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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

CRISTIANE LETÍCIA FERREIRA DOS SANTOS


VICTORIA EVELYN CARVALHO NERIS

TEORIA GERAL DOS CONTRATOS.

Trabalho apresentado ao curso de Ciências


Contábeis da disciplina de Teoria da
Contabilidade, da Universidade Estadual de
Feira de Santana.

Orientador: José Renato Sena Oliveira.

FEIRA DE SANTANA
2023
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1- INTRODUÇÃO

Os contratos permeiam a vida em sociedade, moldando as interações


cotidianas, sejam elas formais ou informais. Eles desempenham um papel
fundamental na definição de regras e na garantia dos cumprimentos de obrigações,
constituindo um alicerce vital para as relações comerciais e sociais. No âmbito
corporativo, especialmente na Contabilidade, essa necessidade de acordos claros e
efetivos é ainda mais evidente.
A Teoria Geral dos Contratos é um ramo do Direito Civil dedicado ao estudo
dos princípios e fundamentos comuns a todos os contratos. Ela engloba os
componentes cruciais dos contratos, seu processo de estabelecimento, interpretação,
validade, término, bem como os direitos e deveres das partes envolvidas (TISSOT,
2023).
Atualmente, a Contabilidade vai além do mero registro de dados e transações
financeiras, ela desempenha um papel estratégico crucial nas decisões empresariais.
Para que essa função seja eficaz, é necessário que os acordos que cercam as
transações financeiras sejam rígidos, com precisão e transparência. Isso assegura
que as partes envolvidas tenham uma compreensão clara de suas obrigações,
direitos e responsabilidades, diminuindo então, a assimetria informacional
(ORGANIZAÇÃO ATIVA, 2023).
Nesse contexto, o presente trabalho busca explorar a história, os princípios e
conceitos da Teoria Geral dos Contratos, além de como esses fundamentos têm
impactos diretos e indiretos na Contabilidade.

2- DESENVOLVIMENTO

Contrato é um acordo legalmente vinculativo entre duas ou mais partes, no


qual são estabelecidos efeitos jurídicos, como a criação, transferência, alteração ou
extinção de direitos e deveres (DINIZ, 2008). Esse acordo é formado por declarações
de vontade das partes, que geralmente têm interesses diferentes, mas concordam em
buscar um resultado comum, em conformidade com a intenção objetiva dos
envolvidos e de acordo com a lei (GONÇALVES, 2015).
A história dos contratos é uma jornada que se estende por milênios, marcada
por constantes transformações. Tudo começou na Antiguidade, quando civilizações
como a Mesopotâmia e do Egito Antigo, que registravam transações em tábuas de
argila. A Roma Antiga foi crucial, desenvolvendo diversos tipos de contratos e
introduzindo o princípio do cumprimento dos acordos “pacta sunt servanda”.
(GILISSEN, 2003). A expressão pacta sunt servanda – do latim, “pactos devem ser
respeitados” ou “acordos devem ser cumpridos” – é utilizada para designar um
princípio clássico da teoria dos contratos, segundo o qual haveria obrigatoriedade
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em cumprir o que foi acordado em contrato (FACHINI, 2022).


Com o Renascimento e a Era Moderna, o crescimento do comércio
internacional exigiu contratos mais complexos, incluindo acordos de sociedade
comercial e compra e venda marítima. A Revolução Industrial trouxe um aumento
significativo na complexidade dos contratos, com contratos de trabalho industrial e
compra e venda de terras para fins industriais se tornando comuns (CASTRO, 2014).
No decorrer do século XX, emergiram áreas especializadas no campo do
direito contratual, como os contratos relacionados à propriedade intelectual e às
transações financeiras, para atender às crescentes demandas de uma sociedade
cada vez mais intrincada. Na contemporaneidade, os acordos contratuais permeiam
todos os aspectos da vida diária, abrangendo desde simples transações, como
comprovantes de venda, até contratos de elevada complexidade utilizados em
operações de fusões e aquisições empresariais. A digitalização e a globalização
democratizaram o processo de elaboração e execução de contratos, solidificando-os
como um elemento fundamental em nossa sociedade contemporânea.
A história da Teoria Geral dos Contratos está intimamente ligada aos princípios
que orientam esses acordos, evoluindo ao longo do tempo e moldando a concepção
e aplicação das relações contratuais. Esses princípios se dividem em dois grupos:
tradicionais e sociais.
Princípios tradicionais: não são previstos em lei e dividem-se em três
subprincípios:
● Princípio da liberdade: garante a máxima liberdade contratual para os
contratantes;
● Princípio da força: determina que as partes envolvidas estão obrigadas a
cumprirem com as cláusulas dos acordos; e
● Princípio da relatividade: propõe que apenas as partes envolvidas ficam
obrigadas a cumprirem com as obrigações contratuais.
Princípios sociais: estão previstos em lei, no Código Civil de 2002, e dividem-
se em três subprincípios:
● Função social: está prevista no art. 421 do CC, que versa: “A liberdade de
contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato.”;
● Equilíbrio contratual: os contratos são inaceitáveis quando representam
lesão, estado de perigo ou quando são excessivamente onerosos, visto que,
o art. 478 do CC versa: “Nos contratos de execução continuada ou diferida,
se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com
extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos
extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do
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contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da


citação.”; e

● Boa-fé objetiva: trata-se da análise da conduta, do ato praticado, sem


qualquer preocupação em relação ao sujeito. Encontra aplicação no art. 113
(regra de interpretação dos contratos), no art. 187 (regra de abuso dos
contratos) e art. 422 (regra de aplicação dos contratos) do CC.
Além desses princípios, os contratos devem atender a requisitos como objeto
lícito, possível e determinado, capacidade das partes contratantes e manifestação de
vontade válida. As formalidades são ordinárias apenas quando determinadas por lei.
Na área da contabilidade, a aplicação da Teoria Geral dos Contratos envolve o
ato de documentar acordos contratuais com o objetivo de atender a compromissos
financeiros e conformidades contábeis, assegurando um registro preciso e facilitando
a tomada de decisões críticas.
Segundo Watts e Zimmerman (1986 apud PEREIRA; BRUNI; ROCHA; LIMA;
FARIA, 2010, p. 2), uma relação contratual resulta na diminuição dos custos de
agências (que são os custos associados ao conflito de interesses entre os diversos
agentes envolvidos de uma empresa). Além disso, isso acarreta em diversos
benefícios, como: economias de escala, diversificação e especialização.
A perspectiva da firma como "nexo de contratos" destaca a empresa como
uma coalizão de indivíduos, unidos por contratos que especificam direitos em
diferentes cenários. Esses contratos abrangem áreas como credores, ações e
administração. Incluem também contratos de empréstimo que detalham a distribuição
de fluxos de caixa, mesmo em casos de falência. Documentos como cartas, estatutos
e leis definem os direitos de propriedade sobre os ativos da empresa (WATTS;
ZIMMERMAN, 1986 apud PEREIRA; BRUNI; ROCHA; LIMA; FARIA, 2010).
Segundo Hendriksen e Breda (1999), a assimetria informacional é fundamental
na Teoria Geral dos Contratos, afetando a estrutura, implementação e monitoramento
de acordos. Ela leva a problemas como seleção adversa (falta de informações sobre
a qualidade) e risco moral (comportamento oportunista após o contrato). Isso pode
resultar em contratos incompletos e a necessidade de monitoramento rigoroso. A
contabilidade e auditoria desempenham papéis importantes na mitigação dessa
assimetria, ajudando a garantir o cumprimento dos termos contratuais.

3- CONCLUSÃO

A história da teoria geral dos contratos moldou as relações contratuais ao


longo do tempo, desempenhando um papel crucial na contabilidade. A compreensão
desses princípios é essencial, já que os contratos impactam diretamente as projeções
financeiras. A auditoria é fundamental para garantir a transparência nas informações
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financeiras das organizações, e, por isso, a teoria dos contratos continua sendo vital
na prática contábil moderna, garantindo relatórios financeiros precisos e confiáveis.

4- REFERÊNCIAS
BRASIL. Código Civil. Lei n° 10.406 TÍTULO V: dos contratos em geral. Brasil. 10 jan
2002.
COSTA, Mário Júlio de Almeida. Direito das obrigações, 12ª edição, Almedina,
Coimbra, 2009, págs. 661, 662 e 666 a 676 e de C. A. Mota Pinto, A. Pinto Monteiro e
P. Mota Pinto, Teoria Geral do Direito Civil, 5ª edição, Gestlegal Editora, Coimbra,
2020 (2005). Págs. 379 a 382 e 647.
HENDRIKSEN, E. S.; VAN BREDA, M. F. Teoria da contabilidade. 5. ed., São Paulo:
Atlas, 1999.
LOPES, Alexsandro Broedel. A Teoria dos Contratos, Governança Corporativa e
Contabilidade. In: IUDÍCIBUS, Sérgio de, LOPES, Alexsandro Broedel. Teoria
Avançada da Contabilidade. São Paulo: Atlas, 2004.
LOPES, Stephany Akie Nakamori. A evolução histórica do conceito de contrato e
sua origem. Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/a-evolucao-historica-
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MEDEIROS, Rafael. Teoria geral dos contratos: veja os princípios. Disponível em:
https://blog.grancursosonline.com.br/teoria-geral-dos-contratos/. Acesso em: 24 set.
2023.
MENDES, Flávio Mouta. Contrato: definição e características. Disponível em:
https://www.sociedadescomerciais.pt/contrato/. Acesso em: 30 set. 2023.
ORGANIZAÇÃO ATIVA. A importância da contabilidade na identificação de riscos
e oportunidades de crescimento nas empresas. Disponível em:
https://www.ativacontabil.com.br/a-importancia-da-contabilidade-na-identificacao-de-
riscos-e-oportunidades-de-crescimento-nas-empresas/. Acesso em: 13 fev. 2024.
PEREIRA, Antônio Gualberto; BRUNI, Adriano Leal; ROCHA, Joséilton Silveira da;
LIMA, Raimundo Nonato; FARIA, Juliano Almeida de. Teoria Geral dos Contratos,
Governança Corporativa e Auditoria: delineamentos para a discussão em teoria da
contabilidade. Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia, Rio de Janeiro, VII,
2010.
TISSOT, Rodrigo. Aspectos da teoria geral dos contratos, princípios e requisitos.
Disponível em: https://www.aurum.com.br/blog/teoria-geral-dos-contratos/. Acesso em:
24 set. 2023.
VARELA, J. M. Antunes. Das Obrigações em Geral, Volume I, 10 ed., Almedina,
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VIEGAS, Cláudia. Apostila de Teoria Geral dos Contratos. Disponível em:
https://www.jusbrasil.com.br/artigos/apostila-de-teoria-geral-dos- contratos/755251791.
Acesso em: 25 set. 2023.

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