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• Heitor distingue-se das térmitas-soldado pela sua capacidade de fazer uso do seu
entendimento, libertando-se da tirania das circunstâncias para realizar uma opção
própria: “Muito simplesmente, a diferença assenta no facto de as térmitas-soldado
lutarem e morrerem porque têm de o fazer, sem que possam evitá-lo. Heitor, por
seu lado, sai para enfrentar Aquiles porque quer. As térmitas-soldados não podem
desertar, nem revoltar-se, nem fazer cera para que outras vão para o seu lugar:
estão programadas necessariamente pela natureza para cumprir a sua heroica
missão. O caso de Heitor é distinto. Poderia dizer que está doente ou que não tem
vontade de se bater com alguém mais forte do que ele. Talvez os seus concidadãos
lhe chamassem cobarde e o considerassem insensível ou talvez lhe perguntassem
que outro plano via ele para deter Aquiles, mas é indubitável que Heitor tem a
possibilidade de se recusar a ser herói. Por muita pressão que os restantes
exercessem sobre ele, ele teria sempre maneira de escapar daquilo que se supõe
que deve fazer: não está programado a ser herói, nem o está seja que homem
for. Daí que o seu gesto tenha mérito e que Homero nos conte a sua história com
uma emoção épica. Ao contrário das térmitas, dizemos que Heitor é livre, e por
isso admiramos a sua coragem.”
• É o livre-arbítrio, a possibilidade de escolha a que Heitor está sujeito, que
determina a sua honra, coragem, dignidade, heroísmo.
Determinismo Radical
Libertismo
Nota:
Para um determinista moderado, o contrário de livre é
coagido (forçado);
Para um determinista radical, as causas constrangem
necessariamente o comportamento, remetendo-o para
um único futuro possível. Mas para um determinista
moderado, as causas condicionam a conduta, deixando
em aberto uma multiplicidade de futuros possíveis.
Os valores são qualidades potenciais que resultam da apreciação que um indivíduo ou
sociedade faz acerca de um objeto, de uma ação ou de um ser real ou ideal, em função da
presença ou ausência de algo que é desejável ou digno de estima. Enquanto um juízo de
facto é objetivo, reconhecendo uma realidade, um juízo de valor é subjetivo, podendo
colocar-se em causa e, por consequência, dar aso a discussão/controvérsia.
Valorar é tomar uma posição. A partir do momento em que adotamos um valor, estamos
determinados a agir consoante o mesmo, tendo este uma importância-chave no caminho
que vamos traçando para nós próprios.
O Relativismo Cultural
• O relativismo defende que o certo e o errado são definidos por cada cultura, sendo os
valores relativos. Culturas diferentes têm códigos morais diferentes. Logo, nada está
objetivamente certo ou errado. No que diz respeito à ética, os padrões de sociedade
diferentes são tudo o que existe. Assim, nós não podemos considerar que certos
costumes estão errados, apenas por não estarmos familiarizados com eles.
• O relativismo, ao aceitar que todas as práticas culturais devem ser entendidas dentro
do contexto de cada cultura, dado que todas as culturas têm o mesmo valor, promove
a tolerância entre sociedades divergentes. No entanto, a tolerância nem sempre é
desejável, porque, por vezes, tolerar é aceitar aquilo que se podia condenar, é deixar
fazer aquilo que se poderia impedir ou combater = conduz à aprovação da
intolerância.
• A decisão do que é o certo e o errado para uma determinada cultura perece na maioria das pessoas que
pertencem a essa sociedade. Dado que, para que uma sociedade funcione, é necessário que se aceite as
decisões da maioria, o relativismo promove a coesão social. Ao mesmo tempo, conduz ao
conformismo: a maioria pode estar enganada.
A necessidade de uma filosofia moral
Ética Deontológica de Kant
A Moral surge assim como sendo “aquilo que uma determinada sociedade espera de cada
um e, daí, o modo como cada um deve agir nessa sociedade para que o seu comportamento
seja considerado bom”. A moral impõe, então, regras, é normativa e há tantas morais
quantas as tradições das várias culturas. Deste modo, há que distinguir moral de ética.
Sendo que a primeira diz respeito aos costumes, a Ética é, normalmente, entendida como
sendo a disciplina filosófica que trata dos fundamentos da Moral, do Bem (em-si) e, daí,
ser universal. Daí que quando agimos eticamente, devemos ser capazes de justificar e
recomendar a nossa ação – tendo em consideração as preferências gerais.
Segundo Kant, Se existe uma ciência de que o homem tenha necessidade é precisamente
aquela que lhe ensina a ocupar como deve ser o lugar que é atribuído na criação e de
que pode aprender o que é preciso para ser um homem.
O imperativo categórico
Fórmula da Universalidade: “Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao
mesmo tempo querer que ela se torne lei universal.” / “Age de tal modo que a máxima da
tua vontade possa valer sempre ao mesmo tempo como princípio de uma legislação
universal.” (A pergunta é “o que devo fazer?”; a resposta dita um princípio racional,
universalmente válido, absoluto, incondicional e necessário).
Fórmula da Humanidade: “Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua
pessoa como na pessoa de outrem, sempre e simultaneamente como fim e nunca como
meio.” - valorização das pessoas, opondo-se à sua instrumentalização.
• A finalidade da moralidade, por sua vez, é a autonomia: a opção pela lei racional e o
exercício da boa vontade (aquela que se deixa guiar unicamente pela razão, que é a
única coisa boa em si mesma). Enquanto seres racionais, os humanos procuram
exercer a sua autonomia de vontade ao pôr em prática ações próprias. São estas ações,
instigadas pela verdadeira autonomia, que lhes vão conferir dignidade. Resumindo, a
moralidade, cumulando na autonomia da nossa vontade em relação a fatores
extrínsecos, leva ao encontro da dignidade necessária para a nossa concretização
como pessoas. Simultaneamente, usando as pessoas como meios, em vez de fins,
estamos a negar-lhes a sua autonomia e, por consequência, a sua dignidade. Desta
forma, para sermos dignos temos, também, de reconhecer a
autonomia/dignidade/racionalidade dos que nos rodeiam. Ora, a moralidade que se
opõe à instrumentalização é a única condição que pode fazer de um ser racional um
fim em si mesmo.
• Este indivíduo digno é tanto legislador como seguidor da sua lei moral. Ele dita e
respeita o conjunto das suas morais e, por isso, e não por medo ou inclinação, está
submetido ao mesmo. Agindo segundo as suas máximas, ele consagra-as como leis
universais – (...) a dignidade humana consiste precisamente nesta capacidade de ser
legislador universal, se bem que com a condição de estar ao mesmo tempo submetido
a essa mesma legislação.
Objeções a Kant
• Não resolve conflitos entre deveres morais, tratando a moralidade como absoluta;
• Desculpa a negligência bem-intencionada (consequências nefastas que possam surgir de uma ação boa);
• Ignora o papel dos sentimentos e emoções (exemplo: piedade, generosidade, ...).