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3 – FAMÍLIA
A busca pelo conhecimento fez com que a humanidade, em diversos períodos da história,
determinasse um saber como o mais correto. Na Grécia antiga, o conhecimento do mundo
era realizado através dos mitos. Uma autoridade externa – no caso, os Deuses – determinava
como o mundo deveria ser. O primeiro grande salto qualitativo da ciência foi com a descoberta
do logos, estabelecendo que o conhecimento deveria acontecer pela via do pensamento
argumentativo, ou seja, a partir da razão (VASCONCELLOS, 2002).
O modelo da ciência moderna inicia-se a partir da revolução científica do século XVI, com
o rompimento entre a ciência e a filosofia. Influenciada por autores como Descartes, Bacon,
Galileu, Newton e Comte, buscava-se um modelo global e totalitário da ciência, negando todas
as formas de conhecimento que não estivessem pautadas por seus princípios epistemológicos
e metodológicos. A ciência moderna era vista como experimentação ou método matemático.
As leis da natureza eram utilizadas para que pudessem auxiliar o homem a controlar seu meio,
numa tentativa de predição do futuro. O conhecimento científico estava intimamente
relacionado com a física e a matemática; esses domínios do conhecimento científico moderno
ficaram relacionados às ciências físicas e naturais, e, a partir do século XVII, se estenderam
para as ciências humanas e sociais (SANTOS, 1988; VASCONCELLOS, 2002).
A partir da década de 70, com os avanços da física quântica, com a teoria da relatividade,
de Einstein, com o princípio da incerteza, de Heisenberg, e o desenvolvimento da
termodinâmica, colocou-se em pauta as diferenças entre seres humanos e não-humanos.
Iniciou-se, nesta década, um movimento de profundo questionamento epistemológico sobre o
conhecimento científico que atravessa as ciências naturais e sociais.
Assim, o pensamento sistêmico é fruto deste cenário. Foi influenciado pelos teóricos
Ludwig von Bertalanffy, com a teoria geral dos sistemas, e pelo americano Norbert Wiener
(1971), com a teoria cibernética. Ambas as abordagens surgiram numa tentativa de tornarem-
se transdisciplinares. Bertalanffy pretendia ampliar a biologia mecanicista buscando uma
teoria que abrangesse todos os sistemas. Entendia um sistema como um conjunto de
elementos em interação mutuamente interdependente, regido por leis que pudessem ser
descobertas. Wiener desenvolveu estudos sobre os processos de autorregulação das
máquinas pelo mecanismo da retroalimentação, deslocando seus conceitos para os sistemas
naturais e sociais (VASCONCELLOS 2002; GRANDESSO, 2000).
Complexidade tem origem etimológica na palavra complexus, do latim, que significa o que
está tecido em conjunto. E, segundo Morin (apud Vasconcellos 2002, p. 20), “refere-se a um
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transformarem diante de mudanças do meio em que suas estruturas não podem ser mantidas.
Esta propriedade ficou conhecida como mudança de segunda ordem.
Gilberto Freyre (1958), retrata em suas obras a dinâmica e a estrutura da família colonial
burguesa. Permeada por relações verticais e preocupações com o território, a família
burguesa era endogâmica. Localizada geralmente em grandes unidades agrárias de
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Apesar do modelo patriarcal difundido por Gilberto Freyre (1958), a família brasileira
convivia com uma pluralidade de configurações. Mesmo no século XIX, celibato, concubinato,
ilegitimidade, separações, famílias unilaterais ou singulares estavam presentes na sociedade
brasileira.
Nas últimas décadas, as grandes mudanças, tais como o avanço da tecnologia reprodutiva,
o divórcio e questões de gênero, têm influenciado a família dita tradicional brasileira.
“Entretanto, o que mostram as pesquisas é a dificuldade do comportamento acompanhar a
mudança das ideias e da convivência do novo com o arcaico” (FIGUEIRA, 1986 apud
MACEDO, 1994, p. 65).
Andolfi (1991), considera que o estudo sobre a família deve se centralizar nas interações
entre seus membros, considerando a família como um todo organizado que está em
constantes trocas entre membros e outros sistemas. Afirma que podem ser aplicados às
famílias os mesmos princípios que geralmente eram utilizados para os sistemas abertos às
famílias, como a não-somatividade, a circularidade, a auto-organização, o feedback
(retroalimentação), a homeostase e a morfogênese. (CERVENY, 2000; ANDOLFI, 1991)
A circularidade considera que o padrão de relação dos membros nos sistemas não
acontece de forma linear, no qual um elemento influencia o outro. Eles influenciam e são
influenciados mutuamente de forma circular. Macedo (1994) assinala que, na família, essa
circularidade permite que os membros formem uma teia de relações, assumindo posições
diferentes uns com os outros.
definição estável, e podem ser modificadas com o tempo e com a formulação de novas regras
comportamentais.
Macedo (1994) ressalta o caráter idealizado da família como função de proteger e procriar
a prole. Afirma que a família é representada como um agente de socialização das crianças
através da transmissão da cultura. Porém, o que diferencia a família de outros grupos são as
relações de afeto, compromisso e durabilidade das relações. Assim, assume o caráter de uma
primeira matriz de personalidade do indivíduo, que através de relação dinâmicas oferece um
lugar que deveria prover as necessidades básicas do indivíduo e permitir seu
desenvolvimento.
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Ainda segundo Cerveny (2000), a família se apresenta por meio de categorias, a saber:
Família de Origem (FO) − referente ao sujeito e seus ascendentes; Família Extensa (FE) −
referente às relações significativas, pressupondo ou não laços sanguíneos, que se articula
com o presente; Família Nuclear (FN) − pressupõe uma unidade coletiva de pais e filhos
vivendo ou não no mesmo espaço; e Família Substituta (FS) − relativa à criação de uma ou
mais pessoas sem possuir um laço de parentesco.
Para o este trabalho adotamos o ponto de vista de Cerveny (2000) e Macedo (1994),
percebendo a família como uma rede de relações significativas que influencia e é influenciada
pelo desenvolvimento de seus membros, podendo se apresentar com múltiplas configurações.