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IFES - INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

JOÃO PEDRO FALCÃO AMORIM

Processo de socialização organizacional em Organizações do


Terceiro Setor

CARIACICA
2022
Processo de socialização organizacional em Organizações do
Terceiro Setor

A definição do terceiro setor mais utilizada é aquela que, segundo Bosi (2004)
apud Salamon (1997), delimita as seguintes características: organização privada,
autogerenciada, sem fins lucrativos, com grande participação voluntária e com o
benefício público como propósito. É dentro desse conceito que encontram-se, entre
outras, as Organização Não-Governamentais, as ONGs, das quais trataremos mais
à frente no artigo.
De acordo com Colachequi (2013), independente de ser de trabalho
voluntário ou assalariado, toda organização, inclusive as de terceiro setor, possuem
pessoas trabalhando em seus processos internos, e consequentemente, necessitam
ter preocupação sobre os processos de gestão de pessoas, entre os quais um se
destaca em importância dentro do terceiro setor: a socialização organizacional.
Conforme Haskileventhal e Bargal (2008), p.12 “em uma organização na qual o
trabalho é voluntário, o processo de socialização passa a ser ‘chave’ para a retenção
de seus membros.” Ou seja, em uma organização em que os trabalhadores não
possuem incentivos contratuais e financeiros, se torna fundamental estratégias de
socialização de novos funcionários, para que esses adotem para si as missões da
instituição, se comprometendo com a mesma. (TRINDADE, 2017)
Outro aspecto que evidencia a elevada importância da socialização nas
organizações tratadas é a maior relevância que os valores, crenças, normas e
padrões possuem dentro do terceiro setor, pois além de guiarem e definirem a
identidade da organização e o caráter de militância intrínseco a ela, eles reproduzem
e reafirmam a cultura organizacional presente. São as práticas de socialização que
realizam a forte transferência desses elementos entre os antigos funcionários e os
novos voluntários. (BOSE, 2004)
Um terceiro ponto a ser destacado é facilitar o processo de transição do novo
membro da organização em uma realidade distinta àquela a qual está habituado.
Esse fato vale tanto para a realidade organizacional diferente de empresas do
primeiro setor, quanto para a realidade social em que as organizações de terceiro
setor se inserem. (COLACHEQUI, 2013)
Evidentemente, os três tópicos citados não anulam os pontos de importância
do processo de socialização naturais em organizações de primeiro setor, empresas
com fins lucrativos, ao invés disso, eles apenas agregam, evidenciando a
essencialidade da socialização nesse tipo de organização.
Agora tendo em vista a primordialidade do processo de socialização e
integração de novos voluntários, agora é necessário saber pô-los em prática. Nessa
função, nos voltamos para os métodos de socialização com destaque à combinação
dos métodos programa de integração e processo seletivo.
De acordo com Bose (2004), o processo de socialização não deve ser
iniciado após a incorporação do novo voluntário dentro da organização, mas sim,
ainda no processo seletivo. Um bom exemplo de ONG que segue essa prática é a
AIESEC, nela os processos formais e informais de socialização são o foco do
processo de recrutamento e seleção através série de programas de integração em
que o candidato à vaga apenas será efetivado após ser aprovado nos programas.
(REINERT et al, 2012)
O processo de socialização da AIESEC segue, em parte, as estratégias
apontadas por Haski-Leventhal e Bargal (2008) e por Van Maanen e Schein (1979).
O primeiro, no sentido de permitir ao indivíduo que está sendo socializado participar
ativamente do processo, e o segundo por apresentar processos que abordam as
dimensões dicotômicas estabelecidas pelos autores, mesmo que de formas mais
complexas em relação àquelas indicadas por eles. (REINERT et al, 2012)
Mais uma vez segundo Reinert et al (2012), essas características do processo
da AIESEC, combinados com o alto grau de informalidade na última etapa do
treinamento, indica uma provável dificuldade da organização em controlar a
socialização dos novos membros, acarretando no problema de baixa retenção de
seus partícipes.
Agora, expandindo para um universo maior das organizações de terceiro
setor, notamos uma realidade diferente da existente na AIESEC a partir de dados,
ao menos contra-intuitivos: mesmo com o entendimento já estabelecido da
fundamentalidade de estratégias de socialização em instituições desse tipo, temos
que, de acordo com a pesquisa de Bose (2004), das organizações de terceiro setor
pesquisadas apenas 46% delas possuíam uma prática formal de treinamento de
integração de novos membros.
Além dos 4% que não responderam a pesquisa, os 50% restantes das
organizações realizam os processos de socialização e integração da equipe
privilegiando os processos informais, como o contato com colegas de trabalho mais
próximos e com superiores. Esse método, além de insuficiente, provocará ruídos
durante todo o processo, ocasionando em uma discrepância, entre os setores da
organização, de informações e conhecimentos sobre o funcionamento, valores e
objetivos da própria instituição e sobre o papel e o cargo dos novos membros.

Conclusão
A literatura da área já possui muito bem estabelecido a importância de
estratégias e práticas de socialização e integração de novos membros em
organizações, com grande destaque àquelas referentes ao terceiro setor. Entretanto,
provavelmente em razão da natureza normalmente mais informal das organizações
dessa categoria, temos que essas práticas ainda têm muito a se desenvolver.

Referências

BOSE, Monica. GESTÃO DE PESSOAS NO TERCEIRO SETOR. 2004. 207 f.


Dissertação (Mestrado) - Curso de Administração, Administração, Usp, São Paulo,
2004. Disponível em:
https://www.researchgate.net/profile/Monica-Bose/publication/34246716_Gestao_de
_pessoas_no_terceiro_setor/links/0deec534436ec7f7a5000000/Gestao-de-pessoas-
no-terceiro-setor.pdf. Acesso em: 10 fev. 2022.

REINERT, Maurício et al. RECRUTAMENTO E SELEÇÃO COMO PARTE DO


PROCESSO DE SOCIALIZAÇÃO ORGANIZACIONAL: estudo de caso em uma ong.
Revista Base (Administração e Contabilidade) da Unisinos, São Leopoldo, v. 9,
n. 1, p. 27-40, 01 mar. 2012. Disponível em:
https://www.redalyc.org/pdf/3372/337228649003.pdf. Acesso em: 10 fev. 2022.
COLACHEQUI, Tainá. Socialização organizacional aplicada em novos
voluntários do lions clube universitário de Garça-SP. 2013. Disponível em:
https://administradores.com.br/artigos/socializacao-organizacional-aplicada-em-novo
s-voluntarios-do-lions-clube-universitario-de-garca-sp. Acesso em: 10 fev. 2022.

TRINDADE, Jefferson Dornelles. CAPTAÇÃO E MANUTENÇÃO DE


VOLUNTÁRIOS NO TERCEIRO SETOR: o voluntariado na ong mãos unidas. 2017.
59 f. TCC (Graduação) - Curso de Administração, Ciências Administrativas
Administração Pública e Social, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, 2017. Disponível em:
https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/170006/001051340.pdf?sequence
=1&isAllowed=y. Acesso em: 10 fev. 2022.

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