha qualquer outro documento
que informe o afastamento do antigo presidente ou até mesmo a nomeação desse
como presidente em exercício.

O presidente da CBHb foi afastado, devido a irregularidades no uso de R$ 21


milhões de repasse do Ministério do esporte. Uma das acusações encontram-se baseados
no desrespeito às diretrizes que regem a aplicação dos recursos provenientes do setor
público. A denúncia foi originada de uma empresa de telejornalismos, que apontou
diversas irregularidades nos 28 anos de gestão do presidente. Esse afastamento
aconteceu no dia 6 de abril de 2018, realizado pela justiça federal (FOLHA DE SÃO
PAULO, 2018; ESPN, 2018).
Na mesma seção de informação, encontramos o campo “Conselho
Administrativo” sendo composto por um presidente e cinco conselheiros. De acordo
com Silveira (2002), é importante que o conselho seja composto pela maioria de
membros externos para melhorar a tomada de decisão e aumentar o valor da empresa,
ao olhar dos seus investidores. Já para o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa,
a diversidade de perfis é fundamental na constituição do conselho, permitindo que aa
organização se deleite da variedade de argumentos e se tenha um processo de tomada de
decisão com maior segurança e qualidade. (IBGC, 2015, p. 42). Como já mencionado
aqui, um dos princípios que norteiam a Governança no esporte é a transparência. O
conselho administrativo tem papel fundamental nesse processo de transparência,
impondo melhores condições nas ações diretas da diretoria executiva. Para entender
melhor os objetivos e o papel do conselho dentro de órgão, utilizaremos alguns pontos
indicados na cartilha de melhores práticas de governança corporativa, publicado pelo
Instituto Brasileiro de Governança Corporativa no ano de 2002, que diz:
A missão do Conselho de Administração é proteger o patrimônio,
maximizar o retorno do investimento e agregar valor ao empreendimento a
longo prazo. Deve buscar o equilíbrio entre os anseios das partes
14
interessadas,

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de modo que cada uma receba benefício apropriado e proporcional ao vínculo
que possui com a organização.

Em comparação com o que foi encontrado no site da CBHb, é possível afirmar


que, em termos de relação entre Diretoria executiva e conselho de administração, a
confederação tem buscado ajustar suas ações, de modo que se obtenha um sistema
administrativo e executivo ajustados com as diretrizes que regem boas práticas de
governança, sobre tudo, a transparência. Porém ao delinearmos as ações e funções do
conselho, percebemos que quando se trata da relação com as partes interessadas, a
confederação ainda está procurando formas de ajuste para que elas façam parte dos
processos decisórios da entidade, visto que nos documentos recentes pesquisados, são
observadas um número limitado de ações decisórias que apontem a participação direta
dos atletas no processo de decisão.
O terceiro elemento analisado foi cópia integral dos convênios, contratos, termos
de parcerias, acordos, ajustes ou instrumentos congêneres realizados com o Poder
Executivo federal, respectivos aditivos, e relatórios finais de prestação de contas, na
forma da legislação aplicável. Esse requisito assegura às partes interessadas
informações concisas e fidedignas sobre o andamento dos processos operacionais da
entidade de administração do desporto, permitindo que estas sejam capazes de legitimar
a aprovação das suas contas (MEZZADRI et al., 2018). No acervo virtual da entidade
esportiva em análise, a identificação desses documentos foi morosa, pois a entidade não
apresentou desenvolver mecanismos de seletividade a respeito desses documentos. Não
havia separação por tema ou grau de importância, dificultando o acesso ao arquivo.
Quando pesquisado na barra de busca, também não foi possível encontrar os
documentos, uma vez que os mesmos não possuíam nomeação específica.
A prestação de contas (accountability) é um dos princípios que norteiam a
Governança, sendo um instrumento importante para a entidade esportiva no processo de
transparência, destinado as partes interessadas como um relatório da distribuição
financeira. O Conselho Federal de Contabilidade (2008, p.78) define a prestação de
contas como:
[...] o conjunto de documentos e informações disponibilizadas pelos
dirigentes das entidades aos órgãos interessados e autoridades, de
forma a possibilitar a apreciação, conhecimento e julgamento das
contas e da gestão dos administradores das entidades, segundo as
competências de cada órgão e autoridade, na periodicidade
estabelecida no estatuto social ou na lei.

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Assim, um dos benefícios da aplicação da prestação de contas na entidade
esportiva é o aumento da confiabilidade dos investidores atuais e possibilidades de
atração de novos investidores. Ainda segundo Matias-Pereira (2010,p.112),
accountability pode ser considerado um conjunto de mecanismos e procedimentos que
levam os gestores à prestarem contas dos resultados de suas ações, garantindo eficácia
no processo de transparência.
Para que se tenha controle e fiscalização das ações de prestação de contas dos
agentes de governança, é necessário que se constitua um conselho fiscal. Esse conselho
representa um sistema de fiscalização que não tem participação dos administradores ou
da equipe diretiva, e que tem como objetivo preservar o valor da organização (IBGC,
2015). No estatuto da CBHb é sugerido que esse conselho seria composto por três
membros efetivos e três membros suplentes, eleitos por um mandato de 4 anos. Como
requisito para ser eleito, o estatuto demanda que o candidato tenha formação em
ciências econômicas ou tenha participado de um conselho fiscal de entidade esportiva.
Ao verificar sobre os membros atuais do conselho fiscal, ou ata de posse, detectou-se a
não existência de documento que comprove a formação do atual conselho fiscal, embora
tenham sido identificadas assinaturas de membros dos conselhos em documentos
recentes, disponibilizados pela própria entidade. Na aba “Conselho Fiscal” foi
verificado um documento nomeado “parecer conselho fiscal 2019” que emitiu um
parecer favorável à prestação de contas do ano de 2018 da CBHb.
O quarto elemento de analise indica que as entidades façam a publicação anual
de informações sobre as ações relacionadas ao recebimento e à destinação de recursos
públicos, com a indicação dos respectivos instrumentos de formalização dos acordos,
seu respectivo valor, prazo de vigência, nome da pessoa física ou jurídica contratada. Na
CBHb essas informações foram identificadas com dificuldades. Do lado direito do
layout do site, próximo a barra lateral, encontramos o campo de acesso nomeado de
“documento”, onde se encontravam todos os documentos relacionados aos acordos e à
destinação dos recursos. Como já mencionado, os documentos estiveram desordenados,
o que dificultou a busca. A Lei Pelé determina que as informações prestadas estejam
claras e de fácil acesso para que os interessados possam ter facilidade na busca da
informação. Segundo o Decreto nº 7.724, de 16 de maio de 2012, essas informações
devem estar sempre atualizadas e disponibilizadas até cento e oitenta dias após a entrega
da prestação de contas final. A entidade esportiva só estará dispensada do cumprimento
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da divulgação dessas informações na celebração de contratos que tenham cláusulas de
confidencialidade, passando assim, a responsabilidade de fiscalização por parte do
conselho fiscal.
Na busca por um documento de demonstração contábil, identificou-se, na aba
documentos, um relatório contábil de auditoria externa dos anos de 2017 e 2018,
realizado no mês de março de 2019, por uma empresa de auditoria independente. Após a
averiguação dos documentos contábeis, foi dado um parecer favorável ao relatório de
auditoria pelo conselho fiscal. Para o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa,
(2015) a política de divulgação de informações da entidade, deve incluir o parecer do
conselho fiscal, divulgando os votos dos conselheiros, discordando ou não, como
também a justificativa de voto. Na ata de reunião disponibilizada, só se é informada a
pauta a ser debatida na reunião do conselho, assim como o parecer final da análise da
auditoria. Não foi identificada a votação para aceitação da auditoria, assim como uma
justificativa para a aceitação do relatório de auditoria. Ainda sobre a disposição da
caracterização do relatório de auditoria, o (OCDE, 2016) diz que além de fornecer a
certificação de demonstrações financeiras adequadas, a declaração de auditoria deve
fornecer um parecer de como as informações financeiras foram preparadas e
apresentadas. Todos os relatórios apresentados no site da CBHb fornecem esses dados
explicativos.
O quinto elemento de análise é a Publicação anual de relatórios de gestão e de
execução orçamentária. A publicação anual de relatórios contendo a execução
orçamentária é importante para a entidade esportiva, já que tende a manter uma relação
confiável com as partes interessadas, explicitando as ações e as aplicações financeiras.
No acervo de documentos do site da CBHb, na aba assembleia geral, encontram-se três
documentos nomeados de planos orçamentários, dos anos 2017, 2018 e 2019. O
relatório de execução orçamentária do ano de 2017 apontou que os recursos a serem
usados pela confederação foi de R$ 23.355.000,00. Em 2018, o previsto para a execução
era de R$ 20.585.477,22, e, por fim, em 2019, identificou-se uma substancial redução
no valor previsto, tendo em vista a perda dos principais patrocinadores da
confederação,1 “O Valor apresentado no relatório foi de R$ 11.058.803,70. Quando
falamos em relatório de gestão e execução orçamentaria, remetemos ao planejamento. O
planejamento criado da forma

1
Após afastamento do ex- presidente da Confederação Brasileira de Handebol devido a irregularidades na aplicação
de R$ 21 milhões repassado pelo ministério do esporte, a CBHb perde um dos seus principais
18
patrocinadores...”(LANCE, 2018).

19
Adequada possibilita aos gestores e as suas equipes, visualizarem integralmente as
exigências e limitações impostas. Para isso, é necessário a elaboração deum plano à
longo prazo. Esse plano deve ser conduzido pelo planejamento estratégico., conceituado
por Oliveira (2007) como um processo administrativo que possibilita ao executivo
estabelecer o rumo a ser seguido.
O sexto elemento de análise é a identificação do Registro atualizado das
competências e estrutura organizacional, endereços e telefones das respectivas unidades
e horários de atendimento ao público. Ao navegar no site da CBHb, identificou-se, no
campo Governança e transparência, a aba respectiva para a descrição das federações,
todavia, ao verificar os conteúdos contidos, foi encontrado todos os documentos
disponíveis no acervo virtual da confederação. Almeida, Machado Neto e Giraldi (2006,
p.17), referem-se à estrutura organizacional como o estabelecimento de um padrão de
coordenação e distribuição das atividades. No site da CBHb, foi identificado o link de
acesso que direcionava a um banco de dados de todos os documentos disponibilizados
pela confederação, porém não foi possível identificar as informações solicitadas pela
Lei Pelé. Feita uma varredura geral dentro site, também não foi possível identificar
qualquer informação, tais como os números de contato da confederação, endereço ou
horários de funcionamento, assim como endereço e contato das federações filiadas. Os
dados de endereço e a forma de contato com a CBHb foram identificados apenas por
meio do timbre da entidade, impressos nas atas de reuniões, termos de posse e editais. O
Guia de Acesso à Informação (2019) demonstra que as informações referentes ao
endereço, telefones e e-mails, devem ser relativas à todas as unidades do órgão ou da
entidade, ao menos até o 5º nível hierárquico (coordenações – gerais ou equivalentes).
O Sétimo elemento de análise, baseia-se na publicação das Informações sobre
remunerações recebidas por ocupante de cargo, posto, graduação, função, incluindo
auxílios, ajuda de custo diárias, além de quaisquer outras vantagens pecuniárias,
inclusive indenizatórias, oriundas de verbas públicas. Na aba de documentos, foram
identificados dois documentos nomeados de “Planilha de Recursos Humanos”, dos anos
2017 e 2018. Nessas planilhas, estiveram divulgados os nomes dos funcionários, suas
funções, emails, o valor bruto mensal, valor liquido e valor anual referente às
remunerações recebidas por ocupante de cargo. Porém, de acordo com o que se
estabelece a lei, não foi encontrado nenhum outro documento que contivesse a
comprovação efetiva dos gastos com diárias, auxílios ou demais gastos inerentes as
ações realizadas pelos agentes de governança.

20
Identificou-se, todavia, uma amostra superficial da distribuição dos gastos, sem maiores
detalhamentos, nos relatórios de auditoria.
A portaria Interministerial de nº 233, de 25 de maio de 2012, propõe que os
órgãos e entidades devem adequar seus sítios eletrônicos de modo que seja possível o
fácil acesso às informações referentes às remunerações, incluindo auxílios e ajuda de
custo. A mesma portaria orienta que essas informações sejam passadas para a
Controladoria Geral da União -CGU até o décimo dia útil do mês, para fins de
publicação no portal da transparência do Governo Federal. Ao verificar o portal da
transparência do Governo Federal, constatou-se que existem poucos documentos
referentes à CBHb, que, na sua maioria, estiveram datados de anos anteriores à 2003.
Na barra de busca, ao inserir o nome do presidente em exercício e os nomes dos
conselheiros apontados nos documentos atualizados investigados, nenhum resultado foi
identificado. Os documentos disponíveis no portal da transparência demonstram apenas
informações de liberação de recursos de convênios para a realização de eventos de
formação para professores de handebol das instituições de ensino superior, como
também a liberação de recursos para a participação das seleções, de base e adulta nos
seus respectivos mundiais.
O oitavo elemento de análise, trata da observância das informações concernentes
a procedimentos prévios à contratação, inclusive os respectivos editais e resultados, bem
como instrumentos contratuais ou congêneres celebrados. Em verificação ao acervo de
documentos disponibilizados pela CBHb, foi constatado, na aba Licitações, documentos
comprobatórios de pregão eletrônico, assim como algumas planilhas de pesquisas de
preços realizadas entre os anos 2014 a 2018. No ano de 2018, foram abertos doze editais
de pregões eletrônicos. No site, não foi encontrado nenhum documento que
comprovasse explicitamente a homologação das empresas vencedoras ou das empresas
concorrentes no processo licitatório, porém identificou-se alguns termos de referência
de contratação de produtos, que descreviam com exatidão os produtos que a empresa
vencedora deveria fornecer. No mesmo documento, havia a indicação da página virtual
de uma das empresas contratadas para gerir as licitações da CBHb.
Ao investigar no campo de pesquisa do site da empresa, constatou-se os
resultados dos dozes pregões aqui citados. A Lei nº 12.527/2011, no artigo 8º, é
previsto como dever dos órgãos e entidades públicas, independente de requerimentos, a
divulgação, de fácil acesso, de informações de interesses coletivos ou geral por eles
produzidas. No parágrafo 1 da respectiva lei, é determinado que na divulgação das

21
informações deverão constar no mínimo: “IV – informações concernentes a
procedimentos

22
Licitatórios, inclusive os respectivos editais e resultados, bem como a todos os
contratos celebrados;”. No segundo parágrafo, é descrito pela lei que os órgãos e
entidades públicas deverão utilizar todos os meios e instrumentos legítimos de que se
dispuserem, sendo obrigatória a divulgação em sítios oficiais da rede mundial de
computadores. Os métodos regulamentares transcritos acima, definem claramente a
necessidade de as entidades divulgarem, na internet, seus dados referentes aos editais
de licitação, dando significância para o avanço de um processo de transparência cada
vez mais eficaz e eficiente, facilitando o acompanhamento desses procedimentos pela
sociedade.
O nono elemento se refere à seção contendo respostas às perguntas mais
frequentes da sociedade. Em verificação em todo o site, não foi encontrado campo de
acesso ou seção de perguntas frequentes como solicita a lei. Segundo o Guia de
Transparência Ativa (GTA) para os órgãos e entidades do Poder Executivo Federal
(2019), é orientado que a entidade divulgue em seu site “Perguntas Frequentes”,
fazendo- a e mantendo-a constantemente atualizada, disponibilizando as perguntas
usualmente formuladas pelos cidadãos. Essa normativa, está disposta na resolução
nº7/2002 do comitê eletrônico de governo, que orienta acerca da criação de seção
dedicadas às respostas e perguntas da sociedade.
No site da confederação, identificou-se um link de “Fale Conosco”, que permite
o acesso a um formulário de contato com a entidade esportiva. Essa a página está
caracterizada como ouvidoria, e para o acesso solicita: E-mail, nome completo, telefone
de contato, motivo do contato e um espaço para ser descrito o que o cidadão deseja. Para
Salgado; Antero,(2013), a ouvidoria tem como objetivo viabilizar os direito dos
cidadãos de serem ouvidos e terem suas demandas pessoais e coletivas tratadas
adequadamente no âmbito do órgão ou entidade a que estejam interessadas. Tem como
função mediar a relação entre a comunidade e as entidades viabilizando uma melhor
qualidade na comunicação entre eles, corroborando para um bom processo de
confiabilidade. Embora exista um canal de comunicação entre a entidade e a sociedade,
é determinada que exista uma ferramenta onde seja de fácil acesso que o interessado
tenha suas dúvidas sanadas com o mínimo tempo de espera.
O décimo elemento de análise é uma ferramenta de pesquisa de conteúdo que
permita o acesso à informação de forma objetiva, transparente e em linguagem de fácil
compreensão. Por meio do site, identificou-se uma barra de pesquisa que auxilia o
cidadão em uma busca por conteúdos de interesse, porém, como já mencionado, a

23
maioria dos

24
documntos não estão nomeados, dificultando a busca no acervo digital da entidade.
Quando buscado diretamente nos links de acesso, nos deparamos igualmente com
documentos fora de ordem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A adesão de boas práticas de governança, sobre tudo a transparência, representa


um importante avanço na legitimidade e na melhoria da eficiência da gestão de uma
entidade esportiva. A aplicação do indicador transparência no processo de gestão da
entidade propende a diminuir as condutas ilegais, aproximando a entidade da sociedade,
elevando a confiabilidade dos patrocinadores e partes interessadas (MEZZADRI et al.,
2018). O objetivo central desse estudo foi analisar se e como a Confederação Brasileira
de Handebol – CBHb, desenvolve os princípios de transparência financeira e
administrativa, como previstos pela legislação.
Pelo desenvolver da pesquisa, percebe-se que a CBHb tem tentado se adequar as
diretrizes postas pela legislação, atualizando seu estatuto e desenvolvendo estratégias de
gestão que ajudam a dinamizar os processos de transparência dentro da entidade.
Embora a divulgação de informações ligados a transparência financeira, ainda que
implicitamente, estiveram disponibilizadas em seu acervo virtual, foram encontradas
uma série de dificuldades, que implicou na morosidade para que os documentos
relacionados no quadro 1 pudessem ser identificados.
A investigação documental foi baseada na Lei Pelé 9.615/98 e na Cartilha de
Governança em entidades esportivas, que também tem como base a Lei Pelé. Na
identificação dos elementos dentro site da CBHb, foram encontrados documentos fora
dos campos designados no próprio portal. Essa desordem na publicação documental
dificultou a busca, uma vez que, no próprio site, encontramos campos de acesso
nomeados com o tipo de documento que ali deveria conter. Em nossa investigação,
identificamos diversos documentos datados entre 2017 a 2018. A Lei orienta que todos
os documentos, principalmente os que contenham dados financeiros, estejam
atualizados conforme o ano corrente. Embora a legislação indique que todos os dados
sejam de fácil acesso e de linguagem simples, contatou-se a omissão de dados
financeiros atualizados referentes à remunerações, (apesar de termos encontrados esses
dados apenas no ano de

25
2017 e 2018), dados financeiros sobre ajuda de custo com diárias, sendo só possível
identificar esses dados de forma geral, nos relatórios anuais de auditoria.
Sobre os relatórios de auditoria, constatou-se que todos estavam disponíveis com
seus respectivos pareceres de aprovação, porém como todos os outros documentos aqui
já citados estiveram fora do seu campo de acesso, no site, eles apenas foram
encontrados entre os documentos gerais, após uma análise meticulosa. Foi identificado
que em sua página oficial, a CBHb não disponibiliza a descrição de sua estrutura
organizacional, assim como de sua diretoria. Esses dados foram identificados, todavia,
em alguns documentos em forma de ata, em que continham a assinatura do presidente
em exercício, assim como um documento nomeando alguns diretores para os seus
respectivos cargos. Dentro do campo de acesso denominado de “Conselho de
Administração” identificamos a nomeação de um presidente e de quatro conselheiros
aprovados em assembleia, realizada no ano de 2019.
Por fim, a análise realizada possibilitou uma visão geral da aplicabilidade do
processo de transparência dentro de uma entidade esportiva, sobretudo, um olhar mais
detalhado sobre o processamento e divulgação de informações pertinentes às ações
realizadas pelos agentes de governança. A seguinte pesquisa poderá contribuir não
apenas com os aspectos acadêmicos, divulgando informações sobre as questões
relacionadas à governança nas entidades esportivas brasileiras, como espera-se alcançar
os aspectos práticos, auxiliando as entidades esportivas, de modo a elucidar as
necessidades de implementação de boas práticas de governança, em relação a
transparência financeira e administrativa. Assim, será possível desenvolver uma
aproximação entre a entidade esportiva e a sociedade, em que se incluem grupos de
interesses como investidores, atletas e patrocinadores.

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