Você está na página 1de 17

Vitimologia – Parte 3

Mariana Barreiras
Vitimologia – parte 3
@profmaribarreiras
Síndromes relacionadas à
vitimização
Heterovitimização ou Síndrome de Oslo

• É a autorrecriminação da vítima pela ocorrência do crime.


• A vítima se sente culpada, se autorresponsabiliza, buscando em si mesma as
razões para a ocorrência do delito
Síndrome de Estocolmo
A vítima passa a sentir simpatia, amor ou amizade em relação ao
vitimizador após longo período de intimidação.
Trata-se de afeto decorrente do instinto de sobrevivência da vítima.
É comum em casos de sequestro, cárcere privado e agressões
domésticas.
Síndrome de Lima
Os agressores desenvolvem sentimentos de simpatia e cumplicidade
em relação às vítimas, e preocupam-se com o seu bem-estar.
Síndrome de
Londres
As vítimas adotam postura de
enfrentamento com os agressores.
Síndrome da Mulher de Potifar
• Diz respeito aos casos em que mulheres fazem falsa acusação de
estupro ou outros abusos sexuais.
Vítimodogmática
• Dá-se o nome vítimodogmática às implicações que a Vitimologia
causou na dogmática penal, sobretudo a partir da Alemanha na
década de 1990.
• A vitimodogmática analisa a contribuição da vítima para a
ocorrência de um crime.
• O essencial na discussão desse tema é o estudo da
responsabilidade da vítima na experiência que sofreu e o
consequente impacto, na dosimetria da pena, de sua eventual
contribuição.
Vítimodogmática
• O raciocínio é o seguinte: se a vítima renuncia às medidas de
autoproteção disponíveis e, consequentemente, abandona o bem
jurídico, a responsabilidade penal do autor deve ser eximida ou
atenuada.
• Essa discussão ganhou particular importância nos crimes culposos,
como nos casos em que se apura que a vítima de um acidente
culposo de trânsito não estava fazendo uso de cinto de segurança.
• Ora, se ela mesma não estava protegendo sua vida e integridade
física, é justo atribuir essa responsabilização ao vitimizador que não
agiu dolosamente?
Vítimodogmática Moderada
• Para os adeptos de uma visão vítimodogmática moderada, ou fraca, o
comportamento da vítima somente pode repercutir no âmbito da
dosimetria da pena, como está previsto no art. 59 do nosso Código Penal.
• Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à
personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do
crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja
necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime:
• I - as penas aplicáveis dentre as cominadas;
• II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;
• III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade;
• IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se
cabível.
Vítimodogmática Moderada
• Fazem parte desse grupo Thomas Hillemkamp e Winfried Hassemer.
• É a corrente majoritária.
Vítimodogmática Radical
• Para os adeptos de uma visão vítimodogmática radical, ou forte,
não é adequado, sequer, impor pena se a vítima não necessita ou
não merece proteção.
• A corresponsabilidade da vítima implica a exclusão do crime, via de
regra, pela atipicidade.
• Parte-se do princípio do Direito Penal como ultima ratio, ou seja, do
princípio da subsidiariedade, de acordo com o qual a pena somente
é legítima para condutas que violem bens jurídicos de uma vítima
merecedora de proteção.
Vítimodogmática Radical
• Fazem parte desse grupo Bernd Schünemann e Claus Roxin, com seu
funcionalismo penal, para o qual o efeito protetivo da norma encontra
seu limite na autorresponsabilidade da vítima.
• Roxin defende a necessidade de transformar os conhecimentos
criminológicos em exigências político-criminais, e estas em regras
jurídicas, para que se obtenha o socialmente correto.
• Há uma preocupação de conciliar a teoria do delito com o fim do Direito
Penal – proteção subsidiária de bens jurídicos – e o fim – preventivo – da
pena a ser aplicada concretamente em cada caso. Essa orientação de
Roxin, que acolhe valores e princípios garantistas, é conhecida como
funcionalismo teleológico, valorativo ou moderado.
Vítimodogmática Radical
“O sistema do direito penal não deve fornecer uma dedução a partir de conceitos
normativos abstratos (...). Ele é, muito mais, uma combinação de ideias reitoras
político-criminais, que penetram na matéria jurídica, a estruturam e possibilitam
resultados adequados às peculiaridades desta”.
ROXIN, Claus. Estudos de direito penal. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p. 75.

“Eu parto de que as fronteiras da autorização de intervenção jurídico-penal


devem resultar de uma função social do Direito Penal. O que está além desta
função não deve ser logicamente objeto do Direito Penal. A função do Direito
Penal consiste em garantir a seus cidadãos uma existência pacífica, livre e
socialmente segura, sempre quando estas metas não possam ser alcançadas
com outras medidas político-sociais que afetem em menor medida a liberdade
dos cidadãos.”

ROXIN, Claus. A proteção de bens jurídicos como função do Direito Penal. Org. e trad. André Luís Callegari, Nereu José Giacomolli. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006, p. 16.
Vítimodogmática Radical
• Esse pensamento seria aplicável aos delitos não violentos e aos
delitos de interação, como é o caso do estelionato, em que é
necessário um determinado comportamento da vítima para sua
consumação.
• Uma das críticas que se faz a essa visão é o fato de ela impor pesada
carga de responsabilidade penal sobre a vítima, transferindo para
ela os custos do crime. Por isso, tem sido apelidada de “blaming the
victim” (culpando a vítima).
@profmaribarreiras

Você também pode gostar