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Deus e Ordem: os pressupostos tácitos da Ciência

Moderna

Luís Felipe Guimarães Teixeira,


2020

Curso de Filosofia para Ciências Biológicas


Professores
João Figueiredo Nobre Cortese e
Bruno Travassos de Britto
“Nós, o cientista e eu, devemos encarar a Deus e o infinito,
pedir-lhes contas e, quando necessário, corrigi-los também. “
-João Guimarães Rosa, 19651

1
LORENZ, Günter W. Diálogo com Guimarães Rosa. In: COUTINHO, Eduardo F. (org.). Guimarães
Rosa. 2ª ed., Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1991. p. 62-97.
Introdução

Há muito tempo, filósofos da ciência aceitam que esta não se faz sem
pressupostos. Esta presença de pressupostos se mostra de diversas maneiras e neste
ensaio será abordado um de seus aspectos: as íntimas relações entre a Ciência Moderna
e a Teologia cristã.
Na tradição mais recente de N. Hanson2, com sua caracterização da observação
científica como intimamente ligada ao arcabouço de aprendizados e predisposições
anteriores e de T. Kuhn3, com paradigmas científicos em grande parte inconscientes que
entram em crise e se sucedem ao longo do tempo, a ciência já perde seu brilho de edifício
lógico contínuo. Além disso, outros teóricos como P. Feyerabend4 e M. Foucault5, em
seus questionamentos profundos sobre todo o saber ocidental, desconstroem a noção
da ciência como teleológica na direção de um entendimento do mundo sempre melhor e
mais verdadeiro, com menos preconceitos e irracionalidades.
A noção de que a ciência não é totalmente racional é mais antiga: Weber afirma
em 19186 que a ciência nunca se questiona se o conhecimento científico deveria ou
merece ser descoberto. Da mesma forma como um artista não se questionasse deveriam
existir obras de artes, não é colocado em xeque o objetivo final e o mundo idealizado
pela forma de conhecimento.
Porém, o que mais interessa a esse trabalho são aqueles primeiros cientistas, que
nos séculos XVI e XVII admitiam a impossibilidade de se chegar a certos conhecimentos
por meio da ciência. Esses últimos filósofos naturais abdicaram de explicar certos fatos,
limitando-se a descrevê-los e matematizá-los. Certas bases lógicas e metafísicas foram
nesse momento estabelecidas, sem pretensão de serem demonstradas ou deduzidas e
normalmente com alguma base na teologia cristã. Esses pressupostos não foram, como
talvez imaginariam alguns positivistas modernos, reestudados para serem laicizados ou
demonstrados pelo método científico.
Hoje em dia, a ciência parece ter para alguns tomado o lugar da religião, no
mesmo papel de oferecer verdades absolutas e atemporais. Ela é recorrentemente
relacionada a promessas de um mundo totalmente lógico, conhecido de ponta a ponta
por um método infalível e racional de análise de evidências e livre de ilusões “primitivas”
como Deus e seus símiles7. Esse trabalho tem em parte como objetivo mostrar a
insuficiência e a irrealidade da dicotomia Deus - Ciência e explorar a pretensa Verdade
Lógica que a ciência parece buscar e da qual diz sempre se aproximar.

2
(Hanson, 1971) p.127-138.
3
(Kuhn, 1962) p. 19-28.
4
(Feyerabend, 1977)
5
(Foucault, 1966)
6
(Weber, 1918) p. 43-44
7
(Dawkins, 2006) p. 318-321
O Irracional

A história de qualquer ciência mostra uma quantidade considerável de elementos


não-racionais e pressupostos não discutidos e, novamente, há diversas formas de
descrevê-los. Thomas Kuhn narra uma história das ciências repleta de crenças
arbitrárias e coletivas – os paradigmas –, que delimitam o tipo de hipóteses e crenças
aceitáveis8. Certas questões, como a natureza do conhecimento e dos sentidos humanos
e a validade das leis lógicas e do método científico, nunca são formuladas e analisadas
desde o chão como tentou fazer Descartes9. Kuhn dizia que, apesar desses aspectos
irracionais, a ciência não perdia seu poder explicativo, por serem exatamente esses
acordos tácitos da comunidade científica que permitem alguma estabilidade para que
ocorra a chamada ciência normal. Nesse contexto, a descrição de descontinuidades na
história da ciência mostraria as chamadas incomensurabilidades, retirando a noção de
um caminho contínuo e sem desvios percorrido pela ciência.
Ainda na caracterização das descontinuidades, Michel Foucault fala em grandes
descontinuidades em todo o pensamento ocidental, observáveis em campos tão diversos
quanto a linguística, a história natural e a economia10. Com o tempo, o saber europeu
esqueceu questões antes muito importantes, como era a hierarquia dos signos no século
XVII, e criou novas questões centrais, como as das características fundamentais do
Indivíduo e de como o ser humano passa a saber e representa esse saber, a partir do
século XVIII. Assim, questionamentos novos surgem, enquanto outros são deixados de
lado; são esclarecidos certos cantos negligenciados do saber e suprimidas outras
regiões, anteriormente iluminadas; é “como se [a ciência] aplicasse uma nova grade”11
sobre o conhecimento anterior. Com essa historicização das categorias mais básicas de
nosso pensamento, também é difícil crer em um conhecimento contínuo e sempre
crescente.
Ambas essas análises têm o mérito de desacreditar a visão positivista da história
das ciências, que tem como culminação a obra de K. Popper12. Essa visão ao mesmo
tempo descreve e promete uma ciência lógica produzida por sujeitos plenamente
racionais e “honestos” e o progresso científico é visto como linear e contínuo, sempre
retirando da frente nossos preconceitos e idolatrias irracionais13. A análise das
descontinuidades tira o crédito dessa visão por si só, mostrando as grandes mudanças
metodológicas e epistemológicas que separam, por exemplo, Galileu e Lavoisier, Newton
e Einstein, Lineu e Darwin, entre outros. A análise histórica das ciências então derruba

8
(Kuhn, 1962) p. 19-28
9
(Descartes, 1641)
10
(Foucault, 1966) p. IX - XXII
11
(Fucault & Chomsky, 1971) p. 18-19. [Tradução Livre]
12
(Popper, 1935) p. 27-50
modernas. 16. ed. Viena: Cultrix, 1935. p. 27-50.
13
(Planck, 1910) afirma que o que mais atraiu apoiadores para a filosofia natural era “a eliminação de
todos os elementos metafísicos da teoria do conhecimento físico”
a clássica teleologia das ciências, que levariam o ser humano apenas pelo seu progresso
à libertação14.
Porém, outra crítica possível à visão positivista das ciências vem da descrição de
sua própria metodologia, em qualquer dado momento. P. Feyerabend15 descreve como
o chamado método científico sempre mostrou e ainda mostra eventos e passos
essencialmente não-racionais. Momentos como a proposição de novas teorias são
repletos de hipóteses ad hoc, observações não explicadas e outras “heresias” sobre o
método científico. Porém, mesmo essas teorias não tendo, como suporia Popper, poder
explicativo maior do que suas predecessoras, a aceitação delas pela sociedade científica
permitiu seus desenvolvimentos posteriormente. Além disso, o próprio momento da
chamada ciência normal é também salpicado de irracionalidades e preconceitos, com os
“combinados” se tornando tão sagrados e intocáveis quanto os dogmas em uma religião
e dentro desse mesmo paradigma, o espaço criativo de um cientista é muito limitado por
esses dogmas tácitos. Sendo assim, Feyerabend vai mais longe do que os autores
anteriores, demonstrando a fragilidade de barreiras reais que definam ciência de mito.

Deus e Ordem

Um caso específico desses pressupostos subliminares no pensamento científico


é no tocante a Deus. A grande maior parte da ciência ocidental até 50 anos atrás foi
praticada por cristãos16. Além disso, vemos que, antes do século XIX, nenhum cientista
se envergonhava de buscar em Deus explicações para perguntas metafísicas ou
epistemológicas17. Seria ingênuo supor que todos esses séculos de íntimo contato com
a religião cristã não deixaram na ciência marcas profundas da tradição de pensamento
cristã.
Nesse momento, é interessante diferenciar a Religião Cristã e a Igreja Católica. A
Igreja, fortemente influenciada por versões cristianizadas do pensamento grego, como a
de Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, em muitos momentos se opôs abertamente
às ciências naturais. Seu poder político e ideológico tendeu a ver a religião como
ameaça, pois a importância do monopólio no método pelo qual se chega à Verdade não
pode ser subestimada18. Personagens profundamente religiosas como Nicolau
Copérnico, Giordano Bruno, Blaise Pascal e David Hume foram perseguidos pela

14
(Comte, 1822) p. 85-87 define o “État scientifique” como o mais avançado da evolução humana,
no qual seria possível a libertação do Homem.
15
(Feyerabend, 1977) p. 267-282
16
A Royal Society, por exemplo, foi fundada por religiosos, inclusive muitos deles com cargos eclesiásticos.
Sobre isso ver (Harrison, 2007
17
Galileu, refletindo sobre a infinitude do Universo, diz que “Mas essa é uma daquelas questões felizmente
inexplicáveis à razão humana […] nas quais somente a Escritura Sagrada e a revelação divina podem dar
respostas” (Galilei, 1640)
18
(Foucault, 1975) p. 32-38 desenvolve a relação inseparável entre a forma de exercício do poder e as
técnicas de verificação, isto é, como se chegar à Verdade.
Igreja19, tanto pelo método científico de investigação quanto pelas conclusões a que ele
os levou. Mesmo que criticando o dogmatismo da Igreja, esses cientistas ainda eram
profundamente influenciados pela teologia cristã, em diversos âmbitos diferentes. Assim,
os ataques da instituição à ciência não impedem que o cristianismo tenha tido papel
epistemológico fundamental na construção da ciência moderna, principalmente a partir
do protestantismo e do abrandamento do poder da Igreja20. Porém, não é possível isentar
a Igreja Católica do nascimento da ciência, principalmente por dois fatores: Por um lado,
todas as ciências sustentam que, de uma maneira ou de outra, da existência de uma
Verdade externa ao conhecimento humano, anterior à nossa chegada e posterior ao
nosso desaparecimento, um modo real de funcionamento do Universo, que está lá pronto
para ser descoberto pela ciência. Essa Verdade tem suas raízes principalmente no
pensamento grego, conservado e cristianizado ao longo da Idade Média por membros
da Igreja Católica21. Por outro lado, as raízes do método científico estão também
imbricadas na Igreja, mais especificamente nas técnicas de interrogatório promulgadas
pela Santa Inquisição, segundo as quais se chegaria à Verdade, elaborando as
perguntas certas ao objeto de estudo22.
As raízes epistemológicas da ciência na religião se mostram mais claramente na
questão da Ordem. Um dos pressupostos mais profundos e essenciais da ciência é que
há uniformidade temporal e espacial no Universo. Isto é, que as leis e tendências
observadas e estudadas aqui e agora continuam valendo em Júpiter e na Galáxia de
Andrômeda, há 2 bilhões de anos e no futuro distante. A discussão dessa ordem
constante e sempre matematizável em todo o Universo é um axioma quase nunca
discutido no campo científico e ainda assim um dos mais importantes para toda a ciência:
Como poderíamos estudar os movimentos dos astros ou a Origem da Vida se não
podemos saber quais leis afetaram os objetos de estudo? A abordagem dessa questão
mudou ao longo da história e as análises de A. Koyré em “do mundo fechado ao universo
infinito”23 podem nos ajudar amplamente a entende-la.
Isaac Newton é visto frequentemente como o último filósofo natural e o primeiro
cientista. Suas contribuições e metodologias estão até hoje na base da física e da
química. O que há de novidade nesse pensador está intimamente ligada à questão da
Ordem: Newton foi o primeiro a se abster do estudo da metafísica. Seus estudos não
buscam explicações ou causas, mas apenas apontam e descrevem matematicamente
características da matéria, por leis e teoremas gerais24. Ora, podemos nos perguntar,
como os trabalhos de Newton poderiam influenciar tão profundamente a física com suas
afirmações absolutas e universais se não mostravam nenhuma dica dos mecanismos
pelos quais a gravidade, os comportamentos da luz e suas três leis da física
funcionavam? Como esses escritos foram tão amplamente aceitos se teorias como a de

19
Index Librorum Prohibitorum, 1557-1966
20
(Harrison, 2019)
21
(Reale & Antiseri, 1997) p. 39-54, além de outros lugares do mesmo livro.
22
(Foucault, 1975) p. 262-263 complementa que F. Bacon, “home de la loi et de l’État”, buscou trazer as
técnicas do interrogatório penal para a ciência.
23
(Koyré, 1957) p. 208 – 244, principalmente
24
“As hipóteses, quer físicas, quer mecânicas, quer de qualidades ocultas, não têm lugar na filosofia
experimental” (Newton, 1687)
Darwin foram a princípio ignoradas, exatamente por não explicarem os mecanismos
necessários? A resposta, novamente, é encontrada em Deus.
O Deus figurado por Newton é muito diferente do abstrato Deus filosófico de
Descartes25. Para ele, Deus atua ativamente no mundo, sendo a sustentação de um
espaço-tempo infinito e absoluto e podendo a qualquer momento “variar as Leis da
Natureza e produzir mundos de diversas sortes”26. Portanto, a única força que mantém
que mantém a uniformidade das leis físicas e a ordem matemática no Universo é a
vontade divina. A partir daí, não era necessário buscar mecanismos para as constantes
matemáticas das leis físicas, pois essas eram arbitrariamente mantidas pela onipotência
do Criador. Esse papel de Deus na investigação científica entrou imediatamente em
oposição ao papel que Descartes lhe atribuía e, sob acusações de ateísmo e de
subestimação do poder divino, a hipótese cartesiana foi perdendo terreno no campo das
ciências27. Até hoje, existe essa mesma força oculta e total, tacitamente aceita e nunca
nomeada, que funciona de suporte para todas as ciências empíricas. É difícil dar outra
origem a essa força que não Deus.
Porém, o papel da metafísica cristã nas ciências não se limita a isso: a atual noção
de campo, isto é, de uma entidade incorpórea que atua no espaço independente da
presença de matéria, é herdeira direta de uma dicotomia entre espírito e corpo. Esta
dicotomia foi originalmente formulada por Henry More e posteriormente passada para
Isaac Newton, que também explicava certos fenômenos por virtudes ocultas e essenciais
dos corpos. A incorporalidade e não-fisicidade do campo também foi em grande parte
demonstrada por argumentos teológicos, que naquela época não eram vistos como
inválidos28.
Ademais, M. Foucault em “As Palavras e as Coisas”29, também dá um papel à
noção de Ordem, não menos fundamental e básica para as ciências. A ordem, nos
séculos XVII e XVIII, era vista como aquilo que permitia toda representação e todo saber
humano. Deus teria dotado a Natureza de uma hierarquia contínua e infinita de signos e
permitido a possibilidade de matematizá-los totalmente, exatamente por sua ordenação.
Assim, o objetivo do saber seria representar perfeitamente esses signos, em uma
ordenação completa das coisas naturais30. Apesar das diversas e profundas mudanças
desde essa época, a noção de que a Natureza estaria organizada em signos a serem
descobertos, decifrados e representados a partir dos métodos corretos permeia até hoje
toda ciência natural.

25
(Descartes, 1641) p.V, AT IX-1, 52, em seu argumento ontológico, afirma um Deus que é a própria
noção de infinidade, reconhecido puramente pela filosofia. Há pouca descrição de suas ações no mundo,
fora das almas dos seres humanos.
26
(Newton, 1749). p. 403
27
(Koyré, 1957)
28
(Koyré, 1957) p. 112 - 137
29
(Foucault, 1966)
30
(Linnaeus, 1775) p. 116 soma um total de 38 órgãos germinativos vegetais, cujas combinações entre
estados de caráter permitiriam 5736 configurações diferentes, ou seja, essas seriam todas as
possibilidades de gêneros.
Conclusão

A Religião e a teologia cristãs, principalmente na forma de um Deus abstrato, mas


ativo, tiveram influência profunda no início do desenvolvimento das ciências naturais, nos
séculos XVI e XVII. A afirmação e categorização da profundidade dessas influências já
deveriam retirar ilusões de que a ciência seja uma grande força antiteísta ou de que ela
seja um grande e sólido edifício lógico, construído apenas sobre bases firmes e
empíricas: ambas as visões são tipicamente atribuídas aos positivistas (ou seus
seguidores modernos). O método científico, além de não ser tão bem definido quanto
parece e não ter nunca excomungado seus “hereges”, tomou base em pressupostos
metafísicos, religiosos e, essencialmente, numa afirmação da ignorância de certas
causas fundamentais. Estes pressupostos nunca foram revisitados ou questionados, e
os cientistas atuais ainda pisam sobre esses mesmos tijolos. Assim, é importante
compreender as ciências como atividades essencialmente culturais, como a arte, a
linguagem ou a organização social, e não como uma forma transcendental e sacrossanta
de obtenção da Verdade.
Ainda em oposição aos positivistas antigos e modernos, os caráteres irracionais
da ciência tornam obsoleta a idealização de uma humanidade servindo ao progresso
científico. Esses pensadores defenderiam fazer todas as vidas humanas miseráveis, se
isso nos fosse fazer colonizar Marte mais cedo. E, uma vez que chegássemos lá, haveria
miseráveis marcianos, trabalhando para a colonização de Plutão. Críticas ao positivismo
e ao aspecto de fim em si mesmo do conhecimento científico não são novas. Friedrich
Nietzsche em 1885 desenhou um retrato cru e irônico das pessoas idealizadas pelo
projeto do progresso científico: “’Nós inventamos a felicidade’ - dizem os últimos homens,
e piscam o olho”31 . A interminabilidade do projeto posterga a felicidade humana ao
infinito e a coloca em função de um objetivo imaginário e longínquo. Vale lembrar também
que entre as maravilhas já concebidas pela ciência, aparecem a metralhadora, as
câmaras de Zyklon B e a eugenia.
Porém, apesar dos inúmeros erros históricos com embasamento no projeto
positivista, é possível imaginar outra ciência, voltada para o bem-estar do ser humano e
não ao descobrimento de uma Verdade, que na prática não é tão lógica quanto se
promete. Poderíamos imaginar uma ciência como instrumento da humanidade, análoga
à idealizada por Ernst Mach32, que buscasse, em vez de hipóteses e explicações,
abstrações úteis ao pensamento humano, para a facilitação de nossas vidas.
Enfim, mesmo que não se constitua no futuro próximo esta nova Ciência, seja a
ciência anárquica formulada por Paul Feyerabend33 ou a pensada por Mach, a própria
percepção da insuficiência da ciência e de sua sujeição aos mesmos “defeitos humanos”
de qualquer outra forma de conhecimento. Essa percepção, que aparece tanto em Weber
quando ele recomenda que mesmo os cientistas precisam recorrer às “velhas Igrejas”,

31
(Nietzsche, 1885) p.17 - 19
32
Conferir (Mach, 1897) e (Mach, 1910)
33
(Feyerabend, 1977) p. 17- 23
pois há questões fundamentais da Vida às quais a ciência não atende34, como em
Feyerabend com seu radical nivelamento entre ciência e mito35. Na maioria das formas
dessa percepção, as atrocidades cometidas em nome do progresso já podem ser
olhadas com outros olhos, críticos da pretensa Verdade superior prometida pela Ciência
e enxergando pelo menos alguns de seus pressupostos tácitos.

34
(Weber, 1918) p. 56-58
35
(Feyerabend, 1977) p. 267-282
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