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Direitos Humanos e Direitos fundamentais – 2º semestre

Professora Catherine

10/3/2023
Frequência – 2 de junho

Capítulo 1

Fundações do direito internacional dos direitos humanos (DIDH)

Secção I. Um conceito antigo


- A ideia dos DH vem de muito longe, desde a altura em que o ser humano passou a tomar
consciência da sua transcendência entre o ser humano e os outros seres vivos

Secção II. A revolução inglesa


1. Magna Carta (1215)
2. Petition of Right (1628)
3. Habeas Corpus Act (1679)
4. Bill of Rights (1689)

1. Magna carta – tem raízes bastante antigas, rei cobrava impostos cada vez mais altos
porque a Inglaterra possuía terras e os barões forneciam homens para a defesa dos
territórios, e o rei precisava de dinheiro para o fazer, ele consultava sempre os barões
quando os impostos subiam, e enquanto o rei foi militarmente sucedido no que tocava as
terras, o problemas foi quando o rei perde as lutas militares e começa a perder as terras,
as tensões sobem e em 1204 as terras são perdidas no Norte da França e são impostos
novos impostos sem consulta dos barões, toma a decisão unilateralmente o que era uma
violação dos costumes feudais, os barões revoltam-se com os fracassos do rei e tomam a
cidade de londre com a ajuda do clero e forçam o rei a assinar a Magna carta, o
instrumento solene foi assinado entre os Barões e o rei João sem terra que vai determinar
que em troca dos barões revigorarem a seu juramento de fidelidade ao rei, mas em troca
disto os poderes do rei são limitados e tem de respeitar as leis e os costumes do reino.
Esta carta não tinha a importância mítica que agora tem e foi simplesmente no início uma
forma para os senhores feudais fazem valer os seus direitos, imporem que o rei governa-
se respeitando os costumes, o que marcou nessa época foi q eu houve pela primeira vez
que o rei não se encontra por cima da lei, há costumes a respeitar e esta Magna Carta
tronou-se um símbolo de liberdade do povo sendo a primeira conquista do Parlamento
contra o Absolutismo real. premissas da separação dos poderes e também uma proteção
dos direitos humanos (liberdade da igreja, liberdade das cidades, liberdade dos cidadãos
e serem protegidos de impostos excessivos)
2. Petition of Right – Inglaterra, este instrumento reforça a Magna Carta, não surge por
vontade do rei, surge em resultado de lutas. Foi adotada depois de protestos contra criação
de impostos sem o consentimento do Parlamento e contra a prisão arbitrária, neste
documento temos estes dois princípios

3. Habeas corpus act – ato legislativo, foi uma lei adotada pelo parlamento, sancionada por
Carlos II, que buscava reforças o antigo e já existente habeas corpus, lei visa garantir a
liberdade individual contra a prisão ilegal, abusiva ou arbitrária (sem julgamento), esta
lei garante o direito de ser apresentada a um juiz para que seja julgada.

4. Bill of Rights – ponto de partida do regime parlamentar democrático e é o resultado de 2


revoluções – 1 em 1648 e a outra em 1688 – durante as quais o senado foi basicamente o
mesmo, o parlamento revela-se contra a vontade absolutista, a primeira guerra foi
marcada por uma guerra civil – os partidários do rei (Carlos I) e os partidários do
Parlamento - condenação á morte do rei por traição. Segunda revolução, gloriosa
revolução , não houve mortos, deu-se entre 1688-1689, tínhamos uma Inglaterra com o
Protestantismo enquanto religião oficial, mas tiveram um rei católico Jaime II, que
começa a adotar politicas a favor da sua religião e em detrimento da religião protestante
e este rei e percebido enquanto ameaça á religião e aos protestantes e para combater essa
ameaça foi organizada uma invasão por Guilherme II que vinha dos Países-Baixos e
depois dessa revolução a filha de Jaime II, para poder aceder ao trono e o seu marido
Guilherme II tiveram de aceitar o Bill of Rights, o parlamento apoia a rainha para voltar
a ter um rei protestante que teria um poder mais flexível. O Bill of Rights tinha 15 artigos,
previa o voto anual sobre o imposto do Parlamento, este reconhece uma serie de direitos
humanos (civis e políticos) e ainda tornaram impossível o retorno de uma católico ao
reino.

Secção III. As revoluções americana e francesa e os direitos Cíveis e Políticos (de


1ª geração)
1. Revolução americana
o Declaração da independência dos Estados unidos de 1776
Direito da revolução – luta contra a tirania
Reconhecimento de direitos individuais
o Constituição dos EUA de 1787
7 artigos

o Bill of Rights 1789


Proteção dos direitos - através de emendas à constituição, as 10 primeiras
foram adotadas em conjunto formam o Bill of Rights , entrou em vigor em 179,
emenda 1 – liberdade de expressão, emenda 2 – direito á posse de armas. Tem hoje
27 emendas

2. Revolução Francesa e Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789)


Em franca na idade media temos um sistema feudal que passa depois para um monarquia
absoluta que era pouco sensível as desenvolvimentos internacionais e face aso movimentos
socias da época, a monarquia francesa rejeita as proposta de ser um Estado, que desencadeia
uma revolução que resulta na tomada da Bastilha que decide que não há mais privilégios
feudais, DDHC vem como para o aperfeiçoamento do Estado democrático, realça o carater
natural dos direitos fundamentais (liberdade, propriedade, segurança e resistência à
opressão).

- nestas duas revoluções só se previam direitos cívicos (integridade física e moral, direito á
liberdade – consciência, religião, reunião) e políticos (direito ao voto e de ser eleito, equidade
pessoal – direitos do arguido)

Secção IV. A Revolução industrial do século 19 e a imergência dos direitos


Económicos Sociais Culturais (2ª geração)
• Movimentos feministas
- sufragistas

• Movimentos abolicionistas
- apelavam á abolição da escravidão

• Movimentos nacionalistas
- sec.19 e 20 invocaram os princípios das declarações para a autodeterminação e a independência
para os países colonizados

• Movimentos socialistas
- nasceram no contexto da revolução industrial no sec.19, grande transformação económica social
e política, maquina de fiar, a vapor mudando a economia e a produção que era domiciliária passa
a ser feita em fabricas e grandes empresas, e os donos foram se tornando cada vez mais ricos ao
custo da massas trabalhadoras, começam aqui as teorias relativamente a precariedade das
condições de trabalho, no sentido da proteção do trabalhador, como Karl Max. O estado liberal
reconhece os direitos sociais e políticos, são agora reconhecidos direitos ESC, direitos que são
aqui acolhidos nas constituições: direitos económicos (remuneração justa, condições dignas de
trabalho, descanso semanal, ferias, direito á saúde, educação)

Secção V. A primeira Guerra Mundial e a Sociedade das Nações


O pacto da SDN não continha um mandato explicito de DH e a linguagem do seu preambulo
correspondia ao paradigma tradicional da soberania dos Estados
Todavia, a SDN estabeleceu um sistema de proteção das minorias
- principalmente na europa oriental (Turquia e Iraque) e este foi visto como parte integrante da
manutenção da paz, garante os direitos das minorias e estas poderem usar o direito a educação, o
direito a sua língua, era, no entanto, muito incompleto. As medidas tomadas depois da 1 G.M.
foram completamente insuficientes
1. A Carta das Nações Unidas (1945)
- dá prioridade ao conselho de segurança e tudo o que ajudava a prevenir a segunda guerra,
quase não menciona os direitos humanos, foi mesmo assim um marco importante para estes,
marcando esta uma internacionalização definitiva dos direitos humanos, deixando de se tratar
de assuntos internos e domínio exclusivo.
2. A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948)
- instrumento que permitiu a internacionalização dos DH, adotado pela Assembleia geral da
ONU e constitui a base do sistema do DIDH, só que inicialmente os estados não
concordavam sobre o procedimento a seguir, eram 50 estados e para proteger os direitos
fazem uma declaração (que não tem valor vinculativo). 30 artigos que prometem defender
dois pontos : a universalidade (igualdade para todos) e a indivisibilidade (não há hierarquia
entre os direitos)
3. Os Pactos: PIDCP & PIDESC (1966)
- instrumento obrigatório
Pacto internacional sobre direitos cíveis e políticos – direito a vida, proibição da tortura , tem
imensas ratificações (173 ratificações)
Pacto internacional sobre direitos económicos, sociais e políticos – autodeterminação,
trabalho, saúde, vida cultural (171 ratificações)
Ambos tem um comité que tem o papel de fiscalizar se os Estados estão a cumprir as
obrigações destes pactos

4. Direitos Humanos de 3ª e 4ª geração


- direitos de lege ferenda
1ª geração – sec. 18
2º geração – sec.19
Motivos de evolução: evolução do conceito da dignidade da pessoa humana, novas ameaças
aos direitos humanos
Novas reivindicações dão origem as novas gerações – 3ª e 4ª
- final do sec.20 (1970) – começa-se a falar de direitos de solidariedade, coletivos (desastres
naturais, pobreza – sobretudo países em desenvolvimento)
Direitos de 3ª geração – direito ao desenvolvimento, á paz, ao meio ambiente saudável,
participação da exploração do património comum da humanidade, assistência humanitária.
Direitos intra e inter geracionais – ideia de deixar um mundo com um meio ambiente saudável
para as próximas gerações
Direitos de 4ª geração: vista de forma não pacifica a possível nova geração - devido a novos
desafios ligados a 2 pontos: direitos ligados a bioética e biotecnologia
Carta internacional de direitos humanos - a Declaração Universal dos Direitos Humanos +
os Pactos : PIDCP & PIDESC !!!!! – importante

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24/3/2023

Secção I. Especificidades dos tratados dos DH


1. Irrelevância do princípio da reciprocidade
- Os tratados dos DH são tipicamente tratados-leis (difere dos tratados-contratos)
- Assim sendo, eles não são submetidos ao princípio da reciprocidade

Artigo 60 CVDT – extinção ou suspensão da execução de um tratado em consequência de


sua violação
1. Uma violação substancial de um tratado bilateral por uma das partes autoriza a outra
parte a invocar a violação como causa de extinção ou suspensão da execução do
contrato, no todo ou em parte. (…)
5. Os parágrafos 1 a 3 não se aplicam as disposições sobre a proteção da pessoa humana
contidas em tratados de caracter humanitário, especialmente às disposições que proíbem
qualquer forma de represália contra pessoas protegidas por tais tratados

2. Ultrapassagem do princípio da não ingerência nos assuntos internos


Artigo 2, nº7 CNU
“Nenhuma disposição da presente Carta autorizará as Nações Unidas a intervirem em assuntos
que dependam essencialmente da jurisdição de qualquer estado ou obrigará os Membros a
submeterem tais assuntos a uma solução, nos termos da presente Carta.”

O caracter objetivo dos DH implica uma responsabilidade coletiva dos estados. Deste modo,
não se deve permitir a invocação do princípio da não ingerência nos assuntos internos, principio
fundamental do DI clássico.
A ultrapassagem do princípio da não ingerência nos assuntos internos também se
caracteriza:
- Pelas obrigações erga omnes criadas pelos tratados dos DH (TIJ, acórdão Barcelona
Traction, 1970)

• Ação dos países baixos com vista a processar a Síria por tortura (setembro de 2020)
• TIJ, Aplicação da Convenção sobre a Prevenção e Punição do crime do Genocídio
(Gâmbia c. Myanmar) 2019
- Pela natureza de algumas normas consideradas como imperativas ou de jus cogens
Artigo 30 da convenção contra a tortura – ir ver!
53º e 64º - norma jus cogens – CVDT
- proibição do trafico de escravos
- proibição do genocídio
- proibição da tortura

Secção II. Âmbito de validade dos tratados dos DH

1. Âmbito de validade material (ratione materiae)


A. Entrada em vigor
Artigo 24 CVDT – entrada em vigor
1. Um tratado entra em vigor na forma e na data previstas no tratado ou acordadas pelos
Estados negociadores.
2. Na ausência de tal disposição ou acordo, um tratado entra em vigor tao logo o
consentimento em obrigar-se pelo tratado seja manifestado por todos os Estados
negociadores.
Artigo 18 CVDT – Obrigação de não frustrar o objeto e finalidade de um tratado antes de sua
entrada em vigor
- um estado é obrigado a abster-se da pratica de atos que frustrariam o objeto e finalidade de um
tratado, quando (…) tiver assinado ou trocado instrumentos constitutivos do tratado, sob reserva
de ratificação, aceitação ou aprovação, enquanto não tiver manifestado sua intenção de não se
tornar parte do tratado

- para ficar desvinculado do tratado, mesmo depois de assinar, se o estado enviar uma declaração
oficial que revele a não intenção de alguma vez ratificar o tratado, fica desvinculado e pode agir
contra este.

B. Reservas

Artigo 2 CVDT – expressões empregadas


1. d) «Reserva» designa uma declaração unilateral, qualquer que seja o seu conteúdo ou a
sua denominação, feita por um Estado quando assina, ratifica, aceita ou aprova um
tratado ou a ele adere, pela qual visa excluir ou modificar o efeito jurídico de certas
disposições do tratado na sua aplicação a esse Estado;
- Dilema entre o respeito da soberania e a busca de metas coletivas
Artigo 19 CVDT- formulação de reservas
Um Estado pode, no momento da assinatura, da ratificação, da aceitação, da aprovação ou da
adesão a um tratado, formular uma reserva, a menos que:
a) A reserva seja proibida pelo tratado;
b) O tratado apenas autorize determinadas reservas, entre as quais não figure a reserva em
causa; ou
c) Nos casos não previstos nas alíneas a) e b), a reserva seja incompatível com o objeto e o fim
do tratado.
- Guia da comissão de DI sobre a prática de reservas aos tratados (2011)
2. âmbito da validade temporal (ratione temporae)
A. Denúncia
Artigo 56 CVDT - Denúncia ou retirada no caso de um tratado não conter disposições relativas
à cessação da vigência, à denúncia ou à retirada
1 - Um tratado que não contenha disposições relativas à cessação da sua vigência e não preveja
que as Partes possam denunciá-lo ou dele retirar-se não pode ser objeto de denúncia ou de
retirada, salvo:
a) Se estiver estabelecido que as Partes admitiram a possibilidade de denúncia ou de retirada;
ou
b) Se o direito de denúncia ou de retirada puder ser deduzido da natureza do tratado.
2 - Uma Parte deve notificar, pelo menos com 12 meses de antecedência, a sua intenção de
proceder à denúncia ou à retirada de um tratado, nos termos previstos no n.º 1.

Princípio da irreversibilidade
B: Suspensão
Artigo 15. Derrogação em caso de estado de necessidade – convenção EDH (1950)
4 direitos absolutos: direito à vida, proibição da tortura, proibição da escravatura e do trabalho
forçado, princípio da legalidade.

Artigo 4 – PIDCP (1966)


7 direitos absolutos: direito á vida, proibição da tortura, penas ou tratamento cruéis, desumanos
ou degradantes, proibição da escravidão, do trafico de escravos e dos trabalhos forçados,
proibição da prisão por dividas, principio nulla poena sine lege, direito ao reconhecimento da
sua personalidade jurídica, direito á liberdade de pensamento, de consciência e de religião.

Artigo 27. Suspensão de garantias - Convenção ADH (1969)


11 direitos absolutos: direito ao reconhecimento da personalidade jurídica, direito à vida; direito
à integridade pessoal, proibição da escravidão e servidão, principio da legalidade e da
retroatividade, liberdade de consciência e de religião, proteção da família, direito ao nome,
direitos da criança, direito à nacionalidade, direitos políticos.

3: âmbito de validade territorial (ratione loci)


A: conceito de “jurisdição”
São submetidos à jurisdição do Estado:
- Todas as pessoas que se encontram no seu território
- Todas as pessoas que estão de outro modo sujeitas à sua autoridade soberana.

B: aplicabilidade extraterritorial
A jurisdição de um EP pode estender-se a atos do Estados que tenham efeitos fora do seu
território:
- em razão do controlo efetivamente exercido sobre a pessoa em causa (ratioe personae);
- em razão do controlo efetivamente exercido sobre o território estrangeiro em questão
(ratione loci)

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25/3/2023
A. Categoria dos direitos humanos, direitos civis e políticos
Direitos civis= garantia da integridade física e mental + direitos individuais
Direitos políticos= equidade processual (direito a um julgamento justo, justa reparação,
processo justo) + direitos de participação na sociedade civil e política.

Contexto:
Os direitos CP emergiram das conceções dos direitos fundamentais que protegem a vida,
integridade, a liberdade e a opinião de uma pessoa face a um estado que pode ser destruidor da
liberdade.

Proteção dos direitos civis e políticos:


A aplicação dos direitos implica a abstenção de um estado perante os titulares, mas também a
certas estruturas que são criadas para proteger os principais direitos CP. Para a proteção é
preciso um estado de direito, boa administração da justiça, estruturas democrática.
Nem sempre a existência de um estado de direito garante a proteção destes direitos, pois o
mesmo estado pode por si causar descriminações dentro da sua população.
Direito à vida

Traços distintivos
É uma condição sine qua non dos demais direitos, quer dizer que é uma condição para que os
outros direitos existam.
A violacão do direito à vida é irreversível e irreparável.
- Há evidente desconforto doutrinário na sua delimitação
Duas dimensões:
- A dimensão vertical envolve a proteção da vida nas diferentes fases do desenvolvimento
humano.
- A dimensão horizontal engloba a qualidade da vida gozada.

O DIDH acompanha a pluralidade desta abordagem mas não define o que é a vida o que obriga
o recurso a outros instrumentos para a definição do conceito de vida
Prática
A vida pode estar em risco através do uso da força pelo estado e da sua incapacidade de fornecer
uma proteção adequada contra as ameaças à vida

• Uso da força letal.


Membros de grupos marginalizados ou de movimentos da oposição.

A justiça extrajudicial acontece a nível interno, por exemplo quando as forças militares violam o
direito à vida em relação à população do estudo, desaparecimentos forçados.

B: evolução e fontes

4 fases
1ª fase: regulação da legitimidade das condutas que ocasionavam a perda de vida
2ª fase: fixação de obrigações ao Estado de zelo à vida das pessoas submetidas à sua jurisdição
3ª fase: fixação da obrigação do Estado de zelar pela observância do direito à vida nas relações
privadas (obrigação de due diligence)
4ª fase: mínimo existencial necessário a uma vida digna

Consagração
- a nível interno
Artigo 24º da CRP

- a nível internacional
Artigo 6º do PIDCP (1966) Artigo 2º da Convenção EDH (1950)
Artigo 4º da Convenção ADH (1969) Artigo 4º da Carta ADHP (1981)

C: A proibição da privação arbitrária da vida

O termo “arbitrariamente” possibilita a existência de justificativas legais para o término da vida


É apenas o direito a não ser privado arbitrariamente da vida (tal como determinado por lei) que é
absoluto
+ Tribunal EDH, McCann e Outros c. Reino Unido (1995)
+ Tribunal IDH, Neira Alegría e Outros c. Peru (1996)

Crimes internacionais
 Genocídio – eliminação física, intencional, total ou parcial de um grupo (nacional,
étnico, religioso, e muitas das vezes é uma prática que pretende eliminar minorias
 Crimes contra a humanidade – crimes cometidos como parte de um ataque
generalizado ou sistemático contra a população civil (limpeza étnica, experimentações
humanas, sequestros, violações, tortura em massa)
 Crimes de guerra - cometidos durante um contexto de guerra, graves violações das
regras de guerra, deportação de crianças, massacre de população civil, utilização de
armas proibidas

Direito a não ser privada arbitrariamente a vida é absoluto, mas não o direito a vida em si, prova
disso são os tratados que autorizam o uso da força letal, desde que seja autorizada pela lei.
Mesmo nos casos mais difíceis, o Estado não deve aceitar uma política de “tudo vale” nem pensar
que os fins justificam os meios, o que significa que o uso da força deve ser regulado pela lei e
apenas em casos necessário, e usar a força de forma proporcional.

D: obrigações negativas e positivas do Estado


Obrigações negativas – cabe ao estado não violar de forma arbitrária a vida dos indivíduos que
estão sob a sua jurisdição
Obrigações positivas – proteção e satisfação do direito a uma vida digna dos indivíduos
E: a pena de morte em DI
A Convenção EDH (art.2), a Convenção ADH (art.4) e o PIDCP (art.6) reconhecem
explicitamente a pena de morte como uma execução ao direito á vida

- Segundo Protocolo Facultativo ao PIDCP de 1989 visando à abolição da pena de morte


- Protocolo Adicional à Convenção ADH referente à abolição da pena de morte (1990)
- Protocolos nº6 (1983) e nº 13 (2002) à Convenção EDH relativos à abolição da pena de morte.
- No continente africano, a Comissão ADHP apelou a uma moratória

2. Direito a ser protegido da tortura e outros maus-tratos


A. Prática
A prática da tortura persiste em muitos países
- Países autoritários e ditatoriais
- Países democráticos
- EUA, rendição extraordinária (extraordinary rendition)

B. Fontes
Tratados detalhados: a nível internacional, a convenção contra a tortura e outros tratamentos ou
penas cruéis, desumanos ou degradantes – CAT (1984), a nível regional, a Convenção IA para
prevenir e punir a tortura (1985)

Tratados específicos focados na prevenção: Convenção Europeia para a prevenção da tortura e


tratamentos e penas desumanos ou degradantes (conselho da Europa, 1987) e o Protocolo
Facultativo à CAT (2002)

C. A proibição absoluta da tortura


A proibição da tortura é absoluta, não derrogável, tendo atingido o estatuto de norma
imperativa (jus cogens)
Há demandas periódicas para permitir exceções. No entanto, a tortura não é aceitável

D. A definição da tortura e outras formas de maus-tratos


Artigo 1º da Convenção contra a tortura (CAT, 1984)
“Para os fins da presente Convenção, o termo «tortura» significa qualquer ato por meio do qual
uma dor ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são intencionalmente causados a uma pessoa
com os fins de, nomeadamente, obter dela ou de uma terceira pessoa informações ou confissões,
a punir por um ato que ela ou uma terceira pessoa cometeu ou se suspeita que tenha cometido,
intimidar ou pressionar essa ou uma terceira pessoa, ou por qualquer outro motivo baseado
numa forma de discriminação, desde que essa dor ou esses sofrimentos sejam infligidos por um
agente público ou qualquer outra pessoa agindo a título oficial, a sua instigação ou com o seu
consentimento expresso ou tácito.”

Tortura é particularmente grave, a reparação deve ser prevista na lei e um dever de estabelecer o
julgamento ou extraditar de uma pessoa suspeita de atos de tortura
Violência mental ou física, objetivamente grave (duração dos atos, condição da pessoa), dor
(física e mental)
- dor física e mental grave
- feita intencionalmente
- finalidade – meio para um fim – obtenção de informações, confissões
- envolvimento oficial – funcionário publico ou em atuação de funções publicas
Artigo 3º da convenção europeia

E. Obrigações
Os estados têm:
 A obrigação negativa de se abster de se envolver em qualquer ato de tortura ou outros
maus-tratos;
 Uma obrigação positiva de prevenir, investigar, processar, punir e corrigir tais atos.

Princípio da não-repulsão (principle of non-refoulement)

Secção II. Os direitos económicos, sociais, culturais


Direitos protegidos ao abrigo do PIDESC
Várias diferenças são citadas para perceber a natureza jurídica distinta dos direitos ESC e
dos direitos CP:
- aplicação imediata dos direitos CP
- obrigações essencialmente negativas e justiciáveis no caso no caso dos direitos CP
=> A insuficiência de recursos é um impedimento significativo para o cumprimento dos
direitos ESC

Em realidade, os direitos ESC não são; de forma nenhuma, o parente pobre dos direitos CP:
- muitos dos direitos CP não têm sentido sem os direitos ESC
- os direitos ESC não são obrigações vagas, mas são suscetíveis de uma mensuração qualitativa
e quantitativa

O direito à vida e dependente de outros direitos – alimentos, água, habitação decente, cuidados
de saúde

1. Contexto histórico dos direitos ESC


No momento da redação do PIDESC de 1966, os países estavam divididos em 2 campos
políticos:
Bloco socialista: a oferta de um sistema de providencia social completo e gratuito, abrangendo
todos os direitos ESC, era uma extensão natural da sua ideologia politica.
Estados liberais: condicionavam os direitos ESC às forças da economia do mercado livre.
 solução de compromissos: 2 pactos distintos

As diferenças jurídicas aparentes entre os direitos CP e ESC foram, em última analise,


refletidas no seu respetivo monitoramento nos 2 Pactos:
+ Comité DH => PIDCP (1966)
+ Comité DESC => PIDESC (1966) : relatórios estatais
- protocolo facultativo – PIDESC (2008)
- comunicações individuais
- comunicações interestatais
- procedimento de investigação

64º - de saúde, 63º - educação, 66º acesso a universidade – (CRP?)

2. Natureza e realização progressiva das obrigações estatais

principais direitos ESC


direitos dos trabalhadores direito á segurança social e à proteçao social
proteçao e assistência à família direito a condições de vida adequadas
direito á saúde

Consagração
- CNU (1945) no artigo 55, alíneas a) e b)
- DUDH (1948) nos artigos 22-27
- PIDESC (1966)
- Carta Social Europeia (1961)
- Protocolo Adicional à Convenção Americana DH sobre Direitos Económicos, Sociais e
Culturais, “Protocolo de São Salvador”

Natureza das obrigações


Artigo 2º, nº1, do PIDESC: “1. Cada um dos Estados-Signatários no presente Pacto
compromete-se a adotar medidas, seja isoladamente, seja através da assistência e cooperação
internacionais, especialmente económicas e técnicas, até ao máximo dos recursos de que
disponha, por todos os meios adequados, inclusive e em particular a adoção de medidas
legislativas, para atingir progressivamente a plena efetividade dos direitos aqui reconhecidos.”
Linguagem que contrasta com as obrigações contidas no artigo 2º, nº1, do PIDCP

Hoje, não há dúvidas de que os direitos ESC são vinculativos para os EP: obrigação de
respeitar, proteger e cumprir.
- disponibilidade, qualidade, acessibilidade

Realização progressiva
Origem do conceito: a maioria, se não todos os Estados são incapazes de fornecer toda a gama de
direitos ESC, pelo menos com efeito imediato.
Os estados não estão dispostos a assumir obrigações onerosas associadas aos direitos ESC, sem
que essas sejam acompanhadas da salvaguarda de que a sua realização é progressiva
- Tribunal constitucional da Colômbia: Bermudez Urrego c. Transmilenio (2002)
- Supremo Tribunal da África do Sul: Madzodzo e outros c. Ministro da educação básica (2014)

O comité DESC comentou (CG 3; 1990) que: “ não obstante estar previsto que o pleno exercício
dos direitos relevantes poderá ser obtido progressivamente, as medidas que visam esse objetivo
devem ser tomadas em um período razoavelmente curto apos a entrada em vigor do Pacto”.
O facto de os Estados terem a obrigação de implementar esses direitos ESC decorre da sua
indivisibilidade dos direitos CP.
O Tribunal IDH forneceu uma ampla interpretação dos direitos CP, de modo a incluir poe
extensão os direitos ESC.
- Tribunal IDH, Caso das crianças da rua c. Guatemala (1999)

3. Obrigação de utilizar os recursos máximos disponíveis


A avaliação dos recursos disponíveis de um pais e a sua máxima utilização para a implementação
de um determinado direto podem ser medidos por referencia a critérios objetivos.

É crucial definir e verificar os recursos disponíveis de um Estado:


- PIB, assistência ao desenvolvimento, endividamento, défice, espaço monetário criaod pelos
bancos centrais
- Adequação, prioridade, equidade do orçamento

- Em muitos casos, os Estados falham na sua tarefa de utilizar os recursos máximo disponíveis:
- capacidade administrativa limitada, burocracia excessiva, corrupção, incapacidade de
cobrar impostos …

- Debate sobre se a determinação da disponibilidade de recursos e a sua utilização adequada


(decididas pelos poderes executivo e legislativo) devem ser questões judiciáveis (fiscalizadas pelo
poder judiciário)

4. Obrigações essências mínimas


No seu comentário geral nº3 (1990) o comité DESC apontou os requisitos mínimos para a
implementação dos direitos ESC, independentemente da situação financeira de um pais.
- obrigações essências mínimas: no mínimo, os Estados tem a obrigação de garantir a
satisfação dos níveis essenciais básicos de cada direito ESC

Padrões diferenciados entre países desenvolvidos e em desenvolvimento?


- Indicie de desenvolvimento humano (IDH): desenvolvimento humano e o bem-estar
devem ser medidos com base
- na longevidade
- no conhecimento e nível de educação
- no padrão de vida decente (poder de paridade de compra)

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29/04/2023

Sistema interamericano da proteçao dos direitos humanos


1. O sistema derivado da Carta da OEA
A) Organização dos estados americanos
A 30 de abril de 1948, na Conferencia de Bogotá (Colômbia), 21 estados das américas assinaram
a Carta da OEA => 35 estados
5 áreas de ação :
1. Promover a democracia
2. Promover os DH
3. Consolidar a paz e a segurança regionais
4. Fazer respeitar o estado de direito
5. Desenvolver a economia regional

2. Órgãos
1. Assembleia geral ( autoridade suprema da OEA)
2. Conselho permanente

B) Declaração americana dos direitos e deveres do Homem de 1948


A declaração ADDH foi votada a 2 de maio de 1948, durante a conferencia de Bogota que deu
origem á OEA

Inicialmente, não era vinculativa, mas era “declaração de princípios”


Capitulo I (art.1-28): direitos civis, políticos, económicos, sociais e culturais
Capitulo II (art.29-38): deveres para com o Estado, a sociedade e a família
- hoje reconhecida como parte do direito positivo

C) Comissão IADH
1959 – criação da comissão IADH
1960 – adoção do estatuto
1961 – primeiras visitas
1965 – alteração do estatuto para autorizar a Comissão a
Receber e examinar comnicaçoes individuais
Fazer recomendações aos EM
1967 – revisão da Carta da OEA => consagração oficial da Comissao IADH como um órgão
principal da OEA.
A comissão é responsável por assegurar a promoção e a proteçao dos DH até a entrada em
vigor da Convenção ADH

2.sistema derivado da Convenção ADH de 1969


- a convenção ADH, que prevê a criação de um Tribunal IADH, foi adotada em 1969, mas só
entrou em vigor em 1978, ano em que surgiu a dualidade normativa e institucional
A. Normas da Convenção ADH
Preâmbulo: filiação com os princípios consagrados na Carta da OEA, na Declaração ADDH e na
DUDH.
Primeiro capítulo: obrigação dos EP de respeitarem os direitos reconhecidos na Convenção e de
tomarem as medidas necessárias para lhes dar efeito em direito interno.

Segundo capítulo: direitos civis e políticos.


Art. 25: recurso do amparo
Art. 7 §6: recurso do habeas corpus
Terceiro capítulo: direitos económicos, sociais e culturais (art. 26).
Quarto capítulo: suspensão das garantias (art. 27).

a) Comissão IADH
Sede em Washington DC (EUA). Tira a sua autoridade da Carta da OEA de 1948 e da Convenção
de 1969. Destina-se a representar todos os EM da OEA.
Composto por 7 membros: pessoas de alta autoridade moral e de reconhecido saber em matéria
de DH. Eleitos a titulo pessoal, com um mandato de 4 anos

Funções : artigo 41º convenção IADH


a) Estimular a consciência dos DH nos povos da América
b) Formular recomendações aos governos dos EM
c) Preparar os estudos ou relatórios que considerar os convenientes
d) Solicitar aos governos dos EM que lhes proporcionem informações sobre as medidas que
adotarem em matéria de DH
e) Atender às consultas que lhe formularem os EM sobre questões relacionadas com os DH
f) Atuar com respeito às petições
g) Apresentar um relatório anual à AG da OEA

Competências : competência obrigatória em matéria de comunicações individuais e competência


facultativa em matéria de comunicações interestatais.
- artigo 44º “Qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade não-governamental
legalmente reconhecida em um ou mais EM da Organização, pode apresentar à Comissão
petições que contenham denuncias ou queixas de violação desta Convenção por um EP”

A Comissão IADH decide sobre a sua admissibilidade das petições


Admissibilidade da petição:
- nome, nacionalidade, profissão ou ocupação, endereço postal e assinatura do peticionário
Todos os elementos de prova que apoiem o caso devem ser o mais especifico possível
- a petição deve especificar os direitos violados
Condições processuais:
- a regra do esgotamento prévio dos recursos internos
- prazo de 6 meses (ou prazo razoável)
- o objeto da denuncia não deve estar pendente no âmbito de outro processo internacional

Queixas individuais
- petição inadmissível => a comissão informa o peticionário e encerra o caso
- petição admissível => a comissão abre um processo, informa o peticionário e apresenta todas as
informações pertinentes ao MNE do Governo em causa
- se não for alcançado um acordo amigável, a Comissão elabora um relatório, que é encaminhado
ao Estado em causa.
- num prazo de 3 meses apos a entrega do relatório da Comissão aos Estados em causa :

• quer o estado em causa concorda com as recomendações da Comissão


• quer para os EP à convenção ADH e tendo aceitado a competência do tribunal IADH, o
caso pode ser submetido ao Tribunal pela Comissão ou pelo Estado
• quer pelos estados que não são partes à Convenção ADH ou que não aceitaram a
competência do Tribunal IADH, a comissão apresentará novas recomendações

Queixas interestatais
- a comissão so pode receber comunicações interestatais se todos os estados em causa
reconhecerem a sua competência (10 estados dos 23 EP da Convenção)

Mandato de promoção dos DH


1. organiza e realiza conferencias, seminários
2. elabora e publica estudos e relatórios sobre a situação existente num EM especifico ou
sobre temas específicos
3. faz recomendações aos EM da OEA sobre a adoção de medidas progressivas em prol dos
DH
4. solicita aos EM que lhe forneçam relatórios sobre as medidas que adotam relativamente
aos DH
5. responde aos pedidos dos EM relativamente às questões dos DH e presta aos Estados os
serviços consultivos que solicitam
6. Apresenta um relatório anual à AG da OEA

Mandato de proteçao dos DH


1. Realiza visitas in loco nos países a fim de realizar análises aprofundadas da situação geral
e/ou investigar uma situação especifica
2. Recebe e analisa petições individuais
3. Recomenda que os EM adotem medidas cautelares
4. Submete os processos ao Tribunal IADH
5. Pede pareceres consultivos ao Tribunal IADH
6. Recebe e examina as comunicações interestatais

b) Tribunal IADH
Instituição judiciaria autónoma, cuja função é interpretar e aplicar a Convenção ADH. Criado em
1978, começou a funcionar em 1979.
Composto por 7 juízes, nacionais dos EM da Organização, eleitos a titulo pessoal dentre juristas
da mais alta autoridade moral

Todos EM da OEA não podem submeter casos, apenas aqueles que não só ratificam a Convenção
ADH (23), mas que também aceitaram a sua competência (20)

Competencia consultiva
- o tribunal interpreta de forma ampla a noção de “outros tratados”
- o tribunal considera que:

• não deve distinguir entre os tratados regionais e universidades


• não só os diferentes sistemas de proteçao dos DH (regionais e universal) formam um
todo, como os diferentes ramos do DI distinguiram artificialmente entre o DIH, o DI penal
e o DIDH

os EM da OEA podem consultar o Tribunal IADH sobre a compatibilidade de qualquer uma das
suas leis nacionais

competência contenciosa
Os casos podem ser submetidos ao Tribunal, quer pela Comissão IADH, quer por um EP que
tenha aceitado a competência do Tribunal.

Os indivíduos não estão, portanto, autorizados a recorrer diretamente ao Tribunal.


Tendo em conta a existência de violações massivas e graves, o Tribunal IADH não hesita em
utilizar as qualificações de terrorismo de Estados ou de crimes contra a humanidade ou de
responsabilidade agravada.
As reparações definidas pelo Tribunal podem ser monetárias e não monetárias.

Secção II. Sistema africano de proteção dos DH


§1. OUA/União africana
1963: criação da Organização da Unidade Africana (OUA) em Addis Abeba (Etiópia), através da
assinatura do seu Tratado constitutivo por 32 países africanos.
O seu Tratado constitutivo enfatiza sobretudo os objetivos da descolonização, soberania estatal e
desenvolvimento.

Sucessos: descolonização do continente africano, luta contra o apartheid


Insucessos: conflitos armados, desenvolvimento económico e social
2002: criação da União Africana (UA) => 55 EM.
A UA visa promover a unidade, solidariedade e integração entre os países do continente africano,
bem como os DH e dos povos.
Exceção ao princípio da não-ingerência: direito da UA de intervir num EM em determinadas
circunstâncias graves (crimes de guerra, genocídio e crimes contra humanidade) (art. 4 (h) Ato
constitutivo da UA).
§2. Carta ADHP
1981: adoção da Carta ADHP (Carta de Banjul) => 55 EP.
Esta Carta Africana DHP estabeleceu originalmente apenas um órgão de proteção: a Comissão
ADHP..
A Carta ADHP é estruturada em 3 partes:
Parte I (arts. 1° a 29): direitos e deveres dos cidadãos (inclusive direitos de “terceira geração”).
Parte II (arts. 30 a 63): competências e composição da Comissão.
Parte III (arts. 64 a 68) disposições finais diversas.

§3. Órgãos de proteção


A. Comissão ADHP
Órgão quase-jurisdicional baseado em Banjul (Gambia), criado em 1986, com a entrada em vigor
da Carta Africana.
Composta por 11 membros eleitos por escrutínio secreto pela Assembleia de Chefes de Estado e
de Governo da UA.

3 amplos domínios de responsabilidade:


(1) promover os DH
(2) proteger os DH
(3) interpretar a Carta ADHP.

B. Tribunal ADHP
1998: adoção do Protocolo à Carta Africana que cria o Tribunal ADHP (que entrou em vigor em
2004) => 31 EP.
O Tribunal iniciou o seu trabalho em 2006. Tem sede em Arusha (na Tanzânia). É composto por
11 juízes, nacionais dos EM da UA.

Competência consultiva
Podem solicitar pareceres consultivos um EM, a própria UA, qualquer dos seus órgãos ou
qualquer organização africana reconhecida pela UA, sobre qualquer questão jurídica relacionada
à Carta Africana ou a qualquer outro instrumento de DH.

Competência contenciosa
O Tribunal pode julgar quaisquer casos relativos quer à interpretação quer à aplicação da Carta
Africana DHP, dos Protocolos à Carta Africana e de qualquer outro instrumento de DH ratificado
pelo Estado em causa.
Têm acesso ao Tribunal Africano: a Comissão Africana; os EP que aceitaram a competência do
Tribunal (31 EP); organizações intergovernamentais africanas; e ONGs com estatuto de
observador junto da Comissão, assim como os indivíduos, desde que o Estado tenha reconhecido
esta competência (6 EP).
2008: adoção do Protocolo Relativo ao Estatuto do Tribunal Africano de Justiça e dos DH.
2014: adoção do Protocolo sobre as Alterações ao Protocolo de 2008 Relativo ao Estatuto do
Tribunal Africano de Justiça e DH (Protocolo de Malabo) => Tribunal Africano de Justiça e dos
DH, com 3 secções: (1) assuntos gerais, (2) DH e dos povos e (3) DI penal.

Secção III. Outros sistemas regionais


A. Ásia
2007: adoção da Carta da ASEAN (10 EM, sediado em Jacarta (Indonésia)).
2009: criação da Comissão Intergovernamental de DH da ASEAN => mandato de promoção e
proteção dos DH.
2012: adoção da Declaração da ASEAN sobre DH.

B. Países árabes
1994: adoção da Carta Árabe dos Direitos Humanos pela Liga Árabe (22 EM, sediada no Cairo
(Egipto)).
2004: adoção de uma versão revista que entrou em vigor em 2008 => 10 EP.
A Carta não prevê o direito de petição individual, nem a criação de um Tribunal dos DH.
2009: criação do Comité árabe de DH.
2014: adoção do Estatuto do Tribunal árabe dos DH, autorizando queixas inter-estatais
relativamente a violações da Carta.
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4/5/2023

Sistema regional de proteção dos direitos humanos no continente


europeu

União europeia

Comunidade europeia (CE) criada pelo tratado de Roma (1957)


- jurisprudência do Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE)
Com o tratado de Maastricht de 1992 (TUE), os DH foram formalmente reconhecidos no
direito da União.
TUE, revisto pelo Tratado de Lisboa (2007):
Artigo 6º p.3: do direito da União europeia fazem parte, enquanto princípios gerais, os
direitos fundamentais tal como os garantes a convenção europeia
Artigo 6º p.1: a união reconhece os direitos, as liberdades e os princípios enunciados na
carta dos Direitos fundamentais da União europeia de 2000

A carta dos direitos fundamentais da EU (2000), que se tornou vinculativa como parte
integrante do tratado de lisboa e 2007, constitui hoje o principal instrumento de DH da
EU.
- 6 capítulos (valores-chave): dignidade, liberdades, igualdade, solidariedade, cidadania
e justiça

Secção I. Conselho da Europa

Instituído pelo Tratado de Londres de 1949


• Sede: Estrasburgo
• Línguas oficiais: inglês e francês
• A adesão ao conselho da europa é condicionada á aceitação dos princípios do
estado de direito e dos DH

Estrutura
• Comité de ministros: órgão de decisão do Conselho, composto pelos ministros dos
negócios estrangeiros de cada EM
• Assembleia parlamentar: órgão de deliberação, composto por parlamentares dos
46 EM, nomeados pelos parlamentos nacionais dos EM
• Secretario geral: órgão de ligação entre o Comité e a assembleia

O Conselho da Europa promove os DH através de convenções internacionais:


• Convenção EDH (1950) => enfoque quase-exclusivo nos direitos civis e políticos
• Carta Social Europeia (1961)
• Convenção Europeia para a Prevenção da Tortura (1987)
• Carta Europeia das Línguas regionais e Minoritários (1992)
• Convenção-quadro para a proteçao das minorias nacionais (1995)

Secção II. A Convenção EDH e a Carta Social Europeia

Convenção EDH (1950)


Adotada pelo Conselho da europa em 1950, entrou em vigor em 1953
A convenção EDH reconhece os principais direitos civis e políticos, incluindo:
- direitos absolutos (art.15) e relativos
- obrigações negativas e positivas

No entanto, houve várias omissões notáveis no âmbito dos direitos inicialmente


reconhecidos na Convenção EDH, o que necessitou a adoção de protocolos (16)
→ Protocolo nº6 (1983) & Protocolo nº13 (2002): proibição da pena de morte
→ Protocolo nº15 (2013): princípio da subsidiariedade e principio da margem de
apreciação nacional; prazo de 4 meses
→ Protocolo nº16 (2013): possibilidade de os mais altos tribunais dos EP enviarem
pedidos de pareceres consultivos ao Tribunal EDH

Carta Social Europeia (1961) e Carta Revista (1996)

A Carta Social Europeia de 1961 foi elaborada com o objetivo de completar a


Convenção EDH, que trata principalmente dos direitos CP.
No entanto, a Carta adotou uma abordagem seletiva que permite aos Estados optar por
um determinado número de artigos relativamente aos quais concordam em ficar
vinculados
A Carta Revista de 1996 (“Carta”) tem vocação a substituir gradualmente o tratado
original de 1961
Reúne num único inst5ruemnto os direitos garantidos pela Carta de 1961, bem como
novos direitos e alterações adotados pelos EP
Está sujeita ao sistema de supervisão pelo Comité Europeu dos Direitos Sociais, segundo
2 procedimentos distintos:
- um sistema de queixas coletivas
- o sistema dos relatórios nacionais

Secção III. Instituições-chave


Sistema original
- Comissão EDH, criada em 1954, competente para receber queixas individuais e para
encaminhá-las ao Tribunal quando os Estados tinham reconhecido a sua competência
- Tribunal EDH, operacional em 1959, competente para julgar casos interestatais e casos
individuais apresentados pela Comissão, desde que o estado em causa tenha aceitado a
sua competência
- Comité de Ministros responsável pela execução dos julgamentos
* na década de 1990 foi necessária ma reforma fundamental do sistema devido a um
crescente número de casos

Protocolo nº11 (1994/1998):


- suprimiu a comissão
- estabeleceu o tribunal com uma competência obrigatória
- forneceu aos indivíduos um acesso direto e obrigatório ao Tribunal EDH

Secção IV. Tribunal EDH

O tribunal EDH é o órgão judicial fiscalizador do cumprimento das obrigações


decorrentes da Convenção EDH, dos seus protocolos e dos demais tratados europeus
adotados sob a égide do Conselho da Europa.
- 46 juízes, que julgam em sua capacidade pessoal
O protocolo nº 14 conduziu a reformas em vários domínios
- a capacidade de filtragem do Tribunal foi reforçada para lidar com pedidos claramente
inadmissíveis
- foram introduzidos novos critérios de admissibilidade para que os casos em que o
requerente não sofreu uma desvantagem significativa sejam declarados inadmissíveis
- medidas foram introduzidas para lidar de forma mais eficaz com casos repetitivos
- os juízes são doravante eleitos por um mandado de 9 anos não renovável

A composição do Tribunal varia consoante o processo a tratar: juiz singular (decisão),


comité de 3 juízes, Câmara de 7 juízes, Grande Câmara (Câmaras - sentença)

Os estados comprometem-se, em todos os casos em que são partes, a cumprir a


decisão final do Tribunal
- responsabilidade do Comité de ministros do conselho da Europa
- são possíveis resoluções amigáveis

Competência contenciosa e consultiva

Queixas individuais
Artigo 34: "O Tribunal pode receber petições de qualquer pessoa singular, organização
não governamental ou grupo de particulares que se considere vítima de violação por
qualquer Alta Parte Contratante dos direitos reconhecidos na Convenção ou nos seus
protocolos. As Altas Partes Contratantes comprometem - se a não criar qualquer entrave
ao exercício efetivo desse direito".

Queixas interestatais
Artigo 33: "Qualquer Alta Parte Contratante pode submeter ao Tribunal qualquer
violação das disposições da Convenção e dos seus protocolos que creia poder ser
imputada a outra Alta Parte Contratante".

Pareceres consultivos
Artigo 47: "1. A pedido do Comité de Ministros, o Tribunal pode emitir pareceres sobre
questões jurídicas relativas à interpretação da Convenção e dos seus protocolos “.
Secção V. A luta pela eficácia e as reformas institucionais
2 importantes desafios
(1) Como gerir o fluxo importante das queixas
(2) Como melhorar a execução dos seus acórdãos
- procedimento do julgamentos-piloto
- reformas processuais e estruturais

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