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Resumo

Livro: História Do Direito Geral E Brasil – Flávia Lages De Castro

Capítulo XI: As Revoluções – Estados Unidos e França no Século


XVIII

1. A Independência Dos Estados Unidos


1.1 Introdução
O fim do antigo regime se dá com a ruptura dos laços coloniais efetuados
pela Independência dos estados Unidos da América do Norte. Muitas veem
essa independência como uma revolução, afinal era um país nascido de uma
colonização, mas sem reis, estabelecendo uma democracia onde a vontade da
maioria prevalecia.
A formação do Estado norte-americano foi diferente desde o início da
colonização das 13 colônias. Toda colônia existia para dar lucros à metrópole,
independentemente de como este lucro se realizaria. O Norte das 13 colônias,
por possuir um clima bem parecido com o Europeu, não podia ser usada fonte
de produtos complementares, então porque coloniza-las? O lucro advindo
desta colonização era político. Pessoas indesejadas ou insatisfeitas com a
política ou religião na Inglaterra acabaram se aglomerando na região norte das
13 colônias, transformando essa região em uma “válvula de escape”. Essa
região ficou conhecida como a “nova Inglaterra” e possuía características que
demonstravam certa independência devido ao tipo de colono que foi para lá
mais um bom desenvolvimento comercial.
Desde o século XVIII, o comércio das 13 Colônias começou a competir
com a o comércio inglês e isso gerou atritos com a metrópole inglesa, a mesma
havia saído de uma guerra com a França (guerra dos 7 anos) e queria que a
colônia contribuísse para cobrir os custos da guerra, com isso taxas foram
aumentadas (como a do açúcar e a do selo). Estas medidas também foram
uma forma de retaliação contra os colonos, que na guerra ficaram do lado dos
franceses.
A reação dos colonos foi imediata, em 1765 se reuniram em Nova Iorque
(congresso da Lei do Selo) e decidiram boicotar o comércio inglês. Os
comerciantes ingleses então pressionaram o Parlamento e a lei do Selo foi
revogada e a taxa do açúcar reduzida.
A crise eclodiu em 1773 com a Lei do Chá, no porto de Boston
comerciantes destruíram a carga de três navios carregados de chá e a
Inglaterra reagiu com a as Leis Intoleráveis, o que provocou mais uma reação
dos colonos. Com o fim da guerra dos sete anos, a Inglaterra adquiriu novos
territórios, e proibiu que as terra a oeste das 13 colônias fossem ocupadas.
O sentimento anti-inglês foi potencializado por todos esses problemas,
mas a revolução dos norte-americanos nasceu do pensamento dos primeiros
colonos puritanos e também dos homens educados na ideologia iluminista.
Então, alguns líderes da revolução eram intelectuais e outros eram puritanos
que objetivavam manter a crença no auto governo.
1.2 O Início Do Processo De Independência E A Declaração Dos
Direitos Do Bom Povo Da Virgínia
A resposta mais contundente às leis intoleráveis foi a reunião de
representantes dos colonos no Primeiro Congresso Continental de Filadélfia,
em 1774. O Congresso enviou uma petição ao Parlamento inglês e ao rei
solicitando a revogação das leis por causa da igualdade entre ingleses e norte-
americanos. No ano seguinte, conflitos provocaram a morte de alguns colonos;
estes se organizaram militarmente. Ao mesmo tempo, reuniu-se o Segundo
Congresso Continental de Filadélfia, agora claramente à favor da
independência. O estado da Virginia tomou a frente e se declarou
independente antes de todos os outros estados. Para deixar claro sua
independência e seus ideias, o povo da Virginia criaram um documento
chamado “Declaração doe Direitos do Bom Povo da Virginia”, que foi sem
dúvida um marco, sendo o primeiro documento escrito, com valor jurídico, a
coroar muitos dos ideais iluministas.

1.3 A Declaração De Independência


Em 4 de Julho de 1776, a delegação de todos os territórios, reunidos na
Filadélfia, promulgam a Declaração de Independência, redigida por Thomas
Jefferson. A declaração foi consequência do ideal de autogoverno, levado à
américa pelos puritanos e ideais iluministas.
A questão do autogoverno é identificada já no primeiro parágrafo da
Declaração. E mesmo com muitas falhas, a Declaração de Independência
indica o caminho da democracia. É interessante o fato de a declaração falar de
igualdade, liberdade e busca da felicidade, enquanto existia milhares de
escravos mantidos no trabalho sob a chibata. Um fato doloroso da história
americana é o próprio autor da Declaração haver sido um proprietário de
escravos. As mulheres também não tinham voz, sendo subordinadas e sequer
puderam exprimir seus desejos.

1.4.A Constituição Norte Americana


Em 1777 ficou pronto um documento intitulado Artigos de Confederação,
que estabelecia a união dos Estados. O governo federal não teria Poder
Executivo e Corte Suprema. Haveria apenas uma câmara de Representantes e
sua composição era feita sem levar em conta o tamanho ou a composição dos
Estados. O documento também retirava do Congresso o direito de instituir
taxas e impostos, o que tornou impossível manter e pagar as dívidas da
Confederação.
Vários Estados não aderiram ao documento e para resolver o problema a
Assembleia do Estado da Virgínia convocou uma Convenção para se reunir em
Annapolis com o objetivo de emendar os Artigos de Confederação, porém
apenas cinco Estados compareceram, o que fez com que houvesse uma
segunda convocação após um ano, acontecendo dessa vez na Filadélfia.
Depois disso apenas o representante de Nova York, Alexander Hamilton, quem
convocou o Congresso Constitucional.
A constituição elaborada pela Convenção da Filadélfia foi finalizada em
1787, constituída por um perambulo e 7 artigos e foi aprovada pela maioria, e
todos os Estados acabaram por ratifica-la. A Constituição determina a divisão
dos poderes em três: Executivo, Legislativo e Judiciário.
Legislativo: bicameral (câmara dos deputados e o Senado)
Deputados eleitos de 2 em 2 anos, idade mínima de 25 anos e ser
cidadão a sete;
Senadores: deve ter 30 anos e ser cidadão a 9, dois para cada Estado e
são eleitos por 6 anos.
Executivo: Presidente e vice-presidente; mandato de 4 anos
Para concorrer à presidência, deve ter no mínimo 35 anos de idade.
Judiciário: Suprema Corte e tribunais inferiores. Tem como objetivo
fiscalizar a execução das leis e punir culpados por transgressões.

1.5 A Equity E A Common Law Nos Estados Unidos


Embora filiado ao Direito Inglês, o sistema norte-americano possui uma
diferença substancial, a organização política e constitucional exerce grande
influencia sobre o direito, o que não ocorre no Direito Inglês. Os Estados
Unidos têm sua Equity e sua Common Law, mas ambas são subordinadas ao
entendimento federalista encontrado na Constituição.
Entretanto, a Common Law não é totalmente descartada, os Estados
obtiveram a atribuição da competência para declarar este direito por via judicial
ou promulga-lo por via legislativa. Já a Equity, aos poucos se tornou um corpo
especifico de direito positivo, com conteúdo próprio, possuindo matérias como:
patrimônio, cessão de direitos, proteção de direitos e bens de incapazes e etc.

2. A Revolução Francesa
2.1 Introdução
As revoluções na Inglaterra no Século XVII demonstraram ao resto do
mundo um novo caminho. No século seguinte, a ideologia Iluminista era
coroada pelos revolucionários de Estados Unidos e França. A revolução na
França conta com uma identidade única e ofereceu um grande impacto ao
mundo Ocidental. O ocidente mudaria não somente em termos políticos, mas
também no direito. O ideário constitucionalista que impregnou a Revolução foi
levado para todo o Ocidente, a ponto de não mais ser concebível um país sem
uma Constituição.

2.2 Conjuntura Político Econômica Pré-Revolucionária


Às vésperas da Revolução Francesa o país ainda era agrário, mais de
85% da população vivia no campo. O capitalismo crescia, mas a organização
social era como na Idade Média. A sociedade era dividida em três Estados:
Clero: alto clero (bispos e abades) e baixo clero (padres e vigários)
Nobreza:
 Nobreza palaciana: vivia das pensões do Rei e ocupavam os cargos
públicos;
 Nobreza provincial: vivia no campo;
 Nobreza de toga: burgueses que haviam comprado cargos e títulos de
nobreza;
Classes Sociais: 98% da população. Alta Burguesia (banqueiros,
empresários), média burguesia (profissionais liberais, professores, médicos e
etc), pequena burguesia (pequenos lojistas). Sob todos havia um enorme grupo
de artesãos, aprendizes, empregados e a enorme massa rural.
Apenas o terceiro Estado pagava impostos ou contribuições, mas
somente o clero e a nobreza viviam à custa do dinheiro público. Portanto, a
principal reivindicação do terceiro estado era a igualdade civil e política. Porém
a monarquia absolutista repousava-se principalmente sobre a não participação
da maioria nas decisões políticas.
A contabilidade francesa, que fazia que a maioria pagasse pelos
privilégios da minoria, tornou a economia francesa um caos. O déficit no
orçamento era imenso e a dívida externa francesa era o dobro de todo o
dinheiro em circulação na França. Pra piorar, a indústria sofreu uns sérios
reveses com a entrada de produtos ingleses de baixo custo devido a
Revolução Industrial. Uma seca em 1787 diminuiu a produção de alimentos, o
povo passava dificuldade e mesmo assim o Governo Francês apoiou a
independência norte-americana, o que lhe custou quase a metade de sua
dívida externa e soldados voltando da América com estranhas ideias.
O governo então convocou representantes do clero, nobreza e alta
burguesia, chamada de Assembleia dos Notáveis de 1787, com objetivo de
aumentar os impostos territoriais, que foi recusado pelos Nobres. O rei Luis
XVI, nomeou então um novo ministro e convocou a “Assembleia dos Estados
Gerais”. O terceiro Estado perderia todas as votações e se recusou a aceitar o
sistema de votação e seus representantes autoproclamaram-se “Assembleia
Nacional” e receberam adeptos do Iluminismo que também eram
representantes dos outros dois Estados.

2.3 A Assembleia Constituinte E A Declaração Dos Direitos Do


Homem E Do Cidadão
Em 9 de julho de 1789 a Assembleia Nacional se tornou “Assembleia
Constituinte”. A revolução inicia seu caráter popular, e logo acontece a tomada
da Bastilha, agora era impossível inventar uma saída sem contar com o povo
que está nas ruas. Em 26 de agosto é aprovada a Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão, que Luís XVI se recusa a aprovar, fazendo ter uma
maior reação popular, caindo na mão do povo o Palácio de Versalhes, o maior
símbolo da monarquia absoluta francesa.
A Declaração de Direitos foi criada sob a visão de que a sua não-
aplicação seria a causa dos males de uma sociedade. O Iluminismo, somado
às necessidades de igualdade que esta sociedade tinha, deu origem ao
primeiro artigo da Declaração.

2.4 A Declaração Dos Direitos Da Mulher E Da Cidadã


No seio da Revolução Francesa, as mulheres se ergueram e exigiram
direitos, o que foi um marco histórico impressionante. Elas foram às ruas,
lutaram ombro a ombro com os homens revolucionários..., porém, ainda assim
são colocadas em uma posição um tanto estranha na Declaração do dos
Direitos do Homem e do Cidadão.
A França sempre colocou o direito das mulheres em segundo plano,
apenas a partir de 1944 as francesas puderam exercer uma questão básica de
cidadania para um povo que vive uma democracia: votar. Em toda a Europa, a
França foi a penúltima a dar este passo. A justificativa usada para isso era de
que a mulher não podendo tomar parte da esfera pública, pertencia à esfera
privada. Mulheres e crianças eram vistas como incapazes.
As Francesas buscaram igualdade, mas André Amar afirmou em 30 de
outubro de 1793 que as mulheres não deveriam sair da família para se meter
em assuntos do governo.
Em 1791, Olympe de Gouges redigiu a “Declaração dos Direitos da
Mulher e da Cidadã”. Foi um marco na história das ideias de igualdade,
baseada na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão e busca um
caráter includente tanto de homens quanto de mulheres.

2.5 As Constituições Revolucionarias


A França revolucionaria teve mais de uma constituição, cada uma sendo
produto de uma fase da Revolução. Analisando as Constituições, percebe-se
que as leis são redigidas de acordo com a ideologia do grupo que se encontra
no poder. Isto é evidente pois em um curto espaço de tempo, muitos grupos se
alteraram no comando do país. A primeira fase da Revolução foi chamada de
“Monarquia Constitucional”, pois tinha como principal objetivo subordinar o rei à
lei e instituir uma maior igualdade.
Com o inicio da guerra contra revolucionaria de outros países europeus
contra a França, a assembleia não aguentou conter o povo e acabou apoiando
a Convenção Nacional, que eleita por sufrágio masculino, substituiu a
Assembleia. A Convenção condenou o Rei a morte e proclamou a República. A
mesma tentou reinventar a França: um novo calendário, uma nova Constituição
e um tribunal para julgar os contra revolucionários. A guilhotina foi muito usada
e o período ficou conhecido como o do “Terror”.
A Constituição de 1795 é curta e indica apenas a condição de República e
as divisões administrativas na França e nas Colônias. Preocupa-se de fato com
a questão da eleição, assunto ao qual dedica grande parte de seus artigos.

2.6 Era Napoleônica E O Código Civil


A Revolução Francesa acabou com a chegada de Napoleão ao poder.
Napoleão Bonaparte visava restituir uma monarquia tendo como centro a si
mesmo, mas quem o colocou e o manteve no poder fora os Burgueses da alta
burguesia, e os mesmos não queriam que o governo caísse nas mãos de
alguém que não fosse de sua conveniência
Em 1799 a França apresentava problemas enormes e o setor que
representava a burguesia se aliou a Bonaparte, derrubando o diretório e
instaurando o consulado. Uma nova constituição foi feita no final de 1799 e a
França permanecia uma república.
Em geral, Bonaparte foi um bom administrador: reorganizou e centralizou
a administração, criou um grupo de funcionários para a arrecadação de
impostos, fundou o Banco da França, dando exclusividade a este para emissão
de papel-moeda e conseguiu melhorar muito a situação econômica do país.
Mas ele não sabia comandar sem ser general, suas decisões não eram
discutidas.
Em 1804, ele se autonomeou Imperador, e até o ano de 1810 foram
promulgados um Código Civil, um Código de Processo Civil, um Código
Comercial, Um Código de Penal, um Código de Processo Penal e um Código
de Instrução Criminal. A maior parte deles se mantém em vigor até hoje na
França e na Bélgica.
Código é a compilação sistemática de leis, normas e regulamentos. A
obra que Napoleão considerava sendo a mais importante de sua carreira foi o
Código Civil, inspirado no Direito Romano, nas Ordenações Reais e no Direito
Revolucionário. O código representou uma reforma e uma codificação
detalhadas das leis civis francesas. Em 1801 uma comissão de peritos
terminou o esboço do Código Civil e Napoleão, pessoalmente, empenhou-se
para que os especialistas não mudassem o norte que ele dava, porém o
mesmo só foi publicado em 1804. O Código Civil Napoleônico representava a
mistura que Napoleão conseguiu empreender: o liberalismo e o
conservadorismo. As principais conquistas da Revolução - igualdade, liberdade
religiosa e abolição dos resquícios feudais - foram consolidadas dentro do
Código.
Apesar dos avanços, o Código Civil era um código de proteção à
propriedade burguesa, os sindicatos e greves eram proibidos, mas a
associação de empregados era permitida e em caso de disputa judicial por
salários é o testemunho do patrão que é levado em conta.

Referências:
CASTRO, Flávia Lages de. História do Direito – Geral e do Brasil. 5. ed. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2007.

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