Você está na página 1de 18

Carisma?

Doutrina e prática carismática à luz da Bíblia


O Espírito Santo
Dons
Falar em línguas?
Cura?
Sonhos e visões?
Liderança
Louvor

[Quarta-capa]

Nas últimas décadas, fiéis e fundadores de igrejas ditas tradicionais têm se confrontado com várias
formas de movimentos carismáticos. Muitos não sabem o que fazer com essas tendências e
ensinamentos. Eles questionam: “E se vierem do Maligno, daquele que é mentiroso desde o princípio?
Não devemos ter cuidado com essas evoluções?”.

Ao mesmo tempo, muitos outros fiéis que creem no evangelho são atraídos por essas evoluções: curas
de terríveis doenças pela oração, falar miraculosamente em línguas estrangeiras ou estranhas, sonhos e
visões, libertações demoníacas, e assim por diante. Após tudo que experimentaram estando “mortos” no
cristianismo, descobrem que há algo aparentemente “vivo”, uma suposta demonstração da onipotência
de Deus. Afinal, tem-se uma prova de que nosso Deus é realmente poderoso — é o que se argumenta.

Mas o que a Bíblia diz?

Carisma?

Doutrina e prática carismática à luz da Bíblia

Erwin H. W. Luimes

É fundamental ler sempre com muito cuidado os textos bíblicos. Faça


isso depois de orar. E, após cada reflexão, agradeça a Deus pela
bênção que Ele quer lhe dar por meio de Sua palavra.

ÍNDICE

Prefácio
O Espírito Santo
Qual a prova de que alguém recebeu o Espírito de Deus?
Com que propósito o Espírito Santo habita o fiel e a Igreja?
Falar em línguas — o que é isso?
O falar em línguas nos tempos bíblicos
Por que o dom de línguas foi concedido?
Os dons foram todos destinados para todas as épocas?
Sonhos, aparições e visões
Outros fenômenos:
O dom de cura
Salvo, mas possuído?
Caindo “no Espírito”

PREFÁCIO

Nas últimas décadas, fiéis e fundadores de igrejas ditas tradicionais têm se confrontado com várias
formas de movimentos carismáticos. Muitos não sabem o que fazer com essas tendências e
ensinamentos. Eles questionam: “E se vierem do Maligno, daquele que é mentiroso desde o princípio?
Não devemos ter cuidado com essas evoluções?”.

Ao mesmo tempo, muitos outros crentes fiéis que creem no evangelho são atraídos por essas
evoluções: curas de terríveis doenças pela oração, falar miraculosamente em línguas estrangeiras ou
estranhas, sonhos e visões, libertações demoníacas, e assim por diante. Após tudo que experimentaram
estando “mortos” no cristianismo, descobrem que há algo aparentemente “vivo”, uma suposta
demonstração da onipotência de Deus. Afinal, tem-se uma “prova” de que nosso Deus é realmente
poderoso — é o que se argumenta.

Mas qual é a verdade?

A Bíblia é a Palavra de Deus. Esse livro, por si só, é a nossa autoridade para esclarecer as dúvidas com
relação à fé. Isso significa que a nossa preocupação agora não deve ser com o que muitos líderes
afirmam ou praticam, mas com esta questão: o que a Bíblia diz? A razão disso é que esse livro único é
inspirado pelo Espírito Santo. O próprio Espírito Santo nos deu a Palavra de Deus, na qual está
registrada a verdade a respeito dEle mesmo e dos dons.

Com isso, queremos dar um aviso: em muitas igrejas protestantes, até mesmo nas carismáticas, tem
aumentado o uso das traduções parafraseadas da Bíblia. De fato, essas traduções facilitam a
compreensão do texto bíblico ao povo leigo, mais do que certas traduções literais. No entanto, ao
parafrasear um texto, o tradutor sempre expressa pensamentos próprios, em detrimento da verdade de
Deus. Além disso, vários pontos são atenuados, o que pode induzir a conclusões errôneas por parte de
alguns leitores. Por isso, não recomendamos as traduções parafraseadas. O poder da bênção da
Palavra de Deus é neutralizado dessa forma. Por esse motivo, estamos usando a versão Almeida,
Edição Corrigida e Revisada Fiel ao Texto Original, da Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil (SBTB),
por se tratar de uma versão autêntica, não parafraseada.

Desejamos as riquezas das bênçãos do Senhor a todos os lerem esta obra.

1 - O ESPÍRITO SANTO

Quem é o Espírito Santo?


Em Hebreus 9:14, o Espírito de Deus é chamado “Espírito eterno” — e só Deus é eterno. O Espírito de
Deus possui força e amor (Rm 15:13,30). Ele é uma pessoa que pensa, julga e intercede por nós (Rm
8:26-27). Ele perscruta, conhece, instrui e convence (1Co 2:10-11; Ne 9:20; Jo 16:8,13). Ele tem vontade
própria e soberana (1Co 12:10-11; At 13:2). Ele vive no crente individual (1Co 6:19) e na Igreja como um
todo (1Co 3:16, Ef 2:22). Ele pode ser entristecido (Ef 4:30; Is 63:10) e insultado (Hb 10:29). Sua eficácia
pode ser anulada (1Ts 5:19), e você pode mentir para Ele (At 5:3).

O Senhor Jesus Se refere a Ele como uma pessoa (ver, por exemplo, Jo 14:16,17,26). A Bíblia confirma,
em Atos 5:3-4, que o Espírito Santo é Deus, e em várias passagens, como já mencionado, Ele está
intimamente ligado a Deus Pai e a Deus Filho. Portanto, a conclusão é clara: o Espírito Santo é Deus e,
portanto, uma Pessoa divina em igualdade de posição com o Pai e o Filho. Ele não é um espírito
subordinado nem uma simples influência ou uma força indistinta — embora, é claro, Ele tenha todo o
poder, porque é Deus!

As Escrituras Sagradas declaram que há um só Deus (1Tm 2:5), mas Deus é revelado em três pessoas:
Pai, Filho e Espírito Santo. Embora o termo “Trindade” não seja encontrado na Bíblia, várias passagens
confirmam que Deus é três em um. Existe apenas um Deus, revelado em três pessoas: o Pai, Filho e
Espírito Santo (Mt 28:19; 2Co 13:14; 1Co 12:4-6; Ef 4:4-6; Gn 1:26; Pv 30:4; Is 9:6; Mq 5:2 etc.). Não é
uma verdade que pode ser compreendida com o intelecto humano: nós a aceitamos pela fé. Quem não
aceita essa verdade está negando a base da fé cristã e, de acordo com a Bíblia, adotando uma falsa
doutrina (2Jo 8-11).

O que o Espírito Santo faz? Qual o Seu trabalho?

Sua descida a este mundo, registrada em Atos 2, cumpriu uma meta especial e bem definida. De fato,
Ele veio trazer duas coisas: o louvor ao Pai (Jo 4:23-24) e a glória do Filho (Jo 16:14). Ela faz isso
principalmente quando leva os infiéis a crer em Cristo (ver também Jo 16:8-11) e subsequentemente
promove o crescimento dos fiéis e da Igreja como um todo.

E como Ele promove esse crescimento? Ao apresentar a Palavra de Deus ao ser humano por meio dos
dons que concede à Igreja para essa finalidade.

Um ponto fundamental a se ressaltar é que o Espírito Santo não veio ao mundo para glorificar a Si
mesmo ou aos Seus dons, menos ainda para honrar pessoas ou “igrejas” que julgam possuí-los ou se
orgulham deles — discutiremos isso com mais detalhes mais adiante.

2 - QUAL A PROVA DE QUE ALGUÉM RECEBEU O ESPÍRITO DE DEUS?

A Bíblia denomina como salvo qualquer um que tenha ouvido e acreditado na mensagem do evangelho
da salvação pela fé no Senhor Jesus (At 16:31). Tal pessoa se torna também filho de Deus (Jo 1:12),
porque nasceu de novo pelo poder do Espírito de Deus (Jo 3:5-7). O Espírito Santo passa a habitá-la.

Ele é uma Pessoa divina e santa, mas pela graça de Deus habita os verdadeiros crentes na atual
dispensação (por exemplo: Jo14.16-17; 1Co 6.19). Isso é diferente de tudo que vemos em qualquer
outra dispensação. Por isso devemos ser agradecidos. O Espírito Santo deve ter toda liberdade para
governar, guiar e encorajar os nossos caminhos espirituais, embora Ele nunca nos imponha a Sua
vontade. Contudo, se agirmos contra a Sua vontade e a Sua liderança, Ele se entristecerá e
permanecerá em silêncio (Ef 4:30; 1Ts 5:19).

Em Gálatas, lemos que Deus concede o Seu Espírito e opera em nós com base na pregação da fé, não
das obras (Gl 3:5). A obra do Espírito Santo em nós é consequência de nossa fé no evangelho (Ef 1:13).
O Espírito induz o incrédulo a uma vida espiritual e vem habitar nele. Isso significa que Deus não nos dá
o Espírito Santo por sermos de alguma forma fiéis ou porque somos cristãos espirituais. Nós o
recebemos somente pela fé — a mesma fé pela qual somos salvos e nos tornamos filhos de Deus; a
mesma fé que o Espírito de Deus derrama em nós quando nascemos de novo “da água e do Espírito”
(Jo 3:5).

É claro que Deus não precisa de nenhuma prova disso. Ele conhece perfeitamente o interior de cada
um. Contudo, a prova dessa condição aos nossos olhos, humanos que somos (pois não conhecemos os
corações), é que cada pessoa confesse que Jesus Cristo é o Senhor (1Jo 1:6-10; Rm 10:9).

Ainda assim, não é o suficiente, porque sabemos que é fácil falar, e muitas religiões proclamam Jesus
como Senhor — quase sempre algo aprendido no catecismo ou na escola dominical. Todavia, nem
sempre é o que se demonstra. Por isso, a Palavra de Deus proporciona um segundo critério: o fruto do
Espírito deve ser visível em nossas vidas (Gl 5:22ss; Mt 12:33ss).

Afinal, reconhecemos a árvore pelo fruto. O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos
filhos de Deus (Rm 8:16). E isso deve ser visível em todas as áreas de nossa vida. Uma vez que
continuamos a viver neste mundo, não estamos livres de nossa fraqueza: caímos aqui e ali por não
prestar atenção à Palavra de nosso Pai celestial. Ainda assim, se a nossa vida não muda após a
conversão, se nos comportamos do mesmo jeito que antes e agimos como qualquer mundano, alguma
coisa está errada. Considere o fato de os crentes de Tessalônica mudaram radicalmente de atitude: eles
se afastaram dos ídolos para adorar a Deus! Passaram a servir apenas ao Deus vivo, e agora
aguardavam o retorno do Filho dos céus (1Ts 1:8-10).

Por favor, lembre-se: não é pelo fato de eu possuir um dom (ou alegar possuí-lo) que irei convencer as
pessoas ao redor de que nasci de novo. Um simples dom não é prova de que tenho o Espírito de Deus.
Não se esqueça de que o Diabo tem a capacidade de imitar os dons de um pastor, mestre ou
evangelista. Ele também pode falar em línguas e profetizar, e assim por diante. Afinal, desde a sua
queda ele finge ser um anjo de luz (2Co 11:14). Ele imita as obras de Deus. Por exemplo, praticou isso
no decorrer do livro de Atos (leia At 8:9; 19:13).

Mesmo hoje, no mundo moderno, ouve-se nos púlpitos exposições maravilhosas de passagens do
evangelho ministradas por homens blasfemos. Lembro-me de um clérigo liberal que pregou no funeral
de uma vizinha. Ela aceitara a fé em seu leito de morte — um testemunho maravilhoso! Aquele clérigo,
porém, só proclamou o evangelho porque foi o último desejo daquela mulher. Grandes pensadores se
proclamavam cristãos e arrastaram muita gente com eles, mas depois de um tempo se revelaram falsos
profetas. Em Judas 13, pessoas desse tipo são chamadas “estrelas errantes” porque não só se
extraviam, como também induzem os outros a seguir um caminho errado. Falsos profetas sempre
existiram, e nem sempre é possível distingui-los dos verdadeiros servos de Deus, mesmo para o fiel
sincero. Enfim, esses “profetas” citam a Bíblia, invocam a Deus e ao Espírito Santo e operam com o
“poder do alto” (mas qual poder do alto seria esse de fato?). Na África, os bruxos falam em línguas no
êxtase de seus encantamentos. E você acha que o Diabo só pode fazer isso na África?

Quando alguém se converte, pela graça ele recebe o perdão dos pecados. Deus oferece o perdão por
meio de Seu Filho. O convertido nasce de novo não por vontade humana, mas pelo Espírito de Deus (Jo
3:5), e então pode se dirigir livremente a Deus como seu Pai (Rm 8:15). O Espírito Santo habita o seu
corpo, que se torna templo do Espírito Santo. O Senhor Jesus declara que o Espírito Santo permanece
em tal pessoa para sempre (Jo 14:16; 1Jo 2:27).

Deus não concede o Espírito a uma pessoa que pratica boas obras, mas não tem fé no Senhor.
Tampouco revela o Seu poder por aquela razão: Ele o faz com base na fé salvadora no Senhor Jesus.
Gálatas 3:5 deixa isso bem claro.

O selo do Espírito Santo

Quando alguém se converte, ele é selado pelo Espírito Santo. O Selo é como um carimbo, uma
impressão que revela ser a pessoa propriedade de Deus. Mas o selo é mais que um simples carimbo. O
carimbo pode ser apagado, enquanto o selo não pode ser rompido. Quando as autoridades fiscais ou
policiais selam um escritório ou uma casa, ninguém tem o direito de entrar ali. Da mesma forma, o
Espírito Santo é um selo para o fiel. Sua habitação no fiel garante que ele é salvo para sempre e
propriedade do Senhor Jesus por toda a eternidade. Só alguém mais forte que Deus seria capaz de
mudar isso — e não existe tal pessoa (leia Ef 1:13; 4:30; Jo 10:28).

A unção com o Espírito Santo

Cada pessoa que se converte, crê no evangelho da salvação e deposita a sua confiança no Senhor
Jesus recebe o Espírito Santo. O Espírito de Deus vem morar nela. Mas a Palavra de Deus revela que
também somos ungidos com o Espírito Santo (2Co 1:21; 1Jo 2:20-27). Esse é outro aspecto do mesmo
fato. A unção enfatiza que o Espírito de Deus é concedido a nós por sermos os eleitos de Deus e porque
o Seu Espírito está agora nos conduzindo a uma verdade completa, muito abrangente. Quem é nascido
de Deus, de acordo com 1João 2:20, já “tem conhecimento” de todas as coisas. Essa é consequência de
nossa posição em Cristo. É a capacitação que recebemos, em princípio, para saber tudo de que
precisamos com a ajuda do Espírito Santo e sem a necessidade de uma “nova luz” oferecida por falsos
mestres, como alerta o apóstolo João. É a capacidade que possuímos, embora ainda tenhamos de
aprender muita coisa na prática.

Batismo com o Espírito Santo


No dia que foi selado com o Espírito Santo (Ef 1:13), o crente é introduzido na Igreja, o Corpo de Cristo,
a qual já existe há vinte séculos. A Igreja foi estabelecida no dia de Pentecostes (At 2), o momento em
que os salvos foram batizados com o Espírito para formar um novo Corpo, uma entidade e unidade até
então desconhecida e à qual subsequentemente os crentes têm sido agregados. Essa é a única
passagem na Bíblia que tem conexão com o batismo no Espírito (Mt 3:11; At 1:5,8; 11:16; 1Co 12:13).
Algumas pessoas gostariam de ser batizadas “com o Espírito Santo, e com fogo”, mas não entendem
que estão pedindo simplesmente o impossível. Em Mateus 3:11-12, que faz menção ao assunto, está
explicado o que é o batismo com o Espírito Santo para os que creem. Da mesma forma, Atos 1 registra
que em poucos dias os discípulos seriam batizados apenas com o Espírito Santo, mas não com fogo!

Por quê? Porque o batismo com fogo indica algo terrível: submersão no fogo do juízo divino. Cada
árvore que não der fruto (cada pessoa que não vive para a glória de Deus por não ter vida divina) será
ceifada e lançada no fogo eterno, reservado para os que rejeitam a Deus. Portanto, jamais uma pessoa
poderá receber o batismo com Espírito Santo e com fogo. Você não pode receber o Espírito de Deus e
ao mesmo tempo ser lançado no fogo eterno. É por isso que a expressão “batizar com fogo” nunca é
usada com referência aos crentes verdadeiros (ou: salvos).
Entretanto, isso não é tudo: em parte alguma da Bíblia você encontrará um texto em que se recomende
aos fiéis que orem para receber o Espírito Santo ou serem batizados com o Espírito Santo. Só em Lucas
11:13 encontramos uma passagem na qual o Senhor Jesus diz aos Seus doze discípulos (os apóstolos),
em resposta a uma pergunta deles, que o Pai lhes daria o Espírito Santo. Essa promessa se cumpriu em
Atos 1 e 2. Depois que o Senhor Jesus ascendeu ao céu, os discípulos se reuniram num quarto para
orar, enquanto aguardavam a vinda do Consolador, que é o Espírito Santo. As orações deles foram
atendidas e a promessa foi cumprida quando, alguns dias depois, o Espírito Santo desceu sobre eles (At
2). O Senhor Jesus veio à terra uma única vez, não de tempos em tempos. Da mesma forma, o Espírito
Santo veio a este mundo uma única vez, e continuará a viver aqui — na Igreja, até que ela seja levada
para a glória. Na Bíblia, é chamado “batismo com o Espírito Santo” esse único “derramamento” sobre
aquele grupo de fiéis.

Em parte alguma da Bíblia você encontrará uma referência ao batismo com o Espírito Santo para o
crente individualmente. Você não achará um único fiel dos tempos bíblicos que tenha orado para receber
o batismo com o Espírito de Deus. Tampouco lerá que a Igreja estivesse orando por isso.

Se a sua experiência e as suas emoções lhe mostram algo mais, você deve simplesmente desconfiar de
sua experiência, porque a Bíblia é a autoridade final para os filhos de Deus. Do contrário, você corre o
risco de ser enganado por suas emoções, através das quais Satanás costuma trabalhar, e assim
acreditar em algo que contradiz a Palavra de Deus.

Negativo: entristecer ou mesmo apagar o Espírito Santo


Quando o crente pecar, o Espírito Santo não é retirado dele. 1 Mas o Espírito de Deus se entristece (Ef
4:30). Se o crente continua a ignorar os avisos e admoestações do Espírito por meio da consciência e da
Palavra de Deus, a atividade do Espírito Santo nesse salvo (ou coletivamente, na vida de um
1
Passagens bíblicas como João 14:16 e 1João 2:27 demonstram que o Espírito Santo permanece no
crente para sempre. O caso de Davi, em Salmos 51:11, é muito diferente. Para começar, Davi era um
israelita, que vivia sob a Lei, muito antes do dia de Pentecostes (At 2) e também antes de o Espírito
Santo ser enviado aos fiéis deste mundo. No tempo do Antigo Testamento, o Espírito Santo agia na
terra, mas não vivia aqui. Não habitava pessoas ou grupos. Portanto, Ele não era conhecido como uma
Pessoa divina (o caráter triúno de Deus só seria revelado no Novo Testamento). Isso significa que a frase
“não retires de mim teu espírito de Santidade” seria uma tradução muito mais precisa do que “não
retires de mim o teu Espírito Santo”. O apóstolo João afirma que o Espírito Santo estava com os fiéis do
Antigo Testamento, mas habitava neles (de At 2 em diante, como explicado).
testemunho local da Igreja) é apagada (1Ts 5:19). Essa condição se manterá até que ele se confesse e
possa desfrutar outra vez a comunhão com o Pai e com o Filho.

Positivo: ser cheio do Espírito Santo

Quando o Espírito Santo tem a oportunidade de nos conduzir e orientar, Ele nos guiará à plena verdade
(Jo 16:13). Seremos cheios do Espírito Santo (Ef 5:18), e essa condição se tornará evidente. Todavia, as
Suas orientações não serão obtidas por meio de êxtase, como se vê no hinduísmo e em outras religiões
pagãs, em que a pessoa é possuída por forças ocultas superiores. Não, somos orientados por meio da
comunhão com Deus, de uma vida de oração, adoração e ação de graças, em que, na condição de fiéis,
encorajamos uns aos outros a seguir a Deus com fidelidade (Ef 5:18-21; Cl 3:16-17).

3 - COM QUE PROPÓSITO O ESPÍRITO SANTO HABITA O FIEL E A IGREJA?

Ser habitado pelo Espírito Santo é uma bênção única e especial concedida apenas aos crentes da
presente era e desconhecida nos tempos anteriores ao Pentecostes. Embora o Espírito Santo desde o
princípio agisse nas almas com algum propósito especial ou numa missão específica, Ele só veio a
habitar o crente e a Igreja como um todo no dia de Pentecostes, de Atos 2 em diante (veja, por exemplo,
Jo 7:39; At 1:5; 1Co 3:16; 6:19; 2Co 1:21-22).

Como já vimos, Ele veio nos ensinar como adorar o Pai e glorificar o Filho. O Espírito Santo não glorifica
a Si mesmo e com certeza não veio para a glória de pessoa alguma, por mais ungida que possa parecer
ou pelos dons impressionantes que venha a exercer aos olhos do povo (Jo 4:23-24; 16:13-14)!

É por isso que os cânticos cristãos e as ações de graças a que o Espírito conduz assim como à
adoração dos crentes, jamais devem ser repetições superficiais de frases sem substância nem
acompanhada de música rítmica ou extática, como é habitual entre os pagãos desde as primeiras
gerações de Caim (Gn 4). Palavras que sejam ou pareçam cristãs acompanhadas dessa maneira
constituem misturas de cristianismo e paganismo — características da Babilônia, a “grande prostituta” de
Apocalipse 17.

Quase nenhuma profundidade é vista na maioria das canções cristãs contemporâneas, que não refletem
a abundância dos tesouros da sabedoria e do conhecimento que estão escondidos em Cristo. Elas
tendem a ser semelhantes aos mantras do hinduísmo e de outras formas de paganismo e parecem
encontrar espaço também em certas canções evangélicas.

Não, a adoração cristã é espiritual, algo que penetra o nosso espírito através do Espírito de Deus, por
meio da reflexão sobre a glória da Pessoa e da Palavra de Cristo. A genuína adoração é expressa de
maneira espiritual, não com pompa e aparência exterio ou com características que apelam para a carne.
Não se entra na esfera da adoração e do louvor verdadeiro por meio de palmas, de instrumentos de
percussão ou de danças, que têm o propósito de nos levar ao êxtase e à perda do controle de nós
mesmos, como ocorre em certos círculos de autoproclamados adoradores. Não, o Espírito Santo nos
conduz a uma vida sóbria de justiça e piedade (Tt 2:12), e isso se aplica ao nosso louvor também. Pode
parecer solene ou racional demais, porém esse é o louvor que vem do fundo de nosso coração,
orientado pelo Espírito Santo.
Esse louvor consiste em falar abertamente com o nosso Salvador, Jesus Cristo, e o Pai no céu, a fim de
glorificá-Lo por Seu grande amor e por Sua majestade.

Não se deixe levar por repetições vãs, de pouca substância, como fazem os pagãos. A Palavra de Deus
nos alerta sobre isso em Mateus 6:7 e Eclesiastes 5:2. Alguns crentes costumam orar ou cantar
repetidas vezes a mesma frase ou pergunta. Eles cantam dezenas de vezes: “Jesus nos salvou”. Ou
então oram incessantemente: “Faça isto, Senhor!”. Essas repetições intermináveis estão muito longe de
ser adoração ou louvor de verdade!

Sejamos realistas: é assim que falamos com o nosso pai ou com a nossa mãe? Eles por certo iriam
considerar tal atitude uma falta de respeito ou falta de confiança. Muito menos deve um filho Deus se
dirigir a Ele de maneira irrefletida e repetitiva!

Lembre-se: quando uma pessoa é exaltada por causa dos dons que possui, ainda que seja um vigário,
pastor ou sacerdote ou mesmo uma igreja inteira; quando a autoridade é exercida por pessoas e tudo
está centrado nelas; quando nada pode ser feito sem o consentimento de alguém, qualquer que seja o
seu cargo (3Jo 9-10), está claro que não se trata de uma obra do Espírito de Deus, porque Ele não veio
à terra para glorificar as pessoas.

4 - FALAR EM LÍNGUAS: O QUE É ISSO?

No livro de Atos, numa situação especial e bem definida, alguns crentes falaram em línguas já existentes
na presença de vários judeus (At 2:10,19). Esse fato aconteceu numa ocasião em que pela primeira vez
pessoas oriundas de diferentes lugares se arrependeram e creram no Senhor Jesus. Entre aqueles
judeus, havia também gentios e um grupo de Éfeso formado por discípulos de João Batista. Foi quando
começou a se cumprir uma das profecias do Antigo Testamento registrada em Isaías 28:11.

Em primeiro lugar, lemos em Atos 2 que os crentes judeus foram batizados num só Espírito, num só
Corpo e numa só Igreja (1Co 12:13). Assim, salvos de um povo diferente, os samaritanos, se juntaram a
eles (At 8), seguidos por crentes gentios (Cornélio e sua casa, At 10) e pelos discípulos de João Batista
(At 19). O Espírito Santo confirma que os três últimos grupos não formaram comunidades próprias ou
igrejas independentes da Igreja única já formada em Jerusalém. Não, a intenção era permanecer na
Igreja universal de Deus. Portanto, foi algo único e coletivo, excepcional para a época.

Em segundo lugar, não há prova alguma nem motivo para se pensar que os crentes de Atos sempre
falavam diversos idiomas (ou em línguas) como prova de que eram convertidos ou de que receberam o
Espírito Santo. Onde lemos algo a respeito daquelas 3 mil almas que foram juntadas à Igreja em Atos 2?
Ou em relação a Barnabé, Filipe, Estêvão, o eunuco da Etiópia, a igreja ou os fiéis em Samaria,
Antioquia, Antioquia de Pisídia, Icônio, Listra, Derbe, Tessalônica, Atenas, e assim por diante?
Definitivamente não! Nem uma vez sequer, em lugar algum.

Só na Primeira Epístola aos Coríntios é que Paulo faz referência ao assunto outra vez. Nos demais
casos (em torno de trinta igrejas locais mencionadas no Novo Testamento), nenhuma palavra é
mencionada sobre o tema (considere as demais epístolas dos apóstolos Paulo, Judas, Pedro, Tiago e
João e as sete cartas de Ap 2 e 3). Isso deve ser mais que suficiente para entender que é equivocada a
ideia de que quem recebe o Espírito Santo tem a necessidade de falar outros idiomas, pois, “falam todos
diversas línguas?” (1Co 12:30). Ou será que deveríamos orar por uma espécie de segunda conversão,
uma experiência sobrenatural que de repente nos faça falar em línguas, sem que saibamos como.
Seguramente, isso não aconteceu nem mesmo no tempo do Novo Testamento.

O falar em línguas é prova de que o Espírito de Deus habita em mim?

A prova de que alguém recebeu o Espírito Santo nunca foi o fato de ele falar em línguas, até porque,
mesmo no Novo Testamento, só umas poucas pessoas tiveram esse dom (1Co 12:29-30; 13:8, 14:27
etc.). Assim, continuemos com o que já vimos na Bíblia: a prova de que alguém é salvo e de que o
Espírito de Deus vive nele (1Co 6:19) é a confissão da própria pessoa (Rm 10:9, ver também 1Jo 1:6-10
etc.) inevitavelmente acompanhada pela demonstração do fruto do Espírito em sua vida (Gl 5:22; Mt
12:33).

Portanto, cuidado com a aplicação da Palavra de Deus a favor de sua experiência!

5 - O FALAR EM LÍNGUAS NOS TEMPOS BÍBLICOS

O fato de alguém ter um dom ou fingir possuí-lo não é prova de que ele tenha o Espírito de Deus (por
exemplo, ver At 8:9; 19:13). Todos os dons concedidos por Deus como sinal a alguns crentes — como
falar em línguas e operar milagres — também foram realizados por feiticeiros pagãos no passado e o
são ainda hoje. Considere alguns dos milagres que os feiticeiros do faraó realizaram em Êxodo 7 e 8. O
Diabo pode imitar muito, só não pode dar a vida.

Portanto, na Bíblia, nenhum dom é concedido como característica pela qual se reconhece um crente ou
como algo que assegure que a pessoa recebeu o Espírito de Deus. Nem mesmo o falar em línguas!

É claro que muitas pessoas fazem perguntas sobre esse assunto. É natural e, de fato, uma coisa boa,
porque esses questionamentos devem sempre nos levar a abrirmos a Palavra de Deus para considerar o
caso de acordo com o pensamento de Deus.

Como aconteceu o falar em línguas nos tempos bíblicos?

A Bíblia é a Palavra de Deus. Portanto, ela é o nosso guia, a nossa regra de vida, o nosso “livro de
cabeceira”, o qual por si mesmo — sob a unção do Espírito Santo — pode nos esclarecer os
pensamentos de Deus. Não há outro livro ou escritor que possa substituí-lo. A Bíblia também nos ensina
com clareza o que é o falar em línguas. As Escrituras Sagradas dizem o seguinte:

 Falar em línguas é um dom da graça concedido, como qualquer outro dom, ao crente
por Deus, por meio do Espírito Santo, conforme a Sua vontade. Esse dom foi concedido a quem
Ele quis e como Ele quis (1Co 12:11,18). Assim, não é algo que possa ser solicitado ou obtido
por esforço humano (1Co 12:4-5). Devemos procurar com zelo os dons superiores (1Co 12:31),
mas o falar em línguas definitivamente não está entre eles. Além disso, essa tarefa significa que
devemos nos esforçar para servir e edificar a igreja reunida sempre que possível, pela Palavra
de Deus (veja o propósito da profecia, 1Co 14:3) — e o falar em línguas não consta dessa
proposta.
 Nem todo fiel tinha o dom de falar em línguas (1Co 12:28ss), embora todos tivessem
recebido o Espírito de Deus (1Co 6:19).
 Nas reuniões da igreja, o dom de línguas só era praticado quando havia alguém para
interpretar (1Co 14:27), caso houvesse alguém presente que não falasse a língua local.
 Além disso, nessas reuniões o dom era praticado por dois ou três irmãos, no máximo
(1Co 14:27).
 Esses irmãos falavam um após o outro, não ao mesmo tempo (1Co 14:27). Trata-se de
uma regra geral para qualquer tipo de serviço ou oração na igreja! O costume moderno de orar
em voz alta, todos ao mesmo tempo, é um desvio do plano estabelecido nas Escrituras.
 O falar em línguas é indicado pelo próprio Deus como um dos menores dons. Na
verdade, é o menor de todos os dons, o último e mais insignificante (ver 1Co 12:28-31;
14:1,39). Quando precisou, o apóstolo Paulo usou esse dom em suas viagens por terras
estrangeiras. Mas os fiéis eram incentivados a se expressar pelos dons superiores da graça,
em particular o dom da profecia. Profecia significa comunicar a Palavra de Deus com o objetivo
de edificar e encorajar os demais, isto é, a igreja (1Co 14:3).
 Sem alguém para interpretar, o falar em línguas edificava apenas a pessoa que falava
(1Co 14:2). Contudo, a edificação e o encorajamento de todos os que faziam parte da igreja
deviam ser buscados e alcançados. Por isso, era preferível que se falassem cinco palavras
compreensíveis a todos que 10 mil em línguas estrangeiras. É que o apóstolo, inspirado pelo
Espírito de Deus, afirma em 1Coríntios 14:18-19.
 Era estritamente proibido às mulheres exercitar esses dons ou desempenhar qualquer
outro serviço durante as reuniões da igreja, e essa proibição incluía orar em voz alta ou
testemunhar (ver 1Co 14:34-37; compare com 1Tm 2:11-12).
 O falar em línguas estava sempre relacionado com os idiomas vigentes e existentes (At
2:11). Pronunciar sons incompreensíveis e chamar a isso “falar em línguas” não é bíblico, não
faz sentido e constitui uma falácia insana.
 O dom de línguas tampouco está relacionado com a língua dos anjos, como alguns
tentam provar com base num apelo equivocado a 1Coríntios 13:1. Esse texto é uma referência
hipotética ao orgulho de alguns coríntios que se consideravam superiores aos demais pelo fato
de falar em línguas e se diziam mais espirituais sob a alegação de que o seu dom não
configurava linguagem humana.
6 - POR QUE O DOM DE LÍNGUAS FOI CONCEDIDO?

O dom de línguas foi dado como sinal para “este povo” — não a qualquer povo, nação ou tribo, mas para
um povo específico: Israel. Afinal, esse povo não quis escutar a Deus, a despeito de todos os profetas
que Ele enviou. Ainda assim, após a morte de Seu Filho, Ele fez uma última tentativa de quebrar o
orgulho deles: foi quando se dirigiu aos gentios na língua deles, e isso na presença dos judeus. Dessa
maneira, Ele deixou claro que a Sua graça e o Seu favor não se limitavam mais a um único povo da terra
(leia 1Co 14:21-22; Is 28:11-12; Rm 10:19).

Por isso lemos que línguas divididas como que de fogo pousaram sobre os discípulos. O termo “línguas”
implica o falar. O fato de que as línguas se dividiram faz recordar a construção da torre de Babel,
ocasião em que o juízo de Deus veio sobre a humanidade, dividindo-a. Na verdade, essa primeira
experiência com as línguas em Atos 2 não foi uma bênção: mas um castigo (fato esse que o movimento
carismático parece ter esquecido). Quanto mais línguas são faladas, maior motivo há para relembrar do
juízo divino sobre o orgulho humano. É isso o que desejamos quando estamos reunidos como igreja?
Seria esse o objetivo dos dons? No céu, não haverá variedade de línguas ou de idiomas, e seguramente
não haverá línguas repartidas. Isso nos diz muita coisa sobre o valor desse dom, se pensarmos a
respeito. Além disso, as línguas foram repartidas como fogo, e nas Escrituras o fogo sempre representa
o juízo divino.

Mas então, de quê testifica esse dom? Era um sinal, uma prova manifesta de que Deus estava se
dirigindo às nações para salvá-las também. O que deu motivo para isto foi a decadência dos judeus.
Claro, eles estavam desapontados com o fato, pois, no geral, tinham orgulho de sua religião. No entanto,
haviam se tornado presunçosos e contentes com o fato de Deus, durante séculos, ter-se restringido
unicamente a eles (ver, por exemplo, Lc 20:16; At 13:46-50; 17:5,13; 18:12).

Por que esse dom, então, foi necessário? Essa é uma boa pergunta. Por que os apóstolos simplesmente
não aprenderam a língua dos gentios como se faz numa escola de idiomas? Bem, a razão é que Deus
sabia que pouco tempo depois os fiéis seriam expulsos de Jerusalém (At 8:1).

Em Atos 2, somos informados sobre o que era dito em outras línguas: eles falavam das maravilhas da
Palavra de Deus! Você não acha que as pessoas que os escutavam falar das grandezas de Deus, cada
uma em seu idioma, foram beneficiadas também pelo evangelho pregado por aqueles que estavam no
cenáculo? Foi por isso que Deus deu a eles, na ocasião, a capacidade de falar em línguas de maneira
milagrosa.

Nos dias de hoje, Deus pode, por exemplo, ajudar algum missionário que esteja aprendendo um idioma
numa escola ou numa vila pagã, mas sem a pressão especial do tempo, como ocorreu nos tempos dos
apóstolos. Não existe agora a necessidade de um dom sobrenatural.

Em Atos 2, judeus de vários países estavam na cidade santa de Jerusalém para celebrar o Pentecostes
e ficaram espantados quando ouviram os apóstolos falar nos idiomas pagãos dos países em que eles,
os visitantes, residiam, em alguns casos havia muitas gerações — por exemplo, em Corinto (hoje
Grécia), na Turquia, no Egito e na Líbia havia grandes assentamentos judaicos (ver v. 11).
Assim, uma vez que esse dom era um sinal para o povo judeu descrente, seria inútil falar em línguas nos
lugares em que não havia judeus para escutá-las ou para quem elas poderiam ser um sinal — e isso se
aplica ainda mais aos dias de hoje.

Mesmo em cidades como Corinto, havia grandes assentamentos judaicos com sinagogas. É por isso que
encontramos instruções rigorosas sobre o uso desse dom na Primeira Carta aos Coríntios. Os fiéis
daquela cidade estavam usando o dom de línguas de maneira equivocada: não estavam respeitando
absolutamente nada do que Deus recomenda sobre o assunto em 1Coríntios 12—14. De fato, essa é a
única passagem que menciona o uso do dom de línguas nas reuniões — e ao mesmo tempo havia
terríveis práticas imorais e não espirituais no meio deles. Isso demonstra mais uma vez que não há
relação alguma entre ser espiritual e falar em línguas.
Um detalhe importante: você não lerá coisa alguma sobre o falar em línguas na Segunda Carta aos
Coríntios, depois que eles se arrependeram, voltaram a se dedicar ao Senhor e outra vez deram mostras
de convicções espirituais.

7 - OS DONS FORAM TODOS DESTINADOS PARA TODAS AS ÉPOCAS?

Vários dons foram dados a certa época, com uma meta especial de confirmação da mensagem, a qual
os apóstolos e seus seguidores iam proclamando (leia e considere passagens como 1Co 13:8; Hb 2:3-4;
Mc 16:17-18; 2Co 12:12). Isso não é novidade. Ao mesmo tempo em que Deus é sempre o Deus vivo e
poderoso que opera milagres, no Antigo Testamento Ele concedeu sinais visíveis apenas a uns poucos
fiéis —por exemplo, Moisés e Elias. No entanto, homens de Deus como Abraão, Davi, Isaías e Jonas
jamais receberam um dom ou instruções para operar sinais. Eles tinham de convencer os incrédulos não
por meio de milagres, mas pela Palavra de Deus.

Para deixar bem claro: em nenhuma parte das Escrituras encontramos uma lista completa de todos os
dons concebíveis. Isso é compreensível. Afinal, havia diversas maneiras de edificar e encorajar os fiéis.
Os dons mencionados para a edificação dos santos, da igreja, estão listados em Efésios 4. Entre os
dons mencionados estão incluídos os apóstolos e profetas do período inicial, que já não mais estão entre
nós (exceto por seus escritos). Eles estabeleceram as bases da Igreja e depois morreram. Na verdade,
era um requisito que os apóstolos tivessem visto o Senhor Jesus aqui na terra (ver At 1:21-25).

Romanos 12:1-8 e 1Coríntios 12:4-11,27-31 também mencionam dons, uns temporários, outros perenes.

Por que precisamente o dom de falar em línguas tinha de confirmar a mensagem do evangelho? Muito
simples: a Palavra de Deus ainda não fora concluída. Mas desde os tempos dos apóstolos nenhuma
verdade nova tem sido revelada (Cl 1:25-26): a Bíblia encontrou a sua forma definitiva há dezenove
séculos. Antes disso, Deus confirmava a autoridade dos que pregavam o evangelho por meio de sinais
e maravilhas (Hb 2:3-4; 2Co 12:12), que eram sinais e provas do apostolado.

Entretanto, nos dias atuais, se um judeu (ou alguém de qualquer outra nacionalidade) quiser saber se o
que os cristãos proclamam é verdade, não é necessário que haja a cura de um enfermo, que outras
línguas sejam faladas ou que um morto ressuscite. Não, para tal pessoa é mais que suficiente que ela se
convença do pecado, da justiça e do juízo pela Palavra de Deus por meio do Espírito Santo e então
aceite a graça de Deus pela fé.

O judeu entenderá a mensagem mais facilmente se observar que a Bíblia já foi traduzida em diversos
idiomas e que Deus se dirige a todos os povos, sem distinção de língua, religião, raça, cultura ou gênero.
Deus quer salvar a todos por meio do Senhor Jesus Cristo.

Vale ressaltar que a Igreja era algo totalmente novo, uma obra de Deus não predita pelos profetas no
Antigo Testamento. Assim, a origem de sua autenticidade e divindade não podia ser provada pela Bíblia.
Por conseguinte, Deus operou milagres no dia do nascimento da Igreja para demonstrar que era obra de
Suas mãos. Obviamente, a necessidade de chamar a atenção para o novo início foi apenas para aquele
tempo.
8 - SONHOS, APARIÇÕES E VISÕES

A pergunta que muitos cristãos costumam fazer é esta: “Deus, nos dias atuais, ainda nos revela a Sua
vontade por meio de sonhos?”.

Baseado em um artigo de Christian Briem, com poucos acréscimos, gostaria de apresentar as seguintes
considerações:

No Novo Testamento, só o evangelista Mateus faz menção a sonhos e registra que Deus deu instruções
“em sonhos” (Mt 1:20; 2:12,19,22). Ele também diz que a esposa de Pilatos sofreu muito em sonhos por
causa do Senhor Jesus (27:19).

A ausência de sonhos após o derramamento do Espírito Santo é significativa: nos dias atuais, a era da
graça, Deus não quer nos guiar mais por sonhos, mas pelo Seu Espírito, que habita em nós (1Co 6:19;
1Jo 2:20; Jo 16:13-15). Além disso, temos a Bíblia, a Palavra de Deus completa e escrita, da qual nada
devemos retirar ou acrescentar (Cl 1:25-26; Ap 22:18-19). E Deus quer usar a Sua Palavra para nos fazer
conhecer a Sua vontade.

Quando se trata de reconhecer a vontade de Deus, a Bíblia é a autoridade definitiva. O Espírito Santo
nunca utiliza um método que conflite com a Bíblia, a Palavra de Deus. Por exemplo, não podemos dizer:
“O Espírito Santo está me conduzindo a fazer isto ou aquilo”, se tal ação não estiver de acordo com a
Bíblia. Deus revelou-Se a Si mesmo e todos os Seus pensamentos a nós em Sua Palavra. Ele deseja nos
orientar em nossa vida espiritual e moral e o faz implantando uma convicção em nosso interior. Ele quer
que a nossa vida esteja de acordo com o Seu ser.

Quando você é guiado por sonhos, falta esse aspecto interior. Você é conduzido por algo que vem de
fora, sem nenhuma consideração profunda sobre o que a Palavra de Deus diz a respeito do assunto. Isso
significa que os sonhos eram usados no passado somente antes de Deus Se revelar plenamente em
Cristo.

Nos primórdios, Deus falou muitas vezes de diferentes maneiras à humanidade por meio dos profetas (ver
Hb 1:1). Mas, nos tempos de hoje, Ele nos fala por meio de Cristo (v. 2). Ele é a Palavra de Deus que se
fez carne (humano). Da mesma forma, a Palavra escrita de Deus é suficiente para nos guiar e indicar o
caminho. Nosso Deus nos encoraja: “Instruir-te-ei, e ensinar-te-ei o caminho que deves seguir” (Sl 32:8).
Ele nos vigia e nos conduz, mas para isso devemos viver em comunhão com Ele. “Não sejais como o
cavalo, nem como a mula, que não têm entendimento, cuja boca precisa de cabresto e freio para que não
se cheguem a ti” (v. 9). Isso significa que não devemos assumir a atitude insana de procurar em sonhos e
visões a direção para a nossa vida. Em vez disso, devemos ter uma visão clara do Senhor Jesus, uma
vida de comunhão com Ele. Esse é o modo pelo qual Ele quer que nos guiemos!

Muitas vezes o livro de Jó é citado para justificar sonhos e visões: “Antes Deus fala uma e duas vezes;
porém ninguém atenta para isso. Em sonho ou em visão noturna, quando cai sono profundo sobre os
homens, e adormecem na cama. Então o revela ao ouvido dos homens, e lhes sela a sua instrução, Para
apartar o homem daquilo que faz, e esconder do homem a soberba. Para desviar a sua alma da cova, e a
sua vida de passar pela espada” (Jó 33:14-18). De fato, Deus falou de diversas maneiras no passado (Hb
1:1), com o objetivo de tirar o povo de seus maus caminhos. Mesmo nessa passagem de Jó, não é dito
que Deus falou em sonhos com os Seus filhos, mas, sim, com os incrédulos!

A passagem de Jó foi escrita muito antes de Atos 2 e, portanto, antes da vinda do Espírito Santo sobre a
terra para habitar nos fiéis e guiá-los, ou seja, antes que se completasse o tempo da Palavra de Deus e a
Bíblia toda fosse escrita.

Nos dias atuais, já não há revelação de novas verdades. E ai daquele que propaga falsas revelações,
como enfatiza Apocalipse 22:18-19, mesmo que alguém alegando ter recebido de Deus uma revelação
em sonho seja um crente!

Sem dúvida, acreditamos que Deus ainda opera milagres em nossos dias, particularmente em lugares
onde a Palavra de Deus ainda é desconhecida (por exemplo, no meio de tribos pagãs ou em regiões
islâmicas fechadas). Em tais lugares, Deus pode Se fazer conhecido por meio de visões às almas que
ainda não têm acesso à Bíblia ou mesmo a alguém cujo entendimento esteja endurecido.

Todavia, como cristãos nascidos de novo, podemos ser plenamente convencidos de que a Bíblia é o que
nos basta para conhecer o caminho que Deus quer que sigamos como indivíduo, como família ou como
igreja local. É certo que Deus deseja guiar os Seus filhos, passo a passo. Por isso também é certo que
Ele nos fala pela Sua Palavra e pelo Seu Espírito. Esta é a voz, dirigida a nós lá no íntimo, que nos
convence do caminho que devemos seguir: “Lâmpada para os meus pés é tua palavra, e luz para o meu
caminho” (Sl 119:105).
Muitos crentes verdadeiros (principalmente os mais velhos) já me relataram que em certo momento viram
o Senhor Jesus ou Deus em sonho ou que O ouviram claramente dizer algo a eles. Em princípio, não
rejeito a possibilidade de que o Senhor Jesus possa, nos dias de hoje, dar instruções ou avisos em
ocasiões excepcionais por meio de sonhos, porém devemos ser cautelosos com isso. Na maioria dos
casos, os sonhos são consequências naturais de impressões que absorvemos durante o dia em nossa
alma. Essas impressões são de alguma forma plantadas em nosso subconsciente e refletidas nos
sonhos. Isso não significa nada para nós crentes. Contudo, se você acredita que teve um sonho da parte
de Deus, veja a coisa por este lado: certifique-se de que ele jamais contradiga o que é manifesto na
Palavra inspirada de Deus.

É certo que o Novo Testamento dá testemunho de que vemos a Jesus (Hb 12:2-3; ver também 2Co 3:18;
Hb 2:9; 3:1). Contudo, isso diz respeito ao fato de vê-Lo pela fé. Não é o mesmo que contemplar a Jesus
fisicamente. Devemos lembrar que o Senhor glorificado não Se mostra dessa forma a ninguém, nem
mesmo em sonhos.

Por um breve momento, Estêvão e Paulo viram o Senhor Jesus em Sua glória, mas foi uma situação
diferente. Ainda assim, não foi em sonhos, mas algo real, físico.

Não devemos nos preocupar com o nosso subconsciente ou com o que sonhamos. Em vez disso,
ocupemo-nos das coisas que Deus já nos revelou em Sua Palavra, em especial a respeito do próprio
Senhor Jesus. O Diabo sempre tenta nos conduzir a algum caminho que nos afaste do Senhor Jesus e de
Sua Palavra, de modo que fiquemos envolvidos com questões duvidosas, as quais provocam
instabilidade interior. (A esse respeito, gostaria de alertar sobre o treinamento autógeno e práticas
semelhantes.)

O que são as aparições e visões? Elas são diferentes dos sonhos, por serem experiências conscientes,
como deixam claro os exemplos de Cornélio e de Pedro, em Atos 10 e 11. Pedro teve uma visão
enquanto caía em “transe” (At 10:10; 11:5), porém respondeu de forma consciente quando uma voz se
dirigiu a ele. Cornélio agiu imediatamente após o anjo ter desaparecido depois de falar com ele: enviou
emissários a Jope. Para aqueles homens de fé, o diálogo com o anjo teve pouca diferença de uma
conversa com qualquer pessoa. O apóstolo Paulo, também de forma consciente, teve experiências com o
anjo de Deus, ou mesmo com o próprio Senhor, que lhe fez companhia à noite. Em ambos os casos, o
apóstolo recebeu instruções importantes sobre a sua vida futura (At 27:23; 23:11). No caso de Paulo, a
palavra “visão” não é utilizada, mas sem dúvida foi o que ocorreu.

Quanto a mim, estou convencido de que tais visões, a princípio, ainda são possíveis hoje em dia.
Contudo, o aviso de que não devemos buscar tais coisas ainda se aplica: que a nossa atenção esteja
sempre voltada para o Senhor Jesus. Além disso, nestes tempos de tanta fraqueza espiritual, o Senhor
por certo não irá Se manifestar tantas vezes por meio de visões. Afinal, temos a Sua Palavra e o Seu
Espírito, e isso nos basta!

Hoje existem as chamadas igrejas e movimentos cristãos que dão muito destaque às visões e aparições
do Senhor (no movimento carismático, bem como nas igrejas Católica Romana e Ortodoxa). É preciso
analisar essas tendências à luz da Palavra de Deus, para saber se constituem manifestações espirituais
genuínas. Mas já podemos adiantar que estamos diante de algo nocivo, porque não vem de Deus. E a
prova honesta e simples desse fato é que nesses movimentos o Senhor Jesus e a Palavra de Deus
costumam ser deixados de lado e substituídos por imaginações e fantasias de algumas pessoas.2

Ainda assim, com base na Palavra de Deus, não queremos excluir a possibilidade de que mesmo nos
dias de hoje o Senhor possa vir de maneira sobrenatural em socorro de Seus servos, em situações
especiais. Mas devemos nos agarrar a este fato: não necessitamos de visões (tampouco de sonhos)
sobre coisas as quais Deus já revelou em Sua Palavra. E todos os sonhos e visões que contradizem a
única e santa Palavra de Deus provêm da imaginação humana e/ ou da mente do astuto mentiroso,
Satanás (Jo 8:44).

9 - OUTROS FENÔMENOS

O dom de cura

Como todo dom, a cura também se presta exclusivamente à glória de Deus, nunca à exaltação da
“pessoa abençoada” (que alega possuir o chamado “ministério de cura”). O dom de cura não ocorre em
todos os momentos na Bíblia. Mesmo no tempo do Senhor Jesus e dos apóstolos, nem todos os
enfermos eram curados. Isso ocorreu não só por falta de fé da parte dos enfermos. Timóteo era um

2
E quando a Palavra de Deus é utilizada, muitas vezes não lhe é dado o lugar devido, mas as supostas
revelações e visões são tidos por mais importantes, tendo mais autoridade, do que a Palavra de Deus
escrita e inspirada.
valoroso, fiel e dedicado seguidor de Paulo, porém não tinha uma saúde muito boa (1Tm 5:23). No
entanto, Paulo não o curou. Paulo também não curou Epafrodito (Fp 2:25ss), nem Trófimo (2Tm 4:20).
Em parte alguma das Escrituras encontramos uma campanha de cura. Nem o Senhor Jesus nem os
apóstolos jamais se dedicaram a isso.

Muitos bons livros já foram escritos sobre o assunto, por isso não pretendo me aprofundar nele

Salvo, mas possuído?

De acordo com alguns cristãos, o salvo verdadeiro pode ainda ser possuído por demônios. Esse foi um
dos motivos do surgimento e expansão, em tempos recentes, do chamado “ministério de cura e
libertação”. Mas o que a Palavra de Deus diz a respeito disso? Diz que, se o Filho de Deus nos libertou,
então somos verdadeiramente livres (Jo 8:32,36). Ser verdadeiramente livre quer dizer estar livre de todo
o poder do pecado, do medo da escravidão ao Diabo, que uma vez teve poder sobre a morte (Hb 2:15),
e do temor da morte (1Co 15:54-57).

Na condição de crentes verdadeiros, podemos ficar enfermos física e mentalmente. Textos como
2Timóteo 4:20 deixam isso muito claro. Infelizmente, existe a tendência de vincular a enfermidade ao
pecado pessoal, como nos tempos de Jesus (ver Jo 9:2). Como princípio geral, trata-se de um erro muito
grave (exceto pelo “pecado para morte”, de 1Jo 5; ou na grave situação de 1Co 11, em que muitos
estavam fracos e morrendo), no qual os “pastores de libertação” também incorrem. Com isso, alegam
ser capazes de expulsar o “espírito maligno da doença” ou o “demônio da depressão” do corpo do
crente.

Então quer dizer que após a conversão não somos mais atormentados pelos nossos pecados? Claro
que sim! (Quanto aos demônios, veja o próximo parágrafo — Nota do Revisor). E as consequências
desses pecados também podem nos causar problemas. Após a conversão, o alcoólatra deve vigiar o
tempo todo para não recair no vício, e os possíveis danos ao fígado ainda serão sentidos. Quem esteve
amarrado pelas forças do Diabo antes da conversão sem dúvida pode ser atacado depois de se
converter. Um quadro assim pode ser aterrorizante, e o convertido pode vir a precisar
desesperadamente das orações dos irmãos de fé e de aconselhamento por parte de irmãos experientes.

Ainda assim, permanece a realidade de que em todas as coisas somos mais que vencedores. Mas
vencemos por nós mesmos, pelas nossas forças? Certamente que não! Somos vencedores por meio
dAquele que nos amou, Jesus Cristo, porque temos a garantia de que nenhum anjo, autoridade ou poder
do mal nos poderá separar do amor de Deus, já que somos filhos dEle, e esse amor jaz em Cristo Jesus,
nosso Senhor (leia Rm 8:37-39). Somos vencedores, pois Aquele que está em nós — o Espírito Santo —
é maior e mais poderoso que aquele que reina neste mundo, Satanás (1Jo 4:4).

Se cremos em Cristo e fomos selados com o Espírito Santo (Ef 1:13), o nosso corpo se tornou o templo
do Espírito Santo, que agora habita em nós (1Co 6:19). Não é mais possível que demônios e espíritos
malignos habitem o mesmo corpo. Por esse motivo, eles não podem ser expulsos também. Que
consenso tem o templo de Deus com os ídolos, ou a luz com as trevas (leia 2Co 6:14-18)?
Aqueles ataques, contudo, que mencionamos podem ocorrer — principalmente contra os que antes da
conversão eram ligados a práticas ocultistas. É comum que eles venham a ser atormentados pelos
espíritos malignos, e então será necessário orar por eles. Mas considere: se mantivermos os nossos
caminhos inteiramente separados do mal, em comunhão com o Senhor, podemos até ser atacados,
porque o mal nos rodeia como um leão que ruge, mas o nosso bem-estar espiritual não será
prejudicado.

Leia também a primeira parte de Jó 1, especialmente o versículo 10. Percebe-se ali que nem o próprio
Diabo pôde fazer coisa alguma contra a fé de Jó, exceto nos limites estabelecidos por Deus, porque o
próprio Deus protegia o Seu servo. Fiquemos sob a cobertura da comunhão de Deus, e nenhum mal irá
nos dominar fora da vontade dAquele que também nos dá a força para suportar os ataques.

A Palavra de Deus aconselha a não sermos apressados em impor as mãos (1Tm 5:22) ou, no sentido
inverso, a não sermos precipitados em permitir que os “pastores de libertação” imponham as mãos sobre
nós. A imposição das mãos significa que você se torna um com o outro e que comunga até mesmo com
os pecados que o outro pratica e com os poderes que nele há. Mantenha-se puro, afastado de tais
coisas (v. 22b)!

Um alerta semelhante é necessário sobre a expulsão de demônios na igreja, no leito de morte e em


outros locais. Na Idade Média, essas práticas pagãs eram bem difundidas. Foi praticada primeiramente
por feiticeiros alemães, depois pelos padres católicos romanos e agora estão entrando nos círculos
carismáticos. Abstenha-se de toda aparência do mal (1Ts 5:22)!

Onde Cristo está, o Diabo não se sustenta. Ele treme só de pensar no Deus todo-poderoso, e os
espíritos malignos evitarão tal confronto (Tg 2:19). É por isso que em Tiago 4:7 há uma exortação
bastante encorajadora para cada crente que deposita a sua confiança em Deus: se resistirmos ao Diabo,
ele fugirá de nós. Não é dito que talvez ele fuja ou que no fim ele fugirá. Não: simplesmente ele fugirá. E
ele não fará isso por temer a você ou a mim, mas por temer a Cristo e o Espírito de Deus que habita em
nós. Nosso único trabalho é nos aproximarmos de Deus e resistir ao mal.

Caindo “no Espírito”

O fruto do Espírito (ver Gl 5) consiste, entre outras coisas, de amor, alegria, paz e paciência. Mas a
sabedoria que vem do Alto é antes de tudo pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de
misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e desprovida de hipocrisia. Ora, o fruto da justiça é
semeado na paz, para os que a exercitam (Tg 5:17-18).

Já entre os chamados “pregadores renovados” (particularmente em alguns países de língua inglesa e


também portuguesa), o egoísmo, a ganância, a discórdia, a brutalidade e o radicalismo desempenham
um papel fundamental. Infelizmente, onde há inveja, egoísmo e confusão toda espécie de mal pode ser
encontrado (ver Tg 3:16). Por causa disso, sabemos de imediato que tal pregação não é obra do Espírito
de Deus.
O motivo é que, como nas outras formas de religião humana, no movimento carismático encontramos
também essas anomalias que surgem do homem e de seu príncipe, o Diabo, que é mentiroso desde o
início. Recentemente, foi publicada na internet a notícia de que uma mulher foi espancada por um
“pastor” durante um “exorcismo”, que por fim ficou prostrada e imóvel no chão — supostamente porque
os maus espíritos haviam saído, mas a verdade é que ela foi espancada até ficar inconsciente. Um triste
engano causado pelo próprio Diabo! O que é da carne é carne e permanece carnal, mesmo que a
pessoa se denomine “apóstolo” ou “pregador renovado”.

Outro aspecto do fruto do Espírito é o autocontrole. Desse modo, qualquer forma de êxtase é
literalmente maligna, oriunda do Diabo. O Espírito de Deus nunca provoca êxtase nem perda da
moralidade. Em vez disso, produz domínio próprio no temor do Senhor. O louvor, a adoração e a ação
de graças oferecidos pelo fiel são motivados pelo Espírito, mas também são feitos com entendimento
(1Co 14:15). O louvor a que o Espírito de Deus nos induz está sempre de acordo com a verdade (Jo
4:23; 16:13). Quando o senso comum e o temor a Deus são eliminados, o objetivo já está distante dEle
(1Co 16:13; 1Pe 5:8). Portanto, anomalias como cair “no Espírito”, gritos, tremores, histeria, “riso santo”
ou quaisquer outras provêm do eterno enganador. De fato, as pessoas caem “no espírito” — elas
abandonam o próprio Espírito e se abrem à influência dos espíritos malignos.

Possa o Senhor guardar-nos de tudo que nos afaste de Sua Palavra, de divagarmos em emoções que
não refletem os Seus pensamentos e de glorificarmos a nós mesmos, aos nossos supostos dons ou a
outras pessoas cuja divindade é o estômago, o próprio ego! Eles agem com pensamentos terrenos. Fuja
deles e volte-se para a Rocha eterna, que nunca muda! Ele é o Deus Altíssimo, que ainda hoje pode
operar milagres, se julgar necessário. E Ele também nos sustentará no meio de tantos ensinos falsos,
que prejudicam a Sua Palavra.

“O SENHOR guardará a tua entrada e a tua saída, desde agora e para sempre” (Sl 121:8).

Você também pode gostar