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Governança Corporativa no Terceiro Setor: Análise de Websites de Organizações


Não Governamentais (Ongs) de Minas Gerais

NATHALY KAROLINE FERREIRA ABREU


Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes)
CARLOS RENATO THEÓPHILO
Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes)

Resumo
Em meio às desigualdades sociais, as associações e fundações do Terceiro Setor
possuem papel essencial, pelos impactos sociais positivos que proporcionam. Essas
organizações precisam dispor de planejamentos e estratégias eficientes, que lhes
possibilitem retorno significativo. A adesão às práticas de governança corporativa nas
Organizações Não Governamentais (ONGs) tende a suprir essa necessidade,
possibilitando que obtenham maior destaque no mercado de doações. Considerado este
contexto, este trabalho buscou, como objetivo principal, evidenciar a aderência às
práticas de governança corporativa pelas 50 maiores ONGs de Minas Gerais. A
pesquisa se caracteriza por ser qualitativa, quando segrega informações necessárias ao
entendimento do tema, e ao mesmo tempo, quantitativa, ao realizar a mensuração dos
dados coletados. Para a análise, foi utilizado um checklist adaptado do Estudo 13 do
IFAC para verificar as práticas de governança evidenciadas nos websites das ONGs
analisadas. Os resultados demonstraram que, de forma geral, as entidades apresentaram
baixo nível de aderência à divulgação das informações recomendadas. Os dados obtidos
também possibilitaram a realização de análises de correlações referentes ao
comportamento das ONGs no atendimento aos quesitos. Verificou-se correlações entre
determinados quesitos, indicando que a divulgação de alguns grupos se correlaciona
com a divulgação de outros. A pesquisa vem a contribuir na produção de conhecimento
acadêmico, preenchendo a lacuna da falta de estudos com essa temática na região.
Também, por proporcionar conhecimento às próprias ONGs, qualificando-as para o
mercado específico em que estão inseridas.

Palavras-chaves: Governança corporativa. Terceiro Setor. Organizações Não


Governamentais. Estudo 13 IFAC.
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1 INTRODUÇÃO
O Terceiro Setor é formado pelas Organizações de Sociedade Civil (OSCs) ou,
como são há mais tempo conhecidas, as Organizações Não Governamentais (ONGs),
entidades privadas, sem finalidade lucrativa, que exercem atividades de benefício
público (Ipea, 2019). As ONGs são essenciais para a sociedade civil, quando agem para
benefício desta ao observarem e complementarem as funções das organizações políticas,
que possuem tais responsabilidades (Instituto Pro Bono, 2014).
As entidades do Terceiro Setor vêm conquistando importância, viabilizando
atividades que visam o bem-estar social, na busca de minimizar fatores que causam
disfunções na sociedade (Lacruz, 2017). O Guia das Melhores Práticas de Governança
para Institutos e Fundações Empresariais (GIFE) (2014) aponta que esse crescimento é
devido a esse setor liderar variadas atividades no âmbito social. E pela sua relevância no
cenário econômico.
Na mais recente pesquisa sobre as OSCs no Brasil, o Fasfil divulgou, em 2016,
relatório indicando a existência de cerca de 527 mil Entidades sem Fins Lucrativos.
Essas entidades movimentam montantes em torno de 1 trilhão de dólares. Esse volume
de recursos deve ter uma aplicação baseada em planejamento bem estruturado. Isso
porque a população passa a depender da geração de seus benefícios, tanto sociais como
financeiros, intelectuais, culturais entre outros (Manãs & Medeiros, 2012; IBGE, 2019).
A insuficiência financeira dessas entidades é um dos fatores prejudiciais à
arrecadação de fundos, contrariando as metas estabelecidas e seus planejamentos. Dessa
forma, se vê necessária a responsabilidade na evidenciação de informações confiáveis.
Esse processo é acompanhado por mudanças, implementação de novos métodos,
técnicas, sistemas, investimentos em capacitação e desenvolvimento. É em vista disso
que a necessidade de governança se manifesta (Rocha, 2013; Melo & Azevedo, 2019).
O entendimento é de que as entidades que adotam as boas práticas de
governança corporativa se destacam dentre as demais. Os administradores, que têm o
objetivo de arrecadar doações para garantir a continuidade das entidades, deviam buscar
a adesão a procedimentos e técnicas de governança, já que essas entidades seriam
consideradas mais atraentes para os doadores de recursos (Lacruz, 2017).
O Instituto Pro Bono (2014, p. 14) adverte que “as ONGs podem também ser
utilizadas como espaços para abrigar grupos de pressão e lobbies, interessados em
lançar mão das verbas públicas, direcionando-as para interesses de minorias
privilegiadas”. As ONGs acabam enfrentando dificuldades para captarem recursos, já
que sua imagem é afetada pela má gestão de algumas. É evidente a necessidade de essas
entidades passarem credibilidade e confiabilidade para seus prospectivos doadores e
mecanismos de governança podem ser ótimos aliados nesse objetivo.
O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), em conjunto com o
Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE), publicaram o Guia das Melhores
Práticas para Institutos e Fundações Empresariais, que tem a finalidade de contribuir
para a gestão das entidades do Terceiro Setor. É um material relevante e vantajoso se
levado em consideração, digno de estudo por parte dessas instituições (Gife, 2014).
Dentre os estudos publicados sobre o tema, Rocha (2013), Canito Filho (2013),
Silva (2015), Lacruz (2017) tratam sobre práticas de governança corporativa aplicadas
ao Terceiro Setor. Vargas (2008) utiliza como base o Estudo 13 do International
Federation of Accountants (IFAC), publicado pela organização mundial de contadores,
referente à boas práticas de governança e de gestão pública. Não foi encontrado nenhum
trabalho que analisa práticas de governança de ONGs de Minas Gerais.
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Dado esse contexto, delineia-se como problema de pesquisa a seguinte questão:


Qual o nível de aderência às práticas de governança corporativa, conforme definidas
pelo Estudo 13 do IFAC, pelas 50 maiores Organizações Não Governamentais (ONGs)
do estado de Minas Gerais? Têm-se como objetivo principal evidenciar a aderência às
práticas de governança corporativa, definidas pelo Estudo 13 do IFAC, pelas 50 maiores
Organizações Não Governamentais (ONGs) de Minas Gerais. Quanto aos objetivos
específicos: investigar as práticas de governança adotadas pelas 50 maiores ONGs,
conforme ranking do “OngsBrasil”; calcular a correlação entre os escores obtidos no
levantamento das práticas de governança das entidades analisadas.
Este trabalho se justifica pela grande responsabilidade e influência que o
Terceiro Setor exerce na sociedade. As entidades pertencentes a este setor são de grande
importância para o bem-estar social, além de responsáveis por uma grande geração de
renda, empregos e fluxo de recursos na economia. Também se justifica pela produção
de conhecimentos acerca de tais organizações, propiciando habilidades a elas, dando a
possibilidade de maior retorno de seus resultados para a sociedade.
A pesquisa busca aprofundar o conhecimento sobre essas entidades,
contribuindo para adotarem boas práticas de governança, que servirá de impulso para
alcançarem a autorrealização como organização. Em complemento, há poucos estudos
trabalhos científicos a respeito, não tendo encontrado estudos realizados em ONGs de
Minas Gerais.
2 PLATAFORMA TEÓRICA
2.1 Terceiro Setor
É preciso levar em consideração que não há uma definição prevalecente de
Terceiro Setor. Na verdade, existe uma variedade de conceitos atribuídos, que justificam
serem revisados. Falconer (1999) aponta que isso se dá devido à variedade de campos
nos quais esse tema pode ser inserido, também ao fato de ser discutido e desenvolvido
em países com características e realidades distintas, acrescentando visões diferentes.
Tal dificuldade está relacionada à falta de informações produzidas acerca desse
setor, principalmente com relação à sua gestão. É necessário desenvolver conhecimento
específico “e não meramente pela transposição de modelos e técnicas desenvolvidos no
meio empresarial ou na administração pública”. As instituições de ensino superior “são
desafiadas a adaptar o seu arcabouço de técnicas e desenvolver conhecimento aplicado
específico a ele” (Falconer, 1999, p. 3).
O Terceiro Setor se refere ao “conjunto de iniciativas e organizações privadas,
baseadas no trabalho associativo e voluntário, cuja orientação é determinada por valores
expressos em uma missão e com atuação voltada ao atendimento de necessidades
humanas, filantropia, direitos garantias sociais”. Essas entidades se relacionam com o
Estado através de regulamentos, são consideradas privadas, mas promovem ações e
iniciativas que suprem demandas sociais. Pode-se dizer que essas entidades agem como
intermediadoras entre o Estado, a sociedade e o mercado (Cabral, 2007, p. 2).
É perceptível que, mesmo com definições distintas, todas elas abordam as
características principais do setor “assentando que as entidades de interesse social que
compõem o Terceiro Setor não têm como escopo o lucro, muito embora possam realizar
atividades econômicas, mas a finalidade visada é sempre o interesse social”, como
apontam Grazzioli et al (2015, p. 35).
Este estudo adota como conceito o mesmo definido para fins legais no Brasil,
tido como classificação pelo Direito, segundo o qual o Terceiro Setor, ou Organizações
Não Governamentais (ONGs) são:
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As entidades de interesse social sem fins lucrativos, como as associações e as


fundações de direito privado, com autonomia e administração própria, cujo
objetivo é o atendimento de alguma necessidade social ou a defesa de direitos
difusos ou emergentes (Grazzioli et al, 2015, p. 26).
As entidades de Terceiro Setor se sustentam por investimentos voluntários e
sociais. De acordo com o Gife (2014, p. 20) são “o repasse voluntário de recursos
privados de forma planejada, monitorada e sistemática para projetos sociais, ambientais
e culturais de interesse público”. Tais investimentos não são ações assistencialistas
apenas. Requerem planejamento, estratégias eficientes, de forma que possam atingir
seus objetivos como organização, ao promover reflexos positivos na sociedade.
2.2 Forma jurídica do Terceiro Setor
O Código Civil Brasileiro, em seu artigo 44, Lei nº. 10406/2002, determina
quais são os conjuntos de Pessoas Jurídicas de Direito Privado: Art. 44. São pessoas
jurídicas de direito privado: I – as associações; II – as sociedades; III – as fundações. IV
– as organizações religiosas; (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003); V – os
partidos políticos. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003). (Lei n 10.406, 2002)
O Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (2016) pondera que nem todas as
organizações privadas não lucrativas fazem parte do Terceiro Setor. Isso porque esse
setor é independente, não agindo a fim de representar ou fornecer serviço para
beneficiar classes superiores. Essa definição não abriga algumas entidades que possuem
outros objetivos e que até contradizem esses princípios, como sindicatos, cooperativas,
clubes, hospitais privados, condomínios, cartórios, dentre outros.
No Brasil o Terceiro Setor pode se constituir juridicamente ou na forma de
associações ou de fundações. A Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 do Código
Civil, ao se referir às organizações constituídas como associações, define como sendo
“união de pessoas que se organizam para fins não econômicos”. Ainda pode ser tida
como “toda união de pessoas, promovida com um fim determinado, seja de ordem
beneficente, literária, científica, artística, recreativa, desportiva ou política, entre outras,
que não tenha finalidade lucrativa” como aponta o Instituto Pro Bono (2014, pp. 9-10).
Essas organizações, apesar de não possuírem um objetivo central na atividade
econômica, conseguem unir seus membros, que possuem os mesmos interesses em
solucionar um problema especifico. Então, reúnem esforços para decidirem a melhor
forma de prosseguir suas ações em prol da causa em comum (Sebrae, 2020).
As fundações, diferindo das associações, possuem como núcleo um patrimônio,
que é constituído como uma pessoa jurídica, a fim de ser utilizado para uma finalidade
social objetivada pelos que a instituíram. Esse patrimônio irá integrar um fundo social
para que a organização possa cumprir com o seu propósito já estabelecido. Uma
situação comum, que serve de exemplo, é quando uma pessoa com recursos disponíveis
decide destinar uma parte de seu dinheiro para financiar algum projeto de pesquisa,
educação e outros (ABONG, 2018; Instituto Pro Bono, 2014).
Segundo a ABONG (2018) o Terceiro Setor é composto pelas Organizações da
Sociedade Civil, mais conhecidas como Organizações Não Governamentais. O termo
ONG é adotado em 1940 utilizado pela ONU para identificar algumas entidades
internacionais que ganharam destaque por serem independentes do governo. Já no
Brasil, a definição se torna conhecida mais tarde, a partir de 1964 com a ditadura
militar. O termo OSC tem sido recentemente empregado como sinônimo.
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2.3 Governança no Terceiro Setor


O conflito de interesses está presente não somente em entidades que possuem
finalidade lucrativa, como também em entidades de Terceiro Setor, tornando-se,
portanto, a governança corporativa um mecanismo importante para a gestão. A estrutura
de governança nessas entidades “habitualmente comporta o presidente do conselho de
administração, os conselheiros, o diretor executivo e demais diretores operacionais, e
atende ao disposto no estatuto social da organização” (Damasceno, 2015, p. 22).
Nas entidades sem finalidade lucrativa, os administradores também assumem o
papel de agentes, porém, os principais envolvem uma maior quantidade de interessados,
podendo ser todos os que se beneficiam das atividades da entidade, os que financiam
seus projetos, as pessoas físicas ou jurídicas que se associam à causa defendida, dentre
outros (Rocha, 2013).
A transparência acaba se tornando muito mais importante em entidades sem fins
lucrativos. Isso se dá devido ao fato desse trabalho necessitar ser divulgado a outros,
atingindo e mobilizando uma maior quantidade de interessados na causa, conquistando
mais stakeholders (Silva, 2015, p. 22).
Há motivos para acreditar que a governança em ONGs se faça mais necessária
do que em empresas com finalidade de lucro, já que a responsabilidade social que elas
possuem vem acompanhada da essencialidade, da transparência e da confiabilidade.
Elas objetivam, ao invés do lucro econômico, o lucro social, em forma de educação,
cultura, saúde, dentre outros. Em empresas lucrativas, quando ocorre algum problema,
normalmente os danos podem ser resolvidos de forma econômica, com dinheiro. Mas
quando uma entidade sem fim lucrativo não possui uma boa gestão, com emprego de
mecanismos de governança, tragédias sociais continuam a acontecer, como estupros,
mortes por fome, doenças sem cura etc. (Rocha & Feitosa, 2012; Rocha, 2013).
Quando o princípio da prestação de contas é adotado, permite aos investidores
da instituição ter conhecimento sobre o que se passa em sua gestão, como está sendo
feita a administração dos recursos, quais foram os altos e baixos, as situações que
favoreceram ou que possam ter prejudicado a empresa em suas atividades, os
andamentos dos projetos, para que possam decidir se a empresa transmite a
confiabilidade adequada para realizar seus investimentos. Essa prática favorece as
ONGs a cativar mais interessados em participar e apoiar sua causa (Vargas, 2008).
Vale ressaltar que, embora essas entidades em questão tenham cunho social, por
não possuírem finalidade lucrativa e terem objetivos comunitários, devem ser guiadas
por princípios, valores, missão e visão da organização. É essencial, sobretudo, “que
contenham estruturas de governança que permitam o engajamento dos membros, e sua
motivação e mobilização, não só para a causa, mas também para a gestão da própria
organização” (Rodrigues & Malo, 2006, p. 47).
2.4 Estudo 13 do IFAC
O International Federation of Accountants (IFAC) é uma organização mundial
de contabilidade voltada para a defesa de interesses públicos que incentiva a busca por
altos padrões de práticas contábeis, com objetivo de atingir alta qualidade desses
procedimentos. Faz parte das atividades do IFAC o desenvolvimento de normas
internacionais dentro da área contábil (Vargas, 2008; Silveira, 2013).
O Estudo 13 do IFAC, publicado em 2001, discorre sobre boas práticas de
governança e gestão de recursos públicos, em busca de controle e eficiência,
considerando relatórios de auditoria, relatórios financeiros, contábeis e demais relatórios
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essenciais na gestão. O estudo destaca questões de maior relevância para as entidades e


propõe mecanismos que podem auxiliá-las nesse processo de busca da eficiência e êxito
em sua gestão (Silveira, 2013).
O IFAC elege três princípios essenciais para a governança: transparência,
integridade e responsabilidade em prestar contas: transparência, integridade e
accountability. De acordo com (IFAC, 2001) os princípios propostos são fundamentais
para organizações de Primeiro Setor quanto às do Segundo Setor, cada organização se
adequando à sua realidade. O estudo acaba por influenciar todas as áreas. Além dos
princípios o estudo recomenda algumas dimensões que as organizações devem aderir,
como padrões de comportamento, como mostra a Figura 1.

Padrões de Comportamento
Liderança
Códigos de conduta ⇒ Probidade e Propriedade ⇒ Objetividade, Integridade e Honestidade.
⇒ Relacionamentos.
Estruturas Organizacionais e Processos Controle Relatórios Externos
• Responsabilidade prestar contas estatutárias • Gestão de risco • Relatórios anuais
• Responsabilidade prestar contas dinheiro público • Auditoria interna •Uso de normas contábeis
• Comunicação com as partes interessadas • Comitês de Auditoria apropriadas
• Papéis e responsabilidades • Controle interno • Medidas de desempenho
⇒Equilíbrio de poder e autoridade • Orçamento • Auditoria externa
⇒O grupo do governo • Administração
⇒O presidente Financeira
⇒Membros do grupo de governo • Treinamento de
⇒Administração executiva pessoal
⇒Política de remuneração
Fonte: IFAC (2001, p. 14)
Figura 1: Recomendações de Governança no Setor Público
Segundo o IFAC (2001), Os Padrões de comportamento são de suma
importância, pois determinam a forma como a organização vai conduzir suas atividades
considerando altos padrões e valores, baseados em uma boa Liderança e a prática de
Códigos de Conduta, envolvendo todos os integrantes da instituição.
As Estruturas e processos organizacionais se trata da organização eficaz das
responsabilidades e papéis divididos dentro da instituição, e da conformidade e clareza
com que esses processos são realizados, assegurando todos os procedimentos. O
Controle é o estabelecimento de sistemas eficazes para a gestão de riscos e
oportunidades, para o aprimoramento de controle interno, monitoramento, para atingir
os objetivos da instituição, para que haja confiabilidade nos relatórios financeiros e
eficiência nas ações realizadas. Os Relatórios externos servem como medida de
desempenho, são a forma que as organizações têm de prestar contas aos envolvidos e
interessados em suas atividades.
2.5 Estudos Afins
Há poucos estudos versando sobre governança corporativa aplicada ao Terceiro
Setor. Dentre os encontrados, Rocha (2013) pesquisa sobre as dificuldades encontradas
pelas ONGs em implantar as práticas de governança. Os resultados indicaram que há
uma grande falta de conhecimento por parte dos voluntários em seus trabalhos e funções
e por parte dos agentes falta conhecimento das práticas de governança.
Canito Filho (2013) desenvolveu um estudo de caso em uma instituição privada
sem fins lucrativos, com o objetivo de atestar as possibilidades da adoção de
mecanismos de governança corporativa. Foi identificado que havia possibilidade da
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adoção da governança, como do aperfeiçoamento de algumas práticas e do sistema


interno da organização.
Silva (2015) analisou as práticas de governança de uma instituição que, além de
fornecer ensinos religiosos, promove trabalhos na área da saúde, educacionais, e outras
atividades beneficentes. Constata que a entidade adota práticas de governança,
considera os códigos de conduta e ética, possui planejamento administrativo, e
transparência de informações.
Lacruz (2017), com base na teoria da agência, pesquisou a influência que a
governança corporativa exerce na captação de recursos por parte das organizações de
Terceiro Setor, tendo como foco as receitas advindas de suas atividades operacionais. O
resultado mostra a importância da governança para as organizações do Terceiro Setor, e
como as impulsionam a alcançar o objetivo de captar recursos em doações.
O estudo de Vargas (2008) se aproxima mais do objetivo deste trabalho.
Investiga as entidades associadas à ABONG, que se localizam no sul e sudeste do país,
analisando o nível de sua aplicação no que se refere às recomendações de governança
indicadas pelo IBGC. Os resultados apontam para que as entidades, de uma forma geral,
apresentam um bom nível de aplicação dos princípios e instrumentos de governança.
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
A estratégia de pesquisa adotada é a documental. A pesquisa se caracteriza como
qualitativa, quando segrega informações necessárias para comparar com o checklist, e
ao mesmo tempo, quantitativa, quando realiza a mensuração desses dados. (Martins &
Theóphilo, 2018).
Quanto à amostra, as 50 maiores Organizações Não Governamentais de Minas
Gerais foi selecionada com base no ranking desenvolvido pelo “OngsBrasil”, um Portal
que possui a finalidade de divulgar na internet o trabalho das instituições sociais
brasileiras. O critério utilizado para o ranqueamento das entidades é o número de
funcionários, com base em dados do Governo Federal.
Foi realizada inicialmente uma busca nos sites próprios de cada uma das ONGs
selecionadas, verificando se possuíam meios eletrônicos oficiais, e se divulgavam os
documentos, relatórios e informações financeiras devidas aos seus stakeholders, como
dita a lei e as práticas de governança corporativa. Ao realizar a busca das 50 ONGs
previamente selecionadas, 41 entidades compuseram a amostra final analisada nesta
pesquisa (como mostrado no APÊNDICE A). Pois, como indicado no Apêndice, seis
organizações não possuíam sites próprios, o site de uma entidade esteve em manutenção
durante a pesquisa e o de outra apresentou mensagem informando ter sido invadido.
Ainda, outra entidade teve suas atividades descontinuadas. Os dados foram coletados no
início do primeiro semestre de 2020.
Para atingir ao objetivo específico de investigar as práticas de governança
adotadas pelas 50 maiores ONGs de Minas Gerais, verificando o nível de aderência, foi
utilizado um checklist, que tem como base o Estudo 13 do IFAC, o qual identifica boas
práticas da governança corporativa a serem aplicadas em uma organização.
O documento original possui 45 quesitos. Foram suprimidas algumas questões
do documento original, já que a presente pesquisa foi desenvolvida com acesso restrito
a informações públicas, a partir de práticas informadas pelas entidades em seus portais
eletrônicos. Sobre alguns aspectos de controle interno não se pode fazer afirmações,
somente se observadas pessoalmente. Assim sendo, foram analisados 23 quesitos neste
estudo. Com base no resultado do checklist, foi utilizado o método de Presença (1)
Ausência (0) para evidenciar a aplicação dessas práticas pelas ONGs selecionadas.
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Em seguida, para satisfazer o último objetivo específico de correlacionar os


escores obtidos na análise da existência de práticas de governança com características
do perfil das entidades analisadas, foram calculados coeficientes de correlação entre os
quesitos, a partir do seu nível de atendimento. Também foram feitas análises de
correlações referentes ao comportamento das ONGs no atendimento aos quesitos, em
busca de alguma relação existente entre a maior e a menor aderência às práticas de
governança pelas ONGs. Em conjunto, buscou-se identificar possíveis características
nos perfis das entidades, que influenciassem o seu nível de atendimento aos quesitos.
4 ANÁLISE DE DADOS
O perfil das 41 ONGs, classificadas com base nas atividades em que essas
entidades atuam e respectivos percentuais dentro da amostra, é evidenciado na Tabela 1.
Tabela 1 – Perfil das entidades da amostra com base nas atividades exercidas
Número de Área de Atuação Quant. %
Atividades
Saúde 11 27%
1 Educação 7 17%
Assistência Social 2 5%
Saúde e Educação 6 15%
2 Educação e Cultura 1 2%
Saúde e Assistência Social 2 5%
Assistência Social e Atividade Religiosa 1 2%
Saúde, Educação e Assistência Social 4 10%
Saúde, Educação e Pesquisa 1 2%
3 Educação, Caráter Comunitário e Filantrópico 1 2%
Educação, Cultura e Assistência Social 1 2%
Educação, Assistência Social e Atividade Religiosa 1 2%
Educação, Cultura, Beneficente e Assistência Social 1 2%
4 Saúde, Educação, Serviços Funerários e Pesquisa 1 2%
Educação, Cultura, Atividade Religiosa e Assistência Social 1 2%
Total 41 100%
Fonte: Elaboração própria com base nos dados coletados
Metade das entidades da amostra exercem apenas uma atividade. A área da
Saúde é a que possui maior percentual, com 27% das entidades. A segunda maior
atividade exercida é a Educação, com 17%. O terceiro maior percentual, de 15%, é de
entidades que exercem duas atividades, nas áreas de Saúde e Educação.
4.1 Análise Descritiva
4.1.1 Estatística Descritiva do número de quesitos atendidos pelos sites das ONGs
Dos 25 quesitos listados no checklist, identificou-se uma média de 10 quesitos
atendidos por entidade. A mediana também é de 10. Ao considerar o total de 25 itens,
percebe-se que, de forma geral, não há uma evidenciação adequada de informações
pelas ONGs, sendo que metade delas não atendeu pelo menos 50% dos quesitos
considerados essenciais para uma boa governança.
O mínimo de quesitos atendidos por ONG foi 1, enquanto o máximo foi de 23,
de um total de 25 quesitos. Ou seja, da amostra selecionada, nenhuma das 41 ONGs
atendeu todos os quesitos recomendados pelo checklist. E, no extremo, houve entidade
que atendeu a apenas 1 quesito recomendado pelo IFAC.
Como indica o primeiro quartil, 25% das entidades atendeu a 5 ou menos dos
quesitos, de um total de 25. Já como indica o terceiro quartil, apenas 25% das entidades,
de um total de 41, atenderam a 14 ou mais dos quesitos, de um total de 25. O coeficiente
de variação é de 61,91, o que aponta alto grau de dispersão.
4.1.2 Estatística Descritiva do número de ONGs que atenderam aos quesitos
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A média de atendimento dos quesitos foi de 16,56 ONGs. Ou seja, a média é de


menos da metade das 41 entidades analisadas. Verifica-se, em consonância com os
resultados anteriores, a baixa divulgação por parte dessas organizações. A mediana de
16 revela que metade dos 25 quesitos foram atendidos por 16 ou menos ONGs. O valor
mínimo de 1 e o valor máximo de 36 evidenciam que houve quesito atendido por apenas
uma ONG. Revelam, também, que nenhum dos quesitos foi atendido por todas as
entidades. Quanto ao que indicam os quartis, 25% dos quesitos foram atendidos por 10
ou menos entidades. Enquanto apenas 1 em cada 4 quesitos, de 25, foram atendidos por
19 ou mais ONGs. O coeficiente de variação foi de 59,42%, considerado alto.
Ressalta-se a necessidade da busca pela transparência por parte das ONGs. O
que se realiza através de divulgação de informações essenciais, como o código de
conduta, as demonstrações financeiras, o balanço social e demais relatórios que
contribuam para a formação da reputação da organização (Vargas, 2008). Vargas (2008,
p. 54), ainda destaca que se pode “dizer que com o cumprimento do princípio de
prestação de contas, as ONGs obteriam uma excelente oportunidade de
desenvolvimento de parcerias e projetos até mesmo internacionais.” Por se tratar de
divulgações benéficas para o desenvolvimento dessas organizações.
Mas a análise descritiva dos resultados colhidos do checklist revela outra
situação. Poucas entidades se aproximaram de atender os quesitos que evidenciassem a
aderência às práticas de governança. Principalmente no que se refere à transparência e
prestação de contas, por se tratar de uma pesquisa voltada à divulgação por parte dessas
instituições.
A amostra selecionada é composta pelas maiores ONGs do Estado, o que torna
os resultados ainda mais críticos. Já que se presume que estas, pelo seu porte, deveriam
apresentar maior organização, controle interno, transparência e demais práticas de
governança.
4.2 Análises do nível de atendimento dos quesitos do Checklist
O estudo do IFAC define, em sua estrutura, quatro grupos de quesitos em que se
classificam as práticas de governança: padrões de comportamento; estruturas e
processos organizacionais; controle; e relatórios externos.
4.2.1 Padrões de Comportamento
De acordo com o checklist, o grupo Padrões de Comportamento é composto por:
Código de Conduta e Objetividade; e Integridade e Honestidade. A Tabela 2 demonstra
os percentuais de atendimento e não atendimento desses quesitos pela amostra
analisada.
Tabela 2: Checklist - Quesitos de Padrões de Comportamento
Sim Não
PADRÕES DE COMPORTAMENTO 26% 74%
CÓDIGO DE CONDUTA 24% 76%
1. A entidade adota um código formal de conduta definindo os padrões de
comportamento para que os membros do corpo diretivo e todos os demais empregados 24% 76%
da entidade sejam obrigados a seguir?
OBJETIVIDADE, INTEGRIDADE E HONESTIDADE 27% 73%
2. A entidade estabelece mecanismos apropriados para assegurar que membros do corpo
diretivo e empregados da entidade não sejam influenciados por preconceitos ou 27% 73%
conflitos de interesse?
Fonte: Adaptado IFAC (2001)
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O resultado revela que apenas 24% das entidades disponibilizaram em seus


portais um “Código de Conduta” próprio ou mais conhecido como Código de Ética,
com normas e regulamentos específicos de conduta de sua organização.
Ao se tratar da “Objetividade, Integridade e Honestidade”, o resultado obtido
também aponta um percentual baixo de ONGs que divulgaram informações referentes a
mecanismos que venham a inibir preconceitos ou conflitos de interesse entre seus
membros. Comumente, constam no Código de Conduta disposições que tratam sobre
esse tema. Logo, com a falta de disponibilização deste documento, um resultado baixo
também se verificou para este quesito. Apenas 27% das ONGs selecionadas divulgam a
iniciativa de buscar assegurar que os membros do seu corpo diretivo e empregados não
sejam influenciados a agir buscando seu próprio interesse. Esse é um ponto crítico, já
que se espera ética dos colaboradores, que priorizem os interesses da entidade.
Em contraste com os resultados obtidos, as referidas normas de conduta são
consideradas essenciais. O Código de Conduta é um instrumento que possui capacidade
de orientar os colaboradores da entidade a se comportarem de acordo com o que este
propõe. Padrões elevados de conduta são considerados peças-chaves para que haja na
entidade um controle interno capaz de prevenir e de detectar ações fraudulentas,
motivadas por más intenções (Ocde, 2011).
O IFAC (2001, p. 22) destaca que as entidades “precisam adotar um código
formal de conduta que defina os padrões de comportamento aos quais os membros
individuais do corpo diretivo e todos os funcionários da entidade são necessários para se
inscrever”. No que se refere a este primeiro grupo de quesitos, Padrões de
Comportamento, a análise dos sites da amostra selecionada de ONGs não evidencia que
essas os possuem em níveis elevados em seus sistemas, com resultado geral de 26%.
4.2.2 Estruturas e Processos Organizacionais
O grupo Estruturas e Processos Organizacionais é dividido em:
Responsabilidade Legal; Responsabilidade por Dinheiro Público; Comunicação com as
Partes Interessadas; e Papéis e Responsabilidades. A Tabela 3 apresenta os percentuais
de atendimento / não atendimento desses quesitos.
Tabela 3: Checklist – Quesitos de Estruturas e Processos Organizacionais
Sim Não
ESTRUTURAS E PROCESSOS ORGANIZACIONAIS 36% 47%
RESPONSABILIDADE LEGAL 34% 66%
3. A entidade estabelece medidas eficazes para garantir observância de todos os
estatutos e regulamentos aplicáveis, e de outras declarações relevantes de melhores 34% 66%
práticas?
RESPONSABILIDADE POR DINHEIRO PÚBLICO 39% 61%
4. A entidade estabelece disposições adequadas para garantir que os recursos
públicos sejam:
a) devidamente salvaguardados e utilizados economicamente, eficientemente, 39% 61%
eficazmente, adequadamente, e com a devida propriedade?
b) utilizados de acordo com as exigências legais que os regem? 39% 61%
COMUNICAÇÃO COM AS PARTES INTERESSADAS 62% 38%
5. A entidade estabelece canais claros de comunicação com as partes interessadas
88% 12%
sobre a missão da instituição, papéis, objetivos e desempenho?
6. A entidade tem um compromisso explícito de abertura e transparência em todas
29% 71%
as suas atividades?
7. A entidade: 46% 54%
11

a) divulga publicamente os processos para fazer as nomeações de membros da alta


administração?
b) disponibiliza publicamente os nomes de todos os membros da alta
administração, juntamente com seus outros interesses relevantes? 85% 15%

PAPÉIS E RESPONSABILIDADES 52% 48%


8. Existe uma divisão clara de responsabilidades definida na diretoria da entidade
para assegurar um equilíbrio de poder e responsabilidade? 46% 54%
9. O corpo governante estabelece uma estrutura de controle estratégico (ou
78% 22%
esquema de poderes delegados ou reservados)?
10. O corpo governante estabelece processos de gestão claramente documentados e
compreendidos para política de desenvolvimento, tomada de decisão, 39% 61%
acompanhamento e controle?
11. O corpo governante estabelece regulamentos financeiros e processuais formais
46% 54%
para a gestão dos recursos?
12. O presidente da entidade é responsável por todos os aspectos da gestão? 85% 15%
13. A entidade possui um responsável por garantir que conselhos adequados sejam
dados em todos os assuntos financeiros e para a manutenção de um sistema eficaz 66% 34%
de controle interno e financeiro?
14. A entidade possui um responsável por garantir que procedimentos do corpo
governante sejam seguidos, e que todas as leis e estatutos aplicáveis, e outras 44% 56%
recomendações relevantes de boas práticas sejam cumpridas?
15. O relatório anual da entidade contém uma declaração sobre a política de
7% 93%
remuneração e detalhes da remuneração dos diretores?
Fonte: Adaptado IFAC (2001)
Com relação à “Responsabilidade Legal”, também chamada Responsabilidade
Estatutária, as organizações têm como obrigação estabelecer planos eficazes para
garantir que o seu Estatuto, regulamentos aplicáveis, ou demais declarações relevantes
sobre melhores práticas sejam observadas e atendidas (IFAC, 2001).
Das ONGs, 34% evidenciaram o compromisso com o cumprimento de suas
regulamentações e normas. Esses mecanismos costumam ser descritos nos Estatutos e
Regulamentos, em forma de disposições legais. Alertam sobre penalidades a serem
aplicadas em caso de seu descumprimento, no intuito de prevenir o desrespeito dos
Regulamentos internos da entidade e das disposições estabelecidas em seus Estatutos.
Quanto à “Responsabilidade por Dinheiro Público” é requerido que se
estabeleçam disposições adequadas para assegurar que os fundos públicos sejam
utilizados da melhor forma possível, em âmbito econômico, de forma eficaz, eficiente e
efetiva, e que estão tendo a proteção apropriada. É preciso transmitir aos grupos de
interesse confiança sobre a administração desses recursos, do desempenho financeiro da
entidade e da qualidade dos serviços oferecidos (IFAC, 2001).
Apesar de tal importância, percebe-se pelo resultado da aplicação do checklist
que 39% das entidades divulgaram em seus sites disposições apropriadas que regessem
sobre o uso dos recursos públicos na organização. Esse quesito deveria ser uma das
prioridades para essas organizações, já que seu funcionamento depende de recursos
advindos de doações. Principalmente no que se refere à divulgação desse compromisso,
visto que chegaria a um público cada vez maior o bom uso dos recursos nelas investido.
O que resultaria em maior confiabilidade em suas atividades, atraindo mais investidores.
Já em “Comunicação com as Partes Interessadas”, comparado aos resultados
anteriores, observa-se um aumento da divulgação por parte das ONGs, com percentual
de 62%. Este é o subgrupo com maior evidenciação de informações recomendadas pelo
Estudo do IFAC, nos resultados do checklist.
12

Segundo o IFAC (2001), a organização deve estabelecer meios de comunicação


com as partes interessadas. O que inclui tratar de forma clara sobre a missão, papéis,
objetivos, desempenho da instituição, e garantir que esses canais atuem como planejado.
A entidade deve publicar relatórios sobre sua performance, divulgar procedimentos para
ouvir as sugestões e reclamações tanto internas, de seus colaboradores, quanto externas.
É preciso que a entidade possua um compromisso explícito de transparência em todas as
atividades que realiza. A entidade também deve divulgar publicamente os processos
para nomeações da alta administração, com todos os nomes e seus interesses.
No subgrupo “Comunicação com Partes Interessadas”, em se tratando da missão,
papéis, objetivos e desempenho, houve evidenciação por parte de 88% das instituições.
Este foi o quesito com maior nível de atendimento do checklist pelas entidades. Já
quanto a transmitir um compromisso explícito de abertura e transparência, apenas 29%
das organizações possuem em seus sites um portal claro de transparência; 46%
atenderam ao quesito de divulgação dos processos de nomeações de membros da alta
administração. E 85% disponibilizaram os nomes de todos os membros do corpo
diretivo, este também foi um dos quesitos mais atendidos, por 85% das entidades.
Na análise do conjunto de quesitos do subgrupo, é relevante pontuar que o fato
de as 41 entidades possuírem um site próprio demonstra o interesse destas em
estabelecer canais de comunicação com a sociedade. Porém, apenas pouco mais metade
delas, 62%, manteve este objetivo, por demonstrar transparência em seus serviços e por
publicar demais informações sobre a organização. Enquanto os 38% restantes mantêm
esse canal desatualizado, com poucas informações essenciais para a boa governança, e
muitas vezes, com conteúdo de confuso entendimento. Esse recurso, se bem utilizado,
pode trazer grandes benefícios para instituições sem finalidade lucrativa. Em termos de
governança, essas entidades perdem por não transparecerem uma postura íntegra, o que
as auxiliaria em captação de renda e contribuiria para a continuidade da organização.
O IFAC (2001), em “Papéis e Responsabilidades”, lista quesitos importantes no
que tange a esses aspectos. Entre eles, destaca que, para a configuração da boa
governança, deve haver ‘equilíbrio entre poder e autoridade’, no qual são estabelecidas
claras divisões de responsabilidades entre os maiores cargos na entidade, também um
bom relacionamento dos gestores entre si e stakeholders. É necessário que ‘o grupo
governante’ guie os gestores na busca da transparência, inovações e melhorias. Para
melhores resultados, deve-se sempre avaliar o desempenho dos membros desse grupo e
de seu chefe. Eles devem estabelecer uma estrutura de delegação de poderes, processos
administrativos, todos os procedimentos e regulamentos financeiros, tomada de decisão,
controle, nomeações, eleições, entre outros.
O resultado geral deste subgrupo é que 52% das ONGs divulgaram aderir a tais
recomendações. No que se refere à análise de cada quesito individualmente, o que
recomenda a divisão clara de responsabilidades para assegurar equilíbrio de poder e
responsabilidade foi atendido por 46% das instituições. Observa-se um aumento no
resultado quanto ao quesito que dispõe sobre o grupo governante estabelecer uma
estrutura de poderes delegados, com 78%. E 39% das entidades evidenciaram
estabelecer processos de gestão claramente documentados e compreendidos para
política de desenvolvimento, tomada de decisão, acompanhamento e controle. Entre
esses documentos, estão os planejamentos estratégicos, os Estatutos, os Regulamentos
Internos, Relatórios de gestão, Demonstrações Contábeis e demais relatórios. E 46% das
entidades atenderam o quesito que prevê que o grupo governante deve estabelecer
regulamentos financeiros e processuais formais para a gestão dos recursos.
13

Verifica-se um aumento no nível de evidenciação no quesito que dispõe sobre o


presidente da entidade ser responsável por todos os aspectos da gestão, com resultado
de 85%. Provavelmente por estar relacionado à divulgação das funções e poderes dos
membros do grupo governante, quesitos que apresentaram percentuais próximos. Das
entidades, 66% informaram possuir um responsável para dar conselhos em assuntos
financeiros e para controle interno e financeiro. Sobre a entidade informar possuir um
responsável para garantir que procedimentos, leis, estatutos e recomendações de boas
práticas sejam seguidos, 44% entidades evidenciaram que atendem.
Quanto ao requerimento de o relatório anual da entidade conter uma declaração
sobre a política de remuneração e seus detalhes, apenas 7% das ONGs atenderam ao
quesito, um dos mais baixos resultados encontrados na análise. Vale destacar a baixa
publicação do relatório anual por parte das entidades, tendo poucas delas mostrado
compromisso quanto à evidenciação deste documento, logo, todos os quesitos
relacionados a ele apresentaram baixa aderência. Informações acerca da remuneração
estão contidas no Estatuto da entidade, mas na maioria das situações em que possuíam
esses dois documentos, não replicavam as mesmas informações no relatório anual.
Em resumo, é possível perceber que as 41 ONGs de forma geral, não se
mostraram transparentes quanto aos quesitos que compõem o grupo “Estruturas e
Processos Organizacionais de seus sistemas”. Um total de 36% das organizações
analisadas divulgou seguir tais recomendações, no que se refere a este grupo.
4.2.3 Controle
Seguindo a estrutura, o próximo grupo é o de Controle, dividido em: Controle
Interno, Orçamento e Gestão Financeira (Tabela 4).
Tabela 4: Checklist – Quesitos de Controle
Sim Não
CONTROLE 20% 80%
CONTROLE INTERNO 2% 98%
16. A entidade inclui em seu relatório anual uma declaração sobre a eficácia
2% 98%
do quadro de membros do controle interno?
ORÇAMENTO E GESTÃO FINANCEIRA 37% 63%
17. A entidade assegura que os procedimentos em vigor proporcionam gestão
37% 63%
financeira e orçamentária eficazes e eficientes?
Fonte: Adaptado IFAC (2001)
O IFAC (2001) destaca que uma estrutura de “Controle Interno” deve ser
estabelecida na entidade, esta deve se certificar que a estratégia realmente será praticada
e ela deverá compor o relatório anual. O controle é visto como um processo feito pelos
diretores da entidade para assegurar a efetividade e eficiência de todas as atividades
realizadas pela organização, assegurar a confiabilidade dos relatórios financeiros
emitidos por ela, e se certificar da aplicação da legislação. Essa estrutura de controles
deve sempre ser revisada.
No que se refere à entidade incluir em seu relatório anual uma declaração se
referindo à eficácia dos membros do controle interno da instituição, nota-se um
resultado de apenas 2% de evidenciação. Este é o menor percentual de atendimento aos
quesitos alcançado pelo checklist. A falta de divulgação pode levar ao entendimento de
que a entidade não possui esses mecanismos e por esse motivo não os divulga. Nesse
caso, pode transparecer que essas entidades não possuem uma estrutura de controle
interno, levantando suspeitas sobre a boa organização, o que pode prejudicar a captação
de recursos financeiros.
14

Quanto ao ‘Orçamento e Gestão Financeira’, Mello (2006, p. 54) pondera que o


orçamento é muito importante para o progresso da instituição, compondo o
planejamento financeiro e a estrutura de controle. Destaca que “pela sua natureza, ele é
um meio de alocar recursos para alcançar os objetivos, é um instrumento de gestão, e
também, um meio de controlar os fundos para assegurar que os objetivos declarados
possam ser conhecidos.”
O IFAC (2001) disserta que a gestão financeira deve ser eficiente, eficaz e
efetiva. Para uma boa gestão, essas estratégias devem estar regulamentadas e possuir
mecanismos adequados para colocá-las em prática, contando com quadro de
funcionários treinados. Sobre a entidade assegurar que os procedimentos que estão em
vigor proporcionam gestão financeira e orçamentária eficazes e eficientes, 37% das
ONGs atenderam a este quesito.
No que se refere aos quesitos do grupo “Controle”, considerados conjuntamente,
as 41 entidades não evidenciaram aderir às práticas recomendadas pelo checklist. Vale
ressaltar que este foi o grupo de quesitos com menor percentual de aderência, com
resultado de apenas 20%.
4.2.4 Relatórios Externos
O último grupo de quesitos abordados no checklist é o de Relatórios
Externos, divido em: Relatório Anual; Medidas de Desempenho; e Auditoria Externa
(Tabela 5).
Tabela 5: Checklist - Quesitos de Relatórios Externos
Sim Não
RELATÓRIOS EXTERNOS 31% 69%
RELATÓRIO ANUAL 18% 82%
18. A entidade publica tempestivamente um relatório anual de forma objetiva,
20% 80%
equilibrada e compreensível?
19. O relatório anual contém um comunicado explicando as responsabilidades
12% 88%
da alta administração?
20. A entidade inclui em seu relatório anual uma declaração confirmando que
15% 85%
cumpre as normas ou códigos de Governança corporativa?
21. A entidade garante que as demonstrações financeiras estão em
24% 76%
conformidade com um reconhecido conjunto de normas de contabilidade?
MEDIDAS DE DESEMPENHO 41% 59%
22. A entidade possui procedimentos formais para medir o desempenho,
41% 59%
acompanhar e corrigir essa performance?
AUDITORIA EXTERNA 34% 66%
23. A entidade trabalha para garantir transparência e que um relacionamento
34% 66%
objetivo e profissional seja mantido com os auditores externos?
TOTAL 28% 68%
Fonte: Adaptado IFAC (2001)
É requerido que as instituições publiquem periodicamente um documento, o
relatório anual, que possua informações importantes acerca da organização, tais como o
desempenho financeiro, demonstrações contábeis, suas atividades, seus objetivos e
outros. (IFAC, 2001).
Mello (2006) destaca que também é necessário conter no relatório anual
indicações sobre como o orçamento será utilizado, as operações realizadas, a estrutura
de controle da entidade, certificar que as normas e práticas contábeis adequadas estão
sendo seguidas. Também é devido que esteja incluso no relatório, demonstrações sobre
a aplicação das normas de governança, adaptados de acordo com a organização.
15

Com base nisso, o quesito que se refere à entidade publicar tempestivamente um


relatório anual de forma objetiva, equilibrada e compreensível, apenas 20% da ONGs
atenderam. Sobre o relatório anual conter um comunicado que explique as
responsabilidades da alta administração da entidade, apenas 12%. No que se refere à
entidade incluir em seu relatório anual uma declaração confirmando que cumpre as
normas ou códigos de governança corporativa, apenas 15%. E a respeito de a entidade
garantir que as demonstrações financeiras estão em conformidade com um reconhecido
conjunto de normas de contabilidade, 24%. Vale destacar novamente a baixa divulgação
do próprio relatório anual pelas ONGs. O subgrupo “Relatório Anual” teve resultado de
apenas 18% de aderência aos quesitos recomendados pelo checklist.
As “Medidas de Desempenho” se fazem necessárias para que seja possível
certificar que os recursos da instituição estão sendo utilizados da melhor forma possível.
Essas informações são úteis para os usuários internos ao possibilitar uma melhor
utilização dos recursos financeiros e das melhorias a serem feitas no sistema interno da
organização. E para usuários externos, que terão mais informações para prosseguirem
com seus investimentos, avaliando o potencial da entidade (IFAC, 2001).
Mello (2006, p. 59) ressalta que essas medidas “devem ser relevantes,
entendíveis, realizáveis, completas, objetivas, neutras, oportunas e comparáveis.
Devendo, também, ser verificadas externamente, ou seja, as informações de
desempenho devem ser auditadas.”. Na pesquisa, em continuidade aos resultados
anteriores, o quesito que tratou sobre a entidade possuir procedimentos formais para
medir o desempenho, acompanhar e corrigir essa performance, foi atendido por 41%
das ONGs analisadas.
Na ‘Auditoria Externa’ é requerido que exista um relacionamento profissional
entre a entidade e auditores externos. Surge, então, a necessidade do Comitê de
Auditoria, que também é recomendado às organizações do Terceiro Setor, visto que este
proporciona às entidades confiabilidade, por analisar demonstrações financeiras, apoiar
a administração, incentivar o seguimento do código de conduta e ajudar na estruturação
de um bom controle interno (IFAC, 2001; Vargas, 2008).
Quanto ao quesito sobre a entidade trabalhar para garantir transparência e manter
relacionamento objetivo e profissional com os auditores externos, 34% das ONGs
evidenciaram atender ao recomendado. Portanto, com base nos resultados obtidos
conjuntamente para o grupo “Relatórios Externos”, as entidades analisadas não
evidenciaram aderir às práticas de governança correspondentes, com atendimento por
apenas 31% das ONGs amostradas.
Em geral, foram utilizados para a realização de toda a pesquisa, os documentos
que mais apresentam informações importantes sobre a instituição no que se refere à
aplicação de práticas da governança, como o relatório anual completo, demonstrações
financeiras, relatórios de gestão e orçamentos, demonstrações do desempenho da
organização, relação de atividades realizadas, estatutos e regulamentos, códigos de
conduta, relação dos membros do corpo diretivo e suas funções, e demais declarações
da entidade que assegurassem eficiência e efetividade em suas operações. Ressalta-se,
que mesmo as ONGs que possuem esses dados em seus sites, poderiam atentar-se para
uma melhor organização e maior visibilidade dessas informações. Visto que muitas
vezes, há certa dificuldade na localização de alguns relatórios, por falta de padronização
na programação visual do site, ou falta de segregação e destaque de documentos
específicos que mereçam mais atenção.
16

O resultado final foi de apenas 28% de evidenciação, considerado o conjunto de


quesitos recomendados e o total de entidades da amostra. É perceptível a necessidade de
que se dissemine maior conhecimento a essas organizações acerca dos benefícios que
essas práticas trariam a elas em termos financeiros e institucionais. Além de possibilitar
que continuem a contribuir com os impactos sociais positivos que promovem.
4.3 Análise de Correlação dos dados obtidos no Checklist
Com base nos resultados obtidos na análise de atendimento aos quesitos
recomendados pelo checklist, realizou-se a tentativa de esclarecer possíveis fatores
relevantes na aderência ou falta de aderência das práticas de governança pelas
entidades.
A Tabela 6 resume os coeficientes de correlação entre o comportamento dos
resultados da análise do atendimento ou não atendimento de cada um dos quesitos do
checklist. Demonstra apenas os resultados com coeficientes de correlação iguais ou
superiores a 0,70, que correspondem a níveis de correlação ‘forte’ e ‘muito forte’.
Tabela 6 - Coeficientes de correlação entre o comportamento dos resultados
da análise dos quesitos do checklist.
Resumo dos Resultados
Quesitos 1 2 3 4a 4b 6 7a 7b 8 10 18 20 21
2 0,94
3 0,79 0,84
4b 1,00
8 0,76 0,76 0,71
9 0,78
10 0,80
11 0,86 0,86 0,71 0,90
12 0,80
14 0,71
18 0,77
21 0,76 0,71 0,72 0,73
23 0,78 0,90 0,79
Fonte: Elaboração própria com base nos dados coletados.
O Quesito 1, que se refere à entidade possuir código de conduta tem forte
correlação com os Quesitos 2 e 3, em 94% e 79%. A Questão 2 trata sobre se
estabeleceram mecanismos contra conflitos de interesse, e esse assunto está relacionado
à conduta dos membros da entidade, logo, essa informação comumente se encontra no
código de conduta. A maioria das entidades que possuem o código se previne em
relação ao conflito de interesses. O Quesito 3 se refere a se estabeleceram medidas para
garantir observância de estatutos e regulamentos. Na maior parte das vezes, nos próprios
dispositivos de regimentos internos são descritas as medidas para observação das regras,
dessa forma é lógico esses quesitos possuírem alta relação.
Ainda, o Quesito 2 se correlaciona com o 3 em 84%. Nota-se que quando as
organizações se empenham por padrões de comportamento tendem a utilizar
regulamentos e disposições para atingir o objetivo, o que as impulsiona a se
resguardarem em outros assuntos também. É interessante esse vínculo, já que esses
quesitos fazem partes de grupos diferentes, entre padrões de comportamento e estruturas
e processos organizacionais.
No grupo que trata sobre as estruturas da organização, notou-se correlação de
71% entre as Questões 3 e 14. O Quesito 14 se refere à entidade ter um responsável por
garantir que as leis e estatutos sejam cumpridos. Em sua maioria, quando as entidades
cumprem essa recomendação, possuem um responsável para cuidar do assunto.
17

O Quesito 4a mostra um correlacionamento perfeito (100%) com o Quesito 4b.


O Quesito 4a trata de a entidade possuir disposições sobre os recursos públicos, quanto
ao seu uso e o 4b sobre possuir disposições a respeito de seu uso de acordo com as
exigências legais. O Quesito 4a ainda teve correlação em níveis altos com os quesitos 8
e 11, de 76% e 86%. O Quesito 8 se refere a ter uma divisão de responsabilidades na
diretoria e o 11 sobre estabelecer regulamentos financeiros para a gestão dos recursos.
Nota-se que as entidades que possuem regulamentos e normas bem estruturadas em seus
sistemas atenderam ao que foi recomendado por quesitos a eles atinentes. Tanto que a
Questão 4b apresentou também alta correlação, de 76% e 86%, com os Quesitos 8 e 11.
O Quesito 6 foi o que demonstrou correlação com maior número de outros
quesitos. Versa sobre a entidade ter um compromisso explícito de abertura e
transparência em suas atividades. Teve relação de 80% com o Quesito 10, que se refere
à organização possuir processos de gestão documentados para desenvolvimento, tomada
de decisão, acompanhamento e controle. E correlação de 77% com a Questão 18, que
trata sobre a entidade publicar tempestivamente um relatório anual. Há também uma
correlação de 76% com o Quesito 21, que se refere à entidade garantir que as
demonstrações financeiras estão em conformidade com as normas de contabilidade. E
de 78% com o Quesito 23, que trata de a entidade garantir transparência e um
relacionamento objetivo com os auditores externos. Na amostra analisada, quando a
organização mantém uma atenção no sentido de evidenciar transparência em suas
operações, ela tende a publicar mais informações essenciais à governança, como o
relatório anual, relatório de auditoria, relatório de gestão e demonstrações contábeis.
O Quesito 7a apresenta correlação de 71% com os Quesitos 8 e11. O Quesito 7a
se refere ao fato de a entidade divulgar os processos de nomeações dos membros
governantes. Os Quesitos 8 e 11 estão relacionados à entidade possuir a estrutura de
processos organizacionais bem regulamentada. As instituições que dão mais atenção na
elaboração de um plano organizacional, de forma que contenha a maior quantidade de
informações acerca do corpo governante, possuem alto nível de correlacionamento.
A Questão 7b, que se refere a disponibilizar os nomes de todos os membros
governantes, por mais que se assemelha à 7a, não possui alta correlação com esta, e sim
com o Quesito 9, com 78% de vínculo, e o Quesito12, com 80%. O Quesito 9 trata
sobre o corpo governante estabelecer uma estrutura de poderes delegados e o 12 sobre o
presidente da entidade ser responsável por toda a gestão. Percebe-se que a maioria das
entidades que publicam os nomes da alta administração tendem a ter um bom controle
estratégico de funções e responsabilidades divididas.
O Quesito 8 mostrou correlação de 90% com o Quesito 11. Resultado esperado
consideradas as correlações antes analisadas, já que ambos se mostraram relacionados
com os Quesitos 4a, 4b e 7a, evidenciando os mesmos percentuais de um quesito para o
outro. Ou seja, verifica-se que a maioria das entidades que estabelecem disposições a
respeito do uso dos recursos públicos, também são as que mais informam sobre os
processos para nomeação da alta administração.
O Quesito 10 demonstra altos níveis de correlação com os Quesitos 21 e 23, com
71% e 90% respectivamente, o que evidencia um vínculo entre a entidade possuir
documentos de gestão documentados e publicar relatórios externos. Sobre os relatórios
externos, o Quesito 18 possui correlação de 72% com o Quesito 21, o que demonstra
que a maioria das organizações que publicaram o relatório anual, se preocuparam em
garantir que as demonstrações seguem as normas de contabilidade.
18

O Quesito 20 e o quesito 21 tiveram correlação de 71%. O Quesito 20 trata sobre


se incluir no relatório anual declaração confirmando que cumpre os códigos da
governança corporativa. A maioria das organizações que publicaram o relatório fizeram
constar tais informações no documento. Foi obtida correlação de 79% entre os Quesitos
21 e 23, o que evidencia que entidades que se esforçaram em garantir que estavam em
conformidade com as normas contábeis, também demonstraram transparência com
relação aos auditores externos.
Essas correlações evidenciadas estão associadas ao compromisso que as
organizações tiveram em evidenciar os seus estatutos e regulamentos mais completos. E
muitas vezes, divulgar sobre um assunto, impulsiona a entidade a divulgar sobre outro.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal evidenciar a aderência às práticas de
governança corporativa pelas 50 maiores Organizações Não Governamentais de Minas
Gerais. As entidades foram selecionadas conforme ranking divulgado no Portal
OngsBrasil. Foi utilizado parâmetro um checklist adaptado do Estudo 13 do IFAC, que
destaca quesitos importantes e necessários para que uma instituição possua boas práticas
de governança.
A amostra final de 41 ONGs, selecionadas conforme os critérios do estudo,
apresentaram baixo nível de evidenciação de aderência às práticas de governança
corporativa, como definidas no checklist. Para o grupo “Padrões de Comportamento”
apenas uma em cada quatro entidades amostradas evidenciaram informações acerca do
código de conduta e prevenção ao conflito de interesses. No que se refere ao grupo
“Estruturas e Processos Organizacionais”, 36% das organizações divulgaram
estabelecer disposições legais bem regulamentadas sobre a instituição, a utilização de
dinheiro público, estabelecimento de comunicação com as partes interessadas e a
definição de papéis e responsabilidades do corpo governante. Em relação ao grupo
“Controle”, este apresentou resultado de apenas 26% de aderência, deixando perceptível
a falta de divulgação das entidades quanto aos procedimentos de controle interno,
orçamento e gestão financeira. E para o grupo de “Relatórios Externos”, o resultado foi
de que 31% das organizações da amostra divulgam relatório anual, procedimentos de
medidas de desempenho e auditoria externa. O resultado geral da pesquisa foi de apenas
28% de aderência da evidenciação pelas ONGs das práticas de governança
recomendadas pelo Estudo 13 do IFAC.
As análises de correlação entre os resultados do atendimento aos diversos
quesitos, em busca de relações existentes. Os resultados apontaram para altos níveis de
correlação entre quesitos que estão associadas ao compromisso que as organizações
tiveram em evidenciar os seus estatutos e regulamentos mais completos, com relação
aos temas abordados.
Verifica-se, pelas informações colhidas nos sites eletrônicos, com a aplicação
do checklist adaptado do Estudo 13 do IFAC, que as entidades da amostra demonstram
baixa aderência às boas práticas da governança. Sobretudo no que se refere à prestação
de contas e transparência, já que a pesquisa utilizou de informações publicadas em seus
portais. O resultado se revela crítico, devido ao fato de a amostra selecionada ser
composta de algumas das maiores ONGs do Estado, conforme o ranking adotado.
A pesquisa contribui na produção de conhecimento acadêmico, preenchendo a
lacuna sobre essa temática em relação às ONGs de Minas Gerais. Por aprofundar no
entendimento sobre essas entidades, contribui para os resultados que estas promovem à
sociedade. Também, por proporcionar conhecimento às próprias ONGs, contribui com
19

sua qualificação para o mercado específico de doações em que estão inseridas,


impulsionando a sua continuidade e progresso.
Sugere-se como estudos futuros a realização desta mesma análise por meio de
pesquisa realizada diretamente junto às ONGs, buscando informações além das que são
publicadas em seus websites. Até mesmo através de estudos de casos por meio dos
quais se possam observá-las em atividade.

REFERÊNCIAS
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sobre ONGs. ABONG. Recuperado de https://abong.org.br
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (2000). Empresas,
responsabilidade corporativa e investimento social. Relatório. Setorial 1. Rio de
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Cabral, E. H. S. (2007). Terceiro Setor: gestão e controle social. (1. ed.). São Paulo:
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Canito, F. O., F°. (2013). Possibilidades de efetivação de práticas de governança em
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APÊNDICE A – QUADRO DAS 50 MAIORES ONGS DE MINAS GERAIS
*As ONGs destacadas não compuseram a amostra. Seis organizações não possuíam sites próprios (1). O
site de uma entidade permaneceu em manutenção durante a pesquisa (2). O de outra, apresentou mensagem
informando ter sido invadido (3). Ainda, outra entidade teve suas atividades descontinuadas (4).
Nº Organização Funcionários Local
1 Inspetoria São João Bosco 7178 Belo Horizonte/MG
2 Sociedade Mineira de Cultura (1) 5814 Belo Horizonte/MG
3 Associação Municipal de Assistência Social (2) 5331 Belo Horizonte/MG
4 Fundação Presidente Antônio Carlos 4425 Barbacena/MG
5 Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte 4244 Belo Horizonte/MG
6 Fundação São Francisco Xavier 3456 Ipatinga/MG
7 Sociedade Educacional Uberabense 3367 Uberaba/MG
8 Fundação Maçônica Manoel dos Santos 3040 Uberlândia/MG
9 Fundação de Ensino e Tecnologia de Alfenas 2318 Alfenas/MG
10 Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora 1812 Juiz de Fora/MG
11 Fundação Felice Rosso 1784 Belo Horizonte/MG
12 Fundação Geraldo Corrêa 1608 Divinópolis/MG
13 Irmandade Nossa Senhora das Merces de Montes Claros 1593 Montes Claros/MG
14 Associação Municipal de Apoio Comunitário 1564 Juiz de Fora/MG
15 Associação Mário Penna 1463 Belo Horizonte/MG
16 Fundação de Assistência, Estudo e Pesquisa de Uberlândia (3) 1430 Uberlândia/MG
17 Hospital e Maternidade Therezinha de Jesus 1340 Juiz de Fora/MG
18 Santa Casa de Misericórdia de Passos 1250 Passos/MG
19 Associação Presbiteriana de Educação e Pesquisa (1) 1248 Caratinga/MG
20 Fundação de Ensino e Pesquisa de Uberaba 1187 Uberaba/MG
21 Fundação Educacional Lucas Machado Feluma 1179 Belo Horizonte/MG
22 Fundação Benjamin Guimarães 1164 Belo Horizonte/MG
23 Sociedade de Educação Integral e Assistência Social (1) 1143 Belo Horizonte/MG
24 Junta de Educação da Convenção Batista Mineira 1114 Belo Horizonte/MG
25 Fundação de Assistência Integral a saúde 1080 Belo Horizonte/MG
26 Sociedade Inteligência e coração 1073 Belo Horizonte/MG
27 Fundação Mineira de Educação e Cultura 1028 Belo Horizonte/MG
28 Associação Hospitalar Santa Rosalia 1027 Teófilo Otoni/MG
29 Associação Jesuíta de Educação e Assistência Social (1) 996 Belo Horizonte/MG
30 Lar de Amparo e Promoção Humana (4) 995 Uberlândia/MG
31 Missão Sal da Terra 965 Uberlândia/MG
32 Irmandade do Hospital da Santa Casa de Poços de Caldas 956 Poços de
Caldas/MG
33 Fundação Universidade de Itaúna 936 Itaúna/MG
34 Fundação de Apoio ao Hospital Universitário da UFJF (1) 923 Juiz de Fora/MG
35 Sociedade Civil Casas de Educação 908 Belo Horizonte/MG
36 Irmandade de Nossa Senhora das Graças (1) 886 Sete Lagoas/MG
37 Irmandade Nossa Senhora das Dores 867 Itabira/MG
38 Associação Evangélica Beneficente de Minas Gerais 798 Belo Horizonte/MG
39 Congregação das Irmãs Auxiliares de Nossa Senhora da Piedade 772 Belo Horizonte/MG
40 Associação Propagadora Esdeva 771 Belo Horizonte/MG
41 Instituto Nacional de Desenvolvimento Social e Humano INDSH 682 Pedro Leopoldo/MG
42 Fundação Hospitalar de Montes Claros 675 Montes Claros/MG
43 Casa de Caridade de Alfenas Nossa Senhora do Perpétuo 667 Alfenas/MG
Socorro
44 Casa de Caridade de Muriaé Hospital São Paulo 661 Muriaé/MG
45 Santa Casa de Misericórdia de Barbacena 656 Barbacena/MG
46 Fundação de Ensino Superior de Passos 645 Passos/MG
47 Fundação Cristiano Varela 641 Muriaé/MG
48 Instituto Metodista Izabela Hendrix 612 Belo Horizonte/MG
49 Rede Cidadã 612 Belo Horizonte/MG
50 Associação de Integração Social de Itajubá 597 Itajubá/MG
Fonte: Elaborado pelos autores, com base nas informações extraídas do site “OngsBrasil”

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