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Marcelo Soldi 1

7º SEMESTRE
DIREITO DAS SUCESSÕES
Universidade Presbiteriana Mackenzie – 1/2016
Prof: Paulo Amaral

CONCEITO

CF. Art. 5º. XXX - é garantido o direito de herança;

O direito à sucessão aberta está na Constituição Federal, sendo impossível a supressão desse
direito por uma lei ordinária.

Sucessão é a transmissão ou a transferência da titularidade do patrimônio (conjunto de bens


móveis, imóveis, corpóreos, incorpóreos, bem como direitos) pertencente a alguém, por força de lei ou
por ato de última vontade a outrem, em virtude do falecimento do seu titular. São as duas espécies de
sucessões: sucessão legítima e testamentária.

ESPÉCIES DE SUCESSÃO

Existem duas espécies (legítima e testamentária), que não excluem a outra. A sucessão será
testamentária se o morto deixou um testamento válido. Pode ocorrer das duas espécies ocorrem
simultaneamente, nos casos do de cujus deixar mais do que ele poderia dispor em seu testamento para
quem não é herdeiro (ex: homem que morre deixando viúva e filho, e fez testamento deixando 100% de
seu patrimônio para o Corinthians).

SUJEITOS DA SUCESSÃO

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:


I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o
falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640,
parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado
bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;
IV - aos colaterais.

Art. 1.845. São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge.

Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro, quanto aos bens
adquiridos onerosamente na vigência da união estável, nas condições seguintes:
I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à que por lei for atribuída
ao filho;
II - se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a metade do que couber a
cada um daqueles;
III - se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um terço da herança;
IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da herança.

• Morto: é o defunto, falecido, finado, também chamado de de cujus. É o autor da herança


(nomenclatura pelo código)
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• Sucessor: pode ser herdeiro ou legatário.


§ Ser herdeiro é receber um quinhão (quota porte) de todo o universo que constitui
o patrimônio deixado pelo falecido. Pode ser legítimo ou testamentário:
ü Legítimo: pode ser necessário ou facultativo.
• Necessário, obrigatório, reservatário: a sucessão legítima é deferida
na seguinte ordem: 1) descendente; 2) ascendente; 3) cônjuge
sobrevivente – viúvo.
• Facultativo: Não havendo herdeiro legítimo necessário ou
testamento, o herdeiro facultativo receberá aquilo que o falecido
deixou. São os colaterais até 4º grau (irmão, sobrinho-tio, sobrinho-
neto, tio-avô, primo-irmão) ou convivente sobrevivente1.
ü Testamentário: pode ser qualquer pessoa. É muito comum que o herdeiro
testamentário seja um herdeiro legítimo do falecido.
§ Legatário só existe se existir testamento válido deixado pelo morto, ou seja, na
sucessão testamentária. Receber um legado é receber um bem, ou vários bens, ou
parte de um bem, devidamente indicado, individuado, destacado e descrito num
ato jurídico denominado testamento.
§ É muito comum que alguém, na mesma sucessão, seja um herdeiro do morto e
também um legatário do morto. É chamado de legatário precípuo e o que ele
recebe é chamado de pré-legado.

ABERTURA DA SUCESSÃO

Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e
testamentários.

Art. 1.787. Regula a sucessão e a legitimação para suceder a lei vigente ao tempo da abertura
daquela.

Art. 1.791. A herança defere-se como um todo unitário, ainda que vários sejam os herdeiros.
Parágrafo único. Até a partilha, o direito dos co-herdeiros, quanto à propriedade e posse da
herança, será indivisível, e regular-se-á pelas normas relativas ao condomínio.

A abertura da sucessão se dá com a morte do legatário. A data da morte é a data em que cessa a
atividade cerebral do ser humano. Pode-se ocorrer a morte de duas ou mais pessoas de forma simultânea,
sem que se possa determinar quem faleceu antes ou depois. Caso isso aconteça, ocorre o que se chama
de comoriência – um não herda do outro.

Aberta a sucessão, o patrimônio dele é imediatamente transmitido aos seus herdeiros legítimos e
testamentários. É o chamado princípio da saisine2.

É da data da morte que se determina quem pode ou não pode ser considerado sucessor do de
cujus – ou seja, a lei que estiver em vigor na data da morte será a que será considerada para se determinar
quem é ou não herdeiro legítimo.

1
Há uma divergência na doutrina em reconhecer o conveniente sobrevivente como herdeiro legítimo do
morto.
2
Lê-se “sesini” (francês).
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Cada co-herdeiro não tem direito de defender apenas o seu quinhão, mas sim o todo, porque a
herança é considerada única e indivisível, da abertura da sucessão até a data do transito em julgado da
partilha. É o chamado princípio da indivisibilidade da herança.

ACEITAÇÃO OU RENÚNCIA

Com a morte do de cujus, o sucessor pode ou aceitar receber o patrimônio, ou recusar a recebe-
lo, renunciando à qualidade de sucessor.

A aceitação é ato jurídico, podendo ser direita ou indireta, pessoal ou impessoal. A aceitação direta
e pessoal é aquela feita pelo próprio sucessor, enquanto que a direta e impessoal se dá quando o sucessor
constitui um procurador (interposta pessoa) para a aceitação. Se o sucessor for incapaz, a aceitação será
sempre indireta, por intermédio do representante legal do incapaz.

Art. 1.805. A aceitação da herança, quando expressa, faz-se por declaração escrita; quando tácita,
há de resultar tão-somente de atos próprios da qualidade de herdeiro.

Art. 1.807. O interessado em que o herdeiro declare se aceita, ou não, a herança, poderá, vinte
dias após aberta a sucessão, requerer ao juiz prazo razoável, não maior de trinta dias, para, nele,
se pronunciar o herdeiro, sob pena de se haver a herança por aceita.

Ela pode ser ainda expressa, tácita ou presumida. Quando expressa, obrigatoriamente deve ser
feita de forma escrita (não precisa ser feita mediante instrumento público). Não obstante, a aceitação,
quando tácita, há de resultar de atos próprios da qualidade de herdeiro. Por fim, a aceitação pode ser
presumida (exceção).

Art. 1.808. Não se pode aceitar ou renunciar a herança em parte, sob condição ou a termo.

Não pode o herdeiro aceitar parte de seu quinhão hereditário (trata-se de uma formalidade, pois
na realidade isso costuma acontecer). O patrimônio é um bem disponível, logo os herdeiros, sendo
maiores e capazes, podem dispor deles da forma que quiserem (ex: três irmãos, acordam que um deles
ficará com menos e o outro com mais). Não pode também aceitar a herança sob condição (evento futuro
e incerto) ou termo (evento futuro e certo).

§ 1o O herdeiro, a quem se testarem legados, pode aceitá-los, renunciando a herança; ou,


aceitando-a, repudiá-los.

Quem recebe legados (oriunda da parte disponível do de cujus), pode aceita-los e aceitar a
herança; pode aceitar o legado e renunciar a herança; pode renunciar o legado e aceitar a herança. Ele
não pode, no entanto, aceitar parte da herança e parte do legado.

§ 2o O herdeiro, chamado, na mesma sucessão, a mais de um quinhão hereditário, sob títulos


sucessórios diversos, pode livremente deliberar quanto aos quinhões que aceita e aos que
renuncia.

Alguém que é herdeiro legítimo e testamentário, ao mesmo tempo, na mesma herança, pode
decidir o quinhão que aceita, e o quinhão que renuncia.
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Art. 1.812. São irrevogáveis os atos de aceitação ou de renúncia da herança.

A aceitação também não pode ser objeto de arrependimento, desde que tenha sido feita sem
nenhum tipo de vício (coação, etc), sendo ela inalterável.

A renúncia se trata de um ato de liberalidade, do sucessor, seja ele herdeiro do morte (legítimo ou
testamentário), ou legatário, no qual ele se despoja do exercício de um direito que a lei confere a ele. A
doutrina classifica a renúncia em duas categorias: a pura/própria/abdicativa (o renunciante não está
abrindo mão de seu direito em favor de alguém específico) e a impura/imprópria/translativa (trata-se, no
caso, de uma cessão de direito sucessório). Para renunciar, em regra, deve ser maior e capaz. No entanto,
incapaz pode renunciar, pois patrimônio é bem disponível, só que o representante legal, sozinho, não
pode renunciar à herança: ele precisará de autorização judicial.

Art. 1.806. A renúncia da herança deve constar expressamente de instrumento público ou termo
judicial.

A renúncia só pode ser feita expressamente, por escrito, através de instrumento público ou termo
judicial. Na prática, no entanto, ela pode ser feita também por escrito particular homologado pelo juiz (é
a maneira mais comum, inclusive).

Art. 80. Consideram-se imóveis para os efeitos legais:


II - o direito à sucessão aberta.

Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do
outro, exceto no regime da separação absoluta:
I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;

Se o renunciante é casado no regime de separação de bens, é desnecessária a anuência do outro.


Nos demais regimes, no entanto, será exigido a anuência do cônjuge. O direito à herança é considerado,
para fins legais, um bem imóvel.

Art. 1.810. Na sucessão legítima, a parte do renunciante acresce à dos outros herdeiros da mesma
classe e, sendo ele o único desta, devolve-se aos da subseqüente.

A renúncia pode se dar ou na sucessão legítima ou na testamentária, podendo o renunciante pode


ser ou herdeiro legítimo do morto, ou pode ser herdeiro testamentário ou legatário do de cujus.

Na sucessão legítima, a parte do renunciante é dividida entre os demais herdeiros da mesma


3
classe . Se for o único da classe, é dividida entre os da classe subsequente.

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:


I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o
falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640,
parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado
bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;
IV - aos colaterais

3
1) descendente; 2) ascendente; 3) cônjuge sobrevivente; 4) colaterais até 4º grau.
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Há, no entanto, concorrência entre classes sucessórias:

a) o descendente pode concorrer com cônjuge sobrevivente ou convivente sobrevivente;


b) ascendente sempre concorre com cônjuge sobrevivente e pode concorrer com convivente
sobrevivente;
c) cônjuge sobrevivente pode concorrer com descendente e com convivente sobrevivente, sempre
concorrendo com ascendente;
d) convivente sobrevivente concorre com todas as classes;
e) colaterais concorrem só com convivente sobrevivente.

Concorrência de descendente com cônjuge Não concorre – só herda o descendente


sobrevivente
• Regime da comunhão parcial + bens • Regime comunhão universal;
particulares • Regime comunhão parcial sem deixar bens
• Regime da participação final nos aquestos; particulares;
• Regime da separação convencional de bens. • Regime da separação obrigatória de bens.

Efeitos da renúncia na herança testamentária

Quando nomeia alguém como seu herdeiro em seu testamento, o falecido tem a liberdade de
nomear um substituto. Caso não haja, havendo renúncia, a disposição do testamento caduca, e é dividido
entre os herdeiros legítimos.

Pode se dar também quando o herdeiro falece antes do testador.

Há também o excluído da herança por indignidade ou deserdação. O testador, quando nomeia


alguém, pode nomear de forma conjunta na mesma cláusula. Pode haver o direito de acréscimo, ou não
aos co-nomeados.

Por fim, isso pode se dar quando testador não individualizou quanto caberia aos nomeados.
Exemplo: nomeia os três irmãos como herdeiros testamentários, só que 25% fica para o caçula e os 25%
restantes divididos entre os dois irmãos. Por fim, quando há renúncia por exclusão da herança ante a
indignidade ou deserdação.

SUCESSÃO POR REPRESENTAÇÃO

Art. 1.811. Ninguém pode suceder, representando herdeiro renunciante. Se, porém, ele for o único
legítimo da sua classe, ou se todos os outros da mesma classe renunciarem a herança, poderão os
filhos vir à sucessão, por direito próprio, e por cabeça.

Na classe dos descendentes, os filhos sempre herdam do pai ou da mãe por direito próprio e por
cabeça. Os demais descendentes (netos, bisnetos, etc) herdam de duas maneiras: por direito próprio e
por cabeça, ou por representação (sucessão por estipe).

Art. 1.851. Dá-se o direito de representação, quando a lei chama certos parentes do falecido a
suceder em todos os direitos, em que ele sucederia, se vivo fosse.
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Art. 1.853. Na linha transversal, somente se dá o direito de representação em favor dos filhos de
irmãos do falecido, quando com irmãos deste concorrerem.

Para que haja direito de representação, é necessário que haja alguns pressupostos: só ocorre na
linha reta descendente (excepcionalmente, numa única hipótese, ocorre na linha colateral, quando vier a
se dar a hipótese prevista no art. 1.853); o representado deve ser filho ou irmão do autor da herança; o
representante deve ser descendente do representado; não pode haver salto de graus entre representado
e representante.

EXCLUSÃO DA SUCESSÃO

Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários:


I - que houverem sido autores, co-autores ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa deste,
contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou
descendente;
II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem em crime
contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro;
III - que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança de dispor
livremente de seus bens por ato de última vontade.

Só se autoriza a exclusão o herdeiro que praticar o crime de denunciação caluniosa contra o pai,
tendo cometido o mesmo em juízo. Exclui-se também da herança herdeiro que praticar crime contra a
honra contra o autor da herança, seu cônjuge ou companheiro4. Também pode ser excluído da sucessão
aquele que, mediante violência ou meio fraudulento, obstar o de cujus de deixar um testamento, ou se
ele rasga um testamento particular.

Art. 1.962. Além das causas mencionadas no art. 1.814, autorizam a deserdação dos descendentes
por seus ascendentes:
I - ofensa física;
II - injúria grave;
III - relações ilícitas com a madrasta ou com o padrasto;
IV - desamparo do ascendente em alienação mental ou grave enfermidade.

Art. 1.963. Além das causas enumeradas no art. 1.814, autorizam a deserdação dos ascendentes
pelos descendentes:
I - ofensa física;
II - injúria grave;
III - relações ilícitas com a mulher ou companheira do filho ou a do neto, ou com o marido ou
companheiro da filha ou o da neta;
IV - desamparo do filho ou neto com deficiência mental ou grave enfermidade.

Também pode ser deserdado o herdeiro que ofender fisicamente o autor da herança5. A injúria
grave também, só que isso já veio previsto no inciso II do artigo 1.814, por se tratar de crime contra a
honra. A relação ilícita, no caso afetivo, que o descendente tenha com a madrasta ou padrasto também
autoriza a deserdação. Hipótese mais comum, autoriza-se a deserdação quando há o desamparo do

4
Há uma corrente que entende que se o autor da herança for vítima e ele não tomar nenhuma medida
contra o ofensor no âmbito penal, essa inércia equivaleria a um perdão tácito que ofendido concedeu ao
ofensor.
5
Idem nota de rodapé nº 4.
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ascendente com grave enfermidade ou alienação mental. As mesmas hipóteses também deserdam o
herdeiro ascendente caso o autor da herança seja o descendente.

Vigora-se o princípio da tipicidade: sem lei anterior que o defina, não pode se aplicar a analogia
para se punir alguém que cometeu o ato ilícito. Assim, o homem pode deserdar a cônjuge apenas com
base no que está previsto no artigo 1.814, não podendo aplicar o que consta nos artigos 1.962 e 1.963.

Efeitos da exclusão

Art. 1.816. São pessoais os efeitos da exclusão; os descendentes do herdeiro excluído sucedem,
como se ele morto fosse antes da abertura da sucessão.
Parágrafo único. O excluído da sucessão não terá direito ao usufruto ou à administração dos bens
que a seus sucessores couberem na herança, nem à sucessão eventual desses bens.

Caso um herdeiro seja excluído da herança, seus descendentes o sucederão, como se ele estivesse
morto (caráter pessoal da exclusão). Caso não possua descendentes, os irmãos do excluído receberão a
sua parte.

Além disso, quem é excluído da herança não poderá administrar e nem usufruir os bens de seus
sucessores, nem poderá suceder eventualmente se eles vierem a falecer. Caso não tenha herdeiros, o
Poder Público receberá a herança.

Reabilitação do excluído

Art. 1.818. Aquele que incorreu em atos que determinem a exclusão da herança será admitido a
suceder, se o ofendido o tiver expressamente reabilitado em testamento, ou em outro ato
autêntico.
Parágrafo único. Não havendo reabilitação expressa, o indigno, contemplado em testamento do
ofendido, quando o testador, ao testar, já conhecia a causa da indignidade, pode suceder no limite
da disposição testamentária.

O excluído da herança poderá receber a herança se o ofendido o tiver reabilitado em testamento,


ou em outro meio autêntico, como uma simples declaração do pai, sendo necessário o reconhecimento
de firma, para provar que o documento não foi elaborado posterior à morte do pai.

HERANÇA JACENTE E HERANÇA VACANTE

A herança jacente é a hipótese em que alguém morre e não se sabe se o falecido deixou herdeiros
legítimos ou se ele deixou herdeiros testamentários ou legatários. É a situação na qual uma pessoa morre
e se ignora se o autor da herança possui herdeiros legítimos, até o quarto grau da linha colateral, e se
ignora se deixou ou não testamento.

O bem imóvel fica com a municipalidade na qual o mesmo estiver localizado.

NCPC. Art. 738. Nos casos em que a lei considere jacente a herança, o juiz em cuja comarca tiver
domicílio o falecido procederá imediatamente à arrecadação dos respectivos bens.

O processo de herança jacente, geralmente, se dá para estrangeiros, que moram no Brasil e aqui
deixam patrimônio. Para se entrar com a ação, basta a certidão de óbito do morto, a indicação de que ele
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foi enterrado/cremado, e que não apareceu herdeiro até quarto grau da linha colateral. O juiz nomeará
oficial de justiça para providenciar a arrecadação e arrolamento dos bens, bem como mandará ofício ao
Colégio Notarial do Brasil para verificar se o de cujus deixou ou não testamento. Publicam-se editais em
três oportunidades, convocando eventuais herdeiros legítimos do falecido a se habilitarem no
procedimento de herança jacente. Se surgir um herdeiro, comprovadamente, o procedimento de herança
jacente se converterá em inventário.

Após um ano da primeira publicação, o juiz declarará os bens deixados pelo falecido vacantes
(herança vacante). Uma vez transitada em julgado essa decisão, ficam excluídos definitivamente da
sucessão os parentes colaterais do falecido e também a companheira/companheiro sobrevivente do de
cujus.

PETIÇÃO DE HERANÇA

Art. 1.824. O herdeiro pode, em ação de petição de herança, demandar o reconhecimento de seu
direito sucessório, para obter a restituição da herança, ou de parte dela, contra quem, na qualidade
de herdeiro, ou mesmo sem título, a possua.

A ação de petição de herança constitui a proteção específica da qualidade de sucessor, com o fim
de ser reconhecido o seu direito sucessório e obter, em consequência, a restituição da herança, no todo
ou em parte, de quem a possua, na qualidade de herdeiro. Isso se dá quando o herdeiro não era
conhecido, porque não se encontrou testamento ou este veio a ser anulado, ou por se tratar de filho não
reconhecido. Assim, nesses casos, caberá ao sucessor prejudicado demonstrar a sua qualidade, para obter
do possuidor da herança a restituição do que a ele compete.

SUCESSÃO LEGÍTIMA

A sucessão legítima se opera por força de lei e ocorre em caso de inexistência, invalidade ou
caducidade de testamento6, e, também, em relação aos bens nele não compreendido.

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:


I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o
falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640,
parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado
bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;
IV - aos colaterais.

Na sucessão legítima, o patrimônio do morto vai para pessoas vinculadas ao falecido por uma
relação de parentesco ou afeto. Ele será transferido para classes sucessórias, que obedecem uma ordem:
descendentes, ascendentes, cônjuge sobrevivente, colaterais até 4º grau (nessa ordem, trazida pelo artigo
1.829). Cada uma dessas classes herda de uma forma diferente uma da outra. A sucessão que não
obedecer à referida ordem preferencial é considerada irregular ou anômala.

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O testamento pode ser: (i) nulo, pelo agente ser ineficaz; a forma não for prevista em lei; objeto ser
ilícito; (ii) anulável, por vício de consentimento (coação, simulação, erro, etc); (iii) caduco, por inexistência
da pessoa nomeada pelo testador e/ou do objeto testado.
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I – DESCENDENTES

A lei privilegia a classe dos descendentes, colocando-os em primeiro plano no rol dos herdeiros
sucessíveis. São contemplados todos os descendentes (filhos, netos, etc.), porém os mais próximos em
grau excluem os mais remotos, salvo os chamados por direito de representação.

Herdam sozinhos Concorrem com o cônjuge Concorrem com o convivente


sobrevivente sobrevivente
Pode ser por direito § se o autor da herança era casado na A companheira ou o
próprio e por cabeça, ou comunhão parcial de bens e deixou companheiro participarão em
por representação, ou bens particulares, concorrendo: relação aos bens adquiridos
estirpe. ü só nos bens particulares onerosamente na vigência da
(corrente majoritária); união estável – terá direito à
ü só nos aquestos (corrente meação. Não participa em
minoritária); ou relação aos bens particulares do
ü sobre toda a herança (corrente de cujus, que serão apenas de
minoritária). seus descendentes.
§ se o autor da herança era casado no
regime da participação final nos Concorre:
aquestos, concorrendo sobre toda a ü se concorrer com os filhos
herança); ou comuns de ambos, ele terá
§ se o autor da herança era casado no direito a uma quota igual à
regime da separação convencional de quota dos filhos.
bens, concorrendo sobre toda a ü Se concorrer com os filhos
herança (há discussão). apenas do descendente, ele
terá direito apenas a metade
Observações: NÃO concorrerá com o do que caberia a cada um
cônjuge sobrevivente: deles.
§ se o autor da herança era casado na
comunhão universal de bens; Observações: pode-se aplicar o
§ se o autor da herança era casado na art. 1.832 (não pode receber
comunhão parcial de bens e não quota inferior à ¼ da herança)
deixou bens particulares; por analogia.
§ se o autor da herança era casado no
regime de separação obrigatória de Na hipótese de filiação híbrida
bens. (filhos comuns e filhos apenas do
§ se judicialmente separado, ou se morto), a lei é omissa, mas a
separado de fato há mais de dois anos. corrente majoritária entende
que pouco importa o número de
A quota-parte do cônjuge filhos em comum ou exclusivos –
sobrevivente deverá ser igual à quota terá direito a quota equivalente
parte dos descendentes. No entanto, se à que for atribuída à cada um dos
ele for pai/mãe ou avô/avó dos filhos.
descendentes, ele não poderá receber
uma quota inferior à ¼ da herança (art.
1.832).
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II – ASCENDENTES

Ascendentes são os pais, avós, bisavós, etc. São chamados para suceder na ausência de
descendentes do de cujus. Nesse caso, a sucessão orienta-se por dois princípios: o grau mais próximo
exclui o mais remoto; e havendo igualdade em grau e diversidade em linha, os ascendentes da linha
paterna herdam a metade, cabendo a outra aos da linha materna.

Os ascendentes herdam sozinhos, ou concorrem com cônjuge sobrevivente ou convivente


sobrevivente – jamais concorrem com descendentes e parentes colaterais do morto.

Herdam sozinhos Concorrem com o cônjuge Concorrem com o convivente


sobrevivente sobrevivente
Havendo ascendente de primeiro Caberá ao cônjuge um terço da O convivente sobrevivente só
grau vivo (pais), os demais herança se concorrer com participa em relação ao
ascendentes (avós, etc.) não ambos os ascendentes em patrimônio adquirido
herdarão (art. 1.836, § 1º). Não há primeiro grau do falecido onerosamente na vigência da
também direito de representação (sogra e sogro). Caberá a união estável, tendo direito à um
– havendo pai morto e mãe viva, metade se haver apenas um terço da herança (art. 1.790, III).
ela recebe toda a herança. ascendente (sogra ou sogro), Os bens particulares serão
ou se for ascendente de herdados pelos ascendentes
Havendo diversidade em linha, segundo grau para cima (art. apenas.
fica metade para cada linha (§ 2º). 1.837).
É a chamada sucessão por linha.
Exemplo: um avô paterno, um avô
materno e uma avô materna. O
avô paterno recebe ½ e o avô e
avó maternos recebem ¼ cada.

III – CÔNJUGE SOBREVIVENTE

Na falta de ascendentes, a herança da pessoa que tenha falecido enquanto casada ou separada
de fato há menos de dois anos será deferida, por inteiro, ao cônjuge sobrevivente, que ocupa sozinho
a terceira classe da ordem da sucessão hereditária.

Herdam sozinhos Concorrem com o


convivente
sobrevivente
Ele receberá 100% do patrimônio, pois será considerado meeiro (se regime de Caso haja amante de
comunhão universal ou parcial de bens) e herdeiro. Poderá ter ainda o direito longa data (por anos),
real de habitação (art. 1.831) vitalício, relativo ao imóvel de residência da poderá ele concorrer
família. com o cônjuge
sobrevivente na
Não pode estar separado judicialmente do outro, e nem separado de fato há 2 herança.
anos, salvo se o sobrevivente provar que a relação dos dois se tornou
impossível por conta do outro (art. 1.830). Parte da doutrina entende que
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estando separado de fato, não importando por quanto tempo e de quem foi a
culpa da separação (pois não se discute mais culpa no Direito de Família), já é
suficiente para excluir o direito sucessório do cônjuge sobrevivente.

IV – COLATERAIS

Os colaterais figuram em quarto lugar na ordem da vocação hereditária. Os colaterais são os


parentes ligados ao autor da herança por terem um ascendente em comum – o vínculo se dá na linha
horizontal. São os irmãos (2º grau), os sobrinhos, os tios, e os sobrinhos-netos, primos e tios-avôs, nessa
ordem. Entre os colaterais, os mais próximos excluem os mais remotos, salvo o direito de representação
concedido aos filhos de irmãos (art. 1.840). Assim, a existência de irmãos do de cujus afasta os tios.

Herdam sozinhos

O irmão bilateral (germano) receberá o dobro do que o irmão unilateral (consanguíneo). Isso pode ser
evitado mediante testamento.

Embora sobrinhos e tios sejam parentes colaterais em terceiro grau, a lei dá preferência aos primeiros,
ou seja, à energia mais nova (art. 1.843). No entanto, os sobrinhos filhos de irmãos unilaterais receberão
metade do que os sobrinhos filhos de irmãos bilaterais.

SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA

Art. 1.858. O testamento é ato personalíssimo, podendo ser mudado a qualquer tempo.

Testamento é ato jurídico personalíssimo, unilateral, não receptício (não depende da aceitação de
ninguém), solene (deve atender formalidades estabelecidas em lei), gratuito, revogável, pelo qual alguém
dispõe a respeito de seu patrimônio, ou ainda determina a sua vontade para valer após a sua morte (pode
dispor de questões de ordem pessoal, podendo, por exemplo, nomear tutor testamentário de seu filho
ou se quer se cremado).

Art. 1.860. Além dos incapazes, não podem testar os que, no ato de fazê-lo, não tiverem pleno
discernimento.
Parágrafo único. Podem testar os maiores de dezesseis anos.

Quem tem capacidade para praticar esse ato jurídico são os maiores de dezesseis anos, sozinho,
em qualquer das formas testamentárias previstas em lei. Não podem testar os menores de dezesseis anos,
ou aqueles que não tem pleno discernimento no momento da manifestação de vontade.

Formas de testamento

A lei contempla duas formas de testamento: a forma ordinária ou comum, e a forma extraordinária
ou especial. Todas as formas, no entanto, demandam que o testamento seja feito de forma escrita. Já o
conteúdo do testamento deve obedecer ao ordenamento jurídico em vigor na data em que o testador
faleceu.
Marcelo Soldi 12

• Ordinário ou comum:

Art. 1.864. São requisitos essenciais do testamento público:


I - ser escrito por tabelião ou por seu substituto legal em seu livro de notas, de acordo com as
declarações do testador, podendo este servir-se de minuta, notas ou apontamentos;
II - lavrado o instrumento, ser lido em voz alta pelo tabelião ao testador e a duas testemunhas, a
um só tempo; ou pelo testador, se o quiser, na presença destas e do oficial;
III - ser o instrumento, em seguida à leitura, assinado pelo testador, pelas testemunhas e pelo
tabelião.
Parágrafo único. O testamento público pode ser escrito manualmente ou mecanicamente, bem
como ser feito pela inserção da declaração de vontade em partes impressas de livro de notas,
desde que rubricadas todas as páginas pelo testador, se mais de uma.

Art. 1.865. Se o testador não souber, ou não puder assinar, o tabelião ou seu substituto legal assim
o declarará, assinando, neste caso, pelo testador, e, a seu rogo, uma das testemunhas
instrumentárias.

Art. 1.866. O indivíduo inteiramente surdo, sabendo ler, lerá o seu testamento, e, se não o souber,
designará quem o leia em seu lugar, presentes as testemunhas.

Art. 1.867. Ao cego só se permite o testamento público, que lhe será lido, em voz alta, duas vezes,
uma pelo tabelião ou por seu substituto legal, e a outra por uma das testemunhas, designada pelo
testador, fazendo-se de tudo circunstanciada menção no testamento.

§ Público: recebe esse nome porque ele é elaborado por um oficial público, e o seu
conteúdo é acessível ao público geral desde que comprovada a morte do testador.
Ele deve ser elaborado em português, por escrito, podendo se basear em uma
minuta previamente entregue ao tabelião pelo testador, ou feito com base de um
ditado. Ele deverá ser lido pelo tabelião ao testador (ou o contrário), na presença
de duas testemunhas. Essas formalidades tornam-no mais seguro do que as outras
espécies de testamento (afinal, se o testador perder sua cópia, será simples obter
uma nova), apesar do inconveniente de permitir a qualquer pessoa o conhecimento
de seu teor. É o único tipo de testamento que pode ser feito por pessoas que
possuem algum tipo de deficiência (ex: cego, mudo, etc.), analfabetos. Ele pode ser
feito no Brasil, ou no exterior.

Art. 1.868. O testamento escrito pelo testador, ou por outra pessoa, a seu rogo, e por aquele
assinado, será válido se aprovado pelo tabelião ou seu substituto legal, observadas as seguintes
formalidades:
I - que o testador o entregue ao tabelião em presença de duas testemunhas;
II - que o testador declare que aquele é o seu testamento e quer que seja aprovado;
III - que o tabelião lavre, desde logo, o auto de aprovação, na presença de duas testemunhas, e o
leia, em seguida, ao testador e testemunhas;
IV - que o auto de aprovação seja assinado pelo tabelião, pelas testemunhas e pelo testador.
Parágrafo único. O testamento cerrado pode ser escrito mecanicamente, desde que seu subscritor
numere e autentique, com a sua assinatura, todas as paginas.

Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários:


I - a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou companheiro, ou os seus
ascendentes e irmãos;

Art. 1.874. Depois de aprovado e cerrado, será o testamento entregue ao testador, e o tabelião
lançará, no seu livro, nota do lugar, dia, mês e ano em que o testamento foi aprovado e entregue.
Marcelo Soldi 13

§ Cerrado: também chamado de testamento secreto ou sigiloso. É o testamento no


qual o testador deseja preservar o sigilo em relação à sua vontade e é justamente
essa a sua vantagem em relação às demais, pois nem o oficial e nem nas
testemunhas tomam conhecimento das disposições. Ele é feito em quatro etapas:

1) Elaboração do escrito (da cédula testamentária): feito a mão, ou pelo


computador, pelo testador (ou por outra pessoa a seu pedido, desde que ele
assine ao fim7), podendo utilizar-se de idioma nacional ou estrangeira (sendo
vedada a utilização de dialeto ou língua morta).
2) O próprio testador chama pelo menos duas testemunhas e vai até o Tabelião de
Notas. A entrega constitui ato personalíssimo do testador, não se admitindo a
utilização de portador, mandatário ou representante.
3) Apresentado o testamento ao tabelião, ele lavrará, na presença das
testemunhas, o auto de aprovação, declarando que, sob sua fé, o testador lhe
entregou para ser aprovado na presença de duas testemunhas. Isso será feito
no próprio documento. Depois, o escrevente trará um livro, e registrará a
entrega do documento.
4) O documento será cerrado (lacrado) e depois entregue ao testador, para
posterior apresentação em juízo. Se, eventualmente, o testador abrir ou
dilacerar o documento, ou alguém fizer isso com o seu consentimento, haver-
se-á como revogado.

Art. 1.875. Falecido o testador, o testamento será apresentado ao juiz, que o abrirá e o fará
registrar, ordenando seja cumprido, se não achar vício externo que o torne eivado de nulidade ou
suspeito de falsidade.

Ele necessita de confirmação. Com a morte do testador, o testamento deverá ser


apresentado fisicamente por quem tem a posse do mesmo (testamentário) para
confirmação, que se dá mediante entrega ao juiz do Inventário, que marcará uma
audiência de abertura e confirmação do testamento cerrado.

Nessa oportunidade, ele convocará os herdeiros legítimos do testador, e o juiz irá


verificar se o documento apresenta ou não sinais exteriores de ter sido violado.
Caso suspeite disso, ele registrará em ata essa circunstância e determinará que o
testamento cerrado seja submetido à uma perícia. Constatada a abertura anterior
do testamento cerrado, ele considerar-se-á revogado. Caso contrário, o juiz abrirá
o documento e procederá com a leitura do documento, determinando a expedição
da certidão testamentária, documento esse que comprova a validade formal do
testamento. Juntada essa certidão e o próprio testamento nos autos do inventário,
ele poderá, enfim, ser cumprido.

Art. 1.876. O testamento particular pode ser escrito de próprio punho ou mediante processo
mecânico.
§ 1o Se escrito de próprio punho, são requisitos essenciais à sua validade seja lido e assinado por
quem o escreveu, na presença de pelo menos três testemunhas, que o devem subscrever.
§ 2o Se elaborado por processo mecânico, não pode conter rasuras ou espaços em branco,

7
É vedado ao herdeiro instituído ou legatário, o seu cônjuge ou companheiro, ou os ascendentes e irmãos,
de escreverem a cédula testamentária a rogo do testador (art. 1801, I).
Marcelo Soldi 14

devendo ser assinado pelo testador, depois de o ter lido na presença de pelo menos três
testemunhas, que o subscreverão.

§ Particular: não há intervenção em nenhum momento da sua elaboração do Poder


Público. Trata-se, portanto, de um meio mais simples, cômodo e econômico para o
testador. Todavia, é a forma menos segura de testar, porque depende de
confirmação em juízo pelas testemunhas.

Inicialmente, deverá ser escrito o testamento manual ou mecanicamente pelo


testador ou por outra pessoa a mando deste, podendo ser em língua nacional ou
estrangeira8. Uma vez concluída a sua elaboração, o documento deverá ser lido,
exclusivamente9, pelo próprio testador, na presença de, pelo menos, três
testemunhas, que assinarão o documento junto do testador.

Com a morte deste, a pessoa que detém a posse desse documento deverá levar o
testamento particular para ser confirmado. O juiz marcará uma audiência de
confirmação, e convocará as três testemunhas. Caso não se encontre as três
testemunhas (ou estejam elas mortas), o testamento não será confirmado. Pelo
menos uma das três testemunhas deverá comparecer à audiência. Ela será
questionada apenas se serviu, de fato, como testemunha para o testamento.

Art. 1.879. Em circunstâncias excepcionais declaradas na cédula, o testamento particular de


próprio punho e assinado pelo testador, sem testemunhas, poderá ser confirmado, a critério do
juiz.

Caso um indivíduo não leia o testamento na frente de três testemunhas, mas


apenas o escreva em um pedaço de papel, assinado por ele, e, na sequencia, é
encontrado morto, tal documento poderá ser considerado válido em circunstâncias
excepcionais. Ex: vítimas de sequestros.

Art. 1.886. São testamentos especiais:


I - o marítimo;
II - o aeronáutico;
III - o militar.

Art. 1.891. Caducará o testamento marítimo, ou aeronáutico, se o testador não morrer na viagem,
nem nos noventa dias subseqüentes ao seu desembarque em terra, onde possa fazer, na forma
ordinária, outro testamento.

• Especial ou extraordinário: tratam-se de situações extremamente excepcionais.

§ Marítimo: feito por alguém a bordo de embarcação nacional em navegação, que


não pode parar num porto.

8
Caso seja escrito em língua estrangeira, as testemunhas deverão compreender o idioma.
9
Caso seja lido por outra pessoa, ele será nulo, por se tratar de requisito formal. Logo, o cego, mudo e
analfabeto não podem fazer testamento particular.
Marcelo Soldi 15

§ Aeronáutico: no caso, é efeito por alguém a bordo de alguma aeronave em


movimento.
§ Militar: é aquele feito quando o Brasil está em conflito armado com país
estrangeiro, ou, então, em conflito interno. É o único testamento, que em uma
situação excepcionalíssima, admite-se a forma oral. É o testamento nun cupativo.
Uma pessoa que esteja em um campo de conflito (podendo ser militar ou civil), e
esteja ferida, à beira da morte, poderá, oralmente, manifestar a sua última vontade.
As pessoas que ouviram deverão se dirigir ao oficial de patente mais elevada no
local, que escreverá o narrado pelas testemunhas.

Codicilo

Art. 1.881. Toda pessoa capaz de testar poderá, mediante escrito particular seu, datado e assinado,
fazer disposições especiais sobre o seu enterro, sobre esmolas de pouca monta a certas e
determinadas pessoas, ou, indeterminadamente, aos pobres de certo lugar, assim como legar
móveis, roupas ou jóias, de pouco valor, de seu uso pessoal.

Codicilo é ato de último vontade, destinado, porém, a disposições de pequeno valor ou


recomendações para serem atendidas e cumpridas após a morte. Trata-se, portanto, de um escrito de
caráter simplificado, limitado, pouquíssimo utilizado, que se presta a determinar a vontade do codicilante
sobre roupas, móveis e jóias, de pequeno valor e de uso pessoal, que pertençam ao codicilante. É utilizado
também para manifestar eventual vontade de ser cremado. A doutrina e jurisprudência divergem sobre
o que consideram como pequeno valor:

• Há uma corrente que entende que pequeno valor é aquele que seja igual ou inferior à 10% do
patrimônio líquido do codicilante, ainda que o bem seja de valor elevado.

• Outra corrente, majoritária, entende que pequeno valor é o do objeto em si, intrinsicamente, ou
seja, considerado por si só, devendo ser igual ou inferior à 40 salários mínimos (mesmo critério do
JEC).

Codicilo não tem força para revogar testamento, mas o contrário é admitido. Ex: no testamento
fala que quer ser cremado, e no codicilo, feito posteriormente, fala que quer ser enterrado – o de cujus
será cremado.

O codicilo que não for confirmado por um testamento posterior também considerar-se-á como
revogado.

Disposições testamentárias

Art. 1.897. A nomeação de herdeiro, ou legatário, pode fazer-se pura e simplesmente, sob
condição, para certo fim ou modo, ou por certo motivo.

O testamentário pode nomear o sucessor de quatro formas diferentes.

• Pura e simplesmente: quando a redação da disposição testamentária é direta, sem justificativa ou


condição. É o modo mais utilizado e frequente de escolha de um herdeiro ou legatário. Trata-se,
portanto, de uma forma na qual o testador não impõe nenhuma condição, ônus ou qualquer
Marcelo Soldi 16

limitação ao direito do beneficiário, e a estipulação produz seus efeitos logo que se abre a
sucessão.

• Sob condição: a condição10 é a subordinação da validade de um ato jurídico a um evento futuro e


incerto, devendo ser possível de ser cumprida pelo escolhido, bem como deve ser lícita11. Caso a
condição seja impossível ou ilícita, a nomeação será considerada pura e simples.

• Sob encargo (para certo fim ou modo / modal): quando o testador impõe ao herdeiro ou legatário
uma obrigação, normalmente de fazer algo. Deverá ser cumprida pelo nomeado sob pena de, não
cumprida a obrigação, não será aquela pessoa considerada herdeira ou legatária. O encargo deve
ser cumprido com aquilo que o testador deixou de patrimônio para o nomeado. Ao contrário da
condição, o encargo pode ser transmissível aos herdeiros do herdeiro/legatário.

• Por certo motivo (ou certa causa): o testador justifica e esclarece o motivo de ter escolhido tal
pessoa como sua herdeira ou legatária. Não prevalecerá a nomeação se a causa não ocorrer ou se
a justificativa dizer respeito à outra pessoa (art. 140). Ex: nomeia fulano por ter salvado a vida do
seu filho, mas isso nunca aconteceu na verdade. Caso tenha havido confusão e outra pessoa tenha
salvo a vida do filho, será considerado herdeira essa pessoa (entendimento majoritário).

Art. 1.900. É nula a disposição:


I - que institua herdeiro ou legatário sob a condição captatória de que este disponha, também por
testamento, em benefício do testador, ou de terceiro;
II - que se refira a pessoa incerta, cuja identidade não se possa averiguar;
III - que favoreça a pessoa incerta, cometendo a determinação de sua identidade a terceiro;
IV - que deixe a arbítrio do herdeiro, ou de outrem, fixar o valor do legado;
V - que favoreça as pessoas a que se referem os arts. 1.801 e 1.802.

Algumas disposições podem ser consideradas nulas, permanecendo válido o testamento no geral
É nula a disposição que nomeie herdeiro ou legatário sob condição de que esse escolhido também nomeie
como seu herdeiro ou legatário o próprio testador ou um terceiro (ex: A nomeie B desde que esse nomeie
A como seu herdeiro). Isso impede que o testador obtenha qualquer vantagem ilícita. Também será nula
a disposição que nomeie pessoa incerta que não possa ser identificável, ou que nomeie terceiro para
identificar essa pessoa incerta; que determine que o herdeiro, ou um terceiro, fixe ele mesmo o valor do
legado a receber; ou nomeie como herdeiro uma testemunha que participou da elaboração do
testamento, ou o tabelião que lavrou a escritura pública, e demais pessoas indicadas nos artigos 1.801 e
1.802.

Art. 1.899. Quando a cláusula testamentária for suscetível de interpretações diferentes,


prevalecerá a que melhor assegure a observância da vontade do testador.

Algumas disposições testamentárias possibilitam mais de um entendimento. Nesse caso,


prevalecerá o entendimento que esteja mais compatível com a vontade do testador.

10
As condições podem ser suspensiva ou resolutiva. Condição suspensiva é aquisitiva de direito, enquanto
que condição resolutiva é extintiva de direito. No caso de condição resolutiva, o testador deve prestar
uma caução mussiana (próprio patrimonio deixado pelo testador) pelo prazo máximo de de 5 anos.
11
A ilicitude deve ser considerado em relação ao ordenamento jurídico vigorante na data da abertura da
sucessão.
Marcelo Soldi 17

Revogação e rompimento do testamento

Art. 1.970. A revogação do testamento pode ser total ou parcial.


Parágrafo único. Se parcial, ou se o testamento posterior não contiver cláusula revogatória
expressa, o anterior subsiste em tudo que não for contrário ao posterior.

A revogação é uma das causas que obstam a que o testamento produza seus efeitos jurídicos.
Constitui a revogação do testamento o ato pelo qual se manifesta a vontade consciente do testador, com
o propósito de torna-lo ineficaz. A revogação pode ser total (retira a inteira eficácia do testamento) ou
parcial (atinge somente algumas cláusulas) – se revogado parcialmente, ele subsiste em tudo aquilo que
não for contrário às disposições testamentárias do testamento revogador.

Em relação à forma, a revogação pode ser feita de três maneiras: expressa, tácita, ou legal. A
revogação legal se subdivide em duas hipóteses: (i) abertura ou dilaceramento do testamento cerrado;
(ii) rompimento do testamento.

• Expressa: é a que resulta de declaração inequívoca do testador manifestada em novo testamento.


Em outras palavras, é aquela na qual o testamento revogador diz, em uma das suas disposições,
que o testamento anterior está revogado.

• Tácita: se dá quando, na segunda disposição, o testador dispõe de um mesmo bem de forma


totalmente conflitante, sem expressamente revogar a primeira disposição.

Art. 1.973. Sobrevindo descendente sucessível ao testador, que não o tinha ou não o conhecia
quando testou, rompe-se o testamento em todas as suas disposições, se esse descendente
sobreviver ao testador.

Art. 1.974. Rompe-se também o testamento feito na ignorância de existirem outros herdeiros
necessários.

• Legal: é um efeito que a lei provoca independentemente da vontade do testador. Se dá em duas


hipóteses:

§ no caso de dilaceração ou abertura do testamento cerrado, pelo testador, ou por


outrem, com o seu consentimento;

§ rompimento do testamento se dá nos casos em que há a superveniência de uma


circunstância relevante, capaz de alterar a manifestação de vontade do testador,
mais precisamente nos casos em que, quando na data de elaboração do
testamento, o testador não possuía nenhum descendente, mas na data do
falecimento, o testador deixou um ou mais sucessor.

Uma corrente entende que quando o testador já possuía um descendente na época


da elaboração do testamento e quando faleceu deixou mais de um, essa hipótese
não provoca a revogação do testamento. Outra corrente, majoritária, entende que
haverá a revogação do testamento.
Marcelo Soldi 18

ü Observação: se o testador ignorar que possui um descendente, haverá a


revogação total do testamento na modalidade rompimento. Se ele tinha o
conhecimento de que possuía um descendente, mas nada deixou para ele,
o testamento não será rompido. Quem tem o ônus de provar o
conhecimento é a pessoa que quer romper o testamento.

ü Revoga-se totalmente o testamento se o testador, quando fizer o


testamento, não sabia se possuía ascendente ou cônjuge vivo. Atualmente,
leva-se em consideração os conceitos atuais de pai e mãe – ou seja, aquele
pai que abandona o filho e resolve “aparecer” quando o filho (que ficou rico)
morre, não terá direito à herança.

INVENTÁRIO E PARTILHA

Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários.
O inventário e a partilha são o procedimento12 pelo qual o patrimônio do autor da herança é efetivamente
transferido para o domínio de seus sucessores, sejam eles herdeiros ou legatários do morto. Tal
procedimento visa apurar quem é o autor da herança, qualificando-o; quem são seus sucessores e a
qualidade a que sucedem; saber a extensão e o valor do patrimônio deixado pelo de cujus. O
procedimento especial do inventário vem regulado no Código de Processo Civil nos artigos 610-673.

Existem dois tipos de inventário: o judicial e o extrajudicial. O inventário judicial ocorre nas
seguintes hipóteses: se o morto deixou testamento, se há herdeiro incapaz ou ausente, ou quando houver
discordância entre os herdeiros quanto à partilha.

A abertura do inventário deve ser requerida no prazo de 60 dias13, a contar do falecimento do de


cujus, e estar encerrado dentro dos doze meses subsequentes. O foro competente é aquele do último
domicílio do finado, ainda que todos os interessados residam em localidades diversas. O pedido de
abertura será instruído, obrigatoriamente, com a certidão de óbito do de cujus, e procuração.

Ao despachar a inicial da abertura de inventário, o juiz nomeará inventariante, a quem caberá a


administração e a representação ativa e passiva da herança até que se ultime a partilha.

Depois que o inventariante é nomeado pelo juiz, ele prestará compromisso e deverá apresentar
no prazo de 20 dias as Primeiras Declarações – trata-se de uma síntese informando qualificação do
falecido e sucessores, bem como a relação dos bens que compreendem o patrimônio. Os bens deverão
ser descritos com individuação e clareza.

Prestadas as Primeiras Declarações, o juiz mandará citar os interessados no inventário e partilha


(herdeiros, cônjuge, legatário, Fazenda Pública e Ministério Público14). Serão citados por mandado apenas

12
Processo tem um autor, um requerente, e requer no polo passivo alguém que oferece uma resistência
a pretensão do autor. Procedimento, por outro lado, não requer isso.
13
Não se trata de prazo decadencial, mas poderá incidir multa sobre o ITCMD (porcentagem estabelecida
por cada Estado)
14
Apenas se houver herdeiro incapaz ou ausente.
Marcelo Soldi 19

as pessoas domiciliadas na comarca por onde corre o inventário; as demais, serão citadas por edital, com
prazo de vinte a sessenta dias (não há expedição de carta precatória para citação nesse procedimento).

Concluídas as citações, abrir-se-á vista às partes pelo prazo comum de 10 dias, para dizerem sobre
as primeiras declarações. A parte poderá arguir erros ou omissões, reclamar contra a nomeação do
inventariante, e contestar a qualidade de quem foi incluído no título de herdeiro15. O juiz decidirá sobre
todas as questões de direito e de fato, quando se achar provado por documento; as questões de alta
indagação ou que dependem de outras provas serão remetidas aos meios ordinários.

Ato seguinte, haverá a avaliação dos bens inventariados, que servirá de base de cálculo do ITCMD
e possibilitará uma correta partilha dos bens. Bens situados fora da comarca serão avaliados mediante
carta precatória. Entregue o laudo de avaliação, o juiz mandará que as partes se manifestem sobre ele no
prazo de dez dias.

Podem ser apresentadas as Últimas Declarações, caso o inventariante tenha se esquecido de


indicar algum bem, ou caso tenham-se descoberto novos bens dos quais não tinham conhecimento na
época das Primeiras Declarações. Em outras palavras, as Últimas Declarações servem para emendar,
aditar ou completar as primeiras.

Após a manifestação das partes sobre as Últimas Declarações, procede-se ao cálculo do ITCMD,
sobre o qual serão ouvidas todas as partes, incluindo a Fazenda Pública. Homologado por sentença, são
expedidas guias para o pagamento, encerrando-se o inventário.

Passa-se, em seguida, à fase de partilha. O juiz vai decidir sobre como será feita a partilha, em
despacho de deliberação da partilha, que é irrecorrível. Nessa decisão, ele observará a plena igualdade
de quinhões de herdeiros que são da mesma classe e a igualdade na natureza dos bens, resolvendo as
solicitações e designando os bens que devam constituir o quinhão de cada herdeiro e legatário.

Após a realização da partilha, o inventário se encerra com a expedição da carta de sentença ou


formal de partilha. De posse desse documento, o inventariante o leva à registro no cartório de imóveis
competente e demais órgãos que se faça necessário (ex: DETRAN, se houver transferência de veículo).

15
Se o juiz julgar procedente a impugnação apresentada por esse motive, por contistuir matéria de alta
indagação, remeterá o juiz a parte para os meios ordinários e sobrestará, até o julgamento final da ação
a ser proposta, o quinhão que couber na partilha ao herdeiro admitido.

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