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RESUMO DA DEFESA DE PROCESSO PENAL

O presente trabalho propõe-se a fazer uma abordagem a cerca da organização; constituição e funcionamento da PGR e do
Tribunal Supremo. A principal questão que serve de base para a elaboração do nosso trabalho, reside no facto de saber como é
que estão organizados, constituídos e funcionam a PGR e o Tribunal Supremo?

Objectivo geral: Compreender os pressupostos e fundamentos da organização, constituição e funcionamento da PGR e do


Tribunal Supremo.

O primeiro capítulo trata da fundamentação teórica, na qual, faz-se uma definição de termos e conceitos, uma abordagem sobre
a evolução histórica e conceptual sobre o Ministério Público e o Tribunal Supremo. O segundo capítulo, trata da PGR
(Ministério Público). Na parte final, o foco é a análise do Tribunal Supremo, baseado nas leis de cada organismo, no Código de
Processo Penal e sem descurar de olhar para a doutrina a fim de consolidar os conceitos.

1.1 – A PGR e o Ministério Público : das origens aos dias de hoje


Não podemos falar de PGR e Ministério Público (MP) em Angola, sem falarmos dos factos históricos de alguns factos
históricos que sedimentaram esta evolução. Por inerência da colonização, a história do M.P e dos Tribunais em Angola, estão
entrelaçadas com a de Portugal.
1.2 A PGR e o Ministério Público em Angola
O Ministério Público em Angola (Procuradoria-Geral da República) foi criada em 1979, pela Lei nº 4/79, de 27 de Abril, Lei
da institucionalização da Procuradoria-Geral da República. A referida lei instituiu a PGR como um órgão subordinado ao
Presidente da República (PR), de quem recebia “instruções directas e de cumprimento obrigatório”.

A Lei nº 22/12, de 14 de Agosto (Lei Orgânica da Procuradoria Geral da República e do Ministério Público) procedeu à
adequação da PGR à Constituição da República (CRA), aprovada em 2010. Como consequência, o Procurador Geral da
República passou a ser nomeado e exonerado pelo Presidente da República. Nos termos dos arts. 185º a 189º da CRA o MP e a
PGR passaram a ter um papel diferente no novo ordenamento jurídico.

1.3 – O Ministério Público: fundamentos teóricos

O MP é um é um órgão de administração da justiça 1, autónomo, organizado hierarquicamente para representar o Estado,


exercer a acção penal, participar na execução da política criminal, defender a legalidade democrática e os interesses que a lei
determinar. As competências do M.P podem ser de caracter judicial e extra – judicial.

Em linhas gerais, compete ao MP: - Exercer a acção penal; - Dirigir a investigação criminal e a instrução processual.

etc).

1.5 Abordagem histórica e conceptual sobre o sistema jurisdicional


A acção penal pública, da forma como a conhecemos hoje, contudo, é produto de uma longa evolução. Durante séculos o crime
foi uma questão privada a ser resolvida pela parte ofendida. A auto-reparação assumia diferentes formas, nomeadamente: a
copmosição pecuniária; o abandono noxal; o talião; os conjurados; combate judiciário… Podemos ainda adicionar as bilaterais.

Com o advento d Justiça Pública, o Estado chamou para sía responsabilidade de punir. Este ius puniendi passou a caracterizar-
se por dois princípios:

- A repreensão criminal passou a ser uma função social do Estado e a pena o seu instrumento;

- A função de julgar é monopólio do Estado.

Com o surgimento dos tribunais de justiça, a vingança privada e a conciliação foram substituídas pela resolução judicial do
litígio.

Os tribunais são órgãos de soberania com competência para Administrar a justiça em nome do povo. Eles representam um
órgão de soberania em si mesmos e possuem a competência de administrar a justiça, isto é, de aplicar o Direito e de apreciar as

Segundo Manuel Cavaleiro de Ferreira, Curso de Pocesso Penal, I, 1981, p. 96, “o Ministério Público é
(...) caracterizado como órgão de justiça. Estas a razão, (...), porque relativamente ao MP vigoram as
mesmas causas de impedimentos ou suspeições que podem opor-se ao juiz”.
causas à luz de uma certa equidade2, através de um julgamento cuidado das provas apresentadas e no constante empenho pela
busca da verdade. A Justiça só pode ser exercida nos tribunais, por juízes, detendo estes o monopólio desta função. Todavia,
para que haja um controlo e seja assegurada uma verdadeira independência deste enorme poder, os cidadãos (e as instituições
em geral) têm sempre uma possibilidade de recurso, ou seja, se não aceitarem determinada decisão, podem os julgados recorrer
da sentença para um tribunal superior, onde será reapreciada por um ou mais juízes. A competência reparte ‐se pelos tribunais
judiciais segundo a matéria, a hierarquia, o valor e o território. Associada ao poder directamente decisório do Juiz (ou dos
juízes, no caso de um tribunal colectivo), está a função do Ministério Público, que auxilia na concretização do poder judicial,
designadamente na busca da verdade, na defesa do Estado e na investigação dos factos.

II – CAPÍTULO – A PROCURADORIA GERAL DA REPÚBLICA: ORGANIZAÇÃO; CONSTITUIÇÃO E


FUNCIONAMENTO

A Procuradoria Geral da República é um organismo do Estado com a função de representação do Estado, nomeadamente no
exercício da acção penal, de defesa dos direitos de outras pessoas singulares e colectivas, de defesa da legalidade no exercício
da função jurisdicional e de fiscalização da legalidade na fase de instrução preparatória dos processos e no que toca ao
cumprimento das penas.3

São atribuições da Procuradoria Geral da República4:


A)- Promover a defesa da legalidade democrática; B)- Exercer o controlo genérico da legalidade democrática; C)-Dirigir,
coordenar e fiscalizar a actividade do Ministério Público e emitir as directivas, ordens e instruções a que deve obedecer a
actuação dos Magistrados do Ministério Público no exercício das respectivas funções; D)- Efectuar inquéritos preliminares
destinados a averiguar a existência de infracções criminais; E)- Promover a transparência da gestão pública e exercer as acções
de prevenção criminal e intentar acções de responsabilidade financeira; F)- Cuidar da defesa de interesses colectivos, difusos,
ambientais e promover a defesa dos direitos, liberdades e garantias fundamentais.

Em termos estruturais5, a Procuradoria Geral da República tem a sua sede na capital do País e a sua estrutura adequa-se à
organização judiciária nacional, nos termos da lei.

Primeiramente existe o âmbito nacional. A Direcção da Procuradoria Geral da República em todo o território nacional cabe ao
Procurador Geral da República, que é assistido por Vice-Procuradores Gerais da República e por Procuradores Gerais-
Adjuntos da República.

1. A Direcção da Procuradoria Geral da República na área de jurisdição do Tribunal de Comarca e na Província,


compete a um Sub-Procurador Geral da República, que é coadjuvado por Procuradores da República.
2. A Direcção da Procuradoria Geral da República na área de jurisdição do Julgado Municipal, compete a um
Procurador-Adjunto da República, quando não tiver sido nomeado Magistrado de nível superior.

2.1- Organização

2
Quer isto dizer que os tribunais devem ter em conta, ao apreciar um caso em concreto, ambos os pratos
da “balança da Justiça”, procurando um equilíbrio de forças, uma serena análise dos factos e a procura da
verdade efectiva. Ao contrário do que acontece noutras nações, em Portugal (bem como em quase todos
os países Europeus que seguem o sistema chamado «continental» da aplicação da justiça), procura-se
sempre, em tribunal, a «verdade material», isto é, aquilo que efectivamente aconteceu. Há lugares em que
basta aos decisores (juizes ou jurados) alcançar um acordo ou perscrutar uma possibilidade de verdade
«para além da dúvida razoável», traduzindo do inglês directo. A estes casos chamam os juristas a busca
da «verdade formal», onde se procura simplesmente convencer o tribunal que a verdade apresentada é a
verdade efectiva.
3
Artigo 1.º, nº1 da lei nº22/12 de 14 de Agosto – Lei Orgânica da Procuradoria Geral da República e do
Ministério Público.

4
Artigo 2.º, nº1 da lei nº22/12 de 14 de Agosto – Lei Orgânica da Procuradoria Geral da República e do
Ministério Público.

5
Ibid., Artigo 3, 4, e 5
A nível central e local, os órgãos da Procuradoria - Geral da República são organizados em direcções, gabinetes,
departamentos, serviços, repartições e secções, respectivamente, conforme as necessidades de serviço 6.
Em relação aos órgãos da Procuradoria Geral da República, a lei dispõe o seguinte:

1. Integram a Procuradoria Geral da República o Ministério Público, o Conselho Superior da Magistratura do


Ministério Público e a Procuradoria Militar.
Órgãos Singulares: O Procurador Geral da República; Os Vice-Procuradores Gerais da República;Os Procuradores Gerais-
Adjunto da República; Os Sub-Procuradores Gerais da República; Os Procuradores da República; Os Procuradores-Adjunto
da República.
Órgãos Colegiais: O Conselho Consultivo; O Conselho de Direcção; As Direcções; Os Gabinetes; Os Departamentos;Os
Serviços.

2.1.1 – O Ministério Público (Estrutura, Subordinação e Organização)

O Ministério Público7 é o órgão da Procuradoria Geral da República essencial à função jurisdicional, a quem compete
representar o Estado, defender a legalidade democrática e os interesses que a lei determinar, promover o processo penal e
exercer a acção penal, nos termos da Constituição e da lei.
O Ministério Público é integrado por todos os Magistrados da Procuradoria Geral da República nos seus diferentes níveis.
1. A Magistratura do Ministério Público goza de autonomia em relação aos demais órgãos do poder central e local do
Estado e possui estatuto próprio, nos termos da lei.

Compete especialmente ao Ministério Público:


Representar o Estado, os incapazes, os incertos e os ausentes em parte incerta, nos termos da lei; Exercer a acção penal; Dirigir
a investigação criminal e a instrução processual, ainda que realizadas por outras entidades; Ordenar a prisão preventiva em
instrução preparatória, validá-la, prorroga-la ou substitui-la por outras medidas de coacção, nos termos da lei; Ordenar a
realização das revistas, buscas, apreensões e capturas, nos termos da lei; Fiscalizar a legalidade dos actos dos órgãos de polícia
criminal, em matéria processual e orientar a sua conformação com as leis do processo; Ordenar a soltura de arguidos detidos,
nos termos da lei; Investigar, instruir processos criminais e requisitar diligências complementares de prova nos processos
instruídos por outras entidades com competência; Fazer cumprir a prisão ordenada pelos Tribunais; Instaurar processo, após o
apuramento de indícios de eventual veracidade dos factos que revelem improbidade, mediante participação de qualquer pessoa,
singular ou colectiva, nos termos da lei; Havendo fundados indícios de responsabilidade por actos de improbidade pode o
Ministério Público requerer ao Tribunal competente, o arresto preventivo dos bens, incluindo o congelamento de contas
bancárias do provável agente ou de terceiro que tenha enriquecido ilicitamente ou causado dano ao património público;
Exercer o patrocínio oficioso dos trabalhadores e suas famílias na defesa dos seus direitos, nos termos da lei; Promover a
execução das decisões dos Tribunais para que tenha legitimidade;
a) Interpor recurso, quando tal lhe for imposto por lei, pelo seu superior hierárquico e das decisões que considere
injustas ou que contrariem a lei;

1. O Procurador Geral da República é o mais alto Magistrado do Ministério Público junto dos Tribunais Superiores,
podendo ser substituído por Vice-Procuradores Gerais da República ou por Procuradores Gerais-Adjunto da República.
2. Os Vice-Procuradores Gerais da República e os Procuradores Gerais-Adjunto da República são o Ministério Público
das Câmaras dos Tribunais Superiores.

Nos tribunais de Comarca, o Sub-Procurador Geral da República é o Ministério Público no Tribunal de Comarca. Quando o
Tribunal de Comarca se encontrar dividido em salas ou secções, o Ministério Público é ali representado por Magistrados
designados para o efeito.

Nos termos do art. 48 do Código do Processo Penal Angolano, citado pelo Manual do Processo Penal Angolano, (2022, p.21),
estão estabelecidas como as atribuições do Ministério Público (M.P.) em matéria penal as seguintes:

- Compete ao M.P. em geral, enquanto autoridade judiciária, participar na descoberta da verdade e na realização da justiça
penal, determinando-se na sua atuação por critérios de estrita objectividade e legalidade; -Compete em especial ao M.P; -
Promover o Processo Penal; -Dirigir e realizar a instrução preparatória; - Exercer, nos termos das disposições do Código do
Processo Penal, a acção penal, deduzir a acusação contra o arguido e defendendo-o na instrução contraditória e no julgamento;
- Interpor recurso em defesa da legalidade; - Promover a execução das penas e das medidas de segurança e exercer outras
atribuições que lhe sejam conferidas por lei.
6
Ibidem, art.6, 7
7
Ibdem, art. 29, 31, 36 e ss…
Sem prejuízo das limitações estabelecidas nos artigos 50.º e 51.º do Código do Processo Penal, o M.P. adquire legitimidade
para promover o Processo Penal8 logo que tiver notícia do crime, por conhecimento oficioso, por denúncia ou através de auto
de notícia levantado por entidade competente. Assim, o M.P. tem legitimidade para oficiosamente instaurar processo nos
crimes públicos (independentemente da vontade dos particulares). Já nos crimes semi-públicos só há processo se houver queixa
ou participação da pessoa com legitimidade para se queixar (art. 50.º). Nos crimes particulares para haver procedimento
criminal é necessário que, para além de apresentar a queixa, o ofendido se constitua como assistente e deduza acusação
particular (art. 51º).

A direcção da instrução preparatória 9 é atribuída ao Ministério Público, titular da acção penal, coadjuvado, nos termos do
(art.55.º do C.P.P.A), pelos órgãos de polícia criminal. Os órgãos de polícia criminal instruem os processos sob direcção do
Ministério Público. O M.P. pode por iniciativa própria realizar diligências complementares de prova, quando entender
necessário ou conveniente e, avocar qualquer processo em curso nos órgãos de polícia criminal.

Em relação aos actos de instrução preparatória (art. 312 do C.P.P.A - Actos do Ministério Público), o M.P., assistido pelos
órgãos de polícia criminal, realiza, ordena as diligências e pratica os actos necessários à realização dos fins da instrução
preparatória, oficiosamente ou a requerimento.

Nesta senda, compete, em especial, ao M.P: Proceder ao interrogatório preliminar detido; Aplicar medidas de coacção;
Ordenar ou autorizar as revistas e buscas; Recolher o juramento das testemunhas, peritos e intérpretes; Validar as revistas e
buscas efectuadas sem a sua prévia autorização; Presidir a revistas e buscas; Ordenar, autorizar ou validar a apreensão de
objectos; Ordenar a detenção fora do flagrante delito. O M.P. pode delegar nas autoridades de polícia criminal a realização dos
actos de instrução preparatória, salvo aqueles que lhe competem.

Como afirma Germano Marques da Silva, que «o Ministério Público, só tem interesse na condenação ou absolvição do arguido
enquanto essa condenação ou absolvição sejam justas».

CAPÍTULO III – O TRIBUNAL SUPREMO : ORGANIZAÇÃO; CONSTITUIÇÃO E FUNCIONAMENTO

O Tribunal Supremo é a instância judicial superior da hierarquia dos Tribunais da Jurisdição Comum. O Tribunal Supremo é a
mais alta instância da jurisdição comum do poder judicial de Angola e pertence a categoria dos tribunais superiores juntamente
com o Tribunal de Contas, Supremo Tribunal Militar e o Tribunal Constitucional, segundo o disposto n.º 1 do art. 181 da CRA.

2.1 – Organização
O Tribunal Supremo tem a sua sede na Cidade de Luanda e tem jurisdição em todo território nacional 10.
Quanto a competência em razão da hierarquia11, dispões a norma que :
- O Tribunal Supremo é a instância superior da jurisdição comum;
- O Tribunal Supremo Funciona como Tribunal da 1.ª instância, nas respectivas Câmaras, nos casos especialmente previstos na
lei.
O Tribunal Supremo é dotado de autonomia administrativa e financeira, dispondo de orçamento inscrito no Orçamento Geral
do Estado.12
Os artigos 10º, 11º e 12º, da Lei Orgânica do Tribunal tratam da composição, nomeação e ingresso no tribunal, dispondo que:
1. Os Juízes do Tribunal Supremo têm a categoria de Juízes Conselheiros.
2. O Tribunal Supremo é constituído pelo Presidente, Vice-presidente e pelos Juízes Conselheiros.

3.2 - Constituição

Quanto ao seu quadro, o Tribunal Supremo é composto por máximo de 31 Juízes Conselheiros, incluído o Presidente e o Vice-
Presidente, nos termos estabelecidos no presente artigo.

8
Promoção do Processo Penal : Legitimidade do Ministério Público (art. 49.º do C.P.P.A)
9
Direcção da Instrução Preparatória (art.309.º do C.P.P.A) in Manual do Processo Penal Angolano. p.53.

10
Art.2, 3, e 4 da Lei 2/ 22 de 17 de Março (Lei Orgânica do Tribunal Supremo)

11
Ibdem, art.6

12
Ibdem, art. 9
Os Juízes Conselheiros do Tribunal Supremo são nomeados pelo Presidente da República, sob proposta do Conselho Superior
da Magistratura Judicial, apos concurso curricular de entre Magistrados Judiciais, Magistrados do Ministério Público e Juristas
de Mérito.

O Tribunal Supremo encontra-se dividido em câmaras, como vemos nos artigos 38.º40º,41º,42º e 43º da Lei Orgânica do
Tribunal Supremo, nomeadamente:

a) Câmara Criminal;
b) Câmara Cível;
c) Câmara do Contencioso Administrativo, Fiscal e Aduaneiro;
d) Câmara do Trabalho;
e) Câmara da Família e Justiça Juvenil.

O Ministério Público é representado13 junto do Tribunal Supremo pelo Procurador Geral da República.Os Procuradores Gerais-
Adjunto da República representam, por delegação do Procurador Geral da República, o Ministério Público junto do Tribunal
Supremo.

3.3 - Funcionamento

O Tribunal Supremo funciona sob a direcção das deliberações do Plenário, das decisões do Presidente, e por Câmaras, nos
termos da lei.

O Tribunal Supremo julga em primeira instância os processos que tenham por objecto crimes cometidos por pessoas cuja
competência para julgar, em primeira instância, é do Tribunal Supremo ou dos Tribunais da Relação (art. 451.º). São processos
em que são julgadas pessoas que pela sua qualidade e personalidade, a Lei lhe confere uma instância imediatamente superior,
de acordo com a sua categoria no julgamento em primeira instância. Quem são essas pessoas ou personalidades? As Câmaras
de jurisdição criminal ou penal do Tribunal Supremo e dos Tribunais da Relação julgam, em primeira instância, crimes
cometidos por certas categorias de pessoas. Pessoas que, pelo lugar que ocupam, as funções que desempenham e a profissão
que exercem, têm foro pessoal.

Por exemplo, compete à Câmara Criminal:


1. Em 1.ª instância:
a) Julgar o Presidente da República por actos de natureza criminal, nos termos da Constituição e da lei; Vice-
Presidente da República por actos de natureza criminal, nos termos da Constituição e da lei; Presidente da Assembleia
Nacional; os Presidentes dos Tribunais Superiores; Julgar os Magistrados Judiciais; Julgar os Deputados à Assembleia
Nacional; Julgar os Auxiliares do Titular do Poder Executivo; Julgar o Procurador Geral da República; Julgar os Oficiais
Generais das Forças Armadas Angolanas; Julgar os Oficiais Comissários da Policia Nacional; Julgar os Presidentes dos
Conselhos de Administração dos Instituto Público e das empresas públicas de grande dimensão; Julgar os Magistrados do
Ministério Público.

2. Em curso:
Julgar os recursos das decisões proferidas pelos Tribunais da Relação em processos de natureza criminal; Exercer as demais
competências conferidas por lei.

Quanto aos recursos, em processo penal, são os recursos penal comum ordinário e os recursos extraordinários. O recurso penal
ordinário são os recursos interpostos para os Tribunais da relação e para o Tribunal Supremo de decisões não transitadas em
julgado (art. 459.º), aos quais se aplica a tramitação uniforme dos recursos.

Nos termos do art. 500 e ss. do C.P.P.A, (Recurso perante o tribunal supremo – (art.º 500.º). 1. Recorre-se para o Tribunal
Supremo: a) Das decisões proferidas em primeira instância pelos Tribunais da Relação; b) Das decisões proferidas em recurso,
pelos Tribunais da Relação que não sejam irrecorríveis; c) Dos recursos especialmente estatuídos na lei. 2. Dos recursos das
decisões proferidas na primeira instância pela Secção ou Câmara Criminal do Tribunal, recorre-se no respectivo plenário. As
câmaras segundo a sua especialização, julgam os recursos das decisões proferidas pelos Tribunais da Relação.

13
Artigo 46, ibdem.
São extraordinários os recursos para efeitos de uniformização da jurisprudência, o recurso de revisão e o recurso de cassação. E
todos estes recursos acima citados, são interpostos para o Tribunal Supremo (Art 503 do C.P.P.A).

Contudo, a sua acção não se limita à área penal, dado que as suas funções nas áreas: laboral; família e menores; administrativa;
interesses difusos (ambiente, consumo, urbanismo, etc.) e na defesa dos mais fracos e incapazes têm um papel fundamental na
defesa da legalidade e na promoção do acesso dos cidadãos ao direito e à justiça.

Tanto o nosso Ministério Público, como os Tribunaisenfrenta grandes desafios, nomeadamente em termos de:

-Melhoramento da Instrução Preparatória dos processos;

- Extensão dos serviços da PGR às zonas mais recônditas do país, incluindo as zonas fronteiriças;

- Aumento do número de efectivos (magistrados e pessoal administrativo);

- Especialização dos magistrados do MP (tendo em atenção a nova configuração dos tribunais de jurisdição comum);

- Criação de condições de trabalho condignas para os quadros;

- Reforço da cooperação com instituições congéneres para a prevenção e repressão ao crime organizado transnacional (como
por exemplo, em matéria de branqueamento de capitais, tráfico de seres humanos, tráfico de drogas, terrorismo, etc);

- Extensão dos serviços do MP junto de outras instituições do Estado (como o SME, Alfândegas, Serviço Penitenciário,

CONCLUSÃO

Como notas finais, importa frisar que durante este trabalho, fizemos uma incursão teórica acerca da organização, constituição e
funcionamento da PGR e do Tribunal Supremo.

A Procuradoria Geral da República é um organismo do Estado com a função de representação do Estado, nomeadamente no
exercício da acção penal, de defesa dos direitos de outras pessoas singulares e colectivas, de defesa da legalidade no exercício
da função jurisdicional. Nos termos da lei nº 22/12, de 14 de Agosto (Lei Orgânica da Procuradoria Geral da República e do
Ministério Público) são atribuições da Procuradoria Geral da República: Promover a defesa da legalidade democrática; Exercer
o controlo genérico da legalidade democrática; Dirigir, coordenar e fiscalizar a actividade do Ministério Público e emitir as
directivas, ordens e instruções a que deve obedecer a actuação dos Magistrados do Ministério Público no exercício das
respectivas funções. Em relação aos órgãos da Procuradoria Geral da República, a lei dispõe o seguinte: Integram a
Procuradoria Geral da República o Ministério Público, o Conselho Superior da Magistratura do Ministério Público e a
Procuradoria Militar e outros órgãos já referenciados ao longo deste trabalho.

O Ministério Público que é o órgão da Procuradoria Geral da República essencial à função jurisdicional, a quem compete
representar o Estado, defender a legalidade democrática e os interesses que a lei determinar, promover o processo penal e
exercer a acção penal, nos termos da Constituição e da lei.
A sua intervenção junto dos tribunais ocorre quando representa o Estado; Quando representa menores, incapazes, incertos ou
ausentes em parte incerta; Quando exerce o patrocínio oficioso dos trabalhadores e suas famílias na defesa dos seus direitos,
nos termos da lei.
Em relação ao Tribunal Supremo, afigura-se como a mais alta instância da jurisdição comum do poder judicial de Angola. Por
sua vez, os artigos 17º, 18º, 22º tratam dos órgãos, do funcionamento do tribunal bem como da competência do presidente. São
órgãos do Tribunal Supremo: O Plenário e o Presidente. O Tribunal Supremo tem as seguintes Câmaras: Câmara Criminal;
Câmara Cível; Câmara do Contencioso Administrativo, Fiscal e Aduaneiro; Câmara do Trabalho; Câmara da Família e Justiça
Juvenil. Recorre-se para o Tribunal Supremo: a) Das decisões proferidas em primeira instância pelos Tribunais da Relação; b)
Das decisões proferidas em recurso, pelos Tribunais da Relação que não sejam irrecorríveis; c) Dos recursos especialmente
estatuídos na lei.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CANOTILHO, J.J. Gomes; Moreira, V. Constituição da República Portuguesa anotada. 2.º Volume. 3.ª Edição. Coimbra:
Coimbra Editora, 1993.
DIAS, Jorge de Figueiredo. Direito Processual Penal, Coimbra Ed., 2004.

DIAS, J. P. O “mundo” dos magistrados: a avaliação profissional e a disciplina. Revista Crítica de Ciências Sociais, 60.
Coimbra: Centro de Estudos Sociais.

LATAS, António João. Direito penal e processual penal. Instituto Nacional de Administração Palácio dos Marqueses de
Pombal, 2007.

LUCIANO, Adão Alberto e outros... Manual do Processo Penal Angolano, Ano de Publicação: 2022, Edição: Camões –
Instituto da Cooperação e da Língua, I.P.

SILVA, Germano Marques da. “Curso de Processo Penal”, 3.º Vol., Editora: S/E Coimbra, S/A.

LEGISLAÇÕES:

Constituição da República de Angola, 2021.


Código de Processo Penal Angolano
Lei nº 22/12, de 14 de Agosto – Lei Orgânica da Procuradoria Geral da República e do Ministério Público.
Lei 2/ 22 de 17 de Março (Lei Orgânica do Tribunal Supremo).

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