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Introdução
Todos nós sabemos que há uma diferença enorme entre o crente e o não-crente. O crente
está vivo, ou seja, regenerado. O não-crente está morto, isto é, continua em seus pecados.
Basicamente podemos dizer que esta diferença se deve à presença transformadora do Espírito no
coração do pecador eleito. O Espírito faz no pecador eleito o que não faz no pecador preterido. A
esta presença do Espírito chamamos de habitação do Espírito. Contudo, há outro assunto que
devemos entender também com respeito ao Espírito em nós: a questão da Unção de Deus em nós,
a qual é muito referida entre os pentecostais. Devemos entender o que ela significa a fim de não
deixar-nos enredar por falsas interpretações.
Primeiramente devemos entender que o Espírito Santo está em toda parte, pois Ele
também é divino, e, portanto, onipresente (Sl 139:7-10). Sendo assim, pensar que o Espírito não
está presente nos ímpios é negar a divindade do Espírito Santo. Contudo, a presença do Espírito
Santo nos ímpios não os transforma em nova criatura, mas apenas lhes concede vida (Jó 34: 14, 15),
e age na sua consciência (Rm 2:14, 15).
Entretanto, não podemos deixar de falar que o Espírito age no crente de forma diferente. E
que, quando as Escrituras dizem que o Espírito Santo habita no crente, dá a entender que é uma
ação específica da qual o ímpio não participa. Pois, “quando o Espírito habita no cristão, há
grandiosa bênção, pois se estabelece união e comunhão com Cristo (Ef 3:14-21; Cl 1:27).”1 Existe
uma ligação íntima entre o cristão e o Cristo por meio do Espírito Santo. E a relação de separação
de Cristo, tornou-se agora em outro tipo de relação:
Essa habitação do Espírito Santo aponta para uma união que torna o cristão uma propriedade de
Deus. O apóstolo Paulo apresenta em 1Coríntios 6:19 a idéia de que o corpo – que é santuário do
Espírito Santo – já não pertence à própria pessoa e, sim, ao Senhor. Por isso, é preciso glorificar a
Deus través do corpo. Deus comprou, por meio do sacrifício de Cristo, não só o cristão
individualmente, mas toda a Igreja (1Co 1:30; Ap 5:9).2
Como percebemos, a relação com Cristo agora é de escravo dEle. O cristão não pertence a
Satanás e às trevas, mas pertence a Cristo e o reino e Deus. Assim, deve andar como filho do reino.
Ele não tem autonomia, mas deve ser submisso às leis do Senhor. Antes vivia no pecado, agora é
necessário viver em santidade de vida:
A idéia paulina é que o corpo do cristão é templo do Espírito Santo. Esse templo ou santuário é um
ambiente santificado... o Espírito Santo de Deus não pode habitar em santuário poluído, sendo que
toda prática mundana precisa ser abandonada, pois o cristão é casa espiritual (1Pe 2:5). O cristão,
por ser templo vivo do Espírito Santo, precisa evitar quaisquer atitudes que comprometam sua
santidade; ele deve promover a glória de Deus.3
A habitação do Espírito Santo no crente torna esta vida diferente da antiga vida no pecado
e na morte. O crente agora está vivendo no Espírito e não na carne como diz Paulo. A
transformação que houve com ele foi tão profunda que não admite somente mudanças externas e
1 Dionei Faria, “A Habitação do Espírito Santo” in Revista Estudos Bíblicos Didaquê: O Espírito Santo – Sua Pessoa e
Missão. Volume XXIII. Manhumirim, jul/93, p 18.
2 Ibid, p 18.
3 Ibid, p 18.
de costumes. Foi uma mudança interna, profunda, realizada no coração. Vejamos o comentário
sobre o texto de (Rm 8:5-8):
Aquele que anda segundo a carne permite que sua vida seja basicamente determinada por sua
natureza humana pecaminosa. Põe sua mente em – e geralmente está mais interessado em, fala
constantemente sobre, se compromete e se gloria em – coisas pertencentes à carne, ou seja, à sua
natureza humana pecaminosa. O que vive segundo o Espírito e, portanto, se submete à direção do
Espírito, concentra sua atenção em, e se especializa em, tudo quanto é amável ao Espírito. No
conflito entre Deus e a natureza humana pecaminosa, os que pertencem ao primeiro grupo tomam o
partido da natureza humana; os que pertencem ao segundo, tomam o partido de Deus. Paulo está
lembrando aos membros da igreja em Roma que é impossível estar concomitantemente em ambos
os lados, ou seja, a disposição ou direção básica – este adjetivo deve ser enfatizado! – de nossa vida é:
ou ao lado de Deus ou ao lado da natureza humana pecaminosa.4
Então, o que realmente significa a liderança do Espírito – mudando da voz passiva para a ativa?
Significa santificação. É a constante, eficaz e beneficente influência que o Espírito Santo exerce no
âmago do coração e da vida dos filhos de Deus, capacitando-os a cada vez mais esmagar o poder do
pecado residente e andar na vereda dos mandamentos de Deus, livre e alegremente.5
Portanto, a habitação do Espírito Santo no crente lhe traz bênçãos grandiosas como a vida
nova (Jo 3:5; Tt 3:5), a direção na vida (Rm 8:14), o fruto da santificação (Gl 5:16, 22,23; Rm 8:13),
ressurreição em Cristo (Rm 8:11), capacitação para o serviço (1Co 12:6, 7), iluminação (Ef 1:18), etc.
A Unção do crente
4 William Hendriksen, Comentário do Novo Testamento – Romanos. São Paulo, Cultura Cristã, p 329, 330.
5 Ibid, p 341.
6 Eneziel Peixoto de Andrade, “A Unção do Espírito Santo” in Revista Estudos Bíblicos Didaquê: O Espírito Santo –
Cristo é o Ungido (Dn 9:26), o “Santo” (cf. At 4:27, 30) que unge os crentes com esse mesmo
Espírito, quando estes se convertem ao Evangelho da verdade (Ef 1:13); dessa forma, os separa e os
consagra para Deus; (3) Essa unção ou selo, que é a presença do Espírito nos crentes, é a defesa
contra o erro religioso propagado pelos anticristos, pois o Espírito ilumina, guia e sela o cristão na
verdade (Jo 15:26; 16:13), dando-lhes o verdadeiro conhecimento de Deus.9
Assim, pela Unção derrama sobre nós, nos tornamos consagrados e Deus e capacitados
para Seu serviço. Agora, em resposta à segunda pergunta devemos dizer que existe mais de uma
interpretação para o significado do texto de (Tg 5:14) podemos dar a seguinte explicação:
Tiago não explica a relação que vê entre a unção com óleo e a oração em favor do enfermo. Para
alguns, o óleo deve ser visto como remédio e a oração pede a bênção de Deus sobre seu uso (A. T.
Robertson). Para outros, a relação é simbólica da ação do Espírito Santo. Esse último entendimento
se baseia na interpretação de algumas passagens do Antigo Testamento que associam o uso do óleo
à ação do Espírito: a unção dos sacerdotes com óleo da unção (Ex 29:7; Lv 8:12); a unção de reis
associada à vinda do Espírito Santo sobre eles, como foi o caso de Saul (1Sm 10:1, 6) e
especialmente o caso de Davi: “Tomou Samuel o chifre do azeite e o ungiu no meio de seus irmãos;
e, daquele dia em diante, o Espírito do Senhor se apossou de Davi” (1Sm 16:13); além das duas
oliveiras produtoras de óleo representando o Espírito do Senhor (Zc 4:3). Essa última interpretação,
de que o uso do óleo é simbólico da ação curadora do Espírito, nos parece a mais correta, embora
certamente não seja a unanimidade entre os estudiosos reformados. Mas fico com a interpretação de
Calvino, de que era um uso simbólico: “não posso concordar com aqueles que pensam que óleo era
usado como remédio nestes casos” (J. Calvino).10
Aplicações
8 Augustus Nicodemus Lopes, Interpretando o Novo Testamento: Primeira Carta de João. São Paulo, Cultura Cristã,
2004, p 82.
9 Ibid, p 76.
10 Augustus Nicodemus Lopes, Interpretando a Carta de Tiago. São Paulo, Cultura Cristã, 2006, p 175, 176.