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Universidade Estadual do Norte do Paraná – UENP

NOME: Mônica Marques dos Santos


Curso: Direito – 3º ano

1. O PAPEL DA VONTADE NA INTERPRETAÇÃO DOS


CONTRATOS

O princípio da autonomia da vontade, que rege o Direito Civil e também


outros ramos do Direito, mas, que neste momento ganha um destaque dentro
dos contratos, consiste no poder das pessoas, particulares, em estipularem
livremente com quem querem contratar, acerca de qual objeto e qual a melhor
forma de realizar este negócio. É a liberdade de contratar, se quiser. A origem
do contrato provém das vontades.

As liberdades fundamentais, asseguradas pela ordem


constitucional, permitem a livre atuação das pessoas na sociedade.
Expressão de tais liberdades no âmbito das relações privadas é a
autonomia privada. (TEPEDINO, 2018, p. 173).

A doutrina atualmente tem explorado alguns elementos importantes


ligados ao princípio da autonomia da vontade, como a liberdade contratual,
que é ligada a vontade livre de qualquer influência externa, tais como um vício
de consentimento. O segundo elemento é a força obrigatória dos contratos,
onde, as partes devem ter consciência de que uma vez firmado o contrato, ele
faz lei entre as partes.

O desafio do jurista de hoje, (...), consiste na harmonização das fontes


normativas, a partir dos valores e princípios constitucionais. (TEPEDINO,
2018, p. 176).

Há uma grande discussão a respeito da vontade dos contratos, que se


divide em vontade real e a vontade declarada.
Entretanto, apesar de tal princípio abordado ser amplamente utilizado
nos contratos, ele não é absoluto, sendo limitado por outros princípios,
normas de ordem pública e até mesmo os próprios costumes. Alguns
princípios que podem limitar a autonomia da vontade é o da boa-fé objetiva e
da função social dos contratos. Neste contexto, os contratos deixam de ser
algo puramente pessoal e passam a levar em conta o todo, a coletividade e
seus interesses.

A evolução do papel da vontade nas relações contratuais associa-se a


diferentes graus de intervenção legislativa sobre a autonomia privada.
(TEPEDINO, 2018, p. 173).

O que aconteceu no decorrer da evolução dos contratos e do próprio


Direito Civil foi uma crescente ordem de formas de interpretação, baseadas
em tais princípios e outros elementos importantes, como os previstos na
Constituição Federal.

Segundo o Texto Constitucional, a liberdade de agir, (...), associa-se


(...) aos princípios da dignidade da pessoa humana (art. 1, III), fundamento
da República, da solidariedade social (art. 3º, I) e da igualdade substancial
(art. 3º, III), objetivos fundamentais da República. (...) A livre iniciativa, além
dos limites fixados por lei, para reprimir atuação ilícita, deve perseguir a
justiça social, com a diminuição das desigualdades sociais e regionais e
com a promoção da dignidade humana. (...).(TEPEDINO, 2018, p. 188).

Tem-se muito discutido a respeito de como, quando e por que houve o


surgimento de um dirigismo contratual.

O dirigismo contratual, também é encarado como um dos princípios


que limita a autonomia da vontade, entretanto, essa limitação vem do próprio
Estado. Segundo algumas doutrinas, o seu surgimento vem de uma análise
das próprias partes em um contrato, em que, na maioria das vezes, vemos a
presença de uma parte mais forte e outra em desproporcionalidade,
originando assim, um dever do Estado em tentar equilibrar esta situação,
através da criação de normas imperativas.
(...), rompem com os compartimentos do direito público e do direito
privado, invocando regulação a um só tempo de natureza privada e de
ordem pública. A dignidade da pessoa humana há de ser tutelada e
promovida, (...), nos espaços públicos e privados. (TEPEDINO, 2018, p.
176).

A interferência do Estado nas relações pessoais surgiu


aproximadamente no final do Século XIX. No Brasil, sua maior influência
proveio dos movimentos sociais, onde houve uma maior incidência nas
relações de trabalho, pois, nestes tipos de contratos há uma clara
subordinação entre uma parte forte (empregador) e uma mais vulnerável
(empregado).

Em seguida, houve o dirigismo estatal na economia, para combater os


juros excessivos e o curso da moeda estrangeira.

Esse processo de intervenção legislativa, (...), destinada à tutela de


direitos fundamentais alcançados pela iniciativa econômica privada e que,
no Brasil, culminou com a Constituição da República de 1988, acaba por
colocar em crise a noção de autonomia privada e a teoria do negócio
jurídico. (TEPEDINO, 2018, p. 179).

Muitos doutrinadores acreditam que a partir do dirigismo contratual é


que começou a surgir os princípios, normas e elementos limitadores da
autonomia da vontade.

Outro ponto que também é abarcado pelo dirigismo contratual, além do


seu efeito meramente limitador da vontade, é o motivo pelo qual ele atua,
visando uma melhora coletiva, de forma a minimizar as desigualdades sociais
e econômicas. Tal ponto de vista fica claro no Código de Defesa do
Consumidor, no qual, novamente, temos uma parte mais privilegiada e outra
menos, podendo citar como exemplo o art. 6º, IV, em que são declaradas
nulas cláusulas abusivas.
2. JURISPRUDÊNCIA

CONSUMIDOR. EMPRÉSTIMO BANCÁRIO. REVISÃO DE TAXA DE JUROS.


ABUSIVIDADE CONFIGURADA. CONTRATO DE ADESÃO. INCIDÊNCIA DO
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. MITIGAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
AUTONOMIA DA VONTADE. READEQUAÇÃO DA TAXA DE JUROS.
RESSARCIMENTO DOS VALORES PAGOS INDEVIDAMENTE NA FORMA
SIMPLES.

1) Os serviços que as instituições bancárias colocam à disposição dos clientes


estão regidos pelo CDC, porquanto se inserem no conceito consagrado no § 2.º do
art. 3.º do referido diploma legal. Nos contratos de adesão há uma mitigação do
princípio da autonomia da vontade. Configurada a ilegalidade no contrato
celebrado, cabe ao Estado-Juiz restabelecer o equilíbrio da relação
contratual.

2) É abusiva a taxa de juros remuneratórios aplicada ao contrato firmado entre as


partes, com percentuais superiores a uma vez e meia, ao dobro da média de
mercado devendo haver a adequação à taxa de mercado fornecida pelo Banco
Central à época da efetiva contratação. O STJ, no julgamento do Recurso Especial
repetitivo 061530/RS, TEMA 27, firmou a seguinte tese: é admitida a revisão das
taxas de juros remuneratórios em situações excepcionais, desde que caracterizada
a relação de consumo e que a abusividade, capaz de colocar o consumidor em
desvantagem exagerada (art. 51, § 1 º, do CDC), fique cabalmente demonstrada,
ante às peculiaridades do julgamento em concreto.

3) Comprovado o direito da parte autora, deve ocorrer a readequação da taxa de


juros à época da celebração contratual, devolvendo-se, na forma simples, os
valores excedentes, a serem apurados em planilha apresentada em sede de
liquidação de sentença.

4) São indevidos os honorários contratuais, conforme entendimento pacificado no


STJ e nesta Corte Recursal, pois os honorários advocatícios pelos quais a parte
vencida deve responder são os decorrentes da sucumbência e não os honorários
particularmente convencionados entre a parte vencedora e seu procurador,
decorrentes de livre pactuação entre o litigante e seu patrono.

5) Recurso conhecido e provido em parte.

TJ-AP – RI: 00010567720188030002 AP, Relator JOSÉ LUCIANO DE ASSIS, Data


de Julgamento: 08/05/2019, Turma Recursal)
3. COMENTÁRIOS

A referida jurisprudência, bem como o texto tratado no fichamento, busca


abordar o princípio da autonomia da vontade e o dirigismo contratual.

Durante todo o fichamento é notável a presença desses elementos, trazendo


teorias que buscam explicar alguns fenômenos e conflitos relativos à vontade
contratual. Trazendo, inclusive, a explanação de como ocorre o processo de
interferência do Estado em algumas questões particulares, tais como certos tipos de
contrato.

Na jurisprudência acima, vemos a presença de tal autonomia das partes em


contratar e estabelecerem as diretrizes de seu contrato, entretanto, ao se influir tal
contrato em um contrato de adesão, houve uma mitigação do princípio da autonomia
da vontade.

No caso em questão, a taxa de juros estabelecida pelo réu foi abusiva. Dessa
forma, coube a interferência do dirigismo contratual, feita por intermédio do Estado-
juiz, para que ocorra uma readequação, para restabelecer o equilíbrio entre as
partes. Já que o princípio da autonomia da vontade não é absoluto.

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