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Elementos do Registro

de Pessoas Naturais,
Jurídicas e de Títulos
e Documentos
Prof.a Lili de Souza

Indaial – 2021
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2021

Elaboração:
Prof.a Lili de Souza

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

S729e

Souza, Lili de

Elementos do registro de pessoas naturais, jurídicas e de títulos e


documentos. / Lili de Souza. – Indaial: UNIASSELVI, 2021.

260 p.; il.

ISBN 978-65-5663-405-0
ISBN Digital 978-65-5663-401-2

1. Registro civil. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci.

CDD 340

Impresso por:
Apresentação
Iniciaremos uma nova etapa de estudos! É claro que você já ouviu
falar sobre o REGISTRO CIVIL! Isso mesmo, você pode entender tanto o lugar
– Cartório – onde são realizados os atos registrais, ou os próprios registros,
como o do seu nascimento, por exemplo. Para entender um pouquinho a
relevância deste assunto, você sabia que os registros eram feitos na igreja,
antes de existirem os chamados Cartórios?

Atualmente, temos o Registro Civil das Pessoas Naturais, das Pessoas


Jurídicas e de Títulos e Documentos, isso, no tocante a nossa disciplina,
porque existem outros.

Em várias regiões do Brasil, os Registros, mesmo exercendo as mesmas


atividades, são distintos por não conjugarem outras funções. Em algumas
localidades, o Registro Civil, exerce somente a função de realizar os assentos
relacionados às pessoas naturais (nascimento, emancipação, casamento,
óbito); e já em outras, os Registros cumulam as funções de Registro Civil de
Pessoas Naturais, Registro Civil de Pessoas Jurídicas e Registro de Títulos e
Documentos. A novidade é que todos eles têm, atualmente, a competência
como autoridade apostilante, ou seja, podem realizar o “Apostilamento da
Haia”, que você será contemplado a compreendê-lo com segurança.

Este livro foi minuciosamente preparado pensando como você
receberá essas informações, de forma que os ELEMENTOS DO REGISTRO
CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS, REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS
JURÍDICAS E REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS, estão dispostos
em três unidades, as quais, conterão:

Na Unidade 1 abordaremos os Elementos do Registro Civil das


Pessoas Naturais, para tanto, iniciaremos uma viagem no universo
legislativo, iniciando na Lei Maior – a Constituição da República Federativa
do Brasil, Lei de Registros Públicos, Código Civil, Lei dos Cartórios,
inúmeros Provimentos da Corregedoria Geral de Justiça – CNJ. Faremos uma
rápida análise na atividade registral e como se adquire o título de Oficial de
Registro. Partimos para os Livros do Registro Civil das Pessoas Naturais,
e, na sequência apresentaremos o “Apostilamento da Haia”; seguindo
com o Nascimento. Questões sobre o natimorto também serão abordadas.
Prosseguindo nossos estudos, temos o Casamento e a união estável, com
suas implicações de vanguarda, inclusive culminando na conversão da
união estável em casamento. Também nesta unidade, estudaremos questões
sobre a mudança de gênero frente aos novos provimentos, retificações
administrativas, alteração do prenome, e, ainda, o registro do óbito com
alguns desdobramentos dessa matéria, como a “cremação”, o “registro
tardio”, entre outros.
Em seguida, na Unidade 2, estudaremos os Elementos do Registro das
Pessoas Jurídicas. Sim! Vamos iniciar compreendendo o que é pessoa jurídica
com conceitos que partem de abordagens doutrinárias tradicionais, com a
ideia de uma pluralidade de pessoas naturais, por exemplo, até a moderna
concepção civilista da possibilidade de uma só pessoa natural, tornar-se uma
sociedade unipessoal, como uma das espécies de pessoa jurídica, a chamada
EIRELI; invocando também a natureza jurídica, a função e as áreas da pessoa
jurídica. Em seguida, apresentaremos os livros de Registro Civil das Pessoas
Jurídicas, os atos registrais, com o registro e averbação. Passando para os
aspectos legais, como o Apostilamento da Haia e, então, adentraremos no
estudo dos registros das seguintes entidades: Organizações Religiosas,
Partidos Políticos, Sociedades, Sociedades Cooperativas, Associações,
Fundações, Sindicatos e as Matrículas de Meios de Comunicações (jornais e
outros periódicos, oficinas impressoras, empresas de radiodifusão e agências
de notícia). Muito interessante perceber que uma matéria que parece de
cunho empresarial possa estar aqui no nosso estudo de Registro, não é
verdade (?), em especial quando abordarmos as Sociedades.

Por fim, na Unidade 3, aprenderemos os Elementos do Registro


de títulos e documentos, abordaremos, também, o registro e averbação, os
livros, os tipos de documentos e contratos: alienação fiduciária, condomínios,
arrendamento – o que se registra e quais efeitos. O importante efeito da
notificação extrajudicial. As demandas com os estrangeiros. Estudaremos
também alguns dos princípios que norteiam os Registros Públicos, como a
publicidade e a fé pública. Esta unidade é a terceira dimensão dos serviços
dessa Serventia registral, e com ela encerraremos nossas atividades desta
disciplina, com o objetivo de capacitá-lo para você seguir mais amparado ao
mercado de trabalho, pois nós acreditamos em VOCÊ! Siga sempre em frente!

Bons estudos!

Prof.a Lili de Souza


NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!
LEMBRETE

Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela


um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro


que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares,
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


Sumário
UNIDADE 1 — ELEMENTOS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS................ 1

TÓPICO 1 — LIVROS DO REGISTRO CIVIL DE PESSOAS NATURAIS/


APOSTILAMENTO DA HAIA/REGISTRO DE NASCIMENTO/
NATIMORTO.................................................................................................................. 3
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................................... 3
2 LIVROS................................................................................................................................................... 9
3 APOSTILAMENTO DA HAIA........................................................................................................ 11
3.1 ATOS NORMATIVOS................................................................................................................... 11
3.1.1 Decreto nᵒ 8.660 de 29 de janeiro de 2016.......................................................................... 11
3.1.2 Resolução nᵒ 228 de 22 de junho de 2016.......................................................................... 13
3.1.3 Provimento nᵒ 62, de 14 de novembro de 2017................................................................ 14
3.2 NOÇÕES PRÁTICAS ................................................................................................................... 14
4 NASCIMENTO................................................................................................................................... 16
4.1 NASCIMENTO DE ÍNDIO........................................................................................................... 21
5 NATIMORTO...................................................................................................................................... 22
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 27
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 28

TÓPICO 2 — CASAMENTO/UNIÃO ESTÁVEL/CONVERSÃO DA UNIÃO


ESTÁVEL EM CASAMENTO.................................................................................... 31
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 31
2 CASAMENTO..................................................................................................................................... 33
2.1 CAPACIDADE PARA O CASAMENTO . ................................................................................. 33
2.2 IMPEDIMENTOS E CAUSAS SUSPENSIVAS.......................................................................... 34
2.3 DO PROCESSO DE HABILITAÇÃO E DA CELEBRAÇÃO DO CASAMENTO................. 36
2.3.1 Habilitação............................................................................................................................. 36
2.3.1.1 Proclamas.................................................................................................................. 38
2.3.2 Celebração.............................................................................................................................. 40
2.3.3 Registro.................................................................................................................................. 41
2.4 ESPÉCIES DE CASAMENTO...................................................................................................... 42
2.4.1 Casamento Nuncupativo..................................................................................................... 42
2.4.2 Casamento em caso de Moléstia Grave............................................................................. 43
2.4.3 Casamento por procuração................................................................................................. 44
2.4.4 Casamento religioso com efeitos civis............................................................................... 44
2.5 PROVAS DO CASAMENTO........................................................................................................ 46
2.6 EFEITOS JURÍDICOS DO CASAMENTO . ............................................................................... 47
3 UNIÃO ESTÁVEL ............................................................................................................................. 50
3.1 CONCEITO..................................................................................................................................... 51
3.2 EFEITOS PESSOAIS E PATRIMONIAIS DA UNIÃO ESTÁVEL........................................... 52
4 CONVERSÃO DA UNIÃO ESTÁVEL EM CASAMENTO....................................................... 54
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 56
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 57
TÓPICO 3 — ALTERAÇÃO DE GÊNERO E NOME/ALTERAÇÃO DO NOME DA
GENITORA E REGISTRO DE ÓBITO..................................................................... 59
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 59
2 ALTERAÇÃO DE GÊNERO E NOME NO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS
NATURAIS........................................................................................................................................... 60
3 ALTERAÇÃO DO NOME DA GENITORA.................................................................................. 66
4 REGISTRO DE ÓBITO...................................................................................................................... 73
4.1 CREMAÇÃO.................................................................................................................................. 76
4.2 REGISTRO TARDIO ..................................................................................................................... 78
4.3 FINADO DESCONHECIDO........................................................................................................ 79
4.4 PESSOAS FALECIDAS A BORDO DE NAVIO BRASILEIRO................................................ 79
4.5 ÓBITOS VERIFICADOS EM CAMPANHA............................................................................... 80
4.6 ÓBITO OCORRIDO EM HOSPITAL.......................................................................................... 81
4.7 BRASILEIRO FALECIDO NO EXTERIOR................................................................................. 81
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................. 83
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 85
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 87
REFERÊNCIAS....................................................................................................................................... 89

UNIDADE 2 — REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA....................................................... 97

TÓPICO 1 — PESSOA JURÍDICA, LIVROS E ATOS REGISTRAIS.......................................... 99


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 99
2 PESSOA JURÍDICA ........................................................................................................................ 100
2.1 CONCEITO DE PESSOA JURÍDICA........................................................................................ 100
2.2 NATUREZA JURÍDICA.............................................................................................................. 103
2.3 FUNÇÃO DA PESSOA JURÍDICA........................................................................................... 104
2.4 ÁREAS DA PESSOA JURÍDICA................................................................................................ 105
3 LIVROS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS JURÍDICAS............................................... 106
4 ATOS REGISTRAIS......................................................................................................................... 110
4.1 REGISTRO..................................................................................................................................... 110
4.2 AVERBAÇÃO............................................................................................................................... 112
4.3 APOSTILAMENTO DA HAIA.................................................................................................. 112
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 117
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 119

TÓPICO 2 — ASPECTOS LEGAIS, ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS E


PARTIDOS POLÍTICOS........................................................................................... 121
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 121
2 ASPECTOS LEGAIS ........................................................................................................................ 122
3 ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS.................................................................................................. 126
3.1 CONCEITO................................................................................................................................... 127
3.2 DISPOSIÇÕES LEGISLATIVAS................................................................................................. 129
3.2.1 Lei nᵒ 6.015 – Lei de Registros Públicos........................................................................... 129
3.2.2 Lei nᵒ 10.406 – Código Civil ............................................................................................. 129
3.2.3 Lei nº 13.019 – Marco Regulatório do Terceiro Setor..................................................... 132
3.2.4 Decreto nº 7.107................................................................................................................... 134
3.2.5 Código de Direito Canônico.............................................................................................. 134
3.2.6 Projeto de Lei 5141/20........................................................................................................ 134
4 PARTIDOS POLÍTICOS................................................................................................................. 136
4.1 CONCEITO................................................................................................................................... 137
4.2 DISPOSIÇÕES LEGISLATIVAS................................................................................................. 137
4.2.1 Constituição da República Federativa do Brasil............................................................ 138
4.2.2 Lei nᵒ 9.096 – Lei dos Partidos Políticos.......................................................................... 139
4.2.3 Lei nᵒ 6.015 – Lei de Registros Públicos........................................................................... 141
4.2.4 Lei nᵒ 10.406 – Código Civil ............................................................................................. 142
4.3 ASSOCIAÇÃO DOS NOTÁRIOS E REGISTRADORES (ANOREG) – BREVES NOTAS.......... 142
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 144
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 145

TÓPICO 3 — PESSOAS JURÍDICAS COM REGISTRO NO REGISTRO CIVIL


DE PESSOAS JURÍDICAS....................................................................................... 147
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 147
2 ASSOCIAÇÕES................................................................................................................................. 148
2.1 CONCEITO................................................................................................................................... 148
2.2 ASPECTOS LEGISLATIVOS ..................................................................................................... 148
2.2.1 Lei nᵒ 6.015 – Lei de Registros Públicos........................................................................... 149
2.2.2 Lei nᵒ 10.406 – Código Civil.............................................................................................. 149
2.3 REGISTRO DAS ASSOCIAÇÕES ............................................................................................. 149
3 FUNDAÇÕES.................................................................................................................................... 151
3.1 CONCEITO . ................................................................................................................................ 152
3.2 ASPECTOS LEGISLATIVOS ..................................................................................................... 152
3.2.1 Lei nº 6.015 – Lei de Registros Públicos . ........................................................................ 153
3.2.2 Lei nᵒ 10.406 – Código Civil.............................................................................................. 153
3.3 REGISTRO DAS FUNDAÇÕES................................................................................................. 156
4 SOCIEDADES................................................................................................................................... 157
4.1 CONCEITO................................................................................................................................... 158
4.2 ASPECTOS LEGISLATIVOS ..................................................................................................... 159
4.2.1 Lei nᵒ 6.015 – Lei de Registros Públicos........................................................................... 160
4.2.2 Lei nᵒ 10.406 – Código Civil.............................................................................................. 160
4.3 REGISTRO DAS SOCIEDADES................................................................................................ 161
5 SINDICATOS.................................................................................................................................... 162
5.1 CONCEITO................................................................................................................................... 163
5.2 ASPECTO LEGISLATIVO........................................................................................................... 164
5.3 REGISTRO DOS SINDICATOS ................................................................................................ 165
6 MATRÍCULA DE MEIOS DE COMUNICAÇÕES..................................................................... 166
6.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMIARES.......................................................................................... 167
6.2 ASPECTOS LEGISLATIVOS...................................................................................................... 167
6.3 MATRÍCULA DE JORNAIS E OUTROS PERIÓDICOS......................................................... 169
6.4 MATRÍCULAS DE OFICINAS IMPRESSORAS...................................................................... 170
6.5 MATRÍCULA DE EMPRESAS DE RADIODIFUSÃO............................................................ 171
6.6 MATRÍCULA DE AGÊNCIA DE NOTÍCIAS.......................................................................... 172
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 174
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 180
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 182
REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 184

UNIDADE 3 — REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS.................................................. 189

TÓPICO 1 — BREVE HISTÓRICO / PRINCÍPIOS / ATRIBUIÇÕES E LIVROS................... 191


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 191
2 BREVE HISTÓRICO DO REGISTRO DE TÍTULO E DOCUMENTO.................................. 192
2.1 O SURGIMENTO DA ESCRITA................................................................................................ 192
2.2 A HISTÓRIA DO REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS NO BRASIL.................... 193
2.3 O REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS NA ATUALIDADE................................... 194
3 PRINCÍPIOS QUE REGEM AS ATIVIDADES DO REGISTRO DE TÍTULOS
E DOCUMENTOS............................................................................................................................ 196
3.1 PRINCÍPIO DA CONCENTRAÇÃO........................................................................................ 196
3.2 PRINCÍPIO DA EFICÁCIA PREDETERMIADA.................................................................... 196
3.3 PRINCÍPIO DA FÉ PÚBLICA.................................................................................................... 196
3.4 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE................................................................................................. 197
3.5 PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE................................................................................................ 197
4 CONCEITO........................................................................................................................................ 198
5 ATRIBUIÇÕES.................................................................................................................................. 199
5.1 REGISTRO..................................................................................................................................... 199
5.2 AVERBAÇÃO............................................................................................................................... 200
5.3 CERTIDÃO................................................................................................................................... 201
5.4 AUTENTICAÇÃO DE LIVRO SPED  ...................................................................................... 202
5.5 APOSTILAMENTO DA HAIA.................................................................................................. 203
6 LIVROS............................................................................................................................................... 204
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 207
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 208

TÓPICO 2 — DOCUMENTOS REGISTRÁVEIS.......................................................................... 211


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 211
2 IMPORTÂNCIA DO REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS.................................... 212
3 VANTAGENS DO REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS......................................... 213
4 DOCUMENTOS REGISTRÁVEIS NO REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS............. 216
5 ESPÉCIES DE DOCUMENTOS REGISTRÁVEIS..................................................................... 217
5.1 ACORDO ..................................................................................................................................... 221
5.2 AGÊNCIA..................................................................................................................................... 221
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 223
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 224

TÓPICO 3 — NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL / REGISTRO DE TÍTULOS E


DOCUMENTOS NA ATUALIDADE / CANCELAMENTO DO
REGISTRO................................................................................................................... 227
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 227
2 LEGISLAÇÕES PERTINENTES.................................................................................................... 228
2.1 LEIS FEDERAIS .......................................................................................................................... 229
2.2 DECRETOS FEDERAIS............................................................................................................... 230
2.3 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA.................................................................................. 231
2.3.1 Recomendações................................................................................................................... 231
2.3.2 Provimentos......................................................................................................................... 232
2.4 TRATADOS INTERNACIONAIS GARANTIDORES AO DIREITO DE ACESSO
À INFORMAÇÃO........................................................................................................................ 234
3 NOTIFICAÇÃO................................................................................................................................ 235
3.1 CONCEITO................................................................................................................................... 235
3.2 PROCEDIMENTOS..................................................................................................................... 236
3.3 COMPETÊNCIA ......................................................................................................................... 238
3.4 CONSTITUIÇÃO DO DEVEDOR EM MORA........................................................................ 239
3.4.1 Constituição em mora do devedor na compra de imóvel a prestação........................ 240
3.4.2 Constituição em mora do devedor de Alienação Fiduciária sobre imóvel................ 240
3.5 LOCAÇÃO X DIREITO DE PREFERÊNCIA X NOTIFICAÇÃO AO INQUILINO........... 241
4 REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS NA ATUALIDADE ....................................... 241
5 CANCELAMENTO DO REGISTRO............................................................................................ 243
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 245
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 252
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 253
REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 255
UNIDADE 1 —

ELEMENTOS DO REGISTRO CIVIL DAS


PESSOAS NATURAIS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer os livros de registro civil de pessoas naturais;


• compreender o Apostilamento da Haia;
• identificar os requisitos para o registro de nascimento, requisitos e
capacidade para declarar e prazo;
• analisar o conceito de natimorto e as exigências legais para o registro civil;
• conhecer o casamento, impedimentos e causas suspensivas e habilitação
para o casamento;
• compreender a união estável com seus requisitos e também a conversão
de união estável em casamento;
• examinar as possibilidades de registro acerca da alteração de gênero;
• registrar de que maneira se processa a alteração do nome da genitora;
• identificar, quanto ao óbito, os requisitos para registro, prazo e lugar.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da
unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o
conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – LIVROS DO REGISTRO CIVIL DE PESSOAS NATURAIS/


APOSTILAMENTO DA HAIA/REGISTRO DE
NASCIMENTO/NATIMORTO

TÓPICO 2 – CASAMENTO/UNIÃO ESTÁVEL/CONVERSÃO DA UNIÃO


ESTÁVEL EM CASAMENTO

TÓPICO 3 – ALTERAÇÃO DE GÊNERO E NOME/ALTERAÇÃO DO


NOME DA GENITORA E REGISTRO DE ÓBITO

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

1
2
TÓPICO 1 —
UNIDADE 1

LIVROS DO REGISTRO CIVIL DE PESSOAS NATURAIS/


APOSTILAMENTO DA HAIA/REGISTRO DE NASCIMENTO/
NATIMORTO

1 INTRODUÇÃO
Para que você, acadêmico, possa compreender melhor os Elementos do
Registro Civil, é importante trazer um apanhado geral da atividade registral.
Dessa forma, iniciaremos com a questão legislativa e alguns aspectos inerentes à
serventia registral e ao registrador.

A Lei nᵒ 6.015, de 31 de dezembro 1973, a qual regulamenta os assuntos


relacionados às atividades registrais no Brasil, também é chamada “Lei de
Registros Públicos”. Esta lei, em seu Art. 1ᵒ dispõe:

Art. 1ᵒ Os serviços concernentes aos Registros Públicos, estabelecidos


pela legislação civil para autenticidade, segurança e eficácia dos atos
jurídicos, ficam sujeitos ao regime estabelecido nesta Lei.
§ 1° Esses registros são:
I- o registro civil de pessoas naturais;
II- o registro civil de pessoas jurídicas;
III- o registro de títulos e documentos;
IV- o registro de imóveis;
V- o registro de propriedade literária, científica e artística (BRASIL,
1973, grifo nosso).

Você pode estar se perguntando: e como se inicia as atividades registrais?


Então, acadêmico, essa é uma excelente pergunta! Porque a atividade registral é
própria do Poder Público, que é exercida obrigatoriamente em caráter privado,
após aprovação em concurso público, mediante delegação do Estado. Todavia,
até a Constituição de 1988 não era assim! Foi a partir do texto constitucional,
disposto a seguir, que os concursos públicos se tornaram obrigatórios:

Art. 236. Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter


privado, por delegação do Poder Público. (Regulamento).
§ 1ᵒ  Lei regulará as atividades, disciplinará a responsabilidade civil
e criminal dos notários, dos oficiais de registro e de seus prepostos, e
definirá a fiscalização de seus atos pelo Poder Judiciário.
§ 2ᵒ  Lei federal estabelecerá normas gerais para fixação de
emolumentos relativos aos atos praticados pelos serviços notariais e
de registro.  (Regulamento)

3
UNIDADE 1 — ELEMENTOS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS

§ 3ᵒ  O ingresso na atividade notarial e de registro depende de concurso


público de provas e títulos, não se permitindo que qualquer serventia
fique vaga, sem abertura de concurso de provimento ou de remoção,
por mais de seis meses (BRASIL, 1994).

Cada Estado da Federação brasileira promove seus concursos para o


preenchimento das vagas nessas Serventias públicas – os cartórios extrajudiciais
–, que se sujeitam “aos princípios do Direito Administrativo, e visa garantir
publicidade, autenticidade, segurança e eficácia aos atos jurídicos” (NEVES,
LOYOLA; ROQUETTO, 2013, p. 3).

De um modo mais amplo, acadêmico, é bom você saber que esses


princípios citados por Neves, Loyola e Roquetto (2013), fazem parte de todos os
Registros Públicos, em especial o princípio da publicidade. Como o próprio nome
já diz, seu objetivo é dar “publicidade” aos atos praticados; o que significa dizer,
e, você já deve ter concluído que, em razão disso, qualquer pessoa pode pedir
certidões e ter acesso às informações desses registros. Por exemplo, você pode ir
ao Registro Civil e solicitar uma certidão de nascimento de outra pessoa que você
tem necessidade ou interesse nesse documento, só precisa saber em qual Cartório
você fará este pedido, compreendeu?

A Lei nᵒ 8.935, de 18 de novembro de 1994, regulamenta o citado Art. 236


da Constituição Federal, e traz, já em seu Art. 1ᵒ, os princípios anteriormente
mencionados, também destaca no Art. 3ᵒ que o “[...] oficial de registro, ou
registrador são profissionais do direito, dotados de fé pública, a quem é delegado
o exercício da atividade notarial e de registro” (BRASIL, 1994).

Porque vamos iniciar nossos estudos sobre Registro Civil, vale destacar o
§ 1ᵒ do Art. 4ᵒ dessa “Lei dos cartórios”, que reza: “O serviço de registro civil das
pessoas naturais será prestado, também, nos sábados, domingos e feriados pelo
sistema de plantão” (BRASIL, 1994).

ATENCAO

Perceba, acadêmico, que o serviço de registro civil funciona com sistema de


“plantão”. É de suma importância que você tenha conhecimento disso!

4
TÓPICO 1 — LIVROS DO REGISTRO CIVIL DE PESSOAS NATURAIS/APOSTILAMENTO DA HAIA/REGISTRO
DE NASCIMENTO/NATIMORTO

A função do registrador goza de alguns atributos como a fé pública,


autenticidade, publicidade e segurança jurídica. Esses atributos são muito
importantes, porém, não iremos aqui esmiuçá-los. Todavia, como já deve ter
despertado em você um gosto “de quero mais”, sugere-se que busque se aprofundar
nos estudos sobre o registrador, pois você encontrará temas importantes. Vamos
citar apenas alguns, para aguçá-lo ainda mais:

• A serventia não tem personalidade jurídica, mas deve ter CNPJ para fins
tributários e trabalhistas.
• Quando os registradores são sucedidos, por qualquer razão, todas as pastas,
papéis, livros e documentos com ele arquivados sofrem afetação pública e
deverão ser transferidos ao novo, isentos de qualquer custo. Se houver alguma
discussão entre o sucessor ou interino e o sucedido, serão resolvidas na via
judicial e não administrativa.
• O registrador precisa seguir as normas federais e estaduais impostas, porém,
tem independência para a gestão administrativa e financeira da serventia.
• É livre a contratação de colaboradores, os quais são regidos pelo regime da
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). O registrador escolhe entre estes
o substituto e escreventes, cujos nomes deverão ser encaminhados ao juízo
competente, sendo que os escreventes só podem praticar os atos autorizados
pelo registrador. E o substituto, responde nas ausências e impedindo do titular.
• A atividade registral não é compatível com a advocacia ou com a intermediação
de seus serviços, e também com emprego ou função pública.
• O registrador é impedido de praticar atos de seu interesse, de seu cônjuge
ou parentes, na linha reta ou colateral, sendo consanguíneos ou afins, até o
terceiro grau.

NOTA

Parentesco em linha reta é quando as pessoas descendem umas das outras


diretamente (filho, neto, bisneto etc.), e parentesco colateral quando as pessoas não
descendem uma das outras, mas possuem um ancestral em comum (tios, primos etc.).

Na Figura 1, você pode visualizar como é na prática essa situação do


PARENTESCO EM LINHA RETA até o 3ᵒ grau:

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UNIDADE 1 — ELEMENTOS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS

FIGURA 1 – PARENTESCO EM LINHA RETA ATÉ 3ᵒ GRAU

FONTE: Adaptada de <https://thumbs.jusbr.com/filters:format(webp)/imgs.jusbr.com/


publications/artigos/images/parentescoa11475341117.jpg>. Acesso em: 31 out. 2020.

NTE
INTERESSA

Você pode experienciar essa situação do parentesco em linha reta até o 3ᵒ


grau, acadêmico, se colocando na posição do filho, depois vá observando, nessa linha,
quem nasceu primeiro. Agora ficou mais tranquilo, quando você se coloca nessa posição,
não é mesmo?

Na Figura 2, você encontrará o PARENTESCO COLATERAL até o 4ᵒ grau.


Você deve estar pensando naquelas frases que ouvimos “fulano é meu primo em
terceiro grau”. Agora, você vai saber como isso é na realidade, e que isso NÃO
EXISTE. Observe:

6
TÓPICO 1 — LIVROS DO REGISTRO CIVIL DE PESSOAS NATURAIS/APOSTILAMENTO DA HAIA/REGISTRO
DE NASCIMENTO/NATIMORTO

FIGURA 2 – PARENTESCO EM LINHA COLATERAL ATÉ 4ᵒ GRAU

FONTE: Adaptada de <https://thumbs.jusbr.com/filters:format(webp)/imgs.jusbr.com/


publications/artigos/images/parentesco11475341171.jpg>. Acesso em: 31 out. 2020.

Percebeu que no desenho foi incluído o tio (irmão do pai, também filho do
avô – por isso colateral – que fica ao lado) e o filho do tio, que é o primo? Então,
agora ficou tranquilo para você fazer a diferença entre LINHA RETA e LINHA
COLATERAL, não é mesmo? Agora que você já sabe o que é parentesco em linha
colateral, você está sendo desafiado a se colocar no lugar do FILHO e perceber
que parente seu tio é, e em que grau? Vamos lá!

• O registrador, conforme a Lei dos Cartórios, tem direito de receber os


emolumentos integrais.
• A perda da delegação só acontece nos casos previstos em lei e nos casos em que
a serventia for desmembrada, a escolha é do registrador se pretende ficar ou
seguir para a nova.

NOTA

Emolumentos são taxas remuneratórias de serviços públicos, tanto notarial


quanto de registro, configurando uma obrigação pecuniária, ou seja, em dinheiro, a ser paga
pelo próprio requerente. Fundamentação: Arts. 98, § 2ᵒ; e 236, § 2ᵒ, ambos da Constituição
da República Federativa do Brasil de 1988.

7
UNIDADE 1 — ELEMENTOS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS

O registrador também tem seus deveres (BRASIL, 1994). Apontamos alguns:

• cuidar dos livros, papéis e documentos da serventia e mantê-los em local seguro;


• o atendimento às pessoas deve acontecer de forma cordial, com presteza,
urbanidade e de forma eficiente, priorizando as demandas das autoridades
judiciais e administrativas;
• manter um arquivo sempre atualizado de leis, regulamentos, provimentos e
qualquer outro material que diga respeito a sua atividade;
• manter sigilo quanto aos atos praticados e quanto a qualquer assunto que tenha
conhecimento em razão do seu trabalho;
• manter afixado em local visível e cumprir a tabela de emolumentos e custas,
emitindo recibo dos valores recebidos;
• não extrapolar prazos previstos em lei para prestação dos serviços;
• fiscalizar o recolhimento de impostos sobre atos que venha a praticar.

Visto esse rol de direitos e deveres do registrador, você deve concluir a


tamanha responsabilidade dessa função, não é mesmo, acadêmico? Mas não se
pode deixar de esclarecer que o registrador tem sim grande responsabilidade!
Essa responsabilidade é civil, penal e administrativa, podendo uma mesma
conduta se enquadrar em uma ou em todas essas esferas.

A extinção da atividade registral só ocorrerá, conforme o Art. 39 da Lei nᵒ


8.935/1994, que apresenta as hipóteses: morte; aposentadoria facultativa; invalidez;
renúncia; nos casos de perda da delegação e descumprimento comprovado de
regras de gratuidade. Será nomeado o substituto mais antigo para responder pela
serventia até novo concurso.

O órgão fiscalizador da atividade registral é o Poder Judiciário, e cabe


à Corregedoria Geral de Justiça do Estado que delegou a função a realização
das correições extraordinárias, que independem de aviso prévio. Todavia, as
correições ordinárias acontecem pelo juiz corregedor, que marca data e horário
previamente, sendo que na maioria dos Estados, ocorre uma vez ao ano (NEVES,
LOYOLA; ROQUETTO, 2013, p. 9).

Com essa necessária introdução, você deve ter ficado muito curioso para
seguir e saber o que se faz no Registro Civil. Então, na sequência falaremos dos
LIVROS do Registro Público.

Seguimos!

8
TÓPICO 1 — LIVROS DO REGISTRO CIVIL DE PESSOAS NATURAIS/APOSTILAMENTO DA HAIA/REGISTRO
DE NASCIMENTO/NATIMORTO

2 LIVROS
É no Registro Civil que são realizados e ficam arquivados os registros de
nascimento, casamento e óbito e outros atos da vida civil da pessoa.

Os dados são escritos em livros que são conservados indefinidamente.


Conforme informação da Central do Registro Civil das Pessoas Naturais do
Estado do Rio Grande do Sul (SINDIREGIS, 2020), existem registros que possuem
mais de 100 anos.

Os atos praticados pelo Registro Civil são escriturados em livros


encadernados, seguindo o que estabelece a Lei de Registro Público. O tamanho
do livro é de escolha do registrador, dentro das dimensões: 22 a 40 cm de largura;
33 a 50 cm de altura, que pode ser manuscrito, datilografado ou informatizado.

Por ter independência na organização dos livros, conforme disposição


do Art. 41 da Lei dos Cartórios, o registrador não precisa de autorização para
modificar a forma com que se escritura o livro, ou usar livro de folhas soltas. Os
livros deverão ter termo de abertura e de encerramento, além de todas as folhas
numeradas e rubricadas pelo registrador.

Quando um livro termina, o seguinte conterá a mesma letra, seguida


de número crescente. Exemplo: A1, A2, A3..., já, o número dos assentos segue
indefinidamente, quando se tratar da mesma espécie.

Estes são os livros do Cartório de Registro Civil que devem conter


300 folhas:

• Livro A – Registro de Nascimento.


• Livro B – Registro de Casamento.
• Livro B Auxiliar – Registro de Casamento Religioso com Efeitos Civis.
• Livro C – Registro de Óbito.
• Livro C Auxiliar – Registro de Natimorto.
• Livro D – Registro de Proclamas (resumo dos editais).
• Livro E – (com 150 folhas) – Registo dos atos relativos ao estado civil
das pessoas naturais que não são transcritos nos livros supracitados
(interdições, opções de nacionalidade, sentença de morte presumida
entre outros) (NEVES, LOYOLA; ROQUETTO, 2013, p. 19).

Os livros devem ser escriturados em ordem cronológica de apresentação.


Neles, acadêmico, não se deve usar abreviaturas, nem algarismos.

O Provimento nᵒ 45, de 13 de maio de 2015, determina a necessidade do


Livro Diário Auxiliar, Visitas e Correições e Controle de Depósito Prévio pelos
titulares de delegações e responsáveis interinos do serviço extrajudicial de notas
e registros públicos.

9
UNIDADE 1 — ELEMENTOS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS

Nas lições de Neves, Loyola e Roquetto (2013, p. 20) vamos colher que
havendo “omissão ou erro de modo que seja necessário fazer adição ou emenda,
estas serão feitas antes da assinatura ou ainda em seguida, mas antes de outro
assento, sendo a ressalva novamente por todos assinada”.

E
IMPORTANT

Cada registro tem seu número de ordem sequencial e infinita.

Com exceção das averbações e anotações obrigatórias, os atos de registros


serão praticados mediante: ordem judicial; requerimento verbal ou escrito dos
interessados; ou por requerimento do Ministério Público.

Agora, você já se questionou do tempo que esses livros devem permanecer ali?
Por quanto tempo você acredita que os livros e papéis de uma serventia precisam
ficar ali quando acontecer o desmembramento desse serviço, por exemplo, a
cidade cresce e o serviço vem a ser dividido, sendo criados dois cartórios?

Os livros e papéis devem pertencer indefinidamente ao arquivo da


serventia, mesmo que ocorra desmembramento.

QUADRO 1 – TIPOS DE ATOS

ATOS REGISTRÁVEIS ATOS AVERBÁVEIS ATOS GRATUITOS


Registro Civil de
Nascimentos Sentenças de Separação
Nascimento
Casamentos Divórcio Assento de Óbito
Restabelecimento de Sociedade
Óbitos
Conjugal
Nulidade e Anulação de
Emancipações
Casamento
Atos Judiciais e Extrajudiciais
Interdições que Declarem ou Reconheçam
a Filiação
Sentenças Declaratórias de
Ausência
Opções de Nacionalidade
Sentenças que deferirem a
legitimação adotiva

FONTE: A autora

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TÓPICO 1 — LIVROS DO REGISTRO CIVIL DE PESSOAS NATURAIS/APOSTILAMENTO DA HAIA/REGISTRO
DE NASCIMENTO/NATIMORTO

3 APOSTILAMENTO DA HAIA
O Apostilamento da Haia é um assunto novo e vem se tornando cada vez
mais comentado em nossos dias, por essa razão, acadêmico, incluímos no seu material
didático. Para você compreender bem a temática, fique atento a todas as dicas, e
busque sempre se atualizar, pois em razão das questões eletrônicas, devem aparecer
novidades em breve por aí, já que ainda se exige: “[...] deverá ser impressa em papel
seguro fornecido pela Casa da Moeda do Brasil” (CNJ, 2016, p. 6).

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ), responsável por coordenar e


regulamentar a aplicação da Convenção da Apostila da Haia no Brasil, expõe
em seu sítio eletrônico que esse tratado “tem o objetivo de agilizar e simplificar
a legalização de documentos entre 112 países signatários, permitindo o
reconhecimento mútuo de documentos brasileiros no exterior” (HCCH, 2020, s.
p.) e vice-versa. E também apresenta:

A palavra Apostila (em português) é de origem francesa, sendo grafada


“Apostille”, que provém do verbo “apostiller”, que significa anotação.
Assim sendo, apesar do significado corrente na Língua Portuguesa que
tem o significado de uma publicação, um significado adicional é que
uma apostila consiste numa anotação à margem de um documento
ou ao final de uma carta, por exemplo. Neste caso, a Apostila é
definida como um certificado emitido nos termos da  Convenção da
Apostila que autentica a origem de um Documento Público (HCCH,
2020, s. p., grifo do original).

3.1 ATOS NORMATIVOS


A Conferência da Haia de Direito Internacional Privado, criada em 1893, na
cidade da Haia – Holanda, “é uma organização intergovernamental, integrada
por países com diferentes tradições jurídicas, que tem por missão harmonizar as
regras jurídicas entre estes Estados. [...] O Brasil tornou-se oficialmente membro
da Conferência da Haia em 27 de janeiro de 1972” (SEMINÁRIO [...], 2015). O
Apostilamento da Haia iniciou no Brasil em 2016.

3.1.1 Decreto nᵒ 8.660 de 29 de janeiro de 2016


O Decreto nᵒ 8.660/2016 promulga a Convenção sobre a Eliminação da
Exigência de Legalização de Documentos Públicos Estrangeiros, firmada pela
República Federativa do Brasil, em Haia, em 5 de outubro de 1961, tornando-se
assim signatário da Convenção de Haia, conforme os termos do Decreto:

11
UNIDADE 1 — ELEMENTOS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS

A PRESIDENTA DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe


confere o Art. 84, caput, inciso IV, da Constituição, e
Considerando que a Convenção sobre a Eliminação da Exigência de
Legalização de Documentos Públicos Estrangeiros foi firmada em
Haia, em 5 de outubro de 1961;
Considerando que o Congresso Nacional aprovou a Convenção sobre
a Eliminação da Exigência de Legalização de Documentos Públicos
Estrangeiros, por meio do Decreto Legislativo nᵒ 148, de 6 de julho
de 2015;
Considerando que o Governo brasileiro depositou, junto ao
Ministério das Relações Exteriores dos Países Baixos, em 2 de
dezembro de 2015, o instrumento de adesão da República Federativa
do Brasil à Convenção sobre a Eliminação da Exigência de Legalização
de Documentos Públicos Estrangeiros; e
Considerando que a Convenção sobre a Eliminação da Exigência de
Legalização de Documentos Públicos Estrangeiros entrará em vigor
para a República Federativa do Brasil, no plano jurídico externo, em
14 de agosto de 2016;
DECRETA:
Art. 1ᵒ Fica promulgada a Convenção sobre a Eliminação da Exigência
de Legalização de Documentos Públicos Estrangeiros, firmada em
Haia, em 5 de outubro de 1961, anexa a este Decreto (BRASIL, 2016,
grifo nosso).

A Convenção anexa a este Decreto, referida no Art. 1ᵒ do Decreto


supracitado, traz o seguinte teor, que diz respeito aos atos registrais,
consequentemente a todos os REGISTROS, inclusive o REGISTRO CIVIL, que é a
nossa temática aqui:

CONVENÇÃO SOBRE A ELIMINAÇÃO DA EXIGÊNCIA DE


LEGALIZAÇÃO DE DOCUMENTOS PÚBLICOS ESTRANGEIROS
(Celebrada em 5 de outubro de 1961)
Os Estados Signatários da presente Convenção,
Desejando eliminar a exigência de legalização diplomática ou consular
de documentos públicos estrangeiros,
Decidiram celebrar uma Convenção com essa finalidade e concordaram
com as seguintes disposições:
Artigo 1ᵒ
A presente Convenção aplica-se a documentos públicos feitos no
território de um dos Estados Contratantes e que devam produzir
efeitos no território de outro Estado Contratante.
No âmbito da presente Convenção, são considerados documentos
públicos:
a) Os documentos provenientes de uma autoridade ou de um agente
público vinculados a qualquer jurisdição do Estado, inclusive
os documentos provenientes do Ministério Público, de escrivão
judiciário ou de oficial de justiça;
b) Os documentos administrativos;
c) Os atos notariais;
d) As declarações oficiais apostas em documentos de natureza privada,
tais como certidões que comprovem o registro de um documento
ou a sua existência em determinada data, e reconhecimentos de
assinatura.
Entretanto, a presente Convenção não se aplica:
a) Aos documentos emitidos por agentes diplomáticos ou consulares;
b) Aos documentos administrativos diretamente relacionados a
operações comerciais ou aduaneiras (BRASIL, 2016).

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TÓPICO 1 — LIVROS DO REGISTRO CIVIL DE PESSOAS NATURAIS/APOSTILAMENTO DA HAIA/REGISTRO
DE NASCIMENTO/NATIMORTO

DICAS

Para ler na íntegra os dispositivos citados – inclusive, a CONVENÇÃO traz o


“modelo” da “Apostille”, no qual a apostila terá a forma de um quadrado com lados medindo
no mínimo nove centímetros –, acesse o link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2015-2018/2016/decreto/d8660.htm

A partir daí, o Poder Judiciário brasileiro, sendo detentor dessa


competência em razão da matéria, tem, no Conselho Nacional de Justiça, a
Instituição que coordena, regulamente e aplicação do Apostilamento da Haia,
resolve publicar a Resolução nᵒ 228/2016.

3.1.2 Resolução nᵒ 228 de 22 de junho de 2016


Essa Resolução vem para regulamentar a aplicação, no âmbito do Poder
Judiciário, da Convenção sobre a Eliminação da Exigência de Legalização de
Documentos Públicos Estrangeiros, celebrada na Haia, em 5 de outubro de 1961
(Convenção da Apostila).

O Art. 1ᵒ já dispõe a data do início do Apostilamento da Haia, que será


realizado a partir de 14 de agosto de 2016, exclusivamente por meio da aposição
de apostila.

A disposição do Art. 3ᵒ dessa Resolução dispõe que “Não será exigida a


aposição de apostila quando, no país onde o documento deva produzir efeitos, a
legislação em vigor, tratado, convenção ou acordo de que a República Federativa
do Brasil seja parte afaste ou dispense o ato de legalização diplomática ou
consular” (CNJ, 2016, p. 3). Percebe-se que há casos em que o Brasil tem acordo
diplomático, pode ser dispensado o apostilamento.

Também, e bem importante para nosso estudo é que no Art. 6ᵒ a Resolução


determina a competência do Registro Civil das Pessoas Naturais para “aposição
de apostila em documentos públicos [...] (CNJ, 2016, p. 2)”

Art. 6ᵒ São autoridades competentes para a aposição de apostila em


documentos públicos produzidos no território nacional:
[...]
II– os titulares dos cartórios extrajudicias, no limite das suas atribuições
(CNJ, 2016, p. 4).

A partir daí, o CNJ também edita o Provimento nᵒ 62/2017, dispondo


sobre a uniformização do apostilamento.

13
UNIDADE 1 — ELEMENTOS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS

3.1.3 Provimento nᵒ 62, de 14 de novembro de 2017


Esse provimento tem o objetivo de uniformizar os procedimentos em
todo território nacional, inclusive de como a autoridade apostilante contrata o
papel com a Casa da Moeda, entre outras informações. Entretanto destacamos a
disposição sobre a competência:

Art. 4ᵒ Os titulares do serviço notarial e de registro são autoridades


apostilantes para o ato de aposição de apostila nos limites de suas
atribuições, sendo-lhes vedado apostilar documentos estranhos a
sua competência.
1ᵒ O ato de apostilamento de documentos públicos produzidos no
território nacional obedecerá estritamente às regras de especialização
de cada serviço notarial e de registro, nos termos da Lei n. 8.935, de 18
de novembro de 1994.
2ᵒ O serviço de notas e de registro poderão apostilar documentos
estranhos a sua atribuição caso não exista na localidade serviço
autorizado para o ato de apostilamento.
3ᵒ O registrador civil de pessoa natural, ao apostilar documento
emitido por registrador sediado em ente da Federação diverso,
deverá verificar a autenticidade da assinatura mediante consulta
à Central de Informações do Registro Civil (CRC Nacional) (CNJ,
2017, s. p., grifo nosso).

Acadêmico, tudo isso é importante e relevante para lastrear seu


conhecimento, porém, sabemos que não basta saber, não é mesmo? Por essa razão
concluiremos este tema com noções práticas do APOSTILAMENTO DA HAIA.

3.2 NOÇÕES PRÁTICAS


O que vem a ser isso, o tal APOSTILAMENTO DA HAIA? Como
acontece na prática? Essas perguntas e outras devem estar rondando seu
imaginário, não é mesmo? Vamos esclarecer:

Imagine que você se formou aqui na UNIASSELVI e com seu DIPLOMA


ou CERTIFICADO você vai estudar no exterior. Como isso era feito até agosto
de 2016? Obrigatoriamente você dependeria do corpo diplomático do Brasil
no exterior e vice-versa, para apresentar seus documentos com as respectivas
traduções juramentadas etc. Muita burocracia, além da demora, considerando a
escassez dos Escritórios de Representação do Ministério das Relações Exteriores
no Brasil, fora do Itamaraty, em Brasília/DF.

14
TÓPICO 1 — LIVROS DO REGISTRO CIVIL DE PESSOAS NATURAIS/APOSTILAMENTO DA HAIA/REGISTRO
DE NASCIMENTO/NATIMORTO

FIGURA 3 – PALÁCIO ITAMARATY

FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/brasilia-brasil-aug-26-2018-
itamaraty-1170908053>. Acesso em: 4 jan. 2021.

O que mudou com o Apostilamento da Haia? Todos os documentos:


certidões, documentos de identidade, documentos escolares (diplomas,
certificados, histórico escolar) etc., você apresenta a um cartório (no caso aqui
do nosso estudo, o de Registro Civil das Pessoas Naturais – mas pode ser em
QUALQUER cartório TABELIONATO DE NOTAS ou REGISTRO), com tradução
juramentada do idioma do país que você irá estudar, e CADA DOCUMENTO
receberá a APOSTILA DA HAIA. Isso é feito na hora, na maioria dos casos, em
todo território nacional. E o preço? Geralmente segue uma tabela publicada
pela Corregedoria Geral de Justiça de cada Estado, que varia entre os Estados
membros da Federação.

DICAS

Esse tema é novo, acadêmico, esperamos que você tenha gostado, mas
alertamos que o assunto não se esgota aqui, busque saber mais, assista à webinar realizada
pela Escola Nacional de Notários e Registradores (ENNOR), em: https://www.youtube.com/
watch?v=HwLGwizaMBA

Saiba mais sobre o Sistema Apostila, desenvolvido especialmente para o


Apostilamento da Haia, que está sendo utilizado pelos cartórios, sob a orientação do
Conselho Nacional de Justiça. No sítio eletrônico do CNJ, acadêmico, a matéria é bastante
esmiuçada e contém vídeo explicativo, muito didático. Confira acessando o link a seguir:
https://www.cnj.jus.br/poder-judiciario/relacoes-internacionais/apostila-da-haia/

15
UNIDADE 1 — ELEMENTOS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS

Concluímos nosso estudo sobre o APOSTILAMENTO DA HAIA,


considerando que já foram apostilados desde 2016 mais de 5 milhões e 200 mil
documentos, conforme informações do CNJ; e que temos aproximadamente
13.000 cartórios no Brasil que, em tese, são autoridades apostilantes.

TUROS
ESTUDOS FU

Seguimos agora com o tema NASCIMENTO, mais um dos principais elementos,


senão o mais importante, do Registro Civil das Pessoas Naturais.

4 NASCIMENTO
Vamos iniciar apontando duas informações importantes, que você deverá
aprender e assimilar bem. Primeira é a que dispõe a Lei de Registros Públicos no
Art. 50: “Todo nascimento que ocorrer no território nacional deverá ser dado a
registro” (BRASIL, 1973).

Perceba, acadêmico, não é uma faculdade, é uma obrigação. Então,


todos nós que somos brasileiros devemos estar registrados no cartório do local
do nosso nascimento.

E a segunda é a que você já aprendeu em Direito Civil. Isso mesmo,


lembra daquele estudo de quando nasce a personalidade? Você lembrou! Isso
aí: A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida. Isso está
escrito lá no Art. 2ᵒ do Código Civil. O mesmo Código, no Art. 9ᵒ também dispõe
no inciso I que “Serão registrados em registro público: os nascimentos” (BRASIL,
2002). Feita essa construção, os autores Mario de Carvalho Camargo Neto e
Marcelo Salaroli de Oliveira (2014, p. 112), arrematam:

Em outras palavras, o registro de nascimento não produz efeitos


constitutivos, sendo certo que o nascimento e aquisição de
personalidade independem dele, mas produz efeitos declarativos,
especialmente probatórios, conferindo ao nascimento a adequada
publicidade e oponibilidade, com todas suas características – data, hora e
local do nascimento, filiação e nome do registrado etc., garantindo-lhe
segurança e eficácia, tanto para o registrado, quanto para terceiros.

No Subtópico 2, quando você teve a oportunidade de verificar os livros


obrigatórios que devem compor uma serventia registral, pôde perceber que o
nascimento é escriturado no Livro “A”, e este registro, então, dá origem à certidão
de nascimento, que como você já deve imaginar é um documento necessário ao
exercício da cidadania, e por isso é gratuita.

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TÓPICO 1 — LIVROS DO REGISTRO CIVIL DE PESSOAS NATURAIS/APOSTILAMENTO DA HAIA/REGISTRO
DE NASCIMENTO/NATIMORTO

Neves, Loyola e Roquetto (2013, p. 21) nos informa que “o registro


independe da nacionalidade dos pais, desde que estes não estejam a serviço de
outro país.” E assevera também que “o reconhecimento de filho feito no assento
de nascimento é irrevogável. Somente os pais podem reconhecer os filhos.

NTE
INTERESSA

Se ocorrer nascimento de criança com vida e morrer após o parto, haverá dois
assentos, no livro A e no livro C (nascimento e óbito).

Regras de prazos para registro:

• Dentro do prazo: se o registro for lavrado dentro do prazo (15 dias), pode
ser feito onde ocorreu o parto ou no local de residência dos pais; mas, será
ampliado para até três meses, para lugares distantes mais de 30 quilômetros da
sede do Cartório, conforme Art. 50 da LRP.
• Fora do prazo: registrado no local de residência dos pais ou interessado. Se os
pais morarem em lugares diferentes, pode ser registrado no lugar de residência
do pai ou da mãe, pela igualdade constitucional atribuída entre ambos.

No caso de morte de criança com menos de um ano, o oficial deve verificar


se foi feito o registro de nascimento da mesma. Se não foi, deve lavrar o assento
de nascimento e, posteriormente, o do óbito.

São crimes, as condutas dispostas nos Arts. 241 e 242 do Código Penal:

• registrar criança inexistente;


• dar parto alheio como próprio;
• registrar como seu o filho de outrem;
• ocultar nascido ou substitui-lo.

As pessoas obrigadas a fazer a declaração de nascimento estão dispostas


no Art. 52 da Lei de Registros Públicos:

Art. 52. São obrigados a fazer declaração de nascimento: (Renumerado


do Art. 53, pela Lei nᵒ 6.216, de 1975).
1ᵒ) o pai ou a mãe, isoladamente ou em conjunto, observado o disposto
no § 2o do Art. 54; (Redação dada pela Lei nᵒ 13.112, de 2015)
2ᵒ) no caso de falta ou de impedimento de um dos indicados no item 1o,
outro indicado, que terá o prazo para declaração prorrogado por 45
(quarenta e cinco) dias; (Redação dada pela Lei nᵒ 13.112, de 2015)
3ᵒ) no impedimento de ambos, o parente mais próximo, sendo maior
achando-se presente;

17
UNIDADE 1 — ELEMENTOS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS

4ᵒ) em falta ou impedimento do parente referido no número anterior


os administradores de hospitais ou os médicos e parteiras, que
tiverem assistido o parto;
5ᵒ) pessoa idônea da casa em que ocorrer, sendo fora da residência da mãe;
6ᵒ) finalmente, as pessoas (VETADO) encarregadas da guarda do
menor. (Redação dada pela Lei nᵒ 6.216, de 1975).
§ 1° Quando o oficial tiver motivo para duvidar da declaração, poderá ir
à casa do recém-nascido verificar a sua existência, ou exigir a atestação
do médico ou parteira que tiver assistido o parto, ou o testemunho de
duas pessoas que não forem os pais e tiverem visto o recém-nascido.
§ 2ᵒ Tratando-se de registro fora do prazo legal o oficial, em caso de
dúvida, poderá requerer ao Juiz as providências que forem cabíveis
para esclarecimento do fato.
§ 3ᵒ O oficial de registro civil comunicará o registro de nascimento
ao Ministério da Economia e ao INSS pelo Sistema Nacional de
Informações de Registro Civil (Sirc) ou por outro meio que venha a
substitui-lo (Incluído pela Lei nᵒ 13846, de 2019) (BRASIL, 1973).

A Declaração de Nascido Vivo foi implantada pela Lei nᵒ 12.662, de


5 de junho de 2012, é emitida por profissional de saúde responsável pelo
acompanhamento da gestação, do parto ou do recém-nascido, inscrito no
Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) ou no respectivo
Conselho profissional e é válida em todo território nacional.

Interessante, acadêmico, como percebemos que a legislação ou o conjunto


de leis, se entrelaçam. Perceba a quantidade de leis que já falamos até aqui, e
ainda vamos citar muito mais, sem falar nos Provimentos do CNJ e Enunciados.
Tudo isso para você ter uma percepção mais ampla desse universo. E sabe o que
essa Declaração de Nascido Vivo, precisa conter? Vamos ver:

Art. 4ᵒ A Declaração de Nascido Vivo deverá conter número de


identificação nacionalmente unificado, a ser gerado exclusivamente
pelo Ministério da Saúde, além dos seguintes dados:
I- nome e prenome do indivíduo;
II- dia, mês, ano, hora e Município de nascimento;
III- sexo do indivíduo;
IV- informação sobre gestação múltipla, quando for o caso;
V- nome e prenome, naturalidade, profissão, endereço de residência
da mãe e sua idade na ocasião do parto;
VI- nome e prenome do pai; e
VII- outros dados a serem definidos em regulamento.
§ 1ᵒ O prenome previsto no inciso I não pode expor seu portador ao
ridículo.
§ 2ᵒ Caso não seja possível determinar a hora do nascimento, prevista
no inciso II, admite-se a declaração da hora aproximada.
§ 3ᵒ A declaração e o preenchimento dos dados do inciso VI são
facultativos.
§ 4ᵒ A Declaração de Nascido Vivo deverá conter inscrição indicando
que o registro civil de nascimento permanece obrigatório, não sendo
substituído por esse documento.
§ 5ᵒ A Declaração de Nascido Vivo deverá conter campo para que
sejam descritas, quando presentes, as anomalias ou malformações
congênitas observadas. (Incluído pela Lei nᵒ 13685, de 2018) (Vigência)
(BRASIL, 2012).

18
TÓPICO 1 — LIVROS DO REGISTRO CIVIL DE PESSOAS NATURAIS/APOSTILAMENTO DA HAIA/REGISTRO
DE NASCIMENTO/NATIMORTO

ATENCAO

Perceba que o § 4ᵒ supracitado traz expressamente que a Declaração de Nascido


Vivo deve conter indicação que “o registro civil de nascimento permanece obrigatório, não
sendo substituído por esse documento” (BRASIL, 2012).

Já o assento de nascimento deve conter:

Art. 54. O assento do nascimento deverá conter: (Renumerado do Art.


55, pela Lei nᵒ 6.216, de 1975).
1°- o dia, mês, ano e lugar do nascimento e a hora certa, sendo
possível determiná-la, ou aproximada;
2°- o sexo do registrando; (Redação dada pela Lei nᵒ 6.216, de 1975).
3°- o fato de ser gêmeo, quando assim tiver acontecido;
4°- o nome e o prenome, que forem postos à criança;
5°- a declaração de que nasceu morta, ou morreu no ato ou logo
depois do parto;
6°- a ordem de filiação de outros irmãos do mesmo prenome que
existirem ou tiverem existido;
7°- Os nomes e prenomes, a naturalidade, a profissão dos pais, o lugar
e cartório onde se casaram, a idade da genitora, do registrando em
anos completos, na ocasião do parto, e o domicílio ou a residência
do casal. (Redação dada pela Lei nᵒ 6.140, de 1974)
8°- os nomes e prenomes dos avós paternos e maternos;
9°- os nomes e prenomes, a profissão e a residência das duas
testemunhas do assento, quando se tratar de parto ocorrido sem
assistência médica em residência ou fora de unidade hospitalar
ou casa de saúde; (Redação dada pela Lei nᵒ 13.484, de 2017)
10°- o número de identificação da Declaração de Nascido Vivo, com controle
do dígito verificador, exceto na hipótese de registro tardio previsto no
Art. 46 desta Lei; e (Redação dada pela Lei nᵒ 13.484, de 2017)
11°- a naturalidade do registrando. (Incluído pela Lei nᵒ 13.484, de 2017)
§ 1o Não constituem motivo para recusa, devolução ou solicitação de
retificação da Declaração de Nascido Vivo por parte do Registrador
Civil das Pessoas Naturais: (Incluído pela Lei nᵒ 12.662, de 2012)
I- equívocos ou divergências que não comprometam a identificação
da mãe; (Incluído pela Lei nᵒ 12.662, de 2012)
II- omissão do nome do recém-nascido ou do nome do pai; (Incluído
pela Lei nᵒ 12.662, de 2012)
III- divergência parcial ou total entre o nome do recém-nascido
constante da declaração e o escolhido em manifestação perante o
registrador no momento do registro de nascimento, prevalecendo
este último; (Incluído pela Lei nᵒ 12.662, de 2012)
 IV- divergência parcial ou total entre o nome do pai constante da
declaração e o verificado pelo registrador nos termos da legislação
civil, prevalecendo este último; (Incluído pela Lei nᵒ 12.662, de 2012)
 V- demais equívocos, omissões ou divergências que não comprometam
informações relevantes para o registro de nascimento. (Incluído
pela Lei nᵒ 12.662, de 2012)

19
UNIDADE 1 — ELEMENTOS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS

 § 2o  O nome do pai constante da Declaração de Nascido Vivo não


constitui prova ou presunção da paternidade, somente podendo ser
lançado no registro de nascimento quando verificado nos termos da
legislação civil vigente. (Incluído pela Lei nᵒ 12.662, de 2012)
 § 3o  Nos nascimentos frutos de partos sem assistência de profissionais
da saúde ou parteiras tradicionais, a Declaração de Nascido Vivo será
emitida pelos Oficiais de Registro Civil que lavrarem o registro de
nascimento, sempre que haja demanda das Secretarias Estaduais ou
Municipais de Saúde para que realizem tais emissões. (Incluído pela
Lei nᵒ 12.662, de 2012)
§ 4o   A naturalidade poderá ser do Município em que ocorreu o
nascimento ou do Município de residência da mãe do registrando na
data do nascimento, desde que localizado em território nacional, e a
opção caberá ao declarante no ato de registro do nascimento (Incluído
pela Lei nᵒ 13.484, de 2017) (BRASIL, 1973).

Segundo Neves, Loyola e Roquetto (2013, p. 25) o Provimento nᵒ 16,


de 2012, do CNJ, ainda vigente, “trouxe grande inovação ao reconhecimento
da paternidade, facilitando e muito a vida do cidadão”. Veja que interessante,
acadêmico, os autores continuam descrevendo que por esse provimento:

[...] as mães podem se dirigir à serventia mais próxima de sua


residência e indicar o nome do suposto pai. O oficial se encarrega de
remeter o pedido ao juiz competente (desde que a mãe preencha um
formulário com os dados pessoais do filho e do suposto pai, além de
exibir a certidão de nascimento do filho), que notificará o pai para
que declare, em juízo, se assume ou não a paternidade. Afirmado
de modo absoluto o vínculo paterno, o juiz remete informação ao
oficial, que incluirá o nome do pai na certidão. Não confirmando a
paternidade ou não comparecendo em 30 dias na presença do juiz,
o caso será enviado ao Ministério Público ou à Defensoria Pública
para que se dê início à ação de investigação de paternidade (NEVES;
LOYOLA; ROQUETTO, 2013, p. 25).

O Provimento nᵒ 16/2012 também inovou a possibilidade de o pai poder


ter a iniciativa de se apresentar ao oficial mais próximo de sua residência e
informar os dados do termo de reconhecimento. A mãe e o filho – quando maior
– serão inquiridos, sendo confirmado o vínculo, a situação será encaminhada ao
Ofício em que a criança foi registrada, para incluir o nome do pai na certidão, por
meio de averbação. Se o filho já constar com mais de 18 anos, é obrigatória o seu
consentimento, sob pena de nulidade.

20
TÓPICO 1 — LIVROS DO REGISTRO CIVIL DE PESSOAS NATURAIS/APOSTILAMENTO DA HAIA/REGISTRO
DE NASCIMENTO/NATIMORTO

E
IMPORTANT

Quando o filho que foi reconhecido, atingir a maioridade ou for emancipado,


terá quatro anos para impugnar o reconhecimento.

4.1 NASCIMENTO DE ÍNDIO


Acadêmico, você sabia que os ÍNDIOS eram chamados de SILVÍCOLAS
no Código Civil de 1916 que estava em vigência até 2002?

Art. 6ᵒ São incapazes, relativamente a certos atos (Art. 147, I), ou à


maneira de os exercer: (Redação dada pela Lei nᵒ 4.121, de 27.8.1962)
[...]
III - os silvícolas. (Redação dada pela Lei nᵒ 4.121, de 27.8.1962)
Parágrafo único. Os silvícolas ficarão sujeitos ao regime tutelar,
estabelecido em leis e regulamentos especiais, o qual cessará à medida
que se forem adaptando à civilização do País. (Redação dada pela Lei
nᵒ 4.121, de 27.8.1962) (BRASIL, 1962).

Note, na pesquisa de Feijó (2014, p. 7), a autora especifica essa condição


do índio:

[...] o Código Civil de 1916 põe fim a tutela orfanológica da época


imperial determinando expressamente a incapacidade relativa dos
índios para os atos da vida civil, sujeitando-os ao regime tutelar a
ser disciplinado em lei específica, salientando que esta incapacidade
cessaria à medida que fossem se adaptando à civilização do País
(parágrafo único).

A autora aponta já no resumo que:

[...] a Constituição de 1988 realizou uma transformação sem


precedentes no universo do direito indigenista, abandonando
definitivamente o paradigma da assimilação cultural dos índios e
reconhecendo sua identidade cultural como algo indissociável da
materialização de sua dignidade humana. [...] (FEIJÓ, 2014, p. 1).

Todavia, a Lei de Registros Públicos não sofreu muita influência desse


“reconhecimento” da “identidade cultural [...] de sua dignidade humana”
(BRASIL, 1973), visto que, o Art. 50, dispõe, em seu “§ 2ᵒ Os índios, enquanto
não integrados, não estão obrigados a inscrição do nascimento. Este poderá
ser feito em livro próprio do órgão federal de assistência aos índios” (BRASIL,
1973).  Seguimos com o estudo do natimorto.

21
UNIDADE 1 — ELEMENTOS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS

5 NATIMORTO
O conceito de natimorto que colhemos das lições de Hildebrand (2007,
p. 205 apud LOPOMO, 2018, s. p.) menciona: “O natimorto é aquele que nasceu
morto, isto é: ‘Diz-se de, ou aquele que, tendo vindo à luz com sinais de vida,
logo morreu”.

Acadêmico, nessa linha de pensamento de Hildebrand, você já concluiu


que o natimorto já foi um nascituro, assim, pelo Código Civil, tinha seus direitos
resguardados: “Art. 2  o  A personalidade civil da pessoa começa do nascimento
com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”
(BRASIL, 2002).

E para você, acadêmico? Qual sua opinião? O natimorto teve vida? Sim,
claro! A doutrina majoritária entende que a vida se inicia com a concepção. Logo,
tem direitos enquanto nascituro.

O que nos resta estabelecer agora é a respeito do registro do natimorto.


Todavia, o Provimento nᵒ 63, de 14 de novembro de 2017, do Conselho Nacional
de Justiça (CNJ), o qual foi alterado pelo Provimento nᵒ 83, de 14 de agosto de
2019, do CNJ, elucida a questão, embora essa alteração em nada afeta o assunto,
assim dispõe: “Art. 2ᵒ, §2ᵒ A certidão de inteiro teor, de natimorto e as relativas
aos atos registrados ou transcritos no Livro E deverão ser emitidas de acordo com
o modelo do Anexo V” (CNJ, 2017, s. p.).

Acadêmico, é imperioso destacar que a temática ainda é assunto que tem


debruçado doutrinadores e políticos a respeito, em especial quanto ao nome e
registro do natimorto. Embora a Lei nᵒ 6.015 mantém seu Art. 53 com a seguinte
redação: “No caso de ter a criança nascido morta ou no de ter morrido na ocasião
do parto, será não obstante, feito o assento com os elementos que couberem e
com remissão ao do óbito” (BRASIL, 1973). E em seus parágrafos sustenta que
nascendo morta, o registro será no livro C Auxiliar, porém, se morreu na ocasião
do parto, ou seja, tendo respirado, será feito dois registros: o nascimento e o óbito.

NTE
INTERESSA

Estão tramitando projetos de lei que alteram a redação da LRP, trazendo


novidades do assunto, fique atento! Você pode acompanhar no Congresso Nacional!

Veja na Figura 4 a Certidão do natimorto, modelo do Anexo V do


Provimento nᵒ 63 do CNJ:

22
TÓPICO 1 — LIVROS DO REGISTRO CIVIL DE PESSOAS NATURAIS/APOSTILAMENTO DA HAIA/REGISTRO
DE NASCIMENTO/NATIMORTO

FIGURA 4 – CERTIDÃO DO NATIMORTO

FONTE: <https://atos.cnj.jus.br/files//provimento/provimento_63_14112017_19032018150944.pdf>.
Acesso em: 5 jan. 2021.

Estamos concluindo este primeiro tópico, seguramente você compreendeu


que o assunto não foi esgotado, nem se conseguiria, porque é muito vasto e tem
muitas peculiaridades. Todavia, traçamos umas linhas mestras para norteá-lo
acadêmico, e aguçá-lo a buscar mais e mais...

O artigo a seguir é sobre o natimorto, justamente para que você tenha mais
material sobre o assunto. E também é interessante você perceber, acadêmico, que
o autor apresenta, segundo ele, o primeiro casal brasileiro que levou a registro
um natimorto – o registro de Sara, nascida em Barueri (SP). Ainda, neste artigo,
há referência sobre o Projeto de Lei nᵒ 5.171/2013, que propunha alteração no § 1ᵒ

23
UNIDADE 1 — ELEMENTOS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS

do Art. 53 da Lei de Registros Públicos. Todavia, esta iniciativa não prosperou,


pois, embora com o crivo e análise da Comissão de Constituição e Justiça e de
Cidadania da Câmara dos Deputados e remessa ao Senado Federal, em 30 de
junho de 2015, com publicação no Diário Oficial da União (DOU) em 1ᵒ de julho
de 2015, a proposição foi vetada.

Por aqui nos despedimos e nos encontramos no próximo tópico, no qual


falaremos sobre o casamento. Até lá!

O NOME AO NATIMORTO É UM DIREITO HUMANITÁRIO

Jones Figueirêdo Alves

Ao nascituro que nasce sem vida, feto que falece no interior do útero ou
no parto, como tal havido natimorto, após uma gestação superior a vinte semanas,
não é dado alcançar direito personalíssimo ao nome e sobrenome. Cumpre-se
somente o registro do óbito fetal, em livro próprio – “C-Auxiliar” (Lei 6.015/1973,
Art. 53) –, com indicação dos pais, dispensado o assento de nascimento.

O filho, já esperado pelo nome que lhe seria dado, torna-se apenas o
registro do feto que feneceu como sombra de si mesmo e feto, enquanto tal,
por não ter vindo à luz com vida, mesmo que por mínima fração de tempo.

Embora comece do nascimento com vida a personalidade civil da


pessoa (Art. 2ᵒ, Código Civil), certo é, porém, que desde a concepção são
ressalvados os direitos do nascituro, como a alimentos, dispondo este, por
isso, de uma personalidade jurídica formal. Em período inferior de gestação,
onde se tem ocorrente o aborto espontâneo ou o induzido – caso diverso ao
natimorto – sequer é exigido registro de óbito.

Pois bem. Essa espécie de mortalidade tem se constituído em evento


jurídico a exigir novas atuações da doutrina, dos tribunais, da legislação e de
políticas públicas de saúde, quando cerca de 3,3 milhões de crianças, a cada
ano, no mundo, são natimortos, com morte intrauterina nos três últimos meses
de gestação.

Nomeadamente são postas questões novas, a exemplo: (i) o feto


anencéfalo é um natimorto cerebral; (ii) “a proteção que o Código Civil
confere ao nascituro alcança o natimorto, no que concerne aos direitos da
personalidade, tais como nome, imagem e sepultura” (Enunciado nᵒ 1, da I
Jornada de Direito Civil – CJF – STJ ,11-13/09/2002) e (iii) existe o direito de os
pais registrarem os filhos natimortos com nome e sobrenome.

24
TÓPICO 1 — LIVROS DO REGISTRO CIVIL DE PESSOAS NATURAIS/APOSTILAMENTO DA HAIA/REGISTRO
DE NASCIMENTO/NATIMORTO

No ponto, a identificação do natimorto se apresenta como a


possibilidade de exercerem os pais a atribuição de nome ao filho nascido sem
vida. Neste sentido, revisão normativa da Corregedoria Geral de São Paulo
(estado que registra cinco mil natimortos por ano) empreendida ao seu Código
de Normas de Serviço (Capítulo XVII, Tomo II, item 32), cuidou de facultar o
direito de atribuição de nome do natimorto, sem necessidade de duplo registro
(nascimento e óbito).

De tal permissivo administrativo, em março passado, o casal Elias


Germano Lúcio e Vanessa Gomes Lúcio, perante o cartório de Barueri (SP),
efetivou o registro de sua filha natimorta Sara, dando-lhe o nome escolhido
que em vida usaria. Primeiro casal brasileiro a levar a registro de óbito o nome
da filha que não nasceu e que nada obstante “concepto não nascido”, houve-se
assim por identificada, certo que em nascida com vida haveria de usá-lo, com
seu alcance personalíssimo.

Nessa mesma linha, recente Projeto de Lei (PL) 5.171/2013, de autoria


do deputado Ângelo Agnolin, altera a redação do parágrafo 1ᵒ do Art. 53 da Lei
6.015 (Lei dos Registros Públicos), para no caso de ter a criança nascido morta,
ser o registro feito em livro próprio, “com os elementos que lhe couberem,
inclusive o nome e o prenome que lhe forem postos” (NR). A inserção adverbial
“inclusive” significando “também”, afasta qualquer controvérsia acerca dos
elementos registrais cabíveis.

Nesse aspecto, em 25 de outubro de 2007, o desembargador gaúcho


Rui Portava, da 8ª Câmara do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, em
voto vencido no julgamento da Apelação Cível 70020535118 divergia por
já entender que “em nenhum momento a lei determina que o registro a ser
assentado no Livro C Auxiliar não possa fazer menção ao nome que os pais
haviam escolhido para a criança”.

E acentuava, com precisão, que a lei diz apenas que o registro fará
referência aos “elementos que couberem”, “mas não explicita quais são e quais
não os cabíveis”. De fato. Como destacado na doutrina adiantada de Teixeira
de Freitas, por ele referida, “as pessoas por nascer existem, porque, suposto
não sejam ainda nascidas, vivem já no ventre materno”.

Então, desde a concepção e durante a vida intrauterina, a criança por


nascer não será uma mera perspectiva de filho, mas uma pessoa a chegar,
com personalidade jurídica de fato, tendo direito a um nome. O filho gestado
significa o projeto parental já alcançado, de tal modo que, por isso mesmo, o
nascituro já recebe dos pais um nome. Isso é fato que tem sido recorrente, a
tanto que é preparada a sua chegada pondo-se lhe o nome que o representa.

25
UNIDADE 1 — ELEMENTOS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS

Mas não é só. A fragilidade emocional de pais de natimortos, que lidam


com o luto, vulneráveis pela perda do filho, mães de mãos vazias, parturientes
de parto inútil, compõem uma realidade de vida que não pode deixar de ser
percebida pela ordem jurídica.

Isso já acontece, em alguns Estados, com benefícios de licenças-


maternidade para mães servidoras que sofreram aborto ou parto natimorto, a
fim de que o retorno ao trabalho somente ocorra quando atenuados os graves
danos emocionais decorrentes da gravidez interrompida e da perda da criança.

Urge, portanto, melhor proteção jurídica ao natimorto e aos seus pais,


nessa condição, a exemplo da liberação célere do corpo e sua entrega à família;
os benefícios estatutários, o acompanhamento psicológico pós-trauma, as
medidas protetivas de amparo e, sobretudo, do direito ao nome ao natimorto.
Mais que urgente, também se apresenta, a retificação dos assentos de óbito de
natimortos, lavrados sem nome, se assim os seus pais requererem (Art. 110,
Lei 6.015/1973).

Inegavelmente há um luto social diante do natimorto, filho dos pais


que não o tiveram, e futuro cidadão que a sociedade não o recebeu. Esse luto
tem, por certo, relevância jurídica, não resumida ao fato registral e estatístico.

Essa questão foi posta em projeto de pós-graduação de Mariana


Undicattti Barbieri Santos, Oficial de Registro Civil de Ribeirão Bonito (SP), o
que inspirou o normativo da Corregedoria de Justiça paulista.

O nome ao natimorto é, afinal, um direito humanitário, no seu espectro


mais denso. Na palavra de Rui Portanova, bem é certo que, omitir o nome
representa, “uma crueldade para com os pais, que já passaram pelo traumático
evento da criança morta, e não precisam passar por uma segunda “morte” do
filho, desta vez causada pelo desprezo da ordem jurídica”.

Jones Figueirêdo Alves é desembargador decano do Tribunal de


Justiça de Pernambuco. (Mestre em Ciência Jurídica pela Faculdade de Direito
da Universidade Federal de Pernambuco UFEP, 1970) e em Comunicações
Sociais (Jornalismo) pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP,
1968). Preside, atualmente, a Comissão de Estudos Judiciários – CEJ/PR, por
três mandatos. Preside, atualmente, a comissão de Gestão e Preservação da
Memória do Tribunal de Justiça, à qual se vincula o Memorial da Justiça,
que está conduzindo os preparativos do bicentenário do TJPE (2021-2022), o
quarto Tribunal do país. Autor de obras jurídicas de direito civil e processo
civil. (resumo curricular atualizado em nov. 2020).

FONTE: <https://www.conjur.com.br/2013-ago-05/jones-figueiredo-nome-natimorto-direito-
humanitario>. Acesso em: 5 jan. 2021.

26
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• A Lei nᵒ 6.015/1973 é a Lei dos Registros Públicos e ainda dita as diretrizes dos
assentos, requisitos etc., para o registro civil das pessoas naturais.

• A Lei nᵒ 8.935/94 é a Lei dos Cartórios que regulamenta a atividade dos notários e
registradores.

• Foi só a partir da Constituição de 1988 que para se ter acesso aos Cartórios é
necessário concurso público, cuja delegação é do Estado. É um serviço público
com autonomia para contratação de funcionários pela CLT. Mesmo não tendo
personalidade jurídica, é necessário CNPJ.

• Parentesco em linha reta até o 3ᵒ grau são os que descendem do mesmo tronco
desde o avô na mesma linha, ou seja, o avô, o filho e o neto.

• Parentesco em linha colateral até 4ᵒ grau são os que descem do mesmo tronco
desde o avô, porém, em linha paralela, ou seja, o mesmo avô, com dois filhos
e esses filhos com filhos que já seriam primos entre eles. Ficaria assim: entre o
neto e o tio – colateral em 3ᵒ grau e com o primo já é em 4ᵒ grau.

• No registro civil de pessoas naturais são registrados: nascimentos, casamentos,


óbitos, emancipações, interdições, sentenças declaratórias de ausência e opções
de nacionalidade e, atualmente, é possível fazer o Apostilamento da Haia, com
base na Resolução nᵒ 228/2016 e Provimento nᵒ 62/2017, ambos do Conselho
Nacional de Justiça (CNJ).

• O prazo para registrar uma criança é de 15 dias, que será ampliado em até 3
meses para lugares distantes mais de 30 km da sede do Cartório.

• A Lei de Registros Públicos aponta alguns atos considerados crimes: como


registrar criança inexistente; dar parto alheio como próprio; registrar como
seu, filho de outrem; ocultar nascido ou substitui-lo.

• O natimorto era nascituro antes de nascer, portanto, tinha direitos a salvo


conforme disposições do Código Civil, e tem registro próprio no Registro Civil.

27
AUTOATIVIDADE

1 A Constituição Federal de 1988 mudou completamente o modo de como


assumir os Cartórios extrajudiciais. Essa atividade está contemplada
na Lei nᵒ 6.015/1973, também conhecida pela Lei de Registros Públicos e
para regulamentar a aplicação do dispositivo constitucional (Art. 236)
sobre serviços notariais e de registro, foi necessária a promulgação da Lei
nᵒ 8.935/1994 (Lei dos Cartórios). Sobre o exercício da função de oficial
registrador dos cartórios de registro civil no Brasil, atualmente, assinale a
alternativa CORRETA:

a) ( ) O serviço do oficial de registro civil é exercido em caráter privado,


por delegação do Poder Público, dependendo de aprovação em
concurso público.
b) ( ) O serviço do oficial de registro civil é exercido em caráter privado, por
delegação do Poder Público, e passa de pai para filho, ou seja, segue
um regime de “hereditariedade”.
c) ( ) O serviço do oficial de registro civil é exercido em regime vitalício, por
delegação do Poder Público, e passa de pai para filho, ou seja, segue
um regime de “hereditariedade”.
d) ( ) O serviço do oficial de registro civil é exercido como serventia pública,
por delegação do Poder Público, dependendo de aprovação em
concurso, todavia, os emolumentos são encaminhados ao Governador
do Estado, recebendo o oficial registrador um percentual sobre os
emolumentos, como remuneração pelo cargo.

2 No Registro Civil das pessoas naturais são registrados os casamentos,


nascimentos, óbitos, emancipações, interdições, sentenças declaratórias de
ausentes, opções de nacionalidade e as sentenças que deferem a legitimação
adotiva. Com relação aos atos praticados pelos oficiais de Registro Civil,
nessa categoria “registrados", analise os itens a seguir:

I- O serviço de registro civil das pessoas naturais será prestado, também,


nos sábados, domingos e feriados pelo sistema de plantão.
II- Os livros e papéis devem pertencer obrigatoriamente por, no mínimo 50
(cinquenta) anos no arquivo da serventia.
II I- Quando o filho, cuja paternidade foi reconhecida, atingir a maioridade
ou for emancipado, terá quatro anos para impugnar o reconhecimento.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

28
3 O Registro Civil de Pessoas Naturais, em razão dos avanços sociais e
tecnológicos também devem caminhar juntos, razão que, sobre esses
cartórios, há uma frequente fiscalização pela Corregedoria Geral de Justiça.
Esta, por sua vez, está sempre no radar dos Provimentos emanados do
Conselho Nacional de Justiça. De acordo com a função pública, exercida
pelo oficial registrador, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para
as falsas:

( ) Manter um arquivo sempre atualizado de leis, regulamentos, provimentos


e qualquer outro material que diga respeito a sua atividade. 
( ) O registrador não tem responsabilidade sobre recolhimento de tributos,
impostos e taxas de qualquer ordem, já que sua função não é de “agente
fazendário”.
( ) O registrador precisa seguir as normas federais e estaduais impostas,
porém, tem independência para a gestão administrativa e financeira da
serventia.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 No Registro Civil de Pessoas Naturais, embora a Lei nᵒ 6.015 – chamada


Lei de Registros Públicos –, ainda conserve a redação sobre o registro do
natimorto, no § 1ᵒ do seu Art. 53 “No caso de ter a criança nascido morta,
será o registro feito no livro "C Auxiliar", com os elementos que couberem”
(BRASIL, 1973).  Você sabe que a matéria não é tão simples assim,
atualmente, já temos o Provimento nᵒ 63, do Conselho Nacional de Justiça,
cujas modificações do Provimento nᵒ 83, não o alcançaram, determinando o
modelo de certidão, que até permite a inclusão do nome. Houve repercussão
no nascimento de Sara, no Estado de São Paulo, cujos pais conseguiram o
registro do seu nome, mesmo sendo considerada natimorta. Disserte sobre
o natimorto e as atuais movimentações legislativas a respeito.

5 Sabemos que para a maioria dos atos registrais deve existir um prazo, para
fazer o Registro Civil de Nascimento não é diferente. E se o Registro Civil
de Nascimento não for feito no prazo legal? Neste contexto, disserte sobre
o prazo legal para fazer o Registro Civil de Nascimento e comente se esse
registro não for feito no prazo legal.

29
30
TÓPICO 2 —
UNIDADE 1

CASAMENTO/UNIÃO ESTÁVEL/CONVERSÃO DA UNIÃO


ESTÁVEL EM CASAMENTO

1 INTRODUÇÃO
Olá, acadêmico, seja muito bem-vindo ao Tópico 2!

No tópico anterior, vimos as questões relacionadas ao REGISTRO DO


NASCIMENTO, e, neste, nossa atenção ficará no CASAMENTO, na UNIÃO
ESTÁVEL e na CONVERSÃO DA UNIÃO ESTÁVEL EM CASAMENTO.

À primeira vista, é importante você saber que até a Constituição de 1988 o


CASAMENTO era a única forma de se constituir família. Porém, atualmente, o
texto constitucional traz no seu Art. 226 o princípio da multiplicidade/pluralidade
de entidades familiares. Todavia, nosso foco aqui é voltado para as questões
registrais, não perca isso de vista!

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada pela Organização


das Nações Unidas (ONU), em 10 de dezembro de 1948, para Comparato (2018,
s. p.) alberga o princípio da liberdade do homem, e sintetiza: “[...] o princípio
da liberdade compreende tanto a dimensão política quanto a individual. A
primeira vem declarada no artigo XXI e a segunda nos artigos VII a XII e XVI
a XX. Reconhece-se, com isto, que ambas essas dimensões da liberdade são
complementares e interdependentes”.

Na visita à Comparato (2018), acadêmico, e pela literatura jurídica, como


você pode imaginar, colhemos fragmentos da Declaração dos Direitos do Homem,
que já no preâmbulo contém:

Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os


membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é
o fundamento da liberdade, da justiça e da paz do mundo;
Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos do
homem resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da
Humanidade e que o advento de um mundo em que os homens gozem
de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo
do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração
do homem comum;
Considerando ser essencial que os direitos do homem sejam protegidos
pelo império da lei, para que o homem não seja compelido, como
último recurso, à rebelião contra a tirania e a opressão,
Considerando ser essencial promover o desenvolvimento de relações
amistosas entre nações;

31
UNIDADE 1 — ELEMENTOS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS

Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta,


sua fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor
da pessoa humana e na igualdade de direitos do homem e da mulher,
e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de
vida em uma liberdade mais ampla;
[...]
A ASSEMBLEIA GERAL PROCLAMA
a presente Declaração Universal dos Direitos do Homem como o ideal
comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações e como
o objetivo de cada indivíduo e cada órgão da sociedade, que, tendo
sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da
educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e pela
adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional,
por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universais e
efetivos, tanto entre os povos dos próprios Estados-Membros quanto
entre os povos dos territórios sob sua jurisdição.
[...]
Artigo XVI
1- Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de
raça, nacionalidade ou religião, têm direito de contrair matrimônio
e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em relação ao
casamento, sua duração e sua dissolução.
2- O casamento não será válido senão com o livre consentimento dos
nubentes.
3- A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem
direito à proteção da sociedade e do Estado (ONU, 1948, s. p.).

Perceba que o primeiro item traz: “fundar uma família” e no terceiro, que
a família é “o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção
da sociedade e do Estado” (ONU, 1948, s. p.). Esse recorte mostra-se importante
para relembrá-lo, acadêmico, das questões fundamentais do Direito, e para nossa
temática que o CASAMENTO sempre mereceu um olhar de proteção.

Observe, agora, o dispositivo da nossa Constituição Federal, que seguem


destacadas as informações sobre o casamento:

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.


§ 1ᵒ O casamento é civil e gratuito a celebração.
§ 2ᵒ O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.
§ 3ᵒ Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável
entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei
facilitar sua conversão em casamento. (Regulamento)
§ 4ᵒ Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade
formada por qualquer dos pais e seus descendentes.
§ 5ᵒ Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos
igualmente pelo homem e pela mulher.
§ 6ᵒ O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia
separação judicial por mais de um ano nos casos expressos em lei, ou
comprovada separação de fato por mais de dois anos.
§ 6ᵒ O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio. (Redação
dada Pela Emenda Constitucional nᵒ 66, de 2010)
§ 7ᵒ Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da
paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão
do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e
científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma
coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas. Regulamento

32
TÓPICO 2 — CASAMENTO/UNIÃO ESTÁVEL/CONVERSÃO DA UNIÃO ESTÁVEL EM CASAMENTO

§ 8ᵒ O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um


dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no
âmbito de suas relações
(BRASIL, 1988, grifo nosso).

Vamos avançar com os requisitos formais para constituição do


casamento, a habilitação para o casamento e as causas suspensivas e
impeditivas para o casamento também serão abordadas neste tópico, além da
conversão da união estável.

2 CASAMENTO
Interessante conceituar casamento antes de nos enveredar pelas questões
registrais diretamente. À luz da doutrina contemporânea, o casamento pode
ser conceituado como a união de duas pessoas, de sexos distintos e, atualmente,
também do mesmo sexo, reconhecida e regulamentada pelo Estado, formada com
o fim de constituir uma família e baseado em um vínculo de afeto. Com uma visão
civilista, temos na disposição do Art. 1.511 do Código Civil, o casamento estabelece a
comunhão plena de vida com igualdade de direitos e deveres dos cônjuges.

ATENCAO

Após a decisão histórica do STF entendendo pela possibilidade da existência


de uniões estáveis homoafetivas (ADI 4277, Rel. Min. Ayres Britto, Tribunal Pleno, julgado
em 5 de maio de 2011), o STJ, em decisão também inédita, reconheceu, no mesmo ano,
a possibilidade de habilitação para o casamento de duas mulheres (STJ, Ac. 4ª T., REsp.
118378/RS, Rel. Min. Luís Felipe Salomão, j. 25.10.2011)

Em decorrência da Resolução 175/2013 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), os


Cartórios de Registros Civis de Pessoas Naturais são obrigados a realizar o casamento de
pessoas do mesmo sexo.

2.1 CAPACIDADE PARA O CASAMENTO


Aqui, acadêmico, você está sendo apresentado a uma recente mudança
no nosso Código Civil, que é quanto à capacidade para o casamento. O Código
Civil estabelece uma idade mínima para que uma pessoa possa casar. É chamada
de “idade núbil”. De acordo com o Art. 1.517 a idade é de 16 (dezesseis) anos,
pois o Art. 1.520 sofreu alteração em 2019, que não será permitido casamento
com idade inferior a 16 anos. Atente, acadêmico! Atualmente, NEM COM
AUTORIZAÇÃO JUDICIAL!

33
UNIDADE 1 — ELEMENTOS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS

O nubente que possua entre 16 (dezesseis) e 18 (dezoito) anos, ainda


necessita de autorização dos pais ou de seus representantes legais para casar. É
possível que tal autorização seja suprida pelo juiz.

O Código Civil, em seus Arts. 1.518 e 1.519, ainda permite que os pais ou
os tutores revoguem a autorização até a celebração do casamento. Ademais, o juiz
poderá suprir a autorização quando entender que a negativa foi injusta, desde
que uma das partes provoque o judiciário.

ATENCAO

Com o advento da Lei nᵒ 13.811/2019, o Art. 1.520 passou a dispor expressamente


que “não será permitido, em qualquer caso, o casamento de quem não atingiu a idade núbil,
observado o disposto no Art. 1.517 deste Código” (BRASIL, 2019).

Agora passaremos a tratar dos impedimentos e das causas suspensivas


do casamento.

2.2 IMPEDIMENTOS E CAUSAS SUSPENSIVAS


Os impedimentos para o casamento são proibições de ordem pública,
podendo ser opostos até a celebração do casamento, por qualquer pessoa.
Ademais, o juiz ou o oficial de registro que tiver conhecimento da existência de um
impedimento é obrigado a declará-lo (Art. 1.522 do Código Civil). Os impedimentos
fundamentam-se na proteção da família e devem ser interpretados restritivamente.

Sempre que o registrador tiver conhecimento de um impedimento


deverá declará-lo como um óbice ao casamento, e não poderá expedir
certificado aos nubentes. Reza o Art. 1.521 do Código Civil que não podem se
casar (causas de impedimento):

I- os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural


ou civil;
II- os afins em linha reta;
III- o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com
quem o foi do adotante;
IV- os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o
terceiro grau inclusive;
V- o adotado com o filho do adotante;
VI- as pessoas casadas;
VII- o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou
tentativa de homicídio contra o seu consorte (BRASIL, 2002).

34
TÓPICO 2 — CASAMENTO/UNIÃO ESTÁVEL/CONVERSÃO DA UNIÃO ESTÁVEL EM CASAMENTO

Frisa-se que o rol de impedimentos trazidos pelo Art. 1.521 é de caráter


taxativo.

E
IMPORTANT

A doutrina já consolidou o entendimento segundo o qual o impedimento de


casamento entre colaterais de terceiro grau (tios e sobrinhos), que visa a proteger a saúde
genética da prole, pode ser relativizado se houver laudo médico favorável, nos termos do
Decreto-lei 3.200/1941. Esse tipo de casamento, entre colaterais de 3ᵒ grau, é o denominado
“casamento avuncular”.

Os impedimentos se aplicam à união estável, salvo o impedimento


relacionado às pessoas casadas. Isso porque é possível que uma pessoa casada
estabeleça união estável com outra pessoa, desde que esteja separada de fato.

ATENCAO

Nos termos do Art. 1.548, inciso II, do Código Civil, o casamento realizado com
alguma hipótese de impedimento será considerado nulo.

Ademais, com fundamento no Art. 1.549, é possível que alegue o


impedimento após a realização do casamento, por meio de uma ação declaratória
de nulidade que é imprescritível em razão da nulidade absoluta não se convalescer
com o decurso do tempo.

As causas suspensivas objetivam proteger o patrimônio de terceiro em


virtude da realização do casamento alheio. Cuidado, acadêmico. As causas
suspensivas não se constituem em proibições, podendo ser entendido como
“recomendações”, tanto que o Art. 1.523 do Código Civil aduz que não “devem”
casar pessoas em determinadas situações. Ou seja, não se tratam de hipóteses de
nulidade, anulabilidade ou inexistência de casamento. Nesse sentido, o Art. 1.523
do Código Civil estabelece que não devem casar:

I- o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto


não fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros;
II- a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter
sido anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou da
dissolução da sociedade conjugal;

35
UNIDADE 1 — ELEMENTOS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS

III- o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida


a partilha dos bens do casal;
IV- o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos,
cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada,
enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas
as respectivas contas (BRASIL, 2002).

E
IMPORTANT

A consequência de constituir casamento na hipótese de estar presente uma


das causas suspensivas é a imposição do regime de separação obrigatória de bens. É a
norma constante do inciso I, do Art. 1.641, do Código Civil.

Assim, quando há violação dessas causas, o casamento é válido, porém


irregular, impondo-se aos cônjuges uma sanção patrimonial, qual seja, o regime
de separação obrigatória de bens.

O parágrafo único do Art. 1.523 dispõe que desaparece a causa suspensiva


se restar provada a ausência de prejuízos aos envolvidos. As causas suspensivas,
por serem de interesse privado, só poderão ser arguidas pelos (Art. 1.524 do
Código Civil): a) parentes em linha reta, consanguíneos ou afins, de qualquer
dos nubentes; b) colaterais em segundo grau, consanguíneos (irmãos) ou por
afinidade (cunhados).

2.3 DO PROCESSO DE HABILITAÇÃO E DA CELEBRAÇÃO


DO CASAMENTO
O processo de casamento é composto de 3 (três) fases:

• habilitação;
• celebração;
• registro.

2.3.1 Habilitação
A Habilitação é procedimento de natureza administrativa que precede o
casamento, previsto nos Arts. 1.525 a 1.532 do Código Civil, em que se analisará a
aptidão dos nubentes para o casamento. Pode ser feita por meio de procurador.
Essa procuração pode ser particular com firma reconhecida.

36
TÓPICO 2 — CASAMENTO/UNIÃO ESTÁVEL/CONVERSÃO DA UNIÃO ESTÁVEL EM CASAMENTO

ATENCAO

Na habilitação, o procurador pode ser o mesmo para as duas partes. Porém,


para o CASAMENTO a procuração DEVE SER PÚBLICA E DEVE TER UM PROCURADOR
PARA CADA UM DOS NUBENTES.

A habilitação tem como finalidade, conforme Neves, Loyola e Roquetto


(2013, p. 27), “verificar se não estão presentes os impedimentos para o casamento,
a validade das cláusulas relativas ao regime de bens, a regularidade na mudança
do nome; dar publicidade da pretensão dos nubentes”.

A competência será do Cartório de Registro Civil do domicílio dos noivos.


Caso os nubentes tenham domicílios distintos, ficará ao seu critério escolher em
qual será feita a habilitação, devendo haver a publicação dos proclamas em ambos
os domicílios, conforme disposição do Art. 67 e seguintes da Lei de Registro
Públicos (Lei nᵒ 6.015/1973).

O Art. 1.525 do Código Civil traz o primeiro passo do processo de


habilitação: requerimento da habilitação junto ao Cartório. Os nubentes,
pessoalmente ou por procurador, irão formular um requerimento que deve ser
apresentando com os documentos exigidos por lei, quais sejam:

I- certidão de nascimento ou documento equivalente para provar a


idade núbil (16 anos);
II- autorização escrita dos representantes, nos casos de nubentes com
idade entre 16 e 18 anos;
III- declaração de duas testemunhas, parentes ou não, maiores e capazes;
IV- declaração de estado civil;
V- certidão de óbito ou registro de sentença de divórcio (BRASIL, 2002).

A habitação será feita pessoalmente perante o oficial do Registro Civil,


sendo obrigatória a oitiva do Ministério Público. Se a mesma sofrer impugnação
por parte do Ministério Público, do oficial ou de terceiros, será submetida à
apreciação do juiz.

A seguir, reza o Art. 1.527 do Código Civil, haverá a publicação dos


proclamas do casamento pelo Cartório e na imprensa (onde houver), pelo prazo
de 15 (quinze) dias para conferir publicidade ao ato e possibilitar sua impugnação.

Impõe a lei civil o dever ao oficial do Registro Civil de esclarecer os


nubentes acerca dos fatos que podem ocasionar a invalidade do casamento, bem
como a respeito dos diversos regimes bens (Art. 1.528).

37
UNIDADE 1 — ELEMENTOS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS

NTE
INTERESSA

O estrangeiro, para se habilitar, deve estar regular no país.

2.3.1.1 Proclamas
É a convocação pública para que qualquer pessoa possa apontar fato
inidôneo, de que tiver ciência, a impedir o profetado matrimônio. Existindo
esse apontamento, deve ser registrado no Livro D (NEVES; LOYOLA E SILVA,
2013, p. 30).

Os editais de proclamas deverão ser afixados, durante 15 dias,


ostensivamente, onde se realizam os casamentos e também publicados na
imprensa local, se houver, cujas despesas com essa publicação serão pagas pelo
interessado. Segundo Neves, Loyola e Roquetto (2013, p. 30), “mesmo os atos
considerados gratuitos, essa gratuidade não se estende à publicação”.

E
IMPORTANT

Se os pretendentes residirem em comarcas distintas, deverão ser publicadas


em ambas. Todavia, se um dos nubentes residir no exterior, é suficiente a afixação do edital
de proclamas no Registro Civil onde se processa a habilitação.

Mesmo com sua grande importância frente ao direito registral, os editais


de proclamas podem ser dispensados, comprovada a urgência para a celebração
do casamento, no caso de doença, por exemplo. Neste caso, o juiz, depois de
ouvir o Ministério Público e presentes os documentos exigidos, pode dispensar a
publicação de editais. Todavia há que se respeitar essa formalidade!

Neves, Loyola e Roquetto (2013, p. 30) chamam atenção dos impedimentos


que “podem ser alegados por qualquer pessoa capaz até o momento da
celebração e podem ainda ser alegados de ofício.” Ainda, obtemperam já as
causas suspensivas, apenas pelos parentes em linha reta de um dos nubentes,
consanguíneos ou afins, colaterais até o segundo grau, e não podem ser alegadas
de ofício”. Você deve se lembrar do nosso estudo sobre o parentesco, acadêmico,
daí fica mais compreensível o que os autores esclarecem aqui.

38
TÓPICO 2 — CASAMENTO/UNIÃO ESTÁVEL/CONVERSÃO DA UNIÃO ESTÁVEL EM CASAMENTO

No caso de alguém declarar alguma causa de impedimento ou causa


suspensiva, deverá fazer POR ESCRITO, comprovar ou indicar onde as provas
podem ser obtidas. O Oficial registrador comunicará aos nubentes da oposição
com tudo o que lhe foi apresentado, para que os mesmos possam fazer prova
contrária e, no caso de má-fé, intentar ação cível e criminal contra a pessoa.

Passados os 15 dias sem oposição de impedimentos, o oficial expede


certificado de habilitação, que terá validade pelo prazo decadencial de 90 (dias).

As regras para casamento de estrangeiro estão dispostas no Art. 7ᵒ da Lei


de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB):

Art. 7ᵒ A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras


sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os
direitos de família.
§ 1ᵒ Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira
quanto aos impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração.
§ 2ᵒ O casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante autoridades
diplomáticas ou consulares do país de ambos os nubentes. (Redação
dada pela Lei nᵒ 3.238, de 1957)
§ 3ᵒ Tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os casos de invalidade
do matrimônio a lei do primeiro domicílio conjugal.
§ 4ᵒ O regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do país em
que tiverem os nubentes domicílio, e, se este for diverso, a do primeiro
domicílio conjugal.
§ 5ᵒ O estrangeiro casado, que se naturalizar brasileiro, pode, mediante
expressa anuência de seu cônjuge, requerer ao juiz, no ato de entrega
do decreto de naturalização, se apostile ao mesmo a adoção do regime
de comunhão parcial de bens, respeitados os direitos de terceiros e
dada esta adoção ao competente registro. (Redação dada pela Lei nᵒ
6.515, de 1977)
§ 6ᵒ O divórcio realizado no estrangeiro, se um ou ambos os cônjuges
forem brasileiros, só será reconhecido no Brasil depois de 1 (um) ano da
data da sentença, salvo se houver sido antecedida de separação judicial
por igual prazo, caso em que a homologação produzirá efeito imediato,
obedecidas as condições estabelecidas para a eficácia das sentenças
estrangeiras no país. O Superior Tribunal de Justiça, na forma de seu
regimento interno, poderá reexaminar, a requerimento do interessado,
decisões já proferidas em pedidos de homologação de sentenças
estrangeiras de divórcio de brasileiros, a fim de que passem a produzir
todos os efeitos legais. (Redação dada pela Lei nᵒ 12.036, de 2009).
§ 7ᵒ Salvo o caso de abandono, o domicílio do chefe da família estende-
se ao outro cônjuge e aos filhos não emancipados, e o do tutor ou
curador aos incapazes sob sua guarda.
§ 8ᵒ Quando a pessoa não tiver domicílio, considerar-se-á domiciliada no
lugar de sua residência ou naquele em que se encontre (BRASIL, 1942).

Ainda como último ponto da habilitação para o casamento, e após as


considerações sobre casamento de estrangeiro, vale ainda ressaltar acadêmico,
que para o casamento de estrangeiro divorciado, os documentos são os mesmos já
mencionados (arrolados no Art. 1.525 do Código Civil). Todavia, preste atenção,

39
UNIDADE 1 — ELEMENTOS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS

porque se o casamento anterior foi realizado com pessoa brasileira, o divórcio


deverá, na dicção do § 6ᵒ da LINDB, visto anteriormente, ser homologado pelo STJ,
mas, segundo doutrina Neves, Loyola e Roquetto. (2013, p. 31), “se o casamento
for de estrangeiros e o divórcio tiver sido decretado no exterior, basta certidão de
registro civil atualizada para comprovar o estado civil”.

Passada a fase da habilitação, vamos para a celebração!

2.3.2 Celebração
Com o “certificado de habilitação”, os nubentes requerem ao Oficial
registrador para que marque dia, hora e local para a celebração do casamento.

A celebração do casamento é tratada pelo Código Civil a partir do Art.


1.533, o qual nos informa que o mesmo ocorrerá no dia, hora e lugar previamente
designados pela autoridade que houver de presidir o ato, conforme aquele
requerimento dos nubentes.

Conforme a Constituição de 1988, em seu Art. 98, inciso II, o juiz de paz
é a autoridade competente para presidir a celebração do casamento. Entretanto,
acadêmico, saiba que em muitas unidades da federação não se encontra
regulamentado a justiça de paz nos moldes previstos pela Lei Maior, sendo, em
sua maioria, realizado por juiz de direito a celebração do casamento.

ATENCAO

Também é possível que o casamento seja realizado por autoridade consular,


tendo em vista que a lei o autoriza a presidir as cerimônias realizadas nos consulados
brasileiros no exterior (Art. 1.544 do Código Civil).

Quanto ao local, temos o Art. 1.534 do Código Civil impondo regras gerais.
A solenidade do casamento poderá ser realizada na sede do cartório, exigindo-
se portas abertas para efeito de se prestigiar a publicidade do ato, bem como a
presença de duas testemunhas, parentes ou não dos contraentes.

A lei também permite que, se for do desejo das partes e consentindo a


autoridade celebrante, o casamento seja celebrado em edifício particular e noutro
edifício público. Na hipótese de ser realizado em edifício particular, além de
se exigir que fique de portas abertas durante o ato, é exigido a presença de 4
(quatro) testemunhas. Se exige também 4 (quatro) testemunhas no caso de um
dos contraentes não souber ou não puder escrever.

40
TÓPICO 2 — CASAMENTO/UNIÃO ESTÁVEL/CONVERSÃO DA UNIÃO ESTÁVEL EM CASAMENTO

E se um dos contraentes na hora da celebração se manifestar arrependido?


Boa questão! Acadêmico, na doutrina de Neves, Loyola e Roquetto (2013, p. 32)
colhemos: “Se um dos contraentes não afirmar que é livre e espontânea sua vontade
de casar ou se manifestar arrependido, a solenidade deve ser imediatamente
suspensa, não podendo ocorrer retratação no mesmo dia”. Considera-se realizado
o casamento depois que o juiz de paz pronunciar o que anuncia o Código Civil:

Art. 1.535. Presentes os contraentes, em pessoa ou por procurador


especial, juntamente com as testemunhas e o oficial do registro, o
presidente do ato, ouvida aos nubentes a afirmação de que pretendem
casar por livre e espontânea vontade, declarará efetuado o casamento,
nestes termos: "De acordo com a vontade que ambos acabais de afirmar
perante mim, de vos receberdes por marido e mulher, eu, em nome da
lei, vos declaro casados" (BRASIL, 2002).

E
IMPORTANT

O ato do casamento se aperfeiçoa no momento em que o homem e a mulher


manifestam, perante o juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal, e o juiz os
declara casados (Art. 1.514 do Código Civil).

2.3.3 Registro
Ocorrida a celebração do casamento, será lavrado o assento no livro
de registro. No assento, que deverá ser assinado pelo presidente do ato, pelos
cônjuges, as testemunhas, e o oficial do registro, deverão constar as seguintes
informações arroladas no Art. 1.536 do Código Civil, admitindo-se, na prática, a
inclusão também da nacionalidade:

I- os prenomes, sobrenomes, datas de nascimento, profissão,


domicílio e residência atual dos cônjuges;
II- os prenomes, sobrenomes, datas de nascimento ou de morte,
domicílio e residência atual dos pais;
III- o prenome e sobrenome do cônjuge precedente e a data da
dissolução do casamento anterior;
IV- a data da publicação dos proclamas e da celebração do casamento;
V- a relação dos documentos apresentados ao oficial do registro;
VI- o prenome, sobrenome, profissão, domicílio e residência atual
das testemunhas;
VII- o regime do casamento, com a declaração da data e do cartório
em cujas notas foi lavrada a escritura antenupcial, quando o
regime não for o da comunhão parcial, ou o obrigatoriamente
estabelecido (BRASIL, 2002).

41
UNIDADE 1 — ELEMENTOS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS

2.4 ESPÉCIES DE CASAMENTO


Em razão de nosso estudo se prestar às questões registrais, entendemos
prudente repisar os ensinamentos já contemplados no Direito de Família:

2.4.1 Casamento Nuncupativo


O casamento nuncupativo, também chamado pela doutrina de casamento
“in extremis vitae” ou “in articulo mortis” (Art. 1.540 do Código Civil), se configura
quando um dos contraentes estiver em iminente risco de vida. Nesse caso,
acadêmico, vale analisar o artigo completo, pois dispensa a presença da autoridade
competente para celebração do casamento ou mesmo de seu substituto, exigindo
a presença de 6 (seis) testemunhas, que com os nubentes não tenham parentesco
em linha reta, ou, na colateral, até segundo grau.

NTE
INTERESSA

Em razão da urgência e a absoluta falta de tempo, as solenidades legalmente


exigidas para a celebração do casamento são flexibilizadas.

A doutrina fala em uma “máxima flexibilização das solenidades” no


caso do casamento nuncupativo, pois nem mesmo se exige o prévio processo de
habilitação (FARIAS; ROSENVALD; NETTO, 2017, p. 1.739).

Após a realização do casamento nuncupativo, o Art. 1.541 exige que em


até 10 (dez) dias da sua realização, as testemunhas devem comparecer perante a
autoridade judicial mais próxima, pedindo que tome por termos a declaração de:

I- que foram convocadas por parte do enfermo;


II- que este parecia em perigo de vida, mas em seu juízo;
III- que, em sua presença, declararam os contraentes, livre e espontaneamente,
receber-se por marido e mulher (BRASIL, 2002).

Autuado o referido pedido e tomadas as declarações, o juiz procederá às


diligências necessárias para verificar se os contraentes podiam ter-se habilitado,
na forma ordinária, ouvidos os interessados que o requererem, dentro em 15
(quinze) dias (§ 1ᵒ, Art. 1.541 do Código Civil)

42
TÓPICO 2 — CASAMENTO/UNIÃO ESTÁVEL/CONVERSÃO DA UNIÃO ESTÁVEL EM CASAMENTO

Caso seja verificada a idoneidade dos cônjuges para o casamento, este


será considerado válido pela autoridade competente, sendo assegurado recurso
voluntário às partes. Caso ninguém recorra da decisão, ou ela passe em julgado,
o juiz mandará registrá-la no livro do Registro dos Casamentos (§§ 2ᵒ e 3ᵒ, Art.
1.541 do Código Civil).

E
IMPORTANT

“O assento, assim lavrado, retroagirá os efeitos do casamento, quanto ao estado


dos cônjuges, à data da celebração (efeito ex tunc)” (§ 4ᵒ, Art. 1.541 do Código Civil).

Noutro giro, o § 5ᵒ, do dispositivo em comento, enuncia que serão


dispensadas as formalidades citadas, no caso do enfermo convalescer e puder
ratificar o casamento na presença da autoridade competente e do oficial do registro.

2.4.2 Casamento em caso de Moléstia Grave


Primeiramente, é importante que não se confunda o casamento em caso
de moléstia grave com o casamento nuncupativo. No primeiro, a pessoa está
muito doente, porém não está em iminente risco de vida. Note que não se trata de
casamento tão urgente quanto o nuncupativo.

Para o casamento em caso de Moléstia Grave faz-se necessário a prévia


habilitação, publicação de proclamas e presença de autoridade celebrante,
conforme já vimos. Neste caso, acadêmico, Neves, Loyola e Silva (2013, p. 33)
elucidam que essa espécie de casamento pode ser “Realizada em qualquer lugar
onde se encontrar o impedido, na presença de duas testemunhas que saibam ler
e escrever e de autoridade celebrante”.

Na hipótese do casamento em caso de moléstia grave de um dos nubentes, o


Art. 1.539 do Código Civil estabelece que o presidente do ato irá celebrá-lo onde
se encontrar o impedido (o enfermo) e, sendo urgente, ainda que à noite.

A falta ou impedimento da autoridade competente para presidir o


casamento poderá ser suprida por qualquer dos seus substitutos legais, e a do
oficial do Registro Civil por outro ad hoc, nomeado pelo presidente do ato. O
termo avulso, lavrado por este oficial ad hoc, deverá ser registrado no respectivo
registro dentro em 5 (cinco) dias, perante duas testemunhas, ficando arquivado
(§§ 1ᵒ e 2ᵒ, Art. 1.539).

43
UNIDADE 1 — ELEMENTOS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS

2.4.3 Casamento por procuração


Muito embora não se trate de uma espécie, propriamente dita, de
casamento, entendemos por bem deixá-la destacada em seus estudos, acadêmico,
assim, nosso intento é facilitar o conhecimento para você.

Interessante, acadêmico, que mesmo o casamento com todas as suas


particularidades, não se pode perder de vista que faz parte do mundo jurídico.
Para a doutrina, em especial, invocando a teoria contratualista, casamento é uma
espécie de negócio jurídico do Direito de Família, de natureza contratual. Em
assim sendo, como a maioria dos negócios jurídicos, o casamento poderá ser
realizado por meio de procuração pública com poderes especiais, nos termos
do Art. 1.542 do Código Civil.

Vale destacar as regras contidas nos incisos do referido dispositivo legal:

§ 1ᵒ A revogação do mandato não necessita chegar ao conhecimento


do mandatário; mas, celebrado o casamento sem que o mandatário
ou o outro contraente tivessem ciência da revogação, responderá o
mandante por perdas e danos.
§ 2ᵒ O nubente que não estiver em iminente risco de vida poderá fazer-se
representar no casamento nuncupativo.
§ 3ᵒ A eficácia do mandato não ultrapassará 90 (noventa) dias.
§ 4ᵒ Só por instrumento público se poderá revogar o mandato
(BRASIL, 2002).

Por fim, nessa linha das espécies de casamento, ainda precisamos tratar
sobre o casamento religioso com efeitos civis.

2.4.4 Casamento religioso com efeitos civis


A Constituição Federal de 1988 prevê no § 2ᵒ, do Art. 226 que “o casamento
religioso tem efeito civil, nos termos da lei”.

Tendo em vista o Estado brasileiro ser laico, a doutrina dominante sustenta


que, para ter efeitos civis, o casamento pode ser celebrado perante qualquer religião.

Dando aplicabilidade ao mandamento constitucional, o Art. 1.515 do Código


Civil anuncia que, “o casamento religioso que atender às exigências da lei para a
validade do casamento civil, equipara-se a este, desde que registrado no registro
próprio, produzindo efeitos a partir da data de sua celebração” (BRASIL, 2002).

44
TÓPICO 2 — CASAMENTO/UNIÃO ESTÁVEL/CONVERSÃO DA UNIÃO ESTÁVEL EM CASAMENTO

ATENCAO

Note que o registro possui efeitos retroativos até a celebração do ato


(efeitos ex tunc).

O professor Flávio Tartuce (2020, p. 1.371), com fundamento no disposto


no Art. 1.516 do Código, distingue didaticamente as duas situações possíveis de
casamento religiosos com efeitos civis:

§ 1ᵒ Casamento religioso precedido por processo de habilitação: o ato


deve ser registrado no prazo decadencial de 90 dias, contados de sua
realização, mediante comunicação do celebrante ao ofício competente,
ou por iniciativa de qualquer interessado. Após o referido prazo, o
registro dependerá de nova habilitação.
§ 2ᵒ Casamento religioso não precedido por processo de habilitação:
terá efeitos civis se, a requerimento do casal, for registrado, a qualquer
tempo, no registro civil, mediante prévia habilitação perante a
autoridade competente. Nesse caso, deve ser respeitado o prazo de
90 dias, contados de quando foi extraído o certificado para a eficácia
dessa habilitação (Art. 1.532 do Código Civil). Sendo homologada a
habilitação e certificada a inexistência de impedimento, o oficial fará o
registro do casamento religioso, o que tem efeito ex tunc, à celebração.

Concluindo esses apontamentos, estabelece o § 3ᵒ, do Art. 1.516, que


será eivado de nulidade o registro civil de casamento se, antes dele, qualquer
dos contraentes houver contraído com outrem casamento civil. Note que tal
dispositivo materializa o princípio da monogamia.

E
IMPORTANT

É obrigação do Oficial registrador enviar mensalmente relatório ao Ministério


da Justiça, informando se houve casamento de estrangeiro na serventia.

45
UNIDADE 1 — ELEMENTOS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS

2.5 PROVAS DO CASAMENTO


Os Arts. 1.543 a 1.547 do Código Civil consagram a regulamentação acerca
das provas do casamento. Veja os dispositivos:

Art. 1.543. O casamento celebrado no Brasil prova-se pela certidão


do registro.
Parágrafo único. Justificada a falta ou perda do registro civil, é
admissível qualquer outra espécie de prova.
 Art. 1.544. O casamento de brasileiro, celebrado no estrangeiro, perante
as respectivas autoridades ou os cônsules brasileiros, deverá ser
registrado em cento e oitenta dias, a contar da volta de um ou de ambos
os cônjuges ao Brasil, no cartório do respectivo domicílio, ou, em sua
falta, no 1o Ofício da Capital do Estado em que passarem a residir.
  Art. 1.545. O casamento de pessoas que, na posse do estado de
casadas, não possam manifestar vontade, ou tenham falecido, não se
pode contestar em prejuízo da prole comum, salvo mediante certidão
do Registro Civil que prove que já era casada alguma delas, quando
contraiu o casamento impugnado.
 Art. 1.546. Quando a prova da celebração legal do casamento resultar
de processo judicial, o registro da sentença no livro do Registro Civil
produzirá, tanto no que toca aos cônjuges como no que respeita aos
filhos, todos os efeitos civis desde a data do casamento.
Art. 1.547. Na dúvida entre as provas favoráveis e contrárias, julgar-se-á
pelo casamento, se os cônjuges, cujo casamento se impugna, viverem ou
tiverem vivido na posse do estado de casados (BRASIL, 2002).

A partir das disposições normativas, a doutrina identifica três espécies


de provas do casamento: a) prova direta; b) provas diretas complementares ou
supletórias; e c) prova indireta.

A prova direta é feita pela Certidão de Casamento expedida pelo Cartório


de Registro Civil.

E
IMPORTANT

O STJ já decidiu que o casamento realizado no estrangeiro é válido no


país, tenha ou não sido aqui registrado, e por isso impede novo matrimônio, salvo se
desfeito o anterior (REsp 280197/RJ)

A categoria das provas diretas complementares diz respeito à previsão


do parágrafo único do Art. 1.543, qual aduz que justificada a falta ou perda do
registro civil, é admissível qualquer outra espécie de prova.

Por fim, a prova indireta encontra fundamento na “posse de estado de


casado”, ou seja, na demonstração efetiva da situação de casados.

46
TÓPICO 2 — CASAMENTO/UNIÃO ESTÁVEL/CONVERSÃO DA UNIÃO ESTÁVEL EM CASAMENTO

Havendo o perecimento do Registro, o casamento será provado


indiretamente através de todo e qualquer meio de prova permitido pelo
ordenamento jurídico. As provas serão produzidas em uma ação de justificação
de casamento, de competência da Vara de Família, que poderá ser ajuizada pelos
cônjuges ou por terceiros interessados (filhos, credores).

NOTA

A expressão “posse do estado de casados”, prevista no Art. 1.545 do Código


Civil, consagra a aplicação da Teoria da Aparência ao Direito de Família, tendo em vista que
o casamento restará provado se os cônjuges: usam nome de casados, tratam-se como
casados e possuem “fama” de casados.

Ao proferir a sentença na ação de justificação de casamento, o juiz deverá


aplicar o princípio in dubio pro casamento, ou seja, havendo dúvidas entre provas
favoráveis e contrárias, a decisão deve ser pela existência do casamento. Destaca-
se que a sentença procedente produzirá efeitos retroativos (efeito ex tunc).

TUROS
ESTUDOS FU

No subtópico seguinte, trataremos dos efeitos jurídicos do casamento.

2.6 EFEITOS JURÍDICOS DO CASAMENTO


Partindo da premissa legal, contida no Art. 1.511 do Código Civil, de
que o casamento é uma comunhão de vida, é certo que desta relação jurídica
decorrerá vários efeitos jurídicos.

• A emancipação do cônjuge incapaz (Parágrafo único, Art. 5ᵒ do Código Civil):


ressalta-se que mesmo com a dissolução do casamento, seja por viuvez,
separação ou divórcio, antes do cônjuge emancipado complementar 18
(dezoito) anos, não implicará o retorno à condição de incapaz.
• Estabelecimento de vínculo de parentesco por afinidade entre cada um dos
cônjuges e os parentes do outro (Art. 1.595 do Código Civil): este efeito jurídico
também incide nas uniões estáveis por força do mesmo dispositivo legal.

47
UNIDADE 1 — ELEMENTOS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS

• Atribuição do estado de casado, com modificação do status personae anterior


dos consortes: é efeito jurídico com alcance em relação a terceiros, sendo uma
das qualificações pelas quais uma pessoa é identificada no meio social.
• Estabelecimento de presunção de paternidade (pater is es quaem justas núpcias
demonstrant) em relação aos filhos concebidos na constância do casamento (Art.
1.597 do Código Civil).
• Fixação do domicílio conjugal: o Art. 1.569 estabelece que o domicílio do
casal será escolhido por ambos os cônjuges, mas um e outro podem ausentar-
se do domicílio conjugal para atender a encargos públicos, ao exercício de
sua profissão, ou a interesses particulares relevantes. Entretanto, doutrina
e jurisprudência entendem que não se pode exigir a presença dos cônjuges
num mesmo domicílio, sendo normalmente aceito, inclusive, que um mesmo
casal estabeleça sua vida conjugal em mais de um domicílio, sendo tal decisão
pertencente à esfera de intimidade do casal.
• Contribuição proporcional para a manutenção do lar conjugal,
independentemente do regime de bens: o Art. 1.568 do Código Civil impõe
a obrigatoriedade de que os cônjuges concorram na proporção de seus bens
e dos rendimentos do trabalho, para o sustento da família e a educação dos
filhos, qualquer que seja o regime patrimonial.
• Possibilidade de acréscimo de sobrenome: o § 1ᵒ do Art. 1.565, é claro ao dispor
que qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao seu o sobrenome o
do outro. Portanto, fica claro que se trata de uma faculdade.

E
IMPORTANT

Acadêmico, lembre-se que o direito ao nome se trata de direito personalíssimo,


compreendido nele o nome e, também o sobrenome (Art. 16 do Código Civil).

A inclusão do sobrenome de um dos nubentes no nome do outro se dá


mediante solicitação durante o processo de habilitação, porém, a jurisprudência
do STJ (REsp 910094/SC) já reconhece a possibilidade de se realizar essa inclusão
após o casamento, devendo ser devidamente motivada e requerida perante o
Poder Judiciário, por meio do ajuizamento da ação de retificação de registro civil
prevista nos Arts. 57 e 109 da Lei 6.015/1973.

Um assunto que não se pode deixar de levar ao seu conhecimento,


acadêmico, é o Pacto Antenupcial. Embora, não pormenorizaremos aqui os
regimes de bens, destacados na sequência, pois ficou a cargo do Direito de Família,
por razões registrais, importa trazer algumas linhas desse acordo pré-nupcial,
chamado Pacto Antenupcial: um conceito de pacto antenupcial, nas palavras de
Blasius (2018), “O pacto antenupcial, também chamado de pacto nupcial, é um
contrato pré-nupcial ou convenção matrimonial firmado pelos casais antes da
celebração do casamento”.
48
TÓPICO 2 — CASAMENTO/UNIÃO ESTÁVEL/CONVERSÃO DA UNIÃO ESTÁVEL EM CASAMENTO

Portanto, frisa-se, caso o casal queira que no seu casamento vigore o regime
da comunhão parcial de bens, não será necessário que faça um pacto antenupcial.
Cabe destacar, que é nula a convenção ou cláusula que conflite com normas de
ordem pública (Art. 1.655 do Código Civil). Como exemplo desta regra, o STJ
(REsp. 954567/PE) entende que é nula a cláusula que exclui o direito à sucessão
no regime de comunhão parcial de bens, afastando a concorrência sucessória do
cônjuge com os ascendentes.

O Código Civil exige que o pacto antenupcial seja feito por meio de
escritura pública, devendo ser realizado durante o processo de habilitação (Art.
1.653 do Código Civil). Ademais, resta explícito que é nulo o pacto nupcial se não
for feito por escritura pública. De outra maneira, será ineficaz o pacto nupcial se
não lhe seguir o casamento.

O Art. 1.656 da lei civil traz regra específica ao regime de participação final
dos aquestos. Estabelece que caso seja adotado tal regime no pacto nupcial, será
possível ter convenção no sentido de se estabelecer a livre disposição dos bens
imóveis, desde que particulares, mitigando a regra que exige a outorga conjugal
(Art. 1.647 do Código Civil).

O pacto antenupcial deve ser registrado no Registo de Imóveis do


domicílio dos cônjuges para que venha ter efeitos perante terceiros (Art. 1.657 do
Código Civil). Sem adentrar nas espécies em si, assunto do Direito de Família,
porém, necessário que se contemple as espécies de Regimes de bens adotados no
Brasil, o Código Civil de 2002, consagra quatro regimes de bens entre os cônjuges:

• Regime da comunhão parcial de bens.


• Regime da comunhão universal de bens.
• Regime da participação final nos aquestos.
• Regime da separação de bens.

Concluímos o estudo sobre o CASAMENTO, e, conforme você percebeu


algumas questões já estão previstas no livro que trata do Direito de Família;
cabendo neste as situações mais direcionadas às de ordem registrais ou que dizem
respeito ao Registro Público. Todavia, não se avança num tema sem a noção do
outro, por esta razão, a matéria, obrigatoriamente, na questão civil, em alguns
pontos, ficou repetida.

Agora seguimos com a UNIÃO ESTÁVEL.

49
UNIDADE 1 — ELEMENTOS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS

3 UNIÃO ESTÁVEL
Já aprendemos que a partir da Constituição de 1988 tivemos a
consagração de muitas mudanças positivas no tratamento dado ao Direito
de Família. É possível afirmar que o reconhecimento da união estável como
entidade familiar consiste em uma dessas grandes e positivas mudanças.

A partir do reconhecimento expresso pela Lei Maior (Art. 226, § 6ᵒ) de


nosso país do instituto da união estável, o direito pátrio passa a reconhecer um
fato social e, sobretudo, protegê-lo à luz da perspectiva constitucional de que a
família é base da sociedade e, por isso, merece especial proteção do Estado.

Conforme já fora explicitado nos tópicos anteriores, a única forma de


constituição de família no Código de 1916 era por meio do casamento. As relações
constituídas sem casamento eram chamadas de concubinato, sendo consideradas
meras sociedades de fato.

O contexto fático se impôs e diante das inúmeras relações de concubinato, a


jurisprudência passou a reconhecer efeitos jurídicos a tais relações. Isto culminou
na edição das Súmulas 380 e 382, ambas do STF. Veja:

Súmula 380 STF - comprovada a existência de sociedade de fato entre


os concubinos, é cabível a sua dissolução judicial, com a partilha do patrimônio
adquirido pelo esforço comum (BRASIL, 1964a).

Súmula 382 STF - A vida em comum sob o mesmo teto, "more uxório", não
é indispensável à caracterização do concubinato (BRASIL, 1964b).

Com base em tais entendimentos, passou-se a dividir o concubinato em


“puro” e “impuro”. O primeiro se referia à união estável como entidade familiar,
ocorrendo quando pessoas viúvas, solteiras, separadas de fato ou divorciadas
viviam em concubinato. O segundo se referia ao concubinato de pessoa
casada e não separada (concubinato adulterino) ou na ocasião de existir algum
impedimento de parentesco ou de crime.

Apenas com a Constituição Federal de 1988 alterou-se o tratamento


jurídico conferido ao concubinato, que passou a ser chamado de união estável
(concubinato puro) e ser considerado como uma entidade familiar, merecendo
proteção do Estado. Por outro lado, o concubinato impuro não é considerado
entidade familiar pela expressa dicção do Art. 1.727 do Código Civil: “as relações
não eventuais entre o homem e a mulher, impedidos de casar-se, constituem
concubinato” (BRASIL, 2002).

A seguir, trataremos do conceito e o tratamento do instituto da união


estável conferido pelo Código Civil de 2002, bem como suas diferenças em relação
ao casamento.

50
TÓPICO 2 — CASAMENTO/UNIÃO ESTÁVEL/CONVERSÃO DA UNIÃO ESTÁVEL EM CASAMENTO

3.1 CONCEITO
O Art. 226, § 3ᵒ da Constituição Federal de 1988, é claro ao estabelecer
que “para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o
homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão
em casamento” (BRASIL, 1988).

Por sua vez, o Código Civil traz o conceito de união estável no seu Art. 1.723:

Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre


o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e
duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família.
§ 1ᵒ A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos
do Art. 1.521; não se aplicando a incidência do inciso VI no caso de a
pessoa casada se achar separada de fato ou judicialmente.
§ 2ᵒ As causas suspensivas do Art. 1.523 não impedirão a caracterização
da união estável (BRASIL, 2002).

NOTA

A união estável apenas estará configurada quando as pessoas não forem


impedidas de se casarem. Havendo impedimentos, conforme vimos, estará configurado o
concubinato (Art. 1.727 do Código Civil).

À luz do texto constitucional, a doutrina afirma que a união estável não


seria igual ao casamento, tanto que a primeira pode ser convertida na segunda.
“Aduz ainda que não existe hierarquia entre as instituições, sendo ambas entidades
familiares que contam com a proteção constitucional” (TAURTUCE, 2020, p. 1.538).

Neste momento, passamos a destacar os requisitos legais caracterizadores


da união estável:

• Diversidade de sexo: apesar do texto legal fazer referência à dualidade de gênero


(homem e mulher), reconhece-se a união estável homoafetiva (STF ADI 4277).
• Estabilidade: é necessário que a relação seja não momentânea, possuindo um
caráter estável.
• Convivência pública e duradoura: não há tempo mínimo para que a relação
seja considerada união estável, mas a convivência deve ser pública e estável.
Ademais, a publicidade não pressupõe o registro em cartório, apenas significa
que a relação não é “clandestina” ou “às escondidas”.
• Objetivo de constituir família: é o elemento finalístico da união estável. Não requer,
necessariamente, que o casal coabite no mesmo imóvel ou que tenha filhos.
• Ausência de impedimentos: os impedimentos matrimoniais, previstos no Art.
1.521 do Código Civil, não podem estar caracterizados.
51
UNIDADE 1 — ELEMENTOS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS

3.2 EFEITOS PESSOAIS E PATRIMONIAIS DA UNIÃO ESTÁVEL


Quanto aos efeitos pessoais da união estável, podemos destacar os
seguintes:

• Deveres conjugais: o Art. 1.724 do Código dispõe que as relações pessoais entre
os companheiros obedecerão aos deveres de lealdade, respeito e assistência, e
de guarda, sustento e educação dos filhos.

NTE
INTERESSA

Perceba que os efeitos fidelidade e coabitação (exigidos no casamento) não


estão previstos para a união estável.

• Acréscimo do sobrenome: é possível, com fundamento no Art. 109 da Lei de


Registros Públicos, havendo a necessidade de se fazer requerimento judicial
para que haja uma retificação no registro.
• Parentesco: nos termos do Art. 1.595 do Código Civil, o parentesco por afinidade
será estabelecido tanto no casamento como na união estável.
• Inalterabilidade do estado civil: uma pessoa solteira que convive em união
estável continuará tendo o estado civil de solteira.
• Não emancipação: o casamento altera o estado civil e emancipa. Contudo, na
união estável isso não acontece.
• Presunção de paternidade: pela dicção do Art. 1.597 do Código Civil, a
presunção de paternidade é exclusiva do casamento. Todavia, prevalece no
STJ o entendimento de que também alcança a união estável.

Quanto aos efeitos patrimoniais da união estável, devemos iniciar a


análise pelo regime de bens. O Art. 1.725 do Código Civil é claro ao dispor que na
união estável, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-se às relações
patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial de bens. Dessa forma,
assim como no casamento, temos o regime da comunhão parcial como regra geral.

Por outro lado, há a possibilidade da realização de contrato de


convivência ou contrato de união estável com objetivo de disciplinar os efeitos
da união estável. Trata-se de negócio jurídico celebrado entre as partes, o qual
terá efeito apenas entre as mesmas. Não há necessidade de ser realizado por
meio de escritura pública.

52
TÓPICO 2 — CASAMENTO/UNIÃO ESTÁVEL/CONVERSÃO DA UNIÃO ESTÁVEL EM CASAMENTO

Outro efeito patrimonial a ser pontuado é relativo ao instituto da outorga


conjugal. Segundo a dicção do Art. 1.647 do Código Civil, a outorga conjugal
não se aplicaria à união estável. Entretanto, nota-se divergência jurisprudencial
no âmbito do STJ, havendo posição no sentido que seria possível a exigência de
outorga conjugal na hipótese de união estável notória (de conhecimento público).

Neste ponto, acadêmico, é importante que você não confunda o instituto


da outorga conjugal previsto no diploma civilista, com a previsão do Art. 73
do Código de Processo Civil de 2015, esta última aplicada à união estável por
expressa dicção legal. Veja:

Art. 73. O cônjuge necessitará do consentimento do outro para propor


ação que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob
o regime de separação absoluta de bens.
§ 1ᵒ Ambos os cônjuges serão necessariamente citados para a ação:
I- que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob
o regime de separação absoluta de bens;
II- resultante de fato que diga respeito a ambos os cônjuges ou de ato
praticado por eles;
III- fundada em dívida contraída por um dos cônjuges a bem da
família;
IV- que tenha por objeto o reconhecimento, a constituição ou a
extinção de ônus sobre imóvel de um ou de ambos os cônjuges.
§ 2ᵒ Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do
réu somente é indispensável nas hipóteses de composse ou de ato por
ambos praticado.
§ 3ᵒ Aplica-se o disposto neste artigo à união estável comprovada nos
autos (BRASIL, 2015).

Já quanto ao direito aos alimentos, saiba que a pensão alimentícia é


conferida aos conviventes em união estável, nas mesmas hipóteses do casamento,
já estudadas.

Com relação ao direito à herança, neste momento, apenas saiba que o


convivente em união estável terá os mesmos direitos à herança que decorrem do
casamento, aplicando-se o disposto no Art. 1.829 do Código Civil, tendo em vista
que o STF declarou a inconstitucionalidade do Art. 1.790 do mesmo diploma. A
temática será abordada na unidade destinada aos estudos dos direitos sucessórios.

Por oportuno, em relação ao direito real de habitação, previsto no Art.


1.831 do Código Civil, a jurisprudência do STJ e do STF é tranquila no sentido de
ser aplicável à união estável.

Você já ouviu falar em “namoro qualificado”?

A expressão “namoro qualificado” é utilizada pela jurisprudência


do STJ para estabelecer a diferença entre namoro e união estável. O namoro
qualificado vem sendo entendido como a relação em que não existe o
propósito de constituir família com ou sem filhos, mesmo que haja coabitação.
A interpretação é que mesmo convivendo, há uma projeção futura para

53
UNIDADE 1 — ELEMENTOS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS

formação de família e não presente, sendo esses os fundamentos que o STJ


se utilizou para definir o tal do namoro qualificado. O namoro qualificado
não goza da mesma proteção legal e constitucional que a união estável, posto
que não se caracteriza como entidade familiar. Porém, certo que é difícil, na
prática, diferenciar tal instituto da união estável.

DICAS

Para o aprofundamento na temática do “namoro qualificado”, indicamos a


leitura do artigo União Estável e Namoro Qualificado de autoria do Professor Flávio Tartuce.
Na íntegra em: http://www.flaviotartuce.adv.br/artigos/3

A seguir, terminando nosso estudo sobre a união estável, abordaremos a


conversão da união estável em casamento.

4 CONVERSÃO DA UNIÃO ESTÁVEL EM CASAMENTO


A Constituição Federal, em seu Art. 226, § 3ᵒ, prevê a facilitação da
união estável em casamento. Todavia, o Código Civil, em seu Art. 1.726, dispõe
dificultando a aplicação do texto constitucional, pois ao invés de facilitar tal
conversão, prevê que será feita judicialmente.

A Constituição prevê que a lei facilitará a conversão da união estável em


casamento. Já o Art. 1.726 do Código Civil prevê que para haver a conversão da
união estável em casamento é necessário formular pedido ao juiz e proceder com
o assento perante o Registro Civil. Após muitos provimentos, Brasil afora, pelas
Corregedorias de Justiças dos Estados disciplinando a matéria e aquiescendo
com conversão da união estável em casamento, pela via administrativa, com
requerimento diretamente ao Oficial do Registro Civil competente.

No entanto, o STJ entende que o casal poderá fazer o pedido diretamente


no Registro Civil, caso assim o queira, ou perante o juiz (REsp 1685937/RJ). O
entendimento se fundamenta na previsão do Art. 8ᵒ da Lei nᵒ 9.278/1996 o qual
prevê literalmente a possibilidade de que a conversão da união estável em
casamento seja feita pela via extrajudicial, malgrado o texto do Código Civil, bem
mais atual. Sobre a Conversão da união estável em casamento. Nigri (2020, p. 20)
salienta, endossando nossos estudos:

54
TÓPICO 2 — CASAMENTO/UNIÃO ESTÁVEL/CONVERSÃO DA UNIÃO ESTÁVEL EM CASAMENTO

A Constituição Federal, em seu Artigo 226, equiparou a união estável


ao casamento, dispondo em seu parágrafo 3/] que ‘é reconhecida
a união estável entre o homem e a mulher, como entidade familiar,
devendo a lei facilitar sua conversão em casamento’. Diante disso, há a
possibilidade de os conviventes homoafetivos ou heteroafetivos irem
ao cartório para pedir a conversão da união estável em casamento,
quando, mesmo sem realização da cerimônia, é feito o processo de
habilitação e, após, os conviventes passam para o estado civil de
casados (NIGRI, 2020).

Concluímos este tópico, que conforme alertado na introdução, o conteúdo


é bastante semelhante ao encontrado no livro que trata do Direito de Família,
apenas aqui a temática levou em conta aspectos registrais. Agora vamos seguir
nossos estudos com o Registro do óbito no Registro Civil das Pessoas Naturais.
Seguimos para o Tópico 3.

55
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Hoje, o casamento pode ser conceituado como a união de duas pessoas do


mesmo ou de sexo distintos, reconhecida e regulamentada pelo Estado, formada
com o escopo de constituir família, sendo baseado em um vínculo de afeto.

• Com o advento da Lei nᵒ 13.811/2019, o Art. 1.520 passou a dispor expressamente


que “não será permitido, em qualquer caso, o casamento de quem não atingiu
a idade núbil, ou seja, 16 anos de idade, observado o disposto no Art. 1.57 deste
Código” (BRASIL, 2019).

• No caso de os contraentes não realizarem convenção, ou havendo convenção,


esta for nula ou ineficaz, vigorará, quanto aos bens entre os cônjuges, o regime
da comunhão parcial (Art. 1.640, caput do Código Civil).

• Há um rol taxativo de impedimentos para o casamento disposto no Art. 1.521


do Código Civil, no qual encontramos: os ascendentes com os descendentes,
seja o parentesco natural ou civil; os afins em linha reta; o adotante com quem
foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante; os irmãos,
unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive; o
adotado com o filho do adotante; as pessoas casadas; o cônjuge sobrevivente
com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte.

• A partir das disposições normativas, a doutrina identifica três espécies de


provas do casamento: a) prova direta; b) provas diretas complementares
ou supletórias; e c) prova indireta. A prova direta é feita pela Certidão de
Casamento expedida pelo Cartório de Registro Civil.

• A união estável só pode ser configurada quando não houver impedimento


para o casamento, em assim havendo, é considerada concubinato.

• Com relação a outorga uxória ou vênia conjugal, na união estável, também


deve ser observada, quanto às ações reais imobiliárias e possessórias, conforme
o Art. 73 do Código de Processo Civil, que expressa essa exigência em seu § 3ᵒ.

• Atualmente, a Conversão da União Estável em Casamento já pode ser feita


diretamente com requerimento ao Oficial do Registro Civil competente, não
mais sendo exigida a autorização por uma ação judicial.

56
AUTOATIVIDADE

1 O Código Civil sofreu alteração com a Lei nᵒ 13.811/2019, que modificou


o Art. 1.520. Essa nova redação traz a idade núbil, idade mínima que se
pode permitir a realização do casamento. Quanto à idade núbil, assinale a
alternativa CORRETA:

a) ( ) 14 anos de idade.
b) ( ) 16 anos de idade.
c) ( ) 18 anos de idade.
d) ( ) 20 anos de idade.

2 As causas suspensivas do casamento, dispostas no Art. 1.523 do Código


Civil, não acarretam a nulidade; não impedindo, portanto, a realização do
casamento, mas, como consequência, impõe a obrigatoriedade quanto ao
regime de bens, que o casamento seja realizado pelo regime da separação
de bens. Quanto às causas suspensivas, analise os itens a seguir:

I- o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer
inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros.
II- a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido
anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução da
sociedade conjugal.
III- o divorciado, mesmo que não houver sido homologada ou decidida a
partilha dos bens do casal.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 O regime da separação obrigatória de bens, é um dos quatro regimes de


bens do casamento atualmente. Esse critério deve ser observado com rigor
pelo Oficial de Registro Civil, pois visa proteger os interesses de certos
indivíduos. Quanto à exigência legal que determina:   é obrigatório o
regime da separação de bens no casamento, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:

( ) Das pessoas que contraírem o casamento com inobservância das causas


suspensivas da celebração do casamento.
( ) Da pessoa maior de 60 (sessenta) anos.
( ) De todos que dependerem de autorização judicial para casar.

57
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 A união estável é uma realidade já há muito tempo. É claro que as hipóteses


admitidas são as mesmas para o casamento; por exemplo, também
não se admite união estável de pessoa casada. Todavia, com relação à
CONVERSÃO DA UNIÃO ESTÁVEL EM CASAMENTO, a legislação civil
exigia autorização judicial para que o Oficial do Registro Civil pudesse
registrar o ato. Disserte sobre o procedimento para a CONVERSÃO DA
UNIÃO ESTÁVEL EM CASAMENTO.

5 Com o advento do Código Civil de 2002, o Brasil passou a conviver com


uma nova estrutura no que diz respeito aos regimes de bens no casamento.
Sabemos que a importância disso é também econômica/patrimonial, já que
duas pessoas se juntam e comungam, ou não, seus bens. Esses reflexos se
estendem ao Direito das Sucessões. Disserte sobre quais são os REGIMES
DE BENS NO CASAMENTO.

58
TÓPICO 3 —
UNIDADE 1

ALTERAÇÃO DE GÊNERO E NOME/ALTERAÇÃO DO NOME


DA GENITORA E REGISTRO DE ÓBITO

1 INTRODUÇÃO
Neste terceiro e último tópico da Unidade 1 da nossa Disciplina
Elementos do Registro Civil de Pessoas Naturais, Jurídicas e Títulos e
Documentos, desafiamos você a acompanhar temas que já se encontram na
pauta das agendas político/jurídico do país, em especial os dois primeiros, que
tratam da ALTERAÇÃO DE PRENOME E GÊNERO e também da ALTERAÇÃO
DO NOME DA GENITORA.

A questão de gênero, não é um assunto novo! Durante — não sabemos


precisar em anos — quanto tempo esse era um assunto velado, proibido, enrustido,
enfim, era “pecado” até falar no tema, quiçá alguém se assumir pertencente a
outro gênero, diverso daquele atestado ao nascer (masculino ou feminino).

Nossa tarefa, no entanto, por se tratar de temas ainda muito discutidos na


vanguarda do Direito, em que pese a sempre existência desses fatos na Sociedade,
é deixá-lo mais informado das questões práticas com os atuais acontecimentos,
por assim dizer, em relação às decisões dos Tribunais e normatização.

Dito isso, acadêmico, nessa temática você não vislumbrará potencialmente


descrição de eventos históricos e muito conceituais, pois nossa opção foi partir
para uma práxis pelas razões dantes mencionadas, permitindo seu olhar, mesmo
que apenas curioso, a sociedade atual e ao tratamento jurídico.

DICAS

A respeito de uma contextualização histórica sugere-se a leitura do artigo


publicado pela Associação dos Notários e Registradores do Brasil (ANOREG), produzido
por Patrícia Veloso, Laila Soares e Geicielly de Jesus, com o título Mudança do Nome e
Retificação do Gênero no Registro Civil. Acesse na íntegra em: https://www.anoreg.org.br/
site/2018/07/13/artigo-mudanca-do-nome-e-retificacao-do-genero-no-registro-civil-por-
patricia-veloso-laila-soares-geicielly-de-jesus/

59
UNIDADE 1 — ELEMENTOS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS

Desde já alertamos que exemplos e nomes citados no presente tópico,


fazem parte de elementos de estudo, ou seja, tratam-se de casos hipotéticos e
nomes fictícios. Pelo sigilo que as questões requerem, o zelo e a ética que são
premissas institucionais, ressaltamos que quaisquer semelhanças com nomes e
casos reais são mera coincidência.

Vamos então iniciar nossos estudos com a temática ALTERAÇÃO DE


PRENOME E DE GÊNERO, preparados exclusiva e especialmente para você, e,
na sequência, neste tópico ainda, analisaremos a ALTERAÇÃO DO NOME DA
GENITORA e por fim o REGISTRO DO ÓBITO.

2 ALTERAÇÃO DE GÊNERO E NOME NO REGISTRO CIVIL


DAS PESSOAS NATURAIS
Acadêmico, as considerações que motivaram o Conselho Nacional de
Justiça a editar o Provimento nᵒ 73, de 28 de junho 2018, falam por si, ao expressar
o que sustentou o dispositivo sobre a alteração do prenome e do gênero nos
assentos de nascimento e casamento de pessoa transgênero no Registro Civil
das Pessoas Naturais (RCPN), as quais destacamos:

CONSIDERANDO o poder de fiscalização e normatização do Poder


Judiciário dos atos praticados por seus órgãos (Art. 103-B, § 4ᵒ, I, II e
II, da CF/88);
CONSIDERANDO a competência do Poder Judiciário de fiscalizar os
serviços dos RCPNs (Arts. 103-B, § 4ᵒ, I e III, e 236, § 1ᵒ, da CF/88);
CONSIDERANDO a competência do Corregedor Nacional de Justiça
de expedir provimentos e outros atos normativos destinados ao
aperfeiçoamento das atividades dos ofícios do RCPN (Art. 8ᵒ, X, do
Regimento Interno do Conselho Nacional de Justiça);
CONSIDERANDO a obrigação dos registradores do RCPN de
cumprir as normas técnicas estabelecidas pelo Poder Judiciário
(Arts. 37 e 38 da Lei nᵒ 8.935, de 18 de novembro de 1994);
CONSIDERANDO a legislação internacional de direitos humanos, em
especial o Pacto de San Jose da Costa Rica, que impõe o respeito ao
direito ao nome (Art. 18), ao reconhecimento da personalidade jurídica
(Art. 3ᵒ), à liberdade pessoal Art. 7ᵒ, I) e à honra e à dignidade (Art. 11.2);
CONSIDERANDO a Convenção Interamericana de Direitos Humanos,
da qual a República Federativa do Brasil é signatária e cujos dispositivos
devem ser observados sob pena de responsabilidade internacional;
CONSIDERANDO a Opinião Consultiva n. 24/17 da Corte
Interamericana de Direitos Humanos, que trata da identidade de
gênero, igualdade e não discriminação e define as obrigações dos
Estados-Parte no que se refere à alteração do nome e à identidade
de gênero;
CONSIDERANDO o direito constitucional à dignidade (Art. 1ᵒ, III,
da CF/88), à intimidade, à vida privada, à honra, à imagem (Art. 5ᵒ,
X, da CF/88), à igualdade (Art. 5ᵒ, caput, da CF/88), à identidade ou
expressão de gênero sem discriminações;
CONSIDERANDO a decisão da Organização Mundial da Saúde
de excluir a transexualidade do capítulo de doenças mentais da
Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas à Saúde
(CID) (CNJ, 2018, p. 1-2, grifo nosso).

60
TÓPICO 3 — ALTERAÇÃO DE GÊNERO E NOME/ALTERAÇÃO DO NOME DA GENITORA E REGISTRO DE ÓBITO

Esse Provimento já trouxe inúmeros reflexos nas atividades práticas dos


Registros Civis das Pessoas Naturais Brasil afora, mais adiante vamos deixar um
estudo de caso para você, como AUTOATIVIDADE.

No contexto do citado Provimento extrai-se que tanto a alteração do


prenome, quanto o gênero serão praticados por AVERBAÇÃO, pelo Oficial do
RCPN, tanto na certidão de nascimento, quanto na certidão de casamento.

Sempre que contemplamos um exemplo, a lição fica mais compreensível,


não é verdade? Então vamos ver o que isso significa na prática: em tese, havendo
o casamento homoafetivo entre duas mulheres, ou seja, duas pessoas do gênero
feminino, no qual uma, neste caso hipotético, se chama Maria e outra se chama
Joana. Tempos depois, Maria decide alterar seu prenome para Mário e seu gênero
para masculino. O que deverá fazer? Acadêmico, fique com essa questão. Vamos
continuar nossos estudos e depois resolveremos juntos, ok?

Palmilhando pelo Provimento vimos a permissão de, nessa alteração, a


possibilidade de inclusão ou exclusão de agnomes indicativos de gênero ou de
descendência. Todavia não é permitida a alteração dos nomes de família.

NTE
INTERESSA

Agnome é usado para designar uma parte do nome que diferencia o indivíduo
de seus homônimos (pessoas que tem o mesmo nome). Exemplos de agnome: Júnior,
Filho, Neto, Sobrinho.

A averbação do prenome, do gênero ou de ambos poderá ser realizada


diretamente no Ofício do RCPN onde o assento foi lavrado. Outra novidade é que
a pessoa interessada pode requerer em qualquer serventia, sendo que neste caso,
deverá o registrador encaminhar o procedimento ao oficial competente, às expensas
da pessoa requerente, pela Central de Informações do Registro Civil (CRC).

O procedimento é administrativo, não necessitando de intervenção do


Poder Judiciário, com base na autonomia da pessoa requerente, que deverá
declarar perante o registrador do RCPN, a vontade de proceder à adequação
da identidade. E, também independe da comprovação de realização de cirurgia
de redesignação sexual e/ou tratamento hormonal ou patologizante, bem como
apresentação de laudo médico ou psicológico.

Interessante, acadêmico, que todo procedimento é bastante simplificado,


todavia, a pessoa requerente deverá declarar a inexistência de processo judicial
que tenha por objeto a alteração pretendida.

61
UNIDADE 1 — ELEMENTOS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS

O Art. 4ᵒ, § 6ᵒ do Provimento nᵒ 73/2018 do CNJ, elenca os documentos que


a pessoa requerente deverá apresentar ao ofício do RCPN, no ato do requerimento,
os quais destacamos:

I- Certidão de nascimento atualizada.


II- Certidão de casamento atualizada se for o caso.
III- Cópia do Registro Geral de identidade.
IV- Cópia da identificação civil nacional se for o caso.
V- Cópia do passaporte brasileiro se for o caso.
VI- Cópia do CPF.
VII- Cópia do título de eleitor.
VIII- Cópia da carteira de identidade social se for o caso.
IX- Comprovante de endereço.
X- Certidão do distribuidor cível do local de residência dos últimos
5 anos (estadual/federal).
XI- Certidão do distribuidor criminal do local de residência dos
últimos 5 anos (estadual/federal).
XII- Certidão e execução criminal do local de residência dos últimos
5 anos (estadual/federal).
XIII- Certidão dos tabelionatos de protestos local de residência dos
últimos 5 anos.
XIV- Certidão da Justiça Eleitoral do local de residência dos últimos
5 anos.
XV- Certidão da Justiça do Trabalho do local de residência dos
últimos 5 anos.
I- Certidão da Justiça Militar se for o caso (CNJ, 2018, p. 3-4).

O laudo médico que ateste a transexualidade/travestilidade; parecer


psicológico que ateste a transexualidade/travestilidade e/ou laudo médico que
ateste a realização de cirurgia de redesignação de sexo, são documentos que
são facultados à pessoa requerente apresentar para instruir o requerimento,
juntamente com os documentos listados anteriormente, os quais são obrigatórios,
pois a falta de documento impede a alteração.

Interessante acadêmico que a lei fala em Certidão, porém, não especifica


que devem ser “negativas”. Todavia, o § 9ᵒ do Art. 4ᵒ desse Provimento, traz
textualmente que “As ações em andamento ou débitos pendentes, [...] não
impedem a averbação da alteração pretendida, que deverá ser comunicada
aos juízos e órgãos competentes pelo ofício do RCPN onde o requerimento foi
formalizado” (CNJ, 2018, p. 4).

Sabe acadêmico, nosso curso tem um cunho jurídico, por essa razão
é importante que você saiba que essa alteração de prenome e/ou de gênero
tem natureza sigilosa, por isso a informação a seu respeito não pode constar
das certidões dos assentos, salvo por solicitação da pessoa requerente ou por
determinação judicial, hipóteses em que a certidão trará todo o conteúdo registral.

O registrador suspeitando de fraude, falsidade, má-fé, vício de vontade


ou simulação quanto ao desejo real da pessoa requerente, fundamentará a recusa
e encaminhará ao juiz corregedor permanente.

62
TÓPICO 3 — ALTERAÇÃO DE GÊNERO E NOME/ALTERAÇÃO DO NOME DA GENITORA E REGISTRO DE ÓBITO

Finalizado o procedimento de alteração no assento, o ofício do RCPN no


qual se processou a alteração, às expensas da pessoa requerente, comunicará
o ato oficialmente aos órgãos expedidores do RG, ICN, CPF e passaporte, bem
como ao Tribunal Regional Eleitoral (TER).

Observe acadêmico, o desdobramento que esse ato requer em relação a


outras averbações. Fique atento, porque aqui tem subsídios para a resposta da
pergunta inicial! Os §§ 2ᵒ e 3ᵒ do Art. 8ᵒ do Provimento nᵒ 73/2018, expressam:

§ 2ᵒ A subsequente averbação da alteração do prenome e do gênero


no registro de nascimento dos descendentes da pessoa requerente
dependerá da anuência deles quando relativamente capazes ou
maiores, bem como da de ambos os pais.
§ 3ᵒ A subsequente averbação da alteração do prenome e do gênero
no registro de casamento dependerá da anuência do cônjuge (CNJ,
2018, p. 3).

No caso da não anuência nos moldes dos parágrafos supracitados, o


consentimento deverá ser suprido judicialmente.

Seguindo a premissa da UNIASSELVI que “não basta saber, é preciso


saber fazer”, colacionamos um julgado do Supremo Tribunal Federal, ocorrido
em 15 de agosto de 2018:

NOTA

O Supremo Tribunal Federal (STF) é composto por 11 ministros nomeados


pelo Presidente da República, cuja função maior é ser guardião da Constituição.

O STF, por maioria, reafirmou jurisprudência da possibilidade de a


pessoa mudar seu nome e gênero no registro civil, “mesmo sem procedimento
cirúrgico de redesignação de sexo” (STF, 2018). Afirma a decisão que a alteração
pode ser feita por decisão judicial ou diretamente no Ofício de Registro Civil.

63
UNIDADE 1 — ELEMENTOS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS

FIGURA 5 – SESSÃO PLENÁRIA DO STF

FONTE: <https://www.inovamidiabrasil.com/
images/300x200/718a966ef292eb067c1fdebbcc902fb0.jpg> Acesso em: 3 nov. 2020.

A tese defendida, sob regime de repercussão geral, foi a seguinte:

O transgênero tem direito fundamental subjetivo à alteração de


seu prenome e de sua classificação de gênero no registro civil, não
se exigindo, para tanto, nada além da manifestação de vontade do
indivíduo, o qual poderá exercer tal faculdade tanto pela via judicial
como diretamente pela via administrativa (STF, 2018).

Para o Ministro Dias Toffoli – relator da ação – o desenvolvimento da


personalidade humana, deve-se afastar qualquer óbice jurídico que represente
limitação ao exercício pelo ser humano da liberdade de escolha de identidade,
orientação e vida sexual. Toffoli enfatiza que qualquer tratamento jurídico
discriminatório sem justificativa constitucional razoável e proporcional “[...]
importa em limitação à liberdade do indivíduo e ao reconhecimento de seus
direitos como ser humano e como cidadão” (RE 670422/RS, rel. Min. Dias Toffoli,
julgamento em 15.8.2018.).

A Lei nᵒ 6.015/1973 permite a alteração do prenome se exposto a situações


vexatórias. Diante da situação fática posta no dia a dia das pessoas transexuais
ficará evidente sua exposição a eventual discriminação caso não sejam admitidos
seus pedidos, o que viola, segundo o Ministro, a dignidade da pessoa humana. Com
respeito à dignidade humana na análise da Ação Direta de Inconstitucionalidade
(ADI) 4.275, o Supremo, em março de 2018, já havia reconhecido que pessoas
trans podem alterar o nome e sexo no registro civil sem que submetam a cirurgia.

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) também reconhece o direito. Em 2017,


a 4ª Turma concluiu pela não intervenção médica nos órgãos sexuais um requisito
para a alteração de gênero em documentos públicos.

64
TÓPICO 3 — ALTERAÇÃO DE GÊNERO E NOME/ALTERAÇÃO DO NOME DA GENITORA E REGISTRO DE ÓBITO

A situação passou pelo crivo do Tribunal Superior Eleitoral também,


acadêmico! Sim, em março de 2018, o TSE decidiu que as cotas de candidatos dos
partidos políticos são de gênero, e não de sexo. Assim, transgêneros devem ser
considerados de acordo com os gêneros com que se identificam.

A tese definida pelo STF, no caso relatado pelo Ministro Toffoli, cuja
origem era do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, o qual autorizou a
mudança do nome, condicionando a alteração de gênero à realização de cirurgia
de transgenitalização, ou seja, de mudança do sexo feminino para o masculino,
foi assim definida:

I- O transgênero tem direito fundamental subjetivo à alteração de


seu prenome e de sua classificação de gênero no registro civil, não
se exigindo, para tanto, nada além da manifestação de vontade
do indivíduo, o qual poderá exercer tal faculdade tanto pela via
judicial como diretamente pela via administrativa;
II- Essa alteração deve ser averbada à margem do assento de
nascimento, vedada a inclusão do termo 'transgênero';
III- Nas certidões do registro não constará nenhuma observação
sobre a origem do ato, vedada a expedição de certidão de
inteiro teor, salvo a requerimento do próprio interessado ou por
determinação judicial;
IV- Efetuando-se o procedimento pela via judicial, caberá ao
magistrado determinar de ofício ou a requerimento do interessado
a expedição de mandados específicos para a alteração dos demais
registros nos órgãos públicos ou privados pertinentes, os quais
deverão preservar o sigilo sobre a origem dos atos (RE 670422/RS,
rel. Min. Dias Toffoli, julgamento em 15.8.2018. Tema 761).

Parece-nos que esta questão da alteração do prenome e do gênero no


Registro Civil das Pessoas Naturais está bastante resolvida do ponto de vista
jurídico e sua aplicação.

DICAS

Acadêmico, quem sabe você também será desafiado a participar, e seguramente


terá êxito, em algum Concurso Público, ou, pelo menos, a buscar ascensão profissional em
Cartórios extrajudiciais, então, sugerimos a leitura do texto publicado em 17 de abril de
2019. Na íntegra em: https://blog.grancursosonline.com.br/stf-questao-alteracao-prenome-
genero-transexuais-registro-civil/

65
UNIDADE 1 — ELEMENTOS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS

A partir desses apontamentos, você já é capaz de responder à questão


deixada no início do estudo desta temática? Para relembrar: em tese, havendo
o casamento homoafetivo entre duas mulheres, ou seja, duas pessoas do gênero
feminino, no qual uma, neste caso hipotético, se chama Maria e outra se chama
Joana. Tempos depois, Maria decide alterar seu prenome para Mário e seu gênero
para masculino. O que deverá fazer?

Resposta: Maria deverá requerer a alterarão do gênero e do prenome


no seu assento de nascimento no Registro Civil onde houve o registro do
nascimento, podendo o requerimento ser recepcionado por outra serventia que
encaminhará o procedimento à origem; e alterar seus documentos pessoais.
Depois, fará requerimento encaminhado ao registrador do assento de casamento,
com anuência de Joana, para que seja averbado o nome de Mário na certidão
de casamento, na qual constará, Mário, casado com Joana. Esse requerimento
também poderá ser feito em serventia diversa que encaminhará o processo ao
registrador do assento do casamento.

Esperamos que a situação tenha ficado bem esclarecida, pois, nesta


temática, focamos mais na questão prática, sem aprofundar muito nas questões
legislativas e teóricas.

Outro tema que nos fará debruçar para pesquisar é a ALTERAÇÃO DO


NOME DA GENITORA no Registro Civil das Pessoas Naturais. Vamos ver como
isso acontece?

Seguimos para o próximo ponto!

3 ALTERAÇÃO DO NOME DA GENITORA


Acadêmico, você já deve estar se questionando em que hipóteses se faz a
ALTERAÇÃO DO NOME DA GENITORA, se isso pode ou não acontecer, suas
consequências jurídicas e os procedimentos para tal, não é mesmo?

Novamente, embora a questão não esteja regulamentada formalmente por
uma legislação específica, seja a Lei dos Registros Públicos, a Lei dos Cartórios ou
até mesmo o Código Civil, a matéria na prática foi tomando vulto em razão da
prática reiterada, se consolidando na Sociedade.

E que prática é essa? Para responder essas e outras questões relacionadas


à temática, vamos fazer uma incursão no Direito de Família, iniciando pela união
entre duas pessoas, cujos laços possibilitam que uma utilize o patronímico de
família da outra.

66
TÓPICO 3 — ALTERAÇÃO DE GÊNERO E NOME/ALTERAÇÃO DO NOME DA GENITORA E REGISTRO DE ÓBITO

NOTA

Patronímico de família é um nome ou apelido de família (sobrenome) cuja


origem encontra-se no nome do pai ou de um ascendente masculino.

Imagine a seguinte situação, acadêmico: Mário das Couves se casa


com Maria Sicrana, que decide incluir em seu nome, o sobrenome do marido,
passando a se chamar Maria Sicrana das Couves. Permaneceram unidos pelos
laços matrimonias por oito anos. Dessa união nasceram 2 (dois) filhos: João
Sicrana das Couves e Joana Sicrana das Couves. Mário e Maria se divorciam,
sendo que ela passa a usar seu nome de solteira. Tempos se passaram e,
Joana Sicrana das Couves decide ALTERAR O NOME DA GENITORA de seu
assento civil, retirando o sobrenome “Sicrana”, passando então a se chamar
Joana das Couves.

Agora, você já deve querer saber: se isso é possível, qual o procedimento


(administrativo ou judicial), como instruir o requerimento, é necessária a
maioridade civil etc. São tantos os questionamentos que podem surgir de,
aparentemente, uma questão tão simples.

Fato é que o Registro Civil joga luz à toda a identidade da pessoa humana,
conforme já vimos até aqui, pois é nele que se apoiam todas as autoridades, seja
para verificar a grafia do nome, seja para checar o estado civil atual da pessoa e
para o lançamento, liberação/emissão de documentos públicos da pessoa (Carteira
de Identidade – civil ou profissional, passaporte entre outros).

E
IMPORTANT

Vale lembrar que mesmo apresentando a certidão do Registro Civil, seja ela
de casamento ou nascimento, não significa que a pessoa seja casada ou solteira; já que
existem outras possibilidades, como, por exemplo, a União Estável, a qual, conforme já
estudamos, atualmente muito se assemelha ao casamento, difere em muito quanto às
formalidades que o casamento requer (Vide conceito de União Estável no Tópico 2).

67
UNIDADE 1 — ELEMENTOS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS

Em tempos não muito distantes, a situação de Joana, no exemplo citado,


só poderia ser contemplada com autorização obtida junto ao Poder Judiciário,
após o juiz competente, analisar o pedido com o conjunto probatório, e, em
razão da matéria (registros públicos) e dos envolvidos (menores) – da análise do
Ministério Público.

Assuntos que chegavam ao STJ, muitas vezes. A advogada baiana Liliane


Meire Reis de Queiroz, publicou artigo em 26 de janeiro de 2020 intitulado:
Alteração do nome da genitora na certidão de nascimento dos filhos após o divórcio. Do
qual, para endossar nossos argumentos, acadêmicos, colhemos o excerto:

Almejando resolver esse problema, muitas ações judiciais eram


ajuizadas a fim de permitir fazer alteração após o divórcio, até que o
Superior Tribunal de Justiça – STJ decidiu através do Recurso Especial
nᵒ 1.041.751, assegurar o direito de alterar o sobrenome materno no
registro de nascimento do filho em razão do casamento, no próprio
cartório de Registro Civil com fundamento na Lei 8.560/92, concluindo
por este entendimento através da analogia.
Desta forma, segundo o Relator Ministro Sidnei Beneti do STJ, se o
registro civil pode ser modificado posteriormente ao nascimento do
filho para constar o nome do genitor ou genitora adotado após o
casamento admitido pela Lei 8.560/91, é razoável e inteligente admitir
o mesmo direito de forma inversa e correlata.
Sob este prisma, admitiu e retificação no registro civil do filho em
relação ao nome da genitora em decorrência de divórcio, sendo um
motivo justo, no qual, não ocasiona eventuais prejuízos a terceiros, não
viola a ordem pública e nem fere aos bons costumes.
Nesta senda, este entendimento do STJ foi chancelado através
Provimento 82/2019 editado pela Corregedoria Nacional da Justiça
– CNJ que padronizou nos cartórios o procedimento de alteração do
nome do genitor/genitora no registro de nascimento dos filhos, não
existindo mais necessidade dessa alteração ser feita pelas vias judicias
(QUEIROZ, 2020, s. p.).

Nesse artigo, Queiroz (2020, s. p.) salienta que muitas mães tinham de
viajar com a certidão de casamento contendo a averbação do divórcio afim de
“justificar a alteração do seu nome com o que estar registrado na identidade
do menor, sendo uma situação desagradável, para muitas[...]” entre outras
situações constrangedoras.

Ainda citando Queiroz (2020, s. p.), importante reafirmar, acadêmico, que


o Provimento do CNJ nᵒ 82/2019, e, conforme outros comentários que veremos
adiante, “basta requerer esta alteração no próprio cartório que emitiu a certidão de
nascimento do filho mediante a apresentação da certidão de casamento averbada.
[...] Frisa-se, que para os filhos maiores de 16 (dezesseis anos) faz-se necessário
sua autorização para esta modificação”.

Em razão da relevância, é importante para você, acadêmico, reflita sobre


o que a autora nos propõe quando sustenta que é uma “grande conquista na
evolução do direito de família e sucessões que traz um grande benefício para a
sociedade [...]” (QUEIROZ, 2020, s. p.). Você já aprendeu ao iniciar os estudos nas
primeiras linhas sobre o Direito, e agora Queiroz (2020, s. p.) relembra:
68
TÓPICO 3 — ALTERAÇÃO DE GÊNERO E NOME/ALTERAÇÃO DO NOME DA GENITORA E REGISTRO DE ÓBITO

[...] o direito deve acompanhar as necessidades sociais de forma a


beneficiar as cidades e não prejudicá-las e nem criar entraves que
acabem tendo que ser discutidos e resolvidos através do judiciário,
aumentando assim, a demanda jurisdicional, o que consequentemente,
diminui a eficiência do Poder Judiciário.

Antecedendo Queiroz (2020), apontando a novidade do Provimento nᵒ


82/2019 do CNJ, Renata Vilas-Bôas – colunista do sítio eletrônico Estado de Direito:
informação formando opinião, em 9 de julho de 2019, escreveu Possibilidade de
alteração do nome do genitor na certidão de nascimento dos filhos via Cartório.

Villas-Bôas (2019, s. p.) informa que o CNJ “padroniza a questão da


alteração do nome do genitor na certidão de nascimento dos filhos [...]” e, ao
tempo que questiona: qual a importância desse provimento? Ela cita que nos
Estados e no Distrito Federal em que era necessário o ajuizamento de ações para
esse fim, ficava um descompasso gerando inúmeros contratempos.

Villas-Bôas (2019) traz um elenco de “alguns exemplos” desses


“contratempos”:

• Quando a genitora, no divórcio, reverte seu nome para o de solteira. Com a


expedição dos novos documentos, essa ao pegar um avião com sua criança
não poderia embarcar, pois os documentos não estavam compatíveis. Segundo
a autora, “seria necessário esperar o trânsito em julgado da segunda ação,
quando se pleiteava que ocorresse a mudança do nome da mãe na certidão de
nascimento da criança” (VILLAS-BÔAS, 2019, s. p.).
• Igual situação, o reconhecimento da mãe ao levar a criança ao hospital. A relação
de parentesco não retrata a realidade, assim o hospital não iria reconhecê-la.
• “No caso de direito sucessório quando a genitora que mudou o nome veio a
falecer e não fez a alteração na documentação dos filhos, juridicamente esses
não são seus herdeiros e, portanto, era necessário primeiro regularizar essa
condição” (VILLAS-BÔAS, 2019, s. p.).

Citando esses exemplos, a autora arremata que “[...] como forma


de contornar isso era necessário andar com toda a documentação, ou seja,
os documentos antigos, a sentença concedendo a alteração do nome com o
trânsito em julgado e a nova documentação. O que na hora de um imprevisto
poderia dificultar” (VILLAS-BÔAS, 2019, s. p.). Por fim, salienta que com essa
padronização, a alteração passa a ser simplificada, se referindo ao Provimento
nᵒ 82/2019 do CNJ – “com a documentação que permitiu a alteração do nome do
genitor ou da genitora, vai até o cartório com ela e com a documentação do filho
ou filha e pede para que seja feita a alteração” (VILAS-BÔAS, 2019, s. p.).

Nessa escala também é importante destacar as palavras de Carlos


Magno Alves de Souza que ao escrever: CNJ cria regras para o procedimento de
alteração de patronímico, no assento de nascimento e de casamento dos filhos –
sobre o Provimento nᵒ 82, no sítio eletrônico da serventia que é Oficial do Registro
Civil das Pessoas Naturais do Subdistrito de Brotas – Comarca de Salvador/BA,
argumenta que

69
UNIDADE 1 — ELEMENTOS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS

[...] cumpre ressaltar que essa previsão normativa não representa,


verdadeiramente, uma novidade no exercício da atividade
extrajudicial, haja vista que a averbação da alteração do patronímico
dos pais, em razão de casamento, separação ou divórcio, no assento
de nascimento e casamento dos filhos, é prática já há bastante tempo
adotada pelos Ofícios do Registro Civil das Pessoas Naturais de todo
o país, inclusive, com previsão nos respectivos Códigos de Normas
Estaduais (SOUZA, 2019, s. p.).

Aqui, percebemos que são palavras do próprio oficial registrador, com


experiência no ofício, literalmente falando, acadêmico. Todavia, ele mesmo
ressalta que o aludido procedimento independe de autorização judicial, que pode
ser requerido tanto pelos pais, quanto pelos filhos, pois há uma legitimidade
concorrente,

[...] em observância aos princípios da veracidade e da


contemporaneidade, consoante se observa o seguinte aresto:
 
DIREITO CIVIL REGISTRO PÚBLICO. RETIFICAÇÃO DO
NOME DA GENITORA POR MODIFICAÇÃO DECORRENTE
DE DIVÓRCIO. LEGITIMIDADE CONCORRENTE. DA
GENITORA. AVERBAÇÃO À MARGEM DO ASSENTO. DE REGISTRO
DE NASCIMENTO DE SEUS FILHOS MENORES. POSSIBILIDADE.
ATENDIMENTO AOS PRINCÍPIOS DA VERDADE REAL E DA
CONTEMPORANEIDADE. RECURSO ESPECIAL A QUE SE NEGA
PROVIMENTO. 1. O princípio da verdade real norteia o registro público e tem
por finalidade a segurança jurídica. Por isso que necessita espelhar a verdade
existente e atual e não apenas aquela que passou. 2. Nos termos de precedente
deste STJ “É admissível a alteração no registro de nascimento do filho para a
averbação do nome de sua mãe que, após a separação judicial, voltou a usar o
nome de solteira; para tanto, devem ser preenchidos dois requisitos: (i) justo
motivo; (ii) inexistência de prejuízos para terceiros” (REsp 1.069.864-DF,
3ª Turma, Rel. Ministra Nancy Andrighi, julgado em 18/12/2008). 3.
No contexto dos autos, inexistente qualquer retificação dos registros,
não ocorreu prejuízo aos menores em razão da averbação do nome
de solteira de sua mãe, diante do divórcio levado a efeito. 4. Recurso
especial não provido” (STJ. REsp 1.123.141/PR, Rel. Ministro LUIS
FELIPE SALOMÃO. Julgado em: 28/09/2010) (SOUZA, 2019, s. p.).

O registrador continua apontando que:

[...] é importante frisar que as certidões emitidas após a averbação


da mudança de patronímico não devem fazer menção sobre essa
alteração, apenas devendo constar a informação que “a presente certidão
envolve elementos de averbação à margem do termo”, nos termos do Art. 21,
parágrafo único, da Lei nᵒ 6.015/1973. (SOUZA, 2019, s. p., grifo do
original).

Ainda traz a lume as “NOVIDADES”, considerando situações até em


razão de viuvez. Claro que vamos colacionar o Provimento nᵒ 82/2019 do CNJ na
íntegra aqui para você também, mas, o registrador em comento, está trazendo a
matéria de uma maneira mais esmiuçada, e sentimos que você pode apreciar, veja
que interessante:

70
TÓPICO 3 — ALTERAÇÃO DE GÊNERO E NOME/ALTERAÇÃO DO NOME DA GENITORA E REGISTRO DE ÓBITO

[...] trouxe duas novidades à atividade extrajudicial, quais sejam: i) a


possibilidade do(a) viúvo(a) requerer extrajudicialmente o retorno ao seu nome de
solteiro(a), nps termos do Art. 1ᵒ, §3ᵒ, do referido Provimento; ii) a possibilidade
da alteração do sobrenome do filho menor de idade, em razão separação, divórcio
ou viuvez, quando tiver sido registrado apenas com o patronímico do outro
genitor, nos termos do Art. 2ᵒ, I e II, do referido Provimento.

POSSIBILIDADE DE RETORNO AO NOME DE SOLTEIRO(A) EM


RAZÃO DA VIUVEZ

[...] a primeira novidade trazida pelo Provimento... foi a possibilidade


do(a) viúvo(a), de posse da certidão de óbito do cônjuge falecido,
requerer extrajudicialmente o retorno ao seu nome de solteiro(a),
tendo que antes da edição essa alteração somente era admitida
mediante ordem judicial.

POSSIBILIDADE DE ACRÉSCIMO DO PATRONÍMICO DO


GENITOR AO NOME DO FILHO MENOR DE IDADE

Outra significativa inovação prevista no Provimento diz respeito


acerca da possibilidade da averbação do acréscimo do patronímico do
genitor do filho menor de idade (SOUZA, 2019, s. p.).

Assevera ainda o registrador que “não há que confundir a averbação


no assento de nascimento ou casamento dos filhos, da modificação do nome do
genitor, decorrente de casamento, separação e divórcio” (SOUZA, 2019, s. p.),
conforme previsão do Provimento nᵒ 82/2019 do CNJ (Art. 1ᵒ caput), “uma vez que,
nessa hipótese, ocorre somente a ‘atualização’ do nome do genitor no assento do
nascimento da prole, ou seja, não há alteração ao nome do filho” (SOUZA, 2019,
s. p.). E, arremata: “Diferentemente, o Art. 2ᵒ, do referido Provimento, prevê a
possibilidade de acréscimo de patronímico ao nome do filho” (SOUZA, 2019, s. p.).

DICAS

O registrador do RCPN de Brotas/BA apresenta em seu artigo os requisitos


necessários que devem ser preenchidos para o acréscimo de patronímico ao nome
do filho, em razão de alteração de sobrenome. Sugere-se a leitura na íntegra em:
http://cartoriodebrotas.com.br/?p=4916

71
UNIDADE 1 — ELEMENTOS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS

Ainda sob a luz das novas normativas sobre a temática, em especial do


Provimento da CNJ, Souza (2019) também adverte, quanto a alteração do nome
do genitor(a) que “o procedimento não pode ser realizado quando o filho já tiver
completado 18 (dezoito) anos de idade, entretanto, não há impedimento para o
filho menor emancipado, tendo em vista que o critério adotado é o da idade e não
da capacidade”.
 
Essa voz do registrador aqui em nossos apontamentos é de suma
importância, acadêmico, pois é a prática do oficial trazendo robustez/consistência
aos nossos estudos e, por consequência, jogando luz à sua formação! Sobre o
consentimento de ambos os pais, enfatiza:

Quanto à necessidade de consentimento de ambos os pais, a atribuição


do nome ao filho é um direito dos pais, de maneira que havendo
divergências quanto ao nome escolhido, a questão deve ser decidida
pela autoridade judicial competente, nos termos do Art. 1.631,
parágrafo único, do Código Civil.
Nesse aspecto, é válido ressaltar que não está se questionando o direito
ao acréscimo do patronímico ao nome do filho, todavia a quantidade de
patronímicos acrescidos e a respectiva posição na formação do nome
do filho menor pode ser objeto de discordância entre os genitores, de
maneira a justificar a anuência de ambos.
Tratando-se de filho maior de 16 (dezesseis) anos, há a possibilidade,
inclusive, de negativa do acréscimo do patronímico, nos termos do
Art. 2ᵒ, § 2ᵒ, do referido Provimento (SOUZA, 2019, s. p.).

Souza (2019) sustenta que também é imprescindível que tenha havido


alteração do nome do genitor em decorrência de separação, divórcio ou
viuvez, cumulativamente, com o fato de o filho ter sido registrado apenas com
o patronímico do outro genitor. E, assevera que uma melhor compreensão é
adquirida com a análise do teor do Acórdão proferido no Recurso Especial nᵒ
1069864, cuja jurisprudência serviu de fundamentação para elaboração do
Provimento retro comentado.

Na aludida decisão, foram observadas seguintes circunstâncias: i) em


decorrência de casamento, houve alteração no sobrenome da mãe;
ii) o nome da filha constou tão somente o sobrenome do pai; iii) em
razão de separação judicial, a mãe retornou ao nome de solteira; iv)
a filha era menor de idade; v) o pai consentiu com o acréscimo do
patronímico ao nome da filha (SOUZA, 2019, s. p.).

  Com os óculos do registrador Souza (2019), encerra-se mais esta etapa


de estudo. Colacionamos, após Subtópico 4, a íntegra do Provimento nᵒ 82 do
Conselho Nacional de Justiça. Seguimos com o estudo do REGISTRO DE ÓBITO
no Registro Civil das Pessoas Naturais, o qual encerrará a nossa Unidade 1.

72
TÓPICO 3 — ALTERAÇÃO DE GÊNERO E NOME/ALTERAÇÃO DO NOME DA GENITORA E REGISTRO DE ÓBITO

4 REGISTRO DE ÓBITO
Você já deve saber, ou pelo menos imaginar, que o registro de óbito é
feito no Registro Civil das Pessoas Naturais, e que também são exigidos alguns
requisitos para tal. Daqui em diante abordaremos este assunto, encerrando a
Unidade 1 do nosso Livro Didático da disciplina Elementos do Registro Civil das
Pessoas Naturais, Jurídicas e Títulos e Documentos.

De início, pode parecer que o REGISTRO DE ÓBITO não tem muito que
estudar não é verdade? Ledo engano de quem assim pensa. Este estudo, assim
como a maioria dos temas jurídicos, também tem suas vertentes que merecem
um olhar mais acurado. E é o que nos propomos a fazer quando formulamos esta
pesquisa para você, acadêmico.

A morte é certa? Sim, disso ninguém duvida! O que precisamos nos ater
são as consequências jurídicas daí advindas. Apenas para levá-lo a uma pequena
reflexão, apresentamos um rol de alguns questionamentos que, seguramente, no
final dos nossos estudos, você estará capacitado a responder:

ATENCAO

Apenas pelo crivo da estética na escrita, as perguntas seguem em ordem


alfabética, não seguindo, portanto, nenhum grau de maior ou menor importância/relevância,
bem como, não objetiva exaurir o tema. Atenção! Você NÃO ENCONTRARÁ AS RESPOSTAS
PRONTAS, será necessária sua dedicação à leitura. Por isso: convido você a “mãos à obra” e
a novos questionamentos, que seguramente virão!

• A cremação e o óbito como é vista atualmente? (Veja subtópico 4.1).


• A morte presumida, estudada em Direito Civil, como apresentar no RCPN? (Já
vimos que é registrada no Livro E, quando analisamos o Item 2. LIVROS).
• Como registrar o óbito de criança que ainda não teve seu nascimento registrado?
(Você já se apropriou desse conhecimento quando analisamos o Nascimento
(item 3).
• É possível sepultar sem a certidão de óbito? (Ver Art. 77 da LRP).
• Existe requisito para cremação de falecimento por suicídio? (Você também
encontrará no subitem 4.2).
• Existe “registro tardio”? (Vide subtópico 4.2).
• Há algum procedimento de comunicações que o Oficial deve fazer após a
lavratura da certidão de óbito? Sim, no Parágrafo único do Art. 80 da LRP, uma
das comunicações é para a Receita Federal.
• O que deve constar no assento do óbito? (Ver Art. 80 da LRP).
• Quem pode declarar o óbito? (Art. 79 da LRP).
• Tem prazo para registrar o óbito? (Art.78 da LRP).
73
UNIDADE 1 — ELEMENTOS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS

Com essas premissas, vamos descortinando o tema, que para muitos


chega a ser até penoso, porque o põe frente à situação que, mesmo no universo da
ciência, ou seja, para os estudos, não gostariam de se deparar, por alguma razão,
muitas vezes de ordem particular.

Nossa Lei Maior, a Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB),


apresenta dentro dos DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS:

Art. 5ᵒ Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
LXXVI – são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na forma da
lei:
[...]
A certidão de óbito (BRASIL, 1988).

Nessa mesma orientação é a Lei dos Cartórios (Lei nᵒ 8.935/94, quando


dispõe em seu “Art. 45 São gratuitos os assentos do registro civil de nascimento
e de óbito, bem como a primeira certidão respectiva” (Redação dada pela Lei nᵒ
9.534, de 10.12.1997) (BRASIL, 1994).

Por outro lado, a Lei de Registros Públicos, estabelece já em seus Arts. 1ᵒ


e 2ᵒ sobre a competência do registro do óbito:

Art. 1ᵒ Os serviços concernentes aos Registros Públicos, estabelecidos


pela legislação civil para autenticidade, segurança e eficácia dos atos
jurídicos, ficam sujeitos ao regime estabelecido nesta lei.
§ 1ᵒ Os Registros referidos neste artigo são os seguintes:
I – o registro civil de pessoas naturais;
[...]
Art. 2ᵒ Os registros indicados no § 1ᵒ do artigo anterior ficam a cargo
de serventuários privativos nomeados de acordo com o estabelecido
na Lei de Organização Administrativa e Judiciária do Distrito Federal
e dos Territórios e nas Resoluções sobre a Divisão e Organização
Judiciária dos Estados, e serão feitos:
I – o do item I, nos ofícios privativos, ou nos cartórios de registro de
nascimentos, casamentos e óbitos (BRASIL, 1973, grifo nosso).

Na Lei nᵒ 6.015/1973 (LRP), em seu Título II, o qual identifica “Do Registro
de Pessoas Naturais”, também apresenta no “Art. 29 São registrados no registro
civil de pessoas naturais: [...] III – os óbitos” (BRASIL, 1973); e na mesma linha das
disposições antes mencionadas, a gratuidade está prevista no “Art. 30 Não serão
cobrados emolumentos pelo registro civil de nascimento e pelo assento de óbito,
bem como pela primeira certidão respectiva” (BRASIL, 1973).

A LRP, também contemporiza situações de óbitos de brasileiros em país


estrangeiro:

74
TÓPICO 3 — ALTERAÇÃO DE GÊNERO E NOME/ALTERAÇÃO DO NOME DA GENITORA E REGISTRO DE ÓBITO

Art. 32. Os assentos de nascimento, óbito e de casamento de brasileiro em


país estrangeiro serão considerados autênticos, nos termos da lei do lugar
em que forem feitos, legalizadas as certidões pelos cônsules quando por
estes tomados, nos termos do regulamento consular. (grifou-se)
§ 1ᵒ Os assentos de que trata este artigo serão, porém, transladados
nos cartórios de 1ᵒ Ofício do domicílio do registrado ou no 1ᵒ Ofício
do Distrito Federal, em falta de domicílio conhecido, quando tiverem
de produzir efeito no País, ou, antes, por meio de segunda via que os
cônsules serão obrigados a remeter por intermédio do Ministério das
Relações Exteriores (BRASIL, 1973).

Já foi estudado, na parte dos LIVROS do Registro Civil, mas não custa
lembrar, acadêmico, que o registro de óbitos é feito no Livro “C”, o qual contém
300 folhas.

A LRP, em seu Art. 49, apresenta uma informação importante que diz
respeito à obrigação que o oficial tem de remeter ao IBGE, dentro dos primeiros 8
(oito) dias dos meses de janeiro, abril, julho e outubro de cada ano, um mapa dos
nascimentos, casamentos e óbitos ocorridos no trimestre anterior.

Nenhum sepultamento será feito sem certidão do oficial de registro do lugar


do falecimento ou do lugar de residência do de cujus, quando o falecimento ocorrer
em local diverso do seu domicílio, é o que reza o Art. 77 da LRP. O Art. 79 da Lei nᵒ
6.015/1973 pormenoriza quem são obrigados a fazer a declaração de óbitos:

Art. 79. São obrigados a fazer declaração de óbitos:


1ᵒ- o chefe de família, a respeito de sua mulher, filhos, hóspedes,
agregados e fâmulos;
2ᵒ- a viúva, a respeito de seu marido, e de cada uma das pessoas
indicadas no número antecedente;
3ᵒ- o filho, a respeito do pai ou da mãe; o irmão, a respeito dos irmãos e
demais pessoas da casa, indicadas no nᵒ 1; o parente mais próximo
maior e presente;
4ᵒ- o administrador, diretor ou gerente de qualquer estabelecimento
público ou particular, a respeito dos que nele faleceram, salvo se
estiver presente algum parente em grau acima indicado;
5ᵒ- na falta de pessoa competente, nos termos dos números anteriores,
a que tiver assistido aos últimos momentos do finado, o médico, o
sacerdote ou vizinho que do falecimento tiver notícia;
6°- a autoridade policial, a respeito de pessoas encontradas mortas.
Parágrafo único. A declaração poderá ser feita por meio de preposto,
autorizando-o o declarante em escrito, de que constem os elementos
necessários ao assento de óbito (BRASIL, 1973).

Acadêmico, estamos esmiuçando bem a Lei de Registros Públicos por se


tratar dos Elementos do Registro Civil, e por isso se faz necessária transcrição
de alguns artigos, porque podemos correr o risco de, por alguma razão, você
não ter acesso ao texto, não é mesmo? Vamos transcrever, também, os requisitos
necessários, como o Art. 80:

75
UNIDADE 1 — ELEMENTOS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS

Art. 80. O assento de óbito deverá conter:


1ᵒ- a hora, se possível, dia, mês e ano do falecimento;
2ᵒ- o lugar do falecimento, com indicação precisa;
3ᵒ- o prenome, nome, sexo, idade, cor, estado, profissão, naturalidade,
domicílio e residência do morto;
4ᵒ- se era casado, o nome do cônjuge sobrevivente, mesmo quando
desquitado; se viúvo, o do cônjuge pré-defunto; e o cartório de
casamento em ambos os casos;
5ᵒ- os nomes, prenomes, profissão, naturalidade e residência dos
pais;
6ᵒ- se faleceu com testamento conhecido;
7ᵒ- se deixou filhos, nome e idade de cada um;
8°- se a morte foi natural ou violenta e a causa conhecida, com o
nome dos atestantes;
9°- lugar do sepultamento;
10ᵒ- se deixou bens e herdeiros menores ou interditos;
11ᵒ- se era eleitor.
12ᵒ- pelo menos uma das informações a seguir arroladas: número
de inscrição do PIS/PASEP; número de inscrição no Instituto
Nacional do Seguro Social - INSS, se contribuinte individual;
número de benefício previdenciário - NB, se a pessoa falecida
for titular de qualquer benefício pago pelo INSS; número do
CPF; número de registro da Carteira de Identidade e respectivo
órgão emissor; número do título de eleitor; número do registro
de nascimento, com informação do livro, da folha e do termo;
número e série da Carteira de Trabalho.                        
Parágrafo único. O oficial de registro civil comunicará o óbito à Receita
Federal e à Secretaria de Segurança Pública da unidade da Federação
que tenha emitido a cédula de identidade, exceto se, em razão da
idade do falecido, essa informação for manifestamente desnecessária
(BRASIL, 1973).  

Perceba, acadêmico, quantas atribuições que o registrador civil tem, e


quão complexas a informações sobre o óbito. Claro que não é por menos, afinal
se com o nascimento estamos diante de uma nova vida no mundo com todos
os desdobramentos de causa e efeito, com o falecimento/óbito não é diferente e,
talvez, ainda mais relevante. Para se refletir!

4.1 CREMAÇÃO
O § 2ᵒ do Art. 77 dispõe que:

§ 2ᵒ A cremação de cadáver somente será feita daquele que houver


manifestado a vontade de ser incinerado ou no interesse da saúde
pública e se o atestado de óbito houver sido firmado por 2 (dois)
médicos ou por 1 (um) médico legista e, no caso de morte violenta,
depois de autorizada pela autoridade judiciária (BRASIL, 1973).

Na prática, a “morte violenta” que trata o parágrafo descrito


anteriormente, tem várias interpretações nos tribunais. Todavia, quanto ao
suicídio é unânime: têm sido deferidas as autorizações.

76
TÓPICO 3 — ALTERAÇÃO DE GÊNERO E NOME/ALTERAÇÃO DO NOME DA GENITORA E REGISTRO DE ÓBITO

AGRAVO DE INSTRUMENTO. ALVARÁ DE AUTORIZAÇÃO


PARA CREMAÇÃO. MORTE VIOLENTA POR SUICÍDIO. A
AUTORIZAÇÃO ESTÁ DISCIPLINADA NA LEI DE RESGISTROS
PÚBLICOS (LEI Nᵒ 6.015/1973), QUE PREVÊ EM SEU ART. 77, § 2ᵒ,
QUE NO CASO DE MORTE VIOLENTA A CREMAÇÃO SOMENTE
SERÁ REALIZADA DEPOIS DE AUTORIZADA PELA AUTORIDADE
JUDICIÁRIA. REGISTRO DE OCORRÊNCIA LAVRADO COMO
“FATO ATÍPICO” DIANTE DA NOTORIEDADE DA DINÂMICA DO
FATO. AUSÊNCIA DE INFORMAÇÕES QUANTO À NECESSIDADE
DE ULTERIORES INVESTIGAÇÕES CRIMINAIS. DECLARAÇÕES
DE ÓBITO EMITIDAS POR MÉDIDO LEGISTA ACOSTADA
AOS AUTOS. MANIFESTAÇÃO DE VONTADE, EM CASOS DE
CREMAÇÃO, ORDINARIAMENTE OCORRER POR INTERMÉDIO
DOS FAMILIARES DO FALECIDO, RESSALTANDO-SE QUE A LEI
DE REGISTROS PÚBLICOS NÃO ESTABELECEU FORMA ESPECIAL
PARA MANIFESTAÇÃO EM VIDA DO DE CUJUS NESTE SENTIDO.
PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS AUTORIZATIVOS.
PROVIMENTO DO RECURSO (TJ-RJ – AI:00425033620208190000,
Relator: Des(a), MARIA DA GLORIA OLIVEIRA BANDEIRA DE
MELLO, Data de Julgamento: 10/09/2020, VIGÉSIMA CÂMARA
CÍVEL Data da Publicação:14/09/2020).

No caso da análise a seguir, foi morte natural, ou seja, não houve morte
violenta, mas havia um Decreto Municipal que sustentou a decisão do TJ/RJ, em
modificar a decisão do juiz singular:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AUTORIZAÇÃO PARA CREMAÇÃO.


AUSÊNCIA DE MANIFESTAÇÃO ESCRITA. MORTE NATURAL,
SEM FILHOS OU HERDEIROS. DECLARAÇÃO DA COMPANHEIRA.
DECRETO MUNICIPAL 39094/14. POSSIBILIDADE. PROVIMENTO
DO RECURSO. 1. Tutela Cautelar requerida em caráter antecedente.
Natureza antecipada. 2. Agravante que teve indeferida, em sede de
plantão judicial noturno, a autorização para a cremação do corpo
do seu companheiro, falecido de causas naturais, sem deixar filhos
ou herdeiros. 3. Demonstração da convivência pública e contínua do
casal. 4. Artigo 115 do Decreto Municipal 39094/14, que flexibiliza a
regra contida no Artigo 77, § 2ᵒ, da Lei 6.015/1973. 5. Declaração da
companheira que se presume de acordo com a vontade do finado. 6.
Precedentes. 7. Provimento do recurso, confirmada a tutela recursal
de urgência concedida pela Exma. Desembargadora plantonista. (TJ-
RJ – AI: 00469388720198190000, Relator: Des(a). GILBERTO CLÓVIS
FARIAS MATOS, Data de Julgamento: 1/10/2019, DÉCIMA QUINTA
CÂMARA CÍVEL)

A questão também é dolorosa mesmo, acadêmico, quando se analisa um


drama familiar. No caso dessa situação na capital paranaense, em que o pedido de
uma irmã, que esperou por mais de 20 dias a autorização para liberar à cremação
pelo óbito por suicídio do irmão com depressão.

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECISÃO QUE INDEFERIU PEDIDO


DE LIBERAÇÃO DE CORPO PARA CREMAÇÃO, POR NÃO TER
SIDO REALIZADO LAUDO DE NECROPSIA. INSURGÊNCIA DA
IRMÃ DO FALECIDO. PRETENDIDA EXPEDIÇÃO DE ALVARÁ
JUDICIAL, AUTORIZANDO A CREMAÇÃO. ACOLHIMENTO.
DESARRAZOADA DEMORA NA REALIZAÇÃO DO EXAME

77
UNIDADE 1 — ELEMENTOS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS

– VINTE E UM (21) DIAS ATÉ A CONCESSÃO DO PEDIDO


DE LIMINAR – QUE JUSTIFICA A CONCESSÃO DO ALVARÁ
PLEITEADO. INQUÉRITO POLICIAL QUE DEMONSTRA DE
FORMA CLARA E INEQUÍVOCA QUE O FALECIDO COMETEU
SUICÍDIO. DESNECESSIDADE DE EXAMES COMPLEMENTARES
ATESTADA POR MÉDICO LEGISTA E, TAMBÉM, PELA POLÍCIA
CIVIL. DESIDERATO ALVITRADO PELA PROCURADORIA-GERAL
DE JUSTIÇA. RECURSO PROVIDO, CONFIRMANDO A LIMINAR.
(TJ-PR - PET: 00289128820208160000 PR 0028912-88.2020.8.16.0000
(Acórdão), Relator: Desembargador Miguel Kfouri Neto, Data de
Julgamento: 25/07/2020, 1ª Câmara Criminal, Data de Publicação:
27/07/2020).

Você já percebeu que a questão na prática não é tão simples para os casos
que a legislação prevê autorização judicial. Todavia, é sempre um desafio esses
estudos, seguimos, pois.

4.2 REGISTRO TARDIO


Por definição do Art. 78 da Lei de Registros Públicos, em regra, o registro
do óbito deve acontecer em 24 (vinte e quatro) horas do falecimento. Todavia,
apresenta hipóteses para o registro tardio.

Art. 78. Na impossibilidade de ser feito o registro dentro de 24


(vinte e quatro) horas do falecimento, pela distância ou qualquer
outro motivo relevante, o assento será lavrado depois, com a maior
urgência, e dentro dos prazos fixados no Artigo 50 (BRASIL, 1973).

E o mencionado Art. 50, conforme já fez parte dos nossos estudos no


registro do nascimento, estabelece prazo de 15 (quinze) dias, ampliado em até 3
(três) meses, situações incomuns, porém que aparecem na prática.

No caso julgado em agosto de 2020 pelo TJ/MT, o que precisa ser percebido
foi o pedido do MP quanto à competência que foi desprovido. O caso foi trazido
apenas para exemplificar que o assunto existe, embora incomum:

RECURSO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE REGISTRO


TARDIO DE ÓBITO – AJUIZAMENTO NO FORO DE DOMICÍLIO
DO INTERESSADO – PEDIDO DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA
DECLINAÇÃO DA COMPETÊNCIA PARA O FORO DO LOCAL DO
FALECIMENTO DO DE CUJUS – IMPOSSIBILIDADE – APLICAÇÃO
ANALÓGICA DO ART. 109, § 5.ᵒ, DA LEI DE REGISTROS PUBLICOS
AO CASO DE REGISTRO DE ÓBITO – LEI QUE POSSIBILITA A
REALIZAÇÃO DE PEDIDO DE RETIFICAÇÃO EM JUÍZO DIVERSO,
PODENDO A DILIGÊNCIA SER ORDENADA VIA MANDADO
– DECISÃO MANTIDA – RECURSO DESPROVIDO. O Art. 77 da
Lei 6.015/1973, Lei de Registros Públicos, prevê que o sepultamento
será feito mediante apresentação da certidão de óbito do local do
falecimento, com vistas à facilitação da busca de dados e informações
sobre o passamento e, assim, conferir maior segurança ao registro.

78
TÓPICO 3 — ALTERAÇÃO DE GÊNERO E NOME/ALTERAÇÃO DO NOME DA GENITORA E REGISTRO DE ÓBITO

Todavia, não prevê o foro competente para o processamento do


registro tardio do óbito, mas tão somente os prazos que devem ser
respeitados. Assim, não havendo disposição legal a respeito de qual
foro é competente para o pedido judicial de registro, o ajuizamento da
demanda pode ser exercido no Foro de domicílio do interessado, como
no caso dos autos.
(TJ-MT - AI: 10145059820208110000 MT, Relator: CLARICE
CLAUDINO DA SILVA, Data de Julgamento: 19/08/2020, Segunda
Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 19/08/2020).

Após o estudo do registro tardio, vamos dar sequência com outros


apontamentos:

4.3 FINADO DESCONHECIDO


O Art. 81 da LRP dispõe que “Sendo o finado desconhecido, o assento
deverá conter declaração de estatura ou medida, se for possível, cor, sinais
aparentes, idade presumida, vestuário e qualquer outra indicação que possa
auxiliar de futuro o seu reconhecimento; [...]” (BRASIL, 1973). Se encontrado
morto serão mencionados esta circunstância e o lugar em que se achava e o da
necropsia, se tiver havido.

NOTA

Necropsia é uma série de procedimentos e observações, organizados e


hierarquizados, realizada no cadáver com o objetivo de determinar o que provocou a sua morte.

Ainda, no parágrafo único, pede que seja extraída dactiloscópica


(impressão digital), se no local existir esse serviço.

4.4 PESSOAS FALECIDAS A BORDO DE NAVIO BRASILEIRO


Reza o Art. 84 da LRP que os assentos de óbitos de pessoas falecidas a
bordo de navio brasileiro serão lavrados de acordo com as regras estabelecidas
para os nascimentos, observando os requisitos que transcrevemos anteriormente,
exigidos no Art. 80 da mesma lei, com a ressalva se o enterro for no porto, onde
será tomado o assento.

79
UNIDADE 1 — ELEMENTOS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS

4.5 ÓBITOS VERIFICADOS EM CAMPANHA


Embora seja uma situação que não desejamos passar, e, na verdade, durante
o advento desta legislação, imagina-se que não tivemos notícias de assentos de
óbitos de brasileiros nessa modalidade, mesmo assim, importa destacar:

Art. 85. Os óbitos, verificados em campanha, serão registrados em


livro próprio, para esse fim designado, nas formações sanitárias e
corpos de tropas, pelos oficiais da corporação militar correspondente,
autenticado cada assento com a rubrica do respectivo médico chefe,
ficando a cargo da unidade que proceder ao sepultamento o registro,
nas condições especificadas, dos óbitos que se derem no próprio local
de combate.
Art. 86. Os óbitos a que se refere o artigo anterior serão publicados
em boletim da corporação e registrados no registro civil, mediante
relações autenticadas, remetidas ao Ministério da Justiça, contendo os
nomes dos mortos, idade, naturalidade, estado civil, designação dos
corpos a que pertenciam, lugar da residência ou de mobilização, dia,
mês, ano e lugar do falecimento e do sepultamento para, à vista dessas
relações, se fazerem os assentamentos de conformidade com o que a
respeito está disposto no Artigo 66 (BRASIL, 1973).             

Transcrevemos o Art. 66:

Art. 66. Pode ser tomado assento de nascimento de filho de militar


ou assemelhado em livro criado pela administração militar mediante
declaração feita pelo interessado ou remetido pelo comandante
da unidade, quando em campanha. Esse assento será publicado
em boletim da unidade e, logo que possível, trasladado por cópia
autenticada, ex officio ou a requerimento do interessado, para o
cartório de registro civil a que competir ou para o do 1° Ofício do
Distrito Federal, quando não puder ser conhecida a residência do pai.         
Parágrafo único. A providência de que trata este artigo será extensiva
ao assento de nascimento de filho de civil, quando, em consequência de
operações de guerra, não funcionarem os cartórios locais (BRASIL, 1973).

O Parágrafo único do Art. 88 ainda contempla o tema sobre o caso de


desaparecimento em campanha: “Art. 88 [...] Parágrafo único. Será também
admitida a justificação no caso de desaparecimento em campanha, provados a
impossibilidade de ter sido feito o registro nos termos do Art. 85 e os fatos que
convençam da ocorrência do óbito” (BRASIL, 1973).

Passamos para o último subtópico que tratará do assentamento de óbito


ocorrido em hospital, prisão ou outro qualquer estabelecimento público.

80
TÓPICO 3 — ALTERAÇÃO DE GÊNERO E NOME/ALTERAÇÃO DO NOME DA GENITORA E REGISTRO DE ÓBITO

4.6 ÓBITO OCORRIDO EM HOSPITAL


A Lei 6.015/1973, dispõe:

Art. 87. O assentamento de óbito ocorrido em hospital, prisão ou outro


qualquer estabelecimento público será feito, em falta de declaração
de parentes, segundo a da respectiva administração, observadas
as disposições dos Artigos 80 a 83; e o relativo à pessoa encontrada
acidental ou violentamente morta, segundo a comunicação, ex oficio,
das autoridades policiais, às quais incumbe fazê-la logo que tenham
conhecimento do fato (BRASIL, 1973).

O Conselho Nacional de Justiça salienta que ocorrendo o falecimento


dentro de um hospital, o trâmite é bem mais simples, pois o próprio local emite
a Declaração de Óbito. Com esse documento, o familiar vai a uma agência do
Serviço Funerário.

Por fim, a LRP no Art. 88 faculta aos juízes admitir justificação para o assento
de óbito de “pessoas desaparecidas em naufrágio, inundação, incêndio, terremoto ou
qualquer outra catástrofe, quando estiver provada a sua presença no local do desastre
e não for possível encontrar o cadáver para exame” (BRASIL, 1973).

4.7 BRASILEIRO FALECIDO NO EXTERIOR


Em rápidas linhas, conforme apresenta o Portal Consular do Itamaraty,
vamos apenas destacar que cidadãos brasileiros falecidos no exterior poderão ter
seu óbito registrado em Repartição Consular, mediante declaração de familiar
brasileiro ou de um representante escolhido pela família.

Essa certidão consular deverá ser posteriormente transcrita no Brasil,


no Cartório do 1ᵒ Ofício do Registro Civil do local do domicílio do falecido ou
do Distrito Federal. Se for necessário o registro do óbito em país e jurisdição
diferente do da sede da Repartição Consular onde ocorreu o falecimento, deverá
ser providenciada previamente a legalização da certidão. Essa legalização será
efetuada pela repartição consular com jurisdição sobre o local da emissão da
certidão estrangeira.

81
UNIDADE 1 — ELEMENTOS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS

NTE
INTERESSA

O Portal Consular do Itamaraty informa que o registro do óbito e a primeira via


da certidão são gratuitos, porém cada via adicional custa “cinco Reais Ouro (equivalentes a
US$ 5,00)” (cinco Dólares).

FONTE: <http://www.portalconsular.itamaraty.gov.br/registro-de-obito> Acesso em: 9 nov. 2020.

Acadêmico, a matéria é desafiadora, você está sendo motivado a seguir


em frente, pesquisando e aprendendo sempre! Bons estudos!

82
TÓPICO 3 — ALTERAÇÃO DE GÊNERO E NOME/ALTERAÇÃO DO NOME DA GENITORA E REGISTRO DE ÓBITO

LEITURA COMPLEMENTAR

PROVIMENTO Nᵒ 82 DO CNJ PADRONIZA NACIONALMENTE


PROCEDIMENTOS DE ALTERAÇÃO DO NOME DO GENITOR

PROVIMENTO Nᵒ 82, DE 03 DE JULHO DE 2019.

Dispõe sobre o procedimento de averbação, no registro de nascimento e no de


casamento dos filhos, da alteração do nome do genitor e dá outras providências.

O  CORREGEDOR NACIONAL DA JUSTIÇA, usando de suas atribuições


constitucionais, legais e regimentais e;

CONSIDERANDO o poder de fiscalização e de normatização do Poder Judiciário


dos atos praticados por seus órgãos (Art. 103-B, § 4ᵒ, I, II e III, da Constituição
Federal de 1988);

CONSIDERANDO a competência do Poder Judiciário de fiscalizar os serviços


extrajudiciais (Arts. 103_B, § 4ᵒ, I, e III, e 236, § 1ᵒ, da Constituição Federal);

CONSIDERANDO  a competência do Corregedor Nacional de Justiça de


expedir provimentos e outros atos normativos destinados ao aperfeiçoamento
das atividades dos ofícios de Registro Civil das Pessoas Naturais (Art. 8o, X, do
Regimento Interno do Conselho Nacional de Justiça);

CONSIDERANDO  a obrigação dos Oficiais de Registro Civil das Pessoas


Naturais de cumprir as normas técnicas estabelecidas pelo Poder Judiciário (arts.
37 e 38 da Lei n° 8.935, de 18 de novembro de 1994);

CONSIDERANDO a possibilidade de os genitores alterarem o seu nome quando


do casamento para incluir o patronímico do cônjuge, e quando da separação e do
divórcio voltar a assinar o nome de solteiro (Arts. 1.565, § 1ᵒ; 1.571, §2ᵒ, e 1.578, da
Lei nᵒ 10.406, de 10 de janeiro de 2002, Código de Processo Civil);

CONSIDERANDO  que é direito da personalidade ter um nome, nele


compreendidos o prenome e o sobrenome (Art. 16, da Lei nᵒ 10.406, de 10 de
janeiro de 2002, Código de Processo Civil), e que ter o patronímico familiar dos
seus genitores consiste no retrato da identidade da pessoa, em sintonia com
princípio fundamental da dignidade humana;

CONSIDERANDO a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, em especial


o decidido no Recurso Especial n.1.069.864.

CONSIDERANDO  o que consta do Pedido de Providências n. 0002323-


41.2019.2.00.0000.

83
UNIDADE 1 — ELEMENTOS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS

RESOLVE:

Art. 1ᵒ. Poderá ser requerida, perante o Oficial de Registro Civil competente,
a averbação no registro de nascimento e no de casamento das alterações de
patronímico dos genitores em decorrência de casamento, separação e divórcio,
mediante a apresentação da certidão respectiva.
§ 1ᵒ. O procedimento administrativo previsto no caput deste artigo não depende
de autorização judicial.
§ 2ᵒ. A certidão de nascimento e a de casamento serão emitidas com o nome
mais atual, sem fazer menção sobre a alteração ou o seu motivo, devendo fazer
referência no campo ‘observações’ ao parágrafo único Art. 21 da lei 6.015, de 31
de dezembro de 1973.
§ 3ᵒ. Por ocasião do óbito do(a) cônjuge, poderá o(a) viúvo(a) requerer averbação
para eventual retorno ao nome de solteiro(a).

Art. 2ᵒ. Poderá ser requerida, perante o Oficial de Registro Civil competente, a
averbação do acréscimo do patronímico de genitor ao nome do filho menor de
idade, quando:
I- Houver alteração do nome do genitor em decorrência de separação, divórcio
ou viuvez;
II- O filho tiver sido registrado apenas com o patronímico do outro genitor.
§ 1ᵒ. O procedimento administrativo previsto no caput deste artigo não depende
de autorização judicial.
§ 2ᵒ. Se o filho for maior de dezesseis anos, o acréscimo do patronímico exigirá o
seu consentimento.
§3ᵒ. Somente será averbado o acréscimo do patronímico ao nome do filho menor
de idade, quando o nome do genitor for alterado no registro de nascimento, nos
termos do Art. 1ᵒ, deste Provimento.
§ 4ᵒ. A certidão de nascimento será emitida com o acréscimo do patronímico do
genitor ao nome do filho no respectivo campo, sem fazer menção expressa sobre
a alteração ou seu motivo, devendo fazer referência no campo ‘observações’ ao
parágrafo único do Art. 21 da lei 6.015, de 31 de dezembro de 1973.

Art. 3ᵒ. Para os fins deste provimento deverão ser respeitadas as tabelas estaduais
de emolumentos, bem como as normas referentes à gratuidade de atos, quando
for o caso.

Art. 4ᵒ Este provimento entra em vigor na data de sua publicação.

MINISTRO HUMBERTO MARTINS


Corregedor Nacional de Justiça

FONTE: <https://www.anoreg.org.br/site/2019/07/04/provimento-no-82-do-cnj-padroniza-nacio-
nalmente-procedimentos-de-alteracao-do-nome-do-genitor/#:~:text=PQTA-,Provimento%20N%-
C2%BA%2082%20do%20CNJ%20padroniza%20nacionalmente%20procedimentos%20de%20alte-
ra%C3%A7%C3%A3o,genitor%20e%20d%C3%A1%20outras%20providencias>. Acesso em: 5 jan. 2021.

84
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• O Provimento nᵒ 73, de 28 de junho de 2018, do CNJ, modificou os


procedimentos relacionados à alteração de gênero e de prenome no Registro
Civil das Pessoas Naturais.

• Que a alteração de gênero e de prenome pode ser requerida


administrativamente direto ao Oficial do Registro Civil sem necessidade
de autorização do Poder Judiciário.

• Que a possibilidade de inclusão ou exclusão de agnomes indicativos de gênero


ou de descendência é uma realidade.

• Poderá ser requerida, perante o Oficial de Registro Civil competente, a


averbação no registro de nascimento e no de casamento das alterações de
patronímico dos genitores em decorrência de casamento, separação e divórcio,
mediante a apresentação da certidão respectiva; conforme Provimento nᵒ 82
do CNJ.

• O procedimento administrativo previsto anteriormente não depende de


autorização judicial.

• Por ocasião do óbito do(a) cônjuge, poderá o(a) viúvo(a) requerer averbação
para eventual retorno ao nome de solteiro(a).

• Poderá ser requerida, perante o Oficial de Registro Civil competente, a


averbação do acréscimo do patronímico de genitor ao nome do filho menor
de idade, quando houver alteração do nome do genitor em decorrência de
separação, divórcio ou viuvez; ou quando o filho tiver sido registrado apenas
com o patronímico do outro genitor.

• Que para os casos de morte violenta, inclusive suicídio, para cremação, é


necessária autorização do Poder Judiciário.

• A Lei prevê que o registro do óbito seja feito em 24 horas do falecimento.


Todavia, reconhece a extensão do prazo para 15 dias até 3 meses, a partir disso
é considerado REGISTRO TARDIO, e só realizado com autorização judicial.

85
• Falecimento ocorrido em navio brasileiro segue a regra, porém, pode acontecer
de sepultamento no porto, onde será tomado o assento.

• Brasileiros falecidos no exterior seguem orientações dos consulados do Brasil


no país.

CHAMADA

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86
AUTOATIVIDADE

1 Atualmente, no Brasil, a alteração de gênero e a mudança do prenome


do Registro Civil das Pessoas Naturais já é uma realidade, ou seja, é uma
possibilidade e está mais facilitada do que outrora. Esse procedimento,
todavia, é realizado de que maneira? Analise as sentenças a seguir e assinale
a alternativa CORRETA:

a) ( ) A pessoa que desejar alterar o gênero deverá recorrer ao Poder


Judiciário e, após a autorização para que o Oficial do Registro Civil
das Pessoas Naturais proceda a averbação dessa mudança, ela pode
administrativamente pleitear via requerimento a mudança do prenome.
b) ( ) Tanto a alteração do gênero como a mudança do prenome são
procedimentos que devem constar do mesmo processo judicial, no qual,
após o juiz analisar as provas e laudos, autorizará expedindo mandado,
tendo como destinatário o Oficial do Registro Civil onde a pessoa teve
o assento de nascimento registrado, que procederá a averbação.
c) ( ) O interessado fará requerimento ao Registro Civil das Pessoas
Naturais, requerendo a alteração de gênero e a mudança de nome, não
é necessário cirurgia ou laudo médico. A pessoa precisa declarar que
não tem processo judicial com o mesmo objetivo em trâmite.
d) ( ) O interessado fará requerimento do Registro Civil das Pessoas Naturais,
todavia, deverá comprovar que fez a cirurgia comprovando a mudança
de gênero e apresentar um laudo de psicólogo.

2 O nome da pessoa natural faz parte da sua identidade. O Provimento


nᵒ 82/2019, trouxe significativa alteração quando permite a inclusão ou
exclusão de agnomes indicativos de gênero ou de descendência. Todavia, não
é permitida a alteração dos nomes de família. Associe os itens, utilizando o
código a seguir:

I- Patronímico de família.
II- Agnome.
III- Prenome.

( ) Usado para designar uma parte do nome que diferencia o indivíduo de


seus homônimos (pessoas que tem o mesmo nome). Exemplos de agnome:
Júnior, Filho, Neto, Sobrinho.
( ) A parte do nome que antecede o nome de família ou sobrenome, o
primeiro nome da pessoa.
( ) Sobrenome da pessoa, o nome de família.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) II – III – I.
b) ( ) I – II – III.
c) ( ) I – III – II.
d) ( ) III – I – II.

87
3 O Registro Civil das Pessoas Naturais recebe novos procedimentos quanto
à averbação no registro de nascimento e no casamento dos filhos, da
alteração do nome do genitor. São novidades na prática registral inseridas
pelo Provimento nᵒ 82/2019. Classifique V para as sentenças verdadeiras e
F para as falsas:

( ) Por ocasião do óbito do(a) cônjuge, poderá o(a) viúvo(a) requerer


averbação para eventual retorno ao nome de solteiro(a).
( ) O procedimento administrativo depende de autorização judicial.
( ) A certidão de nascimento e a de casamento serão emitidas com o nome
mais atual, sem fazer menção da alteração ou o seu motivo.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 No Registro Civil das Pessoas Naturais também serão feitos os assentos dos
óbitos. Esse serviço é gratuito. Todavia, pode ocorrer falecimento, como de
fato ocorre, nos finais de semana. Disserte sobre o serviço do registro do
óbito fora do horário de expediente do cartório. Como funciona e se tem
prazo para se noticiar/declarar ao Registro Civil o óbito?

5 No registro do óbito muitas exigências, procedimentos e cautelas preveem


a lei, inclusive após a expedição da certidão de óbito o que se pode fazer
com o cadáver. O prazo para sepultamento, entre outros procedimentos
exigidos pela Lei de Registros Públicos. Todavia, quanto à cremação, há
uma peculiaridade no caso de suicídio. Disserte sobre a cremação no caso
de suicídio, o que é necessário para a liberação?

88
REFERÊNCIAS
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Consultor Jurídico, São Paulo, * ago. 2013. Disponível em: https://
www.conjur.com.br/2013-ago-05/jones-figueiredo-nome-natimorto-
direito-humanitario#:~:text=Ao%20nascituro%20que%20nasce%20
sem,personal%C3%ADssimo%20ao%20nome%20e%20sobrenome. Acesso em:
1ᵒ nov. 2020.

BARROSO, L. R. Curso de direito constitucional contemporâneo. 9. ed. São


Paulo: Saraiva, 2020.

BELTRAME, C. M. A burocrática conversão da união estável em casamento e a


convivência prévia aos setenta anos. Revista Esmat, Palmas, v. 5, n. 5, 53-79, jan./
jun. 2013. Disponível em: http://esmat.tjto.jus.br/publicacoes/index.php/revista_
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BLASIUS, A. Advogada explica como funciona o pacto antenupcial.


IBDFAM, Direito de Família na mídia, Belo Horizonte, 12 jun. 2016.
Disponível em: https://www.ibdfam.org.br/noticias/na-midia/16650/
Advogada+explica+como+funciona+o+pacto+antenupcial#:~:text=A%20
advogada%20explica%20que%20ele,da%20comunh%C3%A3o%20parcial%20
de%20bens. Acesso em: 1ᵒ nov. 2020.

BRASIL. Lei nᵒ 13.811, de 12 de março de 2019. Confere nova redação ao art.


1.520 da Lei nᵒ 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), para suprimir as
exceções legais permissivas do casamento infantil. Brasília, DF: Diário Oficial
[da] União, [2019]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
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BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário 670422/RS. Relator:


Min. Dias Toffoli, 19 de setembro de 2018. Disponível em: https://stf.jusbrasil.com.
br/jurisprudencia/311628936/repercussao-geral-no-recurso-extraordinario-rg-re-
670422-rs-rio-grande-do-sul/inteiro-teor-311628946. Acesso em: 19 ago. 2011.

BRASIL. Supremo Tribunal de Justiça. Recurso Especial 1685937/RJ. Relator:


Min. Nancy Andrighi, 17 de agosto de 2017. Disponível em: https://stj.
jusbrasil.com.br/jurisprudencia/492349477/recurso-especial-resp-1685937-
rj-2016-0264513-2/inteiro-teor-492349487. Acesso em: 19 ago. 2011.

BRASIL. Decreto nᵒ 8.660, de 29 de janeiro de 2016. Promulga a Convenção sobre


a Eliminação da Exigência de Legalização de Documentos Públicos Estrangeiros,
firmada pela República Federativa do Brasil, em Haia, em 5 de outubro de 1961.
Brasília, DF: Diário Oficial [da] União, [2016]. Disponível em: http://www.planalto.
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89
BRASIL. Lei nᵒ 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília,
DF: Diário Oficial [da] União, [2015]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
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BRASIL. Lei nᵒ 12.662, de 5 de junho de 2012. Assegura validade nacional à


Declaração de Nascido Vivo - DNV, regula sua expedição, altera a Lei nᵒ 6.015,
de 31 de dezembro de 1973, e dá outras providências. Brasília, DF: Diário Oficial
[da] União, [2012]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
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BRASIL. Supremo Tribunal de Justiça. Recurso Especial 910094/SC. Relator:


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BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade 4277/DF.


Relator: Min. Ayres Britto, 5 de maio de 2011. Disponível em: https://redir.stf.jus.br/
paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=628635. Acesso em: 19 ago. 2011.

BRASIL. Supremo Tribunal de Justiça. Recurso Especial 1183378/RS. Relator:


Min. Luís Felipe Salomão, 25 de outubro de 2011. Disponível em: https://stj.
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BRASIL. Supremo Tribunal de Justiça. Recurso Especial 954567/PE.


Relator: Min. Massami Uyeda, 10 de maio de 2011. Disponível em: https://
stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/19085246/recurso-especial-resp-954567-
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BRASIL. Supremo Tribunal de Justiça. Recurso Especial 1069864/DF. Relator: Min.


Nancy Andrighi, 18 de dezembro de 2008. Disponível em: https://stj.jusbrasil.com.br/
jurisprudencia/2502966/recurso-especial-resp-1069864-df-2008-0140269-0. Acesso em:
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BRASIL. Supremo Tribunal de Justiça. Recurso Especial 280197/RJ. Relator:


Min. Ari Pargendler, 11 de junho de 2002. Disponível em: https://stj.jusbrasil.
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BRASIL. Lei nᵒ 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília,


DF: Diário Oficial [da] União, [2002]. Disponível em: http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm. Acesso em: 5 jan. 2021.

BRASIL. Lei nᵒ 9.278, de 10 de maio de 1996. Regula o § 3° do art. 226 da


Constituição Federal. Brasília, DF: Diário Oficial [da] União, [1996]. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8935.htm. Acesso em: 30 out. 2020.

90
BRASIL. Lei nᵒ 8.935, de 18 de novembro de 1994. Regulamenta o art. 236 da
Constituição Federal, dispondo sobre serviços notariais e de registro. (Lei dos
cartórios). Brasília, DF: Diário Oficial [da] União, [1994]. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8935.htm. Acesso em: 30 out. 2020.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:


Presidência da República, [1988]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 20 out. 2020.

BRASIL. Lei nᵒ 4.121, de 27 de agosto de 1962. Dispõe sobre a situação jurídica da


mulher casada. Brasília, DF: Diário Oficial [da] União, [1962]. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6015compilada.htm. Acesso em: 25 out. 2020.

BRASIL. Lei nᵒ 6.015, de 31 de dezembro de 1973. Dispõe sobre os registros


públicos, e dá outras providências. Brasília, DF: Diário Oficial [da] União, [1973].
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6015compilada.htm.
Acesso em: 25 out. 2020.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmulas nᵒ 380. Comprovada a existência


de sociedade de fato entre os concubinos, é cabível a sua dissolução judicial,
com a partilha do patrimônio adquirido pelo esforço comum. Brasília, DF:
Supremo Tribunal Federal, [1964a]. Disponível em: https://jurisprudencia.stf.jus.
br/pages/search/seq-sumula380/false. Acesso em: 6 jan. 2021.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmulas nᵒ 382. A vida em comum sob o


mesmo teto, "more uxorio", não é indispensável à caracterização do concubinato.
Brasília, DF: Supremo Tribunal Federal, [1964b]. Disponível em: https://
jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/seq-sumula382/false. Acesso em: 6 jan. 2021.

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de 25/11/2013 e consolida as normas relativas à manutenção e escrituração
dos Livros Diário Auxiliar, Visitas e Correições e Controle de Depósito
Prévio pelos titulares de delegações e responsáveis interinos do serviço
extrajudicial de notas e registros públicos, e dá outras providências. Brasília,
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95
96
UNIDADE 2 —

REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA


OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• entender do que se trata o registro da pessoa jurídica no Registro Civil


das Pessoas Jurídicas;
• conhecer os atos registrais, como o registro, a averbação e o Apostilamento
da Haia;
• compreender no que consiste o chamado “Registro Integral” e o “Registro
Resumido”;
• conhecer o conteúdo obrigatório dos documentos das pessoas jurídicas
levadas ao registro no RCPJ;
• entender o que deve conter o contrato social;
• conhecer as pessoas jurídicas que poderão ser registradas no Registro
Civil das Pessoas Jurídicas, a exemplo das Organizações Religiosas e dos
Partidos Políticos;
• compreender o preço pelos serviços dessa Serventia Registral.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – PESSOA JURÍDICA, LIVROS DO REGISTRO CIVIL DAS


PESSOAS JURÍDICAS E OS ATOS REGISTRAIS

TÓPICO 2 – ASPECTOS LEGAIS, APOSTILAMENTO DE HAIA,


ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS E PARTIDOS POLÍTICOS

TÓPICO 3 – ASSOCIAÇÕES, FUNDAÇÕES, SINDICATOS, SOCIEDADES


E MATRÍCULAS DE MEIOS DE COMUNICAÇÕES

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

97
98
TÓPICO 1 —
UNIDADE 2

PESSOA JURÍDICA, LIVROS E ATOS REGISTRAIS

1 INTRODUÇÃO
Seja muito bem-vindo à Unidade 2, Acadêmico! Esta unidade vai revelar
a você um universo muito interessante e, acredite, pouco explorado ou até pouco
falado: é o Registro Civil das Pessoas Jurídicas. Todavia, nosso cotidiano é cheinho
de situações que estão relacionadas com as atividades dessa Serventia.

Aqui, acadêmico, não vamos nos alongar muito falando o que é o Registro,
como o Oficial chega a esse cargo, porque tudo isso já foi explorado na Unidade
1, quando você estudou o Registro Civil das Pessoas Naturais, lembra? Então,
não sendo repetitivo, mas também para não avançar sem deixar brechas no seu
conhecimento, só vamos relembrar que essas atividades registrais são serviços
públicos, concedidos pelo Estado, com certa autonomia privada e sob a vigilância
e orientação das Corregedorias Geral de Justiça de cada Estado.

Vamos iniciar abordando a PESSOA JURÍDICA em si. Dessa forma,


pensamos em conduzi-lo numa linha lógica até você perceber quais as pessoas
jurídicas que podem ou devem ser registradas no Registro Civil de Pessoas
Jurídicas, porque algumas pessoas jurídicas são registradas na Junta Comercial
do Estado. E aí?

Acadêmico, você sabe dizer um exemplo de uma pessoa jurídica que


obrigatoriamente deve ser registrada no Registro Civil de Pessoas Jurídicas?
Onde você imagina que são registrados os Partidos Políticos? As Associações de
Moradores? As Igrejas? Tem muita novidade.

É um estudo muito interessante, por isso convido você para já iniciarmos


o Tópico 1, no qual abordaremos a PESSOA JURÍDICA, os LIVROS utilizados
no Registro Civil das Pessoas Jurídicas e os ATOS REGISTRAIS, compreendendo
dentre eles o registro, a averbação e para você, agora já não é tão novidade, o
Apostilamento da Haia.

Seguimos em frente!

99
UNIDADE 2 — REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA

2 PESSOA JURÍDICA
Para compreender o que é pessoa jurídica nada melhor do que apresentar
um aporte teórico com conceitos escritos por alguns autores, bem como explorar a
legislação vigente a respeito, sem perder de vista, acadêmico que nossa Lei Maior
– a Constituição Federal – já determina, em seu Art. 1ᵒ, IV, que a “livre iniciativa”
é um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito (BRASIL, 1988).

2.1 CONCEITO DE PESSOA JURÍDICA


Para Lôbo (2020, p. 222), "Pessoa jurídica é a entidade constituída por grupo
de pessoas para realização de determinado fim ou a resultante da afetação de
um patrimônio para fim específico, cuja personalidade é reconhecida pelo direito
mediante registro público”. Perceba, acadêmico, que Lôbo (2020) reconhece a
necessidade do registro público.

É importante lembrar que todos os autores visitados confirmam a


necessidade de as pessoas se agruparem, para Ramos (2016, p. 174) “A formação
da pessoa jurídica justifica-se pela necessidade humana de se agrupar, de unir
esforços em busca de um objetivo comum”.

Nesse pensamento que a pessoa jurídica provém de fenômeno histórico


e social, Carlos Roberto Gonçalves (2020a, p. 157, grifos do original), obtempera:

Consiste num conjunto de pessoas ou de bens, dotado de personalidade


jurídica própria e constituído na forma da lei, para a consecução de fins
comuns. Pode-se afirmar, pois, pessoas jurídicas são entidades a que a lei
confere personalidade, capacitando-as a serem sujeitos de direitos e obrigações.

E, o autor, finaliza informando a principal característica da pessoa


jurídica: “[...] é a de que atuam na vida jurídica com personalidade diversa da
dos indivíduos que as compõem (CC. Art. 50, a contrário sensu, e Art. 1.024)
(GONÇALVES, 2020a, p. 157, grifos do original)

A doutrina de Gonçalves (2020a, p. 157) ainda presenteia você, acadêmico,


com esse ensinamento que ultrapassa nossas fronteiras:

Cada país adota uma denominação para essas entidades. Na França


e na Suíça chamam-se “pessoas morais”. Em Portugal, “pessoas
coletivas”. Na Argentina, que adotou a expressão proposta por
Teixeira de Freitas, “entes de existência ideal”. No Brasil, na
Alemanha, na Espanha e na Itália, dentre outros países, preferiu-
se a expressão “pessoas jurídicas”. Inúmeras outras designações,
porém, são lembradas pelos autores, como “pessoas civis”, “místicas”,
“abstratas”, “compostas”, “universidade de bens e de pessoas” etc. A
denominação “pessoas jurídicas”, todavia, é a menos imperfeita e a
que mais frequentemente se usa, porque acentua o ambiente jurídico
que possibilita a sua existência”.

100
TÓPICO 1 — PESSOA JURÍDICA, LIVROS E ATOS REGISTRAIS

Dando continuidade no estudo do conceito de pessoa jurídica, Gagliano


e Pamplona Filho (2019, p. 202, grifo do original), mesmo apresentando uma
categoria nova (“fato associativo”), seguem na mesma linha como dantes já
referimos: “[...] nascendo como contingência do fato associativo, o direito confere
personalidade jurídica a esse grupo, viabilizando a sua atuação autônoma e
funcional, com personalidade própria, com vistas à realização de seus objetivos”.
E assim mesmo evoluem e apresentam o conceito de pessoa jurídica: “Nessa
linha de raciocínio, como decorrência desse fato associativo, podemos conceituar
a pessoa jurídica como o grupo humano, criado na forma da lei, e dotado de personalidade
jurídica própria, para a realização de fins comuns (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO,
2019, p. 202, grifo do original).

Para Thelma Fraga apud Mello (2017, p. 368), concebe a pessoa jurídica
como: “’a representação decorrente da união de algumas pessoas naturais e/ou
jurídicas ou, ainda, da destinação de um patrimônio com o intuito da consecução
de certos fins, reconhecida pela ordem jurídica, como sujeito de direitos e
obrigações’”. Na mesma toada, Arnaldo Rizzardo, apud Mello, define a pessoa
jurídica como:

[...] o ente personalizado composto de duas ou mais pessoas físicas,


unidas por um nexo visando a uma finalidade específica, e com a
capacidade para realizar vários atos da vida civil, ou o ente público
instituído por lei, mas que pressupõe normalmente a presença de
vários indivíduos; ou o acervo de bens com destinação especial, no qual
também se congregam indivíduos (MELLO, 2017, p. 368).

Dessa maneira, acadêmico, podemos verificar que é da natureza do homem


essa necessidade de se agrupar, do exercício da coletividade, não é mesmo? E daí
nasce também a pessoa jurídica, que, conforme os autores citados, é um grupo de
pessoas naturais e/ou jurídica – em que pese Mello apresentar que Rizzardo fala
apenas em “pessoas físicas” – criado na forma da lei, com personalidade jurídica,
para a realização de determinado fim.

Levantamos aqui uma reflexão: Como fica no caso das atuais sociedades
de uma pessoa só? Esse conceito de todos esses autores que consideram como
fenômeno histórico e social a necessidade do homem em se agrupar, advindo daí
também as pessoas jurídicas. Vale uma análise da sociedade unipessoal ou EIRELI.

ATENCAO

A Lei nᵒ 12.441/2011 introduziu o inciso VI no Art. 44 no Código Civil, para que


possamos ler que “São pessoas jurídicas de direito privado” [...] “as empresas individuais de
responsabilidade limitada”, as que são chamadas de sociedade unipessoal ou também EIRELI.

101
UNIDADE 2 — REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA

E, hodiernamente, é com as lições de João Pedro Lamana Paiva e Pércio


Brasil Alvares (2017) que mais assertivamente demonstramos a questão conceitual
de Pessoa Jurídica:

Sobre o conceito de pessoa jurídica, na atualidade, não há mais como


limitá-lo, como normalmente ocorre nas abordagens doutrinárias
tradicionais do direito brasileiro, a ideia de pessoa jurídica é a
forma representativa de uma pluralidade de pessoas naturais ou
de universalidade patrimonial, destinadas à consecução de certos e
determinados fins, a qual é reconhecida como sujeito de direito apto a
exercer direitos e obrigações na ordem jurídica.
Esse é um conceito que pode ser considerado de parcial validade na
atualidade do direito brasileiro, que, muito recentemente, admitiu a
possibilidade de que uma só pessoa natural, destinando um patrimônio
mínimo a certa atividade e sob determinadas condições legais, pode
formar essa unidade constitutiva de uma pessoa jurídica. Foi a introdução,
no direito pátrio, da sociedade unipessoal, como uma das espécies de pessoa
jurídica de direito privado a que se refere o Art. 44 do Código Civil,
por força do que dispôs a Lei n. 12.441/2011, denominando-a “empresa
individual de responsabilidade limitada” ou, simplesmente, “EIRELI”
(PAIVA; ALVARES, 2017, p. 30, grifo do original).

E ainda obtempera os autores que “há muito já está consolidada a ideia


de que a unidade consubstanciada juridicamente como pessoa jurídica também
pode ser representativa não só da individualidade da pessoa natural ou da sua
pluralidade, mas, também, de uma pluralidade de pessoas jurídicas” (PAIVA;
ALVARES, 2017, p. 30, grifo do original).

E, nesse contexto, os autores arrematam que também se compreende


pessoa jurídica como

[...] a unidade que pode ser representativa tanto de uma pluralidade


de pessoas naturais como de uma pluralidade de pessoas jurídicas ou,
a um só tempo, desatas e daquelas, bem como de uma universalidade
de patrimonial e, em condições especiais, de uma só pessoa natural,
dotada de personalidade distinta daquela das pessoas que a integram,
destinando-se à consecução de certos e determinados fins, a qual é
reconhecida como sujeito de direito apto a exercer, com autonomia, a
titularidade de direitos e deveres no âmbito da ordem jurídica (PAIVA;
ALVARES, 2017, p. 30).

Elucidado o conceito de pessoa jurídica, considerando as abordagens


doutrinárias tradicionais e chegando a postura vanguardista, que vem ao encontro
das disposições da novel legislação civil pátria, vamos entender a natureza
jurídica da pessoa jurídica.

102
TÓPICO 1 — PESSOA JURÍDICA, LIVROS E ATOS REGISTRAIS

2.2 NATUREZA JURÍDICA


Acadêmico, você lembra das lições de Direito Civil sobre a personalidade?
Quando nasce a personalidade da pessoa natural? Você lembra o que é pessoa
natural, certo? Acabamos de analisar a Unidade 1, na qual vimos o Registro das
Pessoas Naturais. Isso! O Homem – é a pessoa natural! Você está lembrando que
a pessoa natural adquire a personalidade jurídica com o nascimento com vida.

E a pessoa jurídica?

É Ramos (2016, p. 175) que nos esclarece “a pessoa jurídica tem sua
personalidade jurídica instituída por lei”. E continua dizendo que “a doutrina
busca explicar a natureza jurídica da pessoa jurídica a partir de duas grandes
teorias: a negativista e a afirmativista”.

A teoria negativista, como o próprio nome já diz, nega a existência de


personalidade jurídica da pessoa jurídica. O ordenamento jurídico brasileiro não
recepcionou essa teoria.

A teoria afirmativista, ao contrário, reconhece a pessoa jurídica como


sujeito de direito, e ainda se desdobra nas seguintes teorias:

I- teoria da ficção: para essa teoria que teve Savigny como um dos
principais defensores, a pessoa jurídica seria um sujeito com
existência ideal, ou seja, fruto da técnica jurídica, uma ficção legal;
II- teoria da realidade objetiva ou organicista: entendia que a pessoa
jurídica não seria fruto da técnica jurídica, mas sim um organismo
social e real, dotado de vontade própria. Clóvis Beviláqua era um
dos fortes defensores dessa teoria;
III- teoria da realidade técnica: trata-se de uma teoria intermediária,
pois aproveita elementos das duas correntes anteriores. Para os
adeptos dessa teoria, a pessoa jurídica é real e não uma ficção,
embora sua personalidade jurídica seja uma construção jurídica.
Assim, a teoria da realidade técnica reconhece a existência da
pessoa jurídica, mas sustenta que sua personalidade jurídica é
uma criação legal. Entende-se que essa teoria é a adotada pelo
Código Civil (Art. 45) (RAMOS, 2016, p. 176).

Vamos colher, também, das lições de Hellen Cristina do Lago Ramos


(2016), este resumo que a autora apresenta (Quadro 1):

103
UNIDADE 2 — REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA

QUADRO 1 – TEORIAS ACERCA DA NATUREZA JURÍDICA DA PESSOA JURÍDICA

Corrente negativista Corrente afirmativista


- Nega que a pessoa jurídica é um sujeito de - Aceita a teoria da pessoa jurídica, a
direitos. reconhecendo como sujeito de direitos.
- Fundamentos: a pessoa jurídica é apenas um - Desdobra-se nas seguintes teorias:
patrimônio coletivo, é um mero condomínio. 1) Teoria da ficção (Savigny)
2) Teoria da realidade objetiva ou organicista
(Clóvis Beviláqua, Caio Mário da Silva
- Esta corrente não vigorou no estudo das
Pereira, dentre outros)
pessoas jurídicas.
- Teoria da realidade técnica (adotada pelo
Código Civil)

FONTE: Ramos (2016, p. 176-177)

E ainda sobre a natureza jurídica, Mello (2017, p. 368) informa que “A


natureza jurídica da pessoa jurídica é permeada por divergências doutrinárias,
fruto dos diversos pensamentos filosóficos de seus idealizadores”, e alerta para
a existência de várias teorias para explicar a natureza e o fundamento dessa
entidade, confirmando o que anteriormente apresentamos. Encerrada a análise
da natureza jurídica, passaremos a entender a função da pessoa jurídica. Fique
atento, porque com o estudo a seguir, você, realmente percebe a teoria e prática
se concretizando.

2.3 FUNÇÃO DA PESSOA JURÍDICA


Acadêmico, aqui está um tema muito interessante, e é só quando ele se
descortina aos nossos olhos que percebemos o significativo diferencial que é esse
conhecimento. Você tem ideia de qual é a principal função da pessoa jurídica?

Com os óculos de Gonçalves (2020a), aprendemos que a função principal


da pessoa jurídica, tal qual se consolidou nos últimos duzentos anos, é a de
assegurar a separação entre o patrimônio da entidade e das pessoas físicas que a
integram como sócios, associados, acionistas para que estes não respondam, ou
tenham responsabilidade limitada pelas dívidas daquela.

Percebeu a questão patrimonial aqui envolvida, acadêmico? Isso é bastante


importante, principalmente nos dias atuais, quando temos uma valorização
extrema da economia. Todavia, não vamos adentrar nesses assuntos econômicos,
é mais para você perceber a questão levantada por Gonçalves (2020a) sobre a
separação do patrimônio da pessoa jurídica com o dos sócios. Agora vamos
passar para um novo subtópico que nos apresentará as áreas que encontramos a
pessoa jurídica.

104
TÓPICO 1 — PESSOA JURÍDICA, LIVROS E ATOS REGISTRAIS

2.4 ÁREAS DA PESSOA JURÍDICA


Já vimos, e isso ficou bem claro que a pessoa jurídica tem sua personalidade
jurídica própria e é instituída por lei, mas como assim? Quando compreendemos em
que áreas do Direito a pessoa jurídica é tratada, essa resposta é mais simples de ser
assimilada. E quem nos auxilia é a doutrina de Lôbo (2020, p. 224), quando descreve:

Em três grandes áreas do Direito, pelo menos, a pessoa jurídica é
tratada: no Direito Civil, no Direito Empresarial e no Direito Público.
Na legislação brasileira atual, as pessoas jurídicas de Direito Civil, em
sentido estrito, são as associações civis, as fundações de direito privado,
as organizações religiosas, os sindicatos e os partidos políticos, ou seja,
as entidades que não têm finalidade lucrativa ou econômica. As pessoas
jurídicas de Direito Empresarial são as sociedades com fins lucrativos,
as empresas individuais de responsabilidade limitada (12441/2011) e
as cooperativas; as que o Código Civil chama de sociedade simples.

Uma brevíssima incursão pelas pessoas jurídicas de direito público,


com a doutrina de Lôbo (2020), apenas para não passar totalmente em branco,
pois como veremos mais adiante trataremos exclusivamente das pessoas
jurídicas de direito privado:

As pessoas jurídicas de direito público têm estrutura e função


inteiramente diversas das pessoas jurídicas de direito privado, pois
integram a Administração Pública direta e indireta. O Código Civil
classifica as pessoas jurídicas de direito público entre as de direito
público interno ou de direito público externo. São pessoas jurídicas
de direito público interno a União, o Estado-membro, o Município, as
autarquias e as fundações de direito público. Integram a Administração
Pública, com personalidade jurídica própria de direito privado, as
empresas estatais (empresa pública e empresa de economia mista),
que se valem dos instrumentos de direito privado para o exercício
de atividades econômicas controladas pelo Estado (União, Estado-
membro e Município), como verdadeira longa manus. As pessoas
jurídicas de direito público externo são os países, além das entidades,
nações e organizações que o direito internacional reconhece (LÔBO,
2020, p. 226)

Logo quando adentramos na parte legislativa, você perceberá melhor,


mas, desde já, vamos deixar claro novamente, que as questões de Direito Público,
ou seja, as pessoas jurídicas de direito público, seja de direito público interno ou
de externo, não farão parte dos nossos estudos.

É importante esse registro porque o Código Civil categoriza as pessoas


jurídicas, apresentando no: “Art. 40. As pessoas jurídicas são de direito público, interno
ou externo, e de direito privado” (BRASIL, 2002, grifo nosso).

Desse dispositivo do Código Civil (Art. 40), vamos nos ocupar somente
das pessoas jurídicas de direito privado, e ainda assim, só de uma parte, as que
são registradas no Registro Civil das Pessoas Jurídicas.

105
UNIDADE 2 — REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA

E
IMPORTANT

Existe Pessoas jurídicas de direito privado que são registradas na Junta


Comercial do Estado e não no Registro Civil das Pessoas Jurídicas.

Em seguida nos ocuparemos dos LIVROS necessários e utilizados pelo


Registro Civil das Pessoas Jurídicas para a prática dos atos de registros e averbações.

3 LIVROS DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS JURÍDICAS


A Lei nᵒ 6.015 de 31 de dezembro de 1973, também conhecida como Lei
dos Registros Públicos, tem um título especial para o Registro Civil das Pessoas
Jurídicas (Art. 114 até o Art. 126). O Art. 116, assim dispõe:

Art. 116. Haverá, para o fim previsto nos artigos anteriores, os


seguintes livros:
I- Livro A, para os fins indicados nos números I e II do Art. 114, com
300 folhas;
II- Livro B, para matrícula das oficinas impressoras, jornais, periódicos,
empresas de radiodifusão e agências de notícias, com 150 folhas
(BRASIL, 1973).

FIGURA 1 – LIVROS

FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/law-justice-legality-concept-notary-
seal-1158312286>. Acesso em: 4 dez. 2020.

106
TÓPICO 1 — PESSOA JURÍDICA, LIVROS E ATOS REGISTRAIS

Os Artigos 117 e 118 da LRP apontam que os exemplares de contratos,


atos, estatutos e de publicações, registrados e arquivados serão encadernados
por periódicos certos, com índices para facilitar a busca, e esses índices serão em
ordem cronológica e alfabética de todos os registros e arquivamentos, ficando
o oficial responsável por eventual erro ou omissão, podendo adotar sistema de
fichas. Todavia, o Provimento nᵒ 48 de 16 de março de 2016 do Conselho Nacional
de Justiça (CNJ), “estabelece diretrizes gerais para o sistema de registro eletrônico
de títulos e documentos e civil de pessoas jurídicas”.

NOTA

Acadêmico, fique atento! As disposições das leis muitas vezes não foram
revogadas, ou seja, ainda estão em vigor, mas há Provimentos que estabelecem diretrizes
de novos procedimentos, deixando os dispositivos legais, em desuso.

E agora, você já consegue responder quando começa a existência legal da


pessoa jurídica?

Para nunca mais esquecer, vamos evocar o Art. 119 da LRP, que dispõe
exatamente assim: “A existência legal das pessoas jurídicas só começa com
o registro de seus atos constitutivos” (BRASIL, 1973), e o Parágrafo único
complementa que: “Quando o funcionamento da sociedade depender de
aprovação da autoridade, sem esta não poderá ser feito o registro” (BRASIL,
1973). Perceba a responsabilidade do registrador aqui!

Lamana Paiva e Alvares (2017) apresentam:

107
UNIDADE 2 — REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA

FIGURA 2 – EXEMPLO DE REGISTRO E AVERBAÇÃO NO LIVRO “A”

FONTE: Paiva e Alvares (2017, p. 138-139)

Os autores trazem também exemplo de matrícula e averbação do Livro “B”:

108
TÓPICO 1 — PESSOA JURÍDICA, LIVROS E ATOS REGISTRAIS

FIGURA 3 – EXEMPLO DE MATRÍCULA E AVERBAÇÃO DO LIVRO “B”

FONTE: Paiva e Alvares (2017, p. 140)

DICAS

Nunca é demais lembrar que no ramo da ciência jurídica ou de qualquer


outra, DEVEMOS estar a todo momento nos atualizando, não é mesmo? E, para corroborar
com isso, segue um link para você ler as publicações. Acesse na íntegra em: https://
cartorionobrasil.com.br/.

Com essas noções preliminares da pessoa jurídica e os livros da serventia


registral, denominada Registro Civil das Pessoas Jurídicas, encerramos este
subtópico e passamos aos atos registrais propriamente ditos.

109
UNIDADE 2 — REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA

4 ATOS REGISTRAIS
O Registro Civil das Pessoas Jurídicas é o nascedouro de inúmeras pessoas
jurídicas; todavia, não de todas. As pessoas jurídicas que devem ser registradas
nesse serviço registral serão analisadas no decorrer de nossa apresentação, mas
o que destacaremos neste subtópico são os atos que o registrador pratica, como
o registro e a averbação e, atualmente, o Apostilamento da Haia, que você já
conheceu na Unidade 1.

4.1 REGISTRO
A Associação dos Notários e Registradores do Brasil (ANOREG)
destaca, em relação ao ato praticado pelo registrador, o que é o REGISTRO da
pessoa jurídica:

É o ato de registrar os contratos das sociedades simples, revestidas


das formas estabelecidas nas leis comerciais, exceto as anônimas; os
atos constitutivos, os estatutos ou compromissos, das associações
religiosas, pias, morais, científicas ou literárias; os atos de instituição
de fundações, exceto as de direito público (REGISTRO, 2021, s. p.).

FIGURA 4 – LOGOTIPO ANOREG

FONTE: <https://www.anoreg.org.br/site/wp-content/images/logo-anoreg-300.png>.
Acesso em: 3 fev. 2021.

110
TÓPICO 1 — PESSOA JURÍDICA, LIVROS E ATOS REGISTRAIS

A ANOREG (REGISTRO, 2021, s. p.) também aponta a existência de


“registro integral” e “registro resumido”. Informando que o registro integral
dos documentos é a “transladação dos mesmos, com a mesma ortografia e
pontuação, com referências às entrelinhas ou quaisquer acréscimos, alterações,
defeitos ou vícios” e devem fazer menção às características exteriores e “às
formalidades legais”.

Já o registro resumido, aponta a Associação dos Notários e Registradores


do Brasil (ANOREG), consiste na “declaração da natureza do título, documento
ou papel, valor, prazo, lugar em que tenha sido feito, nome e condição jurídica
das partes, nomes das testemunhas, data da assinatura e do reconhecimento de
firma” (REGISTRO, 2021, s. p.), se tiver, o nome do tabelião se for o caso, o nome
do apresentante do documento ao registro, “o número de ordem e a data do
protocolo e da averbação, a importância e a qualidade do imposto pago”, depois
será datado e rubricado pelo Oficial (REGISTRO, 2021, s. p.).

Como é feito o registro da pessoa jurídica no RCPJ? A Associação dos


Notários e Registradores do Brasil (ANOREG) determina que o documento
levado ao registro, deve conter:

• A denominação, os fins, a sede, o tempo de duração e o fundo


social, quando houver;
• O nome e a individualização dos fundadores ou instituidores, e dos
diretores;
• O modo por que se administra e representa, ativa e passivamente,
judicial e extrajudicialmente;
• Se o ato constitutivo é reformável no tocante à administração, e de
que modo;
• Se os membros respondem, ou não, subsidiariamente, pelas
obrigações sociais;
• As condições de extinção da pessoa jurídica e o destino do seu
patrimônio, nesse caso (REGISTRO, 2021, s. p.).

Para os atos registrais dos sindicatos, das pessoas jurídicas com contrato
social, para matricular empresas de radiodifusão, jornais, oficinas impressoras e
agências de notícias, trataremos juntamente quando abordarmos as respectivas,
nos tópicos seguintes.

Agora, na sequência, trataremos da averbação.

111
UNIDADE 2 — REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA

4.2 AVERBAÇÃO
A averbação é o ato registral que é praticado para fazer alterações/
modificações supervenientes ao ato registral, ou seja, no registro efetuado.

A Associação de Notários e Registradores do Brasil acentua que Averbação


“É o ato de averbar todas as alterações supervenientes a importarem modificações
das circunstâncias constantes do registro” (AVERBAÇÃO, 2021, s. p.).

A Associação dos Notários e Registradores do Brasil (ANOREG) informa


também que a dissolução da pessoa jurídica se dá por averbação no Ofício de
Registro de Pessoas Jurídicas, inclusive expõe que o rol de documentos necessários e
que devem ser apresentados à serventia registral para tal intento (a dissolução) são:

• Edital de convocação, conforme estabelece o Estatuto;


• Ata da assembleia em que é aprovada a dissolução, em 2 vias,
indicando o destino do patrimônio e o responsável pela guarda dos
livros (nome completo, estado civil, profissão, RG, CPF e endereço);
• Lista de presença da assembleia (constando a pauta) assinada
por todos os presentes;
• Requerimento solicitando o registro da ata de dissolução, assinado
pelo representante;
• Cópia do RG, CPF e comprovante de residência do presidente;
• Certidão Negativa de Débitos (específicas) do INSS, FGTS e Tributos
Federais (AVERBAÇÃO, 2021, s. p.)

Se ainda houver inconformidade, conforme o estatuto da entidade,


com relação às disposições do Código Civil e da Lei de Registro Públicos (Lei
nᵒ 6.015/1973), o registrador apresentará Nota Devolutiva à associação com as
exigências a serem sanadas e, “estando de acordo será feito todo o procedimento
de registro dos documentos sendo emitida uma certidão constando a averbação
de dissolução da entidade” (AVERBAÇÃO, 2021, s. p.).

4.3 APOSTILAMENTO DA HAIA


Sobre o Apostilamento da Haia, não há muito que acrescentar além do
que foi dito na Unidade 1, pois, se trata da identificação/validação de documentos
brasileiros, por notários e registradores brasileiros, que serão recepcionados pelo
país estrangeiro (país que assim o exigir), com firma reconhecida se for documento
assinado, a exemplo de um diploma ou certificado, e, com tradução juramentada
no idioma daquele país destinatário.

Importante ressaltar que os documentos emitidos no exterior, mesmo que


para cidadão brasileiro, DEVEM ser apostilados naquele país.

112
TÓPICO 1 — PESSOA JURÍDICA, LIVROS E ATOS REGISTRAIS

O Brasil não terá competência para realizar a Apostila da Haia depois


que a pessoa chegar ao Brasil com o documento que recebeu lá fora. Exemplo,
se você foi fazer algum curso na Alemanha; quando saiu do Brasil, levou uma
série de documentos acadêmicos (certificados, diplomas, histórico escolar etc.)
traduzidos, com reconhecimento de firma nas assinaturas dos respectivos
documentos e, consequentemente, obteve a APOSTILA DA HAIA em todos por
autoridade apostilante brasileira. Apresentou na Instituição que o recebeu no país
germânico, e, lá frequentou e concluiu outro curso, conquistando novo diploma.
Claro que, desta vez, emitido por Instituição alemã, em idioma alemão e firmado
pelos representantes daquela entidade.

ATENCAO

ANTES DE RETORNAR ao Brasil você deve procurar um serviço de


Apostilamento da Haia para chegar aqui com isso pronto.

O exemplo anterior é corroborado com o que expõe o sítio eletrônico


do Itamaraty em Frankfurt, quando afirma que: “Os documentos alemães são
apostilados na Alemanha e aceitos no Brasil. Ao documento será anexada uma
‘Apostila de Haia’ (‘Haager Apostille’) pela autoridade competente da Alemanha,
tornando-o válido no Brasil. Não é mais feita legalização posterior pelo Consulado”
(BRASIL, 2018, grifo nosso)

É importante, acadêmico, você valorizar os momentos históricos da nossa


nação, observe que até agosto de 2016 o cidadão brasileiro era refém de um corpo
diplomático que, no Brasil, contava com aproximadamente 21 Escritórios de
Representação do Itamaraty, ou seja, para atender todas as demandas de uma
pós-modernidade globalizada.

Com o Decreto nᵒ 8.660, de 29 de janeiro de 2016, da então Presidente Dilma


Rousseff, o Brasil torna-se signatário da Convenção da Haia, e cabe ao Poder
Judiciário dar efetividade aos Apostilamentos. Isso aconteceu pela Resolução nᵒ
228/2016 e pelo Provimento nᵒ 62/2017 ambos do Conselho Nacional de Justiça
(CNJ), já mais esmiuçados na Unidade 1.

A Webinar trata, em especial, do “Sistema Apostil”, mas traz um rico


debate histórico e de certa forma até prático, para você acadêmico que deseja
iniciar nessa seara dos cartórios, além de apresentar uma série de importantes
informações, como:

113
UNIDADE 2 — REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA

[...] serviço de apostilamento realizado no Brasil é referência para


demais países integrantes da Apostila de Haia. O novo sistema
Apostil, segundo eles, deve ter impacto no cenário mundial. O
encontro online O Novo Sistema Apostil e o Apostilamento no Brasil
(EM WEBINAR..., 2020, s. p., grifo do original).

Sobre a Webinar, o canal de notícias do sítio eletrônico da ENNOR


(EM WEBINAR..., 2020, s. p., grifo nosso) apresenta detalhadamente, inclusive
dados estatísticos:

[...] o ministro André Guimarães, diretor do Departamento de


Segurança e Justiça do Ministério das Relações Exteriores, afirmou
que o Brasil integrou a Apostila de Haia com o objetivo de convergir
os direitos internos de nacionalidades, considerando regras de Direito
Civil e Comercial. A convenção, segundo ele, simplifica a tramitação
de documentos entre os mais de 130 países membros. “Anteriormente,
a sequência de autenticações necessárias para que um documento
emitido no órgão público de um país pudesse valer em outro país era
limitante em diversos casos”, alegou.
[...]
Guimarães destacou que, desde 2015, o Itamarati considerou
a amplitude da cultura cartorial e experiência dos serviços
extrajudiciais para selecionar o sistema que trouxesse “benefícios
para todos os cantos do país”. “Nós tentamos buscar uma solução
em que conseguíssemos prover o serviço não apenas nas grandes
capitais, mas em todos os municípios. Por isso, pela longa tradição
e experiência, nós pensamos que os cartórios tinham a capilaridade
necessária”, exclamou.

NOTA

A informação de que o Itamaraty tem aproximadamente 21 escritórios fora de


Brasília está na Webinar da Escola Nacional dos Notários e Registradores (ENNOR), que você
é motivado a assistir. Na íntegra em: https://ennor.org.br/site/2020/06/26/em-Webinar-da-
ennor-especialistas-elogiam-servico-de-apostilamento-realizado-no-brasil/.

Considerando que, na Unidade 1, já se demonstrou do que se trata


a Apostila da Haia, na Unidade 2, estamos reservando para tratar do Sistema
Apostil – mais um dos novos elementos do Registro Civil das Pessoas Jurídicas –
vamos acrescentar mais algumas informações quantitativas, também capturadas
nessa Webinar:

• Número de Cartórios no Brasil (“autoridades apostilantes”) – 13.000.


• Número de documentos apostilados entre 2016 até junho 2020 – 5.200.000.
• Apostilamentos no novo Sistema Apostil – 100.000.
• Prazo para todos iniciarem com o novo sistema: até 3 de agosto de 2020.

114
TÓPICO 1 — PESSOA JURÍDICA, LIVROS E ATOS REGISTRAIS

O Sistema Apostil: “O Provimento nᵒ 106/2020, do Conselho Nacional de


Justiça, editado no dia 17 de junho, implementa o novo modelo para confecção,
consulta e gestão de apostilamentos em documentos públicos no Brasil, por meio
do sistema Apostil” (EM WEBINAR..., 2020, s. p.).

O juiz Bráulio Gusmão, do Conselho Nacional de Justiça explicou que “O


Apostil foi lançado no ano passado e agora foi testado, está maduro, o sistema é
simples e intuitivo. É um produto feito para isso. Pensamos em um sistema multi-
idiomas, de uma maneira que pudéssemos exportar para outras instituições. Inclusive,
já tivemos o contato de outros países nesse sentido” (EM WEBINAR..., 2020, s. p.).

Conforme as artigo na página eletrônica da ENNOR (EM WEBINAR...,


2020, s. p.): “Os especialistas do CNJ relataram que além de login e senha específicos
da plataforma, o acesso também pode ser feito com certificado ICP-Brasil ou com
o e-Notariado” esclarecendo questões tecnológicas, destacadas pelo juiz auxiliar
Jorsenildo Dourado do Nascimento, da Corregedoria Nacional de Justiça.

O tabelião e registrador Hércules Benício, presidente do Colégio Notarial


do Brasil – Seção Distrito Federal (CNB/CF), ressaltou que uma das facilidades
do novo sistema é a possibilidade que o titular tem de verificar todas as apostilas
que foram expedidas na serventia e cadastrar todos os escreventes necessários. E,
ainda destacou que:

O sistema Apostil vem para facilitar a vida do notário e registrador. O


novo sistema tem uma inteligência que conta com, basicamente, oito
campos. O notário e registrador precisar visitar apenas uma tela. Nós
temos, hoje, que preencher o tipo de documento, fornecido em uma lista;
a data do documento; o nome do titular, quem assinou o ato público; a
função da pessoa, além de carregar o documento, com limite de 100 mega
bites. [...] A capilaridade é fenomenal (EM WEBINAR..., 2020, s. p.).

FIGURA 5 – WEBINAR ENNOR

FONTE: <https://ennor.org.br/site/2020/06/26/em-Webinar-da-ennor-especialistas-elogiam-
servico-de-apostilamento-realizado-no-brasil/>. Acesso em: 3 fev. 2021.

115
UNIDADE 2 — REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA

Sobre o Apostilamento da Haia, na próxima Unidade falaremos da


Fiscalização, para encerrarmos o estudo do tema. Mesmo assim, queremos alertá-
lo acadêmico, o assunto é novo, e é importante que você busque se atualizar
e conhecer a realidade da sua localidade, pois, embora saibamos que todos os
cartórios estão debaixo do “guarda-chuva” do CNJ, antes, existe a Corregedoria
Geral de Justiça de cada Estado-Membro da Federação, que também edita seus
Provimentos e os Códigos de Normas Extrajudiciais, de modo que, pode haver
situações regionalizadas, sobremaneira, com relação ao preço.

Nos próximos tópicos falaremos especificamente das pessoas jurídicas que


são registradas no Registro Civil das Pessoas Jurídicas: organizações religiosas,
partidos políticos, sociedades, associações, fundações, sindicatos e matrícula de
meios de comunicações.

116
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Hodiernamente, o conceito de pessoa jurídica, vai muito mais além daquele


apresentado com base numa abordagem doutrinária tradicional, que entende
“um conjunto de pessoas”, ou seja, a teor das disposições do atual Código Civil,
admite-se pessoa jurídica de uma só pessoa natural – a empresa individual de
responsabilidade limitada ou, simplesmente, EIRELI.

• A doutrina se apoia em duas teorias para justificar a natureza jurídica da


pessoa jurídica: a) a teoria negativista – que nega que a pessoa jurídica tem
personalidade jurídica; e b) teoria afirmativista – que o direito brasileiro
segue, pois esta reconhece a pessoa jurídica como sujeito de direito, logo, com
personalidade jurídica.

• A teoria afirmativista, entretanto, se desdobra em três teorias, quais sejam:


◦ teoria da ficção: a pessoa jurídica seria um sujeito com existência ideal, ou
seja, fruto da técnica jurídica, uma ficção legal;
◦ teoria da realidade objetiva ou organicista: a pessoa jurídica é um organismo
social e real, com vontade própria, e não um fruto da técnica jurídica; e
◦ teoria da realidade técnica: uma teoria intermediária, mistura elementos das
duas teorias da ficção e da realidade, pois entende que a pessoa jurídica é real e
não uma ficção, embora sua personalidade jurídica seja uma construção jurídica.

• A principal função da pessoa jurídica é assegurar a separação do patrimônio


da entidade e das pessoas físicas.

• Existem três áreas distintas de pessoa física: Direito Civil, Direito Empresarial
e Direito Público.

• A existência legal da pessoa jurídica só começa com o registro de seus atos


constitutivos.

• O Registro da pessoa jurídica no RCPJ é o que faz nascer uma nova pessoa jurídica
e o ato de averbação é o que altera ou modifica algum registro já praticado, bem
como, por averbação também se dá a dissolução da pessoa jurídica.

• O Registro civil de pessoa jurídica é o ato de registrar os contratos das


sociedades simples, revestidas das formas estabelecidas nas leis comerciais,
exceto as anônimas; os atos constitutivos, os estatutos ou compromissos,
das associações religiosas, pias, morais, científicas ou literárias; os atos de
instituição de fundações, exceto as de direito público. (REGISTRO, 2021)

117
• O registro integral dos documentos consiste na transladação dos mesmos, com
a mesma ortografia e pontuação, com referências às entrelinhas ou quaisquer
acréscimos, alterações, defeitos ou vícios que tiver o original apresentado,
e, bem assim, com menção precisa aos seus característicos exteriores e às
formalidades legais (REGISTRO, 2021).

• O registro resumido consiste na declaração da natureza do título, do documento


ou papel, valor, prazo, lugar em que tenha sido feito, nome e condição jurídica das
partes, nomes das testemunhas, data da assinatura e do reconhecimento de firma
por tabelião, se houver, o nome deste, o do apresentante, o número de ordem e a
data do protocolo, e da averbação, a importância e a qualidade do imposto pago,
depois do que será datado e rubricado pelo Oficial (REGISTRO, 2021).

• Conforme orientação da Associação dos Notários e Registradores do Brasil


(ANOREG), o documento levado ao registro deve conter os seguintes requisitos
obrigatórios:
◦ a denominação, os fins, a sede, o tempo de duração e o fundo social, quando
houver;
◦ o nome e a individualização dos fundadores ou instituidores, e dos diretores;
◦ o modo por que se administra e representa, ativa e passivamente, judicial e
extrajudicialmente;
◦ se o ato constitutivo é reformável no tocante à administração, e de que modo;
◦ se os membros respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais;
◦ as condições de extinção da pessoa jurídica e o destino do seu patrimônio,
nesse caso (REGISTRO, 2021).

118
AUTOATIVIDADE

1 Na esfera do Direito Registral brasileiro existe uma competência para o


ato de registrar os contratos das sociedades simples, revestidas das formas
estabelecidas nas leis comerciais, exceto as anônimas; os atos constitutivos,
os estatutos ou compromissos, das associações religiosas; os atos de
instituição de fundações, exceto as de direito público, a matrícula das
empresas de radiodifusão, entre outras. Sobre esta competência para o a
prática do ato registral, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Registro Civil das Pessoas Jurídicas.


b) ( ) Registro Civil das Pessoas Naturais e Jurídicas.
c) ( ) Registro Civil das Pessoas Naturais.
d) ( ) Registro de Título e Documentos.

2 Para justificar a natureza jurídica da pessoa jurídica, a doutrina se apoia


em duas teorias: a negativista e a afirmativista. Ao contrário da teoria
negativista, a teoria afirmativista –adotada pelo Brasil – admite que a pessoa
jurídica possua personalidade jurídica, pois a compreende como pessoa de
direito. Essa teoria afirmativista apresenta três teorias. Com base nas teorias
emanadas da afirmativa, analise as sentenças a seguir:

I- A teoria da ficção – a pessoa jurídica seria um sujeito com existência ideal,


ou seja, fruto da técnica jurídica, uma ficção jurídica;
II- A teoria da realidade objetiva ou organicista – a pessoa jurídica é um
organismo social e real, com vontade própria, e não um fruto da técnica
jurídica;
III- A Teoria da realidade técnica – mais propensa a admitir a teoria negativista,
pois não compreende a pessoa jurídica como sujeito de direito.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 A Associação de Notários e Registradores (ANOREG) aponta um rol de


documentos que devem acompanhar/instruir o pedido de registro de
pessoa jurídica no Registro Civil de Pessoa Jurídica. De acordo com as
determinações da ANOREG, relacionadas ao registro da pessoa jurídica,
classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

119
( ) A denominação, os fins, a sede, o tempo de duração e o fundo social,
quando houver.
( ) As condições de extinção da pessoa jurídica, porém, o destino do seu
patrimônio, pode ser informado no ato da dissolução.
( ) O modo por que se administra e representa, ativa e passivamente, judicial
e extrajudicialmente.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 Percebe-se a evolução do conceito de pessoa jurídica, alargando a visão


tradicional já que modernamente temos a sociedade unipessoal de
responsabilidade limitada – chamada EIRELI. Todavia, o que sempre será
correto afirmar é a questão do surgimento da pessoa jurídica e sua função.
Disserte sobre quando começa a existência legal da pessoa jurídica e qual
sua principal função.

5 O Registro civil de pessoa jurídica é o ato de registrar os contratos das


sociedades simples, revestidas das formas estabelecidas nas leis comerciais,
exceto as anônimas; os atos constitutivos, os estatutos ou compromissos,
das associações religiosas, pias, morais, científicas ou literárias; os atos
de instituição de fundações, exceto as de direito público. Nesse contexto,
disserte sobre o REGISTRO INTEGRAL e o REGISTRO RESUMIDO:

120
TÓPICO 2 —
UNIDADE 2

ASPECTOS LEGAIS, ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS E


PARTIDOS POLÍTICOS

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico e no próximo, trabalharemos diretamente com as pessoas
jurídicas que são registradas no Registro Civil das Pessoas Jurídicas. Porém,
faz-se mister que iniciemos nossos estudos com a apresentação dos requisitos
que cada modalidade deve apresentar para instruir o pedido de registro nessa
Serventia Registral.

As pessoas jurídicas que, para sua constituição, dependem de contrato


social devem apresentar um rol de documentos e preencher determinados
requisitos que veremos a seguir. Igualmente para matricular uma empresa de
radiodifusão, oficinas impressoras, agências de notícias e jornais. Acadêmico,
deve-se atentar para que estejam presentes os requisitos exigidos por lei,
do contrário o registrador não poderá efetuar a matrícula, cujos elementos
abordaremos no tópico 3.

Para os Partidos Políticos, tem novidade, então, fique bem atento, para
saber se esse registro continua no rol das pessoas jurídicas registráveis no Ofício
de Registro Civil de Pessoas Jurídicas.

Acadêmico, no Tópico 2, abordaremos, além das questões preliminares


dantes consideradas – como a formalização do processo de surgimento da pessoa
jurídica, as disposições da Lei nᵒ 6.015/1973 com base no Artigo 114, que determina
o que e quem serão inscritos no Registro Civil das Pessoas Jurídicas; e, também,
analisaremos, quanto ao registro, cada entidade isoladamente. Iniciaremos, neste
tópico, pelas ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS e pelos PARTIDOS POLÍTICOS, as
demais farão parte do Tópico 3.

121
UNIDADE 2 — REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA

2 ASPECTOS LEGAIS
Já é da Lei Maior, inciso IV do Artigo 1ᵒ – Constituição da República
Federativa do Brasil – o dispositivo que os “valores sociais do trabalho e da livre
iniciativa”, fundamentam nosso Estado Democrático de Direito (BRASIL, 1988).
Com esses “valores da livre iniciativa”, acadêmico, para uma Sociedade que se
destaca pelo empreendedorismo, somado ao modo como isso se configura na
prática, é como você será conduzido a compreender esta nova fase do estudo,
iniciando pela Lei nᵒ 6.015/1973 – Lei de Registros Públicos, a qual dispõe:

Art. 114. No Registro Civil de Pessoas Jurídicas serão


inscritos: (Renumerado do Art. 115 pela Lei nᵒ 6.216, de 1975).
I- os contratos, os atos constitutivos, o estatuto ou compromissos das
sociedades civis, religiosas, pias, morais, científicas ou literárias,
bem como o das fundações e das associações de utilidade pública;
II- as sociedades civis que revestirem as formas estabelecidas nas leis
comerciais, salvo as anônimas.
III- os atos constitutivos e os estatutos dos partidos políticos. (Incluído
pela Lei nᵒ 9.096, de 1995)
Parágrafo único. No mesmo cartório será feito o registro dos jornais,
periódicos, oficinas impressoras, empresas de radiodifusão e agências
de notícias a que se refere o Art. 8ᵒ da Lei nᵒ 5.250, de 9-2-1967.
Art. 115. Não poderão ser registrados os atos constitutivos de pessoas
jurídicas, quando o seu objeto ou circunstâncias relevantes indiquem
destino ou atividades ilícitos ou contrários, nocivos ou perigosos ao
bem público, à segurança do Estado e da coletividade, à ordem pública
ou social, à moral e aos bons costumes. (Renumerado do Art. 116 pela
Lei nᵒ 6.216, de 1975).
Parágrafo único. Ocorrendo qualquer dos motivos previstos neste
artigo, o oficial do registro, de ofício ou por provocação de qualquer
autoridade, sobrestará no processo de registro e suscitará dúvida para
o Juiz, que a decidirá (BRASIL, 1973).

Assim como nas Juntas Comerciais se registram as sociedades comerciais,


nos Cartórios de pessoas jurídicas são registradas as sociedades civis. Do retro
transcrito Artigo 114 da LRP, colhe-se que serão inscritos no Registro Civil de
Pessoas Jurídicas:

• Os contratos, os atos constitutivos, o estatuto ou compromissos das sociedades


civis, religiosas, pias, morais, científicas, ou literárias, bem como o das
fundações e das associações de utilidade pública.
• As sociedades civis que revestirem as formas estabelecidas nas leis comerciais,
salvo as anônimas;
• Os atos constitutivos e os estatutos dos partidos políticos.
• Devem ser registradas, ainda, as alterações contratuais, estatutárias, atas,
balanços, livros contábeis ou de atas ou quaisquer outros documentos relativos
a essas instituições, para validade contra terceiros.
• Nesse Registro Civil de Pessoas Jurídicas será feita a matrícula dos jornais,
periódicos, oficinas impressoras, empresas de radiodifusão e agências de notícias.

122
TÓPICO 2 — ASPECTOS LEGAIS, ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS E PARTIDOS POLÍTICOS

A Associação dos Notários e Registradores do Brasil (ANOREG) aponta os


requisitos necessários que devem instruir o pedido de registro no ato de entrega
dos documentos à Serventia Registral (REGISTRO, 2021).

Considerando que o ato constitutivo é um Contrato Social, o requerente


deve atentar-se para:

• Nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios,


se pessoas naturais, e a firma ou a denominação, nacionalidade e
sede dos sócios, se jurídicas;
• Denominação, objeto, sede e prazo da sociedade;
• Capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo
compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação
pecuniária;
• A quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la;
• As prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em
serviços;
• As pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e
seus poderes e atribuições;
• A participação de cada sócio nos lucros e nas perdas;
• Se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações
sociais (REGISTRO, 2021, s. p.).

Tratando-se de Jornais, oficinas impressoras, empresas de radiodifusão


e agências de notícias, a Associação dos Notários e Registradores do Brasil
(ANOREG) assim menciona:

Para matricular uma empresa de radiodifusão deve se, previamente,


registrar o contrato social desta no órgão competente (Junta Comercial
ou RCPJ). Constituída a pessoa jurídica, a mesma deverá buscar
autorização para funcionar perante o Poder Concedente (Lei nᵒ 9.612/98).
Após, de posse dessa autorização, será requerida a matriculação no
Registro Civil das Pessoas Jurídicas, com os requisitos do Artigo 122 e
seguintes, da Lei dos Registros Públicos (REGISTRO, 2021, s. p.).

Percebe-se aqui, acadêmico, a necessidade prévia da existência de uma


atividade constituída na Junta Comercial para após o Registro Civil das Pessoas
Jurídicas proceder a matrícula.

Na mesma senda, a Associação dos Notários e Registradores do Brasil


(ANOREG) aponta o registro dos sindicatos. Todavia, para esses apresenta
que “há dois entendimentos”: Um que exige o prévio registro do Sindicato no
Ministério do Trabalho, conforme Art. 8ᵒ da CRFB (Constituição da República
Federativa do Brasil ou Constituição Federal). E o outro entende que é possível
o registro para fins de aquisição da personalidade jurídica, para, depois levar o
Estatuto para arquivar no Ministério do Trabalho.

123
UNIDADE 2 — REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA

Com enorme divergência doutrinária ainda se encontra o registro das


cooperativas. Segundo as considerações de Maria Camilo (2016), o Código Civil
alterou, com base nos dispositivos do Art. 982, parágrafo único e Artigo 1.150, o
órgão competente para registro das sociedades cooperativas da Junta Comercial
para o Registro Civil das Pessoas Jurídicas, pois distinguiu as sociedades
empresárias das sociedades simples e enquadrou as cooperativas no rol das
sociedades simples. Logo, o estatuto social das cooperativas deveria ser registrado
no Registro Civil das Pessoas Jurídicas.

A autora do artigo Registro de Cooperativas: RCPJ X Junta Comercial,


publicado no sítio eletrônico do Colégio Registral do Brasil, se apoia no relato
proferido pela 6ª Turma, quando aponta: “Sendo assim, ‘apenas no ponto que
a lei de regência das cooperativas for omissa é que se aplicam as disposições
referentes às sociedades simples’, esclareceu o relator” (CAMILO, 2016, s. p.).

E, ainda aponta que “Há disposições específicas, para a sociedade


cooperativa, contidas nos Artigos 1.093 a 1.096, o que torna claro que a Lei
das Cooperativas (Lei 5.764/1971) não foi revogada pelo Novo Código Civil”
(CAMILO, 2016, s. p.).

Já podemos esclarecer que as Sociedades de Advogados, conforme


transcreveremos a seguir, são regidas pela Lei nᵒ 8.906, de 4 de julho de 1994, que
dispõe do Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), e
não são registradas nem na Junta Comercial do Estado e nem no Registro Civil das
Pessoas Jurídicas – tema central desta Unidade 2. As Sociedades de Advogados,
conforme o § 1ᵒ do Art. 1ᵒ do Estatuto da Advocacia:

Art. 15.  Os advogados podem reunir-se em sociedade simples de


prestação de serviços de advocacia ou constituir sociedade unipessoal
de advocacia, na forma disciplinada nesta Lei e no regulamento
geral (Redação dada pela Lei nᵒ 13.247, de 2016).
§ 1o  A sociedade de advogados e a sociedade unipessoal de advocacia
adquirem personalidade jurídica com o registro aprovado dos
seus atos constitutivos no Conselho Seccional da OAB em cuja base
territorial tiver sede. (Redação dada pela Lei nᵒ 13.247, de 2016).
§ 2o  Aplica-se à sociedade de advogados e à sociedade unipessoal
de advocacia o Código de Ética e Disciplina, no que couber (Redação
dada pela Lei nᵒ 13.247, de 2016).
§ 3ᵒ As procurações devem ser outorgadas individualmente aos
advogados e indicar a sociedade de que façam parte.
§ 4o Nenhum advogado pode integrar mais de uma sociedade de
advogados, constituir mais de uma sociedade unipessoal de advocacia,
ou integrar, simultaneamente, uma sociedade de advogados e uma
sociedade unipessoal de advocacia, com sede ou filial na mesma área
territorial do respectivo Conselho Seccional (Redação dada pela Lei nᵒ
13.247, de 2016).
§ 5o   O ato de constituição de filial deve ser averbado no registro
da sociedade e arquivado no Conselho Seccional onde se instalar,
ficando os sócios, inclusive o titular da sociedade unipessoal de
advocacia, obrigados à inscrição suplementar (Redação dada pela
Lei nᵒ 13.247, de 2016).

124
TÓPICO 2 — ASPECTOS LEGAIS, ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS E PARTIDOS POLÍTICOS

§ 6ᵒ Os advogados sócios de uma mesma sociedade profissional não


podem representar em juízo clientes de interesses opostos.
§ 7o  A sociedade unipessoal de advocacia pode resultar da
concentração por um advogado das quotas de uma sociedade de
advogados, independentemente das razões que motivaram tal
concentração (Incluído pela Lei nᵒ 13.247, de 2016) (BRASIL, 1994).

NTE
INTERESSA

Há uma vedação/proibição de se registrar as Sociedades de Advogados no


Registro Civil de Pessoas Jurídicas, conforme dispõe o § 3ᵒ do Art. 16 do Estatuto da Advocacia:
“[...] § 3ᵒ É proibido o registro, nos cartórios de registro civil de pessoas jurídicas e nas juntas
comerciais, de sociedade que inclua, entre outras finalidades, a atividade de advocacia”.

Deve ter ficado claro para você acadêmico, que, assim como uma pessoa,
ao nascer, deve ser registrada – matéria que já estudamos na Unidade 1 – estas
entidades, chamadas pessoas jurídicas, devem também ser registradas no Registro
Civil das Pessoas Jurídicas para serem constituídas.

Você deve estar se perguntando: Quanto custa esse serviço registral?


Essa prestação de serviço tem um preço tabelado, conforme uma tabela de
EMOLUMENTOS REGISTRAIS que é aprovada pela Assembleia Legislativa de
cada Estado-membro, atualmente também é divulgada no portal da Associação
dos Notários e Registradores do Brasil (ANOREG).

DICAS

Sobre emolumentos, acesse: https://www.anoreg.org.br/site/tabela-de-


emolumentos/.

Igualmente os procedimentos devem seguir as estritas orientações dos


respectivos Códigos de Normas Extrajudiciais. Fique atento acadêmico, porque
existe o Código de Normas Judiciais e Extrajudiciais, nesse caso, o que se nos
aproveita é o da esfera Extrajudicial.

De agora em diante trataremos direta e distintamente das pessoas jurídicas,


que devem ser registradas no Registro Civil das Pessoas Jurídicas, inclusive no
próximo tópico:

125
UNIDADE 2 — REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA

3 ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS
Interessante que sempre que falamos ou ouvimos a expressão Organizações
religiosas, logo vem em nossa mente a imagem de um templo, não é mesmo
acadêmico? Por essa razão trouxemos a Figura 6.

FIGURA 6 – TEMPLO RELIGIOSO

FONTE: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/behind-trang-church-religious-
organization-city-1465116071. Acesso em 7 dez. 2020.

Todavia, é importante destacar que as Organizações Religiosas não são


as construções, mas sim seus atos constitutivos juridicamente apresentáveis,
conforme veremos.

Nossa Constituição Federal, no Art. 5ᵒ, dispõe que “Todos são iguais
perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes”:

[...]
VI- é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na
forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
VII- é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência
religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva;
VIII- ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa
ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para
eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a
cumprir prestação alternativa, fixada em lei (BRASIL, 1988).

Ainda sobre a questão da crença religiosa, a CRFB, atribui “serviço


alternativo”, conforme:

126
TÓPICO 2 — ASPECTOS LEGAIS, ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS E PARTIDOS POLÍTICOS

Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei.


§ 1ᵒ Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço
alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem
imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de
crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem
de atividades de caráter essencialmente militar. (Regulamento)
§ 2ᵒ - As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do serviço militar
obrigatório em tempo de paz, sujeitos, porém, a outros encargos que a
lei lhes atribuir (BRASIL, 1988).

É cultural que a prática das atividades relacionadas às crenças é


realizada em templos, igrejas, por meio de Organizações Religiosas, legalmente
constituídas. E, agora que vimos que há uma questão cultural envolvida,
inclusive resguardada constitucionalmente, é também importante perceber que
há disciplina na legislação brasileira. Todavia, antes de adentrarmos nos aspectos
ligados diretamente aos temas legislativos, é imprescindível conhecer o conceito
de Organização Religiosa, para daí avançarmos.

3.1 CONCEITO
Ao destacarmos o conceito de Organizações Religiosas, buscamos
referendá-lo em dicionário jurídico e na doutrina. No Dicionário Jurídico
(ORGANIZAÇÕES, 2021, s. p.), encontramos:

São entidades de direito privado, formadas pela união de indivíduos


com o propósito de culto, por meio de doutrina e ritual próprios,
envolvendo, em geral, preceitos éticos. Nesse conceito enquadram-
se desde igrejas e seitas até comunidades leigas, como confrarias ou
irmandades. Nota-se que a liberdade de organização religiosa é uma
das formas de expressão da liberdade religiosa, coexistindo com a
liberdade de crença e de culto.

Sérgio Roberto Monello (2017, s. p.) apresenta:

Muito se tem discutido sobre o conceito de organização religiosa (OR).


Essa figura jurídica está prevista no inciso IV do Art. 44 do Código
Civil Brasileiro.
A organização religiosa é uma pessoa jurídica de direito privado
constituída por pessoas físicas ou jurídicas que professam uma
religião segundo seus ditames religiosos e sob a perspectiva de uma fé,
na vivência do culto divino, de um carisma, de uma ideologia, de uma
filosofia de vida que lhes forneça o fundamento para suas iniciativas
religiosas, educacionais, assistenciais e outras.

Segundo Monello (2012, s. p.), inclusive trazendo apontamentos do


Dicionário Aurélio, as Organizações Religiosas são:

Elas são resultado da confissão e vivência da fé de seus membros


ou integrantes. Na perspectiva religiosa, a fé deve ser vista como
um dom, uma dádiva da bondade de Deus concedida ao homem.
Segundo o dicionário Novo Aurélio da Língua Portuguesa, por fé

127
UNIDADE 2 — REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA

entende-se: 1) Crença religiosa; 2) Conjunto de dogmas e doutrinas


que constituem um culto; 3) Rel. A primeira virtude teologal: adesão
e anuência pessoal a Deus, seus desígnios e manifestações; 4) Firmeza
na execução de uma promessa ou de um compromisso; 5) Crença,
confiança; 6) Asseveração de algum fato.

Também para Monello (2012, s. p., grifo nosso) “As organizações religiosas
são constituídas sob o manto confessional. São portadoras de um direito próprio que
regula e disciplina sua vida, organização e atividades”. O autor também aponta
alguns exemplos como: “Igrejas, Dioceses, Prelazias, Mitras, Ordens, Congregações,
Institutos de Vida Consagrada, Institutos de Vida Apostólica e outras”.

NTE
INTERESSA

Acadêmico, você pode recorrer ao conceito de Instituição Confessional,


disposto no inciso III do Art. 20, da Lei nᵒ 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que assim
dispõe: "as que são instituídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas
jurídicas que atendem a orientação confessional e ideologia específicas" (BRASIL, 1996).

Sobre o conceito de Organizações Religiosas, Paiva e Alvares (2017, p. 60,


grifo do original) afirmam que:

As organizações religiosas, apesar de a lei ter-lhes conferido autonomia


como espécie de pessoa jurídica de direito privado registrável no
Registro Civil de Pessoas Jurídicas, por carência de regulação legal,
continuam sendo registradas, basicamente, como associações, espécie
básica de organização de fins não econômicos, em relação às quais são
admitidas algumas características diferenciais, particularmente em
relação ao exercício do poder interno de gestão na condição de seus
destinos, de acordo com a tradição de cada igreja, seus cultos e da fé
que professam.

Compreendido o conceito de Organizações Religiosas, nossa atenção deve


se voltar às disposições e implicações que a legislação apresenta.

128
TÓPICO 2 — ASPECTOS LEGAIS, ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS E PARTIDOS POLÍTICOS

3.2 DISPOSIÇÕES LEGISLATIVAS


Apresentar-se-á alguns dispositivos legais concernentes às Organizações
Religiosas; inclusive, preste bem atenção acadêmico, porque, recentemente,
houve mudança na lei que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional,
revogando justamente a disposição sobre “categorias confessionais”. No entanto,
vamos iniciar pela Lei de Registros Públicos:

3.2.1 Lei nᵒ 6.015 – Lei de Registros Públicos


É necessário salientar que partiremos da Lei nᵒ 6.015/1973, que
dispõe sobre o Registro Civil das Pessoas Jurídicas, nos Artigos 114 a 126, e
expressamente apresenta:

Art. 114. No Registro Civil de Pessoas Jurídicas serão inscritos:


(Renumerado do Art. 115 pela Lei nᵒ 6.216, de 1975).
I- os contratos, os atos constitutivos, o estatuto ou compromissos das
sociedades civis, religiosas, pias, morais, científicas ou literárias,
bem como o das fundações e das associações de utilidade pública
(BRASIL, 1973, grifo nosso).

Percebe-se que os registros dos atos constitutivos das sociedades religiosas


encontram-se no rol das pessoas jurídicas que são inscritas no Registro Civil das
Pessoas Jurídicas.

3.2.2 Lei nᵒ 10.406 – Código Civil


O Código Civil brasileiro, com a alteração pela Lei nᵒ 10.825 de 22 de
dezembro de 2003, que incluiu o inciso IV no Artigo 44, passou a ter a seguinte
redação:

Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:


I- as associações;
II- as sociedades;
III- as fundações.
IV- as organizações religiosas;  (Incluído pela Lei nᵒ 10.825, de
22.12.2003) (grifo nosso)
V- os partidos políticos. (Incluído pela Lei nᵒ 10.825, de 22.12.2003)
VI- as empresas individuais de responsabilidade limitada. (Incluído
pela Lei nᵒ 12.441, de 2011) (Vigência)
§ 1ᵒ  São livres a criação, a organização, a estruturação interna e o
funcionamento das organizações religiosas, sendo vedado ao poder
público negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos constitutivos
e necessários ao seu funcionamento.  (Incluído pela Lei nᵒ 10.825, de
22.12.2003)

129
UNIDADE 2 — REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA

§ 2ᵒ  As disposições concernentes às associações aplicam-se


subsidiariamente às sociedades que são objeto do Livro II da Parte
Especial deste Código. (Incluído pela Lei nᵒ 10.825, de 22.12.2003)
§ 3ᵒ Os partidos políticos serão organizados e funcionarão conforme o
disposto em lei específica. (Incluído pela Lei nᵒ 10.825, de 22.12.2003)
(BRASIL, 2002).

As organizações religiosas, para Monello (2017, s. p.), “são constituídas,


regra geral, sob o manto confessional. São portadoras de um direito próprio,
que regula e disciplina sua vida, organização e atividades”. Obtempera que essa
liberdade de organização está prevista no § 1ᵒ do Art. 44 do Código Civil.

Paiva e Alvares (2017, p. 60) também apresentam suas observações das


alterações introduzidas ao Código Civil, quando informa que “O advento da
Lei n. 10.825/2003, que outorgou essa autonomia às organizações religiosas, foi
muito criticado pelo caráter que teve de tão somente procurar criar privilégios
de intocabilidade em relação a elas, inclusive por parte do Estado brasileiro”. E,
se referindo ao § 1ᵒ do Art. 44 do Código Civil, Paiva e Alvares (2017) asseveram
que o texto inserido posteriormente ao original, “oferece uma ideia errônea” da
possibilidade de formação e registro das organizações religiosas, como se fosse
“conferir-lhes uma ‘imunidade legal’ que em verdade não têm”. E, nessa senda,
o autor, acrescenta:

Ainda que se viva na maior plenitude de um Estado Democrático e de


Direito, não há essa pretensa liberdade absoluta de criação de pessoas
jurídicas de direito privado cujo interesse primordial seja a propagação
de determinada fé ou culto religioso e a institucionalização de igrejas,
ainda que nossa Constituição proclame, por meio do inciso I do Art.
19, ser vedado aos entes da Federação, em todos os níveis políticos,
embaraçar-lhes o funcionamento (PAIVA; ALVARES, 2017, p. 60)

Nesse raciocínio seguem os autores dispondo que “Não existe exercício


ilimitado de direito, mormente quando esse direito tenha a pretensão de ser
oposto, pelos particulares, em relação à própria soberania do Estado” (PAIVA;
ALVARES, 2017, p. 60). E, conclui que ilegítimo será qualquer intuito, de qualquer
organização, cuja criação seja autorizada por lei, de se não submeter a um mínimo
de controle estatal, rejeitadas, em qualquer caso, a liberdade e a autonomia de sua
organização interna.

A III Jornada de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal, contando


com o Ministro Ruy Rosado de Aguiar na coordenação geral, e com o civilista
Professor Gustavo Tepedino, aprovou o seguinte enunciado com relação à
interpretação do Artigo 44 do Código Civil:

Enunciado nᵒ 143. A liberdade de funcionamento das organizações


religiosas não afasta o controle de legalidade e legitimidade
constitucional de seu registro, nem a possibilidade de reexame, pelo
Judiciário, da compatibilidade de seus atos com a lei e com seus
estatutos (AGUIAR JÚNIOR, 2012, p. 36).

130
TÓPICO 2 — ASPECTOS LEGAIS, ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS E PARTIDOS POLÍTICOS

Monello (2017, s. p.) entende que está “equivocada a interpretação que


somente se classificam como OR as Igrejas”. Para demonstrar seu entendimento
menciona uma sentença proferida pela Vara de Registros Públicos em São Paulo:

Registro civil de pessoas jurídicas – pedido de providências – averbação


de reforma de estatuto – pessoa jurídica de vocação religiosa que não
se dedica somente ao culto, mas também a atividades educacionais
– correta classificação como sociedade, associação ou fundação
religiosa (VV02, Art. 44, I-III), e não como organização religiosa, que
é a finalidade unicamente espiritual – pedido indeferido.Por essa
sentença, constata-se que a entidade não obteve o registro de seu
estatuto, por entendimento, que por ter vocação religiosa não poderia
ter outras atividades (MONELLO, 2017, s. p.).

Importante, acadêmico, ter sempre em mente que as questões jurídicas


fazem parte de um universo em constante movimento, não estando inseridas
nas ciências exatas ou em um contexto estático. Logo, se deve sempre analisar a
vigência dos dispositivos legais, sob pena de obter informações equivocadas e/ou
ultrapassadas que não mais se aplicam.

Perceba na situação que Monello (2017) apresentou, muito embora se


deva dar ouvidos e respeitar o autor citado, a Lei nᵒ 13.868/2019, revogou na
íntegra o Artigo 20 da Lei nª 9.394/1996 – Lei que estabelece as diretrizes e bases
da educação nacional. Esse dispositivo revogado apresentava:

Art. 20. As instituições privadas de ensino se enquadrarão nas


seguintes categorias:  
[...]
III - confessionais, assim entendidas as que são instituídas por grupos
de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas que atendem a
orientação confessional e ideologia específicas e ao disposto no inciso
anterior;     
 (Revogado pela Lei nᵒ 13.868, de 2019) (BRASIL, 1996).

Por essa razão não se fará um subtópico sobre a Lei das Diretrizes e Bases
da Educação, pois todo dispositivo que se referia às orientações confessionais
foi revogado. Por outro lado, o Marco Regulatório do Terceiro Setor reconhece
que as organizações religiosas podem desenvolver outras atividades distintas das
destinadas à fins exclusivamente religiosos. Vamos analisar na sequência.

131
UNIDADE 2 — REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA

3.2.3 Lei nᵒ 13.019 – Marco Regulatório do Terceiro


Setor
Esse marco regulatório também insere as Organizações Religiosas no
ordenamento jurídico brasileiro, quando dispõe:

Art. 1ᵒ Esta Lei institui normas gerais para as parcerias entre a


administração pública e organizações da sociedade civil, em regime
de mútua cooperação, para a consecução de finalidades de interesse
público e recíproco, mediante a execução de atividades ou de
projetos previamente estabelecidos em planos de trabalho inseridos
em termos de colaboração, em termos de fomento ou em acordos de
cooperação. (Redação dada pela Lei nᵒ 13.204, de 2015)
Art. 2ᵒ Para os fins desta Lei, considera-se:
I- organização da sociedade civil: pessoa jurídica de direito privado
sem fins lucrativos que não distribui, entre os seus sócios ou
associados, conselheiros, diretores, empregados ou doadores,
eventuais resultados, sobras, excedentes operacionais, brutos ou
líquidos, dividendos, bonificações, participações ou parcelas do seu
patrimônio, auferidos mediante o exercício de suas atividades, e que
os aplica integralmente na consecução do respectivo objeto social, de
forma imediata ou por meio da constituição de fundo patrimonial ou
fundo de reserva;  (Redação dada pela Lei nᵒ 13.204, de 2015)
I- organização da sociedade civil: (Redação dada pela Lei nᵒ 13.204,
de 2015)
a) entidade privada sem fins lucrativos que não distribua entre os
seus sócios ou associados, conselheiros, diretores, empregados,
doadores ou terceiros eventuais resultados, sobras, excedentes
operacionais, brutos ou líquidos, dividendos, isenções de
qualquer natureza, participações ou parcelas do seu patrimônio,
auferidos mediante o exercício de suas atividades, e que os aplique
integralmente na consecução do respectivo objeto social, de forma
imediata ou por meio da constituição de fundo patrimonial ou
fundo de reserva; (Incluído pela Lei nᵒ 13.204, de 2015)
b) as sociedades cooperativas previstas na  Lei nᵒ 9.867, de 10 de
novembro de 1999 ; as integradas por pessoas em situação de risco
ou vulnerabilidade pessoal ou social; as alcançadas por programas
e ações de combate à pobreza e de geração de trabalho e renda; as
voltadas para fomento, educação e capacitação de trabalhadores rurais
ou capacitação de agentes de assistência técnica e extensão rural; e as
capacitadas para execução de atividades ou de projetos de interesse
público e de cunho social. (Incluído pela Lei nᵒ 13.204, de 2015)
c) as organizações religiosas que se dediquem às atividades ou
aos projetos de interesse público e de cunho social distintas das
destinadas a fins exclusivamente religiosos;  (Incluído pela Lei nᵒ
13.204, de 2015) (BRASIL, 2014, grifo nosso).

As disposições do Art. 33 também nos fazem refletir, quando dispõe:

Art. 33. Para celebrar as parcerias previstas nesta Lei, as organizações


da sociedade civil deverão ser regidas por normas de organização
interna que prevejam, expressamente:  (Redação dada pela Lei nᵒ
13.204, de 2015)
I - objetivos voltados à promoção de atividades e finalidades de
relevância pública e social;

132
TÓPICO 2 — ASPECTOS LEGAIS, ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS E PARTIDOS POLÍTICOS

[...]
III - que, em caso de dissolução da entidade, o respectivo patrimônio
líquido seja transferido a outra pessoa jurídica de igual natureza
que preencha os requisitos desta Lei e cujo objeto social seja,
preferencialmente, o mesmo da entidade extinta; (Redação dada pela
Lei nᵒ 13.204, de 2015)
[...]
§ 2ᵒ Serão dispensadas do atendimento ao disposto nos incisos I e
III as organizações religiosas.  (Incluído pela Lei nᵒ 13.204, de 2015)
(BRASIL, 2014, grifo nosso).

E ainda, com relação aos benefícios que aproveitam as Organizações


Religiosas, o Marco Regulatório do Terceiro Setor, dispõe:

Art. 84-B. As organizações da sociedade civil farão jus aos seguintes


benefícios, independentemente de certificação:  (Incluído pela Lei nᵒ
13.204, de 2015).
I- receber doações de empresas, até o limite de 2% (dois por cento)
de sua receita bruta; (Incluído pela Lei nᵒ 13.204, de 2015).
II- receber bens móveis considerados irrecuperáveis, apreendidos,
abandonados ou disponíveis, administrados pela Secretaria da
Receita Federal do Brasil; (Incluído pela Lei nᵒ 13.204, de 2015).
III- distribuir ou prometer distribuir prêmios, mediante sorteios, vale-
brindes, concursos ou operações assemelhadas, com o intuito de
arrecadar recursos adicionais destinados à sua manutenção ou
custeio. (Incluído pela Lei nᵒ 13.204, de 2015)   (Revogado pela Lei
nᵒ 14.027, de 2020).
Art. 84-C. Os benefícios previstos no Art. 84-B serão conferidos às
organizações da sociedade civil que apresentem entre seus objetivos
sociais pelo menos uma das seguintes finalidades: (Incluído pela
Lei nᵒ 13.204, de 2015).
XII- organizações religiosas que se dediquem a atividades de
interesse público e de cunho social distintas das destinadas a fins
exclusivamente religiosos;  (Incluído pela Lei nᵒ 13.204, de 2015)
(BRASIL, 2014, grifo nosso).

Embora possamos entender que a Igreja Católica é apenas uma das


Organizações Religiosas no Brasil, na continuação dos estudos em Monello (2012,
s. p.), destaca-se a observação do autor sobre:

A Igreja Católica, por meio de suas Dioceses, Arquidioceses, Prelazias


e Mitras, possui o reconhecimento de sua personalidade jurídica pelo
decreto nᵒ 119-A, de 7 de dezembro de 1890, e pelo acordo firmado
entre a República Federativa do Brasil e a Santa Sé, em 13 de novembro
de 2008, em Roma. Este acordo foi aprovado pelo Congresso Nacional e
regulamentado pelo decreto federal nᵒ 7.107, de 11 de fevereiro de 2010,
em conformidade com as normas de Direito Constitucional, Direito
Canônico, Direito Civil, Direito Tributário e as demais normas do Direito.

A observação do autor é importante porque nos leva a conhecer o Acordo


entre o Brasil e a Santa Sé, diretamente do Vaticano.

133
UNIDADE 2 — REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA

3.2.4 Decreto nᵒ 7.107


Promulga o Acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil e
a Santa Sé, relativo ao Estatuto Jurídico da Igreja Católica no Brasil, firmado na
Cidade do Vaticano, em 13 de novembro de 2008.

Art. 1ᵒ. O Acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil


e a Santa Sé relativo ao Estatuto Jurídico da Igreja Católica no
Brasil, firmado na Cidade do Vaticano, em 13 de novembro de 2008,
apenso por cópia ao presente Decreto, será executado e cumprido tão
inteiramente como nele se contém (BRASIL, 2010, grifo nosso).

3.2.5 Código de Direito Canônico


O Código de Direito Canônico é reconhecido como Direito Próprio da
Igreja Católica Apostólica Romana, pois disciplina sua organização, estruturação,
funcionamento (MONELLO, 2012).

Pensamos que você gostaria de saber mais desta informação, daí


colhemos da doutrina de Monello (2012, s. p.) que: “A Igreja Católica é dotada de
personalidade jurídica internacional, representada como Estado pela Santa Sé e
tipificada no âmbito do Direito brasileiro como uma organização religiosa”.

ATENCAO

Você pode observar, acadêmico, que o Decreto nᵒ 119-A, de 7 de dezembro de


1890, foi revogado, em 1991, pelo Decreto nᵒ 11, e posteriormente, em 2002, foi revigorado,
pelo Decreto nᵒ 4.496.

3.2.6 Projeto de Lei 5141/20


Prevê que a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) não será
aplicada aos tratamentos de dados pessoais realizados para fins religiosos
(BRASIL, 2020).

Esse projeto está em análise na Câmara dos Deputados, a proposta altera


a LGPD, que hoje já exclui da aplicabilidade da norma o tratamento de dados
pessoais com fins jornalísticos e artísticos. O autor do projeto defende que:

134
TÓPICO 2 — ASPECTOS LEGAIS, ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS E PARTIDOS POLÍTICOS

[...] há uma necessidade de se estender as hipóteses de aplicabilidade


da norma para os procedimentos adotados pelas organizações
religiosas” por conta da “garantia constitucional do livre exercício
dos cultos religiosos, incluindo as suas liturgias e seus procedimentos
internos (HAJE, 2020, s. p.).

É claro, acadêmico, que não esgotamos todo o panorama legislativo


brasileiro que dispõe sobre as Organizações Religiosas, todavia, buscamos norteá-
lo, pois já estamos concluindo nossos estudos das Organizações Religiosas; porém,
ainda apresentamos algumas observações de Paiva e Alvares (2017, p. 61), para
concluir a temática: “Toda e qualquer organização com status de pessoa jurídica
necessita estar com sua situação regularizada perante o Poder da sociedade, o
controle de legalidade de sua atuação”.

Na obra Registro Civil de Pessoas Jurídicas, Paiva e Alvares (2017),


concluem o tema Organizações Religiosas, considerando que a prática da
atividade registral em relação ao registro dessas categorias, tem assimilação
com as associações, em especial na formação de seus estatutos, pois observam tal
procedimento como um “fenômeno natural”, explicando:

Finalmente, no tocante à prática existente no âmbito de alguns órgãos


registrais que têm contemplado a assimilação de regras relativas às
associações para definir o formato institucional das organizações
religiosas, especialmente quanto à formação de seus estatutos
institucionais, vemos tal proceder como um fenômeno natural, já que
as associações constituem um tipo legal básico aplicável, supletivamente,
às demais espécies de pessoas jurídicas de direito privado (sejam
elas civis ou empresárias) de modo que essa praxe proporciona uma
completude na formação do regramento legal que vai reger a futura
organização religiosa. Entretanto, não podemos perder de vista que
as organizações religiosas têm a sua história e a sua tradição e esses
valores devem ser conciliados às regras generalistas do modelo que
vai assimilar, construindo um modelo autêntico, já que o formato legal
das organizações religiosas restou caracterizado como um “tipo aberto”
de pessoa jurídica, onde há uma grande liberdade de criação (PAIVA;
ALVARES, 2017, p. 61).

O sítio eletrônico do 1ᵒ Registro Civil de Pessoa Jurídica do Rio de Janeiro


apresenta o que é necessário para o registro de uma Organização Religiosa, no
Registro Civil de Pessoas Jurídicas, confira:

• Requerimento assinado pelo Presidente, com firma reconhecida,


ou por procurador (procuração especifica para RCPJ com
firma reconhecida); tamanho mínimo de fonte em documentos
digitados: 11 pt;
A Ata da Assembléia de Fundação deve conter:
• Aprovação do estatuto e da criação da associação;
• Relação dos Fundadores c/ identidade e CPF, assinaturas do
Presidente e Secretário da Assembléia de Fundação e mesma data
da ata;
• Rubrica do presidente e do Secretário da Assembléia de Fundação em
todas as páginas e suas assinaturas na última página;

135
UNIDADE 2 — REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA

• Nomeação da diretoria com qualificação completa: cargo, nome,


estado civil, nacionalidade, profissão, CPF, identidade, endereço;
• Se a qualificação for feita em folhas avulsas:
• Rubrica do presidente e do Secretário da Assembléia de Fundação em
todas as páginas e suas assinaturas na última página;
• Mesma data da Assembléia de Fundação na última página;
O Estatuto deve conter:
• Visto do advogado, com o número da OAB – somente na última
folha;
• Rubrica do presidente e do Secretário da Assembléia de Fundação em
todas as páginas;
• Mesma data da Assembléia de Fundação na última página;
• Assinaturas do presidente e do Secretário da Assembléia de
Fundação na última página;
• Classificar como ORGANIZAÇÃO RELIGIOSA; (grifo nosso)
Artigos que tratem dos seguintes assuntos:
• Endereço completo da sede;
• Prazo de duração da organização;
• Atribuições de todos os diretores;
• Modo de constituição e funcionamento dos órgãos deliberativo e
administrativo;
• Prazo de mandato de todos os órgãos;
• Fontes de recursos;
• Órgão competente e quorum para dissolução (ESTATUTO, 2021, s.
p., grifos do original).

Com a apresentação dos dados importantes a serem apresentados para


registrar as Organizações Religiosas, seguimos com a análise do tema Partidos
Políticos, e você nos acompanha no próximo tópico.

4 PARTIDOS POLÍTICOS

FIGURA 7 – PARTIDOS POLÍTICOS

FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/people-involved-politics-vector-flat-
isolated-1552766414>. Acesso em: 10 dez. 2020.

Em razão de o tema despertar tanta atenção, vamos iniciar pela


etimologia, considerando que o termo “partido” é o particípio passado do
verbo “partir”, com o sentido de dividir. Significando, parte da Sociedade
representada por um grupo.

136
TÓPICO 2 — ASPECTOS LEGAIS, ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS E PARTIDOS POLÍTICOS

4.1 CONCEITO
Os partidos políticos recebem como definição jurídica: uma organização
de direito privado que congrega uma união voluntária de cidadãos com afinidades
ideológicas e políticas, organizadas e com disciplina, com o objetivo de disputar
o poder político.

4.2 DISPOSIÇÕES LEGISLATIVAS


Preliminarmente, importa destacar que as referências legislativas a seguir
levarão em conta a Constituição Federal na ordem hierárquica das Leis; não
considerando, todavia, uma ordem cronológica para a apresentação da análise
legislativa que passaremos a estudar, de modo a não perder de vista que a
temática central de nossos estudos é o Registro Civil de Pessoa Jurídica, e não
questões de cunho partidário político e afins. Essa observação se faz necessária
justamente porque os temas abordados em nossa Constituição Federal relevam,
sobremaneira, o modus operandi dos partidos políticos e não sua própria natureza
jurídica e estruturação.

Todavia, prezado acadêmico, o que você encontrará pela frente com todo
o escorço legislativo e a necessidade do registro no Ofício Civil de Registro de
Pessoas Jurídicas, já não é mais assim, pois a Lei nᵒ 14.063, de 23 de setembro de
2020, dispõe:

Art. 5ᵒ No âmbito de suas competências, ato do titular do Poder ou


do órgão constitucionalmente autônomo de cada ente federativo
estabelecerá o nível mínimo exigido para a assinatura eletrônica em
documentos e em interações com o ente público.
[...]
§ 6ᵒ As certidões emitidas por sistema eletrônico da Justiça Eleitoral
possuem fé pública e, nos casos dos órgãos partidários, substituem os
cartórios de registro de pessoas jurídicas para constituição dos órgãos
partidários estaduais e municipais, dispensados quaisquer registros em
cartórios da circunscrição do respectivo órgão partidário (BRASIL, 2020).

Denota-se do texto legal que não será mais necessário o registro do
Partido Político no Ofício de Registro Civil de Pessoas Jurídicas. Entretanto, por
ter feito parte de nossa realidade registral até meses atrás, entendemos relevante
os apontamentos a seguir:

137
UNIDADE 2 — REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA

4.2.1 Constituição da República Federativa do Brasil


Nossa Constituição Federal aponta os Partidos Políticos em vários
dispositivos, a começar pelo inciso LXX, do Art. 5ᵒ, que dá competência a estes
para impetrar Mandado de Segurança Coletivo, nos seguintes termos:

Art. 5ᵒ Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:
a) partido político com representação no Congresso Nacional (grifo
nosso) (BRASIL, 1988).

O § 5ᵒ do Art. 17 aponta que “ao eleito por partido que não preencher
os requisitos previstos no § 3ᵒ deste artigo é assegurado o mandato e facultada
à filiação, sem perda do mandato, a outro partido que os tenha atingido, não
sendo essa filiação considerada para fins de distribuição dos recursos do fundo
partidário [...]”. O § 3ᵒ do mesmo Art. 17 menciona quem terá direito aos recursos
do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à televisão, dispondo uma
sequência gradual.

A Emenda Constitucional nᵒ 35/2001 que alterou a redação do Art. 53,


deixando-o com a seguinte redação: “Art. 53. Os Deputados e Senadores são
invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos”.
Sobre o partido político, a mesma EC alterou a redação originária; “No caso de
flagrante de crime inafiançável, os autos serão remetidos, dentro de vinte e quatro horas,
à Casa respectiva, para que, pelo voto secreto da maioria de seus membros, resolva sobre
a prisão e autorize, ou não, a formação de culpa” (BRASIL, 1988, grifo nosso), que
autoriza o partido político, pelo voto da maioria de seus membros, até decisão
final, sustar o andamento da ação, de denúncia recebida pelo STF por crime
cometido por senador ou deputado após a diplomação, sendo que este dará
ciência ao Senado ou à Câmara Federal, conforme o caso.

§ 3ᵒ Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime


ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará
ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político nela
representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a
decisão final, sustar o andamento da ação (BRASIL, 1988).

O Art. 55 que dispõe: “Perderá o mandato o Deputado ou Senador:”. A


Emenda Constitucional nᵒ 76/2013, com a nova redação do § 2ᵒ, assim expressa
quanto ao partido político, bem como o § 3ᵒ:

§ 2ᵒ Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato será decidida


pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, por maioria
absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa ou de partido
político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla
defesa (Redação dada pela Emenda Constitucional nᵒ 76, de 2013).

138
TÓPICO 2 — ASPECTOS LEGAIS, ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS E PARTIDOS POLÍTICOS

§ 3ᵒ Nos casos previstos nos incisos III a V, a perda será declarada


pela Mesa da Casa respectiva, de ofício ou mediante provocação de
qualquer de seus membros, ou de partido político representado no
Congresso Nacional, assegurada ampla defesa (BRASIL, 1988, grifo
nosso).

Quando nossa Carta Magna trata da “fiscalização contábil, financeira e


orçamentária” (Arts. 70-75), aponta no § 2ᵒ do Art. 74 que “Qualquer cidadão,
partido político, associação ou sindicato é parte legítima para, na forma da lei,
denunciar irregularidades ou ilegalidades perante o Tribunal de Contas da União”
(BRASIL, 1988, grifo nosso). E também para o cargo do poder executivo federal
“do presidente e do vice-presidente da república”, nossa Lei Maior apresenta
disposição no Art. 77, [...] “§ 2ᵒ Será considerado eleito Presidente o candidato
que, registrado por partido político, obtiver a maioria absoluta de votos, não
computados os em branco e os nulos” (BRASIL, 1988, grifo nosso).

A competência para propor ação direta de inconstitucionalidade e


ação declaratória de constitucionalidade também é dos partidos políticos, na
dicção do Art. 103, “Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a
ação declaratória de constitucionalidade”, inciso “VIII - partido político com
representação no Congresso Nacional” (BRASIL, 1988).

Escaladas as disposições constitucionais, passamos a legislação que cria


os partidos políticos.

4.2.2 Lei nᵒ 9.096 – Lei dos Partidos Políticos


Essa lei entra em vigor para regulamentar os artigos 17 e 14, § 3ᵒ da
Constituição Federal. Dispõe em seu Artigo 1ᵒ:

Art. 1ᵒ O partido político, pessoa jurídica de direito privado, destina-se


a assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do
sistema representativo e a defender os direitos fundamentais definidos
na Constituição Federal.
Parágrafo único. O partido político não se equipara às entidades
paraestatais (BRASIL, 1995).

É no Artigo 7ᵒ que começa o tema que interessa ao nosso estudo, acadêmico.


Sim, nosso foco precisa estar centrado sempre na questão registral, e, para tanto,
observe que, conforme dispõe o artigo em comento “O partido político, após
adquirir personalidade jurídica na forma da lei civil, registra seu estatuto no
Tribunal Superior Eleitoral” (BRASIL, 1988, grifo nosso).

Perceba que, já comentamos que a pessoa jurídica adquire a personalidade


jurídica com o registro do seu ato constitutivo, e, aqui o legislador dá o tom: “na forma
da lei civil” – já vamos verificar isso –; mas antes vamos dar um salto na Lei dos Partidos
Políticos, a qual traz em seu Título II, o Capítulo Da Criação e do Registro dos Partidos
Políticos, que dispõe no Art. 8ᵒ, expressamente, sobre o tema de nossa Unidade 2:

139
UNIDADE 2 — REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA

Art. 8ᵒ O requerimento do registro de partido político, dirigido ao


cartório competente do Registro Civil das Pessoas Jurídicas do local de
sua sede, deve ser subscrito pelos seus fundadores, em número nunca
inferior a 101 (cento e um), com domicílio eleitoral em, no mínimo, 1/3
(um terço) dos Estados, e será acompanhado de:  (Redação dada pela
Lei nᵒ 13.877, de 2019)
I- cópia autêntica da ata da reunião de fundação do partido;
II- exemplares do Diário Oficial que publicou, no seu inteiro teor, o
programa e o estatuto;
III- relação de todos os fundadores com o nome completo, naturalidade,
número do título eleitoral com a Zona, Seção, Município e Estado,
profissão e endereço da residência.
§ 1ᵒ O requerimento indicará o nome e função dos dirigentes provisórios
e o endereço da sede do partido na Capital Federal (Revogada pela Lei
nᵒ 13.877 de 2019).
§ 1ᵒ O requerimento indicará o nome e a função dos dirigentes
provisórios e o endereço da sede do partido no território
nacional.  (Redação dada pela Lei nᵒ 13.877, de 2019)
§ 2ᵒ Satisfeitas as exigências deste artigo, o Oficial do Registro Civil
efetua o registro no livro correspondente, expedindo certidão de
inteiro teor.
§ 3ᵒ Adquirida a personalidade jurídica na forma deste artigo, o partido
promove a obtenção do apoiamento mínimo de eleitores a que se
refere o § 1ᵒ do Art. 7ᵒ e realiza os atos necessários para a constituição
definitiva de seus órgãos e designação dos dirigentes, na forma do seu
estatuto (BRASIL, 1995, grifo nosso).

No Artigo 9ᵒ percebemos que “feita a constituição”, e, ainda expressa,


“referida no § 3ᵒ do artigo anterior” – que diz “Adquirida a personalidade jurídica
[...]”, será promovida pelos dirigentes nacionais, por meio de requerimento, o
registro do estatuto do partido junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
acompanhado de “exemplar autenticado do inteiro teor do programa e do
estatuto partidário, inscritos no Registro Civil; e certidão do registro civil da
pessoa jurídica, conforme o registro efetuado segundo os critérios do Art. 8ᵒ, § 2ᵒ
(BRASIL, 1995).

Igualmente dispõe o Art. 10 que “As alterações programáticas ou


estatutárias, após registradas no Ofício Civil competente, devem ser encaminhadas,
para o mesmo fim, ao Tribunal Superior Eleitoral” (BRASIL, 1995).

A extinção dos Partidos Políticos é tratada nos Artigos 27 e 28, os quais


mencionam o cancelamento da inscrição junto ao Registro Civil. Na dicção do
Art. 27, o cancelamento do registro do partido ocorre junto ao Ofício Civil e ao
TSE, na forma do estatuto do partido, “se dissolvam se incorpore ou venha a se
fundir com outro” (BRASIL, 1995).

Já, o Art. 28, dispõe sobre o cancelamento do registro civil e do estatuto


do partido, pelo TSE, após trânsito em julgado de alguma decisão, que restar
provado, que o partido recebeu ou está recebendo recursos financeiros de
procedência estrangeira; está subordinado a entidade ou governo estrangeiros;
não ter prestado as devidas contas à Justiça Eleitoral e que mantém organização
paramilitar (BRASIL, 1995).

140
TÓPICO 2 — ASPECTOS LEGAIS, ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS E PARTIDOS POLÍTICOS

Com relação à fusão de partido político, assevera o “Art. 29. Por decisão
de seus órgãos nacionais de deliberação, dois ou mais partidos poderão fundir-se
num só ou incorporar-se um ao outro” (BRASIL, 1995). E, quanto ao registro de
“novo partido”, a competência do Registro Civil de Pessoa Jurídica, está disposta
no “§ 4ᵒ Na hipótese de fusão, a existência legal do novo partido tem início com
o registro, no Ofício Civil competente da sede do novo partido, do estatuto e do
programa, cujo requerimento deve ser acompanhado das atas das decisões dos
órgãos competentes (Redação dada pela Lei nᵒ 13.877, de 2019)” (BRASIL, 1995).

Sem o crivo cronológico, como dantes informado, seguimos com a análise


da Lei de Registros Públicos, que esmiúça a prática registral.

4.2.3 Lei nᵒ 6.015 – Lei de Registros Públicos


O primeiro artigo, do Título III desta lei, que encabeça as disposições
sobre o Registro Civil de Pessoas Jurídicas dispõe:

Art. 114. No Registro Civil de Pessoas Jurídicas serão


inscritos: (Renumerado do art. 115 pela Lei nᵒ 6.216, de 1975).
[...]
III- os atos constitutivos e os estatutos dos partidos políticos (BRASIL,
1973, grifo nosso).

Sobre o que consiste o registro e a apresentação do estatuto para registro


dos Partidos Políticos, quem norteia nosso estudo, acadêmico, são os Artigos 120
e 121 da LRP. Por essa razão destacamos na íntegra:

Art. 120. O registro das sociedades, fundações e partidos políticos


consistirá na declaração, feita em livro, pelo oficial, do número de
ordem, da data da apresentação e da espécie do ato constitutivo, com
as seguintes indicações: (Redação dada pela Lei nᵒ 9.096, de 1995)
I- a denominação, o fundo social, quando houver, os fins e a sede da
associação ou fundação, bem como o tempo de sua duração;
II- o modo por que se administra e representa a sociedade, ativa e
passivamente, judicial e extrajudicialmente;
III- se o estatuto, o contrato ou o compromisso é reformável, no tocante à
administração, e de que modo;
IV- se os membros respondem ou não, subsidiariamente, pelas
obrigações sociais;
V- as condições de extinção da pessoa jurídica e, nesse caso, o destino
do seu patrimônio;
VI- os nomes dos fundadores ou instituidores e dos membros da
diretoria, provisória ou definitiva, com indicação da nacionalidade,
estado civil e profissão de cada um, bem como o nome e residência
do apresentante dos exemplares.
Parágrafo único. Para o registro dos partidos políticos, serão
obedecidos, além dos requisitos deste artigo, os estabelecidos em lei
específica. (Incluído pela Lei nᵒ 9.096, de 1995)

141
UNIDADE 2 — REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA

Art. 121. Para o registro serão apresentadas duas vias do estatuto,


compromisso ou contrato, pelas quais se fará o registro mediante
petição do representante legal da sociedade, lançando o oficial, nas
duas vias, a competente certidão do registro, com o respectivo número
de ordem, livro e folha. Uma das vias será entregue ao representante
e a outra arquivada em cartório, rubricando o oficial as folhas em que
estiver impresso o contrato, compromisso ou estatuto. (Redação dada
pela Lei nᵒ 9.042, de 1995) (BRASIL, 1973, grifo nosso).

Feitas essas considerações da Lei de Registros Públicos, passaremos às


disposições do Código Civil brasileiro, que inseriu os Partidos Políticos no rol das
pessoas jurídicas de direito privado, em 2003, com a Lei nᵒ 10.825.

4.2.4 Lei nᵒ 10.406 – Código Civil


O Código Civil, como você já sabe, é a lei que regulamenta as ações de
caráter civil do homem na Sociedade, conforme dispõe o Artigo 1ᵒ “Toda pessoa é
capaz de direitos e deveres na ordem civil” (BRASIL, 2002). O que quer dizer que
apresenta disposições da personalidade da pessoa natural, as responsabilidades,
entre outras determinações, como o Direito de Empresa, por exemplo. É compilado
em duas partes, a primeira se chama Parte Geral e a segunda, Parte Especial. A
parte Geral – que mais nos interessa – apresenta três livros: I – Das pessoas; II –
Dos Bens; e III – Dos Fatos Jurídicos.

É no Livro I da Parte Geral, mais precisamente no inciso V, do Art. 44,


que encontramos expressamente que os partidos políticos são pessoas jurídicas
de direito privado. Todavia, o § 3ᵒ desse artigo, traz uma ressalva que “Os
partidos políticos serão organizados e funcionarão conforme o disposto em
lei específica”.  (Incluído pela Lei nᵒ 10.825, de 22.12.2003) (BRASIL, 2002, grifo
nosso). Essa “lei especial” é a que já analisados: A Lei dos Partidos Políticos.

Fechando as questões legislativas, vamos ver o que a Associação dos


Notários e Registradores do Brasil (ANOREG) traz sobre o tema.

4.3 ASSOCIAÇÃO DOS NOTÁRIOS E REGISTRADORES


(ANOREG) – BREVES NOTAS
Em 12 de agosto de 2020, Alexandre Lacerda (2020), publicou no sítio
eletrônico da Associação dos Notários e Registradores (ANOREG) a notícia da
aprovação da Medida Provisória que regula assinatura de documentos, porém,
logo em 24 de setembro de 2020, já foi sancionada como lei pelo Senado (Lei
nᵒ 14.063/2020), a qual desburocratiza as assinaturas eletrônicas de documentos
para ampliar o acesso aos serviços públicos digitais.

142
TÓPICO 2 — ASPECTOS LEGAIS, ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS E PARTIDOS POLÍTICOS

FIGURA 8 – ASSINATURA ELETRÔNICA

FONTE: <https://www.anoreg.org.br/site/wp-content/uploads/2020/04/
bloggif_5e864d62b0d94.jpeg>. Acesso em: 7 dez. 2020.

Percebe-se que esse avanço tecnológico excluiu um serviço prestado por


uma Serventia pública registral, como o Registro Civil de Pessoas Jurídicas para
o registro de partidos políticos, pois uma certidão emitida pelo TSE, conforme o
texto da novel legislação tem “fé pública”.

Concluímos o Tópico 2, agora seguiremos para o último tópico desta


unidade, o qual tratará das Associações; Fundações; Matrículas das oficinas
impressoras, jornais, periódicos, empresas de radiodifusão e agências de notícias;
e Sociedades.

143
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Existem atos constitutivos de pessoas jurídicas que, para dar início a


personalidade jurídica, devem estar registrados no Ofício de Registro Civil de
Pessoas Jurídicas competente.

• É necessária a apresentação de alguns requisitos que devem instruir o pedido


de registro para que o Oficial do Registro Civil de Pessoas Jurídicas possa
efetivamente registrar o contrato social ou estatuto, ou seja, o documento de
constituição da pessoa jurídica. Entre eles destacamos:
◦ a qualificação completa dos sócios (nome, nacionalidade, estado civil,
profissão e residência, se pessoa natural) e sede dos sócios, se pessoa jurídica;
◦ denominação, objeto, sede e prazo da sociedade;
◦ capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender
qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária;
◦ a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la;
◦ a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas; entre outros.

• Uma empresa de radiodifusão registra primeiramente seu contrato social na


Junta Comercial do Estado e depois formaliza a “matrícula” no Registro Civil
das Pessoas Jurídicas, chamada “matriculação”.

• As sociedades de advogados são registradas na OAB, inclusive há uma


proibição legal de se registrar uma sociedade de advogados no RCPJ.

• As organizações religiosas são registradas no Registro Civil das Pessoas


Jurídicas.

• O Marco Regulatório do Terceiro Setor (Lei nᵒ 13.019 de 31 de julho de 2014)


trouxe benefícios às Organizações Religiosas.

• Desde setembro de 2020, os partidos políticos não necessitam mais de registro no


Registro Civil de Pessoas Jurídicas, bastando certidão do TSE, por ter fé pública.

• A Igreja Católica é dotada de personalidade jurídica internacional.

144
AUTOATIVIDADE

1 Com base na Lei de Registro Públicos e, posteriormente, afirmado pelo


Código Civil, o nascimento de determinadas pessoas jurídicas, deve ser
consequência de um ato registral, e assim também compreendendo o início
da personalidade jurídica destas, para efeitos civis. Sobre o registro das
Organizações Religiosas, especificamente, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Os atos constitutivos das Organizações Religiosas são registrados no


Registro Civil de Pessoas Jurídicas.
b) ( ) Os atos constitutivos das Organizações Religiosas são registrados no
Registro Civil das Pessoas Naturais.
c) ( ) Os atos constitutivos das Organizações Religiosas são registrados no
Registro Civil das Pessoas Naturais, do local do domicílio do Pastor
fundador da entidade, pois em se tratando da Igreja Católica, esta tem
tratamento diverso.
d) ( ) Os atos constitutivos das Organizações Religiosas são registrados no
Registro de Títulos e documentos.

2 É necessária a apresentação de alguns requisitos que devem instruir o


pedido de registro para que o Oficial do Registro Civil de Pessoas Jurídicas
possa efetivamente registrar o contrato social ou estatuto, ou seja, o
documento de constituição da pessoa jurídica. Com base nos requisitos
apontados pela Associação dos Notários e Registradores (ANOREG),
analise as sentenças a seguir:

I- A qualificação completa dos sócios (nome, nacionalidade, estado civil,


profissão e residência, se pessoa natural) e sede dos sócios, se pessoa
jurídica.
II- Denominação, objeto e sede. Quanto ao prazo da sociedade, não é
necessária a informação, bem como o objetivo social pode ser superficial
no ato registral, pois poderá ser alterado.
III- Capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender
qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 O Registro Civil das Pessoas Jurídicas apresenta certas particularidades


para o registro das pessoas jurídicas, pois nem toda pessoa jurídica pode
ser ali registrada. De acordo com a legislação brasileira, classifique V para
as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

145
( ) As sociedades de advogados são registradas na OAB, inclusive há uma
proibição legal de se registrar uma sociedade de advogados no RCPJ.
( ) As organizações religiosas são registradas na Junta Comercial do Estado.
Entendendo-se Estado Membro da Federação. Sendo Igreja Católica, há
regramento próprio.
( ) A Igreja Católica é dotada de personalidade jurídica internacional.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 Os Partidos Políticos estavam no rol das pessoas jurídicas que,


necessariamente, deveriam registrar seus estatutos no Registro Civil
das Pessoas Jurídicas. Todavia, com o advento da Lei nᵒ 14.063, de 23 de
setembro de 2020, essa exigência foi alterada. Disserte sobre a exigência do
registro dos Partidos Políticos no RCPJ e da novidade da atual legislação.

5 A Lei nᵒ 13.019 de 31 de julho de 2014, dispõe sobre o Marco Regulatório do


Terceiro Setor, insere as Organizações Religiosas no ordenamento jurídico
brasileiro. Esse Marco Regulatório trouxe benefícios que aproveitam as
Organizações Religiosas, entre outros tantos. Com relação às Organizações
Religiosas, disserte sobre os principais benefícios.

146
TÓPICO 3 —
UNIDADE 2

PESSOAS JURÍDICAS COM REGISTRO NO REGISTRO CIVIL


DE PESSOAS JURÍDICAS

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tópico 3, abordaremos as demais pessoas jurídicas que são
registradas no Registro Civil das Pessoas Jurídicas. Dentre as pessoas jurídicas,
no tópico anterior, analisamos as Organizações Religiosas e os Partidos Políticos.
Este último, conforme previsão da novel Lei nᵒ 14.063 de 23 de setembro de 2020,
já não mais necessita do registro no RCPJ.

Neste tópico, iremos analisar o registro das Associações, Fundações e


Sindicatos. Para cada uma dessas pessoas jurídicas você irá perceber que logo
aparecerão, em sua mente, por associação com a temática mesmo: associação de
moradores, as associações de bairros e muitas outras do seu cotidiano; o que
acontece também com as Fundações e também os Sindicatos. Estes se dividem
por classes, os mais conhecidos são os dos empregadores e dos empregados e,
depois por categorias, como dos metalúrgicos, da indústria têxtil, do comércio, da
hotelaria, entre muitos outros.

Ainda faz parte do nosso foco de estudo as Sociedades, que se apresentam


em nova divisão, como Sociedade Simples (EIRELI) e Sociedade Cooperativa.
Importante desde já a observação que não são todas as pessoas jurídicas que
devem ser registradas no Registro Civil das Pessoas Jurídicas, pois, há uma gama
enorme de pessoas jurídicas que, para sua constituição, se exige o registro na
Junta Comercial do Estado, e, estas, certamente, não fazem parte do nosso estudo.

Para finalizar nossa pesquisa, abordaremos a Matrícula de Meios de


Comunicações: dos jornais e outros periódicos; oficinas impressoras; empresas
de radiodifusão e agência de notícias.

Agora, partiremos ao estudo de cada pessoa jurídica, iniciando pelas


Associações.

147
UNIDADE 2 — REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA

2 ASSOCIAÇÕES

FIGURA 9 – ASSOCIAÇÕES

FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/association-groups-people-
meeting-club-membership-402874261>. Acesso em: 8 jan. 2021.

As associações também podem vir inseridas no contexto maior das


Instituições, para alguns doutrinadores, que compreendem serem as associações
uma das espécies da qual as instituições é o gênero.

Importante ressaltar que todo estudo das associações e as demais pessoas


jurídicas, que também podem ser de direito público, serão analisadas apenas sob
o enfoque do direito privado.

2.1 CONCEITO
As associações são entidades de direito privado que se constituem
pela reunião de pessoas físicas, que objetivam determinado fim comum, não
lucrativo e lícito.

2.2 ASPECTOS LEGISLATIVOS


A Lei nᵒ 6.015, de 31 de dezembro de 1973 – Lei de Registros Públicos e o
Código Civil, igualmente são a base que norteiam nossos estudos em se tratando
do registro das associações, no Registro Civil das Pessoas Jurídicas.

148
TÓPICO 3 — PESSOAS JURÍDICAS COM REGISTRO NO REGISTRO CIVIL DE PESSOAS JURÍDICAS

2.2.1 Lei nᵒ 6.015 – Lei de Registros Públicos


O Artigo 114 dessa lei descreve os que serão inscritos no Registro Civil de
Pessoas Jurídicas. Todavia, cuidado com a interpretação acadêmico, pois no teor
do artigo, você encontra a expressão “das associações de utilidade pública”, o que
pode levá-lo a errônea ideia de que se trata de associações públicas, mas, não é o
caso. “Utilidade pública” quer dizer sem fins lucrativos.

Art. 114. No Registro Civil de Pessoas Jurídicas serão


inscritos: (Renumerado do Art. 115 pela Lei nᵒ 6.216, de 1975).
I- os contratos, os atos constitutivos, o estatuto ou compromissos das
sociedades civis, religiosas, pias, morais, científicas ou literárias,
bem como o das fundações e das associações de utilidade pública;
[...] (BRASIL, 1973).

O Código Civil traz outra dimensão, nos apresentando em primeira mão,


que as associações fazem parte do rol das pessoas jurídicas de direito privado, no
contexto jurídico nacional.

2.2.2 Lei nᵒ 10.406 – Código Civil


Dispõe o Art. 44 do Código Civil, “São pessoas jurídicas de direito privado:
I - as associações” (BRASIL, 2002, grifo nosso).

Destacadas as principais disposições legislativas das Associações,


passamos ao registro das mesmas – o procedimento na serventia registral:

2.3 REGISTRO DAS ASSOCIAÇÕES


Acadêmico, são muitas as ramificações das associações, você já deve
imaginar. Temos desde as associações de moradores, associações de bairros,
associações de pais e professores nas escolas, associações de servidores,
e tantas outras. Nosso estudo não irá se alongar na apresentação dessas
categorias pormenorizadas.

149
UNIDADE 2 — REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA

E
IMPORTANT

REGISTRO NO CARTÓRIO DE TITÚLOS E DOCUMENTOS E REGISTRO


CIVIL DE PESSOA JURÍDICA

Documentação Necessária

1 – Requerimento assinado pelo representante legal da entidade (geralmente o presidente),


solicitando o registro, dele devendo constar o seu nome por extenso, cargo e residência.
Legislação: Lei 6.015/1973, Art. 121. Código Civil, Art. 1.151;

2 – Estatuto (original e cópias), datados e assinados pelo representante legal da entidade


(geralmente o presidente) e visados por advogado, com a indicação do nome e número
de inscrição na respectiva Seccional da OAB. Legislação: Lei 8/906/94, Art. 1ᵒ, II, parágrafo
2ᵒ - Estatuto da Advocacia.

Nota: NECESSÁRIO CONSTAR DO ESTATUTO:

Legislação: Código Civil, Artigos 46 e 54.


I- Denominação, os fins, a sede, o tempo de duração e o fundo social, quando houver;
II- O nome e individualização dos fundadores ou instituidores, e dos diretores;
III- O modo por que se administra e representa, ativa e passivamente, judicial e
extrajudicialmente;
IV- Se o ato constitutivo é reformável no tocante à administração, e de que modo; V - Se
os membros respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais; VI - Os
requisitos para admissão, demissão e exclusão dos associados;
VII- Os direitos e deveres dos associados;
VIII- As fontes de recursos para sua manutenção;
IX- O modo de constituição e funcionamento dos órgãos deliberativos e administrativos;
X- As condições para alteração das disposições estatutárias, dissolução da pessoa jurídica
e o destino do patrimônio, nesse caso.
XI- A forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas.

3 – Livro contendo ata, ou atas separadamente, de fundação, aprovação do estatuto, eleição


e posse da primeira diretoria e respectivas vias digitadas (original e cópias), transcrevendo-se
os nomes das pessoas que assinaram o livro, e declarando-se ao final, que as vias conferem
com o original lavrado em livro próprio, devendo esta declaração ser datada e assinada pelo
presidente ou secretário da entidade.

Notas:
• É necessário constar da ata ou de relação à parte, firmada pelo representante legal, os
nomes dos sócios fundadores e dos membros da diretoria, com o respectivo mandato,
mencionando-se o estado civil, nacionalidade, profissão, documento de identidade
e órgão expedidor, número do CPF, residência e domicílio de cada um deles, data de
nascimento dos solteiros e cópia autenticada da CI de estrangeiro com visto permanente,
exceto maior de 65 anos;
• Havendo associado, pessoa jurídica, a sua qualificação compreenderá nome, endereço
completo e, se sediada no país, o número de identificação do Registro de Empresas
(NIRE) ou do Cartório competente, data de registro no Órgão e o número do CNPJ.
• Declaração de desimpedimento dos sócios diretores, se não constar no Estatuto Social.
• Cópia autenticada do CPF e dos Documentos de Identidade - RG dos sócios.

FONTE: <https://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/UFs/PE/Anexos/ROTEIRO%20
ASSOCIA%C3%87%C3%83O.pdf>. Acesso em: 1ᵒ fev. 2021.

150
TÓPICO 3 — PESSOAS JURÍDICAS COM REGISTRO NO REGISTRO CIVIL DE PESSOAS JURÍDICAS

A doutrina de Frazão, Gonçalves e Caminha (2017, p. 21) colabora


sobremaneira, apontando:

A constituição da associação ocorre, geralmente, por meio de


deliberação dos futuros associados em assembleia, mas é admissível
que se concretize, também, por escritura pública ou por instrumento
particular. Escolhida a forma de assembleia, a constituição materializa-
se em uma ata. De todo modo, qualquer das formas escolhidas deve
preencher os requisitos mínimos exigidos para validade e eficácia do
ato de criação da associação.
Atendidas as exigências de forma e conteúdo, o ato constitutivo deve
ser levado a registro para a inscrição da associação no Registro Civil
de Pessoas Jurídicas, o que se dá mediante requerimento firmado pelo
representante legal da associação como indicado no ato constitutivo,
acompanhado deste, em duas vias, uma para ficar arquivada no ofício
registral e outra para ser devolvida à parte com a anotação do número
de ordem, livro e folha onde for realizada a inscrição.
Os autores mencionam que uma vez sendo constituída a associação,
o estatuto passa a ter autonomia, sendo possível que permaneça sem
modificação durante toda existência. Inclusive, asseveram que “as
alterações na administração, o ingresso de valores ou bens para compor
seu patrimônio ou a movimentação de ingresso ou saída de associados
não implicam qualquer ajuste nas normas estatutárias, que se mantêm
incólumes” (FRAZÃO; GONÇALVES; CAMINHA, 2017, p. 21).

Com esses ensinamentos concluímos, claro, que sem a pretensão de


esgotar o assunto, os apontamentos sobre associações; e, seguindo nossos estudos,
passaremos a apresentar as Fundações.

3 FUNDAÇÕES

FIGURA 10 – FUNDAÇÕES

FONTE: <https://www.fadc.org.br/>. Acesso em: 8 jan. 2021.

151
UNIDADE 2 — REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA

As fundações, assim como as associações, são instituições de fins não


econômicos, devendo toda renda das suas atividades e seu patrimônio ser
aplicada nas finalidades pelas quais tenham sido instituídas, predominando um
caráter de interesse social, o que justifica a presença do Ministério Público na sua
atuação (ALVARES; PAIVA, 2017)

Seguimos nosso estudo, iniciamos com o conceito de FUNDAÇÃO.

3.1 CONCEITO
As fundações, conforme Paiva e Alvares (2017, p. 57), “são, basicamente,
a personificação de um patrimônio, afetado a determinada finalidade, de acordo
com a manifestação de vontade de seu instituidor”. Registram os autores, que
no início do século XX não havia essa figura conhecida no "direito nacional
escrito”, surgindo com o Código Civil de 1916 e uma das primeiras manifestações
jurisprudenciais a seu respeito foi proferida em 1912 pelo TJSP (RT3/310).

Na doutrina de Carlos Roberto Gonçalves (2020a, p. 166), colhe-se:


“constituem um acervo de bens, que recebe personalidade jurídica para a realização
de fins determinados, de interesse público, de modo permanente e estável”.

Complementa Gonçalves (2020a, p. 172), citando Cóvis Beviláqua:


“constituem em complexos bens (universitates bonorum) dedicados à consecução
de certos fins e, para esse efeito, dotados de personalidade”. E, conclui: “Decorrem
da vontade de uma pessoa, o instituidor, e seus fins, de natureza religiosa, moral,
cultural ou assistencial, são imutáveis”.

As fundações são pessoas jurídicas de direito privado, sem fins econômicos


ou lucrativos, que se formam com a existência de um patrimônio destacado por
um instituidor, por meio de escritura pública ou testamento, com um objetivo
específico e voltado às causas de interesse público. Com essas premissas em
mente, acadêmico, vamos aos aspectos legislativos.

3.2 ASPECTOS LEGISLATIVOS


Embora vamos perceber que a matéria sobre Fundações está disciplinada
no Código Civil, a Lei de Registros Públicos apresenta o procedimento registral.

152
TÓPICO 3 — PESSOAS JURÍDICAS COM REGISTRO NO REGISTRO CIVIL DE PESSOAS JURÍDICAS

3.2.1 Lei nᵒ 6.015 – Lei de Registros Públicos


A Lei de Registros Públicos traz dois artigos sobre o assunto. O primeiro,
que é o Art. 114, transcrito a seguir, expressa que as fundações serão inscritas o
Registro Civil de Pessoas Jurídicas:

Art. 114. No Registro Civil de Pessoas Jurídicas serão inscritos:


(Renumerado do art. 115 pela Lei nᵒ 6.216, de 1975).
I- os contratos, os atos constitutivos, o estatuto ou compromissos das
sociedades civis, religiosas, pias, morais, científicas ou literárias,
bem como o das fundações e das associações de utilidade pública
(BRASIL, 1973).

O segundo artigo, que essa Lei dispõe sobre as Fundações, é o Art. 120,
que expressa o ato registral em si, ou seja, o ato do registrador.

Art. 120. O registro das sociedades, fundações e partidos políticos


consistirá na declaração, feita em livro, pelo oficial, do número de
ordem, da data da apresentação e da espécie do ato constitutivo, com
as seguintes indicações: (Redação dada pela Lei nᵒ 9.096, de 1995)
(BRASIL, 1973, grifo nosso).

Feitas essas considerações da Lei de Registros Públicos, é importante


ressaltar que atualmente os Estados da Federação, por suas Corregedorias Gerais
de Justiça, têm seus Códigos de Normas Extrajudiciais, que disciplinam as
atividades e atos dos registradores, sendo que muitas vezes há aplicação de certas
normas para determinadas regiões, não implicando desobediência a Lei Civil.

E
IMPORTANT

Os atos registrais também seguem os preceitos do Código de Normas


Extrajudiciais, emanados das Corregedorias Geral de Justiça dos Estados.

3.2.2 Lei nᵒ 10.406 – Código Civil


O Código Civil, em seu Artigo 44, já aponta que as Fundações são pessoas
jurídicas de direito privado “São pessoas jurídicas de direito privado: I - as
associações; II - as sociedades; III - as fundações” (BRASIL, 2002, grifo nosso).

Continua o legislador, a partir do Art. 62, o qual destacou um capítulo


intitulado DAS FUNDAÇÕES, para tratar, pormenorizadamente do tema:

153
UNIDADE 2 — REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA

Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública
ou testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se
destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la.
Parágrafo único. A fundação somente poderá constituir-se para fins
de: (Redação dada pela Lei nᵒ 13.151, de 2015)
I- assistência social; (Incluído pela Lei nᵒ 13.151, de 2015)
II- cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico; (Incluído
pela Lei nᵒ 13.151, de 2015)
III- educação; (Incluído pela Lei nᵒ 13.151, de 2015)
IV- saúde; (Incluído pela Lei nᵒ 13.151, de 2015)
V- segurança alimentar e nutricional; (Incluído pela Lei nᵒ 13.151, de 2015)
VI- defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do
desenvolvimento sustentável; (Incluído pela Lei nᵒ 13.151, de 2015)
VII- pesquisa científica, desenvolvimento de tecnologias alternativas,
modernização de sistemas de gestão, produção e divulgação de
informações e conhecimentos técnicos e científicos; (Incluído pela Lei nᵒ
13.151, de 2015)
VIII- promoção da ética, da cidadania, da democracia e dos direitos
humanos; (Incluído pela Lei nᵒ 13.151, de 2015)
IX- atividades religiosas; e (Incluído pela Lei nᵒ 13.151, de 2015)
X- (VETADO) (Incluído pela Lei nᵒ 13.151, de 2015)

Art. 63. Quando insuficientes para constituir a fundação, os bens a ela


destinados serão, se de outro modo não dispuser o instituidor, incorporados
em outra fundação que se proponha a fim igual ou semelhante.

Art. 64. Constituída a fundação por negócio jurídico entre vivos, o instituidor
é obrigado a transferir-lhe a propriedade, ou outro direito real, sobre os bens
dotados, e, se não o fizer, serão registrados, em nome dela, por mandado judicial.

Art. 65. Aqueles a quem o instituidor cometer a aplicação do patrimônio, em


tendo ciência do encargo, formularão logo, de acordo com as suas bases (Art.
62), o estatuto da fundação projetada, submetendo-o, em seguida, à aprovação
da autoridade competente, com recurso ao juiz.
Parágrafo único. Se o estatuto não for elaborado no prazo assinado pelo
instituidor, ou, não havendo prazo, em cento e oitenta dias, a incumbência
caberá ao Ministério Público.

Art. 66. Velará pelas fundações o Ministério Público do Estado onde situadas.
§ 1 ᵒ Se funcionarem no Distrito Federal ou em Território, caberá o encargo ao
Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. (Redação dada pela Lei nᵒ
13.151, de 2015)
§ 2ᵒ Se estenderem a atividade por mais de um Estado, caberá o encargo, em
cada um deles, ao respectivo Ministério Público.

Art. 67. Para que se possa alterar o estatuto da fundação é mister que a reforma:

154
TÓPICO 3 — PESSOAS JURÍDICAS COM REGISTRO NO REGISTRO CIVIL DE PESSOAS JURÍDICAS

I- seja deliberada por dois terços dos competentes para gerir e representar a
fundação;
II- não contrarie ou desvirtue o fim desta;
III- seja aprovada pelo órgão do Ministério Público no prazo máximo de 45
(quarenta e cinco) dias, findo o qual ou no caso de o Ministério Público a
denegar, poderá o juiz supri-la, a requerimento do interessado. (Redação
dada pela Lei nᵒ 13.151, de 2015)

Art. 68. Quando a alteração não houver sido aprovada por votação unânime, os
administradores da fundação, ao submeterem o estatuto ao órgão do Ministério
Público, requererão que se dê ciência à minoria vencida para impugná-la, se
quiser, em dez dias.

Art. 69. Tornando-se ilícita, impossível ou inútil a finalidade a que visa a fundação,
ou vencido o prazo de sua existência, o órgão do Ministério Público, ou qualquer
interessado, lhe promoverá a extinção, incorporando-se o seu patrimônio, salvo
disposição em contrário no ato constitutivo, ou no estatuto, em outra fundação,
designada pelo juiz, que se proponha a fim igual ou semelhante.

FONTE: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm>.
Acesso em: 3 fev. 2021.

Feitas essas considerações concernentes aos aspectos legislativos, ainda


importa o registro dos Enunciados aprovados na I Jornada de Direito Civil
do Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal (CEJ-CJF), a
partir de discussões da interpretação do Artigo 62 do Código Civil, transcrito
anteriormente: “Enunciado n. 8 – A constituição de fundação para fins científicos,
educacionais ou de promoção do meio ambiente está compreendida no Código
Civil, Art. 62, parágrafo único" (AGUIAR JÚNIOR, 2012, p. 17). “Enunciado n.
9 – O Art. 62, parágrafo único, deve ser interpretado de modo a excluir apenas as
fundações com fins lucrativos" (AGUIAR JÚNIOR, 2012, p. 18).

NOTA

Os enunciados da I Jornada de Direito Civil do Centro de Estudos Judiciários do


Conselho da Justiça Federal deram impulso às alterações no Artigo 62, pela Lei 13.151/2015. Esses
enunciados, acadêmico, fazem parte de estudos avançados do Conselho da Justiça Federal.

155
UNIDADE 2 — REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA

O Centro de Estudos Judiciários (CEJ) é um qualificado centro de excelência do


Direito brasileiro. Funciona junto ao CJF e exerce um papel influente no aperfeiçoamento
da Justiça Federal, na medida em que, promove cursos, seminários, encontros e debates
sobre questões jurídicas e administrativas relevantes, com a participação de especialistas
de renome nacional e internacional, possui um programa editorial voltado para a área
jurídica e realiza pesquisas e diagnósticos que identificam e propõem soluções para os
problemas que afetam a instituição. O CEJ também atua como órgão central dos Sistemas
de Informação e de Gestão Documental, abrangendo a geração, a gestão e a disseminação
do conhecimento jurídico.

FONTE: <https://www.cjf.jus.br/cjf/cjf/corregedoria-da-justica-federal/centro-de-estudos-
judiciarios-1>. Acesso em: 1ᵒ fev. 2021.

Os enunciados anteriormente transcritos modificaram a redação do


Art. 62 do Código Civil, pois a interpretação da redação pretérita foi motivo de
muitas discussões.

Fechamos a abordagem, embora de modo simples, contemplando alguns


aspectos legislativos das Fundações, e partimos para observações do seu registro.

3.3 REGISTRO DAS FUNDAÇÕES


O registro das Fundações, no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, se dá
nos moldes do Art. 120, da Lei de Registros Públicos, comentado anteriormente,
o qual transcreveremos na íntegra:

Art. 120. O registro das sociedades, fundações e partidos políticos


consistirá na declaração, feita em livro, pelo oficial, do número de
ordem, da data da apresentação e da espécie do ato constitutivo, com
as seguintes indicações: (Redação dada pela Lei nᵒ 9.096, de 1995)
I- a denominação, o fundo social, quando houver, os fins e a sede da
associação ou fundação, bem como o tempo de sua duração;
II- o modo por que se administra e representa a sociedade, ativa e
passivamente, judicial e extrajudicialmente;
III- se o estatuto, o contrato ou o compromisso é reformável, no
tocante à administração, e de que modo;
IV- se os membros respondem ou não, subsidiariamente, pelas
obrigações sociais;
V- as condições de extinção da pessoa jurídica e nesse caso o destino
do seu patrimônio;
VI- os nomes dos fundadores ou instituidores e dos membros da
diretoria, provisória ou definitiva, com indicação da nacionalidade,
estado civil e profissão de cada um, bem como o nome e residência
do apresentante dos exemplares.

156
TÓPICO 3 — PESSOAS JURÍDICAS COM REGISTRO NO REGISTRO CIVIL DE PESSOAS JURÍDICAS

[...]
Art. 121. Para o registro serão apresentadas duas vias do estatuto,
compromisso ou contrato, pelas quais se fará o registro mediante
petição do representante legal da sociedade, lançando o oficial, nas
duas vias, a competente certidão do registro, com o respectivo número
de ordem, livro e folha. Uma das vias será entregue ao representante
e a outra arquivada em cartório, rubricando o oficial as folhas em que
estiver impresso o contrato, compromisso ou estatuto (Redação dada
pela Lei nᵒ 9.042, de 1995) (BRASIL, 1973, grifo nosso).

Esses apontamentos das Fundações encerram a temática, sem, contudo,


ter a pretensão de esgotar o estudo.

4 SOCIEDADES

FIGURA 11 - SOCIEDADES

FONTE:<https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/yellow-simple-circle-group-
businessman-infographics-417951655>. Acesso em: 9 jan. 21.

Com o advento do Código Civil de 2002, muitas modificações foram


contempladas na temática das Sociedades, inclusive pela simples observação de
o Código ter recepcionado o Direito de Empresa, atraindo assim uma série de
dispositivos para a essa lei privatista. Esta menção está respaldada na doutrina
de Carlos Roberto Gonçalves (2020a, p. 171), quando afirma:

O Código Civil de 2002 unificou as obrigações civis e comerciais no


Livro II, concernente ao direito de empresa, disciplinando, disciplinando
as sociedades, em suas diversas formas, no Título II (Arts. 981 e s.).
Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente
se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de
atividade e a partilha, entre si, dos resultados. A atividade pode
restringir-se à realização de um ou mais negócios determinados (Art.
981 e parágrafo único).

Embora a classificação das Sociedades norteia-se por vários ramos do


Direito, para o foco do nosso estudo vamos ficar com uma abordagem puramente
civilista e ainda as passíveis de registro no Registro Civil das Pessoas Jurídicas.

157
UNIDADE 2 — REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA

Para esse mister, iniciaremos com o conceito de Sociedade; sempre


lembrando, acadêmico, que são aquelas que prescindem de registro no Registro
Civil das Pessoas Jurídicas para sua existência, logo, para o início de sua
personalidade jurídica.

4.1 CONCEITO
Atualmente, no Direito brasileiro, encontramos as sociedades simples e as
sociedades empresárias, conforme nova sistematização do Código Civil, pois, esta
divisão substitui a antiga que contemplava em sociedades civis e comerciais.

Dito isto, apresentamos o conceito de cada uma das sociedades, já que,


ambas, genericamente, podem ser entendidas, na interpretação do caput do Art.
981 do Código Civil: A reunião de pessoas que celebram um contrato, obrigando-
se reciprocamente a contribuir com bens ou serviços, para o exercício de atividade
econômica, partilhando entre si os resultados.

Com relação à comentada divisão, Carlos Roberto Gonçalves (2020a, p.


171, grifos do original), apresenta:

Sociedades simples: são constituídas, em geral, por profissionais que


atuam em uma mesma área ou por prestadores de serviços técnicos
(clínicas médicas e dentárias, escritórios de advocacia, instituições
de ensino etc.) e têm fim econômico ou lucrativo. Mesmo que
eventualmente venham a praticar atos próprios de empresários, tal
fato não altera a sua situação, pois o que se considera é a atividade
principal por elas exercida.
Sociedades empresárias: também visam ao lucro, mas distinguem-se
das sociedades simples porque têm por objeto o exercício de atividade
própria de empresário sujeito ao registro previsto no Art. 967 do
Código Civil. Considera-se empresário, diz o Art. 966: “quem exerce
profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou
a circulação de bens ou de serviços”. Como é a própria pessoa jurídica
a empresária – e não seus sócios -, o correto é falar-se “sociedade
empresária”, e não “sociedade empresarial” (não é, de empresários).

Observe acadêmico, que para nosso estudo, partindo dessa divisão, nos
interessa apenas as sociedades simples, pois, na expressa dicção do Art. 998
do Código Civil, que trata das sociedades simples, colhemos que: “Nos trinta
dias subsequentes à sua constituição, a sociedade deverá requerer a inscrição do
contrato social no Registro Civil das Pessoas Jurídicas do local de sua sede”
(BRASIL, 2002, grifo nosso).

158
TÓPICO 3 — PESSOAS JURÍDICAS COM REGISTRO NO REGISTRO CIVIL DE PESSOAS JURÍDICAS

ATENCAO

Muito embora a doutrina de Carlos Roberto Gonçalves (2020a) faça menção


aos escritórios de advocacia, quando comenta sobre as sociedades simples, sempre é bom
lembrar – como já feito anteriormente – que as sociedades de advogados são inscritas na
Ordem dos Advogados das suas respectivas seccionais, sendo vedado, pelo Estatuto da
Advocacia, o registro de sociedade que exerça a atividade de advocacia em cartórios de
registro civil de pessoas jurídicas e em juntas comerciais.

Com essa base conceitual de Sociedades, seguimos com os aspectos


legislativos, que nossa legislação contempla sobre a matéria.

4.2 ASPECTOS LEGISLATIVOS


Com o atual Código Civil, muitas divergências doutrinárias surgiram
sobre as sociedades. Sim, até porque elas se apresentam de várias maneiras e
modalidades, a exemplo das sociedades cooperativas.

Essas sociedades cooperativas eram inscritas na Junta Comercial do


Estado, todavia, com a disposição expressa do Código Civil, no Art. 1.096, que
determina, “No que a lei for omissa, aplicam-se as disposições referentes à
sociedade simples, resguardadas as características estabelecidas no Art. 1.094”
(BRASIL, 2002, grifo nosso). Assim, muita celeuma foi criada, na interpretação do
Código, quando aproximados os Artigos 997 e ss. com o Art. 1.096.

Paiva e Alvares (2017) após várias considerações, entendem que depois do


advento da Constituição de 1988 e com o Código Civil, as Cooperativas passaram
a ser equiparadas às sociedades simples, e, por conseguinte, serão registradas no
Registro Civil de Pessoas Jurídicas, conforme sustenta: “Entretanto, não tardaria
um novo Código Civil, especificando normas para formar suficientemente clara
a qualificação das cooperativas como sociedades simples e destinando-lhes
o Registro Civil de Pessoas Jurídicas para o adequado registro constitutivo”
(PAIVA; ALVARES, 2017, p. 70).

Deixadas as controvérsias doutrinárias de lado, vamos apresentar o que


consta na Lei de Registros Públicos e no Código Civil, sobre Sociedades.

159
UNIDADE 2 — REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA

4.2.1 Lei nᵒ 6.015 – Lei de Registros Públicos


Percebe-se que o legislador informa claramente que há sociedades que
devem ser inscritas no Registro Civil de Pessoas Jurídicas:

Art. 114. No Registro Civil de Pessoas Jurídicas serão


inscritos: (Renumerado do Art. 115 pela Lei nᵒ 6.216, de 1975).
I- os contratos, os atos constitutivos, o estatuto ou compromissos das
sociedades civis, religiosas, pias, morais, científicas ou literárias,
bem como o das fundações e das associações de utilidade pública;
(grifo nosso)
II- as sociedades civis que revestirem as formas estabelecidas nas leis
comerciais, salvo as anônimas (BRASIL, 1973, grifo nosso).

Já comentamos que a existência da pessoa jurídica só começa com


o seu registro (Art. 45 do CC), que, para os nossos estudos, é no Registro
Civil de Pessoas Jurídicas, porém, além de conter expressa disposição legal,
ainda houve a preocupação de informar o caso de a sociedade depender de
aprovação de autoridade. Conforme a Lei de Registros Públicos no Art. 119.
“A existência legal das pessoas jurídicas só começa com o registro de seus atos
constitutivos.   (Renumerado do Art. 120 pela Lei nᵒ 6.216, de 1975). Parágrafo
único. Quando o funcionamento da sociedade depender de aprovação da
autoridade, sem esta não poderá ser feito o registro” (BRASIL, 1973).

Percebeu acadêmico? Quando o funcionamento da sociedade depender


de aprovação de alguma autoridade, sem esta autorização o registro no Cartório
de Registro Civil de Pessoas Jurídicas, não poderá ser feito. Fica o alerta!

Agora, iremos destacar algumas disposições do código privatista, que


apresentou grandes modificações na seara jurídica brasileira.

4.2.2 Lei nᵒ 10.406 – Código Civil


Primeiramente, o Código Civil apresenta quem são as pessoas jurídicas
de direito privado:

Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:


I- as associações;
II- as sociedades;
[...]
§ 2ᵒ As disposições concernentes às associações aplicam-se
subsidiariamente às sociedades que são objeto do Livro II da Parte
Especial deste Código.  (Incluído pela Lei nᵒ 10.825, de 22.12.2003)
(BRASIL, 2002).

O Código Civil destaca um título próprio (Título II), no Livro II da parte


especial, que trata do Direito de Empresa, e chama “Da Sociedade”. Todavia, não
são todos os dispositivos que se aplicam à nossa temática, acadêmico.

160
TÓPICO 3 — PESSOAS JURÍDICAS COM REGISTRO NO REGISTRO CIVIL DE PESSOAS JURÍDICAS

Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente


se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de
atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados.
Parágrafo único. A atividade pode restringir-se à realização de um ou
mais negócios determinados (BRASIL, 2002).
Art. 985. A sociedade adquire personalidade jurídica com a inscrição,
no registro próprio e na forma da lei, dos seus atos constitutivos (Arts.
45 e 1.150) (BRASIL, 2002).

O Artigo 1.150 do Código Civil enfatiza que as sociedades simples são


inscritas no Registro Civil das Pessoas Jurídicas:

Art. 1.150. O empresário e a sociedade empresária vinculam-se ao


Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais,
e a sociedade simples ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas, o qual
deverá obedecer às normas fixadas para aquele registro, se a sociedade
simples adotar um dos tipos de sociedade empresária (BRASIL, 2002,
grifo nosso).

4.3 REGISTRO DAS SOCIEDADES


A questão do registro das sociedades, de um modo geral, fica compreensível
se fixarmos nosso entendimento nas duas grandes divisões: sociedade empresária e
sociedade simples. A sociedade empresária é registrada na Junta Comercial do
Estado, e a sociedade simples, é registrada no Registro Civil de Pessoas Jurídicas.

É óbvio que na prática, a aplicação não é tão simples assim. Repare no


comentário que Paiva e Alvares (2017) fazem ao analisar a questão, quando
escrevem sobre Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI):

Uma dessas polêmicas diz respeito, exatamente, à questão registral


relativa ao órgão competente para promover-lhe o registro, e isso
decorre exatamente do entendimento quanto a qual seja sua natureza
jurídica. Para parte da doutrina, ela constitui uma sociedade unipessoal
de responsabilidade limitada, derivada da sociedade limitada, que seria o
seu tipo originário. Para outros doutrinadores, entretanto, trata-se de
pessoa jurídica sui generis, sendo esse o entendimento que predominou
na V Jornada de Direito Civil do CEJ-CJF, que editou o Enunciado n.
468: “A empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) não
é sociedade, mas novo ente jurídico personificado” (PAIVA; ALVARES
2017, p. 82, grifo do original).

Na continuidade do seu discurso, os autores trazem à lume uma questão


pontual do registro da EIRELI. Perceba que interessante acadêmico! Os autores
citados, consideram que para efeito da realização do registro desse tipo de
empresa, pode haver a possibilidade tanto perante o Registro Público de Empresas
Mercantis como perante o Registro Civil de Pessoas Jurídicas, dependendo da
característica apresentada pela EIRELI, que pode ter característica empresária,
que o registro deve ser na Junta Comercial do Estado; mas,

161
UNIDADE 2 — REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA

Se tiver característica simples ou não empresária (aquelas que visam a


proporcionar o exercício de profissões regulamentadas – médicos,
dentistas, engenheiros, arquitetos, contabilistas, esteticistas, terapeutas
– com opção por uma atuação individualizada), o registro do ato
constitutivo da EIRELI far-se-á perante o Registro Civil de Pessoas
Jurídicas da circunscrição extrajudicial onde terá sede a empresa
(PAIVA; ALVARES, 2017, p. 82, grifo do original).

Obtemperam os autores que também houve edição de enunciado na


V Jornada de Direito Civil do Centro de Estudos Judiciários do Conselho da
Justiça Federal (CEJ-CJF), que dispõe sobre o órgão registrador competente:
“Enunciado n. 470 – Os atos constitutivos da EIRELI devem ser arquivados no
registro competente, para fins de aquisição de personalidade jurídica. A falta
de arquivamento ou de registro de alterações dos atos constitutivos configura
irregularidade superveniente” (AGUIAR JÚNIOR, 2012, p. 68).

Com essas ponderações, o tema Sociedades se encerra, com a advertência,


acadêmico, que, nas linhas deste Livro Didático, o tema nunca é esgotado, nem
tampouco suficiente. Dito isto, para desafiá-lo a buscar mais e mais, prosseguimos
com o tema Sindicatos.

5 SINDICATOS

FIGURA 12 – SINDICATOS

FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/trade-union-worker-protests-activist-
policy-1837077160>. Acesso em: 9 jan. 21.

Sobre o tema Sindicatos, em especial sobre o registro de entidades


sindicais, colhemos os apontamentos do artigo de Siqueira (2005) que aponta a
existência de três teorias, para definir a natureza jurídica dos sindicatos:

A primeira define o sindicato como ente de direito privado, pois se trata de


uma associação de pessoas para defesa de seus interesses pessoais. Para esta corrente
os sindicatos deveriam estar classificados como associações civis. Conta com vários
defensores, destacando: Russomano, Catharino, Waldemar Ferreira, Segadas Vianna,
Délio Maranhão, Orlando Gomes e Élson Gottschalk (SIQUEIRA, 2005).

162
TÓPICO 3 — PESSOAS JURÍDICAS COM REGISTRO NO REGISTRO CIVIL DE PESSOAS JURÍDICAS

Para a segunda, conforme Siqueira (2005, s. p.):

[...] o sindicado é ente de direito público, sendo praticamente um


apêndice do Estado. Por esta teoria os interesses do sindicato
confundem-se com os próprios interesses do Estado. Amauri Mascaro
Nascimento apud Siqueira, afirma que restam poucos adeptos a esta
teoria na doutrina pátria, pois em geral o sindicato tem a natureza
jurídica de direito público nos regimes totalitários.

E a terceira teoria, exposta por Siqueira (2005, s. p.), é a do sindicato como


pessoa jurídica de direito social, a qual tem Cesarino Júnior, como defensor,
“para quem o sindicato é um ente que não se pode classificar exatamente nem
entre as pessoas jurídicas de direito privado nem entre as pessoas jurídicas de
direito público, constituindo-se, portanto, num terceiro gênero”.

Siqueira (2005, s. p.), aponta, em conformidade com Washington Coelho,


“o costume jurídico brasileiro é o registro”. A sociedade deve tomar conhecimento/
ser registrada, para que, a partir da existência de direito possam constituir direitos
e obrigações, conforme Art. 45 do Código Civil.

Superadas as prévias anotações, observaremos o conceito de sindicato.

5.1 CONCEITO
O conceito de sindicato torna-se muitas vezes, o que podemos chamar
de impuro, porque, para a maioria dos doutrinadores, ele está como sinônimo
de associação.

A doutrina de Martinez (2013, s. p.), não destoa dessa afirmação: “No que
tange especificamente à liberdade sindical, a primeira Constituição a consagrá-
la e a distingui-la da liberdade genérica de associação foi mesmo a mexicana de
1917 (Art. 123, A, XVI), seguida da weimariana de 1919 (Art. 159)”.

Martinez (2013, s. p.) constrói seu pensamento da liberdade sindical – um


direito fundamental – “que goza de autonomia diante da genérica liberdade de
associação”. E, obtempera, se referindo às entidades sindicais e às associações, que:

Embora seja frequente a relação mental entre os referidos direitos,


eles são essencialmente diferentes tanto do ponto de vista de suas
raízes históricas quanto da perspectiva da legitimação dos seus
titulares. A liberdade sindical surgiu da necessidade de o Estado
garantir aos trabalhadores e aos seus representantes uma situação
de equilíbrio diante dos poderes contrapostos, aqui destacados os
próprios poderes estatais e o poder econômico, enquanto a liberdade
genérica de associação decorreu de mera necessidade de garantir-
se o encontro de vontades e de ações para o alcance de propósitos
comuns (MARTINEZ, 2013, s. p.).

163
UNIDADE 2 — REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA

Observa também o autor que, por outro lado, “os beneficiários da liberdade
sindical precisam ser expressamente reconhecidos como tais pelo sistema jurídico
instituidor [...], o que não acontece com a liberdade genérica de associação,
outorgada para quem quer que seja, indistintamente, observado apenas os limites
dos fins a que se destina” (MARTINEZ, 2013, s. p.)

Sindicato é um termo originado do grego “syndike”, que significa


“protetor”. O termo passou a ser empregado após a Revolução Industrial e
também por conta do surgimento das sociedades manufatureiras em países
da Europa.

Colhendo ainda o conceito de Sindicato, encontramos um sítio eletrônico


que apresenta vários conceitos, e, para esta categoria Sindicato:

Um sindicato é uma associação de trabalhadores que se constitui para


defender os interesses sociais, econômicos e profissionais relacionados
com a atividade laboral dos seus integrantes. Trata-se de organizações
democráticas que se encarregam de negociar as condições de
contratação com as entidades patronais (SINDICATO, 2020, s. p.).

Todavia, o conceito mais abrangente obtivemos das lições de Magano


apud Moreira (2002, s. p.), quando aponta que “Octávio Bueno Magano define
sindicato como ‘a associação de pessoas físicas ou jurídicas, que exerce atividade
profissional ou econômica, para a defesa dos respectivos interesses’”. Esse
conceito abrange não só uma categoria, mas sim várias, pois trata de pessoas
físicas e jurídicas e sabemos acadêmico, que na prática, conhecemos os sindicatos
patronais, não é mesmo?

5.2 ASPECTO LEGISLATIVO


Podemos apontar diretamente nossa Constituição da República Federativa
do Brasil, de 1988, que dispõe:

Art. 8ᵒ É livre a associação profissional ou sindical, observado o


seguinte:
[...]
I- a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de
sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao
Poder Público a interferência e a intervenção na organização sindical;
II- é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em
qualquer grau, representativa de categoria profissional ou
econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos
trabalhadores ou empregadores interessados, não podendo ser
inferior à área de um Município;
III- ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou
individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou
administrativas (BRASIL, 1988).

164
TÓPICO 3 — PESSOAS JURÍDICAS COM REGISTRO NO REGISTRO CIVIL DE PESSOAS JURÍDICAS

Entre outros dispositivos, já destacamos a Portaria nᵒ 17.593, de 24


de julho de 2020, do Ministério da Economia, por sua Secretaria Especial de
Previdência e Trabalho, que dispõe sobre os procedimentos administrativos
para o registro de entidades sindicais pelo Ministério da Economia.

Na sequência, passamos para o registro das entidades sindicais.

5.3 REGISTRO DOS SINDICATOS


A partir da noção da natureza jurídica do sindicato, Siqueira (2005, s. p.),
ainda traz à lume que: “Não há divergência sobre a necessidade de registro de
entidades sindicais”.

Todavia, pontua que com as dúvidas surgidas com a interpretação do


inciso I do Art. 8ᵒ da Carta Magna de 1988, em especial em relação ao órgão
registrador competente, surgem novamente três correntes para orientar o tema:
“A primeira sustenta a suficiência do registro da entidade sindical no Registro
Civil das Pessoas Jurídicas; a segunda entende que basta o registro junto ao
Ministério do Trabalho. A última exige o duplo registro” (SIQUEIRA, 2005, s. p.)

Por fim, a Portaria nᵒ 17.593, de 24 de julho de 2020, dispõe sobre os


procedimentos administrativos para o registro de entidades sindicais pelo
Ministério da Economia. (Processo nᵒ 19964.103497/2020-17). E, em seu bojo
confirma que é necessário o registro dos atos constitutivos do sindicato em
cartório, conforme:

Art. 4ᵒ A solicitação de registro sindical deverá ser acompanhada dos


seguintes documentos:
[...]
II- ata da assembleia geral de fundação ou de ratificação de fundação
com a descrição da categoria e da base territorial aprovada, que
deverá apresentar:
a) registro em cartório (BRASIL, 2020).

E, ainda:

Art. 9ᵒ A solicitação de registro sindical, por entidade sindical de grau


superior, deverá ser acompanhada dos seguintes documentos:
[...]
II- ata da assembleia geral registrada em cartório, devendo constar
expressamente a aprovação da fundação e a indicação das entidades
fundadoras com os respectivos CNPJs, acompanhada de lista de
presença contendo a finalidade da assembleia, a data, o horário e o
local de realização, os nomes completos, os números de registro no
CPF e as respectivas assinaturas dos participantes;
[...]
IV- estatuto social, aprovado em assembleia geral e registrado em
cartório (BRASIL, 2020).

165
UNIDADE 2 — REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA

E assim também para eventuais atualizações, alteração estatutária,


desistência, entre outras matérias, essa portaria exige sempre o registro prévio
em cartório, que, embora a portaria não expresse textualmente, nós sabemos
acadêmico que se trata do “Cartório” de Registro Civil de Pessoas Jurídicas.

De agora em diante falaremos de um novo tema – muito importante, porém


pouco comentado e até raro de encontrar na doutrina – são as matrículas de meios de
comunicações. Essas matrículas são outra atividade privada do Oficial do Registro de
Pessoas Jurídicas. Vamos em frente acadêmico, você vai gostar das informações que
irá encontrar sobre jornais, oficinas impressoras, agências de notícias e empresas de
radiodifusão. Ficou curioso? Muitas vezes nem pensamos que tudo isso faz parte do
universo do Registro Civil de Pessoas Jurídicas, não é mesmo?

6 MATRÍCULA DE MEIOS DE COMUNICAÇÕES


Outro tema, muitas vezes desconhecido da sociedade, é o serviço prestado
pelo Registro Civil de Pessoas Jurídicas, pois é nele que surgem as “matrículas”
ou a “matriculação” dos atos das empresas de radiodifusão, jornais e periódicos,
oficinas impressoras, entre outras que passamos a tratar.

FIGURA 13 – MEIOS DE COMUNICAÇÕES

FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/pr-marketing-campaign-public-
relations-announcements-1604886502>. Acesso em: 9 jan. 2021.

166
TÓPICO 3 — PESSOAS JURÍDICAS COM REGISTRO NO REGISTRO CIVIL DE PESSOAS JURÍDICAS

6.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMIARES


Além de toda gama de atos que as serventias registrais dos Ofícios
de Registro Civil de Pessoas Jurídicas têm como atribuições, ainda nelas são
matriculadas também os jornais e demais publicações periódicas, as oficinas
impressoras de qualquer natureza, pertencentes a pessoas naturais ou
jurídicas, as empresas de radiodifusão, que mantenham serviços de notícias,
reportagens, comentários, debates e entrevistas; e as empresas que tenham
por objeto agenciamento de notícias, conforme preconiza o Art. 122 da Lei de
Registros Públicos.

A falta de matrícula ou de averbações das alterações ocorridas, de acordo


com o Art. 124 da LRP, será punida com multa, cujo valor pode variar entre
meio e dois salários mínimos vigentes, aplicada pela autoridade judiciária, por
representação do Oficial, que tomar conhecimento da irregularidade. A mesma
sentença que fixa a multa, igualmente fixará prazo para a realização da matrícula
ou averbação, conforme o caso, sob pena de nova multa agravada se desobedecida
a primeira imposição (PAIVA; ALVARES, 2017).

Sobre os jornais e outros periódicos, “quando não matriculados, ou de


cuja matrícula não constem os nomes e qualificações devidamente atualizados do
diretor, do redator ou do proprietário, há o efeito específico de atribuir à publicação
a condição de clandestinidade, conforme Art. 125 da LRP” (PAIVA; ALVARES, 2017,
p. 132). Concluem os autores que a consequência dessa clandestinidade “seria a
vedação à sua livre publicação e circulação” (PAIVA; ALVARES, 2017, p. 132),
para eles, essa medida tem eficácia “discutível em razão da revogação da Lei de
Imprensa (Lei n. 5.250/67) por decisão do STF” (PAIVA; ALVARES, 2017, p. 132).

Conforme disposição do Art. 126 da Lei de Registros Públicos (LRP),


o procedimento adotado na realização de matrícula de meios de comunicação,
previsto no Art. 122, é o mesmo adotado para o registro estabelecido no Art. 121
da Lei 6.016/73 (LRP).

6.2 ASPECTOS LEGISLATIVOS


Na parte mais ampla da legislação, encontramos as disposições na Lei
nᵒ 6.015, de 31 de dezembro de 1973, conhecida como Lei de Registros Públicos,
que descreve os atos pormenorizadamente entre os Artigos 122 ao 126, inclusive
intitulando “Do Registro de Jornais, Oficinas Impressoras, Empresas de
Radiodifusão e Agências de Notícias”

167
UNIDADE 2 — REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA

Art. 122. No registro civil das pessoas jurídicas serão matriculados:


(Renumerado do Art. 123 pela Lei nᵒ 6.216, de 1975).
I- os jornais e demais publicações periódicas;
II- as oficinas impressoras de quaisquer naturezas, pertencentes a pessoas
naturais ou jurídicas;
III- as empresas de radiodifusão que mantenham serviços de notícias,
reportagens, comentários, debates e entrevistas;
IV- as empresas que tenham por objeto o agenciamento de notícias.

Art. 123. O pedido de matrícula conterá as informações e será instruído com


os documentos seguintes: (Renumerado do Art. 124 pela Lei nᵒ 6.216, de 1975).
I- no caso de jornais ou outras publicações periódicas:
a) título do jornal ou periódico, sede da redação, administração e oficinas
impressoras, esclarecendo, quanto a estas, se são próprias ou de terceiros,
e indicando, neste caso, os respectivos proprietários;
b) nome, idade, residência e prova da nacionalidade do diretor ou redator-
chefe;
c) nome, idade, residência e prova da nacionalidade do proprietário;
d) se propriedade de pessoa jurídica, exemplar do respectivo estatuto ou
contrato social e nome, idade, residência e prova de nacionalidade dos
diretores, gerentes e sócios da pessoa jurídica proprietária.
II- nos casos de oficinas impressoras:
a) nome, nacionalidade, idade e residência do gerente e do proprietário, se
pessoa natural;
b) sede da administração, lugar, rua e número onde funcionam as oficinas e
denominação destas;
c) exemplar do contrato ou estatuto social, se pertencentes à pessoa jurídica.
III- no caso de empresas de radiodifusão:
a) designação da emissora, sede de sua administração e local das instalações
do estúdio;
b) nome, idade, residência e prova de nacionalidade do diretor ou redator-
chefe responsável pelos serviços de notícias, reportagens, comentários,
debates e entrevistas.
IV- no caso de empresas noticiosas:
a) nome, nacionalidade, idade e residência do gerente e do proprietário, se
pessoa natural;
b) sede da administração;
c) exemplar do contrato ou estatuto social, se pessoa jurídica.
§ 1ᵒ As alterações em qualquer dessas declarações ou documentos deverão ser
averbadas na matrícula, no prazo de oito dias.
§ 2ᵒ A cada declaração a ser averbada deverá corresponder um requerimento.

168
TÓPICO 3 — PESSOAS JURÍDICAS COM REGISTRO NO REGISTRO CIVIL DE PESSOAS JURÍDICAS

Art. 124. A falta de matrícula das declarações, exigidas no artigo anterior, ou


da averbação da alteração, será punida com multa que terá o valor de meio a
dois salários mínimos da região. (Renumerado do Art. 125 pela Lei nᵒ 6.216,
de 1975).
§ 1ᵒ A sentença que impuser a multa fixará prazo, não inferior a vinte dias,
para matrícula ou alteração das declarações.
§ 2ᵒ A multa será aplicada pela autoridade judiciária em representação feita pelo
oficial, e cobrada por processo executivo, mediante ação do órgão competente.
§ 3ᵒ Se a matrícula ou alteração não for efetivada no prazo referido no § 1ᵒ
deste artigo, o Juiz poderá impor nova multa, agravando-a de 50% (cinqüenta
por cento) toda vez que seja ultrapassado de dez dias o prazo assinalado na
sentença.

Art. 125. Considera-se clandestino o jornal, ou outra publicação periódica, não


matriculado nos termos do Artigo 122 ou de cuja matrícula não constem os
nomes e as qualificações do diretor ou redator e do proprietário. (Renumerado
do Art. 126  pela Lei nᵒ 6.216, de 1975).

Art. 126. O processo de matrícula será o mesmo do registro prescrito no artigo


121 (Renumerado do Art. 127 pela Lei nᵒ 6.216, de 1975) (BRASIL, 1973).

FONTE: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6015original.htm>. Acesso em: 3 fev. 2021.

Partiremos para a análise de cada tema per si, ou seja, da matrícula de


jornais e outros periódicos; matrícula de oficinas impressoras; matrícula de
empresa de radiodifusão e, por fim, matrícula de agência de notícias. Fique
atento acadêmico, com essas novidades.

6.3 MATRÍCULA DE JORNAIS E OUTROS PERIÓDICOS

FIGURA 14 - PERIÓDICOS

FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/stack-magazines-250261546>.
Acesso em: 9 jan. 2021.

169
UNIDADE 2 — REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA

Para matrícula de jornais, revistas e outros periódicos é necessária a


apresentação de requerimento, assinado e com firma reconhecida (Art. 1.153
do CC), encaminhado ao Oficial do Registro Civil de Pessoas Jurídicas, com as
informações e os documentos exigidos na LRP:

• título do jornal ou periódico;


• sede da redação;
• sede da administração;
• sede das oficinas impressoras, informando se são próprias ou de terceiros,
além de indicar, neste caso, os respectivos proprietários;
• nome, idade, residência e prova da nacionalidade do proprietário;
• nome, idade, residência e prova da nacionalidade do diretor ou redator-chefe;
• se propriedade de pessoa jurídica, juntar exemplar do respectivo estatuto ou
contrato social, indicando o nome, idade, residência e prova de nacionalidade
dos diretores, gerentes e sócios da pessoa jurídica proprietária.

Todas as declarações apresentadas deverão constar em duas vias, ficando


uma arquivada na Serventia e a outra retorna ao requerente após o registro.

As alterações posteriores em qualquer das declarações ou documentos


apresentados por ocasião da matrícula deverão ser averbados na matrícula no
prazo de oito dias, sendo necessário um requerimento para cada pedido de
averbação, consoante o § 2ᵒ do Art. 123 da LRP.

Seguimos para a matrícula de oficinas impressoras.

6.4 MATRÍCULAS DE OFICINAS IMPRESSORAS

FIGURA 15 – OFICINA IMPRESSORA

FONTE:<https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/large-offset-printing-press-magazine-
running-1642906555>. Acesso em: 9 jan. 2021.

170
TÓPICO 3 — PESSOAS JURÍDICAS COM REGISTRO NO REGISTRO CIVIL DE PESSOAS JURÍDICAS

Igualmente é necessária a apresentação de requerimento assinado com


reconhecimento de firma, consoante Art. 1.153 do Código Civil, ao Oficial do
Registro Civil de Pessoas Jurídicas, contendo as informações e documentos
exigidos pelo Art. 123, II da LRP, quais sejam:

• nome, nacionalidade, idade e residência do gerente e do proprietário, se


pessoas naturais;
• sede da administração, lugar, rua e número onde funcionam as oficinas e
denominação delas;
• exemplar do contrato social ou estatuto social, se pertencer à pessoa jurídica.

As declarações devem ser apresentadas em duas vias, uma fica arquivada
na Serventia e a outra retorna ao requerente após o registro, dela constando os dados
respectivos, conforme determinação do Art. 121 c/c o Art., 126, ambos da LRP.

Conforme vimos, aqui também as alterações posteriores em qualquer das


declarações ou documentos apresentados por ocasião da matrícula deverão ser
averbadas na matrícula, no prazo de oito dias, sendo necessário um requerimento
para cada pedido de averbação, consoante o § 2ᵒ do Art. 123 da LRP.

Vamos aos procedimentos de matriculação de empresas de radiodifusão,


no Registro Civil de Pessoas Jurídicas.

6.5 MATRÍCULA DE EMPRESAS DE RADIODIFUSÃO

FIGURA 16 – AGÊNCIA REGULADORA DAS TELECOMUNICAÇÕES

FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/brasilia-federal-district-brazil-
december-20-1885855189>. Acesso em: 9 jan. 2021.

171
UNIDADE 2 — REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA

Para matrícula de empesas de radiodifusão, é necessária a apresentação


de requerimento, assinado com reconhecimento de firma, dirigido ao oficial
registrador do Registro Civil de Pessoas Jurídicas, com todas as informações e
documentos exigidos pelo Art. 123, III da LRP, conforme segue:

• designação da emissora;
• sede da administração;
• local de instalação do estúdio;
• nome, idade, residência e prova de nacionalidade do diretor ou redator-
chefe, responsável pelos serviços de notícias, reportagens, comentários,
debates e entrevistas.

Igualmente às informações anteriores, as declarações devem ser


apresentadas em duas vias, uma fica arquivada na Serventia e a outra retorna
ao requerente após o registro dela constando os dados respectivos, conforme
determinação do Art. 121 c/c o Art., 126, ambos da LRP.

E, do mesmo modo, as alterações posteriores em qualquer das declarações


ou documentos apresentados por ocasião da matrícula deverão ser averbados na
matrícula, no prazo de oito dias, sendo necessário um requerimento para cada
pedido de averbação, sob o mesmo comando legal.

E, nosso último tema é a matrícula de agência de notícias, que igualmente


devem ser requeridas ao oficial do Registro Civil de Pessoas Jurídicas. Seguimos?

6.6 MATRÍCULA DE AGÊNCIA DE NOTÍCIAS

FIGURA 17 – AGÊNCIA DE NOTÍCIAS

FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/moscow-mar-5-employees-work-
office-159814607>. Acesso em: 9 de jan. 2021.

172
TÓPICO 3 — PESSOAS JURÍDICAS COM REGISTRO NO REGISTRO CIVIL DE PESSOAS JURÍDICAS

Para a matrícula de empresas ou agências noticiosas, é necessária a


apresentação de requerimento com firma reconhecida, dirigido ao registrador do
Ofício de Registro Civil de Pessoas Jurídicas, cujo requerimento deve conter e ser
instruído com os seguintes documentos, conforme prevê o Art. 123, IV da LRP:

• Nome, nacionalidade, idade e residência do gerente e do proprietário, se


pessoas naturais.
• Sede da administração.
• Contrato social ou estatuto social, se pessoa jurídica.

Igualmente às informações anteriores as declarações devem ser


apresentadas em duas vias, uma ficará arquivada RCPJ e a outra retorna ao
requerente após o registro, dela constando os dados respectivos, conforme
determinação do Art. 121 c/c o Art., 126, ambos da LRP.

Em observância ao disposto no § 1ᵒ do Art. 123 da LRP, as alterações


posteriores em qualquer das declarações ou documentos apresentados por
ocasião da matrícula deverão ser averbados na matrícula, no prazo de oito dias,
sendo necessário um requerimento para cada pedido de averbação, conforme
determina o § 2ᵒ do Art. 123 da LRP.

Acadêmico, finalizamos a Unidade 2. Lembre-se que é necessário sempre


conquistar o conhecimento, pois onde o Direito brota da Sociedade, em especial
nas questões jurídicas, ele está em constante movimento e aperfeiçoamento. Dito
isto, para desafiá-lo a buscar sempre por novos rumos que a ciência jurídica está
seguindo neste século XXI.

A próxima unidade, que encerra nosso Livro Didático, tratará do Registro


de Títulos e Documentos. Abordará conceitos e procedimentos que você não
pode perder, esperamos você na Unidade 3!

173
UNIDADE 2 — REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA

LEITURA COMPLEMENTAR

SOCIEDADE SIMPLES NO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO

Ronaldo Paulino Filho

INTRODUÇÃO 

Em um primeiro momento vale mencionar que no ordenamento jurídico


existe uma diferenciação entre as chamadas Sociedades Personificadas que
possuem Personalidade Jurídica, das Sociedades Despersonificadas que não têm
Personalidade Jurídica.

As Sociedades Personificadas podem ser Empresárias ou Simples. A


sociedade empresária de acordo com os Artigos 982 e 983 do Código Civil deve ser
uma Sociedade em Nome Coletivo, Sociedade em Comandita Simples, Sociedade
em Comandita por Ações, Sociedade Anônima ou Sociedade Limitada.

A Sociedade Simples, não exercem atividade empresarial, pode adotar


qualquer desses tipos societários, no entanto o Parágrafo Único do Artigo 982
diz que independente do seu objeto as Sociedades por Ações só podem ser
empresárias e as Cooperativas só podem ser Simples.

Sendo assim, estão incluídos nesse tipo societário: Sociedade em Nome


Coletivo, Sociedade em Comandita Simples, Sociedade Limitada e Cooperativa.
O Rol não encerra e se a sociedade simples não adotar um desses tipos societários, ela
poderá vestir as normas que lhe forem próprias.

A nomenclatura “sociedade simples” é estabelecida pela primeira vez no


Brasil pelo Código Civil de 2002. É a forma societária adotada para as atividades
não empresariais, ou seja, nas sociedades de profissionais liberais ou intelectuais.

Tem como estrutura o trabalho não organizado e autônomo em se tratando


dos sócios, que cumprem suas funções sem acoplamento maior com os postos
dos demais. Distinta das sociedades empresárias, as sociedades simples não são
passíveis de falência. Como exemplo de sociedade simples são os consultórios
médicos e sociedade por contador. Retratam sociedades de profissionais liberais e
seguem a característica fundamental das sociedades simples que é o desempenho
autônomo sem entrar nos requisitos da atividade empresária (que pode acontecer
por força de lei ou voluntariamente) de cada sócio do componente social.

Rubens Requião menciona que deveria ter sido criado capítulo do Código
Civil com regrais gerais de Direito Societário porque a legislação da sociedade
simples é subsidiária para as regidas pelo Código Civil [1].

174
TÓPICO 3 — PESSOAS JURÍDICAS COM REGISTRO NO REGISTRO CIVIL DE PESSOAS JURÍDICAS

2 REGISTRO

Sociedade Simples pode ser a natureza da sociedade e o tipo societário.


Uma sociedade só adquire personalidade jurídica quando registra no órgão
próprio. Em se tratando de sociedade empresarial ou sociedade empresária
registra na Junta Comercial, no tocante à sociedade simples é no Registro Civil de
Pessoa Jurídica.

Vale mencionar que a Cooperativa, mesmo sendo do tipo simples, deverá


ser registrada na junta comercial e a Sociedade de Advogados, para que tenha
personalidade jurídica deverá ser registrada na respectiva seccional da OAB.

Trata-se de uma sociedade contratual, tem como ato constitutivo um


contrato social, em regra o prazo para registro é de 30 dias como diz o Artigo 998
do Código Civil. Contados da assinatura do contrato, tem 30 dias para realizar,
dentro desse prazo terá efeito “ex tunc”(retroativo). Se for efetuado em momento
posterior ele terá efeito “ex nunc”, só produzirá efeitos na data do registro.

O contrato Social deve seguir as regras do Artigo 997 do Código Civil:

“A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou


público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará:
I- nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência
dos sócios, se pessoas naturais, e a firma ou a denominação,
nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas;
II- denominação, objeto, sede e prazo da sociedade;
III- capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo
compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação
pecuniária;
IV- a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la;
V- as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista
em serviços;
VI- as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade,
e seus poderes e atribuições;
VII- a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas;
VIII- se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas
obrigações sociais.
Parágrafo único. É ineficaz em relação a terceiros qualquer pacto separado,
contrário ao disposto no instrumento do contrato” (BRASIL, 2002).

3 PLURIPESSOALIDADE

Característica que marca o tipo societário é a pluripessoalidade, ou seja, no


momento da constituição da sociedade simples ela não poderá ser unipessoal, terá
que ser por mais de dois sócios. Poderá depois de constituída, a unipessoalidade
temporária ou incidental por 180 dias, conforme o Artigo 1033, IV do Código Civil.

Diz respeito ao prazo para recompor um segundo sócio. Sendo assim


inicialmente deverá existir dois ou mais sócios, mas não impede a saída de sócio
e no decorrer do prazo mencionado, será permitida a recomposição da sociedade
por outro.

175
UNIDADE 2 — REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA

Pode o incapaz ser sócio, conforme o Artigo 974 §3° do Código Civil,
no entanto, existem requisitos cumulativos: Devidamente assistido ou
representado; Necessário que não exerça administração; O Capital Social deve
estar totalmente integralizado.

O Artigo 977 do Código Civil permite a sociedade entre cônjuges, no


entanto, não pode ter casado com regime de comunhão universal de bens, ou no da
separação obrigatória.

4 QUOTAS SOCIAIS

Conforme Rubens Requião, as Quotas Sociais têm direito de duplo


aspecto: Direito Patrimonial e Direito Pessoal.  São frações do capital social que
conferem ao seu titular direito de sócio de uma sociedade.

Para as formas de integralização das cotas sociais, primeiro ocorre a


Subscrição, ou seja, o comprometimento. O sócio se compromete por porcentagem
naquela sociedade e Integralização seria o próprio “pagamento”. A Integralização
poderá ser constituída por: Dinheiro, Bens, Créditos e Prestação de Serviços.
Estabelecido pelo Artigo 1001 e seguintes do Código Civil.

Entende-se por Sócio Remisso, o sócio que não integralizou suas cotas
sociais. O Artigo 1004 do Código Civil, Parágrafo único menciona que:

“Verificada a mora, poderá a maioria dos demais sócios preferir, à


indenização, a exclusão do sócio remisso, ou reduzir-lhe a quota ao montante já
realizado, aplicando-se, em ambos os casos, o disposto no§ 1o do Art. 1.031”.

Indenização é ajuizar uma ação para cobrar o percentual que ele está
devendo, Exclusão é retirada da sociedade e a Redução da cota ao valor que
ele integralizou, consiste em diminuir a porcentagem na sociedade ao valor
que foi pago.

O Artigo 1003 do Código Civil ao tratar da cessão de cotas diz: “A cessão


total ou parcial de quota, sem a correspondente modificação do contrato social
com o consentimento dos demais sócios, não terá eficácia quanto a estes e à
sociedade”. Ou seja, precisa da modificação do contrato social e é necessário a
autorização, o consentimento de todos os demais sócios.

Até dois anos depois de averbada a modificação do contrato, responde


em relação a terceiros pelas obrigações que tinha na época em que era sócio.
Modificação do contrato social, o responsável leva para arquivamento no Registro
Civil de Pessoa Jurídica.

176
TÓPICO 3 — PESSOAS JURÍDICAS COM REGISTRO NO REGISTRO CIVIL DE PESSOAS JURÍDICAS

5 RESPONSABILIDADE DO SÓCIO

Pelo Artigo 997 do Código Civil, VIII, O contrato Social vai estabelecer se o
sócio responde ou não por dívidas da sociedade de forma: Limitada ou Ilimitada,
Subsidiária ou Solidária. Se for limitada, o sócio não responde por dívidas da
sociedade, no caso da Ilimitada o sócio responderá por dívidas da sociedade.

A limitação diz respeito à subscrição, ou seja, ao comprometimento que


o sócio estabeleceu no contrato social. O patrimônio pessoal do sócio não seria
afetado para caso de responsabilidade limitada.

Essa responsabilidade poderá ser subsidiária ou solidária, se o


contrato social for omisso deverá aplicar o Artigo 1023 do Código Civil: “Se
os bens da sociedade não lhe cobrirem as dívidas, respondem os sócios pelo
saldo, na proporção em que participem das perdas sociais, salvo cláusula de
responsabilidade solidária”.

Os sócios respondem com seus bens pessoais por dívidas da sociedade de


forma subsidiária pelo saldo, pela diferença na proporção em que participem nas
perdas sociais, salvo cláusula de responsabilidade solidária. Enunciado 479 da 5°
Jornada de Direito Civil.

6 DIREITOS DOS SÓCIOS

Direito de participação nos lucros sociais, O Artigo 1008 do Código Civil,


diz que a cláusula que exclui os sócios na participação nos lucros será nula.
 
Direito de Retirada é a possibilidade que o sócio tem de se retirar da
sociedade. É disciplinada pelo Artigo 1029 do Código Civil, deverá analisar o
prazo da sociedade. Se, é prazo determinado ou se é uma sociedade por prazo
indeterminado.

Para prazo Determinado terá que ser por justa causa e judicialmente, já
para prazo Indeterminado não precisa de justa causa, ou seja, não precisa de
medida judicial. É preciso que se tenha de notificar os demais sócios com uma
antecedência de sessenta dias.

Participação nas Deliberações Sociais, também se caracteriza como direito


dos sócios, estabelecido no Artigo 1010 do Código Civil. Consiste nas aprovações
ou recusas das deliberações. Pode ser em reunião ou assembleia.  O quórum é
pela Maioria do Capital Social, no entanto, poderá não alcançar a maioria, em
caso de empate, pelo Número de Sócios. Se ainda assim, será a da decisão judicial.

As exceções: Modificação do Contrato Social, diz o Artigo 999 do Código


Civil que é necessária unanimidade. Artigo 1015 do Código Civil, por maioria de
sócios, para venda de imóveis.

177
UNIDADE 2 — REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA

Para caso de Exclusão do Sócio: o Sócio Remisso, aquele que não


integralizou sua cota social, possibilidade elencada no Parágrafo Único do Artigo
1004, já mencionada anteriormente. E o Artigo 1030 do Código Civil: “Ressalvado
o disposto no Art. 1.004 e seu parágrafo único, pode o sócio ser excluído
judicialmente, mediante iniciativa da maioria dos demais sócios, por falta grave
no cumprimento de suas obrigações, ou, ainda, por incapacidade superveniente”.
Trata da Falta Grave ou Incapacidade Superveniente.

7 ADMINISTRADOR

A nomeação do administrador vai poder ser no contrato social ou ato


separado, no caso de assembleia. Pode ser sócio ou não sócio conforme Sergio
Campinho (2019). Só pode ser Pessoa Física, pelo demonstrado no Artigo 997 do
Código Civil.

A Responsabilidade tem como regra geral: é de responsabilidade da


sociedade (não do administrador). Como Exceções: Artigo 1016 do Código Civil,
que diz quando o administrador agir com culpa ele responderá solidariamente
perante a sociedade e terceiros.

O Artigo 1015, Parágrafo Único do Código Civil, demonstra situações


que nesse caso a sociedade não responde mais, a chamada Teoria “ultra vires”.
Quando o administrador agir com excesso.

Se a limitação de poderes estiver inscrita ou averbada no contrato


social, provando-se que era conhecida de terceiro e tratando-se de operação
evidentemente estranha aos negócios da sociedade.

Aqui há uma crítica bastante interessante da doutrina, como exemplo: O


Administrador da lavanderia comprando um galão de tinta entraria na hipótese,
mas é uma reforma da própria lavanderia, mesmo a operação não sendo dos
negócios, tem relação com administração. Tal situação vai na contramão da
jurisprudência. Adota a teoria da aparência. O terceiro de boa-fé tem o direito de
ser protegido.

8 DISSOLUÇÃO

Pode ser Dissolução Total e Dissolução Parcial. A diferença é que na


dissolução total fala de encerramento da sociedade, ela vai ter a extinção. Na
dissolução parcial é quando um ou mais sócios saem da sociedade, mas a
sociedade é mantida, é preservada, ela continua em atividade.

A Dissolução Parcial tem como Modalidades/ Hipóteses: Vontade dos


Sócios, ou seja, acordo entre eles. No entanto quando um quer sair e os outros
não querem, ele vai exercer o direito de retirada do Artigo 1029 do Código Civil.

178
TÓPICO 3 — PESSOAS JURÍDICAS COM REGISTRO NO REGISTRO CIVIL DE PESSOAS JURÍDICAS

A Exclusão do Sócio é mencionada pelo Artigo 1030 do Código Civil,


Falecimento/Morte do Sócio no Artigo 1028 do Código Civil, Sócio Remisso pelo
Artigo 1004 do Código Civil. No caso de Falência do Sócio (Sócio que teve falência
decretada) ocorrerá a liquidação da cota a pedido do credor.

Dissolução Total é para casos que ocorre a extinção da sociedade, o


encerramento da sociedade, podendo ser por: Vontade dos Sócios; Decurso do
Prazo e o Prazo Determinado. Chegou ao momento final do encerramento do
prazo determinado, se os sócios não fizerem nada e continuarem a sociedade,
nessa hipótese a lei diz que esse prazo será prorrogado por prazo indeterminado.

Falência da Sociedade, caso de sociedade empresária, estabelecida no


Artigo 1044 do Código Civil. Para caso de Unipessoalidade por mais de 180 dias
o Artigo 1033, IV do Código Civil, menciona a dissolução da sociedade.

Por Extinção de autorização para funcionamento, também se caracteriza


como dissolução, pelo Artigo 1033, V do Código Civil. Se os Administradores
no prazo de trinta dias não fizerem a liquidação, ou seja, a soma dos ativos para
pagamento do passivo, terá a participação do Ministério Público, Artigo 1037 do
Código Civil. Anulação do ato constitutivo, caso se o contrato social for anulado
também terá a dissolução da sociedade.

Inexequibilidade do contrato social, também conhecido como exaurimento


do contrato social e por fim, Falta de mercado para atividade.

FONTE: <https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/51460/sociedade-simples-no-
codigo-civil-brasileiro>. Acesso em: 9 de jan. 21.

179
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• As associações são registradas no Registro Civil de Pessoas Jurídicas.

• As associações são entidades de direito privado que se constituem pela reunião


de pessoas físicas, que objetivam determinado fim comum, não lucrativo e lícito.

• As fundações são registradas no Registro Civil de Pessoas Jurídicas.

• As fundações são pessoas jurídicas de direito privado, sem fins econômicos ou


lucrativos, que se formam com a existência de um patrimônio destacado por
um instituidor, por meio de escritura pública ou testamento, com um objetivo
específico e voltado às causas de interesse público.

• O Código Civil de 2002 recepcionou o Direito de Empresa, e, acabou


trazendo muitas novidades, mas também muita celeuma no mundo jurídico
sobre as Sociedades.

• As sociedades, em uma divisão mais ampla, são consideradas em sociedade


empresária e sociedade simples.

• As sociedades empresárias são registradas na Junta Comercial do Estado.

• As sociedades simples, dependendo o caso, podem ser registradam no


Registro Civil de Pessoas Jurídicas ou na Junta Comercial do Estado. O que
difere para esse registro, não é uma escolha/opção do empresário, mas sim
disposição legal.

• As sociedades simples de caráter empresarial serão registradas na Junta


Comercial do Estado, já as sociedades simples que se referem ao exercício de
determinada profissão, a exemplo dos médicos, dentistas, terapeutas etc., são
registradas no RCPJ.

• Os sindicatos, que muito embora paire na doutrina uma diversidade de


entendimento em razão da semelhança com o conceito de associação, desta
não é sinônimo, pois apesar da construção histórica dessas entidades sindicais,
os sindicatos, como atualmente se apresentam, têm natureza jurídica própria;
e com a Portaria nᵒ 17.593 de 24 de julho de 2020 do Ministério da Economia de
julho/2020, este precisa apresentar certos requisitos para requerer seu registro
junto à Secretaria Especial de Previdência e Trabalho vinculada ao Ministério
da Economia, sendo que um deles é o registro do ato constitutivo no Cartório.

180
• No Registro Civil de Pessoas Jurídicas também são realizadas as matrículas
de meios de comunicações, como jornais e outros periódicos; oficinas
impressoras; empresas de radiodifusão e agência de notícias.

• Para todos os atos dos meios de comunicações, é possível, por averbação,


proceder as alterações que houver posterior ao registro, em qualquer das
declarações ou documentos apresentados por ocasião da matrícula, com
prazo de oito dias, sendo que para cada declaração a ser averbada deverá
corresponder um requerimento.

CHAMADA

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AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

181
AUTOATIVIDADE

1 No Registro Civil de Pessoas Jurídicas, são registradas as associações,


fundações, os sindicatos e as sociedades. Essas sociedades apresentam uma
particularidade, porque podem ser registradas no Registro Civil de Pessoas
Jurídicas ou na Junta Comercial do Estado, conforme o caso. De modo geral,
sobre as sociedades que devem ser registradas no Registro Civil de Pessoas
Jurídicas, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sociedades simples.
b) ( ) As sociedades empresárias.
c) ( ) As sociedades anônimas.
d) ( ) A EIRELI que tem característica empresarial.

2 No Registro Civil de Pessoas Jurídicas são realizadas as matrículas dos


Meios de Comunicações. Para tanto, é necessário a observância de vários
requisitos e documentos exigidos por lei para instruir o requerimento
que será encaminhado ao registrador. Com base nas disposições da Lei nᵒ
6.015/1973 (Lei de Registros Públicos), analise as sentenças a seguir:

I- Para matrícula de empresas ou agências noticiosas, é necessário, além de


outros requisitos, informar a sede da administração.
II- Para a matrícula de empresa de radiodifusão dispensa-se, por expressa
determinação legal, a informação do local de instalação do estúdio.
III- Para matrícula de jornais e outros periódicos é necessário informar a sede
das oficinas impressoras, esclarecendo se são próprias ou de terceiros e,
indicando neste caso, os respectivos proprietários.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 Após o ato de matriculação dos meios de comunicação, estes podem sofrer,


por alguma razão, alterações nas declarações e/ou documentos apresentados
com o requerimento que foi recepcionado pelo Oficial de Registro Civil de
Pessoas Jurídicas. De acordo com as disposições da Lei nᵒ 6.015/1973 (LRP),
classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Para todos os atos dos meios de comunicação, é possível, por averbação,


proceder as alterações que houver posterior ao registro, em qualquer das
declarações ou documentos apresentados por ocasião da matrícula, com
prazo de oito dias.

182
( ) Para todos os atos dos meios de comunicação, é possível, por averbação,
proceder as alterações que houver posterior ao registro, em qualquer das
declarações ou documentos apresentados por ocasião da matrícula, com
prazo de dez dias.
( ) Para cada ato que for requerer averbação para alterar as informações e/ou
o documentos que instruíram o requerimento do registro da matrícula,
deve corresponder um requerimento respectivo.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 Sobre os jornais e outros periódicos, “quando não matriculados, ou de cuja


matrícula não constem os nomes e qualificações devidamente atualizados
do diretor, do redator ou do proprietário, há o efeito específico de atribuir à
publicação a condição de clandestinidade, conforme Art. 125 da LRP” (PAIVA;
ALVARES, 2017, p. 132). Disserte sobre os efeitos dessa clandestinidade:

5 As associações são entidades de direito privado que se constituem pela reunião


de pessoas físicas, que objetivam determinado fim comum, não lucrativo e lícito.
Todavia, para que estas possam existir no mundo jurídico é necessário o seu
registro no Registro Civil de Pessoas Jurídicas. Neste contexto, disserte sobre os
procedimentos para registro das associações no RCPJ.

183
REFERÊNCIAS
AGUIAR JÚNIOR, R. R. (coord.). Jornadas de Direito Civil I, III, IV e V
enunciados aprovados. Brasília, DF: Conselho de Justiça Federal, Centro de
Estudos Judiciários 2012. Disponível em: https://www.cjf.jus.br/cjf/corregedoria-
da-justica-federal/centro-de-estudos-judiciarios-1/publicacoes-1/jornadas-cej/
EnunciadosAprovados-Jornadas-1345.pdf. Acesso em: 10 dez. 2020.

AVERBAÇÃO. Cartório Gaúcho, Porto alegre, c2021. Disponível em:


https://cartoriogaucho.com.br/servicos/registro-de-pessoas-juridicas/
averbacao/#:~:text=%C3%89%20o%20ato%20de%20averbar,das%20
circunst%C3%A2ncias%20constantes%20do%20registro. Acesso em: 3 fev. 2021.

REGISTRO. ANOREG/BR, Brasília, DF, c2021. Disponível em:


https://www.anoreg.org.br/site/atos-extrajudiciais/registro-de-
pessoas-juridicas/registro/#:~:text=%C3%89%20o%20ato%20de%20
registrar,funda%C3%A7%C3%B5es%2C%20exceto%20as%20de%20direito.
Acesso em: 3 fev. 2021.

BRASIL. Lei nᵒ 14.063, de 23 de setembro de 2020. Dispõe sobre o uso de


assinaturas eletrônicas em interações com entes públicos, em atos de pessoas
jurídicas e em questões de saúde e sobre as licenças de softwares desenvolvidos por
entes públicos; e altera a Lei nᵒ 9.096, de 19 de setembro de 1995, a Lei nᵒ 5.991, de
17 de dezembro de 1973, e a Medida Provisória nᵒ 2.200-2, de 24 de agosto de 2001.
Brasília, DF: Diário Oficial [da] União, 2020. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/lei/L14063.htm. Acesso em: 2 fev. 2021.

BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Consulado-Geral da República


Federativa do Brasil em Frankfurt Am Main. Apostila de Haia. Frankfurt Am
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n%C3%A3o%20%C3%A9%20intermediada%20pelo&text=documentos%20
oficiais%20emitidos%20ou%20autenticados%20com%20a%20Apostila%20de%20
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184
BRASIL. Lei nᵒ 13.019, de 31 de julho de 2014. Estabelece o regime jurídico
das parcerias entre a administração pública e as organizações da sociedade
civil, em regime de mútua cooperação, para a consecução de finalidades de
interesse público e recíproco, mediante a execução de atividades ou de projetos
previamente estabelecidos em planos de trabalho inseridos em termos de
colaboração, em termos de fomento ou em acordos de cooperação; define
diretrizes para a política de fomento, de colaboração e de cooperação com
organizações da sociedade civil; e altera as Leis nᵒs 8.429, de 2 de junho de 1992, e
9.790, de 23 de março de 1999. (Redação dada pela Lei nᵒ 13.204, de 2015). Brasília,
DF: Diário Oficial [da] União, 2014. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
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PROJETO exclui tratamento de dados pessoais para fins religiosos da LGPD.


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adquire%20personalidade%20jur%C3%ADdica,do%20Trabalho%20e%2-
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188
UNIDADE 3 —

REGISTRO DE TÍTULOS E
DOCUMENTOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer uma breve história do RTD;


• analisar alguns dos princípios registrais que regem o RTD;
• definir as atribuições do RTD com a utilização de seus livros;
• conhecer algumas espécies de documentos registráveis;
• explicar o que é uma notificação extrajudicial, realizada pelo RTD;
• identificar os efeitos da notificação extrajudicial com a constituição do
devedor em mora na compra de imóvel em parcelas e na alienação fiduciária;
• conhecer a cientificação de prazo ao locatário para o exercício do direito
de preferência;
• analisar o panorama dos atos normativos que regem os RTD;
• conhecer os avanços tecnológicos com a prestação dos serviços, de modo
virtual, pelo RTD;
• identificar o cancelamento no RTD;

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – BREVE HISTÓRICO / PRINCÍPIOS / ATRIBUIÇÕES E LIVROS

TÓPICO 2 – DOCUMENTOS REGISTRÁVEIS

TÓPICO 3 – NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL / REGISTRO DE TÍTULOS


E DOCUMENTOS NA ATUALIDADE / CANCELAMENTO
DO REGISTRO

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

189
190
TÓPICO 1 —
UNIDADE 3

BREVE HISTÓRICO / PRINCÍPIOS / ATRIBUIÇÕES E LIVROS

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, neste tópico apresentamos a você uma breve história do
Registro de Títulos e Documentos para melhor situá-lo no contexto da matéria
e, ao final, levá-lo a concluir se atualmente essa prestação de serviço ainda é
essencial, frente aos avanços tecnológicos.

Ao longo do estudo você deve ter sempre em mente que estamos numa
era digital e que isso não tem mais volta, por mais romanceada que a história
possa se nos apresentar.

Abordaremos alguns dos princípios que regem as atividades registrais.


Um dos principais é o da publicidade, pois o ato praticado pelo registrador é
tornado público, inclusive passível de expedição de certidões; além de outros
como a fé pública, por exemplo, que goza o Oficial do RTD.

Ainda, você será levado a conhecer as atribuições do Registro de Títulos e


Documentos, a partir do seu conceito e da organização da serventia. É claro que
você está lembrado que esse serviço está sob o guarda-chuva do Poder Judiciário,
que tem como órgão máximo o Conselho Nacional de Justiça, o qual edita os
provimentos e orientações às Corregedorias.

Queremos relembrar você que as atribuições do RTD também são


orientadas e fiscalizadas pela Corregedoria Geral de Justiça de cada Estado; e, não
é muito repetir que dela emana o Código de Normas Extrajudiciais que também
é aplicado ao RTD.

Neste tópico, acadêmico, abordaremos também os livros utilizados no


RTD. É claro que estamos na era digital (!), todavia, a lei deve ser seguida, não é
mesmo (?), e, esses livros constam da Lei nᵒ 6.015, de 31 de dezembro de 1973 (Lei
de Registros Públicos), em seu Artigo 132.

191
UNIDADE 3 — REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS

2 BREVE HISTÓRICO DO REGISTRO DE TÍTULO E


DOCUMENTO
Esse breve histórico pretende levar você, acadêmico, a percorrer
uma linha do tempo, desde o advento da escrita, chegando aos escreventes,
formalizando o Registro de Títulos e Documentos no Brasil – com sua essência
de resguardar/preservar fatos jurídicos – até os dias de hoje, cuja prestação de
serviço é ofertada virtualmente.

2.1 O SURGIMENTO DA ESCRITA


A história de todo documento remonta da escrita, por certo. Ao comparar
a escrita com a fala, que foi o principal instrumento utilizado no tempo da
oralidade primária, diversos tipos de sinais gráficos, incluindo o alfabeto,
tonaram-se os instrumentos principais da escrita.

Lima (2015, p. 4) assevera: “A escrita foi um dos mais importantes


desenvolvimentos técnicos do ser humano”. Com a escrita, o elemento de suporte
foi o papel que “foi introduzido no mundo ocidental em meados do século XII e
difundiu-se na Europa entre os séculos XIII e XV, com a necessidade do aumento
da quantidade de novos originais e cópias de livros” (LIMA, 2015, p. 6).

O surgimento da escrita foi, sem dúvida, uma das maiores revoluções


tecnológicas da humanidade, pois introduziu muitas alterações nos hábitos
e modo de vida das pessoas, sendo “o instrumento capaz de fixar, preservar,
conservar, para resgate e difusão, presente ou no futuro, as ideias, descobertas,
segredos, planos negociações, compromissos e tantas outras informações valiosas
para os povos” (PAIVA; ALVARES, 2018, s. p.).

Comentam Paiva e Alvares (2018, s. p., grifo do original) que mesmo com
todo esse entusiasmo, “O problema que surgiu, logo a seguir, foi resolver como
os escritos poderiam ter fé ou confiabilidade suficiente para que se afirmassem
como verdadeiros, autênticos, originais, quando realizados no passado, de modo
a serem respeitados, produzindo efeitos no futuro”.

Paiva e Alvares (2018, s. p., grifo do original) deduzem que “daí surgiu a
atividade dos escreventes como encargo de caráter público” (pessoas incumbidas
pelo governo) para escreverem o que a população declarasse perante eles; tinham
a prerrogativa da autenticidade e guardavam consigo tais escritos para serem
consultados, no caso de surgimento de dúvidas futuras das declarações prestadas
ou pactos realizados.

192
TÓPICO 1 — BREVE HISTÓRICO / PRINCÍPIOS / ATRIBUIÇÕES E LIVROS

2.2 A HISTÓRIA DO REGISTRO DE TÍTULOS E


DOCUMENTOS NO BRASIL
Sobre a história do Registro de Títulos e Documentos no Brasil, o que se
percebe é que este sempre esteve junto com o Registro Civil de Pessoas Jurídicas.

Por isso, ao tecerem esse relato, Paiva e Alvares (2018) o fazem com a
memória da tradição histórica do caráter cumulativo de atribuir-se ao mesmo
Oficial do Registro Civil de Pessoas Jurídicas, o Registro de Títulos e Documentos.

Ambos foram instituídos somente no período republicano, por meio


da Lei nᵒ 973, de 2 de janeiro de 1903, ao criar o registro facultativo de títulos,
documentos e outros papéis, na Capital Federal, passando essa atribuição a um
oficial privativo e retirando essa atribuição dos Tabeliães de Notas. Nesse mesmo
ano, elucidam Paiva e Alvares (2018, s. p.):

[...] de acordo com o que estabeleceu o Decreto n. 4893, a esse oficial


privativo foi atribuído o registro das sociedades civis (religiosas,
científicas, artísticas, políticas, recreativas e outras), que era realizado
até então pelos oficiais do registro hipotecário. Foi também em razão
das disposições ditadas por essas normas fundadoras que se atribuiu a
esse órgão o caráter residual da competência registral que o caracteriza
até os nossos dias, tal seja, a de realizar quaisquer registros não
atribuídos privativamente a outros órgãos registrais.

A Lei nᵒ 973/1903 foi regulamentada pelo Decreto nᵒ 4.775, de 16 de


fevereiro de 1903, cujo órgão passou a chamar-se “Ofício do Registro Especial”.
Essa expressão se tornou tão tradicional que continuou sendo utilizada na
vigência da Lei nᵒ 6.015/73 para designação, sob uma só expressão, daquela dupla
atribuição registral (PAIVA; ALVARES, 2018, s. p.). Traçando um paralelo com
as referências históricas e com as atuais, no aspecto legislativo, Paiva traz uma
reflexão sobre o que foi resguardado pelo tempo:

Esses grandes traços característicos imprimidos pelas disposições


legislativas originais do registro de títulos, documentos e pessoas
jurídicas, no país, mantiveram-se, em sua maioria, ao longo do tempo,
por meio da legislação posteriormente editada em matéria de registros
públicos, tendo seus principais institutos, chegado à atualidade,
mantendo as linhas gerais das primeiras concepções de sua disciplina
jurídica no país (PAIVA; ALVARES, 2018, s. p.).

Em 1924, foi realizada uma grande alteração na legislação nacional, com a


edição do Decreto nᵒ 4.827, com a unificação dos registros públicos civis previstos
pelo Código Civil de 1916. Mais tarde, em pleno Estado Novo, sob a Constituição
de 1937, foi editado o Decreto nᵒ 4.857, de 9 de novembro de 1939, com a renovação
da disciplina de execução dos serviços relacionados aos registros públicos, o qual
se manteve até a vigência da atual legislação, segundo Paiva e Alvares (2018).

193
UNIDADE 3 — REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS

FIGURA 1 – DOCUMENTOS HISTÓRICOS

FONTE: <https://www.anoreg.org.br/site/wp-content/uploads/2018/08/bloggif_5b72e701a58b3.jpeg>.
Acesso em: 9 fev. 2021.

Interessante o curso da história, com o meio utilizado, seja madeira, pedra,


pele de animais, tecido, papiro, papel e até virtualmente, como nos dias de hoje,
sempre há no homem a necessidade de se registrar, de se resguardar, ou de deixar
sob a guarda de alguém a consignação de fatos, atos e negócios jurídicos, para
proporcionar sua conservação, publicidade, autenticidade e efeitos em relação a
terceiros, conforme ensinam Paiva e Alvares (2018).

2.3 O REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS NA


ATUALIDADE
E como está hoje, acadêmico? Atualmente temos a Associação dos
Notários e Registradores do Brasil (ANOREG), que tem auxiliado na publicação
das atribuições dos registradores.

E na evolução do contexto histórico, o que se percebe na práxis são os


serviços virtuais, sendo oferecidos diretamente nas serventias que prepararam
suas plataformas ou pela Central Nacional de Registro de Títulos e Documentos
e de Pessoas Jurídicas criada pelos próprios Oficiais de Registro do Brasil, por
meio de deliberação em assembleia geral realizada em 12 de novembro de 2012.
Segundo dispõe o sítio eletrônico da Central Nacional do Cartórios TD & PJ “A
criação da Central visou atender às disposições dos Artigos 37 a 39 da Lei nᵒ
11.977/2009, tendo sido posteriormente normatizada com a edição do Provimento
48 do CNJ. Atualmente, a Central RTDPJ Brasil atua nos 26 estados brasileiros e
no Distrito Federal” (CENTRAL NACIONAL, 2021, s. p.).

194
TÓPICO 1 — BREVE HISTÓRICO / PRINCÍPIOS / ATRIBUIÇÕES E LIVROS

FIGURA 2 – HOME PAGE DA CENTRAL RTDPJ BRASIL

FONTE:<http://www.rtdbrasil.org.br/>. Acesso em: 9 fev. 2021.

DICAS

O que faz a Central Nacional de Registro de Títulos e Documentos e de


Registro Civil de Pessoas Jurídicas? Essas informações você encontra na íntegra em: http://
www.rtdbrasil.org.br/.

FIGURA 3 – SERVIÇOS PRESTADOS VIRTUALMENTE PELA CENTRAL RTDJ BRASIL

FONTE: <http://www.rtdbrasil.org.br/>. Acesso em: 9 fev. 2021.

TUROS
ESTUDOS FU

Perceba, acadêmico, que na gama dos serviços apresentados pela Central RTDJ
Brasil (Figura 3), aparece a coleta de assinaturas com certificado digital e autenticação de
LIVRO SPED. Sobre o “LIVRO SPED”, veja as anotações adiante, no Subtópico 5.4.

195
UNIDADE 3 — REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS

Feitas essas linhas do aspecto histórico do Registro de Títulos e


Documentos: sua trajetória, desenvolvimento até os dias atuais, passaremos,
agora, aos princípios que regem as atividades registrais.

3 PRINCÍPIOS QUE REGEM AS ATIVIDADES DO REGISTRO


DE TÍTULOS E DOCUMENTOS
Estamos na Unidade 3 da disciplina de Elementos dos Registros Públicos,
e você, acadêmico, já na primeira unidade, pôde perceber alguns apontamentos
desses princípios. O que se pretende aqui não é reprisar o tema, mas sim apresentá-
lo de maneira mais conceitual, em que pese, serão desenvolvidos apenas alguns
princípios, o que se reputa os mais importantes.

3.1 PRINCÍPIO DA CONCENTRAÇÃO


O princípio da concentração visa manter as informações de forma
aglutinada na serventia registral, com relação às informações com o mesmo
interesse, em um mesmo acervo, de modo a dar maior eficácia ao serviço. Refere-
se à própria prática dos atos ou anotações relativas à mesma pessoa, por exemplo.
É um reflexo do princípio da publicidade.

3.2 PRINCÍPIO DA EFICÁCIA PREDETERMIADA


Nas lições de Paiva e Alvares (2018, s. p.), “A lei estabelece previamente a
carga de eficácia que cada registro outorga. Dessa forma, pode-se levar ao RTD
qualquer espécie documental, mas o registro lhe conferirá efeitos específicos”.
Ocorrendo o registro pleiteado, o interessado, já conhece, previamente, os efeitos
conferidos ao seu direito.

3.3 PRINCÍPIO DA FÉ PÚBLICA


Pela disposição do Art. 3ᵒ da Lei nᵒ 8.935/1994 – “Notário, ou tabelião,
e oficial de registro, ou registrador, são profissionais do direito, dotados de fé
pública, a quem é delegado o exercício da atividade notarial e de registro” (BRASIL,
1994, grifo nosso). A fé pública faz parte da atribuição do registrador, consistindo
na certeza e veracidade dos atos praticados, cujos atos são representados por
certidões por ele geradas com autenticidade, segurança e eficácia jurídica.

196
TÓPICO 1 — BREVE HISTÓRICO / PRINCÍPIOS / ATRIBUIÇÕES E LIVROS

3.4 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE


O princípio da legalidade parece bem óbvio porque deve haver uma
previsão legal sempre. Entretanto, Paiva e Alvares (2018) complementam, com
mais propriedade, iniciando seu discurso com a delegação que o Estado dá aos
registradores, outorgando-lhes fé pública para,

[...]Como profissionais do Direito, organizarem tecnicamente a


atividade e conferirem autenticidade, segurança e eficácia aos atos
jurídicos na forma preconizada pela lei civil.
Dessa forma, quanto à realização dos atos registrais, e à aplicação da
legislação que lhes é peculiar, induvidosamente, incide o princípio
constitucional da legalidade, referido no caput do Art. 37 da Constituição
da República, como grande princípio orientador da Administração
Pública brasileira, já que, em relação aos particulares em geral, aos
quais os atos registrais são dirigidos, também é assegurado esse
princípio, enquanto direito fundamental (inciso II do Art. 5ᵒ da
Constituição) (PAIVA; ALVARES, 2018, s. p., grifo do original).

Paiva e Alvares (2018) concluem que, com a lógica do sistema, apontando o


Art. 198 da LRP, o qual diz respeito ao procedimento de dúvida registral – chamada
suscitação de dúvida – qualquer exigência feita pelo registrador em sua impugnação
escrita deve estar de acordo com a lei, “revelando a predominância do princípio da
legalidade no âmbito dessa atividade registral, o que não poderia ser de outra forma,
já que, se é garantido a todos os cidadãos somente fazer ou deixar de fazer alguma
coisa sendo em virtude de lei” (PAIVA; ALVARES, 2018, s. p.).

Os limites da ação do Estado, por seus agentes, também devem ser fixados,
ante a cidadania, inclusive no âmbito dos registros públicos.

3.5 PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE


Como o próprio nome já sugere, o princípio da publicidade visa tornar
público os atos praticados pelo RTD. O ato registrado é suscetível de emissão de
certidões a qualquer pessoa.

Paiva e Alvares (2018, s. p., grifo do original) admitem que:

a publicidade relativa ao ato de registro em títulos e documentos é


a mais ampla e eclética dentre as espécies registrais, notabilizou-se
por conferir publicidade a uma imensa variedade de títulos, papéis e
documentos passíveis de ingresso nesse órgão específico, [...] a partir
do efeito publicitário, a agregação de eficácia probatória (Art. 127, I
da LRP), eficácia conservativa (Art. 127, VII, da LRP), que o registro
existe e foi regularmente realizado, o que é demonstrado pela competente
certidão dos atos registrados (Arts. 16 a 21 da Lei n. 6.015/73 e Art. 1ᵒ
da Lei n. 8.935/94).

197
UNIDADE 3 — REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS

Como já dito, acadêmico, delimitamos apenas alguns princípios que


norteiam as atividades dos Registros de Títulos e Documentos. Na sequência,
analisaremos o conceito dessa atividade registral.

4 CONCEITO
O vocábulo registrar, desde as primeiras civilizações, sempre teve um
sentido básico de consignar por escrito, inscrever, historiar, como bem nos
lembram Paiva e Alvares (2018).

Para apresentar o conceito de Registro de Títulos e Documentos vamos


içar a doutrina de Natália Gonçalves da Rocha Loures Demchuk (2020, p. 89),
para quem:

O Registro de Títulos e Documentos é o serviço capacitado a registrar


todo e qualquer documento, instrumento ou texto que não seja de
atribuição específica de outra serventia ou qualquer outro órgão
oficial de registro. [...] é perfeitamente possível que certos documentos
registráveis em outros órgãos oficiais sejam registrados para efeitos
de guarda e conservação no Registro de Títulos e Documentos, após
registrado no órgão de atribuição originária para registro.

Denomina-se Registro de Títulos e Documentos o órgão registral


incumbido, na forma da lei. Paiva e Alvares (2018, s. p.) afirmam que:

[...] como principal e preponderante atribuição à realização do registro


destinado a conferir, ao instrumento particular que prova as obrigações
convencionais de qualquer valor, desde que feito e assinado, ou
somente assinado, por quem esteja na livre disposição e administração
de seus bens, bem como ao instrumento da respectiva cessão de
direito, os efeitos em relação a terceiros, na forma estabelecida pelo
Art. 221 do Código Civil, especialmente quando essas obrigações não
sejam convencionadas em relação aos bens imóveis.

O Registro de Títulos e Documentos é uma das espécies de serviços


de registros públicos estabelecidos no Art. 236 da Constituição da República
Federativa do Brasil (1988), que são exercidos em caráter privado, por delegação
do Poder Judiciário, conforme já estudamos na Unidade 1.

Após essas breves linhas com o conceito do Registro de Títulos e


Documentos, analisaremos a organização dessa serventia registral.

198
TÓPICO 1 — BREVE HISTÓRICO / PRINCÍPIOS / ATRIBUIÇÕES E LIVROS

5 ATRIBUIÇÕES
As atribuições dos Registros de Títulos e Documentos estão dispostas nos
Arts. 127 e seguintes da Lei nᵒ 6.015, de 31 de dezembro de 1973 (Lei de Registros
Públicos), e visam arquivar, dar publicidade, dar validade inclusive contra
terceiros e perpetuar os negócios realizados entre pessoas físicas e/ou jurídicas. 

Não é demais repetir, acadêmico, que as principais funções no Registro
de Títulos e Documentos são a publicidade e a conservação de documentos em
sentido amplo para a produção de efeitos jurídicos perante terceiros, fixando o ato
praticado no tempo e no espaço, ou seja, definindo quando e onde foi registrado,
que, nas palavras de Demchuk (2020, p. 89), “para fixação da data do documento
evitando a simulação, bem como para mera conservação de meio de prova ou
início de prova escrita”. A autora também enfatiza que outra função importante
do RTD é a de notificar as pessoas indicadas pelo interessado, atendendo seu
pedido escrito e mediante pagamento de emolumentos e diligências devidos. A
notificação será realizada pelo registrador ou escrevente autorizado, assegurando
se a notificação foi recebida ou recusada (DEMCHUK, 2020).

TUROS
ESTUDOS FU

Acadêmico, dê atenção ao comentário da autora sobre a importante função


do RTD com a notificação de pessoas que será realizada pelo registrador ou escrevente
autorizado, porque no Tópico 3 você vai precisar dessa informação, pois é com essa
NOTIFICAÇÃO que o devedor é constituído em mora, no caso de informar o inquilino do
seu direito de preferência, por exemplo.

5.1 REGISTRO
A Associação dos Notários e Registradores do Brasil (ANOREG),
apresenta, em seu sítio eletrônico, específicamente “o que é” o registro de
títulos e documentos e “como é feito”, conforme você pode contemplar no
excerto a seguir:

O que é?
O registro de títulos e documentos é uma forma de garantir autenticidade,
conservação, publicidade e segurança de um documento original.
Qualquer documento registrado tem uma segurança permanente. Você
não precisa mais se preocupar com o extravio da sua via. Isto porque, a
qualquer tempo, poderá obter uma cópia idêntica e com a fé pública de
que o Cartório dispõe. Essa certidão tem o mesmo valor do original, em
juízo ou fora dele. Qualquer tipo de documento pode ser registrado em
RTD para efeito de conservação, garantindo sua data e a integralidade do
texto (inciso VII, Art. 127, da Lei 6.015/73).

199
UNIDADE 3 — REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS

Como é feito?
Para realizar o registro de um título ou documento basta comparecer
a um cartório do registro de títulos e documentos, munido do
documento original ao qual se deseja registrar (REGISTRO, 2020).

Com relação ao registro, é importante conhecer o PRAZO, conferido por lei,


para a prática do ato pelo Oficial registrador. E, neste quesito, invocamos o disposto
no Art. 130 da Lei nᵒ 6.015/1973, que dá um prazo de 20 (vinte) dias da data da
assinatura do documento para que ele seja registrado em Títulos e Documentos:

Art. 130. Dentro do prazo de vinte dias da data da sua assinatura


pelas partes, todos os atos enumerados nos Arts. 127 e 129 serão
registrados no domicílio das partes contratantes e, quando residam
estas em circunscrições territoriais diversas, far-se-á o registro em
todas elas. (Renumerado do Art. 131 pela Lei nᵒ 6.216, de 1975).
Parágrafo único. Os registros de documentos apresentados, depois
de findo o prazo, produzirão efeitos a partir da data da apresentação
(BRASIL, 1973).

Tendo em mente o que é o ato de registrar no Registro de Títulos e


Documentos, e o prazo para tal, passamos para mais outra atribuição dessa
serventia – a averbação.

5.2 AVERBAÇÃO
Sobre a averbação, no Registro de Títulos e Documentos, a Associação
dos Notários e Registradores do Brasil (ANOREG), também apresenta em seu
sítio eletrônico, didaticamente, “o que é”, “como é feito” e dá uma referência de
“quanto custa”.

O que é?
É o ato de anotar um fato jurídico que modifica ou cancela o conteúdo de
um registro e é feita na sua margem direita já apropriada para este fim.
Como é feito?
Para realizar a averbação em um registro de título e documento, o
interessado deve comparecer ao cartório munido dos documentos com
a averbação que será feita, para que o registrador realize a correção no
documento depositado na serventia.
Quanto custa?
O preço é tabelado por lei em todos os cartórios do País. Para verificar
os valores, consulte Tabela de Emolumentos (AVERBAÇÃO, 2021, s. p.).

Daremos continuidade com outra atividade do Registro de Títulos e
Documentos, também conhecida de outras serventias registrais – a certidão.

200
TÓPICO 1 — BREVE HISTÓRICO / PRINCÍPIOS / ATRIBUIÇÕES E LIVROS

5.3 CERTIDÃO
Outra importante função do registrador é a emissão de certidões. “Os
oficiais de registro estão obrigados a fornecer às partes as informações solicitadas,
o que se realiza, ordinariamente, por meio de certidões, por eles lavradas, acerca
do que lhes for requerido” (PAIVA; ALVARES, 2018, s. p.).

Igualmente, sobre a emissão de certidão a Associação dos Notários e


Registradores do Brasil (ANOREG), apresenta, em seu sítio eletrônico “o que é”,
“como é feito”, e também referencia “quanto custa”.

O que é?
Certidões são a reprodução autêntica do documento original registrado
a partir da sua imagem arquivada em microfilme.
Como é feito?
As certidões extraídas em Títulos e Documentos têm o mesmo valor
do original, conforme dispõe o Artigo 217 do Código Civil:
‘Art. 217. Terão também a mesma força probante os translado e as
certidões extraídas por tabelião ou oficial de registro, de instrumentos
ou documentos lançados em suas notas. ’
Assim, em muitos casos, é saudável utilizar a certidão e manter
guardado o original de um documento importante. Deve-se também
considerar a tranquilidade de ter um documento importante
registrado, no caso dele ser extraviado, perdido, destruído etc.
O registro garante a certidão que pode ser extraída sem burocracia
e sem dificuldades, pois, conforme previsto no Artigo 17 da Lei de
Registros Públicos, “qualquer pessoa pode requerer certidão do
registro sem informar ao oficial ou aos funcionários o motivo ou
interesse do pedido”.
Quanto custa?
O preço é tabelado por lei em todos os cartórios do País. Para verificar
os valores, consulte Tabela de Emolumentos (CERTIDÕES, 2021, s. p.).

Qualquer pessoa pode requerer certidão, sem, contudo, informar o


motivo, com base no Art. 17 da LRP.

As certidões serão lavradas em inteiro teor, em resumo, ou em relatório,


conforme quesitos, e devidamente autenticadas pelo oficial ou seus substitutos
legais, pelo prazo de cinco dias, cujas especificações constam do Art. 19 da LRP.

Havendo alteração no ato registrado após o pedido de certidão, deve


ser mencionada, sem prevalecer as especificações do pedido, sob pena de
responsabilidade civil e penal, nos termos do Art. 21 da LRP. O parágrafo único
do Art. 17, da LRP, incluído pela Lei nᵒ 11.977/2009, acrescenta que:

O acesso ou envio de informações aos registros públicos, quando forem


realizados por meio da rede mundial de computadores (internet) deverão
ser assinados com uso de certificado digital, que atenderá os requisitos da
Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileiras – ICP (BRASIL, 2009).          

201
UNIDADE 3 — REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS

5.4 AUTENTICAÇÃO DE LIVRO SPED  


O que é SPED (Sistema Público de Escrituração Digital)?

O SPED é instrumento que unifica as atividades de recepção, validação,


armazenamento e autenticação de  livros  e documentos que integram
a escrituração comercial e fiscal dos empresários e das sociedades
empresárias, mediante fluxo único, computadorizado, de informações
(PORTAL TRIBUTÁRIO, 2021, s. p.).

O artigo de Júlio César Teixeira (2019, s. p., grifo nosso) nos orienta com
relação à criação do SPED: “O germe do SPED está contido na Lei 9.989/2000
(Plano Plurianual), na qual havia a previsão da modernização das administrações
tributárias e aduaneiras”.

E o autor conclui que “Após várias idas e vindas, sejam por questões
econômicas ou políticas, em 2007, foi editado o Decreto 6.022, que efetivamente
criou o SPED” (TEIXEIRA, 2019, s. p.).

E, quanto ao objetivo do SPED, colhe-se do mesmo artigo: “O objetivo


principal do SPED é tornar o processo de relacionamento entre fisco e
contribuintes mais eficaz, reduzindo custos e tempo no cumprimento das
chamadas obrigações tributárias acessórias, que passam a ser entregues em
formato digital” (TEIXEIRA, 2019, s. p.).

FIGURA 4 – ESCRITURAÇÃO DIGITAL

FONTE: <https://fia.com.br/blog/wp-content/uploads/2019/01/SPED-o-que-e-para-que-serve-
como-fazer-guia-completo-730x487.jpg>. Acesso em: 9 fev. 2021.

Como você pôde observar acadêmico, a importância de autenticar esses


livros digitais no Registro de Títulos e Documentos aponta para uma necessidade
cada vez mais presente, de modo que você precisa estar capacitado para tanto.

202
TÓPICO 1 — BREVE HISTÓRICO / PRINCÍPIOS / ATRIBUIÇÕES E LIVROS

5.5 APOSTILAMENTO DA HAIA


Sobre o Apostilamento da Haia, novamente é a Associação dos Notários
e Registradores do Brasil (ANOREG), apresenta, em seu sítio eletrônico,
algumas especificações:

O que é?

A Apostila é um certificado de autenticidade emitido por países


signatários da Convenção da Haia, promulgada no Brasil pelo Decreto
8.660/2016, que é colocada em um documento público para atestar sua origem
(assinatura, cargo de agente público, selo ou carimbo de instituição). Esse
documento público apostilado será apresentado em outro país, também
signatário da Convenção da Haia, uma vez que a apostila só é válida entre
países signatários.

O apostilamento foi instituído para substituir a legalização de


documentos, que eram feitos através dos consulados, muitas vezes complicado,
demorado e dispendioso.

A Convenção da Apostila somente se aplica quando o país onde o


documento público foi emitido (origem) e o país em que o documento seja
utilizado (destino) forem partes da Convenção.

A lista completa e atualizada dos países em que a Convenção é


aplicada pode ser verificada neste link: https://www.hcch.net/es/instruments/
conventions/status-table/?cid=41.

Como é feito?

A apostila deverá ser providenciada quando for necessário apresentar


algum documento em outro país que não seja aquele no qual foi emitido.

Nesses casos, a emissão da apostila garantirá o reconhecimento da


autenticidade da assinatura do agente público competente dotado de fé pública
ou do notário que tenha reconhecido a firma do documento no país onde foi
emitido. Lembrando que ambos os países, de origem e de destino, devem ser
signatários da Convenção da Apostila e que o documento em questão deve ser
considerado público, no país em que foi emitido.

Para isso, basta o interessado levar os documentos com destino ao


exterior, para que sejam apostilados por um tabelião de notas de sua preferência.
A aposição da apostila será feita no próprio documento, após conferência da
autenticidade da assinatura do respectivo emissor.

203
UNIDADE 3 — REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS

Podem ser apostilados: escrituras públicas, certidões do registro civil,


documentos empresariais, diploma universitário (histórico escolar), traduções
juramentadas, dentre outros.

Onde fazer?

Nos cartórios cadastrados e autorizados, conforme lista divulgada pelo


Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Precisa traduzir o documento para o idioma do país destinatário?

A necessidade de tradução juramentada dos documentos brasileiros


dependerá das exigências do país onde o documento será apresentado. O CNJ
decidiu que documentos lavrados em língua estrangeira devem ser traduzidos
e a tradução juramentada será objeto de apostilamento próprio.

Quanto custa?

Cada apostila custará o mesmo valor de uma procuração pública sem


valor econômico.

O preço é tabelado por lei em todos os cartórios do País. Para verificar


os valores, consulte Tabela de Emolumentos.

FONTE: <https://www.anoreg.org.br/site/atos-extrajudiciais/registro-civil/
apostilamento/#:~:text=O%20que%20%C3%A9%3F,selo%20ou%20carimbo%20de%20
institui%C3%A7%C3%A3o)>. Acesso em: 8 fev. 2021.

O Apostilamento da Haia, acadêmico, já fez parte também dos estudos das


unidades anteriores, de modo que, abreviamos aqui, apenas com a apresentação da
ANOREG. Agora, seguimos para o próximo item que são os livros.

6 LIVROS
A Lei de Registros Públicos dispõe no Art. 132, I a IV, que existem os
seguintes livros:

• Livro A – protocolo, para apontamento de todos os títulos, documentos e


papéis apresentados, diariamente, para serem registrados, ou averbados;
• Livro B – para trasladação integral de títulos e documentos, sua conservação e
validade contra terceiros, ainda que registrados por extratos em outros livros;
• Livro C – para inscrição, por extração, de títulos e documentos, a fim de
surtirem efeitos em relação a terceiros e autenticação de data;

204
TÓPICO 1 — BREVE HISTÓRICO / PRINCÍPIOS / ATRIBUIÇÕES E LIVROS

• Livro D – indicador pessoal, substituível pelo sistema de fichas, a critério e sob


a responsabilidade do oficial, o qual é obrigado a fornecer, com presteza, as
certidões pedidas pelos nomes das partes que figurarem, por qualquer modo,
nos livros de registros.

Esses livros devem conter 300 (trezentas) folhas; todavia, fica a critério
do registrador a adoção de livros com menos quantidade de folhas, conforme
julgue conveniente segundo sua organização técnica, podendo reduzir para até
100 (cem) folhas, conforme reza o Art. 5ᵒ da LRP.

Segundo Paiva e Alvares (2018, s. p.) “Desde o advento da LRP, não mais
é necessário submeter à aprovação do juiz competente a abertura e encerramento
dos livros de escrituração do serviço registral (Art. 4ᵒ da Lei n. 6.015/73), ficando
essa tarefa a cargo do oficial do registro”. Nos termos do § 1ᵒ do Art. 3ᵒ da LRP,
as dimensões dos livros serão estabelecidas pelo registrador de acordo com a
conveniência do serviço.

Os livros podem ser encadernados, para escrituração manuscrita, ou em


folhas soltas, para escrituração mecânica, conforme Art. 3ᵒ, § 2ᵒ, da LRP, sendo
facultado ao registrador efetuar o registro por meio de microfilmagem, desde que,
por lançamentos remissivos, com menção ao protocolo, ao nome dos contratantes, à
data e à natureza dos documentos apresentados, sejam os microfilmes havidos
como partes integrantes dos livros de registro, nos seus termos de abertura e
encerramento – Art. 141 da LRP (BRASIL, 1973). 

Findando-se um livro, o imediato tomará o número seguinte, acrescido à


respectiva letra (Art. 6ᵒ da LRP). Exemplo: A-1, A-2, A-3 etc., B-1, B2, B-3 etc., e
assim indefinidamente.

A Lei de Registros Públicos também considera o caso de afluência de


serviço, no Art. 134, dispondo que, nesse caso, poderá ocorrer “o desdobramento
dos livros de registro para escrituração das várias espécies de atos, sem prejuízo
da unidade do protocolo e de sua numeração em ordem rigorosa” (BRASIL,
1973). O Parágrafo único dispõe que os livros desdobrados terão as indicações de
E, F, G, H etc.

Conforme reza o Art. 133 da LRP: “Na parte superior de cada página
do livro se escreverá o título, a letra com o número e o ano em que começar”
(BRASIL, 1973).

E, ainda, em conformidade com o Art. 7ᵒ da LRP, “Os números de ordem


dos registros não serão interrompidos no fim de cada livro, mas continuarão,
indefinidamente, nos seguintes da mesma espécie” (BRASIL, 1973).

205
UNIDADE 3 — REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS

Essas foram as necessárias notas dos livros utilizados no Registro de


Títulos e Documentos; sempre lembrando, acadêmico, que você deve perseguir
o conhecimento, em especial, agora, em tempos de inovações tecnológicas, pois
toda essa gama de livros remonta ainda a ideia de uma prestação de serviço
“físico” e burocratizado, o que hodiernamente já está sendo ultrapassado frente a
inteligência artificial e tantos avanços. Por isso, fica o alerta para que você evolua
também! De nossa parte o que trazemos são, muitas vezes, questões teóricas
que visam assegurar seu êxito em eventual pleito profissional, todavia, fica a
advertência que a práxis já está a exigir outras e novas ferramentas.

Concluímos este primeiro tópico da Unidade 3 que trata do Registro de


Títulos e Documentos. Vamos, agora, desbravar as espécies registrais, ou seja,
quais documentos você pode registrar nessa serventia. Seguimos para o Tópico 2!

206
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Do contexto histórico do Registro de Títulos de Documentos se percebe


atualmente, na prática, a oferta dos serviços virtuais, sejam diretamente nas
serventias que prepararam suas plataformas, quer sejam pela Central Nacional
de Registro de Títulos e Documentos e de Pessoas Jurídicas, criada pelos
próprios Oficiais de Registro do Brasil por meio de deliberação em assembleia
geral realizada em 12 de novembro de 2012. Atualmente, a Central RTDPJ
Brasil atua nos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal.

• Os princípios que regem as atividades dos Registros de Títulos e


Documentos, são:
◦ PRINCÍPIO DA CONCENTRAÇÃO – que visa manter as informações de forma
aglutinada na serventia registral, de modo a dar maior eficácia ao serviço.
◦ PRINCÍPIO DA EFICÁCIA PREDETERMIADA – Pode-se levar ao RTD
qualquer espécie de documento, mas o registro lhe conferirá efeitos
específicos, e quando ocorrer o registro, o interessado, já conhece,
previamente, os efeitos conferidos ao seu direito.
◦ PRINCÍPIO DA FÉ PÚBLICA – a fé pública faz parte da atribuição do
registrador, consistindo na certeza e veracidade dos atos praticados, cujos
atos são representados por certidões por ele geradas com autenticidade,
segurança e eficácia jurídica.
◦ PRINCÍPIO DA LEGALIDADE – a atividade é prevista em lei e confere
autenticidade, segurança e eficácia aos atos jurídicos.
◦ PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE – visa tornar público os atos praticados pelo
RTD. O ato registrado é suscetível de emissão de certidões a qualquer pessoa.

• As atribuições dos Registros de Títulos e Documentos visam arquivar, dar
publicidade, dar validade aos atos jurídicos convertidos em documentos,
inclusive contra terceiros, e perpetuar os negócios realizados entre pessoas
físicas e/ou jurídicas. No RTD são feitos:
◦ REGISTRO
◦ AVERBAÇÃO
◦ AUTENTICAÇÃO DE LIVRO SPED
◦ APOSTILAMENTO DA HAIA

• O prazo para registro é de 20 dias contados da assinatura do documento


pelas partes.

• Que existem os Livros A, B, C e D no RDT.

207
AUTOATIVIDADE

1 No escorço histórico do Registro de Títulos e Documentos, percebemos que


tudo começa com a escrita, que levou aos escribas, e também à descoberta
do papel, chegando nos escreventes. No Brasil – escrevente – era um cargo
que o governo concedia a alguém que ouvisse e guardasse, com segurança,
os negócios de quem o procurava, para que, havendo dúvida mais tarde,
havia esse “registro”. Essa ideia evoluiu chegando ao que temos hoje como
o Registro de Títulos e Documentos. Hodiernamente, a prática registral é
realizada de modo virtual também. Sobre esta prática virtual do serviço
no RTD, existe uma Central, assinale a alternativa CORRETA a respeito da
Central comentada:

a) ( ) Central Nacional de Registro de Títulos e Documentos e de Pessoas


Jurídicas, criada pelos próprios Oficiais de Registro do Brasil em 2012 –
Central RTDJ Brasil.
b) ( ) Central Nacional de Registro das Pessoas Naturais e de Registro de
Títulos e Documentos, criada em setembro de 2020.
c) ( ) Central Nacional de Registro de Títulos e Documentos, criada pelo
Instituto Brasileiro de Registro de Títulos e Documentos, criada em
abril de 2019.
d) ( ) Central de Registro de Títulos e Documentos e de Pessoas Jurídicas do
Estado de São Paulo, criada em julho de 2019 – Central RTDJSP.

2 A atividade do Registro de Títulos e Documentos visa arquivar, dar


publicidade, validade aos atos jurídicos, inclusive contra terceiros,
perpetuando os negócios realizados entre as pessoas físicas e/ou jurídicas.
Para tanto, essas atividades norteiam-se por vários princípios, analise as
sentenças a seguir:

I- PRINCÍPIO DA FÉ PÚBLICA – a fé pública faz parte da atribuição do


registrador, consistindo na certeza e veracidade dos atos praticados, cujos
atos são representados por certidões por ele geradas com autenticidade,
segurança e eficácia jurídica.
II- PRINCÍPIO DA EFICÁCIA PREDETERMINADA – Pode-se levar ao
RTD qualquer espécie de documento, mas o registro lhe conferirá efeitos
específicos, e quando ocorrer o registro, o interessado, só conhecerá os
efeitos conferidos ao seu direito 60 (sessenta) dias após o registro.
III- PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE – visa tornar público os atos praticados
pelo RTD. O ato registrado é suscetível de emissão de certidões a
qualquer pessoa.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

208
3 As atribuições do Registro de Títulos e Documentos visam arquivar, dar
publicidade, dar validade aos atos jurídicos convertidos em documentos,
inclusive, contra terceiros, e perpetuar os negócios realizados entre pessoas
físicas e/ou jurídicas. Para tanto, são praticados alguns atos. Classifique V
para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Registro. 
( ) Apostilamento de cartas.
( ) Averbação.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 Uma das recentes atribuições do Registro de Títulos e Documentos é o


APOSTILAMENTO DA HAIA, instituído para substituir a legalização de
documentos, que eram feitos pelos consulados, muitas vezes complicados,
demorados e dispendiosos para o trânsito de documentos entre países. A
Convenção da Apostila somente se aplica quando o país onde o documento
público foi emitido (origem) e o país em que o documento seja utilizado
(destino) forem partes da Convenção. O Apostilamento pode ser realizado
em qualquer serviço notarial ou registral. Conforme já analisamos nas
unidades anteriores, o Conselho Nacional de Justiça criou um sistema
próprio denominado Apostil, que está disponível aos registradores para
instalação em suas bases. Considere as orientações que você já recebeu do
Apostilamento e disserte sobre como ele deve ser providenciado, na prática.

5 As novidades nos serviços do Registro de Títulos e Documentos não cessam.


Quem imaginou que, com as inovações tecnológicas, os cartórios ficariam
ultrapassados, se deu mal, pois agora, mais do que nunca, surgem novas
modalidades de instrumentos, os quais requerem segurança jurídica, e fontes
de autenticações e conservação dos atos. É o caso da AUTENTICAÇÃO DE
LIVRO SPED. No entanto, o que vem a ser isso? Disserte sobre “SPED”.

209
210
TÓPICO 2 —
UNIDADE 3

DOCUMENTOS REGISTRÁVEIS

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, acadêmico, abordaremos as espécies de documentos
registráveis no Registro de Títulos e Documentos. Contudo, você ainda deve
estar se perguntando: isso realmente é necessário, ou é um serviço facultativo às
pessoas? Se for facultativo, por que tanta preocupação, não é mesmo? E, qual a
importância e validade de se registrar um documento?

Começa a ficar interessante, quando o que temos a fazer é buscar as
respostas, certo? E é com esta motivação que iniciamos mais este tópico para levar
a você, acadêmico, as informações deste importante tema, e já podemos adiantar,
que: SIM(!), o serviço do Registro de Títulos e Documentos, diferente do Registro
Civil de Pessoas Naturais e Jurídicas, é facultativo; todavia, deveras importante,
por conservar no tempo e no espaço os atos e fatos jurídicos, dando proteção e
assegurando veracidade – o que resulta em segurança jurídica.

É verdade que se trata de uma atividade pouco conhecida e utilizada pela


população em geral, mas saiba que é de grande valia ao cotidiano dos negócios
jurídicos na Sociedade. Basicamente, no Registro de Títulos e Documentos, pode
se registrar todos os documentos, contratos e instrumentos que não têm previsão
legal de registro em outra Serventia Registral, conforme preconiza o parágrafo
único do Art. 127 da Lei nᵒ 6.015, de 31 de dezembro de 1973 (Lei de Registros
Públicos – LRP), “Caberá ao Registro de Títulos e Documentos a realização de
quaisquer registros não atribuídos expressamente a outro ofício” (BRASIL, 1973).

De outro ângulo, no Registro de Títulos e Documentos serão registrados,


com a finalidade de produzir efeitos contra terceiros, os instrumentos particulares
que não versam sobre objetos e negócios jurídicos que se relacionam com outra
Especialidade Registral, ou, ainda, outro órgão de registro (Registro Civil de
Pessoas Naturais, Registro Civil de Pessoas Jurídicas, Registro de Imóveis,
Registro de Protestos e Registro Marítimo).

Um forte apelo para se optar pelo registro no Cartório de Registro de Títulos
e Documentos é por validar o documento eternamente, garantindo, conforme já
dito, a segurança jurídica e até mesmo preservar o documento original.

Conforme os Artigos 142 e 143 da LRP, existem dois tipos de registros.


Um chamado registro integral:

211
UNIDADE 3 — REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS

Art. 142 O registro integral dos documentos consistirá na trasladação


dos mesmos, com a mesma ortografia e pontuação, com referência
às entrelinhas ou quaisquer acréscimos, alterações, defeitos ou vícios
que tiver o original apresentado, e, bem assim, com menção precisa
aos seus característicos exteriores e às formalidades legais, podendo
a transcrição dos documentos mercantis, quando levados a registro,
ser feita na mesma disposição gráfica em que estiverem escritos, se o
interessado assim o desejar (BRASIL, 1973).

E, outro, chamado registro resumido:

Art. 143. O registro resumido consistirá na declaração da natureza do


título, do documento ou papel, valor, prazo, lugar em que tenha sido
feito, nome e condição jurídica das partes, nomes das testemunhas,
data da assinatura e do reconhecimento de firma por tabelião, se
houver, o nome deste, o do apresentante, o número de ordem e a data
do protocolo, e da averbação, a importância e a qualidade do imposto
pago, depois do que será datado e rubricado pelo oficial ou servidores
referidos no Artigo 142, § 1° (BRASIL, 1973).

E
IMPORTANT

É possível requerer os dois registros para o mesmo documento, bem como


registrar o mesmo documento em mais de uma serventia registral.

Antes de adentrarmos diretamente nas espécies de documentos


registráveis, propriamente dito, vamos dar uma passada de olhos na importância e
vantagens que encontramos no Registro de Títulos e Documentos.

2 IMPORTÂNCIA DO REGISTRO DE TÍTULOS E


DOCUMENTOS
Concordamos e, por isso, estamos compartilhando a informação com
você, acadêmico, muito embora a autoria esteja velada na fonte, por não constar
o pesquisador. Se trata da importância do Registro de Títulos e Documentos.

Entenda a importância
Apesar de não muito divulgado o  registro de títulos e
documentos possui 5 princípios básicos, observe:
• Autenticidade de data.
• Valor igual ao do original.
• Prioridade – a ordem de protocolo é capaz de determinar a ordem
do registro.
• Competência residual (CARTÓRIO, 2021, s. p., grifo do original).

212
TÓPICO 2 — DOCUMENTOS REGISTRÁVEIS

Já estamos ficando repetitivos em afirmar e reafirmar a importância,


acadêmico, desse serviço público.

Todavia, ainda colhemos do I Encontro Regional de RTDPJ, no Espírito


Santo, ocorrido em 2019, com a palestra de abertura de Vanuza Arruda, que,
também, após traçar uma linha histórica do RTD, analisou a sua importante
função à luz dos fatos atuais.

Conforme notícia publicada no sítio eletrônico da ANOREG, sustenta que


“hoje o cidadão quer agilidade, modernidade e serviços informatizados. ‘O RTD
vem para garantir a segurança jurídica, inclusive, dos documentos eletrônicos’,
afirma” (ENCONTRO, 2019, s. p., grifo nosso).

Nessa toada, a notícia também afirma que “Vanuza Arruda também foi
incisiva na defesa do relevante papel dos cartórios de RTDPJ na garantia da
segurança para os negócios” (ENCONTRO, 2019, s. p., grifo nosso). E, enfatiza
com as próprias palavras da palestrante:

Ao invés de ser burocracia, nós somos transparência. Nós, oficiais


do Registro de TD e PJ, somos sinônimos de segurança jurídica. A
quem não interessa a segurança jurídica? Somente a quem quer ficar
na obscuridade. O cidadão de bem, quando está fazendo um negócio
jurídico, não abre mão da segurança. E isso vai encontrar no cartório.
Por esse motivo somos tão necessários (ENCONTRO, 2019, s. p.,
grifo nosso).

Dessa feita, conseguimos traduzir a importância da atividade registral


relacionada ao Registro de Títulos e Documentos, agora, vamos às suas vantagens.

3 VANTAGENS DO REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS


Caro, acadêmico, você também tem zelo por seus documentos, não é
mesmo? Procura guardá-los, conservá-los, da melhor maneira possível, não
é isso? E faz muito bem! Não se pode negar a importância dos documentos, e
não cabe julgar qual é mais importante para cada pessoa. Pode até parecer
simplório, mas um escrito antigo de alguém muito estimado que você teme que
possa desaparecer com o passar do tempo, o Registro de Títulos e Documentos o
conservará na íntegra e para sempre.

A Associação dos Notários e Registradores (ANOREG) nos apresenta que


“Na eventualidade de ocorrer extravio do documento original registrado, você
poderá obter uma Certidão que para todos os efeitos legais terá o mesmo valor do
original extraviado” (ATIVIDADES CARTORIAIS, 2021, s. p.).

No sítio eletrônico do 1ᵒ Ofício de Poxoréo, no Estado de Mato Grosso,


você encontra as principais vantagens em registrar seus títulos e documentos no
Registro de Títulos e Documentos, confira:

213
UNIDADE 3 — REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS

Credibilidade Garantida:  registrando qualquer documento em


Títulos e Documentos, você está dando publicidade à sua negociação. Ou seja,
ninguém poderá alegar desconhecimento. É a credibilidade da sua empresa
ou de sua atuação profissional que fica perpetuada. Um simples registro é
fator determinante para dar credibilidade à sua negociação pela segurança e
eficácia que ele proporciona ao ato jurídico praticado.

Segurança Total e Eterna:  o registro de qualquer documento em


Títulos e Documentos é a melhor segurança que você pode oferecer ao negócio
realizado. Um verdadeiro seguro eterno contra roubo, incêndio, enchentes, etc.
E você paga uma única vez para estar garantido pelo resto da vida.

Uma Cópia a Qualquer Tempo:  qualquer documento registrado em


Títulos e Documentos tem uma segurança incrível e permanente. Você não
precisa mais se preocupar nem com o extravio da sua via. Todo documento é
digitalizado e arquivado em meio digital em locais diferentes, como proteção
extra contra um eventual sinistro. Assim, a qualquer tempo e pela eternidade,
você pode obter uma cópia idêntica e com a fé pública de que o Registro dispõe.
Essa Certidão tem o mesmo valor do original em juízo ou fora dele.

Ganhe Tempo, Registrando Rápido:   o artigo 130 da Lei Federal


6.015/73 dá um prazo de 20 dias da data da assinatura do documento para que
ele seja registrado em Títulos e Documentos. Após esse prazo, o documento só
produzirá efeitos jurídicos a partir da data da apresentação. Este é um motivo
importante para que você não perca tempo e garanta a produção dos efeitos
jurídicos desde a data em que o documento foi assinado.

O Registro Garante Conservação: qualquer tipo de documento pode


ser registrado em Títulos e Documentos para efeito de conservação, como
determina o item VII, do artigo 127, da Lei Federal 6.015/73. Essa providência
é válida também para os documentos pessoais, que ficam definitivamente
protegidos contra extravio ou qualquer outra ocorrência. Ex.: carteira de
trabalho, diploma, etc.

Esteja Atento aos Detalhes: para garantir a autenticidade, segurança


e eficácia dos atos jurídicos, é fundamental que você registre todo e qualquer
documento. E quando assinar um contrato exija a sua via registrada em Títulos
e Documentos. Somente com o registro em Títulos e Documentos é que o texto
ficará perpetuado.

FONTE: <https://www.cartoriorgipoxoreu.com.br/novo/titulos-e-documentos/
procedimentos-para-registro-de-titulos-e-documentos/>. Acesso em: 9 fev. 2021.

214
TÓPICO 2 — DOCUMENTOS REGISTRÁVEIS

Rodrigo Moreira Camargo (2017) adiciona como vantagem o efeito erga


omnes que emana dos atos praticados pelo Registro de Títulos e Documentos.

O autor cita como exemplo o disposto no Art. 129 e seu § 6ᵒ da LRP, que
dispõe: “todos os documentos de procedência estrangeira, acompanhados das
respectivas traduções, para produzirem efeitos em repartições da União, dos
Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios ou em qualquer
instância, juízo ou tribunal” (CAMARGO, 2017, p. 2); que são pouco lembrados
comumente. Explicando que o efeito erga omnes, significa atingir a todos ou
“contra todos”, Camargo (2017, p. 2) enfatiza que “A essência de se registrar um
contrato ou um instrumento particular no RTD  é a publicidade e os repisados
efeitos erga omnes, ou seja, contra todos”.

Continua o autor, replicando sua menção:

Em outras palavras, por exemplo, um contrato de  compra e


venda com reserva de domínio de veículo automotor ou um contrato
de parceria agrícola, enquanto não registrados no “Cartório de
Registro de Títulos e Documentos”, produzem efeitos apenas entre
as partes, só com o registro passam a produzir efeitos contra terceiros
(CAMARGO, 2017, p. 2).

Interessante, acadêmico, os exemplos dos documentos que Rodrigo


Moreira Camargo apresenta. De modo que estamos transcrevendo pela certeza
de lhe fazer bem com a leitura e, claro, auxiliar na evolução do seu conhecimento
e, porque não, despertar maior interesse pela temática! Perceba, acadêmico, que,
quando Camargo (2017, p. 2) afirma que há “Um ponto curioso e desconhecido,
que é o inciso VIII do artigo 127 da LRP que atribui ao RTD o registro facultativo,
de quaisquer documentos, para sua conservação”, ele nos convida, a imaginar
uma situação, quase hilariante:

Imagine uma pessoa chegar ao balcão do cartório com a sua carteira


de trabalho, seu diploma, uma carta de amor, uma declaração, enfim,
a maior gama de documentos possíveis e imagináveis, e requerer o
seu registro para conservação. Na prática isso é pouco utilizado, mas,
é possível (CAMARGO, 2017, p. 2).

É no mínimo uma situação interessante, mas é assim mesmo que pode


acontecer, acadêmico. E nesse caso, obtempera Camargo (2017, p. 3): “O documento
arquivado em cartório fica sob a responsabilidade deste, caso o titular, ou qualquer
outra pessoa queira obtê-lo, o Oficial emitirá cópias através de certidão, as quais terão
a mesma validade do documento original”. Não é curioso?

De modo geral, para garantir autenticidade, segurança e eficácia dos


negócios jurídicos, é fundamental ter o documento registrado, inclusive pelos
seus efeitos, já citados. E, quando assinar um contrato, adverte Camargo (2017, p.
3) “[...] exija a sua via registrada em Títulos e Documentos. É bom saber que só
o reconhecimento das firmas não dá a ninguém garantia absoluta, pois não há o
registro do texto que é o mais importante”. Conclui o autor que “Somente com o
registro em RTD, seu texto ficará perpetuado”. 
215
UNIDADE 3 — REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS

 4 DOCUMENTOS REGISTRÁVEIS NO REGISTRO DE


TÍTULOS E DOCUMENTOS
Há uma infinidade de documentos que podem ser levados a registro.
Alguns autores, a exemplo Paiva e Alvares (2018), falam da existência de mais de
140 (cento quarenta) espécies de documentos que podem ser levados a registro,
outros, falam em mais de 200 (duzentas) espécies de documentos; mas, na
verdade, quando concluímos que todo documento pode ser levado a registro, até
uma “carta de amor”, como sugeriu Camargo (2017, p. 2), anteriormente, então,
esses números acabam sendo irrelevantes, pois, se tornam(rão) incontáveis.
Ainda mais agora na era digital e também com os Apostilamentos da Haia, que,
atualmente, se somam a essa prestação de serviços.

Importante trazermos a lume o conceito operacional das categorias, como


documentos e títulos, para, depois darmos seguimento. E Paiva e Alvares (2018,
s. p., grifo do original) nos faz refletir, quando apresentam:

No sentido jurídico, documento é qualquer escrito que sirva de prova


de um fato. Já o título é um instrumento portador de efeito jurídico
próprio. Assim, documento é o gênero e o título uma espécie. Dessa
forma, todo título será também um documento, mas nem todo documento
será também um título.

É muito comum se levar contratos para registrar no RTD. Paiva e Alvares


(2018, s. p.) leciona que “Quando se tratar de contratos, que constitui parcela
significativa dos documentos levados ao RTD, a doutrina brasileira comumente
classifica-os como típicos e atípicos, sendo da primeira espécie os que forem
inteiramente regulados em lei e da segunda espécie quando assim não o forem”.

Ainda sobre os títulos, Paiva e Alvares (2018, s. p., grifo do original) ensina
que “A doutrina esclarece que há títulos em sentido próprio e títulos em sentido
impróprio. Título em sentido próprio refere-se ao título causal de um registro. Diz
respeito ao fundamento do feito ou obrigação que se quer registrar, só pode ser
outorgado pelo titular do direito”.

Incluem-se nessa categoria os títulos elencados nos Arts. 127 e 129 além
daqueles do Art. 167, I, todos da LRP.

E, concluem Paiva e Alvares (2018, s. p., grifo do original): “Já título em


sentido impróprio guarda relação com o instrumento que terá por objeto o título
causal inscritível: aquele que o materializa, produzindo efeitos legais erga omnes a
partir de seu ingresso no registro e enquanto nele permanecer inscrito”.

O Registro de Títulos e Documentos tem atribuição bem ampla, pois


registra principalmente contratos que tenham como objeto os bens
imóveis. Assim, por exemplo, os contratos de penhor, compra e venda
com ou sem reserva de domínio, alienação fiduciária de veículos
e máquinas. São registrados também os contratos de locação; de
prestação de serviço de qualquer natureza; documentos decorrentes de

216
TÓPICO 2 — DOCUMENTOS REGISTRÁVEIS

depósitos ou cauções, feitos como garantia de obrigações contratuais;


cartas de fiança em geral, feitas por instrumento particular; além de
todos os documentos de procedência estrangeira, acompanhados das
respectivas traduções, que só assim têm validade legal em repartições
federais, estaduais e municipais ou qualquer instância, juízo ou
tribunal (ATIVIDADES CARTORIAIS, 2021, s. p.).

Enfatiza-se que “Todo documento registrado em Títulos e Documentos


prova o texto, a data e garante a publicidade, uma vez que nínguém poderá alegar
desconhecimento” (ATIVIDADES CARTORIAIS, 2021, s. p.). Isso, acadêmico, nos
remonta às lições anteriores aos princípios que norteiam as atividades registrais,
que estudamos no Tópico 1 anterior desta unidade, lembra? Passamos, agora, para
as espécies de documentos registráveis, propriamente dito, sem a expectativa de
encerrá-los na quantidade, ou seja, de não identificá-los como numerus clausus.

NOTA

O termo numerus clausus deriva do latim e, em uma tradução literal, significa


números fechados. Tal vocábulo é utilizado para designar um rol taxativo.

FONTE: <https://www.ebradi.com.br/coluna-ebradi/numerus-clausus-numerusclausus-
ou-numeru-clausu/>. Acesso em: 9 fev. 2021.

5 ESPÉCIES DE DOCUMENTOS REGISTRÁVEIS


A Lei nᵒ 6.015, de 31 de dezembro de 1973, apresenta um limitado número
dos documentos que serão levados para fazer a “transcrição”, no Art. 127,
indicando o seguinte:

Art. 127. No Registro de Títulos e Documentos será feita a


transcrição: (Renumerado do Art. 128 pela Lei nᵒ 6.216, de 1975).
I- dos instrumentos particulares, para a prova das obrigações
convencionais de qualquer valor;
II- do penhor comum sobre coisas móveis;
III- da caução de títulos de crédito pessoal e da dívida pública federal,
estadual ou municipal, ou de Bolsa ao portador;
IV- do contrato de penhor de animais, não compreendido nas
disposições do Art. 10 da Lei nᵒ 492, de 30-8-1934;
V- do contrato de parceria agrícola ou pecuária;
VI- do mandado judicial de renovação do contrato de arrendamento
para sua vigência, quer entre as partes contratantes, quer em face
de terceiros (Art. 19, § 2ᵒ do Decreto nᵒ 24.150, de 20-4-1934);
VII- facultativo, de quaisquer documentos, para sua conservação.
(BRASIL, 1973).

217
UNIDADE 3 — REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS

Contudo, o parágrafo único, do citado artigo, deixou livre “a realização de


quaisquer registros não atribuídos expressamente a outro ofício” (BRASIL, 1973),
o que já analisamos também. E, por esta disposição, não se encontram limites
para o rol de documentos registráveis no RTD.

Reproduziremos no Quadro 1 uma relação exemplificativa de documentos


registráveis; o Registro de Títulos e Documentos, fornecido pelo IRTDPJ Brasil
(Instituto de Registro de Títulos e Documentos e de Pessoas Jurídicas do Brasil):

QUADRO 1 - DOCUMENTOS REGISTRÁVEIS EM TÍTULOS E DOCUMENTOS

Abaixo-assinado Contrato de exibição Opção de venda


Acordo Contrato de experiência Orçamento
Agenciamento Contrato de exploração Ordem de serviço
Alienação fiduciária Contrato de fabricação Pacto de união estável
Alvará de conservação Contrato de financiamento Pacto entre amigos
Alvará de licença Contrato de fiscalização Pacto patrimonial
Aposta Contrato de fornecimento Parcelamento de dívidas
Arrendamento Contrato de garantia Parecer
Assunção de
Contrato de gaveta Passaporte
responsabilidade
Atas Contrato de honorários Patrocínio de atleta
Atestados Contrato de industrialização Patrocínio de clube
Autenticação de microfilme Contrato de leasing Pedido
Autorização Contrato de licença Penhor
Balanço Contrato de manutenção Permissão de uso
Boletim de ocorrência Contrato de mão-de-obra Permuta
Borderô Contrato de parceria Planilha
Bula Contrato de participação Prestação de contas
Cancelamento Contrato de passe de atleta Procuração
Programa de campanha
Carnê Contrato de patrocínio
política
Carta Contrato de publicidade Projeto
Carta de apresentação Contrato de serviço temporário Promessa de cessão
Promessa de subscrição de
Carteira profissional Contrato de trabalho
ações
Caução Contrato de transporte Proposta
Cédula de crédito com Proposta vendedora em
Contrato de uso
garantia licitação
Certidão Contrato padrão Protocolo
Certidão de órgão público Convênio Quitação
Certificado Currículo profissional Recibo
Certificado de curso no
Dação em pagamento Reconhecimento de dívida
exterior

218
TÓPICO 2 — DOCUMENTOS REGISTRÁVEIS

Cessão de crédito Declaração Recorte de jornal


Cessão de direitos Declaração de poderes Reforço de garantia
Cessão de transferência Declaração de vontade Regulamento
Chancela mecânica Descrição de catálogo Relação
Comissão mercantil Diploma Relatório
Comodato Doação Remissão de uso
Documento com software
Compra e venda Repasse
codificado
Compra e venda de bens
Documento em outro idioma Representação comercial
móveis
Condomínio de animal Edital de concorrência pública Requerimento
Confissão de dívida Empreitada Re-ratificação contratual
Constituição de garantia Empréstimo de veículo Rescisão contratual
Contrato de adesão Especificação de garantia Reserva de domínio
Contrato de administração Exoneração de fiança Revogação de procuração
Contrato de aquisição Fiança Sublocação
Contrato de arrendamento Laudo Substabelecimento
Contrato de assistência
Lista de presença Substituição de garantia
técnica
Contrato de barriga de Locação de bens (piano/fone/
Tabela
aluguel veículo)
Contrato de cobrição de
Locação de indústrias Telegrama
animal
Contrato de concessão Locação de imóvel Termo de abertura
Contrato de consórcio Locação de serviços Termo de depósito
Contrato de construção Memorando Termo de encerramento
Contrato de depósito Memorial descritivo Termo de responsabilidade
Contrato de desconto Mútuo Título de eleitor
Contrato de distribuição Nota de crédito Título de nomeação
Contrato de edição Nota fiscal Tradução
Contrato de empréstimo Nota promissória Transferência de tecnologia
Contrato de estágio Notificação Utilização de “know-how”
Contrato de exclusividade Novação de dívida
Contrato de execução de
Oficio
obras

FONTE: A autora

219
UNIDADE 3 — REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS

DICAS

Veja uma listagem dos documentos que podem ser registrados, disponível no
site da ANOREG/BR: https://bit.ly/3a1zmCb.

No próximo tópico, analisaremos os avanços tecnológicos com a prestação


dos serviços registrais sendo ofertada virtualmente.

NTE
INTERESSA

Atente agora, acadêmico, para o rol de serviços de registros que o Cartório 24


horas oferece:

O Cartório de Títulos e Documentos possui a atribuição de registrar documentos


diversos, além de possuir a função de praticar registros de atos não atribuídos às demais
naturezas de cartórios extrajudiciais [...]. São executados atos de registrar:

• instrumentos particulares, para a prova das obrigações convencionais de qualquer valor;


• penhor comum sobre coisas móveis;
• caução de títulos de crédito pessoal e da dívida pública federal, estadual ou municipal,
ou de bolsa ao portador;
• contrato de parceria agrícola ou pecuária;
• mandado judicial de renovação do contrato de arrendamento para sua vigência quer
entre as partes contratantes, quer em face de terceiros;
• notificações extrajudiciais;
• quaisquer documentos para sua conservação;
• cartas de fiança;
• quitações e recibos;
• atos administrativos expedidos para cumprimento de decisões judiciais;
• contratos em geral;
• expedição de certidões relativa aos atos registrados.

FONTE: <https://www.cartorio24horas.com.br/cartorio/registro-de-titulos-documentos>.
Acesso em: 9 fev. 2021.

220
TÓPICO 2 — DOCUMENTOS REGISTRÁVEIS

DICAS

Acadêmico, você sabia que a UNIASSELVI tem uma Biblioteca Virtual com
uma enorme gama de publicações? Nela você vai encontrar o e-book Registro de títulos
e documentos de João Pedro Lamana Paiva e Pércio Brasil Alvares. Convidamos você a
acessar em seu AVA: bibliotecavirtual.uniasselvi.com.br.

5.1 ACORDO
Se buscarmos o conceito operacional para a categoria “acordo”,
encontraremos, em Paiva e Alvares (2018, s. p.), para quem:

No âmbito do direito o termo acordo comporta uma série de


sinônimos: ajuste, combinação, pacto, convenção, conjugação de
vontades, acomodação, transação, conciliação. Pode ter diversas
finalidades, isoladas ou conjugadas: regular os mais diversos
interesses, liquidar obrigações, constituir ou extinguir direitos,
modificar ou extinguir pactos anteriores.

O registro pode ser realizado de várias formas, por exemplo, em caráter


taxativo, como no caso do Art. 127, I, da LRP, se o instrumento convencionar
obrigação com valor estipulado.

Podendo também o registro ser em caráter facultativo, para o efetio de


mera conservação (Art. 127, VII da LRP), bem como o caráter residual, dada a
inexistência de registro específico que requeira a competência para a realização
do registro desse documento, lembram Paiva e Alvares (2018).

5.2 AGÊNCIA
O contrato de agência é o “negócio jurídico em que uma pessoa, física
ou jurídica, assume, em caráter não eventual e sem vínculos de dependência,
a obrigação de promover, à conta de outra, mediante retribuição, a realização
de certos negócios, em zona determinada” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO,
2017, p. 498-499).

O registro do contrato de agência no RTD, pode conferir publicidade


ultrapartes, especialmente, quando o instrumento estabelecer o cumprimento de
obrigações de valor determinado. Seguindo essas notas, Paiva e Alvares (2018,
s. p.) lembram que “Se realizado o registro em caráter facultativo (Art. 127, VII,
da LRP) o efeito será apenas conservativo. O registro tem a virtude, também, de
autenticar-lhe a data”.

221
UNIDADE 3 — REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS

Dessarte, acadêmico, você está sendo desafiado a buscar cada uma dessas
espécies de documentos e/ou contratos/títulos para contemplar o conceito de cada
uma das modalidades, porque, conforme já informamos, são mais de 140 espécies, e,
a disposição aqui, tornaria seu livro deveras enfadonho, supomos, não é não? Além
do que, tiraríamos de você a oportunidade da pesquisa bibliográfica na fonte.

Ficamos por aqui com o Tópico 2, e, avançamos para os últimos temas


a explorar deste Livro Didático. Estamos seguros que você fará um excelente
estudo e, melhor que isso, terá muito êxito nas suas atividades profissionais se,
realmente, levar com seriedade seus estudos.

222
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• O serviço de registro do Registro de Títulos e Documentos, diferente do


Registro Civil de Pessoas Naturais e Pessoas Jurídicas, é facultativo.

• No Registro de Títulos e Documentos serão registrados os documentos com


a finalidade de produzir efeitos contra terceiros, os chamados erga omnes,
instrumentos particulares que não versam sobre objetos e negócios jurídicos
que se relacionam com outra Especialidade Registral, ou ainda, outro órgão de
registro (Registro Civil de Pessoas Naturais, Registro Civil de Pessoas Jurídicas,
Registro de Imóveis, de Protestos e Registro Marítimo).

• Existem dois tipos de registro: o Registro Integral e o Registro Resumido.

• O RTD apresenta autenticidade de data e tem valor igual ao do documento


original, além de garantir segurança jurídica.

• No caso de extravio do documento original registrado, poderá se obter uma


Certidão que, para todos os efeitos legais, terá o mesmo valor do original extraviado.

• Documento é qualquer escrito que sirva de prova de um fato.

• Título é um instrumento portador de efeito jurídico próprio; sendo documento


gênero e o título uma espécie. Assim, título também é um documento.

• O RTD tem atribuição bem ampla. Todo documento registrado em TD prova


o texto, a data e garante a publicidade, uma vez que ninguém poderá alegar
desconhecimento.

• As espécies de documentos registráveis são inúmeras, alguns autores


comentam 140, outros 200. Todavia, todos os documentos podem ser
registrados no RTD, desde que não conflitam com a competência exclusiva
dos demais Registros, ou seja, atribuída expressamente a outro ofício.

223
AUTOATIVIDADE

1 Vimos que o Registro de Títulos e Documentos presta um serviço relevante


à Sociedade. Destaca-se o parágrafo único do Art. 127 que dispõe: “Caberá
ao Registro de Títulos e Documentos a realização de quaisquer registros
não atribuídos expressamente a outro ofício” (BRASIL, 1973). Sobre esse
“outro ofício”, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Registro Civil de Pessoas Naturais, de Pessoas Jurídicas e Registro de


Protestos.
b) ( ) Registro Civil de Pessoas Naturais, Registro Civil de Pessoas Jurídicas
e Tabelionato de Notas.
c) ( ) Registro de Pessoas Jurídicas, Registro de Protestos e Registro de
Registro do Trabalho.
d) ( ) Registro de Protestos, Tabelionato de Notas e Registro Marítimo.

2 No Registro de Títulos e Documentos serão registrados os documentos


com a finalidade de produzir efeitos contra terceiros – os chamados efeitos
erga omnes. Também, são ali levados a registro os instrumentos particulares
que não versem sobre objetos e negócios jurídicos que se relacionam com
outra Especialidade Registral. Com base nas definições dos enfoques da
“Especialidade Registral”, analise as sentenças a seguir:

I- Um dos tipos característicos do Registro de Títulos e Documentos é o


REGISTRO INTEGRAL.
II- O serviço do Registro de Títulos e Documentos, diferente do Registro
Civil de Pessoas Naturais e Pessoas Jurídicas, é OBRIGATÓRIO.
III- Um dos tipos característicos do Registro de Títulos e Documentos é o
REGISTRO RESUMIDO.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 A Associação de Notários e Registradores do Brasil (ANOREG) tem


participação ativa na vida dos registradores. No sítio eletrônico dessa
associação encontram-se importantes e atualizadas informações. Com
relação à importância do RTD, e de acordo com as disposições colhidas na
ANOREG, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

224
( ) Todo documento registrado em Títulos e Documentos prova o texto e a data. 
( ) Todo documento registrado, embora dê muitas garantias às partes, pode
ser alegado desconhecimento, em razão do caráter “facultativo” do
registro, que não é obrigatório.
( ) Todo documento registrado garante a publicidade.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 É notória a importância de registrar os documentos no Registro de Títulos e


Documentos, embora essa prática não seja muito usual em nossa Sociedade,
mesmo no meio jurídico mais tradicional. Todavia, por seus princípios
caracterizadores que regem os registros públicos, em especial a autenticidade,
conservação dos atos, publicidade, entre outros tão relevantes, concluímos
pela importância e vantagens de se ter um documento registrado. Disserte
sobre a importância e vantagens do registro de documento e ou título no
RTD, em especial com relação aos efeitos de sua autenticidade, conservação
e segurança.

5 O Registro de Títulos e Documentos tem atribuição bem ampla. Todo


documento registrado em Títulos e Documentos prova o texto, a
data e garante a publicidade, uma vez que ninguém poderá alegar
desconhecimento. São inúmeras as espécies de documentos registráveis
no RTD. Neste contexto, disserte sobre as espécies que são possíveis
registrar em TD.

225
226
TÓPICO 3 —
UNIDADE 3

NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL / REGISTRO DE TÍTULOS E


DOCUMENTOS NA ATUALIDADE / CANCELAMENTO
DO REGISTRO

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, com este Tópico 3, vamos encerrar nosso Livro Didático,
no qual tivemos a oportunidade de estudar importantes temas dos Registros
Públicos. Nas Unidades 1 e 2 analisamos o Registro Civil de Pessoas Naturais e
Registro Civil de Pessoas Jurídicas, respectivamente.

Nesta Unidade 3, estamos estudando o Registro de Títulos e Documentos.


Já descobrimos que, diferente dos demais “Registros”, este é facultativo, ou seja, não
há uma exigência legal para que o cidadão venha registrar os documentos, trata-se
de algo da vontade, da faculdade de cada um. Claro, que não vamos esquecer que,
em determinados negócios, “as partes” estabelecem que é necessário o contrato ser
registrado no Cartório de Títulos e Documentos, para que contemple os efeitos erga
omnes (contra todos), gerado pela publicidade desse ato, pois, não se pode alegar
desconhecimento de existência de documento registrado, não é mesmo?

Já vimos algumas atribuições do Registro de Títulos e documentos, como


repetidamente comentado, do registro dos “títulos e documentos”, todavia,
outra tarefa importante dessa serventia registral são as NOTIFICAÇÕES. Esse
serviço prestado gera também, entre outros, um grande efeito, qual seja: a
constituição do devedor em mora; na compra de imóvel em prestação, no caso
da Alienação Fiduciária, entre outros exemplos. Neste tópico, abordaremos
a NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL e também o REGISTRO DE TÍTULOS E
DOCUMENTOS NA ATUALIDADE. Neste ponto, nossa intenção, acadêmico,
é levar a você os avanços que a tecnologia tem proporcionado em termos da
prestação desses serviços nas plataformas virtuais. E, por último, falaremos do
CANCELAMENTO DO REGISTRO.

Todo esse estudo estará previamente amparado num escorço legislativo,


que será apresentado em um quadro, combinando às Recomendações e
Provimentos do Conselho Nacional de Justiça – órgão maior que orienta e disciplina
o Poder Judiciário –, sendo que é do Poder Judiciário, pelas suas Corregedorias
Gerais, que emergem os Códigos de Normas Extrajudiciais para regulamentar
as atividades dos Cartórios Extrajudiciais, mesmo que as delegações assumidas
pelos Oficias Registradores sejam funções públicas, atribuídas pelo Estado.

227
UNIDADE 3 — REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS

ATENCAO

Você deve lembrar, acadêmico, que no início de nossos estudos, lá na Unidade


1, vimos que a atividade registral é uma delegação pública conquistada desde o advento
da Constituição Federal de 1988, conforme disposição do Art. 236, por concurso público de
provas e títulos, concedida pelo Estado-Membro.

Além das disposições legais, Recomendações e Provimentos do CNJ,


também destacaremos, neste tópico, um quadro demonstrativo dos tratados
internacionais que garantem o direito de acesso à informação, pois, em tempos de
Tecnologia da Informação, entendemos que reforça seu aprendizado, acadêmico.

Seguimos, pois!

2 LEGISLAÇÕES PERTINENTES
Conforme anunciado anteriormente, apresentaremos esse lastro
legislativo antes de contemplar o último ponto das atribuições do Registro de
Títulos e Documentos, que são as notificações.

FIGURA 5 – LEIS/DECRETOS

FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/international-human-rights-day-
concept-wooden-457119424>. Acesso em: 9 fev. 2021.

228
TÓPICO 3 — NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL / REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS NA ATUALIDADE / CANCELAMENTO
DO REGISTRO

2.1 LEIS FEDERAIS


Apresentaremos o quadro com a indicação das Leis Federais em ordem
cronológica decrescente, ou seja, das mais recentes às menos recentes:

QUADRO 2 – LEIS FEDERAIS

DATA NÚMERO SOBRE O QUE DISPÕE


Altera as Leis nᵒ 11.101, de 9 de fevereiro de 2005,
10.522, de 19 de julho de 2002, e 8.929, de 22 de
24 de dezembro
Lei nᵒ 14.112 agosto de 1994, para atualizar a legislação referente à
de 2020
recuperação judicial, à recuperação extrajudicial e à
falência do empresário e da sociedade empresária.
Dispõe sobre o uso de assinaturas eletrônicas em
interações com entes públicos, em atos de pessoas
jurídicas e em questões de saúde e sobre as licenças de
23 de setembro de
Lei nᵒ 14.063 softwares desenvolvidos por entes públicos; e altera a
2020
Lei nᵒ 9.096, de 19 de setembro de 1995, a Lei nᵒ 5.991,
de 17 de dezembro de 1973, e a Medida Provisória nᵒ
2.200-2, de 24 de agosto de 2001.
Lei Federal 14.010 dispõe sobre o Regime Jurídico
10 de junho de Emergencial e Transitório das relações jurídicas de
Lei nᵒ 14.010
2020 Direito Privado (RJET) no período da pandemia de
Covid-19.
Institui a Declaração de Direitos de Liberdade
Econômica; estabelece garantias de livre mercado;
altera as Leis n os 10.406, de 10 de janeiro de 2002
(Código Civil), 6.404, de 15 de dezembro de 1976,
11.598, de 3 de dezembro de 2007, 12.682, de 9 de julho
de 2012, 6.015, de 31 de dezembro de 1973, 10.522, de
20 de setembro de 19 de julho de 2002, 8.934, de 18 de novembro 1994,
Lei nᵒ 13.874
2019 o Decreto-Lei nᵒ 9.760, de 5 de setembro de 1946 e a
Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo
Decreto-Lei nᵒ 5.452, de 1ᵒ de maio de 1943; revoga a
Lei Delegada nᵒ 4, de 26 de setembro de 1962, a Lei nᵒ
11.887, de 24 de dezembro de 2008, e dispositivos do
Decreto-Lei nᵒ 73, de 21 de novembro de 1966; e dá
outras providências.
Dispõe sobre a carteira de identidade funcional dos
30 de julho de
Lei nᵒ 13.862 membros do Poder Legislativo da União, dos Estados,
2019
do Distrito Federal e dos Municípios.
Altera a Lei nᵒ 13.709, de 14 de agosto de 2018, para
dispor sobre a proteção de dados pessoais e para criar
8 de julho de 2019 Lei nᵒ 13.853
a Autoridade Nacional de Proteção de Dados; e dá
outras providências.
Racionaliza atos e procedimentos administrativos dos
8 de outubro de Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e
Lei nᵒ 13.726
2018 dos Municípios e institui o Selo de Desburocratização e
Simplificação.

229
UNIDADE 3 — REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS

Dispõe sobre a proteção de dados pessoais e altera a


14 de agosto de
Lei nᵒ 13.709 Lei nᵒ 12.965, de 23 de abril de 2014 (Marco Civil da
2018
Internet).
Regulamenta a Lei nᵒ 7.116, de 29 de agosto de 1983,
5 de fevereiro de
Lei nᵒ 9.278 que assegura validade nacional às Carteiras de
2018
Identidade e regula sua expedição.

FONTE: A autora

E
IMPORTANT

Observe, acadêmico, a Lei nᵒ 14.112/2020 entra em vigor no dia 23 de janeiro de


2021, e em seu bojo já consta o dispositivo sobre documentos estrangeiros “apostilados”, o
que vem ao encontro do tema aqui tratado.

2.2 DECRETOS FEDERAIS


Nessa senda, seguiremos com os Decretos Federais:

QUADRO 3 – DECRETOS FEDERAIS

DATA NÚMERO SOBRE O QUE DISPÕE


Dispõe sobre o Compromisso Nacional
pela Erradicação do Sub-registro Civil
de Nascimento e Ampliação do Acesso à
Documentação Básica, o Comitê Gestor
Nacional do Compromisso Nacional
14 de outubro de 2019 Decreto nᵒ 10.063
pela Erradicação do Sub-registro Civil de
Nascimento e Ampliação da Documentação
Básica e a Semana Nacional de Mobilização
para o Registro Civil de Nascimento e a
Documentação Básica.
Altera o Decreto nᵒ 8.777, de 11 de maio de
2016, que institui a Política de Dados Abertos
8 de julho de 2019 Decreto nᵒ 9.903
do Poder Executivo federal, para dispor sobre a
gestão e os direitos de uso de dados abertos.
Institui o uso do CPF como instrumento
12 de março de 2019 Decreto nᵒ 9.723 substitutivo da apresentação de outros
documentos do cidadão.

FONTE: A autora

230
TÓPICO 3 — NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL / REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS NA ATUALIDADE / CANCELAMENTO
DO REGISTRO

2.3 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA


O Conselho Nacional de Justiça foi criado pela Emenda Constitucional nᵒ
45, de 2004 e instalado em 14 de junho de 2005, conforme determina o Art. 103-B
da Constituição Federal.

É uma instituição pública que tem o objetivo de “aperfeiçoar o trabalho


do sistema judiciário brasileiro, principalmente no que diz respeito ao controle
e à transparência administrativa e processual” (CNJ, 2021, s. p.). Para exercer
seu objetivo, o CNJ emite Instruções Normativas, Portarias, Provimentos,
Resoluções, Recomendações, Notas Técnicas, Orientações entre outros atos de
sua competência.

DICAS

Acadêmico, você pode ficar por dentro de cada ato do CNJ, acessando o
endereço: https://www.cnj.jus.br/atos_normativos/.

Desses Atos Normativos, destacamos:

2.3.1 Recomendações
A Recomendação nᵒ 38, de 19 de junho de 2019, dispõe sobre a
necessidade de observância das decisões emanadas da Corregedoria Nacional de
Justiça. Dentre às suas considerações, extrai-se:

CONSIDERANDO  a competência constitucional do Conselho


Nacional de Justiça para receber e conhecer das reclamações contra
membros ou órgãos do Poder Judiciário, inclusive contra seus serviços
auxiliares, serventias e órgãos prestadores de serviços notariais e de
registro que atuem por delegação do poder público ou oficializados,
podendo avocar processos disciplinares em curso nos tribunais e
aplicar sanções administrativas, assegurada ampla defesa;
[...] (grifo nosso com sublinhado)
RESOLVE:
Art. 1ᵒ.  RECOMENDAR aos Tribunais de Justiça dos Estados e do
Distrito Federal, Tribunais Regionais Federais, Trabalhistas e Militares
que deem cumprimento aos atos normativos e às decisões proferidas
pela Corregedoria Nacional de Justiça, ainda que exista ordem judicial
em sentido diverso, salvo se advinda do Supremo Tribunal Federal.
1ᵒ. As decisões judiciais em sentido diverso, ainda que tenham sido
cumpridas antes da publicação desta recomendação, devem ser
informadas pelo Tribunal à Corregedoria Nacional de Justiça, no
prazo de 15 dias, encaminhando-se cópia da decisão judicial.

231
UNIDADE 3 — REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS

2ᵒ. A não observância do caput ensejará providências por parte do


Corregedor Nacional de Justiça para o imediato cumprimento de sua
ordem, além das cominações previstas no art. 105 do RICNJ.
Art. 2ᵒ. Esta recomendação entra em vigor na data de sua publicação.
MINISTRO HUMBERTO MARTINS
Corregedor Nacional de Justiça (CNJ, 2019, p. 2).

Esse foi o destaque de uma recomendação do CNJ que julgamos interessante


para os seus estudos, acadêmicos, por trazer expressamente considerações dos
serviços das serventias registrais.

2.3.2 Provimentos
Igualmente, os provimentos mais recentes do CNJ, apresentaremos
no Quadro 4, pois entendemos que esta forma visual lhe proporciona melhor
entendimento, ou melhor clareza, acadêmico:

QUADRO 4 – PROVIMENTOS

DATA NÚMERO SOBRE O QUE DISPÕE


Dispõe sobre o pagamento dos emolumentos,
acréscimos legais, dívidas e demais despesas
através dos meios eletrônicos, dentre os quais
boleto bancário, cartão de débito e crédito,
27 de abril de 2020 Provimento nᵒ 98 inclusive mediante parcelamento, a critério do
usuário, como medida preventiva de saúde pública
nas serventias extrajudiciais, visando à redução dos
riscos de contaminação com o novo coronavírus,
causador da COVID-19 e dá outras providências.
Dispõe sobre o funcionamento dos serviços notariais
e de registro durante o período de Emergência em
Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN),
em decorrência da infecção humana pelo novo
1ᵒ de abril de 2020 Provimento nᵒ 95
Coronavírus (Sars-Cov-2), enquanto serviço público
essencial que possui regramento próprio no Art. 236
da Constituição Federal e na Lei nᵒ 8.935, de 18 de
novembro de 1994.
Dispõe sobre a suspensão ou redução do
atendimento presencial ao público, bem como
a suspensão do funcionamento das serventias
extrajudiciais a cargo dos notários, registradores
22 de março de
Provimento nᵒ 91 e responsáveis interinos pelo expediente, como
2020
medidas preventivas para a redução dos riscos de
contaminação com o novo coronavírus, causador
da COVID-19, e regula a suspensão de prazos para
a lavratura de atos notariais e de registro.

232
TÓPICO 3 — NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL / REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS NA ATUALIDADE / CANCELAMENTO
DO REGISTRO

Dispõe sobre a política, os procedimentos e os


controles a serem adotados pelos notários e
registradores visando à prevenção dos crimes de
1ᵒ de outubro de
Provimento nᵒ 88 lavagem de dinheiro, previstos na Lei n. 9.613,
2019
de 3 de março de 1998, e do financiamento do
terrorismo, previsto na Lei n. 13.260, de 16 de
março de 2016, e dá outras providências.
Dispõe sobre a possibilidade de pagamento
postergado de emolumentos, acréscimos legais
29 de agosto de
Provimento nᵒ 86 e demais despesas, devidos pela apresentação
2019
de títulos ou outros documentos de dívida para
protesto e dá outras providências.
Dispõe sobre a adoção dos Objetivos de
23 de agosto de Desenvolvimento Sustentável, da Agenda 2030,
Provimento nᵒ 85
2019 pelas Corregedorias do Poder Judiciário e pelo
Serviço Extrajudicial.
Dispõe sobre a política institucional de Metas
8 de novembro de
Provimento nᵒ 79 Nacionais do Serviço Extrajudicial e dá outras
2018
providências.
Dispõe sobre a compatibilidade da atividade
7 de novembro de
Provimento nᵒ 78 notarial e de registro com o exercício simultâneo de
2018
mandato eletivo e dá outras providências.
7 de novembro de Dispõe sobre a designação de responsável interino
Provimento nᵒ 77
2018 pelo expediente.
Altera a periodicidade do recolhimento do valor
da renda líquida excedente, pelos responsáveis
12 de setembro de
Provimento nᵒ 76 interinos do serviço extrajudicial de notas e
2018
registros públicos, ao tribunal de justiça, previsto
no Provimento n. 45 de 13/5/2015.
Dispõe sobre padrões mínimos de tecnologia
da informação para a segurança, integridade e
31 de julho de 2018 Provimento nᵒ 74 disponibilidade de dados para a continuidade da
atividade pelos serviços notariais e de registro do
Brasil e dá outras providências.
Dispõe sobre o teletrabalho no âmbito dos serviços
12 de junho de 2018 Provimento nᵒ 69
notariais e de registro do Brasil.
Dispõe sobre os procedimentos de conciliação e de
26 de março de
Provimento nᵒ 67 mediação nos serviços notariais e de registro do
2018
Brasil.

FONTE: A autora

Conforme você pôde observar, acadêmico, no ano de 2020, todos os


Provimentos do CNJ foram em consequência do novo coronavírus, causador da
COVID-19. Embora, não iremos adentrar no tema, fica apenas o registro, para
permanecer na história desta disciplina, também, a triste realidade dos tempos
que estamos passando.

233
UNIDADE 3 — REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS

Nesse norte, a corregedora nacional de Justiça, Maria Thereza de Assis


Moura, prorrogou para 31 de março de 2021 o prazo de vigência dos provimentos
referentes à atuação dos cartórios durante a pandemia da COVID-19. “O
Provimento 110/2020 prorroga os Provimentos 91, 93, 94, 95, 97 e 98” (CNJ, 2021,
s. p.). E, para concluir esse lastro normativo, dispomos um demonstrativo dos
tratados internacionais que garantem o direito de acesso à informação.

2.4 TRATADOS INTERNACIONAIS GARANTIDORES AO


DIREITO DE ACESSO À INFORMAÇÃO
Você pode pensar: o que este assunto está fazendo aqui? Parece estranho
mesmo, acadêmico. Todavia, quando estamos tratando com o Registro de Títulos
de Títulos e Documentos versus informação, você precisa, no mínimo, saber da
existência de determinados Tratados.

Linhares Neto (2015, p. 27 apud KOLBE JÚNIOR, 2020, p. 124-125), de


maneira didática, nos apresenta, o que chamou de “Quadro demonstrativo dos
tratados internacionais que garantem o direito de acesso à informação” (Quadro
5). Apenas o advertimos, acadêmico, que, aqui, o autor utilizará a ordem
cronológica crescente:

QUADRO 5 – TRATADOS INTERNACIONAIS

Tratado Internacional Ano Artigo Mandamento


Todo ser humano tem direito à liberdade
Declaração
de opinião e de expressão; esse direito
Universal
inclui a liberdade de ter opiniões sem sofrer
dos Direitos 1948 10 e 13
interferências e de procurar, receber e
Humanos
divulgar informações e ideia por quaisquer
(ONU)
meios, sem limite de fronteiras.
Toda e qualquer pessoa tem direito à
Pacto
liberdade de opinião e de expressão; esse
Internacional
direito inclui a liberdade de ter opiniões sem
dos Direitos 1966 19
sofrer interferências e de procurar, receber e
Civis e
divulgar informações e ideias por quaisquer
Políticos (ONU)
meios, sem limite de fronteiras.
Toda pessoa tem direito à liberdade de
pensamento e de expressão. Esse direito
Convenção Americana compreende a liberdade de buscar, receber
sobre Direitos e difundir informações e ideias de toda
1969 13
Humanos natureza, sem consideração de fronteiras,
(OEA) verbalmente ou por escrito, ou em forma
impressa ou artística, ou por qualquer outro
processo de sua escolha.

234
TÓPICO 3 — NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL / REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS NA ATUALIDADE / CANCELAMENTO
DO REGISTRO

O acesso a informação em poder do Estado


é um direito fundamental do indivíduo. Os
Declaração
Estados estão obrigados a garantir o exercício
Interamericana
desse direito. Este princípio só admite
de Princípios
2000 4ᵒ limitações excepcionais que devem estar
de Liberdade
previamente estabelecidas em lei para o caso
de Expressão
de existência de perigo real e iminente que
(OEA)
ameace a segurança nacional em sociedades
democráticas.
Cada Estado-parte deverá [...] tomar as
medidas necessárias para aumentar a
Convenção
transparência em sua administração pública
das Nações
[...] procedimentos ou regulamentos que
Unidas contra 2003 10 e 13
permitam aos membros do público em geral
a Corrupção
obter [...] informações sobre a organização,
(ONU)
funcionamento e processos decisórios de sua
administração pública [...].
FONTE: Linhares Neto (2015, p. 27 apud KOLBE JÚNIOR, 2020, p. 124-125)

Acadêmico, atente para a disposição do Art. 4ᵒ da Declaração


Interamericana de Princípios de Liberdade de Expressão (OEA), pois, trata-se de
um direito fundamental do indivíduo (Quadro 5).

Passaremos para um importante tema que são as notificações. É mais um


dos serviços prestados pelo Registro de Títulos e Documentos. Atente para os
efeitos quando essas notificações são cumpridas com êxito, acadêmico!

3 NOTIFICAÇÃO
O que é notificar? “Comunicar, fazer com que uma notícia, um aviso,
um informe se torne conhecido [...] Anunciar, fazer um aviso solene [...]”
(NOTIFICAR, 2021, s. p.). Dessa feita, é fazer algo conhecido formalmente.

3.1 CONCEITO
O que vem a ser uma notificação? No vocabulário jurídico – e é este que
nos interessa –, encontramos:

Documento escrito, categórico ou não, pelo qual é feita determinada


notificação ou comunicação a alguém de determinado fato
ou  intenção  que configure implicação jurídica. A notificação é
extrajudicial, quando, não existindo legislação prescrita para a
notificação esta é feita por outros meios legais, [...]; por meio de
Cartório de Registro de Títulos e Documentos, só é possível quando
não for exigida a atuação do Judiciário; ...
[...]

235
UNIDADE 3 — REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS

Aplicável no âmbito administrativo, assim como no judicial, senão


também nas relações particulares, conquanto possa variar o seu
regime jurídico, o aspecto conceitual tem como substrato ‘o conclamar
alguém a fazer ou deixar de fazer alguma coisa’, conforme preleciona
Sílvio Brandão (NOTIFICAÇÃO, 2020, s. p.).

A Associação dos Notários e Registradores (ANOREG), também se


posiciona quando afirma que “É somente através do Registro de Títulos
e Documentos que você pode efetuar quaisquer chamadas Notificações
Extrajudiciais” (ATIVIDADES CARTORIAIS, 2021, s. p.). E, complementa:

Notificar é fazer prova de recebimento ou de se ter dado conhecimento,


de maneira incontestável, do conteúdo ou teor de qualquer ao
jurídico levado a registro, fazendo-se dessa maneira, inequívoca
constatação de que o notificado recebeu o documento que lhe foi
entregue, dele tomando ciência de todo o conteúdo e provando-
se, quando necessário, qual foi o teor de que tomou conhecimento.
Isto significa que o notificado não pode alegar desconhecimento do
documento, muito menos do seu conteúdo. Assim como não pode
furtar-se ao cumprimento de obrigações sob a alegação de ignorância
(ATIVIDADES CARTORIAIS, 2021, s. p.).

Com essa breve noção do que é a notificação, passaremos ao procedimento


no Registro de Títulos e Documentos:

3.2 PROCEDIMENTOS
A Notificação Extrajudicial por meio do Registro de Títulos e
Documentos é bastante utilizada, os exemplos mais comuns entre particulares
são notificações de término de contrato de locação, inadimplementos e
situações do gênero. Com relação ao seu procedimento: “[...] qualquer pessoa
pode elaborar uma notificação, seja ela para qual fim for e apresentá-la ao
registro. O registrador ou seu preposto fará o registro e diligenciará, com
o objetivo de dar ciência pessoalmente ao destinatário do inteiro teor do
conteúdo do documento” (CAMARGO, 2017).

ATENCAO

De maneira mais avançada, esses serviços já são oferecidos virtualmente


também. É o exemplo da Central de Registros de Títulos e Documentos (Central RTD
Brasil), que, ao apresentar o rol de serviços que a Sociedade pode se beneficiar, dispõe,
em sua plataforma, o que é a Notificação Extrajudicial, e aponta os comandos para você
solicitar o serviço:

236
TÓPICO 3 — NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL / REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS NA ATUALIDADE / CANCELAMENTO
DO REGISTRO

FIGURA – NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL

FONTE: <http://www.rtdbrasil.org.br/>. Acesso em: 8 fev. 2021.

Conforme instrução da ANOREG:

[...] inúmeros são os casos em que a Notificação Extrajudicial é


o gatilho inicial de responsabilizar. De provar. De provocar. De
desmascarar engodos. De prevenir responsabilidades. De chamar à
autoria. De precaver-se contra danos. De constituir mora. De solicitar
cumprimento de obrigações (ATIVIDADES CARTORIAIS, 2021, s. p.).

Sobre as Notificações Extrajudiciais, dispõe a Lei nᵒ 6.015, de 31 de


dezembro de 1973 – Lei de Registros Públicos:

Art. 160. O oficial será obrigado, quando o apresentante o requerer,


a notificar do registro ou da averbação os demais interessados que
figurarem no título, documento, o papel apresentado, e a quaisquer
terceiros que lhes sejam indicados, podendo requisitar dos oficiais de
registro em outros Municípios, as notificações necessárias. Por esse
processo, também, poderão ser feitos avisos, denúncias e notificações,
quando não for exigida a intervenção judicial  (BRASIL, 1973).

A notificação pode ser feita pelo próprio registrador ou por escrevente


designado por ele. No caso do notificado se negar a receber ou assinar, o oficial
ou escrevente responsável pela entrega da notificação registrará tal fato, fazendo
uma descrição física de quem se recusou a aceitá-la.

Percebe-se que o serviço de notificação efetuado pelo RTD é uma forma


eficaz e rápida de provar a entrega, por meio de certidão com fé pública.

237
UNIDADE 3 — REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS

3.3 COMPETÊNCIA
Já não há mais discussão que o Registro de Títulos e Documentos é a
serventia competente para enviar notificações extrajudiciais. Todavia, segundo
Demchuk (2020, p. 91), “[...] existia um conflito em relação às notificações judiciais
e os limites territoriais do Registro de Títulos e Documentos”.

Demchuk (2020, p. 91) levanta uma questão: “[...] será que um cartório
de São Paulo poderia enviar uma notificação para alguém domiciliado no Rio de
Janeiro”? E, nos convida a analisar a ementa do Superior Tribunal de Justiça (STJ):

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO.


CONTRATO DE FINANCIAMENTO DE AUTOMÓVEL COM
GARANTIA DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. NOTIFICAÇÃO
EXTRAJUDICIAL REALIZADA POR CARTÓRIO DE TÍTULOS
E DOCUMENTOS SITUADO EM COMARCA DIVERSA DO
DOMICÍLIO DO DEVEDOR. VALIDADE. 1. A notificação
extrajudicial realizada e entregue no endereço do devedor, por via
postal e com aviso de recebimento, é válida quando realizada por
Cartório de Títulos e Documentos de outra Comarca, mesmo que
não seja aquele do domicílio do devedor. Precedentes. 2. Julgamento
afetado à Segunda Seção com base no procedimento estabelecido pela
Lei nᵒ 11.672/2008 (Lei dos Recursos Repetitivos) e pela Resolução
STJ nᵒ 8/2008. 3. Recurso especial conhecido e parcialmente provido
(BRASIL, 2017).

Agora, é importante deixar registrado que a jurisprudência dos tribunais
tem decidido no sentido de que a prova da constituição do devedor deve ser
realizada por meio da notificação pelo Registro de Títulos e Documentos
da comarca do domicílio do devedor, ou seja, processualmente falando, “a
notificação tornou-se pressuposto processual a ser atestado quando do exercício
do direito de ação, sob pena de extinção do processo sem resolução do mérito”
(DEMCHUK, 2020, p. 91).

Todavia, as questões jurídicas nunca são tão fáceis assim e, na maioria


das vezes, encontramos posições diversas. Foi o que aconteceu com a doutrina de
Paiva e Alvares (2018, s. p., grifo do original), que expõe:

[...] na apreciação do Agravo de Instrumento nᵒ 831608, em 11-4-2011,


no STF, tendo como relatora a Ministra Cármen Lúcia, foi decidido
que está adequado o posicionamento do CNJ no sentido de que ‘a
notificação extrajudicial deve ser realizada pelos Cartórios de Títulos e
Documentos situados na comarca do domicílio/residência do inadimplente’.

Ao mesmo tempo, confortam Paiva e Alvares (2018), que está ganhando


força no STF o acirramento entre as correntes que propugnam validade ou
invalidade da notificação extrajudicial realizada por via postal, com Aviso de
Recebimento, no endereço do devedor, por RTD situado em comarca diversa do
domicílio do noticiado.

238
TÓPICO 3 — NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL / REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS NA ATUALIDADE / CANCELAMENTO
DO REGISTRO

Então, acadêmico, pelo visto, a questão é ainda realmente conflitante e


sem uma posição definitiva.

3.4 CONSTITUIÇÃO DO DEVEDOR EM MORA


Esse talvez seja o mais relevante efeito da notificação, mas o que
significa isso? Antes, vamos entender o que é mora. É a falta ou atraso no
pagamento, ou também o descumprimento de uma obrigação de fazer. Em
termos jurídicos, a mora do devedor caracteriza-se quando ele não cumpre,
por culpa sua, a prestação devida na forma, tempo e lugar estabelecido.

Agora, para restar configurada a mora do devedor, é necessária a existência


do elemento objetivo e do subjetivo. O elemento objetivo é a materialização do não
cumprimento do avençado: a não realização do pagamento, no tempo, local e modo
estipulado. E o elemento subjetivo, é o que diz respeito ao sujeito em si, que não
cumpriu a obrigação; e é aí que entra a “constituição do devedor em mora”.

A Súmula nᵒ 72, do Superior Tribunal de Justiça, diz que “A comprovação


da mora é imprescindível à busca e apreensão do bem alienado fiduciariamente”
(BRASIL, 1993).

Já há muito, a legislação que vem disciplinando o mercado de capitais,


tem o tema mora em suas pautas, o qual está sempre em constante mudança. A
última, e muito significativa, se deu com a Lei nᵒ 13.043, de 13 de novembro 2014,
que alterou o § 2ᵒ do Art. 2ᵒ do Decreto-lei nᵒ 911/1969, com a seguinte redação:
“[...] § 2o  A mora decorrerá do simples vencimento do prazo para pagamento
e poderá ser comprovada por carta registrada com aviso de recebimento, não
se exigindo que a assinatura constante do referido aviso seja a do próprio
destinatário” (BRASIL, 2014).

A redação revogada apresentava: “§ 2ᵒ A mora decorrerá do simples


vencimento do prazo para pagamento e poderá ser comprovada por carta
registada expedida por intermédio de Cartório de Títulos e Documentos ou pelo
protesto do título, a critério do credor” (BRASIL, 1969).

Você pode perceber que houve uma grande alteração com relação a
“obrigatoriedade” da utilização do serviço registral, prestado pelo RTD, no
sentido de cumprir as notificações.

239
UNIDADE 3 — REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS

3.4.1 Constituição em mora do devedor na compra de


imóvel a prestação
Conforme disposição do § 1ᵒ do Art. 32 da Lei nᵒ 6.766, de 19 de
dezembro de 1979 – Lei de Parcelamento do Solo Urbano (Loteamentos e
Desmembramentos): “§ 1o Para os fins deste artigo o devedor-adquirente será
intimado, a requerimento do credor, pelo Oficial do Registro de Imóveis, a
satisfazer as prestações vencidas e as que se vencerem até a data do pagamento,
os juros convencionados e as custas de intimação” (BRASIL, 1979).

Embora a redação traga “Oficial do Registro de Imóveis”, a prática tem


nos mostrado a possibilidade desse Oficial requerer ao RTD que processe a
diligência da notificação.

Uma vez notificado, o devedor tem um prazo de trinta dias para purgar a
mora, ou seja, fazer o pagamento das prestações vencidas e das que se vencerem
até a data do efetivo pagamento, além, é claro, dos acréscimos com os juros
convencionados e das despesas com a notificação.

Purgada a mora, o contrato se perfaz. Não purgada, o credor, com a


certidão do não pagamento em cartório, requer ao Registro de Imóveis o
cancelamento do registro do contrato.

Embora de raro uso, mas há previsão no Art. 33, da Lei nᵒ 6.766/1979, de


constituir em mora o credor. Quando este se recusa a receber as prestações. Será
notificado para, em quinze dias, vir receber as importâncias depositadas pelo
devedor no próprio Registro de Imóveis, sob pena de considerar-se efetuado o
pagamento, a menos que o credor impugne o depósito (BRASIL, 1979).

3.4.2 Constituição em mora do devedor de Alienação


Fiduciária sobre imóvel
A Lei de Alienação Fiduciária – Lei nᵒ 9.514 de 20 de novembro de 1997,
também dispõe, a partir do Art. 26, que: “Vencida e não paga, no todo ou em parte, a
dívida e constituído em mora o fiduciante, consolidar-se-á, nos termos deste artigo,
a propriedade do imóvel em nome do fiduciário” (BRASIL, 1997, grifo nosso).

O devedor será notificado nos termos dessa lei, a qual dispõe nos
parágrafos 3ᵒ e 3ᵒ-A. do Art. 26:

§ 3ᵒ A intimação far-se-á pessoalmente ao fiduciante, ou ao seu


representante legal ou ao procurador regularmente constituído,
podendo ser promovida, por solicitação do oficial do Registro de
Imóveis, por oficial de Registro de Títulos e Documentos da comarca
da situação do imóvel ou do domicílio de quem deva recebê-la, ou
pelo correio, com aviso de recebimento.

240
TÓPICO 3 — NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL / REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS NA ATUALIDADE / CANCELAMENTO
DO REGISTRO

§ 3o-A. Quando, por duas vezes, o oficial de registro de imóveis


ou de registro de títulos e documentos ou o serventuário por eles
credenciado houver procurado o intimando em seu domicílio ou
residência sem o encontrar, deverá, havendo suspeita motivada
de ocultação, intimar qualquer pessoa da família ou, em sua falta,
qualquer vizinho de que, no dia útil imediato, retornará ao imóvel,
a fim de efetuar a intimação, na hora que designar, aplicando-se
subsidiariamente o disposto nos Arts. 252, 253 e 254 da Lei no 13.105,
de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil) (Incluído pela Lei
nᵒ 13.465, de 2017) (BRASIL, 1997, grifo nosso).

Conforme você pôde verificar, acadêmico, o § 3ᵒ não deixa margem àquela


discussão da competência, porque já traz expresso que é o Oficial da situação do
imóvel ou do domicílio de quem deve receber a notificação.

3.5 LOCAÇÃO X DIREITO DE PREFERÊNCIA X


NOTIFICAÇÃO AO INQUILINO
A lei do inquilinato adverte o locador que, no caso de venda, cessão ou
promessa de cessão de direitos ou dação em pagamento, o locatário tem preferência
para adquirir o imóvel locado, em igualdade de condições com terceiros.

Reza o Art. 27 da Lei nᵒ 8.245 de 18 de outubro de 1991 (Lei do inquilinato


ou das locações), que o locador deve dar conhecimento do negócio pretendido,
mediante notificação judicial, extrajudicial ou outro meio de ciência inequívoca.
Inclusive, o parágrafo único dispõe que: “A comunicação deverá conter todas as
condições do negócio e, em especial, o preço, a forma de pagamento, a existência de
ônus reais, bem como o local e horário em que pode ser examinada a documentação
pertinente” (BRASIL, 1991).

E, quanto ao prazo o disposto no Art. 28 enfatiza que o direito de


preferência do locatário caducará se não manifesto em trinta dias, de maneira
inequívoca sua aceitação integral da proposta.

Passamos agora para um novo desafio, conhecer um pouco do universo


virtual do Registro de Títulos e Documentos.

4 REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS NA ATUALIDADE


A ideia aqui é realmente fazer com que você evolua no conhecimento
teórico e prático, pois não mais vivemos na era que precisamos nos deslocar
fisicamente para determinados objetivos. E o Registro de Títulos e Documentos
também está dando prova disso.

241
UNIDADE 3 — REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS

FIGURA 6 – RTD CONVENCIONAL

FONTE: <https://www.community-posts.com/news/degree-certificate-attestation-of-
educational-documents.html>. Acesso em: 9 fev. 2021.

Em um discurso progressista e entusiasta, lemos nas palavras do


presidente da ANOREG, Cláudio Marçal Freire, que após um breve balanço dos
primeiros meses da gestão 2019/2021, propõe metas factíveis para sua gestão até o
final de 2021. Ele pergunta: “O que é importante para nós? Afinal, como faremos
para que nossos objetivos se tornem realidade? Em breve responderemos a essas
perguntas e, com a ajuda de todos os colegas, levaremos o RTDPJ ao lugar de
destaque por que tanto ansiamos” (NOVOS CAMINHOS, 2019, s. p.).

Contemporiza o presidente Cláudio Marçal Freire que “o futuro, no


segmento registral, passa pelo Registro de Títulos e Documentos e de Pessoas
Jurídicas. Meus antecessores sabiam disso, investiram em tecnologias e
prepararam o caminho para o que está por vir. A tecnologia da informação tem
sido o nosso propósito maior” (NOVOS CAMINHOS, 2019, s. p.).

Sustenta, também, que trabalham incansavelmente para fortalecer e


aprimorar os serviços da Central Nacional, até realizaram seminário técnico
sobre a plataforma, com destaque às novas funcionalidades e os bancos de dados
(NOVOS CAMINHOS, 2019).

Enfatiza, ainda, que a plataforma da Central está diretamente ligada à


Receita Federal e: “O nosso futuro passa pela movimentação central de dados,
desenvolvida e gerida por nós. Unidos nessa plataforma, iremos enfrentar os
desafios que o mercado impõe” (NOVOS CAMINHOS, 2019, s. p.).

Os serviços nas plataformas virtuais já estão sendo prestados Brasil a


fora em várias Centrais Registrais e Cartórios 24 horas. Esta já é uma realidade
que não tem mais volta, e vem ao encontro do discurso do presidente e intenções
da ANOREG.

242
TÓPICO 3 — NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL / REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS NA ATUALIDADE / CANCELAMENTO
DO REGISTRO

FIGURA 7 – PLATAFORMA VIRTUAL

FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/legal-advice-concept-lawyer-hand-
touching-1822691369>. Acesso em: 9 fev. 2021.

Acadêmico, a hora é agora, o tempo não volta a ser o que era antes, os
serviços nas serventias registrais, em especial no RTD estão se aperfeiçoando
porque é certo que não espaço para profissionais despreocupados. É preciso ser
criativo, eficiente, e se envolver com as mudanças tecnológicas.

Vamos encerrar nossos estudos com o Cancelamento do Registro no RTD.

5 CANCELAMENTO DO REGISTRO
A Lei de Registros Públicos dispõe, em seus Artigos 164-166, o tema “Do
Cancelamento” no que tange ao Registro de Títulos e Documentos. Geralmente
acontece com apresentação de documento particular, contendo a quitação ou
exoneração do credor em relação ao título registrado. Poderá ser cancelado em
virtude de sentença judicial, também.

Conforme Paiva e Alvares (2018, s. p.), “Apresentados quaisquer dos


documentos referidos no Art. 164 da LRP, o oficial certificará, na coluna das
averbações do livro de registro integral, o cancelamento e a razão dele [...] o
documento que o autorizou, datando e assinando a certidão, de tudo fazendo
referência nas anotações do protocolo”.

Interpretando o Art. 166 da LRP, obtemperam Paiva e Alvares (2018, s. p.):


“As averbações relativas aos cancelamentos serão realizadas, também, mediante
apresentação de requerimento de cancelamento, os quais serão arquivados com
os documentos que os instruem.

243
UNIDADE 3 — REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS

Acadêmico, finalizamos este tópico, esta unidade, e, assim, também


nossos estudos dos Elementos dos Registros de Títulos e Documentos.

Cônscios de que a tarefa é dar uma abordagem genérica e não esgotar o


estudo, estimamos que você tenha absorvido o conteúdo e possa utilizá-lo na prática.

Bons estudos e sucesso sempre!

244
TÓPICO 3 — NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL / REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS NA ATUALIDADE / CANCELAMENTO
DO REGISTRO

LEITURA COMPLEMENTAR

PUBLICIDADE JURÍDICA E O REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS

Ricardo Dip

“Vivemos na era do registro” – disse García Coni –, e o mundo da


registração, formalizando a garantia de aparências, prevenindo conflitos,
conferindo certezas, abrange amplificadas exigências da sociedade política:
desde as que dizem respeito aos fatos e situações jurídicas de caráter pessoal –
desvelados e protegidos pelos registros pessoais (os da pessoa natural e os da
pessoa jurídica) –, até chegar aos que concernem aos fatos e situações jurídicas
de natureza real, revelados e defendidos pelos registros reais (os imobiliários e os
mobiliários), toda a estrutura e a fisiologia dos registros respondem à demanda
social de garantias, de tal sorte que se pode mesmo dizer que a segurança jurídica
se enraíza nos registros e, enervada, faz-se ali mais do que finalidade, verdadeira
enteléquia da aspiração social de certeza.

Carnelutti na metade do século, já diagnosticara a não rara inconsciência


dos objetivos individuais, confundidos pela massa informe de leis e pela
instabilidade normativa, e López de Oñate, apoiado nos traços com que Tocqueville
desenhara o indivíduo em face da mostrenga estrutura dos estados – o indivíduo
“impotente, pobre e isolado”– revelou a insuficiência das normas jurídicas, de
um lado tão aparentemente poderosas e terríveis, de outro, indiferentes acerca da
precisa e concreta vida particular.

Se a lei, entretanto, no dizer expressivo de Bigotte Chorão, é a intimação


do justo, sua inculturação de consonância com os costumes pátrios e com as
exigências de lugar e de tempo [na célebre lição de Santo Isidoro de Sevilha:
“Erit lex honesta, iusta, possibilis, secundum naturam, secundum patriae
consuetudinem, loco temporique conveniens, necessaria, utilis  […]”, se a lei,
repito, aplica os princípios gerais do direito natural às circunstâncias concretas
e históricas de cada sociedade, determinando prudencialmente as instituições
adequadas, num dado quadro temporal e espacial, à consecução do bem comum,
nenhuma segurança, nenhuma certeza jurídica podem advir como resultado da
arbitrária recusa da certeza normativa. Sem abdicar do papel da equidade, sem
restringir a compreensão do sentido normativo da lei à bitola de uma leitura
positivista (literal e a histórica), é possível repartir o justo segundo a lei e não
segundo o arbitrário julgamento que dela se faça: dizer justiça alternativa é dizer
alternativa da justiça; dizer alternativa da justiça é dizer injustiça: os juízes não
são tiranetes a atuar uma ética e um direito de situação, porque sua mais elevada
e reta missão é a de encontrar em cada caso o que é justo (id quod justum est)
segundo a sinalização normativa.

245
UNIDADE 3 — REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS

Difundidos os interesses humanos, avessos – feliz e naturalmente


avessos – às frustrâneas tentativas de sua restrição igualitária, é ao lado de um
mundo de recomposição heterônoma da ordem jurídica violada que se ergue o
mundo da registração, em que se deve espelhar, o melhor possível e consoante à
diversidade das culturas, de tempo e de lugar, toda a variedade das aspirações
de certeza jurídica, que não se exaure com as previsões genéricas dos corpos
normativos: o direito não pode desconhecer a viva realidade social, sua trama
pluralíssima, e a garantia de paz na sociedade reclama que a instrumentação
registrária responda o mais amplamente possível ao anseio de certeza. Para
logo, de par com situações prototípicas, quer no plano pessoal (nascimento,
casamento, óbito), quer no plano real (propriedade, enfiteuse, hipoteca), o
dinamismo societário implica o surgimento de novas formas, atípicas, de
relacionamento econômico e social, imprevistas em sua singularidade pelos
legisladores, mas não por isso desmerecedoras, tout court, da proteção jurídica
e de um sistema formal de garantias.

Mais além, são os objetos que, refugindo naturalmente da especialização,


evadem a possibilidade de registros reais, ou ainda são os casos que,
prevalecentemente, comportam antes referência protetiva do fato jurídico do que
a estendida à situação jurídica.

Já se adivinha que onde a atipicidade vede acesso aos registros reais,


que onde a deficiência de especialidade objetiva possível obste ao ingresso
nesses registros, que onde seja (por não importa quais motivos) preferível a
publicidade de fatos à de situações jurídicas, aí deva o legislador valer-se de um
registro residual, de uma espécie de escoadouro último das demandas sociais de
segurança, de uma passagem ampla e acaso às escâncaras para conferir algum
e variado modo de garantia às relações humanas que encontraram cerradas as
portas dos demais registros. Aí nos encontramos com essa função residual, com
esse receptáculo registral derradeiro que é o oficio de títulos e documentos. Triste
sina, entretanto, parece acompanhá-lo: essa residualidade costuma considerar-se
não só como demonstração de secundariedade, como prova do menor valor social
do registro de títulos e documentos. O que não se vê com a mesma frequência é
que esse caráter residuário do ofício de títulos e documentos se é sua miséria, é
também sua grandeza, porque exatamente é o traço de sua mais extraordinária
magnitude social.

Não há, ao menos pelo fato de sua só divisão, registros importantes e


registros desimportantes para a sociedade política: o universo registrário
classifica-se, na sua organicidade, para melhor execução de sua fisiologia,
mas todo o mundo registral e toda sua orgânica têm importância para o bem
comum: são como que membros que se especializam para melhor atender às
necessidades sociais, sem que se perca a ideia de unidade e de ressonância de
suas especializações e atividades. Onde o registro pessoal é deficiente, não se
atinge o bem comum por mais que os registros reais funcionem a contento;
onde o registro imobiliário falhe, falta a garantia de paz social, nada obstante
um modelar sistema de registros pessoais; onde não haja meios residuários de

246
TÓPICO 3 — NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL / REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS NA ATUALIDADE / CANCELAMENTO
DO REGISTRO

conferir alguma publicidade às relações humanas alheias dos registros típicos


pessoais e reais, persistirá insatisfeita a demanda social de segurança. Pode
conceder-se que o registro de imóveis seja, por antonomásia, o registro público,
enquanto sua efetividade se infira de modo mais pronto (eficácia derivada da
legitimação registral ou, quando o caso, da fé pública registral) ou enquanto se
estime a relevância econômica de sua base material (vale dizer, o imóvel); mas
essa afirmação implica a adoção de critérios particulares de análise: ora se trata de
conferir valor à imediatidade da ressonância do direito autônomo (com menoscabo
dos efeitos imediatos e provativos que reflitam na esfera heterônoma de atuação
jurídica), ora se avalia uma situação histórica e circunstancial; em todo caso, não
se pode pretender hierarquizar a importância social dos registros considerados
em sua variedade, a partir de perspectivas propositadamente restritas.

A residualidade do registro de títulos e documentos, se se pensa constitua,


sob certo aspecto, sua principal limitação e miséria, configura também, noutro
plano, sua grandeza e ornamento maior: Siviero, depois de observar que nenhum
registro inscreve fatos tão heterogêneos quanto o ofício de títulos e documentos,
relaciona 140 atos suscetíveis de registração neste ofício. Não tem faltado
ainda que a dinâmica social e o desenvolvimento doutrinário se encarreguem
de aumentar o vulto de atos inscritíveis no registro de títulos e documentos:
Adilson Abreu Dallari, por exemplo, sustentou a necessidade e a conveniência de
utilização desse registro “para assegurar a verdadeira e concreta publicidade das
licitações”; a recente disciplina normativa de defesa dos direitos do consumidor
abriu ensejo até mesmo a uma publicidade prima facie constitutiva de convenção
acerca de relações de consumo (Art. 107 da Lei 8.078, de 11-9 1990); a administração
pública vai reafirmando a relevância do registro de títulos e documentos, ora nele
impondo a inscrição dos regulamentos dos consórcios (Instrução Normativa 42 da
Secretaria da Receita Federal, expedida em 28-4-1989), ora, como o fez o Diretor
do Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo, Delegado Cyro Vidal Soares
da Silva, reavivando a indispensabilidade do registro do contrato de compra e
venda de veículo automotor com pacto adjeto de reserva de domínio.

O robustecimento das ainda um tanto anêmicas ciência e consciência


da função institucional dos registros de títulos e documentos passa pelo
reconhecimento – por parte dos registradores – da importância social de sua
missão registrária, do relevo de sua vocação e de sua aptidão. (Li em alguma
parte e faz cerca de quinze anos que, parece, André Frossard fizera expedir um
telegrama a não me lembro quem, e ali dizia o grande pensador francês: “Ciência
cada vez mais perto de Deus. Religião, cada vez mais longe”. Sinto-me de algum
modo tentado a dizer que – ressalvados os esforços de alguns registradores,
nomeadamente o de José Maria Siviero –, parece que alguns extranei dos registros
estariam hoje mais próximos de reconhecer a importância dos registros de títulos
e documentos do que boa e extensa   parte   dos próprios registradores: “juízes e
advogados cada vez mais perto dos ofícios de títulos e documentos; registradores,
cada vez mais longe”).

247
UNIDADE 3 — REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS

Certamente, esta deficiência não se pode atribuir de maneira exclusiva à


residualidade do objeto inscritível: há algo mais, que deriva não propriamente
das funções registrarias, mas antes da peculiaridade de seu direito organizatório;
se me é permitido empregar vocábulo não-dicionarizado, o registro de títulos e
documentos, entre nós, padece de um complexo de anexidade: pensam alguns que
ele nasceu para ser segundo, para ser acessório, para ser anexo de outro registro,
e não veem que essa anexidade organizatória não representa acessoriedade
institucional alguma, não desvela subordinação funcional, não asfixia o papel de
oferta de garantia de paz no âmbito aberto de uma demanda social dinâmica,
só sociável mediante o recurso à residualidade autônoma: o secundar outros
registros é aí, sem perder o caráter de secundariedade, o coroamento de toda
instituição registral.

Há alguns outros aspectos característicos dos registros de títulos


e documentos que conviria aqui sublinhar, com o escopo de reconhecer sua
importância social. O primeiro desses aspectos diz respeito ao objeto de sua
publicidade; o segundo, a seu papel substitutivo; o terceiro, a seu caráter
jurídico formalizador.

Em que pese à subsistência de alguma controvérsia doutrinária, pode


asseverar-se que os registros tipicamente pessoais e reais visam à publicidade
de situações jurídicas, mediante a inscrição de fatos jurídicos. Em outros termos,
esses fatos configuram o objetivo da inscrição, ao passo que a situação jurídica
é o objeto de sua publicidade, o que se almeja dar a conhecer. Diversamente,
no registro de títulos e documentos o objeto da publicidade é, com prevalência,
o fato jurídico. Quando, entre nós, a Lei 973, de 2 de janeiro de 1903, transferiu
do notariado para um cartório inicialmente criado no Rio de Janeiro –adiante
seguido pelos estados– a inscrição dos títulos, documentos e outros papéis,
teve por objetivo “sua autenticidade, conservação e perpetuidade”, porque,
não quadrando com a dinâmica social a generalização do instrumento público,
havia de conferir-se ao instrumento privado valor publicizado, custódia de teor e
conteúdo e (quodammodo) eficácia em relação a terceiros: esta criação primigênia,
ocasionalmente justificada para evadir fraudes na autenticação, encontrando
molde no Código Civil, inaugurou contornos que hoje se podem dizer tradicionais,
bastando ver, no quanto concerne a esse registro, que os preceitos da Lei 4.827, de
7 de fevereiro de 1924, acham-se substancialmente reproduzidos na vigente Lei
6.015, de 31 de dezembro de 1973.

A derradeira finalidade unitária dos diversos registros não importa na


ausência de distinção do  ethos  adequado de cada uma de suas divisões: seu
eventual agrupamento e sua anexidade organizatória não implicam ausência de
distinção modal da segurança jurídica a realizar por meio da publicidade; essa
distinção conduz a outra, qual seja a das técnicas de inscrição: se o registro predial
tem hoje o imóvel por base ou critério técnico da registração que efetua, assim
como se o registro pessoal, em derradeira análise, toma por base convergente
a pessoa (em rigor, p. ex., no registro civil das pessoas naturais, reconhece-se a
principalidade do assento de nascimento, que exerce a função de fólio pessoal

248
TÓPICO 3 — NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL / REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS NA ATUALIDADE / CANCELAMENTO
DO REGISTRO

atrativo), já o de títulos e documentos se apoia, principalmente, na documentação


(instrumentação de fatos jurídicos, lato sensu), visando (de maneira dominante)
não a tornar cognoscíveis as titularidades, as situações jurídicas, mas a dar
publicidade aos próprios fatos instrumentados. Este objetivo peculiar de um
registro de fatos conduz a uma ressonância que revela a particular importância
do registro de títulos e documentos: ao passo que os registros tipicamente reais
colimam, de modo primeiro, conferir segurança estática, secundada pela outorga
da segurança do tráfico, os registros de títulos e documentos, dirigidos não à
publicidade de situações jurídicas (estática patrimonial), mas à de fatos jurídicos,
tem por escopo conferir, de maneira predominante, segurança dinâmica; note-se,
pois, que, no mecanismo do universo registral, o ofício de títulos e documentos
cumpre uma tarefa de certificação jurídica que se modula diversamente, no plano
de sua finalidade mais próxima: busca, pode dizer-se que com prevalência, a
proteção dos terceiros, não a das titularidades.

Há certa reticência em algumas dessas afirmações, reflexo da amplitude


do objeto residuário do registro de títulos e documentos: há uma residualidade
com efeitos conservativos (veja-se o inc. VII do Art. 127 da Lei 6.015, de 1973); há
outra residualidade – muitíssimo mais importante – de autenticação e eficacização
provativa (Art. 127, I, parágrafo único); há, por fim, uma residualidade potencial
– própria de uma ulterior elaboração legislativa –, e esta ampla perspectiva
do objeto residuário conduz a uma prudencial reserva nas afirmações de
características dos registros de títulos e documentos,mas é possível asseverar a
predominância de seus objetivos publicitários calcados na cognoscibilidade e
na autenticação de fatos (vejam-se os Arts. 127 e 129 da Lei 6.015; confira-se a
referência de seu Art. 128  às obrigações), o que retraça a singular sinalização do
ofício de títulos e documentos em ordem à dinâmica patrimonial, à segurança do
tráfego econômico e jurídico.

Uma deficiência natural das coisas tornam-nas insuscetíveis de ser base


para registros reais típicos;  além disso, a normativa desses registros não pode
contemplar em numerus apertus fatos e situações passíveis de eficácia ofensiva
e defensiva (bastaria exemplificar, no direito brasileiro, com os óbices que se
entendiam justificáveis para inibir a inscrição predial do protesto contra alienação
de bens); por fim, acrescente-se o vultoso dispêndio e as exigências técnicas que
suporia a organização de registros reais variados.

Esses motivos, o primeiro deles relativamente insuperável (falta de cômoda


identificação das coisas), os demais só dificultosamente vencíveis, conduzem,
entre nós, ao papel substitutivo do registro real pelo de títulos e documentos.

Não se desconhece que a vigente Lei nᵒ 6.015, de 1973, prevê inscrições


sobre tema mobiliário no registro predial (penhor de máquinas e de aparelhos
utilizados na indústria, penhor rural), em manifesta deslocação técnica.

Portanto, há a contrapartida: o registro de títulos e documentos não apenas


é substitutivo de várias hipóteses de potenciais registros imobiliários, senão que
igualmente, em dados casos, faz as vezes do registro predial.

249
UNIDADE 3 — REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS

Quanto à substitutividade do registro real pelo de títulos e documentos,


é da tradição de nosso direito que neste último ofício se inscreva o (i) o penhor
comum, (ii) o penhor sem deslocação possessória, (iii) o penhor pecuário, (iv) a
promessa de venda referente ao bem móvel, (v) a alienação fiduciária; (vi) a compra
e venda em prestações, com reserva de domínio, (vii) o penhor de automóveis.

Certo que a tipicidade dos direitos reais não supõe símile tipificaçâo dos
fatos que os constituam; certo, ainda, que o registro imobiliário, nada obstante
sua tendencialidade para o direito real é, antes, uma fonte de convergência
de fatos relativos aos imóveis, pode verificar-se que o registro de títulos e
documentos configura, de modo dúplice, um sucedâneo do registro predial: ora
porque recepciona títulos aptificados a constituir direitos reais imobiliários, mas
não suscetíveis  in abstracto, de registração predial, assim, controversamente,
o  leasing; ora porque inscreve causas de direito creditício referente ao imóvel
(comodato, locação, proposta de venda, multipropriedade).

Por fim, o registro de títulos e documentos é uma institucionalização


formalizadora de direito autônomo. Três aspectos parecem comportar destaque a
propósito dessa tarefa de formalização: o primeiro deles diz respeito à importância
da autenticação, quando se pensa que “a vida jurídica seria de todo impossível
se pudéssemos negar ou pôr em dúvida todos os atos e contratos cuja celebração
não houvéssemos presenciado”, e, onde falta a instrumentação pública, supre-a a
missão legitimadora do registro de títulos particulares.

Mais além, a formalização de um direito autônomo revela e protege a


existência e o valor legítimos do pluralismo jurídico e da autonomia da elaboração
do direito, concorrente com a regulação heterônoma. O fracasso dos sistemas
estatalistas – em que pese à subsistência de sua base ideológica – deve servir de
robustecimento do modo prevalecente de elaboração autônoma do direito pelos
indivíduos e pelos corpos intermediários.

Por fim, as manifestas vantagens, éticas e sociais, das denominadas


“estruturas jurídicas persuasivas ou conciliatórias” passam pelo indispensável
rigor da forma, enquanto por ela se excluam conflitos injustificados. Assim
o lembra Alvarez Caperochipi, “Ia historia parece mostramos que Ias fases
de crecimiento y florecimiento de los pueblos se correspondem con sistemas
jurídicos formalistas y a Ias fases de decadencia con sistemas informes; Ias castas
de funcionários indolentes, parasitários del Estado suelen aparecer em Ia época
de vulgarismo, y se legitimó siempre en la pretensión de encontrar una «verdad
real» por encima de la verdad dogmático-formal establecida”.

Ainda me lembra – e para concluir – que, como sobredito, sendo de vital


importância para todos nós o regular e formal funcionamento dos registros e das
notas, para que, ainda em meio aos pecados individuais e das nações, possamos
almejar alguma paz social, alguma repartição da justiça e alguma consecução do
bem, é indispensável que a vocação e a aptidão profissional do registrador de
títulos e documentos se fortaleçam, primeiro com a consciência viva e leal dos

250
TÓPICO 3 — NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL / REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS NA ATUALIDADE / CANCELAMENTO
DO REGISTRO

variados aspectos de seu chamamento profissional, a um tempo individual, social


e transcendental; depois, com a consciência da imensa importância de sua função:
a miséria de ter nascido segundo e a grandeza dessa secundariedade registraria:
“Nasci segundo. Ao longo da vida esse fato se traduzirá em oscilações vertiginosas
que os vezes me levam ao delírio de me julgar o primeiríssimo, e outras ao
abatimento de me julgar o último dos últimos, porque, nascido segundo, só nos
momentos de equilíbrio, que são raros, vejo verdadeiramente que nem uma coisa
nem outra: segundo” – Gustavo Corção.

Sant’Ana do Parnaíba, 1° de novembro de 1991, Dia de Todos os Santos.

FONTE: Adaptado de <https://www.irib.org.br/noticias/detalhes/artigo-publicidade-juridica-e-o-


registro-de-titulos-e-documentos-undefined-por-ricardo-dip>. Acesso em: 8 fev. 2021.

251
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Entra em vigor, em 23 de janeiro de 2021, a Lei nᵒ 14.112, na qual há um há


dispositivo sobre o apostilamento de documentos estrangeiros.

• O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) é uma instituição pública que visa


aperfeiçoar, em especial no tocante ao controle e à transparência administrativa
e processual o trabalho do sistema judiciário brasileiro, e, para atingir esse
propósito, emite vários atos normativos, entre eles: instruções normativas,
portarias, provimentos, resoluções, recomendações, notas técnicas, orientações
entre outros atos de sua competência.

• O RTD também diligencia as NOTIFICAÇÕES para as mais diversas finalidades.


Entre elas, para constituir o devedor em mora.

• Pode se notificar, pelo RTD, o inquilino para lhe dar ciência do direito de
preferência, se o locador tiver a intenção de alienar o imóvel (vender, ceder,
prometer ceder ou dar em pagamento), embora essa notificação não seja
necessariamente obrigatória somente pelo RTD.

• Atualmente há várias plataformas que oferecem os serviços virtuais de RTD


e que a própria ANOREG se empenha com o aperfeiçoamento das novas
tecnologias e capacitações.

• O cancelamento do Registro pode se dar mediante apresentação de requerimento


que serão arquivados com os documentos que os instruem. Esse cancelamento
geralmente acontece com a quitação, cumprimento ou exoneração do credor em
relação ao título registrado. Pode se dar o cancelamento também, em virtude
de sentença judicial.

CHAMADA

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AUTOATIVIDADE

1 Há uma série de legislações e decretos federais que guardam, de alguma


maneira, relação com o Registro de Títulos e Documentos. Em 23 de janeiro
de 2021, entra em vigor a Lei nᵒ 14.112/2020, que visa atualizar a legislação
referente à recuperação judicial, à recuperação extrajudicial e à falência do
empresário e da sociedade empresária. Sobre os dispositivos desta lei e o
serviço do RTD, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A Lei nᵒ 14.112/2020 menciona o apostilamento de documentos,


remetendo à Haia.
b) ( ) A Lei nᵒ 14.112/2020 considera o RTD obrigatório.
c) ( ) A Lei nᵒ 14.112/2020 determina novos serviços ao RTD.
d) ( ) A Lei nᵒ 14.112/2020 exclui algumas atribuições do RTD.

2 A NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL feita pelo RTD tem sempre o objetivo


de conclamar alguém a fazer ou deixar de fazer alguma coisa. Com o RTD
você pode fazer prova do recebimento ou de se ter dado conhecimento, de
maneira inconteste, do conteúdo ou teor do ato. Considere também que
a notificação foi apresentada ao destinatário, sendo que sua constatação
de que o noticiado a recebeu é inequívoca e goza de fé pública, analise as
sentenças a seguir:

I- Qualquer pessoa pode elaborar uma notificação, seja ela para qual fim for
e apresentá-la ao registro. O registrador ou seu preposto fará o registro e
diligenciará para cumpri-la.  
II- O Oficial do Registro de Títulos e Documentos deve ir pessoalmente
entregar a NOTIFICAÇÃO no endereço do notificado, quando se tratar
de Alienação Fiduciária, ou seja, não pode ser um escrevente.
III- Com as atualizações na legislação de mercado de capitais, a última em
2014, não traz mais expressa que a mora poderá ser comprovada por carta
registrada expedida por intermédio de Cartório de Títulos e Documentos
ou pelo protesto do título, a critério do credor.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 A NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICAL emitida pelo RTD contempla o


importante efeito de constituição do devedor em mora. É certo que isso
acontece pela fé pública, originada da segurança jurídica dos atos registrários
e também da publicidade, embora nem todos os casos de constituição em
mora do devedor são exigidos com a intervenção do RTD para registro e
diligência das notificações. No tocante ao tema “constituição em mora do
devedor”, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

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( ) A Lei nᵒ 6.766/79 (Lei do Parcelamento do Solo Urbano) dispõe que
para os casos de imóveis vendidos em parcelas, e, vencendo estas sem
pagamento, o devedor-adquirente será intimado a requerimento do
credor, pelo Oficial do Registro de Imóveis, a satisfazer as prestações
vencidas e as que se vencerem até a data do pagamento, os juros
convencionados e as custas de intimação. Na prática, essa “intimação”,
quer dizer a NOTIFICAÇÃO para constituir o devedor em mora e pode o
Oficial do Registro de Imóveis requerer que o RTD o faça.
( ) A Lei nᵒ 9.514/1997 inaugura no Brasil a Alienação Fiduciária sobre
imóvel. Há muito, os agentes financeiros, abandonaram a velha hipoteca
e passaram a emprestar dinheiro para a aquisição/construção da casa
própria ou para qualquer imóvel, apenas por essa modalidade de garantia
(alienação fiduciária). Esta lei dispõe: Vencida e não paga, no todo ou
em parte, a dívida e constituído em mora o fiduciante, consolidar-se-á,
nos termos deste artigo, a propriedade do imóvel em nome do fiduciário.
Para constituir em mora o devedor, a intimação far-se-á pessoalmente ao
fiduciante, que deverá ser realizada por preposto do agente financeiro
diretamente ao domicílio do adquirente-devedor.
( ) A Alienação Fiduciária sobre imóvel dispõe: Vencida e não paga, no todo
ou em parte, a dívida e constituído em mora o fiduciante, consolidar-se-á,
nos termos desse artigo, a propriedade do imóvel em nome do fiduciário.
Para constituir em mora o devedor, a intimação far-se-á pessoalmente ao
fiduciante, ou ao seu representante legal ou ao procurador regularmente
constituído, podendo ser promovida, por solicitação do oficial do Registro
de Imóveis, por oficial de Registro de Títulos e Documentos da comarca
da situação do imóvel ou do domicílio de quem deva recebê-la, ou pelo
correio, com aviso de recebimento.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 O século XXI descortina uma nova realidade também para as atividades


registrais. É notória a busca das serventias em se aperfeiçoarem na busca
pela inovação. O Registro de Títulos e Documentos, igualmente os demais
serviços de notas de registros públicos no Brasil têm uma Associação
chamada Associação dos Notários e Registradores do Brasil (ANOREG).
Essa associação tem se esmerado no fortalecimento das plataformas
virtuais. Nesse contexto, disserte o que tem acontecido atualmente com a
ANOREG e que apoio tem realizado aos RTD.

5 É certo que um título ou documento levado a registro no RTD goza de


privilégios como a autenticidade, segurança, fé-pública e até a preservação
eterna dos mesmos. Agora, existe a possibilidade de haver o cancelamento
de determinados registros também. Nesse contexto, considerando a
necessidade de cancelamento do registro de documentos, disserte se há
disposição legal e como se dá esse cancelamento.

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REFERÊNCIAS
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atuação dos cartórios na pandemia. Conselho Nacional de Justiça, Brasília,
DF, 29 de dez. 2020. Disponível em: http://www.irtdpjbrasil.com.br/cnj-
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AVERBAÇÃO. ANOREG/BR, Brasília, DF, c2021. Disponível em: https://www.


anoreg.org.br/site/atos-extrajudiciais/registro-civil/averbacao/. Acesso em: 8 fev. 2021.

BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Consulado-Geral da República


Federativa do Brasil em Frankfurt Am Main. Apostila de Haia. Frankfurt Am
Main, 2018. Disponível em:http://frankfurt.itamaraty.gov.br/pt-br/apostila_
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n%C3%A3o%20%C3%A9%20intermediada%20pelo&text=documentos%20
oficiais%20emitidos%20ou%20autenticados%20com%20a%20Apostila%20de%20
Haia%20por%20%C3%B3rg%C3%A3os%20estrangeiros. Acesso em: 9 dez. 2020.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agravo em Recurso Especial 773850.


Relatora: Min. Maria Isabel Gallotti, Brasília, 31 mar. 2017. Disponível em: https://
stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/447551815/agrg-no-agravo-em-recurso-
especial-agrg-no-aresp-773850-rs-2015-0217808-1. Acesso em: 8 fev. 2021.

BRASIL. Lei nᵒ 13.019, de 31 de julho de 2014. Estabelece o regime jurídico


das parcerias entre a administração pública e as organizações da sociedade
civil, em regime de mútua cooperação, para a consecução de finalidades de
interesse público e recíproco, mediante a execução de atividades ou de projetos
previamente estabelecidos em planos de trabalho inseridos em termos de
colaboração, em termos de fomento ou em acordos de cooperação; define
diretrizes para a política de fomento, de colaboração e de cooperação com
organizações da sociedade civil; e altera as Leis nᵒs 8.429, de 2 de junho de 1992, e
9.790, de 23 de março de 1999. (Redação dada pela Lei nᵒ 13.204, de 2015). Brasília,
DF: Diário Oficial [da] União, 2014. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
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255
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Casa, Minha Vida – PMCMV e a regularização fundiária de assentamentos
localizados em áreas urbanas; altera o Decreto-Lei no 3.365, de 21 de junho de
1941, as Leis nos 4.380, de 21 de agosto de 1964, 6.015, de 31 de dezembro de
1973, 8.036, de 11 de maio de 1990, e 10.257, de 10 de julho de 2001, e a Medida
Provisória no 2.197-43, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências. Brasília,
DF: Diário Oficial [da] União, 2009. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
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115, 125, 126, 127, 128, 129, 134 e 168 da Constituição Federal, e acrescenta os
Arts. 103-A, 103B, 111-A e 130-A, e dá outras providências. Brasília, DF: Diário
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modeloinicial.com.br/lei/129814/sumula-72-stj/num-72. Acesso em: 8 fev. 2021.

BRASIL. Lei nᵒ 8.245, de 18 de outubro de 1991. Dispõe sobre as locações dos


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Oficial [da] União, 1991. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/l8245.htm. Acesso em: 8 fev. 2021.

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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6766.htm. Acesso em: 8 fev. 2021.

BRASIL. Lei nᵒ 6.015, de 31 de dezembro de 1973. Dispõe sobre os registros


públicos, e dá outras providências. Brasília, DF: Diário Oficial [da] União, 1979.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6015compilada.htm.
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Altera a redação do art. 66, da Lei nᵒ 4.728, de 14 de julho de 1965, estabelece
normas de processo sobre alienação fiduciária e dá outras providências. Brasília,
DF: Diário Oficial [da] União, 1969. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/decreto-lei/1965-1988/del0911.htm. Acesso em: 8 fev. 2021.

BRASIL. Decreto nᵒ 4.857, de 9 de novembro de 1939. Dispõe sobre a execução


dos serviços concernentes aos registros públicos estabelecidos pelo Código Civil.
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planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-1949/D4857.htm. Acesso em: 8 fev. 2021.

BRASIL. Decreto nᵒ 4.827, de 7 de fevereiro de 1924. Reorganiza os registros


públicos instituídos pelo Código Civil. Rio de Janeiro: Diário Oficial [da] União,
1924. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/historicos/
dpl/DPL4827-1924.htm. Acesso em: 8 fev. 2021.

BRASIL. Lei nᵒ 973, de 2 de janeiro de 1903. Cria o oficio privativo e vitalício do


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conservação e perpetuidade dos mesmos, como para os efeitos do art. 3. Da lei
79, de 23/08/1892, e da outras providencias. Rio de Janeiro: Diário Oficial [da]
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FIA – Fundação Instituto de Administração, São Paulo, 17 jan. 2019. Disponível
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