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CONTRATAÇÃO COM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA??

DE forma simples, pode-se conceituar o contrato administrativo como o ajuste


firmado entre a Administração Pública e um particular, regulado basicamente pelo
direito público, e tendo por objeto uma atividade que, de alguma forma, traduza
interesse público.

Reza o art. 22, XXVII, da Constituição Federal, com a redação da EC no 19/1998,


competir privativamente à União Federal legislar sobre “normas gerais de licitação e
contratação, em todas as modalidades, para as administrações públicas diretas,
autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios,
obedecendo o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas e sociedades
de economia mista, nos termos do art. 173, § 1o, III”.

Princípio da Continuidade dos Serviços Públicos: Os serviços públicos buscam


atender aos reclamos dos indivíduos em determinados setores sociais. Tais
reclamos constituem muitas vezes necessidades prementes e inadiáveis da
sociedade. A consequência lógica desse fato é a de que não podem os serviços
públicos ser interrompidos, devendo, ao contrário, ter normal continuidade. Ainda
que fundamentalmente ligado aos serviços públicos, o princípio alcança toda e
qualquer atividade administrativa, já que o interesse público não guarda adequação
com descontinuidades e paralisações na Administração.

Princípio da Continuidade: ideia da prestação ininterrupta. A atividade do Estado é


contínua, não pode parar a prestação dos serviços. Tal princípio está expresso na
Lei nº 8.987/95 e implícito no texto constitucional.

Deste princípio, decorrem alguns questionamentos. Vejamos:

O servidor público tem direito de greve?

É possível interromper a prestação de um serviço público em virtude do


inadimplemento por parte do usuário?

Acerca da interrupção por motivos de ordem técnica, não há discussão doutrinária.


No que tange ao inadimplemento, a interrupção também é constitucional, bastando
que o usuário seja previamente avisado, nos moldes exigidos pela legislação. Esse
é o entendimento majoritário da doutrina e jurisprudência. De qualquer forma, será
ilegal a paralisação por inadimplemento se ensejar a interrupção de um
serviço essencial à coletividade.

Não é dispensável, porém, acentuar que a continuidade dos serviços públicos está
intimamente ligada ao princípio da eficiência, hoje expressamente mencionado no
art. 37, caput, da CF, por força de alteração introduzida pela EC nº 19/1998, relativa
à reforma do Estado. Logicamente, um dos aspectos da qualidade dos serviços é
que não sofram solução de continuidade, prejudicando os usuários.

Outro exemplo, sempre referido entre os autores, é o dos contratos


administrativos. Para evitar a paralisação das obras e serviços, é vedado ao
particular contratado, dentro de certos limites, opor em face da Administração a
exceção de contrato não cumprido (exceptio non adimpleti contractus).

Em nosso entender, é a delegabilidade ou não do serviço que demarca a sua


natureza. Por outro lado, a classificação em serviços essenciais e não essenciais
padece da mesma imprecisão, pois que se trata de juízos de valor sujeitos à
alteração dependendo do tempo e lugar. Como é sabido, o que é essencial para
uns poderá não o ser para outros; daí ser subjetiva essa valoração.

A Administração Pública é responsável por parcela relevante das contratações no


Brasil. Movimenta diversos setores econômicos, desde a contratação de obras de
infraestrutura, dos mais variados tipos de prestação de serviços, até de fornecimento
de bens. Os contratos administrativos, portanto, desempenham papel fundamental
na economia do país para pequenos, médios e grandes empresários e, pelo lado da
Administração Pública, permitem a consecução de seus objetivos e atividades.

A pandemia do Covid-19 afetou – e continua afetando – todos os âmbitos de


atuação do Governo e da vida pública e privada da população, inclusive os
contratos administrativos.

A Lei nº 8.666/1993 não oferece solução para o problema que agora aflige a
sociedade porque não foi pensada para tanto. A adoção das medidas previstas na
Lei nº 8.666/1993 não surtirá o efeito necessário para lidar com a crise porque seus
institutos não têm essa finalidade.

deixar de lado instrumentos unilaterais e rígidos previstos na legislação para


privilegiar a negociação com os fornecedores, pautada na composição de
capacidades e interesses, tentando priorizar a manutenção dos vínculos
empregatícios.

- Contratações diretas:

Para a celebração de contratos pela Administração Pública, em regra, é necessária


a realização de licitação. Esse procedimento, por ser burocrático e demorado, se
mostra inadequado para as contratações para o atendimento de necessidades
decorrentes de estado de calamidade pública. Portanto, em situação excepcional, a
contratação direta é autorizada pela Lei Geral de Licitações e Contratos
Administrativos.

Apesar de conter previsão geral autorizativa, a Lei Federal nº 13.979/2020, que


dispõe sobre as medidas para enfrentamento do Covid-19, trouxe hipótese
específica: é dispensável a licitação para aquisição de bens, serviços (inclusive
de engenharia) e insumos destinados ao enfrentamento da pandemia. A
autorização se aplica apenas enquanto perdurar o quadro e mais: possibilita a
contratação de fornecedora que esteja com inidoneidade declarada ou com o
direito de participar de licitação ou contratar com o Poder Público suspenso,
desde que comprovada como a única capaz de atender o objeto contratual. Tal
lei também inovou ao prever a aquisição de bens usados, ao possibilitar que os
contratos durem até seis meses (prorrogáveis enquanto durar a necessidade
de enfrentamento da emergência) e ao viabilizar aumentos ou supressões do
percentual de alteração do contrato em até 50% do valor original.

A previsão federal foi reproduzida por diversos Estados e Municípios em suas leis
específicas, como é o caso de São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo.

É preciso se atentar ao fato de que o dever de realizar licitações não está


suspenso. A autorização é delimitada pelas normas e não abarca toda e
qualquer contratação, mas apenas aquelas que se relacionam com o combate
da pandemia.  Além disso, é fundamental que o particular se assegure de que todas
as regras previstas em lei estão sendo observadas, tendo em vista que esses
contratos podem posteriormente gerar sanções dos órgãos de controle.

- Manutenção de contratos já existentes:

Entre outros temas, a norma dispõe sobre autorização de medidas


excepcionais no âmbito dos contratos administrativos e traz instrumentos para
possibilitar a manutenção e o pronto restabelecimento da prestação de serviços
contínuos quando o estado de calamidade pública decorrente do coronavírus
acabar.

Medida que merece destaque é a manutenção de pagamentos mensais do


contrato para os quais for indicada a suspensão total ou parcial dos serviços,
deduzidas as despesas diretas e indiretas que efetivamente deixarem de
incorrer. Contudo, há condições para a manutenção do pagamento mensal: (i) não
demissão dos empregados afetos à prestação do serviço no período em que
perdurar a medida excepcional; e (ii) outras condições e contrapartidas a critério da
unidade contratante.

Apesar de a iniciativa ser positiva, é possível questionar a previsão, uma vez que
representa forma de intervenção direta nas atividades dos contratados pela
Municipalidade. Ainda, há latente insegurança jurídica, uma vez que não especifica
quais outras condições seriam impostas unilateralmente pela unidade contratante.

O Regulamento (Decreto Municipal nº 59.321, de 1º de abril de 2020) define


como serviços contínuos com alocação de mão de obra não eventual aqueles que
tenham por objeto vigilância e segurança patrimonial; controle, operação e
fiscalização de portarias e edifícios; recepção; limpeza, asseio e conservação
predial;  e outros serviços que constituam necessidade permanente do órgão ou
entidade contratante. Ainda, determina que a Administração Pública municipal direta
e indireta deverá privilegiar e esgotar todas as medidas legais que visem à
manutenção dos contratos firmados, ficando a decisão pela rescisão contratual
como a última medida a ser adotada. Por fim, a norma estabelece que as
suspensões, reduções ou alterações mencionadas não configuram alteração de
objeto contratual, dispensando-se a celebração de termo de aditamento para tais
fins.

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