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Em primeiro lugar, é preciso diferenciar (i) PPP em sentido amplo, que se refere aos múltiplos vínculos
negociais de trato continuado estabelecidos entre a Administração Pública e particulares para viabilizar o
desenvolvimento de atividades com algum coeficiente de interesse geral; de (ii) PPP em sentido estrito,
que se refere à concessão patrocinada e à concessão administrativa na forma da Lei Federal nº
11.709/04.
As PPS em sentido estrito surgem dentro de um processo evolutivo que teve início com as privatizações da
década de 90, em um contexto neoliberal, com o Programa Nacional de Desestatização, antecedidas pelas
concessões comuns regidas pela Lei Federal nº 8.987/95. Objetivos fundamentais: superar os sérios
problemas de infraestrutura no Brasil, especialmente em uma conjuntura de aperto fiscal e de baixa
disponibilidade de recursos públicos; permitindo-se a modernização industrial do País com redução da
dívida pública, e com concentração dos esforços públicos nas atividades em que a presença do Estado
fosse indispensável.
Nesse contexto, a Lei Federal nº 11.079/04 instituiu normas gerais de licitação e contratação de PPP, além
de normas específicas aplicáveis somente à União. Além disso, no quadro legal, destaca-se que, em se
tratando as PPP de uma espécie do gênero contrato administrativo, continuam aplicáveis à espécie normas
estaduais e municipais de contrato administrativo anteriores à Legislação federal específica de PPP naquilo
que não lhe for contrária.
Em síntese, os objetivos fundamentais seriam alcançados pelo fato de as novas modalidades de concessão
regidas pela LF nº 11.709/04 (PPP em sentido estrito) contarem com maiores garantias em favor dos
particulares, a exemplo (i) da possibilidade de aplicação de penalidades à Administração Pública em caso
de inadimplemento contratual; (ii) do compartilhamento de riscos entre os parceiros público e privado no
caso de ocorrência de áleas extraordinárias; (iii) das garantias de cumprimento de suas obrigações
pecuniárias a serem oferecidas pelo Poder Público; (iv) da previsão de aporte de recursos públicos em
favor da concessionária.
Além das maiores garantias em favor dos particulares, essas novas modalidades de concessão faziam-se
necessárias (i) para viabilizar a execução, pela iniciativa privada, de atividades que, por si, não seriam
capazes de remunerar adequadamente o contratado privado, lembrando-se, nesse sentido, que a
remuneração nas concessões comuns regidas pela LF nº 8.987/95 a remuneração da concessionária decorre
via de regra da exploração do serviço, mediante cobrança de tarifa dos usuários; e (ii) para viabilizar
contratos cujo investimento demanda prazo maior do que cinco anos, o limite fixado para contratações
tradicionais segundo a LF nº 8.666/93.
Vê-se, assim, (i) que a concessão patrocinada seria modalidade intermediária entre a concessão comum,
em que não há contraprestação pelo Poder Público, e a concessão administrativa, em que a cobrança da
tarifa é inviável econômica, social ou juridicamente, ou porque o próprio Estado é o único usuário do
serviço a ser prestado; e (ii) que há dois critérios para qualificar a concessão, um relativo à forma de
contraprestação e outro ao destinatário do serviço.
- Quanto ao alcance do objeto, há divergência doutrinária: (i) há quem entenda, a exemplo de Celso
Antônio Bandeira de Mello, que o objeto do contrato está adstrito a serviços públicos, sob pena de
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Art. 2o Parceria público-privada é o contrato administrativo de concessão, na modalidade patrocinada ou
administrativa.
§ 1o Concessão patrocinada é a concessão de serviços públicos ou de obras públicas de que trata a Lei
no 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, quando envolver, adicionalmente à tarifa cobrada dos usuários
contraprestação pecuniária do parceiro público ao parceiro privado.
§ 2o Concessão administrativa é o contrato de prestação de serviços de que a Administração Pública
seja a usuária direta ou indireta, ainda que envolva execução de obra ou fornecimento e instalação de bens.
§ 3o Não constitui parceria público-privada a concessão comum, assim entendida a concessão de
serviços públicos ou de obras públicas de que trata a Lei no 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, quando não
envolver contraprestação pecuniária do parceiro público ao parceiro privado.
§ 4o É vedada a celebração de contrato de parceria público-privada:
I – cujo valor do contrato seja inferior a R$ 20.000.000,00 (vinte milhões de reais);
II – cujo período de prestação do serviço seja inferior a 5 (cinco) anos; ou
III – que tenha como objeto único o fornecimento de mão-de-obra, o fornecimento e instalação de
equipamentos ou a execução de obra pública.
nulidade; (ii) em sentido diametralmente oposto, há quem entenda que não pode alcançar serviços
públicos, restringindo-se a concessão administrativa para serviços ordinários; (iii) terceira corrente, mista,
endossada pela autora, entende que o objeto é amplo, a alcançar tanto serviços públicos, hipótese em que a
Administração Pública é usuária indireta, como serviços ordinários ao Estado, figurando a Administração
como usuária direta.
Exs. de concessão administrativa de serviço público, figurando a Adm. como usuária indireta: pedágio
integralmente custeado pelo Poder Público; concessão do serviço de coleta de lixo. Nesses casos, porém,
não há de se falar em delegação de serviço público, pois o particular não assumirá o dever de
desempenhar a atividade em nome próprio, mas sim o fará em nome da Administração Pública.
- Quanto à complexidade do objeto, também há divergência doutrinária: (i) há quem entenda, em virtude
do art. 2º, §§ 2º e 4º, III, da Lei de PPPs, que o objeto deve necessariamente ser complexo, a envolver tanto
a implantação de uma infraestrutura pública quanto a execução de serviços a ela relacionada, em outras
palavras, deve combinar a execução de obras, fornecimento de bens ou equipamentos e prestação de
serviços, corrente a que se filia a autora; isso sob pena de banalizar as PPPs, bem como fraudar contratos
que deveriam se submeter à Lei nº 8.666/83.
- Quanto às vedações legais, estão previstas pelo art. 2º, §4º. Em relação ao valor mínimo do contrato
(inciso I), há corrente minoritária que entende que a aplicação deste valor único a todos os entes
federativos fere a autonomia federativa; mas a corrente majoritária entende que, como a CF outorgou
competência privativa à União para legislar sobre normas gerais de modalidade de contrato administrativo,
a veiculação do valor mínimo para configuração do tipo legal configura-se como norma geral, que escapa à
discricionariedade dos entes estaduais e municipais; além de que visa ao interesse nacional de impedir o
uso desvirtuado da modalidade contratual, daí ser conveniente a padronização em âmbito nacional. Ainda
quanto ao valor, há também controvérsia no que toca à referência do limite, se corresponde aos valores do
investimento do parceiro privado (entendimento majoritário, sob o fundamento principal de que o
investimento relevante é justificativa necessária ao maior prazo de amortização e remuneração da
concessão administrativa) ou aos valores do desembolso público.
Outra proibição consta do art. 4º, III, da Lei de PPPS, referente à “indelegabilidade das funções de
regulação, jurisdicional, do exercício do poder de polícia e de outras atividades exclusivas do Estado”.
- Quanto à natureza, há autores, como Celso Antônio Bandeira de Mello, que negam a qualidade de
concessão à concessão administrativa, caracterizando-a como “falsa concessão”, sob a consideração de que
a relação jurídica de concessão é sempre tripartite, pressupondo, além do Poder Público concedente e do
privado concessionário, o usuário, além de tarifa, características inexistentes na concessão administrativa.
Mas a autora refuta esse entendimento, pois, segundo ela, a remuneração direta da concessionária por meio
de tarifa paga pelo usuário não é elemento determinante do gênero concessão – o que importa, ao invés, é a
remuneração do concessionário, independentemente da forma, bem como o atrelamento da remuneração à
fruição de uma utilidade concedida, independentemente de quem seja o utente (a Administração ou
usuários).
Por fim, a autora faz observações quanto ao panorama de avanço e retrocesso das PPPs brasileiras.
Pontua que o modelo pouco avançou na esfera federal, destacando a assinatura de apenas duas concessões
administrativas, a saber, o “Projeto Datacenter” (construção do centro de processamento que vai prestar
serviços ao BB e à Caixa Econômica Federal) e o “Projeto Pontal” (realização do serviço de irrigação no
perímetro Pontal, em Petrolina (PE), para o desenvolvimento de área do semi-árido pernambucano com
agricultura irrigada intensiva).
Quanto às justificativas para o tímido avanço, contrariando o otimismo inicial do Governo Federal à época
da edição da Lei de PPP, tem-se em primeiro lugar a demora na regulamentação total da lei, que só se deu
em 2006. Ainda assim, 10 anos seriam suficientes para avanços mais significativos, obstaculizados (i) pela
complexidade dos contratos, o que, além de demandar maior análise, a fim de evitar o comprometimento
irresponsável de recursos públicos, sobretudo à vista dos vultuosos valores de recursos envolvidos e longos
prazos, inviabiliza a utilização de minutas padronizadas; (ii) por barreiras burocráticas – por exemplo, um
projeto de PPP precisa passar, pelo menos, por 2 Ministérios, ser submetido a consulta pública e aprovado
pelo TCU.
O texto trata do “Procedimento de Manifestação de Interesse” – PMI, que se configura como instrumento
pelo qual pessoas físicas e jurídicas formalizam seu interesse em propor estudos, projetos e soluções
para o Poder Público, com o objetivo de embasar a realização de licitações para outorga de
concessões ou de permissões.
Trata-se, assim, de um instrumento de PPP no sentido amplo, motivado por prazos, custos, conhecimentos
técnicos ou outros fatores que fazem dos estudos pela iniciativa privada opção mais vantajosa para a
licitação pública.
Pode derivar de solicitação pública, ou de manifestação espontânea do particular, hipótese em que se
seguirá o chamamento público, a fim de garantir publicidade e isonomia.
O principal marco regulatório do PMI é o Decreto Federal nº 5.977/06, que, originariamente destinado
apenas às PPPs da LF nº 11.079/04, aplica-se também às concessões comuns da LF nº 8.987/95 por força
da jurisprudência do TCU.
Mas esse Decreto prevê apenas a possibilidade de PMI por solicitação, iniciando-se o procedimento pela
identificação de projetos de relevância por um Comitê Gestor de Parceria Público-Privada Federal – CGP.
A solicitação aberta ao público (edital de chamamento ao público) deve conter minimamente os
seguintes requisitos: (i) delimitação do escopo dos projetos, podendo restringir-se à finalidade colimada,
deixando à iniciativa privada a possibilidade de sugerir meios; (ii) indicação de prazo máximo para
apresentação dos estudos; (iii) apresentação de valor máximo para eventual ressarcimento; (iv) indicação
de valor máximo para a contraprestação pública; e (v) ampla publicidade.
Os interessados passam por uma etapa de pré-qualificação técnica, na qual devem apresentar
documentação suficiente a demonstrar expertise do interessado e seriedade do projeto, ao que se segue a
autorização para apresentação dos estudos.
A autorização é conferida sempre sem exclusividade, não gera direito de preferência para outorga da
concessão, não obriga o Poder Público a fazer a licitação, não cria por si só qualquer direito ao
ressarcimento de valores e é pessoal e intransferível.
O Decreto prevê ainda critérios para avaliação e seleção dos estudos apresentados, a saber: (i) consistência
das informações; (ii) adoção das melhores técnicas e tecnologias disponíveis para o setor; (iii)
compatibilidade com normas técnicas setoriais ou emitidas pelo Comitê; (iv) razoabilidade do valor
apresentado para fins de ressarcimento; (v) impacto no desenvolvimento socioeconômico da região e para
sua integração nacional, se o caso; (vi) demonstração comparativa de custos e benefícios em relação a
outras opões funcionalmente equivalentes.
A avaliação e seleção devem ser devidamente fundamentadas e motivadas, e, segundo o Decreto, não são
passiveis de recurso administrativo, o que representa uma afronta, segundo a autora, ao direito
constitucional de petição.