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A Revolu-
ção Francesa e a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão
UNIDADE 2
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AFIRMAÇÃO HISTÓRICA DOS
DIREITOS HUMANOS
Na Grécia antiga, desde Sócrates, existia a reflexão sobre a vida dos cidadãos na Polis
(cidade) e também sobre sua sabedoria e virtude. Naquela época, a partir da filosofia e
das contribuições de Platão e Aristóteles, se pensava sobre o convívio do homem em
sociedade (PENTEADO FILHO, 2012).
A tirania acontece quando o governante procura o seu bem particular e deixa de promo-
ver o bem comum. Para Tomás de Aquino, bem comum constitui o eixo central da ética
social, sendo que todo governo que não concretiza a realização do bem comum é um
governo tirânico, podendo ser deposto.
1
(PENTEADO FILHO, 2012, p. 16), ambos consagrados textualmente no artigo 1º, parágra-
fo único, e artigo 14 da Constituição Federal do Brasil de 1988. Vejamos o texto (BRASIL,
1988), que ilustra nossa menção (destaque nosso): 2
TÍTULO I
DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrá-
tico de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
CAPÍTULO IV
DOS DIREITOS POLÍTICOS
Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo
voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei [...].
Destacamos, apenas a título de exortação 1, que alguns autores trazem outros do-
cumentos e eventos para situar a história dos Direitos Humanos. Neste trabalho,
não pretendemos esgotar todas essas fontes, mas apenas nos deter àquelas de
maior expressividade.
Direitos Humanos 2
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A Magna Carta foi assinada em 1215 e constituiu um acordo entre o rei e barões da
Inglaterra, que se destinou à proteção dos direitos individuais, originários da law of the
land (lei da terra). A finalidade principal do documento foi a submissão do rei às suas
regras a fim de evitar arbitrariedades e excessiva cobrança de impostos, além de reco-
nhecer direitos civis como a propriedade privada e o direito de ir e vir.
Nesse contexto histórico, o rei João, conhecido como João Sem-Terra, assinou em 15
de junho de 1215 a Magna Charta perante as autoridades civis e eclesiásticas da épo-
ca, que o haviam pressionado àquele ato, uma vez que, sobre o seu governo, pesava
um clima de profundo descontentamento em razão de derrotas militares e perdas mate-
riais sofridas pelo reino por conta de suas decisões (COMPARATO, 2019).
3
A Magna Charta Libertatum foi um importante instrumento normativo no
processo de constituição dos Direitos Humanos. Ela foi promulgada2 como 2
forma de garantir alguns direitos face aos amplos poderes que detinha o
monarca reinante na Inglaterra3.
Intrigante4 é a alcunha5 dada ao referido monarca de prenome6 João,
complementado com a expressão “Sem-Terra”. É claro que isso não é ao
acaso! O rei João Sem-Terra, filho de Henrique II e Eleonor da Aquitânia,
irmão de Ricardo I (Ricardo Coração de Leão), era o mais novo dos sete
filhos do casal real (FERRAZ, 2019).
O pai, rei Henrique II, havia repartido o reino entre os filhos, exceto para
João, que ainda era uma criança e não recebeu terras como herança. Desse
modo, criou-se o famoso apelido de “João Sem-Terra” ou como é conhecido
na Inglaterra, John Lackland (MALHEIRO, 2016, p. 5).
2. Em termos jurídicos, quando se diz que algum ato normativo foi promulgado, significa dizer que o chefe do
Poder Executivo (Presidente da República) sancionou (aprovou) uma lei para que seja publicada.
3. Um monarca reinante é um rei ou imperador que está no exercício do seu governo.
4. Intrigante é algo que causa curiosidade.
5. Alcunha significa apelido.
6. Prenome é aquele nome que antecede um sobrenome (patronímico familiar). Por exemplo, o prenome de
“Fulano de Tal” é “Fulano”.
Direitos Humanos 4
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A primeira delas foi a Lei do Açúcar, que taxava vários produtos, entre eles o café, o
vinho, o tecido e o próprio açúcar. Em seguida, várias outras leis foram criadas como a
Lei do Selo e a Lei do Chá.
Fonte: 123rf.
5
[...] a primeira Constituição orgânica (ou escrita) do mundo, isto é,
seus preceitos estão contidos em um só código de forma organizada e
sistemática, num só corpo de lei. Antes de seu advento, os Estados eram 2
regidos por leis fundamentais esparsas, cujo conjunto pode ser chamado
de Constituição inorgânica [...]
[...]
O que vimos em comum nesses eventos todos foi o desejo de determinados grupos em
constituir direitos, garantir a proteção de outros e estabelecer limites ao poder dos so-
beranos a fim de minimizar arbitrariedades. Vale considerar que muitos outros eventos
fizeram parte desse processo de evolução histórica dos Direitos Humanos, sendo que
alguns deles estudaremos em outras unidades deste componente curricular.
Direitos Humanos 6
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exercida naquele local. O movimento se deu pela Revolução Francesa, evento histórico
em que se procurava romper com o antigo regime aristocrático e centralizador, personifi-
2 cado na figura do rei.
A ideia do movimento era de instaurar uma nova sociedade, fundamentada nos ideais
iluministas, com uma forma de pensar absolutamente oposta àquela exercida até então
pelo regime absolutista. A Revolução ocorreu de modo sangrento e inúmeros símbolos
do antigo regime foram destruídos, pois representavam contravalores culturais ao que
o movimento pregava (COMPARATO, 2019).
Ocorre que, para grande maioria do povo, composta pelas classes que estavam às
margens dos grandes círculos do reino, não eram assegurados direitos básicos, como
os relativos à personalidade humana e a soberania popular, por exemplo.
Tais situações foram o mote8 para Revolução que pouco a pouco foi espalhando pelo
mundo os seus ideais e influenciando várias nações a partir da tríade9 liberdade, igual-
dade e fraternidade. Comparato (2019, p. 139, grifo nosso) leciona que
A Revolução Francesa desencadeou, em curto espaço de tempo, a supressão
das desigualdades entre indivíduos e grupos sociais, como a humanidade jamais
experimentara até então. Na tríade famosa, foi sem dúvida a igualdade que repre-
sentou o ponto central do movimento revolucionário. A liberdade, para os homens
de 1789, limitava-se praticamente à supressão de todas as peias sociais ligadas
à existência de estamentos ou corporações de ofícios. E a fraternidade, como
virtude cívica, seria o resultado necessário da abolição de todos os privilégios.
7
tituição política, sejam por isso mais respeitados; a fim de que as reivindicações
dos cidadãos, doravante fundadas em princípios simples e incontestáveis, estejam
sempre voltadas para a preservação da Constituição e para a felicidade geral. 2
Em razão disso, a Assembleia Nacional reconhece e declara, na presença e sob
a égide do Ser Supremo, os seguintes direitos do homem e do cidadão [...].
Note-se que o texto do preâmbulo da Declaração deixa marcada a ideia de uma nova so-
ciedade, baseada em direitos naturais, inalienáveis e sagrados do homem, em oposição
ao desprezo a estes mesmos direitos durante o antigo regime monárquico-absolutista.
Direitos Humanos 8
Afirmação Histórica dos Direitos Humanos e os Referenciais da Civilização Ocidental. A Revolu-
ção Francesa e a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão
2 Tabela 01. Resumo das principais informações a respeito dos documentos tratados anteriormente.
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