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Administração

Pública
1. Serviço Público 4
Conceitos 4
Serviços Privativos, de Utilidade
Pública e Prestação Mista 5

2. Administração Pública 9
Conceitos 9
Organização político
administrativa brasileira 9
Estrutura e Entidades Compositoras 10
Administração Direta ou Centralizada 10
Administração Indireta ou Descentralizada 11
Princípios e Fundamentos
da Administração Pública 12
Princípio do Planejamento 12
Princípio da Coordenação 14
Princípio da Descentralização 14
Princípio da Delegação de Competência 14
Princípio do Controle 15

3. Evolução da Administração Pública 17


Patrimonialismo 17
Burocracia 21
Gerencial 23

4. A Nova Administração Pública 29

5. A Administração Pública Societal 33

6. Referências Bibliográficas 38

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03
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

1. Serviço Público

Conceitos alcançados somente pela atividade


dos particulares.

D efine-se serviço público ao con-


junto de atividades e bens que
são exercidos ou colocados à dispo-
Essa definição nos mostra que
o Estado é a organização do poder
político da comunidade com fins de
sição da coletividade, visando a- harmonizar sua atividade, de forma
branger e proporcionar o maior grau que atinja o objetivo de promover e
possível de bem-estar social ou da satisfazer a bem comum.
prosperidade pública (KOHAMA, Para os liberalistas, o bem-
2009). estar comum é uma simples soma de
Entende-se Prosperidade pú- bens individuais e para os socialistas
blica como o conjunto de condições seria a absorção dos bens pelo Esta-
para que todos os membros orgâ- do, mas na realidade, o bem-estar
nicos da sociedade possam adquirir comum é a organização de todos os
diretamente e por si uma felicidade seus bens particulares, residindo no
temporal e quanto possível completa Estado, a missão de organizar e co-
e subordinada ao fim último. Aqui ordenar essas bens.
encaixa-se a abundância suficiente Em sentido amplo, serviços
de bens espirituais e materiais ne- públicos são todos aqueles pres-
cessários para tornar efetiva a referi- tados pelo Estado ou delegados por
da felicidade, e que não possam ser concessão ou permissão sob condi-

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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

ções impostas e fixadas por ele, víduo na sociedade, pondo à sua


visando à satisfação das necessi- disposição utilidades que lhe pro-
dades da comunidade. Daí conclui- porcionam mais comodidade, com-
se que não se justifica a existência do forto e bem estar (MEIRELLES,
Estado senão como entidade pres- 1966).
tadora de serviços e utilidades aos
indivíduos que o compõem (MEI- Serviços Privativos, de Uti-
RELLES, 1966). lidade Pública e Prestação
Os serviços públicos podem Mista
abranger atividades que competem
exclusivamente ao Estado, e por ele Os serviços privativos são a-
são exercidas diretamente, e queles que a Administração presta
atividades exercidas por delegações por reconhecer sua essencialidade e
do poder público, atendendo a necessidade para a sobrevivência do
interesses coletivos ou ao bem-estar grupo social e do próprio Estado.
geral (KOHAMA, 2009). Por isso mesmo tais serviços são
considerados privativos do Poder
Público, no sentido de que só a
Administração deve prestá-los. Sig-
nifica dizer que não se poderá dele-
gar a terceiros porque exigem atos
de império e medidas compulsórias
em relação aos administrados. Co-
mo exemplos cristalinos desses ser-
viços temos:
 A segurança interna;
Os serviços que competem  A defesa nacional,
exclusivamente ao Estado são consi-  A preservação da saúde
derados serviços públicos própria- pública.
mente ditos, pois a sua prestação
E ainda, as relações diploma-
visa satisfazer necessidades gerais
ticas, os serviços ligados à emissão
da coletividade para que ele possa
da moeda.
subsistir e desenvolver-se, enquanto
Os serviços de utilidade pú-
os prestados por delegação consi-
blica, a Administração reconhece a
deram-se serviços de utilidade pú-
sua conveniência para os membros
blica, em virtude de tais serviços
da sociedade e presta esses serviços
visarem facilitar a existência do indi-

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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

diretamente ou descentraliza para Aqui se encaixam além dos


terceiros (concessionários ou per- serviços citados acima, a manu-
missionários), conforme regras, re- tenção de rodovias.
gulamentos e controle estatal. Como Os serviços de utilidade pú-
exemplos temos: blica por permissão obedecem as
 Os transportes coletivos; mesmas normas da concessão e
 Energia elétrica; estão regulamentadas pelo mesmo
 Serviços de telefonia, dentre texto legal. A lei 8.987/95 referiu-se
outros. à permissão apenas no Art. 2º,
inciso IV e no art. 40, onde se
Como dito acima, estes podem verifica que a permissão é definida
ser por concessão ou por permissão. como um contrato de adesão, precá-
Por concessão entende-se a rio e revogável unilateralmente pelo
delegação contratual da execução de poder concedente.
um serviço, de forma autorizada e As diferenças básicas entre
regulamentada. permissão e Concessão são:
O Estado atribui o exercício de
 A Permissão tem normas esta-
um serviço público a quem inte- belecidas pelo Estado, em-
ressar, por sua própria conta e risco, quanto a Concessão tem
nas condições fixadas e que só po- natureza contratual;
dem ser alteradas pelo Poder  A Permissão é estabelecida de
Público. forma precária, enquanto a
Existe ainda, uma garantia Concessão permite lucro;
 A Permissão não possui prazo
contratual de equilíbrio econômico
definido e a Concessão possui
financeiro, que permite a remu- um prazo determinado contra-
neração da concessionária pela pró- tualmente.
pria exploração do serviço prestado.
A Lei n. 8.987/95 e a Lei 9.074/95 Desta maneira podemos com-
ditam as normas do regime de cluir que os serviços privativos vi-
concessão. sam a satisfazer as necessidades
A concessão não transfere pro- gerais e essenciais da coletividade,
priedade alguma ao concessionário, com a finalidade precípua de subsis-
nem se despoja de qualquer direito tência e desenvolvimento. Nos servi-
ou prerrogativa pública, ela somente ços de utilidade pública, o objetivo é
delega a execução dos serviços nos facilitar a vida dos cidadãos na cole-
limites estabelecidos em lei ou no tividade, colocando serviços a sua
contrato.

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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

disposição que lhes proporcionarão seis anis de idade em creches e


conforto e bem estar. pré-escolar.
E a prestação mista? É a forma
de prestação de serviço público mais
comum e que vem sendo adotada no
Brasil. É o serviço prestado pela Ad-
ministração Pública, por ser dever
do Estado, no entanto, também
pode ser realizada através de pessoa
física ou jurídica de caráter privado,
independentemente de delegação
para tanto.
Esse tipo de serviço ocorre em
virtude das exposições constituci-
onais que atribuem direitos aos
cidadãos e deveres ao Estado, sem,
entretanto, vedar a execução dos
serviços por pessoas de direito
privado.
A prestação de serviço mista só
pode ocorrer quando referir-se a
serviços públicos e não a serviços de
utilidade pública, uma vez que, nes-
te caso, deveria haver a delegação
por concessão ou permissão.
Alguns serviços assegurados
na Constituição Federal traduzem
direitos que visam à melhoria da
condição social, dentre os quais
destacam-se:

 Assistência sanitária, hospital-


lar;
 Previdência social;
 Seguro contra acidentes de
trabalho;
 Proteção a maternidade, assis-
tência aos filhos menores de

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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

2. Administração Pública

Conceitos hierarquizada com graduação de


autoridade, correspondente às di-

P or Administração Pública
entende-se todo aparelhamen-
to do Estado, preordenado à realiza-
versas categorias funcionais, orde-
nadas pelo Poder Executivo de
forma que distribua e escalone as
ção de seus serviços, visando à funções de seus órgãos e agentes,
satisfação das necessidades coleti- estabelecendo a relação de subor-
vas (MEIRELLES, 1984). dinação (KOHAMA, 2009).
Mas, o que é administrar? Ad-
ministrar é gerir os serviços públi- Organização político admi-
cos. Não é somente prestar o serviço, nistrativa brasileira
executá-lo, mas sim, dirigir, gover-
nar, exercer a vontade com o objeti- A Organização político-admi-
vo de obter um resultado útil. nistrativa da República Federativa
A administração pública, co- do Brasil compreende a União Fede-
mo todas as organizações adminis- ral, os Estados, o Distrito Federal e
trativas, é baseada numa estrutura os Municípios, todos autônomos e

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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

com competências próprias (Cons- Daí podemos deduzir que a


tituição Federal, art.18). União constitui-se em pessoa de
A autonomia das entidades direito público interno, autônoma
federativas pressupõe repartição de em relação aos Estados, tendo por
competências e a distribuição cons- missão o exercício das prerrogativas
titucional de poderes, a fim de possi- da soberania do Estado Brasileiro,
bilitar o exercício e desenvolvimento pois configura-se com entidade fe-
de sua atividade normativa. deral resultante da reunião dos
A Constituição Federal de Estados-membros, Municípios e o
1988 estruturou o sistema combi- Distrito Federal.
nando competências exclusivas, pri-
vativas e principiológicas, com com- Estrutura e Entidades
petências comuns e concorrentes, Compositoras
norteadas pelo princípio geral da
predominância do interesse. O campo de atuação da Admi-
Desta forma, à União cabe nistração Pública, conforme deline-
legislar sobre matérias e questões de ado pela organização da execução
predominante interesse geral. Aos dos serviços, compreende os órgãos
Estados os assuntos de predominan- da Administração Direta ou centra-
te interesse regional, e aos Muni- lizada e os da Administração In-
cípios os de interesse local. direta ou descentralizada.
Pois bem, o Estado tem como
função fundamental promover o Administração Direta ou Cen-
bem-comum. Ele é a organização tralizada
política do poder, portanto, o Estado
é uma Nação politicamente organi- A Administração Direta ou
zada. Centralizada é a constituída dos ser-
O Brasil constitui-se em Es- viços integrados na estrutura admi-
tado Democrático de Direito e tem nistrativa da Presidência da Repú-
como fundamentos, garantidos na blica e dos Ministérios, no âmbito
Constituição: federal, e do Gabinete do Gover-
 A soberania; nador e Secretarias de Estado, no
 A cidadania; âmbito estadual, e, na administra-
 A dignidade da pessoa hu- ção municipal, deve seguir estrutura
mana; semelhante (prefeito e secretários).
 Os valores sociais do trabalho A Administração Direta tem a
e da livre iniciativa; estrutura de uma pirâmide e no seu
 O pluralismo político.

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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

ponto mais alto encontra-se a rem ao lado do Estado e que geral-


Presidência de República, no âmbito mente podem ser constituídas ou
federal, que do topo, dirige todos os autorizadas para a execução de
serviços. atividades de interesse público, mas
dificilmente, para serviços priva-
Administração Indireta ou tivos do Estado, pela sua própria
Descentralizada natureza.
Aqui encontramos as autar-
A administração Indireta é a- quias (única que não se constitui
quela atividade administrativa, ca- paraestatal), as empresas públicas,
racterizada como serviço público ou as sociedades de economia mista, as
de interesse público, transferida ou fundações, os serviços sociais au-
deslocada do Estado, para outra em- tônomos.
tidade por ele criada ou cuja criação Autarquia é um serviço autô-
é por ela autorizada (KOHAMA, nomo, criado por lei, com perso-
2009). nalidade de direito público interno,
Na administração indireta, o com patrimônio e receita próprios,
desempenho da atividade pública é para executar atividades típicas de
exercido de forma descentralizada, administração pública, ou seja,
por outras pessoas jurídicas de atribuições estatais específicas.
direito público ou privado, que, no Sociedade de economia mista
caso, proporcionarão ao Estado, a é uma sociedade na qual há cola-
satisfação de seus fins adminis- boração entre o Estado e parti-
trativos. culares, ambos reunindo recursos
A legislação contempla uma para a realização de uma finalidade,
série de entidades, quer de direito sempre de objetivo econômico. A
público (autarquias), quer de direito sociedade de economia mista é uma
privado (empresas públicas, socie- pessoa jurídica de direito privado e
dades de economia mista e fun- não se beneficia de isenções fiscais
dações), através das quais o Estado ou de foro privilegiado. O Estado
pode descentralizar os serviços poderá ter uma participação majori-
públicos ou de interesse público. tária ou minoritária; entretanto,
Dentre as entidades que com- mais da metade das ações com
põem a Administração Indireta te- direito a voto devem pertencer ao
mos as entidades de personalidade Estado. A sociedade de economia
jurídica de direito público também mista é uma sociedade anônima, e
chamadas de paraestatais, por esta- seus funcionários são regidos pela

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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

CLT. Normalmente são efetivados contratos, todavia, como fala


na empresa depois de um prazo. Meirelles (2004), atuam ao lado do
Frequentemente têm suas ações Estado, cooperam com ele, com-
negociadas em Bolsa de Valores co- quanto se rejam por normas de
mo, por exemplo, o Banco do Brasil, direito privado. Entretanto, embora
Petrobrás, e Eletrobrás. Diferem-se não se subordinem à lei licitatória,
das Empresas Públicas, eis que enquanto não dispuserem de regula-
nestas o capital é 100% público. mentos próprios e adequados às
Difere-se também das Sociedades suas finalidades, devidamente pu-
Anônimas em que o governo tem blicados, deverão obediência às nor-
posição acionária minoritária, pois mas gerais daquele diploma. Aqui
nestas o controle da atividade é encontramos o chamado sistema “S”
privado (BRASIL, DEC-LEI 200/67) - SESI, SENAIS, SENAC, SESC,
Fundações públicas – são SENAT, SENAR, SEBRAE, dentre
entidades dotadas de personalidade outros.
jurídica de direito público, sem fins
lucrativos, criadas em virtude de Princípios e Fundamentos
autorização legislativa para o desen- da Administração Pública
volvimento de atividades de inte-
resse público, como educação, cul- As atividades da Adminis-
tura e pesquisa, sempre merece- tração Pública Federal deverão
doras de amparo legal. São criadas obedecer aos seguintes princípios
por lei específica e regulamentadas fundamentos que estão no artigo 6º
por decreto, independentemente de do Decreto-Lei n. 200 de 1967.
qualquer registro (BRASIL/MF,
2002). Princípio do Planejamento
Serviços sociais autônomos -
são entes privados criados por lei, A ação governamental obede-
com personalidade de direito priva- cerá a planejamento que vise a
do, para desempenho de determi- promover o desenvolvimento econô-
nadas atividades, sem fins lucrati- mico social do País e a segurança na-
vos, mantidos por dotações orça- cional, norteando-se segundo pla-
mentárias ou contribuições para- nos e programas gerais, setoriais e
fiscais. Essas entidades não inte- regionais de duração plurianual ela-
gram a Administração Pública, nem borados através dos órgãos de
vêm catalogadas, entre os entes planejamento sob a orientação e a
indicados pela lei de licitações e

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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

coordenação superiores do Presi- respeitar na solução dos casos


dente da República. individuais e no desempenho de
Cabe a cada Ministro de suas atribuições.
Estado orientar e dirigir a elabo- De acordo com a Constituição
ração do programa setorial e regio- Federal (1988), em seu artigo 165, os
nal correspondente a seu ministério. instrumentos de planejamento são:
Ao Secretário de Planejamento cabe  Plano Plurianual - que visa es-
auxiliar o Presidente da República tabelecer, de forma regional-
na coordenação, revisão e consoli- zada as diretrizes, objetivos e
dação dos programas setoriais e metas de Administração Pú-
blica Federal para as despesas
regionais e na elaboração da pro-
de capital e outras decorrentes
gramação geral do Governo. e para as relativas aos pro-
gramas de duração continua-
da;
 Lei de Diretrizes Orçamentá-
rias - que tem as seguintes
funções básicas:
1. Estabelecer as metas e
prioridades da Administração
Pública Federal para o exercício
financeiro seguinte;
2. Orientar a elaboração da
O planejamento compreen- lei orçamentária anual;
derá a elaboração e atualização dos 3. Alteração da legislação
seguintes instrumentos básicos: tributária;
 Plano geral de governo; 4. Estabelecer a política de
 Programas gerais, setoriais e aplicação das agências financeiras
regionais, de duração pluri- oficiais de fomento; e
anual;
 Orçamento programa anual;
 Programação financeira de  Lei Orçamentária Anual - que
desembolso. discriminará os recursos orça-
mentários financeiros para se
atingir as metas e prioridades
Compete a estrutura central de
estabelecidas pela Lei de Dire-
direção o estabelecimento das nor- trizes Orçamentárias e com-
mas, critérios, programas e princí- preenderá:
pios, que os serviços responsáveis 1. O orçamento/fiscal;
pela execução são obrigados a

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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

2. O orçamento de investi- 2. Da Administração Federal


mentos das empresas em que a para as unidades federadas, quando
União detenha a maioria do capital estejam devidamente aparelhadas e
social com direito a voto; e, mediante convênio;
3. O orçamento de seguri- 3. Da Administração Federal
dade social abrangendo todos os para a esfera privada, mediante
órgãos e entidades a ela vinculadas. contratos e concessões.
Em cada órgão da Adminis-
Princípio da Coordenação tração Federal, os serviços que com-
põem a estrutura central de direção
As atividades da administra- devem permanecer liberados das
ção federal e especialmente a exe- rotinas de execução e das tarefas de
cução dos planos e programas serão mera formalização de atos admi-
objeto de permanente coordenação nistrativos, para que possam com-
e será exercida em todos os níveis da centrar-se nas atividades de plane-
administração, mediante a atuali- jamento, supervisão, coordenação e
zação das chefias individuais, atra- controle.
vés da realização sistemática de reu- Para melhor desincumbir-se
niões com a participação das chefias das tarefas de planejamento, coor-
subordinadas e a instituição e fun- denação, supervisão e controle e
cionamento de comissões de coor- com objetivo de impedir o cresci-
denação em cada nível adminis- mento desmesurado da máquina ad-
trativo (Ver artigos 8 a 9 do Decreto- ministrativa, a Administração pro-
lei 200/67). curará desobrigar-se da realização
material de tarefas executivas,
Princípio da Descentralização recorrendo, sempre que possível, a
execução indireta, mediante contra-
A descentralização pressupõe tos.
a existência de agentes públicos
investidos de poderes necessários Princípio da Delegação de
para exercitar a atividade pública e Competência
será posta em prática em três planos
principais: O entendimento de delegação
1. Dentro dos quadros da de competência pode ser traduzido
Administração Federal, distinguin- como uma técnica de desconges-
do-se claramente o nível de direção tionamento administrativo e será
do de execução; utilizada com o objetivo de asse-

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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

gurar maior rapidez e objetividade 3. O controle da aplicação dos


às decisões, situando os agentes dinheiros públicos e da guarda dos
públicos próximos dos fatos, pes- bens da União pelos órgãos próprios
soas ou problemas atender. do sistema de contabilidade e audi-
E facultado ao Presidente da toria.
República, aos Ministros de Estado Os documentos relativos a
e, em geral, às autoridades da admi- escrituração dos atos de receita e da
nistração federal delegar compe- despesa ficarão arquivados no órgão
tência para a prática de atos admi- de contabilidade analítica e a dispo-
nistrativos, conforme se dispuser sição das autoridades responsáveis
em regulamento. O ato de delegação pelo acompanhamento administra-
indicará com precisão a autoridade tivo e fiscalização financeira e dos
delegante e a autoridade delegada e agentes incumbidos do controle
as atribuições objeto da delegação. externo, de competência do Tribu-
nal de Contas.
Princípio do Controle

O controle das atividades


administrativas é um dos meios
pelos quais se exercita o poder hie-
rárquico, isto é, os órgãos superiores
controlam os inferiores fiscalizando
o cumprimento das normas e regras
que regem cada sistema. Deve exer-
cer-se em todos os níveis e em todos
os órgãos, compreendendo, particu-
larmente:
1. O controle, pela chefia
competente, da execução dos pro-
gramas e da observância das normas
que norteiam a atividade específica
do órgão controlado;
2. O controle, pelos órgãos
próprios de cada sistema, da obser-
vância das normas gerais que regu-
lam o exercício das atividades auxi-
liares;

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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

3. Evolução da Administração Pública

P erceber como evoluímos em


termos de gestão pública
requer fazer uma viagem ao passado
Patrimonialismo

Vamos buscar as origens do


para conhecer e entender o caminho patrimonialismo nos estudos de
percorrido. Max Weber construindo um arca-
A evolução da administração bouço teórico para transportá-lo até
pública em nosso país passou por o primeiro “regime” de governo pú-
três modelos diferentes: a admi- blico no Brasil.
nistração patrimonialista, a admi- Na teoria política do jurista e
nistração burocrática e a admi- sociólogo alemão Max Weber, o
nistração gerencial. patrimonialismo enquanto doutrina
Essas modalidades surgiram é uma sorte de exercício legítimo de
sucessivamente ao longo do tempo, poder político, cujo referencial está
não significando, porém, que algu- ancorado, em seu esquema concei-
ma delas tenha sido definitivamente tual, no tipo de dominação tradi-
abandonada. cional.

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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Existe uma obediência por fluidas, dentre as quais as que mais


parte dos súditos e Weber tenta se destacam são:
descobrir como se procede essa  Gerontocracia - governo em
dominação no seio das relações que o poder cabe aos mais
sociais. Em seus estudos ele dispõe velhos;
um sistema com três tipos de  Patriarcalismo - casos em que
dominação: dominação carismática, o poder e determinado pelo
pertencimento a uma deter-
dominação racional-legal e domi- minada família, normalmente
nação tradicional. sendo a dominação exercida
Dominação relaciona-se com por um indivíduo chefe da
poder que significa toda a proba- comunidade doméstica –
bilidade de impor a própria vontade pater famílias ou despótès –,
numa relação social, mesmo contra determinado segundo regras
de sucessão;
resistências, seja qual for o
 Sultanismo - forma de domi-
fundamento dessas legitimidades nação no qual está calcada no
(WEBER, 1999). “arbítrio livre” do governante,
A dominação tradicional ocor- munido de um aparato
re “[...] quando sua legitimidade administrativo próprio para
repousa na crença na santidade de fazer valer suas ordens;
ordens e poderes senhoriais tradici-  Feudalismo - forma de domi-
onais (existentes desde sempre)” nação baseada em um
contrato de status, em termos
(WEBER, 1999, p. 33). Trata-se da
de vassalo-suserano, regidos
crença na legitimidade do poder de pelo sentimento de fidelidade
quem exerce a dominação pelo fato pessoal entre ambos – ideia de
de que sua “investidura” decorre de honra;
longa tradição, de um costume inve-  Patrimonialismo - dominação
terado, a partir de uma autoridade exercida com base em um
que sempre existiu. " direito pessoal, embora decor-
rente de laços tradicionais,
É o costume de determinada
obedecendo-se ao chefe por
coletividade que indica quem exerce uma sujeição instável e intima
o poder e que também garante a derivada do direito consuetu-
legitimidade do exercício da dinário – porque assim
dominação. sempre ocorreu (SILVEIRA,
Existem inúmeras sortes de 2006).
dominação tradicional, e não raro
estão misturadas ou de distinção O Patrimonialismo é uma for-
ma de exercício da dominação por

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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

uma autoridade, a qual está legiti- patrimônio pessoal do governante e


mada pela roupagem da tradição, a coisa pública são amalgamadas em
cujas características principais re- uma esfera apenas, comandadas e
pousam no poder individual do livremente dispostas por ordem da
governante que, amparado por seu autoridade política. Os interesses
aparato administrativo recrutado pessoais da autoridade não distin-
com base em critérios unicamente guiam a sua dimensão intima da
pessoais, exerce o poder político sob administrativa, não havendo sepa-
um determinado território (WE- ração entre a seara do indivíduo em
BER, 1999). relação ao mister público que ocu-
Seu arquétipo constitutivo pava. Sua forma de administração
cronologicamente possui raízes na obedecia unicamente o livre-arbí-
ordem familiar, de cariz patriarcal, trio, baseada em “considerações
posto que com o crescimento da pessoais” como salienta Weber, des-
esfera de poder do governante sobre de que a santidade da tradição,
seus súditos, abarcando uma ampla vigente desde sempre, não lhe
parcela de vastas regiões e grandes imponha limites muito rígidos e
conjuntos populacionais, a admi- diretos (WEBER, 1999, p. 253).
nistração pessoal necessitou racio- O patrimonialismo, enquanto
nalizar-se, desenvolvendo um apa- doutrina política herdada dos ex-
rato administrativo capaz de cobrir certos weberianos, obteve fecunda
em grande parte essa nova dimensão receptividade na história das dou-
territorial e demográfica. Ao cargo trinas políticas brasileiras, mormen-
patrimonial é desconhecida a divi- te no que concerne ao estudo da
são entre a “esfera privada” e a formação de nossas instituições. Tal
“oficial” (SILVEIRA, 2006). corrente específica do pensamento
A administração política é nacional tende, precipuamente, ao
tratada pelo senhor como assunto uso dos conceitos trazidos pela
puramente pessoal, bem como o Sociologia Política de Weber para
patrimônio adquirido pelo tesouro explicar os traços mais marcantes
senhorial em função de emolu- das bases de nosso modelo jurídico-
mentos e tributos não se diferencia político, buscando elucidar em nos-
dos bens privados do senhor. Por tal sas formações cultural e institu-
razão, o príncipe lida com os assun- cional a Genesis do patrimonialismo
tos da corte – públicos segundo a a- estatal e de suas relações com o povo
cepção moderna – de forma emi- brasileiro.
nentemente privada, posto que o

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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Quem nos conta com propri- debruçarmos sobre o caráter es-


edade a situação no Brasil é Sergio pecífico de nossa formação históri-
Buarque de Holanda (1969, p. 105): ca, em especial sobre nosso passado
Não era fácil aos detentores colonial. Em seus estudos, Faoro
das posições públicas de responsa- analisa a estrutura de poder patri-
bilidade, formados por tal ambiente, monialista adquirida do Estado
compreenderem a distinção funda- Português por nossos antepassados,
mental entre os domínios do privado tendo sido este inteiramente impor-
e do público. Assim, eles se carac- tado em sua estrutura adminis-
terizam justamente pelo que separa trativa para a colônia na época pós-
o funcionário “patrimonial” do puro descobrimento, fato que depois foi
burocrata, conforme a definição de reforçado pela transmigração da
Max Weber. Para o funcionário “pa- Coroa Lusitana no século XIX. Em
trimonial”, a própria gestão política sua acepção, tal modelo institu-
apresenta-se como assunto de seu cional foi transformado histórica-
interesse particular; as funções, os mente em padrão a partir do qual se
empregos e os benefícios que deles estruturaram a Independência, o
aufere, relacionam-se a direitos Império e a República do Brasil. O
pessoais do funcionário e não a patrimonialismo seria, para Faoro
interesses objetivos, como sucede no (1977), a característica mais mar-
verdadeiro Estado burocrático, em cante do desenvolvimento do Estado
que prevalece a especialização das brasileiro através dos tempos.
funções e o esforço para se asse- Para Silveira (2006) a tradição
gurarem garantias jurídicas aos do patrimonialismo brasileiro, que,
cidadãos. A escolha dos homens que a partir do estudo da natureza social
irão exercer as funções públicas faz- do brasileiro típico, ou ainda do
se de acordo com a confiança estudo do funcionamento de nossas
pessoal que mereçam os candidatos, instituições políticas, demonstra
e muito menos de acordo com as como a dicotomia clássica de público
capacidades próprias. Falta a tudo a e privado em nossa tradição não
ordenação impessoal que carac- apresenta uma separação muito
teriza a vida no Estado burocrático. distinta dessas esferas, havendo em
[...]. nossa formação histórica e cultural
Segundo Faoro (1977), a expli- traços que estigmatizam no homem
cação para as mazelas do Estado e da público brasileiro a prática na
Nação brasileiras pode ser mais demarcatória de tais âmbitos de
manifestamente encontrada ao nos atuação, o que de certa forma

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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

implica em um modelo de governo existir quando a sociedade civil,


híbrido ou uma prática político-re- formada por cidadãos, distingue-se
presentativa avessa a tal importante do Estado ao mesmo tempo em que
distinção. o controla. Tornou-se assim neces-
sário desenvolver um tipo de admi-
Burocracia nistração que partisse não apenas da
clara distinção entre o público e o
A administração burocrática privado, mas também da separação
clássica, baseada nos princípios da entre o político e o administrador
administração do exército prus- público. Surge assim a administra-
siano, foi implantada nos principais ção burocrática moderna, racional-
países europeus no final do século legal (BRESSER-PEREIRA, 1996).
passado; nos Estados Unidos, no A administração pública buro-
começo deste século e no Brasil, em crática clássica foi adotada porque
1936, com a reforma administrativa era uma alternativa muito superior à
promovida por Maurício Nabuco e administração patrimonialista do
Luís Simões Lopes. É a burocracia Estado. Entretanto, o pressuposto
que Max Weber descreveu, baseada de eficiência em que se baseava não
no princípio do mérito profissional se revelou real. No momento em que
(BRESSER-PEREIRA, 1996). o pequeno Estado liberal do século
A administração pública buro- XIX deu definitivamente lugar ao
crática foi adotada para substituir a grande Estado social e econômico do
administração patrimonialista, que século XX, verificou-se que não
definiu as monarquias absolutas, na garantia nem rapidez, nem boa
qual o patrimônio público e o pri- qualidade nem custo baixo para os
vado eram confundidos. Nesse tipo serviços prestados ao público. Na
de administração o Estado era em- verdade, a administração burocrá-
tendido como propriedade do rei. O tica é lenta, cara, autoreferida, pou-
nepotismo e o empreguismo, senão co ou nada orientada para o aten-
a corrupção, eram a norma. Esse dimento das demandas dos
tipo de administração revelar-se-á cidadãos.
incompatível com o capitalismo in- Este fato não era grave em-
dustrial e as democracias parlamen- quanto prevalecia um Estado peque-
tares, que surgem no século XIX. É no, cuja única função era garantir a
essencial para o capitalismo a clara propriedade e os contratos. No
separação entre o Estado e o Estado liberal só eram necessários
mercado; a democracia só pode quatro ministérios - o da Justiça,

21
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

responsável pela polícia, o da De- Após a II Guerra Mundial há


fesa, incluindo o exército e a ma- uma reafirmação dos valores buro-
rinha, o da Fazenda e o das Relações cráticos, mas, ao mesmo tempo, a
Exteriores. Nesse tipo de Estado, o influência da administração de em-
serviço público mais importante era presas começa a se fazer sentir na
o da administração da justiça, que o administração pública. As ideias de
Poder Judiciário realizava. O pro- descentralização e de flexibilização
blema da eficiência não era, na administrativa ganham espaço em
verdade, essencial. No momento, todos os governos. Entretanto a re-
entretanto, que o Estado se trans- forma da administração pública só
formou no grande Estado social e ganhará força a partir dos anos
econômico do século XX, assumindo 1970, quando tem início a crise do
um número crescente de serviços Estado, que levará à crise também a
sociais - a educação, a saúde, a sua burocracia. Em consequência,
cultura, a previdência e a assistência nos anos de 1980 inicia-se uma
social, a pesquisa científica - e de grande revolução na administração
papéis econômicos - regulação do pública dos países centrais em dire-
sistema econômico interno e das ção a uma administração pública
relações econômicas internacionais, gerencial.
estabilidade da moeda e do sistema Os países em que essa
financeiro, provisão de serviços pú- revolução foi mais profunda foram o
blicos e de infraestrutura, - nesse Reino Unido, a Nova Zelândia e a
momento, o problema da eficiência Austrália. Nos Estados Unidos essa
tornou-se essencial. revolução irá ocorrer principal-
Por outro lado a expansão do mente a nível dos municípios e
Estado respondia não só às pressões condados - revolução que o livro de
da sociedade, mas também às estra- Osborne e Gaebler, Reinventando o
tégias de crescimento da própria bu- Governo (1992) descreverá de forma
rocracia. A necessidade de uma ad- tão expressiva. É a administração
ministração pública gerencial, por- pública gerencial que está surgindo,
tanto, decorre de problemas não só inspirada nos avanços realizados
de crescimento e da decorrente dife- pela administração de empresas
renciação de estruturas e comple- (BRESSER-PEREIRA, 1996).
xidade crescente da pauta de proble- Aos poucos foram-se deline-
mas a serem enfrentados, mas tam- ando os contornos da nova admi-
bém de legitimação da burocracia nistração pública:
perante as demandas da cidadania.

22
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

1. Descentralização do ponto de sentou não apenas a primeira refor-


vista político, transferindo recursos ma administrativa do país, com a
e atribuições para os níveis políticos implantação da administração pú-
regionais e locais; blica burocrática, mas também a
2. Descentralização administra- afirmação dos princípios centraliza-
tiva, através da delegação de autori- dores e hierárquicos da burocracia
dade para os administradores públi- clássica.
cos transformados em gerentes cres- Entretanto, já em 1938, temos
centemente autônomos; um primeiro sinal de administração
3. Organizações com poucos ní- pública gerencial, com a criação da
veis hierárquicos ao invés de primeira autarquia. Surgia então a
piramidal, ideia de que os serviços públicos na
4. Pressuposto da confiança “administração indireta” deveriam
limitada e não da desconfiança total; ser descentralizados e não obedecer
5. Controle por resultados, a a todos os requisitos burocráticos da
posteriori, ao invés do controle “administração direta” ou central. A
rígido, passo a passo, dos processos primeira tentativa de reforma geren-
administrativos; e, cial da administração pública brasi-
6. Administração voltada para o leira, entretanto, irá acontecer no fi-
atendimento do cidadão, ao invés de nal dos anos 1960, através do
autoreferida (BRESSER-PEREIRA, Decreto-Lei 200, de 1967, sob o
1996). comando de Amaral Peixoto e a
inspiração de Hélio Beltrão, que iria
Gerencial ser o pioneiro das novas ideias no
Brasil. Beltrão participou da refor-
No Brasil a ideia de uma ma administrativa de 1967 e depois,
administração pública gerencial é como Ministro da Desburocrati-
antiga. Começou a ser delineada ain- zação, entre 1979 e 1983, trans-
da na primeira reforma adminis- formou-se em um arauto das novas
trativa, nos anos 1930, e estava na ideias (BRESSER-PEREIRA, 1996).
origem da segunda reforma, ocor- Definiu seu Programa Nacio-
rida em 1967. Os princípios da admi- nal de Desburocratização, lançado
nistração burocrática clássica foram em 1979, como uma proposta polí-
introduzidos no país através da tica visando, através da adminis-
criação, em 1936, do DASP – Depar- tração pública, “retirar o usuário da
tamento Administrativo do Serviço condição colonial de súdito para
Público. A criação do DASP repre- investi-lo na de cidadão, destinatá-

23
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

rio de toda a atividade do Estado” burocracia estatal, civil e militar, e a


(BELTRÃO, 1984, p. 11). classe empresarial (BRESSER-PE-
A reforma iniciada pelo Decre- REIRA, 1996).
to-Lei 200 foi uma tentativa de O Decreto-Lei 200 teve, entre-
superação da rigidez burocrática, tanto, duas consequências inespera-
podendo ser considerada como um das e indesejáveis. De um lado, ao
primeiro momento da adminis- permitir a contratação de empre-
tração gerencial no Brasil. Toda a gados sem concurso público, facili-
ênfase foi dada à descentralização tou a sobrevivência de práticas pa-
mediante a autonomia da adminis- trimonialistas e fisiológicas. De ou-
tração indireta, a partir do pressu- tro lado, ao não se preocupar com
posto da rigidez da administração mudanças no âmbito da adminis-
direta e da maior eficiência da tração direta ou central, que foi vista
administração descentralizada. pejorativamente como “burocrática”
O decreto-lei promoveu a ou rígida, deixou de realizar concur-
transferência das atividades de pro- sos e de desenvolver carreiras de
dução de bens e serviços para autar- altos administradores.
quias, fundações, empresas públicas O núcleo estratégico do Estado
e sociedades de economia mista, foi, na verdade, enfraquecido indevi-
consagrando e racionalizando uma damente através de uma estratégia
situação que já se delineava na prá- oportunista do regime militar, que,
tica. ao invés de se preocupar com a for-
Instituíram-se como princí- mação de administradores públicos
pios de racionalidade administrativa de alto nível selecionados através de
o planejamento e o orçamento, a concursos públicos, preferiu contra-
descentralização e o controle dos tar os escalões superiores da admi-
resultados. Nas unidades descentra- nistração através das empresas esta-
lizadas foram utilizados empregados tais (BRESSER-PEREIRA, 1996).
celetistas, submetidos ao regime O patrimonialismo é a carac-
privado de contratação de trabalho. terística de um Estado que não pos-
O momento era de grande expansão sui distinções entre os limites do
das empresas estatais e das fun- público e os limites do privado. Foi
dações. Através da flexibilização de comum em praticamente todos os
sua administração buscava-se uma absolutismos.
maior eficiência nas atividades eco- O monarca gastava as rendas
nômicas do Estado, e se fortalecia a pessoais e as rendas obtidas pelo
aliança política entre a alta tecno- governo de forma indistinta, ora pa-

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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

ra assuntos que interessassem ape- O comportamento burocrático


nas a seu uso pessoal (compra de brasileiro envolve: circulação, carr-
roupas, por exemplo), ora para as- eira e nomeação. A alta circulação
suntos de governo (como a cons- enfraquece a organização formal e
trução de uma estrada). Como o inibe as lealdades do espaço de
termo sugere, o Estado acaba se atividade burocrática e, portanto, a
tornando um patrimônio de seu institucionalização. Embora livres
governante. de compromissos com a organi-
No Brasil, o patrimonialismo zação, os funcionários seguem
fora implantado pelo Estado colo- trajetórias identificáveis, que, atra-
nial português, quando o processo vés da socialização e das exigências
de concessão de títulos, de terras e para progredir, conformam tipos
poderes quase absolutos aos senho- sociais com conjuntos distintos de
res de terra legou à posteridade uma preferências. Por último, são as
prática político-administrativa em nomeações, no lugar da autoridade
que o público e o privado não se formal, que distribuem esses tipos
distingue perante as autoridades. sociais nomeados pela burocracia e
Assim, torna-se “natural” desde o estruturam suas relações de poder
período colonial (1500 - 1822), (VIEIRA, 2007).
perpassando pelo período Imperial Na administração pública pa-
(1822 - 1889) e chegando mesmo à trimonialista, própria dos Estados
República Velha (1889 - 1930) a absolutistas europeus do século
confusão entre o público e o privado. XVIII, o aparelho do Estado é a ex-
Burocracia é um conceito tensão do próprio poder do gover-
administrativo amplamente usado, nante e os seus funcionários são
caracterizado principalmente por considerados como membros da no-
um sistema hierárquico, com alta breza. O patrimônio do Estado com-
divisão de responsabilidade, onde funde-se com o patrimônio do sobe-
seus membros executam invaria- rano e os cargos são tidos como pre-
velmente regras e procedimentos bendas (ocupações rendosas e de
padrões, como engrenagens de uma pouco trabalho). A corrupção e o ne-
máquina. É também usado com potismo são inerentes a esse tipo de
sentido pejorativo, significando uma administração (OLIVEIRA, 2007).
administração com muitas divisões, A administração pública buro-
regras e procedimentos redundan- crática surge para combater a cor-
tes, desnecessários ao funcionamen- rupção e o nepotismo do modelo
to do sistema. anterior. São princípios inerentes a

25
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

este tipo de administração a impes- para estes problemas da burocracia.


soalidade, o formalismo, a hierar- Prioriza-se a eficiência da Admi-
quia funcional, a ideia de carreira nistração, o aumento da qualidade
pública e a profissionalização do ser- dos serviços e a redução dos custos.
vidor, consubstanciando a ideia de Busca-se desenvolver uma cultura
poder racional legal. gerencial nas organizações, com ên-
Os controles administrativos fase nos resultados, e aumentar a
funcionam previamente, para evitar governança do Estado, isto é, a sua
a corrupção. Existe uma descon- capacidade de gerenciar com efeti-
fiança prévia dos administradores vidade e eficiência. O cidadão passa
públicos e dos cidadãos que procu- a ser visto com outros olhos, tornan-
ram o Estado com seus pleitos. São do-se peça essencial para o correto
sempre necessários, por esta razão, desempenho da atividade pública,
controles rígidos em todos os pro- por ser considerado seu principal
cessos, como na admissão de beneficiário, o cliente dos serviços
pessoal, nas contratações do Poder prestados pelo Estado (OLIVEIRA,
Público e no atendimento às neces- 2007).
sidades da população (OLIVEIRA, A administração gerencial
2007). constitui um avanço, mas sem rom-
A administração burocrática, per em definitivo com a admi-
embora possua o grande mérito de nistração burocrática, pois não nega
ser efetiva no controle dos abusos, todos os seus métodos e princípios.
corre o risco de transformar o com- Na verdade, o gerencialismo apoia-
trole a ela inerente em um verda- se na burocracia, conservando seus
deiro fim do Estado, e não um preceitos básicos, como a admissão
simples meio para atingir seus obje- de pessoal segundo critérios rígidos,
tivos. Com isso, a máquina admi- a meritocracia na carreira pública,
nistrativa volta-se para si mesmo, as avaliações de desempenho, o
perdendo a noção de sua missão bá- aperfeiçoamento profissional e um
sica, que é servir à sociedade. O seu sistema de remuneração estrutu-
grande problema, portanto, é a rado. A diferença reside na maneira
possibilidade de se tornar inefi- como é feito o controle, que passa a
ciente, autoreferente e incapaz de concentrar-se nos resultados, não
atender adequadamente os anseios mais nos processos em si, procu-
dos cidadãos. rando-se, ainda, garantir a auto-
A administração pública ge- nomia do servidor para atingir tais
rencial apresenta-se como solução

26
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

resultados, que serão verificados da prestação dos serviços etc. O


posteriormente. novo modelo propõe-se a promover
Aceita-se também uma maior o aumento da qualidade e da efici-
participação da sociedade civil na ência dos serviços oferecidos pelo
prestação de serviços que não sejam Poder Público aos seus clientes: os
exclusivos de Estado. São as cha- cidadãos (OLIVEIRA, 2007).
madas entidades paraestatais, que
compõem o terceiro setor, composto
por entidades da sociedade civil de
fins públicos e não lucrativos, como
as organizações sociais e as orga-
nizações da sociedade civil de
interesse público (OSCIPs). Este
setor passa a coexistir com o
primeiro setor, que é o Estado, e com
o segundo setor, que é o mercado
(OLIVEIRA, 2007).
Na administração gerencial, a
noção de interesse público é dife-
rente da que existe no modelo buro-
crático. A burocracia vê o interesse
público como o interesse do próprio
Estado. A administração pública ge-
rencial nega essa visão, identi-
ficando este interesse com o dos
cidadãos, passando os integrantes
da sociedade a serem vistos como
clientes dos serviços públicos.
Atualmente, o modelo geren-
cial na Administração Pública vem
cada vez mais se consolidando, com
a mudança de estruturas organi-
zacionais, o estabelecimento de me-
tas a alcançar, a redução da máquina
estatal, a descentralização dos servi-
ços públicos, a criação das agências
reguladoras para zelar pela adequa-

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28
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

4. A Nova Administração Pública

O movimento da Nova Gestão


Pública (New Public Manage-
ment) teve início na década de 1970,
mudança cultural que enfatiza os
objetivos associados à proteção.
Normalmente, a NGP ante-
e os primeiros participantes foram o cede a governança, pois é necessário
Reino Unido, com a primeira mi- reformas consistentes, no sentido de
nistra Margaret Thatcher, e os Esta- construir um Estado que responda
dos Unidos, com o governo muni- às necessidades do cidadão, conjun-
cipal de Sunnyvale, na Califórnia. A tamente com a reforma adminis-
eles juntaram-se depois os governos trativa, que possibilite a implan-
da Nova Zelândia e Austrália. tação de mecanismos de gover-
Segundo Slomski (2008) a nança.
Nova Gestão Pública (NGP) é vista A NGP é uma reforma do
como um processo de transposição Estado que pressupõe mais liber-
de conceitos da administração de dade na gestão da entidade pública,
negócios para a administração pú- do mesmo modo que para a NGP ser
blica, procurando introduzir uma plena, necessita de boa governança

29
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

e, desse modo, fortalece a discussão centração da flexibilidade gerencial


sobre a implantação de governança em dois temas principais: delegar a
na gestão pública. gestão financeira e introduzir novas
Esse processo de adminis- formas de prestação de serviços e,
tração também pressupõe que o gru- ainda, contribuíram na busca de dis-
po unificado de práticas, com ori- ciplina fiscal e de restrição orça-
gem no setor privado, possa ser mentária, dando poderes aos guar-
aplicado no setor público (POLLITT, diões do erário público e procurando
1990 apud SLOMSKI, 2008). enraizar os valores da linha de base.
A publicação, em maio de Nesse contexto, a NGP apre-
1995, do primeiro relatório de nor- senta as seguintes características:
mas na vida pública, estabeleceu,  Contextualizar o cidadão como
explicitamente, os sete princípios da um cliente em foco;
vida pública, como sendo: abne-  Dar o sentido claro da missão
gação, integridade, objetividade, da organização pública;
responsabilidade em prestar contas,  Delegar autoridades;
 Substituir normas por
franqueza, honestidade e liderança.
incentivos;
A onda de reforma na gestão
 Elaborar orçamentos
pública, normalmente definida co- baseados em resultados;
mo a NGP, diz respeito à adminis-  Expor operações do governo à
tração e não à política, para a ava- concorrência;
liação de desempenho e eficiência,  Procurar soluções de mercado
desagregando a burocracia pública e não apenas administrativas;
das organizações, com redução de  Medir o sucesso do governo
custos e um estilo de administrar pelo cidadão (REZENDE,
2005).
que enfatize, entre outras coisas, o
objetivo de produção, limites dos
Também tem como princípios:
termos de contrato, incentivos mo-
netários e a liberdade para admi-
 Reestruturação;
nistrar.
 Reengenharia;
Para Kelly e Vanna (2001), as
 Reinvenção;
reformas da NGP procuram intro-  Realinhamento;
duzir uma mudança cultural que  Reconstituição (SLOMSKI,
enfatiza os objetivos normalmente 2008).
associados à proteção, em vez da-
queles associados ao gasto. São Desse modo, temos como ob-
projetadas para aumentar a com- jetivo da NGP, segundo Bresser-

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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Pereira (2005) a construção de um apenas buscar viabilizar a


Estado que responda às necessi- rentabilidade das empresas
dades de seus cidadãos, um Estado envolvidas na atividade
regulada;
democrático, no qual seja possível
 Prestação de serviços, coleti-
aos políticos fiscalizar o desem-
vos e individuais, com quali-
penho dos burocratas e estes sejam dade e eficiência, inclusive
obrigados por lei a lhes prestar com a maior participação das
contas, e onde os eleitores possam regiões e municípios, que por
fiscalizar o desempenho dos políti- estarem mais próximos dos
cos e estes também sejam obrigados problemas têm mais condições
por lei a prestar contas. de contribuir para as soluções
de modo efetivo.
A utilização dos instrumentos
mais modernos não deve desviar a Em suma, a gestão pública
atenção da gestão pública dos seus deve conduzir sua ação de forma a
principais objetivos e desafios. As efetuar uma transformação funda-
ferramentas deverão ser as mais mental no comportamento da admi-
eficientes, mas convém ressaltar que nistração em relação a seus usuá-
as mesmas deverão voltar suas rios, passando-o da condição de
atenções para os seguintes pontos súdito para a de cidadão, destina-
fundamentais que constituem a área tário de toda atividade do Estado
de concentração da ação do Estado (ALVES, 2002).
moderno:
 Gestão dos conflitos entre o
Estado-nação e a economia
global, cuja competência é in-
questionavelmente do Estado;
 Gestão dos conflitos na socie-
dade civil e, com a mesma,
abrir o Estado à participação
da cidadania, criando trans-
parência, implantando siste-
mas que amadureçam a cida-
dania e favoreçam a expressão
da sociedade civil;
 Exercer o poder regulador da
economia de forma a voltar a
atenção para as necessidades
da população e supri-la quan-
do indispensável, em vez de

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32
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

5. A Administração Pública Societal

A origem da vertente da qual


deriva a administração pública
societal está ligada à tradição mobi-
estimular a participação popular no
debate das dificuldades cotidianas,
contribuindo para a formação de
lizatória brasileira, que alcançou o lideranças populares (PAES, 2005).
seu auge na década de 1960, quando Esse ambiente estimulou a articu-
a sociedade se organizou pelas refor- lação de alguns grupos em torno de
mas no país. Após o golpe de 1964, questões que afetavam substancial-
essas mobilizações retornaram na mente a qualidade de vida indivi-
década de 1970, período no qual a dual e coletiva, originando reivin-
Igreja Católica catalisou a discussão dicações populares junto ao poder
de problemas coletivos nas Comu- público.
nidades Eclesiais de Base (CEBs), Emergiram então demandas
inspirada pelos ideais da teologia da por bens de uso coletivo, como
libertação e da educação popular. transporte, habitação, abastecimen-
Promovendo os clubes de mães, os to de água, saneamento básico, saú-
grupos de estudos do Evangelho e os de e creche.
encontros de jovens, as CEBs se con- Segundo Gohn (1995), alguns
solidaram como um espaço alterna- grupos também protagonizaram
tivo para a mobilização política ao mobilizações pelos direitos de cida-

33
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

dania, como, por exemplo, os O tema da inserção da parti-


movimentos que protestavam com- cipação popular na gestão pública é
tra o custo de vida, o desemprego, a o cerne dessa mobilização (Grupo de
repressão política e a opressão da Estudos sobre a Construção Demo-
mulher. Paralelamente, constituí- crática, 1999), e atingiu seu ápice em
am-se os primeiros Centros Popu- meados da década de 1980, mo-
lares, espaços criados por militantes mento da elaboração da Consti-
políticos para facilitar sua atuação tuinte, quando diferentes forças po-
nas CEBs e nas bases comunitárias líticas ofereciam suas propostas
em atividades como as de asses- para formular um novo referencial
sores, educadores e organizadores das relações entre Estado e socie-
da mobilização popular. dade, cada qual fundamentada na
A partir da década de 1980, es- sua visão de como deveria ser a
ses Centros Populares também pas- construção da democracia no Brasil.
saram a ser denominados organi- Apesar de sua heterogenei-
zações não governamentais (ONGs). dade, o campo movimentalista se
De acordo com Doimo (1995), com- centrava na reivindicação da cida-
solidava-se o campo movimentalis- dania e no fortalecimento do papel
ta, no qual transitavam os movi- da sociedade civil na condução da
mentos populares e sociais, o movi- vida política do país, pois ques-
mento sindical, as pastorais sociais, tionava o Estado como protagonista
os partidos políticos de esquerda e da gestão pública, bem como a ideia
centro-esquerda, e as ONGs. de público como sinônimo de estatal
Ferreira (1991) aponta que na (MEZZOMO KEINERT, 2000).
esteira desses movimentos, no início Uma concepção começou a se
da década de 1980, surgiram as tornar predominante no âmbito
primeiras experiências que tenta- desse campo, a saber: a implemen-
ram romper com a forma centra- tação de um projeto político que
lizada e autoritária de exercício do procura ampliar a participação dos
poder público, como, por exemplo, atores sociais na definição da
os mutirões de casas populares e agenda política, criando instrumen-
hortas comunitárias de Lages, em tos para possibilitar um maior com-
Santa Catarina, as iniciativas de trole social sobre as ações estatais e
participação ocorridas no governo desmonopolizando a formulação e a
Franco Montoro, em São Paulo, e na implementação das ações públicas.
administração de José Richa, no Nesse contexto, multiplica-
Paraná. ram-se pelo país governos com pro-

34
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

postas inovadoras de gestão pública, lhadores (PT), que se opunham ao


que abrigavam diferentes experiên- projeto gerencial de reforma do Es-
cias de participação social (PAES, tado. No pensamento de alguns des-
2005). ses intelectuais (Genro, 1997, 1999,
Essas experiências foram 2000; Nogueira, 1998 apud Paes,
construídas principalmente nos go- 2005), isso se manifesta na defesa
vernos das Frentes Populares, que da esfera pública não estatal, que
começavam a ganhar maior impor- está intimamente relacionada com a
tância no cenário político. criação de espaços públicos de nego-
Ampliava-se assim a inserção ciação e espaços deliberativos.
do campo movimentalista, que pas- Segundo Genro (1997), a
sou a atuar nos governos municipais esfera pública não estatal não de-
e estaduais por meio dos conselhos pende necessariamente do suporte
de gestão tripartite, comissões de da representação política tradicio-
planejamento e outras formas espe- nal, sendo constituída por milhares
cíficas de representação (JACOBI, de organizações, locais, regionais,
2000). nacionais e internacionais que me-
Durante a década de 1990 foi diam a ação política direta dos cida-
implementada a reforma gerencial dãos. Esse conceito de esfera pública
do Estado brasileiro. No entanto, não estatal envolve a elaboração de
não havia no cenário político uma novos formatos institucionais que
visão unívoca de reforma, pois possibilitem a cogestão e a partici-
também estava em curso um novo pação dos cidadãos nas decisões
paradigma reformista: o estado- públicas. Nesse processo, as políti-
novíssimo-movimento-social, que cas e ações governamentais confe-
rearticula o Estado e a sociedade, rem identidade aos envolvidos, alte-
combinando a democracia represen- ram o cotidiano da cidade e inter-
tativa e a participativa (SOUZA ferem na compreensão política de
SANTOS, 1999). sua cidadania (PAES, 2005).
Essa visão alternativa tenta ir Nesse ponto se destaca a ação
além dos problemas administrativos dos governos locais por meio de
e gerenciais, pois considera a refor- experiências alternativas de gestão
ma um projeto político e de desen- pública, tais como as examinadas
volvimento nacional. Essa orienta- pelo programa Gestão Pública e
ção passou a ser defendida por inte- Cidadania (Spink, 2000), promo-
lectuais de esquerda e por algumas vido pela FGV-EAESP desde 1996,
lideranças do Partido dos Traba- que possui como objetivo identi-

35
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

ficar, divulgar e premiar iniciativas  Uma visão de gestão pública


inovadoras de gestão pública, esti- alternativa ao gerencialismo.
mulando o debate e a reflexão das Emergia assim a noção de ad-
experiências com a articulação entre ministração pública societal,
mas não havia uma represen-
o governo e a sociedade civil.
tação política presente no
De um modo geral, os projetos poder central para implemen-
premiados introduzem mudanças tá-la.
qualitativas ou quantitativas em
relação às práticas anteriores, obtêm Após sucessivas derrotas, o PT
impacto na qualidade de vida dos e o candidato Luiz Inácio Lula da
beneficiários, são reprodutíveis em Silva tiveram êxito nas eleições pre-
outras regiões e administrações, am- sidenciais de 2002, levando ao po-
pliam e consolidam a articulação der uma coalizão que agrega setores
entre a sociedade civil e o Estado, e populares, partidos de esquerda e
enfatizam o desenvolvimento autos- centro-esquerda, bem como setores
sustentável. É importante adicionar do empresariado nacional.
a construção de canais de partici- Isso reacendeu a esperança de
pação, como os Fóruns Temáticos, implementar um projeto que se
voltados à discussão de questões diferenciasse pela sua tentativa de
variadas relacionadas com o inte- promover e difundir as virtudes
resse público, os Conselhos Gestores políticas do campo movimentalista,
de Políticas Públicas e o Orçamento reformulando as relações entre o
Participativo (PAES, 2005). Estado e a sociedade no que se refere
De acordo com a análise de aos direitos de cidadania (WAIN-
Paes, ao longo dos anos 1990 essas WRIGHT, 1998).
experiências alternativas se mani- No entanto, esse ainda é um
festaram de forma fragmentada, projeto em construção, pois a alian-
demandando uma amarração a um ça política que o sustenta se encon-
projeto político mais abrangente pa- tra em processo de consolidação, e a
ra o Estado e a sociedade, que com- expectativa de que essa nova abor-
templasse os seguintes elementos: dagem de gestão pública se tornasse
 Um novo modelo de desen- marca do governo federal não se
volvimento para o Brasil que concretizou.
enfrentasse a crise do nacional
desenvolvimentismo;
 Uma proposta de reorgani-
zação para o aparelho de
Estado; e,

36
37
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

6. Referências Bibliográficas
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