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Direito e Legislação 1

Prof. Fernando Augusto De Vita Borges de Sales – FASB

PONTO 1: TEORIA DA EMPRESA

A Constituição Federal é a lei maior do Brasil. Nenhuma outra lei terá validade se contrariar
os preceitos da Constituição. É a Constituição que traça os contornos da República Federativa do
Brasil. Os princípios fundamentais estão estabelecidos no art. 1º:

Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I – a soberania;
II – a cidadania;
III – a dignidade da pessoa humana;
IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V – o pluralismo político
Parágrafo único: Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou
diretamente, nos termos desta Constituição.

Os objetivos da República Federativa do Brasil estão traçados no art. 3º da Constituição:

Art. 3º. Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:


I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II – garantir o desenvolvimento nacional;
III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais regionais;
IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas
de discriminação.

A ordem econômica do Brasil é prevista a partir do art. 170 da Constituição:

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
I - soberania nacional;
II - propriedade privada;
III - função social da propriedade;
IV - livre concorrência;
V - defesa do consumidor;
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental
dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação;
VII - redução das desigualdades regionais e sociais;
VIII - busca do pleno emprego;
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que
tenham sua sede e administração no País.
Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica,
independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei.

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Como se vê, a ordem econômica na República Federativa do Brasil é fundada na livre


iniciativa. Isso significa que qualquer cidadão poderá desenvolver qualquer atividade econômica
livremente e que não haverá interferência direta do Poder Público no mercado, revelando que a
economia brasileira é nitidamente capitalista.

A atividade empresarial (empresa) está prevista no Código Civil, a partir do art. 966:

Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a
produção ou a circulação de bens ou de serviços.
Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica,
literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão
constituir elemento de empresa.

Empresário é quem desenvolve a empresa. A empresa é a atividade exercida pelo


empresário. Logo, podemos dizer que empresa é a atividade econômica, organizada, para a
produção ou circulação de produtos ou serviços.

Econômica – visa lucro


Empresa = atividade Organizada – organiza os fatores da produção
Para produção (indústria) ou circulação (comércio) de bens (qualquer
tipo de bens) ou serviços

PONTO 2: SOCIEDADES EMPRESÁRIAS

O homem é um ser social. Naturalmente, o ser humano busca a associação com seus pares. O
homem busca a sociedade, organizando-se em diversos níveis (família, comunidade, igreja, etc.). No
mundo dos negócios não é diferente. Para exercer uma atividade econômica, na maioria das vezes o
homem busca associação com outras pessoas. Essa associação pode ocorrer por várias razões, muitas
vezes de ordem técnica, e até mesmo por razões econômicas.

Quando duas ou mais pessoas se juntam para explorar determinada atividade, obter lucro, e
partilhar os resultados, diz-se haver um contrato de sociedade. É o que prevê o art. 981 do Código
Civil:

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Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens
ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados.

A sociedade constituída para exercer atividade própria de empresário (atividade econômica,


organizada, para produção e circulação de bens ou serviços), é denominada de “sociedade
empresária”, conforme o art. 982 do Código Civil:

Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício
de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais.

Desta forma, constituída a sociedade para exercer atividade empresarial, os sócios não serão
considerados empresários, mas sim apenas sócios (empreendedores, investidores). Empresária será
a sociedade que para esse fim foi constituída.

A sociedade empresária, devidamente registrada na Junta Comercial, adquire personalidade


jurídica, nos termos no art. 985 do Código Civil:

Art. 985. A sociedade adquire personalidade jurídica com a inscrição, no registro próprio e na forma da lei,
dos seus atos constitutivos (arts. 45 e 1.150).

Além da pessoa natural, que adquire sua personalidade com o nascimento, o Direito confere
personalidade a entes formados por conjunto de pessoas ou bens, e que se denominam pessoas
jurídicas. É a denominada personalidade jurídica. Uma vez legalmente constituída e registrada no
órgão competente, a sociedade passa a ter personalidade jurídica própria, ou seja, ela passa a ser
sujeito de direitos e obrigações, passando a ter existência distinta de seus membros.

A lei, ao contemplar a criação da pessoa jurídica, está permitindo que lhe sejam imputadas
formas de comportamento próprias do caráter humano, especialmente a personalidade e seus
atributos inerentes, inclusive garantindo a sua proteção. Podemos concluir, destarte, que as pessoas
jurídicas são sujeitos de direitos e obrigações independentes de seus sócios, havendo uma distinção
de personalidades, onde seus patrimônios não se confundem. São efeitos da personalidade:

a) Patrimônio próprio: o patrimônio social pertence à sociedade. A personalidade jurídica confere à


sociedade autonomia patrimonial, que não se confunde com o patrimônio pessoal dos sócios. A

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sociedade é responsável pelas obrigações que contrair de maneira ilimitada, o que vale dizer que a
sociedade responderá pelas suas dívidas com toda a força de seu patrimônio;

b) Nome próprio: A sociedade personificada possui nome próprio. Por ter existência distinta de seus
sócios, ela é titular de um nome próprio, diverso do nome dos sócios;

c) Nacionalidade: Com a inscrição de seus atos constitutivos, a sociedade passa a ter nacionalidade
própria, definida pelo local da constituição, independentemente da nacionalidade de seus sócios;

d) Domicílio: O domicílio da pessoa jurídica, também chamado de sede social, deve ser fixado nos
seus atos constitutivos, e guarda distinção em relação ao domicílio dos seus sócios.

Os principais – e mais comuns - tipos de sociedades empresárias são a sociedade limitada e a


sociedade anônima.

A sociedade limitada (ltda.) tem o seu capital social dividido em quotas e a responsabilidade
dos sócios é limitada ao valor das suas quotas.

Código Civil, art. 1.052. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas
quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social.

A sociedade anônima (S/A) tem seu capital dividido em ações (que podem ser negociadas na
bolsa de valores), e a responsabilidade dos sócios é limitada ao valor das ações que ele adquirir.

Código Civil, art. 1.088. Na sociedade anônima ou companhia, o capital divide-se em ações, obrigando-se
cada sócio ou acionista somente pelo preço de emissão das ações que subscrever ou adquirir.

PONTO 3: RESPONSABILIDADE SOCIAL DA EMPRESA

Responsabilidade social é um termo muito em moda no meio corporativo, sendo muito


utilizado como estratégia de marketing pelas empresas. Mas longe de ser uma opção da empresa – e
pior – apenas uma estratégia de marketing, a responsabilidade social é uma obrigação legal da
empresa, como vermos.

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O direito de propriedade é uma garantia constitucional do cidadão brasileiro, consagrado no


art. 5º, inciso XXII, da Constituição Federal:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
XXII - é garantido o direito de propriedade;

Mas esse direito de propriedade não é absoluto, ou seja, ele não garante ao proprietário o
direito de fazer o que quiser com o bem de sua propriedade, pois a mesma constituição, no inciso
XXIII, dispõe que a propriedade deverá atender à sua função social:

XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;

Desta forma, embora constitua um direito individual do cidadão, a propriedade somente será
legítima quando atender a uma função social.

Mas a propriedade aqui referida não é apenas a propriedade imobiliária, mas toda e
qualquer propriedade sobre qualquer tipo de bem, inclusive bens de produção. Por isso mesmo que
a ordem econômica no Brasil, que é fundada na livre iniciativa (CF, art. 170), tem como um de seus
princípios a função social da propriedade:

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
I - soberania nacional;
II - propriedade privada;
III - função social da propriedade;
IV - livre concorrência;
V - defesa do consumidor;
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental
dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação
VII - redução das desigualdades regionais e sociais;
VIII - busca do pleno emprego;
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que
tenham sua sede e administração no País.

Tendo em vista que a empresa é a exteriorização máxima da ordem econômica, ela deve
atender aos princípios fundamentais, inclusive o da função social da propriedade, donde extraímos o

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princípio da função social da empresa. A responsabilidade social da empresa é, pois, decorrente da


função social da empresa.

O conceito de responsabilidade social passa necessariamente pelo conceito de stakeholders.

Stakeholder é o indivíduo, ou grupo de indivíduos, que influencia a empresa e por ela é


influenciado. São os sócios, acionistas, administradores, diretores, empregados, clientes,
fornecedores, distribuidores, consumidores, enfim, todos que de forma direta ou indireta interagem
com a empresa.

A responsabilidade social é voltada para os interesses desses stakeholders, pois diz respeito à
tomada de decisão orientada eticamente e condicionada pela preocupação com o bem-estar da
coletividade, partindo das premissas de respeito aos interesses da população, preservação do meio
ambiente e satisfação das exigências legais.

A responsabilidade social da empresa não é uma sugestão, mas uma imposição legal. A
empresa tem a obrigação legal de ser socialmente responsável, obrigação essa que vai além dos seus
limites periféricos e dos interesses particulares dela e de seus sócios, acionistas e administradores.

Em face disso, é um dever constitucional do empresariado privilegiar a justiça social, a fim de


garantir a todos condições mínimas para satisfazer suas necessidades fundamentais. É princípio de
justiça social, de um lado, pagar aos empregados remuneração justa, garantindo condições de
sobrevivência digna; de outro lado, limitar o lucro arbitrário, ou os preços abusivos, como infrações à
ordem econômica.

O crescimento econômico de uma empresa se faz de maneira sempre gravosa à coletividade


que a circunda e que com ela se relaciona. Menos do que progresso social, tal desenvolvimento
implica em deterioração do ambiente, condições insalubres de trabalho, deterioração urbana,
acarretando um custo social para todos.

Para atingir seus objetivos de lucro, o empresário, juntamente com seu capital, conjuga
outros dois fatores indispensáveis à produção: mão de obra (trabalho) e insumos (bens ambientais).

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O resultado dessa conjugação gerará, de um lado, os bens disponíveis ao mercado de


consumo e, de outro, em várias etapas (produção, distribuição e consumo) o lixo residual, em forma
de gases, dejetos e compostos químicos, que serão descartados na natureza.

O dever da responsabilidade social é inerente à atividade empresarial e implica em exercê-la


com vistas não apenas ao lucro inconseqüente, mas com atitudes concretas que devolva à
coletividade o que dela se retira.

Se o crescimento econômico da empresa implica em degradação ambiental, nada mais


razoável do que essa empresa promover a preservação ambiental. Se a atividade industrial implica
em condições insalubres de trabalho, nada mais justo que o empresário adote medidas efetivas para
minimizar essas condições.

Responsabilidade socioambiental da empresa:

A responsabilidade social é uma obrigação legal, imposta às empresas por força do princípio
da função social da empresa que é um corolário da função social da propriedade.

O direito de empresa está subordinado ao Código Civil, da mesma forma que o direito de
propriedade. Neste compasso, uma vez que o Código Civil dispõe que o direito de propriedade
deverá ser exercido em função de suas finalidade econômicas e sociais e de modo que seja
preservado o meio ambiente, conseqüentemente o direito de empresa assim também deverá ser
exercido, ou seja, atendendo à sua função social e preservando o meio ambiente.

O disposto no Código Civil harmoniza-se com a Constituição Federal, que no seu art. 170, ao
tratar da livre iniciativa como fundamento da ordem econômica, condiciona-a, entre outros, à função
social da propriedade e à defesa do meio ambiente.

Desta forma, temos de forma positiva que a preservação do meio ambiente é fator
integrante da função social da empresa e, conseqüentemente, limitador da livre iniciativa. Logo, a
responsabilidade social da empresa, no direito brasileiro, abarca não apenas os diversos

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stakeholders, como também a preservação e defesa do meio ambiente, de modo que podemos
denominá-la de responsabilidade socioambiental.

A responsabilidade socioambiental da empresa será, assim, a obrigação legal desta de


respeitar os direitos das diversas pessoas que com ela interagem e, mais além, de promover a defesa
e a preservação ambiental, através de um eficiente sistema de gestão ambiental.

Uma empresa socioambientalmente responsável é aquela que, além de tudo, não causa
danos ao ambiente; que consegue conciliar as suas necessidades de desenvolvimento econômico
com os requisitos de melhor qualidade de vida das pessoas que com ela se relacionam. Contrariu
sensu, uma empresa que polui ou que de qualquer forma venha causar um dano ambiental, não o é,
devendo sofrer os ônus e as sanções decorrentes da sua irresponsabilidade.

Ponto 4: Responsabilidade civil do empresário e o Código de Defesa do Consumidor

Responsabilidade é a obrigação que alguém assume em razão da lei, do contrato, da


declaração unilateral de vontade ou da prática de ato ilícito.

Responsabilidade civil é a obrigação de reparar um dano causado a outra pessoa.

O dano é a ofensa a um bem juridicamente protegido. Causar um dano significa causar um


prejuízo, ou seja, uma diminuição no patrimônio do ofendido.

O dano pode ser material (dano a bens físicos, corpóreos) ou moral (dano a bens da
personalidade).

A responsabilidade civil está prevista no art. 186 do Código Civil:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar
dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

E a obrigação de reparar o dano é prevista no art. 927 do Código Civil:

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Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

No sistema do Código Civil, a responsabilidade, como regra, é atribuída a quem age com
culpa (em sentido amplo).

É que o art. 186 diz que comete ato ilícito quem causa dano a outra pessoa por ter agido com
dolo (ação ou omissão voluntária) ou com culpa em sentido restrito (negligência ou imprudência).

Dolo (ação ou omissão voluntária)


Culpa (“lato sensu”)
Culpa “strictu sensu” (negligência ou imprudência)

Mas o mesmo Código Civil reconhece situações em que haverá a responsabilidade sem que
seja necessário ter havido o elemento subjetivo (culpa). É que a lei prevê hipóteses em que o
causador do dano, por exercer uma atividade econômica de risco, será obrigado a reparar o dano
apenas por ter havido o dano. É o que consta do parágrafo único do art. 927 do Código Civil:

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados
em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza,
risco para os direitos de outrem.

A ideia central é de que, se uma empresa explora o mercado de consumo com uma atividade
de risco, se essa atividade causar dano para outra pessoa, a empresa deverá indenizar, mesmo que
não tenha agido com culpa.

Ainda com relação às empresas, o Código Civil estabelece, no art. 931, a obrigação de
indenizar os danos causados pelos produtos postos no mercado, independentemente de culpa:

Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os empresários individuais e as empresas
respondem independentemente de culpa pelos danos causados pelos produtos postos em circulação.

A essa responsabilidade “sem culpa” dá-se o nome de responsabilidade objetiva.

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O que se pretende com a responsabilidade objetiva é facilitar a indenização da vítima,


porque é sempre muito difícil provar a culpa do causador do dano.

O Código de Defesa do Consumidor (lei 8078/90), que protege as relações de consumo,


igualmente prevê a responsabilidade objetiva do fornecedor de produtos e serviços, nos arts. 12 e
14:

Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem,


independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por
defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação
ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua
utilização e riscos.

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos
danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por
informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

Desta forma, temos que a responsabilidade da empresa e do empresário pelos danos


causados, seja no Código Civil, seja no Código de Defesa do Consumidor, será sempre objetiva, ou
seja, a empresa terá o dever de indenizar o dano causado, independentemente de ter agido com
culpa.

Ponto 5: Empresa e meio ambiente

Não há atividade empresarial sem degradação ambiental. Em um nível maior ou menor, toda
atividade humana impõe algum tipo de modificação ao meio ambiente. No caso das atividades
empresariais, os riscos de dano ao meio ambiente aumentam consideravelmente.

A destruição os recursos naturais não é exclusividade do capitalismo. O dano ambiental não é


privilégio exclusivo das atividades humanas dos séculos XX e XXI. Desde sempre o homem agrediu a
natureza. Os fenícios, há mais de 1000 anos atrás, derrubavam suas árvores de cedro para fazer suas
embarcações. Os europeus, na idade média, devastaram paulatinamente suas florestas primárias.

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O problema é que, com a evolução tecnológica havida na Revolução Industrial, com a


industrialização e globalização da economia e o aumento descontrolado da população mundial, os
níveis de agressão ao meio ambiente chegaram à beira do intolerável.

É certo que não há produção sem recursos naturais. A produção industrial de uma dada
sociedade, sendo uma reprodução dos elementos da natureza, vai determinar como o meio
ambiente vai ser apropriado e como vai gerar riqueza.

Os bens ambientais são finitos e o homem está percebendo isso agora. Essa relação homem-
natureza, que durante muitos anos foi marcada pelo distanciamento – como se o homem pudesse
ser apartado da natureza –, necessita urgentemente ser colocada num plano linear e harmônico. Tal
harmonia passa necessariamente pela administração sustentável dos recursos ambientais, eis que
“sem a administração desses recursos, é impossível tê-los acessíveis a todos. Não se pode, portanto,
pensar em economia sem levar em conta o meio ambiente”.

A administração dos recursos ambientais deve ser feita observando-se os princípios do


direito ambiental, em especial os da prevenção e do desenvolvimento sustentável, através de um
sistema de gestão ambiental ativo e eficaz, como forma de minimizar os riscos próprios da atividade
empresarial.

O meio ambiente:

Meio ambiente é tudo aquilo que está à nossa volta. É certo que tal expressão configura um
verdadeiro pleonasmo, pois ambiente já configura a idéia de âmbito que circunda, de modo que seria
desnecessário acrescer o termo meio para completá-lo. De qualquer forma, a língua portuguesa
registra e aceita a expressão meio ambiente, que foi acolhida pela Constituição Federal e pela
legislação ordinária.

A preocupação do ser humano com o meio ambiente é relativamente recente, ganhando


espaço principalmente após a Revolução Industrial ocorrida no final do Século XIX, quando o
desenvolvimento econômico desordenado acarretou uma maior deterioração da qualidade
ambiental, revelando, ainda, a limitação dos recursos ambientais.

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Tal situação acabou por despertar a consciência de diversos seguimentos da população


mundial para a necessidade da preservação ambiental, “já que conscientes de que a má utilização
dos recursos naturais, o desenvolvimento econômico a qualquer preço, o descuido com a
conservação da natureza, poderão acarretar graves conseqüências. Quiçá, até, o fim da espécie
humana”.

A preocupação com a relação entre os seres vivos e o meio ambiente deu origem a uma
ciência específica que recebeu o nome de ecologia. A palavra ecologia deriva da palavra grega oikos,
que significa ‘casa’ ou ‘lugar onde se vive’. Em sentido literal, a ecologia define-se usualmente como
o estudo dos organismos ‘em sua casa’.

A ecologia pode, assim, ser definida como a ciência que estuda as relações dos organismos
ou grupos de organismos vivos com o ambiente em que vivem.

No entanto, o meio ambiente não pode ser considerado como um objeto específico, mas, de
fato, uma relação de interdependência homem-natureza. Não há como se abstrair a natureza da
existência humana. O homem depende da natureza para sobreviver, e isto é fato.

O conceito de meio ambiente, destarte, deverá englobar obrigatoriamente o homem e a


natureza, com todos os seus elementos. É que, para o homem, a natureza apresenta-se de duas
formas: como fonte de recursos econômicos e como fonte de bem-estar. Da natureza o homem
tanto pode extrair recursos e insumos necessários à produção de riquezas, como usufruir momentos
de lazer.

A latente premência do homem em expandir a produção de sua atividade econômica resulta


numa relação de apropriação, passando a natureza a ser tratada exclusivamente como recurso, ou
seja, elemento da produção.

Juridicamente, a definição de meio ambiente encontra-se no art. 3º, inciso I, da Lei da Política
nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938/81):

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Art. 3º. Para os fins previstos nesta lei, entende-se:


I – meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e
biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.

Com base na definição de meio ambiente acima mencionada e nas disposições


constitucionais, podemos classificar o meio ambiente, a ser protegido juridicamente, da seguinte
forma:

a) Meio ambiente natural: É constituído por solo, água, ar atmosférico, flora e fauna. Encontramos
sua previsão constitucional nos inciso I e VII do art. 225:

I – preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e
ecossistemas;
VII – proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função
ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.

b) Meio ambiente artificial. É o espaço urbano construído, constituído pelo conjunto de edificações
e pelos equipamentos públicos. Encontramos previsão constitucional principalmente no art. 182, que
trata da Política Urbana. No plano infraconstitucional, temos o Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001).

c) Meio ambiente do trabalho. É o local onde as pessoas executam suas atividades laborais, cujo
equilíbrio baseia-se na salubridade do meio a na ausência de agentes que comprometem a saúde dos
trabalhadores. Está previsto na Constituição federal, no art. 200, VIII:

Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei:
VIII – colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.

d) Meio ambiente cultural. É integrado pelo patrimônio histórico, artístico, arqueológico,


paisagístico, turístico de um povo. Encontramos previsão constitucional no art. 216, que trata do
Patrimônio Cultural Brasileiro.

Como visto o conceito jurídico de meio ambiente é muito mais amplo do que costumamos
imaginar, atingindo uma gama de fatores que fogem da normal observação do homem médio.

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Princípios constitucionais do direito ambiental:

A Constituição Federal trata do meio ambiente no art. 225:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá- lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e
ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas
à pesquisa e manipulação de material genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem
especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada
qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa
degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem
risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a
preservação do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função
ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.
§ 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de
acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.
§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas
físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os
danos causados.
§ 4º - A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona
Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que
assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.
§ 5º - São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias,
necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.
§ 6º - As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o
que não poderão ser instaladas.

Em face da norma constitucional, é possível enumerar os seguintes princípios:

1 – Princípio do desenvolvimento sustentável:

Estabelecido no caput do art. 225 da Constituição Federal, o princípio do desenvolvimento


sustentável busca conciliar a proteção do meio ambiente com o desenvolvimento socioeconômico
para a melhoria da qualidade de vida do homem.

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O desenvolvimento econômico de uma nação passa necessariamente pela utilização de bens


ambientais, seja como matéria prima na produção industrial (insumo), ou como destinatário dos
dejetos dessa produção (poluição).

O Direito Ambiental não pretende proibir pura e simplesmente o desenvolvimento


econômico, e nem poderia ser diferente, na medida em que ordem econômica nacional é fundada na
livre iniciativa (art. 170 da Constituição Federal).

Entretanto, esse desenvolvimento deve observar alguns fatores de limitação. A livre iniciativa
propagada pela Lei Maior não é aquela de outras épocas, em que vigorava o modelo de liberalismo
econômico e estatal. A livre iniciativa em que se funda a ordem econômica nacional está
condicionada à observação de alguns limites, tais como a valorização do trabalho (caput), a defesa do
consumidor (inciso V), e o meio ambiente (inciso VI).

O conceito de desenvolvimento sustentável apresenta, assim, uma feição conciliatória,


propondo que pode ocorrer o progresso técnico, o desenvolvimento, dentro de parâmetros que
respeitam os limites ambientais ao mesmo tempo em que reafirma a necessidade do crescimento
econômico como condição necessária para a gestão de problemas sociais.

O desenvolvimento econômico implica na utilização de bens ambientais, que são utilizados


como matéria prima. A lei permite a utilização desses bens no desenvolvimento da economia, mas
desde que haja a contrapartida por parte dos empreendedores que é a preservação do meio
ambiente para as presentes e futuras gerações.

Os recursos naturais, os bens ambientais, são finitos. Isso significa que a sua utilização
indiscriminada, sem a preocupação com a sua preservação, irá conduzir à sua extinção. Não se pode
admitir que as atividades empresariais fiquem alheias a essa realidade.

Quem se propõe a desenvolver uma atividade econômica tem, como obrigação legal, a
responsabilidade com a preservação do meio ambiente (responsabilidade socioambiental),
promovendo a “utilização dos recursos naturais e de desfrute do meio ambiente de modo a
satisfazer as necessidades presentes sem comprometer as do futuro”.

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Com isso, se por um lado permite-se o desenvolvimento econômico, por outro se faz
necessário um planejamento (gestão ambiental) para que, de forma sustentável, os recursos
ambientais não se esgotem, impelindo o empresário a buscar soluções triplamente vencedoras, em
termos sociais, econômicos e ecológicos, eliminando, desta forma, o crescimento selvagem obtido ao
custo de elevadas externalidades negativas, tanto sociais quanto ambientais.

2 – Princípio do poluidor-pagador:

Encontramos as bases do princípio do poluidor-pagador no parágrafo 3º do art. 225 da


Constituição Federal.

Uma vez que todos têm direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado (art. 225,
citado, caput), as atividades e as atitudes que causam lesão ao meio ambiente não podem ficar
impunes. Por isso que aquele que polui tem o dever legal de pagar por isso. Essa é a idéia central do
princípio em comento.

O princípio do poluidor-pagador importa na transferência dos custos, normalmente


suportados pela sociedade, referentes à poluição, para que seja pago primeiramente pelo poluidor,
não apenas como forma de reparação do dano, mas com a implementação de medidas preventivas.

A ideia principal contida nesse princípio traduz um preceito de não subvenção, ou seja, de
que o poluidor – e de todos que se beneficiam da poluição, na cadeia de consumo – deve suportar a
totalidade dos custos de prevenção e de luta contra a poluição, sem contar com qualquer tipo de
benefício do poder público (subvenção direta, facilidade ou deduções fiscais para equipamento de
depuração de poluentes, tarifação insuficiente dos serviços públicos etc.). A recuperação e a limpeza
de um bem ambiental natural poluído são, geralmente, suportadas por toda a sociedade, implicando
um custo público, que, em última análise, representa um subsídio ao poluidor. O poluidor tem um
aumento de seus ganhos, de seus lucros, às custas de toda a sociedade. O princípio do poluidor–
pagador busca, exatamente, eliminar ou reduzir tal subsídio a valores insignificantes. Assim, os
custos das externalidades devem ser carreados somente ao poluidor e aos que se beneficiam da
poluição, embutindo-as no preço do produto ou serviço.

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3 – Princípio da prevenção:

Previsto no caput do art. 225 da Constituição, o princípio da prevenção revela a preocupação


com a segurança do meio ambiente, sua manutenção e preservação para que as próximas gerações
possam dele usufruir.

Prevenção vem de prevenir, evitar que aconteça. O princípio da prevenção determina a todos
que se preocupem com a preservação ambiental, evitando que ocorra o dano ambiental. Trata-se de
um princípio de importância impar para o Direito Ambiental, na medida em que os danos ambientais
ocorridos, na grande maioria das vezes, não têm reparação, são irreversíveis, de forma que se torna
impossível retornar ao status quo ante. O objetivo precípuo é evitar que o dano ocorra, que é
preferível a ter que repara-lo após a sua eclosão, eis que o dano ambiental dificilmente é corrigível e
muitas vezes não indenizável.

4 – Princípio da participação:

Previsto no caput do art. 225 da Constituição Federal, o princípio da participação implica no


reconhecimento de que a defesa do meio ambiente incumbe a toda a sociedade, ou seja, ao Estado e
à sociedade civil.

Desta forma, observa-se o dever de uma atuação conjunta entre organizações


ambientalistas, sindicatos, indústrias, comércio, agricultura e tantos outros organismos sociais
comprometidos nessa defesa de preservação. A idéia central é de que, se o bem ambiental é um bem
de uso comum do povo, é o povo, em todas as suas formas de organização, que deve cuidar e decidir
acerca do seu uso. Toda a sociedade deve estar engajada, juntamente com o Poder Público, na
defesa e preservação do meio ambiente.

Ponto 6: Propriedade industrial

No mundo capitalista em que vivemos tudo tem um valor econômico. Assim, as criações do
ser humano, que despertam um interesse econômico, devem ser protegidas, como forma de

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assegurar ao seu criador o direito de explorá-la economicamente. É em razão disso que surge a
proteção à propriedade industrial, como forma de garantir ao criador de um produto ou de uma
marca, a exclusividade na sua exploração durante um determinando período. A lei que regulamenta
a propriedade industrial é a lei nº 9279/96. O órgão responsável é o INPI (Instituto Nacional de
Propriedade Industrial).

Bens da propriedade industrial:

1.) Invenção – criação original do espírito humano


2.) Modelo de utilidade – aperfeiçoamento da invenção
3.) Desenho industrial – alteração da forma de objetos design
4.) Marca – sinal distintivo que identifica direta ou indiretamente produtos ou serviços

1 e 2 são protegidos por patente (carta patente)


3 e 4 são protegidos por registro (certificado)

Extinção do direito industrial

1.) Decurso de prazo:


Patente de invenção: 20 anos do depósito ou 10 anos da concessão, o que ocorrer primeiro – prazo
improrrogável
Patente de modelo de utilidade: 15 anos do depósito ou 7 anos da concessão, o que ocorrer
primeiro – prazo improrrogável
Registro de desenho – 10 anos do depósito, admitidas 3 prorrogações pelo prazo de 5 anos cada
Registro de marca – 10 anos da concessão, prorrogável sucessivamente por iguais períodos.

2.) Caducidade – decorre do abuso ou desuso no exercício do direito industrial


Patente – caduca se o titular não explorar a invenção ou o modelo de utilidade de forma a atender à
demanda.
Registro de marca – caduca pela fluência do prazo de 5 anos sem exploração econômica no Brasil
Registro de design – não caduca

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Pontos 7 e 8: Direito do trabalho

Direito do trabalho

Direito do trabalho é o ramo do direito que cuida das relações de emprego, que envolve, de
um lado, o empregador e, de outro, o empregado. O principal diploma legal que regula a relação de
emprego é a CLT – Consolidação das Leis do Trabalho.

Princípios

O direito do trabalho tem, como base, os seguintes princípios:

1 – princípio da proteção do empregado: o objetivo das leis trabalhistas é proteger o empregado


contra o poder econômico representado pelo capital. O empregado é o elo fraco na relação de
emprego e não tem poder de negociar livremente com o empregador, razão pela qual a lei vai
interferir na autonomia da vontade dos contratantes, procurando restabelecer o equilíbrio na
relação. Em razão do princípio da proteção, outros dois princípios serão invocados:

1.1 – princípio in dúbio pro operário: esse princípio revela que, na interpretação da lei, deve-
se fazê de modo sempre favorável ao empregado. Havendo dúvida ou lacuna na lei, o aplicador deve
fazê em benefício do trabalhador.

1.2 – princípio da aplicação da norma mais benéfica: quando duas ou mais leis ou normas
tratarem do mesmo assunto, aplica-se ao empregado a que lhe for mais benéfica,
independentemente de sua posição hierárquica.

1.3 – princípio da condição mais benéfica: as condições mais benéficas estipuladas em


contrato ou no regulamento interno da empresa serão sempre aplicadas ao trabalhador,
independentemente de haver lei que disponha em sentido diverso.

2 – princípio da irrenunciabilidade de direitos: o trabalhador não pode “abrir mão” seus direitos. Os
direitos trabalhistas são irrenunciáveis e indisponíveis, o que lhes confere importante mecanismo de

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proteção contra a pressão exercida pelo empregador, que muitas vezes, utilizando-se de meios de
coação e aproveitando-se da situação de desespero do desempregado, obriga o trabalhador a dispor
dos direitos assegurados contra a sua vontade.

3 – princípio da primazia da realidade: para o direito do trabalho o que vale é a verdade real. Muitas
vezes, o que consta de um documento não espelha a realidade. O real prevalece sobre o formal,
evitando-se procedimentos fraudatórios praticados pelo empregador.

Relação de emprego

Relação de emprego diferencia-se de relação de trabalho.

Relação de trabalho refere-se a qualquer situação em que uma pessoa natural executa obra
ou serviços para alguém, mediante pagamento. Insere-se nesse contexto o trabalho autônomo, o
trabalho avulso e o trabalho eventual.

Relação de emprego é uma relação de trabalho específica de trabalho subordinado, em que o


trabalhador pode ser conceituado como empregado e está sob a proteção da CLT.

Empregador e empregado

Somente se estará diante de uma relação de emprego quando as partes envolvidas puderem
ser qualificadas como empregador e empregado, nos termos previstos na CLT. O conceito de
empregador encontra-se do art. 2º da CLT:

Art. 2º - Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade
econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço.

É empregador quem contrata, paga os salários e dá ordens. Mas o mais importante é que o
empregador é quem assume os riscos da atividade econômica, que não podem ser repassados ao
trabalhador. O conceito de empregado encontra-se no art. 3º da CLT:

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Art. 3º - Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a
empregador, sob a dependência deste e mediante salário.

Três são os requisitos para configurar a situação de empregado:

Habitualidade – o trabalho desenvolvido não pode ser eventual


Subordinação – é o empregador quem determina o que o trabalhador deve fazer
Remuneração – o trabalho deve ser pago mediante salário

Com a conjugação desses três requisitos pode-se afirmar que determinada pessoa é
empregada, ou seja, exerce trabalho subordinado. Mas se faltar alguns desses elementos, não estará
caracterizado a qualidade de empregado.

Direitos trabalhistas na Constituição Federal

A Constituição Federal, em seu art. 7º, enumera uma série de direitos dos trabalhadores:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição
social:
I - relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei
complementar, que preverá indenização compensatória, dentre outros direitos;
II - seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário;
III - fundo de garantia do tempo de serviço;
IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais
básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte
e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua
vinculação para qualquer fim;
V - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho;
VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo;
VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração variável;
VIII - décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria;
IX - remuneração do trabalho noturno superior à do diurno;
X - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa;
XI - participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente, participação
na gestão da empresa, conforme definido em lei;
XII - salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei;
XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a
compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho;
XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo
negociação coletiva;
XV - repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos;
XVI - remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinqüenta por cento à do normal;
XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal;

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XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias;
XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em lei;
XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei;
XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei;
XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança;
XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei;
XXIV - aposentadoria;
XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em
creches e pré-escolas;
XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho;
XXVII - proteção em face da automação, na forma da lei;
XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este
está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa;
XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos
para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho;
XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de
sexo, idade, cor ou estado civil;
XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador
portador de deficiência;
XXXII - proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual ou entre os profissionais
respectivos;
XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a
menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos;
XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o trabalhador
avulso.

Insalubridade e periculosidade

Atividades insalubres são aquelas que por sua natureza, condição ou método de trabalho
exponham os empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância fixados por lei.
O labor em condições insalubres dá ao trabalhador o direito de receber um adicional no percentual
de 10, 20 ou 40% sobre o valor do salário mínimo, dependendo do grau de insalubridade
(respectivamente mínimo, médio e máximo).

Atividades perigosas são aquelas que exponham a perigo a vida do trabalhador. São
consideradas perigosas as atividades que impliquem contato permanente com inflamáveis ou
explosivos e com energia elétrica, ou atividade de segurança. O adicional de periculosidade é de 30%
sobre o valor do salário do trabalhador.

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