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HASSEMER, Winfried. Derecho Penal Simbólico y Protección de Bienes Jurídicos.
Para o já citado mestre da Universidade de Frankfurt, desde os trabalhos de Peter Noll
se podia enxergar os contornos da função simbólica da reação penal, concluindo este
estudioso que leis com caráter simbólico não são infreqüentes, conclusões que
redundaram na “teoria das reações de substituição” onde são correlacionados os
comportamentos dos animais que adotam posturas de combate ou de ameaça
(justamente por não estarem em condições de levar a cabo a batalha real), com a
produção de normas simbólicas, caso em que há uma demanda por regulamentação
sem que coexistam os elementos para sua efetiva aplicação e execução.
CLASSIFICAÇÃO
Hassemer2 desenvolve uma classificação das normas (não apenas penais) com relação
ao tipo de efeito simbólico que produzem:
Leis de declaração de valores: normas segundo as quais o Estado demonstra
uma escolha entre pontos de vista socialmente conflitantes, como
exemplificativamente ocorre na proibição do aborto, caso em que se pesam: de
um lado a liberdade de escolha por parte da mulher em quando e como ter filhos,
2
HASSEMER, Winfried. Op. Cit.
e de outro a exigência moral de que se responsabilize pelos seus descendentes
associada à confirmação da proibição de matar.
Leis com caráter de apelação (moral): exemplificativamente, tenha-se em mente
a proteção penal dada ao meio ambiente, onde uma das funções a ser exercida
reside na conscientização da sociedade, e sobretudo dos ocupantes de posições
socialmente relevantes, acerca da necessidade de preservação.
Respostas substitutivas do legislador: leis que visam responder à uma crise,
como nos recentes casos de atuação de facções criminosas onde o legislador
adota medidas que não visam apenas solucionar a crise, e sim tranqüilizar a
população.
Leis de compromisso: formadas por cláusulas penais amplas, que ainda que
sejam pouco utilizáveis na prática, respondem à “necessidade de atuação” do
Estado, como se teria exemplificativamente nos casos em que o legislador utiliza
indiscriminadamente na tipificação de determinadas condutas elementos
normativos, deixando à discricionariedade dos demais níveis do sistema penal a
criminalização dessas condutas.
3
HASSEMER, Winfried. Op. Cit. P.
se estará diante de seu conteúdo simbólico: “perseguem com a ajuda de uma
intervenção instrumental do Direito Penal transmitir uma vida de fidelidade ao Direito”.
Esta persecução de uma “vida de fidelidade ao Direito” é precisamente, para Hassemer,
a característica do Direito Penal desde que finalizou uma fundamentalização absoluta
da pena. Segundo esta concepção, mesmo as teorias retributivas da pena estão
carregadas com essa característica “preventiva” no sentido a ela dado pelo autor:
CONCEITO
O termo em si ainda não foi objeto de estudo da doutrina, não existindo uma
conceituação do que seja o “simbólico” quando em relação com o Direito, e nem em
que consistem as normas penais simbólicas.
Há contudo, dentre os autores que tratam da matéria, uma espécie de consenso quanto
a direção a ser seguida, sendo certo segundo Hassemer 5 que se trata da oposição
entre o “aparente” e o “real”, entre o “manifesto” e o “latente”, entre o “verdadeiramente
querido” e o “diversamente aplicado”, tratando-se sempre dos efeitos reais oriundos da
aplicação das normas penais.
Para a construção de uma conceituação acerca do assunto, o já citado mestre alemão 6
enuncia alguns pressupostos que a seu ver devem levados em conta por sempre
estarem presentes quando se tratar do simbólico dentro do Direito:
a. Para que faça sentido, o estudo do simbólico deve voltar-se às conseqüências
do Direito Penal, tanto assim que os estudiosos que valorizam voltado
exclusivamente ao seu interior, como concreção de normas gerais ao caso
concreto são incapazes de compreender qual a utilidade e necessidade do
4
HASSEMER, Winfried. Op. Cit. P.
5
Idem. Ibidem. P
6
Idem. Ibidem. P
estudo do tema. Para o autor o fato de voltar-se às conseqüências também
explica porque atualmente o fenômeno do simbólico é de tão dilatada existência.
b. Segundo Hassemer, a elaboração de um conceito neste caso, não deveria se
apoiar em elementos de disposição como os “objetivos” ou as “intenções” do
legislador. Vez que, estes elementos apresentam seus problemas específicos de
aplicação, conhecidos pela doutrina do método subjetivo-histórico de
interpretação: na maior parte dos casos o legislador silencia acerca de suas
intenções, freqüentemente as encobre, e geralmente nem a ele ficam totalmente
claras, sobretudo, quando são elaboradas normas em que se consubstanciam-se
diversas orientações morais, algumas conflitantes entre si. Assim, um conceito
de Direito Penal simbólico deve ser fundamentado objetivamente, trocando-se as
“expectativas” por “previsibilidade”, ou seja, em vez de busca das intenções nos
efeitos que terão as leis, a existência de determinadas condições prévias
objetivas e probabilidade de um efeito. Finalmente, não se trata de estudar fins, e
sim funções.
c. A elaboração do conceito será inevitavelmente comparativa, já que o
“simbolismo” advém da promulgação e execução das leis, podendo se falar em
graus de simbolismo. Assim, mesmo uma norma tão concreta como o homicídio
(artigo 121 do Código Penal), enfeixa em si efeitos simbólicos como a
“esperança preventiva de fortalecer o respeito à vida”, e mesmo uma norma que
incrimine a conduta de genocídio (tipificada na lei 2.889, de 1º de outubro de
1956) de caráter suspeitosamente simbólico (em vista da sua difícil configuração
e comprovação no caso concreto) possui efeitos para o citado autor, visto
demonstrar não apenas a adesão do país à Convenção de 1948 sobre a
prevenção e o castigo do genocídio e seus princípios fundamentais, como ainda
adota um programa de execução de normas para um eventual caso concreto.
d. O conceito não deve se propor a apenas denunciar as leis e sua aplicação; seria
anacrônico assinalar o caráter simbólico das normas que compõem o Direito
Penal moderno, já que, como dito anteriormente, mesmo as mais efetivas
normas penais possuem elementos simbólicos. Assim, a partir de qual momento
a mistura de elementos instrumentais e simbólicos é uma questão que não pode
ser respondida apenas utilizando o conceito de Direito Penal simbólico. Deve
contudo, ser delimitado um momento a partir do qual essa crítica deve ser feita,
já que a atribuição do caráter predominantemente simbólico a uma norma não é
somente um conceito analítico inócuo, devendo servir como uma “designação
normativa-combativa”, que expressa não apenas uma descrição mas antes uma
crítica.
Ainda que se faça uso dos elementos acima elencados por Hassemer, não se pode
ainda utilizá-lo, segundo a visão deste autor, para se criticar as normas que acaso se
encaixem neste conceito, já que assinalar apenas a discrepância entre “função real” e
“função latente” é uma operação que pode ser efetivada sobre qualquer norma penal
moderna. Assim, para que reste concreto o caráter danoso e indesejável das normas
penais simbólicas faz-se mister que o objeto em questão seja passível de determinação
por alguma qualidade crítica.
Para Hassemer esta qualidade crítica reside precisamente na oposição entre aparência
e realidade, apontando ao elemento de engano, à falsa aparência de efetividade e
instrumentalidade:
7
HASSEMER, Winfried. Op. Cit. P.
8
IDEM. Ibidem. P.
reação por parte do legislador diante de um quadro de comoção nacional, até a simples
demonstração através da edição normativa da força do Estado.
Diante deste conceito, deve-se ter em mente que a amplitude de
aplicação e de efetividade que determinada norma penal alcançará é diretamente
proporcional à quantidade e à qualidade das condições objetivas que estejam à
disposição para a realização objetiva instrumental da norma.
Finalmente, dentro da conceituação de Hassemer do Direito Penal
simbólico, a concreção do caráter simbólico da norma não se encontra somente no
processo de aplicação da norma, vez que freqüentemente desde a sua formulação e
publicação são notados tais efeitos, ao ponto de se poder pensar na existência de
normas serem construídas sem visar qualquer eficácia instrumental.