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Exposição Bíblica - TEXTO: ROMANOS 8. 12-18


Tema: OS BENEFÍCIOS DA VIDA NO ESPÍRITO1

INTRODUÇÃO
A vida no Espírito é um grande mistério experimentado pelo crente em Jesus.
Na vida no Espírito o crente usufrui de todos os benefícios espirituais que nos são
doados na redenção. Eu digo que é um grande mistério experimentado porque a vida
no Espírito é algo experiencial.
Agora, sem dúvidas isto pode ser um tanto quanto problemático em nossos dias.
Afinal, p: O que é a vida no Espírito? Cristãos de todas as partes e épocas têm
respondido a essa questão de maneiras diferentes e muito persuasivas.
Se dividíssemos o que a maioria dos cristãos professam sobre a vida no Espírito
poderíamos agrupá-los em dois grandes grupos. De um lado temos aqueles que
entendem que a vida no Espírito se trata de um conjunto de experiências sobrenaturais
que são sentidas e vistas por pessoas especialmente abençoadas. Por outro, temos
aqueles que acreditam que o cristianismo é apenas um conjunto de proposições críveis
intelectualmente e por isso nós não lidamos com nada de ordem sobrenatural.
Não é preciso dizer muito para sabermos que ambas essas visões se distanciam
radicalmente da descrição bíblica da vida no Espírito. Porque não dá para sustentarmos
um cristianismo sem matéria de fé o qual podemos professar sem o intelecto. E também
não dá para considerarmos um cristianismo que exclua as operações sobrenaturais do
Espírito sobre o crente no Senhor Jesus.
Agora, a questão ainda persiste p: O que de fato é a vida no Espírito? Eu vou
além dessa questão. Você a esta hora deve estar se perguntando, ou pelo menos deveria
se perguntar p: O que isso tem a ver comigo?

CONTEXTUALIZAÇÃO
Creio que este seja o objetivo do Apóstolo Paulo neste brilhante capítulo 8
escrito aos Romanos. Romanos talvez seja a joia mais preciosa do ministério de Paulo.
Lutero considerava como o escrito mais importante do Novo Testamento. É a teologia
de Paulo que teve um enorme impacto sobre a vida de Lutero e então nós temos a
Reforma Protestante iniciada no século XVI.
Romanos pode ser tratado como sendo o texto bíblico mais próximo do que seria
uma teologia sistemática. Então, se você quer estudar doutrinas de maneira bíblica e
profunda, leia Romanos. Você tem em mãos um tratado teológico de maior peso
possível, inspirado por Deus e livre de erros.
Só para mencionar com os irmãos alguns temas expostos por Paulo até aqui. No
capítulo primeiro Paulo fala sobre o tema de Romanos que é “O Evangelho como a
justiça de Deus mediante a fé”. Essa discussão vai até o capítulo 4 quando Paulo
apresenta a corrupção geral do homem dizendo que a queda lançou todos a uma
condição de depravação total.

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Por: Rev. Samuel Rodrigues Montalvão, Exposição em 16/07/2023 na IPVN.
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Paulo argumenta que tanto os judeus quanto os gentios são indesculpáveis, pois,
suas obras são insuficientes para salvar suas vidas. Então Paulo mostra como ser
justificado. E ele diz que a Justificação dos nossos pecados é somente pela fé exclusiva
em Jesus Cristo. E essa é a forma pela qual cada crente é justificado deste o AT. E,
Paulo exemplifica isso dizendo que Abraão foi justificado pela fé.
A partir do capítulo 5 o apóstolo Paulo apresenta um dos assuntos mais
fascinantes que a teologia reformada tem se dedicado. Paulo fala sobre a nossa união
federal com Jesus Cristo na qual nós somos salvos pelo último Adão, o Cabeça da
Igreja, Jesus de Nazaré.
Nos capítulos 6 e 7 nós temos uma longa seção em que o apóstolo trata sobre a
relação entre a Lei e a Graça. Ele chega a comentar de que maneira nós somos
insuficientes para conseguir atender os requisitos da Lei sem a graça de Deus.
Paulo mostra que isso só é possível se nós formos transformados. E a
transformação do Evangelho acontece de dentro para fora por uma obra sobrenatural
do Espírito de Cristo. Então, para Paulo é o Espírito de Deus agindo no coração que
aplica a obra da redenção ao pecador.
Conforme o apóstolo Paulo mesmo diz, isto é a vida no Espírito. O Espírito age
em nosso ser e Ele nos livra da corrupção do pecado.
É por esta razão que Paulo começa o capítulo 8 dizendo: “Agora, pois, já não
existe nenhuma condenação para os que estão em Cristo Jesus. Porque a lei do
Espírito da vida, em Cristo Jesus, livrou você da lei do pecado e da morte” (Rm 8,1,2,
NAA).
Esta é a vida no Espírito! Portanto, de acordo com o apóstolo Paulo, aqueles que
são guiados pelo Espírito se inclinam para as coisas do Espírito. E aquele que tem o
Espírito de Deus, este, pertence a Cristo. Porque, de fato, o Espírito é a garantia de que
nós fomos salvos pela obra de Jesus.
Agora, o que entender sobre os versos 12 a 17? Paulo mostra que já que o crente
no Senhor Jesus vive uma vida no Espírito p: Quais vantagens nós usufruímos da
habitação do Espírito em nós?

PROPOSIÇÃO
Quais as vantagens da habitação do Espírito em nós? Por isso este é o tema que
quero tratar com os irmãos nesta noite: Quais são Os Benefícios da vida no Espírito.

Frase de transição: Então, o primeiro benefício da vida no Espírito tratado por


Paulo é...

1 – A VITÓRIA SOBRE O PECADO V.12, 13.


Versos 12 e 13: “Assim, pois, irmãos, somos devedores, não à carne, como se
estivéssemos obrigados a viver segundo a carne. Porque, se vocês viverem segundo a
carne, caminharão para a morte; mas, se, pelo Espírito, mortificarem os feitos do
corpo, certamente viverão” (Rm 8.12,13, NAA).
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O que Paulo está tratando aqui a respeito da vitória sobre o pecado tem a ver
com o que ele já comentou nos versos 5 e 7. Ele diz que os que são espirituais “se
inclinam para o Espírito” (v.5) e a inclinação da carne “é inimizade contra Deus” (v.7).
Paulo pressupõe que a vitória sobre o pecado tem a ver com o mistério da
reconciliação que traz paz entre um Deus Santíssimo e criaturas pecadoras. E isto é um
fato evangélico. O fato de que a vitória sobre o pecado é uma obra inteiramente do
Deus que cria, que julga, mas que também redime ao enviar Seu Filho Jesus Cristo.
Sem essa obra soberana de Deus é impossível vitória sobre o pecado.
Portanto, a obra de Cristo ao morrer na cruz e conceder seu Espírito nos doa
vida. Uma nova vida.
Agora, o que Paulo parece fazer aqui não é apenas pontuar a obra de Cristo que
nos redime; que nos traz uma nova disposição de coração e que nos justifica.
Paulo deixa claro a responsabilidade dos crentes em Jesus, já que nós vivemos
pelo Espírito. Por isso ele diz que “somos devedores, não à carne como se
constrangidos a viver conforme a carne”.
Paulo aqui está dizendo duas coisas.
Primeiramente Paulo diz: “somos devedores, não à carne”. Aqui há um
contraste implícito. O contraste aqui é de que nós (redimidos pelo Senhor) somos
devedores do Espírito.
Quando Paulo faz esse tipo de afirmação ele está mostrando quais são as nossas
responsabilidades de, agora, viver uma vida no Espírito. Nós fomos salvos não por nós
mesmos, e a vida que está em nós não provém de nós porque nos é doada pelo Espírito.
É graça de Deus. Por essa razão nós devemos nossa lealdade ao Espírito.
Tudo que nos é dado no Evangelho precisa ser recebido com gratidão. O
Evangelho nos traz salvação; e Deus graciosamente nos deu todas as coisas em Jesus.
E o ponto é: a paz de espírito e as promessas que nos são doadas em Cristo, são
comunicadas a nós pelo Espírito de Deus que nos habita.
Em segundo lugar Paulo diz que não somos “constrangidos a viver segundo a
carne”. Paulo apela para o fato de que devemos viver segundo o Espírito. O que
significa que a vida no Espírito deve cativar nossa mente para que vivamos uma vida
que agrade a Deus. E não a nós mesmos.
Isso é muito precioso e ao mesmo tempo é um alerta para nós. Deus não está
distante para que não saiba das motivações do nosso coração e de nossos propósitos.
Porque o Seu próprio Espírito Santo habita em nós e nos conhece.
Então, nós não temos desculpas para nos esquecermos de nossos deveres
espirituais. Nós recebemos e vida no Espírito. Uma vida com uma nova disposição em
nosso coração.
Por essa razão, ao passo que Deus nos concede vitória sobre o pecado cravando
nossa culpa na cruz e nos dando seu Espírito, Ele espera que nós lutemos contra o
pecado sabendo que devemos todas as coisas a Ele.
Por isso a mensagem de Paulo sobre a vida no Espírito é tão contundente para a
Igreja.
“Porque, se vocês viverem segundo a carne, caminharão para a morte; mas, se,
pelo Espírito, mortificarem os feitos do corpo, certamente viverão” (Rm 8.13, NAA).
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O versículo treze talvez seja o versículo que trata mais diretamente do processo
de santificação que a vida no Espírito nos exige.
Ele começa o versículo usando uma partícula condicional grega. Na língua grega
as partículas condicionais podem indicar principalmente duas situações.
A primeira delas dá ênfase à incerteza de um determinado evento. Por exemplo:
Se decidirmos participar de uma corrida a qual precisamos ter condicionamento físico
e perder peso. Nesse caso nós dizemos “se eu perder peso talvez consiga participar
desta corrida”. Quando dizemos “se”, nós estamos dizendo que é necessário que
tenhamos condicionamento físico, mas que isso não é certo. Porque há uma série de
variáveis que envolvem o condicionamento físico. Ou seja, o evento é condicionado e
ele é incerto.
A segunda situação (e é a que diz respeito a condição que Paulo está tratando) é
a de certeza de um evento. Nós podemos tomar como exemplo o seguinte: Quando
Adão foi colocado no Paraíso Deus firmou um pacto com ele e estabeleceu uma
condição para o pacto: “Se você comer do fruto da árvore proibida é certo que você
morrerá”. Veja, essa é uma condição certeza. Não é que pode ser que Adão não
morresse (como Satanás quis persuadir Adão do contrário). Era certo que se ele
comesse ele morreria. E assim o foi.
Percebem a diferença? Nessa situação não há dúvida. O apóstolo Paulo então
está usando uma condição de certeza. Então o que ele está dizendo poderia ser
parafraseado mais ou menos assim: se nós vivermos conforme nossa natureza caída
é certo que caminhamos para a morte, mas se nós mortificarmos os atos do corpo
então viveremos.
Paulo não nos deixa dúvidas de que o caminho para se ter vida é a mortificação
dos pecados pelo poder do Espírito Santo. Esta é a vitória que recebemos nesta vida
sobre o pecado.

Aplicação:
O que nos resta fazer então? Usar de todas as formas possíveis a vida no Espírito
para mortificar os pecados. Nós precisamos tratar esse inimigo astuto que é o pecado
de maneira séria. Porque o texto é claro, se nós negligenciarmos esse dever, então
morreremos.
John Owen certa vez falando sobre a mortificação do pecado disse que mortificar
o pecado é “tirar o princípio de todas as forças, seu vigor e seu poder, de modo
que não possa agir, exercer nem produzir nenhum ato por conta própria”.2 Isso é
mortificar! São duas atitudes: primeiro tiramos o vigor e força do pecado não
alimentando circunstâncias para que ele se fortaleça; e segundo nós nos alimentamos
de uma vida com o Espírito de Cristo. Isso tem a ver com os meios de graça: a oração,
a Palavra, e os Sacramentos.

Frase de transição: O segundo benefício da vida no Espírito apresentado por


Paulo é...

2
OWEN, 2005, pág.29
5

2 – A ADOÇÃO DE FLHOS. 14, 15.


Versos 14 e 15: “Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos
de Deus. Porque vocês não receberam um espírito de escravidão, para viverem outra
vez atemorizados, mas receberam o Espírito de adoção, por meio do qual clamamos:
‘Aba, Pai’” (Rm 8.14,15, NAA).
Estes versículos nos dão uma profundidade ainda maior sobre o que é a vida no
Espírito. A vida no Espírito diz respeito a uma relação entre Pai e Filho que é mediada
pelo Espírito de Deus. E que a vontade do Pai nos é comunicada e realizada em nós
por seu Espírito.
Agora, o que é adoção? O Catecismo Maior de Westminster nos diz que:

“Adoção é um ato da livre graça de Deus, em seu único Filho Jesus Cristo e por
amor dele, pelo qual todos os que são justificados são recebidos no número dos
filhos de Deus, trazem o seu nome, recebem o Espírito do Filho, estão sob o seu
cuidado e suas dispensações paternais, são admitidos a todas as liberdades e
privilégios dos filhos de Deus, e feitos herdeiros de todas as promessas e co-
herdeiros com Cristo em glória” (CMW, pergunta 74).

É evidente que os teólogos de Westminster entenderam que o benefício da


adoção sucede a justificação. Creio que por si só a leitura do catecismo é muito
completa para o entendimento. Mas deixe-me fazer algumas considerações sobre a
adoção considerando o texto de nossa exposição.
Paulo nos dá um poderoso argumento sobre a segurança que nós temos na vida
no Espírito ao recebermos a adoção de filhos de Deus. Paulo diz que se o Espírito Santo
opera em nós, nos guiando, logo nós somos filhos de Deus.
Paulo diz isso porque ele sabe que entendermos a adoção fortalece a nossa
comunhão com Deus. Até o verso 13 Paulo instrui os crentes que vivem no Espírito a
praticar aquilo que se espera de quem vive uma vida no Espírito.
Agora, nesse verso, Paulo estimula os crentes a entenderem que a luta contra o
pecado, longe de ser uma luta que nos leve ao desespero, deve nos servir como sinal
de que o Espírito de Deus está conosco. Porque Ele é o nosso Pai.
Se lutamos contra o pecado, logo, o Espírito de Cristo habita em nós. E se o
Espírito de Cristo habita em nós, isso indica que nós fomos feitos filhos de Deus.
Paulo nos mostra com isso a grande beleza de sermos beneficiados pela adoção.
Nós temos relacionamento íntimo com Deus (como seus filhos) porque usufruímos da
habitação de Seu Espírito e Ele é nosso Pai. Por isso nós oramos “Pai nosso”.
Quantos de nós temos negligenciado uma vida de comunhão com Deus? Será
que nós nos tornamos frios? Deixamos de lutar contra os nossos pecados? Será que a
oração e o prazer nela já é uma coisa que não vemos há tempo? A resposta a essas
perguntas dirá muito do que você entende e vive a relação paternal com Deus. Não
sejamos filhos rebeldes.
Nós precisamos nos lembrar de que nós fomos feitos filhos e somos guiados pelo
Espírito. Se nossa vida devocional já não reflete mais aquele amor primeiro do qual
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todos nós já tivemos, isso precisa nos incomodar. A mensagem de Paulo é um chamado
ao renovo daqueles que tem se esquecido do prazer da habitação do Espírito e da vida
com Deus.
No verso 15 fica mais claro o que Paulo está dizendo sobre esse benefício da
adoção: “Porque vocês não receberam um espírito de escravidão, para viverem outra
vez atemorizados, mas receberam o Espírito de adoção, por meio do qual clamamos:
‘Aba, Pai’” (Rm 8.15, NAA).

Parece que Paulo nesse versículo quer confortar a Igreja. Talvez o dever de
santificar; de fazer morrer os atos do corpo e o exercício de reflexão sobre a adoção
possa levar muitos de nós ao medo. Porque de fato, em muitos momentos em nossas
vidas, nós cambaleamos cansados e desmotivados em nossa comunhão com Deus.
Mas Paulo, segue seu raciocínio como que dizendo a Igreja “Tende paz
irmãos”. Nós não devemos viver atemorizados pelo medo ou incertos quanto a nossa
adoção em Deus. Quando em nossa conversão Deus gera fé em nosso coração é
produzido fruto de paz em nós.
A fé que Deus opera em nós deve nos trazer confiança. Paulo não está querendo
levar a Igreja ao desespero. Muito pelo contrário! Nós estamos falando dos benefícios
espirituais trazidos por Deus. Todos esses benefícios são motivos de confiança e não
de medo.
Então Paulo fala de adoção para que como filhos tenhamos descanso em nosso
Pai que está nos céus. E baseado na adoção, Paulo diz que nós temos tamanha
intimidade com Deus através de Cristo que com temor e amor podemos dizer Ele é o
nosso Pai.
Então eu te pergunto p: Você tem experimentado do descanso paternal que existe
em Deus?

Aplicação
Em muitas situações nós beiramos a incredulidade porque nos deixamos ser
tomados por ansiedade, por dúvidas e até mesmo pela ira. Quando deixamos nosso
coração ficar ansioso nós nos esquecemos que Deus é nosso Pai.
Meus irmãos, nós precisamos descansar nas promessas do nosso Pai Celestial.
Confiantemente, nós precisamos suportar as situações entregando tudo ao controle de
Deus. Mas principalmente, nós precisamos refrear nosso coração para que não
tomemos decisões, ou façamos determinadas coisas que achamos que vai resolver. Mas
na verdade, estamos sendo incrédulos e impacientes por não esperar no nosso Pai.
Ele nos fez seus filhos! “Aquele que não poupou o seu próprio Filho, mas por
todos nós o entregou, será que não nos dará graciosamente com ele todas as coisas?”
(Rm 8.32, NAA). Descanse em seu Pai.

Frase de transição: Agora, nós chegamos ao terceiro e último benefício da


vida no Espírito listado por Paulo. Paulo fala sobre a...

3 – UNIÃO COM CRISTO. V.16, 17.


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Versos 16 e 17: “O próprio Espírito confirma ao nosso espírito que somos filhos
de Deus. E, se somos filhos, somos também herdeiros; herdeiros de Deus e coerdeiros
com Cristo, se com ele sofremos, para que também com ele sejamos glorificados” (Rm
8.16, 17, NAA).
Paulo não encerra o assunto da adoção no verso 15. Ele vai insistir no assunto
nos versos 16 e 17. Só que o apóstolo dá uma nova ênfase ao que ele está falando.
Paulo aqui mostra que a adoção de filhos além de ter a ver com a justificação como
vimos, tem a ver com a união com Cristo.
Paulo de maneira muito categórica nos mostra como nossa fé é solidificada com
o benefício da união com Cristo. Louis Berkhof falando sobre a união com Cristo diz
que “esta união possibilitou que todas as bençãos merecidas por Cristo pudessem
ser passadas, de maneira orgânica, para aqueles que ele representou”.3
O fato de o Espírito de Cristo habitar em nós e de sermos adotados por Deus em
Cristo nos coloca em uma condição de relacionamento espiritual íntima com Ele. Cristo
é o nosso representante diante de Deus. E não apenas isso, nós nutrimos de uma vida
com Ele e Ele comunica vida a nós como se estivéssemos ligados como por um cordão
umbilical.
O primeiro resultado disso é que a habitação do Espírito confirma que fomos
unidos com Ele e feitos filhos de Deus. Porque o apóstolo Paulo diz que “o próprio
Espírito testifica com nosso espírito que somos filhos de Deus”. Ou seja, os crentes
no Senhor Jesus Cristo são participantes de uma união espiritual e real. Nós usufruímos
dessa benção ainda nesta vida. Não é uma coisa por se realizar. A união com Cristo é
real e poderosa aqui e agora.
Gostaria de chamar a atenção meus irmãos para o fato de que aqui Paulo enterra
a perversão moderna de que “todos são filhos de Deus”. Esta frase tem sido usada como
escudo principalmente por alguns grupos.
Primeiro, aqueles que querem uma vida dissoluta. Aqueles que pensam estar no
mundo e ser filhos de Deus estão enganados. Aliás as Escrituras tratam aqueles que
assim procedem como filhos do diabo (basta ler 1 João 3.10).
Há um segundo grupo que tem usado descuidadamente esta frase. Estou falando
sobre os ecumênicos em geral. E aqui eu preciso ser fiel a mensagem do Evangelho.
Muitos religiosos tem encontrado caminhos em Buda, nos Orixás e em forças
misteriosas porque acreditam que, assim, também são filhos de Deus. Mas isso é falso.
Eles colocam a religião falsa em pé de igualdade com a religião verdadeira que só
encontra caminho em Jesus Cristo.
Não há vários caminhos que torna todos filhos de Deus. Pelo contrário “todos
quantos o receberam (o Senhor Jesus), deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus,
a saber, aos que creem no seu nome, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade
da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (Jo 1.12,13, NAA).
Portanto, o ensino de Paulo ao mesmo tempo que conforta os crentes, é uma
acusação contra esta blasfêmia moderna. Só é filho de Deus aqueles que foram

3
BERKHOF, 2012, pág.414.
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unidos a Cristo e receberam Seu Espírito. Então como são filhos de Deus aqueles
que não foram gerados pelo Espírito de Cristo?
O que os ímpios fazem é se entregar a idolatria e as vontades descontroladas de
seu coração. Os que assim agem não procedem de Deus e não podem ser filhos de
Deus. Por que? Porque não estão unidos a Cristo.
Então irmãos, para nós como Igreja isso é motivo de regozijo e confiança. O
Espírito Santo é o Consolador Amado que comunica vida e nos dá certeza da salvação.
Lembram-se do hino 105, A Certeza do Crente? “Não sei o modo como agiu o
Espírito eternal, que, um dia, a Cristo me atraiu em convicção real”. Este hino
ecoa o ensino de Paulo. Nossa certeza como crentes, como filhos de Deus advêm da
nossa união com Cristo. Nós fomos atraídos a Ele e por isso usufruímos deste grande
benefício (PAUSA).
Verso 17: “E, se somos filhos, somos também herdeiros; herdeiros de Deus e
coerdeiros com Cristo, se com ele sofremos, para que também com ele sejamos
glorificados” (Rm 8.17, NAA).
Neste último versículo Paulo mostra o resultado final de nossa união com Cristo.
Ele diz que esta união não tem a ver somente com aquilo que desfrutamos aqui nesta
vida. Paulo nos chama a atenção para que saibamos que fomos salvos para um futuro
na glória com Deus.
O apóstolo trata este assunto usando os termos “herdeiros” e “co-herdeiros”.
Com isso ele diz o que nos aguarda. Paulo se remete a herança conquistada por Cristo
em sua morte. Cristo conquistou-nos para uma vida em união com Ele eternamente.
O próprio Cristo disse “E como tu, ó Pai, estás em mim e eu em ti, também
eles estejam em nós” (Jo 17.21, NAA). Este é o propósito de Deus em nossa união a
Ele.
É muito interessante ver que Paulo faz um paralelo entre nossa união com Cristo
agora e nossa união final com Ele como Igreja. Nós fomos unidos a Cristo desde a
eternidade. Nós fomos unidos com Cristo no presente com ele sofremos. Nós somos
participantes dos sofrimentos de Cristo irmãos.
Pedro falando sobre a Igreja peregrina diz em sua primeira epístola: “alegrai-
vos na medida em que sois coparticipantes dos sofrimentos de Cristo, para que
também, na revelação de sua glória, vos alegreis exultando” (1 Pedro 4. 13).
Os apóstolos entendiam que viver com Cristo é também sofrer por Ele. As vezes
nós nos esquecemos disso. Em nossa vida somos e seremos afligidos por diversas
coisas que este mundo nos impõe.
Jesus nos disse que se somos seus discípulos passaremos por aflições. Agora nós
temos a paz de Deus para sofrer também por Ele. Jesus disse “Estas coisas vos tenho
dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom
ânimo; eu venci o mundo” (João 16. 33). Nós temos segurança de que podemos passar
por aflições e provações porque fomos unidos a Cristo e é Ele quem venceu o mundo
por nós.
E ele encerra dizendo que por isso “seremos glorificados”. O fato de Cristo ter
vencido o mundo; ter nos feitos filhos de Deus e se unido a nós com Seu Espírito nos
traz garantia de nosso futuro. O seu futuro está garantido meus irmãos. Nosso futuro é
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um futuro glorioso na eternidade. É um futuro incomparavelmente melhor e que faz


valer a pena a viver uma vida no Espírito com Deus.

CONCLUSÃO
Então nós vimos hoje que temos três benefícios da vida no Espírito: 1) Vitória
sobre o pecado; 2) Adoção de filhos e 3) União a Cristo.

Portanto, já que fomos tão abençoados, o que fazer?

Aplicações Finais

1) Nós precisamos ser humildes porque tudo de bom em nós provém de Deus.
Muito facilmente irmãos, nós, nos tornamos orgulhosos por aquilo que fazemos ou que
temos. Só que isso não condiz com a postura de cristãos. Então por exemplo, pensando
em algumas situações.
Na igreja nós precisamos agir com humildade com aqueles que pecam ou que
talvez até mesmo não possua as mesmas competências que nós. Seja na liderança ou
quando vamos desenvolver alguma atividade na igreja precisamos ser misericordiosos
com nossos irmãos. Somos filhos do mesmo Pai e temos o mesmo Espírito.
Nós precisamos agir com compaixão com aqueles que por exemplo precisam de
ajuda. Porque na maioria das vezes quando a gente vê alguém errando ou não
conseguindo fazer determinada coisa é porque ela precisa de ajuda. Até aqueles que
estão na liderança. Porque as vezes tem situações que fogem do controle do líder. As
vezes ele está sobrecarregado e cansado. Por isso precisamos de humildade e de
estender a mão para ajudar. Sabendo que todos os dons que se tem na Igreja provem
de Deus, não de nós mesmos.
Agora uma segunda situação que consigo pensar é o casamento. No casamento
nós somos expostos as maiores dificuldades quanto á humildade. E o casamento é
benção de Deus porque nos treina para sermos humildes. Se seu marido ou sua esposa
falhar com você, não seja irascível. Não adianta requerer justiça com uma ira
pecaminosa. E no casamento quando um cai, os dois caem juntos. O casamento nos
ensina que devemos agir com amor incondicional, com graça e misericórdia com
aquele que amamos.

2) O nosso texto nos ensina a seriedade de lidar com o pecado. Nós fomos feitos
filhos de Deus e nesse sentido fomos separados para viver uma vida que agrade a Ele.
Como nós vimos, Deus nos deu recursos para lutar contra o pecado. Então precisamos
fazer guerra, senão o pecado nos destruirá. Nós precisamos mortificá-lo.
Sabe aquelas situações que as vezes alimentamos o pecado? Muitas delas passam
imperceptíveis. Principalmente quando a gente fala de situações que envolve conflitos.
Nós as vezes achamos que estamos certos em determinadas situações quando na
verdade nós estamos alimentando nossa ira, nosso orgulho e nosso ego. Essas situações
nos levam ao endurecimento de coração e destrói as pessoas que estão ao nosso redor.
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Portanto irmãos, tomemos cuidado com a o falso senso de justiça que podemos
facilmente ser inclinados. As vezes enxergamos determinadas situações como
necessárias de punição quando na verdade nosso juízo é distorcido. A gente pode
controlar nossa ira. Avalie, será que sua ira nasce em motivações corretas? Ou seus
acessos de ira tem nascido de frustrações do coração e da soberba? Humilhe-se diante
de Deus e lute contra o pecado.

3) Aproveite a vida no Espírito. Tenha prazer nela. Crer em Jesus, mas não ter
prazer na vida no Espírito é como o casal que perdeu o prazer de estar juntos há muitos
anos. Consegue imaginar nesse tipo de relacionamento? Com Deus o sarrafo é mais
alto.
Deus nos salvou em Jesus Cristo. A presença d’Ele é real para nós. Nós temos
do Seu Espírito que nos faz chama-lo de Pai. E isso no ensino apostólico tem a ver com
nossa devoção a Deus. Por isso renove seu fervor. E viva a vida na Igreja, a devoção
em casa. Aproveite. A vida no Espírito é boa e prazerosa.
Gostaria de encerrar, fazendo uma citação de algo que Calvino disse sobre este
assunto:

“quando o Espírito nos testifica que somos filhos de Deus, ele, ao mesmo tempo,
imprime esta confiança nos nossos corações, para que ousemos invocar a Deus
como nosso Pai. E assim é, porquanto, visto que tão-somente a confiança do
coração pode abrir nossos lábios, nossas línguas serão mudas para pronunciar
orações, a não ser que o Espírito dê testemunho ao nosso coração a respeito do
amor paternal de Deus” (CALVINO, 2013, pág. 325)

Frase final: Se alegre em Cristo. Há promessas maravilhosas para nós e vida


abundante em Jesus. Oremos!

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