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Resumo
Em meio às desigualdades sociais, as associações e fundações do Terceiro Setor
possuem papel essencial, pelos impactos sociais positivos que proporcionam. Essas
organizações precisam dispor de planejamentos e estratégias eficientes, que lhes
possibilitem retorno significativo. A adesão às práticas de governança corporativa nas
Organizações Não Governamentais (ONGs) tende a suprir essa necessidade,
possibilitando que obtenham maior destaque no mercado de doações. Considerado este
contexto, este trabalho buscou, como objetivo principal, evidenciar a aderência às
práticas de governança corporativa pelas 50 maiores ONGs de Minas Gerais. A
pesquisa se caracteriza por ser qualitativa, quando segrega informações necessárias ao
entendimento do tema, e ao mesmo tempo, quantitativa, ao realizar a mensuração dos
dados coletados. Para a análise, foi utilizado um checklist adaptado do Estudo 13 do
IFAC para verificar as práticas de governança evidenciadas nos websites das ONGs
analisadas. Os resultados demonstraram que, de forma geral, as entidades apresentaram
baixo nível de aderência à divulgação das informações recomendadas. Os dados obtidos
também possibilitaram a realização de análises de correlações referentes ao
comportamento das ONGs no atendimento aos quesitos. Verificou-se correlações entre
determinados quesitos, indicando que a divulgação de alguns grupos se correlaciona
com a divulgação de outros. A pesquisa vem a contribuir na produção de conhecimento
acadêmico, preenchendo a lacuna da falta de estudos com essa temática na região.
Também, por proporcionar conhecimento às próprias ONGs, qualificando-as para o
mercado específico em que estão inseridas.
1 INTRODUÇÃO
O Terceiro Setor é formado pelas Organizações de Sociedade Civil (OSCs) ou,
como são há mais tempo conhecidas, as Organizações Não Governamentais (ONGs),
entidades privadas, sem finalidade lucrativa, que exercem atividades de benefício
público (Ipea, 2019). As ONGs são essenciais para a sociedade civil, quando agem para
benefício desta ao observarem e complementarem as funções das organizações políticas,
que possuem tais responsabilidades (Instituto Pro Bono, 2014).
As entidades do Terceiro Setor vêm conquistando importância, viabilizando
atividades que visam o bem-estar social, na busca de minimizar fatores que causam
disfunções na sociedade (Lacruz, 2017). O Guia das Melhores Práticas de Governança
para Institutos e Fundações Empresariais (GIFE) (2014) aponta que esse crescimento é
devido a esse setor liderar variadas atividades no âmbito social. E pela sua relevância no
cenário econômico.
Na mais recente pesquisa sobre as OSCs no Brasil, o Fasfil divulgou, em 2016,
relatório indicando a existência de cerca de 527 mil Entidades sem Fins Lucrativos.
Essas entidades movimentam montantes em torno de 1 trilhão de dólares. Esse volume
de recursos deve ter uma aplicação baseada em planejamento bem estruturado. Isso
porque a população passa a depender da geração de seus benefícios, tanto sociais como
financeiros, intelectuais, culturais entre outros (Manãs & Medeiros, 2012; IBGE, 2019).
A insuficiência financeira dessas entidades é um dos fatores prejudiciais à
arrecadação de fundos, contrariando as metas estabelecidas e seus planejamentos. Dessa
forma, se vê necessária a responsabilidade na evidenciação de informações confiáveis.
Esse processo é acompanhado por mudanças, implementação de novos métodos,
técnicas, sistemas, investimentos em capacitação e desenvolvimento. É em vista disso
que a necessidade de governança se manifesta (Rocha, 2013; Melo & Azevedo, 2019).
O entendimento é de que as entidades que adotam as boas práticas de
governança corporativa se destacam dentre as demais. Os administradores, que têm o
objetivo de arrecadar doações para garantir a continuidade das entidades, deviam buscar
a adesão a procedimentos e técnicas de governança, já que essas entidades seriam
consideradas mais atraentes para os doadores de recursos (Lacruz, 2017).
O Instituto Pro Bono (2014, p. 14) adverte que “as ONGs podem também ser
utilizadas como espaços para abrigar grupos de pressão e lobbies, interessados em
lançar mão das verbas públicas, direcionando-as para interesses de minorias
privilegiadas”. As ONGs acabam enfrentando dificuldades para captarem recursos, já
que sua imagem é afetada pela má gestão de algumas. É evidente a necessidade de essas
entidades passarem credibilidade e confiabilidade para seus prospectivos doadores e
mecanismos de governança podem ser ótimos aliados nesse objetivo.
O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), em conjunto com o
Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE), publicaram o Guia das Melhores
Práticas para Institutos e Fundações Empresariais, que tem a finalidade de contribuir
para a gestão das entidades do Terceiro Setor. É um material relevante e vantajoso se
levado em consideração, digno de estudo por parte dessas instituições (Gife, 2014).
Dentre os estudos publicados sobre o tema, Rocha (2013), Canito Filho (2013),
Silva (2015), Lacruz (2017) tratam sobre práticas de governança corporativa aplicadas
ao Terceiro Setor. Vargas (2008) utiliza como base o Estudo 13 do International
Federation of Accountants (IFAC), publicado pela organização mundial de contadores,
referente à boas práticas de governança e de gestão pública. Não foi encontrado nenhum
trabalho que analisa práticas de governança de ONGs de Minas Gerais.
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Padrões de Comportamento
Liderança
Códigos de conduta ⇒ Probidade e Propriedade ⇒ Objetividade, Integridade e Honestidade.
⇒ Relacionamentos.
Estruturas Organizacionais e Processos Controle Relatórios Externos
• Responsabilidade prestar contas estatutárias • Gestão de risco • Relatórios anuais
• Responsabilidade prestar contas dinheiro público • Auditoria interna •Uso de normas contábeis
• Comunicação com as partes interessadas • Comitês de Auditoria apropriadas
• Papéis e responsabilidades • Controle interno • Medidas de desempenho
⇒Equilíbrio de poder e autoridade • Orçamento • Auditoria externa
⇒O grupo do governo • Administração
⇒O presidente Financeira
⇒Membros do grupo de governo • Treinamento de
⇒Administração executiva pessoal
⇒Política de remuneração
Fonte: IFAC (2001, p. 14)
Figura 1: Recomendações de Governança no Setor Público
Segundo o IFAC (2001), Os Padrões de comportamento são de suma
importância, pois determinam a forma como a organização vai conduzir suas atividades
considerando altos padrões e valores, baseados em uma boa Liderança e a prática de
Códigos de Conduta, envolvendo todos os integrantes da instituição.
As Estruturas e processos organizacionais se trata da organização eficaz das
responsabilidades e papéis divididos dentro da instituição, e da conformidade e clareza
com que esses processos são realizados, assegurando todos os procedimentos. O
Controle é o estabelecimento de sistemas eficazes para a gestão de riscos e
oportunidades, para o aprimoramento de controle interno, monitoramento, para atingir
os objetivos da instituição, para que haja confiabilidade nos relatórios financeiros e
eficiência nas ações realizadas. Os Relatórios externos servem como medida de
desempenho, são a forma que as organizações têm de prestar contas aos envolvidos e
interessados em suas atividades.
2.5 Estudos Afins
Há poucos estudos versando sobre governança corporativa aplicada ao Terceiro
Setor. Dentre os encontrados, Rocha (2013) pesquisa sobre as dificuldades encontradas
pelas ONGs em implantar as práticas de governança. Os resultados indicaram que há
uma grande falta de conhecimento por parte dos voluntários em seus trabalhos e funções
e por parte dos agentes falta conhecimento das práticas de governança.
Canito Filho (2013) desenvolveu um estudo de caso em uma instituição privada
sem fins lucrativos, com o objetivo de atestar as possibilidades da adoção de
mecanismos de governança corporativa. Foi identificado que havia possibilidade da
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