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2º semestre - Resumo Teoria Geral do Direito Civil

Teoria Geral do Direito Civil (Universidade do Porto)

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Pessoas coletivas

*As pessoas coletivas são organizações constituídas por uma coletividade de pessoas ou por
uma massa de bens, dirigidos à realização de interesses comuns ou coletivos, às quais a ordem
jurídica atribui a personalidade jurídica. Organizações integradas essencialmente por pessoas
ou essencialmente por bens, que constituem centros autónomos de relações jurídicas.
*Na categoria de pessoas coletivas encontramos o Estado, os municípios, os distritos, as
freguesias, os institutos públicos, as associações recreativas ou culturais, as fundações, as
sociedades comerciais, etc.

ELEMENTOS DA PESSOA COLETIVA

Substrato
*É um elemento complexo, integrado por vários subelementos, é o elemento de facto, o
conjunto de dados anteriores à outorga da personalidade jurídica.
É o conjunto de elementos da realidade extrajurídica, elevado à qualidade de sujeito jurídico
pelo reconhecimento. Apresenta-se como imprescindível para a existência da pessoa
coletiva.
*Elemento pessoal ou patrimonial: o elemento pessoal verifica-se nas corporações. É a
coletividade de indivíduos que se agrupam para a realização, através de atividades pessoais e
meios materiais, de um escopo de finalidade comum. É o conjunto de associados.
O elemento patrimonial intervém nas fundações. É o complexo de bens que o fundador
afetou à consecução do fim fundacional. Tal massa de bens designa-se habitualmente por
dotação.
Nas corporações só o elemento pessoal é relevante, só ele sendo um componente necessário
do substrato da pessoa coletiva. Pode existir a corporação sem que lhe pertença um
património.
Por sua vez, nas fundações só o elemento patrimonial assume relevo no interior da pessoa
coletiva, estando a atividade pessoal ao serviço da afetação patrimonial. Os beneficiários da
fundação, podendo ser aliás um grupo de contornos indefinidos, têm uma posição passiva
que os coloca fora e para além da fundação. O fundador, cuja vontade fixada nos estatutos
rege a fundação, está igualmente, como tal, fora da fundação e aquém desta.

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*Elemento teleológico: a pessoa coletiva deve prosseguir uma certa finalidade, justamente o
fim ou causa determinante da formação da coletividade social ou da dotação fundacional.
Assim:
a) Deve revestir os requisitos gerais do objeto de qualquer negócio jurídico (art. 280º
CC).
b) Deve ser comum ou coletivo.
c) Deve ser duradouro ou permanente. Não é legítima a exigência deste requisito em
termos da sua falta impedir forçosamente a constituição de uma pessoa coletiva.
*Elemento intencional: trata-se do intento de constituir uma nova pessoa jurídica, distinta
dos associados, do fundador ou dos beneficiários. A exigência deste elemento radica na
circunstância de a constituição duma pessoa coletiva ter na origem um negócio jurídico. Nos
negócios jurídicos os efeitos determinados pela ordem jurídica dependem da existência e do
conteúdo duma vontade correspondente.
*Elemento organizatório: a pessoa coletiva é integrada, igualmente, por uma organização
destinada a introduzir na pluralidade de pessoas e de bens existente uma ordenação
unificadora. Traduz-se num conjunto de preceitos disciplinadores das características e do
funcionamento da pessoa coletiva e na existência de órgãos.
O número e características dos órgãos da pessoa coletiva e a designação dos indivíduos que
os preenchem obedece aos estatutos e, no silêncio destes, à lei.

Reconhecimento
*É o elemento de direito, redutor da dispersão e pluralidade do substrato à unidade, à
qualidade de sujeito de Direito.
Verificado o reconhecimento surge uma nova pessoa jurídica: a pessoa coletiva. Como
sujeito jurídico, a pessoa coletiva torna-se titular de relações jurídicas, designadamente de
relações jurídicas estabelecidas com os associados, os fundadores, os serventuários, os
beneficiários ou terceiros.
*Reconhecimento normativo: derivado automaticamente da lei. Este tipo de reconhecimento
pode ser condicionado ou incondicionado. O condicionado é de caráter global, isto é,
derivado de uma norma jurídica dirigida a uma generalidade de casos. Traduz um grau de
liberdade e facilidade na constituição de pessoas coletivas. A lei formula em geral
determinados pressupostos ou requisitos, que devem acrescer aos elementos caracterizadores
de um substrato e, verificados esses requisitos, a pessoa coletiva é automaticamente

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constituída. Vigora no domínio das sociedades comerciais e civis em forma comercial e das
associações.
É incondicionado se a ordem jurídica atribuir personalidade jurídica de plano, sem mais
exigências, a todo o substrato completo da pessoa coletiva. Vigora nas fundações.
*Reconhecimento individual: traduzido num ato individual e discricionário de uma
autoridade pública que, perante cada caso concreto, personificará ou não o substrato.

CLASSIFICAÇÃO DAS PESSOAS COLETIVAS

Corporações
*São coletividades de pessoas, o seu substrato é integrado por um elemento pessoal. São
constituídas e governadas por um agrupamento de pessoas, que subscrevem originariamente
os estatutos e outorgam no ato constitutivo ou aderem posteriormente à organização.
*Os associados dominam através dos órgãos a vida e o destina da corporação. Visam um fim
próprio dos associados, podendo ser altruístas, e são governadas pela vontade dos associadas.
*São regidas por uma vontade imanente, por uma vontade própria.

Fundações
*Traduz-se numa massa de bens que é destinado a um determinado fim de interesse social.
A essa massa de bens é atribuída personalidade jurídica.
*O seu substrato é integrado por um elemento patrimonial.
*São instituídas por um ato unilateral do fundador de afetação de uma massa de bens a um
dado fim de interesse social. O fundador, no ato de instituição, deve indicar o fim da
fundação e especificar os bens que lhe são destinados, estabelece de uma vez para sempre as
normas disciplinadoras da sua vida e destino.
*Visam um interesse estranho às pessoas que entram a organização fundacional; visam um
interesse do fundador de natureza social e são governadas pela vontade inalterável do
mesmo.
*O código civil de 1966 determina que só poderão obter personalidade jurídica as fundações
cujo fim for de interesse social. Poderia diferir-se a contrario do artigo 157º a possibilidade de
fundações de fins egoístas ou de interesses restrito; todavia, o artigo 188º afasta essa
possibilidade. Não pode ser reconhecida e atribuída personalidade jurídica a uma fundação
que vise realizar o interesse particular de uma pessoa ou de uma família determinada.

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Associações
*São pessoas coletivas de substrato pessoal que não tenham por fim a obtenção de lucros
para distribuir pelos sócios.
*Relativamente às associações surgem nos arts. 167º ss CC. Na base da associação está o
negócio jurídico plurilateral, que, em regra, será realizado mediante escritura pública, sem
prejuízo do disposto em lei especial.
*Este negócio tem um conteúdo obrigatório previsto na lei, é conteúdo do art. 167º CC, que
tem que constar para que a associação adquira personalidade jurídica e a preterição destes
requisitos conduz à nulidade do ato. Com base na regra geral do art. 294º CC.
*A falta de publicidade conduz apenas a que o negócio não produza efeitos (eficácia)
relativamente a terceiros (art. 168º, n.º 3 CC).
*Causas de extinção da associação: extingue-se pela vontade dos associados, no sentido de
lhe pôr fim; por disposição na Lei ou por decisão judicial.

Sociedades
*Cumpre ter presente que só são pessoas jurídicas as sociedades comerciais e as civis em
forma comercial. As sociedades prosseguem uma finalidade económica lucrativa (art. 980º
CC).
*Não se lhes aplicam diretamente as disposições do capítulo do CC sobre as pessoas
coletivas, mas sim as referentes ao contrato de sociedade e as especiais do Código das
Sociedades comerciais.
*Sociedades comerciais: são as que, a mais das notas dos artigo 980º do CC, tenham por
objeto a prática de atos de comércio e adotem o tipo de sociedade em nome coletivo, de
sociedade por quotas, de sociedade anónima, de sociedade em comandita simples ou em
comandita por ações.
*Sociedades civis: não praticam atos de comércio.
a) Sociedades civis em forma comercial (art. 1º, n.º 4 CSC): são comerciantes
aos olhos da lei, têm personalidade jurídica.
b) Sociedades civis simples: não são comerciantes.
*Sociedades em nome coletivo: caracterizam-se pela responsabilidade pessoal e ilimitada
perante os credores sociais, subsidiariamente em relação à sociedade e solidariamente com
os outros sócios (175º/1 do CSC)
*Sociedades por quotas: Os sócios não respondem pelas dívidas da sociedade, mas são
solidariamente responsáveis por todas as entradas convencionadas no contrato social, isto é,

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respondem para com a sociedade pela realização da sua quota e, ainda, solidariamente com
os demais, pelas prestações devidas à sociedade por algum ou alguns dos outros associados
por força da não realização integral das suas quotas. O capital social está dividido em quotas.
*Sociedades anónimas: os sócios estão isentos de responsabilidade pessoal pelas dívidas da
sociedade e os credores sociais só se podem pagar pelos bens sociais. Cada sócio tem a sua
responsabilidade limitada para com a sociedade pelo capital que subscreveu, isto é, pelo
montante das ações respetivas, nada mais tendo a satisfazer, mesmo que os outros sócios
estejam em dívida para com a sociedade.
*Sociedades em comandita: são uma combinação entre os tipos anteriores, pois intervêm
nelas sócios que assumem responsabilidade ilimitada, como os sócios das sociedades em
nome coletivo (sócios comanditados), e sócios que só arriscam o valor das suas entradas,
como os acionistas das sociedades anónimas (sócios comanditários).

Pessoas coletivas de direito público e de direito privado


*São de direito público as pessoas coletivas que disfrutam, em maior ou menor extensão, o
chamado ius imperii, correspondendo-lhe portanto quaisquer direitos de poder público,
quaisquer funções próprias da autoridade estadual. A primeira de todas, a pessoa coletiva
pública por excelência, será o próprio Estado.
*O ius imperri traduz-se na possibilidade de, por via normativa ou através de determinações
concretas, emitir comandos vinculativos, executáveis pela força, sendo caso disso, contra
aqueles a quem são dirigidos.
*As de direito privado são todas as outras.

Tipos de pessoas coletivas de direito privado


*De utilidade pública: são as que se propõem um escopo de interesse público, ainda que,
concretamente, se dirigiam à satisfação de um interesse dos próprios associados ou do
próprio fundador.
a) Pessoas coletivas de fim desinteressado ou altruístico, como as instituições
particulares de solidariedade social. O interesse próprio que os associados ou o
fundador querem satisfazer é de natureza altruística: o interesse em promover certos
interesses de outras pessoas (os beneficiários).
b) Pessoas coletivas de fim interessado ou egoístico, como as associações desportivas.
Serão sempre de tipo corporativo, o escopo visado interessa de modo egoístico aos
próprios associados, mas é tal que ao mesmo tempo interessa à comunidade.

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i. Pessoas coletivas de fim ideal: o objetivo egoístico pode consistir num


interesse de natureza não económica.
ii. Pessoas coletivas de fim económico não lucrativo: como as associações de
defesa do consumidor, associações sindicais, etc.. A pessoa coletiva pretende
conseguir certas vantagens patrimoniais para os seus associados. Finalidade
económica, mas não lucrativa.
*De utilidade particular: são as que têm por objetivo a obtenção de lucro para distribuir entre
os seus componentes.
É o caso das sociedades, dos agrupamentos complementares de empresas, agrupamentos
europeus de interesse económico e as cooperativas.

CAPACIDADE DAS PESSOAS COLETIVAS

Capacidade de gozo
*A capacidade de gozo das pessoas coletivas é um status, inerente à sua existência como
pessoas jurídicas (artigo 67º do CC).
*O artigo 160º/1 do CC diz que estão excetuados do âmbito da capacidade jurídica das
pessoas coletivas as relações jurídicas vedadas por lei ou que sejam inseparáveis da
personalidade singular.
No caso das relações jurídicas vedadas por lei podemos dar como exemplos, o direito de uso
e habitação, a capacidades testamentária ativa, a capacidade para adquirir ou transmitir bens
por sucessão legítima ou legitimária.
No caso das relações inseparáveis da personalidade jurídica são, certas relações familiares,
como casamento, filiação, parentesco, afinidade, etc.
*Resulta a contrario do artigo 160º/1, estarem fora da capacidade de gozo das pessoas
coletivas os direitos e obrigações que não seja necessários ou conveniente à prossecução dos
seus fins. A isto se chama o princípio da especialidade do fim.
*Quando uma pessoa coletiva atua para além da sua capacidade temos a nulidade dos
negócios praticados (294º do CC e artigo 160º).
Se uma pessoa coletiva atuar sistematicamente para além dos fins a que se destina poderemos
estar perante uma hipótese de extinção da pessoa coletiva conforme decorre do artigo 182º/2
b) e 192º/2 b).

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Capacidade de exercício
*À primeira vista parece que as pessoas coletivas não possuem capacidade para o exercício
de direitos.
Tudo depende da natureza do vínculo entre a pessoa coletiva e aquelas pessoas físicas que
procedem em seu nome e no seu interesse: será nexo de verdadeira organicidade, ou de mera
representação? Se se concluir pela organicidade, então as pessoas coletivas possuem
capacidade para o exercício de direitos, pois a relação entre um órgão e o ente em que se
integra é de verdadeira identificação. Se se concluir pela representação, então deve rejeitar-
se a tese de capacidade para o exercício de direitos das pessoas coletivas, pois há autonomia
entre as personalidades jurídicas do representante e do representado.
*A pessoa coletiva precisa de órgãos para exercer os seus direitos e cumprir as suas
obrigações (artigo 163º). Nas duas primeiras hipóteses estamos perante representação
orgânica, representação que resulta da organização interna da pessoa coletiva. Na terceira
hipótese temos representação voluntária (258º e seguintes).
*No que toca à responsabilidade civil extracontratual dos representados pelos atos dos seus
representantes, esta só pode resultar de um comportamento próprio. Como tal não impõem
a lei, nem na representação legal, nem na representação voluntária, aos representados a
obrigação de indemnizar os danos causados a outrem pelos seus representantes, mesmo que
estes tenham sido causados em conexão com as suas funções.

SEDE DA PESSOA COLETIVA


*A designação da sede nos estatutos será quanto às associações obrigatória, quanto às
fundações é exigido a sua menção.

DENOMINAÇÃO SOCIAL
*Corresponde ao nome das pessoas singulares. As pessoas coletivas são conhecidas através
da sua denominação.
*A denominação é importante para individualizar a pessoa coletiva e obedece a uma série de
regras (DL 129/98). Quanto às denominações regem os princípios da verdade, da novidade
e da exclusividade. Isto significa que os elementos que constam de uma denominação social
tem que ser verdadeiros e não podem induzir em erro, as denominações não podem gerar
equívoco quanto à atividade prosseguida.

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RESPONSABILIDADE CIVIL DAS PESSOAS COLETIVAS

Responsabilidade contratual
*As pessoas coletivas devem responder pelos factos dos seus órgãos, agentes ou mandatários
que produzam o inadimplemento de uma obrigação em sentido técnico. É o que resulta do
artigo 165º do CC, aplicável às associações, às fundações e também às sociedades.
*O princípio geral no nosso CC, em matéria de responsabilidade civil, encontra-se no artigo
798º. Daqui resulta ser necessário para o surgimento da obrigação de indemnizar que tenha
havido culpa do devedor no não cumprimento, estabelecendo-se no artigo 799º uma
presunção refutável de culpa. Deve verificar-se a culpa dos órgãos ou agentes da pessoa
coletiva pelo inadimplemento da obrigação.
Para existir responsabilidade contratual das pessoas coletivas, é necessário que o contrato,
donde emerge a obrigação infringida, tenha sido celebrado por quem tinha poderes para
vincular a pessoa coletiva em causa.
*O artigo 165º vem dizer que as pessoas coletivas respondem nos mesmos termos que os
comitentes respondem pelos atos ou omissões dos comissários. Desde que o
inadimplemento tenha sido culposo e dele resultem danos, o ente coletivo responde para
com o credor. É o que resulta do artigo 800º. O artigo 500º aplica-se em virtude de o
inadimplemento da obrigação se dever sempre considerar como tendo ocorrido no exercício
da função que lhe foi confiada.

Responsabilidade extracontratual
*Consagrada expressamente no artigo 165º para os atos praticados por órgãos, agentes ou
mandatários.
*O artigo 165º remete para responsabilidade dos comitentes por atos dos seus comitidos.
Tal responsabilidade consta do artigo 500º.
Para que a pessoa coletiva possa responder, devem verificar-se os seguintes pressupostos:
a) Que sobre o órgão, agente ou mandatário recaia igualmente a obrigação de
indemnizar (500º/1): desde logo que tenha havido culpa da pessoa simples que
praticou o ato ilícito causador do dano. Que o ato tenha causado danos e que estes
estejam em relação de causalidade adequada com aquele;
b) Que o ato danoso tenha sido praticado pelo órgão, agente ou mandatário no exercício
da função que lhe foi confiada. Levanta-se a questão de saber quando se pode
considerar o ato praticado no exercício das funções. A doutrina diz que que o órgão

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ou agente deve ter procedido em tal veste ou qualidade ou ter atuado por causa das
suas funções e não apenas por ocasião delas, e precisa-se que basta que o ato se
integre no quadro geral da respetiva competência.
Por exemplo: haverá responsabilidade da pessoa coletiva se, por caso fortuito ou
culpa, o gerente de uma sociedade ou um motorista, conduzindo uma viatura, em
serviço da sociedade, causam danos a terceiros; mas não já se fazem um desvio no
percurso para tratar de assuntos pessoais, ocorrendo então o acidente, ou se a
utilizam para passear a família.
Por vezes, basta que o ato se integre formalmente nas funções do órgão, mesmo que
tenha sido praticado em vista de um interesse próprio do seu autor, é o que diz o
artigo 500º/2.
*A pessoa coletiva que tiver satisfeito a indeminização ao lesado tem direito de regresso
contra o órgão, agente ou mandatário, podendo exigir-lhe o reembolso de tudo quanto haja
pago, desde que tenha havido culpa deste no plano das relações internas.
*O órgão, agente ou mandatário, desde que tenha satisfeito a indemnização à vitima, pode
exercer a ação de regresso ou recursória contra a pessoa coletiva, se não houve da sua parte
culpa que o responsabilize no plano das relações internas.

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Objeto da relação jurídica

*Fala-se em objeto da relação jurídica para referir o objeto do direito subjetivo que constitui
o lado ativo da mesma relação.
*O direito subjetivo traduz-se num poder atribuído a uma pessoa. Esse poder e essas
faculdades podem, quase sempre, ser exercidos sobre um determinado quid, corpóreo ou
incorpóreo. Esse poder conferem a possibilidade de exercer uma soberania ou domínio sobre
um bem, sobre um objeto.
O objeto de uma relação jurídica é precisamente o quid sobre que incidem os poderes do seu
titular ativo.
* O objeto das relações jurídicas é todo o quid, todo o ente, todo o bem sobre que podem
recair direitos subjetivos.
*O objeto do direito subjetivo não coincide com o seu conteúdo. O objeto é aquilo sobre
que recaem os poderes do titular do direito. O conteúdo é o conjunto dos poderes ou
faculdades que o direito subjetivo comporta.
*Os direitos subjetivos não têm objeto. O exercício destes direitos não se traduz na
incidência de quaisquer poderes ou de qualquer domínio sobre um bem submetido a essa
supremacia. São direitos a uma modificação jurídica.
*Distingue-se entre o objeto mediato e objeto imediato. Esta distinção exprime a diversidade
entre aquilo que diretamente está submetido aos poderes ideais que integram um direito
subjetivo e aquilo que só de uma forma mediata ou indireta, isto é, através de um elemento
mediador, está submetido àqueles poderes.

O QUE PODE SER OBJETO DA RELAÇÃO JURÍDICA

Pessoas
*Tal não significa que exista qualquer ofensa da dignidade da pessoa humana. Estes direitos
sobre outras pessoas têm um conteúdo especial, pois não são direitos subjetivos do tipo
comum, mas antes poderes-deveres ou poderes-funcionais.
*São exemplo o poder paternal e o poder tutelar.

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Prestações
*Nos direitos de crédito o objeto é uma conduta ou ato humano: a prestação. O objeto não
é rigorosamente uma coisas, mas um comportamento do devedor. Por vezes a prestação é o
objeto imediato e a própria coisa será o objeto mediato; noutros casos a prestação é também
o objeto da relação jurídica, não sendo de distinguir entre objeto mediato e imediato.

Coisas materiais ou corpóreas


*Não há duvidas da possibilidade de realidades físicas, carecidas de personalidade jurídica,
serem objeto de direitos subjetivos, é o caso das coisas materiais.
Estes objetos corpóreos devem revestir certos requisitos: existência autónoma, idoneidade
para satisfazer interesses humanos, isto é, devem ser úteis, possibilidade de sujeição jurídica
ao poder exclusivo de uma ou alguns homens, isto é, devem ser aprováveis.

Coisas incorpóreas ou bens imateriais


*Como resultado da aplicação do espirito humano surgem obras artísticas, literárias,
cientificas, intelectuais, invenções industriais, etc.
Estes bens possuem valor patrimonial autónomo, alguns deles estão intimamente ligadas à
personalidade do seu autor, pois ela está refletida na obra criada. Como tal, compreende-se
que o direito reconheça esses bens e tutele os aspetos patrimonial e pessoal apontados.
Tutela-os mediante a atribuição, a titulo de aquisição originária, de direito de autor das obras
em questão.

Próprios direitos
*Tratam-se dos chamados direitos sobre direitos. Como o caso do penhor de direitos;
usufruto de direitos; hipoteca de um direito de superfície, etc.

A própria pessoa
*Uma parte da doutrina contesta a legitimidade da figura dos direitos sobre a própria pessoa.
É inegável que a nossa lei, utilizando a expressão direitos de personalidade, protege os
indivíduos contra qualquer ofensa ilícita ou ameaça de ofensa à personalidade física ou moral.
A figura dos direitos sobre a própria pessoa não é ilógica, nem nos vinculará a consequências
moralmente absurdas, pois tais direitos devem ter-se como irrenunciáveis e insuscetíveis de
limitação voluntária quando esta for contrária à ordem pública.

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COISA
*O artigo 202º do CC define coisa como tudo aquilo que pode ser objeto de relações
jurídicas. Tal definição não se pode considerar rigorosa. Há entes suscetíveis de serem objeto
de relações jurídicas que não são coisas em sentido jurídico. Por exemplo: pessoas, prestações
e modos de ser ou bens da própria personalidade.
*As coisas em sentido jurídico são bens desprovidos de personalidade e não integrados do
conteúdo necessária desta, suscetíveis de constituírem objetos de relações jurídicas.
*Os bens de caráter estático, carecidos de personalidade, só são coisas em sentido jurídico
quando puderes ser objeto de relações jurídicas. Como tal, é importante apresentar algumas
características:
a) Existência autónoma e separada: uma casa é uma coisa, não o sendo todavia cada
uma das pedra ou das paredes que a integram.
b) Possibilidade de apropriação exclusiva por alguém: não são coisas os bens que
escapam ao domínio do ser humano, de qualquer homem, como, por exemplo as
estrelas e os planetas.
c) Aptidão para satisfazer interesses ou necessidades humanas: não são coisas, pois para
nada servem, uma gota de água, um grau de areia, etc.

CLASSIFICAÇÕES DAS COISAS


*Coisas no comércio e coisas fora do comércio: artigo 202º/2 do CC.
*Coisas corpóreas são percetíveis pelos sentidos. As incorpóreas são todas as outras (1303º
do CC).
*Coisas móveis e imóveis: artigos 204º e 205º do CC. É uma distinção privativa das coisas
corpóreas.
Dentro das coisas imóveis podemos distinguir imóveis de per si e imóveis por destinação
(204º/c,d,e).
*O artigo 206º distingue as coisas simples das coisas compostas. Universalidades que podem
ser de facto (conjuntos de coisas tratadas unitariamente) e de direito (conjuntos de direitos
encabeçados pelo mesmo titular, por exemplo uma herança). As universalidades só podem
ser compostas por coisas móveis. Podem ser um conjunto de coisas homogéneo (biblioteca)
ou heterogéneo (recheio de uma casa).
*O artigo 207º distingue entre coisas fungíveis e não fungíveis. É uma classificação com
interesse para o cumprimento das obrigações e para classificação dos negócios. Por exemplo,
A vende a B dez quilos de batata vermelha , o objeto é uma coisa fungível, enquanto existir

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batatas vermelhas A vai conseguir cumprir sempre o contrato. Já se A quer vender a B uma
coisa rara e esta desaparece, estamos perante um coisa não fungível. A empresta a B um
quilo de arroz isto é um mutuo o que significa que B está obrigado a dever no mesmo género,
quantidade e qualidade. Se A empresta a B um telemóvel durante uma semana, B tem que
devolver a coisa emprestada e nas condições em que foi emprestada, não pode devolver um
carro qualquer tem que ser aquele que lhe foi emprestado.
*Coisas divisíveis. Podem ser fracionadas em termos naturalísticos ou por vontade das partes.
Por exemplo, um prédio rústico de dois hectares pode ser dividido em dois prédios de um
hectare. Já um computador não é divisível.
*Coisa acessórias.
*Coisas futuras. Distingue-se entre coisas absolutamente futuras e coisas relativamente
futuras (ver aula prática). Se A compra a B uma pintura que este ainda não pintou trata-se de
uma coisa absolutamente futura. Se A vender a C um quadro que quer comprar a B mas que
ainda não comprou trata-se de coisa relativamente futura. No momento em que A compra
o quadro C torna-se proprietário.
*Frutos: tudo o que a coisa produz periodicamente, sem prejuízo da sua substância.
*Benfeitorias. Não são coisas, são complexos de coisas.
*Coisas que não tem dono: diz respeito apenas a coisas móveis. São suscetíveis de
apropriação por ocupação (1318º e seguintes).

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Facto Jurídico

*É todo o ato humano ou acontecimento natural juridicamente relevantes. A sus relevância


jurídica traduz-se na produção de efeitos jurídicos.

Negócios
jurídicos
Quase negócios
Lícitos
juridicos
Simples atos
Voluntários
juridicos
Juridicamente Operações
Ilícitos
relevantes jurídicas
Factos Involuntários

Neutros

*Os factos neutros são indiferentes para o direito.


Os factos juridicamente relevantes são os únicos que interessam à lei.
*Os factos voluntários resultam da vontade como elemento juridicamente relevante, são
manifestação ou atuação de uma vontade, são ações humanas tratadas pelo direito enquanto
manifestações de vontade.
*Os factos involuntários são estranhos a qualquer processo volitivo, ou porque resultam de
causas de ordem natural ou porque a sua eventual voluntariedade não tem relevância jurídica.
*Os factos ilícitos são contrários à ordem jurídica e por ela reprovados, importam uma
sanção para o seu autor.
*Os factos lícitos são conformes à ordem jurídica e por ela consentidas.
*Os negócios jurídicos são factos voluntários, cujo núcleo essencial é integrado por uma ou
mais declarações de vontade a que o ordenamento atribui efeitos jurídicos concordantes com
o conteúdo das partes, tal como este é objetivamente apercebido. O comportamento de cada
parte aparece exteriormente como um declaração visando certos resultados prático-
empíricos, sob a tutela do ordenamento jurídicos, e os efeitos determinados pela lei são os

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correspondentes aos resultados cuja intenção foi manifestada. Os efeitos do negócio jurídico
produzem-se ex voluntate.
*Os simples atos jurídicos são factos voluntários cujos efeitos se produzem, mesmo que não
tenham sido previstos ou queridos pelos seus autores, embora muitas vezes haja
concordância entre a vontade destes e os referidos efeitos. Os efeitos dos simples atos
jurídicos produzem-se ex lege.
Os quase-negócios jurídicos traduzem-se na manifestação exterior de uma vontade.
As operações jurídicas traduzem-se na efetivação ou realização de um resultado material ou
factual a que a lei liga determinados efeitos jurídicos.

Negócios jurídicos

*Os negócios jurídicos são atos jurídicos constituídos por uma ou mais declarações de
vontade, dirigidas à realização de certos efeitos práticos, com intenção de os alcançar sob
tutela do direito, determinando o ordenamento jurídico a produção dos efeitos jurídicos
conformes à intenção manifestada pelo declarante ou declarantes.
*Em hipóteses excecionais, o negócio jurídico, pode ser constituído por outros elementos,
para além das declarações de vontade, casos em que não basta a declaração de vontade para
a produção de efeitos. A lei exige que junto com estas declarações de vontade concorram
atos materiais, geralmente um ato de entrega, tal acontece nos negócios reais quanto à
constituição. Por exemplo, o comodato do artigo 1129º, se A diz que empresta o carro a B,
temos declarações de vontade mas só temos um comodato quando A efetivamente emprestar
o carro, até ao momento do empréstimo temos apenas uma contrato promessa de comodato.
A importância do negócio jurídico manifesta-se na circunstância de esta figura ser um meio
de auto-ordenação das relações jurídicas de cada sujeito de direito.

RELAÇÃO ENTRE A VONTADE EXTERIORIZADA E OS EFEITOS


JURÍDICOS

Teoria dos efeitos jurídicos


*Os efeitos jurídicos produzidos, tais como a lei os determina, são perfeita e completamente
correspondentes ao conteúdo da vontade das partes. Haveria uma vontade das partes dirigida

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à produção de determinados e precisos efeitos jurídicos. Os próprios efeitos derivados de


normas supletivas resultariam da tácita vontade das partes.
Esta teoria não pode ser aceite porque: se fosse aceite implicaria que só os juristas
completamente informados sobre o ordenamento poderiam celebrar negócio jurídicos. As
partes dos vários negócio não têm uma representação completa e exata de todos os efeitos
que o ordenamento jurídico atribui às suas declarações de vontade.

Teoria dos efeitos práticos


*Veio dizer que a teoria dos efeitos jurídicos não é realista. As partes manifestam apenas uma
vontade de efeitos práticos ou empíricos, normalmente económicos ou sociais, sem caráter
ilícito. A estes efeitos práticos ou empíricos manifestados, faria a lei responder efeitos
jurídicos concordantes.
Também esta teoria não pode ser aceite porque, tal como define o negócio jurídico, este não
se distingue dos compromissos ou convenções celebrados sob império de outros
ordenamentos normativos.

Teoria dos efeitos prático-jurídicos


*Os autores dos negócios jurídicos visam certos resultados práticos ou materiais e querem
realizá-los por via jurídica. A vontade dirigida a efeitos práticos não é a única nem é decisiva.
Há uma intenção dirigida a um determinado efeito económico juridicamente garantido.
Não se trata de uma representação completa dos efeitos jurídicos correspondentes àquela
vontade de efeitos práticos. Basta uma representação global prática dos efeitos jurídicos
imediatos e fundamentais do negócio.

Negócios de pura obsequiosidade


*Falta a intenção de efeitos jurídicos, são promessas ou combinações da vida social, às quais
é estranho o intuito de criar, modificar ou extinguir um vínculo jurídico.
Em caso de dúvidas é a parte interessada em demonstrar a existência do negócio jurídico que
tem o ónus da prova respetivo.

Acordos de cavalheiros
*São combinações sobre matéria que é normalmente objeto de negócios jurídicos, mas que,
excecionalmente, estão desprovidas de intenção de efeitos jurídicos. Falta-lhes a vontade de
efeitos jurídicos.

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Em caso de dúvidas é a parte interessada em demonstrar a inexistência da intenção negocial


que tem o ónus da prova.

ELEMENTOS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS

Elementos essenciais
*São elementos essenciais de todo e qualquer negócio jurídico os requisitos ou condições
gerais de validade de qualquer negócio. São eles a capacidade das partes, a declaração de
vontade sem anomalias e a idoneidade do objeto.
*Pode falar-se dos elementos essenciais de cada negócio típico, são cláusulas que
contradistinguem um certo tipo negocial dos restantes tipos. São as características próprias
de cada modalidade negocial, que a separam tipos vizinhos.

Elementos naturais
*São os efeitos negociais derivados de disposições legais supletivas. Não é necessário que as
partes configurem qualquer cláusula para a produção destes efeitos, podendo, todavia, ser
excluídos por estipulação adrede formulada.

Elementos acidentais
*Cláusulas negociais acessórias, que não são cláusulas que caracterizem o tipo negocial, mas
uma vez incluídas vão ter interferência na produção dos efeitos do negócio e tornam-se
imprescindíveis para que o negócio concreto produza os efeitos a que elas tendem.
*São exemplos de elementos acidentais a condição, o modo, o termo, cláusula penal, cláusula
de juros.

CLASSIFICAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS

Negócio unilateral e bilateral/contrato


*A distinção é estrutural porque o critério que serve de base à distinção é o critério da
estrutura do negócio.
*No negócio unilateral temos uma única declaração de vontade ou várias mas todas no
mesmo sentido, não existem interesses contrapostos. Por exemplo, o testamento, o repúdio
da herança, o ato de instituição de um fundação, a renúncia de uma procuração.

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A eficácia do negócio unilateral não carece da concordância de outrem. Estão sujeitos ao


princípio da tipicidade.
Dentro destes imposta distinguir entre negócios unilaterais receptícios e negócios unilaterais
não receptícios. Nos primeiros, a declaração só é eficaz, se for e quando dirigida e levada ao
conhecimento de certa pessoa, enquanto nos segundos basta a emissão da declaração, sem
ser necessária a sua comunicação.
*No bilateral/contrato há duas ou mais declarações de vontade e que expressam interesses
contrapostos mas que convergem num resultado comum. Por exemplo, um contrato de
compra e venda. Não são a soma de dois negócios unilaterais. É a soma de duas declarações
de vontade.
Levanta-se a questão de saber se se pode considerar que temos um acordo para efeitos de
perfeição de um negócio bilateral ou contrato?
a) A doutrina da aceitação diz que o negócio está perfeito com a aceitação da proposta
pela parte do aceitante;
b) No momento da emissão da aceitação, caso em que o preponente está num lugar e
o aceitante noutro é diferente o momento da aceitação e o momento da expedição
da aceitação. O contrato formar-se-ia quando é expelida a aceitação;
c) Quando a aceitação é recebida pelo preponente;
d) Doutrina da receção, quando o preponente tem conhecimento da aceitação. A nossa
lei adotou no artigo 224º adota esta doutrina. Quando a aceitação é recebida pelo
preponente. A lei não exige que o preponente já conheça a aceitação, o contrato é
concluído no momento em que o preponente teria condições para a conhecer. Por
exemplo, o preponente recebe a carta na caixa do correio e considera-se o contrato
perfeito mesmo que ele só a venha a ler passado 1 semana.
Os negócio bilaterais podem ser unilaterais ou bilaterais. O critério de distinção prende-se
com as obrigações que resultam do contrato. Os contratos unilaterais geram obrigações
apenas para uma das partes (doação e mútuo). Os contratos bilaterais geram obrigações para
ambas as partes, obrigações ligadas entre si por um nexo de causalidade (compra e venda).
Importa ainda referir a figura dos contratos bilaterais imperfeitos: nestes há inicialmente
obrigações para uma das partes, surgindo eventualmente mais tarde obrigações para a outra
parte, em virtude do cumprimento das primeiras e em dados termos. Não há uma relação de
correspetividade entre a obrigação que surge em momento posterior e a obrigação que surge
mais tarde. Por exemplo, alguém presta um serviço de forma gratuita e durante o exercício

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do serviço surgem despesas, quem está a prestar o serviço tem o direito de ser reembolsado
pelas despesas, mas o seu serviço continua a ser prestado de forma gratuita.

Negócios entre vivos e negócios mortis causa


*Os negócio entre vivos destinam-se a produzir efeitos em vida das partes.
A esta categoria pertencem quase todos os negócios jurídicos e na sua disciplina tem grande
importância, por força dos interesses gerais do comércio jurídico, a tutela das expectativas
da parte que se encontra em face da declaração negocial.
*Os negócio mortis causa só produzem efeitos depois da morte da respetiva parte ou de
alguma delas.
São negócios fora do comércio jurídico, no sentido de que, na sua regulamentação, os
interesses do declarante devem prevalecer sobre o interesse na proteção da confiança do
destinatário dos efeitos respetivos.
O testamento é um negócio mortis causa.
O nosso código proíbe os pactos sucessórios ou contratos sucessórios, sob pena de nulidade.
Esta regra comporta exceções, o código considera lícitas certas disposições por morte feitas
em convenção antinupcial.
Quanto às doações por morte, a lei, proibindo-as também estabelece, contudo, que serão
havidas como disposições testamentárias, se tiverem sido observadas as formalidades dos
testamentos.

Negócios consensuais e negócios formais


*Os negócios consensuais são os que podem ser celebrados por quaisquer meios declarativos
aptos a exteriorizar a vontade negocial, porque a lei não impõe uma determinadas roupagem
exterior para o negócio.
*Os negócios formais são aqueles para as quais a lei prescreve a necessidade da observância
de determinada forma.
As partes não os podem realizar por todo e qualquer comportamento declarativo, a
declaração negocial deve, nos negócios formais, realizar-se através de certo tipo de
comportamento declarativo importo por lei.
O princípio geral é o principio da liberdade declarativa, liberdade de forma ou
consensualidade. Quando a lei prescrever uma certa forma, se esta não for observada, a
declaração negocial é nula (artigo 220º).

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Há negócios formais para os quais a lei exige documento autêntico: por exemplo a
constituição de associações (168º) e instituição de fundações por atos entre vivos (185º/3).
Para outros, a lei exige apenas documento particular: como por exemplo no caso da doação
de móveis não acompanhada da tradição da coisa (947º/2) e mútuo de valor superior a 2000
euros e igual ou inferior a 20 000 euros (1143º).

Negócios obrigacionais, reais, familiares e sucessórios


*Os negócios obrigacionais são aqueles em que vigora o princípio da liberdade negocial.
Quanto aos contratos, abrangendo a liberdade de fixação do conteúdo dos contratos típicos,
de celebração dos contratos diferentes dos previstos na lei e de inclusão nestes de quaisquer
cláusulas (405º). Quanto aos negócios unilaterais vigora o princípio da tipicidade (457º).
*Os negócios reais fala-se neles no sentido de negócios com eficácia real. São negócios reais
quanto aos efeitos. Nestes o princípio da liberdade contratual sofre considerável limitação,
derivada do princípio da tipicidade, ou do numerus clausus, visto que não é permitida a
constituição com caráter real, de restrições ao direito de propriedade ou de figuras parcelares
deste direito senão nos casos previstos na lei (1306º).
*Nos negócios familiares importa distinguir entre negócios familiares patrimoniais e
negócios familiares pessoais. Nos patrimoniais, existe, com alguma largueza, a liberdade de
convenção, sofrendo embora restrições. Artigo 1698º.
Nos familiares pessoais, a liberdade contratual está praticamente excluída, podendo apenas
os interessados celebrar ou deixar de celebrar o negócio, mas não podendo fixar-lhe
livremente o conteúdo, nem podendo celebrar contratos diferentes dos previstos na lei.
*Nos negócios sucessórios existe uma forma restrição do princípio da liberdade contratual,
resultantes de algumas normas imperativas do direito das sucessões.

Negócios patrimoniais e negócios pessoais


*Os negócios pessoais são negócios fora do comércio jurídico, isto é, suja disciplina, quanto
a problemas como o da interpretação do negócio jurídico e o da falta de vícios de vontade,
não tem que atender às expectativas dos declaratórios e aos interesses gerais da contratação,
mas apenas à vontade real, psicológica do declarante.
*Nos negócios patrimoniais a tutela da confiança do declaratário e dos interesses do tráfico,
a vontade manifestada ou declarada triunfa sobre a vontade real.

Negócios onerosos e negócios gratuitos

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*Os negócios onerosos pressupõem a atribuições patrimoniais de ambas as partes, existindo,


segundo a perspetiva destas, um nexo de correspetividade entre as referidas atribuições
patrimoniais. Cada uma das partes faz uma atribuição patrimonial que considera retribuída
ou contrabalançada pela atribuição da contraparte.
*Os negócios gratuitos caracterizam-se pela intervenção de uma intenção liberal. Uma parte
tem a intenção, devidamente manifestada, de efetuar uma atribuição patrimonial a favor da
outra, sem contrapartida ou correspetivo.

Contratos comutativos e contratos aleatórios


*Nos contratos aleatórios as partes submetem-se a uma álea, a uma possibilidade de ganhar
ou perder. A onerosidade consiste na circunstância de ambas estarem sujeito ao risco de
perder, embora, no final de contas, só uma venha a ganhar. Pode haver uma prestação
dependendo do facto incerto a determinação de quem realizará, pode haver uma prestação
certa e outra incerta, de maior montante do que aquele, pode haver duas prestações certas
na sua existência, sendo uma delas incerta no seu quantum.
*Nos contratos comutativos as partes sabem, ab initio, quais são os sacrifícios patrimoniais
que o negócio implica.

Negócios parciários
*Uma pessoa promete certa prestação em troca de uma qualquer participação nos proventos
que a contraparte obtenha por força daquela prestação.

Negócios de mera administração e negócios de disposição


*Nos negócios de disposição está em causa a gestão do património, mas são atos que vão
afetar a própria substância do património.
*Nos negócios de mera administração falamos de uma gestão do património limitada.

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Declaração negocial

*Encontra-se regulada nos artigos 217º e seguintes. Trata-se de um verdadeiro elemento do


negócio, uma realidade componente ou constitutiva da estrutura do negócio.
*Define-se como um comportamento que, exteriormente observado, cria a aparência de
exteriorização de um certo conteúdo de vontade negocial, caracterizando, depois, a vontade
negocial como a intenção de realizar certos efeitos práticos, com ânimo de que sejam
juridicamente tutelados e vinculantes.
*A falta de declaração põe em causa a existência do negócio.
*Quem exterioriza um comportamento declarativo é designado de declarante, a pessoa a
quem é dirigido o comportamento declarativo é designado de declarando ou declaratário.
*A declaração pretende ser o instrumento de exteriorização da vontade psicológica do
declarante.
*As declarações de vontade podem decompor-se em dois elementos:
a) Elemento externo: trata-se da declaração propriamente dita, consiste no
comportamento declarativo;
b) Elemento interno: a vontade consiste no querer, na realidade volitiva que
normalmente existirá e coincidirá com o sentido objetivo da declaração.
i. Vontade de ação: consiste na voluntariedade do comportamento
declarativo. Pode faltar a vontade de ação. Tal acontece se uma pessoa,
por um ato reflexo ou distraidamente, sem se aperceber do facto, faz um
gesto e este objetivamente aparece como uma declaração negocial.
ii. Vontade da declaração: consiste em o declarante atribuir ao
comportamento querido o significado de uma declaração negocial. Este
subelemento só esta presente, se o declarante tiver a consciência e a
vontade de que o seu comportamento tenha significado negocial
vinculativo. Pode faltar a vontade de declaração. Por exemplo, uma
pessoa, julgando subscrever uma simples ficha de assinatura para o
arquivo de um banco, assina uma declaração negocial.
iii. Vontade negocial: consiste na vontade de celebrar um negócio jurídico
de conteúdo coincidente com o significado exterior da declaração. É
uma vontade efetiva correspondente ao negócio concreto que apareceu

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exteriormente declarado. Pode haver um desvio da vontade negocial. É


o caso do declarante ter atribuído aos termos da declaração um sentido
diverso do sentido que exteriormente é captado. Por exemplo, uma
pessoa quer comprar a Quinta do Mosteiro e declara querer comprar a
Quinta da Capela por julgar que a Quinta do Mosteiro se chama Quinta
da Capela.

DECLRAÇÃO NEGOCIAL EXPRESSA E DECLARAÇÃO NEGOCIAL TÁCITA


*A declaração é expressa quando feita por palavras, escrito ou qualquer outros meios diretos,
frontais, imediatos de expressão da vontade.
*A declaração é tácita quando do seu conteúdo direto se infere um outro, ação dirigida num
sentido, mas que dela se retira uma vontade negocial.

O valor do silêncio como meio declarativo


*O artigo 218º do CC, estabelece que o silêncio não vale como declaração negocial. Só lhe
caberá tal significado havendo norma legal ou convenção das partes nesse sentido, bem como
na hipótese de um uso prevalente em certo circulo social ou uma prática estabelecida entre
os contraentes legitimar a atribuição de um sentido negocial a um comportamento omissivo.

Declaração negocial presumida


*Casos em que a lei liga a determinado comportamento o significado de exprimir uma
vontade negocial, em certo sentido, podendo ilidir-se tal presunção mediante prova em
contrário. Como exemplo temos o artigo 926º, 2225º, 2187º/2.

Declaração negocial ficta


*Acontece sempre que a um comportamento seja atribuído um significado legal tipicizado,
sem admissão de prova em contrário. Como exemplo temos o artigo 923º/2, 1054º.

PROTESTO E RESERVA
*Emitido certo comportamento declarativo, pode o seu autor recear que lhe seja imputado,
por interpretação, um certo sentido. Para o impedir, o declarante afirma abertamente não ser
esse o seu intuito. A esta contradeclaração dá-se o nome de protesto.
O protesto assume o nome de reserva, quando consiste na declaração de que um ceto
comportamento não significa renúncia a um direito próprio, ou reconhecimento de um

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direito alheio. Por exemplo, a vitima de um acidente de viação recebe certa importância do
causador do acidente, mas declara que isso não significa renúncia a receber o montante total
dos danos que considera mais elevados.

FORMA DA DECLARAÇÃO NEGOCIAL


*Vantagens do formalismo negocial:
a) Assegura uma mais elevada dose de reflexão das partes;
b) Separa os termos definitivos do negócio da fase pré-contratual;
c) Permite uma formulação mais precisa e completa da vontade das partes, facultando
a correspondente assistência especializada;
d) Proporciona um mais elevado grau de certeza sobre a celebração do negócio e os
seus termos;
e) Possibilita uma certa publicidade do ato.
*Desvantagens do formalismo negocial:
a) Redução da fluência e celeridade do comércio jurídico;
b) Eventuais injustiças, derivadas de uma desvinculação posterior de uma parte do
negócio, com fundamento em nulidade por vício da forma.

*Ponderando estas vantagens e desvantagens, o Código Civil no seu artigo 219º estabeleceu
o princípio da liberdade de forma. Considerando, quanto a certos negócios, prevalecem as
vantagens sobre os inconvenientes, admitiu, porém, numerosas e importantes exceções a
esse princípio. As normas excecionais que exigem determinada forma encontram-se
formuladas a propósito da regulamentação especial dos negócios ou atos jurídicos a que a
exigência se refere.
*O formalismo exigível para um certo negócio pode ser imposto pela lei (forma legal) ou
resultar de uma estipulação ou negócio jurídico das partes (forma convencional).
O problema da legitimidade da forma convencional é resolvido no artigo 223º no sentido da
admissibilidade e eficácia dos negócios determinativos da forma.

DECLARAÇÃO EFICAZ

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*A declaração negocial com destinatário ganha eficácia logo que chegue ao seu poder ou é
dele conhecida. As declarações não receptícias tornam-se eficazes logo que a vontade se
manifesta na forma adequada.
*Fala-se da doutrina da receção quanto ao momento da sua conclusão (artigo 224º/1): o
contrato está perfeito quando a resposta, contendo a aceitação, chega à esfera da ação do
preponente, isto é, quando o proponente passa a estar em condições de a conhecer.
*Quanto as declarações não receptícias diz a segunda parte do nº1 do artigo 224º que elas se
tornam eficazes com a exteriorização. Por exemplo, no caso do testamento, basta que a
vontade do testador seja extraditada da forma adequada para que tenhamos um negócio
perfeito.
*A partir do momento em que temos uma proposta e ela se torna eficaz também se torna
irrevogável (artigo 230º). O preponente fica vinculado na medida da sua proposta.
*A morte do declarante não obsta a celebração do contrato a menos que outra fosse a
vontade (artigo 226º). Alguém emite uma proposta negocial e esta chega ao destinatário, no
entanto o preponente morre mas a lei vem dizer que com a chegada da aceitação aos
herdeiros o negócio continua a ser válido. Se morrer o destinatário antes da aceitação chegar
ao preponente a sua morte não afetaria a sua declaração negocial mas com a sua morte a
proposta torna-se ineficaz.
*Recebida a proposta o aceitante pode ter uma de várias atitudes: recusa a proposta, aceita a
proposta ou pode aceitar com modificações. No caso de existirem modificações a aceitação
equivale à rejeição da proposta, ela introduz alterações e não obedece à regra que a aceitação
tem que se efetuar através de um simples sim ou não nos termos da lei 233º. No entanto, se
a modificação for suficientemente precisa converte-se numa nova proposta, o que era
preponente passa a destinatário e o destinatário passa a preponente. Só teremos contrato
quando existir um acordo perfeito relativamente a todos os aspetos essenciais para a
celebração do contrato.
*Quando uma proposta é feita a um número indeterminado de pessoas como por exemplo
um anuncia no jornal, a proposta só valera apenas como um convite a contratar e não como
uma proposta contratual.
*No caso dos convites em rede (Lei do comércio eletrónico 7/2004), para termos em rede
uma proposta contratual diz o artigo 32º desta lei é necessário que ela tenha todos os
elementos necessários para que o contrato fique concluído através da simples receção.
*Caso dos contratos celebrados mediante catálogo, discute-se se serão propostas contratuais
ou meros convites a contratar. Regula-se na lei DL 24/2014, no seu artigo 21º, que se refere

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aos catálogos e diz que para estes sejam propostas contratuais devem conter uma serie de
elementos.
*O artigo 227º refere-se à culpa na formação dos contratos, consagra-se aqui a
responsabilidade pré-contratual. Impõem-se a quem negoceia um contrato uma atuação de
acordo com os princípios da boa fé. O que se diz é que a responsabilidade que daqui advém
pretende colocar o lesado na situação em que estaria se não tivesse encetado aquela
negociação.

INTERPTETAÇÃO DAS DECLRAÇÕES NEGOCIAIS


*As declarações negociais estão sujeitas a uma interpretação. A interpretação é a atividade
dirigida a fixar o sentido e alcance decisivo dos negócios, segundo as respetivas declarações
integradoras. Trata-se de determinar o conteúdo das declarações de vontade e,
consequentemente, os efeitos que o negócio visa produzir, em conformidade com tais
declarações, e virá a produzir se não houver qualquer motivo de invalidade.
*Sobre esta matéria rege o artigo 236º.
*A teoria da interpretação dos negócios jurídicos tem dado lugar à formulação de diversas
teorias:
a) Posições subjetivistas: de acordo com a qual o intérprete deve buscar, através de
todos os meios adequados, a vontade real do declarante. O negócio valerá com o
sentido subjetivo, isto é, como foi querido pelo autor da declaração;
b) Posições objetivistas: posição adotada pelo nosso legislador em que vamos tentar
chegar ao sentido que o declaratário normal colocado na posição concreta do real
declaratário lhe atribuirá. , a isto se chama a teoria da impressão do destinatário.
Considera-se o real declaratário nas condições concretas em que se encontra e
tomam-se em conta os elementos que ele conheceu efetivamente, mais os que uma
pessoa razoável, teria conhecido e figura-se que ele raciocinou sobre essas
circunstâncias como o teria feito um declaratário razoável. Esta teoria é a mais justa
por ser a que dá tutela plena à legitima confiança da pessoa em face de quem é emitida
a declaração.
A prevalência do sentido correspondente à impressão do destinatário é, todavia,
objeto, na lei, de uma limitação, limitação que resulta do artigo 236º/1 in fine, nos
termos da qual para que tal sentido possa revelar-se necessário que seja possível a sua
imputação ao declarante, isto é, que este pudesse razoavelmente contar com ele. Não
se verificando tal coincidência entre o sentido objetivo correspondente à impressão

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do destinatário e um dos sentidos ainda imputáveis ao declarante, a sanção parecer


ser a nulidade do negócio.
*No nº2 do artigo 236º estabelece que, sempre que o declaratário conheça a vontade real do
declarante, é de acordo com ele que vale a declaração emitida. Neste caso, a vontade real,
podendo não coincidir com o sentido objetivo normal, correspondeu à impressão real do
destinatário concreto, seja qual for a causa da descoberta da real intenção do declarante.
*Na perspetiva de Manuel de Andrade na interpretação devemos atender que atender às
circunstâncias que acompanharam a conclusão do negócio, como os termos do negócio, os
interesses que nele estão em jogo, a finalidade prosseguida pelo declarante, as negociações
prévias, as precedentes relações negociais entre as partes, os hábitos de declarante, os usos
da prática, em matéria terminológica, ou de noutra natureza que possa interessar, devendo
prevalecer sobre os usos geris ou especiais.
*A interpretação abrange, também, o problema de saber se há ou não uma declaração
negocial. A resposta afirmativa tem lugar quando assim se concluir do ponto de vista de um
declaratário normal colocado na posição de declaratário real.
*Quando a interpretação leve a um resultado duvidoso, o problema deve ser resolvido nos
termos do artigo 237º: nos negócios gratuitos prevalece o sentido menos gravoso para o
disponente e, nos negócios onerosos, o que conduzir ao maior equilíbrio das prestações.
No entanto, se chegarmos a um contradição insanável entre os vários sentidos possíveis
aplicamos analogicamente o disposto no nº3 do artigo 224º, chegando à conclusão que a
decoração é ineficaz.
*Nas cláusulas contratuais gerais a interpretação deve ser feita contra o autor das condições
gerais preordenadas para uma multiplicidade de contratos individuais e deve aplicar-se as
regras previstas no DL 446/85, de 25 de Outubro.
*Quanto aos testamentos há regras especiais, valoriza-se uma interpretação subjetivista, com
o limite do contexto do testamento (artigo 2187º), o interpretador procura aquela que seria
a vontade do testador. Não há lugar para dar relevância a expectativas de outrem a uma
autorresponsabilidade do testador por deficiências na formulação das suas disposições.
O nº2 do mesmo artigo diz que é admitida prova complementar, isto é, o recurso a
elementos ou circunstâncias estranhas aos termos do testamento, fundadas em qualquer dos
meios de prova geralmente admitidos. Recorre-se a todas as circunstâncias aptas a permitir
concluir qual o sentido da vontade real do testador, e não só aquelas que possam ser
conhecidas de determinadas pessoas. Pode atender-se a projetos anteriores se não se conclui
que a formalização significa uma modificação objetiva, a esclarecimentos orais ou escritos,

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devidamente testemunhados, dados pelo testador a terceiras pessoas, às considerações em


que se baseou, às finalidades visadas, aos motivos, a anotações pessoais do testador e dos
seus papéis.
*Exige-se que a vontade do testador, assim reconstituída, tenha um mínimo de
correspondência, ainda que imperfeita, no contexto (2187º/2).
O artigo 2203º permite corrigir a vontade do testador quando expressa de forma inexata em
forma de erro.

INTEGRAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS


*Artigo 239º apela para a reconstituição da vontade dos interveniente do negócio se eles
tivessem previsto aquela omissão. Pode levar ao afastamento de normas de caráter supletivo:
um determinado ponto não é previsto no negócio o que levaria à aplicação das normas
supletivas mas por integração do negócio podemos chegar à conclusão que as normas
supletivas deverão ser afastadas. Serão chamadas a integração do negócio na medida em que
não se apure uma vontade dos interveniente num sentido distinto.
*O juiz deve afastar-se da vontade hipotética das partes quando a solução, que estas teriam
estipulado, contrariar dos ditames da boa fé; neste caso, deve a declaração ser integrada de
acordo com as referidas exigências da boa fé, isto é, de acordo com o que corresponda à
justiça contratual.

DIVERGÊNCIA ENTRE A VONTADE E A DECLARAÇÃO


*Situações em que há uma expressão defeituosa da vontade e existe uma falta de coincidência
entre o elemento volitivo interno e a sua aparência externa.
Encontram-se reguladas no artigo 240º e seguintes.
*Divergências da vontade intencionais:
a) Simulação: artigo 240º e seguintes;
b) Reserva mental: artigo 244º;
c) Declarações não sérias: artigo 245º.
*Divergências da vontade não intencionais:
a) Divergências forçadas: artigo 246º;
b) Ignoradas:
i. Falta de declaração de consciência da declaração: artigo 246º
ii. Erro obstáculo: artigo 247º.

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*Para resolver estes casos existem diversas teorias:


a) A teoria da vontade propugna a invalidade do negócio desde que se verifique uma
divergência entre a vontade e a declaração e sem necessidade de mais requisitos.
b) Uma teoria em culpa contrahendo: parte da teoria da vontade, mas acrescenta-lhe a
obrigação de indemnizar a cargo do declarante, uma vez anulado o negócio com
fundamento na divergência. A indemnização visa cobrir o chamado interesse da
confiança, isto é, visa repor o declaratário lesado com a invalidade, na situação em
que estaria se não tivesse chegado a concluir o negócio.
c) Teoria da declaração: dá relevo fundamental à declaração. Na sua versão mais
extrema produzem-se certos efeitos mesmo que não tenham sido queridos. Na sua
versão mais moderna, em particular a doutrina da confiança diz que a divergência
entre a vontade real e o sentido objetivo e só produz a invalidade do negócio, se for
conhecida ou cognoscível do declaratário. A doutrina da aparência eficaz propugna
a invalidade, também, para a hipótese de o declaratário, não se apercebendo do
dissídio entre a vontade real e o sentido objetivo, ter, todavia, compreendido um
terceiro sentido.
*O nosso código apresenta uma tendência no sentido declarativista, no sentido de favorecer
a vontade manifestada e de proteger a posição do declaratário. Apesar desta tendência é
preciso analisar caso a caso.

Simulação
*Casos em que o declarante emite uma declaração que não coincidente com a sua vontade
real, por força de um conluio com o declaratário, com a intenção de enganar terceiros. Por
exemplo, A finge vender um prédio a B, por conluio com este, a fim de prejudicar os seus
credores; não querem na realidade vender nem comprar, mas apenas criar uma aparência
danosa para aqueles terceiros.
Para termos um simulação temos que ter um divergência entre a vontade real e a vontade
declarada, temos que ter um acordo entre o declarante e o declaratário e temos que ter o
intuito de enganar terceiros.
*O facto de na simulação se exigir um acordo simulatório não obsta a que possamos ter
hipóteses de simulação nos negócios jurídicos unilaterais, concretamente no domínio dos
testamentos, a própria lei se refere a este caso prevendo as regras no artigo 2200º.

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*Simulação absoluta: as partes fingem celebrar um negócio jurídica e na realidade não querem
nenhum negócio jurídico. Por detrás da vontade simulada não há outra qualquer vontade de
celebrar um negócio.
*Simulação relativa: as partes fingem celebrar um certo negócio jurídico e na realidade
querem um outro negócio jurídico de tipo ou conteúdo diversos. Por detrás do negócio
simulado há um negócio dissimulado.
Na simulação relativa objetiva o que se pretende dissimular é o objeto ou a natureza do
negócio. Na simulação relativa subjetiva quando o que se pretende dissimular é uma das
partes verdadeiras do negócio.
Neste tipo de simulação para além do negócio simulado temos também o negócio
dissimulado. O negócio simulado será sempre nulo e ao negócio dissimulado é aplicado o
regime que se aplicaria se o negócio não tivesse sido concluído com simulação nos termos
do artigo 241º. Ou seja, o negócio dissimulado não é afetado pela simulação.
A hipótese mais comum de simulação relativa subjetiva traduz-se na interposição fictícia de
pessoas. A quer concluir um negócio com B mas por razões obscuras não quer que se saiba
que esta a contratar com B, então celebra um contrato com C e depois C contrata com B. O
negócio entre A e C é nulo porque é simulado. O negócio entre C e B também é nulo por
simulação. O negócio efetivamente querido entre A e B é o negócio dissimulado, para efeitos
de apreciar a validade deste negócio vamos esquecer a simulação dos dois negócios anteriores
e ficamos apenas com um negócio celebrado entre A e B e aplica-se a este negócio o regime
que lhe corresponde, se nada obstar ao negócio é um negócio válido e produz todos os seus
efeitos.
Esta interposição fictícia de pessoas não se confunde com a interposição real de pessoas. Na
interposição real o interposto atua em nome próprio, mas no interesse e por conta de outrem,
por força de um acordo entre ele e um só dos sujeitos.
Na simulação relativa objetiva podem acontecer duas situações distintas: simulação sobre a
natureza do negócio em que o negócio ostensivo ou simulado resulta de uma alteração do
tipo negocial respondente ao negócio dissimulado ou oculto, por exemplo, finge-se uma
venda e quer-se uma doação ou vice-versa; simulação do valor incide sobre o quantum de
prestações estipuladas entre as partes, caso da simulação de preço na compra e venda,
fingindo-se um preço superior ou inferior ao preço real.
Os problemas suscitados pela aplicação aos negócios formais da doutrina geral da simulação
relativa encontram a sua resposta no nº2 do artigo 241º, do qual resulta que, se não se

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cumprirem, no negócio simulado, os requisitos de forma, mesmo que se tenham observado


as formalidades exigidas para o negócio aparente.
Para a validade do negócio real torna-se necessária a observância do formalismo que, para
ele, exige a lei, mesmo que tal forma não seja suficiente para o negócio aparente. Haverá,
portanto, um negócio latente válido, se as partes fizerem constar as declarações, que integram
o seu núcleo essencial, de uma contradeclaração com os requisitos formais exigidos para esse
negócio. A doutrina interpreta o artigo 241º/2 de maneiras diferentes. Uma parte da doutrina
entende que se a forma exigida para o negócio dissimulado se encontra preenchida no
negócio simulado então o negócio dissimulado era formalmente válido. Esta tese possui
muita pouca aceitação porque nos termos do artigo 238º o resultado da interpretação dos
negócios formais deve ter o mínimo de expressão no documento. Um hipótese pacificamente
aceite pela doutrina é os casos de simulação do valor na compra e venda o negócio
dissimulado é formalmente válido porque o preço pode ser determinável, como tal, podemos
ter uma escritura pública sem o preço; porque a nulidade deste negócio dissimulado não
interessa a ninguém.
*Simulação inocente e simulação fraudulenta: resulta do artigo 242º/1, in fine. É inocente se
houve o mero intuito de enganar terceiros, sem os prejudicar e é fraudulenta, se houve o
intuito de prejudicar terceiros ilicitamente ou de contornar qualquer normal da lei.
O regime é idêntico num caso ou noutro, é uma distinção sem grande relevância prática.
*O negócio simulado é nulo (240º/2). Nos testamento o negócio simulado é anulável. No
casamento (1635º/d) diz que o casamento simulado é anulável.
*O artigo 242º/1, atribui legitimidade aos próprios simuladores para a arguição da nulidade
do negócio simulado. Nos termos do artigo 394º é inadmissível a prova testemunhal do
acordo simulatório e do negócio dissimulado, quando invocados pelos simuladores. A prova
de simulação pelos simuladores é assim praticamente restringida à prova documental e à
confissão.
*O artigo 242º/2 prevê uma hipótese que se traduz num alargamento do leque das pessoas
com legitimidade para arguir a nulidade, pessoas essas que se não fosse este nº2 não poderiam
arguir a nulidade. Os herdeiros legitimários podem arguir a nulidade dos atos simulados
praticados pelo de cujus. Estes intervêm como sucessores do simulador e não como terceiro,
salvo quando se trate dos herdeiros legitimários que têm em vista defender as suas legitimas.
O nº2 do referido artigo consagra a doutrina segundo a qual os herdeiros legitimários podem
agir em vida do autor da sucessão contra os negócios por ele simuladamente feitos com o
intuito de os prejudicar.

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*Terceiros para efeitos de invocação da simulação, é, normalmente, definidos de forma a


abranger quaisquer pessoas, titulares de uma relação, jurídica ou praticamente afetada pelo
negócio simulado e que não sejam os próprios simuladores ou os seus herdeiros.
*A nulidade do negócio simulado, pode ser invocada por qualquer interessado e declarada
ex officio.
*Artigo 243º relativamente à inoponibilidade da simulação relativamente a terceiros de boa
fé. Havendo um terceiro que desconheça a simulação ele estará protegido contra a invocação
da nulidade pelos próprios simuladores ou por qualquer outra pessoa que a possa invocar.
Este regime dispensa alguns dos requisitos previstos no regime geral do artigo 291º: inclui
aquisições a titulo oneroso ou gratuito, não exige o registo da aquisição, é aplicável também
a aquisições de bens moveis não sujeitos a registo, dispensa o decurso do prazo previsto no
nº3, protege também os terceiros que, embora culposamente, desconheciam a simulação.
*Importa ainda falar nos negócios de fraude à lei que são muitas vezes confundidos com a
simulação. No caso da fraude pretende-se de uma forma indireta, através de outros negócios,
obter um resultado que a lei não permite, tenta-se contornar a lei com a celebração de outros
negócios. O que distingue a fraude da simulação é que nesta última eles não querem aquilo
que dizem, na fraude as partes efetivamente querem celebrar o negócio ainda que com aquele
negócio visem algo diferente.

Reserva mental
*O declarante emite uma declaração que não coincide com a sua vontade real, sem qualquer
conluio com o declaratário, visando precisamente enganar este. O declarante quer enganar o
declaratário.
*Pode ser conhecida ou desconhecida do declaratário, o artigo 244º/2 refere-se ao
conhecimento da reserva mental pelo declaratário, um efetivo conhecimento.
Se a reserva mental for desconhecida do declaratário ela não afeta a validade da declaração.
Se for conhecida pelo declaratário a declaração é nula de acordo com o artigo 244º/2 in fine,
isto acontece porque se o declaratário conheceu a reserva, não há confiança que mereça
tutela.
*A rigidez desta figura pode, todavia, ser atenuada, nalguns casos, por aplicação da cláusula
geral do abuso de direito prevista no artigo 334º. Excederá, muitas vezes, os limites impostos
pela boa fé ou pelos bons costumes a pretensão do declaratário, no sentido da validade de
uma declaração que o respetivo autor emitiu, com reserva mentar, para trazer vantagem ao

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declaratário. Por exemplo, A declara a B fazer-lhe uma doação ou um empréstimo, sem que
na realidade tenha essa intenção, pois visa apenas dissuadir B do suicídio.

Declaração não séria


*O declarante emite uma declaração que não coincide com a sua vontade real, mas sem o
intuito de enganar qualquer pessoa. A divergência entre a vontade e a declaração, embora
intencional, não visa enganar ninguém, pois procede-se na expectativa de que a falta de
seriedade não passe despercebida. Por exemplo: a professora ao exemplificar um contrato
de doação diz que dá o seu computador a um aluno e o aluno vêm exigir o computador, a
professora estava apenas a emitir uma declaração com intuito pedagógico contando que o
aluno sabia disso.
*A declaração carece de qualquer efeito. Se o declaratário conhecia a falta de seriedade da
declaração ou ela exteriormente percetível, parece nem chegar a haver uma verdadeira
declaração negocial. No nº2 do artigo 245º prevêem-se casos em que a declaração foi feita
em circunstâncias que induzem o declaratário a aceitar justificadamente a sua seriedade.
Neste caso, a solução da declaração carecer de qualquer efeito, corrigida, porém, no interesse
do declaratário, pela responsabilidade negativa ou da confiança, e não a solução da validade
da declaração.

Divergências de vontade não intencionais


*Nas divergências forçadas destaca-se a coação física, o declarante é transformado num
autómato, sendo forçado a dizer ou escrever o que não quer, não através de uma mera
ameaça, mas por força do emprego de uma força física irresistível que o instrumentaliza e
leva a adotar o comportamento. Não há vontade de ação nem vontade de declaração. Tem
como consequência a inexistência da declaração negocial.
*Nas ignoradas temos a falta de consciência de declaração e o erro na declaração.
*Na falta de consciência o declarante não se apercebe que está a fazer uma declaração.
Podemos ter duas situações: o declarante pode nem sequer ter vontade de ação ou ter
vontade de ação mas não ter vontade de declaração. Não havendo vontade de ação
deveremos considerar que temos uma situação de inexistência da declaração. Se há vontade
de ação mas não vontade de emitir uma declaração a consequência é a nulidade. Se o
declarante for, porém, culpado da falta de consciência da declaração, o declaratário tem
direito a ser indemnizado do dano coberto pela chamada responsabilidade pré-negocial.

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*No caso do erro na declaração o declarante sem se aperceber disso emite uma declaração
que não corresponde com a sua vontade. Ele forma a vontade num determinado sentido e
depois emite uma declaração num sentido distinto. Quem esta enganado é o próprio
declarante. O próprio declarante não se apercebe da divergência.
O declarante formula a sua vontade, configura uma determinada declaração e, no momento
da sua emissão diz algo de diferente daquilo que queria dizer. Outra hipótese é o declarante
emitir uma declaração que é a que ele quer emitir mas que tem um sentido diferente daquele
que ele configurava quando formou a vontade. Num caso ou outro temos uma
descontinuidade entre a vontade e a declaração. A vontade está bem formada o problema
surge no momento da expressão dessa vontade. É um problema no elemento externo da
declaração.
A consequência de um erro na declaração é a anulabilidade. Mas não é uma anulabilidade
sem mais, o artigo 247º estabelece um requisito para que a declaração seja anulável, um
requisito que se prende com o declaratário. O declaratário deveria saber que aquele aspeto
sobre o qual incidiu o erro era um aspeto considerado essencial para o declarante, esse aspeto
essencial para o declarante é aquele sobre o qual o erro incidiu. Um aspeto é essencial quando
e decisivo para o declarante (artigo 232º), na falta desse elemento o negócio não é possível
de concluir. O declaratário tem que saber que é um aspeto essencial não precisa de saber que
há um erro. Só verificado este requisito o declarante pode anular o contrato.
Se o declaratário se apercebeu do dissídio entre a vontade real e a declarada e se conheceu a
vontade real do declarante, o negócio valerá de acordo com a vontade real, artigo 236º/2.
Se o declaratário aceitar o negócio como o declarante queria, a anulabilidade fundada em erro
não procede (248º).
Se o declaratário compreendeu um terceiro sentido que não coincide nem como o querido
pelo declarante, nem com o declarado o negócio deve ser anulado (232º).
Dentro do erro na declaração a lei estabelece algumas subespécies no artigo 250º prevê-se o
erro na transmissão da declaração e no artigo 248º o erro no cálculo ou de escrita.
No primeiro caso, o declarante forma a sua vontade e encarrega alguém de transmitir a sua
vontade, mas essa pessoa diz algo diferente daquilo que o declarante queria dizer. Quem se
engana a pessoa encarregada e não o declarante. A lei considera que tudo se passa como se
fosse o própria declarante a enganar-se reconduz-se esta hipótese à hipótese do artigo 247º.
Se houver dolo da pessoa encarregada de transmitir a declaração, está será sempre anulável,
não estando dependido do requisito do artigo 247º, será anulável nos termos gerais do artigo
287º.

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No erro de cálculo ou de escrita, a consequência é a retificação da declaração, estão em causa


erros ostensivos, o legislador não abre hipótese da anulabilidade do negócio porque, no
fundo, entende que o declaratário já não merece ser protegido porque é flagrante a existência
do erro que se revela na escrita ou nas palavras.

VÍCIOS DA VONTADE
*O problema coloca-se ao nível de perturbações no processo formativo da vontade. Se a
vontade não é esclarecia ou foi influenciada por fatores externos dizemos que a vontade esta
viciada.
O problema é anterior à formulação da vontade, surge no processo formativo da vontade.
*A consequência é a anulabilidade do negócio, a lei estabelece requisitos que variam
consoante o vício em causa e consoante os interesses dos intervenientes nos negócios.
*Caso dos negócios usuários previsto no artigo 282º. É anulável, por usura, um negócio
jurídico, quando alguém, explorando a situação de necessidade, inexperiência, ligeireza,
dependência, estado mental ou fraqueza de caráter de outrem, obteve deste, para si ou para
terceiro, a promessa ou concessão de benefícios excessivos ou injustificados.
*Vícios redibitórios são vícios ocultos da coisa. Vícios que transformam a coisa em algo
impróprio para o fim a que se destina ou o seu valor e que se o adquirente soubesse não a
teria adquirido. O legislador não deu autonomia a estes vícios, não nos aparecem
consequências diretas resultantes da coisa ter vícios ocultos. A lei prevê em sede de compra
e venda um regime de compra e venda de coisas defeituosas. Este regime não conduzir
diretamente à invalidade do negócio. Para que o negócio seja anulável é preciso que se
verifiquem os requisitos da anulabilidade por erro.

Erro-vício ou erro sobre os motivos → 252º, 251º e 247º


*Consagrado nos artigo 252º, 251º e 247º.
*O que está em causa é um problema no processo formativo da vontade. O erro recai sobre
o elementos interno da declaração que é a vontade. A declaração negocial está em perfeita
consonância com a vontade, o declarante diz exatamente aquilo que quer dizer. Apesar da
declaração corresponder à vontade, a vontade do declarante seria distinta se o declarante
tivesse formado essa vontade sobre bases corretas e devidamente esclarecido A vontade não
se forma de maneira correta.
*O regime geral deste erro encontra-se previsto no artigo 252º. O erro que incide sobre os
motivos têm que ser um erro determinante, um erro essencial, o erro é de tal forma

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fundamental que se não houvesse erro o negócio não teria sido celebrado. Os erros que são
meramente incidentais, que afetam a formação da vontade, mas não de um modo
determinante, ele não é relevante como um motivo de invalidade do negócio. A faz um
doação a B pensado que B era o filho de um amigo de infância, mais tarde verifica-se que B
é outra pessoa qualquer e não o filho do amigo; este erro é um erro essencial, se ele soubesse
a verdade nunca teria celebrado o negócio.
O artigo 252º diz que, como regra, para que o erro seja relevante é preciso que haja um
acordo das partes no qual elas reconhecem a essencialidade do erro, ou seja, um negócio
jurídico autónomo do qual decorrer o motivo sobre o qual o erro incide e a sua
essencialidade. Como regra geral, o erro que inquina o processo formativo da vontade não é
relevante, para conduzir à invalidade e para ser relevante temos que ter a situação excecional
de haver um acordo sobre a essencialidade daquele motivo. A regra é a irrelevância do erro.
O legislador entendeu como princípio geral que as vicissitudes do processo formativo da
vontade não deviam conduzir o negócio jurídico à invalidade porque são vicissitudes que se
passam num plano psicológico, a declaração de vontade não deixa extravasar os motivos que
levaram a contratar, não se devendo prejudicar os terceiros que contam com o negócio sem
saber os motivos. No entanto, se as partes disserem quais os motivos que os levam a fazer a
celebrar o contrato, e depois se verifica que naquele motivo há um erro o negócio é anulável.
*O legislador faz uma distinção entre diversos motivos, entende que determinados motivos
são mais importantes do que outros. Quando o erro sobre os motivos afeta determinados
aspetos o legislador favorece a anulabilidade. Esses motivos são:
a) Erro sobre o objeto do negócio → 251º, erro quanto à identidade e erro sobre as
qualidades do objeto. O negócio será anulável nos termos previstos no artigo 247º
para o erro-obstáculo, isto é, desse que o declaratário conhecesse ou não devesse
ignorar a essencialidade, para o declarante, do elemento sobre que incidiu o erro. A
lei fala de erro que atinja os motivos determinantes da vontade quando se refira ao
objeto de negócio. Não se faz qualquer delimitação das qualidades do objeto, cuja
suposição errada integre a hipótese do artigo 247º.
b) Erro sobre a pessoa do declaratário → 251º, erro sobre a identidade e o erro sobre
as qualidades. Podemos fazer aqui algumas distinções: o erro sobre o sujeito pode
incidir quer sobre a identidade do declaratário ou sobre as qualidade pessoais do
declaratário. O erro sobre a identidade só conduz a anulabilidade se se queria verificar
uma determina pessoa e aquela pessoa é diferente. Quanto às qualidades podem ser
habilitações profissionais e qualificações. No que toca casamento, existe um regime

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especial consagrado nos artigos 1635º/b) e 1636º, o casamento é anulável por falta
de vontade quando o nevente estava em erro quando à identidade física do outro e
quando recaia sobre qualidade essenciais da pessoa do outro cônjuge e que sem essas
qualidade o casamento não tinha sido celebrado.
Cabe-lhe o mesmo regime correspondente ao erro na declaração.
c) Erro sobre a base negocial → 252º/2, circunstancialismo que rodeou o negócio e
que o declarante pensava que tinha uma determina configuração e afinal não tem.
Circunstâncias tidas como existentes no momento da celebração do negócio e não
circunstâncias projetadas para futuro. A lei diz que estes casos devem ser tratadas da
mesma forma que é tratada a alteração de circunstâncias do negócio. Como tal, temos
uma remissão do artigo 252º/2 para a regra da alteração das circunstâncias do
negócio consagrada no artigo 437º.
O artigo 437º diz que se, excecionalmente, as condições que existam quando se
celebrou o negócio se alterarem existe a possibilidade de modificar ou até resolver o
negócio. Quando alguém contrata existem determinadas circunstâncias que rodeiam
a celebração dos contratos, especialmente nos contratos que se prolongam no tempo,
essas circunstâncias podem alterar-se, este artigo vem dizer em que casos é possível
alterar o contrato. Para ser possível a modificação ou resolução do contrato é preciso
que a alteração seja anormal; que a alteração leve a que o cumprimento da obrigação
afete gravemente o princípio da boa fé e que tais condições não sejam inerentes ao
próprio contrato.
O que esteve na origem da consagração destas hipóteses foram os chamados
coronation cases. Houve a coroação de um rei e estava previsto um desfile de
coroação e várias pessoas arrendaram varandas para assistir à passagem do desfile,
tudo pago a preço exorbitantes. No entanto, o desfile foi cancelado e aqueles que
tinham arrendado os espaços pretendem cobrar os preços e aqueles que não
assistiram ao desfile não queriam pagar porque não tinha existido desfile. Levantava-
se a questão de saber até que ponto aquelas pessoas estariam vinculadas ao
pagamento apesar de ter existido uma alteração das circunstâncias.
No caso do erro, as partes quando celebram um negócio representam uma determina
realidade, posteriormente verificam que essas circunstâncias não existiam. A
diferença entre o erro e alteração das circunstâncias do artigo 437º resido no facto
de no caso do erro pensar-se em circunstâncias anteriores ou contemporâneas ao
negócio; no caso do 437º trata-se de circunstâncias futuras, alterações superviventes

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da realidade. São hipóteses diferentes, mas o legislador entende que devem ser
aplicados os mesmos regimes de validade.
Quando o legislador faz a remissão para o 437º levanta-se a questão de saber se
vamos buscar apenas os requisitos de validade ou também as consequências. No caso
do erro a consequência é a anulabilidade, no 437º é a modificação ou resolução. A
professora entende que se deve apenas ir buscar os requisitos, mantendo-se como
consequência do erro a anulabilidade. Só pode ser resolvido um negócio válido, como
tal a resolução pressupõe a existência de um negócio válido, no caso do erro a
validade é colocada em causa porque existe uma vontade inquinada.
No caso do erro quanto ao futuro, as partes não representam mal as circunstâncias
existentes no momento da celebração do contrato, nem as circunstâncias que se
verificam no momento da celebração do contrato se alteram no futuro. No momento
que celebram o negócio julgam que as circunstâncias se vão alterar no futuro, elas
contratam hoje pensando que amanha vai acontecer determinada coisa, nada
acontece, o erro tem que ver com algo que elas projetam para o futuro e que não se
verifica. Por exemplo, A aluno do curso de Direito em Lisboa pede transferência
para o Porto, e, alguém lhe diz que saíram os resultados da transferências e ele foi
transferido e arrenda um apartamento no Porto, no entanto, era um nome parecido
com o dele e quem o informou enganou-se a ver o resultado. Trata-se de um erro
sobre a base do negócio, ele representa mal a realidade, julga que a sua transferência
foi aceite. No caso de ele achar que vai ser transferido por achar que era a pessoa
com melhores notas e antecipa-se e arrenda o apartamento, já temos um erro quanto
ao futuro, ele representa bem a realidade existente, ele julga que vai ser transferido
no futuro. No caso de erro quanto ao futuro, a doutrina equipara este caso ao da
alteração das circunstâncias do artigo 437º. Estes casos ficariam acauteladas se se
introduzisse no contrato uma condição, “eu contrato se isto vier a acontecer”.

Erro sobre os motivos: regra geral consagrada no artigo 252/1º de acordo com o qual não
afeta a validade do negócio.
Casos especiais: erro sobre o objeto (251º e 247º); erro sobre a pessoa do declaratário (247º
e 251º); erro sobre a base negocial (252º/2). Todos os outros erros que não são
autonomizados, por exemplo, as condições meteorológicas, cabem na regra geral do artigo
252º/1.

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Dolo →253º e 254º


*Temos um constrangimento exterior. É um erro qualificado, no erro o declarante engana-
se, no dolo o declarante é enganado. O legislador considera mais grave uma pessoa ser
engada, sobretudo quando o declarante é enganado pelo declaratário. A lei autonomiza o
dolo como um erro qualificado facilitando a anulabilidade do negócio.
*Nos casos de dolo existe, em simultâneo, uma situação de erro. O dolo é um caso de erro
qualificado.
*A noção de dolo do 253º/1 é uma noção geral de dolo. Não aparece a ilicitude como
fazendo parte da noção de dolo. Enquanto vício da vontade, interesse apenas o dolo ilícito.
O nº2 esclarece quando é que o dolo é ilícito. Se for lícito não tem consequências, para efeitos
de invalidade do negócio interessa apenas o dolo ilícito. O dolo é ilícito ou ilícito na medida
em que o dolo for positivo ou negativo.
*O artigo distingue duas modalidades de dolo: o dolo positivo, quando se induz a pessoa em
erro e o dolo negativo, quando o agente se limita a não esclarecer o declarante, é um deixar
de fazer algo. A atuação dolosa não tem que ser uma atuação positiva, pode ser um
comportamento omissivo.
*Nem todo o dolo é juridicamente relevante, desde logo, o nº2 vem dizer os casos em que o
dolo não é relevante. O legislador faz, novamente, uma distinção entre dolo positivo e
negativo. Quanto ao positivo, na norma apela-se a conceitos indeterminados, que há que
completar no caso concreto, saber em cada caso o que é legítimo e usual. Quanto ao dolo
negativo só constituirá dolo ilícito quando exista um dever de elucidar, por força da lei, de
estipulação negocial ou das conceções dominantes no comércio jurídico.
*Dolo inocente e dolo fraudulento: no primeiro há um mérito intuito enganatório, enquanto
no segundo há o intuito ou a consciência de prejudicar.
*O artigo 254º, apresenta como consequência do dolo a anulabilidade. No caso do dolo de
declaratário como motivo de anulação, deve tratar-se de um dolus malus (253º/2); deve ser
essencial ou determinante, embora o dolo incidental também possa vir a conduzir à anulação;
existência no decetor da intenção ou consciência de induzir ou manter em erro. A
consequência da anulabilidade verificar-se-á ainda que que o dolo seja bilateral, temos um
comportamento doloso de ambas as partes, A engana B e B engana A, o dolo de um não
apaga o dolo do outro, temos dois fundamentos autónomos para arguir a anulabilidade. Os
dois dolos não se autoexcluem enquanto fundamento de anulabilidade.

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Anulabilidade sem mais sempre que o dolo provier do declaratário. É um regime que
favorece muito mais a anulabilidade, se o declarante está em erro porque enganado pelo
declaratário o negócio é anulável sem mais.
*No caso de o dolo ser gerado pelo comportamento de um terceiro, vale o nº2 do artigo
254º. Nestes casos a lei distingue dois casos: se o dolo provier de um terceiro para o negócio
ser anulável exige-se que o declaratário tenha conhecimento do dolo, temos simultaneamente
dolo do declaratário se ele conhece o dolo de terceiro ele terá um dever de esclarecer o
declarante; se o declaratário desconhece a situação, a posição dele já é tutelada, a declaração
negocial será válida, poderá é sempre ser anulável com fundamento em erro.
Se o terceiro que induziu em erro o declarante adquiriu alguma vantagem como o seu dolo
temos uma anulabilidade parcial relativamente a essa parte do negócio. Por exemplo, o
terceiro que agiu dolosamente, não sendo o declaratário, foi um intermediário e ganhou um
comissão com o negócio, a lei diz que esta vantagem será anulável. O negócio em si não é
prejudicado, na medida em que o declaratário não conheça esse dolo.
Os terceiros, para efeitos do 254º, são todos aqueles que não estiverem envolvidos na
conclusão do negócio, nem como parte nem como representante do declaratário ou como
auxiliar, todo aquele que seja alheio ao negócio. Se, por exemplo, o dolo provier de um
representante do declaratário, vamos considerar como dolo do declaratário e não como dolo
de um terceiro.
*Relativamente ao dolo, não temos um regime especial em sede de direito de família,
nomeadamente em sede de casamento, como acontecia no erro.

Coação moral → 255º e 256º


*Temos falta de liberdade exterior para a formação da vontade.
*O nº1 do 255º apresenta uma noção de coação, aparece o requisito da ilicitude, a coação
implica a ilicitude. Trata-se de uma pressão psicológica que irá determinar uma vontade
negocial e, portanto, o coagido não tem liberdade exterior, mas, ainda assim, o coagido pode
optar entre sujeitar-se ao mal com o qual é ameaçado ou imitir a declaração negocial. Imite
a declaração negocial num determinado sentido quando cede à ameaça que lhe é feita.
Na coação moral a vontade declarada corresponde à vontade formada pelo declarante, mas
o processo formativo da vontade é que é condicionado pelo medo de uma ameaça ilicita. Ele
só quer aquilo que está a declarar porque não quis sujeitar-se ao mal com o qual foi ameaçado
O coagido é um colaborador consciente com o coator, é um colaborador voluntário na sua
própria lesão.

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*Quando a lei diz ameaça ilicita, a ilicitude poderá dizer respeito ao fim com que se é
ameaçado ou ao meio utilizado na ameaça. O mal com que se é ameaçado pode ser em si um
ato ilícito, mas poderá não ser um ato ilícito e o meio utilizado é que é ilícito. A ilicitude não
tem que estar no resultado da ameaça, pode estar na própria ameaça.
No entanto, a lei tem o cuidado de esclarecer no nº3, que não consistiu ameaça os casos em
que a ameaça se traduz num simples exercício de um direito, por exemplo, o caso em que o
credor diz ao devedor que se ele não pagar irá propor uma ação judicial. Já não seria exercício
normal de um direito se o credor ameaçar que se o devedor não pagar 3 vezes mais do que
aquilo que deve ira propor uma ação.
Também não constitui coação moral o tumor reverencial, por exemplo, casos em que o
inferior hierárquico obedece às ordens do seu superior com medo.
*O nº2 do 255º diz que ameaça pode incidir sobre aspetos diferentes, a honra, a pessoa ou a
fazendo (aspetos patrimoniais). A ameaça não tem que ser do declarante ou de terceiro. A lei
não distingue consoante o mal incida sobre o declarante ou sob a pessoa de um terceiro.
*As consequências do coação moral são a anulabilidade do negócio sem mais, nos termos
do 256º. É preciso que a declaração seja determinada por coação, requisito da essencialidade.
É anulável ainda que provenha de terceiros, mas relativamente à coação de terceiro temos
dois requisitos adicionais para que exista anulabilidade: se o mal com que o declarante for
ameaçada for grave e seja justificado o receio da sua consumação.
*O nº3 do 255º consagra expressamente o princípio, segundo o qual, o temor reverencial
não constitui coação, sendo, assim, irrelevante como motivo determinante da vontade.
*Em qualquer dos casos, o coagido é um colaborador voluntário do seu próprio mal. A
declaração corresponde à vontade, o processo formativo da vontade é que está inquinado.

Incapacidade acidental → 257º


*Trata-se de um desvio no processo formativo da vontade em relação às circunstâncias
normais do seu processo deliberativo.
*No artigo 257º prescreve-se a anulabilidade, desde que se verifique um requisito destinado
à tutela da confiança do declaratário: a notoriedade ou o conhecimento da perturbação
psíquica. O requisito da notoriedade significa a cognoscibilidade por uma pessoa média,
colocada na posição concreta do declaratário.

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Estado de necessidade → 282º


*Situação de receio ou temor gerada por um grave perigo que determina o necessitado a
celebrar um negócio para superar o perigo em que se encontra. A situação pode ser resultado
de um facto natural ou de um facto humano.
*Se o Estado de necessidade for ocasionado por um facto humano, aplica-se o regime do
artigo 282º, anulabilidade do negócio subordinada aos requisitos do mesmo artigo. A lei
permite que exista uma modificação do negócio nos termos do 283º. Se for uma situação em
que a contraparte tem um dever de auxilio naquele estado de necessidades devemos
considerar que a consequência será a nulidade porque o negócio será contrário à ordem
pública.

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Representação

*Representação traduz-se na prática de um ato jurídico em nome de outrem, para na esfera


desse outrem se produzirem os respetivos efeitos → 258º e seguintes.
Alguém que é parte do negócio faz-se substituir por uma pessoa que irá emitir uma
declaração de vontade em sua vez, sendo que os efeitos da declaração se produzem de
imediato na esfera jurídica do representado.
*Os poderes de representação podem resultar diretamente da lei ou podem ser atribuídos
por um ato voluntário pelo representado ao representante. Assim, distinguimos entre
representação legal e representação voluntária. No caso da representação legal ela vai reger-
se de acordo com as regras do instituto no qual se insere, por exemplo, no caso das
responsabilidades parentais regem os artigo 1878º a 1882º. Consoante o caso de
representação legal em causa aplicamos as regras do instituto respetivo.
*No entanto, na parte geral do CC, temos algumas regras gerais que se aplicam a todos os
casos de representação.
No 258º e seguintes temos regras gerais relativas a todos os casos de interpretação e depois
aparecem as regras especiais de representação voluntária.
*Não há contradição entre a representação e o princípio da autonomia privada. A
representação voluntária não contradiz o princípio da autonomia privada, ao invés, traduz
um alargamento das possibilidades contidas na referida autonomia. Não há contradição
porque as possibilidades de atuação jurídico-negocial própria não são restringidas pelo facto
de ter passado a outrem uma procuração. Por outro lado, o negócio do representante com
podere é um aprofundamento coerente da autonomia privada, também, na medida em que
os poderes representativos assentam numa manifestação e vontade do representado.
*Para existir representação basta que o negócio seja concluído em nome do representado,
não sendo já necessário, que o seja no interesse do representado.

REGRAS GERAIS → 258 E SEGUINTES


*Se tivermos um negócio jurídico celebrado pelo representante em nome do representado,
se ele se mantiver dentro dos poderes que lhe competem , os efeitos jurídicos do negócio
produzem-se diretamente na esfera do representado. Quem intervêm no negócio é um, mas
os efeitos produzem-se na esfera de outrem, porque aquele que atua, atua em nome de outra
pessoa. Quando se diz que alguém atua em nome de outra pessoa não significa que este tenha

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obrigatoriamente uma posição ativa, pode ter uma posição passiva, pode emitir a proposta
negocial ou receber a proposta que é dirigida ao representante.
*O representante distingue-se do núncio. Este ultimo é menos que um representante, é
alguém que é encarregado de transmitir uma declaração negocial, o seu papel é muito mais
limitado, quem formula a declaração negocial é a pessoa evolvida no negócio, o núncio
apenas transmite a declaração já formulada. No caso da representação é o próprio
representante que formula a vontade.
Se A não nomear B como representante, A formula a declaração e manda transmitir, no
entanto, B que é apenas núncio, formula uma declaração própria e emite a C, ele aqui atua
como representante, embora uma representação sem poderes. Isto significa que para
sabermos se é núncio ou representante temos que ver qual o comportamento dele no caso
em concreto.
O núncio exige-se que tenha capacidade da transmitir a declaração negocial, mas,
relativamente, ao negócio nem precisará de perceber os termos do negócio. Não é necessária
capacidade de exercício do núncio.
*O representante também se distingue do mandatário, o contrato de mandato é aquele pelo
qual alguém encarrega outrem de praticar atos jurídicos por sua conta (artigo 1157º), aqui o
mandatário atua em nome próprio por conta de outrem. A representação coloca-se num
outro plano, não é sequer um contrato, é a hipótese de alguém se fazer substituir por outrem
na formulação e emissão de uma declaração negocial e, pode aplicar-se a todos os contratos
(salvo disposição legal em contrário). Por exemplo, no casamento é possível a representação,
mas a lei não permite que os dois noventas se façam substituir por procurador no casamento;
nos casos de compra e venda já é admitido o procurador para ambos os lados.
No mandato o que é característico é a atuação por contra de outra pessoas, as repercussões
económicas produzem-se na esfera jurídica do mandante, os efeitos jurídicos produzem-se
na esfera do mandatário, por exemplo, na compra e venda quem aparece no contrato como
comprador é o mandatário o que implica que o mandatário tenha que transmitir os efeitos
para a esfera do mandante.
O mandato por ser celebrado por representação, neste caso, o mandatário atua por conta do
mandante e em nome do mandante, os efeitos já se produzem diretamente na esfera do
mandante. Acontece muitas vezes no caso dos advogados, um advogado é um mandatário e
pode ter poderes de representação.
O mandato sem representação continua a existir para os casos em que aquele que está
interessado no negócio não quer que se saiba que ele é o interessado.

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*Se o representante é que emite a declaração negocial, compreende-se que o artigo 259º diga
que é na sua pessoa que se deve verificar, para efeitos de anulabilidade, os erros de vontade.
É a declaração do representante que terá que ser analisada para perceber se há divergência
entre a declaração e a vontade. O nº2 do mesmo artigo, diz que no caso de má fé do
representado esta não aproveita da boa fé do representante, a boa fé do representante não
afeta a má fé do representado, bastava que o representado escolhesse um representado de
boa fé para que deixasse de estar de boa fé.
*O artigo 260º refere-se ao caso de o destinatário poder exigir do contraparte que ele faça
prova dos seus poderes antes de celebrar o negócio, quem contrata com alguém que se
intitula representante pode, num determinado prazo, exigir a prova dos poderes.
*Se o negócio esta vedado para o representante, estará vedado para o representante. A
nomeação de um representante não suprime a vedação do negócio ao representante, sob
pena de se contornar facilmente a lei. Por exemplo, proibição de venda entre pai e filho,
bastaria o pai nomear um representante para pode fazer essa venda. O representante não
pode mais que o representado, os negócio vedados ao representado estão vedados ao
representante.
*No artigo 261º, diz-se que é anulável o negócio consigo mesmo. Esta norma existe por
razões de transparência, com vista a evitar conflitos de interesse. Por exemplo, A nomeia B
como seu representante e A quer comprar uma pintura de um determinado pintor, no caso
de B, ele próprio, ser proprietário da pintura, a lei trata este negócio como um negócio
consigo mesmo, existiria um conflito de interesses por parte de B, enquanto vendedor está
interessado a vender ao preço mais alto e, enquanto representante, a conseguir o melhor
negócio para o representado. Estes negócios são anuláveis, mesmo que B passe os poderes
de representação que lhe foram conferidos a C.

REPRESENTAÇÃO VOLUNTÁRIA
*O negócio que está na sua base é a procuração, a procuração é um negócio jurídico
unilateral, alguém atribui poderes representativos a outra pessoa. A procuração não carece
de forma especial, mas exige que a procuração revista a forma exigida para os negócios que
o procurador vai realizar. Se o procurador tiver poderes para celebrar contrato de compra e
venda de imoveis, a procuração terá de revistir a forma de escritura pública ou documento
particular autenticado.
*A lei não exige para o procurador capacidade de exercício, o procurador não tem que ser
uma pessoa com capacidade de exercício tem que ser alguém com capacidade natural para

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perceber o sentido da sua declaração negocial → 263º. Os menores, interditos e inabilitados


podem ser representantes. Quem tem que ter capacidade de exercício é o representado, na
representação legal é ao contrário, a representação surge para suprir a falta de capacidade de
exercício do representado. O instituto das capacidades de exercício destina-se a proteger o
próprio, neste caso, o incapaz não precisa de proteção porque os efeitos da sua atuação
produzem-se na esfera jurídica do representado, cabe a este munir-se dos representantes que
entende mais competentes.
A capacidade exigida ao procurador afere-se pela natureza do negócio que ele tenha que
celebrar.
Na medida em que a procuração é um negócio jurídico, exige capacidade de exercício de
direitos por parte do representado. Ou seja, a capacidade de se fazer representar por alguém
apenas é possível para as pessoas com capacidade jurídica.
*Poderá vir a existir possibilidade de atribuir poderes representativos para uma eventual
incapacidade futura, a nossa lei ainda não o prevê, mas é algo que se encontra em discussão
na AR. Aqui existe a possibilidade de os poderes representativos serem conferidos na
perspetiva de um dia mais tarde o representado não ter capacidade e poder designar
antecipadamente alguém para o substituir. A questão da representação pode vir a ser alterada
com vista a dar valor à vontade do representado se entretanto se tornar incapacitado, será
um representante com poderes vigiados por um tribunal.
*A procuração extingue-se quando o representante revoga a procuração ou quando o
procurador renuncia à procuração → 265º. Se houver interesse do representante na
atribuição de poderes representativos, para a revogação exige-se acordo do representado, a
menos que exista justa causa. A lei toma em consideração a perspetiva do procurador quando
a procuração é conferida no seu interesse. Na medida em que foram atribuídos poderes ao
procurador, a extinção da procuração pode afetar terceiros, a lei toma estes interesses em
consideração. No artigo 266º, diz-se que as modificações e revogação da procuração
precisam de ser levadas ao conhecimento de terceiros por meios idóneos, sob pena de não
lhe serem oponíveis. Quanto à renuncia da procuração rege o nº2 do mesmo artigo. A lei
distingue claramente as situações consoante a incitava de extinção dos poderes
representativos parta do representado ou do representante. No caso da renúncia, será o
representante que abdica dos poderes representativos e, como tal, a renúncia será um negócio
jurídico unilateral receptício que precisa ser levado ao conhecimento do representado.
Quem se quer fazer valer da revogação da procuração será o representado, terá que provar
que o terceiro tinha conhecimento da revogação da procuração no momento da conclusão

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do negócio. Se o representado não conseguir provar este facto isso significa que, não
obstante a procuração tenha sido revogada, ainda assim tudo se passar como se ela não
tivesse sido revogada, ou seja, os efeitos jurídicos da atuação do representante após a
revogação irão produzir-se diretamente na esfera do representado. Já não temos procuração,
mas como terceiro confiou na existência da procuração os efeitos jurídicos da atuação do ex
representante irão produzir-se na esfera do representado.
Quanto à renúncia da procuração, de iniciativa do procurador, só não será oposta a terceiro
que sem culpa a tenha ignorado, terá que ser o terceiro a provar que ignorava a extinção sem
culpa.
*A procuração pode ser conferida com poderes gerais ou com poderes especiais para um
determinado tipo de negócio. Dizemos que temos uma procuração geral ou uma procuração
especial. Por exemplo, A nomeia B seu procurador para qualquer negocio relativamente aos
seus bens moveis e imóveis, nomeadamente, alineação, administração, etc. Se for uma
procuração geral com este teor ela terá que obedecer à forma que é exigida para os negócios
conferidos na procuração, sob pena de ser nula por falta de forma. A confere a B uma
procuração para o representar na reunião X, que terá lugar no dia Y, é uma procuração
especifica, é apenas para aquela reunião.
*O artigo 264º, diz-nos que o procurador só pode fazer-se substituir por outrem se o
representado o permitir ou se a própria procuração o permitir, trata-se da possibilidade de
subestabelecer noutra pessoa os poderes que lhe foram conferidos, o representante faz-se
substituir por outra pessoa. A substituição não exclui o procurador primitivo, 264º/2, ou
seja, ele continua ter os seus poderes e vamos ter mais um representante daquele
representante, a menos que algo em contrário seja estabelecido na própria procuração.
*O procurador pode munir-se de pessoas que o irão auxiliar na execução da procuração.

Abuso de representação → 269º


*Aqui, o representante atua com poderes de representação, dentro dos limites funcionais dos
poderes de representação, mas abusa conscientemente desses poderes que lhe forma
conferidos. Aparentemente, os negócios celebrados cabem dentro dos poderes conferidos
ao representando, no entanto, há uma desconformidade ao nível dos interesses que estiverem
subjacente à concessão desses poderes. No fundo, temos uma perspetiva muito próxima do
abuso de direito, mas aqui aplicado às situações especificas da representação voluntária.
A confere a B poderes para este vender uma casa de que A é proprietário e B vende a casa
por 100 euros. B é procurador, tem poderes para vender e vende, funcionalmente enquadra-

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se dentro dos poderes conferidos, mas se pensarmos que o preço de mercado são 200 000
mil euros e o procurador vende por 100 aqui teremos uma abuso de representação.
*Já não haverá abuso de representação se o representante é inábil e faz uma mau negócio,
estamos dentro da procuração, simplesmente, aquele procurador foi uma má escolha e o
representado terá que arcar com as consequências.
*Também não será abuso, os casos em que o procurador agindo dentro dos poderes colabora
com a outra parte conscientemente no sentido de prejudicar o representado. Seria um
negócio ofensivo dos bons costumes e portanto o negócio cairia na alçada do artigo 281º e
teria como consequência a nulidade.
*É aplicável o regime da representação sem poderes, com uma diferença. Só se aplica esse
regime se a contraparte conhecia ou devia conhecer o abuso. Se o abuso era conhecido ou
era cognoscível à contraparte temos a ineficácia do negócio relativamente ao representado.
Se a contraparte não conhecia o abuso nem tinha que o conhecer, o negócio produz
cabalmente os seus efeitos na esfera do representado, como se não existisse qualquer abuso.
A contraparte é aos olhos do legislador mais digna de tutela, ela pode ter exigido a prova dos
poderes de representação e constatar que o procurador se encontrava dentro dos poderes de
representação, a contraparte não pode ser surpreendida com a ineficácia do negócio, ela
confia na representação.

Representação sem poderes → 268º


*Temos duas situações: alguém que se intitula procurador, não o sendo, atua em
representação de outrem; sendo procurador para determinados atos, atua em representação
de outrem para atos distintintos daqueles previstos na procuração.
A confere a B poderes de representação no sentido de B arrendar uma casa de que A é
proprietário. B vende a casa. Neste caso, verdadeiramente, temos uma representação sem
poderes, B não tinha poderes para vender a casa de A, apenas tinha poder para arrendar.
*A consequência é a ineficácia do negócio em relação ao representado. O negócio é válido,
mas não é totalmente eficaz. O negócio vai ser ineficaz relativamente a uma pessoa, ao
representado, mas vai ser eficaz relativamente ao representante, ou seja, produz os seus
efeitos na esfera do representante.
Isto não acontece no caso de o negócio ser ratificado pelo representado, se a este lhe interessa
o negócio celebrado sem poderes de representação ele podere ratificar o negócio celebrado.
O negócio produz efeitos na sua esfera jurídica como se tivessem existido poderes de
ratificação. A ratificação está sujeita à forma exigida para a procuração e possui eficácia

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retroativa, tudo se passa como se tivesse existido procuração desde o início, sem prejuízo de
direitos de terceiros. Não se descura os interesses da contraparte, enquanto o negócio não
for ratificado a outra parte tem a faculdade de o rejeitar ou revogar, a não ser que saiba que
não existia poderes de representação. Se revogar o representado já não o pode ratificar. A
contraparte pode ainda estabelecer um prazo, por exemplo, se o representado não o ratificar
no prazo de um mês o negócio é revogado.

Os negócios anuláveis podem ser confirmados, aquele com legitimidade para arguir a
anulabilidade pode concordar com o negócio e confirma o negócio, este torna-se
completamente válidos retroativamente. 288º
A ratificação surge no contexto dos negócios ineficazes, a pessoa em relação a qual o
negócio não produzir efeitos vem chamar o si os efeitos do negócio.

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Elementos acidentais do negócio jurídico

*São aqueles que poderão não constar do negócio, o negócio é perfeito sem a sua existência,
no entanto, na medida em que forem introduzidos no negócio eles irão interferir com a
produção dos efeitos do negócio.

CONDIÇÃO E TERMO
*As partes no negócio podem subordinar o início da produção dos efeitos da produção dos
efeitos ou a cessão dos efeitos do negócio à verificação de uma condição ou à verificação de
um termo.
*Não é necessário que a lei diga expressamente que a eficácia do negócio poderá ficar
dependente de um termo ou de uma condição, na media em que introdução deste género de
cláusulas decorre da liberdade contratual e da autonomia privada.
No entanto, há casos em que a lei o diz expressamente e noutros casos nem o permite. Por
exemplo no artigo 1713º.
*A condição e o termos reportam-se a acontecimentos futuros, a produção de efeitos fica
subordina a determinados acontecimentos futuros. Mas, como uma diferença fundamental,
relativamente à certeza da verificação do acontecimento. Na condição, a verificação do
acontecimento futuro é incerta. No termo, é um acontecimento futuro mas de verificação
certa.

CONDIÇÃO→ 270º
*Condição suspensiva → as partes subordinam o início da produção dos efeitos do negócio
a um acontecimento futuro incerto. Por exemplo, Y diz que se ganhar o euro milhões dá
1000 euros a F
*Condição resolutiva → é a resolução dos efeitos do negócio que fica condicionada a um
evento futuro e incerto. Por exemplo, se entretanto Y ganhar o euro milhões deixa de prestar
serviços contratados com uma empresa.
*Trata-se de uma vontade hipotética, embora atual e efetiva, exteriorizada numa declaração
única e incindível.
*A razão de ser e importância prática da condição é a superação da incerteza objetiva do
futuro, através de uma regulamento de interesses apto a , em qualquer hipótese, realizar a
representação que os sujeitos têm do seu interesse.

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*Falamos em cláusulas inseridas no negócio de acordo com a vontade dos intervenientes


pelo que se distinguem das condições legais.

As condições legais, são os requisitos que a lei exige para que determinado
negócio produza os seus efeitos.

*Condições impróprias → são aquelas que não reúnem todas as qualidades que caracterizam
a condição verdadeira e própria: evento futuro, ao qual está subordinada a eficácia do
negócio; caráter incerto do evento; subordinação resultante da vontade das partes e não
diretamente ex lege.
Manuel de Andrade fala em diversas figuras de condições impróprias:
a) Condições referidas ao passado ou ao presente, visto que o evento condicionante
não é futuro, não existe, portanto, incerteza objetiva, acontece apenas que a
circunstância da verificação ou não verificação está subtraída ao conhecimento das
partes no momento do negócio, os efeitos ou se produzem logo ou não se produzem.
b) Condições necessárias, visto que o evento não é incerto, trata-se antes de um termo
certus ou incertus quando.
c) Condições impossíveis, visto que a não verificação do evento é, desde logo, certa.
d) Condições legais: por exemplo, a condição legal da proeminência do testador em
relação ao herdeiro instituído ou legatário nomeado, sob pena de caducidade da
disposição testamentária.
*O negócio subordinado a uma condição resolutiva suspensiva física ou lealmente impossível
é nulo.
*O negócio que seja subordinado a uma condição resolutiva física ou legalmente impossível,
a condição é tida como não escrita. O negócio produz os seus efeitos como se não tivesse
condição, é expurgado da cláusula que o subordinaria a um acontecimento impossível e o
negócio produz os seus efeitos.
*Certos negócios são incondicionáveis, por razões ligadas ao teor qualitativo dos interesses
respetivos ou por motivos de certeza e segurança jurídica. O CC, expressamente, exclui a
aponibilidade da condição nas seguintes disposições: 1618º/2; 1852º/1; 2054º/1; 848º/2;
2064º; 2323º/2. Devem ter-se, igualmente, por incondicionáveis os negócios unilaterais,
resultantes do exercício de um direito potestativo que atinge a esfera de outrem com uma
eficácia não vantajosa. Trata-se de não permitir a incerteza que resultaria da cláusula
condicional.

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A consequência da aposição de uma condição a um negócio incondicionável é a nulidade do


negócio, tal solução resultará da aplicação analógica do artigo 271º e até genericamente do
294º.
*Na pendência da condição podem as partes no contrato realizar atos de disposição que
incidam sobre o objeto condicional. Neste sentido vai o artigo 274º/1, compreendendo na
sua letra quatro hipóteses diferentes, consoante os atos de disposição sejam praticados pelo
disponente ou pelo adquirente condiciona, e a condição aposta no contrato seja uma
condição resolutiva ou suspensiva. Não existirá uma verdadeira colisão de direitos entre os
subaquirentes do disponente e do alienante condicional na medida em que as posições
jurídicas ativas que cada um adquire em virtude dos respetivos negócios são distintas, sendo
um titular de um verdadeiro direito subjetivo, absoluto, um direito real, ainda que provisório
ou instável, e outro de uma expectativa juridicamente tutelada.

Condição suspensiva e condição resolutiva


*Se a verificação da condição importa a produção dos efeitos do negócio, não tendo estes
lugar de outro modo, trata-se de uma condição suspensiva.
*Se a verificação da condição importa a destruição dos efeitos do negócio, diz-se resolutiva.

Condições potestativas, casuais e mistas


*O critério é o da natureza do evento condicionante, segundo a sua causa produtiva, isto é,
segundo o evento condicionante procede da vontade de uma das parte ou consiste num
acontecimento natural ou de terceiro ou é de caráter misto.

Condição potestativa: A faz uma doação a B, se este o visitar no Brasil, ou se B escrever um


livro.
Condição casual: se não chover, se o donatário falecer sem herdeiros, se se verificar u certo
resultado eleitoral, se um terceiro for ao Brasil.
Condições mistas: se B casar, visto que casar não depende só da sua vontade.

*A condição potestativa é arbitrária se o evento condicionante é um puro querer ou um facto


completamente insignificante ou frívolo (dou-te X se quiseres ou levantares a mão). É não
arbitrária se o evento condicionante não é um puro querer, mas um facto de certa seriedade
ou gravidade em face dos interesses em causa (se fores ao Brasil).
A condição potestativa é a parte creditoris ou a parte debitoris, conforme o evento condicionante
for um ato do credor ou do devedor condicional. A primeira é inútil, a segunda é

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inadmissível. Nos contratos bilaterais, a condição potestativa nunca será, verdadeiramente,


arbitrária, pois o contraente cujo ato funciona como evento condicionante terá ou não direito
à contraprestação consoante a sua atitude, pelo que esta nunca consistirá num puro querer
ou num facto que é indiferente.

Condições possíveis ou impossíveis


*Os conceitos de condição impossível (física ou legalmente) e de condição contrária à lei ou
à ordem pública (ilícita por ilegalidade),ou ofensiva dos bons costumes (ilícita por
imoralidade), resultam claramente das considerações acerta dos requisitos legais do objeto
negocial: sempre que o evento condicionante não possa realizar-se por impossibilidade física
ou legal, ou seja contrário à lei, à ordem pública ou ofensivo dos bons costumes, a condição
respetiva terá a qualificação correspondente.
*Manuel de Andrade diz que podemos ter uma condição que consiste num facto ilícito e
que pode ser lícita, se a cláusula condicional representar um contraestímulo à prática desse
ato, só deixará de assim ser, nesta hipótese, sendo, portanto, nula a condição, se repugnar a
lei ou os bons costumes a ideia de que se pratique tal ato mediante retribuição.
Por outro lado, sendo o evento condicionalmente lícito, pode a condição ser ilícita, por força
do seu nexo com o restante conteúdo do negócio. É o caso das condições restritivas da
liberdade.

Regime geral
* 271º/1 → o negócio subordinado a uma condição ilícita é nulo, a nulidade inquina todo o
negócio e não somente a cláusula condicional ilícita.
*271º/2 → o negócio subordinado a uma condição suspensiva impossível traduz-se na
nulidade total do negócio. No caso de ser uma condição resolutiva impossível produz apenas
a nulidade da cláusula condicional, mantendo-se o restante conteúdo do negócio, tem-se a
condição por não escrita.

Regime especial para as doações e testamentos


*É formulado diretamente para os testamentos no artigo 2230º, mas é aplicável, igualmente,
às doações, em virtude da expressa remissão feita pelo artigo 967º para as regras estabelecidas
em matéria testamentária.
*A condição impossível ou ilícita considera-se, em princípio, não escrita, mantendo-se válida
e eficaz a liberdade testamentária ou inter vivos a que estava aposta.

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No caso das condições impossíveis e ilícitas a validade do testamento e da doação, sem a


condição, pode ser excluída pelo disponente, se a condição for impossível, tendo lugar então
a nulidade total (2230º/1), mas, no caso das condições ilícitas, mantém-se, ainda que o
testador haja declarado o contrário (2230º/2).

Verificação e não verificação da condição → 275º


*Determinado, por interpretação da vontade das partes, qual seja o facto condicionante,
verificar-se-á a condição se tal acontecimento tiver lugar, nos termos do nº1, a certeza de que
a condição se não pode verificar equivale à sua não verificação.
*Nº2 → estabelece uma limitação à doutrina geral, nos casos de sabotagem da condição, isto
é, quando a parte a quem a condição prejudicaria impede a sua verificação contra as regras
da boa fé, ou quando a parte a quem ela beneficiaria a faz produzir contra as referidas regras.
Comporta-se com boa fé quem não se comporta como se pode esperar, segundo o sentido
de contrato, de um contraente que pense com lealdade, não é preciso que o contraente vise
dolosamente a verificação da condição, basta que o que comportamento, de uma forma
reconhecível para ele, não corresponda ao que a outra parte, segundo a boa fé, tem
legitimidade para esperar dele.
*As transformações operadas nas relações jurídicas subjacentes e as aquisições de direitos
correspondentes produzem-se automaticamente , independentemente da vontade das partes
e da sua manifestação judicial ou extrajudicial. Trata-se de um fenómeno que Manuel de
Andrade denominou como eficácia real das condições suspensivas e resolutivas. Verificada
a condição, os atos translativos de direitos reais efetuados pelo transmitente e pelo adquirente
são considerados a non domino, e a domino as transmissões realizadas pelo adquirente ou pelo
alienante, tornando-se eficazes ou ineficazes consoante a modalidade daquela.
Os efeitos translativos/extintivo ou extintivo/restitutivo decorrentes da verificação do
evento futuro e incerto significam no plano da factualidade jurídica a neutralização para o
futuro das consequência ocorridas durante a pendência da condição e a consequente
reconstrução, o mais fiel possível, da situação jurídica que existiria se, à data da celebração
do negócio, se tivessem produzido os efeitos que, na realidade não se verificaram por ter
sido aposta uma condição suspensiva, por um lado, ou o regresso à situação que existiria se
os efeitos, entretanto surgidos não tivessem acontecido caso não fosse aposta no contrato
uma condição resolutiva, por outro.

Efeitos da condição suspensiva

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*Na pendência da condição → enquanto o evento condicionante não se verificou, nem


deixou de se poder verificar. Aposta uma condição suspensiva o disponente condicional,
ainda titular do direito real sobre a coisa do objeto do negócio, poderá aliená-la a um terceiro
condicionalmente, do mesmo modo que o pode fazer o adquirente condicional, tendo em
vista a potencial situação jurídica de que espera encabeçar num futuro incerto. Se este
adquirente condicional alienar a coisa cuja titularidade ainda se encontra na esfera jurídica do
alienante, o novo adquirente ficará na mesma posição em que estava o primeiro adquirente
e a aquisição de ambos dependerá da verificação da condição suspensiva, valendo
plenamente regra do acordo com a qual ninguém pode transmitir mais direitos, ou direitos
mais amplos, de que aqueles de que é titular.
*A posição subjetiva do credor sub conditione consiste numa mera expectativa de aquisição
eventual de um direito, com a correspondente obrigação de outra parte. O devedor que
cumpriu, durante o período da pendência da condição, por supor que o negócio é puro e
simples, ou que a condição já se verificou, possa repetir o indevidamente prestado.
*Quanto aos requisitos pessoais de eficácia do negócio, é relevante apenas o momento da
celebração do negócio e não o da verificação da condição. Esta expectativa obtém já alguma
tutela jurídica. O credor condicional pode praticar atos dispositivos sobre os bens ou direitos
que constituem objeto do negócio condicional, só que esses atos ficarão sem efeito, se a
condição suspensiva não se verificar, as coisas passar-se-ão ao invés com os atos de
disposição do devedor condicional (274º/1). A coisa comprada sob condição suspensiva
poderá ser alienada pelo comprador, mas a alineação só surtirá efeito se se verificar o evento
condicionante.
*O credor condicional pode igualmente praticar atos conservatórios, pendente conditione, tal
possibilidade resulta do artigo 273º. Poderá, igualmente, o futuro crédito ter já garantias
especiais e ser novado incondicionalmente. O adquirente sub conditione pode igualmente fazer
registar o seu direito, o que lhe dará preferência sobre qualquer direito incompatível que
venha a surgir posteriormente sobre os mesmos bens, por ato do devedor condicional.
*O artigo 272º impõem àquele que contrair uma obrigação ou alienar um direito sob
condição suspensiva o dever de agir segundo os ditames da boa fé, isto é, uma correção e
lealdade.
*Pendente conditione, os efeitos do negócio sob condição suspensiva estão em suspenso, não
tendo existência atual. O negócio produz, todavia, dados efeitos provisórios e preparatórios,
na expectativa da produção dos efeitos definitivos.

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A vende a B sobre condição suspensiva, os seus efeitos só se irão verificar aquando do evento
futuro e incerto. Na pendência da condição o proprietário é A porque os efeitos ainda não
se verificaram. B é titular de uma expectativa tutelada. Se A vende a X os efeitos ficam sujeitos
a eficácia ou ineficácia da condição suspensiva do negócio A-B. Se A vende a X, este último
é proprietário. No caso do acontecimento futuro e incerto acontecer o negócio A-B produz
os seus efeitos retroativamente o que significa que os efeitos do negócio A-X se destroem
retroativamente. Se B entretanto tivesse alienado a Y, verificando-se a condição o proprietário
é Y. Não se verificando a condição e constatando-se que não se vai verificar X é o
proprietário.
No caso de A vender a X e não informar da condição suspensiva que têm com B o negócio
não é válido.
No caso de imóvel sujeito a registo, a condição terá que ser registada, se não for registada
tudo se passa como se o negócio não fosse condicionado.

Verificada a condição
*Preenchida a condição suspensiva, o contrato celebrado pendente conditione adquire eficácia
plena e todos os direitos e obrigações que se encontravam em suspenso são postos em
“marcha”, como se o contrato tivesse sido celebrado sem condição: o adquirente condicional
reporta-se proprietário desde o momento da celebração do contrato e não desde o momento
da realização da condição.
*277º/2 e 3 → os atos de administração praticados pelo devedor condicional, na pendência
da condição suspensiva, continuam válidos, mesmo que se verifique a condição, assim como
continua a ter direito aos frutos percebidos medio tempore, bem como aos frutos pendentes,
nos termos estabelecidos em matéria de aquisição de frutos pelo possuidor de boa fé.
*Não verificação da condição → não se produzem os efeitos definitivos a que o negócio
tendia e desaparecem os próprios efeitos provisórios ou preparatórios que tiveram luga medio
tempore.

Efeitos da condição resolutiva


*A situação do devedor sob condição resolutiva é idêntica à do credor no negócio sob
condição suspensiva, pois a condição resolutiva é suspensiva da dissolução do negócio
condicionado.

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*Num contrato subordinado a condição resolutiva, o adquirente e o disponente condicional


gozam de faculdade de alienar o objeto, não podendo em nenhum caso o subadquirente
adquirir mais direitos do que aqueles que existem na esfera jurídica do dans causam. As
vicissitudes da posição jurídica dos transmitentes comunicam-se aos subadquirente, ficando
as respetivas aquisições sujeitas à eficácia ou ineficácia do negócio.
*Verificado o acontecimento futuro e incerto que consubstancia a condição resolutiva, cada
uma das partes é colocada na posição em que estaria se o contrato nunca tivesse sido
produzido os seus efeitos, mesmo relativamente a subaquirentes do proprietário condicional.
*Há, conduto, exceções ao princípio supletivo da retroatividade. Os atos de administração
ordinária praticados pelo credor condicional, enquanto a condição estava pendente, são
válidos e, quanto aos frutos colhidos medio tempore ou pendentes, aplicar-se-ão as disposições
referentes à posse de boa fé.
*No caso de não verificada a condição, os efeitos do negócio consolidam-se, radicando-se,
definitivamente, a posição do credor sub conditione.

A vende a B com condição resolutiva, o negócio produz os seus efeitos, verificado tal
acontecimento futuro e incertos os efeitos do negócio destroem-se retroativamente.
Quando B vende a Y, ele pode alienar sob condição e Y adquire direito sob condição e
torna-se proprietário, mas A também pode alienar sob condição a X. Se a condição
resolutiva se verifica e com a destruição retroativa dos efeitos o proprietário seria X.

Limitações à eficácia ex tunc da verificação da condição


*O princípio da eficácia ex tunc da verificação da condição previsto na nossa lei não é
absoluto mas, desde logo, tendo na sua base a vontade as partes no sentido de fazer reportar
a eficácia do contrato ao momento da sua celebração, será afastado por uma vontade distinta,
que aponte para um outro momento de eficácia. Aquele principio será preterido sempre que
a não retroatividade resultar da natureza do ato, tal como acontece tipicamente nos casos de
contratos de execução continuada ou periódica referidos no artigo 434º/2. O legislador,
aproximou os regimes da verificação da condição resolutiva e da resolução do contrato,
através da remissão expressa que é feita no artigo 277º/1,para este último regime.
*Atendendo ao disposto no artigo 276º e 433º a retroatividade plena não carece de qualquer
declaração expressa, sendi por isso legitimo dizer-se que decorre da vontade presumida de
uma das partes; expresso ou tácito terá de ser o se afastamento.

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*No que toca à disposição do artigo 435º, relativo à aquisição de direitos por terceiro, direitos
conflituantes com os efeitos da destruição retroativa do negócio, esta não encontra paralelo
no regime da condição resolutiva. Nos casos de resolução de um contrato que importa a
transferência de um direito real, os direitos de terceiro entretanto adquiridos são
salvaguardados não sendi arrastados pela necessidade de restituição das prestações já
realizadas.
Excetuam-se do âmbito da proteção de terceiros adquirentes em caso de posterior resolução
do contrato, as hipóteses que resultam da aplicação das regras do registo. Não será protegido
o terceiro adquirente de coisa imóvel ou móvel sujeita a registo que não tenha registado a
sua aquisição antes do registo da ação de resolução.
*Tratando-se de imoveis ou moveis sujeitos a registo, a tutela dos terceiros proporcionada
pelo 435º é diretamente influenciada ou determinada pelo interesse geral de segurança
jurídica em que se funda o registo, pelo que os direitos adquiridos por aqueles não serão
afetados se tiverem registado a sua aquisição antes do registo de ação de resolução como
também não serão prejudicados no caso em que, tendo o registo daquela ação sido anterior,
o seu autor não teve ganho de causa.
*Quanto aos negócios que tenham por objeto bens móveis não sujeitos a registo, na ausência
de uma cláusula de reserva de domínio ou estipulação semelhante, a tutela decorrente do
artigo 435º/1, é, em princípio, plena; contudo essa proteção decorre do facto de aquisição
pelo terceiro ser anterior à declaração de resolução.

TERMO → 278º
*Cláusula acessória típica pela qual a existência ou o exercício dos efeitos de um negócio são
postas na dependência de um acontecimento futuro mas certo, de tal modo que os efeitos
só começam ou se tornam exercitáveis a partir de certo momento ou começam desde logo,
mas cessam a partir de cero momento.
*Termo certo → quando se sabe antecipadamente o momento exato em que se verificará.
Por exemplo, subordinar os efeitos do negócio a uma data do calendário.
*Termo incerto → acontecimento futuro e que sabemos que se vai verificar, mas não
sabemos em que momento. Se se constitui um usufruto até a morte do titular, os efeitos irão
produzir-se até um acontecimento futuro certo, mas incerto quando ao momento, temos um
termo incerto.
*Termo suspensivo ou inicial → se os efeitos do negócio só começam ou só se tornam
exercitáveis a partir de certo acontecimento.

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*Termo extintivo → os efeitos começam desde logo, mas cessam a partir de certo momento.
Determina a extinção dos efeitos do negócio, deixa de produzir efeitos apenas para o futuro,
não há retroatividade.
*Faltando aqui o estado de incerteza característico do negócio condicional, no período da
pendência, pois o acontecimento de que dependem os efeitos do negócio é certo, não se
verifica qualquer retroatividade. Haverá obrigação de proceder segundo a boa fé, a cargo de
uma das partes, a fim de não comprometer a integridade do direito da outra, bem como
poderá a parte interessada praticar atos conservatórios do seu direito → 278º.
*279º → regras quanto à contagem do termo.
*Há negócios em que não é possível introduzir termo, as disposição legais que excluem a
aponibilidade da condição excluem também, em princípio, a aponibilidade de termo → 848º,
1618º/2, 1852º, 2054º/1, 2064º.
Há negócios, no entanto, que não podem ser celebrados a termo, embora admitam cláusula
condicional → 1307º/2, 2243º.
Quanto às consequências da aposição de um termo a um negócio que o não admite, a lei, tal
como com a aposição de condição a um negócio incondicionável, determina ela mesma, por
vezes, a sanção a aplicar, podendo esta consistir na nulidade do negócio ou apenas na
nulidade do termo, mantendo-se válido o resto do negócio. Se a lei for omissa quanto à
sanção a aplicar, parece impor-se a nulidade de todo o negócio, com base no artigo 294º.
*Um contrato em que a questão do termo resolutivo é especialmente sensível é o contrato
de trabalho, regulada em legislação própria. Pode ter termo certo ou incerto, o legislador
regula no código do trabalho as especificidades de um e de outro. A incerteza do termo
coloca em causa a estabilidade económica e social do trabalhador.

MODO
*Cláusula acessória típica, pela qual, nas doações e liberdades testamentárias, o disponente
impõem ao beneficiário da liberdade um encargo, isto é, a obrigação de adotar um certo
comportamento no interesse do disponente, de terceiro ou do próprio beneficiário.
*A cláusula modo só aparece nos negócios com natureza patrimonial e a título gratuito. No
fundo, trata-se de uma declaração de vontade acessória relativamente à declaração principal,
em que a parte que atua com intuitos liberatórios impõem determinados encargos à
contraparte beneficiária dessa transferência a titulo gratuito. Pode ser o encargo de fazer
alguma coisa, pagar uma prestação.

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Em todo o caso é um elemento acidental, mas o modo não afeta a eficácia do negócio. Quer
no termo quer na condição o que estava em causa eram os efeitos do negócio, o modo não
interfere com a eficácia do negócio, este produz os seus efeitos normalmente não obstante a
existência do modo.

A condição suspende mas não obriga, o modo obriga mas não suspende.
A condição resolutiva resolve automaticamente mas não obriga, o modo obriga mas
não resolve automaticamente apenas dá lugar a um direito de pedir a resolução.

*Se a condição é suspensiva não se produzem imediatamente os efeitos do negócio,


mantendo-se o período da pendência até à verificação ou não verificação do evento
condicionante. No caso de modo os efeitos negociais produzem-se imediatamente, podendo,
todavia, vir a ser destruídos, em certas circunstâncias, por força do incumprimento culposo
ou doloso.
*Enquanto o beneficiário, onerado com o encargo modal, pode ser obrigado ao seu
cumprimento, nenhuma obrigação resulta da cláusula condicional.
*O preenchimento da condição resolutiva produz a automática resolução do negócio jurídico
com eficácia retroativa, mesmo em relação a terceiros, o não cumprimento doloso do modo
dá, e só em certas circunstâncias aos disponente aos herdeiros a possibilidade de pedir a
resolução da liberalidade e se eficácia retroativa para com terceiros.
*Doações → 963º a 967º.
*Testamentos → 2244º a 2248º
*O modo ilícito ou impossível considera-se não escrito, chegamos lá porque o artigo 2245º
manda aplicar aos modos contrários à lei, a ordem pública ou ofensivos dos bons costumes
o artigo 2230º. O artigo 967º remete para o artigo 2245º que remete para o artigo 2230º.
*Uma mãe que doa à filha todos os seus bens com a obrigação de ela lhe entregar as rendas
dessas casas, no entanto, as rendas não eram entregues. Se for uma condição resolutiva, a
verificação do acontecimento seria a não entrega das rendas o que leva à resolução
automática do contrato com efeitos retroativo, a proprietária voltaria a ser a mãe. Se for um
modo, este não afeta em nada a validade do negócio, este continua a produzir os seus efeitos
normalmente. Daqui resulta a importância da distinção entre condição e modo.

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*Um modo introduzido numa doação, por exemplo, é uma cláusula acessória típica.
A cláusula modo não descaracteriza o contrato de doação, continuamos a falar num contrato
unilateral que só gera obrigações para uma das partes porque o encargo é diminuto
relativamente à doação recebia. No entanto, se pensarmos que o modo é um encargo de
grande dimensão, este negócio pode ser descaracterizado em termos de doação, um negócio
de doação é um contrato unilateral, se alguém doa a outra pessoa um bem que vale mil euros
e impõem a obrigação de entregar 900 a um familiar, não podemos falar de uma doação.
A cláusula modo pode introduzir a dificuldade de saber se perante um encargo de grande
dimensão continuamos a ter uma doação ou se passamos para o domínio da compra e venda.
*O cumprimento do encargo pode ser judicialmente reclamado pelo doador, pelos seus
herdeiros u por quaisquer interessados. Assim resulta, quanto à doação modal, do artigo 965º
e, quanto aos encargos impostos a herdeiros ou legatários, do artigo 2247º. A obrigação de
cumprir os encargos é, quanto ao donatário, limitada pelo valor do objeto doado (963º/2),
para o testamento, a mesma solução parece fundamentar-se, quanto ao herdeiro onerado, no
artigo 2276º, e resulta claramente, no que toca a encargos impostos aos legatários, do artigo
2267º.
*Para as doações, tenha o encargo valor patrimonial ou moral, parece inferir-se do artigo
966º que o doador ou os seus herdeiros poderão pedir a resolução de toda a doação, apenas
quando, por interpretação do contrato, esse direito lhes seja conferido. Não bastará provar,
por qualquer meio, que a cláusula modal foi causa impulsiva da doação, isto é, que o doador
não a teria feito se soubesse que o inadimplemento teria lugar, é necessário que o direito de
resolução lhe seja conferido pelo contrato e, portanto, corresponda a uma vontade real
suscetível de se desentranhar a sua eficácia em sede interpretativa.
*Para os testamentos resulta do artigo 2248º que qualquer interessado pode pedir a resolução
da disposição testamentária, com fundamento em não cumprimento do encargo, havendo
cláusula testamentária nesse sentido, ou se tiver alguma expressão no testamento a
consideração de eu o cumprimento do encargo foi a causa impulsiva da liberalidade. O direito
de resolução não pode ser exercido a todo o tempo, pois caduca passados cinco anos sobre
a mora no cumprimento do encargo ou vinte sobre a abertura da sucessão.

CLÁUSULA PENAL
*Estipulação em que as partes convencionam antecipadamente uma determinada prestação,
normalmente uma quantia em dinheiro, que o devedor terá de satisfazer ao credor em caso
de não cumprimento, ou de não cumprimento perfeito da obrigação.

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*É uma cláusula do contrato, dele fazendo parte desde a sua celebração, mas nada impede
que seja convencionada posteriormente, desde que antes da verificação do facto constitutivo
de responsabilidade.
*Em sentido estrito, a cláusula penal, terá uma natureza hibrida, por um lado cumpre função
indemnizatória, por outro terá uma função sancionatória no sentido se funcionar como
estimulo ao cumprimento. Constituindo uma forma indemnizatória ou de liquidação prévia
do dano, segundo a estimativa dos próprios contraentes, superam-se assim dificuldades e
incertezas várias, sobretudo de prova do dano e da sua extensão.
Em circunstâncias normais e na ausência de qualquer cláusula penal, o credor que pretenda
ser indemnizado dos prejuízos resultantes da violação de contrato terá de fazer prova, através
da ação judicial competente, dos prejuízos sofridos. Existindo uma cláusula penal, o credor
deixa de ter de fazer prova, sendo o montante da indemnização aquele em que as partes
tiverem previamente acordado. Supera-se, assim, a incerteza dos contraentes quanto à
avaliação judicial da indemnização, conhecendo-se de antemão as consequências que advirão
de um incumprimento do contrato e evitando-se litígios judiciais sobre o montante do dano.
Enquanto função sancionatória, exerce pressão sobre o devedor em ordem à execução
correta do contrato, sobretudo quando a pena é de montante elevado. A cláusula penal será
um incentivo ao cumprimento tanto maior quanto mais elevado for o seu montante,
revestindo-se esta função de particular importância sobretudo tratando-se de obrigações de
prestação de facto infungível.
*Cláusula penal meramente indemnizatória → as partes visam liquidar antecipadamente, de
modo ne varietur, o dano futuro. Acordando-se o montante indemnizatório, as vantagens e
inconvenientes que daí poderão advir são partilhadas pelos dois contraentes: ambos
conhecem, de antemão, as consequências de um eventual incumprimento e um e outro se
submetem ao risco de o prejuízo efetivo ser consideravelmente menor ou maior do que a
soma prevista. A pena é estipulada como substituto da indemnização, pelo que o acordo
vincula ambas as partes ao montante predeterminado, sendo este o único exigível a título de
indemnização. Esta cláusula destina-se a liquidar o dano, naturalmente que o devedor só terá
de pagar a soma preestabelecida caso seja responsável, o que não sucederá provando ele a
sua falta de culpa. A mesma também não será devida provando o devedor a inexistência de
qualquer dano.
*Cláusula penal puramente coercitiva → é acordada como um plus, como algo que acresce à
execução especifica da prestação ou à indemnização pelo não cumprimento. Funciona como
uma alternativa ao cumprimento, o devedor ou opta pelo cumprimento ou sabe que irá ter

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que realizar aquela prestação. Ainda que não haja nenhum dano resultante do incumprimento
a cláusula penal será sempre devida, porque não acresce à realização da prestação é uma
alternativa à realização da prestação.
*Quando se fala em cláusula penal podemos estar a falar de figuras que cumprem funções
diferente e com natureza jurídica diferente, não temos um modelo único de cláusula penal.
*O nosso CC ao estipular o regime da cláusula penal, artigo 810º e seguintes, está a pensar
num cláusula penal que cumpre funções indemnizatórias. Este regime poderá não ser
adequado para uma cláusula penal que cumpre funções diferentes, neste caso temos que
aplicar este regime com cuidado, porque vamos ter normas que não são adequadas,
nomeadamente o artigo 811º.
*A cláusula penal é acessória da obrigação principal, pelo que as vicissitudes desta se
refletirão na cláusula penal. Assim, se a obrigação principal for nula também o será a clausula
penal → 810º/2.
A invalidade da cláusula penal não prejudica a obrigação principal. A extinção da obrigação
principal leva a extinção da cláusula penal.
*São cláusulas de grande importância prática, na medida em que as partes antecipadamente
conhecem as consequências do incumprimento.
*Apesar da cláusula resultar de acordo das partes, a lei prevê a possibilidade de ela ser
alterada. O artigo 812º prevê um hipótese de redução equitativa de qualquer tipo de cláusula
penal, uma redução judicial tendo em conta um juízo de equidade sempre que se verifique
que a cláusula é manifestamente excessiva. Se a cláusula penal é excessiva ela mantém-se
intocável, o legislador só se preocupou com cláusulas penais manifestamente excessivas. Há
que ver em cada caso o que é excessivo e manifestamente excessivo de acordo com juízos
de equidade. A ideia nunca é que a cláusula penal seja reduzida para existir equivalência entre
o valor dos prejuízos e o valor da cláusula, a cláusula penal pode ser superior ao valor dos
prejuízos. Se é superior aos danos continua a ser a não ser que seja manifestamente excessiva,
o tribunal pode baixar até ela se tornar excessiva .
*Um problema que se podia levantar prende-se com a hipótese contrária, que o artigo 812º
não resolve, é saber se num caso de uma cláusula penal manifestamente diminuta um tribunal
poderia elevar essa cláusula penal. Os prejuízos são enormes e temos uma cláusula penal de
valor insignificante. Parece que não, esta intervenção do artigo 812º é excecional parecendo
que não se admitiria a intervenção em sentido contrário ao previsto. Um cláusula diminuta
pode é funcionar como uma cláusula de limitação da responsabilidade.

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*NOTA: se a cláusula penal tiver sido acordada através de cláusulas contratuais gerais, ou
num contrato de adesão, haverá que ter em conta o regime fixado pelo DL 446/85, artigos
19º/c) e 22º/c).

810º/1 → vale apenas para a cláusula penal de função indemnizatória.

811º/2 e 3 → vale apenas para a cláusula penal de função indemnizatória


CLÁUSULAS LIMITATIVAS E DE EXCLUSÃO DA RESPONSABILIDADE
*Cláusulas limitativas da responsabilidade→ são estipulações através das quais os
contraentes, no momento da celebração do contrato, ou posteriormente, desde que antes da
verificação do facto gerador de responsabilidade, acordam em limitar, de alguma forma, a
responsabilidade do devedor pelo não cumprimento, cumprimento defeituoso ou mora das
obrigações assumidas. Pode traduzir-se na definição de um valor máximo acordado pelos
contraentes como limite que a indemnização não poderá ultrapassar. As partes
convencionam que a indemnização não pode ir além de certo montante. Trata-se de
estabelecer um teto, prevenindo-se as partes contra danos avultados.
*Cláusula de exclusão da responsabilidade → visa atenuar a indemnização e excluir a
responsabilidade do devedor. Se o devedor prova que o incumprimento não lhe é imputável
ele não responderá.
*São cláusulas que surgem no campo contratual, mas também no âmbito da responsabilidade
extracontratual.
*809º → com base neste artigo, a doutrina, tradicionalmente, entendia que as cláusulas de
exclusão ou limitação da responsabilidade seriam nulas. Um cláusula da exclusão da
responsabilidade transformaria a obrigação do devedor numa obrigação natural porque em
caso de incumprimento não haveriam consequências, o devedor cumpria se queria e se não
quisesse não cumpria. Quanto às cláusula limitativas já se permitia que a sanção devida em
caso de incumprimento fosse atenuada desde que não fosse atenuada ao ponto de ser uma
sanção irrisória, isso equivaleria à exclusão da responsabilidade. No entanto, alguma doutrina
vieram trazer um novo entendimento no sentido de que quando a obrigação de devedor não
é cumprida ainda assim o credor tem outros remédios à sua disposição, ele poderá utilizar os
meios coercivos e resolver o contrato. A lei dá uma serie de possibilidades para além da
indemnização, se a indemnização for excluída ou reduzida a obrigarão do devedor não se
transforma numa obrigação natural porque o credor possui meios coercitivos para levar o

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devedor a comprimir. A obrigação continua a ser jurídica. Apenas a indemnização será


afastada e nunca poderá ser afastada em termos absolutos.
Hoje entende-se que o artigo 809º deve ser interpretado de forma restritiva, relativamente
às cláusulas de exclusão de responsabilidade parece que não são admissíveis sempre que se
pretende excluir a responsabilidade em caso de culpa grave, excluir em caso de mera culpa
ou culpa leve parece que já é admissível na medida em que o credor possui outros meios de
obter a satisfação do seu crédito para além da indemnização. Quanto às cláusulas de limitação
da responsabilidades elas são admitidas.
A isto acresce a lista de cláusulas proibidas do DL 446/85, o legislador em sede de cláusulas
contratuais gerais vêm dizer que são proibidas as clausulas de exclusão de responsabilidade
nos casos de dolo e culpa grave, admite clausulas de exclusão de responsabilidade nos casos
de culpa leve . Se as admite em contratos não negocias por maioria de razão dever ser
admitidas em contrários que são negociados.

PRESSUPOSIÇÃO
*As partes tiveram como certa a verificação de um dado acontecimento ou estado de coisas
e, por isso, contrataram. Se lhes ocorresse a possibilidade de falhar tal circunstância
pressuposta, não teriam contratado sem inserir no negócio uma cláusula correspondente.
Serão circunstâncias de facto que as partes quando celebram o contrato pressupõem que se
virão a verificar e com base nessa pressuposição celebram o contrato. Espécie de condição
que nunca chega a ser prevista. No fundo, são hipóteses de erro quando ao futuro e que se
distingue do erro quanto à base negocial. Entende-se que o regime a aplicar analogicamente
será o regime do artigo 437º, abrindo a hipótese de resolução ou modificação do cotrato nos
mesmos termos em que se prevê para os casos das alterações das circunstâncias.
Poderiam ser condições introduzidas no contrato se isso tivesse sido equacionado pelas
partes.

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Ineficácia dos negócios jurídicos

Ineficácia

Ineficácia em Outras formas


Invalidade sentido estrito de cessação

Resolução
Nulidade Absoluta Relativa Revogação
Anulabilidade Caducidade
Invalidades mistas Denúncia

Total

Parcial

*Ineficácia sem sentido amplo → sempre que um negócio não produz, por impedimento
decorrente do ordenamento jurídico, no todo ou em parte, os efeitos que tenderia a produzir,
segundo o teor das declarações respetivas.
*Ineficácia em sentido estrito → não ocorre por qualquer problema que afete os elementos
essenciais do negócio, mas sim circunstâncias exteriores ao negócio. Circunstância de
depender de alguma circunstância extrínseca que, conjuntamente com o negócio, integra a
situação complexa produtiva dos efeitos jurídicos.
É ineficácia absoluta quando não produz efeitos para nenhuma das partes. Relativa quando
só não produz efeitos relativamente a determinadas pessoas, inoponibilidade. Na ineficácia
relativa temos a figura da ratificação, as pessoas em relação às quais um negócio não produzia
efeitos chama a si os efeitos do negócio.
*Invalidade → é a ineficácia que provém de uma falta ou irregularidade dos elementos
internos no negócio. A ausência da produção dos efeitos negociais resulta de vícios ou de
deficiências do negócio, contemporâneas da sua formação.

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*As outras formas de cessação do negócio jurídico são acontecimentos que são posteriores,
superveniente relativamente à celebração do contrato. O contrato é celebrado, produz os
seus efeitos e depois temos uma situação que leva à resolução, à revogação, caducidade ou
denúncia.
*Inexistência → figura autónoma, com consequências mais graves do que a nulidade e a
anulabilidade. Temos inexistência quando nem sequer aparentemente se verifica o corpus de
certo negócio jurídico, ou, existindo embora essa aparência material, a realidade não
corresponde a tal noção. Caso, por exemplo, da coação absoluta e da falta de consciência da
declaração.
É uma figura invocada pela doutrina francesa no campo do direito matrimonial.
O nosso CC consagra a inexistência dentro das invalidades do casamento nos artigos 1628º
e 1629º.

MODALIDADES DA INEFICÁCIA EM SENTIDO ESTRITO


*Ineficácia absoluta → atua automaticamente, erga omnes , podendo ser invocada por qualquer
interessado.
*Ineficácia relativa → verifica-se apenas em relação a certas pessoas, inoponibilidade, só por
elas podendo ser invocada. O negócio produz efeitos inter partes, mas é inoponível a certas
pessoas. Os negócios produzem efeitos, mas não estão dotados de eficácia relativamente a
certas pessoas. Surge-nos em situações caracterizadas pela existência de um direito, de uma
expectativa ou de um interesse legítimo de um terceiro, que seriam prejudicados pelo negócio
de disposição ou de vinculação em causa.
*Ineficácia total ou parcial → a distinção refere-se à circunstância de o vício impedir a
produção de quaisquer efeitos ou só afetar parte dos efeitos negociais.

MODALIDADES DE INVALIDADES

Nulidade
*O negócio nulo não produz, ab initio, por força de falta ou vício de um elemento interno ou
formativo, os efeitos a que tendia.
*O regime e os efeitos mais severos da nulidade encontram o seu fundamento teleológico
em motivos de interesse público predominante.
As nulidades podem ser declaradas oficiosamente independentemente de a nulidade ter sido
invocadas pelas partes, não é preciso ação judicial para que a nulidade produza efeitos, pode

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ser invocada por qualquer pessoa que tenha interesse relativamente à não produção dos
efeitos jurídicas do negócio, o interessado para este efeito é o sujeito de qualquer relação
jurídica que possa ser afetada pela eficácia daquele negócio, não é sanável pelo decurso do
tempo, são perpetuas, o negócio nulo é nulo e nunca deixa de ser nulo, a nulidade pode ser
invocada a todo o tempo por via de ação e por via de exceção. Não é sanável por
confirmação.
*Operam ipso iure. Não se torna necessário intentar uma ação ou emitir uma declaração nesse
sentido, nem sequer uma sentença judicial prévia, e podem ser declaradas ex officio pelo
tribunal → 286º.
*A nulidade pode ser invocada por qualquer pessoa interessada, isto é, pelo sujeito de
qualquer relação jurídica afetada, na sua consistência jurídica ou prática, pelos efeitos a que
o negócio se dirigia → 286º.
*São insanáveis pelo decurso do tempo, sendo invocáveis a todo o tempo → 286º.
*São insanáveis mediante confirmação → 288º a contrario. Pode, todavia, ter lugar aqui a
renovação. A renovação nos contratos nulos, é um novo contrato, opera ex nunc, mesmo que
o fundamento da nulidade tenha desaparecido, embora, por estipulação ad hoc, possa ter
eficácia retroativa nas relações inter partes.
Se as partes renovam o negócio nulo, não se verificando já o motivo de nulidade a
retroatividade é meramente obrigacional, isto é, vincula só as partes sem ser oponível a
terceiros. A renovação pode ter lugar por declaração tácita nos termos gerais, mas exige o
conhecimento da nulidade, ou dúvidas quando à validade do negócio.

Anulabilidade
*Não obstante a falta de vício de um elemento interno ou formativo, produz os seus efeitos
e é tratado como válido, enquanto não for julgada procedente uma ação de anulação,
exercido mediante esta ação, o direito potestativo de anular pertencente a uma das partes, os
efeitos do negócio são retroativamente destruídos.
*Fundam-se na infração de requisitos dirigidos à tutela de interesses predominante
particulares.
*Têm de ser invocadas pela pessoa dotada de legitimidade. Exigem uma ação especialmente
destinada a esse efeito ou que as pessoas com legitimidade se defenderem, arguindo a
anulabilidade de qualquer negócio jurídico contra elas seja invocado → 287º.
*Só podem ser invocadas por determinadas pessoas e não por quaisquer interessados. São as
pessoas em favor das quais a anulabilidade é estabelecida, do regime geral do artigo 287º

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resulta que só têm legitimidade as pessoas em cujo o interesse a lei a estabelece, em alguns
casos o legislador diz expressamente quem são as pessoas em cujo a lei estabelece a
anulabilidade (125º, 254º e 1687º), nos restantes casos é necessário analisar em cada caso
concreto quem é o interessado.
*São sanáveis pelo decurso do tempo. É estabelecido o prazo de um ano, que começa a
contar a partir do momento em que o interessado toma conhecimento da anulabilidade. No
entanto, a anulabilidade não está sujeita a prazos se o negócio não está cumprido → 287º/2.
*São sanáveis mediante confirmação, que é um negócio unilateral em que a pessoa com a
legitimidade para arguir a anulabilidade declara aprovar o negócio viciado. A confirmação
têm efeitos retroativos, mesmo em relação a terceiros. Assim, se A vende a B um objeto, por
negócio anulável, e, antes da confirmação, vende o mesmo objeto a C, a confirmação da
primeira venda torna a segunda viciada por ilegitimidade do vendedor.

Efeitos da declaração de nulidade e anulação


*Operam retroativamente → 289º;
*Não obstante a retroatividade, há lugar à aplicação das normas sobre a situação do possuidor
de boa fé → 289º/3;
*Haverá lugar à repristinação das coisas no estado anterior ao negócio, restituindo-se tudo o
que tiver sido prestado ou, se a restituição em espécie não for possível, o valor
correspondente → 289º/1. A restituição deve ter lugar, mesmo que se não verifiquem os
requisitos do enriquecimento sem causa, isto é, cada uma das partes é obrigada a restituir
tudo o que recebeu e não apenas aquilo com que se enriqueceu. As obrigações recíprocas de
restituição estão sujeitas ao princípio do cumprimento simultâneo, designadamente à
aplicação da exceptio non adimpleti contractus → 290º.

OUTRAS FORMAS DE CESSAÇÃO DOS EFEITOS NEGOCIAIS

Revogação
*Falamos numa destruição voluntária dos efeitos do negócio jurídico pelos próprios autores
do negócio. Falamos em revogação quando temos um acordo das partes no sentido de fazer
cessar os efeitos do contrato. Será uma acordo em sentido contrário aquele que deu origem
ao contrato.
*Extingue os efeitos do negócio para o futuro, não opera, portanto, retroativamente.
*Aparece no artigo 406º.

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*A revogação pode aparecer apenas face a uma das partes, por iniciativa de apenas uma das
partes.
*Algumas vezes a faculdade de revogação é conferida ad libitum, sem sujeição a quaisquer
pressupostos: 265º/2, 448º, 1170º/2.
Em outros casos, a revogação só pode ter lugar ocorrendo certos motivos designados na lei:
970º, 974º, 1411º, 2029º.

Resolução → 432º
*É a destruição dos efeitos do negócio operada após a sua celebração por uma das partes e
repõem a situação que existir como se o negócio nunca tivesse sido celebrado → 434º.
*Pode resultar da lei ou por convenção das partes.

270º
437º
801º
966º
1150º
1140º
2248º
*A resolução tem lugar em situações de variada natureza, resultando, não de um vício da
formação do contrato, mas de um facto posterior à sua celebração, normalmente um facto
que vem iludir a legítima expectativa de uma parte contratante, seja um facto da contraparte,
seja um facto natural ou social.
*433º → regula os seus efeitos e determina-se a equiparação dos mesmos à nulidade a
anulabilidade do negócio.
*434º → a resolução tem efeito retroativo, mas tal efeito não se verifica se contrariar a
vontade das partes ou a finalidade da resolução, bem como, nos contratos de execução
continuada ou periódica.
*435º → a resolução nunca prejudica os direitos adquiridos por terceiros, salvo se o terceiro
adquiriu o seu direito posteriormente ao registo da ação de resolução.
A celebra um contrato de compra e venda com B e B com C, há uma ação de resolução do
contrato A e B, a resolução não afeta direitos de terceiros, no entanto, se a ação de resolução
for registada antes do registo de C, a resolução já é oponível a C.
*436º → a resolução pode fazer-se mediante declaração à outra parte.

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*As características da resolução não se verificam, quanto a uma das suas manifestações: o
efeito da verificação das condição resolutivas (270º). A resolução dos efeitos do negócio,
neste caso, atua automaticamente e, por outro lado, a retroatividade verifica-se mesmo em
relação a terceiros.

Caducidade
*As relações jurídicas duradouras de tipo obrigacional criadas pelo contrato ou pelo negócio
se extinguem para futuro por força do decurso do prazo estipulado, da consecução do fim
visado ou de qualquer outro facto ou evento superveniente a que a lei atribui o efeito
extintivo, ex nunc, da relação contratual.
*1051º, 1141º, 1174º.
*A sua causa é algo de objetivo, atua automaticamente ou de pleno direito, não tem caráter
retroativo.
*Pode verificar-se em duas espécies diferentes de negócio jurídicos: atos de eficácia
duradoura já em execução e atos de eficácia suspensa.

Denúncia
*Faculdade existente na titularidade de um contraente de, mediante mera declaração, fazer
cessar uma relação contratual ou obrigacional em sentido amplo, a que está vinculado,
emergente de um contrato bilateral ou plurilateral.
*Nela se manifesta uma pura e simples vontade, não carecida de justificação do autor da
denúncia.
*Visa colocar fim a contratos que se prolongam no tempo.
*Para conjugar os perigos decorrentes para a outra parte de uma denúncia intempestiva, isto
é, com eficácia imediata ou de tal modo próxima que lhe cause dificuldades ou danos
inaceitáveis, deve considerar-se necessário um pré-aviso.

REDUÇÃO E CONVERSÃO
*Os negócio inválidos podem ser aproveitados em alguns casos: redução e conversão dos
negócio nulos ou anulável.is A redução funciona como regra no sentido da manutenção do
negócio quando o negócio é parcialmente inválido, o negócio ficará reduzido à sua parte
válida, expurgar-se a parte inválida e permanece a parte válida → 292º.
A redução opera sem mais, é automática quando temos um negócio parcialmente inválido
temos uma hipótese de redução. Só não será assim se se mostra que o negócio não teria sido

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concluído sem a parte inválida. A parte que não quer a redução é que tem que provar que o
negocio nunca teria sido celebrado sem aquela parte.
*A conversão reporta-se a negócio totalmente inválidos, a lei prevê a possibilidade de serem
convertidos noutro negócio desde que contenham os requisitos essências de forma ou
substância de outro negócio, a parte que quer a conversão do negócio é que têm que provar
que a vontade das partes ia nesse sentido, numa situação e invalidade total se não se conseguir
provar anda quanto à vontade hipotéticas das partes o negócio não é convertido. Exige que
se faça prova de uma das partes no sentido dessa conversão, não opera automaticamente. Se
tivermos um negócio nulo ou anulável e se nada se conseguir privar em termos de conversão
o negócio não é convertido.
Em alguns casos, a conversão faz-se por força de lei, dá-se uma conversão automática do
negócio sem atender às vontades das partes → as doações com efeitos mortis causa convertem-
se automaticamente em disposições testamentárias, na medida em que se possa aproveitar
em termos formais.

Influência do tempo nas relações jurídicas

*O tempo é um facto jurídico não negocial, suscetível de influir, em muitos domínios do


direito civil, em relações jurídicas do mais diverso tipo.
*Os problemas mais importantes colocadas pela repercussão do tempo no mundo dos efeitos
jurídicos referem-se à prescrição extintiva e caducidade.

PRESCRIÇÃO
*A prescrição é o facto pelo qual um direito subjetivo, em regra, um direito subjetivo em
sentido estrito se extingue em virtude da inércia do seu titular quanto ao seu exercício durante
um certo tempo. Teremos que ter a existência do direito, o seu não exercício e o decurso do
tempo. Verificados estes requisitos verifica-se a prescrição do direito. → 298º e seguintes.
*O beneficiário da prescrição pode opor-se ao exercício do direito pelo seu titular, 304º. A
obrigação civil transforma-se numa obrigação natural, nos termos do regime da prescrição,
artigo 304º. A única garantia que resta ao credor e a garantia de não repetição do
indevidamente devido. Se ainda assim o devedor opta por cumprir não pode exigir de volta
aquilo que cumpriu.

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*A prescrição têm que ser invocada pelo beneficiário. O tribunal não pode oficiosamente
declarar a prescrição ela terá que ser invocada por aquele a quem beneficia.
*O prazo ordinário de prescrição é 20 anos, no entanto, uma vez afirmados estes 20 anos
existem regras especiais: prazos de 5 anos no artigo 310º para rendas e alugueres, prazos de
6 meses no artigo 316º, prazos de 2 anos, etc.
*Uma vez iniciado o prazo ele continua a correr ainda que o direito se transmita a um novo
titular nos termos do 308º. No entanto, a lei prevê determinas circunstâncias em que a
prescrição pode ser suspensa ou interrompida, o artigo 318º a 322º temos causas de
suspensão e 323º a 327º casos de interrupção. Na suspensão durante o período em que ela
se mantiver o prazo não é contabilizado para efeitos de prescrição; já na interrupção, o prazo
já decorrido fica inutilizado, se há algo que leva à interrupção do prazo a partir daqui o prazo
começa a contar-se do 0.
*Nem todos os direitos estão sujeitos a prescrição, desde logo os direitos pessoais, os direitos
patrimoniais que prescrevem são os de crédito.

CADUCIDADE
*Na caducidade estão, em regra, direitos potestativos → 298º/2.
*Artigos 328º a 333º.
* O prazo de caducidade não pode ser suspendido ou interrompido, a caducidade só é
impedida pela prática do ato em causa. O prazo começa a contar a partir do momento em
que o direito pode ser legalmente exercido.
*A caducidade é apreciada oficiosamente pelo tribunal, podendo ser alegada em qualquer
fase do processo. Se for matéria disponível pelas partes precisa de ser invocada.

Se um credor têm um crédito sobre um dever enão o exercer durante o tempo previsto
pela lei esse direito prescreve, se se tratar de um prazo para arguir a anulabilidade e se o
direito não for exercido dentro do prazo o prazo caduca. Se a anulabilidade não for arguida
dentro de prazo caduca o direito de arguir a anulabilidade. O prazo só é interrompido com
a prática do ato.

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