Você está na página 1de 2

Alteraçao substancial dos factos na fase de instruçao: processo ou não.

processo ou não. A definição de alteração substancial dos factos é-nos dada pelo art 1º, f) CPP, que
estabelece que são aqueles que “tiver por efeito a imputação ao arguido de crime diverso ou
PRINCIPIO DA ACUSAÇÃO: agravação dos limites máximos das sanções aplicáveis”. Pelo contrário, uma alteração não substancial
dos factos é aquela que, embora represente uma novidade que altere o objeto do processo, não
Neste caso, temos de aplicar o princípio da acusação e temos de o associar ao facto de a acusação
implica a imputação de um crime diverso ou a agravação dos limites máximos das sanções aplicáveis.
delimitar e fixar o objeto do processo. O princípio da acusação está associado ao art 32º/5 CRP, que
(#) (que consequências é que isto vai ter?)
estabelece que o nosso processo penal tem uma estrutura essencialmente acusatória, sendo que essa
estrutura é uma garantia do processo. No nosso processo penal, distingue-se a entidade que acusa e a NOTA: Na situação de alteração não substancial dos factos descritos na acusação ou no requerimento
entidade que vai julgar. O MP é a autoridade judiciaria que vai dirigir o inquérito, é ele o responsável de abertura de instrução, vamos olhar para os números 1 e 2 do artigo 303º CPP. Que nos diz que, se
pela fase de investigação. Caso se trate de um crime publico ou semipúblico, vai ser ele a deduzir dos atos da instrução ou do debate instrutório resultar alteração não substancial dos factos, descritos
acusação também, se reunidos os indícios suficientes da prática do crime e de quem foi o seu agente. na acusação do MP ou do assistente ou no requerimento de abertura de instrução, o juiz de instrução
No caso dos crimes particulares em sentido estrito, é o assistente que deduz acusação (particular), criminal, oficiosamente ou a requerimento, vai comunicar a alteração ao defensor, interrogar o
nos termos do 285º CPP. Quem vai julgar é um tribunal, é ele que tem a competência atribuída pela arguido sobre ela e ainda conceder um prazo para o arguido preparar a sua defesa.
Lei para tal. Esta estrutura acusatória é uma garantia essencial do processo penal, na medida em que
é uma garantia da imparcialidade, da independência e da objetividade do processo. Isto porque Na situação de alteração substancial daqueles factos que conformam o objeto do processo, o juiz não
permite que o juízo que é feito na fase do julgamento seja um juízo despido de quaisquer poderá ter em conta este novo facto, o que significa que o juiz não vai pronunciar o arguido pelo novo
preconceitos que possam vir das fases preliminares. O juiz de instrução criminal vai ser diferente do facto. Segundo o 303º nº4 CPP, a comunicação da alteração substancial dos factos vale como
juiz de julgamento (40º b) cpp). No entanto, o princípio da acusação não é puro porque ele é mitigado denúncia se eles forem autonomizáveis. Quando ele for autonomizável em relação ao objeto do
pelo princípio da investigação, que vai ser levada a cabo pelo juiz. Ou seja, apesar de o juiz não ser, processo, o juiz deve comunicar esse facto ao MP e essa comunicação vai valer como uma denúncia,
por excelência, a entidade de investigação, tem um poder-dever de investigação autónoma dos factos. no sentido em que o MP, caso estejam reunidas as condições legais, vai poder proceder por esse
É um juiz ativo e não passivo, no sentido em que ele deve procurar, oficiosamente, por sua iniciativa, facto. Sendo que, ele é autonomizável quando puder ser separado dos factos que fazem parte do
esclarecer-se autonomamente quanto aos factos que lhe chegam. Nessa linha, o juiz pode ordenar a objeto do processo e, por si só, fundamentar uma incriminação autónoma. Ou seja, um facto é
prática de atos e diligências, a produção de novos meios de prova, com o objetivo de conseguir autonomizável quando podemos retirá-lo do objeto do processo e, com base nele, abrir um inquérito
aproximar-se da verdade material dos factos, que é uma das finalidades do processo penal (340nº1). novo (dar início a um outro processo penal). Por outro lado, se o facto for não autonomizável, ou
Contudo, como defende Figueiredo Dias, neste trabalho investigativo, ele vai estar sempre limitado. seja, se não o pudermos separar do objeto do processo e não pudermos, com base nele, fundamentar
Ou seja, a sua capacidade ou poderes de cognição vão estar circunscritos ao objeto do processo, ou uma incriminação, então, esse novo facto vai perder-se, vai ser totalmente ignorado. Não vai ser tido
seja, àqueles factos que constam da acusação (princípio da vinculação temática). No entanto, não é em conta pelo tribunal nem vai dar lugar à abertura de um novo inquérito. (#). Isto deve-se para
só a acusação que vai fixar o objeto do processo. O juiz de instrução vai estar vinculado ao objeto do assegurar uma defesa do arguido. Até àquele momento, ele não sabia. Não pode ser confrontado, do
processo, àqueles factos que estão fixados na acusação ou no requerimento de abertura de instrução. nada, com uma possível agravação que ele não estava à espera.
Já o juiz de julgamento, vai estar vinculado ao objeto do processo que é fixado na acusação OU no
despacho de pronúncia, no caso de ter havido fase de instrução. Os princípios da acusação e da NOTA: ALTERAÇÃO DA QUALIFICAÇÃO JURÍDICA:
vinculação temática, estão ainda, associados aos princípios da unidade, da identidade e o da
Quando falamos de alteração da qualificação jurídica, já não falamos de novos factos, não há aqui
consunção. O Princípio da identidade diz-nos que o objeto do processo deve manter-se o mesmo
factos novos a surgir, os factos são exatamente os mesmos, aqueles que já eram conhecidos de
desde o momento em que é fixado até ao trânsito em julgado da decisão. O Princípio da unidade diz-
antemão. Simplesmente vai alterar-se a sua qualificação jurídica. Ou seja, na alteração da qualificação
nos que o objeto do processo deve ser conhecido e deve ser julgado na sua totalidade, não podendo,
jurídica, os factos são exatamente os mesmos. Contudo, o MP qualifica-os de determinada maneira na
portanto, ser dividido. O juiz não pode escolher atender a determinados factos e, depois, escolher
acusação e o tribunal vai pegar nesses mesmos factos e dar-lhe uma roupagem um bocadinho
não atender a outros. Ele tem de olhar para todos eles. O Princípio da consunção diz-nos que, mesmo
diferente.
que o objeto do processo não tenha sido conhecido e julgado na sua totalidade, deve considerar-se
irrepetivelmente decidido. Portanto, se um facto que faz parte do objeto do processo não teve uma Esta figura vai ter um tratamento jurídico que está no 303º/5 CPP, se ocorrer na fase de instrução. Se
decisão a incidir sobre ele, considerar-se-á, na mesma, que ele foi analisado. Com estes princípios a alteração ocorrer durante a fase de julgamento, olhamos para o 358º/3 CPP. Ou seja, tanto num
garante-se a defesa do arguido e a imparcialidade, porque o arguido tem de saber do que é que tem caso como no outro, o tratamento que se vai dar à alteração da qualificação jurídica vai ser muito
de se defender. Não deve ser surpreendido por factos com que não estava a contar. (qual é o semelhante ao tratamento que se vai dar à alteração não substancial dos factos. O que quer dizer
tratamento que se deve dar a um novo facto?). Se durante a fase de instrução surgir um novo facto que o juiz vai atribuir ao arguido um tempo para preparar a sua defesa: vai comunicar-lhe a alteração
que não constava da acusação que foi deduzida, temos de atender ao artigo 303º CPP. Se fosse da qualificação jurídica e vai dar um prazo para preparar a sua defesa.
durante o julgamento, teríamos de atender aos artigos 358º e 359º CPP. Depois, temos de tentar
perceber se esse facto comporta uma alteração substancial dos factos que compõem o objeto do

Você também pode gostar