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1590/0103-6351/5813
Abstract Resumo
The theory of institutions and institutional A teoria das instituições e da mudança institu-
change developed by Douglass North re- cional desenvolvida por Douglass North reserva
serves a special role for culture, thus signal- um papel especial para a cultura, sinalizando,
ing a set of strategic research guidelines in com isso, um conjunto de diretrizes estratégicas
some areas of knowledge: economic and de pesquisas em algumas áreas do conhecimento:
development theory; economic historiogra- teoria econômica e do desenvolvimento; historio-
phy; regional/local development; planning, grafia econômica; desenvolvimento regional/local;
regulation, management and evaluation of planejamento, regulação, gestão e avaliação de
public policies. This paper therefore presents políticas públicas. Este artigo, portanto, apresenta
in its concluding part a purposeful research em sua parte conclusiva uma agenda propositiva
agenda from North’s seminal contribution. de pesquisas a partir da contribuição seminal de
However, before preparing the ground for North. Todavia, antes, preparando o terreno para
the achievement of the delineated objec- o alcance do objetivo delineado, apresenta os con-
tive, it presents the fundamental concepts ceitos fundamentais da teoria das instituições e da
of the author’s theory of institutions and mudança institucional do autor, estabelecendo ele-
institutional change, establishing elements mentos de conectividade analítica estrutural (ins-
of structural analytical connectivity (insti- tituições, organizações, matriz institucional e de-
tutions, organizations, institutional matrix pendência da trajetória). Em seguida, apresenta a
and path dependence). It then presents the importância da cultura em seu constructo teórico,
importance of culture in its theoretical con- principalmente como a chave para a compreensão
struct, especially as the key to understanding da dependência de trajetória.
the path dependence.
Keywords Palavras-chave
culture, path dependence, development, the- cultura, dependência de trajetória, desenvolvi-
ory of institutions, Douglass North. mento, teoria das instituições, Douglass North.
1 Introdução
2 Conforme North (1994b, pp. 567-568): “A teoria neoclássica é simplesmente uma ferra-
menta inadequada para analisar e prescrever políticas que induzem o desenvolvimento. Ela
se preocupa com o funcionamento dos mercados, mas não sobre como eles se desenvolvem.
Como se pode prescrever políticas sem entender o desenvolvimento das economias? Os pró-
prios métodos usados pelos economistas neoclássicos se impuseram sobre o assunto e agiram
contra esse desenvolvimento. Essa teoria na forma original, que lhe dava precisão matemáti-
ca e elegância, modelou um mundo estático e sem fricções. Quando aplicado à história e ao
desenvolvimento econômico, concentrou-se no progresso tecnológico e, mais recentemente,
no investimento em capital humano, mas ignorou a estrutura de incentivos incorporados nas
instituições que determinavam o grau de investimento social nesses fatores. Na análise do
desempenho econômico ao longo do tempo, ele continha duas premissas errôneas: a) que as
instituições não importam; e b) que o tempo não importa.”
3 Conforme North (1994b, p. 569): “Foi Ronald Coase (1960) quem estabeleceu a relação
fundamental entre instituições, custos de transação e teoria neoclássica. O resultado neoclás-
sico de mercados eficientes somente prevalece quando as transações ocorrem sem custo de
negociação. Somente sob condições de negociação sem custo os atores alcançarão a solução
que maximiza a renda agregada, independentemente dos arranjos institucionais. Quando a ne-
gociação tem um custo, as instituições se tornam importantes. E negociar implica um custo.”
Costa
4 Para o aprofundamento a respeito das críticas em relação à Teoria dos Jogos, recomenda-
-se, especificamente, o Capítulo 2 de North (1990).
5 De acordo com Robles (1998), o modelo analítico desenvolvido por Douglass North é uma
modificação da Teoria Neoclássica na medida em que aceita a hipótese fundamental da es-
cassez e as ferramentas da microeconomia ortodoxa, porém, modifica a hipótese de racionali-
dade ao assumir o pressuposto da informação incompleta e modelos subjetivos da realidade,
bem como os retornos crescentes, característico da análise institucionalista.
6 De acordo com Robles (1998), o livro Instituições, mudança institucional e desempenho econômi-
co explica com maior rigor e detalhe, do que nos estudos anteriores, três aspectos fundamen-
tais de seu marco analítico: o que são as instituições; como se diferenciam as instituições das
organizações; e como as instituições influem nos custos de transação e produção.
A cultura como chave para a dependência da trajetória
2.1 Instituições
7 Logo na abertura do Capítulo 1, North (2018, p. 13) declara: “As instituições são as regras
do jogo em uma sociedade ou, em definição formal, as restrições concebidas pelo homem que
moldam a interação humana.” Essa visão retorna em seu discurso em Estocolmo, de acordo
com North (1994b, p. 571): “A interação entre instituições e organizações conforma a evolu-
ção institucional de uma economia. Se as instituições são as regras do jogo, as organizações e
seus empresários são os jogadores.”
8 Para North (2018, p. 50): “(...) as incertezas decorrem de incompletude das informações a
respeito da conduta dos outros indivíduos no processo de interação humana.”
Costa
9 De acordo com North (2018), as organizações incluem órgãos políticos (partidos políti-
cos, Câmaras, Senados, Conselhos e agências reguladoras), corpos econômicos (empresas,
sindicatos, fazendas, cooperativas e associações patronais), corpos sociais (igrejas, clubes,
sociedades filantrópicas e culturais) e órgãos educacionais (escolas, universidades e centros
de formação profissional).
10 Azevedo (2015), estabelecendo como referência North (1990), destaca que enquanto as
instituições estabelecem as oportunidades em uma sociedade, as organizações são criadas
para tirarem proveito dessas oportunidades.
11 É importante neste ponto abrir um parêntese para fazer justiça destacando que Douglass
North não foi o pioneiro na apresentação dessa compreensão histórica da conformação das
instituições, Thorstein Veblen, um dos precursores da Escola Institucionalista Americana, já
expunha em seu trabalho de 1899, The Theory of the Leisure Class: An Economic Study of Insti-
tutions, que as instituições e as tecnologias uma vez adotadas poderiam gerar um efeito de
Costa
16 Rutherford (1994) estabelece uma crítica à tentativa de inserção da ideologia por North
(1981), afirmando que, em que pese a tentativa, o autor não conseguiu apresentar uma teo-
ria da ideologia que explicasse a estabilidade e a mudança institucional. Segundo Azevedo
(2015), em diversas passagens fica clara a confusão do autor entre ideologia e cultura, aparen-
temente tratadas por ele como sinônimas, ademais, afirma que a forma como North (1981)
trabalha o conceito de ideologia é exógena e instrumental.
17 Para maiores detalhes sobre a introdução do conceito de racionalidade limitada, recomen-
damos ver Azevedo (2015).
A cultura como chave para a dependência da trajetória
Resta claro que tanto as ideologias quanto as instituições devem ser com-
preendidas como partes da cultura de uma sociedade. Mas, qual é a defini-
ção que podemos abstrair de cultura na perspectiva de North?
Apesar de trabalhar com a categoria cultura, North não estabelece uma
definição própria dessa categoria. North (1990, p. 37) utiliza-se da defi-
nição de Boyd e Richerson (1985, p. 2) que consideram cultura como a
“(...) transmissão de uma geração para a seguinte, por meio do ensino e
da imitação de conhecimentos, valores e outros fatores que influenciam
o comportamento.”
Em Denzau e North (1994), conforme já exposto, a cultura pode ser
compreendida como uma instituição social fruto da interação humana,
que permite a transmissão intergeracional de percepções unificadoras e
que, ao mesmo tempo, condiciona o padrão de interação entre os indiví-
duos. Ou seja, ao mesmo tempo que o indivíduo, a partir de seu modelo
mental individual, influencia a dinâmica social mais ampla, por intermédio
das organizações das quais participa, ele é, dialeticamente, influenciado
pelo modelo mental compartilhado que traz consigo hábitos herdados,
pressupostos subjacentes, valores, crenças, orientações e ideologias.
A cultura, portanto, ao afetar a conformação das instituições e da ma-
triz institucional de uma sociedade, influencia decisivamente a sua traje-
tória por condicionar comportamentos individuais e coletivos dentro de
determinados padrões, o que alguns chamam de mecanismos sociais de
enforcement. Pode-se afirmar, assim, que existem culturas propícias ou des-
favoráveis ao desenvolvimento.
É inegável que a teoria das instituições e da mudança institucional de-
senvolvida por North reserva um papel especial para a cultura no processo
de determinação das trajetórias sociais de longo prazo na medida em que
a estrutura que governa a interação social cotidiana, passando por relações
familiares, ou mesmo no campo do trabalho e dos negócios, é definida em
grande medida por restrições informais, códigos de conduta, normas de
comportamento e convenções. Estes, ao mesmo tempo que fazem parte
de uma herança cultural, definem a forma como os indivíduos processam
Costa
18 Para North (1992), rotinas, costumes, tradições e cultura são termos usados para denotar a
persistência de regras ou restrições informais, que incluem: a) convenções que evoluem como
soluções para problemas de coordenação e que todas as partes têm interesse em manter;
b) normas de comportamento que são padrões de conduta reconhecidos; c) códigos de con-
duta autoimpostos, como padrões de honestidade ou integridade.
19 Convém, contudo, salientar que para North (2003a), na medida em que as restrições in-
formais conferem determinada estabilidade para as instituições, as mudanças institucionais,
quando ocorrem, tendem a ser graduais.
20 North (2005) enfatiza que as crenças religiosas e as ideologias seculares desempenham
importante papel nas mudanças sociais, citando como exemplo a ascensão e queda do ideal
comunista na URSS.
A cultura como chave para a dependência da trajetória
21 North (2005) enfatiza que as crenças dos indivíduos que ocupam posições responsáveis
por criar as diretrizes políticas e econômicas são chamadas de crenças dominantes, estas com
o tempo são as responsáveis pelo acréscimo gradual a estrutura elaborada das instituições
que determinam o desempenho econômico e político.
22 North (2005) considera que a estrutura inicial de aprendizagem é genética, um debate
polêmico e que necessita de uma análise mais aprofundada, mas que não é o busílis deste
trabalho.
Costa
23 Esse modelo de aprendizagem, que pode acontecer em qualquer espaço de interação so-
cial, desde o ambiente familiar até qualquer outra organização, é relevante para explicar o
funcionamento das economias.
A cultura como chave para a dependência da trajetória
24 Em trabalho anterior, North e Thomas (1973) já haviam enfatizado que os avanços insti-
tucionais que ocorreram na Inglaterra e Holanda antes da Revolução Industrial, que estabe-
leceram as bases para a superação do conflito entre o crescimento populacional e os limites
impostos pelas instituições feudais, ajudam a explicar o avanço de suas economias compara-
tivamente à economia da Espanha e da França. Assim, para os autores Inglaterra e Holanda
conseguiram promover mudanças institucionais indutoras de uma trajetória bem-sucedida.
25 North (2018, p. 125): “(...) comparando-se os quadros institucionais que se verificam em
países como Estados Unidos, Inglaterra, França, Alemanha e Japão com os casos de países do
Terceiro Mundo ou de países com industrialização avançada no passado histórico, evidencia-
-se que o quadro institucional é a chave do êxito relativo das economias tanto em determina-
do momento como ao longo do tempo.”
Costa
4 Conclusão
26 Contudo, North (1995b) afirma que nenhuma mudança é na prática totalmente revolu-
cionária, posto que para a sua viabilização torna-se necessária a existência de normas sociais
preexistentes que balizem e deem legitimidade às mudanças promovidas.
A cultura como chave para a dependência da trajetória
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Sobre o autor
Eduardo José Monteiro da Costa – ejmcufpa@gmail.com
Universidade Federal do Pará, Belém, Pará, Brasil.
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7990-6232.
O autor agradece a Faculdade de Economia e ao Instituto de Ciências Sociais e Aplicadas da Universidade Federal do
Pará pelo apoio ao desenvolvimento do projeto de pesquisa “Economia e Religião: A Teologia Reformada e a Dinâmica
Socioeconômica do Desenvolvimento Capitalista” que propiciou a elaboração deste artigo. Ademais, o autor agradece aos
comentários e recomendações do parecerista anônimo e do editor da revista que foram importantes para o aprimoramento
da versão final do artigo.
Sobre o artigo
Recebido em 28 de outubro de 2019. Aprovado em 03 de março de 2020.