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Campo de Atuação

da Educação Física:
Código de Ética
Carine Ferreira da Costa
Wagner José Nogueira
Campo de Atuação da
Educação Física: Código
de Ética

Introdução
Você está no conteúdo de Campo de Atuação da Educação Física: código de ética.
Conheça aqui os fatos que motivaram a elaboração do código de ética dos profissionais
de Educação Física, seus principais eixos norteadores, bem como os seus direitos e
deveres na prática profissional. Além disso, você vai ver também alguns dos principais
campos de atuação dos profissionais de educação bacharéis ou licenciados.

Bons estudos!

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O Código de Ética do Profissional de Educação
Física
O código de ética dos profissionais de Educação Física é recente, sua última versão
foi homologada em 2015. Ele é resultado do movimento em favor da regulamentação
da profissão, materializado no sistema Confef/Cref. O Código de Ética foi construído
a partir de documentos norteadores de caráter nacional e internacional e se propõe a
nortear as responsabilidades e consequências para o modo como se exerce o ofício
da profissão, se esforçando para contemplar os segmentos de licenciados e bacharéis,
na perspectiva do conceito da ética na sociedade em que vivemos.

Ética

Figura 1 - Ética.
Fonte: Olivier Le Moal, Shutterstock, 2020
#PraCegoVer: Na imagem vemos uma bússola, cujo ponteiro está apontando a
palavra Ética.

O conceito de ética é proveniente dos estudos da Filosofia, dessa forma, muitos


pensadores se debruçaram sobre tentar entende-la, dando ao conceito um caráter
digno de cada perspectiva filosófica defendida. O filosofo Aristóteles, que baseava seus
estudos no conceito de virtude, entendia que a ética era o indivíduo evitar extremos e
buscar ser feliz. Já Kant afirmava que a ética era guiar os homens no sentido da razão,
além de outros tantos que contribuíram para esse debate.

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A palavra ética tem sua origem na língua grega ethos, onde seu entendimento
pressupõe um exercício de caráter padronizado convencionalmente, a fim de respeitar
a si e ao próximo.

Na organização da atuação profissional a ética tem um sentido de valores, um conjunto


de medidas e condutas que visa orientar a forma como o profissional conduz suas
ações nas suas relações de trabalho.

Por ética se entende também uma conduta conveniente com a perspectiva estrutural
da sociedade, no nosso caso, uma sociedade democrática, onde existe a garantia da
liberdade de expressão e o respeito aos direitos e deveres dos cidadãos.

A primeira versão do código de ética dos profissionais de Educação Física, divulgado


pela Resolução nº 25/2000 do Confef (2000), considera que a ética tem como objetivo

(...) estabelecer um consenso suficientemente capaz de comprometer


todos os integrantes de uma categoria profissional a assumir um papel
social, fazendo com que, através da intersubjetividade, migre do plano das
realizações individuais para o plano da realização social e coletiva.
Ainda tentando contextualizar o sentido de ética para a gama de profissionais
atendidos pelo sistema CONFEF/CREF, são atribuídas as seguintes características
para o entendimento de ética pela Resolução nº 25 de 2000:

• Como parte da existência da história da moral, enquanto conjunto de normais


que regu- lam o comportamento individual e social do homem, tendo como
ponto de partida seus valores, princípios e normas, buscando atender aos an-
seios da sociedade;
• A qualidade e competência da atuação profissional, evitando a redução de
uma atividade normativa ou pragmática que a transformaria em um objeto do
senso comum ou até mesmo de normas adquiridas informalmente.

Nessa premissa, entendemos que o exercício ético deve ser exercido de forma justa,
onde os interesses individuais não prevalecem sobre os interesses coletivos e os
profissionais exercem seus ofícios visando a manutenção da vida e a contribuição
social.

Documentos Norteadores

O movimento para a construção do código de ética do profissional de Educação Física


foi elaborado pelo sistema CONFEF/CREF, tendo sido aprovado em um debate realizado
no espaço do Congresso Internacional da Educação Física em 2000. O documento foi

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inspirado nas Declarações Universais dos Direitos Humanos, na Agenda 21 e na Carta
Brasileira de Educação Física divulgada no ano 2000, além de considerar princípios
reguladores das Agências Nacionais e Internacionais de Controle de Dopagem,
segunda consta no descritivo do próprio documento homologado.

Cada um desses documentos tem um contexto histórico para sua criação ligado a
um objetivo visando o bem comum, em linhas gerais, uma síntese da sua importância
internacional, sendo eles:

Declaração universal dos direitos humanos

Documento que surgiu como resultado das demandas internacionais oriundas


da segunda guerra mundial. Objetiva compor um ideal comum a ser atingido entre
todos os povos e nações. Tem entre suas principais bandeiras: que todos os seres
humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos, tem direito à vida, à liberdade
e à segurança pessoal, todos podem invocar os direitos e liberdades proclamados na
declaração, ninguém será mantido em escravatura ou em servidão e todos são iguais
perante a lei.

Agenda 21

É consequência de um evento realizado pela Organização das Nações Unidas – ONU,


na cidade do Rio de Janeiro no ano de 1992. Uma conferência sobre o Meio Ambiente
e o Desenvolvimento Humano. O documento visa o desenvolvimento de sociedades
sustentáveis de bases geográficas distintas em concordância sobre a justiça social e
eficiência econômica.

Carta Brasileira da Educação Física do ano 2000

Considera os princípios do Manifesto Mundial da Educação Física do mesmo ano,


divulgado pela Fédération Internationale D’Education Physique (FIEP), defendendo o
reconhecimento, formação acadêmica sólida e o registro no sistema CONFEF/CREF
para os profissionais de Educação Física. Objetiva que a Educação Física seja um
caminho de desenvolvimento de estilos de vida ativos nos brasileiros para contribuição
de qualidade de vida da população. Estabelece ações para uma Educação Física de
qualidade no Brasil e para a preparação de profissionais e defende a manutenção da
Educação Física nas escolas e demais espaços.

Princípios Reguladores das Agências Nacionais e Internacionais do controle de


Dopagem

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É um documento da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem, que tem como
missão consolidar uma cultura antidopagem no âmbito nacional, por meio de ações
de educação e controle em todas as manifestações esportivas e possui três objetivos:
promover e expandir a cultura antidopagem no Brasil, aprimorar processos de gestão
e governança da ABCD e fiscalizar e gerir os procedimento de controle de dopagem
em âmbito nacional.

O código de ética dos profissionais de Educação Física por sua vez, objetiva “normatizar
a articulação das dimensões éticas” afim de garantir o desempenho satisfatório
do profissional de Educação Física em “união de conhecimento cientifico e atitude,
referendando a necessidade de um saber e de um saber fazer que venham efetivar-se
como um saber bem e um saber fazer bem” (CONFEF, 2015).

Sobre o conceito do código de ética Cherman, Tomei (2005, p. 101) o definem como
“um Documento formal distinto, que especifica obrigações éticas conscientes para a
conduta organizacional, só existindo se for formulado com o propósito único de ser
guiado por padrões morais para condutas éticas”.

Dessa maneira, instituiu-se o código de ética, que deve ser sugerido pelos profissionais
de Educação Física registrados no sistema CONFEF/CREF, o registro inclusive é
acompanhado da aceitação do profissional ao código.

Disposições Gerais

No contexto propício a homologação do código de ética dos profissionais de Educação


Física, elementos centrais da atuação profissional não podem ser ignorados, como
os elementos históricos centrais e os princípios norteadores desse documento
homologado através do DOU nº 221 de 19 de novembro de 2015, que dispõe sobre o
Código de Ética dos profissionais de Educação Física registrados no sistema CONFEF/
CREF, resolução n. 307/2015.

Itens Norteadores

Apresenta-se no documento que o código de ética foi construído considerando um


estudo histórico rigoroso sobre a existência da profissão e que, a partir disso, foram
definidos 12 itens norteadores para esse documento. De acordo com o documento
CONFEF (2015) esses itens são:

I. O Código de Ética dos Profissionais de Educação Física, instrumento regulador


do exercício da Profissão, formalmente vinculado às Diretrizes Regulamentares do

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Sistema CONFEF/CREFs. Define-se como um instrumento legitimador do exercício
da profissão, sujeito, portanto, a um aperfeiçoamento contínuo que lhe permita
estabelecer os sentidos educacionais, a partir de nexos de deveres e direitos;

II. O Profissional de Educação Física registrado no Sistema CONFEF/CREFs e,


consequentemente, aderente ao presente Código de Ética, na qualidade de interventor
social, deve assumir compromisso ético para com a sociedade, colocando-se a seu
serviço primordialmente, independentemente de qualquer outro interesse, sobretudo
de natureza corporativista;

IIII. Este Código de Ética define, para seus efeitos, no âmbito de toda e qualquer
atividade física, como destinatário, o Profissional de Educação Física registrado no
Sistema CONFEF/ CREFs e, como beneficiários das intervenções profissionais os
indivíduos, grupos, associações e instituições que compõem a sociedade. O Sistema
CONFEF/CREFs é a instituição mediadora, por exercer uma função educativa, além
de atuar como reguladora e codificadora das relações e ações entre beneficiários e
destinatários;

IV. A referência básica deste Código de Ética, em termos de operacionalização, é a


necessidade em se caracterizar o Profissional de Educação Física diante das diretrizes
de direitos e deveres estabelecidos normativamente pelo Sistema CONFEF/CREFs.
Tal Sistema deve visar assegurar por definição: qualidade, competência e atualização
técnica, científica e moral dos Profissionais nele incluídos através de inscrição legal e
competente registro;

V. O Sistema CONFEF/CREFs deve pautar-se pela transparência em suas operações e


decisões, devidamente complementada por acesso de direito e de fato dos beneficiários
e destinatários à informação gerada nas relações de mediação e do pleno exercício
legal. Considera-se pertinente e fundamental, nestas circunstâncias, a viabilização da
transparência e do acesso ao Sistema CONFEF/CREFs, através dos meios possíveis
de informação e de outros instrumentos que favoreçam a exposição pública;

VI. Em termos de fundamentação filosófica o Código de Ética visa assumir a


postura de referência quanto a direitos e deveres de beneficiários e destinatários, de
modo a assegurar o princípio da consecução aos Direitos Universais. Buscando o
aperfeiçoamento contínuo deste Código, deve ser implementado um enfoque científico,
que proceda sistematicamente à reanálise de definições e indicações nele contidas.
Tal procedimento objetiva proporcionar conhecimentos sistemáticos, metódicos e, na
medida do possível, comprováveis;

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VII. As perspectivas filosóficas, científicas e educacionais do Sistema CONFEF/
CREFs se tornam complementares a este Código, ao se avaliarem fatos na instância
do comportamento moral, tendo como referência um princípio ético que possa ser
generalizável e universalizado. Em síntese, diante da força de lei ou de mandamento
moral (costumes) de beneficiários e destinatários, a mediação do Sistema produz-se
por meio de posturas éticas (ciência do comportamento moral), símiles à coerência e
fundamentação das proposições científicas;

VIII. O ponto de partida do processo sistemático de implantação e aperfeiçoamento


do Código de Ética dos Profissionais de Educação Física delimita-se pelas Declarações
Universais de Direitos Humanos e da Cultura, como também pela Agenda 21, que situa
a proteção do meio ambiente em termos de relações entre os homens e mulheres em
sociedade e, ainda, através das indicações referidas na Carta Brasileira de Educação
Física (2000), editada pelo CONFEF. Estes documentos de aceitação universal,
elaborados pelas Nações Unidas, e o Documento de Referência da qualidade de
atuação dos Profissionais de Educação Física, juntamente com a legislação pertinente
à Educação Física e seus Profissionais nas esferas federal, estadual e municipal,
constituem a base para a aplicação da função mediadora do Sistema CONFEF/CREFs,
no que concerne ao Código de Ética;

IX. Além da ordem universalista internacional e da equivalente legal brasileira, o Código


de Ética deverá levar em consideração valores que lhe conferem o sentido educacional
almejado. Em princípio, tais valores como liberdade, igualdade, fraternidade e
sustentabilidade com relação ao meio ambiente, são definidos nos documentos já
referidos. Em particular, o valor da identidade profissional no campo da atividade
física - definido historicamente durante séculos - deve estar presente, associado aos
valores universais de homens e mulheres em suas relações socioculturais;

X. Tendo como referências a experiência histórica e internacional dos Profissionais de


Educação Física no trato com questões técnicas, científicas e educacionais, típicas de
sua profissão e de seu preparo intelectual, condições que lhes conferem qualidade,
competência e responsabilidade, entendidas como o mais elevado e atualizado nível
de conhecimento que possa legitimar o seu exercício, é fundamental que desenvolvam
suas atuações visando sempre preservar a saúde de seus beneficiários nas diferentes
intervenções ou abordagens conceituais;

XI. A preservação da saúde dos beneficiários implica sempre na responsabilidade


social dos Profissionais de Educação Física, em todas as suas intervenções.
Tal responsabilidade não deve e nem pode ser compartilhada com pessoas não
credenciadas, seja de modo formal, institucional ou legal;

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XII. Levando-se em consideração os preceitos estabelecidos pela bioética, quando
de seu exercício, os Profissionais de Educação Física estarão sujeitos sempre a
assumirem as responsabilidades que lhes cabem.

Observa-se que os doze itens norteadores foram distribuídos historicamente no


sentido da função não só dos profissionais, como também do sistema CONFEF/CREF.

Apesar a regulamentação da profissão, o sistema CONFEF/CREF rege diretrizes


apenas para uma fatia dos profissionais de Educação Física do mercado brasileiro.

Curiosidade
Ressalta-se aqui que o código de ética apresentado pode ser
aplicado apenas aos profissionais que possuem registro no
conselho de classe, considerando que os licenciados não precisam
do registro para atuarem nas escolas.

Princípios e Diretrizes
Os princípios e diretrizes do código de ética dos profissionais de Educação Física
do sistema CONFEF/CREF corroboram com a perspectiva da responsabilidade social
para a promoção da saúde.

Segundo o código de ética CONFEF (2015) os princípios norteadores de um profissional


de Educação Física devem ser:

I. o respeito à vida, à dignidade, à integridade e aos direitos do indivíduo;

II. a responsabilidade social;

III. a ausência de discriminação ou preconceito de qualquer natureza;

IV. o respeito à ética nas diversas atividades profissionais;

V. a valorização da identidade profissional no campo das atividades físicas, esportivas


e similares;

VI. a sustentabilidade do meio ambiente;

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VII. a prestação, sempre, do melhor serviço a um número cada vez maior de pessoas,
com competência, responsabilidade e honestidade;

VIII. a atuação dentro das especificidades do seu campo e área do conhecimento, no


sentido da educação e desenvolvimento das potencialidades humanas, daqueles aos
quais presta serviços.

Já as diretrizes transitam entre a responsabilidade do conselho nacional e as


responsabilidades dos profissionais de Educação Física. Confira a lista de diretrizes
a seguir:

I. comprometimento com a preservação da saúde do indivíduo e da coletividade, e


com o desenvolvimento físico, intelectual, cultural e social do beneficiário de sua ação;

II. aperfeiçoamento técnico, científico, ético e moral dos Profissionais registrados no


Sistema CONFEF/CREFs;

III. transparência em suas ações e decisões, garantida por meio do pleno acesso
dos beneficiários e destinatários às informações relacionadas ao exercício de sua
competência legal e regimental;

IV. autonomia no exercício da profissão, respeitados os preceitos legais e éticos e os


princípios da bioética;

V. priorização do compromisso ético para com a sociedade, cujo interesse será


colocado acima de qualquer outro, sobretudo do de natureza corporativista;

VI. integração com o trabalho de profissionais de outras áreas, baseada no respeito,


na liberdade e independência profissional de cada um e na defesa do interesse e do
bem-estar dos seus beneficiários.

É preciso salientar que as diretrizes e os princípios, quando tratam do profissional


de Educação Física, representam a unidade da ação e não a dicotomia presente no
processo de formação em nível de graduação.

Responsabilidade

Uma das funções em se estabelecer um código de ética para os profissionais é o


estabelecimento de alguns elementos centrais para que o trabalho possa colaborar
para a sociedade de forma digna e respeitosa. Veremos aqui a amplitude dos direitos
e deveres de um profissional de Educação Física, bem como os limites estabelecidos
para sua atuação.

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Assim, como os demais profissionais da saúde, o profissional da Educação Física
também é submetido a infrações e penalidades se atuam em desacordo com seu código
de ética. Veremos aqui os principais pontos dessas esferas que são determinantes
para a maneira com que os profissionais devem exercer seu ofício de trabalho.

Direitos e Deveres

Os direitos e deveres dos profissionais de Educação Física são distribuídos em quatro


categorias: sua responsabilidade individual com o exercício da profissão e o sistema
CONFEF/ CREF, o desempenho do exercício da função, o relacionamento com os
colegas e com os órgãos e entidades representativos, considerando sempre o zelo
pela ética e transmissão do conhecimento com qualidade para a promoção do bem
estar.

Por sua vez, os direitos dos profissionais de Educação Física são apresentados da
seguinte forma:

I.Exercer a Profissão sem ser discriminado por questões de religião, raça, sexo, idade,
opinião política, cor, orientação sexual ou de qualquer outra natureza;

II.Recorrer ao Conselho Regional de Educação Física, quando impedido de cumprir a


lei ou este Código, no exercício da profissão;

III. Requerer desagravo público ao Conselho Regional de Educação Física sempre que
se sentir atingido em sua dignidade profissional;

IV. Recusar a adoção de medida ou o exercício de atividade profissional contrários aos


ditames de sua consciência ética, ainda que permitidos por lei;

V. Participar de movimentos de defesa da dignidade profissional, principalmente na


busca de aprimoramento técnico, científico e ético;

VI. Apontar falhas e/ou irregularidades nos regulamentos e normas, formalmente, por
escrito, aos gestores de eventos e de instituições que oferecem serviços no campo
da Educação Física quando os julgar tecnicamente incompatíveis com a dignidade da
profissão e com este Código ou prejudiciais aos beneficiários;

VII. Receber salários ou honorários pelo seu trabalho profissional.

O código de ética também apresenta os possíveis benefícios desses profissionais,


que garantem a organização contratual antes do início da realização do trabalho,
submetida a legislação vigente estabelecendo a remuneração a partir de aspectos

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como relevância do serviço, tempo destinado ao trabalho, o impedimento da atuação
do profissional por motivos de força maior, tempo de deslocamento, a competência,
o renome profissional e a demanda de oferta de trabalho no segmento em questão.

Infrações e Penalidades

As infrações previstas no documento consistem no não cumprimento ou a omissão


ao não cumprimento do código de ética, seja nas suas diretrizes, direitos e deveres
do sistema CONFEF/ CREF e dos profissionais de Educação Física. As penalidades
incluem advertência escrita seguida ou não de multa, censura pública, suspensão do
exercício da profissão e cancelamento do registro profissional e divulgação do fato.

As análises acontecem pelas instâncias do próprio sistema CONFEF/CREF através


das comissões de ética, juntas de instrução e julgamento, tribunais regionais de ética
e o tribunal superior de ética atrelados ao Código de Ética e Processual sistema.

Críticas Sobre o Código de Ética dos Profissionais de Educação


Física

O atual documento que referenda o código de ética dos profissionais de Educação


Física foi homologado em 2015, mas sabe-se que ele é consequência da
Resolução nº25/2000, oriundo de diversas manifestações do movimento a favor da
regulamentação da profissão, que resultou também no sistema CONFEF/CREF.

Nesse cenário, já com a homologação da Resolução nº25/2000, teve sua divulgação


online, argumentando que tal ação era justamente para que os profissionais da
Educação Física pudessem ter acesso ao texto.

Os documentos de 2000 e 2015 não se contrapõem em essência, se pode dizer que eles
se complementam em alguns momentos, mas, acima de tudo, a Resolução nº25/2000
está presente no código de ética de 2015, de maneira que eles são interligados na sua
radicalidade.

Dessa forma, algumas críticas a Resolução nº25/2000 podem ser atribuídas ao


código homologado em 2015, por se tratar de um documento atrelado as diretrizes
do sistema CONFEF/ CREF que, para a comunidade acadêmico científica, trata dos
interesses neoliberais do capitalismo reproduzido pelo sistema FIEP.

A regulamentação da profissão gerou uma expectativa na comunidade da Educação


Física retratada por Barros (2000, p.109).

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A regulamentação da profissão de Educação Física impõe uma
responsabilidade social mais definida e exigente, tanto ao profissional,
quanto às Escolas e Faculdades. O futuro profissional (aluno) almeja uma
formação que o capacite para o exercício competente da profissão no
padrão exigido pela sociedade. Para tal, Escolas e Faculdades devem
ajustar a estrutura dos cursos de formação profissional. Licenciatura
e Bacharelado devem ser analisados e propostos com base nas
necessidades e expectativas dos alunos e das características dos serviços
a serem prestados à sociedade.
O autor ainda ressalta que a regulamentação da profissão através da lei 9696/1998
não fez considerações específicas sobre as áreas de atuação dos bacharéis e dos
licenciados, de forma que isso expõe a verdadeira intenção por trás da regulamentação,
que seria a sistematização das atividades de prestação de serviços associadas
as atividades físicas e esportivas, novamente não contemplando o espaço escolar
(BARROS, 2000, p. 109).

Outro autor que fala sobre a questão do código de ética dos profissionais de Educação
Física e a falta de atenção aos profissionais que atuam na escola, sendo esse o principal
espaço de atuação dos profissionais de Educação Física até a década de 1980, é Sadi
(2000), quando ressalta que a regulamentação da profissão e a construção do código
de ética não evitaram dois fenômenos sobre o campo de atuação da Educação Física:
o continuo sucateamento da escola e abandono desse campo de atuação provindo de
um movimento iniciado na década de 1970 e as interferências de outros profissionais
(fisioterapeutas, psicólogos, técnicos desportivos) nos segmentos que supostamente
seriam dos profissionais de Educação Física após a ampliação dos campos de atuação
da década de 1990, fomentadas pelas concepções neoliberais no país.

Além disso, Sadi (2000) aponta ainda que a regulamentação e a implantação de um


código de ética que não se preocupa com as demandas da Educação Física escolar
reforça o desprestígio dela referente as demais áreas, oriundos da concepção da
organização, do modo de produção capitalista que diferencia a relação entre trabalho
manual e intelectual.

A herança da Educação Física escolar, sendo originária do militarismo e da medicina


higiênica perdurou (inclusive até os dias de hoje) e a regulamentação seguido do seu
código de ética deixaram os professores da escola entregues a ética do positivismo.

O sistema CONFEF/CREF, respaldados pela regulamentação e por seu código de ética,


se debruçaram em tentar contemplar as demandas do mercado estabelecendo um
código de ética que, segundo Sadi (2000), “não representa a construção de uma ética,

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mas sim a defesa de um mercado profissional”, além de que, não existem relações do
código de ética com o currículo da Educação Física escolar.

Nesse ínterim, ao analisarmos o código de ética dos profissionais de Educação Física


em sua última versão, é possível verificar que a unidade da atuação dos profissionais
de Educação Física (licenciados e bacharéis) ainda não é contemplada, o exercício
em que se estabelece a unidade ainda é superficial, apesar de ser um pouco mais
presente quando se compara a Resolução nº25/2000, fazendo com que as críticas
de Barros e Sadi ainda sejam atuais para o contexto dos profissionais de Educação
Física que tiveram seu campo de atuação ampliado, mas ainda carregam dificuldades
sociais e econômicas na realização do seu trabalho. Isto nos permite aqui, construir
uma síntese precisa que não almeja desqualificar ou defender, mas sim refletir: ainda
há um percurso considerável para os profissionais de Educação Física trilharem, isso
não há dúvidas.

Atuação do Bacharel em Educação Física


A atuação do bacharel em Educação Física possui uma gama de variáveis no mercado
de trabalho. Seu mercado de trabalho ultrapassa os limites das academias de
ginásticas. As possibilidades em torno das práticas de treinamento individual e coletivas
atinge um crescimento contínuo nos últimos anos. Abordaremos as possibilidades
para esse profissional e a concorrência a que é submetido nesses segmentos por
outros profissionais que estão se capacitando e aumentando a concorrência nesses
mercados.

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Academias e Clubes

Figura 2 - Academia.
Fonte: lunamarina, Shutterstock, 2020.
#PraCegoVer: Na imagem vemos uma academia e um professor instruindo
uma aluna em um exercício de musculação.

As academias e clubes representam o principal contingente de oferta de empregos


para os bacharéis em Educação Física. Um dos argumentos para a divisão dos cursos
de graduação, para Nunes, M.P Votre, S. J. Santos, W. (2012 p. 281) consiste em
considerar que

A legislação para a formação do bacharel sugere conferir maior autonomia às


instituições educacionais superiores na definição dos currículos de seus cursos, a
partir da explicitação das competências e das habilidades que se deseja desenvolver,
através da organização de um modelo pedagógico capaz de entender e debater a
dinâmica das demandas da sociedade. Após definidos os marcos para construção
da identidade do bacharel como profissional em Educação Física, as comissões
de especialistas das diferentes áreas e campos do saber construíram diretrizes
curriculares específicas.

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Estes profissionais atuam como instrutor na sala de musculação, como professor
das diversas modalidades de ginástica em academia, considerando que algumas
modalidades em si ainda precisam de formação extra para a atuação, somente o título
de bacharel não é o suficiente para habilitar o profissional para trabalhar com turmas
de pilates, zumba, entre outras modalidades.

A atuação na modalidade de natação também é uma forma bem difundida em


ambos os segmentos, seja no desenvolvimento do trabalho com adaptação aquática
para o desenvolvimento infantil, seja na utilização da modalidade como exercício
sistematizado.

Já os clubes possuem uma amplitude no seu atendimento por possuírem uma gama
maior de práticas esportivas, atuando com a iniciação esportiva no treinamento do
rendimento, bem como práticas de recreação e mobilização de grupos divididos por
faixa etária ou modalidades de interesse, independentes das práticas realizadas no
espaço da academia como grupos de corridas, treinamento funcional, parkour, entre
outras. Além disso, a organização de festas e eventos esportivos nesses espaços
também é muito comum.

Treinamento Desportivo

No segmento do treinamento desportivo, a titulação de bacharel não é suficiente


no caso do alto rendimento para algumas modalidades que apresentam formação
específica para os esportes disponibilizados pelas federações internacionais.

O regimento, em relação a atuação na iniciação esportiva, em alguns casos, afirma ser


necessária formação aprofundada na modalidade para se colocar como profissional
do segmento. No entanto, esse nicho de mercado não é exclusivo aos bacharéis,
profissionais que atuam há muito tempo em modalidades esportivas ou de dança. A
sua formação individual ou prática profissional os habilita para atuarem, conseguindo,
dessa forma, obter um registro no sistema CONFEF/CREF para isso.

Atuação do Licenciado em Educação Física


Nesse tópico abordaremos os elementos centrais que influenciam na atuação
do licenciado em Educação Física, bem como qual é a sua função no trabalho nas
instituições de ensino básico. Além disso, realizaremos considerações sobre os
elementos em torno da atuação do profissional de Educação Física que trabalha no
ensino superior.

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Legislação da Educação

O profissional com o grau de licenciado atuará, via de regra, nas instituições de ensino
básico. Esses professores, juntamente com os licenciados plenos, são os únicos
habilitados a atuarem nesse segmento.

Basicamente, o professor de Educação Física organiza seu plano de trabalho como


uma extensão das leis que regem uma instituição escolar, são elas: Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional 9394/96; Projeto Político Pedagógico da Escola; Base
Nacional Curricular Comum refletido no plano curricular dos estados, municípios e
redes particulares.

O Trabalho Didático na Escola

A Educação Física compõe o bloco das áreas do conhecimento da Linguagem, sendo


sua responsabilidade desenvolver o trabalho através da cultura corporal de movimento
instrumentalizado, por meio das práticas corporais sistematizadas como a Dança,
Ginástica, Esporte, Jogos, Brincadeiras e práticas de aventura distribuídas em temas e
subtemas que possuam uma relação intrínseca, em alguns casos. São apresentados
em ordem crescente de complexidade entre as etapas da Educação Básica. Sobre
essa questão Bertine Junior, N. Tassoni, E.C.M., (2013, p. 467) consideram que

A Educação Física no Brasil surge ligada intimamente à formação e


educação corporal disciplinadora, com objetivos dos mais variados:
militares, de saúde, estéticos, esportivos de alto rendimento ou não,
recreativos, servindo, muitas vezes, a mecanismos de alienação ou
propósitos políticos, valendo-se da prática ou de eventos esportivos para
desviar a atenção das tensões políticas e das lutas ideológicas.
Com exceção da Educação Infantil, as demais etapas da Educação Básica precisam
ter professores com graduação em Educação Física para lecionarem o componente
curricular em questão, esse caráter é obrigatório. A discussão sobre a inclusão
desses profissionais na Educação Infantil ainda é controversa entre os defensores,
considerando que, nessa etapa, é de fundamental importância o desenvolvimento
integral do indivíduo, preservando as características da primeira infância.

O Professor do Ensino Superior

A atuação dos profissionais para o Ensino Superior, em especial no curso de graduação


em Educação Física, assim como as demais áreas do conhecimento, não está atrelada

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ao título obtido na graduação, ambos podem atuar nesse segmento, amparados a
partir da titulação em stricto senso determinada pelo Ministério da Educação

Curiosidade
Uma das modalidades esportivas em ascensão no Brasil é o
Punhobol. Essa modalidade vem crescendo internacionalmente e
o Brasil já foi inclusive campeão mundial e atualmente temos uma
equipe que é campeã sul-americana . O aprofundamento nessa
modalidade também está em crescimento.

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Conclusão
Neste conteúdo, você teve a oportunidade de:

• aprender o conceito de ética para a atuação profissional;


• conhecer o movimento histórico que levou a elaboração do código de ética
dos profissionais de Educação Física;
• entender os direitos e deveres dos profissionais bem como as possíveis pena-
lidades no descumprimento do seu código de ética;
• verificar as críticas perante o código de ética dos profissionais de Educação
Física;
• conhecer as possibilidades da atuação dos bacharéis em Educação Física;
• identificar os elementos legais em torno da atuação do professor de Educa-
ção Física escolar.

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Referências
BARROS, José M. de C. Educação Física, profissão regulamentada. In: Revista Brasileira
de Ciências do Esporte, RBCE, v. 21, nº 2/3, Campinas, 2000. Disponível em: http://
revista.cbce.org.br/index.php/RBCE/article/view/792. Acesso em: 18 fev. 2023.

BERTINI JUNIOR, N. TASSONI, E.C. A Educação Física, o docente e a escola: concepções


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