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Venâncio Ernesto Jemusse

Resolução de exercícios antropologia cultural de Moçambique

Licenciatura em Informática Aplicada

Universidade Rovuma
Nampula
2023
Venâncio Ernesto Jemusse

Resolução de exercícios antropologia cultural de Moçambique

Trabalho de caracter avaliativo da cadeira de Antropologia


Cultural de Moçambique para o curso de Licenciatura em
Informática Aplicada, leccionada por.

PhD. Denisse Kátia

Universidade Rovuma
Nampula
2023
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Introdução

O trabalho foi feito baseado conhecimentos obtidos nas aulas anteriores e a leitura minuciosa
de algumas obras por nós solicitados, e depois fez-se o cruzamento das informações. No
entanto, para realização do presente trabalho, fez-se uma confrontação bibliográfica desde
autores clássicos da Antropologia até aos autores dos nossos dias. Este trabalho reveste-se de
grande relevância pelo que, em antropologia o parentesco é uma unidade de analise bastante
essencial para compreensão das sociedades. Para melhor compreensão do assunto aqui
abordado, irá se fazer de maneira hierarquizada a exposição e explanação dos vários aspectos
que compõem o parentesco.
A antropologia é uma disciplina que tem contribuído significativamente para a compreensão
das complexas interacções entre cultura, sociedade e evolução humana. No âmbito das teorias
evolucionistas, casamentos, parentesco e família têm sido áreas de estudo essenciais,
permitindo-nos traçar a trajectória da evolução social e cultural ao longo do tempo. As teorias
evolucionistas na antropologia fornecem um olhar sobre como as estruturas familiares e as
práticas de casamento têm evoluído em diferentes sociedades e culturas, e como essas
mudanças têm moldado nossa compreensão do parentesco e das relações familiares.
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A visão crítica da teoria evolucionista e os seus fundadores

1. Na segunda metade do seculo XIX, nasce a teoria evolucionista que defendia uma
evolução paralela. De acordo com esta teoria as culturas foram criadas,
independentemente, seguindo um percurso por estádios fixos: barbárie, primitivismo,
selvagismo e civilização.
a) Segundo Charles Darwin, (1809-1882), as visões críticas da teoria evolucionista são:

 Os dados não falam por si próprios: é preciso organizar os dados, em relação à


teoria. Os dados são apenas barulho, se não aportam um contributo à teoria
antropológica;
 Para eles, as sociedades eram organismos naturais que evoluíam;
 O seu modelo de civilização era a sociedade vitoriana inglesa (Ocidente): o resto
do mundo tinha um desenvolvimento inferior;
 Pensaram, erradamente, que os ―povos primitivos‖ teriam que elaborar
instituições semelhantes às da sua tecnologia;
 Partem muitas vezes de supostos etnocêntricos;
 A crença não é um erro, como afirmava Tylor. A crença dá sentido à experiência
humana. A mente não pode esperar que a ciência resolva todos os seus problemas,
daí que se alimente a crença (tal disse Durkheim);
 A teoria da evolução muitas vezes entra em conflito com crenças religiosas,
particularmente o criacionismo e o design inteligente. Isso levou a controvérsias
em muitos lugares, com críticos argumentando que a teoria evolucionista nega a
existência de Deus e contradiz relatos religiosos de criação
Os fundadores da teoria evolucionista são:
 J.J.Bachofen (1815-1887)
 L.H, Morgan (1818-81);
 H. Maine (1822-88);
 J.F. Mc Lennan (1827-81);
 E.B. Tylor (1832-1917);
 J. Frazer (1854-1941).
b) Segundo Burgess (1997), o contributo dado pelos antropólogos evolucionistas para a
construção da antropologia é na Ilustração, a ideia de progresso foi central; e para o
evolucionismo, as culturas encontravam-se em movimento, através de diferentes
etapas de desenvolvimento, até alcançarem a etapa de desenvolvimento da cultura
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ocidental. Todas as culturas evoluiriam da mesma maneira e passariam pelos mesmos


estádios. Os antropólogos evolucionistas desempenharam um papel significativo na
construção e desenvolvimento da antropologia como disciplina académica. Embora a
abordagem evolucionista tenha sido criticada e, em alguns casos, substituída por
outras teorias e métodos ao longo do tempo, sua influência e contribuições iniciais são
inegáveis.
1. Desenvolvimento da Teoria Evolucionista – os antropólogos evolucionistas, como
Lewis Henry Morgan e Edward Tylor, foram pioneiros na elaboração de teorias sobre
a evolução da cultura humana. Eles propuseram modelos evolutivos que descreviam a
passagem da sociedade humana por estágios de desenvolvimento, partindo de formas
mais simples para mais complexas. Morgan, por exemplo, propôs uma teoria de
evolução social que incluía estágios como o estado selvagem, o estado bárbaro e o
estado civilizado.
2. Colecta de Dados e Estudos Comparativos – os evolucionistas realizaram extensas
pesquisas etnográficas e colectaram dados de diversas culturas ao redor do mundo.
Isso levou à compilação de informações detalhadas sobre sociedades não ocidentais,
seus costumes, línguas, sistemas de parentesco, mitologia e práticas culturais. Essa
abordagem comparativa ajudou a criar uma base de conhecimento sólida para a
antropologia.
3. Contribuições para a Teoria do Parentesco – Lewis Henry Morgan desempenhou um
papel importante na formulação da teoria do parentesco, que incluía o
desenvolvimento de sistemas de parentesco e terminologia. Seu trabalho sobre a
classificação de parentesco em termos de "sistemas" (como o sistema Crow) ainda é
relevante na antropologia cultural.
4. Estudo de Instituições Sociais – Edward Tylor e outros antropólogos evolucionistas
estudaram várias instituições sociais, como religião, casamento, política e propriedade,
a fim de compreender como essas instituições evoluíram ao longo do tempo e como
elas eram relacionadas às crenças culturais e à organização social.
5. Desenvolvimento da Antropologia como Disciplina Científica – os antropólogos
evolucionistas contribuíram para a profissionalização da antropologia, estabelecendo
métodos de pesquisa e padrões de análise. Eles também defenderam a ideia de que a
antropologia deveria ser uma disciplina científica que se baseasse em observações e
colecta sistemática de dados.
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2. O parentesco é uma relação humana universal com base biológica e com variações nos
significados socioculturais particulares.
a) As funções do parentesco
O parentesco tem um papel importante pois confere ao indivíduo a identidade social perante
ao grupo, de forma que este seja reconhecido pelos outros como membro pertencente ao
grupo, isto é, dentro de uma sociedade pode definir a sua posição por meio de termos de
parentesco com qualquer pessoa com quem se encontre a tratar socialmente, quer pertença á
própria tribo quer pertença a outra (Bernardi, 1974: 258).
As funções do parentesco podem variar de uma sociedade para outra, mas geralmente
incluem:
1. Reprodução – o parentesco desempenha um papel central na reprodução da sociedade.
As relações familiares geralmente fornecem o contexto social para a procriação e
criação de filhos. Através do casamento e da descendência, as sociedades
regulamentam a reprodução e a continuidade das gerações.
2. Organização da Herança e Propriedade – o parentesco ajuda a determinar como os
recursos e a propriedade são transmitidos de uma geração para outra. Muitas culturas
têm regras e normas que regem a herança de terras, bens, riqueza e outras
propriedades de acordo com relações familiares específicas.
3. Apoio Social e Económico – a família é frequentemente vista como a unidade básica
de apoio social e económico. Os membros da família muitas vezes contam uns com os
outros para assistência financeira, cuidados em situações de doença e outras formas de
apoio, criando uma rede de segurança social.
4. Regulação do Casamento e da Aliança – as regras de parentesco também
desempenham um papel importante na regulação do casamento e das alianças
matrimoniais. Muitas culturas têm regras sobre quem pode se casar com quem, com
base em laços de parentesco e afinidade.
5. Estabelecimento de Papéis Sociais – as relações de parentesco muitas vezes
determinam papéis sociais específicos na sociedade. Por exemplo, as funções de pai,
mãe, filho, irmão, avô, entre outras, têm papéis e responsabilidades distintos em
muitas culturas.
6. Manutenção da Identidade Cultural – o parentesco também desempenha um papel na
manutenção da identidade cultural. Através das tradições e rituais familiares, as
culturas transmitem valores, crenças e práticas culturais de uma geração para outra.
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7. Estabelecimento de Alianças Sociais – em muitas sociedades, o parentesco é utilizado


para estabelecer alianças sociais, políticas e económicas. Casamentos e alianças
matrimoniais podem fortalecer laços entre grupos familiares ou entre diferentes
comunidades.
8. Estruturação da Parentalidade – o parentesco influencia como as responsabilidades
parentais são distribuídas na sociedade. Ele define quem é considerado um pai ou mãe
e estabelece normas sobre cuidado, educação e protecção das crianças.
9. Regulação do Comportamento Sexual – o parentesco também regula o comportamento
sexual e as normas sociais em relação à escolha de parceiros sexuais. Muitas culturas
têm regras sobre casamentos endogâmicos (dentro do mesmo grupo) ou exogâmicos
(fora do grupo).
b) As pessoas usam o parentesco de várias maneiras para criar laços sociais e integrar-se
em grupos em diferentes sociedades e culturas. O parentesco desempenha um papel
fundamental na construção de relações sociais, redes de apoio e identidade. São
formas comuns pelas quais as pessoas usam o parentesco para criar laços sociais e
integrar-se em grupos:
 Criação de Famílias – o parentesco é a base da formação de famílias. O
casamento e o nascimento de filhos são eventos que estabelecem relações
familiares e criam laços emocionais e sociais entre os membros da família.
 Redes de Apoio Social – as relações de parentesco geralmente servem como
redes de apoio social. A família e os parentes próximos são frequentemente os
primeiros a serem contactados em situações de necessidade, como problemas
de saúde, questões financeiras ou apoio emocional.
 Identidade Cultural – o parentesco desempenha um papel crucial na construção
da identidade cultural. Muitas culturas atribuem grande importância à pertença
a grupos étnicos ou tribais, e o parentesco é uma parte fundamental disso. A
pertença a um grupo étnico muitas vezes é transmitida por meio da
descendência e dos laços familiares.
 Estabelecimento de Redes de Aliança – em algumas sociedades, o parentesco é
usado para estabelecer alianças sociais, políticas e económicas. Isso pode
ocorrer por meio de casamentos arranjados ou alianças matrimoniais que unem
diferentes grupos familiares.
 Regulação de Comportamento Social – o parentesco também pode regular o
comportamento social, incluindo regras sobre quem é considerado adequado
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como parceiro sexual, casamento, tabus incestuosos e normas de


comportamento entre parentes.
3. O casamento tradicional não deixa de ser um fenómeno económico e de poder na
medida em que serve de regulação social e eleva o estatuto dos nubentes.
a) Os casamentos tradicionais em Moçambique, na zona norte e centro do país, têm uma
história rica e variada que foi influenciada por diferentes grupos étnicos e culturas ao
longo do tempo. A independência de Moçambique em 1975 trouxe mudanças
significativas em vários aspectos da sociedade, incluindo práticas matrimoniais.
Antes da independência
 Casamentos Arranjados – tradicionalmente, os casamentos em muitas comunidades
em Moçambique eram frequentemente arranjados pelas famílias dos noivos;
 Dotes e Troca de Bens – os casamentos frequentemente envolviam a troca de bens ou
dotes entre as famílias dos noivos;
 Rituais e cerimónias Tradicionais – os casamentos tradicionais eram acompanhados
por rituais e cerimónias específicas que variavam de acordo com as tradições étnicas;
 Papéis de Género Claros – os papéis de género eram geralmente bem definidos, com
as mulheres desempenhando papéis tradicionais de cuidadoras e gestoras do lar,
enquanto os homens eram os provedores da família.
Depois da independência
 Mudanças nas práticas matrimoniais – a independência de Moçambique trouxe
mudanças nas práticas matrimoniais, à medida que as influências culturais e sociais
evoluíram;
 Casamentos por Amor – com o tempo, a preferência pelo casamento por amor, onde
os indivíduos escolhem seus parceiros com base em sentimentos pessoais, ganhou
mais aceitação, especialmente nas áreas urbanas;
 Casamentos legais e religiosos – a influência da religião também desempenhou um
papel significativo;
 Igualdade de Género - A independência de Moçambique também trouxe mudanças nas
atitudes em relação à igualdade de género. Houve esforços para promover a igualdade
de género e os direitos das mulheres, alterando alguns dos papéis tradicionalmente
atribuídos a homens e mulheres;
 Mudanças nas cerimónias – em muitas áreas, as cerimónias de casamento tradicionais
ainda são realizadas, mas podem ter evoluído para incorporar elementos mais
contemporâneos ou religiosos.
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b) O processo de mudança de habitação do casal após o casamento nas regiões Norte e


Centro de Portugal dependia, em grande parte, do contexto social e económico, e
havia diferenças entre áreas rurais e urbanas.
 Áreas Rurais – nas áreas rurais, era comum que o casal se estabelecesse na
propriedade da família do noivo, geralmente com os pais ou parentes próximos. Isso
era uma prática tradicional que contribuía para a manutenção da unidade da família do
noivo e a continuidade das actividades agrícolas. A noiva se mudava para a casa do
noivo, e o casal começava a construir sua vida juntos na mesma comunidade.
 Áreas Urbanas – nas áreas urbanas, a transição para uma nova residência após o
casamento era mais comum. Os casais costumavam alugar ou comprar uma casa
separada, muitas vezes com a ajuda financeira das famílias. Esse processo reflectia as
mudanças sociais e económicas, à medida que as famílias se tornavam menos
dependentes da agricultura e mais envolvidas em actividades urbanas.
4. Em Moçambique, a Lei da Família, 10/2004 define família como a célula base da
sociedade. É na família onde se e consolida a personalidade do individuo.
a) Tipos de Família em Moçambique e Suas Características
 Família Nuclear – a família nuclear é composta pelos pais e seus filhos, vivendo juntos
em uma única unidade doméstica. Esta é uma estrutura familiar relativamente pequena
e comum em áreas urbanas e nas sociedades mais modernas em Moçambique;
 Família Extensa – a família extensa inclui não apenas os pais e filhos, mas também
outros membros da família, como avós, tios, primos e, por vezes, membros não
directamente relacionados por laços de sangue, mas que são considerados parte da
família. Este tipo de família é mais comum em áreas rurais e em sociedades mais
tradicionais, onde a solidariedade familiar é valorizada;
 Família Monoparental – uma família monoparental consiste em um único pai ou mãe
com seus filhos. Pode ocorrer devido a divórcio, separação, viuvez ou escolha pessoal.
Estas famílias enfrentam desafios específicos devido à ausência de um dos pais.
 Família Reconstruída – uma família reconstruída, ou família reconstituída, envolve
pelo menos um dos cônjuges que possui filhos de um casamento anterior. Isso
significa que a família inclui crianças de casamentos anteriores, bem como quaisquer
filhos que o casal possa ter juntos.
 Família Consanguínea – este tipo de família é composto principalmente por parentes
consanguíneos, ou seja, parentes ligados por laços de sangue, como irmãos, pais e
filhos. Pode incluir outras pessoas, mas o foco principal é nos parentes biológicos.
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b) Relação entre Família e Casamentos

A relação entre a família e o casamento em Moçambique é tradicionalmente muito forte e


influente. Antes de um casamento, as famílias frequentemente desempenham um papel
fundamental na negociação dos acordos matrimoniais, na escolha do parceiro e na celebração
do casamento em si. Além disso, as famílias desempenham um papel crucial no apoio
emocional e financeiro ao casal ao longo do casamento. Os casamentos são vistos como
eventos que unem não apenas o casal, mas também suas famílias e comunidades. A
solidariedade familiar é valorizada e os casamentos frequentemente envolvem cerimónias e
rituais que reflectem a importância das famílias na vida do casal. Embora as dinâmicas
familiares estejam evoluindo com a urbanização e a modernização, as famílias ainda
desempenham um papel significativo na vida matrimonial em Moçambique.
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Conclusão

Ao explorar as teorias evolucionistas na antropologia em relação aos casamentos, parentesco e


família, fica evidente que esses elementos desempenharam um papel vital na adaptação e
sobrevivência da espécie humana ao longo da história. A compreensão das práticas
matrimoniais e das estruturas familiares em sociedades passadas e contemporâneas nos
permite traçar uma linha de continuidade e transformação na organização social e cultural.

As teorias evolucionistas, como o evolucionismo cultural, o funcionalismo e o estruturalismo,


têm enriquecido nosso conhecimento sobre as diversas formas de casamento, parentesco e
família em diferentes contextos culturais. Elas nos lembram que, embora haja variações
significativas nas práticas matrimoniais e estruturas familiares ao redor do mundo, existem
princípios fundamentais que guiam a formação e a manutenção dessas instituições em todas as
sociedades.

O parentesco embora possa ser transmitido por consanguinidade e como Ghasarian afirma que
nas sociedades tradicionais tem um carácter sagrado e exclusivo na medida em que as pessoas
que partilham da mesma parentela à eles transmitida pela via consanguíneas se vêm obrigadas
a manter certos sentimentos uns em relação aos outros, tem uma dimensão social que
ultrapassa a biológica, pelo que transmite certos estatutos sociais, permite a integração em
grupos de actividades, em termos de hierarquização o parentesco tem forte influência.
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Referencias bibliográficas

Burgess, R. G. (1997). A pesquisa de terreno. Uma introdução. Oeiras: Celta Editora

Bernardi, B. (1974). Introdução aos Estudos Etno-Antropologicos. Edições 70: Lisboa

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