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Introdução

A Declaração Universal dos Direitos Humanos é hoje uma referência


incontornável que suscita o reconhecimento explícito, não tanto de que nascemos,
propriamente, livres, mas para a liberdade. Uma liberdade que deve ser propiciada como
um direito desde o início da vida, ou poder-se-ia correr o risco de nunca se afirmar com
todas as suas potencialidades3. Mas isto significa também o reconhecimento da
liberdade humana como sediada na consciência e na capacidade racional dos humanos,
de modo que, só respeitando ab initio a condição da dignidade humana, a liberdade pode
emergir.

O presente trabalho debruça-se em torno da Relação entre a Livre Vontade,


Liberdade nos actos Humanos e a Psicologia, que serve de 2º trabalho na cadeira de
Ética Social, no cursos de Licenciatura em Administração Pública, 3º Ano, no Centro de
Recursos de Gurué. Em concernente a elaboração do mesmo usaram-se vários artigos
publicados na internet, livros, e entre outros, no que culminou a uma pesquisa
bibliográfica.

Objectivos

Objetivo Geral

 Analisar a Relação existente entre a Livre Vontade, Liberdade nos actos


Humanos com a Psicologia.

Objectivos Específicos

 Conceituar Livre Vontade;


 Definir a Liberdade;
 Descrever a relação existente entre vontade e liberdade;
 Relacionar a Livre Vontade, Liberdade nos actos Humanos com a
Psicologia;
 Descrever as patologias psicológicas que influenciam na livre vontade de
agir Humano.
Vontade

A Vontade é definida no Dicionário Houaiss da língua portuguesa (2003) como


“a faculdade que tem o ser humano de querer, de escolher, de livremente praticar ou
deixar de praticar certos atos.

Segundo Hegel (2010, p 267), afirma que “A Vontade que refere-se é no todo
especial, considerada a resposta daquilo que está por trás dos fenômenos ela também
confere ao sujeito o seu outro lado, assim como confere ao mundo uma segunda face”.

“Ao lado do mundo o sujeito também é partícipe desta outra face, pois, além do
seu corpo adequar-se as formas do princípio de razão, sendo assim mais uma
representação entre tantas outras, também é vontade” (Hegel, 2010).

Segundo Hegel (2010, p. 267), África que “Por meio de outra perspectiva, nos
esclarece que todo e qualquer ato contra o corpo é ação direta e consequente contra a
vontade que nele está subjacente. Essa ação direta contra a vontade pode ser vista sob
dois ângulos completamente diferentes, ora vem a ser dor ora vem a ser prazer”.

Considerando ainda que na medida em que o corpo enquanto objeto imediato é


conhecido apenas pelo sujeito, devido ao fato de estar submetido às leis do princípio de
razão, também o é conhecido enquanto vontade, pois toda e qualquer ação voluntária ou
involuntária do corpo acontece no tempo e espaço.

Livre vontade

Hegel (2010, p. 269), afirma que “a vontade é livre, ao ponto que a liberdade
constitui sua substância e sua destinação”. Esta frase abre as considerações de Hegel da
“Introdução”, onde trata sobre o conceito de vontade, que se constitui, segundo ele,
como a base do mundo objetivo”.

Segundo Hegel (2010, p. 272), enfatiza que:

“A vontade livre, enquanto “ponto de partida”, é tratada por Hegel no


âmbito do jogo dialético característico de seu sistema filosófico. A
ideia de vontade ganha forma a partir da confluência tríplice dos seus
momentos constitutivos, como um corpo dividido em três partes: a
universalidade, a particularidade e, por fim, a singularidade que, sem
excluir as duas anteriores, as supera constituindo a liberdade objetiva”.
“A vontade contém O elemento da pura indeterminidade ou da pura reflexão do
eu dentro de si, no qual estão dissolvidos toda delimitação, todo conteúdo dado e
determinado, imediatamente ali presente pela natureza, pelos carecimentos, pelos
desejos e pelos impulsos, ou então seja pelo que for; [ela contém] a infinitude
indelimitada da abstração absoluta, ou da universalidade; o puro pensar de seu si
mesmo.(HEGEL, 2010, § 5; p.57).

De acordo com Hegel, a vontade é um modo de pensar ligado à incorporação do


conhecimento teórico do homem em sua atividade prática, enquanto ser-aí, na existência
real.

Hegel (2010, p. 274), afirma que “A vontade livre apenas em si é a vontade que
é livre unicamente em conceito, formalmente, mas não em conteúdo. A vontade é a
definição essencial de liberdade, mas ainda é meramente formal; é apenas um esboço do
que é a liberdade, e ainda não é a ideia de liberdade”.

“O conteúdo da vontade ainda precisa ser especificado. Não é qualquer escolha


com a qual o “eu” é capaz de se identificar. Para ser livre em um sentido real, o “eu”
tem que se encontrar, em alguma escolha particular que deve representar uma realidade
adequada a ele mesmo” (Hegel, 2010).

Hegel (2010), afirma que “vontade é livre em si mesma, pois tem potencial para
ser livre. Os impulsos, desejos e inclinações podem ter relação com vários objetos e
podem ser compreendidos de várias maneiras. Para essas inclinações naturais, o “eu”
tem a potencialidade de dizer não devido a sua natureza abstrata. Tem a possibilidade de
decidir. A vontade natural vai exigir uma decisão do indivíduo desejante”.

Segundo Hegel, é através do decidir que “a vontade se põe como vontade de um


indivíduo determinado e como vontade de um indivíduo diferenciando-se em frente a
outro” (HEGEL, 2003, §13).

Essa decisão pode ser identificada com a forma mais imediata de vontade, pois é
uma atividade não mais determinada pelos desejos sensíveis, mas pela abstração do eu
com relação a eles.
Acto voluntário Humano

Hegel (2010), afirma que “A acto voluntario é sempre um acto iluminado pelo
entendimento, inteligência. É apresentado à vontade perante os objectivos desejáveis,
os motivos de apetibilidade, etc”.

Hegel (2010), enfatiza que “A vontade de agir humano é livre de determinação,


pode divergir ou apartar-se do objecto proposto, pode também eleger um objecto entre
vários escolhidos. O acto de livre vontade pode receber influencias modificadoras e
estas alterar ou determinar as condições. Os elementos que podem diminuir são”:

 Quando o nosso conhecimento não alcança claramente o juízo, pode


modificar o acto, (Ex: Ignorância, dúvida);

 Quando a vontade e atraída, aumenta a paixão aumenta também a força


de inclinação de tal modo que a razão fica induzido e o raciocínio
diminui e;

 Quando o Bem é aliado a ameaça ou desviado ( Medo), pode chegar a


destruir a raiz da vontade ou estado livre sobre o acto.

Tipos de acto voluntários:

 Voluntário positivo: Fazer ou querer algo simplesmente;


 Voluntário Negativo: não fazer e não querer nada ou algo e;
 Acto voluntário neutro: não há voluntariedade, por isso nem é negativo
nem positivo.
Níveis do querer ou voluntariedade:
 Nível actual: Querer algo imediatamente;
 Nível virtual: Uma intenção que uma vez feita continua a influenciar a
caminhada do individuo, podendo cultivar a virtude ou ideia inicial;
 Nível habitual: Intenção que foi feita mas, não influencia o acto
intencional;
 Nível Interpretativo: Intenção que não foi realizada mas, pode ser feita
se a pessoa dar conta do caso.

As 4 fases de livre vontade ou acto voluntário do agir humano:

 Fase de concepção: o homem tem que conceber a seu bem e a livre


vontade de agir perante algo que o convêm, caso contrário não;
 Fase de deliberação: Pensar e contrabalançar, implica que qualquer acção
humana é um facto ético consciente;
 Fase de decidir: Para efectuar algo, deve ser comandado pelo intelecto
depois de avaliado, a decisão é a fase de concretização da acção ou não para
a execução e;
 Fase de execução: acto de fazer a acção.

Liberdade nos Actos Humanos

Segundo Bueno (2007, p. 12), afirma que “Quando falamos de liberdade, logo
formulamos o nosso próprio conceito, no entanto, assim como nós, ao longo da história
houve homens que dedicaram tempo para formular e fundamentar este conceito. A
história vai evoluindo, ou melhor, a história é construída a cada dia. Assim é um termo,
um conceito”.

Sartre (1973, p. 167), define “liberdade como uma condição intransponível do


homem, da qual, ele não pode, definitivamente, esquivar-se, isto é, o ser humano está
condenado a ser livre e é a partir desta condenação à liberdade que o homem se forma”.

“Sartre tem como ponto de partida a liberdade nas ações de escolher, o que fazer
é sempre intencional, ou seja, é impulsionado por um desejo consciente dos princípios
dessa escolha. Porém, para Sartre, não há princípios prontos que possam de guiar a
escolha humana” (Sartre, 1973, p. 168).

Para os gregos, o homem livre é diferente do escravo, enquanto que para os


latinos ele assume uma responsabilidade perante a comunidade e também consigo
mesmo. Percebemos, a partir desses dois povos, uma diferenciação na significação do
conceito pois, para uns, serve apenas para diferenciar uma classe da outra enquanto que
para outros ser livre significa fazer parte da comunidade, ou seja, tornar-se livre á
assumir a responsabilidade pela própria vida e pela vida da comunidade.

A relação entre a Livre Vontade, Liberdade nos actos e a Psicologia

Segundo Berta (1974, p. 43), afirma que “O conceito de vontade geralmente se


refere a um fenômeno psicológico que muitas vezes é difícil de distinguir de desejo e
intenção; que é concebido como um evento mental (uma volição) dentro de um agente,
e é um determinante de suas ações”.

“Neste sentido, ela pode tanto ser vista de um ângulo dualista, como uma causa
mental que é separada dos efeitos físicos que a produz, ou a partir de um ângulo
materialista, como sendo idêntica a um evento cerebral que provoca uma série de
eventos físicos”. (Berta, 1974).

Berta (1974, p. 45, enfatiza que:

Berta (1974, p. 45), adrjxf expressão “vontade livre” tem sido entendida como a
capacidade dos seres humanos de se envolverem em conduta voluntária de acordo com
as suas próprias escolhas sem restrições. As questões de como tal capacidade poderia
relacionar-se à causalidade como entendida pelas ciências físicas, e se os seres humanos
têm essa capacidade, ainda não foram decisivamente respondidas:

Esta Ideia é acompanhada por sentimentos que se transformam em impulsos para


alcançar seu objetivo. Consequentemente, a duração da ação está determinada pelo
conteúdo desta ideia, sua força e sua persistência e pela intensidade e duração dos
sentimentos que a acompanham.

A vontade está indissoluvelmente ligada à sua finalidade e às suas tendências e,


como as demais funções psíquicas, é fortemente influenciada pela afetividade.

O ato volitivo, processo volitivo ou atividade voluntária é classicamente dividido


em 4 etapas ou momentos distintos: intenção ou propósito, deliberação, decisão ou
resolução, e execução. Outros autores consideram somente 3 etapas para o ato volitivo,
a deliberação, resolução e execução.

Alterações Psicopatologicas quantitativas na Livre Vontade (Hipobulia e Abulia)

Classicamente, consideramos a hipobulia e a abulia como a incapacidade parcial


ou total, respectivamente, de realizar um ato voluntário.

Segundo Berta (1974, p. 47), afirma que “São muitos os graus de hipobulia, que
raramente chega à abulia completa propriamente dita.  etimologicamente o termo abulia
significa perda do poder de agir, de executar. Este autor contesta que a vontade possa
ser uma entidade psíquica suscetível de reduzir-se em proporções determinadas e
mesmo suprimir-se”.

“Para ele a palavra abulia serve para designar a lentidão ou o déficit volitivo, que
se manifesta, principalmente, na passagem do pensamento à ação. Nestes casos, os atos
voluntários são realizados de modo lento e Em psiquiatria, interessa os conceitos
clássicos de hipobulia e abulia como as alterações mais significativas da vontade”
(Berta, 1974)

Berta (1974, p. 49), afirma que “Na hipobulia o querer é abreviado e fraco, com
grande dificuldade na realização de atos voluntários. Caracteriza-se pelo predomínio do
automático e do impulsivo sobre a decisão pessoal e livre, bem como das necessidades
e tendências vitais sobre as aspirações e os ideais”.

Berta (1974, p. 52), afirma que “Os atos voluntários são realizados de maneira
lenta, imprecisa e, na maioria das vezes, não são concluídos. São comuns a
sugestionabilidade, o à pragmatismo, o negativismo e a dependência”.

Berta (1974, p. 53), afirma que:

“É encontrada em indivíduos normais, de forma episódica, na fadiga e


na reação aguda a estresse, bem como em praticamente todas as
doenças psiquiátricas de certa intensidade, tais como dependência de
drogas, intoxicações (álcool, hidrato de cloral, morfina), estados
depressivos, demências, esquizofrenias, neurastenia, retardo mental,
lesões e tumores de lobo frontal 8, estados de fadiga e delirium”.

Berta (1974, p. 54), afirma que “O quadros de abulia são extremamente raros,
ocorrendo em esquizofrenias, na maioria das vezes decorrente do comprometimento
afetivo e no estupor melancólico. Os pacientes esquizofrênicos parecem ser preguiçosos
e negligentes porque não se sentem motivados a fazer nada, seja por sua própria
iniciativa, seja por indicação dos outros”.

Nos casos moderados, onde ainda existem desejos e anseios, nada será feito para
a sua realização. Em geral, na sua maioria, os pacientes mostram-se displicentes,
volúveis e hesitantes. Fazem toda a sorte de promessas, sem cumprir nenhuma. Do
mesmo modo, habitualmente não cumprem suas ameaças.

Alterações Psicopatologicas Qualitativas (Disbulia e Parabolia)

Transtorno delirantes Induzidos

Segundo Fonseca (1985, p. 78), afirma que “Também conhecido como


Transtorno Psicótico Compartilhado, Transtorno Psicótico Induzido, Psicose
Simbiótica, Loucura à Dois ou Folie à Deux 21”.

Transtorno raro, partilhado por duas ou, ocasionalmente, mais pessoas (Loucura
à Muitos, Folie à Plusieurs), que mantém ligações afetivas íntimas, provocado por um
tipo especial de sugestionabilidade patológica. 

Fonseca (1985, p. 80), afirma que “Os delírios são induzidos no(s) outro(s) e
geralmente remitem quando as pessoas são separadas, permanecendo enfermo somente
o indutor; a doença psicótica do indivíduo dominante é quase sempre uma
esquizofrenia. É também comum a presença de quadros mentais induzidos por drogas,
demências e transtornos dos órgãos dos sentidos (surdez, cegueira)”.

Fonseca (1985, p. 82), enfatiza que “delírios originais da pessoa


verdadeiramente psicótica e os delírios induzidos geralmente são crônicos, bizarros e de
natureza persecutória ou grandiosa. As idéias delirantes somente são transmitidas em
circunstâncias incomuns”.

Há grande incidência da patologia em familiares, principalmente consanguíneos


(principalmente entre irmãos) e não consanguíneos (cegueira).
Ataxia Volutiva

Fonseca (1985, p. 83), diz que:

“Encontrada em transtornos esquizofrênicos, ocorrendo dissociação


entre afeto, impulso volitivo e ação executada. O paciente executa atos
opostos ao que deseja e diferente do que projetou. Esta vontade
negativa, resistência eficaz que se opõe à realização de um ato é
designada por nolição. Na esquizofrenia catatônica, a coexistência de
tendências opostas neutraliza a ambas”.

“Ambivalência Volitiva (Ambi-Tendenz) Não há uma unificação de critérios


volitivos, sendo impossível a tomada de uma decisão por imposição simultânea, no
pensamento, de dois impulsos volitivos opostos” (Fonseca, 1985).

Segundo Fonseca (1985, p. 84), afirma que “É a expressão, na vontade, da


ambivalência do afeto, onde coexistem sentimentos e emoções opostos em relação a um
determinado objeto”.

“Outro exemplo dado por ele seria do paciente que reclama que quer sair do
hospital e passa a resistir com inúmeros insultos quando é informado que receberá alta.
Ou o de vozes que ordenam ao paciente que se afogue e, imediatamente, para sua
surpresa, o repreendem com desprezo por querer se afogar” (Fonseca, 1985)

Segundo Fonseca (1985, p. 85), enfatiza que “Deve ser diferenciada da


indecisão, que ocorre quando o indivíduo oscila entre dois objetos e o curso do
pensamento se concentra alternativamente sobre um ou sobre o outro”.
Conclusão

Em concernente ao término do trabalho, conclui-se que a Vontade é livre em si


mesma, pois tem potencial para ser livre. Os impulsos, desejos e inclinações podem ter
relação com vários objetos e podem ser compreendidos de várias maneiras. Para essas
inclinações naturais, o “eu” tem a potencialidade de dizer não devido a sua natureza
abstrata. Tem a possibilidade de decidir. A vontade natural vai exigir uma decisão do
indivíduo desejante.

A vontade livre apenas em si é a vontade que é livre unicamente em conceito,


formalmente, mas não em conteúdo. A vontade é a definição essencial de liberdade, mas
ainda é meramente formal; é apenas um esboço do que é a liberdade, e ainda não é a
ideia de desejante.

Quando falamos de liberdade, logo formulamos o nosso próprio conceito, no


entanto, assim como nós, ao longo da história houve homens que dedicaram tempo para
formular e fundamentar este conceito. A história vai evoluindo, ou melhor, a história é
construída a cada dia. Assim é um termo, um desejante.
Referência bibliográfica

1. Berta J. C. (1974). Manual de Psiquiatría. 6. Buenos Aires


2. Bueno, I. J. (2007). Liberdade e Ética em Jean Paul Sartre. Porto Alegre
3. Fonseca, A.F. (1985). Perturbações decisórias e da psicomotricidade.
Lisboa
4. Hegel, G.W.F. (2010). Linhas fundamentais da filosofia do direito ou
direito natural e ciência do Estado em compêndio. São Leopoldo
5. Sartre, J. P. (1973). O existencialismo é um humanismo. São Paulo

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